10
Química e Derivados - maio - 2008 48 Rem o mesmo tempo em que evolui comercialmente, o mercado de empresas de diagnóstico e reme- diação de áreas contaminadas também vê seus problemas crescerem de forma proporcional. A grande aceleração dos negócios iniciada com as recentes preocupações ambientais da sociedade, notoriamente a partir de meados da década de 90, acabou por atrair em demasia um sem-fim de interessados em ganhar dinheiro com a nova demanda, provocando uma espécie de corrida do ouro que, no final das contas, diminuiu a qualidade dos serviços ofertados. A seriedade na aplicação de tecnologias para descontaminação e para elaborar relatórios de passivos ambientais foi lentamente substituída, em vários casos, por um jogo de faz-de-conta em que técnicas de prateleira são aplicadas sem muito critério e controle, apenas para dar uma resposta às autoridades e clientes sem muito preparo para checar e fiscalizar o andamento dos projetos, e por uma verdadeira indústria do diagnóstico ambiental, documento necessário para celebrar contratos de compra e venda ou para oficializar termos de mudança de uso da área. O fenômeno de “degeneração” do mercado tem a ver, em primeiro lugar, com o inchaço de oferta de empresas na área. Formado inicialmente por cerca de 15 empresas especializa- das, o segmento sofreu um boom a partir de 2000, talvez por influência da publicação da resolução 273 do Conama, que disciplinou os procedimentos de fiscalização, controle e licen- ciamento de postos de combustíveis, incentivando negócios com esses clientes. “Vários ex-funcionários dos grupos mais fortes do mercado, e até mesmo alguns aventureiros com formação técnica duvidosa, passaram a criar consultorias A ILUSTRAÇÃO SUELI ROJAS

R e m e d i a ç ã o - clean.com.brclean.com.br/Menu_Imprensa/Quimica e Derivados de junho de 2008... · o mesmo tempo em que evolui comercialmente, o mercado de empresas de diagnóstico

  • Upload
    vonhan

  • View
    212

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Química e Derivados - maio - 200848

R e m e d i a ç ã o

o mesmo tempo em que evolui comercialmente, o mercado de empresas de diagnóstico e reme-diação de áreas contaminadas também vê seus problemas crescerem de forma proporcional. A grande aceleração dos negócios iniciada com as recentes preocupações ambientais da sociedade, notoriamente a partir de meados da década de 90, acabou por atrair em demasia um sem-fim de interessados em ganhar dinheiro com a nova demanda, provocando uma espécie de corrida do ouro que, no final das contas, diminuiu a qualidade dos serviços ofertados. A seriedade na aplicação de tecnologias para descontaminação e para elaborar relatórios de passivos ambientais foi lentamente substituída, em vários casos, por um jogo de faz-de-conta em que técnicas de prateleira

são aplicadas sem muito critério e controle, apenas para dar uma resposta às autoridades e clientes sem muito preparo para checar e fiscalizar o andamento dos projetos, e por uma verdadeira indústria do diagnóstico ambiental, documento necessário para celebrar contratos de compra e venda ou para oficializar termos de mudança de uso da área.

O fenômeno de “degeneração” do mercado tem a ver, em primeiro lugar, com o inchaço de oferta de empresas na área. Formado inicialmente por cerca de 15 empresas especializa-das, o segmento sofreu um boom a partir de 2000, talvez por influência da publicação da resolução 273 do Conama, que disciplinou os procedimentos de fiscalização, controle e licen-ciamento de postos de combustíveis, incentivando negócios com esses clientes. “Vários ex-funcionários dos grupos mais fortes do mercado, e até mesmo alguns aventureiros com formação técnica duvidosa, passaram a criar consultorias

AIlu

stra

ção

suel

I roj

as

2008 - maio - Química e Derivados 49

Marcelo Furtado

d e s o l o sR e m e d i a ç ã o

para aproveitar o novo filão do mercado”, explicou Giovanna Galante, gerente da Essencis Remediação, joint-venture entre o grupo francês Solvi e a construtora brasileira Camargo Corrêa. Uma estimativa é a de que atualmente cerca de 140 consultorias se engalfinhem para dividir os fornecimentos da área. “O mercado está prostituído”, completou Giovanna.

