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Em 2008, Rafael Grampá conquistou um Eisner Awards (premiação mais importante do universo dos quadrinhos) por seu trabalho na antologia “5”, que reunia outros quatro artistas, entre eles, mais dois brasileiros: Gabriel Bá e Fábio Moon. Agora, dois anos depois de receber o prêmio, o cartunista se firma como um dos grandes nomes da HQ mundial e trabalha em uma história especial do personagem Wolverine, para a editora Marvel. O resultado de sua nova empreitada sairá na antologia “Strange Tales II”, em que assina o roteiro, a ilustração e também a capa. Com isso, ele é o primeiro artista brasileiro a conquistar tanta liberdade em uma das principais editoras norte-americanas do segmento. E Wolverine não foi o primeiro trabalho de Grampá no exterior. Antes do herói de garras metálicas, o quadrinista ilustrou uma história de “Hellblazer”, revista protagonizada pelo personagem John Constantine, de outra gigante dos quadrinhos, DC Comics. EDUARDO RIBEIRO A Marvel tem centenas de personagens. Por que você escolheu justamente o Wolverine? Eu gosto do Wolverine desde criança. A primei- ra HQ que li foi uma série da Marvel com ele. Escolhi o Wolverine porque ele é o mais popu- lar e acho que o impacto vai ser maior quando conferirem o traço que estou fazendo. Porque eu mudei totalmente. Ele não é um super-herói. Nada disso. Na minha história ele não tem mais pelo que lutar, a não ser dentro de um ringue. Resolvi brincar com o brinquedo mais caro do playground da Marvel. Se eu atrair o interesse do público da editora para a minha série, será ótimo. HQ é um meio muito difícil. Você teve que adaptar muito o seu o traço para criar o Wolverine? Não. Eles me deram liberdade total. Eu poderia fazer do Wolverine uma mulher, se quisesse. O editor da Marvel, Warren Simmons, tinha lido a “Mesmo Delivery” [primeiro trabalho autoral de Grampá]. Lembro que eu estava jantando na Comic Con com o Matt Fraction, o roteirista de “X-Men” e “Iron Man”, e ele recebeu uma men- sagem de Simmons perguntando: “Conhece o Rafael Grampá?” E aí rolou essa oportunidade na “Strange Tales ll”, uma série na qual eles chamam vários autores de HQ para criar suas versões dos personagens. O que mudou depois do Eisner Awards? Eu lancei “Mesmo Delivery” e parece que a mídia se abriu para os quadrinhos. Participei da Flip, dei mil entrevistas e palestras. Hoje em dia sou requi- sitado pra fazer palestras em lugares gigantes. E foi com “Mesmo Delivery” que você chegou na editora Dark Horse para “Furry Water”, seu novo projeto autoral? Foi. Eu vendi o projeto para a editora e no começo rolava só uma certa empolgação. Na hora que co- mecei a fazer, vi que o negócio era mais embaixo. O projeto previa um ano de produção e eu acabei pe- dindo para adiar para dois. “Furry Water” tem 200 páginas e será um épico. E, como não é franquia, e sim uma história autoral, quero dar o meu melhor. Por isso não tem data definida. O desenho está adiantado, mas o roteiro tem coisas para mexer. Rafael Grampá, premiado quadrinista brasileiro, ganha liberdade total para criar histórias do super-herói mutante da Marvel Wolverine à brasileira Na telona Inspiradas em Quentin Tarantino e Sam Peckinpah, as HQs de Rafael Grampá têm uma linguagem bastante cinematográfica. Quem percebeu isso foi o produtor Rodrigo Teixeira (de “O Cheiro do Ralo”), que vai levar para as telas a adaptação de “Mesmo Delivery”. 8 almanaque PAPO SEM CABEçA EDITADA POR DOUGLAS VIEIRA • [email protected] “Quero um dia ser um grande roteirista, mas de cinema. O Heitor Dhalia me convidou para dirigir na produtora dele, a Paranoid. Eu estou pensando em um curta. Estou empolgado com essa ideia” LUCAS LIMA/MTV

Rafael Grampá

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Entrevista com o quadrinista brasileiro

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Page 1: Rafael Grampá

Em 2008, Rafael Grampá conquistou um Eisner Awards (premiação mais importante do universo dos quadrinhos) por seu trabalho na antologia “5”, que reunia outros quatro artistas, entre eles, mais dois brasileiros: Gabriel Bá e Fábio Moon. Agora, dois anos depois de receber o prêmio, o cartunista se firma como um dos grandes nomes da HQ mundial e trabalha em uma história especial do personagem Wolverine, para a editora Marvel.

