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Quintessência

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Contos e poesias produzidas por um dos autores do Café Impresso

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Introdução Aqui na Quintessência você encontrará contos e poesias, a

Quintessência é um zine de contos e poesias de autores do selo Café Impresso, cada edição da Quintessência será de um autor diferente, essa é a primeira edição.

Esperamos que aprecie Café Impresso.

Alguns dos contos e poesias foram feitos sobe um breve devaneio, outros inspirados por uma leitura um tanto depressiva.

Gregor ........................................................................................3

Poesias .......................................................................................11

A Máscara .................................................................................12

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Fogo, Terra, Água, Ar. Esses são os quatro elementos básicos.

A Quintessência é o quinto elemento.

Aquele que é fruto dos quatros elementos juntos.

Aquele o qual os mantém juntos.

Ela é tudo abaixo da lua.

E somente o que há acima dela.

A Quintessência é fogo, água, terra e ar.

Ela é a essência da vida.

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Gregor

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Essa é uma pequena história sobre Gregor, Gregor tinha uma pequena mania, que era a de adiantar seu relógio, pois ele gostava de olhar em seu relógio e ver que estava atrasado, porém sabendo que não estava, porque tinha plena consciência de que horas eram. Ele então o fazia por puro zelo e prazer. Mesmo se o perguntassem quando isso começou ele diria que não sabe, pois faz muito tempo que faz isso, porém de qualquer modo ele diria, “talvez eu tenha começado a fazer isso quando eu percebi em uma transição de horário normal para o horário de verão, eu tinha ganhado uma hora, e por isso eu ganhei gosto por fazê-lo.”

Podia ser considerada estranha a mania de Gregor?! Sim, mas ela não atrapalhava seu estilo de vida, muito pelo contrário ele sempre estava no horário estipulado, seja pelo trabalho ou em algum encontro.

Mesmo sendo diferente isso não impedia Gregor de nada, ele tinha um bom emprego, estável e que ele gostava. Tinha uma linda esposa que o amava e tinha um adorável filho com ela, eles estavam casados há quinze anos e seu filho tinha sete anos, eles moravam os três felizes em sua casinha em um bom bairro, todos tinham sua rotina: Gregor acordava ia para o trabalho para então depois do seu expediente acabar, voltar para sua casa, onde sua mulher e filho os esperavam para jantar, onde na mesa contavam o que tinham feito no dia. Sua também mulher também acordava preparava o café para seu marido, fazia os preparativos para o almoço, tomava o café da manhã junto de seu filho, e então ela começava a fazer o almoço, almoçavam, preparava o filho para ir para a escola e então levava seu filho para a escola para então só mais tarde pegá-lo.

Podia não parecer que Gregor era próximo de sua família, mas na verdade ele era muito, ele sempre brincava com seu filho depois que voltava do trabalho, jantava junto de todos. Gregor era ótimo pai e marido, também, não simplesmente dava um beijo em sua esposa ao ir trabalhar e voltava para casa esperando o jantar para depois ir dormir de cansaço, pois os dois tinham, sim, seu próprio tipo de romance que os mantiam juntos.

Ultimamente a compulsão de Gregor por adiantar o relógio tinha aumentado em vez dos normais cinco ou dez minutos adiantados, ele tinha adiantado trinta em seu relógio. E assim por adiantar o relógio de pulso consequentemente teria de adiantar os outros relógios a sua disposição, assim como o alarme para que o dia seguinte acordar na hora, e o assim fez e no dia seguinte acordou sem problemas, sem atrasos ou qualquer outro problema. Seu dia foi normal como todos os outros até agora. Ele acordou, tomou o café, foi trabalhar, almoçou, trabalhou até acabar seu expediente, chegou em casa jantou com sua família, brincou com seu filho até ele cansar e dormir, o colocou na cama e então, finalmente, foi dormir. Nada tinha mudado no seu dia-a-dia.

