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poesias da Mel Redi
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“QUANDO O JARDIM DA MINHA ALMA
FLORESCEU POR INTEIRO...”
Maria Emília Leitão Medeiros Redi
CORAÇÃO JARDINEIRO
Busca coração jardineiro,Lá em oculto Éden, despertar
Colorida primavera a perfumar...E o verso da alma, invadindo o canteiro,
Faz o Amor-Perfeito desabrochar...Miosótis azuis suspirando saudade,Promessas de não esquecer jamais
- no coração apaixonado - o forte pulsar.Pelos encantos mil de um olharA curiosidade vem perguntar :
- Bem – me – quer ? Mal – me – quer ?E as margaridas deixam-se despetalar...
As rosas amarelas tão singelas.As vermelhas confessam paixão,
Causam arrepio...sensação...As rosas, entre as flores, as mais belas,
Refletem sentimentos por inteiroQue se guardados no peitoConsomem o hospedeiro,
Se expandidos, iluminam a solidão.Imperioso se faz sina, no coração jardineiro,
Precioso e mestre primeiro- este dom – que é o AMOR !
POETA
Ah! que dera tivesse a glóriade ser poeta!
É ele o mágico das palavras,Exorciza dores
Nos versos que escreve.
Arranca da alma as venturas,Conta do amor as vitórias,
Mostra o caminho da alegria,Mesmo quando a alma chora...
Bendito poeta que em rimas falaDas promessas do amor que nos embala!
Mesmo ao parecerNão nos restar mais nada,
A poesia acalenta a alma cansada...Num átimo voltamos à vidaCom esperança renovada!
FACES DO AMOR
Amor é vento que chora,Força ou fraqueza,Fogo que queima.Anjo ou demônio ?
Alegria...Tormento ?Muda a aparência...faz feliz...
Dá esperança.Deus o criou. Se não o fizesse,
Alguém o inventariaPara dar à vida
Sua razão de existir.Cala o medo do amanhã
E oferta à almaTodas as suas faces...
ÊXTASE
Triste olhar no horizonte perdido.Quem dera resgatasse brilhoEm insólito amor refletindo
Suave calor do sol ao entardecer!Sublime enlevo em corpo morno, fugidio,
Insiste a alma em emoção extravasarArdente e incontrolada!
Transcende murmurante o âmago,No febril desejo de ter um bem,
Fazer feliz sem venezianas máscaras.À corajosa empreitada se entregaO valente coração descompassado
- Apaixonado ser - em sublime êxtaseDeixa-se estremecer...
LAMENTO
A fumaça pretaNo coração da floresta,
Torna o verde cinza.A natureza destruída,
Triste vitóriaDa ambição desmedida!
Animais carbonizados,Esperança consumida
Nas labaredas da vaidadeDos predadores da Vida.
A alma da terraCala o grito
De indignação e dor
No desamparo esquecidaPela humanidade insana
Que só lamentaráQuando faltar água e comida!
CORRUPÇÃO
O grito ensurdecedor do egoConta como vitória
Estar acorrentado à miséria,Mas, atolado na lama da corrupção
Pouco se importa com o irmãoMorrendo de inanição
Sob a ponte, ao relento...
Nas labaredas da vaidade flamejamorgulho e poder efêmeros.
Não imagina se decompondo sob a terra- Matéria sobrepujando a essência, a natureza do ser –
Deus, piedadePara com o usurpador,
Da esperança e da dignidade,Que joga o irmão na descrença,
No sofrimento, na dor!
FELICIDADE
Quando o brilho do solContempla minh´alma ao romper do dia,
Um gozo supremo de alegriaFaz-me a Deus voltar o pensamento.
No instante deste silêncio mágicoSaboreio o infinito canto do universo
Onde o esplendor da SabedoriaFala aos sentidos versos do meu ser...
Felicidade inenarrávelQuando do solitário vazio fazMultidão luminosa estilhaçar
raios de ardente amor...
Na envolvente Luzas células vibram fartamente
De Felicidade e Paz...
