Quem é o brasileiro

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  • 8/18/2019 Quem é o brasileiro

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    Sín tese N 9 42 (19 88) - Pag. 61 -7 8

    QU E M É O B R A S I L E I R O?

    E M B US CA D A I D E N T I D A D E N A C I O N A L *

    An tôn io R ibe i ro de A lme ida

    1.

      Perspectivas

    Colocar as questões da busca da ident idade de um povo, do cará ter

    n a c i o n a l ,  das carac ter ís t icas nac iona is , da persona l idade bás ica e da

    persona l idade m oda l é en t ra r nu m a á rea de es tudos l im í t r o fe s en t re a

    F i l o s o f i a ,  a Ps ico log ia , a Soc io log ia e An t ropo log ia onde esses conce i

    tos su rg i ram e in te ragem numa in te rdependênc ia rea l mas pouco es

    c la rec ida .

      ( V e r , p o r e x e m p l o , M o n t e s q u i e u ( 1 9 8 5 ) , O r t e g a y G a ss et

    ( 1 9 6 7 ) ,  T o y n b e e ( 1 9 7 4 ) , F r o m m ( 1 9 4 1 ) , K l i n e b e r g ( 1 9 6 3 ) , K a r d i n e r

    ( 1 9 4 8 ) ,

      K a r d i n e r, L i n t o n , D u B o i s e W e s t ( 1 9 4 5 ) , L é v i - S t ra u s s ( 1 9 8 1 ) ,

    Er ic lcson (196 8) e M on te ro (1 96 8) .

    Es ta busca pode ser desdobrada num sem número de questões . Mas

    e is a lgumas que co lo qu e i pa ra um a ten ta t i va de respos ta ; Q ue m é o

    Bras i le i ro? A questão da ident idade do bras i le i ro passa pe la questão

    d a f o r m a ç ã o d a s ua c o n s c iê n c ia ? E x i s t e m , n a i n t e i l i g e n t s i a r e si st ên

    c ias ao es tudo da ident idade nac iona l?

    A ques tão Q u e m é o B ras i le i ro ? é um a ques tão rad ica l e sua o r ige m

    é f i l o s ó f i c a . N a P s ic o lo g ia e la t e r i a , n o m á x i m o , a a c o l h i d a n u m a  Psi

    co log ia da Compreensão , como a de Spranger (1976) que admi t ia a

    ex is tênc ia de t i pos idea is . Es ta l im i tação não imped iu , en t re tan to ,

    q u e A d o r n o c o l o c a s s e u m a q u e s t ã o s e m e l h a n t e , e m 1 9 6 5 , n u m a r t i g o

    p u b l i c a d o n a r e vi st a L i b e r a l e q u e r ec e b eu o t í t u l o de Q u e és

    a le m án ? . Com o p roce dem os fen om en ó lo go s é p rec iso acerca r-se da

    p e r g u n t a e e x a m i n á - la m a i s d e p e r t o . A s s i m , a p a la v r a b r a s i l e i r o

    tem um a h is tó r ia m u i t o b reve em nossa l í ng ua . O ad je t i vo b ra s i le i

    ro fo i d i c iona r i zado po r Mora is , segundo Cunha . (Ve r

      D ic ionáio

    * Conferência na XVII Reunião Anual da Socied ade de Psicologia de Ribeirão Preto SP)

    em Outubro de 1987.

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    Et imo lóg ico  da   Lígua Po r tu gue sa ,   1 9 8 2 ) , s o m e n t e  em  t o r n o  de

    1 8 3 3 .

      É  p o s s í v e l , c o n t u d o ,  que ele  tenha s ido usado  bem  an tes  no

    m e i o  do  p o v o  com o u t r o s a d j e t i v o s c o n c o r r e n t e s a n t e s de se f i x a r de

    f i n i t i v a m e n t e c o m o n o r m a c u l t a . C u r i o s o  é  reg is t ra r  o  s i g n i f i c a d o  de

    a lgumas pa lavras der ivadas  de  b r a s i l e i r o . M o r a is ( 1 9 5 0 ) in d i c a  os

    segu i n tes :

      1.

      Bras i le i resco

      -

      g r a n d i o s o , p r i n c ip e s c o . C a m i l o ,

      nos

      seus

    Éeos Hu m orít icos ,

      esc r eve :  .. . era um  r o m â n t i c o c h e io  de  ju l ie tas e

    pr o j e tos b r as i l e i r escos . '  Já o  s u b s t a n t i v o b r a s i l e i r i c e q u e r d i z e r

    e s t a d o  do que é  l a n g u i d o , d e n g u i c e . A  ps ico logia destas palavras

    p o d e r e f l e t i r t o d a  uma v isão  do  n o s s o c a r á t e r t r a n s m i t i d a , em  P o r t u

    ga l ,

      p e lo s b r a s i l e i r o s , i s to é, po r tugueses  que v o l t a v a m r ic o s à te r r a .

    O u t r a p o s s í v e l f o n t e p o d e ser a de v i a j an tes i l us t r es , c o m o Jean Bap-

    t i s te Debr e t . ( Ve j a  sua

     V i agem P i to r esca   e  H is tór ica   ao Brasil,

      espe

    c i a l m e n t e  as  p a g s . 1 6 2 - 1 6 3 )  ou  a in d a T h o m a s E w b a n k  na sua

      V i da

    no   Brasil.   Es tes i lus t r es v i a j an tes con s i de r a m b r a s i l e i r o apenas  o

    h o m e m b r a n c o ,  e  o u t r a  é a descr ição  que f a z e m  do  ca r á te r  do  m u l a

    t o ,  do  n e g r o  e do  i n d í g e n a , a l i á s , m u i t o n e g a t i v a ,  É, sem  d ú v i d a , a

    per cepção de uma e l i t e .

    A p e r g u n t a q u e m   é .. . se vo l ta pa r a  o  b ras i le i ro idea l , para a sua

    ' i d é i a ,  e não  para  um  b r as i l e i r o pa r t i cu l a r .  Ela nos  i n c o r p o r a e nos

    u l t rapassa  num  m o v i m e n t o  que  l e m b r a  o  d i a l é t i c o .  É uma  p e r g u n t a

    h i s t ó r i c a ,

      que por sua

      na tu r eza soc i a l ,

      tem uma

      d i n â m i c a p r ó p r i a

    m u i t o d i v e r s a  da  p e r g u n t a  por  o u t r o s c o n c e i t o s  que, uma vez r e s p o n

    d i d o s ,

      fazem cessa r toda cu r i os i dade .  — Se a l g u é m , por e x e m p l o , p er

    g u n t a q u e m  é o  e s c r i t o r ? e o b t é m  a resposta  Eça de Q u e i r ó s não

    p e r g u n t a r á m a i s . C o n c e i t o s  de  n a t u r e z a s o cia l c o m o b r a s i l e i r o ,  ju

    d e u ,

      t u r c o , i ta l i a n o , j a p o n ê s , r u ss o , a m e r i c a n o s u p o r t a m s e m p r e

    novas perguntas  e um  m e s m o  Ss  p o d e  dar  respostas d i fe ren tes  de

    a c o r d o  com  d i fe ren tes fases  de sua v i d a .  A  i d é i a que  t e n h o , h o j e ,

    d e - j u d e u

    não é a

      m e s m a

     que

     p o s s u í a

      nos

     m e u s a n o s in f a n t i s . A d o r

    no a le r ta para  o  per igo  que  es ta pe r gu n ta po de h i pos tas i a r  uma es

    s ê n c i a c o l e t i v a

    e

      c o n d u z i r

      a uma

      c o n s c i ê n c i a c o i s i f i c a d o r a .

      Se

      is to

    a c o n t e c e r t e m o s  os e s t e r e ó t i p o s  e os  p r é - c o n c e i t o s .  Daí a  c r í t i c a  de

    que pesqu isas re fe ren tes  a  nac iona l idades, raças , sexos, re l ig iões , são

    pesqu isas sobre es tereó t ipos , e, p o r t a n t o , com  p o u c a  ou  quase nenhu

    m a v a l i d a d e . P a r t i c u l a r m e n t e a c r e d i t o  que  pesqu isas como es ta  c o n

    t é m s e m p r e  um  k e r n e l  of  t r u t h e  m e r e c e m  ser  real izadas, desde

    que am par adas  num  m é t o d o c o n f i á v e l .

    A s s i m p e n s a v a A d o r n o  que  e x a m i n a n d o  a h i s t ó r i a da sua  consc iênc ia

    pa r t i u pa r a  uma  a r r o j ada i nves t i gação sob r e  Que és a l e m á n ? . A sua

    e x p e r i ê n c i a  de  v i ve r  nos  E s t a d o s U n i d o s a g u d i z o u ,  num  ce r to sen t i -

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    d o ,  a p r o b l e m á t i c a d a i d e n t i d a d e n a c i o n a l ,  É  e s t e u m f a t o m u i t o c u

    r i o s o .