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Depois de uma semana ele não se sentiu satisfeito com somente trinta minutos adiantados no seu relógio, por isso a partir daquele dia ele decidiu que retiraria trinta minutos todos os dias, e sem falta ele o fez, todos os dias retirando trinta minutos todos os dias, e todos os dias mudando o seus relógios e alarme. Assim adicionando em sua rotina essa nova mania, e nunca durante esse tempo ele se atrasou, nem uma única vez, e assim se passou os dias, e então se passaram semanas e ainda não tinha se atrasado, e então completou um mês, ou seja, seu relógio estava quinze horas e trinta minutos atrasado e ainda assim estava como sempre, pontual.

Gregor tinha sempre cuidado para não mudar nenhum relógio que não fosse o seu, Gregor sempre checava, pois é claro que não queria atrapalhar ou confundir sua esposa com sua mania.

Gregor era um ótimo empregado, ele adorava seu trabalho, depois de sua família seu emprego era a coisa mais importante para ele. E por causa de sua paixão pelo seu emprego ele já tinha crescido bastante na empresa por seu trabalho duro, e por isso lhe tinha sido oferecido à vaga de gerente de vendas da empresa, e isso podemos considerar como uma das coisas mais importantes que havia acontecido em sua vida, que só perdia para o dia de seu casamento e o dia em que seu filho nasceu. Quando chegou em casa foi uma festa, todos estavam felizes e orgulhosos por Gregor, e por isso Gregor lhes prometeu como comemoração que eles iriam nesse final de semana para o parque comemorar com um piquenique. Todos ficaram muitos felizes, pois dificilmente iam para o parque todos juntos, portanto todos ficaram ansiosos pelo final de semana chegar. Isso tudo aconteceu umasemana antes de completar um mês que Gregor adiantava seu relógio trinta minutos a mais.

Ainda na mesma semana Gregor foi chamado para uma viagem de negócios, justamente para ficar o final de semana fora da cidade vizinha para negócios da empresa, e por isso com muito custo Gregor conseguiu convencer a família de irem ao parque outro dia, porém de qualquer jeito deixou um gosto amargo na boca de todos.

Portanto assim do jeito que as coisas ficaram, Gregor saiu de casa às nove horas da manhã e chegou à cidade vizinha às doze, levando de carro três horas para chegar, naquele dia seu relógio estava marcando nove horas e trinta minutos, ou seja seu relógio estava marcando vinte horas e trinta minutos a mais, faltando pouco menos de quatro horas para completar vinte quatro horas adiantados em seu relógio.

Quando chegou no hotel no qual iria se hospedar ele percebeu que o relógio do hotel estava uma hora atrasado, ele ficou curioso do por quê estar uma hora atrasado, e então ele pensou, e depois de ter pensado muito chegou a conclusão de que o horário de verão teria acabado e por isso posteriormente ele atrasou seu relógio também. Ele ficou aliviado por ter acabado o horário de verão e de não ter acontecido o contrário caso senão ele estaria

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atrasado, na verdade não o estaria muito, porém Gregor é pontual e ele é extremamente orgulhoso, consigo mesmo, em questão de sua pontualidade, e por isso ficou feliz de ter um tempo para descansar da viagem.

Mais tarde Gregor percebeu que foi incomum o fato de ele ter se confundido com a questão de horário, pois Gregor era muito estrito com esse fator, e durante esse devaneio ele se lembrou que na noite passada ele ficou a noite toda tentando convencer a esposa e o filho de aceitarem o inesperado cancelamento do passeio ao parque e por isso não ouviu nada do tipo na televisão, de qualquer modo ele pensou, “Hum, como isso não me atrapalhou em nada acho que não devo ficar bravo com eles, pelo contrário na volta vou agradecê-los pois acabei por chegar uma hora antes e isso me possibilitou descansar mais!”.