Embora boa parte dessas novas empresas hoje se con-centre nos serviços para postos de combustíveis, o que fez os grupos tradicionais saírem quase totalmente desse nicho de mercado, a preocupação atual é a “invasão” dos novatos em clientes industriais. Com contaminações mais complexas, o risco de uma remediação mal feita em um sítio industrial passa a ser bem maior. E trata-se aí de algo muito possível de ocorrer. Não só por causa da má qualidade do serviço ofertado, mas porque poucos órgãos ambientais no Brasil estão devidamente empenhados e preparados para avaliar e

controlar as remediações. Só para se ter uma idéia, a grande maioria das agências ambientais do país nem mesmo conta com levantamento das áreas contaminadas de seus estados. Na verdade, apenas São Paulo, por meio de trabalho iniciado pela Cetesb em 2002, renova constantemente um inventário dos sítios contaminados, cuja última publicação, em novem-bro de 2007, demonstrou haver 2.272 casos confirmados, sendo 70% deles postos de combustíveis. Ocorre que mesmo no estado paulista a estimativa é a de que o número real seja muito maior do que o de conhecimento do órgão ambiental (só em São Paulo, há 120 mil indústrias).

Mercado adolescente – Os temores com os caminhos tomados pelo mercado brasileiro de remediação de solos e águas subterrâneas são maiores ainda quando se compreende que o estágio geral de desenvolvimento tecnológico do setor,

IndústrIa do dIagnóstIco econsultorIas nanIcas afetama qualIdade do servIço

Química e Derivados - maio - 200850

r e m e d i a ç ã o d e s o l o s

mesmo excluindo-se a maioria das consul-torias mais novas, ainda é muito imaturo. Essa espécie de perfil “adolescente” do segmento, não raro, dá curso a erros de interpretação que prejudicam a elaboração de projetos. É comum os mentores não avaliarem direito as condicionantes do solo, tornando muitas tecnologias quase inócuas. E o pior: as falhas são difíceis de ser rastreadas pela fiscalização ambiental ou simplesmente checadas pelos clientes, por ambos não estarem suficientemente instrumentalizados para a tarefa.

Os “erros”, involuntários ou não, ocorrem, como exemplo, na implantação de sistemas de bombeamento e tratamento denominados MPE, de extração multifá-sica para contaminantes, que permitem a extração simultânea de fase livre, dissolvi-da e de vapor do solo. Muito empregados em contaminações por hidrocarbonetos, mas também em sítios com solventes clorados e outros com-ponentes voláteis, a sua implantação por poços não raramente deixa escapar plumas de contaminantes para além da área contaminada.

Isso ocorre por causa de um problema aparentemente óbvio, mas que costuma ocorrer: a colocação de vários poços para cercar a pluma. Quando não bem projetados, torna-se insuficiente para extrair o lençol freático e os vapores con-taminados. Sítios onde há elevado grau de heterogeneidade geológica demandam pequenos espaçamentos entre poços

verticais para a garantia da captura necessária, implicando em uma quan-tidade exagerada de poços de extração. Na maioria das vezes, o espaçamento ideal não é determinado e não se obtêm raios de influência apropriados. Com isso, as plumas migram para fora das áreas com fases livres retidas pelo solo (fontes secundárias). As incertezas existentes associadas a uma geologia de elevado grau de heterogeneidade, nestes casos, deveriam demandar solu-ções mais adequadas, o que dificilmente ocorre no Brasil.

Problemas desse tipo, na opinião do especialista Manoel Maia Nobre, responsável por vários projetos avança-dos de remediação no Brasil, sobretudo para a petroquímica Braskem, para quem presta serviço como consultor corporativo, ocorrem muito por causa

da visão do mercado brasileiro de remediação ainda bastante atrelada às tecnologias padrões. “A remediação, principal-mente na indústria, precisa ser vista de maneira particular, engenheirada. Um solo heterogêneo e uma fonte de contami-nação cuja complexidade foge do conhecimento daquele a que se propõe a remediá-la já são motivos para pensar o projeto dessa forma. Caso contrário, o trabalho corre o risco de ser mais decorativo do que de fato”, critica Maia Nobre.

Trincheiras – Para evitar a falha de concepção do MPE, uma solução pensada e já executada em trabalhos da Maia Nobre Engenharia (escritórios em Maceió-AL e Salvador-BA) seria a construção das chamadas trincheiras interceptantes (ver esquema). Trata-se de paredes construídas no solo, ao redor da área com contaminantes, com materiais permeáveis, brita ou cascalho, conjugadas com poços de extração, por bomba ou gravidade, que removem segregadamente as fases de contaminantes (livre, gasosa e dissolvida).

