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RELAÇÃO ENTRE A SOFISTICAÇÃO FINANCEIRA DOS CEO’s E A
UTILIZAÇÃO DE DERIVATIVOS EM COMPANHIAS BRASILEIRAS
COM AÇÕES NEGOCIADAS NA [B]3
1 INTRODUÇÃO
Diversas são as evidências empíricas que abordam os benefícios da gestão de risco
corporativo. Smith e Stulz (1985) expõem sobre a necessidade das empresas gerenciarem estes
riscos mediante as imperfeições existentes no mercado. Ayturk, Gurbuz e Yanik (2016) e
Bartram (2019) discorrem que é exponencial o número de empresas que tem conduzido
sistemas de gerenciamento de riscos, principalmente as não-financeiras que utilizam os
derivativos para administrar esses riscos.
Neste sentido, o risco vincula-se com a gestão financeira corporativa que tem
reconhecida sua importância dentro das estratégias, e as inclui como mecanismo de proteção
corporativa, principalmente em momentos de crises (Ayturk, Gurbuz & Yanik, 2016; Bartram,
2019). Na visão de Smith e Stulz (1985) a gestão de riscos traz benefícios às corporações,
principalmente no que tange aos fatores relacionados à assimetria informacional, impostos e
custos de agência das transações.
No que se refere à situação brasileira Machado e Garcia (2013), citam que a estabilidade
econômica alcançada nas últimas décadas no Brasil trouxe benefícios ao país, permitindo maior
interação com o mercado internacional e fortalecimento do mercado financeiro local. Todavia,
tornou o país mais vulnerável às crises macroeconômicas mundiais, que contribuíram para
maior volatilidade cambial, obrigando as empresas brasileiras a intensificarem suas estratégias
de proteção como a utilização de derivativos.
2
Na visão de Hsiao e Tsai (2018) produtos complexos como os derivativos criam altas
barreiras de entrada nas organizações, uma vez que indivíduos com menor instrução financeira
terão dificuldades de participar e de se beneficiar com o uso de derivativos a fim de cobrir riscos
financeiros. Essa afirmação reforça a necessidade das companhias contratarem Chiefs
Executives Office (CEO’s) que possuam uma expertise financeira, para utilizarem derivativos,
a fim de gerir a política de risco da empresa contra anomalias do mercado financeiro. Nessa
conjuntura, Piaskowska e Trojanowski (2014) salientam que existem diversas habilidades que
podem maximizar o nível de sofisticação dos CEO’s, a exemplo da experiência internacional
dos executivos, um fator positivo para o gerenciamento de empresas em ambientes
transfronteiriços complexos, em virtude de que tal profissional tende a possuir melhor
percepção de incerteza, confiança e comportamento de risco.
Achados empíricos como os de Rawls e Smithson (1990) sinalizam que entre os deveres
mais importantes dos executivos financeiros está o gerenciamento de risco. Assim, os bons
resultados das organizações associam-se aos mecanismos de proteção corporativa e, de certa
forma, é o CEO que toma a decisão de proteger a companhia, sendo que suas características
pessoais, educacionais, bem como as experiências passadas podem exercer uma influência
considerável na proteção corporativa (Doukas & Mandal, 2018).
A fim de verificar tais aspectos o presente estudo se propõe a responder a seguinte questão de
pesquisa: Qual a Relação da Sofisticação Financeira dos CEO’s e a Utilização de Derivativos em
Empresas com Ações Negociadas na Brasil Bolsa Balcão [B]³? No que se refere ao objetivo do trabalho
o presente estudo propõe analisar a relação entre a Sofisticação FLinanceira dos CEO’s e a utilização de
derivativos em empresas com ações negociadas na [B]3 no período de 2011 a 2017.
No que tange às características dos gestores, Anjos e Kang (2017) reconhecem que os
CEO’s que possuem experiências de mercado são mais sofisticados financeiramente e têm mais
capacidade de levantar capital externo à organização. Simultaneamente, Dauth, Pronobis e
3
Shimidt (2017) complementam este pensamento afirmando que a internacionalização, tanto dos
CEO’s quanto dos Chief Financial Office (CFO), é um fator que agrega valor na sua capacidade
de tomar decisões financeiras, uma vez que tais experiências proporcionam a estes profissionais
maior conhecimento relacionado a negócios, cultura e normas internacionais. Tal afirmação é
consistente com os achados de Piaskowska e Trojanowski (2014), para quem os executivos que
possuem formação internacional trazem conhecimentos específico, habilidades e outras
qualidades que contribuem à cognição coletiva e à base de valor da equipe.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Sofisticação Financeira
Vários fatores foram identificados como promotores para uma carreira nos altos
escalões, a exemplo das qualificações e habilidades de uma pessoa (Khanna, Jones & Boivie,
2014). Neste escopo, o perfil de internacionalização do executivo, em termos de nacionalidade,
educação, experiência profissional e demais compromissos ligados a comitês internacionais
podem estar associados à qualidade das informações financeiras (Dauth, Pronobis & Shimidt,
2017). Complementarmente, Hambrick e Mason (1984) argumenta que características como
idade, estabilidade na organização, background funcional, educação, raízes socioeconômicas e
posição financeira são indicadores do possível comportamento gerencial em uma situação
específica.
Sobre tal expertise financeira Custódio e Metzger (2014), afirmam que os CEO’s
especialistas são mais capazes de obter financiamento externo, mesmo sob condições de
mercado de crédito mais restritas, sugerindo que por serem mais qualificados têm melhor acesso
aos mercados de capitais. Logo, os autores concluem que os especialistas em finanças podem
seguir políticas financeiras mais agressivas, pois acessam os mercados financeiros com mais
4
facilidade (Custódio & Metzger, 2014). Estes resultados apoiam as evidências de Li, Wei e Lin
(2016), pois para os autores, os CEO’s que possuem experiências de gestão internacional
tendem a replicar práticas bem-sucedidas das vivências que tiveram no exterior. Na visão de
Piaskowska e Trojanowski (2014), alguns dos benefícios de ter estrangeiros em cargos de altos
escalões é que tais executivos possuem uma maior apreciação de questões interculturais, melhor
acesso a redes internacionais e compreensão dos riscos corporativos.