Finalmente chegada a reunião que estava marcada para uma hora, lá estava Gregor esperando por todos, durante a reunião tudo ocorreu bem, ambos os lados estavam se entendendo e chegando a um acordo, até que o celular de Gregor começou a tocar, ele toca uma, duas vezes e para, pois desesperado Gregor o desliga, ele dá uma olhada para ver quem ligou, era sua mulher, ele fica preocupado por um instante, mas ele põem o celular de volta no bolso da calça e para não passar mais pela vergonha de ter o celular tocando ele o desliga e assim o fica a reunião inteira que acabou duas horas depois.

Após a reunião finalmente ter acabado Gregor foi ligar seu celular para ligar para sua mulher e receber a bronca que ele achava que provavelmente receberia. Quando ligou o celular, ele começou por ver as mensagens, a primeira já se tratava de um assunto importante, se tratava do acidente do filho de Gregor.

“Gregor pelo amor de Deus me ligue nosso filho sofreu um acidente me ligue”

“Ele já esta na sala de operações os médicos dizem que é sério por favor venha rápido eu não vou conseguir suportar isso sozinha”

“Gregor onde você está? Me ligue”

Muitas mensagens como essas foram mandadas para Gregor ele estava em estado de choque, mas então chegou a mensagem que lhe acalmou o coração, que dizia.

“Gregor nosso filho está bem, a cirurgia ocorreu bem e nosso filho está bem, por favor, me ligue”.

Quando Gregor viu essa mensagem ele se aliviou, toda preocupação que estava tendo saiu de uma vez de seu corpo quando viu aquela mensagem e imediatamente ele ligou para sua esposa, que quando atendeu estava chorando, não de tristeza, mas sim de felicidade por seu marido finalmente ter ligado para compartilhar com

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ela esse alivio e alegria pelo bem estar do filho deles. Após ambos se acalmarem Gregor falou que iria terminar de resolver as coisas por ali e iria imediatamente para o hospital, sua esposa como não queria discutir aceitou, porém deixou de dizer para que ele viesse rápido. E assim Gregor o fez, não levou nem trinta minutos para já estar pegando a estrada para ir ao encontro de seu filho.

Quando Gregor chegou no hospital saiu correndo do carro para então encontrar seu filho, todo apressado entrou no hospital e perguntou em que quarto seu filho estava, pegou o elevador e botou um belo sorriso no rosto para quando entrar no quarto de seu filho lhe receber com um grande sorriso, mas não foi com um sorriso que ele entrou no quarto, pois quando ele entrou no quarto seu sorriso desapareceu e foi substituído por uma cara triste pois foi o corpo de seu filho que Gregor viu em cima da cama com um pano sobre ele.

Sim seu filho estava morto e Gregor não podia acreditar, ele se recusava a acreditar que seu filho estava morto, sua mulher então entrou no quarto, naquele silencioso quarto, Gregor olhou para ela, ela já estava com os olhos vermelhos de tanto chorar, ele falava para ela que não podia acreditar que ele havia morrido, pois ela mesma tinha dito que ele estava bem e que tudo tinha ocorrido bem. Sua mulher tentava explicar para ele que ele realmente estava morto, mas ainda assim ele não aceitava e então as lágrimas começaram a brotar do rosto de Gregor e elas não

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paravam e finalmente ambos começaram a chorar juntos, abraçados, era uma cena triste de um tentando se apoiar no outro, quando ambos não podiam nem mesmo se aguentar.

Após muita tristeza passada Gregor perguntou o que tinha acontecido a sua esposa e de o por quê ele não conseguiu ver pelo menos uma ultima vez seu filho vivo, a esposa de Gregor começou a explicar que tudo havia começado logo depois de que Gregor saiu de casa, porque foi logo depois que seu filho acordou, ele ainda não estava totalmente convencido à aceitar a ideia de ir ao parque outro dia, por isso sua esposa com dó dele falou que iriam almoçar fora naquele dia e que depois do almoço eles iriam tomar sorvete e passear no parque, isso por hora o havia convencido, e esse foi então o roteiro decidido para aquele dia. Eles tomaram o café da manhã, se preparam para irem ao parque a tarde pegaram tudo o que precisariam para passarem o tempo, uma bola, boné essas coisas, almoçaram num lugar perto do parque e dali foram direto para o parque e foi aí que aconteceu o acidente.