A técnica, explica Maia Nobre, é empregada nos Estados Unidos há quase duas décadas como alternativa ao MPE em sítios com con-taminações por LNAPLs (fluidos orgânicos imiscíveis e mais leves do que a água, como os hidrocarbonetos do petróleo), onde pode ser realizado o controle da migração de fases livre e dissolvida, além da remoção de massa. Adequadas para sítios com grandes heteroge-neidades geológicas, onde o fluxo de águas subterrâneas ocorre aleatoriamente em zonas de maior permeabilidade e em material arenoso, as trincheiras funcionam como camada infinita de

Trincheira interceptante

Sistema de remoçãode fase livre

Sistema demonitoramento

Sistema deextração de água

Sistema de extração de gás

Brita /cascalho

LNAPLs(fase livre)

Impermeabilização

Zona vadosa

Zona saturada

Maia Nobre: trincheira paracombater desleixo técnico

Fonte: MNE

CuCa jorge

Química e Derivados - maio - 200852

r e m e d i a ç ã o d e s o l o s

poços de extração ao longo de sua extensão. São relativamente fáceis e baratas de construir, com custo de operação também baixo em virtude da operação por fluxo gravitacional para o interior da trincheira, possível pelo rebaixamento do nível freático.

Por causa das características do material de preenchimento, as trincheiras interceptantes criam uma região de elevada permeabilidade (e transmissividade) no aqüífero freático, com uma zona de influência abrangente, e garantindo extensa área de cobertura pelo bombeamento. Em geral, a tecnologia é instalada transversalmente ao sentido de fluxo de águas subterrâneas, a jusante das fontes primárias/secundárias de LNAPLs. O controle da migração de plumas de contami-

nantes se dá pela alteração da piezometria (captura) com o bombeamento da água subterrânea, por meio de um sistema de extração/drenagem mais profundo, sem gerar turbulência (e emulsão) onde existir fase livre de LNAPLs.

O rebaixamento do aqüífero freático, decorrente do bombeamento, possibilita remoção facilitada de fase livre móvel de LNAPLs, que fluirá para o interior da trincheira interceptante por gravidade. Para a extração de fase gasosa contaminada, assim como para a exaustão do sistema, são instalados poços na zona vadosa como parte da remediação.

A configuração segmentada, com sis-temas específicos para a remoção da con-taminação em suas diferentes fases (livre, gasosa e dissolvida), facilita o reúso de água de sistemas de remediação, evitando

os sistemas de separação de fases na superfície. “Fazer o tratamento depois da extração é caro e ambientalmente inade-quado, pois gera efluentes em demasia”, afirma Maia Nobre. Aliás, a engenharia da extração dos efluentes das trincheiras é a responsável pela possibilidade maior do reúso da água. Ela pode ser pelo método passivo (fluxo gravitacional da fase livre de LNAPLs) ou ativo (uso de bombas para induzir o fluxo de fases livre e dissolvida de LNAPLs).

O primeiro método é utilizado, geralmente, para a remoção de fase livre em sítios onde a profundidade do aqüífero freático seja inferior a 6 metros ou em solos de baixa permeabilidade, em condições nas quais o bombeamento de água não aumenta significativamente as taxas de extração. Nesses casos, a fase

livre deve ser removida periodicamente, de forma manual (por bailers) ou com o uso de bombas/skimmers de separação in-situ. Já na operação com sistema ativo, o rebaixamento do lençol promove maiores taxas de remoção de fase livre associada ao controle concomi-tante da dissolvida.

Quando a recuperação de fase livre de LNAPLs é o objetivo principal, sistemas ativos podem ser projetados para evitar a emulsificação (mistura da fase livre de LNAPLs com água). “Isso ajuda a reduzir a possibilidade de smearing (incremento da zona contaminada com fase residual) e diminui a quantidade de efluente gerado a ser tratado”, afirma Maia Nobre. Para o bom-beamento e rebaixamento do lençol, podem ser utilizados drenos horizontais ao longo da trincheira assim como poços verticais em pontos específicos. A definição depende, além da existência ou não de fase livre, do rebaixamento necessário, e também da con-

10.000

1000

100

10

1

Núm

ero

de á

reas 255

mai/02 out/03 nov/04 mai/05 nov/05 mai/06 nov/06 nov/07

5

14 19 2429 32 46 94

146157151144137122

485710 510

833

564622

682884

859 859 937 1.1482.2721.8221.6641.5961.504

1.336727

Evolução da classificação das áreas contaminadas em São Paulo

Grupos de contaminantes em São Paulo

Solv

ente

s ar

omát

icos

/ 1.