      E u t a m b é m e x p e r i m e n t e i i s to q u a n d o v i v i n o e x t e r i o r e n u n c a

    fu i m a is b ras i le i ro do q ue naqu e la ép oca . O a r t i go de A d o rn o fo i es

    c r i to l ogo após seu re t o r no à A lem an ha . E le não escapa d o que

      m u i

    tos podem d izer de es tereo t ipar seu pa ís . Ao descrever o p razer de

    reen con t ra r sua l í ng ua ge rm ân ica , que segundo e le . . . possui um a

    no tó r ia a f in id ade e le t i va c om a f i l os o f ia . . . e que se to rn a ap ta pa ra

    expressar a respe i to dos fenômenos a lgo que não se esgota na sua po-

    s i t iv i d a d e o u c a r á te r de d a d o . É a i n d a m u i t o s i g n i f i c a t iv a a d e s c ri çã o

    q u e A d o r n o f az d a s e ri ed a de a l e m ã , s u s c it a da p e l o p a t h o s d o A b s o

    l u t o e q u e e x p l i c a o a p a r e c i m e n t o d e u m A d o l f H i t i e r . J á o p a t h o s

    i t a l i a n o t o m a a f o r m a , n o F a s c i s m o , d e u m a o p e r e t a b u f a . A d o r n o

    não fecha a ques tão Q u e és a le m án ? e ence r ra seu a r t i go de um a

    fo rm a que con s ide ro ro m ân t i ca ao escreve r . . . ap re nde m os o sen t ido

    q u e ,

      t o d a v i a , p o d e a f i r m a r e ste c o n c e i t o a l e m ã o : o p ass o p a ra a h u

    m an ida de . Se A d o rn o fez a pe rg un ta e o fe rece um a sé rie de respos

    tas porque não se pode também fazê- la para o b ras i le i ro? Para mim é

    dese jável e poss íve l a fo rm u la çã o da pe rgun ta Q u e m é o B ras i le i ro ?

    t a n t o a o n í v e l d a c o n s c i ê n c ia f e n o m e n o l o g i c a c o m o a o n í v e l d e u m a

    c o n s u l t a a o u t r o s S s , p e s q u i s a e x p e r i m e n t a l , q u e p e r m i t a a f u n d a

    me n tação de um a o b je t i v id ad e . Ressa lto apenas que a cada ge ração

    cabe fo rmu la r a pe rgun ta e encon t ra r pa ra e la uma respos ta . Não há

    meios de se escapar a es te t raba lho de Sís i fo .

    A segunda que stão qu e co loq ue i passa pe la ide nt id ad e e sua fo rm aç ão

    na consc iênc ia . Não me cabe , nos l im i te s des te a r t i g o , ex p lo ra r a

    ques tão da consc iênc ia . Bas te , ta l vez , apon ta r o p rob lema da cons

    c iênc ia como um dos ma is comp lexos e ex tensos da F i loso f ia e da

    P s i c o l o g i a . D e s t a c o a l g u n s m o m e n t o s d e s t e p r o b l e m a . H á , p r i m e i r o ,

    t o d a u m a ve rs ão m e t a f í s i c a c o m S t . A g o s t i n h o q u e m u i t o a n te s d e

    Desca r tes ap resen ta o Cog i to . (V ide

      D e

      Trinitate,   X , 1 0 - 1 4 ) c o m o

    f u n d a m e n t o d a e x i s t ê n c i a . P o s t e r i o r m e n t e , e m D e s ca r te s , n o

     Discur

    so sob re o Méodo

      c o n s c i ê n c i a f u n d a m e n t a r i a t a m b é m a e x i s t ê n c i a

    n o f a m o s o p r i n c í p i o

      Co g i to e rgo sum .

    Na Ps ico log ia o conce i to ganhar ia nova fo rmu lação com F . Bren tano ,

    que segundo Penna (1978) , de f ine a consc iênc ia pe la in tenc iona l ida -

    de ,  is to é , pe la re fe rênc ia ou re lação a u m o b je to , seja e le m en ta l ,

    i m a n e n t e o u i n t e n c i o n a l . C o m o P r a g m a t i s m o d e W i l l i a m J a m e s e o

    Behav io r i smo de Watson e Sk inne r há uma negação da ex is tênc ia da

    c o n s c i ê n c i a , e m b o r a , a t u a l m e n t e , o p r ó p r i o B e h a v i o r i s m o t e n h a r e v i s

    to sua pos ição rad ica l e ace i te a ex is tênc ia da mesma.

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    A Ps icaná lise dá ex t r e m a i m po r tâ nc i a ao es tu do da cons c i ênc i a . F r eud

    ao longo de sua obra , desde o  P r o j e to de um a Ps i co log i a ,   de 18 95 , a té

    O Eg o e o Idúe   19 23 d i scu te a fu nç ão da con sc i ênc i a , seja na fo r m a

    ção do cará ter , nas neuroses e na técn ica te rapêut ica . A consc iênc ia

    t e m ,  e m F r e u d , u m p a p e l e x t r e m a m e n t e i m p o r t a n t e n o p ro c es s o d e

    i d e n t i f i c a çã o , po i s é e la que t o r na poss í ve l a a l guém se r econhece r

    com o pe r tencen te a um a de te r m i nada ca tego r i a de pessoas , com o,

    p o r e x e m p l o , b r a s i l e i r o , p s i c ó lo g o , b u rg u ê s , e t c . U m e x e m p l o d i s to

    vem de F r eu d . E r nes t Jones na sua  V i dae O b ra de S . F reud escv& /e

    sob r e a i den t i dade nac i ona l de F r eud :

    Ele se sen t ia judeu a té o ma is p ro fundo do seu ser , e , is to ev iden temente ,

    s ign i f icou m u i to para e le . T in ha um a sens ib i l idade exagerada , co m um aos

    jude us, ao ma is leve in d íc io de an t isem i t ismo e teve pouc os amigos que

    não fossem jud eu s. (E . Jones, vo l . I, pag . 33 )

    F r e u d se c h a m a j u d e u n u m a c a r t a m u i t o l in d a q u e e s cre ve u a O s k a r

    P f i s te r e na qua l pe r gu n ta :

    Por que t ive ram que espera r que um judeu comple tamente a teu f izesse

    estas descobertas?

    Nou t r a ca r ta d i r i g i da a Ab r aham esc l a r ece com o v i a a ques tão de  t r a

    ba lhar com out ras pessoas:

    Cre io que nós, judeus, se qu ise rmos cooperar de a lguma fo rma com ou

    tras pessoas, temos que desenvolver uma pequena dose de masoquismo e

    estar d ispostos a suportar certo grau de in just iça. Não existe outra maneira

    de coop erar e t rab alh ar jun to s. Pode você estar certo de que se eu me

      cha

    masse Oberhuber, minhas novas idé ias, apesar de todos estes fa tores ter iam

    en con t rad o m u i to me nos res is tên c ia . (Car ta de 23 de agosto de 1908 ,

    apud Jones, vo l . ü , pag . 215)

    Posso conc l u i r , des tes exem p l o , que F r eud va l o r i zava sua i den t i dade

    j u d a i c a e i s t o i n f l u e n c i o u s ua o b r a c o m o t a m b é m o m a n t e v e s o l id á r i o

    ao seu po vo a té o f ina l de sua v i d a .  U m e s t u d o d a f o r m a ç ã o d a c o n s

    c i ênc i a e da i den t i dade nac i ona l , t em , po r tan to , na Ps i caná l i se , um a

    t e o r i a q u e o f e re c e i n ú m e r o s p r i n c í p i o s e i n s i g h t s q u e m e r e c e m ser

    cons i de r ados .

    A P s ic o lo g ia d o M a t e r ia l i s m o D i a l é t i c o t a m b é m c o n t r i b u i u m u i t o

    para os estudos sobre as bases mater ia is e h is tór icas sobre as quais se

    forma a consc iênc ia de c lasse . Nesta d i reção es tão os es tudos dos ps i -

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    c ó l o g o s r u s s o s L . S . V y g o t s k y e A l e x a n d e r E . L u r i a ( 1 9 8 4 , 1 9 7 7 ) .