Nesta linha de pensamento, Doukas e Mandal (2018) investigaram se a remuneração e
as características dos CEO’s afetam as decisões de cobertura corporativa por meio da
negociação de derivativos em uma série de temporal de 05 anos. Os achados sugerem que o
CEO que trabalha no mandato de um determinado período de tempo exerce um impacto
significativo e positivo na cobertura corporativa da empresa, sugerindo que os CEO’s que
possuem maiores estabilidades em seus cargos tendem a serem mais conservadores e a proteger
mais as empresas por meio de derivativos. O trabalho de Doukas e Mandal (2018) alinha-se às
lentes da teoria dos escalões superiores de Hambrick e Mason (1984) e lança luz sobre as
características observáveis dos CEO’s e como elas influenciam nas decisões corporativas.
Para Custódio e Metzger (2014), as decisões corporativas estão relacionadas até mesmo
com a identificação dos CFO’s que possuem um desempenho fraco e que posteriormente podem
ser substituídos por outros profissionais mais talentosos. Assim, os CEO’s especialistas em
finanças podem substituir os CFO’s de maneira diferente dos especialistas não financeiros. Na
condição de um CFO ser substituído, os CFO’s recém-contratados por CEO’s especializados
em finanças são mais talentosos do que os contratados por especialistas não financeiros.
Um outro aspecto relacionado à expertise financeira foi averiguado por Bortoli (2017)
e Bortoli e Soares (2019). A pesquisadora analisou se a Sofisticação Financeira dos CEO’s está
relacionada com os vieses cognitivos de excesso de confiança e otimismo. A pesquisa contou
com uma amostra de 179 empresas listadas na [B]³, totalizando 810 observações. Os dados
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referentes às características observáveis dos CEO’s foram coletados de diversas fontes, entre
eles o formulário de referência, LinkedIn, Currículo Lattes e fontes de notícias em sites
especializados. Por meio de tais informações, a pesquisadora desenvolveu um índice de
Sofisticação Financeira que utilizou para testar a hipótese de pesquisa. Os resultados
provenientes dos testes estatísticos deram indícios de que os itens de Formação Internacional,
Formação Acadêmica relacionada à Finanças, e Experiência no Ramo contribuem para a
presença dos vieses de excesso de confiança e otimismo dos CEO’s.
2.2 Gestão de Riscos Corporativos
Sabe-se que a literatura relacionada à gestão de riscos corporativos e à relevância de
valor do uso de derivativos é rica e diversificada (Ayturk, Gurbuz & Yanik, 2016). Nas últimas
três décadas, várias teorias de gestão de risco foram desenvolvidas a partir da visão neoclássica,
considerando o efeito das fricções de crédito e outras imperfeições do mercado na decisão da
empresa de se proteger (Bodnar, Giambona, Graham & Harvey, 2019). Para Rocha (2007), a
gestão de risco ganhou notoriedade nas empresas financeiras em função de que as crises de
natureza bancária produziram efeitos negativos no conjunto de agentes econômicos, por vezes
ocasionando risco conjuntural ou sistêmico.
Sobre as discussões supracitadas, Ribeiro, Machado e Junior (2013) discorrem que o
crescimento de uma empresa vem acompanhado de uma maior necessidade de proteção contra
choques e flutuações de mercado, sejam eles internos ou externos, especialmente no contexto
de mercados financeiros globais e dinâmicos. Para Sprcic e Sevic (2012), a gestão de risco é
uma das funções corporativas mais importantes, pois contribui à realização da maximização da
riqueza principal da empresa e dos acionistas.
Na visão de Stulz (1996), o principal objetivo do gerenciamento de risco é mitigar a
probabilidade de resultados negativos que podem impor restrições ao financiamento ou impedir
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uma empresa de executar seus projetos de investimento. Por sua vez, a redução do risco
corporativo pode aumentar o valor para o acionista, reduzindo impostos esperados, custos de
falência, custos de agência, assimetrias de informação e pagamentos para partes interessadas
não-diversificadas da empresa (Smith & Stulz, 1985; Nance, Smith & Smithson, 1993; Adam,
Fernando & Golubeva, 2015; Ayturk, Gurbuz & Yanik, 2016; Bessler, Conlon & Huan, 2019).
2.3 Derivativos
O Fundo Monetário Internacional (IMF, 2018) conceitua derivativos como instrumentos
financeiros que estão vinculados a um ativo subjacente, taxa de referência ou índice. As
corporações utilizam os derivativos para diversos fins, entre eles tem-se o de (i) proteger o
participante do mercado físico, de um bem ou ativo conta variações adversas de taxas, moedas
ou preços; (ii) alavancagem, em que a empresa tem possibilidade de aumentar sua rentabilidade
total a um custo mais barato; (iii) arbitragem, com o objetivo de tirar proveito da diferença de
preços de um mesmo produto ativo negociado em mercados diferentes; e (iv) especulação, onde
a empresa toma uma posição no mercado futuro ou de opções sem uma posição correspondente
no mercado à vista (BM&FBOVESPA, 2015).
