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Relações Sociais Virtuais: uma leitura psicanalítica Júlio César Mendes Pereira Solange Coelho Resumo A presente pesquisa bibliográfica tem como objetivo entender as relações sociais via Internet na atualidade, a partir dos autores que discutem o tema e a partir de uma leitura psicanalítica. A pesquisa abordou o que se nomeou como modernidade, pós-modernidade e hipermodernidade; caracterizou o contexto da Internet; definiu as relações virtuais; identificou os impactos das relações virtuais na realidade das relações sociais e realizou uma leitura psicanalítica da dinâmica das relações virtuais. A segunda metade do século XX foi marcada pelo surgimento dos meios de comunicação rápidos, entre eles a Internet, que viabilizaram a globalização. O aumento do fluxo da comunicação e o acesso a pessoas ou grupos em espaços até então inalcançáveis por outros meios, tem permitido às pessoas explorarem facetas de sua personalidade. Como relação virtual entende-se aquela que só tem lugar no ciberespaço, não funcionando como um meio para que os participantes se encontrem no mundo real. As relações sociais até a modernidade eram organizadas por um eixo vertical de identificações. As crianças se identificavam com o pai, os adultos com os superiores no trabalho ou numa instituição social. Em tempos hipermodernos a globalização comprimiu o espaço-tempo horizontalizando o mundo e levou ao excesso as formas que orientam o mundo. Quando a forma em que se dá o laço social muda, o homem muda. Novas doenças surgem e novas soluções são propostas. Com a globalização alguns sintomas sociais passaram a se expressar de forma diferente como a drogadição, o fracasso escolar, a violência e a depressão. O homem ficou desbussolado. O espaço virtual tem se mostrado como um local de reprodução de discursos já existentes no real. A Internet acrescenta uma dimensão nova aos prazeres pela velocidade, liquidez e anonimato. Houve um afrouxamento na expressão da vida sexual anormal e também nas relações sociais e amorosas. Foi Jacques Lacan quem apontou para uma psicanálise além do Édipo, capaz de acolher um homem cujo problema é não saber o que fazer, nem escolher entre os vários futuros que lhe são possíveis. O amor tornou-se múltiplo e arbitrário. O sujeito hipermoderno precisa de um novo pacto social. Palavras-chave: Laço Social. Relação Virtual. Psicanálise. Graduando em Psicologia pela Universidade Vale do Rio Doce UNIVALE. Caixa Postal 11, Centro, Governador Valadares, MG, 35.001-970. [email protected]. Psicóloga. Especialista em Saúde Mental pela UFRJ e Mestre em Ciências da Educação pela Universidade de Havana. Professora no curso de Psicologia e Coordenadora do curso de pós-graduação lato sensu em Saúde Mental e Intervenção Psicossocial da Universidade Vale do Rio Doce UNIVALE. Orientadora de Trabalhos de Conclusão de Curso. Rua Lincoln Byrro, 490, Vila Bretas, Governador Valadares, MG, 35.032-610. [email protected].

Relações Amorosas Virtuais: uma visão psicanalítica · As crianças se identificavam com o pai, ... ocorreu um declínio da era industrial e de toda ética do trabalho, do sacrifício

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Relações Sociais Virtuais: uma leitura psicanalítica

Júlio César Mendes Pereira

Solange Coelho

Resumo

A presente pesquisa bibliográfica tem como objetivo entender as relações sociais via Internet

na atualidade, a partir dos autores que discutem o tema e a partir de uma leitura psicanalítica.

A pesquisa abordou o que se nomeou como modernidade, pós-modernidade e

hipermodernidade; caracterizou o contexto da Internet; definiu as relações virtuais;

identificou os impactos das relações virtuais na realidade das relações sociais e realizou uma

leitura psicanalítica da dinâmica das relações virtuais. A segunda metade do século XX foi

marcada pelo surgimento dos meios de comunicação rápidos, entre eles a Internet, que

viabilizaram a globalização. O aumento do fluxo da comunicação e o acesso a pessoas ou

grupos em espaços até então inalcançáveis por outros meios, tem permitido às pessoas

explorarem facetas de sua personalidade. Como relação virtual entende-se aquela que só tem

lugar no ciberespaço, não funcionando como um meio para que os participantes se encontrem

no mundo real. As relações sociais até a modernidade eram organizadas por um eixo vertical

de identificações. As crianças se identificavam com o pai, os adultos com os superiores no

trabalho ou numa instituição social. Em tempos hipermodernos a globalização comprimiu o

espaço-tempo horizontalizando o mundo e levou ao excesso as formas que orientam o mundo.

Quando a forma em que se dá o laço social muda, o homem muda. Novas doenças surgem e

novas soluções são propostas. Com a globalização alguns sintomas sociais passaram a se

expressar de forma diferente como a drogadição, o fracasso escolar, a violência e a depressão.

O homem ficou desbussolado. O espaço virtual tem se mostrado como um local de

reprodução de discursos já existentes no real. A Internet acrescenta uma dimensão nova aos

prazeres pela velocidade, liquidez e anonimato. Houve um afrouxamento na expressão da vida

sexual anormal e também nas relações sociais e amorosas. Foi Jacques Lacan quem apontou

para uma psicanálise além do Édipo, capaz de acolher um homem cujo problema é não saber

o que fazer, nem escolher entre os vários futuros que lhe são possíveis. O amor tornou-se

múltiplo e arbitrário. O sujeito hipermoderno precisa de um novo pacto social.

Palavras-chave: Laço Social. Relação Virtual. Psicanálise.

Graduando em Psicologia pela Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Caixa Postal 11, Centro,

Governador Valadares, MG, 35.001-970. [email protected].

Psicóloga. Especialista em Saúde Mental pela UFRJ e Mestre em Ciências da Educação pela Universidade de

Havana. Professora no curso de Psicologia e Coordenadora do curso de pós-graduação lato sensu em Saúde

Mental e Intervenção Psicossocial da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Orientadora de Trabalhos

de Conclusão de Curso. Rua Lincoln Byrro, 490, Vila Bretas, Governador Valadares, MG, 35.032-610.

[email protected].

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1 INTRODUÇÃO

A partir de meados do século XVIII são várias as modificações revolucionárias pelas

quais a humanidade tem passado. Surgiram as máquinas, a produção industrial em massa, as

hidrelétricas, os novos combustíveis, a energia nuclear, enfim, sinais da modernidade.

A segunda metade do século XX foi marcada pelo surgimento dos meios de

comunicação rápidos e uma infinidade de equipamentos eletro-eletrônicos que vem

transformando radicalmente as estruturas econômica, social e política do mundo globalizado.

A Internet surgiu nos Estados Unidos na década de 1960. Inicialmente era uma rede de

computadores interligados para fins militares. Para os americanos era imprescindível a

velocidade da informação no caso de sabotagem ou de uma investida bélica soviética. A rede

tinha a intenção de ser independente e autônoma, de não centralizar o poder de informação. O

ano de 1995 é uma data que marca o início da era comercial da Internet no Brasil e no mundo.

