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5/28/2018 Raa e histria
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Raa e histria
Claude Lvi-Strauss
Traduo e notas de Ren Decol
Nota do tradutor
Escrito para uma srie da Unesco dedicada a combater o racismo e publicado em 1952, Raa e histria
foi logo reconhecido como um dos textos mais importantes de Lvi-Strauss. Neste ensaio so
discutidas questes fundamentais sobre a histria, as culturas e as civilizaes, na viso privilegiada
do grande antroplogo francs. Leitura obrigatria em cursos de cincias sociais, foi publicado no
Brasil em 1970 em traduo que contem muitos erros .1
A verso que se segue uma traduo integralmente nova, feita a partir do original francs, e da
verso para o ingls. Alm de corrigir vrios erros de traduo e reviso, foi feito um esforo para
tornar a leitura mais fcil, sem no entanto comprometer a magistral prosa do autor. Nos momentos
onde foi necessrio optar entre a fidelidade e a clareza, no entanto, optou-se pela ltima,
seguindo-se assim a concepo da edio em ingls.
H muitas maneiras atravs das quais este ensaio pode ser lido. Uma delas como guia para um
passeio pela histria das civilizaes (no plural). Poucos pensadores, fora Lvi-Strauss, estariam
capacitados para uma tarefa dessa envergadura em pouco mais de 60 pginas.
Para facilitar este tipo de leitura, foram acrescentadas nada menos do que quarenta notas
explicativas e links para recursos na internet.
Por fim, a seo Recursos na internet traz referncias a mapas e linhas do tempo que podem tornar a
sua leitura mais rica, principalmente para os alunos do Ensino Mdio.
1Race et Histoirefoi publicado na coleo Le racisme devant La Science, Unesco 1960. Publi cado no Brasi l na
coletnea em dois volumes Raa e cincia, Ed. Perspectiva, 1970. Alm dess a, atual mente h outra edio
disponvel, publicada por uma editora portuguesa (que a mesma da coleo Pensadoresda Abril ). Como a
inteno da coleo era atingir um pblico amplo, a prpria Unesco preparou as tradues. A verso em
portugus muito acidentada, para dizer o mnimo: h erros crassos de traduo e de reviso.
1
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.archive.org%2Fdetails%2Fracehistory00levi&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNEDqus-WFKPo-zTKy4V9B87y6KmIghttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FClaude_L%25C3%25A9vi-Strauss&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNGw0zZ1dI0V02d9Oebcfn5N6aSk8Qhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.archive.org%2Fdetails%2Fracehistory00levi&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNEDqus-WFKPo-zTKy4V9B87y6KmIghttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Febookbrowse.com%2Flevi-strauss-claude-race-et-histoire-pdf-d204869615&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNHtLDEdUHHl7TJ6D2Z9HVGXjnTIJghttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FClaude_L%25C3%25A9vi-Strauss&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNGw0zZ1dI0V02d9Oebcfn5N6aSk8Q5/28/2018 Raa e histria
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Raa e histria
Claude Lvi-Strauss
Copyright 1960: Unesco
Copyright 2012 da traduo: Ren Decol
Sumrio
1. Raa e cultura
2. Diversidade das culturas
3. O etnocentrismo
4. Culturas arcaicas e culturas primitivas
5. A ideia de progresso
6. Histria estacionria e histria cumulativa
7. Lugar da civilizao ocidental
8. Acaso e civilizao
9. A colaborao das culturas
10. O duplo significado do progresso
11. Bibliografia
Recursos na internet
HiperHistory
World History Tiimeline
2
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.fincher.org%2FHistory%2FWorldBC.shtml&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNGTJE1pjpZCnxrWesubHKVnG4a-AQhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.hyperhistory.com%2Fonline_n2%2FHistory_n2%2Fa.html&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNH3jV9-H6AHZ7PSyVo7-T5_4wv6wA5/28/2018 Raa e histria
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Human Evolution Research
Linha do tempo da histria - Wikipedia
Portal de Antropologia
Cultures.com
Heilbrunn Time Line of Art History
Arte da Caverna de Chauvet - Bradshaw Foundation
Galeria de arte pr-histrica
1. Raa e cultura
Falar da contribuio das raas para a civilizao mundial poderia assumir
um aspecto surpreendente em uma coleo de textos destinados a lutar contra o
preconceito racial. Teria sido intil consagrar tanto tempo e esforo para
demonstrar que, no estado atual das cincias, nada permite afirmar a
superioridade ou a inferioridade intelectual de uma raa em relao a outra, para
depois restituir a importncia da noo de raa, demonstrando que os grandes
grupos tnicos trouxeram, enquanto tais, contribuies especficas para o
patrimnio comum da humanidade.
Nada mais longe do nosso objetivo, o que apenas conduziria a formulao
da doutrina racista ao contrrio. Quando procuramos caracterizar as raas
biolgicas mediante propriedades psicolgicas particulares, afastamo-nos da
cincia, quer essa relao seja feita de maneira positiva ou negativa. No
devemos esquecer que Gobineau , para quem a histria haveria de guardar o2
2Joseph Arthur de Gobineau(1816-1882): intelectual e escr itor francs, ficou famoso por desenvolver a teoria da
3
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FGobineau&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNHczGVv4wGDph61Ww8HDcCnaeJhLAhttp://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fdocs.google.com%2Fdocument%2Fd%2F1y-X3ftWhx1tyHBrr-9JJcm6ftR5l5sz3VEHXyA0BF5M%2Fedithttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.bradshawfoundation.com%2Fchauvet%2Findex.php&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNFX9LmJjF2UY8mDZCcSq-9K5w8PPQhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.metmuseum.org%2Ftoah%2F&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNHPk2ChhqneXK-YUlofvVgDm_oLgQhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.cultures.com&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNFlpCX32Cuvjs1lmsB7tGr_8eSfUAhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FPortal%3AAntropologia&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNFLlsw8lhmjrXqoGmnjToATU0PGCghttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fen.wikipedia.org%2Fwiki%2FTimeline_of_world_history&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNHfwaCHA92aR21qRzLyL4OsTNKlYwhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fhumanorigins.si.edu%2Fresearch&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNFzcCPuUIZEPzASpHek09GjpDwmzg5/28/2018 Raa e histria
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lugar de pai das teorias racistas, no concebia a pretensa "desigualdade das raas
humanas" de uma maneira quantitativa mas sim qualitativa. Para ele, as grandes
raas primitivas que formavam a humanidade nos seus primrdios branca,
amarela, negra no eram s desiguais em valor absoluto, mas tambm diversas
nas suas aptides particulares. O efeito negativo da degenerescncia estava,
segundo ele, mais ligado ao fenmeno da mestiagem do que a posio de cada
uma delas numa escala de valores comum; e destinada, portanto, a atingir a
humanidade inteira, condenada ao processo crescente de miscigenao . Mas o3
pecado original da antropologia consiste na confuso entre a noo puramente
biolgica da raa (supondo, por outro lado, que mesmo neste campo limitado
esta noo possa ter qualquer objetividade, o que contestado pela gentica) e
as produes sociolgicas e psicolgicas das culturas humanas. Bastou Gobineau
ter cometido este pecado para ficar preso ao crculo infernal que conduz de um
erro intelectual, no necessariamente de m-f, legitimao involuntria de
todas as tentativas de discriminao e de explorao.
Por outro lado quando falamos de contribuio das raas humanas para a
civilizao no queremos dizer que as manifestaes culturais da sia ou da
Europa, da frica ou da Amrica, extraiam sua originalidade do fato destes
superioridade racial aria na em seu livro Um ensaio sobre a desigualdade das raas. Para uma his tria das teorias
raci ais e seu impacto no Bras il ver O espetculo das raas: cientistas, instituies e a questo racial no Brasil,1870-1930de Lilia Moritz Schwarcz (Cia das Letras, 1993).
3Processo que est l igado ao das migraes, por sua vez, to antigo quanto as pri meiras civil izaes. A era das
navegaes e a grande migrao para as Amricas teve com consequncia uma intensificao ainda maior do
encontro de culturas, sem falar da globali zao nas ltimas dcadas. Enfim, seria poss vel deduzir das palavras
de Lvi-Strauss que o intercmbio e o cruzamento de povos e culturas da prpria natureza da his tria em geral ,
e ainda mais no caso da Civili zao Ocidental, o que coloca sob outra luz a questo das migraes.
4
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continentes serem, na sua maioria, povoados por habitantes de troncos raciais
diferentes. Se a originalidade da sua contribuio existe e no h dvidas sobre
isso ela est mais relacionada com circunstncias geogrficas, histricas e
sociolgicas do que com aptides distintas ligadas a constituio anatmica ou
fisiolgica de negros, amarelos ou brancos. Mas no se pode deixar para
segundo plano um aspecto igualmente importante da histria: esta no se
desenvolve uniformemente, mas atravs dos extraordinariamente diversos
modos de sociedades e civilizaes. Esta diversidade intelectual, esttica e
antropolgica no est ligada por nenhuma relao de causa e efeito quela que
existe no plano biolgico entre determinados aspectos observveis dos grupos
humanos apenas correm paralelas, mas em terrenos diferentes. E ao mesmo
tempo distingue-se dela por dois aspectos importantes. Em primeiro lugar, a
diversidade sociolgica situa-se numa outra ordem de grandeza: existem muito
mais culturas humanas do que raas . Enquanto as culturas podem ser contadas4
aos milhares, as raas contam-se pelas unidades; por outro lado duas culturas
pertencentes a uma mesma raa podem diferir tanto ou mais que duas culturas
provenientes de grupos raciais diferentes. Em segundo lugar, ao contrrio da
diversidade entre as raas, que apresentam como principal interesse a sua
origem histrica e a sua distribuio no espao, a diversidade entre as culturas
coloca uma srie de problemas.
Por fim e sobretudo devemos perguntar em que consiste esta
diversidade, com o risco de ver os preconceitos raciais apenas arrancados da sua
4O s ite www.cultures.com dedicado documentao de culturas, antigas e modernas.