As transações com tais instrumentos financeiros devem ser tratadas como transações
separadas e não como partes integrantes do valor das transações subjacentes às quais podem
estar vinculadas. Zhou e Wang (2013) expõem que a utilização de derivativos abre um novo
canal para a gestão financeira corporativa em uma era de inovações financeiras, com efeitos de
alterar e ajudar a alcançar padrões desejáveis de fluxo de caixa. Para Santos, Lima, Gatsios e
Almeida (2017), os negociadores de derivativos do mercado brasileiro preferem contratos
padronizados, geralmente negociados por uma empresa de câmbio. Quando prudentemente
aplicado, esses derivativos reduzem os riscos nas operações, levando à redução do risco no
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patrimônio não alavancado e, também, reduzindo os riscos no passivo, levando à redução do
risco no patrimônio alavancado.
Todavia, segundo Júnior (2013), é necessário ponderar-se ao utilizar os derivativos para
fins especulativos, pois em países emergentes como Brasil, Polônia e México, houve relatos de
graves perdas financeiras após a desvalorização das moedas locais, como na crise de 2008. No
entanto Chang, Danohoe e Sougiannis (2016) enfatiza que a utilização de derivativos possibilita
que as empresas gerenciem riscos na presença de incertezas, tais contratos são bem conhecidos
por sua complexidade geral.
3 METODOLOGIA
A população da pesquisa compreende 494 empresas de capital aberto listadas na [B]3
durante o período de 2011 a 2017. O corte do início da análise se deu em função de considerar
o período após a harmonização das demonstrações contábeis, já que as demonstrações contábeis
sofreram impactos de tais alterações, além da melhoria da divulgação sobre a utilização de
derivativos. Além disso, tendo em vista as especificidades das empresas do setor financeiro e a
incoerência de mantê-las na amostra, considerando as variáveis utilizadas, optou-se pela
exclusão dessas; assim como efetuou-se exclusões daquelas que não se encontraram
informações suficientes para a mensuração da Sofisticação Financeira e acerca da utilização de
Derivativos, compondo uma amostra de 194 empresas, totalizando 1.309 observações.
Com o propósito de facilitar a compreensão acerca das variáveis e procedimentos
adotados, elaborou-se um desenho de pesquisa, em que as direções das flechas indicam a
variável que se pretende explicar. Veja
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Variável Independente
• Sofisticação Financeira
Variável Dependente
• Derivativos
Variáveis de Controle
• Idade
• Troca de CEO
• Gênero
• Endividamento
• Tamanho
• Auditoria
• Índice de Governança
• ADR
• Setor
• Importação
• Exportação
Figura 1. Desenho da pesquisa.
Fonte: Elaborado pelos autores.
A Figura 1 mostra as pressuposições que os autores adotam, com base na literatura
existente, sobre as possíveis relações das variáveis independentes e de controle para com a
variável dependente. De modo geral, acredita-se que variável independente Sofisticação
Financeira possa explicar a variável dependente Derivativos, a qual também tende a ser
explicada pelas variáveis de controle, sendo elas: idade, gênero, endividamento, tamanho,
auditoria, índice de governança, ADR, setor, troca de CEO, importação e exportação. Na
sequência, são apresentadas cada uma das variáveis da pesquisa, bem como a lógica relacional
para com a variável dependente, relação esperada e forma de mensuração.
Derivativos são contratos financeiros que compõem os instrumentos financeiros, os
quais são utilizados para a redução dos riscos financeiros (Ayturk, Gurbuz & Yanik, 2016;
Khumawala, Ronasinghe & Yan, 2016; Bartram, 2019). Uma vez que pesquisas demonstram
reflexos positivos da gestão de riscos corporativos, e sendo atribuído a gestor a responsabilidade
de exposição da empresa à riscos, torna-se relevante compreender o que guia o gestor sobre a
utilização ou não de derivativos e, consequentemente, a gestão de riscos financeiros. Essa
variável foi coletada da Plataforma Riskfinlab, sendo atribuído “1” quando a empresa utilizou
alguma das possibilidades de derivativos: Swap, Termo, Futuro e Opções, e “0” caso contrário.
O construto Sofisticação Financeira é originado da pesquisa de Bortoli (2017) o qual
compreende a aglomeração de expertises financeiras dos CEO’s, sejam essas advindas na
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trajetória acadêmica e/ou na profissional. A Sofisticação Financeira engloba as expertises:
Formação Internacional (FI), Formação Financeira (FF), Experiência no Ramo (ER),
Experiência no Setor Financeiro (ESF), Experiência como Diretor Financeiro (EDF),
Experiência como CEO (ECEO), Experiência Internacional (EI) e Elevada Hierarquia em Outra
Empresa (EHOE) (Bortoli, 2017; Bortoli & Soares, 2019). Acredita-se que, quanto maior for a
Sofisticação Financeira do CEO, este tende a fazer uso de derivativos como forma da redução
dos riscos financeiros da empresa em que atuam, tendo em vista as expertises que lhe dão
suporte para tal decisão. Os dados foram coletados no Formulário de Referência da [B]3 e
demais websites especializados, sendo esses processados pela Análise Fatorial Exploratória, a
qual distribui as expertises em dimensões. De forma diferente aos autores citados,
considerando-se os valores das dimensões geradas pelo Software SPSS.
A idade do gestor tem sido utilizada como proxy para a aversão de risco, já que na
medida em que o período de aposentadoria se aproxima, esse tende a minimizar as flutuações
aleatórias em seus portfólios, de modo a utilizar fortemente a gestão de riscos corporativos
(Tufano,1996; Doukas & Mandal, 2018). Nesse sentido, CEO’s com maior idade tendem a
utilizar derivativos para a gestão de risco, o que, também, pode estar associado às capacidades
de conduzir tais contratos, uma vez que ao longo de suas trajetórias aumentam suas expertises.
Serfling (2014) destacam que é improvável que as preferências de risco de firmas e CEO’s se
ajustem perfeitamente. E, em algum momento haverá substituição do CEO, em função de sua
aposentadoria, por outro mais novo, e assim haverá alterações enquanto as preferências, já que
esses tomam as decisões em nome da empresa.