Naquele ano, 400 milhões de pessoas do mundo inteiro já se comunicavam via Internet.

Sinais da pós-modernidade e hipermodernidade.

Surgiram também os chats, meios de comunicação através dos quais as pessoas se

interconectam para conversar em tempo real utilizando-se da linguagem escrita. Mais adiante

apareceu a webcam que permitiu o uso da linguagem falada e também a linguagem corporal

para incrementar as relações que se mantinham através da grande rede. Depois surgiram os

blogs e os sites de relacionamentos como o orkut e o twitter que permitem manter conversas

assíncronas, sem a necessidade das pessoas estarem conectadas ao mesmo tempo para

manterem os seus relacionamentos virtuais. O Messenger fusiona a possibilidade de

comunicação síncrona e assíncrona. Sinais da hipermodernidade.

Nessa nova forma de comunicação, tabus que impediam contatos de interesse sexual

vão se dissipando. As pessoas, agora invisíveis na relação, se permitem conversar, seduzir e

trocar experiências em áreas antes proibidas. É a descoberta de uma nova forma de sexo

“seguro”, em que algumas pessoas ensaiam contatos sexuais e realizam fantasias sem culpa.

A era tecnológica trouxe grandes avanços no processo de comunicação do mundo. A

comodidade e a facilidade da Internet propicia novos modos de relacionamentos amorosos e

interpessoais sem a necessidade de sair de casa, e, dessa forma, o número de adeptos aos

diversos modos de relacionamentos virtuais é cada vez maior. É mister fazer uma reflexão

sobre essas novas alternativas de relacionamentos.

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A conveniência da presente pesquisa está no estudo da dinâmica e das transformações

que estão ocorrendo neste cenário através de uma leitura psicanalítica acerca das relações

sociais virtuais e visa responder: Segundo os autores que discutem o tema a partir de uma

leitura psicanalítica, como entender as relações sociais na atualidade?

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica com revisão de literatura. Este delineamento

mostra-se mais adequado aos objetivos dessa investigação, uma vez que se busca explicar um

problema a partir de referenciais teóricos publicados em livros ou artigos científicos.

Definir-se-á como relação virtual o tipo de relação que se restringe ao campo do

virtual, em outras palavras, aquela que não funciona como um meio para que os participantes

se encontrem no mundo real ou como extensão do mundo presencial, portanto, um

relacionamento que só tem lugar no ciberespaço.

A presente pesquisa justifica-se pela sua relevância social, científica e jurídica. Social,

uma vez que as relações virtuais são também relações sociais que ocorrem num cenário social,

e, por sua vez, este cenário é afetado pelos modos de relacionamentos estabelecidos; científica

devido à interlocução teórica e sua devida contextualização propiciando a crítica e o estudo

dos fenômenos decorrentes deste tipo de relacionamento, além do estudo do fenômeno da

sociabilidade virtual e da possível identificação de psicopatologias dela decorrentes; e jurídica

considerando que as discussões sobre esse tema poderão produzir subsídios teóricos que dêem

sustentabilidade para a elaboração de leis que venham normatizar aspectos decorrentes de

relacionamentos virtuais.

Dessa forma, a presente pesquisa tem o objetivo de conhecer as características das

relações sociais via Internet na atualidade, a partir dos autores que discutem o tema, porém,

através de uma leitura psicanalítica. Para tanto a princípio identifica-se as transformações no

contexto e nas relações sociais desde a modernidade até na atualidade a partir da utilização da

Internet; descreve-se as características das relações sociais via Internet e, finalmente, busca-se

entender por meio de fundamentação teórica em psicanálise as relações sociais via Internet.

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2 DESENVOLVIMENTO

2.1 MODERNIDADE, PÓS-MODERNIDADE, HIPERMODERNIDADE: LAÇOS

SOCIAIS EM TRANSFORMAÇÃO

De início pensa-se a modernidade a partir dos valores essenciais, liberdade e igualdade

que permitiram o aparecimento do indivíduo autônomo, liberto do passado. A modernidade

inverte a ordem da temporalidade e torna o futuro, e não mais o passado, o lugar onde se deve

buscar a felicidade vindoura e o fim dos sofrimentos (Forbes, 2005).

Quando Freud escreveu “O Mal-estar na Civilização” ele escrevia a história da

modernidade. A modernidade se fundamenta nos pilares da beleza, da limpeza e da ordem.

Não é condição natural humana procurar ou preservar a beleza, conservar-se limpo e observar

a rotina chamada ordem. Os prazeres da vida civilizada trazem como efeitos colaterais

adversos o sofrimento e a satisfação com o mal-estar. O princípio do prazer se reduz à medida

do princípio da realidade. O homem civilizado trocou um quinhão das suas possibilidades de

felicidade por um quinhão de segurança. O mal-estar da modernidade provinha da sensação

de segurança que tolerava a limitação de liberdade em prol da felicidade (BAUMAN, 1998).

Para Charlies (2004), Foucault alertou que a disciplina, aspecto marcante da

modernidade, mas com finalidade maior em controlar os homens do que libertá-los.

A sociedade moderna pensou a si mesma como uma atividade da cultura ou da

civilização. A modernidade ansiava em coletivizar o destino humano. Os sujeitos modernos

viveram num mundo estruturado onde o espaço era sólido e durável e o tempo era suficiente e

inabalável.

Na modernidade, segundo Kehl (2002), é ilusório pensar que a criação de sentido para

a existência fosse um ato individual. Foi uma tarefa coletiva, uma tarefa da cultura, da qual

cada sujeito participou deixando a sua contribuição. Lipovetsky (2004) complementa

afirmando que a modernidade negou o passado e buscou a previsibilidade do futuro.

Jorge Forbes (2005), por sua vez, tem adotado a advento da globalização para marcar a

passagem da modernidade para uma nova forma de organização social. Este autor aponta que

na modernidade o laço social era vertical e tinha como referencial o pai, o chefe e a pátria.

Essa nova ordem é marcada por um laço social horizontal.

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Charlies (2004) definiu a pós-modernidade como uma época marcada pela ampliação

da autonomia subjetiva, pela multiplicação das diferenças individuais e pelo dissolver dos

princípios sociais reguladores em unidades de opiniões e modos de vida. O individualismo e a

desagregação das estruturas tradicionais de normatização produziram fenômenos paradoxais

como o autocontrole e a abulia, tomada de responsabilidade e desregramento. A essência do

individualismo tornou-se o paradoxo.

A pós-modernidade desejava se libertar de toda interferência coletiva no destino

individual. De sorte, o que propulsionou a passagem da modernidade à pós-modernidade foi o

consumo de massa e os valores hedonistas que ele veicula. Segundo Bauman (1998), os

homens e as mulheres pós-modernos trocaram um quinhão de suas possibilidades de

segurança por um quinhão de felicidade.

A pós-modernidade representa o momento histórico preciso em que todos os freios

institucionais que se opunham à emancipação individual desaparecem e dão lugar à

manifestação dos desejos subjetivos, da realização individual e do amor-próprio. A pós-

modernidade é uma era de tribos que enaltece a comunidade e o fazer parte. As comunidades

são organismos não planejados que crescem naturalmente.