    N ã o o b s e r v e i, c o n t u d o , n as s ua s o b r a s , p re o c u p a ç õ e s c o m o p r o b l e m a

    d a id e n t id a d e n a c i o n a l . O M a r x i s m o , e n q u a n t o p r á x i s p o l í t i c a , t e m

    a m pl o in teresse nos es tudo s que se v o l t e m para a co nsc iênc ia de c lasse e

    a i den t idad e de c lasse . O r t i z (1 98 5) em C u l t u ra B ras i l e ira & Id en t i

    d a d e N a c i o n a l e sc re ve q u e . . . o M a r x i s m o c lá s s ic o d e m o n s t r o u

    p o u c o i n t e r e s s e n o e s t u d o d a p r o b l e m á t i c a q u e e s t a m o s c o n s i d e r a n

    d o .  A r az ã o d i s t o r e s i d a , t a l v e z , n o f a t o d e q u e c o n c e i t o s c o m o n a

    ç ã o ,  p o v o s ão i n s u f ic i e n t e s e / o u o b s c u r e c e m , n o M a r x i s m o , o

    con f l i t o de c lasses . A p rob lemát i ca nac iona l é re je i tada por Marx no

    t e x t o A p r o p ô s d u S y s tè m e n a t i o n a l d ' e c o n o m i e p o l i t i q u e d e F r ie -

    d e r ic h L i s t - V e r O e u v re s I I I , G a i l i m a r d , 1 9 8 2 q u a n d o d i z t e x t u a l

    m e n t e :

    A naciona l idade do trab alha do r não é francesa, inglesa, a lem ã, e la é o

      t ra

    balho, a escrav idão l iv re, o t ra ' f ico de s i mesmo. Seu governo não é francês,

    inglês ou alemão, é o capital . O ar que ele respira não é o ar francês, inglês

    ou alem ão, é o ar das fá br ic as . (pag. 1 435 )

    S e g u n d o O r t i z ( 1 9 8 5 ) a q u e s t ã o d a i d e n t i d a d e n a c i o n a l , d e n t r o d o

    M a r x i s m o , f o i v a l o r iz a d a p o r G r a m s c i n a s u a o b r a C a d e r n o s d o C á r

    ce re . O u t ro pensador que ta m b é m reg is t ra es ta l acuma é G . Lukacs

    n o t e x t o L a C o n s c ie n c e d e C l a s s e a o d i z e r : É u m a i n f e l i c i d a d e ,

    p a ra a te o r i a c o m o p a r a a p r á x i s d o p r o l e t a r i a d o q u e a o b r a p r i n c i p a l

    d e M a r x t e n h a se d e t i d o j u s t a m e n t e n o m o m e n t o q u e e le a b o r d a a

    de te rminação das c lasses .

    O u t r o s e ve ro c r í t i c o d e s t e v ié s n o M a r x i s m o é T o y n b e e ( 1 9 7 4 ) q u e

    não cons idera as lea ldades in ternac ionais de c lasse mais poderosas do

    q u e a i d e n t i d a d e n a c i o n a l . T u d o i n d i c a , p o r t a n t o , q u e a q u e s t ã o d a

    i d e n t i d a d e n a c i o n a l é u m a q u e s t ã o a b e r t a d e n t r o d o M a r x i s m o q u e

    t e m e x p e r i n n e n t a d o , d o p o n t o d e v i s t a h i s t ó r i c o , v á ria s d e r r o t a s d o

    seu pressuposto de consc iênc ia de c lasse f rente aos nac ional ismos.

    E x e m p l o s d i s t o e s t ão n a P o l ô n i a , na lu g u s i á vi a e A l e m a n h a O r i e n t a l .

    Seria este u m caso em qu e a do u t r i na p o l í t i ca t e n to u se sob rep or à

    P s ic o lo g ia D i a l é ti c a M a t e r i a l i s t a q u e p o d e - f o r n e c e r u m i n s t r u m e n t a l

    m e t o d o l ó g i c o m a is a d e q u a d o p a r a a c o m p r e e n s ã o d o p r o b l e m a ? P o r

    que a i den t idade nac iona l res is te à ex t i n çã o e é tão fo r te m esm o nos

    países social is tas e parece mais for te que a consciência de c lasse?

    Pergun te -se , po r exemplo , como cada pessoa cons t ró i sua i den t idade?

    A expe r iênc ia m ed iada pe ta li ngu age m , pe la cu l tu ra na c io na l , pe los

    s í m b o l o s p á t r i o s , a h i s t ó r i a p á t r i a , c h e g a m p r i m e i r o à c o n s c i ê n c i a pa -

    65

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    6/18

    ra a fo r m aç ão da i de n t i da de nac ion a l do que os e lem ento s que v êe m ,

    m a is ta r de , f o r m ar um a c ons c iênc ia de c las s e . P ar t i c u la r m ente s us pe i

    to qu e e x is te m , nu m me sm o Ss, m ui ta s consc iênc ias de c lasses. E la

    ser ia ,  n e s t e s e n t i d o , p l u r i - d i m e n s i o n a l . S o m e n t e e m a l g u n s p o u c o s

    m o m e n t o s c r í t i c o s é q u e e l a s e r i a ú n i c a .

    O u t r a p e r g u n t a c a b e  a q u i .  Q u e m c o n s t r ó i a i d e n t i d a d e n a c i o n a l ? N a

    c o n s t r u ç ã o d a i d e n t i d a d e n a c i o n a l o c o r r e u m a d i s p u t a da s i n s t i t u i

    ç ões que pos s uem d i fe r e n te s m od e los do h o m e m . Elas s ão a Ig r e ja , o

    E s ta do , a F a m í l i a , os P ar t i dos P o l í t i c os , as c i v i l iz aç õ es , e t c . E stes m o

    d e l o s t ê m e x p e r i m e n t a d o , a o l o n g o d a h i s t ó r i a d e u m a n a çã o m u i t a s

    t r a n s f o r m a ç õ e s e c o n s e g u e m se i m p o r a pe n a s s e t o r i a l m e n t e . A i d e n t i

    dade nac iona l s e r i a a inda o r es u l tado da c om b inaç ão des s es m ode los

    a b s t r a to s q u e o p e r a m s o b r e o h o m e m c o n c r e t o . D e s ta f o r m a , u m a

    pos s í ve l m a ne i r a de se c om pr ee nd er o b r as i l e i r o e s eus padr ões c o m -

    p o r t a m e n t a i s p e d e , n e c e s s a r i a m e n t e , u m e s t u d o p r o f u n d o d a s  ins t i

    t u i ç õe s c it adas . C om o o b r as i l e i r o é o r i g iná r io da c i v i l iz aç ã o l us itana

    o es tudo do Es tado Por tuguês prec isa ser fe i to . Suspei to que nossos

    pais por tugueses passaram para nós , nos anos do Bras i l Co lôn ia , uma

    s é r i e d e p r o b l e m a s d e i d e n t i d a d e n a c i o n a l . S c h w a r t z m a n ( 1 9 8 2 ) é u m

    dos p ou c os es tud ios os nes ta d i r eç ão e m os t r a m u i t o b em as r a í zes do

    au to r i t a r i s m o que s em p r e fo i um a c on s tan te na v ida de P or tuga l e na

    nossa.

      H á q u e e n t e n d e r o n o ss o a u t o r i t a r i s m o — t ã o d i f e r e n t e d o

    am er i c a no , po r ex e m p lo - es tudando- s e a fo r m aç ão de P or tuga l e as

    d i f i c u lda de s qu e t i v e r a m os l us os de fo r j a r sua i den t i dade na c ion a l .

    B em s abem os q ue a P en íns u la Ibé r i c a fo i um c o r r ed or , e , po r e la des

    c e r am os Godos , A lem anos e s ub i r am os Á r abes a té os P i r i neus . P or

    t u g a l ,

      for jada após a H ispania , logo teve que ape lar para um poder

    c e n t r a l i z ad o par a m an te r s ua un id ade f r e n t e aos am b ic ios o s es pa

    n h ó i s . P o r o u t r o l a d o , o se u t a r d i o a p a r e c i m e n t o na E u r o p a - f o i u m

    d o s ú l t i m o s E s t a d o s a se c o n s t i t u i r - p o d e , p r o v a v e l m e n t e , e x p l i c a r

    a t é u m c e r t o s e n t i m e n t o d e i n f e r i o r i d a d e d o s p o r t u g u e s e s c o m   re la

    ç ão a ou t r os pov os . Cam ões j á r eg i s t r ou es te s en t im en to po r v o l ta de

    1 5 7 2 n o s O s L u s í a d a s :

    F a z e i ,  Senhor, que nunca os admirados

    Alemães, Gaios, í ta los e Ingleses,

    possam dizer que são pera

      mandados

    Mais que pera mandar, os Por tugueses .