Quando estavam indo para o parque a bola de seu filho escapou de sua mão e foi direto para a rua, um carro estava passando, porém não o acertou em cheio foi somente o retrovisor do carro que o atingiu, mas foi tão fatal

quanto, pois o retrovisor acertou-o exatamente na cabeça, isso aconteceu às duas e trinta e nove da tarde, justamente quando Gregor estava na reunião, foi nessa hora que Gregor percebeu uma coisa, que o acidente não

poderia ter acontecido duas e trinta, porque seu celular já estava desligado a essa hora.

Ele explicou que a primeira ligação que ele recebeu foi trinta minutos depois de sua reunião ter começado, ou seja, à uma e meia da tarde, mas quando ele foi ver o histórico de chamadas em seu celular o horário batia. E foi aí que ele percebeu que as horas do celular estavam diferentes da do seu relógio de pulso, estava uma hora adiantada em comparação ao de pulso, ele perguntou a esposa se o horário de verão realmente tinha acabado e para a surpresa de Gregor ela respondeu que não.

Quando ele ouviu o que sua mulher disse então tudo começou a fazer sentido para ele, porque ele se atrasou para ver o seu filho antes dele morrer, porque ele também se lembrou de que a empresa havia mencionado que a cidade vizinha ficava do lado de um fuso-horário que diminuía uma hora e por isso o relógio do hotel estava uma hora atrasado em comparação ao seu, mas ele não havia se lembrado disso e por isso ele mudou o horário. Assim consequentemente não percebendo que as mensagens que sua esposa enviou foram enviadas uma hora antes de ele as ler, por isso ele pensou, “Se eu não tivesse atrasado meu relógio, eu poderia ter ido antes, ou se eu tivesse atendido o celular na primeira vez em que ele tocou eu poderia ter visto, visto meu filho mais uma vez antes dele morrer”.

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Porém Gregor estava plenamente consciente de que era agora muito tarde para remorso, pois não tinha como mudar as coisas.

Agora passada uma semana desde o funeral do filho de Gregor, sua esposa, mãe de seu falecido filho pedia divórcio, pois não conseguia mais aguentar Gregor. Gregor não entendia o por quê dela estar pedindo o divórcio, pois na cabeça de Gregor eles sempre tiveram uma ótima relação, que quase nunca brigavam, e se discutiam não era nada muito sério, nada para desenvolver o sentimento de separação que sua mulher agora sentia. Por ser contra a separação Gregor recusou a assinar os papéis e pediu para ela pensar melhor, mas ela não mudou de ideia e por isso ela falou que iria passar alguns dias na casa de seus pais, para ele pensar. E assim ela partiu, deixando Gregor sozinho naquela casa, somente com a saudade de seu filho e esposa.

Os dias então começaram a se transformar em semanas, e Gregor continuava sozinho. Por ficar sozinho e por ter sofrido uma perda tão recentemente Gregor começou a ficar desatento com as coisas, o Gregor que nunca tinha se atrasado, nos últimos dias tinha se atrasado quase todos os dias, nas reuniões não conseguia se concentrar , pois ficava a imagem de sua esposa saindo de casa e o deixando, além da recente memória de seu filho perturbar seus sonhos, de jeitos terrivelmente perturbadores, como, ”Papai por que não podemos ir ao parque amanhã ?”, sempre o causando remorso por não ter ido ao parque com ele. E por isso ele recebeu alguns dias de descanso do trabalho para descansar melhor, ou como seu chefe disse “Esfriar a cabeça”, mas o problema de Gregor não era esse, ele tinha que superar isso e seguir em frente, mas ele não conseguia. Ele não queria.