Lipovetsky (2005) definiu a pós-modernidade como uma sociedade de serviços que

pulveriza a antiga disposição disciplinar através da sedução.

Observa-se que as últimas décadas do século XX, conforme analisa Kehl (2002),

ocorreu um declínio da era industrial e de toda ética do trabalho, do sacrifício e do adiamento

do prazer. A nova economia gerou grande parte de seus lucros a partir da informática, da

indústria virtual das comunicações e também do consumo de bens supérfluos, serviços e lazer.

Essa economia produziu grandes e rápidas concentrações de riqueza.

Bauman (1998) avalia que a pós-modernidade é o tempo da fluidez, do líquido. Estar

em movimento significa não fazer parte de nenhum lugar e a conseqüência disso é não contar

com a proteção de ninguém. Quanto mais depressa se corre, mais rápido se permanece no

lugar. A estratégia da vida pós-moderna é evitar o fixo. O estranho é odioso e temido da

maneira como o é o viscoso. Ao contrário da água a substância viscosa gruda e não flui com

liberdade. A viscosidade implica a perda ou a ameaça da liberdade.

A partir deste conceito de fluidez, Bauman (2007) desenvolveu o conceito de vida

líquida como sendo a forma de vida numa sociedade líquido-moderna.

Líquido-moderna é uma sociedade em que as condições sob as quais agem seus

membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a

consolidação, em hábitos e rotinas, das formas de agir (BAUMAN, 2007, p.7).

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A vida líquida não pode manter a forma ou permanecer em seu curso por muito tempo.

O envelhecimento e a obsolescência das coisas ocorrem rapidamente e antes de serem

apreendidas efetivamente. É uma sucessão de reinícios e o livrar-se das coisas tem prioridade

sobre a aquisição. Percebe-se essa característica facilmente observando-se a produção de lixo

na sociedade.

As relações amorosas na vida líquida também seguem essa característica, portanto, são

relações vividas em condições de incerteza constante. Tendo o passado e o futuro sido

desacreditados, existe a tendência a pensar que o presente se tornou a referência essencial.

Para Bauman (2007), o mundo pós-moderno está se preparando para a vida sob uma condição

de incerteza que é permanente e irredutível.

Segundo Gilles Lipovetsky (2004) o termo pós-modernidade tinha o mérito de

salientar uma mudança de direção, uma reorganização na dinâmica social e cultural, uma

expansão do consumo e da comunicação em massa, pontuar o enfraquecimento das normas

disciplinares e a consagração do hedonismo. Na década de 1980 o conceito dava oxigênio e

sugeria o novo, entretanto, ainda focava o passado que se decretara morto. Considerando a

liquidez da modernidade, o ciclo de vida da pós-modernidade já se esgotou. Ao mesmo tempo

em que se anunciava o nascimento da pós-modernidade também se desenhava a

hipermodernização do mundo.

Nasce toda uma cultura hedonista e psicologista que incita à satisfação imediata das

necessidades, estimula a urgência dos prazeres, enaltece o florescimento pessoal,

coloca no pedestal o paraíso do bem-estar, do conforto e do lazer. Consumir sem

esperar; viajar; divertir-se; não renunciar a nada: as políticas do futuro radiante

foram sucedidas pelo consumo como promessa de um futuro eufórico

(LIPOVETSKY, 2004, p.61).

Conforme Forbes (2005), muito se anunciou que a pós-modernidade superou os

aspectos marcantes da modernidade, a saber: Individualismo, tecnicismo e o mercado.

Entretanto, para ele, Lipovetsky define a hipermodernidade como sendo a extensão dos

aspectos supracitados que multiplicaram seu alcance sobre as relações humanas.

Vários sinais são relacionados por Lipovetsky (2004) como indicadores de uma era

que se caracteriza pelo hiperconsumo, pela hipermodernidade e pelo hipernarcisismo: Um

consumo que absorve e integra parcelas cada vez maiores da vida social e que funciona a

partir de uma lógica hedonista que faz que o consumo seja para sentir prazer e não mais para

exibir status; Uma sociedade liberal caracterizada pela fluidez e pela flexibilidade, que se

mostra indiferente aos grandes princípios estruturantes da modernidade para adaptar-se ao

ritmo hipermoderno e não desaparecer; Um narcisismo que abarca a responsabilidade, a

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organização e a flexibilidade rompendo-se assim com o narcisismo hedonista e libertário dos

anos pós-modernos.

A hipermodernidade produz num só movimento a ordem e a desordem, a

independência e a dependência subjetiva, a moderação e o excesso. Os indivíduos

hipermodernos são ao mesmo tempo mais informados e mais desestruturados, mais adultos e

mais instáveis, mais abertos e mais influenciáveis, mais críticos e mais superficiais. O que

mudou foi o ambiente social e a relação com o presente. O centro de gravidade temporal de

nossas sociedades se deslocou do futuro para o presente.

A partir dos anos 80 e (sobretudo) 90, instalou-se um presentismo de segunda

geração, subjacente à globalização neoliberal e à revolução informática. Essas duas

séries de fenômenos se conjugam para “comprimir o espaço-tempo”, elevando a

voltagem da lógica da brevidade. De um lado, a mídia eletrônica e informática

possibilita a informação e os intercâmbios em “tempo real”, criando uma sensação

de simultaneidade e de imediatez que desvaloriza sempre mais as formas de espera e

de lentidão. De outro lado, a ascendência crescente do mercado e do capitalismo

financeiro pôs em xeque as visões estatais de longo prazo em favor do desempenho

a curto prazo, da circulação acelerada dos capitais em escala global, das transações

econômicas em ciclos cada vez mais rápidos (LIPOVETSKY, 2004, p.62).

Em tempos de pressa parece que o vínculo afetivo é substituído pela rapidez e a

qualidade de vida pela eficiência. As relações reais de proximidade cedem lugar às relações

virtuais.

2.2 VIRTUALIDADE REAL E REALIDADE VIRTUAL: uma nova ordem

Bauman (1998, 2001) tendo em vista a macro-análise de importantes aspectos da vida

social que foram profundamente transformados pelas redes de telecomunicação digital destaca

o quanto a vida social pós-moderna é marcada pela extraterritorialidade e fluidez. Algumas

das principais manifestações dessas duas características da organização social contemporânea

são: o exercício extraterritorial do poder, passível de ser levado a cabo a partir de qualquer

lugar; a circulação constante, fácil e rápida do capital e da informação; e o novo tipo de

nomadismo instaurado pela derrubada das fronteiras e barreiras da era moderna.