    (Canto X, 152)

    Eis a í u m a in teressante l inha d e pesquisa a ser des env o lv ida po r um a

    P s ic o log ia da H is t ó r i a : os anos de fo r m aç ão de P or tuga l e s ua i n f l uê n-

    6 6

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    7/18

    c ia sobre o Bras i l es tudando-se e m qu e m ed ida os por tugu eses nos

    passa r am seus p r ob l em as de au to r i t a r i sm o , i n fe r i o r i dade e be l e t r i sm o .

    No Br as i l t em os t i do m agn í f i cos es tudos sob r e a ques tão da i den t i da

    de nac iona l por par te de soc ió logos, f i l óso fos , ensa ís tas e escr i to res .

    Em a r t i go que pub l i que i em 1985 cons i de r e i que o tem a não é de ex

    c l u s iv i d a d e de p s i c ó lo g o s e q u e ó t i m o s i n s i g h t s s o b r e o p r o b l e m a

    aparecem nas obras des tes espec ia l i s tas . C i to o pouco conhec ido e

    d i v u l g a d o l i v r o d e Á l v a r o V i e i r a P i n t o C on sc iência e R ea l ida de   Nacio

    na l

      de 196 0 , m ar co dos es tudos i seb ianos , e que pe r m an ece um a o b r a

    de l e i t u r a ob r i ga tó r i a pa r a quem quer com pr eender o b r as i l e i r o .

    Macu n a ima ,

      de M ár io de A n dr ad e, é o u t ra obra c láss ica nes ta á rea de

    es tudos . E l a su po r ta , do m eu po n to de v i s ta , vá r ias l e i t u r a s . Um a

    das possíve is le i turas ser ia a ps ico-socia l e que está para ser   f e i t a . T e n

    t ou M ár i o r e t r a ta r o b r as i l e i r o no seu he r ó i sem nenhum ca r á te r ? A

    d iscussão sobre es ta in te rpre tação vem da época em que o escr i to r e ra

    v i vo e e l e negou es te ob j e t i vo . M as naque l a r apsód i a não ten tou o

    a u t o r n o s a d m o e s t a r ju s t a m e n t e c o n t r a o a n t i - h e r ó i q u e n ã o p o d e m o s

    ser? Is to é , ma landro , anc ioso de se l i v ra r de sua negr i tude? Macuna i

    m a te m u m f i m t r ág i c o . E l e é Ve nc i d o pe l a na tu r ez a — a saúva — e

    sem saúde fo i ' banza r so l i t á r i o no cam po vas to do céu .

    N o e s t u d o e x p e r i m e n t a l q u e r e a l i z e i c o m M u c c i l o , M e l l o e C a n h o s ,

    nu m a am os t r a de Ss de R i be i r ão Pr e to e Ja ú , ve r i f i qu e i a ace i tação de

    t r aços ps i co - soc i a i s apon tados po r au to r es com o G i l be r to F r ey r e e

    Sérg io B. de Ho landa. Atua lmente , g raças às sessões técn icas que fo

    ram rea l i zadas desde 1983 nas Reun iões Anua is da SPRP, a ps ico log ia

    bras i le i ra d ispõe de um número grande de pesqu isas sobre o b ras i le i ro

    c o n d u z i d a s p o r e s t e a u t o r , J o s é A u g u s t o D e l a C o l e t a , — A r o l d o R o

    d r i g u e s , M a r i a A l i c e D ' A m o r i m , Á l v a r o T a m a y o , A n g e l a B i a g g i o e

    Car l os Am ér i co Pe r e i r a .

    A c r e d i t o , f i n a l m e n t e , q u e f i c o u e x a u s t i v a m e n t e d e m o n s t r a d o q u e o

    es tud o da i d en t i d ad e na c i ona l é fun da m en ta l pa r a o b r as i l e i r o , sob r e

    tudo nes ta época c r í t i ca da nossa H i s tó r i a . Ago r a , e l e pode se r f e i t o

    s em o s r is c os q u e a c o m p a n h a v a m o N a c i o n a l is m o e o E t n o c e n t r i s m o

    das décadas de 30.

    A H i s tó r i a te m de m on s t r a do o pape l da i den t i dad e nac i ona l na sob r e

    v i vênc i a de um Povo m esm o que e l e não d i sponha de um te r r i t ó r i o

    seu.  O p o v o j u d e u é u m b o m e x e m p l o d i s t o , c o m o a in d a os p ars es ,

    m o l o k o n e s e a t u a l m e n t e o s p a l e s ti n o s . A bu sc a d e u m a f o r m a b r a -

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    s i le i ra de ve r o mundo , t eo r i za r sobre os p rob lemas ins t i t uc iona is e

    soc ia is e buscar so luções o r ig ina is é f un da m en t a l se qu ise rm os pos

    su i r , c o m o escreveu Or t ega y Gasset um a nov a f o r m a de v ida que

    seja d is t in ta da amer icana, da sov ié t ica , da f rancesa ou da ing lesa.

    S o m e n t e a c o n q u i s t a d e s ta o r i g i n a l i d a d e é q u e n o s a s se g ur ar á, a

    longo prazo, um lugar de destaque ent re os Povos. S i tuada a questão

    de n t ro das vá rias pe rspec t ivas c o m que t e m se apres en t ado , cabe ,

    agora ,

      d iscut i r os conce i tos bás icos nesta área de estudo.

    2.  Conceítuações

    Nesta segunda par te me detere i na d iscussão dos conce i tos de caráter

    n a c i o n a l ,  ca rac t e r í s t icas nac iona is , pe rson a l idade bás ica , pe rsona l ida

    d e m o d a l e i d e n t i d a d e n a c i o n a l .

    I n i c ia lmen t e , cabe reg is t ra r que os ps icó logos modernos p re f e rem

    usar o co nc e i to de ' pe rs on al id ad e ao invés de cará ter . E le ter ia um

    c o m p r o m e t i m e n t o m e n o r c o m a é t ic a e s eria m a is ' c i e n t í f i c o . C a tá -

    t e r é um dos conce i t os ma is an t igos das c iênc ias humanas . Já o f i l óso

    f o g rego He rác i i t o de É feso (4 80 a .C) o t e r ia usado n u m f ragme n

    t o cé leb re : O ca rá t e r do ho m em é o seu d e s t in o . O co nc e i t o su rge ,

    p o r t a n t o , n u m e s f o r ç o d e c o n h e c e r o h o m e m s i ng u l a r e o q u e r e s p o n

    d e r ia p e lo s seu s c o m p o r t a m e n t o s . D u r a n t e a A n t i g ü i d a d e e a t é h o j e

    vár ias respostas foram dadas. Para a lguns ser iam os ast ros, para out ros

    as gunas , a b i l i s , o sangue , o me io amb ien t e , a f am í l ia , e t c . É o de t e r

    min ismo que se repete sob as mais d iversas formas. A noção de um

    h o m e m q u e n ã o s e r i a u n i c a m e n t e p r é - d e t e r m i n a d o p o r a g e n t e s e x t e r

    nos se r ia de f end ida apenas pe lo Cr i s t ian ismo, sem que e le desconhe

    cesse as in f luênc ias des t es cond ic ionament os .

    O c o n c e i t o d e c a r á t e r d o m i n o u a m p l a m e n t e a P s i c o l o g i a e u r o p é i a a t é

    in íc ios do sécu lo X X na con s t an t e busca das re lações en t re co ns t i t u i

    ção e ca rá t e r , no m e, a l iás , do l i v ro do ps iq u ia t ra a lem ão E . K res t ch -

    mer . Esta obra   Co ns t it uc ión y Ca rac te r   c h e g o u na A l e m a n h a a 2 0

    ed ições e f o i t raduz ida em t odas l í nguas europé ias t endo uma

      i n f l u

    ênc ia m u i t o g rande a t é n o B ras i l . Ma rcaram época t am bé m as esco las

    con s t i t uc io na l i s t as de V io la e Pende na I t á l ia ; S igaud e M ac Au l i f e e na

    F rança e as t i po lo g ias de F re ud e Ju ng . Os am er icano s t i ve r am em

    Sh eld on e S tevens um a expressão desta esco la . Nestes vár ios co nte x

    t o s o c o n c e i t o d e c a rá te r é s i n o n i m i z a d o p o r t i p o , t e m p e r a m e n t o .