5
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.cultures.com&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNFlpCX32Cuvjs1lmsB7tGr_8eSfUA5/28/2018 Raa e histria
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base biolgica para voltarem em novo campo. Seria intil conseguir que o
homem comum deixe de atribuir um significado intelectual ou moral ao fato de5
algum ter a pele negra ou branca, ou o cabelo liso ou crespo, para permanecer
em silncio face a uma outra questo. Se no existem aptides raciais inatas,
como explicar que a civilizao desenvolvida pelo homem branco tenha feito os
imensos progressos que conhecemos, enquanto as outras permanecem
atrasadas, umas a meio do caminho, e outras submetidas a um atraso de
milhares ou dezenas de milhares de anos? 6
No podemos, portanto, pretender resolver negativamente o problema da
desigualdade racial se no nos debruarmos tambm sobre o da desigualdade
ou melhor, da diversidade das culturas humanas, que o pblico em geral
relaciona com a racial.
2. Diversidade das culturas
Para compreender como, e em que medida, as culturas humanas diferem
entre si, devemos, em primeiro lugar, catalog-las. Mas aqui que comeam as
dificuldades , porque as culturas humanas no diferem entre si do mesmo modo,
nem no mesmo plano. Estamos, primeiro, diante de sociedades justapostas no
5Homem de rua, no original. Nos anos 50 ainda estava fresca a lembrana dos horrores da Segunda Guerra
Mundial, quando em muitos pases, principalmente na Alemanha e na Itlia, o racismo foi abraado por enormes
parcelas da popul ao, enfim, pelo homem de rua.6Referncia a maioria dos pases da frica e da sia, em grande desvantagem econmica em relao aos pases
industrializados nos anos 50 quando este ensaio foi redigido. O extraordinrio desenvolvimento econmico
alca nado por alguns pases da sia nas ltimas dcadas, principal mente Coreia do Sul e China, no prejudica o
argumento.
6
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espao, umas ao lado das outras, umas prximas, outras mais afastadas, mas
contemporneas, compartilhando o mesmo tempo cronolgico. Depois,
devemos levar em conta as formas de vida social que se sucederam no passado e
que no podemos conhecer por experincia direta. Qualquer homem pode se
transformar em etngrafo e ir partilhar a existncia de uma sociedade que o
interesse; mas, mesmo que se transforme em historiador ou arquelogo, nunca
poderia entrar em contato direto com uma civilizao desaparecida; s poderia
ter um acesso indireto, atravs dos documentos escritos a seu respeito, ou dos
objetos, ferramentas, obras de arte e outros registros que esta sociedade
porventura tiver deixado . Enfim, no devemos esquecer que mesmo as7
sociedades contemporneas que continuam a ignorar a escrita, aquelas a que
chamamos de selvagens ou primitivas, foram, tambm elas, precedidas por
outras formas, cujo conhecimento praticamente impossvel, mesmo de maneira
indireta; um catlogo cuidadoso, portanto, deveria reservar um nmero de itens
em branco infinitamente maior do que aqueles em que somos capazes de
escrever qualquer coisa. Impem-se uma primeira constatao: a diversidade
das culturas no presente, e tambm foi no passado, muito maior e mais rica
que tudo o que pudermos dela conhecer.
Mas, mesmo se tomados por um sentimento de humildade e convencidos
desta limitao, encontraremos outros problemas. Que devemos entender por
culturas diferentes? Algumas assim parecem, mas quando fazem parte de um
tronco comum, no diferem da mesma forma que duas sociedades que em
7 o caso, por exemplo, das tri bos de caa dores col etores que habitavem o continente sul -americano antes da
chegada dos europeus. Ver Os ndios antes do Brasil, de Carl os Fausto (Jorge Zahar Editor, 2000).
7
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nenhum momento mantiveram relaes. Assim, o antigo imprio Inca do Peru, e
o Daom na frica, diferem entre si de maneira mais absoluta do que, por
exemplo, a Inglaterra e os Estados Unidos de hoje, se bem que estas duas
sociedades tambm devam ser tratadas como sociedades distintas.
Inversamente, sociedades que estabeleceram contato recentemente parecem
oferecer a imagem de uma mesma civilizao, ainda que tenham seguido
caminhos diferentes. Operam simultaneamente, nas sociedades humanas, foras
que atuam em direes opostas, umas tendendo para a manuteno, e mesmo
para a acentuao dos particularismos, outras agindo no sentido da convergncia
e da afinidade. O estudo da linguagem oferece exemplos surpreendentes de tais
fenmenos. Assim, ao mesmo tempo que as lnguas de uma mesma raiz
apresentam tendncias para se diferenciar umas das outras (tais como o russo, o
francs e o ingls ), lnguas de origens diversas, mas faladas por povos que8
vivem prximos, desenvolvem caractersticas comuns; por exemplo, o russo
diferenciou-se, sob determinados aspectos, de outras lnguas eslavas para se
aproximar, pelo menos por determinados traos fonticos, das lnguas urlicase
turcas faladas na sua vizinhana geogrfica.
Quando estudamos tais fatos e poderamos achar exemplos similares em
outros domnios, tais como instituies sociais, arte, religio acabamos por
perguntar se as sociedades humanas no se definem, face as suas relaes
mtuas, por um determinado grau timo de diversidade para alm do qual elas
no poderiam ir, mas abaixo do qual tambm no podem ficar. Este grau timo
de diversidadevariaria em funo do nmero das sociedades, do seu tamanho
8As trs l nguas provm do mesmo tronco lingustico indo-europeu.
8
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FL%25C3%25ADngua_protoindo-europeia&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNF1mhtlpj8O9V2BGxbU9dTaFK4x-Ahttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FL%25C3%25ADnguas_ur%25C3%25A1licas&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNHIOSc1Ypx9qTpAmWy9V57AD8tIYwhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FDaom%25C3%25A9&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNExGvdaoCHSRLUQXuQgKp0nqPNkmAhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FImp%25C3%25A9rio_Inca&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNHGMfI1aoiM5re_NN8RgEFYhLjORw5/28/2018 Raa e histria
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demogrfico, do seu afastamento geogrfico, e dos meios de comunicao
(materiais e intelectuais) de que dispem. Com efeito, o problema da diversidade
no se pe apenas a nvel das relaes entre sociedades diferentes, como
tambm dentro de cada sociedade em particular, entre os grupos que a
constituem: classes sociais, categorias profissionais, grupos religiosos, e assim
por diante; cada grupo atribui uma extrema importncia a essas diferenas que
os distinguem uns dos outros. Podemos perguntar se esta diversificao interna
no tende a aumentar quando a populao cresce, ou por outro lado, quando se
torna mais homognea; esse talvez tenha sido o caso da ndia antiga, com o
aparecimento de um sistema de castas aps o estabelecimento da hegemonia
ariana .9
Vemos, portanto, que a noo da diversidade das culturas humanas no
deve ser concebida de uma maneira esttica, como a que encontramos em um
catlogo de amostras dissecadas. indubitvel que os homens elaboram culturas
diferentes em funo do afastamento geogrfico, das propriedades particulares
do seu meio, e do maior ou menor grau de isolamento em relao ao resto da
humanidade; mas isso s seria rigorosamente verdadeiro se cada cultura ou cada
sociedade no tivesse nenhuma ligao com as demais, se tivessem se
desenvolvido isoladas umas das outras. Ora, isso nunca aconteceu, salvo talvez
em casos excepcionais como o dos aborgenes tasmanianos(e mesmo assim,
apenas por um perodo limitado de tempo).
9A civi li zao que floresceu no vale do rio I ndus entre 3.000 e 1.300 AC, aproxi madamente, constituiu uma das
grandes ci vil izaes da Antiguidade. No seu auge, entre 2.600 e 1.900 AC, pode ter chegado a abri gar uma
populao de mais de cinco milhes de habitantes, maior, portanto, do que a de muitos pases da Europa no
incio do sculo 21.
9
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FAbor%25C3%25ADgene_tasmaniano&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNEbIh6e5q3CzH_KjMt_Tt2IlAn_Zg5/28/2018 Raa e histria
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As sociedades humanas nunca se encontram isoladas; quanto mais
separadas parecem, ainda sob a forma de grupos ou de agrupamentos que
vamos encontr-las. Assim, no exagero supor que as culturas
norte-americanas e as sul-americanas tenham permanecido separadas de todo
contato com o resto do mundo durante um perodo cuja durao se situa entre
10 e 25 mil anos. Mas este enorme fragmento por tanto tempo separado da
humanidade, consistia, na verdade, numa multido de sociedades, grandes e
pequenas, que mantinham entre si contatos estreitos. E a par com as diferenas
devidas ao isolamento, existem aquelas, tambm importantes, devidas a
proximidade: do desejo de oposio, de se distinguir, de serem elas prprias.
Muitos costumes nascem no de qualquer necessidade interna ou acidente
favorvel, mas apenas da vontade de no ficar para trs em relao a um grupo
vizinho que submeteu a determinadas regras um domnio da vida social sobre a
qual o primeiro nunca havia pensado instituir normas. Portanto, a diversidade
das culturas humanas no deve induzir a uma observao fragmentria ou
fragmentada. Ela menos funo do isolamento dos grupos, do que das relaes
entre eles.
3. O etnocentrismo
A atitude mais antiga e que repousa, sem dvida, sobre fundamentos
psicolgicos slidos, pois tende a reaparecer em cada um de ns quando somos
colocados numa situao inesperada, consiste em repudiar pura e simplesmente
10
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as formas culturais, morais, religiosas, sociais e estticas mais afastadas daquelas
com que nos identificamos. Costumes selvagens, isso no nosso, no
deveramos permitir isso: so expresses que fazem parte de um sem-nmero
de reaes grosseiras que traduzem este mesmo calafrio, esta mesma repulsa,
em presena de maneiras de viver, de crer ou de pensar que nos so estranhas.
Deste modo, a Antiguidade designava tudo o que no participava da cultura
grega, (depois greco-romana) com o nome de brbaro; em seguida, a civilizao
ocidental utilizou o termo selvagem no mesmo sentido. Ora, por detrs destes
termos dissimula-se um mesmo juzo: provvel que a palavra brbarotenha
origem etimolgica na confuso e desarticulao do canto das aves em oposio
ao valor significante da linguagem humana ; e selvagem, que significa da10
floresta, evoca tambm um gnero de vida animal, por oposio a cultura
humana. Recusa-se, tanto num como no outro caso, a admitir o prprio fato da
diversidade cultural, preferimos jogar para fora da cultura tudo o que no esteja
de acordo com as normas sociais existentes.
E, no entanto, parece que a diversidade das culturas raramente apareceu
aos homens tal como : um fenmeno natural, resultante das relaes diretas ou
indiretas entre as sociedades; sempre se viu nela, pelo contrrio, uma espcie de
monstruosidade ou de escndalo; em termos de diversidade cultural, o
progresso do conhecimento no consistiu tanto em dissipar esta iluso em
proveito de uma viso mais exata, mas em aceit-la, ou em encontrar um meio de
a ela se resignar.