SER
Deixa-se fluirna suavidade do eterno bailado
na imensidão do espaçoa única certeza:O frio concreto.
No mistério, o incerto?Que o pensamento
Ás vezes não alcança- Alma pueril, criança...
Ilude-se no amontoado atômico,Tal qual não fosse cômico, irônico
O destino deste corpo!!!Pobre corpo! Que já nem é.
MOMENTO
Amanhece...O sol raiando em meio ao bosque,
Mais parece uma bola de fogoContagiando-nos com seu esplendor!
Como Fênix, renasço calmaDa noite mal dormidaDos sonhos desfeitos
Dos desenganos que pesam na alma.
Fujo do corpo em pensamento,Busco no sonho um alentoFlutuando pelas nuvens,Alço vôo no céu infinito...
Por um momentoEncontro a outra
Que se encerra em mime deixo-me apenas – SER !
MULHER
É ser de Deus fiel operáriaEnfrentando com fé a vida !!!
É descobrir-se por inteiraSendo eterna aprendiz de si mesma...
É desdobrar-se em muitasE a cada dia encarnar-se em mil:
- Mãe, companheira, amiga, arrumadeira,Motorista, médica, psicóloga, enfermeira,Contabilista, administradora, cozinheira,
Advogada, juíza, jornalista, lavadeira,Farmacêutica, veterinária, costureira,
Agrônoma, dentista, ecologista,Professora, escritora, poetisa, cabeleireira...
É ainda se fazer faceira e, artista,Juntar dos sonhos partidos todos os cacos
Resgatando sentimentos, desejos insatisfeitos...Quase sempre,
por trás do sorriso lindo escancarado,traz no coração uma lágrima escondida,
uma dor que lhe dilacera a alma...Mesmo assim, segue, resoluta e confiante,
defendendo, como leoa,todos que lhe são caros...
Este sublime ser que assemelha-se a um anjo,com certeza, deve ser
Uma grande feiticeira...
VIDRAÇA
Flui em lentas marchasA vida por entre nuvens
Negras dos fortes temporais,Cinzas das mortas ilusões...
Vulgares chuvas fazem-seGranizos estilhaçados,Esparsos sentimentosComo vidro num sopro
Morrendo ao quebrar-se...
Estupidez servil...alma viajante,De arroubos felizes despojada,
Farta-se de tanta vida amargurada...Move em esforço a constante
Esperança de encontrar-seNo desatino constante de perder-se...
QUEM É ESTE ANJO?
Quem é este anjo de singular beleza,De sublime amor – encarnando brilho –
No coração, na alma?Se frágil, agiganta-se em coragem,
Enfrenta feras para defender o filho?Mãos calejadas...delicadas...carinhosas...Estendidas em todo os momentos da vida!
Mesmo quando feridasAconchegam, afagam, sustentam.
Olhar de incomparável ternura,Encoraja-nos à confiança
De que após o temporal vem a bonança.
Quem especialmente disse sim a DeusE, contente, no ventre nos acolheu
Dando-nos vida, amando incondicionalmente?Este anjo bom, só pode ser você – MAMÃE!
SAUDADE
Muitas vezes, uma lembrança queridaMe afaga a memória e acalma os ais...
Aquele sorriso único,Uma palavra amiga,Sua mão estendida,
O conselho sábioDo meu anjo protetor – você, PAPAI!E uma correnteza salgada, incontida,
Jorra pela face toda a saudadeDe um tempo em que a felicidade
Coloria-me os dias naqueles abraços de cais.Tudo passa! Só sua imagem querida
Permanece pela eternidade – e um dia mais –Saudade! Saudade!
É Dia dos PAIS!
FAMÍLIA
Manhã de perfumada primaveraCamufla nas mil manhas da ramagem...E na orquídea, envolvente de quimera,
Faz-se regaço antiga hospedagem.
O desfile saudoso de outra era,Momento de ternura dessa imagemQue no seio da família ainda impera
Tanto amor verdadeiro na bagagem...
Passos se distanciam no caminho...Um tempo carregado de carinho
Gravando para sempre na lembrança:
Do pai o abraço forte mais sentido.Da mãe o colo quente mais querido.