    Q u a n d o c o m e ç o u , p o r o u t r o l a d o , a a p l i c a ç ã o d o c o n c e i t o de c a r á te r

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    9/18

    não ma is ao t i p o s ingu la r , mas ao t i p o idea l de ho m em qu e seria fo r

    m a d o n as d i f e r e n t e s n aç õe s? D a n t e M o r e i r a L e i t e ( 1 9 2 7 - 1 9 7 6 ) i n d i c a

    no seu c láss ico O Cará te r Nac iona l B r as i l e i ro o f i l ó so fo a lem ão

    H e r d e r ( 1 7 4 4 - 1 8 0 3 ) c o m o s e n d o o f o r m a l i z a d o r de s ta t e o r i a d o c a rá

    t e r n a c i o n a l . M as H e r d e r é a p r e s e n t a d o d e u m a f o r m a s u m á r ia e s e u

    s is tema,

      m u i t o c o m p l e x o e r i c o , f i c a e s v a z i a d o . S o b r e H e r d e r é o p o r

    tu n o reg i s tra r qu e ao con t rá r io das p rev isões de M ore i ra L e i te e le fo i

    c o l o c a d o n a o r d e m d o d i a , e m F r a n ç a , n e st e a n o d e 1 9 8 7 c o m o p r o

    v o c a n t e l i v r o d e A l a i n F i n k i e l k r a u t ( 1 9 8 7 ) L a D é f a i t e d e Ia p e n s é e .

    N a q u e la o b r a e ste d i s c u t i d o f i l ó s o f o , e x - a l u n o d as é c o l e s d i z q u e

    . . . es te c o n c e i t o d e g ê n i o n a c i o n a l ( n ã o c a r á te r , c o m o t r a d u z i u M o

    re i ra L e i te) faz dob rar os s inos da c u l tu ra un ive rsa l is ta das luz es e

    que e le se desdobra , a té ho je , com imp l i cações i nc r í ve i s . Se F ink ie l

    k ra u t es tá co r re to em sua in te rp re taç ão te re m os , nes te f i na l de sécu

    lo ,

      u m r e t o r n o a o s e s t u d o s s o b r e i d e n t i d a d e n a c i o n a l .

    Cabe ta m bé m reg is tra r que sem chegar a um a e laboraçã o tão p ro fu n

    d a c o m o a d e H e r d e r n o s eu li v r o U m a o u t r a F i l o s o f i a d a H i s t ó r i a

    e n c o n t r e i e m M o n t e s q u i e u ( V i d e E s p í r i t o s da s L e is , 1 7 4 8 ) u m t e ó r i

    co d o con ce i to de ca rá te r nac io na l . (Ver L i v ro 19 , caps . 10 , 14 e 27 e

    L iv ro 2 1 , caps . 12 e 14 da ob ra c i tad a) .

    Mas já q ue se d i s cu t i u ta n to o co nc e i to é ho ra de esboçar um a d e f in i

    ç ã o d o m e s m o . O p r o b l e m a a q u i é o n d e e n c o n t r á - l o . O c o n c e i t o o c o r

    re em d i c io ná r ios de F i l os o f i a , So c io log ia e Ps i co log ia co m pou ca ou

    n e n h u m a v a r i a ç ã o . T o m e - s e o d e M a r t i m N e u m e y e r :

    Caráter é uma qual idade, t raço ou soma de traços, atr ibutos ou caracter ís

    t icas que servem para indicar a natureza essencial de uma pessoa ou coisa

    Dict ionary

      o f   Socio logy,   pag. 37 , E d . L i t t l e f i l e d , A dam i s & Co , 1959 ) .

    E o n d e e n t r a , n e s ta d e f i n i ç ã o , o c o m p l e m e n t o n a c i o n a l? N a m i n h a

    pesqu isa e na l e i tu ra de Le i (1983) não encon t re i , como em ou t ros

    au to res , um a de f in i çã o d e ca rá te r na c ion a l , em bo ra o co nc e i to seja

    d i s c u t i d o e c r i t i c a d o . P e n s o, c o n t u d o , q u e é n e ce s sá rio c o m p r e e n d e r

    o co nc e i t o na sua fo rm a t ra d i c ion a l pa ra -se avançar na sua c r í t i ca .

    Q u e m m e l h or o c o m p r e e n d e u f o i A b r a h a m M o n k q u e d is c u te a  re la

    ção de caráter ind iv idua l com o nac ional e esc larece que o segundo se

    ate m ao p rogresso da soc ia l i zação e t ransm issão de va lores d e n t r o de

    u m e sp aç o g e o g r á fi c o o u g e o - c o m p o r t a m e n t a l . I st o é q u e p e r m i t i

    r i a a par t i cu la r i zação de g rupos soc ia i s que denominamos de b ras i l e i

    ros,

      i t a l i anos , russo , e tc . Mas o p r ó p r io M o n k fo rm a l i z a uma série de

    cr í t i cas ao conce i to , e que são as segu in tes :

    69

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    10/18

    1.  Qu ais são as re lações prec isas en t re caráter n ac iona l e o in d iv id ua l?

    2 .

      Pode-se de l i nn ita r f i s i cam ente o â m b i to n o qua l te m va l idade u m

    caráter nac iona l?

    3 . C o m o se p o d e m s ep a ra r c e rt a s m o d i f i c a ç õ e s v a ri áv e is — e c o n o m i a ,

    t e c n o l o g i a , p o l í t i c a , c o m u n i c a ç õ e s c u l t u r a i s , d e s l o c a m e n t o s d e

    p o p u l a ç ã o - d o q u e é e s t r i t a m e n t e n a c i o n a l n o c a r á te r n a c i o

    nal?

    Desc onheç o se estas c r í t i c as de M o n k fo ra m respond idas a té ho je .

    Q ual a re lação qu e ex is te ent re cará ter na c ion a l e cara cter ís t i cas na

    c io n a is ? O t t o K l i n e b e r g ( 1 9 5 7 , v o l . I I) j u s t i f i c a a i n t r o d u ç ã o d e ste

    ú l t i m o c o n c e i t o p o r q u e e le n ã o t e m c o n o t a ç ã o m o r a l . E m a i s n e u t r o

    e ma is ex ten so . E le busca não apenas um a enu m eraçã o de t raços ca

    rac te r í s t i cos dos povos mas co m pre en de r co m o e les se o rgan izam e se

    i n t e g r a m n u m a e s t r u t u r a u n i f i c a d a . I n f e l i z m e n t e , K l i n e b e r g n ã o

      c o n

    t i n u o u nesta l inh a de pesquisa e seu co nc e i to esgotou-se em poucas

    p u b l i c a ç õ e s s e m c u m p r i r o q u e p r o m e t i a .

    Os conce i tos de persona l i dade bás i ca e persona l i dade moda l fo ram

    i n t r o d u z i d o s n a l i t e r a t u r a p o r K a r d i n e r e L a B a r r e . K a r d i n e r ( 1 9 4 5 ) e

    Ka rd iner e Oversey (19 51 ) fo ra m p ione i ros na ap l i cação da ps i caná l i

    se n a S o c i o l o g i a e n a A n t r o p o l o g i a e e l a b o r a r a m o c o n c e i t o d e p e rs o

    n a l id a d e b á sic a p a r a j u s t i f i c a r c o m p o r t a m e n t o s e s e n t i m e n t o s c o m u n s

    q u e c o m p a r t i l h a m p es so as q u e v i v e m n u m a m e s m a c u l t u r a . E s ta p e r

    sonal idade de base responde pe la in t ro jeção de t raços espec í f i cos de

    cada cu l tu ra . Ass im e le exempl i f i ca que na i l ha de A lo re , Indonés ia ,

    a d e s c o n f i a n ç a é u m t r a ç o p e r m a n e n t e e c o m p õ e a p e r s o n a li d a d e b á

    s i c a d o s h a b i t a n t e s s e r e f l e t i n d o , c o n t u d o , d e f o r m a s d i f e r e n t e s . D e

    ^acordo com Kard iner a personal idade bás ica está assentada em quat ro

    ' p r i n c í p i o s :

    1 9 - A s p r i m e i r a s e x p e r iê n c i a s d o i n d i v í d u o e x e r c e m u m e f e i t o d u r á

    ve l sobre a persona l i dade ;

    2 ? -  A s e x p e r i ê n c ia s s e m e l h a n t e s t e n d e m a p r o d u z i r c o n f i g u r a ç õ e s

    d e p e r s o n a l i d a d e s e m e l h a n t e s n o s i n d i v í d u o s q u e e s t ã o s u b m e t i

    dos às mesm as;

    39 - As p rá t i cas de educação das c r i anças se con fo rmam a esquemas

    cu l tu ra i s e tendem a se r seme lhan tes , a inda que e las não se jam

    jamais i dên t i cas nas d i fe ren tes famí l i as no se io da soc iedade ;

    49 - A manei ra de cr iar as cr ianças d i fere de uma soc iedade para ou

    t r a .  As exp er iênc ias são m u i t o d i fe re n te s nas soc iedades , de ma

    ne i ra qu e as norm as de person a l i dade d i fe re m igua lme nte .