A troca do CEO tende a influenciar os riscos coorporativos de forma positiva. Isso
porquê, quando o desempenho das empresas está abaixo do esperado, o nível de risco também
tende a ser baixo, ou seja, tende a fazer uso de derivativos; e se o desempenho for baixo e os
níveis de riscos forem elevados, uma vez que o CEO sentir ameaça de rotatividade eminente,
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provavelmente, fará baixar o risco corporativo, pois estará preocupado com sua reputação e
futuras oportunidades de emprego (Chen & Ebrahim, 2018). Assim, no momento em que
ocorrer a troca de CEO, provavelmente os riscos corporativos devem estar controlados pelo uso
de instrumentos financeiros, como os derivativos. Essa informação foi coletada no Formulário
de Referência e em websites especializados, sendo atribuído “1” se houve troca no período
analisado e “0” caso contrário.
Em relação ao gênero, observa-se, ainda, poucas mulheres no alto escalão das empresas,
como é o caso do cargo de gestor executivo, e diversas pesquisas revelam que estas recebem
remuneração inferior aos seus pares de gênero masculino (Withisuphakorn & Jiraporn, 2018),
percebe-se que suas decisões e consequências serão sentidas com maior intensidade, dado sua
representação em termos percentuais. A partir dessa conjectura, as decisões tomadas pelos
CEO’s do sexo feminino tendem a ser menos arriscadas (Faccio, Marchica & Mura, 2016).
Logo, acredita-se que tendo em vista a redução dos riscos corporativos, CEO’s do sexo
feminino tendem a fazer uso de derivativos. A informação sobre o gênero do CEO foi coletada
no Formulário de Referência da [B]3, para a qual atribuiu-se “1” para o gênero feminino e “0”
para o gênero masculino.
Empresas com maior nível de endividamento, também tendem a utilizar derivativos
como forma de redução dos riscos financeiros, especialmente aquelas empresas que possuem
dívidas em moedas estrangeiras, estando mais expostas às variações cambiais (Júnior, 2013). À
medida que as empresas aumentam seu nível de endividamento, aumentam sua probabilidade
de inadimplência, de forma empresas com essas características se beneficiam mais do uso de
instrumentos financeiros, do que as demais, principalmente, devido aos custos de dificuldades
financeiras (Chen & King, 2014). O nível de endividamento é calculado a partir da divisão entre
o passivo exigível e ativo total, sendo essas informações coletadas na Base de Dados Thompson
Reuters.
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Grandes empresas são mais propensas a efetuar o uso de derivativos, uma vez que
costumam efetuar contratos mais volumosos do que as empresas de maior tamanho (Giraldo-
Prieto, Uribe, Bermejo & Herrara, 2017; Luo & Wong, 2018). Assim, espera-se haver uma
relação positiva entre o tamanho da empresa e a utilização de derivativos. O ativo total da
empresa foi coletado utilizando-se a Base de dados da Thompson Reuters, a partir do qual
calculou-se o seu logaritmo natural como proxy do tamanho da empresa.
As maiores empresas internacionais de auditoria “PriceWaterhouseCoopers”,
“Delloite”, “Ernst & Young” e “KPMG”, conhecidas por comporem às “Big Four” (Iatridis,
2012), costumam estimular seus clientes enquanto à prevenção de riscos corporativos que
passam a ter mais acesso a serviços de consultoria e, portanto, passam a contar com técnicas de
hedge mais sofisticados e eficientes (Street & Gray, 2002). Assim, acredita-se que o fato de
uma empresa ser auditada por uma das Big Four, essas tendem a utilizar derivativos para a
prevenção de riscos. A variável foi coletada da Plataforma Riskfinlab, sendo atribuído “1” se
for auditada por uma das Big Four e “0” caso contrário.
Empresas que possuem boas práticas de governança corporativa tendem a utilizar
derivativos para a redução de riscos financeiros. A lógica para a relação positiva esperada é de
que a utilização de derivativos diminui a probabilidade de volatilidade nos fluxos de caixa.
Assim, a relação da empresa protegida por derivativos e as imperfeições do mercado financeiro
tende a lhe gerar mais benefícios do que custos, de forma que vem a aumentar o valor da
empresa (Júnior, 2013). Contudo, o autor ressalta para a utilização de derivativos sob ótica
especulativa às diferenças cambiais, pois na hipótese de desvalorização da moeda local
produzem perdas, sendo um problema, principalmente, em países emergentes, como o Brasil.
A variável foi coletada da Plataforma Riskfinlab, sendo atribuído “1” caso a empresa pertencer
a algum nível diferenciado de governança corporative e “0” caso contrário.
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Algumas empresas de capital aberto brasileiras possuem ADR (American Depositary
Receipt) emitidas, de forma que estão mais expostas ao risco cambial e, para a redução desse,
são mais propensas a utilizar derivativos do que as empresas que não internacionalizam suas
operações (Iatridis, 2012; Moura, Dagostini, Theis & Klan, 2017). Assim, acredita-se encontrar
uma relação positiva entre as empresas que possuem ADR e a utilização de derivativos, para
proteger-se aos riscos cambiais e especulativos. Para tanto, considerou-se as empresas
brasileiras com ADR na NYSE, atribuindo “1” para essas e “0” para aquelas que não
internacionalizaram suas operações nessa bolsa.