Consequentemente quando ele voltou para o trabalho ele estava do mesmo jeito de que quando foi tirar a folga e por ocorrência disso seu chefe não teve outra escolha senão despedi-lo. Quando o aconteceu Gregor não ficou chocado, não sentiu nada, somente pegou suas coisas e foi para casa.

Como tinha muito tempo livre, pois não tinha emprego para se preocupar, mulher e filho para sustentar, ele agora realmente tinha muito tempo para pensar. E ele então começou a refletir onde ele tinha errado para as coisas acabarem daquele jeito, teria sido culpa de seu hábito de adiantar o relógio, seria por sua devoção ao trabalho que talvez tenha ficado maior do que o amor por sua família?!

Ele não conseguia responder a essa pergunta, então começou a pensar em outra coisa uma mais importante do que a anterior e essa seria a seguinte, “Será que eu fui um bom pai e marido?”, “Será?”. Ele então começou a pensar e a pensar nessa pergunta, será que ele foi? Nesse momento Gregor já estava em cima de uma cadeira com uma corda amarrada em volta de seu pescoço.

“Eu acho que sim”, falou Gregor sorrindo.

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Gregor falou isso, pois acreditava que tinha sido um bom pai e marido, mas ele acreditava tão intensamente que não importava o que ele fazia ele acreditava. E isso foi sua ruína. Por causa disso ele não via a perspectiva de outro jeito, em sua cabeça sempre seria seu ponto de vista. Gregor nunca tinha sido bom pai ou marido, estava sempre preocupado com o trabalho ou com outras coisas até triviais. Gregor morreu em casa sozinho, com um sorriso bobo em seu rosto, morreu acreditando que foi um bom pai e um bom marido e nem mesmo diante da morte ele conseguiu abrir seus olhos para a verdade, morreu como um tolo, Gregor.

FIM.

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Os Costumes Não tenho aula,

Acordo cedo.No café,O vício

Ou o gosto?

Na música,A alegria.

No cigarro,O prazer?

São esses os costumes que me fazem?

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Estrelas A realidade nos olhos de a quem vê

Pode ser tão grandeQuanto o abismo que separa uma lixeira do chão

Logo

Há mais bitucas no chão

Do que estrelas no céu

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Page 14: Quintessência

Eu Eu sou católico,Eu sou judeu,

Eu sou ateu,Eu sou de direita,

Eu sou de esquerda,

Eu sou neutro,Eu sou heterossexual,Eu sou homossexual,

Eu sou bissexual,Eu sou humano.

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A Máscara

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Page 16: Quintessência

Uma história ei de contar

Sobre um rapaz e sua máscara que irá usar

Um jovem sem nada

Que vive à esmo e

Não faz nada;

Pobre rapaz que não tem nome,

Não tem um rosto,

Não possui nada,

Ele caminha sozinho pela estrada;

Mas não lamente, não chore nem nada,

Pois nosso pobre desafortunado

A da sorte a pouco encontrar;

Andava pela estrada quando ele a encontrou. Não tinha ninguém, não tinha nada,

somente ele, a Sorte e a estrada.

E então a Sorte lhe perguntou:

- Meu pobre moço sem nada, por que anda sozinho nessa mórbida estrada?

-Não lhe darei nada, S O R T E! Pois você nada me deu – respondeu curto e grosso

à Sorte – Além do mais não preciso lhe responder nada, pois na sua pergunta está

sua resposta.

PÁ PUM PUFF PAFF

Fumaças e raios

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-Oh! Meu pobre rapaz sem nada, perdoe meu ingênuo amigo, o meu oposto,

gênesis e companheiro.

-Ah não me venha com bajulações Azar, pois por você eu tenho uma repulsa ainda

maior que tenho por Sorte.

-Oh mas espere! Você ficou brabo pobre homem? Pois sua voz diz uma coisa mas

seu rosto diz nada.