A Internet permite às pessoas explorarem facetas de sua personalidade que tem

expressão limitada nas relações sociais presenciais off-line, especialmente devido às restrições

no contato social característico da atualidade na cultura ocidental capitalista. As limitações

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colocadas pela sociedade ao comportamento individual parecem suspensas na vida on-line, o

que estimula a auto-expressão livre, que, por sua vez pode favorecer o desenvolvimento de

uma nova identidade pessoal. Contudo, se por um lado, a comunicação virtual pode favorecer

comportamentos como o autoconhecimento e a formação de vínculos saudáveis com outras

pessoas, por outro, também favorece comportamentos compulsivos e perversões sexuais como

o voyeurismo e a pedofilia. Isso ocorre em função da possibilidade do anonimato e da

impessoalidade, o que propicia a desinibição (DORNELLES, 2000).

Para o presente estudo, que visa focar as relações sociais via Internet, definir-se-á

como relação virtual o tipo de relação que se restringe ao campo do virtual, ou seja, aquela

que não funciona como um meio para que os participantes se encontrem no mundo real ou

como extensão do mundo presencial, portanto, um relacionamento que só tem lugar no

ciberespaço.

Tal abordagem é consonante com a conceituação proposta por Bauman (2004), para

quem as relações virtuais são relações travadas e mantidas por meio da Internet entre pessoas

que não se conhecem fisicamente. Tais relações são definidas por oposição aos

relacionamentos pessoais ou presenciais característicos da época moderna, quando as

tecnologias digitais sequer existiam.

Como impacto social da digitalização observa-se que as relações virtuais, rebatizadas

de conexões, estabelecem o padrão que orienta todos os outros relacionamentos. É

interessante perceber, nos dias atuais, que muitas pessoas relatam suas experiências no

convívio social utilizando termos técnicos próprios da conectividade. Termos como pessoas

conhecidas, relacionar-se e relacionamentos foram substituídos por rede de contatos,

conectar-se e estar conectado (BAUMAN, 2004).

Bauman (2004) define os relacionamentos sociais modernos como sólidos, profundos

e autênticos, em oposição aos relacionamentos virtuais caracterizados como descartáveis,

frágeis, superficiais e pouco autênticos. Ainda a partir de sua ótica, os relacionamentos

presenciais da modernidade eram consolidados por diferentes tipos de solidariedade que estão

ausentes tanto nos relacionamentos virtuais quanto nos relacionamentos pessoais pós-

modernos.

Diferentemente dos 'relacionamentos reais' [leia-se modernos], é fácil entrar e sair

dos 'relacionamentos virtuais'. Em comparação com a 'coisa autêntica', pesada, lenta

e confusa, eles parecem inteligentes e limpos, fáceis de usar, compreender e

manusear. Entrevistado a respeito da crescente popularidade do namoro pela

Internet, em detrimento dos bares para solteiros e das seções especializadas dos

jornais e revistas, um jovem de 28 anos da Universidade de Bath apontou uma

vantagem decisiva da relação eletrônica: “Sempre se pode apertar a tecla de

deletar” (BAUMAN, 2004, p.12).

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Adicionando outras características aos relacionamentos virtuais, estendendo-as

também para os relacionamentos presenciais contemporâneos, Bauman (2004) afirma que são

frenéticos, frívolos e incapazes de gerar introspecção como supostamente o faziam os

relacionamentos presenciais e interpessoais do período moderno. O contato e o fluxo contínuo

de mensagens são mais importantes do que o conteúdo a mensagem.

Nos chats as relações podem se moldar com rapidez, mas podem terminar com uma

rapidez ainda maior. Basta um clique do mouse para que um usuário seja definitivamente

despachado da vida de outro usuário. Não há tempo, nem espaço, nem possibilidade para que

se pergunte o porquê do rompimento, para que se expresse uma mágoa, para que se tente

manter a relação. É morte abrupta e repentina. A tela que opera a mediação também funciona

como proteção contra os riscos da realidade.

Para Semerene (1999) a efemeridade característica das relações hipermodernas com

laços sociais horizontais e das relações virtuais possivelmente está relacionada à possibilidade

do anonimato que exime o internauta de compromisso em suas ações, podendo a qualquer

momento desligar o computador e mudar de parceiro.

Segundo Chagas (1999) a virtualidade favorece a utilização de estereótipos e imagens

consagrados pela mídia, para que as pessoas se descrevam como homens e mulheres

idealizados. Assim, continuam buscando aceitação de forma insatisfatória: serem aprovados

pelo que não são.

No virtual a característica mais marcante e evidente é que o corpo dos participantes de

um relacionamento permanece sempre excluído da relação. Trata-se de uma relação, nesse

sentido, acorporal. É um paradoxo que a função de contato das redes seja utilizada, muitas

vezes, em sentido oposto àquele a que se destina, já que é uma tecnologia a serviço da

comunicação, mas frequentemente abriga a evitação do contato (GONÇALVES, 2008).

O corpo sempre definiu o espaço do próprio e do individual, na medida em que sendo

único e singular, confere a seu possuidor um lugar específico. A ausência de corpo físico,

traduzida por ausência de suporte corporal físico para a relação, faz com que a identidade

perca sua territorialização orgânica, o que abre para a possibilidade de invenção de

identidades fictícias que nunca serão desmentidas pela identidade corporal própria de cada

um, podendo a pessoa, inclusive, possuir mais de uma identidade como nos fakes. Apesar da

ausência do corpo no espaço virtual, a Internet não é um meio que pretere o corpo em prol das

idéias, pois a maioria dos conversadores virtuais pede fotos do outro interlocutor, e, mesmo

nas conversas, as primeiras perguntas são na maioria das vezes uma descrição do físico

(SEMERENE, 1999).

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O anonimato na Internet limita o teatro ao desempenho do eu ao quão incorporado à

máscara o personagem está. É quase impossível determinar, senão por lapsos e atos falhos, se

o interlocutor é uma mulher ou um homem travestido, se é realmente a figura carente e

necessitada de ajuda como se apresenta ou se está apenas com um grupo de amigos ao redor

brincando com o outro virtual. A utilização da webcam, que inclui a imagem no contato,

dificulta a dissimulação e garante certa seriedade ao relacionamento, geralmente é utilizada

num segundo momento da relação, quando se estabelece o interesse e a confiança.

O espaço físico opera uma série de seleções que interfere no encontro eventual de

parceiros amorosos: considerando os espaços físicos que um alto executivo freqüenta, há

pouca probabilidade deste se encontrar com um punk e com ele estabelecer alguma forma de

relacionamento; da mesma forma, um religioso fervoroso certamente só se relacionaria com

uma prostitua em condições excepcionais. Ora, essa seleção que o espaço físico opera

depende de um grande número de fatores, dentre os quais estão os econômicos, os culturais,

os religiosos, os sociais e os ligados ao sexo e às preferências sexuais de cada um.

Em grande parte, na Internet tais fatores são abolidos aumentando a probabilidade de

que se realizem encontros e relacionamentos que, por conta dos fatores segregativos do

mundo real, poderiam não acontecer. Falamos em maior probabilidade, pois a abolição desses

fatores segregativos não é completa nas relações virtuais. Permanecem os fatores de interesses

pessoais, de opções sexuais e a segregação econômica, pois o acesso à Internet exige

investimento e equipamentos (GONÇALVES, 2008).

