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NOVOS ASPECTOS DA SAÚDE PÚBLICA / RECENT ASPECTS OF PUBLIC HEALTH (1) Qualidade de vida e meio urbano. A cidade de São Paulo, Brasil* Quality of life in an urban environment. S. Paulo city, Brazil Oswaldo Paulo Forattini** FORATTINI, O.P. Qualidade de vida e meio urbano. A cidade de São Paulo, Brasil. Rev. Saúde públ., São Paulo, 25: 75-86, 1991. Apresenta-se a conceituação de qualidade de vida, considerando-se a possibilidade de sua avaliação. Assinalam-se-lhe as feições gerais, de caráter individual e coletivo, acompanhadas dos aspectos principais relativos aos possíveis determinantes. Focaliza-se a cidade de São Paulo, Brasil, no que concerne aos aspectos coletivos e individuais da qualidade de vida de seus habitantes. Descritores: Qualidade de vida. População urbana. * Publicação financiada pela FAPESP. ** Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo - São Paulo, SP - Brasil. Separatas/Reprints: O.P. Forattini Av. Dr. Arnaldo, 715 01255 - São Paulo - Brasil. (1) Série comemorativa do 25 o aniversário da Revista de Saúde pública. Introdução Em sua tão conhecida conceituação de "saúde", a Organização Mundial da Saúde (OMS), a certa altura emprega a expressão "bem-estar físico, men- tal e social". Como se depreende facilmente, isso deu origem a discordâncias de interpretação que, de maneira geral, oscila entre a que aceita o mode- lo darwiniano na antropologia, e aquela que advo- ga a necessidade de adequá-la à condição humana. São portanto dois pontos de vista extremos, dentre os quais certamente se situa a verdade, esta representada pelo papel decisivo desempenhado pela adaptação e evolução cultural. Se, em qual- quer tempo, for considerada a população, nota-se que ela participa de conjunto de estratégias adap- tativas inter-relacionadas, elaboradas por in- divíduos e comunidades, e objetivando enfrentar situações presentes e futuras. Daí o envolver do planejamento, com a finalidade de determinar o tipo de participação humana, e entendendo-se, as- sim, a sobrevinda de condições favoráveis a erros e manipulações. Conseqüentemente, é de se admitir que, qualquer que seja o momento, a situação que se apresenta constitui estado dinâmico onde são as- sumidos compromissos entre indivíduos ou grupos e os objetos planejados para as etapas futuras. Entre estes, inclui-se fundamentalmente a quali- dade de vida; a qual, em sua essência, pode ser tra- duzida pela satisfação em viver. Conceituação É de se entender com facilidade os obstáculos que se apresentam para se alcançar conceituação precisa do que vem a ser qualidade de vida. O seu caráter subjetivo, em especial modo em nível indi- vidual, constitui parte que lhe é praticamente ine- rente, motivo pelo qual não deixa de exercer a sua influência. Para alguns, a qualidade de vida seria a somatória de fatores decorrentes da interação entre sociedade e ambiente, atingindo a vida no que con- cerne às suas necessidades biológicas e psíquicas (Coimbra 3 , 1985). Tal orientação, no sentido de priorizar as necessidades, tem sido geralmente acei- ta, reconhecendo-se assim certo número delas. No estado atual da sociedade, formam trama cada vez mais complexa, ao longo da qual se desenrola a vida humana. Considerando-se as que são inerentes e as que são adquiridas, pode-se verificar a sua dis- tribuição pelas diferentes áreas, física, psicológica, social, de atuação, material e estrutural. Dessa ma- neira, a qualidade de vida e definida como sendo o grau de satisfação atingido, no âmbito de tais áreas (Hörnquist 8 , 1982). Genericamente, reconhecem- se dois tipos de necessidades específicas, as concre- tas e as abstratas. Aquelas são de caráter geral, como alimentação e a moradia. As abstratas reves- tem-se de aspecto mais particular, como a auto- estima. Seja como for, há de se dizer que a concei- tuação da qualidade de vida ainda não logrou acei- tação universal. Argumenta-se que essa expressão presta-se a ser utilizada para conceito muito poli-

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NOVOS ASPECTOS DA SAÚDE PÚBLICA / RECENT ASPECTS OF PUBLIC HEALTH(1)

Qualidade de vida e meio urbano. A cidade de São Paulo, Brasil*Quality of life in an urban environment. S. Paulo city, BrazilOswaldo Paulo Forattini**

FORATTINI, O.P. Qualidade de vida e meio urbano. A cidade de São Paulo, Brasil. Rev. Saúde públ.,São Paulo, 25: 75-86, 1991. Apresenta-se a conceituação de qualidade de vida, considerando-se apossibilidade de sua avaliação. Assinalam-se-lhe as feições gerais, de caráter individual e coletivo,acompanhadas dos aspectos principais relativos aos possíveis determinantes. Focaliza-se a cidade deSão Paulo, Brasil, no que concerne aos aspectos coletivos e individuais da qualidade de vida de seushabitantes.