-Não implique com o

pobre infortunado Azar

o coitado já não tem

nada, não precisa lhe

tirar a paciência, pois

além de seus

sentimentos ele não

tem nada - disse a

Sorte.

Azar e Sorte

esperaram alguma

resposta,

Mas do moço sem

nome apenas o

silêncio, pois ele

espera que a Sorte e o

Azar simplesmente

desapareçam.

O moço sem rosto,

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odeia Sorte por faltar com ele desde de o dia que nasceu.

Mas odeia ainda mais Azar por ter sido afetuoso demais com ele, e não foi apenas

uma vez, mas duas, e três, e outras incontáveis vezes.

Pois o moço sem nome não tem rosto por causa de Azar, e por causa disso nunca

lhe deram um nome.

Ele tentou e tentou, mas foi apenas em vão, pois pessoa atrás de pessoa o evitava.

Elas não falavam,

Elas não o olhavam,

Elas apenas o

ignoravam.

Logo ninguém o

chamava e um nome

nunca ganhará.

-Muito bem sem nome

e sem rosto, minha

paciência é um poço,

Seco como seu rosto.

E agora eu lhes deixo

com essa rima podre,

Sobre um homem sem

rosto.

PAFF PUFF PUM PÁÁÁ

-Ótimo um a menos,

agora só falta o outro

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pe... – Sorte o interrompe.

-Agora que Azar se foi lhe falo sincero. Sei porque és sozinho não sou débil, sou

leve e sutil, mas foi um erro meu que ele recaiu em você desse jeito.

-Então me conte o que aconteceu- sem pestanejar respondeu o moço sem rosto

-A sorte e o azar, o bem e o mal, a luz e o escuro.

Um depende do outro, é assim que é.

Se acontecer um grande bem em algum lugar tem outro que acontece um terrível

mal,

Onde tem uma grande luz tem uma sombra igualmente grande,

E quando alguém pode ter uma sorte grande outro pode ter um enorme azar.

O equilíbrio, é o que mantém o mundo funcionando.

- E por que seria a culpa sua? Minha afortunada Sorte.

-Porque eu caí nos joguinhos mentais de Azar, pois se eu faço a sorte de uma

pessoa maior, Azar ganha poder para fazer o mesmo com seu azar e o mesmo

acontece vise e versa, por isso geralmente não interferimos nos assuntos humanos

mas eu ainda me deixe levar. Logo nossos poderes foram ficando maiores até que

Azar usou todo o azar acumulado em uma pessoa, e ela foi você.

- E por que não usou sua sorte para reverter o que havia me acontecido?

- Porque a sorte é algo tão perigoso quanto o azar, pois a inveja cresce ao lado da

sorte e assim, nada senão o caos aconteceria se toda a sorte do mundo recaísse

sobre uma única pessoa.

-Entendo... acho que isso me faz odiá-lo um pouco menos ...apenas acho. Mas

afinal não viestes aqui somente para me explicar isso me diga o porquê da sua

presença.

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-Eu venho lhe dar um pouco de sorte nessa sua vida um tanto amarga, não é nada

que possa reverter seu azar, mas é algo que pode lhe trazer algo como a felicidade,

creio eu.

Aqui está uma máscara.

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-Uma máscara?! UMA M Á S C A R A?! Para o que?! Esconder meu rosto e não

deixar ninguém me ver.

- Não muito pelo contrário essa máscara que irá fazer com que as outras pessoas

o vejam, pois essa máscara mudará de acordo com o seu humor, se triste você

está, assim estará a máscara, se feliz você está assim estará a máscara. Ela lhe

dará um rosto um que as pessoas verão. Você com ela nunca mais estará sozinho,

a não ser que se permita tal solidão.

Um momento de silêncio. E cabisbaixo o homem sem rosto fala:

-Obrigado. Eu realmente agradeço, do fundo do meu coração- fala agradecido o

pobre homem sem rosto.