Nicolaci-da-Costa (1998) destaca dois aspectos dos relacionamentos virtuais: a ilusão

de proximidade, conhecimento e intimidade a despeito das distâncias geográficas; e a fuga da

realidade do mundo real, quando essa não é ou não está satisfatória, o que muito

provavelmente, é parte do que está por trás do tão alardeado vício na rede, principalmente nos

chats.

Essa fuga da realidade em favor de outra realidade, duplas realidades que existem

simultaneamente, tem sido uma constante no mundo virtual. O homem tem inventado outros

mundos para dar um sentido ao mundo em que existe. Tais mundos imaginários podem

funcionar, evidentemente, como uma proteção contra uma realidade efetiva que se afigura

insuportável.

O relacionamento a distância tenta substituir o outro simulando a presença deste.

Conforme Marcondes (1998) o que ocorre é que o sujeito produz o seu próprio orgasmo

vicariamente, já que o outro é assumido pelo próprio sujeito. O corpo do outro nunca será

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conhecido, será apenas criação da própria fantasia. Até mesmo a não-existência de riscos dá-

se justamente pela inexistência do outro, do limite da corporeidade.

Segundo Bauman (1998, 2004), um lado da transformação dos nossos dias é o

desemaranhamento do sexo do denso tecido de direitos adquiridos e deveres assumidos. Nada

resulta do encontro sexual, salvo o próprio sexo e as sensações que acompanham o encontro.

Os motivos para associar a satisfação das necessidades sexuais com o casamento se tornam

cada vez menos evidentes ou convincentes. O compromisso com outra pessoa ou com outras

pessoas parece cada vez mais uma armadilha a ser evitada a todo custo. As relações sexuais

costumavam proporcionar o tijolo e a argamassa essenciais para a construção da estrutura na

vida familiar. Hoje elas têm sido instrumento de desagregação dessa estrutura.

Outra perspectiva interessante a ser observada é a imposição de um desempenho

sexual perfeito para homens e mulheres. Cada um exerce intenso controle de desempenho

sobre o outro, com a exigência mútua do prazer absoluto. A relação passa a ser mantida sob

uma perspectiva de necessidade e temor. Uma das saídas possíveis passa a ser a busca do

prazer virtual que exige, a princípio, apenas uma predisposição ao exercício da imaginação

(SEMERENE, 1999).

Gonçalves (2008) pontua que o amor com as máquinas e as aventuras nos mundos

virtuais são uma alternativa bastante sedutora na era da Aids, da gravidez indesejada e das

doenças sexualmente transmissíveis. No mundo virtual o desejo geral de um amor sem risco

deu vazão aos jogos sexuais em linha de texto, aos programas pornográficos interativos, e ao

sexo em realidade virtual.

Se a tela protege nos primeiros momentos do encontro, e enquanto durar a relação,

protege igualmente no momento da separação: de modo algum a reação do outro abandonado

pode afetar o eu que o abandonou, e isso porque o outro abandonado é radicalmente excluído

do mundo virtual do abandonante.

Pode-se admitir a existência de uma situação paradoxal dos humanos na

contemporaneidade, situação que se caracteriza por um desejo de relações sem a disposição

de se pagar o preço necessário e admitir igualmente que disso decorreria em parte da força de

atração das relações virtuais.

Eis aí o conflito da pós-modernidade: as pessoas procuram as relações, os encontros,

mas não querem compromisso, nem o trabalho e a responsabilidade que isso

implica. Assim, as relações de presença-ausência se desenvolvem em todos os

lugares, sobre as redes de 'tele' 'comunicação', ou seja, cada um em sua casa, livre

para comunicar ou encontrar com quem quiser (FERNANDES Y FREITAS Apud

GONÇALVES, 2008. p.6).

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Semerene (1999) afirma que o mundo virtual promete a garantia da segurança

personagens sexualmente perfeitos, a ausência de interdições, a interatividade, a quebra de

fronteiras e a efemeridade.

Essas são as promessas ou as potencialidades fornecidas pelos chats. Porém,

questiona-se se tudo não passa de uma grande ilusão, já que um espaço foi criado

exclusivamente para que a revolução apenas se dê ali e não escape. É um espaço de

confinamento, ou de sublimação. Além disso, a liberação nos chats esbarra nas

possibilidades da linguagem (...). A linguagem é um muro para a sexualidade, é o

motivo pelo qual a relação sexual é sempre angustiante, pois não há correspondência

entre o que um fantasia e o que o outro é. Nesse ponto, não há diferenciação entre o

mundo real e o virtual. Em ambos, o que vale é a imagem que o outro tem de mim.

O parecer é mais importante que o ser (SEMERENE In Porto, 1999, p.36).

A relação entre o mundo virtual e o real pode parecer redundante e óbvia, já que o

usuário da Internet é o homem contemporâneo e só poderíamos encontrar nele as

características que esse sujeito possui na vida real.

Segundo Giugliano,

Uma grande dúvida filosófica parece estabelecer-se nesse momento: o

desenvolvimento técnico modifica o ser humano a ponto de construir um novo

homem, como estabelece o materialismo marxista; ou é o homem que usa a técnica

da forma que lhe convém, muitas vezes desvirtuando as idéias e desprezando as

possibilidades daquilo que ele mesmo inventa? (GIUGLIANO, 1999, p.48).

Fica a impressão, portanto, de que a sociedade atual, vivida na Internet, é reconstruída

em bases tecnológicas e virtuais, sem, no entanto, promover a revolução esperada. Dessa

forma, o mundo continua sendo mais ou menos igual ao que era antes.

Tal repetição que se detecta na linguagem e pode ser encontrada nas identidades

criadas pelos participantes de chats a partir de estereótipos que reproduzem imagens

veiculadas pela mídia permite uma reflexão.

Para Chagas (1999, p.19) "ao não viver mais amplamente a liberdade possível nos

chats, perde-se a oportunidade de uma exploração maior dessa nova função de contato e

constata-se que mundo real e mundo virtual estão muito próximos". A presença dos

estereótipos indica quão forte é a colonização das mentes e da imaginação pelos meios de

comunicação contemporâneos. Talvez seja preciso tempo, persistência, exercício para que a

imaginação se desprenda.

Já Nicolaci-da-Costa (1998) associa os benefícios da Internet à construção de um

contínuo entre o mundo real e o virtual. O virtual fechado sobre si mesmo é tomado

negativamente. Após enumerar uma série de aspectos positivos dos relacionamentos virtuais a

autora afirma que o usuário tem que aprender a construir algum tipo de ponte entre a realidade

virtual e a presencial.

13

2.3 TRANSFORMAÇÕES SUBJETIVAS E PSICANÁLISE

Ao descrever diferentes épocas como modernidade, pós-modernidade ou

hipermodernidade sublinha-se a existência de diferentes modos de constituição de

identidades. O desejo humano, segundo Freud (1930), está fundado em uma completude

estrutural. O mundo era organizado por um eixo vertical das identificações. As crianças se

identificavam com o pai, os adultos com os superiores no trabalho ou numa instituição social.