O valor de mercado de uma empresa pode ser maior em função do setor de atividade da
empresa e, consequentemente, pode estar associado maiores riscos, de forma que alguns setores
específicos podem ser mais propensos à utilização de derivativos do que outros. Alguns
exemplos de atividades em que pode-se fazer imprescindível o uso de derivativos são, por
exemplo: a mineração de ouro, companhias aéreas, exploração de petróleo e gás (Ayturk,
Gurbuz & Yanik, 2016). Determinados setores possuem alguns riscos específicos da atividade,
além de riscos cambiais, dada a concentração de operações de importação e exportação
realizadas, que podem ser reduzidos com a gestão de riscos corporativos por meio de
derivativos. A classificação dos setores de atuação se deu por meio da Base de dados da
Thompson Reuters.
As empresas que operam com importação e exportação estão mais expostas a riscos
financeiros relacionados às flutuações da taxa de cambio e, por esse motivo, há maior
probabilidade de que adotem instrumentos financeiros (Kuzmina & Kuznetsova, 2018).
Contudo, esses autores encontraram evidências de menor utilização de instrumentos financeiros
quando há elevado volume de importações e exportações com ocorrência simultânea, o que
pode ser compreendido como um hedge operacional, que ocorrem quando as receitas e os custos
na mesma moeda estrangeira coincidem, de forma a substituir o hedge financeiro por
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derivativos cambiais. Nesse sentido Bae, Kim e Kwon (2018) descrevem que para o
gerenciamento de exposição cambial, as empresas consideram tanto as condições prévias do
mercado, quanto o índice de exportação e importação, para decidir sobre a utilização de
derivativos. Assim, o fato da empresa exercer atividades de importação e/ou exportação, torna
ainda mais conveniente a decisão de utilização de derivativos, esperando-se, dessa forma, uma
relação positiva. A informação de ocorrência de importação e exportação no período foi
coletada por meio da Base de Dados Bloomberg, sendo consideradas como duas variáveis e
atribuído “1” quando da ocorrência e “0” caso contrário.
Para a análise dos dados foram utilizados os softwares: Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS) para a Análise Fatorial Exploratória, utilizada para a composição do índice de
Sofisticação Financeira; e o Stata®13 para o teste de Regressão Logística Multivariada com
Dados em Painel. Na Análise Fatorial Exploratória buscou-se tomar cuidados, considerando-se
a análise da Matriz de Correlação (coef. ≥ 0,30), KMO (coef. ≥ 0,5), teste de esfericidade de
Barlett (p-valor ≤ 0,05) e Matriz Anti-imagem (em que o valor da correlação própria variável
deve ser maior do que as demais) (Hair, Black, Babin, Anderson & Tatham, 2009). Para o
Teste de Regressão Logística Multivariada foram tomados os cuidados necessários para a
adequação do modelo com Dados em Painel, considerando-se os resultados dos testes Chow
(p-valor ≤ 0,05), Breusch-Pagan (p-valor ≤ 0,05) e Hausman (p-valor ≤ 0,05) (Fávero, Belfiore,
Silva & Chan, 2009). A seguir, apresenta-se a equação (1) utilizada para determinar os fatores
que estão relacionados à utilização de derivativos pelas companhias brasileiras; e a equação (2),
por sua vez, representa as variáveis explicativas do modelo 1. Veja:
Pr(𝑢𝑡𝑖𝑙𝑖𝑧𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝑑𝑒𝑟𝑖𝑣𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠 = 1) = 1
1 + 𝑒−𝑍
(1)
𝑧𝑖𝑡 = 𝛼𝑖 + 𝛽1𝑆𝐹𝑖𝑡 + 𝛽2 𝐼𝑖𝑡 + 𝛽3 𝐺𝑖𝑡 + 𝛽4𝑇𝐶𝐸𝑂𝑖𝑡 + 𝛽5𝐼𝑖𝑡 + 𝛽6𝐸𝑖𝑡 + 𝛽7𝑇𝑖𝑡 + 𝛽8𝐸𝑁𝐷𝑖𝑡 + 𝛽9𝐴𝑈𝐷𝑖𝑡
+ 𝛽10𝐺𝐶𝑖𝑡 + 𝛽11𝐴𝐷𝑅𝑖𝑡 + ∑ 𝛾𝑗
9
𝑗=1
𝑆𝑗,𝑖 + ε𝑖,𝑡
(2)
Em que:
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𝑧𝑖𝑡 = Derivativos da empresa i no ano t;
𝛼𝑖 = Intercepto;
𝛽1, 𝛽2, 𝛽3, 𝛽4, 𝛽5, 𝛽6, 𝛽7, 𝛽8, 𝛽9, 𝛽10, 𝛽11 =
Coeficientes do modelo de regressão;
𝑆𝐹𝑖𝑡 = Sofisticação Financeira do CEO da empresa i
no ano t;
𝐼𝑖𝑡I = Idade do CEO da empresa i no ano t;
𝐺𝑖𝑡 = Gênero do CEO da empresa i no ano t;
𝑇𝐶𝐸𝑂𝑖𝑡 = Troca de CEO da empresa i no ano t;
𝐼𝑖𝑡 = Importação da empresa i no ano t;
𝐸𝑖𝑡 = Exportação da empresa i no ano t;
𝑇𝑖𝑡 = Tamanho da empresa i no ano t;
𝐸𝑁𝐷𝑖𝑡 = Endividamento da empresa i no ano t;
𝐴𝑈𝐷𝑖𝑡 = Auditoria da empresa i no ano t;
𝐺𝐶𝑖𝑡 = Governança Corporativa da empresa i no ano t;
𝐴𝐷𝑅𝑖𝑡 = ADR da empresa i no ano t;
𝑆𝑗,𝑖 = Setor da empresa i no ano t;
ε𝑖,𝑡: Termo de Erro da Regressão.