Do irmão os sonhos todos de criança!
MINHAS FILHAS
Meninas dos meus olhos, tão amadas!Suas trilhas palmilham a confiança
Deixando suas histórias consagradasNas bagagens das mil perseveranças.
De belos sonhos vão alicerçadas:Na Verdade, no Bem e na Esperança...
Colhem hoje os frutos das ArcadasDo Largo de São Francisco – a Pujança!
Cativas se fizeram da alegriaNa morada da tal felicidade
Onde é fato e, não fita, a amizade!
Na memória um grito de saudadeForte clamor – de antiga mocidade –
A ecoar pela Velha Academia!
DESERTIFICAÇÃO
Pela terra-mãe o eco do tormentoNo compasso dos passos dessas dores,
Desertifica a alma em desalentoA ganância de ignóbeis predadores.
O rio vai secando em caminho lentoNas matas onde o cinza encobre as cores
As aves emudecem em lamentoE a natureza perde seus amores.
Triste essa estrada que a ambição descreveE a voz da consciência embrutecida
Sorve da terra a lágrima vertida.
Lá da janela, o sonho bem mais breveÀ espera da manhã entardecidaPelo concreto a agonizar a vida!
É CARNAVAL
O momo finca seu reinadoE o povo em euforia se agita
No remelexo do samba cadenciadoMascarado de falsa alegria...
Fibrila no coraçãoDo gigante país da fantasia
O rítmo degradante da miséria.
Sob o céu do brilhante Cruzeiro do SulFixam-se as moradas das exclusões,
Provocadas, sem escrúpulos,Pelos corruptos foliões,
Da amada Pátria – os vendilhões –
E na avenida do desamparoVai-se perdendo de vistaO desfile do desgraçados
Que há muito foram condenadosPela implacável justiça
Da sociedade individualista.
CAMINHOS DO NÃO CHEGAR
QuemEntrega corpo e alma
Às ilusórias promessas de felicidadeEscraviza corações
Em amargo desterro.
Nos obscuros caminhos buscaAplacar dores da vida
E perde-se numa noite infinita...
Mas, da Graça Divina,Em súplica ardente
Faz do lodoO lírio da esperança que renasce.
Coragem, ânimo, vida!Para quem a Deus mostra sua face.
DE UM ÍNDIO
Da terra – mãe somos todos filhos:As árvores, os frutos, as flores perfumadas,
O cervo, o cavalo, a coruja, a águia...As cristas rochosas, os sumos das campinas,
Os rios, os mares, as grutas silenciosas...
Se somos todos irmãosPor que tantos conflitos, tanta devastação?
Meu povo definha a cada geração.E o homem civilizado impõe a destruição.
Meus ancestrais, antigos povos das matas,Vibravam com o sussurro do vento
Sobrevoando as lagoasrecendendo a pinheiro
Ou purificado pela chuva...E este ar tão precioso
Reparte o Grande EspíritoCom toda vida que sustenta!
HojeOs tambores silenciaram-se
E o sinal de fumaçaSó nos trás desespero
Pela terra que aos poucosVai, tristemente, desertificando!
LAURA
( à querida tia, pelos 92 anos)
Da imagem no espelho refletida,Pelo corpo em constante metamorfose,
Sobrepuja-se a almaQue aos olhos empresta o brilho.
Suave figura de outonal crepúsculoEternizando perfumada primavera.
Tempo de quimera!
Sulcos na faceO tempo desfaz
No sorriso de criança...
A sabedoria expressa nas palavrasDe quem, com a vida, aprendeu a lidar!
Da flor em seus cabelos( como cantava o seresteiro )
apenas um perfume indelével restou.Mas, o amor ainda acalenta seu coração
Qual verdadeira aura.Oh! Laura!
ELA
Através da alma escancaradaAvistou no lago de cristal refletidaImagem gasta, matéria moldada,Pelo cansaço do tempo corroída.
Nela, tantas fêmeas encarnadas:
A vaca pacífica matronaA tigresa dissimulada
A gata mansa brincalhonaA pomba-rola apaixonada.