Padrões ideais orientavam as formas de satisfação, de amor, de trabalho, de relacionamentos.

Havia uma predeterminação de modelos.

Segundo Forbes (2005), em tempos hipermodernos a globalização comprimiu o

espaço-tempo horizontalizando o mundo e levou as formas que orientam o mundo ao excesso,

à multiplicidade de modelos. Hoje as relações sofrem influências globais e de diversas e

distintas culturas. As referências se contrapõem, são múltiplas, e acabam se invalidando. A

quebra do eixo vertical equivale a uma desorientação da pulsão.

Quando o laço social muda, o homem muda. Novas doenças surgem e novas soluções

são propostas. Alguns sintomas da globalização são apresentados através da drogadição, o

fracasso escolar, a violência e a depressão. Na avaliação de Forbes (2005) a forma como na

atualidade se faz uso das drogas não reproduz modelos do passado. O fracasso escolar não

perpassa pela rebeldia como uma forma de oposição aos professores, mas, ao contrário, passa

por uma absoluta indiferença, onde professor e aluno se encontram impotentes. A violência na

hipermodernidade tem um aspecto de brutalidade e causa um suspense difícil de suportar,

dessa forma, nomear o perigo é uma maneira de reduzir o suspense e acalmar a população

através da convergência do medo a um objeto específico.

Freud captou a verticalidade de sua época e encontrou uma alternativa para lidar com

o mundo organizado hierarquicamente através do Complexo de Édipo. A partir deste modelo

ele desenvolveu as categorias psicanalíticas de neurose, perversão e psicose.

Freud (1901) discute a concepção de perversão sexual enquanto casos em que a função

sexual estende o limite do coito com objetivo de reprodução, seja para a parte do corpo em

causa ou para o objeto sexual escolhido, contudo, o termo é reservado apenas para as

situações onde há uma exclusividade e uma fixação.

Percebe-se que o que as pessoas denominam como sexual faz referência ao contraste

entre os sexos, à busca de prazer, à função reprodutora e à característica de algo que é

impróprio e deve ser ocultado. Para Freud (1917b) a maior parte do que o senso comum

denomina como sexual refere-se à genitalidade. Algo impróprio de que não se deve falar.

14

Freud (1905) utiliza o exemplo de uma fotografia, não digital, para afirmar que as

neuroses são o negativo da perversão. Uma imagem fotográfica começa como negativo e só se

torna fotografia após haver transformado em positivo. Nem todo negativo transforma-se

necessariamente em positivo. Dessa forma, Freud salienta que a vida sexual de cada sujeito se

estende ligeiramente além das estreitas linhas impostas como padrão de normalidade e que o

instinto sexual dos psiconeuróticos exibe todas as aberrações estudadas como variações da

vida sexual normal e como manifestações da vida sexual anormal.

Bloch (1902, apud FREUD, 1917b) já apontava que os desvios e variações da vida

sexual normal não são sinais de degeneração, mas ocorrências que marcaram diversas épocas,

desde os povos mais primitivos até os mais civilizados, que foram tolerados e difusamente

reconhecidos.

Os sintomas neuróticos são substitutos da satisfação sexual, substituto daquilo que não

aconteceu normalmente até seu objetivo normal. Dessa forma, os sintomas também são

substitutos da satisfação daquilo que se chama necessidades sexuais pervertidas e que os

sujeitos se privam em suas vidas. Os sintomas servem de satisfação sexual do sujeito

substituindo a satisfação sexual da qual o mesmo se privou, portanto, o sintoma é a realização

de um desejo, e ademais disso, a realização de um desejo erótico (FREUD, 1917a).

Nas palavras de Dor (1994), o sintoma neurótico resulta sempre de um recalcamento

dos componentes pulsionais da sexualidade. Já Freud (1930) havia postulado que o mal-estar

na cultura estava ligado à falta que atingiu o gozo.

Segundo Chemama (1993), o gozo refere-se ao desejo inconsciente, noção que

ultrapassa qualquer consideração sobre os afetos, os sentimentos e as emoções, e colocando a

questão de uma relação com o objeto que passa pelos significantes inconscientes. A ênfase é

colocada na questão complexa da satisfação em seu vínculo com a sexualidade. O gozo se

opõe ao prazer, que reduziria as tensões do aparelho psíquico ao mais baixo nível possível. O

gozo é um prazer postergado, que causa uma dor, e pode permitir o acesso a um prazer maior

e mais duradouro.

Quinet (2009) afirma que o que está sempre promovendo a satisfação da pulsão, ao

simbolizar o Real do gozo é o sintoma. Ele afirma que o sintoma é definido por Lacan, nos

anos 1950 a partir do Simbólico e nos anos 1970 a partir do real. É do Real que se trata no

Sinthoma, grafia utilizada por Lacan para caracterizar sua distinção com o sintoma.

O sintoma é a expressão de uma realização de desejo e a realização de um fantasma

inconsciente que serve para realizar tal desejo. Segundo este autor, para Lacan o sintoma é o

efeito do Simbólico no Real. O sintoma é aquilo que as pessoas têm de mais real. Lacan criou

15

o termo Sinthoma para designar o quarto círculo do nó borromeano e para significar que o

sintoma deve cair e que o Sinthoma é aquilo que não cai, mas transforma-se para que continue

sendo possível o gozo, o desejo (CHEMAMA, 1993).

Lacan (2007) ao apresentar os três anéis separados que representam o Real, o

Simbólico e o Imaginário, ligados por um quarto anel que representa o Sinthoma afirma que o

pai e o Complexo de Édipo também são Sinthomas.

O homem ficou desbussolado sem o norte da mão do pai que, por ter o saber, lhe

assegurava o caminho a seguir. Para ele foi Jacques Lacan quem apontou para uma

psicanálise além do Édipo. Uma psicanálise capaz de acolher um homem cujo problema é não

saber o que fazer, nem escolher entre os vários futuros que lhe são possíveis. Hoje o problema

do sujeito não está mais nas amarras de seu passado, mas na escolha entre várias

possibilidades de futuro (FORBES, 2004).

Para Cabas (2009) o excesso se tornou norma e o gozo virou regra. O sexo passou a

ser considerado como uma necessidade, o que equivale a uma perda do lugar que o desejo

ocupava na obra de Freud. Para a psicanálise de hoje, ainda segundo Cabas (2009), a causa

dessa nova economia está relacionada com a queda da função paterna. Sendo assim, o que há,

de fato, é a emergência de um novo sintoma.

A depressão é uma das grandes formas patológicas predominantes na atualidade. Para

o autor, a depressão aparece quando o sujeito tem o sentimento de não ter mais valor aos

olhos do Outro. Menciona ainda que para Lacan a depressão é uma covardia no sentido de que

a covardia remete a uma autoridade imaginária que definiria o grau do próprio humor. Lacan

pensava que cada um deveria autorizar-se quanto a seu humor (MELMAN, 2003).