4 ANÁLISES E DISCUSSÕES
Com intuito de mensurar a Sofisticação Financeira dos CEO’s, utilizou-se os itens de expertise
acadêmica e profissional igualmente considerados na investigação de Bortoli (2017) e Bortoli
e Soares (2019). Para a formação das dimensões, aplicou-se a Análise Fatorial Exploratória
com o método de extração de Análise de Componentes Principais (ACP), e rotação Varimax,
por meio do software SPSS. Em que o teste de KMO indicou a exclusão do item EHOE, devido
a não contribuir de maneira satisfatória com a qualidade do modelo. A extração dos fatores a
partir das sete variáveis restantes indicou a existência de três dimensões para Sofisticação
Financeira. A Tabela 1 apresenta a composição e a nomenclatura de cada dimensão.
Tabela 1 – Configuração das dimensões de Sofisticação Financeira
Dimensão Abreviação Variável Descrição
Trajetória
Profissional
ER Experiência no ramo Quantidade de anos com experiência profissional
no mesmo ramo da empresa em que atua.
ECEO Experiência como CEO Quantidade de anos que já exerceu o cargo de
CEO na empresa em que atua
Formação
Acadêmica
EDF Experiência como Diretor
Financeiro
Possui experiência profissional como Diretor
Financeiro.
FI Formação Internacional Possui formação acadêmica (graduação e/ou pós-
graduação) em universidades internacionais.
FF Formação Financeira
Possui formação acadêmica (graduação e/ou pós-
graduação) relacionada a finanças (cursos de
Administração, Contabilidade, Economia e
Finanças).
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Experiência
Profissional
EI Experiência Internacional
Possui experiência profissional em empresas
internacionais.
ESF Experiência no Setor
Financeiro
Possui experiência profissional no setor
financeiro.
Fonte: elaborado pelo autor.
A dimensão da trajetória profissional caracteriza os anos de experiência profissional do
CEO no ramo em que atua na companhia. Na dimensão da formação acadêmica estão inseridas
a experiência do CEO como diretor financeiro, a formação internacional e formação financeira.
No que se refere à dimensão de experiência profissional estão agrupados a experiência
profissional do CEO em empresas internacionais e os anos de experiência do CEO no setor
financeiro. Após este procedimento os fatores gerados para cada uma das dimensões foram
utilizados para mensuração das dimensões de Sofisticação Financeira no modelo de regressão.
A fim de atender ao objetivo proposto, de analisar a relação entre a Sofisticação
Financeira dos CEO’s e a utilização de derivativos em empresas com ações negociadas na [B]3
no período de 2011 a 2017, desenvolve-se a análise por meio dos resultados gerados a partir do
teste de Regressão Logísticas com Dados em Painel. Assim, ao se tratar dos testes de Regressão
Logística e do interesse em utilizar Dados em Painel, deve-se testar a adequação do modelo
além de verificar a melhor abordagem estatística destinada à análise. Para tanto, efetuou-se os
testes Chow, Breusch-Pagan e Hausman, aseando em que se obteve significância estatística
menor do que 1% para os três testes, o que demonstra adequação do modelo para o teste de
Regressão Logística com Dados em Painel de abordagem Efeitos Fixos. Além disso, como
resultados adicionais, também é analisado se a utilização de derivativos está relacionada com
outras variáveis de controle.
Tabela 2 – Regressão Logística com Dados em Painel por Efeitos Fixos
Variáveis Coeficiente p-valor
Experiência Profissional .0372518 0.040**
16
Fonte: Elaborado pelo autor.
Legenda: ***,**e * indicam níveis estatisticamente significativos de 1%, 5% e 10%, respectivamente.
Os resultados apresentados indicam quais variáveis estão relacionadas com a utilização
de derivativos, percebe-se que entre as dimensões de Sofisticação Financeira a que apresentou
significância positiva foi a Experiência Profissional do CEO’s (Coef.: 0,0372518; p-valor:
0,040). Assim, CEO’s quem possuem maior experiência no setor financeiro e em empresas
internacionais, tendem a adotar políticas de gestão de riscos nas companhias, como a utilização
de derivativos (Swap, Termo, Futuro e/ou Opções). Esses resultados não divergem dos
encontrados por Doukas e Mandal (2018), os quais comprovam que, quanto maior o tempo de
experiência dos CEO’s, mais elevada será a probabilidade destes profissionais protegerem a
empresa com derivativos, pois passam a serem menos tolerantes aos riscos. Logo, não se pode
rejeitar totalmente a hipótese testada nesta investigação, visto que, há uma relação
estatisticamente positiva entre a utilização de derivativos e a experiência dos CEO’s, sendo esta
uma das dimensões da Sofisticação Financeira.
As demais dimensões como Formação Acadêmica (Coef.: -0,0276439; p-valor: 0,036)
e Trajetória Profissional (Coef. -0,0372518; p-valor 0,027) apresentaram uma significância
Formação Acadêmica -.0276439 0.036**
Trajetória Profissional -.0310287 0.027**
Idade .0008202 0.518
Gênero -.2254792 0.004***
Troca de CEO .0560796 0.011**
Importação -.0430975 0.195
Exportação .0170824 0.659
Tamanho 1.05e-12 0.004***
Endividamento 5.40e-13 0.199
Auditoria Big Four -.0558141 0.752
Governança Corporativa -.0097487 0.769
ADR .0444736 0.690
Constante .4854828 0.008***
n° observações 1.309
Prob > F 0,000
R²
R² within 0.0376
R² between 0.001
R² overall 0.0003
sigma_u 0,445
sigma_e 0,266
17
negativa com a utilização de derivativos. Tal fato possibilita a inferência de que, quanto maior
for a Formação Acadêmica e a Trajetória Profissional dos CEO’s, menores serão as
possibilidades destes profissionais utilizarem derivativos. Esses resultados diferem dos
encontrados por Custódio e Metzger (2014), que encontraram evidências de que os executivos
com formação acadêmica na área de finanças têm maior probabilidade de seguir a teoria
acadêmica. Contudo, esses achados podem ser devidos à relação analisada por Bortoli (2017) e
Bortoli e Soares (2019), os autores investigam se a Sofisticação Financeira possui força
explicativa para os vieses de excesso de confiança e otimismo gerencial, pois os CEO’s, por
vezes, apresentam desvios cognitivos, especialmente quando as decisões precisam ser tomadas
de forma imediata.