10Alguns sugerem que a pal avra venha depa-pa-ro, uma i mitao li ngustica onomatopica do sons e erros
gramaticais feitos pelos no-gregos ao tentar falar o grego.
11
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Este ponto de vista ingnuo, mas profundamente enraizado na maioria
dos homens, no necessita ser discutido uma vez que a coletnea de textos do
qual este faz parte precisamente a sua refutao. Bastar observar aqui que ele
encobre um paradoxo bastante significativo. Esta atitude do pensamento, em
nome da qual se colocam os selvagens (ou todos aqueles que escolhemos
considerar como tais) para fora da humanidade, justamente a atitude mais
marcante e a mais distintiva destes mesmos selvagens. Sabemos, na verdade,
que a noo de humanidade, englobando, sem distino de raa ou de civilizao,
todas as formas da espcie humana, teve um aparecimento muito tardio e uma
expanso limitada . Mesmo onde ela parece ter atingido o seu mais alto grau de11
desenvolvimento, no existe qualquer certeza, tal como a histria recente o
prova, de estar estabelecida ao abrigo de equvocos ou de regresses . Mas,12
para vastas parcelas da espcie humana, e durante dezenas de milnios, esta
noo parece estar totalmente ausente. A humanidade acaba nas fronteiras da
tribo, do grupo lingustico, por vezes mesmo, da aldeia; a tal ponto que um
grande nmero de populaes ditas primitivas se designam por um nome que
significa os homens (ou, por vezes, com menos discrio, os bons, os
excelentes, os perfeitos), implicando assim que as outras tribos, grupos ou
aldeias, no participam das virtudes ou mesmo da natureza humana, mas so,
quando muito, compostos por maus, perversos, macacos de terra, ou
11O autor se refere ao Iluminismo no plano das idias, e a era das Revolues no plano poltico, com seu ideal
igualitrio sintetizado no clebre lema liberdade, igualdade e fraternidade. O ideal iluminista acreditava que a
razo venceria a irracionalidade e o preconceito. As duas guerras mundiais na primeira metade do sculo 20
foram vri as vezes interpretadas como uma evidncia de que esse ideal teve um al cance muito li mitado.12Referncia Alemanha, onde o iluminismo parecia ter alcanado seus voos mais altos, mas onde no entanto, o
nazismo floresceu.
12
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ovos de piolho . Chegando-se mesmo, na maior parte das vezes, a privar o13
estrangeiro do ultimo grau de realidade, fazendo dele um fantasma ou uma
apario. Assim acontecem curiosas situaes onde os interlocutores tem
atitudes simtricas. No Caribe, alguns anos aps a descoberta da Amrica,
enquanto os espanhis enviavam comisses de investigao para indagar se os
indgenas possuam ou no alma, estes dedicavam-se a afogar os brancos feitos
prisioneiros para verificar se o cadver estava sujeito a putrefao... Esta
anedota, simultaneamente barroca e trgica, ilustra bem o paradoxo do14
relativismo cultural que vamos encontrar mais adiante revestido de outras
formas: na prpria medida em que pretendemos estabelecer uma
discriminao entre as culturas e os costumes que nos identificamos mais
completamente com aqueles que tentamos negar. Recusando a humanidade
queles que identificamos como selvagens ou brbaros, no fazemos mais
que copiar-lhes as suas atitudes. O brbaro , antes de mais nada, o homem que
cr na barbrie.
verdade que os grandes sistemas filosficos e religiosos da humanidade,
sejam eles o budismo, o cristianismo ou o islamismo; as doutrinas estoica,
kantiana ou marxista, se insurgiram constantemente contra esta aberrao. Mas
a simples proclamao da igualdade natural entre todos os homens, e da
fraternidade que os deve unir, sem distino de raa ou cultura, tem qualquer
coisa de enganador para o intelecto, porque negligencia uma diversidade de fato,
13Grave ofensa em francs equivalente a chamar a lgum de parasi ta.
14Barroca aqui no sentido de bizarra.
13
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que se impe observao, e em relao a qual no basta dizer que no vai ao
mago do problema, para fingir que no existe. O que convence o homem
comum da existncia das raas, como reconhece a declarao da Unesco sobre a
questo das raas , a evidncia imediata dos seus sentidos, quando v juntos15
um africano, um europeu, um asitico e um ndio americano.
As grandes declaraes dos direitos do homem tem, tambm elas, esta
fora e esta fraqueza de, ao enunciar um ideal grandioso, esquecer que o homem
no realiza a sua natureza numa humanidade abstrata, mas nas culturas
tradicionais onde mesmo as mudanas mais revolucionrias deixam intactos
enormes setores da vida em sociedade ; essas declaraes se explicam tambm16
em funo de uma situao bem definida no tempo e no espao. Preso entre a
dupla tentao de condenar experincias que o chocam afetivamente e de negar
as diferenas que ele no compreende intelectualmente, o homem moderno
entregou-se a toda a espcie de especulaes filosficas e sociolgicas para
estabelecer vos compromissos entre estes polos contraditrios; e para perceber
a diversidade das culturas procurando suprimir o que ela contem, para ele, de
escandaloso e de chocante.
15Declarao da Unesco s obre a questo das raas , redigida e publi cada em 18 de julho de 1950, primeira de
uma srie de quatro proposies sobre o tema. Lvi-Strauss participou da elaborao deste primeiro documento.Novas verses foram publicadas em 1951, 1967 e 1978.
16Apesar do enorme prestgio dos ideais revolucionrios no ps-Guerra, Lvi-Strauss aqui j parece desiludido
com a possibilidade de transformao das revolues polticas. A Unio Sovitica, por exemplo, ainda tinha
muito prestgio entre intelectuai s quando da publi cao deste ensaio. A queda do Muro de Berl im, no entanto,
mostrou o quanto muitas caractersticas da s ociedade russa permaneceram inalterados, apesar da revoluo de
1917.
14
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fen.wikipedia.org%2Fwiki%2FThe_Race_Question&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNE_306CiKD5mda0uzBr0pvnpTStswhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fen.wikipedia.org%2Fwiki%2FThe_Race_Question&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNE_306CiKD5mda0uzBr0pvnpTStsw5/28/2018 Raa e histria
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Mas, por mais diferentes e, por vezes, bizarras que possam ser, todas
estas especulaes se reduzem a uma mesma receita, de que o termofalso
evolucionismo, sem duvida, o mais adequado para caracterizar. Em que
consiste ela? Trata-se de uma tentativa para suprimir a diversidade das culturas
fingindo conhec-las completamente. Por que, se tratarmos os diferentes
estados em que se encontram as sociedades humanas, tanto antigas como
longnquas, como estadosou etapasde um desenvolvimento nico que, partindo
do mesmo ponto, deve convergir para o mesmo fim, deduzimos que a
diversidade apenas aparente. A humanidade torna-se una e idntica a si
mesma, s que esta unidade e esta identidade no se realizam seno
progressivamente, e a variedade das culturas ilustra os momentos de um
processo que dissimula uma realidade mais profunda, ou retarda a sua
manifestao.
Esta definio pode parecer sumria quando temos presentes as imensas
conquistas do darwinismo . Mas no o darwinismo que est em causa,17
porque evolucionismo biolgico e o pseudo-evolucionismo que aqui tratamos so
duas coisas muito diferentes. A primeira nasceu como uma vasta hiptese de
trabalho, baseada em observaes em que havia pouca necessidade de
interpretao. Os vrios tipos que constituem a genealogia do cavalo podem ser
ordenados numa srie evolutiva por duas razes; primeiro, necessrio um
cavalo para engendrar outro cavalo; segundo, as camadas de terreno
17Ressalva que s se tornou ainda mais importante desde a publicao deste ensaio, com os enormes avanos
ocorridos na gentica e na biologia, e que tomam o evolucionismo biolgico como paradigma fundamental. Os
avanos nas chamadas cincias da vida tiveram enorme impacto tambm na antropologia. Ver M. Susan Lindre,
Alan Goodman, e Deborah Heath, Anthropology in an Age of Genetics : Practice, Discourse, and Cri tique em
Genetic Nature/Culture, Goodman et al. University of Californa Press, 2003. (Reunio de trabalhos apresentados
no si mpsio da Fundao Wenner-Gren real izado em Terespoli s, RJ, entre 11 e 19 de junho de 1999).
15
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sobrepostas historicamente contm esqueletos que variam gradualmente desde
a forma mais arcaica at a mais recente. Torna-se assim altamente provvel que
o Hipparionseja o verdadeiro antepassado do Equus caballus. O mesmo
raciocnio provavelmente pode ser aplicado a espcie humana e s raas que a
constituem. Mas quando passamos dos fatos biolgicos para os fatos culturais as
coisas complicam-se de uma maneira singular. Podemos recolher em stios
arqueolgicos objetos materiais e constatar que a forma ou a tcnica de produzir
um determinado objeto varia progressivamente de acordo com a profundidade
das camadas geolgicas. E, no entanto, um machado no d fisicamente origem a
outro machado, tal como acontece com o animal. Dizer que um machado evoluiu
a partir de um outro apenas uma metfora, desprovida do rigor cientifico da
expresso quando aplicada aos fenmenos biolgicos. O que verdadeiro para
os objetos materiais, ainda mais para as instituies, as crenas, os gostos, cujo
passado geralmente desconhecemos. A noo de evoluo biolgica uma
hiptese das mais provveis nas cincias naturais, enquanto a noo de evoluo
social ou cultural no constitui, quando muito, um processo algo sedutor, mas
perigosamente cmodo, de apresentar os fatos.
Alis, esta diferena, a maior parte das vezes negligenciada, entre o
verdadeiro e o falso evolucionismo, explica-se pelas suas respectivas pocas de
aparecimento. O evolucionismo sociolgico recebeu um vigoroso impulso do
evolucionismo biolgico, mas anterior a ele. Sem remontar s concepes da
Antiguidade, retomadas por Pascal, comparando a humanidade a um ser vivo
que passa por fases sucessivas da infncia, da adolescncia e da maturidade, foi
no sculo XVII I que assistimos ao florescimento dos esquemas fundamentais que
16
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FHipparion&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNGO2NP404SqggSW4JcGDwI9gHtQlQ5/28/2018 Raa e histria
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viriam a ser depois objeto de tantas manipulaes: as espirais de Vico, as suas
trs idades, j anunciando os trs estados de Comte, a escada de
Condorcet. Os dois fundadores do evolucionismo social, Spencere Tylor,
elaboraram e publicaram a sua doutrina antes do aparecimento da Origem das
espcies,ou sem a ter lido. Anterior ao evolucionismo biolgico, teoria cientifica,
o evolucionismo social no , na maior parte das vezes, seno a maquiagem
falsamente cientfica de um velho problema filosfico para o qual no h
qualquer certeza de soluo atravs da observao e da induo.