A coruja sábia vigilanteA cadela fiel companheiraA águia audaz exuberante
A loba voraz guerreira.
Agora, quem é aquela?
Que se espelha, sem anseios,Sem causa, sem efeito, sem seios?
Não é anjo nem fera!
Pequena luz brilhante e bela.Um ponto apenas – era Ela!
INCONSTÂNCIA
Qual águia rasgando o espaço,A alma, incansável ave da esperança,
Na imensidão etérea mergulhaEm busca do ninho abrigo.
À imagem mutante empresta brilhoE num lampejo sutil
Encarna simples figuranteQuando a vida à matéria torna.
E seguem-se infinitamenteOs momentos que giram
Voluptuosas voltasNas rodas do tempo
No paradoxo sem fimDas efêmeras ilusões...
COERÊNCIA
Pobre criaturaQue investe contra o irmão
O dedo em riste,Afirmando-lhe vícios e o difama!
Em oculto, no escaninho da alma,Jaz angústia e desencanto,
No vislumbre do espelhoQue a reflete.
Mas, se buscar transformaçãoCom persistência e humildade,
O tempo – melhor amigo –Silenciará gemidos,
Através da voz de DeusNo âmago pedindo:
Compreensão e PaciênciaPara consigo...
O RESGATE DE MARIA
Pelas ruas do abandonoSem família, sem um sonho,
Crescia a menina, rumando desenganos...Maria das esquinas, nas noites a perdida.
Pobre Maria!Alma vencida caminha
Sob chuva fina,Escorregando os passos no asfalto,
Buscando ninho abrigoPara o pesado fardo,
Do seu ventre não abortado.Sobre a terra fria, ao relento,
Em um campo sombrio,Deixou desamparado
O objeto de seu martírio.Maria partiu com o vento.
Não olhou para trás um só momento.
Sentimentos desconhecidosNa consciência gritavam:
- Maria! Maria! Não seja desgraçada!Vai buscar o menino, Oh! Mãe desnaturada!
Por desvario arrebatadaCorreu resgatar o pequenino.
Nesta noite de pura magiaAnjos a assistiam –
Maria mudou seu destino,Encontrando da vida o sentido,
Quando com imenso amorNos braços aconchegou o filho!
AH! MINHA TERRA!
Quando do sol espargem os primeiros raiosBanhando o alvorecer de alegria e esperança
Os pássaros em revoadaSaúdam o despertar de um novo dia.
No alto da Colina, sentinela alerta,O Bom Jesus abençoa a Criação.
A cidade desperta!No corre-corre, as pessoas sem parar
Deixam despercebidas a horasE a simplicidade que ilumina
A história de suas vidas.Paro. Respiro fundo.
Mergulho em lembranças...E de lá resgato saudade:
Da infância vividaDo regaço materno
Do abraço forte de meu pai,Do irmão, o sorriso franco e fraterno...
Saudade da gente queridaDas cadeiras nas calçadas
Das brincadeiras de criançasDas tardes calmas e perfumadas...
Saudade do forte rolar do rioQue da Noiva roubava o silêncio
E fazia espumar seu véu...Ah! Que tempos saudosos!
De sons abafados hojePelo ruído do progresso...
PIRACICABA, terra que me viu nascer,um dia acolher-me-á no momento do regresso!!!
CONFINAMENTO
Deitou-se na beira da estrada,Despida de fantasias,
O olhar perdido no nada,Esperando a tão sonhada alegria...
Passou assim um dia inteiroE mais outros sucessivamente.
Nada podia movê-la de seu intento!
Deixou-se ficar ao relento, sem roteiro...Caída à margem do canteiro...indolente,Como descartada pelo próprio jardineiro.
E não germinou...Nem desabrochou...Não coloriu, não perfumou!
Só ficou num estado ...SEMENTE!
E AGORA?
Na escuridão do silêncio de afetosO coração descrente soluça
A derradeira esperança de ser feliz...Triste olhar apagando brilho
Esvaindo-se aos poucosNas noites perdidas em solidão.Descrente o coração pressenteNo lampejo de sol, feito magia,
Um profundo olhar irradiando vida...Percebe a existência invadida
Por sensação estranha- Não é minha...