Esses vieses, frequentemente detectados nos indivíduos que ocupam o alto escalão,
remetem à ideia de superestimação das habilidades, conhecimentos e capacidades de gerar
informações relevantes para a tomada de decisões (excesso de confiança), além de subestimar
os riscos (otimismo) (Bortoli, 2017; Bortoli & Soares, 2019). Seus resultados indicaram que, a
Sofisticação Financeira Acadêmica composta por ER, FF e FI influenciam no comportamento
excessivamente confiante e otimista dos CEO’s, Os dos testes dessa pesquisa, indicaram a FF
e FI para a dimensão de Formação Acadêmica, que se mostrou relacionada negativamente à
utilização de derivativos. Nesse sentido, abre espaço para que outras pesquisas possam
investigar com maior profundidade uma possível relação entre esses vieses cognitivos e a não
utilização de derivativos.
A variável idade (Coef.: 0,0008202; p-valor: 0,518), não apresentou significância
estatística, logo não pode ser compreendida como um determinante às empresas da amostra
utilizarem derivativos. Destarte, esse resultado é contrário aos achados de Serfling (2014), que
ao investigar se a idade do CEO exerce relação sobre as políticas de risco corporativos o autor
18
encontrou resultados positivos, concluindo que o comportamento da tomada de risco diminui à
medida que os CEO’s envelhecem.
A variável gênero (Coef: -0,02254792; p-valor: 0,004) apresentou significância
estatística negativa, contrária a relação esperada. Sendo esses resultados também oposto de
Faccio, Marchica e Mura (2016) os quais concordam que os homens e as mulheres tomam
decisões diferentes frente aos riscos corporativos, e que as mulheres possuem tendência a
comportamentos mais conservadores, como a redução de riscos, quando comparadas aos
homens. Os resultados provenientes desta investigação demonstraram que os homens utilizam
mais derivativos do que as mulheres. Withisuphakorn e Jiraporn (2018) encontraram
comportamentos diferenciados entre os gêneros, sendo que esses também estão relacionados
aos vieses cognitivos excesso de otimismo gerencial, frequentemente encontrado no gênero
masculino, assim, se comparadas aos homens, as mulheres, tendem a ser mais conservadoras.
No que se refere à troca de CEO’s, os resultados apresentados (Coef.: 0,0560796; p-
valor: 0,011), apresentaram uma relação positiva entre a troca de CEO’s e a utilização de
derivativos, pelas companhias pesquisadas. Tais achados sustentam as afirmações evidenciadas
no estudo Chen e Ebrahim (2018), de que os os CEO’s devem apresentar resultados não
satisfatórios por e, consequentemente ter menores níveis de riscos, podendo para isso ter
utilizando-se de derivativos. Ou, ainda, apresentar resultados não satisfatórios e obter elevados
níveis de riscos, contudo, se perceber que existem chances de serem despedidos, tendem a
reduzir os níveis de risco para melhorar sua reputação. Assim, na maior parte dos casos, no
momento em que ocorre a troca de CEO, a empresa tende a fazer uso de derivativos. E, a troca
tende a influenciar os níveis de riscos da empresa, já que cada CEO tem suas convicções acerca
dos riscos admitidos, os quais não, necessariamente, estão associados aos níveis de risco
admitidos pela empresa.
19
Também, não é possível afirmar que a variável importação (Coef.: -0,0430976; p-valor:
0,195) e exportação (Coef.: 0,0170824; p-valor: 0,659) estão relacionadas com a utilização de
derivativos. Geralmente, as empresas que fazem exportação estão mais propensas a utilizarem
derivativos pois, quando exportam ou importam mercadorias para ou de outros países, estão
expostas a diversos tipos de riscos, e a utilização destes instrumentos financeiros é uma forma
dessas empresas se protegerem e evitarem perdas provenientes destas atividades (Moura et al.,
2017). Contudo, Kuzmina e Kuznetsova (2018), afirmam que houverem níveis simultâneos de
importação e exportação, as empresas tendem a criar um hedge “operacional”, estando assim
menos expostas às flutuações das taxas de câmbio, devido valores de entradas de saídas se
igualarem quando as operações forem realizadas entre os mesmos países.
Os resultados afirmam haver uma relação entre o tamanho da empresa e a utilização de
derivativos (Coef.: 1,05; p-valor: 0,004). De forma a adicionar aos achados de Luo e Wong
(2018) e Moura et al. (2017), que concluem que tais empresas utilizam os derivativos como
instrumento para gestão de riscos já que injetam maiores volumes de investimento inicial, se
comparadas as de menor tamanho. Outra perspectiva, é a administração de capital de giro de
curto prazo, que a fim de maximizar o valor da empresa, que trabalham com poucas folgas,
tendo em vista a aceitação de novos projetos de investimentos.
O endividamento (Coef.: 5,40; p-valor: 0,199), também não possui poder explicativo
para a utilização de derivativos. Embora Júnior (2013), encontrou uma relação positiva entre a
variável com a utilização de derivativos por empresas não financeiras brasileiras, seu estudo
abrangeu o período de 2007 a 2009, e as turbulências emanadas pela crise financeira dos EUA
podem ter incentivado a utilização de derivativos no Brasil, que também foi impactado. Chen
e King (2014) afirmam que as empresas que possuem alto risco de inadimplência tendem a se
beneficiar mais de hedge devido a sua maior probabilidade e custos de dificuldades
financeiras. No entanto, se as empresas já estiverem em dificuldade financeira, durante esse
20
período pode não haver o uso do derivativo, mesmo que seus benefícios sejam superiores aos
seus custos.