    70

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    F i n a l m e n t e , p a ra K a r d i n e r a f o r m a ç ã o d a p e r s o n a l i d a d e b á s ic a , t í p i c a

    d e u m Ss p e r t e n c e n t e a u m a c u l t u r a , é f e i t a e m f u n ç ã o d as i n s t i t u i

    ç õ e s p r i m á r i a s ( f a m í l i a , f o r m a d e a l i m e n t a ç ã o , d e s m a m e , d i s c i p l i n a s

    de base, tabus sexuais , técn icas de subs is tênc ia) e ins t i tu ições secun

    dár ias ( re l ig ião, fo lc lore , técn icas de pensamento, e tc . ) Dadas estas

    exp l i caçõe s pode-se , ago ra , ap resen ta r -se a con ce i t uaç ão de perso na l i

    dade bás ica — dada por Du f renne (1959) :

    . . . é uma conf iguração ps ico lóg ica par t icu la r , p rópr ia dos membros de

    uma dada sociedade e que se mani festa num certo est i lo de v ida sobre o

    qua l os ind iv íd uo s cons t róem suas var ian tes s ingulares . O con jun to dos

      t ra

    ços que compõem es ta conf iguração, por exemplo , cer ta agress iv idade

      un i

    da a certas crenças, a certa desconf iança f rente ao outro, merece ser

     cha-

    mada

     p ersona l idade   básica ,

      não porqu e con s t i tua exatam ente um a persona

    l idade mas porqu e con st i tu a base da personal idade para os m em bro s dó

    grupo, a matr iz na qual se desenvolvem os t raços do

     caráer.

    ( D u f r e n n e ,

    p.115)

    D e sta f o r m a , o c o n c e i t o d e c a r á t e r r ea p ar ec e d e n t r o d o c o n s t r u c t o

    de person a l idade bás ica . E é e le que ide n t i f i c a os g rupo s nac ion a is e

    f az com que os b ras i le i ros se jam b ras i le i ros . Embora o conce i t o me

    pareça a inda p romissor em sua base ps icana l í t i ca desconheço ou t ras

    pesquisas a lém daquelas que foram rea l izadas por estes autores.

    O con ce i t o de perso na l idade m od a l não t e m , na Ps ico log ia , um a h is

    t ó r ia t ão express iva co m o os an t e r io re s . F u i en co n t ra r a lgumas   p o u

    cas re f e rênc ias em McDav id e Hara r i (1974 , pag . 137 ) que apon t am

    co m o sendo seus au t o res os an t rop ó lo go s de La Bar re , em 19 46 , e

    I nke les , H an f m an & Ba ie r , 1958 . Persona l idade mo da l será aque la

    q u e o c o r r e c o m m a i s f r e q ü ê n c i a n u m a c u l t u r a . V e m d a e s t a t í s t i c a

    m o d a .  O con ce i t o é de scr i t i vo e p e r m i t i r i a apenas qu e : se um Ss é

    re t i rado ao acaso da amost ra de b ras i le i ros ex is t e uma g rande p roba

    b i l i d a d e d e q u e e l e c o n f i r m a r á , s o b m u i t o s a s p e c t o s d o s e u c o m p o r t a

    m e n t o , u m q u a d r o d e s c r i t i v o , m o d a l o u u m m e m b r o t í p i c o d a n o s

    sa soc iedad e. '

    Apresen t ados es t es conce i t os , pe rgun t a -se o que de novo vem t razer o

    conce i t o de iden t idade nac iona l . Será ma is van t a joso usá- lo nas pes

    quisas?

    Não é g rande a l i t e ra t u ra sobre ide n t ida de na c ion a l . Para ser ex a t o o

    t ema f o i t raba lhado , en t re nós , na década de 50 e 60 pe lo g rupo do

    I ns t i t u t o Super io r de Es t udos B ras i le i ros — I SEB — por Ro land Cor -

    71

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    12/18

    b i s ie r e Á l va r o V i e i r a P i n to . A ú l t i m a pub l i cação b r as il e ir a sob r e a

    m a té r i a é o l i v r o d o r i be i r ão p r e ta no R ena to O r t i z C u l tu r a Br as il e ir a

    & I d e n t i d a d e N a c i o n a l ' . N a V e n e z u e l a e n c o n t r e i o e x c e l e n te t e x t o

    d e M a r i t z a M o n t e r o , I d e o l o g i a , A l ie n a c i ó n e I d e n t i d a d N a c i o n a l ,

    pu b l i c ad o em 19 84 . Estes au to r e s , de fo r m açõ es teó r icas d i fe r en tes ,

    en focam o prob lema sob ângu los d iversos . Para Corb is ie r a busca da

    i den t i dade nac i ona l é um a fa l sa ques tão j á que é m a i s i m por tan te pe r

    gun ta r qu em é o a r t í f i c e desta i den t i da de e da m em ór i a que a fun da

    m e n t a .  A qu e g rup os socia is se v in cu la m e a que in teresses e la serve?

    Para m im o p ro b le m a perm anece m esm o se respo nd idas estas ques

    t ões .

      Cada época h is tó r i ca reve la d i fe ren tes g rupos, in te resses, e tc .

    Or t i z — duv i da a i nda da poss i b i l i dade de de f i n i r a i den t i dade nac i ona l

    e co nc o r d a com Lévy - S tr auss que a i de n t i da de é um a en t i dade abs

    t r a ta sem ex i s tênc i a

      rea l ,

      m u i to em bor a se j a i nd i spensáve l com o

      p o n

    t o de re fe rê nc ia . E la ser ia a lgu ma co isa c o m o as ' b ru ja s dos espa

    nhó i s e m que n i ng uém c r ê , m as qu e Ias hay , ha y .

    Já C orb is ie r faz um a aprec iação s im pát ic a às ten ta t i va s de se de f in i r a

    i den t i dade nac i ona l em te r m os de ca r á te r do b r as i l e i r o e r em em or a as

    ten ta t i vas de Sérg io B. de Ho landa com a cord ia l idade; Pau lo Prado

    co m a t r i s teza e Cass iano R icard o c om a bon da de , que , para e le são

    apenas buscas de 'e s t r u tu r a fás ica ' e su j e i t a , po r ta n t o , a m od i f i ca

    ções.  É nes ta l inha que m e co l oc o .

    A de f i n i çã o de M on te r o é m u i t o p r o m i sso r a . Para e la a i den t i dad e na

    c ional é :

    . . . um con jun to de s ign i f icações, represen tações re la t ivamente permanen

    tes a t ravés do tempo que permi tem aos membros de um grupo soc ia l que

    co m p a r te m u m a h is tó r ia e u m te r r i t ó r io co m u m , a ss im co m o o u t ra s e le

    me ntos só c io -cu l tu ra is , ta is co m o a l inguagem, uma re l ig ião , costumes e

    inst i tu ições socia is reconhecer-se como re lacionados uns com os outros

    b iogra 'f icam en te . (pag . 7 6) .

    Esta de f in iç ão te m sobre as an ter io res um a série de vantagens. E la é

    s u f i c i e n t e m e n t e a m p l a p a r a i n c o r p o r a r o a s p e c t o h i s t ó r i c o d o h o m e m ,

    a es tab i l i dade , as i ns t i t u i ções e a s i t uação . A tende tan to ao s i ngu l a r ,

    eu com o b r as i l e i r o , com o o nós b r as i l e i r os .

    A esta a l tu ra c re io qu e é poss íve l se real izar u m ens aio de se estud ar a

    i den t i dade b r as i l e i r a , de um b r as i l e i r o m u i to espec i a l , Ca r l os Dr um

    m o n d d e A n d r a d e q u e p o d e i l u s tr a r m u i t o b e m a d e f i n i ç ã o d e M o n

    t e r o .

      E n t r e 1 9 2 5 e 1 9 3 0 D r u m m o n d a t a c a o p r o b l e m a p e l a p r i m e i r a

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    v ez e m T a m b é m j á f u i b r a s i l e i r o ; e n t r e 1 9 3 1 e 1 9 3 4 r e t o m a a q u es

    t ã o e m ' H i n o N a c i o n a l , e , f i n a l m e n t e , e m 1 9 7 3 r ev e la s ua i d e n t i d a

    de f ina l e m ' Ca nto B ra s i le i ro . Na década de 2 0 , época de c r ise de

    i d e n t i d a d e , d a S e m a n a d a A r t e M o d e r n a ele se d i z m o r e n o c o m o

    vocês e ap r ende na m esa dos ba r es que o nac i ona l i sm o é um a v i r t ude

    mas sua i ron ia a r re m at a : h á um a ho ra em q ue os bares se fec ha m e

    todas as v i r t udes se negam .