Descritores: Qualidade de vida. População urbana.

* Publicação financiada pela FAPESP.** Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde

Pública da Universidade de São Paulo - São Paulo, SP -Brasil.

Separatas/Reprints: O.P. Forattini Av. Dr. Arnaldo, 71501255 - São Paulo - Brasil.

(1)Série comemorativa do 25o aniversário da Revista de Saúde pública.

Introdução

Em sua tão conhecida conceituação de "saúde",a Organização Mundial da Saúde (OMS), a certaaltura emprega a expressão "bem-estar físico, men-tal e social". Como se depreende facilmente, issodeu origem a discordâncias de interpretação que,de maneira geral, oscila entre a que aceita o mode-lo darwiniano na antropologia, e aquela que advo-ga a necessidade de adequá-la à condição humana.São portanto dois pontos de vista extremos, dentreos quais certamente se situa a verdade, estarepresentada pelo papel decisivo desempenhadopela adaptação e evolução cultural. Se, em qual-quer tempo, for considerada a população, nota-seque ela participa de conjunto de estratégias adap-tativas inter-relacionadas, elaboradas por in-divíduos e comunidades, e objetivando enfrentarsituações presentes e futuras. Daí o envolver doplanejamento, com a finalidade de determinar otipo de participação humana, e entendendo-se, as-sim, a sobrevinda de condições favoráveis a erros emanipulações. Conseqüentemente, é de se admitirque, qualquer que seja o momento, a situação quese apresenta constitui estado dinâmico onde são as-sumidos compromissos entre indivíduos ou grupose os objetos planejados para as etapas futuras.Entre estes, inclui-se fundamentalmente a quali-

dade de vida; a qual, em sua essência, pode ser tra-duzida pela satisfação em viver.

Conceituação

É de se entender com facilidade os obstáculosque se apresentam para se alcançar conceituaçãoprecisa do que vem a ser qualidade de vida. O seucaráter subjetivo, em especial modo em nível indi-vidual, constitui parte que lhe é praticamente ine-rente, motivo pelo qual não deixa de exercer a suainfluência. Para alguns, a qualidade de vida seria asomatória de fatores decorrentes da interação entresociedade e ambiente, atingindo a vida no que con-cerne às suas necessidades biológicas e psíquicas(Coimbra3, 1985). Tal orientação, no sentido depriorizar as necessidades, tem sido geralmente acei-ta, reconhecendo-se assim certo número delas. Noestado atual da sociedade, formam trama cada vezmais complexa, ao longo da qual se desenrola avida humana. Considerando-se as que são inerentese as que são adquiridas, pode-se verificar a sua dis-tribuição pelas diferentes áreas, física, psicológica,social, de atuação, material e estrutural. Dessa ma-neira, a qualidade de vida e definida como sendo ograu de satisfação atingido, no âmbito de tais áreas(Hörnquist8, 1982). Genericamente, reconhecem-se dois tipos de necessidades específicas, as concre-tas e as abstratas. Aquelas são de caráter geral,como alimentação e a moradia. As abstratas reves-tem-se de aspecto mais particular, como a auto-estima. Seja como for, há de se dizer que a concei-tuação da qualidade de vida ainda não logrou acei-tação universal. Argumenta-se que essa expressãopresta-se a ser utilizada para conceito muito poli-

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morfo, incluindo necessidades extremamenteheterogêneas, e ao sabor das opiniões dos váriosautores (Dam e col.4, 1981).

Sob o ponto de vista da saúde e diante do estadoatual da questão, há de se convir em duas maneirasessenciais de encará-la, a individual e a coletiva. Aprimeira, destina-se aos casos que, ao serem afeta-dos pelo agravo, sofrem conseqüente decréscimode sua capacidade funcional. A segunda refere-seao resultado da presença e atuação de determi-nantes da doença e comprometimentos da saúde,tanto da natureza física, como biológica e social.

Avaliação

Às dificuldades de conceituar a qualidade de vidasomam-se as referentes às possibilidades de suamensuração. Sob o ponto de vista assistencial, o de-senvolvimento tecnológico da prática médica propi-ciou a análise do bem-estar de pessoas doentes ouidosas, a guisa de complementação dos estudos demorbidade e de mortalidade. De forma geral, daí têmresultado medidas que podem ser consideradascomo objetivas e subjetivas. É fácil de depreenderque as primeiras se fundamentam em indicadoresconcretos, a exemplo da taxa de desemprego e a den-sidade habitacional. Quanto às subjetivas, decorremdo uso de indicadores abstratos, baseados em infor-mações colhidas diretamente dos indivíduos quecompõem a população em estudo. Obviamente,qualquer desses procedimentos, tomado isolada-mente, não poderá fornecer estimativa satisfatóriado grau da qualidade de vida de determinada comu-nidade.