O fato de empresas brasileiras serem auditadas pelas Big Four (Coef.: -0,0558141; p-
valor: 0,075), não contribuiu para que fosse feito o uso derivativos. Esse resultado diverge dos
encontrados pela pesquisa de Moura et al. (2017), todavia os pesquisadores consideram apenas
o período de 2011 para análise, e confirmaram a hipótese a um nível de significância de 10%.
Embora que essas empresas devem utilizar de uma consultoria sofisticada devido a serem
auditadas pelas Big Four, essas empresas podem estar criando outros meios para a redução dos
riscos ou, ainda, as empresas que compreendem a amostra não são as mais propensas a riscos,
quando comparadas as demais que não fazem o uso da auditoria.
Outra relação que não obteve relação com a utilização de derivativos, foi a governança
Corporativa (Coef.: -0,0097487; p-valor: 0,769). Esses resultados divergem dos encontrados
por Júnior (2013), que obteve uma relação positiva e significativa da governança corporativa e
o gerenciamento de risco das organizações, principalmente na utilização de derivativos. No
entanto, a pesquisa de Moura et al. (2017), realizada com empresas de capital aberto brasileira,
também não comprovou a relação. Dessa forma, percebe-se que a literatura ainda não é
consistente em relação a relação esperada.
Buscou-se, também, detectar uma relação entre as empresas que negociam suas ações
em bolsa estrangeira por meio de ADR com a utilização de derivativos. No entanto,
diferentemente de Iatridis (2012) e Moura et al. (2017), não foi possível identificar uma relação
entre tais variáveis (0,0444736; p-valor 0,690). A lógica é de que, ao negociar ações em bolsas
de outros países, as empresas se expõem a riscos cambiais e de especulação. Contudo, destaca-
se que, no Brasil são poucas as empresas que possuem ADR na Nyse, de forma que por
apresentarem características aleatórias, essas não conseguem afirmar sobre a gestão de riscos
quando as empresas optam pela utilização de ADR.
21
Por fim, no que se refere aos setores de atuação das companhias e sua relação com a
utilização de derivativos, não foi encontrada nenhuma significância estatística. Esse resultado
mostrou-se adverso aos de Ayturk, Gurbuz e Yanik (2016), que sinalizam a possibilidade de
haver comportamento de utilização de derivativos distintos entre os setores. Contudo, há de se
considerar que, mesmo dividindo-se as empresas de capital aberto brasileiras por setores, há
uma grande variação de características entre as empresas do mesmo setor (muitas delas
consideradas nesse trabalho como variáveis de controle) que tornam o comportamento, como
um todo, aleatório, sendo difícil de explicar ou prever a decisão sobre a gestão de riscos
financeiros por meio do uso de derivativos. Além disso, fatores como a pequena quantidade de
empresas listadas na bolsa brasileira e a concentração do capital acionário, tendem a influir
sobre a dificuldade de explicação das variáveis, pois o grupo de empresas que compõem esse
mercado é heterogêneo em diversos aspectos, racionais e/ou comportamentais que predominam
as decisões.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É compreendido a importância da gestão de riscos financeiros, e embora que a literatura
sobre a gestão de riscos seja extensa, ainda não os trabalhos que tratam com profundidade sobre
a possibilidade de fazê-lo por meio de instrumentos financeiros, como com derivativos. Nesse
sentido, é coerente pensar que correr riscos é uma decisão, já que são diversos os estudos que
apontam que a gestão de riscos financeiros por meio de derivativos, geralmente, proporciona
mais benefícios do que custos. Contudo, essa decisão deve ser tomada pelo gestor da empresa,
de forma que no caso desse ser Sofisticado Financeiramente, ou seja, possuir expertises
financeiras advindas da sua trajetória acadêmica e profissional, mesmo pode vir a ser guiado
por tais conhecimentos para efetuar a tomada de decisão. Assim, o estudo analisou a relação
22
entre a Sofisticação Financeira dos CEO’s e a utilização de derivativos pelas empresas
brasileiras que negociaram suas ações na [B]³ no período de 2011 a 2017.
Os resultados da pesquisa apontaram que quando o CEO apresenta elevados níveis de
Sofisticação Financeira guiada pela dimensão da Trajetória Profissional, ou seja, Experiência
no Ramo e Experiência como CEO, há gerenciamento dos riscos corporativos por pelo menos
uma das opções de derivativos (swap, termo, futuro e opções). Esse resultado possibilita a
aceitação parcial da hipótese de pesquisa, uma vez que se obteve relação positiva para uma das
três dimensões, a qual engloba três dos 7 itens da Sofisticação Financeira (Bortoli, 2017; Bortoli
& Soares, 2019). Já a Sofisticação financeira guiada pela dimensão da Formação Acadêmica,
composta pela Experiência como Diretor Financeiro, Formação Internacional e Formação
Financeira, e a dimensão da Experiência Profissional, composta pela Experiência Internacional
e Experiência como Diretor Financeiros, estão negativamente relacionadas à utilização de
derivativos. De forma que as empresas que possuem CEO com elevada Sofisticação de
Formação Acadêmica e de Experiência profissional, não efetuam a gestão de riscos financeiros
por meio de derivativos. Esse resultado obteve direção contrária à esperada nesse estudo,
contudo, pode fazer sentido ao considerar que indivíduos que pertencem ao alto escalão podem
apresentar desvios cognitivos, como o excesso de confiança e otimismo (Bortoli, 2017; Bortoli
& Soares, 2019). Sendo essa, a possibilidade de efetuar uma nova investigação.
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