O resultado de sua nova empreitada sairá na antologia “Strange Tales II”, em que assina o roteiro, a ilustração e também a capa. Com isso, ele é o primeiro artista brasileiro a conquistar tanta liberdade em uma das principais editoras norte-americanas do segmento.

E Wolverine não foi o primeiro trabalho de Grampá no exterior. Antes do herói de garras metálicas, o quadrinista ilustrou uma história de “Hellblazer”, revista protagonizada pelo personagem John Constantine, de outra gigante dos quadrinhos, DC Comics. eduardo ribeiro

a Marvel tem centenas de personagens. Por que você escolheu justamente o Wolverine?Eu gosto do Wolverine desde criança. A primei-ra HQ que li foi uma série da Marvel com ele. Escolhi o Wolverine porque ele é o mais popu-lar e acho que o impacto vai ser maior quando

conferirem o traço que estou fazendo. Porque eu mudei totalmente. Ele não é um super-herói. Nada disso. Na minha história ele não tem mais pelo que lutar, a não ser dentro de um ringue. Resolvi brincar com o brinquedo mais caro do playground da Marvel. Se eu atrair o interesse do público da editora para a minha série, será ótimo. HQ é um meio muito difícil.

Você teve que adaptar muito o seu o traço para criar o Wolverine?Não. Eles me deram liberdade total. Eu poderia fazer do Wolverine uma mulher, se quisesse. O editor da Marvel, Warren Simmons, tinha lido a “Mesmo Delivery” [primeiro trabalho autoral de Grampá]. Lembro que eu estava jantando na Comic Con com o Matt Fraction, o roteirista de “X-Men” e “Iron Man”, e ele recebeu uma men-sagem de Simmons perguntando: “Conhece o Rafael Grampá?” E aí rolou essa oportunidade na “Strange Tales ll”, uma série na qual eles chamam vários autores de HQ para criar suas versões dos personagens.

o que mudou depois do eisner awards?Eu lancei “Mesmo Delivery” e parece que a mídia se abriu para os quadrinhos. Participei da Flip, dei mil entrevistas e palestras. Hoje em dia sou requi-sitado pra fazer palestras em lugares gigantes.

e foi com “Mesmo delivery” que você chegou na editora dark Horse para “Furry Water”, seu novo projeto autoral?Foi. Eu vendi o projeto para a editora e no começo rolava só uma certa empolgação. Na hora que co-mecei a fazer, vi que o negócio era mais embaixo. O projeto previa um ano de produção e eu acabei pe-dindo para adiar para dois. “Furry Water” tem 200 páginas e será um épico. E, como não é franquia, e sim uma história autoral, quero dar o meu melhor. Por isso não tem data definida. O desenho está adiantado, mas o roteiro tem coisas para mexer.

Rafael Grampá, premiado quadrinista brasileiro, ganha liberdade total para criar histórias do super-herói mutante da Marvel

Wolverine à brasileira

Na telona

Inspiradas em Quentin Tarantino e Sam Peckinpah, as HQs de Rafael Grampá têm uma linguagem bastante cinematográfica. Quem percebeu isso foi o produtor Rodrigo Teixeira (de “O Cheiro do Ralo”), que vai levar para as telas a adaptação de “Mesmo Delivery”.

8almanaquepapo sem cabeça editada Por douglas Vieira • [email protected]

“Quero um dia ser um grande roteirista, mas de cinema. O Heitor Dhalia me convidou para dirigir na produtora dele, a Paranoid. Eu estou pensando em um curta. Estou empolgado com essa ideia”

LuCAS LIMA/MTv