495

Com

bust

ívei

s líq

uido

s / 1

.455

PAHs

/ 90

2

Met

ais

/ 276

Solv

ente

s ha

loge

nado

s / 1

42

Outr

os c

onta

min

ante

s / 8

2

Outr

os in

orgâ

nico

s / 5

4

Fenó

is h

alog

enad

os /

53

Solv

ente

s ar

omát

icos

hal

ogen

ados

/ 43

Bioc

idas

/ 35

PCBs

/ 21

Ftal

atos

/ 15

Mic

robi

ológ

icos

/ 5

Radi

onuc

lídeo

s / 4

Anili

nas

/3

Diox

inas

e fu

rano

s/ 2

Áreas contaminadasContaminadas sem proposta de remediaçãoRemediação em andamento

Contaminadas com proposta de remediaçãoRemediação concluída

Font

e: C

etes

bFo

nte:

Cet

esb

2008 - maio - Química e Derivados 53

figuração da trincheira e metodologia construtiva adotada.Apesar das vantagens, Maia Nobre acrescenta que a tec-

nologia não é recomendada para contaminações em grandes profundidades (acima de 18 metros), em razão da elevação dos custos da execução e da necessidade de remoção de grande volume de solo escavado, parte dele contaminado. Além disso, ainda é limitante sua eficiência em solos de permeabilidade muito reduzida (K < 10-5cm/s) e sítios com edificações exis-tentes, sobretudo instalações subterrâneas. A concepção do projeto, aliás, não foge da boa preparação de uma remediação: estudo do deslocamento de plumas dissolvidas ao longo de caminhos preferenciais de fluxo, boa configuração da obra e das vazões de extração e fundamentação das heterogeneidades geológicas existentes.

Crescimento não pára – A despeito dos problemas relativos à imaturidade do mercado, as empresas mais conhecidas da área continuam a ampliar os negócios e a ficar atentas às novas oportunidades. Demonstram satisfação com o desempenho comercial atual e não perdem tempo de anunciar planos de expansão, lançando modalidades novas de serviços e produtos. De forma unânime, estão convencidas de que, mesmo sofrendo com as novas concorrências de empresas menores com custos igualmente diminutos, as taxas de crescimento do mercado continuarão a ser consideradas bem altas. E motivos para o oti-

Giovanna: Essencis considera estratégica a remediação

Alarsa estudalançar a “bolsado solo”

CuCa jorge

CuCa

jor

ge

2008 - maio - Química e Derivados 55

remediação de solos

mismo não faltam: o recente interesse e necessidade da indústria de mineração e siderurgia em dar cabo a projetos de remediação (fenômeno capitaneado principalmente pela Vale, empresa em globalização e por isso mais comprometida com boas condutas ambientais) e o crescimento do mercado de brownfields (ocupa-ção imobiliária de áreas contaminadas em centros urbanos) são dois movimentos de destaque nesse campo.

A Essencis Remediação, para começar, tem planos de expansão por todo o país, segundo revelou a gerente Giovanna Galante. Muito focada como empresa de destinação de resíduos, administrando e operando aterros, incinerador e unidades de co-processamento, o grupo pretende fechar a oferta como provedor de solução ambiental para a indústria, cuidando também de seus passivos mais complicados em solos e águas subterrâneas.

Depois de algumas tentativas não muito bem-sucedidas de se expandir nessa seara, a Essencis organizou três escritórios exclusivos para a remediação, em Belo Horizonte-MG, São Paulo e Porto Alegre-RS, contratou gente especializada e passou a ter ação mais ativa comercialmente, aproveitando a carteira de 4 mil clientes da área de resíduos para ofertar projetos de descontaminação. “A remediação passou a ser estratégica”, ressaltou Giovanna, geóloga com experiência em outras empresas de remediação (Geoklock e Servmar).