O excesso de intensidade faz com que o sujeito se sinta estranho em relação a si

mesmo e apresente perturbações psíquicas como a depressão, perturbação caracterizada pelo

vazio. (BIRMAN, 1905 apud PEREIRA, 2008).

Kehl (2009) analisando o aumento dos diagnósticos de depressão nos países do

ocidente desde a década de 1970 citou que a Organização Mundial da Saúde estima que a

depressão, no início dos anos 2000, acometia 6% da população mundial e prevê que até 2020

terá se tornado a segunda causa de morbidade no mundo, precedida apenas pelas doenças

cardíacas. A partir dessa análise a autora aponta uma hipótese de que as depressões na

contemporaneidade ocupam o lugar de sinalizador do mal-estar na civilização. Analisar as

depressões como uma das expressões do sintoma social contemporâneo significa supor que os

depressivos constituam, em seu silêncio e em seu recolhimento, um grupo tão incômodo e

ruidoso quanto foram as histéricas no século XIX.

16

Forbes (2005) aponta para a necessidade de um novo pacto social, de um novo amor

que substitua o amor que prevaleceu até hoje e que foi fundado em nome do pai. Se o mundo

moderno caminhava da impotência para a potência, a diferença de nosso tempo é que o

mundo hipermoderno caminha de uma posição de impotência em direção ao impossível. Para

apreender esse novo amor o autor enfatiza a necessidade de se pensar em uma terceira

dimensão, além do Imaginário e do Simbólico. A terceira dimensão, além da realidade

simbólica ou da virtualidade imaginária, é o Real incapturável e incompreensível, o Real

impossível, um limite que pode ser descoberto quando o sujeito pára de se orientar pela

realidade.

O Imaginário é descrito por Checchinato (1988) como sendo tudo o que, como a

sombra, não tem nenhuma existência própria. Chemama (1993), por sua vez, afirma que o

Imaginário deve ser entendido a partir da imagem. Na relação intersubjetiva, o Imaginário é a

introdução de alguma coisa fictícia que é a projeção imaginária de um sobre a tela simples em

que o outro se transforma. Lacan (2005) afirma que toda relação a dois é sempre mais ou

menos marcada pelo estilo do Imaginário.

O Simbólico é descrito por Checchinato (1988) como sendo tudo o que só tem em si o

valor de indicar a ligação. Chemama (1993) afirma que o Simbólico é uma função complexa e

latente que envolve toda a atividade humana, comportando uma parte consciente e outra

inconsciente, ligadas à função da linguagem. Lacan (2005) postula que o inconsciente e o

sintoma são estruturados como a linguagem. Para Jorge (2008) o Simbólico tem a ver com o

saber em jogo e é responsável pelas transformações tão profundas para o sujeito. Melman

(2003) afirma que o Simbólico quer dizer que o significante é sempre o símbolo de uma falta

que é o motor do desejo.

O Real é descrito por Checchinato (1988) como sendo o resto que sobra de sua

simbolização e que continuará sendo sempre o mesmo e irrepresentável. O Real está fora do

que é simbolizado, portanto, fora do universo das significações. Para Forbes (2005) o Real é a

pedra no caminho. O inapreensível retorna, repete-se, somos afetados por seu constante

renascimento, sem podermos capturá-lo. Cabas (2009) define o Real como um obstáculo à

simbolização, um entrave ao Simbólico, um Real avesso às articulações do significante.

O Real pode ser percebido como algo duro, impossível de ser captado por qualquer

instrumento da realidade ou da virtualidade – palavra ou imagem – o que faz com

que todos estejamos um pouco fora do caminho. Há uma pedra que nos devia. A

ninguém é dado o direito à certeza de sua percepção (FORBES, 2005, p. 101).

17

Segundo Leite (2000) no percurso de Lacan produziu-se mudanças na condução do

tratamento que passou a ser orientado pela clínica do Real. Esse nome, clínica do Real, tem a

utilidade de diferenciar este momento do anterior que privilegiava uma clínica centrada no

Simbólico. Na clínica do Simbólico a interpretação apontaria para um deciframento sempre

infinito por causa da estrutura da linguagem. Na clínica do Real a interpretação não mais seria

concebida como uma mensagem a ser decifrada, mas como um ato que incidiria no gozo

produzido pelo ciframento. Afirma Forbes (2005) que o fundamental hoje não é fazer a pessoa

buscar uma nova palavra quanto a seu mal-estar, mas buscar a conseqüência de sua palavra.

Uma psicanálise deve levar o sujeito a inventar e a sustentar a sua invenção no mundo.

Para se inventar novas formas de laços sociais no mundo é mister a não aceitação da

nomeação do perigo, pois a nomeação leva à queixa e só é capaz de sustentar uma criação

quem desiste do caminho da queixa. O outro a quem se queixa dirá o que é possível e na

criação de novas formas o sujeito assume o impossível. Embora as pessoas possam ficar

muito inquietas na mudança do laço social que presenciamos pela perda dos padrões verticais

que norteou a sociedade até então, quem esperou uma desagregação não a viu acontecer.

Quem perde a referência vertical descobre outra orientação. Em um plano social percebe-se

que, sem o constrangimento da ordem paterna, a liberdade não fica ilimitada. Nesse sentido, a

liberdade é o limite da própria liberdade. Um analista tem essa experiência nítida quando se

dá liberdade ao sujeito para falar quanto e o que quiser e ele repetidamente fala muito da

mesma coisa (FORBES, 2005).

Este autor acredita que se pode ter otimismo quanto à globalização entendendo que a

criatividade humana pode forçar a criação de novos espaços e limites. Acredita que os

adolescentes já dão sinais de terem encontrado, no mínimo, duas soluções. São os esportes

radicais e a música eletrônica. Os esportes radicais são uma nova forma de confronto, do

basta, do limite. A música eletrônica é um tipo de monólogo articulado que propicia um laço

social sem, contudo, transmitir idéias. Se antes o mundo enfrentava a impotência buscando a

potência, agora, com a verticalidade falida, apresenta-se a impotência ao impossível. Talvez

as relações amorosas virtuais sejam uma nova forma de enfrentar a impotência ao impossível.

A psicanálise no ocidente tem um pensamento e uma prática questionadores dos

pressupostos éticos tradicionais que já não se sustentavam como orientadores da ação moral

nas sociedades do final do século XIX. Ela não surgiu como uma nova ética para o mundo

moderno, no entanto, causou profundos abalos em algumas convicções a respeito das relações

do homem, exigindo que se repensassem os fundamentos éticos do laço social a partir da

descoberta das determinações inconscientes da ação humana (KEHL, 2002).

18

A autora avalia que a psicanálise tem sido questionada como um método terapêutico

pelos defensores das neurociências e das técnicas comportamentais que visam diminuir

rapidamente os sintomas do sofrimento psíquico. A sociedade contemporânea pensa a cura

desse sofrimento como eliminação de todo mal-estar, de toda angústia de viver. Não é por

acaso que a depressão seja o sintoma predominante do sofrimento psíquico no final do século

XX e início do XXI, como fora a histeria anteriormente. A sociedade moderna tem na

liberdade, na autonomia e na valorização narcísica individual seus pilares de novos modos de

alienação orientados para o gozo e para o consumo.