4. Culturas arcaicas e culturas primitivas
Sugerimos que qualquer sociedade pode, segundo o seu prprio ponto de
vista, dividir as culturas em trs categorias: as que so suas contemporneas,
mas situadas em outro lugar do globo, as que se manifestaram aproximadamente
no mesmo lugar, mas que a precederam no tempo e, finalmente, as que existiramnum tempo anterior e num lugar diferente.
Vimos que estes trs grupos podem ser conhecidos de forma desigual. No
ltimo caso e quando se trata de culturas sem escrita, sem ter deixado algum tipo
de construo, e com tcnicas rudimentares (e que so a enorme maioria), nada
podemos saber sobre elas, e tudo o que tentamos saber a seu respeito nopassam de hipteses. Por outro lado, extremamente tentador procurar
estabelecer, entre as diversas culturas do primeiro grupo, relaes que
correspondem a uma ordem de sucesso no tempo. Como que sociedades
17
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FEdward_Burnett_Tylor&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNEoPz0gQpe5aKDu0DLhcRJUbwOUGwhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FHerbert_Spencer&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNETqnvwJiZQ8WKXJCVL1vuv1rl2Kwhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FEvolucionismo_social&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNF83M5zwOhAOf77d5c27nCYiPHTkghttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FCondorcet&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNH8SL-aGIK38bW5vInA314eOsW7fQhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FComte&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNF5MtNF6TgKqPf3mR_oFW2ScooelQhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FGiambattista_Vico&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNEBZAKPi5N1L4uAGpP0hEBT_TXqcQ5/28/2018 Raa e histria
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contemporneas, que continuam a ignorar a eletricidade e a mquina a vapor,
no evocariam a fase correspondente do desenvolvimento da civilizao
ocidental? Como no comparar as tribos indgenas, sem escrita e sem metalurgia,
gravando figuras nas paredes das rochas e fabricando utenslios de pedra, com
as formas antigas da nossas civilizao, cuja semelhana atestada pelos
vestgios encontrados nas grutas da Frana e Espanha? Foi a sobretudo que o18
falso evolucionismo se propagou. E, no entanto, este jogo sedutor a que nos
entregamos quase irresistivelmente todas as vezes que temos ocasio para isso
(no se compraz o viajante ocidental em encontrar a idade mdia no Oriente, o
sculo de Lus 14 na Pequim de antes da Primeira Guerra Mundial, a idade da
pedra entre os indgenas da Austrlia ou da Nova Guin?) extraordinariamente
pernicioso. Das civilizaes desaparecidas, conhecemos apenas alguns aspectos
e estes diminuem medida que so mais antigas, pois os aspectos conhecidos
so os nicos que puderam sobreviver destruio do tempo. O processo
consiste pois em tomar a parte pelo todo, em concluir que, a partir do fato de que
duas civilizaes (uma atual, a outra desaparecida) ofeream semelhanas em
alguns aspectos, pode-se estender a analogia todos os aspectos. Ora, esta
maneira de raciocinar no s logicamente insustentvel, mas ainda, num bom
nmero de casos, desmentida pelos fatos.
At uma poca relativamente recente, os tasmanianose os patagnios
possuam ferramentas de pedra lascada, e certas tribos australianas e
18As pinturas nas cavernas de Chauvet, no sul da Frana, constituem o tema do premiado filme de 2010 do
cineas ta al emo Werner Herzog Cave of Forgotten Dreams. No YouTubeh trechos deste documentrio, inclusive
o trailer oficial.
18
http://www.youtube.com/watch?v=kULwsoCEd3ghttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FTehuelches&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNE2J8LBXOL34P5011ZsXQV5VXVWkwhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FAbor%25C3%25ADgene_tasmaniano&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNEbIh6e5q3CzH_KjMt_Tt2IlAn_Zghttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FPintura_rupestre&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNFDUG89K3cVynU4CjVjbIZcT9AcWA5/28/2018 Raa e histria
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americanas ainda os fabricam. Mas o estudo destes instrumentos ajuda-nos
muito pouco a compreender o seu uso no perodo paleoltico. Como eram, ento,
usados os famosos machados de pedra oval, cuja utilizao devia, no entanto,
ser de tal forma precisa, que a sua forma e tcnica de fabricao permaneceram
padronizadas de maneira rgida durante cem ou duzentos mil anos, e num
territrio que se estendia da Inglaterra frica do Sul, da Frana China? Para
que serviam as extraordinrias peas feitas com a tcnica Levallois, pedras
lascadas de formato triangular que encontramos s centenas nos jazigos e que
nenhuma hiptese consegue explicar completamente? O que eram os pretensos
bastes de comando em osso de rena? Qual poderia ser a tecnologia da19
cultura tardenoisense que deixou para trs um nmero inacreditvel de
minsculos pedaos de pedra polida, com formas geomtricas infinitamente
diversificadas, mas muito poucos utenslios na escala da mo humana? Todas
estas incertezas mostram que entre as sociedades paleolticas e determinadas
sociedades indgenas contemporneas existe uma semelhana serviram-se de
utenslios de pedra polida. Mas mesmo no plano da tecnologia, torna-se difcil ir
mais longe; o emprego dos materiais, os tipos de instrumentos, e portanto o
propsito com que eram usados, eram diferentes, e mesmo neste aspecto
limitado um grupo nos ensina muito pouco em relao ao outro. Como
poderamos ento aprender qualquer coisa sobre linguagem, instituies sociais
ou crenas religiosas?
Uma das interpretaes mais populares inspiradas pelo evolucionismo
19Nome dado pelos arquelogos a um artefato pr-histri co, feito de osso e perfurado. No se sabe exatamente
sua funo, e por isso o termo basto de comando, tem si do subs titudo por basto perfurado (oupierced rod
em ingls).
19
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fen.wikipedia.org%2Fwiki%2FB%25C3%25A2ton_de_commandement&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNEKtdXqh0Eoc7kAkbuo7Ctc86EYcAhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FMesol%25C3%25ADtico&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNEonS0n08YjMqpor4qt8D2326ZXHQhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FT%25C3%25A9cnica_Levallois&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNFk310yIJw6hklcgAre7OY-c_BqCQ5/28/2018 Raa e histria
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cultural trata as pinturas rupestres legadas pelas sociedades do paleoltico mdio
como figuraes mgicas ligadas a rituais de caa. O raciocnio o seguinte: as
populaes primitivas atuais tm rituais de caa, que a maior parte das vezes,
nos aparecem desprovidos de valor utilitrio; as pinturas rupestres
pr-histricas, tanto pelo seu nmero como pela sua localizao, bem no fundo
das cavernas, no aparentam ter qualquer valor utilitrio; os seus autores eram
caadores, logo podemos concluir que eram usadas em rituais de caa. Basta
enunciar esta argumentao para se perceber sua inconsequncia. Alm disso,
sobretudo entre os no-especialistas que ela ganha fora, porque os etngrafos
esto de acordo em afirmar que nada, nos fatos observados, permite formular
qualquer hiptese sobre a natureza destas pinturas. E, j que falamos das
pinturas rupestres, sublinharemos que, exceo das sul-africanas
(consideradas por alguns como obras recentes ), as artes primitivas esto to20
afastadas da arte do Paleoltico como da arte europeia contempornea. Porque21
esta se caracteriza por um elevado grau de estilizao, indo at s deformaes
mais extremas, enquanto a arte pr-histrica oferece um realismo
surpreendente. Poderamos cair na tentao de ver nesta ltima a origem da arte
europeia, mas isso seria inexato, uma vez que, no mesmo territrio, a arte
paleoltica foi seguida por outras formas que no apresentam as mesmas
caractersticas; a continuidade do lugar geogrfico no muda o fato de que sobre
o mesmo solo se sucederam diferentes populaes, alheias obra dos seus
antecessores, e trazendo cada uma consigo crenas, tcnicas e estilos diferentes.
20Lvi-Strauss se refere aqui arte da cultura san(tambm chamados de bushmen, sho, barwa, kung, ou khwe),
tribos de caadores-coletores que viveram no sul da frica por milhares de anos, e dos quais restam poucos
remanescentes.
21Veja a galeria de arte pr-histrica.
20
https://docs.google.com/document/d/1y-X3ftWhx1tyHBrr-9JJcm6ftR5l5sz3VEHXyA0BF5M/edithttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fen.wikipedia.org%2Fwiki%2FBushmen&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNE5geDKXHrwRxJNgOYsmtXAnAD8Gghttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FArte_do_Paleol%25C3%25ADtico&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNHh0SOI4XB07ynG6LnB6zNhf5Z7Zw5/28/2018 Raa e histria
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O ponto que as civilizaes da Amrica pr-colombiana atingiram na
vspera da descoberta evocam o perodo neolticoeuropeu. Mas tambm esta
comparao no resiste a um exame mais atento; na Europa, a agricultura e a
domesticao de animais caminham de mos dadas, enquanto na Amrica, um
desenvolvimento excepcional da agricultura acompanhado pela quase completa
ignorncia (ou, de qualquer modo, por uma extrema limitao) do criao de
animais domsticos. Na Amrica, o uso de utenslios de pedra convive com uma
economia agrcola que na Europa est associada ao incio da metalurgia. intil
multiplicar os exemplos. Porque a tentativa de conhecer a riqueza e a
originalidade das culturas humanas, s para tom-las como rplicas atrasadas da
civilizao ocidental, choca-se com uma outra dificuldade que muito mais
profunda. De uma maneira geral (e excetuando a Amrica, a qual voltaremos)
todas as sociedades humanas tm atrs delas um passado aproximadamente da
mesma ordem de grandeza. Para considerar determinadas sociedades como
etapas do desenvolvimento de outras, seria preciso admitir que enquanto com
umas se passava qualquer coisa, com outras no acontecia nada, ou muito
pouco. E, na verdade, falamos dos povos sem histria (para dizer, por vezes,
que so os mais felizes). Esta forma elptica significa apenas que sua histria e
continuar a ser desconhecida, no a sua inexistncia. Durante dezenas e mesmo
centenas de milnios, tambm nesses povos existiram homens que amaram,
odiaram, sofreram, inventaram, combateram. Na verdade, no existem povos
crianas, todos so adultos, mesmo aqueles que no deixaram um dirio de
infncia e da adolescncia. Poderamos, na verdade, dizer que as sociedades
humanas utilizaram desigualmente um tempo passado que, para algumas, teria
21
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FNeolitico&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNHtttkeWtRA_Z3zWr8SrwmB5NUCHwhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.mesoweb.com%2F&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNELfU6lDT7yzt5t9FHVepWq0tS18g5/28/2018 Raa e histria
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sido mesmo um tempo perdido; que umas andavam rapidamente, enquanto
outras divagavam ao longo do caminho. Seramos assim conduzidos a distinguir
duas espcies de histrias: uma progressiva, aquisitiva, que acumula os achados
e as invenes para construir grandes civilizaes; e uma outra histria, talvez
igualmente ativa e empregando outros dons, mas a que faltasse o talento da
sntese. Cada inovao em vez de acrescentar s anteriores, e orientadas no
mesmo sentido, dissolver-se-ia numa espcie de onda que nunca consegue se
afastar por muito tempo da direo original. Esta concepo parece muito mais
flexvel e matizada que as vises simplistas descritas anteriormente. Podemos
guardar um lugar para ela na nossa tentativa de interpretao da diversidade das
culturas sem sermos injustos com as demais. Mas, antes, necessrio que
examinemos vrias questes.