O estado de satisfação ou de insatisfação cons-titui, na verdade, experiência de caráter pessoal.Tal aspecto intrínseco projeta-se extrinsecamenteno propósito de obtenção de melhores condiçõesde vida. Assim sendo, o grau de ajustamento às si-tuações existentes, ou então, o desejo de mudança,poderá servir para avaliar a presença ou ausênciade satisfação. Dessa maneira, partindo-se da pre-missa de que é a opinião do indivíduo que identifi-ca a ação de fatores determinantes da qualidade desua vida, estes têm sido agrupados como segue(Hörnquist9, 1990):

1 — orgânicos: saúde e estado funcional.2 — psicológicos: identidade, auto-estima,

aprendizado.3 — sociais: relacionamento, privacidade,

sexualidade.4 — comportamentais: hábitos, vida profis-

sional, lazer.5 — materiais: economia privada, renda, habi-

tação.6 — estruturais: posição social, significado da

própria vida.

Assim procedendo, tal avaliação tem sido apli-cada em indivíduos portadores de doenças e agra-vos diversos, além de idosos e os sujeitos a vícioscomo os de dependêcia a drogas. Em muitos casospôde-se observar efeitos benéficos sobre os esta-dos depressivos que afetam essas pessoas.

Em que se pese o aspecto individual acabar se re-fletindo no coletivo, é óbvio que a qualidade de vidada população, como um todo, somente poderá seravaliada mediante o uso de indicadores concretos.Nesse particular, poderá ocorrer discordância emrelação aos resultados obtidos com os abstratos. Noentanto, é a estrutura social, em seu sistema de clas-ses, que determina a qualidade de vida coletiva,como resultante das condições do meio que se de-senvolvem nessa sociedade. Essa concepção socialda qualidade de vida, data já de algum tempo, moti-vo pelo qual são bastante numerosos os indicadoresdestinados à sua avaliação. De maneira ampla, épossível agrupá-los em relação aos vários aspectos,como segue (Papageorgiou 14,1976):

1 — ambientais: qualidade da água, do ar e dosolo, domesticação e domiciliação, acidentalidade.

2 — habitacionais: disponibilidade espacial econdições de habitabilidade.

3 — urbanos: concentração populacional, co-municação, transporte, segurança, poluição.

4 — sanitários: assistência médica, morbidade,mortalidade.

5 — sociais: sistemas de classes, nível socioe-conômico, consumo, necessidades, sexualidade,condições de trabalho, lazer, sistema político-administrativo.

Todos esses aspectos, além de vários outros,têm sido utilizados na elaboração de indicadoresobjetivando determinação quantitativa. Todavia,como inevitavelmente ocorre, eles se inter-relacionam intimamente, e tal sistematização porcategorias definidas, torna-se bastante discutível.Diante disso, prefere-se adotar orientação geralque consiste cm considerá-los, conjuntamente,como de caráter social.

Embora as medidas utilizadas na avaliação daqualidade de vida coletiva tendam ao uso de indi-cadores concretos, a questão torna-se particular-mente complexa quando se objetiva avaliar deter-minadas situações e comportamentos. Em decor-rência, as soluções postas em prática para elevar onível da qualidade de vida populacional são geral-mente parciais, embora se fundamentem em indi-cadores específicos para cada caso.

O Ambiente Urbano

A cidade constitui ecossistema antrópico, onde ograu de artificialidade atinge seu nível mais elevado.

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Atualmente presencia-se o efeito do processo de ur-banização, em cada vez maior número de núcleos,chegando a praticamente desvincular o ser humanode seu relacionamento com a natureza. Daí decor-rem aspectos particularmente intensos e concrentra-dos em áreas relativamente limitadas. As con-seqüências fazem-se sentir a distâncias às vezesconsideráveis. E isso em virtude da necessidade deentrada maciça de energia para a zona urbana. Alémda representada pelos alimentos, sobressaem a doscombustíveis e da eletricidade. Captadas em locaisdistantes, são transformadas, concentradas e, quan-do possível, armazenadas para ulterior utilização.Como conseqüência, dá-se intensa produção deresíduos que representam a reversão ao estado nãoconcentrado, e que são constituídos principalmentepelos dejectos e pelo calor.

É de se considerar, pois, que o desenvolvimentodo meio urbano resulta em intensa e profunda mani-pulação do ambiente. Daí decorrerem acentuadasmodificações que recaem sobre a paisagem, a comu-nidade, o estado psicológico e fisiológico dos habi-tantes, além de darem origem a fatores culturais, tan-to econômicos como políticos que, isolada oucoletivamente, influem ou mesmo determinam aqualidade de vida da população ali residente. Assimsendo, pode-se enumerar, de maneira genérica, ascaracterísticas do ambiente urbano, como segue:

1 — afastamento e ausência de contato com omeio natural.