- Não precisa agradecer, pois eu queria o ter feito antes, e agora o meu dever, está

feito. Agora vá e descubra essa sua nova vida que lhe espera, a reconquiste e a

aproveite cada minuto.

O homem sem nome começa a correr e não perde um minuto, não para, ele corre e

corre, e corre dizendo:

- Obrigado Sorte, obrigado Sorte.

Ele corre, corre sem parar,

Até encontrar uma cidade na encosta daquela estrada. Mas antes dele mesmo falar

com alguém ele decide confirmar se o que Sorte disse era verdade. O moço sem

nome avista um lago, um lindo e pacífico lago, perfeito para se ver o reflexo e é

para lá onde ele vai. Ele se ajoelha em frente ao lago e ele olha para si mesmo sem

a máscara, ele olha profundamente como se fosse a última vez que ele fosse ver

aquele rosto plano e vazio.

Ele coloca a máscara e se vê.

Ele vê a máscara e ela mostra uma expressão de dúvida.

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Mas logo essa dúvida se transforma em um lindo sorriso, um sorriso de felicidade.

O mais puro dos sorrisos que alguém já vira. Esse sorriso se assemelhava à de um

bebê que sorri pela primeira vez.

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-Hugh, hargh, uhh- murmura o rapaz, que faz com que sua máscara mude com a

aparência de um O na máscara seguida feições como a de alguém que quer

assustar a outra.

Ele ri e a máscara ri junto dele,

“agora sim” ele pensou, “as

pessoas não vão mais me

ignorar”.

-Hihihi, AAAAAAhh, Blééééé.

- Moço o que ocê tá fazendo? –

falou uma garotinha que

aparecera por atrás dele.

Uma máscara assustada foi a

resposta momentânea que ele a

deu. Que assustou igualmente a

pobre menina.

AHHHHHHHHHH- gritou a

menina.

AAAAAAAAHHHH- gritou o homem, que logo olhou para o lago e começou a rir-

HAHAHAHAHA

-Por que está rindo?

-Porque eu agora eu posso hahahaha.

-Não podia?! Como alguém não pode sorrir? – perguntou curiosa a pequena garota.

Um pouco hesitante ele respondeu:

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-Ora simples apenas não tendo um rosto- tirando a máscara ele fez com que ela

entendesse.

-Wuaahh!!! – gritou a garota.

-Hahaha -devolveu o moço sem nome- Por favor, não tenha medo pois agora você

olhar para esse alegre rosto- e então a máscara mudou para um tipo de sorriso

bonito, do tipo que deixa as pessoas a vontade.

- E qual é o seu nome moço? -perguntou mais aproximada e acalmada a inocente

garota.

- Eu não tenho um nome - falou tristemente o pobre homem.

- Ah não chore por farvor, eu lhe dou um nome.

- Eu não estou chorand... – e então olhou para o lago, e percebeu que não podia

mais esconder os seus sentimentos a máscara mostrava o verdadeiro sentimento

que se passava dentro de homem e agora o que sentia, era tristeza - ... eu

agradeceria se me desse um nome – e então de um segundo para o outro a

máscara mudou daquela triste feição para um alegre sorriso.

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- Eba! - e do rosto da garota saiu um sorriso que se acompanhava o do homem –

hum.... o que ocê acha de Sorridente?

-Hum é um nome, mas o que aconteceria se eu parasse de sorrir?

- Humm... que tar então algo mais dinâmico e batuta, como Impacto!!!

- Que tal um nome mais normal e comum como, como, Bruno.

- Não, não, não, não, não. Ocê não tem cara de Bruno, hum ...

-Que tar Iracê – falou a voz que não era nem da menininha e nem do rapaz sem

rosto, mas sim de um homem idoso com um chapéu de palha e com um trigo na

boca – Significa superfície da água, acho que combina com ocê moço.

- Vô – gritou a menina.

- O que eu disse sobre falar com estranhos Berenice.

- Descurpa Vô, mas o moço não tinha nome então eu só queria ajudar.