5. A ideia de progresso
Devemos considerar, em primeiro lugar, as culturas pertencentes ao
segundo grupo, quelas que precederam a cultura do observador. A sua situao
mais complicada que nos outros casos. Porque a hiptese de uma evoluo,
que parece to incerta e to frgil quando a utilizamos para hierarquizar
sociedades contemporneas afastadas no espao, parece aqui dificilmentecontestvel, e mesmo diretamente evidenciada pelos fatos. Sabemos pelo
testemunho da arqueologia, da pr-histriae da paleontologia, que a Europa
atual foi habitada por vrias espcies do gnero Homo, que se serviam de
22
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.hyperhistory.com%2Fonline_n2%2FHistory_n2%2Fa.html&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNH3jV9-H6AHZ7PSyVo7-T5_4wv6wA5/28/2018 Raa e histria
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utenslios de pedra grosseiramente laminados; que a estas primeiras culturas se
sucederam outras, em que o talhar da pedra aperfeioado, pois
acompanhado pelo polir e pelo aperfeioamento do trabalho em osso e em
marfim; que a cermica, a tecelagem, a agricultura, a criao de animais ento
aparecem, associadas progressivamente metalurgia, onde tambm podemos
distinguir etapas. Estas formas sucessivas sugerem uma ordem no sentido de
uma evoluo e de um progresso, sendo umas superiores s outras. Mas, se isso
verdade, como que estas distines no iriam inevitavelmente reagir sobre o
modo como tratamos as formas contemporneas, mas que apresentam entre si
afastamentos anlogos? As nossas concluses anteriores correm, deste modo, o
risco de ser novamente postas em cheque.
Os progressos realizados pela humanidade desde as suas origens so to
claros e to gritantes que qualquer tentativa de contest-la nada mais seria que
um exerccio de retrica. E, no entanto, no to fcil, como se pensa, ordenas
as conquistas da humanidade numa srie regular e contnua. No incio do sculo
20 os estudiosos utilizavam esquemas de uma simplicidade admirvel para
representar esta evoluo: idade da pedra lascada seguiam-se a idade da pedra
polida, as idades do cobre, do bronze e do ferro. Tudo isto muito cmodo. Hoje
sabemos que, por vezes, o polir e o lascar da pedra coexistiram; e quando a esta
eclipsa completamente aquela, isto no acontece como resultado de um
progresso tcnico espontneo, mas como uma tentativa para copiar em pedra as
armas e os utenslios de metal que possuam as civilizaes teoricamente mais
avanadas mas, de fato, contemporneas. Inversamente, a cermica, que se
pensava que ocorria junto com a idade da pedra polida, est associada a pedra
23
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lascada em algumas regies do norte da Europa.
Para considerar apenas o perodo da pedra lascada, tambm chamada de
paleoltico, pensava-se h ainda muito pouco tempo que as diferentes formas
desta tcnica caracterizando respectivamente a produo de hastes, de lascas, e
de lminas, correspondiam a um progresso histrico em trs etapas designadas
por paleoltico inferior, mdio e superior. Admite-se hoje que estas trs formas
tenham coexistido, constituindo no etapas de um progresso em sentido nico,
mas aspectos ou, como se diz tambm, faces de uma realidade no esttica, mas
submetida a variaes e transformaes muito complexas. De fato o perodo
levalloisense, e cuja pice se situa entre 250 e 70 mil anos antes da Era Comum,
atinge uma perfeio na tcnica do corte que s viria a se encontrar novamente
no fim do neoltico e que hoje teramos muita dificuldade em reproduzir.
Tudo o que foi dito sobre as culturas igualmente vlido no plano das
raas, sem que se possa estabelecer (devido s diferentes ordens de grandeza)
qualquer correlao entre os dois processos. Na Europa, o homem de Neandertal
no apareceu antes das mais antigas formas do Homo sapiens, mas foram seus
contemporneos. E possvel que os tipos mais variados de homindeos
coexistiram no tempo, mesmo que no na mesma parte do mundo: pigmeus na
frica do Sul, gigantes na China e na Indonsia etc.
Mais uma vez, tudo isto no visa negar a realidade de um progresso da
humanidade, mas convida-nos a conceb-lo com mais prudncia. O
desenvolvimento dos conhecimentos pr-histricos e arqueolgicos tende a
24
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FNeandertal&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNHMZgeI641XeialMmHaJv7ychWGpw5/28/2018 Raa e histria
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espalhar no espao as formas de civilizao que ramos levados a imaginar como
escalonadas no tempo. Isso significa duas coisas. Em primeiro lugar que o
progresso (se este termo ainda adequado) no necessrio nem contnuo;
procede por saltos, ou, como diriam os bilogos, por mutaes. Estes saltos no
consistem em ir sempre mais longe na mesma direo; so acompanhados por
mudanas de orientao, um pouco maneira dos cavalos do xadrez que podem
efetuar vrias formas de movimento, mas nunca no mesmo sentido. A
humanidade em progresso nunca se assemelha a uma pessoa que sobe uma
escada, acrescentando para cada um dos seus movimentos um novo degrau a
todos aqueles j anteriormente conquistados; antes, uma metfora mais
adequada seria o jogador que aposta em vrios dados e que, a cada vez que os
lana, os v se espalharem no tabuleiro formando combinaes diferentes. O que
ganha em um, arrisca a perder no outro, e s de vez em quando que a histria
cumulativa, isto , que os dados se adicionam para formar uma combinao
favorvel.
Que esta histria cumulativa no seja privilgio de uma civilizao ou de
um perodo da histria, convincentemente mostrado pelo exemplo da Amrica.
Este imenso continente v chegar o homem, em pequenos grupos de nmades
atravessando o estreito de Beringfavorecido pelas ltimas glaciaes, numa
poca talvez no muito anterior a 20 mil anos atrs. Em 20 ou 25 mil anos, estes
homens conseguiram uma das mais admirveis demonstraes de histria
cumulativa: explorando as fontes do novo meio natural, domesticaram as
espcies vegetais mais variadas para a alimentao (bem como algumas espcies
animais), e tambm para a produo de drogas, promovendo substncias
25
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FEstreito_de_Bering&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNG7JnPDALS3SZgvCh1jqBn5nZsp_w5/28/2018 Raa e histria
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venenosas, como a mandioca , ao papel de alimento base, e outras ao de22
estimulante ou de anestsico; colecionando certos venenos ou estupefacientes
em funo das espcies animais sobre as quais exercem ao efetiva; finalmente,
levando determinadas tcnicas, como a tecelagem, a cermica e o trabalho em
metais preciosos, ao mais alto grau de perfeio. Para apreciar esta obra imensa,
basta medir a contribuio da Amrica para as civilizaes do Velho Mundo: a
batata, a borracha, o tabaco e a coca (base dos anestsicos modernos), que, em
planos diversos, constituem quatro pilares da cultura ocidental; o milho e o
amendoim, que iriam revolucionar a economia africana antes de se tornar
comum no regime alimentar da Europa; o cacau, a baunilha, o tomate, o abacaxi,
a pimenta, vrias espcies de feijo, de algodes e de cucurbitceas. E finalmente
o zero, base da aritmtica e, indiretamente, da matemtica moderna, era
conhecido e utilizado pelos maiaspelo menos meio milnio antes da sua
descoberta pelos indianos, de quem a Europa o recebeu por intermdio dos
rabes. Talvez por esta mesma razo o seu calendrio fosse mais exato que o do
Velho Mundo. A questo de saber se o regime poltico dos incasera socialista ou
totalitrio j fez correr muita tinta . Era baseado, de qualquer maneira, em23
formas que lembram as sociedades modernas, e estava vrios sculos a frente
dos regimes polticos europeus de ento. A ateno renovada, de que o curare24
foi recentemente objeto, lembraria, se necessrio, que os conhecimentos
22Para tornar a mandioca comestvel preciso extrair dela o venenoso cido ciandrico.23Referncia a toda uma literatura que floresceu nos anos 40 na Amrica Latina, atravs de artigos com ttulos
como Fue social is ta o comunista el i mperio incai co? ou El imperio s ocial is ta de los incas (Citados por
Enrique Peregall i em AAmrica que os europeus encontraram, Editora Atual , 2004).
24Nome comum dado a vrios compostos orgnicos venenosos extrados de plantas da Amrica do Sul. Possuem
intensa e letal ao paralisante, embora sejam utilizados medicinalmente como relaxante muscular ou
anestsico.
26
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FIncas&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNElkRor19A9CJ_b7dKx4ymXx6h4MAhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FMaias&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNE5-XxgaeQZjTIR3WtAvlpdHcRGgA5/28/2018 Raa e histria
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cientficos dos indgenas americanos, que se aplicam a tantas substncias
vegetais no utilizadas no resto do mundo, podem ainda fornecer importantes
contribuies.
6. Histria estacionria e histria cumulativa
A discusso do exemplo americano convida-nos a levar mais longe a nossa
reflexo sobre a diferena entre histria estacionria e histria cumulativa.