    En t r e 31 e 34 , em p l ena época r evo l uc i oná r i a , o poe ta es tá i nqu i e to

    co m o g i gan te que do r m e , que recebe im i g r an tes f r ancesas m u i t o

    louras de pe le mac ia , a lemãs gordas, russas nos tá lg icas , en f im, a mo

    dern ização do Bras i l , os p ro fessores es t range i ros e como que su focado

    pe la in f luênc ia que vem do es t range i ro e le desabafa no  f i n a l :  N o s s o

    Br as i l é no ou t r o m undo . Es te não é o Br as i l . Nenhum Br as i l ex i s te .

    E acaso ex i s t i r ão os b r as i l e i r os ? M a i o r ex em p l o de i nsegu rança no

    processo de ident i f i cação nac iona l não pode ex is t i r .

    Qu ar en ta anos depo i s , no seu C a n to Br as i l e i r o pa rece que o poe ta

    es tá com sua i den t i dade nac i ona l es tabe l ec i da . D i z , en tão : ' M eu pa í s ,

    essa p a r t e d e m i m f o r a d e m i m c o n s t a n t e m e n t e a p r o c u r a r - m e . Se o

    esqueço — c esqueço tan tas vezes — v o l ta em cô r , pa isagem , na po lp a

    da go iab a, na ab er tu ra das voga is , no jogo d iv e r t id o de esses e e r res e

    s i n to que sou m i ne i r o ca r i oca am azonense co l eção de m i ns en t r e l aça

    dos .  S o u t o d o s e l e s . P ara c o n c l u i r : B r a s i l e i r o s o u , m o r e n o i r m ã o d o

    m u n d o é q u e m e e n t e n d o e l i v r e i r m ã o d o m u n d o p r e t e n d o . ( B r a s i l ,

    r i m a v i r i l de l i be r da de . De fo r m as d i fe r en tes , de ac o r d o co m sua

      c u l

    t u r a ,  sens ib i l idade, cada um de nós pode te r v iv ido o p rob lema da sua

    i den t i dade nac i ona l .

    A c r ed i to j á have r d em on s t r a do , à sac iedade , que o p r o b l e m a da i den

    t idade nac iona l é re levante , permanente e d igno de ser es tudado pe las

    teor ias ps ico lóg icas . Cabe -me, ago ra , aprese ntar m inhas c onc lusõe s.

    3. Conclusões

    Estas conc lusões serão apresentadas co ns ide ran do t rês n ív e is ; a ) ao

    n íve l dos co nc e i to s ; b ) da m et od o lo g ia de pesqu isa ; c ) das teor ias .

    Ao n í ve l dos conce i tos ve r i f i ca - se que o conce i to m a i s an t i go e que

    res is te a té ho je é o de cará ter nac iona l . E le tem amplo uso , no Bras i l ,

    nos m e i os po l í t i cos e nas Fo r ças Ar m adas . Os conce i tos que v i e r am

    pos te r i o r m en te , ca r ac te r í s t i cas nac i ona i s , pe r sona l i dades bás i ca e m o

    da l não acrescentaram, em te rmos de pesqu isa , o que de les se pode-

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    r i a espe ra r . Cons ide ro , po r ou t ro l ado , p romisso r o uso do conce i to

    de ide n t id ad e nac iona l dev ido a sua ab rangênc ia teó r i ca . Ele i nc o rpo

    ra o p r o b l e m a d a f o r m a ç ã o d a c o n s c i ê n c i a , a f u n ç ã o d a l in g u a g e m ,

    os va lo res , a h is tó r ia , as ins t i tu ições, o eu e o nós . Parece-me que

    pode se r de uso tan to de uma ps ico log ia de o r ien tação d ia lé t i ca como

    de uma ps ico log ia cogn i t i v i s ta .

    A o n iVe l do s m ét od os de pesqu isa não pr iv i leg io ma is os es tudos   f u n

    d a m e n t a d o s s o b r e t r a ç o s , e m b o r a e u m e s m o t e n h a r e a l i z a d o u m

      es tu

    do nes ta d i reção . Ho je , eu p r i v i l eg ia r ia pesqu isas que pa r t i ndo , ta l vez

    dos es tudos fundamen tados em t raços , p rocu rassem uma inves t igação

    cog n i t i va m a is ex tensa dos co m po ne n te s da iden t idad e . Em c r ianças

    o u s o d o m é t o d o c l í n i c o c o m o o f e z P i a g e t ( 1 9 5 1 ) n u m e s t u d o e n c o

    m e n d a d o p e la U N E S C O p are ce m u i t o a d e q u a d o . C o m o se f o r m a m

    em nossas c r ianças , conce i tos como: pá t r i a , bande i ra , es t range i ros ,

    e tc . C om o se desenvo lve a i de n t ida de c om a c ida de , o E s tado e a Na

    ç ã o ,

      i s to é , de o r igem a f r i ca na , j aponesa , i nd ígen a , e tc .  É  t o d o u m

    p r o g r a m a q u e e stá e s p e ra n d o d e s e n v o l v i m e n t o .

    C o m o j á s u g er i a n t e r i o r m e n t e p r o b l e m a s e s p e c í f ic o s d a n os sa i d e n t i

    d a d e n a c i o n a l , c o m o o p a t e r n a l i s m o , a u t o r i t a r i s m o p o d e m s e r e s t u d a

    d o s p o r u m a P s i c o l o g i a H i s t ó r i c a f u n d a m e n t a n d o - s e t a n t o e m d o c u

    m e n t o s h i s t ó r ic o s q u e c o m p r e e n d a m a f o r m a ç ã o d o E s ta d o P o r t u

    guês e da Co lôn ia Bras i le i ra . Para a inves t igação da iden t idade nac io

    n a l e m a d u l t o s o a r t i g o d e A d o r n o o f e r e c e p i s t a s m u i t o i nt er e ss a n

    tes ,  .se ja num mergu lho na l íngua por tuguesa; na mús ica b ras i le i ra ou

    nas obras dos nossos grandes escr i to res . Es tudos dos t ipos c r iados por

    M a c h a d o d e A s sis , A f o n f o A r i n o s , M o n t e i r o L o b a t o , J o rg e A m a d o ,

    Ér i co V e r í ss im o e M ar io de An d ra de m u i t o nos reve lam da nossa iden -

    t j dade nac iona l .

    F i n a l m e n t e , e m n o s s o m e i o c o n s i d e r o c o m o p r o m i s s o r e s o s e s t u d o s

    su rg idos em to rno das Reun iões Anua is da Soc iedade de Ps ico log ia de

    R ibe i rão Pre to co m o os rea l izados po r u m g rup o da PUC-SP, ond e

    ressa lto o t ra ba lho de Car los By in g to n , na l i nha jung u ia na . É ho ra ,

    ago ra ,

      de se encon t ra r pa ra os es tudos r i be i rãop re tanos sob re o B ras i

    le i ro uma teor ia que possa in tegrar as dezenas de achados. Não des

    c a r t o , e m b o r a n ã o s e j a m i n h a e s p e c i a l i d a d e , a c o n t r i b u i ç ã o q u e u m a

    Ps ico log ia M arx i s ta possa faze r nes ta á rea , c o m o a Ep is tem o log ia G e

    nét ica de Jean Piaget.

    S o u ,  p o r t a n t o , u m o t i m i s t a c o m r e la ç ã o a o f u t u r o d as p es qu is as s o

    b r e i d e n t i d a d e n a c i o n a l . C o m o m e u o b j e t i v o m a i o r f o i a q u i a p re s e n-

    74

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    ta r  o '  es tado da q u e s t ã o , c o m o d i z i a m  os e sco lás t icos , sou  o b r i g a d o

    a regis trar  que o  f i l ó s o f o f r a n c ê s F i n k i e l k r a u t a s s i m  não  c o n s i d e r a .

    Para ele, uma  n o v a f o r m a  de  iden t idade su rge  no  h o r i z o n t e  da h u m a

    n i d a d e  e que supe ra rá  as i d e n t i d a d e s n a c i o n a i s , de c lasse, rac ia is ,  re l i

    giosas, sexuais  e  p o l í t i c a s .  A  i d e n t i d a d e  que  E d g a r M o r i n c h a m a  de

    b i o - c l a s s e ' . N u m a c i v i l i z a ç ã o  que não  que r enve lhece r ,  que  t e i m a

    m a em ser  ado lescen te  o que  i d e n t i f i c a r á m e s m o s e r á a p e r t i n ê n c i a à

    j u v e n t u d e . S erá p r o f é t i c o   o  c a n t o  de  M i c h a e l J a c k s o n  que um dia nos

    e n s i n o u :

      We are the w o r i d . We are the  ch i ld rens?  Não  t e n h o r e s p o s t a

    a es te desa f io , po rq ue m inh a ge ração ac e i to u enve lhece r .

    «

    B I B L I O G R A F I A :

    A D O R N O , T h e o d o r  W.  Sobre  Ia  pregunta  Que és a l e m á n ? \ n : C o n s i g n a s .  Bue

    nos A i res , A m or ro tu Ed i to res ,

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    A N D R A D E ,

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    B Y I N G T O N ,  C. O  C onc e i to  - de  I den t idade Ind iv idua l  e  Colet iva  na  D imensão

    S i m b ó l i c a ,

      a

      I den t idade O n t i c a (Eu -O u t ro )

      e a sua

     In ter re lação

      com a

      Iden

    t i dade O n to lóg ic a

      ou

      I den t idade

      do

     Self.

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    1965.

    EWBAN K, T.

     A

      V ida

      no

      Bras i l

      ou

      D iáio

      de uma

      Vis i ta

      à

    Te r r a

      do

      Cacue i ro

      e das

    Palmei ras .  T r a d .  de  J a m i l  A.  Hadad; Apresentação  de  Mar io  G.  Fer r i , Be lo

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    16/18

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      V ida

      y

      Obra

      de S.

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     Mar io Ca r l insky ,

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      A. The

      co n ce p t

      of

      bas ic persona l i ty s t ruc tu re

      as an

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    t o o l

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      Mar ia

      L.E.

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      B.L.

     Cruz

     e

    Olga Ol ive ira

     e

     S i lva ,

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     Do  Esp íito

      da s

     Le is .   I n t r o d u ç ã o

      e

     no tas

     de

     G o n za -

    g u e T ru c . T ra d u çã o

      de

      Fe rn a n d o

      H.

      Cardoso

      e

      L e ô n c io

      M.

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      d é ve lo p p e m e n t , ch e z T e n fa n t

      de

      Tidée

      de

      Patrie

      et

      des re la t ions

    avec Tétranger. In:  Bu l ie t in In ternat iona l   des   S c i ences   Sociales,   Paris,

    U N E S C O , 1 9 5 1 , 3 ,

      6 0 5 - 6 2 1 .

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      Brasí lia, Ed. da Uni

    versidade de Brasília, 1982 (Coleção Temas Brasileiros vol. 12).

    TOYNBEE, A.J.  T o ynbe e sob re   Toynbee.   Colóquio entre A.J . Toynbee e G.R.

    Urban.  Trad. de Carmem Lidia R. Moura, Brasília, Editora da Universidade

    de Brasília, 1981.

    VYGOSTSKY, L.S. A   form ação so cia l   da  mente.   Trad. de José C. Neto, Luis  Sil

    veira M. Barreto e Solange Castro Afeche, São Paulo, Martins Fontes Edi

    tora,  1984.

    S U M A R I O

    Q ues tões sob re

      a

     iden t idade

      nacional,

      caráer

      nacional,

      ca rac te rí t i cas

      nacionais,

    pe r sona l i d ade moda l  e  p erso na l idad e básica   são  co r re lac ionada s   e  mu i to   relevan

    t e s pa ra   a   Filosofia,   Soc io log ia , An t rop o log ia   e   Ps ico log ia .   No   Brasil,   au to res

    com o Álva ro V ie i ra  Pinto,   Ségio   B. de   Ho l anda   e  G i lbe r t o F rey re teo r iza ram

    sob re  o   ca ráer nac iona l   do  p o v o   brasileiro.   C on sc iênc ia   e  R ea l id ade   Nacional ,

    Raíes  do   Brasil e  C a sa G r a n d e   &  Senzala são obra s c lássica s ond e   as

     carac

    t e rí t i cas ps icossoc ia is

      do

      b ras i le i ro

      são  descritas,

      c om o

      por   exemplo,

      co rd ia l ida

    de , ind iv idua l i smo ,

      animismo,

      aven tu re i ro ,   sensual,   sad i smo   nos  g r u p o s

      dominan

    te s  e  ma so qu i smo   nos   g r u po s

      dominados.

      Es t e s ensa i o s   têm   s ido c r i ti cados pe los

    au to res   marxistas.   E les en fa t izam   a  c on sc iênc ia   de  c lasse  e  co loca ram   na   inteili

    gentsia a lgun s obs tácu los p ara   os  e s t u dos sob re   a  iden t idade   nacional.

    Ma s es te au to r con s ide ra m u i t o re levan te es tuda r   o   p r o b l ema   da   iden t idade   na

    c i o na l po r que   ele ém ais básico   do que o   p r o b l ema   da  c on sc iênc ia   de  classe.  Ele

    acred i t a  que   cad a gera ção dev e d esc obr i r   os   t raços ess enc ia is   da   iden t idade   do

    brasileiro.  Se a

      iden t idade nac iona l t rans fo rm a-se

      ao

      longo

      dos

     a nos

      existe,   con

    tudo,  a l g uma es t ab il id ade pa ra   ser   cons ide rada .

    Em do i s a r t i g o s

      o

      p r o b l ema

      da

     iden t idade

      éestudado. Primeiro,  o

     au to r

      conside

    ra

      os

      asp ec tos teór icos

      do

      p r o b l ema .

      Ele

      e x am ina cu i d adosamen t e d i fe r en te s

    p e rspe c t ivas , conce i tos básicos nes ta áea   de  es tudo   e  c om o   o  p r o b lema p o d e   ser

    estudado.  No   segun do a r t igo   - a ser  p ub l ic ado   num dos   p ró x imos núme ro s   de

    SÍN TE SE   - écomun i cado   um   e s t u do e x p e r imen t a l   com   am os t ra s   de   b ras i le i ros

    11

  • 8/18/2019 Quem é o brasileiro

    18/18

    das ada des de Ribe i rão   Preto,   Jaú e Fran ca, Es tado de São   Paulo,   o nde a   ima

    gem ' do b ras i le i ro émui to

      negativa

     p a r a e l e mesm o . Mas se es t a imagem

      'real

    énega t i va a imagem   ideal que o b ras i le i ro faz de le me sm o pa ra o fu tu ro é

     posi

    t iva e cons t ru ti va e mo s t ra um novo t ipo de b ras i le i ro .

    S U M M A R Y

    Q ues t ions eòou t na t iona l  identity,   na t iona l   character,   na t iona l cha racte r is t ics ,

    mo da l pe rsona l i t y and bas ic pe rsona l it y a re co r re la ted and ve ry pe r tinen t to Ph i -

    losophy, Sociology,  An th ropo logy and Psych o logy . In Braz i l the re a re au tho rs as

    Álvaro Vie i ra   Pinto,   Ségio B. de Ho landa and Gi lbe r to Frey re tha t have   theo-

    r ized abo ut nat iona l chara cte r o f braz i l ian   people.   Cons c iênc ia e Rea l idade N a

    cional ,

      Raíes do Bra s il and Casa Grande & Senza l a a re c la ss i c wo r ks whe re

    a re desc r ibed the ps ycho -soc ia l cha rac te r is t ics o f b raz i li an as , fo r exem p le , co r -

    diality,  ind iv idua l i sm ,   adventurer,   a n im i sm ,   sensual,   sad ism in the e l it es and

    masoch i sm in t he  people.   Th ese essays havebee n cr i ti c ized by ma rx is t s   authors.

    Th ey ap p ra ise theo re ti ca l s tud ies on c lass consc iouness and have pu t in the

    in te i ligen ts ia som e obstac les for stud ies on nat iona l   identity.

    Th is au tho r es t ima te ,  however,   mu ch m ore re levan t to s tudy the p rob lem o f na

    t iona l iden t it y because i t is m ore bas ic tha t c lass consc iouness . He be l ieves tha t

    each gen era t ion m ust d iscov er the esse nt ia l t ra i ts o f braz i l ian

      identity.

      I f the

    na t iona l iden t it y is chang ing a long the yea rs the re a re som e s tab i li ty to be

      consi-

    dered.

    In two ar t ic les the p rob lem of braz i l ian ident i t y is

     studied.

      First,   the theore t ica l

    asp ec t s o f p rob lem , bas ic cons t ruc t s and me thodo logy o f resea rch a re  demons-

    t ra ted by the au tho r in the p resen t   article.   I n the second a r t ic le ( to ap pea r in

    one o f the nex t issues o f 'SÍN TE SE ) is com m un ica ted an exp e r imen ta l s tudy

    wi th s am p les of braz i l ians of Ribe i rão   Preto,   Fran ca and Jaú - São Pa u lo Sta te

    —wh ere the

      image

    rea l and idea l a re ana lysed by s ta ti ti sca l

      tests.

      I f the rea l

    image

    of braz i l ian is very  negative there are , in the   future,   g rea t exp ec ta t ions

    o f a new m ode l o f ma n in the idea l  image .

    78