2 — concentração e elevada densidade popula-cional, em espaço limitado.

3 — predominância de atividade industrial e deprestação de serviço.

Como já foi mencionado, os indicadores relativosao ambiente urbano, tem sido usados em seu caráterconcreto. Assim procedendo, tem-se avaliado os as-pectos concernentes à morbidade, mortalidade,esperança de vida ao nascer e muitos outros. Nessaordem de idéias, a qualidade de vida coletiva é enca-rada como representando ou não, problema social. Eisso desde que ela, respectivamente, atinja ou não,nível considerado insatisfatório, de acordo com es-ses indicadores. No caso de se erigir em problema, écerto que sua solução independerá da atuação dos in-divíduos, tomados isoladamente, mas sim dependerádo comportamento da população, estruturada emsociedade. Esta, colocada frente à problemática,adotará atitude que poderá ser de aceitação, de convi-vência ou de tentativa de solução. Assim sendo, háque se considerar de que forma os fatores, anterior-mente citados, atuam no modo e na satisfação de vi-ver, em outras palavras, no bem-estar dos habitantesda cidade.

Desde o término da Segunda Guerra Mundial, as-siste-se o acentuado incremento do fenômeno da ur-banização, para o qual os autores têm aventado

múltiplas explicações. À clássica teoria do desen-volvimento industrial que fez crescer as cidades,acrescenta-se o da mecanização agrícola que leva,como decorrência, a mão de obra a se concentrar nomeio urbano. Quem, por que, e como, se engaja namigração rural-urbana, são questões que se filiam aaspectos da estrutura social e das condições sócio-econômicas, ou seja, do sistema de distribuição da ri-queza. Para alguns, pode-se distinguir os migrantesvoluntários, daqueles que não têm outra alternativapara a sobrevivência (Du Toit5, 1990). Seja comofor, tal tendência tem levado, pela sua feição desor-denada, à exacerbação dos aspectos urbanos, con-substanciada na concentração, comunicação, trans-porte, segurança e poluição. Em conseqüência,passam a influir intensamente na qualidade de vidada população, recaindo sobre os já citados determi-nantes que comprometem a satisfação de viver, tantono terreno individual como coletivo.

Em artigo como este, dificilmente se conseguiráabordagem, global e detalhada, de todos os aspec-tos atualmente envolvidos na determinação da qua-lidade de vida urbana. Embora a sociedade, comofenômeno ecológico que e, não seja feição privativada espécie humana, é-lhe peculiar a extrema com-plexidade que atingiu e não cessa de crescer.Deixando de lado o inevitável inter-relacionamentodos múltiplos fatores, talvez possa se considerar apreeminência dos mencionados no parágrafo ante-rior, na caracterização da vida nas cidades.

A Cidade de São Paulo

No Brasil, a evolução urbana, desde o período co-lonial, tem sido objeto de numerosos estudos e pu-blicações. Em nosso país, esse processo deformação das cidades iniciou-se como necessidadede estabelecer núcleos de colonização estáveis e dedefesa militar para, posteriormente e com o adventojá tardio da era industrial, passar a refletir o desen-volvimento econômico conseqüente. Isso foi parti-cularmente significante no caso do Estado de SãoPaulo, cuja Capital, após as primeiras décadas desteséculo, teve seu intenso crescimento como traduçãodesse desenvolvimento da economia local (Reis Fi-lho15, 1968; Singer21, 1968; Righi16, 1983). Assim,de maneira geral, a condição de país, basicamenteurbano, foi atingida pelo Brasil, no curto espaço detempo correspondente ao período de 1940 a 1970.

Antes dessa época, o país ainda era essencial-mente rural, uma vez que, em 1940, viviam nocampo 69,0% de sua população. Na década dosanos 60, a evolução do caráter eminentementeurbano de São Paulo corre paralelamente ao de-créscimo do contingente rural, evidenciando oprogredir da urbanização da população regional.

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Nesse período, o surto industrial da cidade de SãoPaulo cresce intensamente, alicerçado em infra-estruturas originadas de décadas anteriores, quan-do da expansão da economia cafeeira (Ronca19,1983). Chega-se assim ao final dos anos 80 comessa cidade transformada em metrópole ou mega-lópole, na qual as conseqüências para a qualidadede vida de seus habitantes resultam dessa evoluçãosem qualquer planejamento prévio e adequado, aomenos na proporção que seria de se desejar.