Outra empresa com perfil parecido com o da Essencis, por ser originária da área de gerenciamento e tratamento de resíduos, a Cetrel Lumina, do grupo Odebrecht, conta também com planos ambiciosos de crescimento. Segundo explicou o coordenador técnico de remediação da empresa, Marcelo Alarsa, depois de três anos consolidada como prestadora de serviços ambientais (após fusão da Lumina, da área de gerenciamento ambiental da Construtora Norberto Odebrecht, com a central de tratamento de efluentes e resíduos do pólo de Camaçari-BA, da Braskem), a intenção é buscar novas frentes para explorar negócios com a remediação.

A principal dessas novas frentes, em cujo planejamento Alarsa se envolve atualmente, é criar uma modalidade de ser-viço ambiental denominada de forma preliminar como “bolsa de solo”. O princípio é o mais simples possível e tem público

Unidade piloto de UV e H2O2: reúso de água nos projetos

DIvu

lgaç

ão

Química e Derivados - maio - 200856

r e m e d i a ç ã o d e s o l o s

por exemplo) ou ex-situ (quando se transporta o solo para tratamento externo).

Ambas as soluções, segundo Alarsa, precisam ser estuda-das em cada situação, dependendo do tipo de contaminante e da equação de custo. Se o solo for muito perigoso, por exemplo com PCBs (policloreto de bifenila, o isolante térmico ascarel) ou organoclorados, há a possibilidade de serem encaminha-dos para incineração (no próprio equipamento da Cetrel, em Camaçari, que de acordo com o coordenador passou por recente otimização para baixar seu custo de operação). Outros tipos de solo, com poder calorífico, podem seguir para co-processamento, operação também ofertada pela empresa em unidades de blendagem e por acordos com cimenteiras. Mas não serão todos os solos com chance de serem viáveis para essas soluções. Há a hipótese de a Cetrel Lumina preparar um galpão de tratamento, possivelmente em São Paulo (onde deve haver maior demanda pelo serviço), para realizar operações de oxidação química ou de biorremediação.

Já a colocação do solo novo no local, Alarsa considera como uma operação de prospecção. “A saída mais provável

é procurar na região obras civis em operação, para requisitar o solo removido nas fundações. Por lei, ele não pode ser vendi-do, apenas cedido, o que torna apenas uma questão de pagar o frete para sua remoção”, explicou. Embora pareça algo não tão garantido de ocorrer, Alarsa ressalta que a Cetrel Lumina realiza duas operações do tipo atualmente, que se utilizam desses artifícios. E ressalta ainda que remediações fora dos sítios contaminados, com troca de solos e portanto mais rápidas no livramento das áreas do impacto ambiental,

bem definido: empreendedores imobiliários de grandes centros urbanos. Trata-se de uma oferta que abrange a remoção com-pleta de solo contaminado e a sua troca por outro limpo, ou seja, livre de poluentes. O tratamento pode parecer elementar demais, mas para o perfil da operação a que se presta, isto é, a ocupação de áreas contaminadas para novos usos, comerciais ou residenciais, as chances de se mostrar eficaz são muito grandes, na opinião do coordenador da Cetrel Lumina.

“O empreendimento imobiliário, na maioria das vezes, não tem tempo para esperar uma remediação in-situ, que pode levar vários anos para ser concluída. Além disso, faz parte das atratividades do produto imobiliário o respeito a um cronograma predeterminado de entrega das chaves”, explica Alarsa. Encontrar uma saída rápida para a remediação, além de facilitar a comercialização dos terrenos e imóveis, também atrairia empreendedores ainda receosos em ocupar áreas indus-triais contaminadas. Nesses casos, o coordenador imagina que as soluções tecnológicas possam envolver operações on-site (com o solo contaminado removido, mas tratado no mesmo terreno, com soluções térmicas portáteis ou em biopilhas,

Região Comercial Industrial Resíduos Postos de Acidentes/ TOTAL combustíveis desconhecida