E encontro-me perdidaNa manhã que iluminou meu dia...
FILHA DO ABANDONO
Flutuava na LagoaEm negro saco de lixo
Bela criancinha clamandoPor sua chance de vida.
Quebrando o silêncio da misériaDebateu-se e chorou forte
Lutando com valentiaContra a imposta e triste sorte...
Inocente criatura! Alma gigante!Pequenino ser
De berço desamparado,Deu-nos, com sua lição vivida,Um grande e belo aprendizado!
BUSCA
Olhares se cruzam,Mergulham um no outro,
Vão fundo!
No âmagoA bênção do encontro.
Almas que buscamNuma ânsia louca e incontida
De encontrar-se...Talvez, quem sabe,
Na eternidade!
METAMORFOSEANDO
Oh! Deus! Ouve deste filho o pranto!Qual furor insano do mar
Brigando com o vento em desespero,A espumar brancas ondas nos rochedosNa tentativa infeliz de alcançar o céu...
Caiam todas as máscaras teatraisQue da vida lhe marcaram a face
E mostra com sinceridadePuro coração
Despojado de humanas vaidades...
Faça-se do triste choroO riso de perpétua felicidade
De quem do Amor se fez substantivocomo presente do Verbo – Ser !!!
LEMBRANÇAS
Na alma lampeja lembrançaDe época distante e saudosa.
Contente a natureza sorriaCom a fraternidade de seus filhos.Entendiam-se homens e animais
Neste tempo de bonançaRetido no escaninho da memóriaPerpetuando almejados sonhos...Vontade refletida na esperança
De que à vida torne, com urgência,À necessária e boa convivência!
NAVEGANTE
Esquecida, a nave desliza,Sob abarrotado céu de estrelas,
Nas águas azuis do marOnde a fria imagem da lua
DespudoradamenteVem se aconchegar...
Quando em luta– mar bravio e vento forte –Extravasam mil sentidos
Rompendo a melodia do silêncioFustigando no coração navegante
Triste e insólita melancolia.
Sem forças, a solitária naveDeixa-se ao destino, ao desalento...
E a presença que não se olvidaVai ao longe sumindo
Num amargor desesperado...
Como feitiço, faz-se cativo n´almaO raio de sol que vai morrendo
No horizonte dos seus dias descontados...
PRISIONEIRO DE MIM
Oh! Angústia insanaQue faz delirante a mente,
Perplexa, insone,Perder-se em conflitos interiores,
Infindáveis tormentos!Quem dera ao pássaro triste,
Prisioneiro do “ Hades “,Ressurgindo dos escombros,
Permitisse a fuga, do que em si se esconde...E rompendo os grilhões da dor sufocante
Abrisse os braços em vôo livre,Abraçando alturas infinitas,
Eternizando, enfim, a fremente vontadeDe viver em liberdade...
INFÂNCIA ROUBADA
Criança flor!Que mãos arrancamDo jardim teu sorriso
Teu brilho de esperança?No teu peito puro calam
Angústias infindasDe um lar desfeito.
Dormes nas ruas, nos guetos,Sob marquises, no relento.
Descalça de sonhos...Envolvem-te cinzas
De um pranto inaudível.Insensíveis corações!
Pequeno botão a desabrochar,Que o destino se encarrega tão cedo
Da flor o colorido roubar!
OH! VIDA!
Vidinha tonta sem sonhos deslizaDoida a galopar horas indomáveis,A seguir velhos rumos e onde pisa
Deixa laços nos rastros incontáveis.
Sinos dobram as esquinas sob a brisaDas ilusões perdidas e inefáveis...
E nos olhos a alegria agonizaA escorrer em prantos infindáveis.
O brilho da saudade entardecidaChicoteia o céu impunemente,
No crepúsculo, triste luz perdida...
Segue longe a esperança emperdenidaCarregando seu fardo inutilmente:
Tão surda se fazendo a ti – Oh! Vida!
2010