- Agora tenho Berenice e agradeço demais aos dois gostei bastante de Iracê. E qual

seria o nome dos dois?

-É Berenice e o do meu avô é Josivaldo – respondeu rapidamente Berenice

- Agradeço Berenice e seu Josivaldo, agora já tenho um rosto e um nome será que

teriam algumas roupas para me dar? Acho que não poderei andar mais sem elas.

- Claro que dô, enquanto o sinhô me conta sua história, sinhô Iracê.

Já vestido e na mesa de jantar do senhor Josivaldo Iracê conta sua história para a

família toda.

- Bom senhoras e senhores minha história não é nada, literalmente pois desde de

o dia em que nasci, eu não havia nada, nunca tive um rosto e um nome até o dia de

hoje, quando o senhor Josivaldo e a jovem Berenice me deram esse lindo nome

Iracê.

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-Mas por que ocê andava pelado moço? – perguntou um dos netos de seu

Josivaldo.

-Bom tive na verdade essa ideia a pouco tempo quando tentava chamar atenção de

algumas pessoas, tentei gritar para elas, cutucar elas, e sussurrar bem ao lado do

ouvido delas mas ninguém me deu atenção. Por isso pensei “bom quero ver me

ignorarem se eu andar pelado” - falou agora um pouco envergonhado – mas

comecei a me acostumar e nem me lembrava mais que andava sem elas.

- Moço como ocê comia se ninguém te dava atenção, como ocê pegava sua

comida? – perguntou Berenice.

- Na verdade era bem fácil, tem muitas pessoas que deixam grandes sobras nos

pratos, então...

- Ocê comia as SOBRAS ?!- gritou Berenice

- É- respondeu sem como esconder a vergonha.

- Mas o sinhô fala bem, por acaso nasceu na cidade? E se nasceu o que faz aqui?

Se não se importar em dizer é craro- perguntou o filho mais velho da família ali

reunida.

- Sim eu sou, mas não morei muito por lá, pois sempre andei na estrada e

somente ela é o meu lar,

Vi muitas coisas, mas o contrário nunca aconteceu, eu aparecia e desaparecia de

uma cidade para a outra, passava no meio de multidões,

Ficava parado lá por segundos, minutos e horas, mas mesmo assim ninguém nunca

me reparou, aposto que também não teriam reparado hoje se não fosse a Sorte e

essa máscara mágica que ela me dera.

E agradeço de coração a todos vocês pois são as primeiras pessoas com quem

converso e que não foi em vão.

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- Ara não elogia nóis demais senão isso sobe na cabeça de todos esses cabeças-

ocas- fala a dona da casa- e fique à vontade para ficar, porque um par de braços a

mais sempre é bem-vindo.

- Agradeço, mas creio que devo continuar nesse meu caminho...

-Por favor, não vai não moço- interrompeu Berenice – ocê não precisa ir, o sinhôr

já foi pra tudo que é lugar.

-Não se preocupe eu voltarei e além do mais os lugares por onde passarei não

serão os mesmos, pois agora eu os verei com outros olhos,

Os outros me verão com outros olhos e tudo graças a vocês que me deram um

nome.

O meu nome.

E assim foi como eu comecei minha nova vida sorrindo,

Nunca mais cheguei a ver a Sorte ou o Azar, pois os dois já haviam aparecido

demais para mim.

Cheguei a visitar Berenice muitas outras vezes, e sempre cheguei,

Sorrindo.

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Fim

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Sobre o autor:

Caso você esteja curioso, Ricardo é um aspirante a escritor, quadrinista e animador. Apesar de adorar ler e escrever, é um péssimo aluno de gramática sempre tentando ficar na média.

É editor-chefe do seu desconhecido selo editorial de quadrinhos e afim, Café Impresso.

Para você que leu a história Gregor, e conhece o autor Kafka, sim o nome do personagem é uma homenagem ao autor.

Contato:

fb.com/cimpresso

[email protected]

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