São Paulo 32 66 22 621 2 743

RMSP - Outros 17 87 12 322 4 442

Interior 49 110 23 591 13 786

Litoral 14 32 12 93 2 153

Vale do Paraíba 2 27 0 118 1 148

TOTAL 114 322 69 1.745 22 2.272

Á r e a s c o n t a m i n a d a s p o r r e g i ã o

Técnicas de remediação implantadas em São Paulo1000

100

10

1

Núm

ero

de á

reas

Bom

beam

ento

e tr

atam

ento

/472

Recu

pera

ção

de fa

se li

vre

/ 395

Extr

ação

mul

tifás

ica

/ 233

Extr

ação

de

vapo

res

/ 196

Rem

oção

de

solo

/res

íduo

/ 18

3

Air s

parg

ing

/ 96

Aten

uaçã

o na

tura

l mon

itora

da /

61

Barr

eira

hid

rául

ica

/ 44

Oxid

ação

/red

ução

quí

mic

a / 1

9

Cobe

rtur

a re

sídu

o/so

lo c

onta

min

ado

/ 17

Bior

rem

edia

ção

/ 16

Outr

os /

14

Bios

parg

ing/

10

Enca

psul

amen

to g

eoté

cnic

o/ 7

Barr

eira

físi

ca /

7

Biov

entin

g / 3

Lava

gem

de

solo

/ 3

Biop

ilha/

2

Barr

eira

s re

ativ

as /2

Fito

rrem

edia

ção/

1

Font

e: C

etes

b

Fonte: Cetesb

2008 - maio - Química e Derivados 57

são comuns por exemplo na Alemanha, onde ele visitou vários projetos de remediação. “Eles têm muita necessidade de ocupação de solo e possuem várias áreas contaminadas, tanto por causa da antiga industrialização como em virtude das guerras mundiais em que se envolveram”, explica. “Não é incomum os alemães resolverem o problema de um sítio poluído, entregando-o para um novo uso, em apenas um ano, removendo o solo totalmente”, completa.

Mesmo ainda não sendo uma oferta oficial, a “bolsa de solo” pretende tirar proveito de um mercado visto com grande expectativa pelas empresas do ramo. Embora a Cetrel Lumina esteja se preparando para atuar apenas como prestadora de serviço nesse nicho denominado brownfields (áreas marrons, assim denominadas por representar as regiões urbanas indus-triais com histórico de contaminação e com várias fábricas abandonadas), outras pensam em participar de forma mais proativa nesses possíveis novos negócios.

A Geoklock, pioneira no Brasil em diagnóstico e reme-diação ambiental, é o melhor exemplo. Recentemente, ela firmou parceria com a empresa Urban Systems, especializada em análise de oportunidades e riscos de empreendimentos urbanos, para ofertar no mercado novas opções de uso para terrenos impactados. Uma área de negócios criada pelas empresas vai analisar, quantificar e planejar as possibilidades de reocupação. Tomando como base o consenso técnico de que o custo de recuperação de áreas contaminadas em regiões centrais das grandes cidades é, em média, 20% do valor do terreno recuperado, o propósito é estruturar investimentos que garantam lucro a empreendimentos imobiliários compatíveis com as demandas. A oferta é sintetizada pela elaboração de relatório indicando as possibilidades de ocupação mais vantajosas, a quantificação dos passivos e os custos e prazos para recuperação da área. Uma operação pioneira ocorreu no moderno condomínio de escritórios Rochaverá, em São Paulo, construído sobre antiga fábrica de pesticidas (Ciba), cujo solo foi removido e o lençol freático tratado pela Geoklock.

Não é só pela entrada nessa nova área de negócios que a Geoklock demonstra sua confiança com o desempenho do mercado. Uma outra oferta recente visa a tirar proveito do amadurecimento dos serviços de remediação, ainda sua espe-cialidade. Conforme explica o diretor de engenharia, Rubens Spina, é um novo sistema para reúso de água extraída de sistemas de remediação de aqüíferos, baseado em lâmpadas de UV e dosagem de peróxido de hidrogênio que também tratam gases extraídos dos sítios contaminados.

Tecnologia da alemã IBL, com quem a Geoklock tem parceria também para outras tecnologias de remediação, o di-ferencial do sistema, ainda de acordo com Spina, é a tecnologia ultravioleta, integrada com o H2O2 dosado antes da passagem do gás ou da água pelas lâmpadas, possibilitar a degradação total dos compostos orgânicos, o que permite o reúso da água descontaminada. “Normalmente, o UV está associado apenas à desinfecção da água”, ressaltou o diretor. Outro ponto van-tajoso, em comparação com os sistemas de carvão ativado empregados em extração multifásica de líquidos e vapores,

é não gerar resíduos, no caso o carvão sa-turado. Há uma linha

completa de lâmpadas para cada tipo de família de conta-minantes e o tratamento de gases e de líquidos é feito por reatores dedicados.