Aspectos Coletivos

Em publicação recente, a Prefeitura de SãoPaulo divulgou informações visando possível ade-quamento futuro da vida nessa cidade (Rolnik ecol.18 1990). Podem ser ali encontrados os princi-pais dados referentes ao perfil demográfico, à dis-tribuição de renda, ao uso do espaço e outrosaspectos que, no dizer desse documento, trans-formaram São Paulo na "cidade do subdesenvolvi-mento industrializado". Grande parte dos dadosapresentados a seguir, tem essa origem.

A região correspondente à chamada Grande SãoPaulo, conta atualmente com população da ordemde 17,4 milhões de habitantes, com crescimento ve-getativo influenciado pelo aumento da esperança devida ao nascer e conseqüente envelhecimento popu-lacional. Tal crescimento não é uniforme, mas simdestaca-se em determinadas áreas ("anéis") e na dé-cada dos anos 80 verificou-se certo equilíbrio entreo decenal vegetativo (16,33%) e o relativo ao mi-gratório (17,16%) no mesmo período. Contudo, esserápido crescimento, levando à expansão da área ur-bana, não se fez acompanhar, na mesma medida, poradequada ampliação de infra-estrutura básica, comosaneamento e transporte. Em decorrência, verifi-cou-se progressiva deterioração da qualidade devida, cuja direção assumiu aspecto centrípeto, isto é,caminhando da periferia para a zona central. É ver-dade que, a partir dos anos 70, pôde-se observar ex-pansão apreciável do abastecimento de água, da as-sistência médica e da cobertura vacinal relativa adeterminadas infecções. Isso resultou no aumentoda esperança de vida, com a mortalidade infantildescendo para estimativa de 35,1%c por ocasião dofim da década de 80. Contudo, nesse mesmo períodoobservou-se a ocorrência de aumentos localizadosdesse coeficiente, em relação a certos bairros, e atri-buídos a doenças pulmonares em menores de umano de vida, sugerindo piora das condiçõeshabitacionais (Baldijão apud Rolnik e col.18,1990).Esse fenômeno foi associado à proliferação de cor-tiços, ou seja, ocupação de edifícios residenciais de-teriorados "a posteriori". Considerando-se, naregião metropolitana de São Paulo em 1985, onúmero de pessoas pobres e não-pobres que não dis-

punham de abastecimento de água potável e nem desistema de esgotos domésticos, pôde-se obter o quesegue (Rocha17,1990):

o que resultou, para aquele ano, em mais de 4milhões de habitantes desprovidos desses serviçosbásicos.

O percentual correspondente a famílias pobreschegou a 42,1 em 1987 (Lopes e Gottschalk12,1990). No final da década de 80 e a início da de 90ainda não existem evidências que permitam suporalteração significativa desse quadro. É de se admitirpois que, como em anos anteriores, cm São Paulo ocusto de vida para os pobres continua sendo o maiselevado do país, devido especialmente aos gastoscom a alimentação (Rocha17,1990). Assim pois, talsituação traduz nível acentuado de desigualdade so-cial e de modificação na tendência da distribuiçãoespacial por parte da população de baixa renda.Nestes últimos dez anos, em vários bairros ou sub-distritos, verificou-se tendência ao aumento na parti-cipação das camadas de menor renda, chegando al-guns a acolherem até 60,0% de pobres entre seushabitantes. Assim, em 1977 existiam 34 áreas compredominância de população de baixa renda, maspredominantemente situadas nos limites do mu-nicípio. Decorridos dez anos, e portanto em 1987,embora tenham se reduzido a 25, e ainda na periferia,notou-se seu aparecimento em áreas mais centrais,através da proliferação de cortiços. Essa diminuiçãonão traduz melhoria do quadro da desigualdade, umavez que se verificou multiplicação de bairros onde semesclam camadas pobres e intermediárias. O que, naverdade, aconteceu, foi a redução dos níveis derenda familiar, atingindo também as camadas depadrão médio. Em decorrência desse achatamentonos níveis de remuneração, os vários estratos seaproximaram em várias regiões da cidade. Em ou-tras palavras, muitos pobres abandonaram suas mo-radias na periferia e passaram a ocupar cortiços nocentro da cidade. Por sua vez, os remediados tiveramde se deslocar de suas residências centrais, e passar amorar em zonas mais periféricas. A esse fenômeno,a já cilada publicação17 denomina de "diminuiçãoperversa da segregação sócio-espacial". Como re-sultado final, deu-se a pauperização, atingindo amaioria dos habitantes de São Paulo.