Se concedemos Amrica o privilgio da histria cumulativa, no ser porque
reconhecemos que ela a fonte de um certo nmero de contribuies que
aproveitamos, ou que se assemelham s nossas? Mas qual seria a nossa posio,
em presena de uma civilizao que se tivesse dedicado a desenvolver valores
prprios, dos quais nenhum fosse capaz de afetar o observador? No seria este
levado a qualificar esta civilizao de estacionria? Em outras palavras, a
distino entre duas formas de histria depende da natureza intrnseca das
culturas a que se aplica, ou resulta, antes, da perspectiva etnocntrica que
sempre adotamos para avaliar uma cultura diferente da nossa? Consideraramos
assim como cumulativa toda a cultura que se desenvolvesse num sentido anlogo
ao nosso, isto , cujo desenvolvimento fosse dotado de significado para ns.
Enquanto as outras nos pareceriam estacionrias, no porque necessariamente o
sejam, mas porque a sua linha de desenvolvimento nada significa para ns, no
mensurvel nos termos do sistema de referncia que adotamos.
Podemos comprovar isso atravs de um exame, mesmo sumrio, das
condies em que aplicamos a distino entre os dois tipos de histria, no para
caracterizar sociedades diferentes da nossa, mas no prprio interior desta. Esta
27
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distino muito mais frequente do que poderamos pensar. As pessoas idosas
consideram geralmente como estacionria a sua histria de vida durante a
velhice, em oposio histria cumulativa da juventude. Uma poca onde j no
esto ativamente comprometidos, onde j no desempenham papel importante,
deixa de ter sentido, nela nada acontece; ou, se acontece, apresenta aos seus
olhos apenas um carter negativo, enquanto seus netos vivem o mesmo tempo
com todo o fervor que os avs j esqueceram. Os adversrios de um regime
poltico no reconhecem de bom grado a sua evoluo; o condenam em bloco, o
rejeitam da histria, como uma espcie de entreato monstruoso depois do qual a
vida recomear. Completamente diferente a concepo dos partidrios do
regime, e tanto mais quanto mais estreitamente participarem do seu
funcionamento. A historicidade, ou mais precisamente, a eventualidade de25
uma cultura ou de um processo assim funo, no das suas propriedades
intrnsecas, mas da situao em que nos encontramos em relao a ela, do
nmero e da diversidade dos interesses envolvidos.
A oposio entre culturas progressivas e culturas estagnadas parece assim
resultar, primeiro, de uma diferena de foco. Para o observador de um
microscpio, os corpos aqum ou alm do foco sobre a lmina, mesmo que
apenas alguns centsimos de milmetro, parecem confusos e embaralhados, at
mesmo sequer chegam a aparecer. Uma outra comparao permitir descobrir a
mesma iluso. a que se utiliza para explicar as bases da teoria da relatividade.
Com o fim de demonstrar que a dimenso e a velocidade do deslocamento dos
corpos no so valores absolutos, mas dependem da posio do observador,
25Ou dito de outra forma, a significao dos eventos, o valor que a eles atribuimos.
28
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lembramos que, para um viajante sentado janela de um trem, a velocidade e o
comprimento dos outros trens variam conforme estes se deslocam no mesmo
sentido ou em sentido inverso. Ora, cada membro de uma cultura to presa a
ela quanto o o viajante ao trem. Porque, desde o nosso nascimento, o ambiente
que nos cerca faz penetrar em ns, mediante milhares de processos conscientes
e inconscientes, um sistema complexo de referncias que consistem em juzos de
valor, motivaes, interesses, e at mesmo a viso reflexiva que a educao nos
impe do processo histrico da nossa civilizao, e sem a qual esta se tomaria
impensvel, ou apareceria em contradio com a realidade. Deslocamo-nos
carregando este sistema de referncias, e as realidades culturais de fora s so
observveis atravs das deformaes por ele impostas; isso quando ele no nos
coloca na impossibilidade de perceber delas o que quer que seja.
Em grande parte, a distino entre culturas que se movem e culturas
que no se movem explica-se por uma diferena na posio do observador, a
mesma que faz com que para o nosso viajante, um trem, na realidade em
movimento, parea no se mover. verdade que, com uma diferena cuja
importncia ficar evidente quando tivermos uma teoria da relatividade aplicada
no s fsica como tambm s cincias sociais; tudo parece se passar de
maneira idntica, mas inversa. Para o observador do mundo fsico (tal como o
mostra o exemplo do viajante) so os sistemas que evoluem no mesmo sentido
que o seu que parecem imveis, enquanto aqueles que vo em sentido diferente
parecem mais rpidos. Com as culturas se passa o contrrio: nos parecem tanto
mais ativas quanto mais se deslocam no sentido da nossa, e estacionrias
quando a sua orientao oposta. Mas, no caso das cincias do homem, o fator
29
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velocidade tem apenas um sentido metafrico. Para tornar a comparao vlida,
devemos substitui-la pelo conceito de informao e de significao. Sabemos ser
possvel acumular muito mais informaes a respeito de um trem que se move
paralelamente ao nosso, e a uma velocidade prxima (por exemplo, podemos
nesse caso examinar os viajantes, conta-los etc.) do que sobre um trem que nos
ultrapassa ou que ultrapassamos a grande velocidade, e que some ainda mais
rapidamente quando circula na direo contrria. Nesse caso ele passa to
depressa que guardamos dele apenas uma impresso, na qual aparentemente a
prpria noo de velocidade est ausente; logo se reduz a uma perturbao
momentnea do campo visual, j no um trem, j no significa nada. H, pois,
segundo parece, uma relao entre a noo fsica de movimento aparente e uma
outra noo, que depende no s da fsica como tambm da psicologia e da
sociologia, a da quantidade de informao capaz de ser trocada entre dois
indivduos ou grupos, em funo da maior ou menor diversidade das suas
respectivas culturas. Todas as vezes que somos levados a qualificar uma cultura
humana de inerte ou de estacionria devemos, pois, nos perguntar se este
imobilismo aparente no resulta da nossa ignorncia sobre os seus verdadeiros
interesses, conscientes ou inconscientes, e se, tendo critrios diferentes dos
nossos, esta cultura no , em relao a ns, vtima da mesma iluso. Ou melhor,
aparecemos um ao outro como desprovidos de interesse, muito simplesmente
porque no nos parecemos.
A civilizao ocidental voltou-se inteiramente, h cerca de dois ou trs
sculos, no sentido de pr disposio do homem meios mecnicos cada vez
mais poderosos. Se adotamos este critrio podemos pensar na quantidade de
30
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energia disponvel por habitante como expresso do maior ou menor grau de
desenvolvimento das sociedades humanas. A civilizao ocidental, encabeada
pelos norte-americanos, ocuparia, ento, o primeiro lugar, seguidos pelas
sociedades europeias, arrastando atrs de si uma massa de sociedades asiticas
e africanas. Ora estas centenas ou mesmo milhares de sociedades que
designamos por subdesenvolvidas ou primitivas, quase se fundem num
conjunto indiferenciado quando as encaramos sob esta relao (e que no
prpria para as qualificar, uma vez que baseada numa linha de desenvolvimento
nelas ausente ou secundrio), veem-se como diametralmente opostas umas s
outras; de acordo com o ponto de vista escolhido, chegaramos, portanto, a
classificaes diferentes .26
Se o critrio adotado tivesse sido o grau de aptido para triunfar nos
meios geogrficos mais inspitos, no havia qualquer dvida de que os esquims
, por um lado, e os bedunospor outro, levariam o prmio mximo. A ndia27
soube, melhor do que qualquer outra civilizao, elaborar um sistema filosfico
religioso, e a China, um gnero de vida capaz de reduziras consequncias
psicolgicas de um enorme desequilbrio demogrfico . H treze sculos, o Isl28
26O raciocnio seguido por Lvi-Straus acabar ia por se tornar s enso-comum nas cincias socia is . O Produto
Nacional Bruto per capi ta, durante muito tempo considerado o ni co indi cador do gra u de desenvolvi mento de
um pas, hoje frequentemente constestado, e novos i ndicadores tem sido usados, como por exemplo o I DH,
ndi ce de Desenvolviemnto Humano. Os resul tados di ferem em muito de acordo c om o ndice adotado.27
Os esquims tambm tem sofrido as consequencias da integrao com a civilizao ocidental. O filme Nanookof the North, feito pelo antroplogo Robert Flaherty em 1922, mostra uma cul tura ai nda bas tante preservada na
poca, e sua sofisticada maneira de lidar com o ambiente inspito a que Lvi-Strauss se refere. Este filme est
dis ponvel na i nternet e frequentemente citado como um cl ss ico do cinema antropolgico.28A sia sempre teve uma populao gi gantesca, com a Chi na frente. Estima-se que por volta da metade do
sculo 18 a populao da sia j chegasse a a lgo prximo aos 500 milhes de habitantes, enquanto a populao
da Europa mal ultrapassava os 100 milhes (Mass imo Livi-Bacci,A Concise History of World Population,
Blackwell, 3a edio, 2001).
31
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FDemografia_da_Rep%25C3%25BAblica_Popular_da_China&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNHZtpddwlxSAncSRpGEgbjkQ7akcghttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FBedu%25C3%25ADnos&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNFnU94J1wfk3B8y8R2gPrULk1ag8whttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FEsquim%25C3%25B3s&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNFcPCt4Z84n7du4x_2hAeuByAr_Ig5/28/2018 Raa e histria
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formulou uma teoria onde todos os aspectos da vida humana tcnica,
economia, sociedade, vida espiritual esto intimamente relacionados, algo que
o Ocidente s muito recentemente voltaria a reencontrar, com certos aspectos
do pensamento marxista e o nascimento da etnologia. Sabemos o lugar
proeminente que esta viso proftica permitiu aos rabes ocupar na vida
intelectual da Idade Mdia. O Ocidente, apesar de todo seu domnio sobre as
mquinas, exibe conhecimentos muito elementares sobre a utilizao e os
recursos desta mquina suprema que o corpo humano. Neste domnio, pelo
contrrio, tal como no das relaes entre o fsico e o mental, o Oriente e o
Extremo Oriente parecem estar milnios a frente; produziram essas vastas
acumulaes tericas e prticas que so o iogana ndia, as tcnicas de respirao
chinesas ou a ginstica visceral dos antigos maoris. A agricultura sem terra,
desde h muito pouco tempo na ordem do dia entre ns, foi praticada durante
vrios sculos por certos povos polinsios, que poderiam ensinar tambm ao
mundo a arte da navegao, e que o surpreendeu profundamente no sculo 18,
revelando um tipo de vida social mais livre e mais generosa do que se poderia
imaginar.
Em tudo o que diz respeito organizao da famlia e harmonizao das
relaes entre o grupo familiar e o grupo social, os aborgenes australianos,
atrasados no plano econmico, ocupam um lugar to avanado em relao ao
resto da humanidade que necessrio, para compreender os seus sistemas de
regras de parentesco, por eles elaborados de maneira consciente e refletida,
apelar para as formas mais refinadas da matemtica moderna. Na verdade,
foram eles que descobriram que o casamento forma a trama sobre a qual as
32
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FAbor%25C3%25ADgenes_australianos&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNHJFnYnAee3Y-tJC1dU0NVqLzPKjghttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FPovos_polin%25C3%25A9sios&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNGBUbrkNdVhzMwHDCcD37PF4sbc9Ahttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FMaoris&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNFWnqTJG5YueHF_zNZFUhr0oglqAAhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FIoga&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNEOztm1GSRDjdxH4a5ACIt7tLxtAwhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FIdade_M%25C3%25A9dia&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNF6zU8RY7BRuMm0FI6g29FmnyY4Lg5/28/2018 Raa e histria
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outras instituies sociais so apenas rendilhados, mesmo porque nas
sociedades modernas, onde o papel da famlia tende a diminuir, a importncia
dos laos familiares no menor, atuando apenas num crculo mais estreito, em
cujos limites, outros laos, outras famlias, vm imediatamente substitui-la. A
articulao social atravs do casamento pode conduzir formao de fortes
laos entre um pequeno nmero de grupos ,ou de laos mais estreitos entre um
grande nmero de grupos. Com uma lucidez admirvel, os aborgenes
australianos elaboraram a teoria deste mecanismo e inventaram os principais
mtodos que permitem realiza-la, com as vantagens e os inconvenientes de cada
uma. Ultrapassaram assim o plano da observao emprica para se elevarem ao
conhecimento das leis matemticas que regem o sistema. De tal modo que no
de maneira nenhuma exagerado saudar neles, no apenas os fundadores de toda
a sociologia geral, mas ainda os verdadeiros introdutores da medida nas cincias
sociais .29
A riqueza e a audcia da inveno esttica dos melansios, o seu talento
para integrar na vida social os produtos mais obscuros da atividade inconsciente
do esprito, constituem um dos pontos mais altos que os homens alguma vez
atingiriam. A contribuio da frica mais complexa, mas tambm mais obscura,
porque s muito recentemente comeamos a imaginar a importncia do seu
papel como melting pot cultural do Velho Mundo, lugar onde todas as30
29A estrutura das relaes de parentesco foi um dos temas s obre o qual Lvi-Strauss mais se debruou. Uma
sntese dirigida ao pblico no-especializado encontra-se emA famlia, captulo XII I da col etnea Homem,
Cultura e Sociedade organizada por Harry L. Shapiro (Martins Fontes, 1982).
30Melting pot (ou caldeiro de mistura, em ingls) uma metfora para uma sociedade que se torna mais
homognea, onde os di ferentes elementos so fundidos e misturados. uma expresso muito usada nos Estados
Unidos, numa referncia a suposta capacidade da sociedade americana de integrar todas as culturas e grupos
33
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FMelan%25C3%25A9sia&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNF9CVAQ6zzmj43Iqs4VLG0hCBewvQ5/28/2018 Raa e histria
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influncias vieram se fundir para se transformar ou conservar, mas sempre se
renovando. A civilizao egpcia, cuja importncia para a humanidade
conhecemos, s inteligvel como obra comum da sia e da frica, e os grandes
sistemas polticos da frica antiga, as suas construes jurdicas, as suas
doutrinas filosficas durante muito tempo escondidas dos Ocidentais, as suas
artes plsticas e a sua msica, que exploram metodicamente todas as
possibilidades oferecidas para cada meio de expresso, so outros tantos
indicadores de um passado extraordinariamente frtil. O que pode ser
diretamente testemunhado pela perfeio das antigas tcnicas do bronze e do
cobre, que ultrapassam de longe tudo o que o Ocidente praticava nesses
domnios na mesma poca.
Alis, no so de maneira nenhuma estas contribuies fragmentadas que
devem reter a nossa ateno, porque cometeramos o risco de ficar com a ideia,
duplamente falsa, de uma civilizao mundial composta maneira de uma colcha
de retalhos. Muitas vezes tomamos uma parte desta sociedade pelo todo: a
fencia pela escrita; a chinesa pelo papel, a plvora e a bssola; a indiana no que
se refere ao vidro e ao ao . Estes elementos tomados individualmente tm31
menos importncia do que a maneira como cada cultura os agrupa, os retm ou
os exclui. A originalidade de cada uma delas reside antes na maneira particular
como resolvem os seus problemas de colocar em perspectiva os valores, que so
imigrantes que vieram para o pas ao longo de cinco sculos de histria em um todo harmonioso. Aqui, o autor a
utiliza para designar a fuso de culturas no continente europeu ao longo de milhares, ou dezenas de milhares de
anos.
31H evidncias de que tecnologias rudimentares de fabricao do ao j eram conhecidas no sub-continente
indiano ainda no primeiro milnio da Era Comum.
34
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aproximadamente os mesmos para todos os homens, porque todos os homens
sem exceo possuem linguagem, tcnica, arte, conhecimentos do tipo cientfico,
crenas religiosas, organizao social, econmica e poltica. Mas a dosagem
destes elementos no a mesma em cada cultura, e a antropologia dedica-se
cada vez mais a desvendar as origens destas opes, ao invs de catalogar suas
diferentes caractersticas.
7. Lugar da civilizao ocidental
possvel que tal argumentao seja refutada por seu carter terico.
possvel, algum poderia dizer, no plano de uma lgica mais abstrata,
simplesmente que cada cultura seja incapaz de emitir um juzo verdadeiro sobre
outra, pois uma cultura no pode se evadir de si mesma e a sua apreciao sobre
as demais permanece, portanto, prisioneira de um inevitvel relativismo. Mas ao
olharmos em volta, atentos ao que se passa no mundo, todas as especulaes
sero desfeitas. Longe de permanecer isoladas, todas as civilizaes reconhecem
a superioridade de uma delas, a civilizao ocidental. No vemos o mundo inteiro
buscar nela cada vez mais as suas tcnicas, o seu estilo de vida, as suas formas
de lazer e at o seu vesturio? Tal como Digenes provava o movimento
andando, o prprio progresso das culturas humanas que, desde as imensas
populaes da sia at s tribos perdidas na selva brasileira ou africana, provam,
por uma adeso unnime sem precedentes na histria, que uma das formas da
civilizao humana superior a todas as outras: o que os pases menos
desenvolvidos reprovam aos outros nas assembleias internacionais no o fato
de estarem sendo levados ao mesmo tipo de desenvolvimento, mas o fato de que
35
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isto ocorre lentamente demais.
Tocamos aqui no ponto mais sensvel do nosso debate; de nada valeria
querer defender a originalidade das culturas humanas contra si mesmas. Alm do
mais, extremamente difcil para o etnlogo fazer uma justa apreciao de um
fenmeno como a universalizao da civilizao ocidental, e isso por vrias
razes. Primeiro, a existncia de uma civilizao mundial um fato
provavelmente nico na histria e cujos precedentes deveriam ser procurados
numa pr-histria longnqua, sobre a qual no sabemos quase nada. Em seguida,
existe uma grande incerteza sobre a consistncia do fenmeno em questo. Na
verdade, desde h sculo e meio, a civilizao ocidental tende, quer na totalidade,
quer para alguns dos seus elementos-chave como a industrializao, a
expandir-se no mundo; e, na medida em que as outras culturas procuram
preservar alguma coisa da sua herana tradicional, esta tentativa reduz-se
geralmente s superestruturas, isto , aos aspectos mais frgeis e que podemos
supor que sero varridos pelas profundas transformaes que se verificam em
camadas mais profundas. Mas o fenmeno est em pleno curso, no
conhecemos ainda o seu resultado. Acabar numa ocidentalizao integral do
planeta com variantes russa ou americana? Aparecero formas sincrticas cuja
possibilidade se percebe j no mundo islmico, na ndia e na China? Ou, antes, o
movimento est perto de seu fim e vai recrudescer, estando o mundo ocidental
prestes a sucumbir, como monstros pr-histricos, com uma expanso fsica
incompatvel com a sua estrutura? Nos esforaremos para avaliar o processo que
se desenrola aos nossos olhos e do qual somos, consciente ou
inconscientemente, agentes, auxiliares ou vtimas, tenhamos conscincia disso ou
36
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no.
Comearemos por observar que esta adeso ao gnero de vida ocidental,
ou a alguns dos seus aspectos, est longe de ser to espontnea quanto os
ocidentais gostariam que ela fosse. Resulta menos de uma deciso livre do que de
uma falta de opo. A civilizao ocidental espalhou seus soldados, engenhos,
feitorias, plantaes e missionrios pelo mundo todo; interveio, direta ou
indiretamente, na vida das populaes africanas; revolucionou de alto a baixo o
seu modo de vida, quer impondo o seu, quer instaurando condies que
engendrariam o desmoronar dos modos de vida tradicionais sem os substituir
por outra coisa. Aos povos subjugados ou desorganizados no lhes restava
seno aceitar as solues de substituio que lhes eram oferecidas ou, caso no
estivessem dispostos a isso, esperar uma aproximao suficiente para estarem
em condies de os combaterem no mesmo campo. Na ausncia desta
desigualdade na relao de foras, as sociedades no se entregam com tal
facilidade; o seu Weltanschauung aproxima-se mais do dessas pobres tribos do32
Brasil oriental, onde o etngrafo Curt Nimuendaju soube se fazer adotar, e em
que os indgenas, todas as vezes que ele voltava dos centros urbanos civilizados,
choravam de piedade s de pensar nos sofrimentos que ele devia ter
experimentado, longe do lugar na aldeia onde eles julgavam que a vida valia a
pena ser vivida.
Todavia, formulando esta reserva, mais no fizemos que deslocar a
questo. Se no o consentimento que fundamenta a superioridade ocidental,
32Expresso al em muito usada na filos ofia, si gnifica viso de mundo.
37
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FCurt_Nimuendaj%25C3%25BA&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNFBvy37zYxjzd9xBY_Esgt-2x3A7Ahttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FWeltanschauung&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNEIJYEW9v6dJkRaCN2a0OiQGDu0mQ5/28/2018 Raa e histria
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no ser ento essa maior vitalidade e energia de que dispe, e que lhe permitiu
precisamente forar o consentimento dos outros? Atingimos aqui o ponto
crucial. Porque esta desigualdade de fora no depende da atitude subjetiva.
um fenmeno objetivo que s pode ser explicado por causas objetivas.
No se trata de empreender aqui um estudo de filosofia das civilizaes ;33
volumes e mais volumes poderiam ser dedicados a uma discusso sobre a
natureza dos valores professados pela civilizao ocidental. Mencionaremos
apenas os mais manifestos, aqueles que esto menos sujeitos a controvrsia.
Reduzem-se, segundo parece, a dois: a civilizao ocidental procura, por um lado,
segundo Leslie White, a aumentar continuamente a quantidade de energia
disponvel por habitante; mas, por outro, procura proteger e prolongar a vida
humana e, se quisermos ser breves, podemos considerar que o segundo aspecto
uma modalidade do primeiro, pois que a quantidade de energia disponvel
aumenta, em valor absoluto, com a durao e com a sade dos indivduos. Para
afastar qualquer discusso, admitiremos tambm que estes caracteres podem
ser acompanhados de fenmenos compensadores que sirvam, de algum modo,
de freio; por exemplo, as grandes chacinas que constituem as guerras mundiais,
e a desigualdade na diviso da energia disponvel entre os indivduos e entre as
classes sociais.
33E no entanto fil osofia das ci vili zaes parece ser a expresso mais adequada para clas si ficar este tipo de
discusso. Numa poca que consagrou a micro-histria (focada num aspecto especfico) parece que temos
poucos autores dedicados a uma macro-histria, ou a uma histria das civilizaes em seu conjunto. Um bem
conhecido, que no seu cls si co Um estudo em histria faz uma anl is e comparada das ci vili zaes, o
historiador ingls Arnold Toynbee, a quem Lvi-Strauss cita na bibliografia.
38
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fen.wikipedia.org%2Fwiki%2FLeslie_White&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNGE3QmIvQi0fyywvxp3sN_g3uBrBA5/28/2018 Raa e histria
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Posto isto, constatamos imediatamente que, se a civilizao ocidental se
engajou nestas tarefas, com prejuzo das demais, talvez estando a mesmo a sua
fraqueza, ela no foi certamente a nica. Todas as sociedades humanas, desde
os tempos mais antigos, agiram no mesmo sentido; e foram sociedades muito
longnquas e muito arcaicas, que igualaramos com os povos selvagens de hoje,
que realizaram, neste domnio, os progressos mais decisivos. Mesmo
atualmente, estes avanos constituem o grosso daquilo que designamos por
civilizao. Dependemos ainda das imensas descobertas que marcaram aquilo a
que chamamos, sem qualquer exagero, da revoluo neoltica: a agricultura, a
criao de gado, a cermica, a tecelagem. Para todas estas conquistas da
civilizao apenas contribumos, desde h oito ou dez mil anos, com
aperfeioamentos relativamente pequenos.
Alguns tm uma tendncia para reservar o privilgio do esforo, da
inteligncia e da imaginao s descobertas recentes, enquanto as realizadas pela
humanidade no seu perodo brbaro seriam fruto do acaso, e haveria a, em
suma, apenas um pouco de mrito. Esta aberrao parece-nos to grave e to
difundida, e presta-se tanto a impedir uma viso exata da relao entre as
culturas, que julgamos indispensvel esclarec-la da maneira mais ampla
possvel.
8. Acaso e civilizao
Lemos nos tratados de etnologia, e no s nos piores, que o homem deve
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o conhecimento do fogo ao acaso de uma fasca ou de um arbusto casualmente
em chamas; que ao achar uma caa acidentalmente assada nestas condies
descobriu como cozinhar os alimentos, que a inveno da cermica resulta do
aquecimento de um punhado de argila perto do fogo. Seria assim possvel supor
que o homem teria vivido numa espcie de idade de ouro tecnolgica, onde as
invenes eram colhidas com a mesma facilidade que se colhem os frutos e as
flores... S ao homem moderno estariam reservadas a fadiga do trabalho e os
insights geniais...
Esta viso ingnua resulta de uma total ignorncia da complexidade e da
diversidade das operaes que esto implicadas nas tcnicas mais elementares.
Para fabricar um utenslio eficaz de pedra lascada no basta bater numa pedra
at que esta rache em duas; percebemos isso no dia em que tentamos reproduzir
os principais tipos de utenslios pr-histricos. Ento e observando tambm a
mesma tcnica nos indgenas que ainda a possuem descobrimos a complicao
dos processos indispensveis e que vo, em alguns casos, at a produo
preliminar de verdadeiras ferramentas de corte: martelos com contrapeso para
controlar o impacto e a sua direo; dispositivos amortecedores para evitar que a
vibrao faa rachar a lmina. preciso tambm um vasto conjunto de noes
sobre a origem, os processos de extrao, a resistncia e a estrutura dos
materiais utilizados, uma preparao muscular apropriada, o conhecimento dos
movimentos exatos das mos, entre outras habilidades; numa palavra, uma
verdadeira liturgia correspondendo, mantidas as devidas propores, aos
diversos estgios da metalurgia.
40
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Do mesmo modo, os incndios naturais podem por vezes grelhar ou assar,
mas muito difcil conceber (exceto no caso dos fenmenos vulcnicos de
distribuio geogrfica restrita) que eles faam ferver a gua, ou cozinhar ao
vapor. Ora estes mtodos de cozinhar no so menos universais do que os
outros. Logo, no temos razo para excluir do seu aparecimento o dom da
inveno.
A produo de objetos de cermica oferece um excelente exemplo, porque
uma crena muito difundida quer fazer crer que no haja nada de mais simples
que cavar um punhado de argila e endurece-la ao fogo . Pois que tentem ento.34
preciso em primeiro lugar descobrir argilas prprias. Depois, so necessrias
muitas condies naturais, e nenhuma delas por si s suficiente; apenas a
presena dos minerais precisos na argila, escolhidos em funo do destino que se
quer dar ao recipiente, resulta num objeto passvel de utilizao. Tcnicas da
modelagem elaboradas so necessrias para manter um corpo de argila que no
suporta o seu prprio peso em equilbrio durante um tempo aprecivel,
enquanto seca, sendo ainda malevel o suficiente para ser moldado; preciso
finalmente descobrir o combustvel apropriado, as caractersticas do forno, o tipo
de calor, e a durao do tempo de aquecimento que permitiro torn-la slida e
34O antroplogo Gordon Childe parece ir ao ponto quando diz: A produo de um pote de cermica no to
fci l quanto parece. Claro que um vaso pequeno ou objeto em forma de um prato pode ser feito de maneira bemsimples a partir de um punhado de barro [...] Mas se alguma coisa mais complexa o que se quer, esses
procedimentos elementares so i nsufi cientes. Segundo ele, a confeco de vasos e potes de cermica talvez a
primeira utilizao consciente pelo homem de uma transformao qumica. A transformao no caso a
combinao de silica e xido de alumnio (tambm conhecido como alumina) que acontece quando se leva ao
forno a argil a. As primeiras peas desse tipo aparecem no perodo gravetiano(29.000 a 25.000 AC), mas
apenas no neoltico que essa complexa tecnologia passa a ser dominada em todos os seus aspectos. No Brasil, a
cermica marajoara, um exemplo desta arte.
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http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FMarajoaras&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNGNaA3665HEHiMjBkTjegTu62DkHQhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fen.wikipedia.org%2Fwiki%2FGravettian&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNEydwl5HYbyJaNv1IaMJ8eWDtiQ7w5/28/2018 Raa e histria
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impermevel, evitando o risco de lascar, quebrar ou deformar . Poderamos35
multiplicar os exemplos. Todas estas operaes so muito numerosas e
demasiado complexas para que o acaso possa explica-las. Cada uma delas
tomada isoladamente nada significa, s a sua combinao imaginada, desejada,
procurada e experimentada permite o xito. O acaso existe, sem dvida, mas por
si s no permite alcanar qualquer resultado. Durante dois mil e quinhentos
anos, o mundo ocidental conheceu a existncia da eletricidade, descoberta, sem
dvida, por acaso; mas este acaso permaneceria estril at os esforos
intencionais e dirigidos pelas hipteses de Ampre e de Faraday. O acaso no
desempenhou grande papel na inveno do arco, do bumerangue ou da
zarabatana, no nascimento da agricultura e da criao de gado, tal como no
desempenhou na descoberta da penicilina da qual, como sabemos, no esteve
totalmente ausente. Devemos, pois, distinguir cuidadosamente a transmisso de
uma tcnica de uma gerao para outra, feita sempre com uma facilidade relativa
graas observao e preparao cotidiana, e a criao ou melhoramento das
tcnicas no meio de cada gerao. Estas supem sempre o mesmo poder
imaginativo e os mesmos esforos encarniados da parte de alguns indivduos,
qualquer que seja a tcnica particular que tenhamos em vista. As sociedades a
que chamamos primitivas no tm menos homens como um Pasteur ou um
35Para a produo dos potes impermeabilizados atravs de vitrificao que comeam a aparecer no perodo
neoltico necessrio aquecer a pea de argila a que se quer dar forma de maneira controlada a umatemperatura de 600 C. Curiosamente no h em portugus uma palavra especfica para esta arte, denominada
poterieem francs, epotteryem ingls. Ambas tem a mesma rai z que a pal avra em portuguspote. Mas enquanto
o francs e o ingls preservam uma palvra especial para esta a tividade to i mportante na histria da
humanidade, em tradues para o portugus muito como o uso do temo olaria, o que impreciso j que este se
refere tambm fabricao do tijolo. So coisas diferentes, que embora tenham uma relao (as duas tcnicas
surgiram no neoltico), tem histrias bem diferentes. Ver V. Gordon Chil de, Man Makes Himself (Spokesman,
2003).
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http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FPenicilina&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNElWjkm8iAiIRgLemxRxkcUN7olsAhttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FMichael_Faraday&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNHiIlWnA9EF-HwMnSzkDDOYODAShA5/28/2018 Raa e histria
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Palissy do que as outras.36
Voltaremos a encontrar o acaso e a probabilida