Segundo Spina, já foram instalados desses sistemas em projetos de remediação da Geoklock. São obras com duração mínima de quatro anos, período que justifica o investimento no sistema. Já se a descontaminação for de curto prazo, no seu entendimento ainda vale mais a pena tratar a água e os gases com o “velho” carvão ativado. O diretor também ressalta que, ao término da obra, a tendência é o cliente desviar o sistema para aplicação em outros reúsos na fábrica, o que ocorrerá em pelo menos um caso já vendido. Tudo isso para ajudar a tornar a remediação de solos e águas subterrâneas o mais próxima possível do bom senso, predicado ultimamente um pouco em falta a esse segmento no Brasil. n

Spina: UV apenaspara as obrasmais longas

DIvu

lgaç

ão

Química e Derivados - maio - 200858

r e m e d i a ç ã o d e s o l o s

Um bom parâmetro para compreender a evolução do seg-mento de remediação de solos e águas subterrâneas é prestar atenção no desempenho dos fornecedores de equipamentos e produtos da área. A Clean Environment, de Campinas-SP, serve bem para esse propósito, principalmente por ser uma das primeiras a se estabelecer, em 1995, no Brasil para atender as empresas de consultoria e projetos com sistemas de bom-beamento, extração, skimmers, produtos de monitoramento e controle e sistemas químicos de remediação.

Para começar pelo lado mais positivo, basta saber que a empresa, segundo seu sócio-fundador e diretor-técnico, Paulo Negrão, tem crescido de 30% a 50% ao ano, o que demonstra a quantidade cada vez maior de projetos de remediação em atividade no Brasil. Outro bom aspecto é apontado por Negrão como uma mudança em curso em grandes clientes industriais: “Hoje o nível de exigência é maior do que no começo do mercado, há cerca de 15 anos. É mais comum haver clientes com maior conhecimento técnico.”

Mas, de modo geral, a percepção do diretor da Clean con-firma o que boa parte de seus clientes, ou seja, as empresas de consultoria e remediação, constata com pesar. Há uma superpo-pulação de consultores e “empresinhas”, com intuito oportunista, cujo principal problema foi ter descido a qualidade técnica do segmento, fenô-meno ocorrido sobretudo a partir da publicação 273 do Conama, que disciplina a remediação de postos de combustíveis. “Isso tem provocado muitas frustra-ções no mercado”, afirmou Negrão.

Uma dessas frustra-ções, explica, ocorreu

Fornecedor de equipamentosaproveita boom, mas tambémpercebe piora na qualidade

Negrão acredita que o mercado ainda vai

ser depurado

DIvu

lgaç

ão

2008 - maio - Química e Derivados 59

recentemente no próprio órgão ambiental paulista, a Cetesb. Desconfiado da seriedade de vários projetos de remediação em São Paulo, o órgão fiscalizador resolveu auditar o trabalho de investigação ambiental de forma aleatória. “Eles encontra-ram um verdadeiro circo de horrores. Até laudo técnico feito por açougue foi descoberto”, ressalta Negrão. Mas o melhor foi o resultado da operação: a partir daí a Cetesb passou a exigir certificação do Inmetro e da Secretaria do Meio Ambiente de todos os laboratórios de análises ambientais empregados pelas empresas de remediação e diagnóstico. Outra iniciativa nesse sentido foi passar a exigir das consul-torias a assinatura de um termo de responsabilidade pelas informações prestadas ao órgão ambiental, com implicações legais nas esferas cíveis e penais.

Mas a visão do diretor da Clean é otimista. Com expe-riência internacional, por ter trabalhado durante seis anos nos Estados Unidos em fornecedora de equipamentos para remediação, de onde também prestava serviços para vários locais do mundo, Negrão acredita que o Brasil passará por um processo de depuração do mercado. “É sempre assim: no começo há uma euforia com os novos negócios de remediação, o que provoca em seguida o aparecimento das pequenas empresas oportunistas. Mas isso não dura muito, depois há uma filtragem e só ficam os sérios”, explicou. Para ele, dentro de cinco anos, esse ciclo de depuração deve se concluir no Brasil. “Depois que os problemas ocasionados pelas empresas de fundo de quintal começarem a aparecer, não haverá mais espaço para amadorismo”, completa. Oxalá Negrão esteja certo. n

Linha nacionalizada de bombas para remediação

DIvu

lgaç

ão