Há que se considerar que a pobreza não se limitaà insuficiência da renda, mas sim constitui condiçãoou síndrome que se relaciona a vários tipos de carên-cia. Entre estes, estão aqueles que se referem à parti-cipação do poder público no assim chamado salárioindireto, isto é, a educação, a saúde, a previdência

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social e outras. Tanto sob o ponto de vista qualitati-vo como quantitativo, a precariedade tem caracteri-zado esses serviços, permitindo a existência deprocesso espoliativo em evolução. Como resultado,em fins da década de 80, os favelados já constituemcerca de 8,0% da população da cidade, enquanto28,0% mora em cortiço e parte reside em casasprecárias da periferia. Acrescentando-se os que ocu-pam imóveis irregulares, ou seja, em desacordo como código de obras ou a lei de zoneamento, chega-se àcifra de 65,0% como sendo a da população de SãoPaulo que mora ilegalmente e pode também subme-ter-se a uma das supracitadas formas espoliativas demoradia. Ao se acrescentar alguns indicadores daqualidade de vida, como a presença de serviçosbásicos de água e esgoto, a mortalidade infantil e aeducação de primeiro grau, às faixas de populaçãode baixa renda, de até oito salários mínimos, pode-seobservar a presença de pobres em distritos e subdis-tritos. Ao lado de alguns, com completas redes deágua e esgoto, mortalidade infantil de 8,l%o e deparâmetro de escolaridade de primeiro grau cor-respondente a mais de 100,0, verifica-se a existênciade outros com 72,0% de abastecimento de água,11,0% de esgoto, mortalidade infantil de 75,9%o e omencionado nível de escolaridade inferior a 100,0(Rolnikecol.18,1990;Godoy7,1990).

Diante de tais condições, a densidade e a compo-sição populacionais não poderiam deixar de se re-fletir na forma de ocupação do espaço. Este, em seusentido público, evoluiu historicamente através dasmudanças em seu uso e organização, da predo-minância inicial religiosa para a finalidade profanade nossos dias (Marx13, 1989). No que concerne aoaspecto de sua utilização de caráter particular, veri-ficou-se que atualmente São Paulo é uma cidade ver-tical. Tal feição de verticalidade teve início nas pri-meiras décadas deste século, e foi progressivamenteestimulado pela necessidade de divisão do trabalhoe de aproveitamento dos terrenos urbanos centrais.Até a década de 40, a verticalização objetivava pre-cipuamente o estabelecimento de escritórios e locaisde atividade profissional. A partir dessa época, deu-se maior incremento ao destino residencial dos pré-dios de vários andares, expandindo-se pelos bairros.Multiplicaram-se assim os "edifícios de habitaçãocoletiva" ou "de apartamentos". Dentro da multi-plicidade e complexidade de interesses envolvidosno crescimento urbano, a verticalização constitui-seforma relevante de reprodução do capital, à qual sealiou nova modalidade de morar. Assim sendo, àpropiedade privada dos terrenos somou-se a capaci-dade de tornar rentáveis áreas objeto de planos ur-banísticos propostos pelo poder público (Souza22,1989). Com isso, São Paulo assumiu a sua identi-dade vertical a qual, ao passar por várias disposiçõeslegislativas pretendendo disciplinar o aproveita-

mento do solo na construção desses edifícios, resul-tou no aspecto que atualmente domina a paisagemurbana. Este pode ser eloqüentemente definido pelaexpressão muito apropriada de "pesadelo pai-sagístico", como verdadeiro retrato da desordem ar-quitetônica, mau-gosto acentuado, desrespeito àqualidade de vida dos habitantes, e da desenfreada eperversa especulação imobiliária.

Finalmente, outra das características coletivas devida na cidade de São Paulo, reside no processo decirculação. Os congestionamentos de trânsito cons-tituem fatos corriqueiros e tidos até como normais.Contudo, têm reduzido, cada vez mais, as veloci-dades operacionais nas vias, especialmente as ex-pressas, representadas pelos corredores deirradiação, em seus trechos mais centrais. A inexis-tência de ligações suficientes entre esses corredorese a presença de trechos de conflito entre diversasmodalidades de transporte, como de carga e de pas-sageiros, constituem outras facetas dessa pro-blemática urbana. Com isso, o índice de mobilidadeda população, definido como a relação entre onúmero de viagens motorizadas e o número de habi-tantes, decresceu de 1,54 viagem por pessoa em1977 para l ,15 em 1987. A precariedade do sistemade transporte paulistano também resulta da situaçãohabitacional de expansão periférica e da política deinvestimentos insuficientes em transporte de massae, à maneira de círculo vicioso, estimulando o trans-porte individual. Este, obviamente, acessível apenasa partir de determinado nível sócio-econômico.

Compreende-se que muitos outros aspectoscoletivos poderiam ser aqui referidos e considera-dos, tais como, o acesso ao lazer, o problema dadomiciliação e da domesticação, o emprego, sub-emprego e desemprego, entre outros. Claro estáque não caberiam no âmbito de simples artigo.Todavia, não se deve deixar de levar em conta, noque concerne à qualidade da vida coletiva, que to-dos esses aspectos agem de maneira interativa,constituindo verdadeira rede de determinantes dotipo de vida que levam os habitantes da cidade.