A psicanálise ainda é chamada para oferecer justificativas para o mal-estar, contudo, a

psicanálise deve convocar a palavra a trabalhar tentando escutar e acolher os efeitos que ela

produz, inclusive no campo social. Para ela, o psicanalista não interfere como explicador, mas

como questionador expondo a fragilidade que existe sob a aparência das certezas

estabelecidas (KEL, 2002).

Uma psicanálise pode dar aos analisandos hoje a possibilidade de serem homens e

mulheres prontos a todas as circunstâncias, implicando não temer nem recuar diante do

encontro, mas suportar e se responsabilizar singularmente pelo acaso que toda circunstância

traz, e ainda, ser a sua conseqüência (FORBES, 2005).

19

3 CONCLUSÃO

A forma como se dá o laço social tem passado por mudanças na História da

Humanidade. Enquanto marco da passagem de uma organização denominada moderna para a

pós-moderna identifica-se o fenômeno da globalização que teve como condição os

instrumentos tecnológicos dentre eles a Internet.

A era tecnológica trouxe grandes avanços no processo de comunicação entre os povos,

viabilizando a movimentação das pessoas, as trocas de bens, serviços e cultura. Fato que

enriqueceu os relacionamentos sociais, porém dificultou o controle. A comodidade, a

facilidade e a conveniência da Internet propiciaram novos modos de relacionamentos socias.

Sem a necessidade de deslocar é possível percorrer o mundo, ter acesso a informações e

encontrar um número ilimitado de pessoas, essa expansão dos limites corporais tem fascinado

e gerado grande número de adeptos aos diversos modos de relacionamentos virtuais. Essa

nova organização social que viabiliza novas alternativas de relacionamentos, novos

comportamentos e novas formas de adoecer exigem reflexão e discussão para orientação da

conduta profissional.

Intervir num contexto onde se encontra um jovem completamente dependente da

Internet que não consegue se desligar do virtual porque vive neste universo, não nos permite

desconsiderar o conjunto de uma sociedade. Na busca de compreensão da organização social

atual observa-se que permanecem algumas das mais antigas demandas características também

da modernidade. O espaço virtual tem se mostrado como um local de reprodução de discursos

dos outros meios de comunicação, apenas acrescidos de técnicas contemporâneas

possibilitadas pela Internet.

A Internet acrescenta uma dimensão nova aos prazeres pela velocidade, liquidez e

anonimato. Há um jogo de identidades na Internet, mas será que está abolido o desejo do

encontro presencial, tátil, concreto, o contato mais tradicional?

Com a horizontalidade que marca a hipermodernidade houve um afrouxamento nas

variações consideradas manifestações da vida sexual anormal e também nas relações sociais e

amorosas.

Foi Jacques Lacan quem deu o alerta da necessidade de uma psicanálise além do

Complexo de Édipo. Uma psicanálise capaz de acolher um homem cujo problema não está

mais nas amarras de seu passado que o impedem de atingir o objetivo pretendido. A

psicanálise no século XXI tem que ser uma psicanálise voltada para o homem que não sabe o

20

que fazer, nem escolher entre os vários futuros que lhe são possíveis, porém, sem pai, sem

norte, sem bússola.

Considerando a avaliação de Forbes (2005), no mundo vertical a maneira de

experimentar a mudança envolvia um avanço do saber, como já havia proposto Freud,

simplesmente porque o homem tinha o objetivo marcado, um futuro planejado, e seu

sofrimento era a dificuldade de alcançar tal objetivo. Este não é mais o mundo do terceiro

milênio. Nosso tempo, horizontal, necessita de um novo programa que supere as bases do

Complexo de Édipo. Mas o que podemos propor para substituir as estruturas tradicionais?

O fundamental hoje não é fazer que o sujeito busque uma nova palavra quanto ao seu

mal-estar, mas, fazê-lo buscar a conseqüência da sua palavra. O sujeito hipermoderno precisa

de um novo pacto social, um novo amor. O amor até hoje foi fundado na metáfora paterna, em

nome do pai. O amor na hipermodernidade tem características múltiplas, sendo, portanto, um

novo tipo de amor sem nenhum padrão, um amor arbitrário.

A psicanálise pode oferecer, hoje, a possibilidade de fazer o sujeito enfrentar o

impossível e desvelar a criatividade humana que pode forçar a criação de novos espaços e

limites. Nesse sentido a psicanálise deve implicar o sujeito a inventar o seu futuro e a

sustentar a sua invenção no mundo.

21

Virtual Social Relations: a reading psychoanalyses

Júlio César Mendes Pereira

Solange Coelho

Abstract

Bibliographic this research aims to understand the relations social Internet today, from

authors who discuss the topic and from a reading psychoanalyses. This research focuses on

what is named as modernity, post-modernity and hypermodernity; characterized the context of

the Internet, the relations defined virtual; identified concerning the impact of the virtual

reality of relating social and held a reading of the dynamics of psychoanalyses concerning

virtual relations. The second half of the twentieth century was marked by the emergence of

media rapid comunicacion, including the Internet, which enabled the globalizacion. The

increased flow of comunicacion access to people or groups in space unreachable aware by

other means, has allowed people to explore facets of his personality. Interface as virtual

means that stem rise in Cyberspace, in functioning as a means for participants to meet in the

real world. The modernity concerning social ties were organized by a vertical pivot

identifications. The Children identified with the father, adults with superiors at work or a

social Institution. In the hypermodern times globalizacion compressed space-time more

horizontal the world and led to excessive forms that guide the world. When the form in which

tied social changes, man changes. New illnesses arise and new solutions so tender. Some of

the symptoms present themselves as globalizacion drogadicion, school failure, and violence

not to fast. The man was without north. The virtual space has been recommended as a place of

Reproduction alives speeches in the real. The Internet adds a new dimension to the pleasures

by speed, liquidity and anonymity. There was a relaxation in the express abnormal sexual life

and also in relating social and loving. It was Jacques Lacan who pointed to a psychoanalyses

above of Oedipus, able to accommodate a man whose problem in knowing what to do, or

choose among the various futures that you only possible. Love became multiple and

Arbitrary. The subject hypermodern need a new social pact.

keys-words: Relation Social. Relation Virtual. Psychoanalyse.

Graduando em Psicologia pela Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Caixa Postal 11, Centro,

Governador Valadares, MG, 35.001-970. [email protected].

Psicóloga. Especialista em Saúde Mental pela UFRJ e Mestre em Ciências da Educação pela Universidade de

Havana. Professora no curso de Psicologia e Coordenadora do curso de pós-graduação lato sensu em Saúde

Mental e Intervenção Psicossocial da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Orientadora de Trabalhos

de Conclusão de Curso. Rua Lincoln Byrro, 490, Vila Bretas, Governador Valadares, MG, 35.032-610.

[email protected].

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