Aspectos individuais

Como se referiu nas páginas iniciais do presentetrabalho, o estado de satisfação ou de insatisfaçãoconstitui experiência pessoal. Em sendo assim, é aopinião individual que identifica a qualidade de suavida a qual, por sua vez, é a resultante da influênciade vários determinantes e situações conseqüentes. Obem-estar da pessoa, que, no dizer da OMS, deve serfísico, mental e social,-passa evidentemente, pelaconsecução de múltiplos aspectos, que correspon-dem aos determinantes da qualidade de vida indivi-dual, e que foram listados quando, parágrafos atrás,se considerou as possibilidades de sua avaliação.

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Sob o ponto de vista orgânico, os aspectos con-cernentes à saúde e ao estado funcional, incluem osde caráter psicológico, desde que se pretenda con-ceituar o "estado de doença". Este pois, como de-corrente de fenômenos que se desenvolvem no or-ganismo e que o levam a se diferenciar dos demaisda mesma população, tidos como normais. Daí re-sulta situação que o coloca, biológica e social-mente, em posição de desvantagem em relação aestes (Scadding20, 1980). Pode-se pois, em relaçãoa esse fenômeno, admitir a ocorrência de gradientede estados subjetivos, de bem e de mal-estar indi-vidual. E isso, a que atualmente se tende a dar onome de "enfermidade", seria portanto concernenteà situação subjetiva da pessoa afetada e decorrenteda própria conscientização de seu estado. Este, porsua vez, determina o que se pode chamar de "anor-malidade", em relação ao "papel de doente" que oindivíduo assume na sociedade. Corresponde pois àdisfunção social, afetando seu relacionamento comos demais componentes da sociedade onde vive eque, de maneira geral, compreende quatro aspectosessenciais. São eles, a irresponsabilidade pelo seuestado, a sua dependência em relação a outrainstância social, médica ou não, o seu afastamentodo convívio social, em grau diverso, e finalmente, aobrigação de buscar saída para essa situação (Tal-cott Parsons apud Almeida Filho 1, 1989).

Diante disso, é de se admitir que tal subjetivi-dade individual, resultante de estado particular,pode ou não vir a ser conscientizada pela pessoa.Para o primeiro caso, já se referiu no parágrafo an-terior as suas principais características de dis-função social. No entanto, a sociedade atual tendecada vez mais a induzir novas necessidades, paracuja satisfação, a qualidade de vida individualpode chegar a ser afetada, em maior ou menorgrau, e freqüentemente sem que a pessoa se cons-cientize disso. Além de todos os aspectos coletivosanteriormente mencionados, muitos outros exis-tem e são constantemente criados nesse sentido.Para se ater apenas a alguns deles, há que se dizerque o meio urbano da cidade de São Paulo tende acomprometer seriamente a identidade, o relaciona-mento, a privacidade, o lazer, a renda, a posiçãosocial e o significado da própria vida. De maneirageral, tais aspectos constituem-se em problemasque, ao afetarem a qualidade de vida, são de difícilsolução, uma vez que se apresentam comoconseqüentes da evolução e do "progresso" das so-ciedades modernas (Lauer11, 1978; Spirn23, 1984).

A problemática da restrição do espaço urbanoafeta não apenas os indivíduos de baixa renda, mastambém aqueles dotados de maior poder aquisitivo.Assim, por exemplo, com freqüência os moradoresem prédios de apartamentos dispõem de elevadascondições de conforto, às vezes ao nível de hotelaria,

como nos chamados "flats". Não obstante, se bemque os problemas relativos à qualidade de vida paraos menos abonados tenham pouca probabilidade deocorrerem em tais situações, podem surgir outros ti-pos de comprometimentos. O aspecto coletivo des-ses tipos de habitação tende a descaracterizar, cadavez mais, o que se pode entender como ambiente demoradia. Eis que, em tais formas de residência,sacrifica-se as sensações de liberdade, de privaci-dade e de individualidade, que cada ser humano ne-cessita e almeja para si e seus familiares. Acresce amonotonia elevada a grau extremo, a ausência de di-versificações paisagísticas e, às vezes, mesmo depaisagem que mereça esse nome, e a convivênciaobrigatória com vizinhança não previamenteescolhida. Diante de tais feições, consciente ou in-conscientemente, o morador de apartamento trans-forma a que deveria ser sua residência, mais em alo-jamento do que em moradia propriamente dita(Forattini6,1980).

A concentração urbana representa o meio idealpara o desenvolvimento da competitividade emtodos os setores. A televisão, atingindo metade oumais da população brasileira, tem na cidade os seusmaiores índices de audiência. Exerce papel rele-vante na aglutinação de pessoas, doutrinando-as, àmaneira de gigantesca catequese, para o consumode inúmeros produtos, nem sempre propiciadoresde melhores níveis de qualidade de vida. A publici-dade desenfreada, cuja única finalidade reside noestímulo ao consumo, muitas vezes age como deter-minante de poluição visual, sonora e ambiental,inundando a população com os mais variados meiosde propaganda. A imprensa quotidiana anuncia avenda, desde necessidades indispensáveis à vida,como o ar, a luz, a paisagem, até órgãos humanospara transplante. Diante de tal ambiente, conscienteou inconscientemente hostil, os indivíduos tendema optar pela solução da fuga. Esta, forçosamentetemporária, manifesta-se pelo êxodo que observamem São Paulo, por ocasião dos fins de semana e deferiados prolongados. À maneira de verdadeiracompulsão coletiva, ocorre nessas ocasiões a fugada população urbana, o que pouco resolve, a maisdas vezes levando para as estradas e outras cidadesa sua própria problemática para, em seguida, voltarcom ela. Porém, como decorrência, dá-se a prolife-ração de novo artigo de consumo, consubstanciadopela indústria do turismo que, à semelhança dapublicidade, propicia o surgimento de muitascategorias de profissionais que a ela se dedicam(Krippendorf10 , 1989). Como se pode ver, sãoinúmeros os aspectos individuais que determinam aqualidade de vida no meio urbano. O caráter subje-tivo de que se revestem, sujeita o seu estudo aavaliações abstratas, nem sempre precisas e viáveis.De qualquer forma, constitui-se em desafio para

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pesquisas altamente promissoras, tendo a cidade deSão Paulo como cenário.

Considerações finais

Admitem-se, de modo consensual, os inconve-nientes do meio urbano para a qualidade de vidado homem. Consubstanciam-se em seus aspectospoluídos, desgastantes, violentos, estressantes,socialmente isolantes e de difícil solução.Conhece-se razoavelmente bem a natureza dosproblemas desse ambiente, mas o mesmo não sepode afirmar a respeito da consciência de que ascidades são também das maiores contribuintes àsameaças ambientais do planeta, como um todo. Aaceleração e o incremento desmesurado do proces-so de urbanização, com a concentração cada vezmaior da população humana, além de deteriorar-lhe a qualidade de vida, tende a exaurir, em ritmonunca visto, os recursos da biosfera.

Diante desse alarme, verifica-se o início dereação a esse estado de coisas, com o surgimento deconsciência individual e coletiva. Daí a recente ên-fase no desenvolvimento do que se conhece pelonome de "ecologia urbana", como área de estudo ede planejamento. Nos países em que essa orientaçãoencontra-se em progresso, parte-se do princípio deser possível a existência de cidade ecologicamentesadia ("ecocity"), ou seja, em equilíbrio com o am-biente natural e com a sociedade que a habita (Bru-ning2, 1991). Assim, não haveria necessariamenteincompatibilidade entre a instalação de centro urba-no e a qualidade de vida do homem. A questão estar-ia principalmente na maneira de instalá-lo, de formaa oferecer a seus habitantes, cultura, educação,saúde, lazer, interação social, oportunidades de tra-balho e distribuição eficiente e justa de serviços ebenefícios. Tais objetivos constituem, atualmente,campo de intensos estudos, nas sociedades assim di-tas desenvolvidas, ou seja, do Primeiro Mundo.Quanto à terceiromundista cidade de São Paulo, osimensos problemas com que se vê a braços,desafiam os estudos destinados a encontrar soluçõesadequadas à qualidade de vida de seus habitantes. Éde se esperar que as futuras gerações de paulistanosse engajem nesse objetivo e encontrem meios depropiciar melhor vida para si e seus descendentes.

As fotografias (Figuras 1 a 11) que são apresen-tadas a seguir destinam-se a ilustrar alguns dos as-pectos de São Paulo, em relação à problemáticatratada no presente artigo.

FORATTINI, O.P. [Quality of life in an urban environ-ment. S. Paulo city, Brazil]. Rev. Saúde públ., S. Paulo,25: 75-86, 1991. The concept of the quality of life ispresented: its main aspects and the possibilities of this

assessment and measurement are presented. Communityand individual features arc described and related to cau-sal factors. S. Paulo city, Brazil, is seen to be an urbanenvironment with quality of life problems on whichsome considerations are offered.

Keywords: Quality of life. Urban population.

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Recebido para publicação em 26/03/1991

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Figuras 1 a 11 . Alguns aspectos do comprometimento da qualidade de vida no meio urbanoda cidade de São Paulo.

Habitabilidade:

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Paisagem:

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Poluição visual:

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Circulação:

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Comunicação e consumo: