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5/14/2018 PROST, Antoine. Doze li es sobre a Hist ria. Cap. 3 e 4 - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/prost-antoine-doze-licoes-sobre-a-historia-cap-3-e-4 1/21
CAPiTULO I II
Os fatos e a critico historico
Se ha uma conviccao bern enraizada na opiniao publica e que, na
historia, existem fatos e que eles devem ser conhecidos.
Essa conviccao esteve na origem da contestacao dos programas de
historia, desencadeada em 1970 e 1977; alern disso, ela expr irniu-se nos
debates de 1980 com uma flagrante ingenuidade . A acusacao mais grave
era a seguinte: "Atualmente, os alunos nao sabem nada ... " . Portanto, em
historia , existem coisas para conhecer ou, mais exatamente , fatos e datas.
Pessoas de bern que ignoram se a batalha de Marignan foi uma vitoria ou
uma derrota, e quais t eriam sido suas impl icacoes, ficam indignadas pe lo
fato de que os alunos nao sabem a data de sua ocorrencia. Para 0 grande
publico, a historia reduz-se, na maior par te das vezes, a urn esqueleto cons-
tituido por fa tos datados: revogacao do Edito de Nantes -1685; Comuna
de Paris -1871; Descobrimento da America -1492, etc. Assim, aprender
historia e conhecer os fatos e memoriza-los. E, ate mesmo, em niveis de
estudo mais avancados: "Se voce tiver memoria, conseguira a agregation
de historia", eis 0que cheguei a ouvir, repetidas vezes, enquanto eu me
preparava para esse concurso.
Neste aspecto, encontra-se, sem duvida, a principal diferenca en-
cr ' 0 ensino e a pesquisa, entre a historia que se expoe didaticamente e
aqucla que se elabora: no ensino, os fatos ja estao prontos; na pesquisa, e
11 'r 'ss~rio fabrica-los.
o rnetodo critico
' 1 ' \ 1 ( ' 0 1 1 1 1 1 6 '1Isillrlcinl,flS 'R l ns ,i ll lu s i v ,nassalasdeauladasfacul-
Ii II I N , 1 h N I 1 1 n ( 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 do N II It III It 'l ItON: m priuiciro lugar, on h eros
i'IiIlN , II M I I I I h l ,1 IIII 11I_ ,IIIIH llil'll 10M 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 pO i~.. ruervnec.
5/14/2018 PROST, Antoine. Doze li es sobre a Hist ria. Cap. 3 e 4 - slidepdf.com
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DO ZE l I C; O ES SO BR EA H I STO R I A
Essa dicotomia entre 0estabelecimento dos fatos e sua interpretac,:ao foi
teorizada no final do seculo XIX pela escola "rnetodica" e, em particu-
lar, por Langlois e Seignobos; alias, ela serve de estrutura para 0 piano
dos livros I n tr o duc ti o n aux e t ud e s h i st o ri que s (1897) e L a M e th o de h is to r iq u e
app li que e aux s ci e n ce s s o ci a le s ( 1901 ).
Os fatos como provas
Para Langlois e Seignobos, osfatos nao estao prontos: pelo contrar io ,
esses auto res leva ram muito tempo para explicar as regras a ser cumpridas
para construi-los. Ent retanto, na sua.mente e de toda a escola metodica
formalizada por eles, os fatos sao construidos de uma forma definitiva.
Dai, a divisao do trabalho historico em do is momentos e entre do is
grupos de profissionais: os pesqui sadores - entenda-se , os professores da
faculdade - estabe leciam os fatos que ficavam a disposicao dos professo-
res do l iceu. Os fatos sao como as pedras util izadas para a const ruc,:ao das
paredes do edificio chamado "historia". Em seu l ivrinho sobre L'Histoire
dan s l 'e n s ei g n em en t s e conda ir e , Seignobos (1906, p. 31) demonstrou certo
orgulho nesse trabalho de fabricante de fatos:
o habito da cri tica perrnit iu-me fazer a triagem das his t6rias tradicio-
nais, transmitidas pelos professores de geracao em geracao, suprimindo
ashis tori et as ap6cr ifas e os detalhes legendar ios. Consegui renovar a
provisao de fatos caracterist icos verdadeiros com os quais 0ens ino da
hist6ria deve ser alimentado.
A importancia atribuida ao trabalho de constru cj io dos fates
explica-se por uma preocupacao central: como fornecer um status de
ciencia ao texto do historiador? Como garantir que, em vez de LIma
sequencia de opinioes subjetivas, cuja aceitacao ou rej iyao f aria a
criterio de cada um, a historia e a expressjio de uma verdade obj itiva '
que se irnpoe a todos?
Esse tipo de questionamento nao pode ser in 1 1 I l c l ( nt r [I S ln -
dagacoes declaradas superf luas , inuteis O U L ll .C 1 '3 p aS S a ias. !\11I:\!lIll'I lI ', ~
i rnpossivel elirnina- lo sem graves cons iq u 'l1lC'i(l~. Pnrn 1I(),~( 'OIlVI'Ih' ! 'IIION
disso, basta pensa r no P ; ' 1 1 0 jd ic h itl 'risca. 1\ n li n ll a \' l ( ) d '<P!t' I 1 \ 1 ' 1 ) 1 . 1
nh a n az is tn h av in ('1l1prc' 'ildido, dlll':Il1te v()l'ios lIilllN, 1 1 1 1 1 1 1 If'llI II VII Ii "
cxtcnutnio NiSl('lllillko d()N.llIdtIUI~ I I ( ) 1 1 1 1 1 1 up 11.11 H l d ' I '1 v u Ij II, P i l i
.Hhlill H op\ II I ' " " 0 1 1 1 , pll ~II 'I ~'llllll"llIIlItHII nu I 1 ' 1 1 1 1 . 1 . '1 "1 11 11 _ . I II
1 1 1 1 1 1 1 Vlll lh1l11111t11111il l lfl l , 1 " 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 I.~ ~ " ' f l h " IIIII • dill I ,I I II , I I I
1 1 1 1 III1 I 1 1 1 , 1 I ~Pldlhld I II 1 1 1 1 1 . I 1 1 1 1 1 t i l l , "I I 1 11 11 1'1 11
'Ilif II ~
OS FATO SEA C R iT I C AH I S T 6R I CA
construirarn camaras de gas em determinados campos; alem disso, este
fato pode ser comprovado."
Portanto, no discurso dos historiadores, osfatos constituem 0 elemento
consistente, aquele que resiste a contestacao. Com razao, diz-se que" osfatos
sao teimosos". Em historia , a preocupacao com os fatos e semelhante a daadministracao da prova e e indissociavel da referencia; em nota de ro da pd ,
acabo de apresentar as referencias relat ivas a existencia das camaras de g a sporque essa e a regra da profissao. 0historiador nao exige que as p ess as
acreditem em sua palavra, sob 0pretexto de ser um profissional conheced J'
de seu oficio - embora esse seja 0 caso em geral-, mas fomece ao 1 it r H
possibilidade de verificar suas afirmacoes; 0 "metodo estri tamente ci n .cif iinI
a util iza r na exposicao", re ivindicado pOl' G. Monod para a Revue hj~'f,o'r I"
que, pre ten de que "cada afirmacao seja acompanhada por provas 1 1 .1
indicacao das fontes e ci tacoes" (MONOD; FAGNIEZ, 1976, p. 298-2%;
MONOD, 1976) . Da escola metodica a escola dos Annales (ver 0 t ~o d
M. Bolch, boxe 3), a opiniao e unanime em relacao a este pont : C all I
realmente de uma regra comum da profissao.
3. - Marc Bloch: Elogio das notas de rodape
No entanto, quando alguns lei to res se queixam de QL1.' n IllUiH II
sign ifican te linha, bancando a insolente no rodap€ ! 10 Ct'Klll, III "
nfunde 0 cerebro e quando certos editores preten 1 m qll! NI m
lientcs, scm duv ida, bern menos hipersen siveis, nn ! l l u l l l h , ilil
que 6 . os tume pinta -los , f icam atormentados diante ~I\·!ulilqlli I
folha assim d .sonrada, tais pessoas delicadas p rovaru si1l1plllNIII III,
su n im ] . rm ecb ilid ad c a os m ais clementares preccitos t il ' 1 1 11 1 11 1 1 1 10 Ii
tin i l l c lignllcia. Com 'f I'jto , fo ra dos lances livr es du ( 1 1 1 1 1 1 . " 1 , 1 1 11 1 I
n fi l' ll l1 l, \' : ( ) , ~( , r em 0 e li I ' 'ito d e : .xistir com il c o n d i r o !I t 1111 1 • I
V ~ 1 ' i 1 1 ( ,: H I I I ; 1 : ' , ( ': lI w n o h is t( )l'i nd ol ', ll o .a so d e u til iz ar u n: d ll i l l t l i i 1 11 11
Illdkll!'. n I lI ii ls hrevem nre p o ss lv ' I, su n p rov I ii ill 1 1 , 1 1 1 1 . ' 1 I ,
1I1{11!Jt i t · ' I I ' InCI', ~ I() o qulv nlc , p ro pr in m 'IlC f 1 : d l l l l l i l l , II _ ~ 1 I 1 1 J 1 I i
1 I ' 1 II 1 1 1 1 1 1 1 "'Kl'll 1I1l1VI'I'HIiI d r' j l l ' o h i d l l t l t ' . l) ' c l IJ '11 t1 i1 l1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ' 1 1 1
1111111".lll~~11O]lllll.\), IH'hl~lv II IlWllllN Illilllif.l;1l dliH 11I~1·.1 I' I,I! II
I I I • lilI'~llll! II I - \ O H I I I 1(.10 ('{lllll,:itl, No dill '1111"', I( ruln 1 1 1 1 1 1 ' " 1 . ,
I' ,\litlll"n iii I II I til' I i l l l ! 1 ! ' 1 1 1 i I ~ Iii I( J I l l ! ) ~'1 I f I I I I H ~ ( 1 tit ' 1 1 1 1 1 l i ll l li l
1 1 1 , 1 1 , 1 1 1 1 1 _ 1 1 1 1 1 . I l v ( I I I I U I H 1111I~t'WI dl l I H I I ~ l l i i d I , I I I I I V II I l i \ 1 I I v u l r n I I ,
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1, 1 1 1 1 1 1 1 1 1 I'IIi ~Ihl Nlllllilliil,' ['III (IHIHli HI', 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ' 1 1 1 1 > 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ,
I I I l I l I d ~ II, iI~" 1 1 \1 1 - " 'I li l~ ' II 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 i 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1M i l l i N I I l I d ~ 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 .
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 I I I I H I I " I ' I I I 'I ' I ' I I I J~ / l " ~ lI l l l l d , 1 1 1 1 1 II '.hlllllllljll ."h,iHHIIIIIIII'
I ' I " ' " Ilil ~1 ' Il l l ' 1 1 11 1 1 1 11"" '"II"III~I~llh~\I'II ,I' 1 1 1 1 1 hlln~IIII"lllIllilIHlfi III I~I 1'111101 I,ll
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v II )linN; 1111I, I ,Ill ~I 'I, JlIlIPIIIIH III 1'1.111IJlIIIII' till IH)M~I I ~hllllllltlilH I II IIII~ I
d e: II0,~~ilM)l,~I!411!lkIIIlIIN ' 111111I'IIIIININ lI'it'll III h i l i '1lllt, Hlllldll1l11lil', iln
esnobada s pOI' Lilli t: ) W'IIIHJ, n(1I1HI,·0 d I 'Hp l 111MlllINlifllIIiN. lillllllil~ H
de compreender S Ll <11ll ", (HI,OCII, II)()O, p, , II I)
Deve~~s levar ainda mais longe eS S<1 @ n~1Ji~ , p UI'q U' 11 jlk'i:) de umnverdade objetiva respaldada em c: t . . di ~ ,
, La os, ex ige Ulna lSCl' ISSOO11WIS alllpJa; 110
entanto, ela permanece constitutiva da hist6ria em Ll111 prirueir IIIV { )R
histonadores perseguem cotidi firmaco• . anamente as a Inna~oes sem provas, tanto flOS
exercicios dos estudantes, quanto nos artigos dosjornalistas. Indepcnd>J1ce;:-mente d di' . ..
o que p~ssa ser to, mars tarde, para evitar os simplismos, existe ai
uma base essencial para 0 oficio do historiador: toda afirma~ao deveni s r
comprovada, ou seja,,a hist6ria s6 e possivel respaldada em fates.
As tecnicos do crftico
Neste estagio da reflexao , deve-se questionar 0estabelecimento
dos fatos: como identificar sua veracidade? Qual procedimento adotar?
A resposta reside no metodo critico, cuja origem pode ser recuada pel
menos, a Mabillon e ao seu livro D e R e D ip lo ma ti ca (1681) .65 Lan~lois :
SeIgno~OS empenharam-se em trata-Io da forma mais detalhada possivel;
na reahdade, eles interessaram-se apenas pelos fatos construidos a partir
d~ .d~cumentos escntos, em particular, textos de arquivos. Podemos
cntIca-los por nao terern ampliado sua atividade a outras fontes mas
t~ata-~e de um motivo insuficiente para desqualifica-Ios. Com efei~o, os
~Istonadores, em grande numero, continuam a trabalhar a partir desse
tIPOde documentos, inclusive, aqueles que - por exemplo, L. Febvre, F.
Braudel ou J . Le Goff - defenderam a necessaria amplia~ao do repert6rio
documental. G. Duby (1991, p. 25) evocava
[...] 0montao de palavras escritas, extraidas precisamente daspedreiras
em que os hISonadores fazem sua provisao, procedendo a uma tria-
gem, recortando e ajustando para construirem, em seguida, 0 edificio,CUja planta provis6riaj:i havia sido concebida par eles.
Dig~-se o.que se disser, os historiadores corrern 0risco de serem
r:conheCIdos, ainda durante muito tempo - a exemplo da especialista do
seculo XVIII, Arlette Farge - por seu gosto pelos arquivos.
6SdCOdmOjind:ca0t ex to ,Jean Mab il lon ( 1632 -1707) , bened it ino f rances , f oi 0autor des te t ra tado o ri gem. a Ip omatlca. (N.T.). '
56
II ' 1 1 1 . 1 1 1 1 1 1 ~ l l I l l l " , II I 1 11 11 11 lu il l i l l J il l 1 ' 1 1 1 1 1 1 1 ' 1 11 11 ,
1 11 11 11 1 1 1. 1 dlllllllllHlllldll 1 , , 1 1 I I fit Itld IIIf _ 1 1 1 _ II~tlldllill( , \ 1 1 VIlItIlH I (Jill
II illt lll'lI' III~' () d ' uui II! III I 11111. I II ~ I II I IIiNtolindtl i P,III "I 1liI'll 1
1 1 1 1 1 dill 1 1 1 1 1 ' Il le l 11wqU( ' . 1 1 1 1 I ~ _ I I I Ii I, tlllitt ~i' iii' '( lIt lh llll :i~ lo c on : L Ud ,)
(I IIIII'.1 I NI' sub ' :1 r 's p d t II I i I ~ " l l l l l l l l d I l J l d , l d ( ) . d o lugar • d I 1 H J n l l 'l 1 W
('III till 'Sl~II; 'III d xcrminn 10 S'1IIIdo, II "d d 'a (; a propria historia ' 'In
~( ' ,d illll , III xIida que a historia sc ap r ) (~ lI 1d a e se amplia,
H is 0 qu . e perfeitarnente visivel em cada etapa analisada pelos 111 R~
I I~Sdo inctodo critico, Langlois e Seignobos, que estabelecem. a distin :
('1111" ritica externa e critica interna. A primeira incide sobre os cara t 'I"'H
m n t T il li s do documento: seu papel, tinta, escrita e marcas particularcs qu e
II n ( r npanham. Por sua vez, a critica interna refere-se a coerencia do C 'x
C o, por exemplo, a compatibilidade entre sua data e os fatos mencionndoa,
Os estudiosos da Idade Media, tais como Langlois, confrontados ( ')111
numerosos diplomas regios ou decretos pontificais ap6crifos, prestam c till
a atencao a critica externa para distinguir 0 documento autentico d fu l~o.
A s ciencias auxiliares da historia constituem, neste dominio, pr iN)
auxiliares; a paleografia, ou ciencia dos textos antigos, permite dizer s ' II
grafia de um manuscrito corresponde a sua data presumida, Por sua Vt''I.,
a diplomatica ensina asconvencoes segundo as quais os documentos ' I' , 11l
compostos: como era seu comeyo, a forma da introducao e do 1 '1 I
do documento (0 dispositivo), como se designava 0 signatario com W II
titulos e a ordem em que eram mencionados (a titulatura); a sigilo,!!YGV1tl
repertoria os diversos selos e datas de sua utilizacao. A epigrafia indi a liM
regras segundo as quais, na Antiguidade, eram habitualmente compose"
as inscricoes lapidares, em particular, asfunerarias.
Assim equip ada, a critic a externa pode discernir os document M
provavelmente autenticos em relacao aos falsos ou aqueles que sofr ram
modificacoes (critica de proveniencia); por exemplo, nao ha duvida sobre n
falsidade de um documento, pretensamente do seculo XII, se estiver escritoem papel, e nao em perganlinho. Eventualmente, a critica restabelec
documento original depois de retirar-Ihe os aditamentos ou ter restituido
as partes faltantes, a sernelhanca do que ocorre, frequentemente, com as
inscricces lapidares romanas ou gregas (critica de restituicao). Um case)
particular de aplicacao desses metodos e a edicao critic a, tal como tern
sido utilizada com perfeicao pela fi lologia alema: comparacao de tod s
os manuscritos para recensear as variantes; estabelecimento das filiaco s
de urn manuscrito em relacao a outro; e proposicao de uma versao ta
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p r x ln ia l i l l i l l l t l l IH1M wi dll 1'1" 1 11 11 11 1 V II l l i l 1 11 11 11 11 , II I l l f l l u l u
nao se lim ita aos ' Xl os 1 II lt lK O N : vIII .1 I 1 ' 1 1 1 , pili I IIll'hl, , ,1 1 11 11 1 11 .1 1 I I"
registros radiofoni s d Il1:U" ' h a l Ii t a i l l '0 111 (), h', (, I IIilnM d r. "Iltl"
mensagens e discursos, se q uiserrn s sab 'r ''1111 l' "lid () I) ' II I I Ill",
(BARBAS, 1989).
Tendo sido resolvido este aspecto, 0 historiad J: aindn t '111 d (m ri' '11
tar outros obstaculos, A autenticidade, ou nao, de urn do '1.1111 e u e o 11HIli
exprime sobre seu sentido. Apesar de nao ser urn docum meo r t~ l t~nC '~ ( ) , n
c6pia do diploma merovingio, elaborada tres seculos apes 0 original , 11~()
e necessariamente uma falsificacao: pode ser uma reproducf fid digna,
A critica interna analisa, entao, a coerencia do texto e questiona- s bre
sua compatibilidade com 0 que se conhece sobre docurnentos anal gos,
Essa critica procede sempre por equiparacoes: ela seria totalmente im-
possivel se ignorassemos tudo de deterrninado periodo ou de urn tipo de
documento. Neste caso, torna-se evidente que a critica nao poderia ser
urn corneco absoluto: e necessario ja ser historiador para poder criticar
urn documento.
Seria urn equivoco acreditar que tais problemas existam apenas em
relacao aos textos antigos. Apresentaremos, aqui, dois exemplos extraidos
da hist6ria do seculo xx.0primeiro e 0apelo que 0Partido Comunista
Frances teria lancado no dia 10 dejulho de 1940 para incentivar a resisten-
cia contra a invasao das forcas nazistas. Ora, esse apelo menciona nomes
de ministros nomeados no dia 13 de julho; alern disso, nao se enquadra
no que se sabe da estrategia desse Partido emjulho de 1940, no momenta
em que seus representantes discutem com os ocupantes a retomada da
publicacao de urn cotidiano. Portanto, os historiadores consideraram,
em geral, que se tratava de urn texto posterior e, como nao se integra na
serie dos exemplares clandestinos do cotidiano comunista L'Humanite, foi
impresso provavelmente em uma data mais tardia, inclusive, que 0 final
do mes de julho.0
embuste nao resiste a critica,
o segundo exemplo e extraido de uma polemica recente a respeito
de Jean Moulin.f Em urna obra destinada ao grande publico, 0 jorna-
lista Thierry Wolton afirma que seu biografado - na epoca, presidente
do departamento de Eure-et-Loir - fornecia informaco es a urn espiao
sovietico, Robinson. Para comprovar sua afirmacao, ele cita urn relat6rio
66 Patriota frances (1899-1943), fundador do Conse lho Nac iona l da Res is te nc ia , pre so e tor turado, mor reu
durante sua t ra ns fe renc ia para a A lemanha. (N.T. ).
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II I IHIII [u u It 1 1 1 1 1 1 " 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 t \ l t l _ I I I I I , h u l 1 I I I I I l t l l l l l h i IIIPJIIIII,II ' II I I II
If 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 .1 til' 111111.11, I) till P M I 1 M lit· ,I,' 1111 II ' 1 1 1 1 1 1 1 1 _
I I I - I I " tlild 'M MI(lhHlnN II ·s, 'd pnrtum II 0 , I N , i l l l '1 ) 1 1 1 I I I pi I" I I I I I
1 \ 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ) 1 1 1 1 1 1 1 1 ' 1 · I 1 ' o s 110 a r l r o r n d e C I H t l li ' H , l ) n l l I' II II ( "III IiIII N 1 I I I I I I I I W , ' ( c ' H , I) jomalisea '011 luiu q u " S S I l i l i j . / ; n t e K I h i l i t '1 1 I I I II A M I I I
IlipI~11,' lill'IIl'C l :t s. A r na is c lem cn ta r rlci 'tt im 'I'JIlI I v iII II NHIliidl III
rlu 1 1 1 1 I 1 ~ 1 l ~ ' o do argurnento. 0111 e feito, as 1 6 ' 0 . 8 'ita 1 1 1 M M u n h " 1 I 1 II I~
II ~lnN " II) 4, 5 1111 d .omprimento l1a tel.11qualqu I' j lls~in(' l~ II I 11111
IIvia~'() de IlJ40 (p ara as aeronaves do tipo Bing 747, bUNt ) 1 1 1 1 1 1 II IId t· .. k i l l ) ; 01'1)1 disso , m outubro desse ano, a D rc a a \ a al 111 ' 1 1 1 1 1 1
rom um total de 800 bombardeiros. Em hartr s , se I n ~ul1em ,I " I I I
I jO , dos q I is 22 111condicoes de operar. Nao se pod> : 1 1 1 mn: III II
illre rmantc de Robinson estivesse bern informadol'"
Todos os rnetodos criticos visam responder a questocs silllll M l II
onde vern 0documento? Quem e seu autor? Como foi transmiti 1 ) ! ' 1 l 1 1
scrvado? 0autor e sinceroj Tera razoes, conscientes ou nao, para d ' 1 0 1 1 1 1 1 1
sell testemunho? Diz a verdade? Sua posicao permitir-lhe-ia dispcn II
informacoes fidedignas? Ou implicaria 0 uso de algum expedi nt ? H M I
duas series de questoes sao distintas: a attica da s i ncer idade in ide ~ hi i~
intencces, confessadas ou nao, do testemunho, enquanto a a lt ic a tit! i' , ',I
tiddo refere-se a sua situacao objetiva. A primeira esta atenta a s 1 ' 1 . 1 snd il l
ao passo que a segunda considera os erros. Urn autor de memorias 1'1 I
suspeito de reservar para si0papel mais favoravel e a critica da sin ri la "
seraparticularmente exigente; sedescreve uma acao, ou situacao, OC01'1'ldll
a sua frente, sem ser parte integrante, a critica da exatidao ira atribuir-llu
mais interesse que se tivesse sido 0eco de terceiros.
Deste ponto de vista, a distincao classicaentre depoimentos v I u n
tarios e involuntarios e pertinente: os primeiros foram constituidos pal'~
a inforrnacao dos leitores, presentes ou futuros. As cr6nicas, mem riu:
e todas as fontes "em forma de narracao" incluem-se nesta categ rirassim como os relat6rios dos presidentes de departamentos e regioes, a~
monografias dos professores primaries sobre suas aldeias para a Exposif· (
Un iv e rs al d e 1 90 0, alem de toda a imprensa ... Por sua vez, os depoimentos
involuntarios nao tern 0objetivo de fornecer informacoes; M. Bloch falava,
de forma prazerosa, desses "indicios que, sem premeditacao, 0 passado
67 Extraimos esse ex emplo de BEDARIDA. 1994, p . '1oil. Par a out ro s ex emp lo s an al ogos a p r opos it o cl a
mesma obra, pre te nsamente his t6ri ca , vel ' VJI AL-NA UET,1993.
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O S F AT O S E A C RI TI CA H I ST O RI CA
D O ZE U c; OE S S O BR E A H iS TO R IA
de~a cair ao lange de sua carninhada" (1960, p. 25) . Uma correspondencia
pnvad.a, ~m diario verdadeiramente intimo, a contabilidade de empresas,
ascer tidoes de casamento, asdeclaracoes de sucessao, assim como objetos ,
Imagens, os escarave lhos de ouro encontrados nos tumulos micenicos
os restos de a rgi la lancados em grotas do seculo XIV ou os pedacos de
metal encont rados nos buracos abertos pelos obuses sao mais instrutivos
do campo de batalha de Verdun, na Primeira Guerra Mundial, q~e 0
testemunho voluntario (fabricado e falsificado) da trincheira das baionetas.
~A critica da sinceridade e da exatidao e muito mais exigente em
rela~a~ a~s depoimentos voluntaries. No entanto, evite-se tomar rigida
tal dist incao porque a habilidade dos histor iadores consiste, quase sempre,
em tratar os testemunhos voluntaries como se fossem involuntarios e
q~estiona-los sobre algo diferente do que eles pre tendiam exprimi r. Aos
discursos pronunciados no dia 11 de novernbro '" diante dos monumentos
aos mortos, 0historiador nao procurara indagar-se sobre seu conteudo
- ~l.go de bern precario e repetitivo -, mas ira interessar-se pelos termos
ut ilizados, por suas redes de oposicao ou substituicao, para encont rar nes-
sas for~as de expressao uma mentalidade , uma representacao da guerra,da sociedade e da nacao. Neste aspecto, ainda M. Bloch observava com
humor que, "condenados a conhece-lo [0 passado] por seus vestigios,
acabamos por saber a seu respeito muito mais que, por ele mesmo teria
sido possivel conhecer" (1960, p. 25). '
Que 0 testemunho seja voluntario ou nao, que 0 autor seja sincera
e esteja bem informado ou nao, convem, de qualquer modo, nao se equi-
vocar relativarnente ao sentido do texto (critica da inrerpretacac). Neste
aspecto, a atencao fica ligada ao sentido dos termos, ao seu uso di storcido
ou ir6nic~, asafirmacoes ditadas pela s ituacao (0 defunto e, forcosament ,
bem considerado em seu elogio fiinebre). Ja em seu tempo, M. 810 h
achava restnta demais a l ista das ciencias auxilia res da hi stori a propostas
aos.estudantes, sugerindo que fosse acrescentada a linguisti a: "POI' qllill
a~surdo pa~~ogis~o: deixamos que homens que, boa parte do t:l'JlIjlo,
so conseglllrao atmgir os objetos de seus studos atraves dns p:tlIlVl'lI~
[ .. . ] ignore~ as nocoes fundamentais daliugulsticu' (I ( (l(), I ' 2 r~ ) , ( ) ~
c_:>nceltos tern mudado de tal modo de s~III'id() qu 11MII I i , . II'n ~11l'111l~
sao precisamente aqu lcs qu ' nos pal' ' r i : 1 I 1 IlI,liN 1 1 1 1 1 1 pnll'IIIIIN: pili
exemplo, "burgues" I ln O d ( '~ ip .I H I I 1 1 1 1 ' I I 1 1 I I ' dldi ld, Ii III I II I 1 1 1 1 1
re to m edie val, 111un : 1 1 1 1 1 1 1 1 1 In 111111l( III 1 1 1 1 t Ill Mill., . N I I I I ,
1 1 1 1 1 I I1 1 I 1 i 1 \ 1 1 1 1 1 1\ 1 1 1 1 1 1 . 1 ,, 1 1 1 1 1 1 11 1 1 1 II ~ 1 I 1 1 1 ~ 1 1 I hi 'I"' IIIJ jllllI" 1 1 l1 U ! ~ l il l1 l1 III' lit IH I1I! lI IIII til I 1
seria aconselhave1 estabe1ecer a hist6ria dos conceitos como etapa previa
de qualquer outra historia."
De forrna rnais geral, qualquer texto serve-se do c6digode deter-
minado s istema de representa<;:oes que, por sua vez, uti liza determinad
vocabulario. Urn re1at6rio de presidente departamental ou regiona l 1 :1
epoca da Restaura<;:ao sobre a situacao politica e social de um depar-
t amento rural era, inconsciente e imperceptive1mente, di storcido .p r
sua representa<;:ao dos camponeses: e1e os observava de acordo cor1u u
l:xpectativa e confonne sua represenracao previa lhe perrnitia ac 1 h 'I':
'ventualmente, ele menosprezava 0 que nao estava inscrito no interic I'
dessa moldura. A interpretacae de seu relat6rio supoe, portanto, qu ~
historiador esteja atento ao sistema de representa<;:oesadotado pelos 11 t. V ~i
da epoca (CORBIN, 1992; CHARTIER, 1989; NOIRIEL, 1989); assim, paru n
interpretacac dos textos, torna-se indispensavellevar em considera : o 1 M
.,rcpresentayoes coletivas".
Seria possivel prolongar a descricao do metodo crit ico; sen? 1'1
" preferivel abordar de forma mais minuciosa 0 espiri to que 1h S 1 VI til
flll1damento.
o e sp ir it o c ri ti co d o h is to r ia d orfica a impressao, as vezes, de que a critica e somente U11l ' 1 \ 1 1 ~I 11
de b0111senso e de que a disciplina exigida pela corp oracao ' \ II I II Ii I If
IIIo p as sa nd o de mania de eruditos, pedanti smo de cientistas qll ~1 1 1 1 1 til
1"(,011]) c;n1ento para iniciados.
N ada de mats false. As regras da critica e da erudicao, a l'lfI,ll\ .HI
d ' f~)I'II' '1" SUllS referencias, nao sao normas arbitrarias: er tnni 'Ill I
IllS ills t,icu '1 l1 a diferenca ntre 0 historiador p rofissio nal e o fltlHlltll
1 11 1 I) I'O J ll Dl1 is ea . No cntanto, sua funcao primordial consi sc~ l . '111 '(\Ill 11
(I 0 1 1 1 : 1 1 "do h i s t o 1 'i a c l o r e m r e l a c a o a s u a s fences; se q L1iSCl'1110H , II 111I I
d I u um : is ('( 'S ' ,til! qunlqucr modo, de uma atitudc al'l ' lHUd,l, II II
I' P l li li ll l( ,H , I II :1 S q u 1''orlll:1 um a disposi<;~o de ··spil"ico ('SSl'lIt l i l l l H I I H II
dl'~('"111 "JIB) dli otki(),I i. ~ 11 q ll( ' ( , lW11l v is lv rl q u an do st. ' Pl'()l'~'de: n)l)q~nl'I~'lll ('III 1ft iI~
1IIIllllilliltl dll~ IdNlI11 . J ( I O I ' I ' H c O M d O N so ci( )l( )[J;( )s o u t'('l)'Hllld~IIlM: ( ' 1 1 1 1 - 1 011 , 1 1 ,
"VII II l!;ilill I 1\ ( 1 ' 1 1 1 1 1 , i' ' 1' 1 1 1 11 ) , I(IIK,.II",I. l'illl II I'~I'II\I'''' "" 1 1 1 1 1 II'~I" ill ' 1 1 1 \ [ 1 1 1 111 1 1 1 1 1
11i
( 1 1 1 1 1 1 ) , H I I I 1 \ I I I 1 1 l j l l n 1 1 1 1 11 1 1 1 , 1 11 1 1 I 1 1I 1 1 '1 " I I ll I il l 1 1 1 1h i l l i d ! j 11 l1 , " III I,IVIIII'II' 1 11 1I 'l ll il h 1 11 111 1 1 1 ' 1 1 1 1 1 1 . " ill
",!lldl I' 1 1 1 1 1 1 " ' 1 1 11 1 1 1 1 h l . li l om , I! "I II I ~~ 1 11 1 11 1 1. II! 1 1 1 11 1 '1 ' 1 11 1 1 1 1 hll'"' I I 1 11 10 1"II I 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 " " 1 1 1 1 ' 1 1 1 , " ,h
, 1 1 " . , ' . 1 . " ' I II P I II !I ~" I" 'I II " ~ " Il i l ""llillI!f" 1 1 1 1 1 I i i I I I I I ~ I il ll ll h" I , I I, IV I I. I ii 1 11 11 11 1· "h l" '" 1 11 1, 11 0. ,I t I
, "11111111. " , ' 1 " 1 , II I l l i t It lilli, IIIIIIIHI l i t . 1 1 1 1 1 1 1M ,I I I l 1 v h l l l l l I I " 1111111 , 11 .11 1 III I I ' ,I 'inil IlIh H
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DO ZE L I <; :O ESSaBR EA H I ST 6R IA
os pnmeiros procuram responder a uma questao previa sobre a origem
dos documentos e dos fatos mencionados. Por exemplo, se 0assunto tern
a ver com a estatistica das greves, 0historiador nao acredita levianamenre
nas cifra s oficia is, mas ira questionar-se sobre a manei ra como elas foram
coletadas: por quem e segundo qual procedimento administrat ivo?
. A atitude critica nao e natural . Eis 0que afirma, de forma categ6rica,
Sel~nobos ~ve~boxe 4), ao servir-se da cornparacao do homem qtfe cai
~a agua e, limitado a seus movimentos espontaneos, acaba por se afogar:
,Aprender a nadar e adquirir 0 habito de reprimir os movimentos espon-
taneos e executa r movimentos que nao sao natura is."
4. - Char les Seignobos : A crir ica nao e natural
[...] a critica e contraria a disposicao normal da inteligencia humana; a
tendencia espontanea leva 0 homem a acreditar no que the e dito. E
natural aceitar todas as afirmacoes, sobretudo, uma afirmacao escri-
ta - mais facilmente se estiver escrita em algarismos - e, ainda mais
facilmente, se for oriunda de uma autoridade oficial, seela for, como
se diz, autentica. Aplicar a critica e , portanto, adotar urn modo de
pensamento contrario ao pensamento espontaneo, uma atitude de
espirito que nao e natural [...]. E impossivel assurnir tal atitude sem
esforco. 0 movimento espontaneo de urn homem que cai na agua
consiste em fazer tudo 0 que e necessario para se afogar; aprender a
nadar e adquirir 0 habito de reprimir os movimentos espontaneos e
executar movimentos que nao sao naturais.
A impressao especial produzida pelos algarismos e particularmente
importante em ciencias sociais.0algarismo tern um aspecto materna-
tico que da a ilusao do fato cientifico. De forma espontanea, tende-se
a confundir "preciso e exato"; uma nocao indefinida n5.0pode set
mteiramente exata, da oposicao entre indefinido e exato, rira-se a
conclusao da identidade entre "exato" e "precise". Esque en,1O-110S
de que uma informacao muito exata e , frequenternence, bastant ' fhlso.
Se eu disser que, em Paris, existem 526,637 almas, cratar-sc-f d ' lim 1
cifra precisa, muito mais precisa que "2 milhoes e meio" 1.), II{) !ICli ll to,
muito menos verdadeira. Diz-se habitualmente: "brutal COillllllllllllji;11
r ismo", mais ou menos, em 1 . 1 1 1 1 . sentido sCIl1\!lb:lIIC~1 "V 'ninde' 1 ) 1 1 1 ( 1 1 1 " ,
o que subentende que 0 algarisrno 6:1 forma IWI ' IHI I I <III V('!dlltll" I) 'I HI'
be "I -, •tam em: ssosaoapcnas algarismos", ruruo N I' I()dll~II~pl1f!I1~I~ '" H"
to rn as se m v crd ar l c irn s lIO :lNSIIIlIIi,t'llllIIllLllhllllllllillll' II ,I t A 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ' , 1 1 1
e ainda mnis (1)1CtllJlllll ldo, III V''I til' I I II I II I ~ , I I IIIIIJ IHllhulli1
N Will'
M I' i d t' 1I1K,I I IHI l lON IIHl l lloH pli 1 1] 11 11 01 \ '. ,1 1 1 1 1 1 IIIII~ . 1 1 1 1 1 1 1 \ IUtI !
( ' ' III II;lN f' VI'idlidl HUllI III~11l~1'1 1 1 1 1 I lI ll il I Ilp ll~. " d. 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 \ 1 1
1 1 11 1. .. " I II Ii 1 I 1 ~ d l l d l l . d l 1 I I I I U l l i l l I i d l l ~ ' i l l l l ~ h d i i 1 1 1 1 1 1 ' 1 1 1 1 1 1
OS FATOSE A C R iT I CA H I ST 6RI C A
e necessario urn esforco de critica para distinguir e admitir que,'nl
um calculo exato, os dados podem estar falsificados, 0 que desvalorizn
completarnente os resultados. (SEIGNOBOS, 1901, p. 32-35)
Ainda subsistem, atualmente, as crencas contra as quais, de ac I' II
com Seignobos, seria necessario prevenir-se. Convem oferecer S 1 1' 11 /1 '
res is tencia ao prest igio das autor idades oficiais; mais que nunca, C01Wlil
nao ceder a sugestao dos algarismos precisos, nem a vertigem dos n(1111 lH ,
A . exat idao e a preci sao sao aspec tos diferentes e urn alga rismo apr !mll
t ivo , mas adequado, e preferivel a ilusao das decimais. Os hist r 'n.l11!
haveriam de se entender melhor com os metodos quantitativos - III I III
v .zes, indispensavei s -, se prestassem mais atencao em desmis i
garismos e calculos.
A essasadver tencias, que permanecem atuais, convem acr S" 11 11 1l III
vas observacoes que dizem respeito ao depoimento das tesremunhas d I"I I
. ~ imagem. Nossa epoca, avida de hist6ri a ora l, habituada pela t ,I V
c pelo radio a "viver" - como se diz sem sorrir - os acont cit 1~Ill() III
v i v o , atribui urn valor exagerado a palavra das testemunhas. Em ~ 1 1 1 1 ' \ l U l l
d e l i c e n c e em que eu tentava ident ificar, por c riti c a interna, a d a e a 1 1 1 1 1 1
pnnfieto estudantil do final de novembro de 1940 - 0 texto re f r I ~t
mnui fes tacao do 11 de novembro como se tratasse de um fn C I' hul V II
I II '11te recente -, alguns estudantes ce ticos lamenta ram a imp Hsihll d ' l d l
d' 1,.'11 .ont rar estudantes dessa epoca que 0 tivessem distribuid I !~Ij[ II I
c n p a ~ > s lc s e l e m b ra r da da ta exa ta; como s e a memoria l : : l s t Se'lllllldlil
rllr t : tS,111 .io $' u l ap6s 0 a co nt ec im e nt o, f os se m ais f U l v 1 qu ' :1S i 1 H I ( ' I~ '.
1IIIICt'l'iais ferne idaspelo propri do umento.
) m csm o 0 0 1'1 '<0 : 0 11 1 as imag I1S . A foeografia Cl'l1 :t. 'Ill I I III II
'(,I n ) l I v i ' y r t o : '01110 s cr ia p o s si ve l q u e a I 'li u la n flo elv 'I Itlllli
V(I l ' t l a dc- ? A " 'Ollq~(lr:1vii() 1 1 I ~ t i u lo sa d e duns r:')to~mf'ins lin IlNMlllllillil t i l l
1 1 1 1 1 ' 1 0 l l . " I ' I IH1110-Sov i 'cico -: 1 1 rim. ' ira, mosernndo 11 1 Ja N ll.lhl r 1 1 1 1 1 1 1' I
M u l o l o V , euqunuto a o u e r n ap r 'S 'llta c s s a s d u n s P ' I ' H O l l l l l d I d clM 1 '1 11 1 1 1 1 1
I I I I d ll d l l f . t - r ' 1 l 1 ' , i C i \ ] 1 1" a tl '{ IN k,lt's, cl e pC S ' 1 1 '\lIIII'1I1l1 l o d ' l Il ~ 1 1 1 1 1 1
1 1 1 1 1 1 illllilh l~ 1 1 1 1 t J I SS, inc lu iudo S ta l i l l ,I c'I ' l l1 i l . ' n v n l h u 1 1 1 1 1 1 1 1 ' 1 1 1 1 1 I
I V IlIlhd I I I ~ 1 1 1 1( ' 1 f f, t' II H . /i l 1\ ' 1 1 1 : 1 1 1 ( 1 0 s : d , 111!),~ IjU • e-m {UdOM tI~f 1 11 11 ~ dll~
1 1 1 1 1 " 1 1 1 1 Nlllllr' II l 'dI lH·It';! (1I':lIld' ;\ 1 '1'1':1, I;'XiNll'ill np 'll,IN, I' N I I I I U ' I I I Idll"~
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"lit h l l 1 4 I~ 1 I IIIi ,I hll' "I~ " 1 11 1 11 1 11 1 I IN l v, ll tI 'l Il 1 11 1 11 1 11 1 11 , 1 I ll l1 v l~ lh 1 1 11 1 1" 1 41 1 11 1 11 I . ~ I 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1II
I I II J l I I " ' " 11 11 " H I 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ,1 1 1 1 1 1 1 1 I 1 i I t il l ,1 m 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 11 1 1 1 1 1 I II Ii '1, II I 1 1 1 1 1 I' I I I ' IM , I
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D O ZE L I~ 6E S S O BR E A H IS T OR I A
sequencias rodadas efetivamente nas frentes de combate, dame-nos conta
de que uma crit ica, em termos de representacoes colet ivas, e essencial
antes da eventual utilizacao desse tipo de documentos.
Entretanto, observamos que a critica dos depoimentos orais e a
das fotografias ou filmes nao diferem da critica hist6rica classica. Trata-
se do mesmo metodo, aplicado a outra documentacao que, as ~ezes,
ut il iza saberes especificos - por exemplo, urn conhecimento preciso
das coridicoes de filmagem, em determinada epoca. Mas e, fundamen-
talmente, urn modo de operar semelhante ao do medievalista diante de
seus documentos. 0 metodo critico e, conforme veremos mais adiante,
o unico apropriado a hist6ria.
Fundomentos e limites do crftico
A historia, conhecimento por vestfgios
A importancia atribuida ao rnetodo critico por todas as obras rela-
cionadas com a epistemologia da hist6ria e urn sinal inequivoco: esse
e realmente urn aspecto central. Por que nao ha hist6ria sem critica?A resposta e sempre a mesma, a cornecar por Langlois e Seignobos ate
Bloch e Marrou: por referir-se ao passado, a hist6ria e, por isso mesmo,
conhecimento atraves de vestigios,
Nao se pode definir a hist6ria como conhecimento do passado -
de acordo com 0 que se diz, as vezes, de forma precipitada - porque
o carater passado e insuficiente para designar urn fato ou urn objeto de
conhecimento. Todos os fatos do passado foram, antes de mais nada, fatos
presentes: entre uns e outros, nenhuma diferenca de natureza. Pa ssado 6
urn adjetivo, nao urn substantivo, e e abusivamente que seutiliza t rn
para designar 0 conjunto, ilimitadamente aberto, dos objetos qu pod 1:11
apresentar esse carater e receber essa determinacao.
Tal constatacao acarreta duas consequencias ;1 s quais n u n c n S l·r t
atribuida a devida importancia. Em primeirolngnr, a illl]lossihilidlldt' lit,
especificar a historia por seu objeto. A s ciencins pmpI'ililllt'lllt' ditll,~pn~
suem seu proprio dominio, s < . ;j n q u n l rOl' SII;Iilil('I'd('I'(III(I~liI'lll: II 1 1 1 ( l p l l , 1
d en om in aca o, p or siso , p 'l'lllil(' isolnr u (II I I qtH' ·IIN( ' , pllllllill ('llllf.lu\lil
a s ar as que II~O Illt'Sdl~('IIIIWIIH' Ill, A 11~ll ll ll il ll ll l I 'H ll ld ll llH IIHIIII~,lhl!lll.
s l l i '~'St II 111 aM p(1ll1r1l1~ !" , III ,1111 1111111111,1 II ~111l II 1 '1 11 11 1 I1 1' I! ~NI II N f'
1IlIIIIP'IIIN~1Ihl\N,IJIIlllill 1'111 1'III'Idl~,"_,;I,,11I11 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 hl'llli
I" 1 1" 11 1" 11 11 11 1'1 11 11 11 11 1 1 11 11 11 11 1 1 11 11 1I ,t l l l 1 /1 11 11 11 11 ' IIII'/flllil " , , , I f
OS F A TOSEA CR iT I C AH IS TOR ICA
termo hist6ria nao pertence ao conjunto formado por termos, tais como
hicif l s icamolecu lar, f ls ica nuclear, cl imato log ia , nem mesmo etnologia. De acordo
com a afirrnacao categ6rica de Seignobos, "os fatos hist6ricos s6 existem
por sua posicao relativamente a urn observador".
5. _ Charles Seignobos: Os fatos historicos so existem por sua
posicao relativamente a urn observador
No entanto, desde que alguern procura delimitar praticamente 0
terreno da hist6ria e tenta tracar os limites entre uma ciencia his-
t6rica dos fatos humanos do passado e uma ciencia atual dos fatos
humanos do presente, da-se conta da impossibilidade de estabelecer
tal limite porque, na realidade, nao ha fatos que sejam hist6ricos
por sua natureza, como existem fatos fisio16gicos ou bioJ6gicos. No
uso corrente, 0 termo "historico" e considerado ainda no sentido
antigo: digno de ser relatado. Nesse sentido, diz-se urn "dia histo-
rico", uma "palavra hist6rica". Entretanto, essa nocao da historia
foi abandonada; qualquer incidente do passado faz parte da historia,
tanto 0 traje usado por urn camp ones do seculo XVIII, quanto a
Tomada da Bastilha; alem disso, os motivos que tornam um fato
digno de mencao sao infinitamente variaveis. A hist6ria abrange o
estudo de todos os fatos do passado, sejam eles politicos, mrelectuais
ou econ6micos; alias, em grande numero , eles passaram desper . -
bidos. Segundo parece, portanto, os fatos hist6ricos poderiam S(:I'
defmidos: os "fatos do passado", por oposicao aos fatos atuais q Ll '
sao objeto das ciencias descritivas da humanidade. Essa op si .~ao,
precisamente, e impossivel de l11.anterna pratica: em vez de uinn
diferenca de carater interno, dependendo da natureza de urn f . , w ,
a atribuicao do qualificativo "presente" ou "passado " n.:t<·I't'-'I(·
a uma diferenca apenas de posicao relativamente a de c rrulnud:
observador. Para nos, a Revolucao de 1830 e 11111 fato do I ilHHldll
C presente para as pessoas que a pr0111.overal11;, do I11<':SI!IO moiln,
a s 'ss50 de ontem na Assemb1eia Nacional e jC ' Lim f:lto d o IlilllHIlh I,
Portanto, nao ha fatos hist6ricos por sua natureza, m ns n] !lilHpili ~Ilil
p ( )s i, .~ ( ) r cl at iv a m en te a um observador. Q ualq ucr fa to ' Il l . 1( 1I II I I pli II I
s,'I' obsc r vndo diretamente, por ter de ixad o d e x is rir, ~ h i~~ II i t' ll, 11.111
v v v . d 'SCI' in cre nte a os fatos, 0 c ar at er h is t6 ri co l im lt n- s« I IIIIIIHIIIII iii
l'IJI111l,'c0-los; portanto, em vez de ser L Imn ' i ~ n d D , a hlNI 1 11 11 • IlJli\llll~
111l! III()do (it! conhccer.
N('HI(' (':tso. I'VDIII::1-se a questao previa a qualqucr ~'HllIdll \iIKI I1111
I 'Ifllil NI'I'(I J1{)H~lv<;:1 nh c cr urn fato rca] 'III!.' In IH(l \'11HII,tVIIIIIII II~
II I I\VIlIII~ u dl ' IH~():nh~IIIIHlltlHt·"~~~ IILlililIlH'IIII, Illtlm I 1111t I
t l l lM 1IIIIIIIIfllllll1 Mllldlldll~IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIHI 1 1 I 1 1 H 1 1 1 1 1 1 i 1 1 1 1 _ I , " 1I11
5/14/2018 PROST, Antoine. Doze li es sobre a Hist ria. Cap. 3 e 4 - slidepdf.com
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DOZE l IC ;OES SOBRE A HSTOR'A
predio queja nao existe.Paracitar, como exemplo, um fato economico:
operarios mortos, atualmente, dirigidos por um ministro, tambem ja
falecido, fundaram a Manufatura dos Gobelins." Como apreendcr
um fato quando ja nao e possivel observar diretamente qualquer um
de seus elementos? Como conhecer determinados acontecimentos
quando ja nao e possivel ver diretamente seusatores, nem 0 cenario?
- Eis a solucao para esta dificuldade. Se os acontecimentos a serem
identificados nao tivessem deixado vestigios, seria impossivel obterqualquer conhecimento a seu respeito. No entanto, muitas vezes,
os fatos desaparecidos deixaram vestigios: as vezes, diretamente, sob
a forma de objetos materiais; e, quase sempre, indiretamente, sob a
forma de textos redigidos por pessoas que, por sua vez, haviam assistido
a esses fatos. Tais vestigios sao os documentos e 0metodo hist6rico
consiste em analisa-Ios para determinar osfatos antigos dos quais esses
documentos saoosvestigios. Essemetodo toma como ponto de partida
o documento observado diretamente; a partir dai, por uma serie de
raciocinios complicados, ele remonta ate alcancar 0 fato antigo a ser
conhecido. Portanto, ele difere radicalmente de todos os metodos
das outras ciencias: em vez de observar diretamente fatos, ele opera
indiretamente ao argumentar a partir de documentos. Como todoconhecimento hist6rico e indireto, a hist6ria e essencialmente uma
ciencia de raciocinio; ela serve-se de um metodo indireto, au seja,
por raciocinio. (SEIGNOBOS,901, p. 2-5)
Se, em vez de ser inerente aos fatos, 0 cara ter historico limi ta- e amaneira de conhece-los, resulta da i - como sublinha c laramente Seignob s
que, nern por isso, deixa de ser defensor de uma hist6ria "cient ifica" - gl, l "
"em vez de ser uma ciencia, a hist6ria e apenas um modo de conh rr",
Esse e um aspecto sublinhado com frequencia e de forma bastante 1 'til-
t ima; por exemplo, ele just if ica 0 titulo do livro de H.-I. Marrou, (' io
conna i ss ance h i st o r ique .
Enquanto modo de conhecer, a historia " LII11 ionhcc im 'II!,O
por vesrigios.F de acordo com a e le g an ce f or m ul a utilizudu p O I ' , 1 . (:1.
Passeron, trata-se de "urn trabalho a partir de objcu» 1 'l'didi H ". 1 1 ,1 1
serve-se des ves tigios deixados pelo JXISS;ldo, dt' "il)('bl'lllll~ L 1 i'1 II'Mill!1 I i " .concordantes, de contextos n30 dir C.1l1 'nit' oiJN['l'vh('1 " ( I' A , , ~l ( Il I IN ,
71 M anufa tu ru pnl'i!1c'''H<1,IIHlllillilll 1 1 I I H 011, lillil illI! 1 1 1 I 11 1 l 1' i 1I 1 ~ 1 1 1 1 11 1 1 1 11 1 1 fill Ihl./, 1 " 1 i I i i 1 1 1 1 11 1 1 1 11 \ hi II ,
, Q l l l O I ' C ( 1 6 11 ) I1It1:1)H i li I ~l~ilil Ii 1 1 . 1 1 1 1 1 1 1 lin I ' 1 1 1 " rlu 11,1, 1 1 1 1 1 1 1 1 1 l ' 1 I 1 I 1 till l'lhlllll\ II !III. IlIllvd. 1 " l h l
n eorOll1 rill HIII~lIhlli.'HIII"IIIII,." N_1 \1 ' "1 1 1 I \ II Ii 1 I I 1 ' \lullil (J 1 1
fj1 \1 1 H 'II (Jlllll!, II I) 1lIIIlilii .1 1 1 ' lh 1 1 1 1 1h i l i tI 1111t il l • I 'I ~' I . 1" II ~hlll'lIlIl 1." I J Il ~1111111I 11I1H lh H
1 I ~ l l I l h . I" "I II II I! , HIl l' . I1I1,hl ll ll l" , , ~ . I II II II ! , 1 11 1 1' l i ll 1 1 1 1 11 1 1 1 11 1 , ~ hi. II • Ii 11111 , I I
OS FATOS EA c RI TI CA H IS T6 RI CA
1\ )91, p. 69). Na maior parte das vezes, trata-se de document~s escri-
ros _ arquivos, jornais, livros -, assim como de objetos materiais: pOl"
e xcmplo, uma moeda ou um utensilio de argila en~ontrados em um
sq)L11turaou, mais perto de n6s, os estandartes de smdicatos, ferramentas,
pr'sentes ofe recidos ao operario que se aposent,a .:. Em todos os cas~s,
[ri stori ador efe tua um trabalho a parti r de vestlglOs para r~conSt1tU1r os
liltos. Esse trabalho e constitutivo da hist6ria; por consegumte, as reg "
do metodo hist6rico que the servem de guia sao, no sentido proprio do
p"hvra, fundamentais.
Compreende-se melhor , entao, 0que afi rmam os hi stori ad~re~ "
lh lurem dos fatos. Um fato nada mais e que 0 resultado de um raClOCll110
'I partir de vest igios, segundo as regras da criti ca. Temos de confess:l l': 0
1 " E : histc Iiq ue o s histor iadores des ignam, indiferentemente, .como , ato: lstor~,os,
l'ollstitui um verdadeiro "bazar", digno de um mventano a maneira d
PI' 'vert.73 Eis, por exemplo,,alguns fatos: a cidade de Orleans foi Jib ' r e n d . l
p01'Joana d'Arc, em 1429; a Franca era 0 pais mais popul~s~ da \ O P . IIIiIS vesperas da Revolu<;:ao Francesa; no rnomento das eleicoes c i, 1) ~r.,huvia menos de um milhao de desempregados na Franca; no p>rtod
lIhl
MllllllrqL1iade]ulho, os operarios trabalhavam acima de doze hers s 1 \11 II II
1 1 1 (l i i li ad tornou-se uma questao pol iti ca no fmal do Segundo 1 1 1 1] 1 ' I II,
Il \ IS O de vestidos brancos pelas noivas espalhou-se sob a inf i L II II d I-
fJ,IIIlH.l'S lojas, na segunda metade do seculo X I X ; a legislaya, (1111MIIIIII I
Ii,' V i 'h y 7 1 1 I l a f iditada pelos alemaes . ..0que havera de C r 1l I1111' "111
1 HI()~ ' ss 's "fa tos" he ter6cl itos? Um unico ponto: t rata-se d [dllll)1 II.
vl,tc!:1l1dl'aS pOI'S rem 0 resultado de uma elaboracao metodi a, ill' tlllhi
II I lscit ld<f~o a partir de vestigios.
I )"I1:tAS:l.f1j ' 111, obscrvar-se-a que, apesar de ser o.lmico p .s81v ,11' 1 I I 1
\I " p u H i ll In ", '~S' modo de c nhecer nao e eXCh.lS1VO~a hlS~ . 111
I i'illimllN poi!lil'os 'Ill' analisarn a popularidade dos presid n .m v I, 11M
I _P i 'l , t l1 H 1 1 1 ~ d) I I / r l r kc ' t i l l , < ! ; q u e : w :; tl ia m 0 p ossiv el li n te la pn 1\ 11111 1111 II
1 '1 1 )( 11 1 11 1 , ( 1M l 'l 'l JI lO l ll 'l st ns q u s c q u c st io n am sobre a 1" " ss[o ~tl(')1'_11111111
1 1 1 1 I Ii~1'l1l1l '1111l . \1~ sod6IojJ;()s l\L1 • S ' d ebrucam so bre ( ) mul I' tnl d llll
M llllillit liN , O N IIII',~'Sll!' c o n d '11(\111 o s tl"{\(·i · a n t 'S d e d l " l ll o' : 1 (HI 1'11111111111'111
II t !lIIIlP~II1, ItllhlK cll's ln te rp re ram ycst lf , !; i ( s . 0 us o do 1I1'liHhl t 1 1 1 1 1
11 1 1 1 1 1 1 I I I 1 1 '1 1 1 I h l I d l 1 1 JI'[a,
l~tlIIHII'ltYIiI ( 1 ' 1 1 1 1 1 1 ' 1 1 1 ) , 11I1I'i<III,1I1l''Ill 1 1 1 1 1 1111IIKl'"" lil!()lIhli ~~llIlIll!llllllhll\llhh, (I I I)
! lillll! ' 1 " 1 . d l l l l l l i l 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 \ I l l hl ! I l i l V I ~ I I IM ( 1 '1 1 1 11 I ' I / j l l ) . M IVIIi " " ! I i i i , I I I f l l lY l i l l I l " 1 1 1 1 1 , , 11111 , , 1 . 1
I hlllllll',illl I' HIli III I 1
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N'" I"
~ A · s '( ) I : t III ,[,'Hlkll qill'. 1 1 1 1 Jlll"~'I. II 1 11 11 1 pInt H II d('IIl~llllllhllll.
I:ao se coritcrttavn <:0111 \~Stl 1 1 1 1 , l i N ' , No ( 1 ) 1 1 1 1 ' '111 ( 1 I I l I I l . t I d" I II" !III
seculo .XIX, dorninado pclo 1I1,todo xprrln: '11(ld d" :Iiliid. 1 1 , ' 1 1 1 J l t I .
ela d~Cl~lU e~,frentar 0 desafio que consiseia em t J' :l Il N f' () I' ll l: II ' I I hlN!M I III
urna ciencia propnamente dita; dai, seu combae; 'OllLJ':J 1 1 I 1 U I ('(JIlI"'P' !
"fi los6fica" ou "literar ia" da hist6r ia .
Essa ~erspec tiva obrigava a situar 0 historiador nn I" ' I (J~: h :~ Ii
guras cienriticas ~o quimico ou do naturalista em s eu s l ab o ra t )I' lm ~',portanto, a focahzar a argumentacao sobre a obs rvacf . A hist )I'iil,
d.~ acordo com a pretensao de Langlois e Seignobos, e tambclI1 uuin
CIenCIa d~ observayao; entretanto, no momenta em que 0 quimi 0 u
o. naturahsta observam diretamente os fenomenos de sua disciplinn,
histonad~r d.eve contentar-se com observacoes indiretas, por conseguinc ,
menos fiavelS. Suas testemunhas nao sao auxiliares de laborat6rio qu '. . e ,
sistematicamente, estabelecem relat6r ios de experiencia, de acordo com,
protocolos precisos. Neste caso, 0 rnetodo critico serve de fundamento
a 111St6ria,nao s6 como conhecimento, mas tambern como ciencia. eis
o~que Seignobos acabou reconhecendo, apesar de ter declarado que ela
nao podena ser uma ciencia,
, Essavontade de fornecer 0 status de cienc ia a hi st6ria explica - alern
(~,a1l11~ortancia atr.i~uida por essa geracao de historiadores a publicayao
st stemarica e defimtlVa de docul11entos submetidos a crit ica - seu sonho
de urn repert6rio exaustivo de todos os textos disponiveis colocado 'd' , sal~posiyao dos especialistas, ap6s urna vigi lante depuracao no plano da
crinca. Dai, ,t~l11bem~a,ideia de alcancar conhecimentos definitivos depois
qu: , pela ,cr~tIca, a histona tenha s ido despojada das lendas e falsificayoes .
Dai , por ultI.mo, a c~ntinuidade entre 0ensino rnedio e a pesquisa hi sto-
r ica - esta ahmentana aquele em fa tos prontos para serern util izados _ de
modo que a hist6ria ensinada seria a hist6ria erudita, desprovida de seu
apararo critico.
E facil reduzir essa concepyao da hist6ria a sua caricatura. Em
seu livro, H.-I. Marrou escarnecia da crenca desses eruditos posit ivis-
tas segundo a qual, aos poucos, nas nossas fichas, se acumula 0 grao
puro dos "fatos": 0 historiador s6 tern de relata-los com exatidao e
fidelidade, ofuscando-se por tras dos depoimentos reconhecidos como
validos. Em poucas palavras , ele nao constr6i, mas encontra a hist6ria(1954, p. 54).
68
II I MIIIII'" jllllNN~lIi,1 '0111 II t' (11,110 d· It. (L 'ollillgwood7o
Ipl l I , ' 1 , · 1 1 111111 '111 " I I: ( ) poupn O S S a l" ' ;) SI l1 0 S ' 1 ' 1 1 relacao a essa hi storia, a
IIII~I til "I 'N IHi l ' : ! t' cola" ( sc is so r s a n d p as te h is to r y) , feita a partir de fatos
1'111 ( 1 1 1 1 , klld(),~ (Y I' !/ (I V "l 1wl e s ta t emen ts i que os historiadores limitar-se-iam
,I I'IH'OIlII':lI' Ilns do umcntos, a exemplo do arqueologo ao retirar a terra
1(1Il ' rnvolvc uiu obj ,t de argila.
A ':11'i atura 6 cxagerada e Seignobos nao se reconheceria em uma
~ m p li f ';\~rrO c1 i simplista. De resto, sejamos francos: em seu trabalho
(uti l inno, dando ursos ou escrevendo obras de sintese, a maior parte dos
I d S L t r iadorcs funciona segundo 0esquema de Seignobos. Os hi storia -
dor 'S passam muito tempo na leitura reciproca dos pr6prios textos e na
It' llciliz:l.t;aodo trabalho de seus colegas. Os livros de uns sao, efetivamente,
('01 'taneas de fatos para osoutros, jazidas em que elesvao procurar material
para construir seu proprio edificio. 0 dominio da hist6ria e tao vasto e
a~ fences tao abundantes que seria urn equivoco ignorar 0t rabalho dos
.o legas e dos predecessores, desde que ele apresente as garantias exigidas
polo metodo: retomar tudo a par tir das fontes ser ia urn empreendimento
inocuo e insano. Se os mais importantes antepassados da escola met6di-
'a estivessem totalmente enganados e se os fatos nao foss em, em certos
aspectos, materiais acumulados pela pesquisa critic a com a intencao de
fornece-los a outros historiadores, estes nao teriam a preocupacao de
ucumular urn tao grande nurnero de notas sobre os livros de seus colegas.
Certarnente , alem de subl inharem as ideias que pretendem aprofundar ou
discutir, ele s anotam os fatos suscetiveis de serem incluidos em estudos
posteriores. Convern fala r das prati cas tais como elas sao: ao consultar as
obras dos colegas, nenhum historiador hesit a em assenhorear-se de fatos
ja prontos, contanto que estes tenham sido construidos com criterio e
que, por outro lado, ele possa reuti liza-los em sua pr6pria construcao.
Ocone que a dissociacao entre 0 estabelecimento dos fatos pelo
me todo cri tico e sua interpretacao ulter ior, se ela corresponde asres tr icoes
efetivas do ensino e da sintese, e logicamente inviavel; sua adocao como
principio da pesquisa hist6r ica ser ia urn equivoco;"
75 Con fe ss o m eu g os to p or Rob in G eo rg e Col li ngwoo d, h om em d e i nt el ig en ci a f ul gu ra nt e; p elo q ue s ei ,
o u ni co fi lo so fo q ue fo i tamb em h is to ri ad or . Pr ofe ss or de fi lo so fi a em Oxf ord , e le e ra , i gu alme nt e, a r-
que6logo e h is to ri ador da I ng la te rr a ant ig a. Esc reveu u rn volume da Cambridge Ancient History ojEngland,
aSS ilTIC01110numerosos a rt igos e rudi to s sab re a Gra -Bre tanha da epoca r omana; a le rn d isso , seu t ex to edi ve rt ido e s e Ie com praze r. . .
76 0 erro de Seignobos r es ide, p reci sament e, n es te a spec to : e le acr ed it a que 0 ens ino e a pesqu isa se ser vem
da mesma l6g ica. Ver nosso a rt igo "Se ignobos r ev is it e" ( 1994 , p . 100 -118 ).
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N c,o 1 'Vllllln III ('OIlMd '111~11l11 II ~Ihl~ (I 11111 "hM I 11\ II till I11I
indireta, cuja utilidade 'l',dll!fld.I d, tit' qtl' u III IIHIIl, 1 1 1 1 1 1 " I IIHlM,
possa aplicar-se a p es qu is as so br e 0 II' 'N' )1C' I POI' uur 1 I u l o , I '1 I I
a vestigios materi ais di retamente cbs e rv a Ios."
Do mesmo modo, nao levamos em consideracllo a imp ssibilid 1(1'
l6gica de comecar a faze r hi storia pela c riti ca des vest ! ios, A apr s llCll~'fio
c lassica do metodo historico, ao si tuar a c riti ca como fundamento 16gi '0
do edificio, exige que 0pesquisador empenhado em criticar'um d ll-
mento seja dotado de tal numero de cornpetencias que essa tarefa aparc ,como impossive l para quem ja nao seja hi storiador. Convem insisti r sabre
este ponto: a critica procede por comparacoes; neste caso, e impossivel
descobrirmos a fa lsidade de urn documento se ignoramos a maneira como
deveria apresentar-se 0documento verdadeiro. Ja afirmamos a necessidade
de decodif icar os textos a par tir das representacoes colet ivas subjacentes it
sua construcao. 0 historiador tera de ser destemido para se servir da cri-
t ica. Eis 0que e confirmado pelas difi culdades dos estudantes diante dos
comentarios de texto que lhes inspiram confianca, evitando- lhes a ver tigem
diante da folha em branco, mas que se revelam, partindo da experiencia
comum de urn corretor, muito mais dificeis que as dissertacoes. 0 his to-
riador esta confinado, de alguma forma, em urn c irculo virtuoso: definidocomo cri tico das fontes, ele so consegue cri tica-la s se ja for hi storiador.
A ingenuidade fundamental da escola met6dica do final do seculo
XIX encontra-se no encadeamento, demasiado simples, entre docu-
mentol criticalfato. Ao visar, manifestamente, Langlois e Seignobos
neste trecho, M. Bloch lembrava com circunspecao:
Um grande numero de pessoas e, ate mesmo, segnndo parece, algnns
autores de compendios, imaginam 0desenrolar de nosso trabalho com
uma candura verdadeiramente surpreendente. No come<;:o, diriam
com toda a naturalidade, trata-se de documentos reunidos pelo
historiador que procede a sua lei tura e se esforca por ponderar sua
autenticidade e veracidade. Em seguida, e somente depois, e que se
serve desse material. Hi apenas um mal-entendido: nao hi historia-
dor que, alguma vez, tenha adotado tal procedimento mesmo que,
eventualmente, tenha imaginado aplica-lo. (1960, p. 26)
Efetivamente, ao teorizarem as regras da critica e ao constituirern a
deontologia da profissao em torno dessas normas, os historiadores - tais
77 Bloch dis cute e ste a spec to de forma detalhada (1960, p . 17-20).
70
It 1 .1 1 1 11 i i I I I I I I I
( I , 11 1 1 ~ Iii I
_ 1 ,1 '11" '"11~ Ii II I II I I,,! I ~ II I ( 1 " 1 1 1 Ii 'I N l' 1. 1
I 1 1 1 1 ( 1 1" 1 1 1 1( 1 1 1 1 d,,~iI~litlli~oS , I 'V O l l- O S a p riv ile glr r \) II Ii 1 1 1 1 1 ' I I I 1 M I h , _
ill [ulv 1Mpllhl, 'uN, COllI!) 'SSli 'S olha, ap are nt nn ' 1 1 ( ; 1, lml 1 11 11 11 1 ~ pilI H I
Ilil 1 1 1 > 1 , · I 'M 11, t sc p re u p aram emjustific' -la, n ')11 ill H i l l p l i l I 1 , 1 ,
1\ Him, 1 :\ a mbou [o r 'ga-l s sobre 0 seu pr' prio 11'0 ' 11111)lIp,
n S N ~ 1 '~'olhn xpli a que a historia feita por ,I '8 S a(1) H 'ilL' I' 1 1 1 1 1
I)
'Stl! I) d ' P 'dod s porqu 0 devil' dos regim 'S P liti ' 1 1 1 1 1 II If IIl m v i n sus i e n d seu interesse - inscreve-se, com efeie , '1P lill III I III
d filii los. A ssah ist6ri a-periodo e costume OpOI: a hi st ri :l-l t'll~ I il! I I I I I
que 0 questionamento, inteiramente expli cit ado, rve de>fil1ld~\l11'III 1 II
1" orte do objeto de estudo. A oposicao e antiga, assirn II' 'II
~~50.0 pr ceito grande de Lord Acton, no final do secul I, i'll' II~ 'guinte: "em vez dos periodos, estudem os problemas" (A ;'1' )N, I H I I )
De fato, a te mesrno os histori adores empenhados no estud cl ,1 1 lulllN
:1caban';' construindo sua historia a partir de questoes que, po I '1'111111
erem implicitas, sao insuficientemente controladas.
Com efeito, a hist6ria nao pode proceder a partir dos futos: 1 1 I 1111
fatos sem questoes, nem hipoteses previas , Ocorre que 0questi naru 'II i '
implici to; mas, sem ele, 0 histor iador f icar ia desor ientado par d S JI11'( I
o objeto e 0lugar de suas buscas. Alem disso, apesar de sua i11'1jl; 'I'
inicial, 0 questionamento devera tornar-se bem definido; caso C I'Cl fiT
a pesquisa aborta . A historia nao e uma pesca com rede; 0hist ria 1 II.I
l anca seu barco ao acaso na tentat iva de apanhar a lguns peixes, s jam ,1
quais forem. E impossivel encontrar resposta para questoes que n a ,It
garam a ser formuladas . .. Nes te aspecto, a hist6r ia assemelha-se a s ut u
ciencias, de acordo com a reflexao de P. Lacombe, em 1894 (ver b (I ) I
6. _ Paul Lacombe: A impossibi lidade de fazer qualquer ObR,'. .
vacao sem part ir de uma hipotese
A hist6ria [.. .J nao se presta a experiericia, no sentido cientifi ~l!
termo; no que the diz respeito, 0 unico metodo possivel e a obs rva
<;:ao.Convern esclarecer 0sentido desta palavra: em geral, imagina-se
que a observacao consiste em manter 0 olhar fixado no fluxo infll1ictl
dos feno111.enosqut: passar n e esperar que, ao passarem, os fenomen IN
facam surgir no obst:rvador LImaideia que seja a revelacao de sellM
aspectos gera·is. No .nranto, a infinita diversidade dos fenomenos
suscita apenas inc 1 ' 1 : ' z n . duvida na mente desprovida de qualqu
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DO ZE U c ; OESSO BR EA H i S TO R IA
concepcao. Em vez de fixar tudo com um olhar vagamente atento
e em expec ta tiva , observa r e , precis amente , concent ra r a a tencao
eln cert .-. a: regioes ou certos aspectos em virtude de um principio de
eliminacao e ~e escolha, indispensavel diante da enorme .mult iplici-
dade dos fenomenos. A fo rmulacao de uma hip6tese e urn pro jeto
preconcebido de verificacao, eis osunicos aspectos que podem fornecer
esse p ,. . ""'. nnClplO, que circunscreve 0 olhar e orien ta a atencao para um
sentido especial, em vez de um outro. Se e obvio que uma hip6teseexige ser venficada, e t ambem cer to , apesa r de se r menos evidente
que aobservacao implica, previamente, a concepcao de uma hipotese.
(LACOMBE, 1894, p. 54)
. . Ao reivindicarem a autoridade tanto de Lacombe, quanta de
Simiand, os his toriadores da escola dos Annales insistiram particularmen-
te - e com t.oda a razao - sobre este ponto. Com sua verve habitual, L.
Febvr_e mamfesta sua desaprovacao aos his toriadores que nao formulam
questoes, por meio desta comparacao extraida da vida rural :
[ . .. J se 0hi~to riado r nao levanta prob lemas a si pr6prio, ou se ja os
levantou, n~o formula hip6teses para resolve-los - no que diz respeitoao OfiCIO, t ecmca e esforco c ient if ico - , t enho mot ivos para af irmar
que ele esta um pouco atrasado em relacao ao mais insignificante de
nossos camponeses: com efeito, estes sabem que nao convem deixar os
a rumais, em desordem, em urn ter reno qua lquer para que e lespas tem
ao acaso; pelo cont rar io , mantem osanimai s no cercado, presos auma
estaca e fazendo-os pastar em determinado lugar em vez de outro. E
e les conhecem a razao de tal procedimento. (1953, p . 23)
Em decorrencia de sua relativa unanimidade sobre as questoes
a serem formuladas, os historiadores da escola metodica, tais com
Langlois e Seignobo - h identi, nao c egaram a 1 entificar essa interdepend "11 in
entre fatos documentos t - AI' , ,' . e ques oes. las, esse e 0 ponto fraco d ' Slln
epistemologia; no entant S' b . rfi .e . b~ '. 0, . eign~ os VlU pe eitament qLl>0 do 'UI11t'IILo
. ver~a ser objeto de quesnonamento. Em seu livro, M. Bloch l c m h r n v n .
InclUSIVe a frase "surp edt " - ,r en en e - que nao ',C01l1 't.'I·tl'l,:I,"ulkd:lIW: n
de um fanfarrao" - que h . , , d " ._ ' av ia es apa 0 n sou (';\1'0 1l1(',~II't':" I < : I I l i l NNIIIIIJ
suscitar questoes, nus per igosiss imo doll' 1IIlIN It'HllIINI'" ( 1 1 ) t l l l , p . XVI ) ,
Em comp nsa~5t), KII II d l'Ol llol llp,i ll t il l f 'H l l l l l i 1 " 1 1 1 11 1 '1 1 11 1 1111.I , I I " ~
per.man> c a r j J ; I ' : J ti n pi (II1NNI: H'I I q t I, d IiI I , \ .~ , 1 1 1 , 1 I I \ liidil IIdll I II"
tor indor N 1 lI II II IR 1 11"1 '111n111NI'I I II I lh l~ dllil Iii I 1 I I I'lflll 1 1 1 1 1 ' 1 1 ' 11 1 1 1 1 ' 1 I I I I II II
um u I ( '( ~ II I 1 II 1 , 1 1 / , " 'n II tIl 1" 1 1 , 1 1 ,, 1 1 1 1 1 1 1 1 1 " " " I 1 11 '1 1 11 1 11 _
O S FA TO S E A c R I TI C A H I S TO R I CA
G.-P. Pa lmade t inha razao em. assinala r que todos nos somos herdeiros,
"as vezes, inconscientes ou ingratos", da gera<;:aodos fundadores da pI: -
fissao; temos minimizado sua contr ibui<;:ao "por ter sido assimilada d
uma forma completa demais".
Com efeito, sejam quai s forem os documentos uti lizados e as q1..1s-
toes formuladas, no estagio do estabelec imento dos fa tos, esta em jo[.;t.-)
a flabilidade, ou a verdade, do texto fornecido pelo historiador para S I
lido; dai depende 0valor da historia como" conhecimento". A hist rin
baseia-se em. fatos e qua lquer histori ador tem obrigacao de produzj-loN
para confi rmar suas afirma<;:oes. A solidez do texto histcrico, ou S ~ ll ,
sua admissibil idade cient ifica, dependera do esmero que tiver sido "1 li-
cado na construcao dos fatos; portanto, 0aprendizado do oficio incid "
simultaneamente, sobre 0metodo critico, 0conhecimento das f n~'~ ,
a pratica do questionamento. :E necessario aprender, simultaneam n e •
a tornar notas corretamente, a ler corretamente um texto sern se equl
vocar sobre seu sentido, suas intencoes e seu alcance, alem de formulm
questoes pertinentes. Dai, a importancia - nos cursos de histcria, tnlM
como estao organizados na Pranca - das "explicacoes de documen O K " I
tcxtos, imagens, tabelas estat ist icas, etc; dai , a importancia atribuidu, 1 1 1 \
nvaliacao dos pesquisadores, ao trabalho de primeira mao, a in dic acfio la H
fonces, das referencias, em breve, a tudo 0 que, de maneira apr pruulu,
, cksignado como "aparato crit ico". Para sua grandeza ou subs ervi :\1\('11,
II historia nao suporta as imprecisoes. Uma data ou uma r f 1"'11 'ill H 1I
vl'l"dadeiras ou falsas; nao se trata de urna questao de opil1'i5 , ?, p.1I1I
( 'OIICt.:stardetenninada leitura da hist6ria, e necessario produzir OUIH ' "
l il to s , o u tr as datas e referencias.
U " 11 1 sabe se a preservacao de certa unidade, apesar das diV il l
\l1!l' 1 1 1 . ' 1 " 1 1 1 . iam a protissao de histor iador - alias , a exemplo do q u . ( ) ( ' 0 1 1 ! '
"Il l qun lqu '1' grupo social-, tenha a ver com essa deonto login ( ' 0111111\1
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CAPiTULO IV
As quest6es do historiador
Nao existem fatos, nem hist6ria, sem um questionament IWil l '
caso, na construcao da hist6ria, asquestoes ocupam uma posicao d iS1VII,
Com efeito, a historia nao pode definir-se por seu objeto, 1 em I ~I
documentos. Como vimos, nao existem fatos hist6ricos por natur 't.!;
alern disso, 0 campo dos objetos, potencialmente hist6ricos, e ilimit I I, ,
E possivel fazer - e faz-se - hist6ria de tudo: clima, vida material, t6 1 It'll~,
economia, classes sociais, rituais, festas, arte, instituicoes, vida 1 Ii!1'1,
partidos politicos, armamento, guerras, religioes, sentimentos ( mlIOI',
emocoes (0 medo) , sensibilidade, percepcoes (os odores), mares, d S'l tllN,
etc. Pela questao e que se constr6i 0 objeto hist6rico, ao pr de r r 1 1 1 1 1
recorte original no universo ilimitado dos fatos e docum l1t S P()R V{' N
Do ponto de vista epistemo16gico, a questao desempenha 11Wl'III II,' II
fundamental, no sentido etimo16gico do termo: com efeito, 'I n H 1 VI ,1 1
fundamento e constitui 0objeto hist6rico. Em certo sentido, 0 V lltll III
hist6ria depende do valor de sua questao. Dai, a importan in u n 'r N "
dade de colocar a questao da questao.
o que e uma questco hist6rica?
Questoes e documentos
A questao do historiador nao e ingenua. Nao Ihe v i l ' h " Ii ,1 1 II!
~{.qucstionar, por exemplo, sobre 0 sentimento da natur ' : 1 . 1 1 III! 1 1 1 1 1 1 I III
Ii, Cro-Magnon par saber que, por falta de vcst igios, I I ' f 1 H I HI ' I i 1 1 1 1 1 1 1
"lh 'N I: ( ) in6 L1a; ocupar-se desse assunto seria P ircl I' M~l lI I 111 11 °, ( JI ll I
"ljl! Nlto d o h is to r ia d I' I ,jHpPr qu II I I ) n nl] (O llN il 1 1 1 1 1 M 1 1 I l l ~
t ( , I I I r ' l l l uiun id\';n lillMIIIllhl• I d n N d( C 1 11 1 '1 1 ( ( 1 '1 11 1 lilil 1 " '1 11 11 1 11 1
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n 'N ll l v 1 ,1 , \1 1 1 ",.I,I, 1 0 1 1 1 1 1 1 1 1 11 1 11 1 I I'I III It II Ii II d\11'1I1I1 II 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
p a ra a h ol 'd n -I o s,
S eu ip rc q ue fOl'l1ll1lu um u q ll ('~ 11 II, II 1 1i ~1 1l1 ,Il itl l If ! 1 '1 1 1 \ '1 1 1 1 1 1l 'l ll t'
LIma i d e ia p r c lim in a r , 'Uj;l v ,dO ':1\'illl p O lk ~ 'I 1~11I111I111 II 1'1111 I Ihl
documento que el e sera c ap az d e u ti li zn r j...]. N n { ' ~II l' ill. II lilllllli
lacao de questoes para as qua is 11:\0CXiSCCll1 III ins t i l . ' H 11 1Il'C \'I' 1 11 11 :1 '"
resposta e 0 pecado fundamental, a excmplo do que \ C Ol'!" IIi! villi!
polit ica quando sao dadas ordens que, segundo sc presume, 11;)0 S 1' : II
cumpridas . (Collingwood, 1946, p . 281)
Portanto, nao ha questao sem documento. 0 historiador nunca se
lirnita a formular uma "simples questao" - ate mesmo quando se trata de
urna questao simples - porque, em seu bojo, traz uma ideia das fontes
documentais e dos possiveis procedimentos de pesquisa. Ela supoe ja
urn conhecimento rninimo das diversas fontes eventuais e imagina sua
. u rilizacao por metodos que ja tenham sido experimentados em outras
pesquisas . .. Voltamos a encontrar 0circulo virtuoso: e necessaria ser ja
histor iador para ser capaz de formular uma questao hist6r ica.
7. - Robin G. Collingwood: Questionar do ponto de vista hist6ricoTudo 0 que e perceptive! para 0historiador pode ser utilizado, do ponto
de vis ta racional, como prova (evidence), seja qual for 0 assunto, sede
vier a formular a questao adequada em sua mente. A ampliacao do
saber his t6rico depende, sobretudo, de descobrir a maneira de uti lizar,
como prova, a percepcao de determinado fato que, ate entao, havia
sido considerado sern utilidade pelos historiadores.
Assim, todo 0 mundo perceptivel const itui , potencialmente e em prin-
c ip io , uma prova que se torna efet iva na medida em que 0 his tori ador
pode uti liza-la. E tal operacao so sera possivel se este vier a aborda-Ia
com 0 t ipo adequado desaber his t6ri co . Quanto mais amplo for nosso
saber, tanto maior sera nossa capacidade para aprender a partir de
todo e qualquer fragmento de fontes (evidence); no entanto, se nao
possuirmos tal saber , se remos incapazes de aprender algo , As ' rontes
s6 existem como tais ao serem consideradas por alguem do ponto de
vista hist6rico. (COLLINGWOOD, 1935, p. 19)
Tampouco existe documento sem ter sido questionado. Por sua
questao, 0historiador estabelece osvest igios deixados pdo passado como
fontes e como documentos; antes de serem submetidos a quest ionamento,
eles nem chegam a ser percebidos como vest igios possiveis, seja qual for
76
III I..II \ 1 1 1 til, H i l i ~ I' li I iV II I, M . I II I\ ! I t 1 11 .1 11 1 I I I' II~P,III\ l 111111 1111 \
d II III II II: " " 1 1 1 1 Mtil' Illilll'ltt'1 de Pi'] lit 'H , ( 1 M Mil i ' I IM 1 1 1 1 1 1 1 1 III 1 1 1 1 , 1 1 1 1 1 11
I I I I' 1 1 1 ) l ' !l'IS'lluvi( 'S do rio SOIl)III', 1 1 1 ' 1 1 1 1 1 1 1 1 I, 1 1 1 1 1 1 1 III 1 1 11 1 ' 1 1 1l ~ I I I "" , '
I (jllli 1\lIII.HI(lI, n e r n hnvia P " · -h is t6 ri :: !" ( I % 0 , p, ...1),
I, , '''0 p rop r i o d cu m 'Ill;!)11:1\ ' Hlt'llIll' Ilil() IIll'Slilt) 'tW,'1 qU(; . . -
1 1 1 1 ' 1 VI'lliln :1 nl1'lo sid ad c d o historicdcr" (M;11'I'OlI, I ( ) . · 1, p , It) • 1 \ 1 1 1 I
t lop d 'S r d CL1111'nto d ' A d c : q l l l ' ~ 1.1 1M 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1IlIlIIIl'SlliO Ct 'mpo , Lit, , ., 'I '
III' , It oJ1ingwood reSLlI1P per Ullin hH'lmd.1 II'II11 I 'I
l't', ,IS tlU .", I' I fl/lr" (i'llfl I'
" [ : '1 1 1 '1 " )1 1 1 1 1 1 '1 : « i t / l . t he w o r ld is p o te n t ia l e tJ id e n~ e Jo r a ,n :) :. 1 ' ' ' 'yl'ff; I I! I ,d 1,1,1,
I I' K ( ) ) :0111 a condicac de gue 0 histonador saiba 01110 lll,llI:d\ Ill, " II~,
.... b 1 ··d de L Pebvre: a 1artc Ili:llS lq I 1 1 1 1 , 1 1 1 1 1,,"", ; "Sf ' to era en) con :leCl 0 ",,'0 ,', r . . , 'I' " , I ~ • 1 1 ,1
I.. b 11 0 de ·l' l·storiador consiste em levar as C isas SI 11 10, , I ,
I()tla a 1.' . ,
1 1 : 1 1 " 1 1 1 expressivas
------------~~~.8. _ Lucien Febvre: Tudo pode ser docul11cnto ,
A I, , . [; se sern duvida com documentos eSCI 'tCClS, qWlltlill1l ls tona az- ,< , .
. . '0 na sua falta ela pode e dcvc f:1'7;1. ' l-~ " 1\ pli IIIeXlstenl; e, ate,111esm , ' ,
d d genhosidade do historiador pede hUH'Ul' IllIllI pllille tu 0 0 que a en . 'Ifb' el na falta de flores usu ais. P ortanto , a p arnr "111\ ItVIII~
a ncar seu m , ., . d isagens e pedacos de argila; das formas de :\lllIHlH l Ii
e smais; e pa... j
d. h . dos eclipses de lua e das coleiras de pal'elhn: d u 1 1 I
ervas anln as, . .ci a de pedras fei ta por ge610gos e da anal is e de espadas nH;:cnll(' I\~ 11111
,. E a a partir de tudo 0 que, pertencente no b()IlH'III,quirrucos. m suma, , II'
d' . 0 do homem exprime 0 homern, S I [. I; I 1 1 1 1 1 II
depen e e esta a servic ,ti ' dade as pre ferencias e asmaneiras de se r do h Olll '1 11
presenya , a a IVI , ..]
U . dte e sem duvida a mais npaixonante - ~ IlIlNNli
rna gran e par - , '
t rabalho de his toriador nao consist ira no esforco constance ' ,n t' ll q ll ,
. '1 iosas se tornenl expressivas, leva-las a expnrmr ) qlllas coisas SI enc
1- . de dizer por si mesmas a respeito dos homeus I \II~
e as sao mcapazes .. Isociedades que asprodnziram e, fmalmente, para const ltUlr entre I'""
essa ampla rede de solidariedade e ajuda mutua que supre a fnlclIlhl
documento escrito? (FEBVRE, 1953, p . 428)
. d d C bre 0 documento acarreta duas consequen i\~:o pnma 0 a ques ao so . . . , I.' . ibili dade da leitura definitiva de determlt1i1l (l
em pnme1ro lugar, a 1mposs1 11
documento. 0historiador nunca consegue exaurir completament s '~IM
t qu s e c .~documentos; pode sernpre questiona-Ios, de n~vo, com au ras 1:1
ou leva-los a se exprimir com outros metodos. E1S,por exemplo, as de ~
- de sucessao depositadas nos arguivos fiscais: grandes 111vest1gac;:( )C'Sracoes . . fi - br U
tern procurado apurar amplas amoscras para extrair 111or~ayoes so l.
for tuna dos franceses no s' cul XIX (DAUMARD, 1973; LEON, 1974). N
77
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DOZE l I(OES SOBRE A HISTORIA
entanto, elas contern, certamente, outras informacoes: sobre OS regimes
matrimoniais e OS dotes, se 0 tema abordado for 0 casamento; ou, ainda,
sobre a mobilidade profissional e geografica ... Com efeito, a declaracao
menciona necessariamente 0 endereco e a profissao dos herdeiros e seria
possivel- inclusive, na falta de uma documentacao mais apropriada sobre
o assunto - elaborar estudos sobre a mortalidade.
Ve-se 0papel fundamental do questionamento na construcao do ob-
jete hist6rico. As declaracoes de sucessao podem servir de fonte para varias
hist6rias. Mediante a questao e que, a partir do mesmo documento - por
urn recorte e abordagens diferentes -, seconstr6i uma hist6ria dafortuna ou
uma hist6ria da mobilidade social. 0 que levanta, evidentemente, grandes
problemas aos arquivistas que, muitas vezes, por falta de espac;:o,sao levados
a depurar seus acervos pela eliminacao dos documentos "inuteis"! Mas,
como saber, atualmente, os documentos que, amanha, poderao fornecer
a resposta para as questoes, ainda desconhecidas, dos historiadores?
Em segundo lugar, a solidariedade indissociavel entre a questao,
o documento e 0procedimento adotado para aborda-lo explica que a
renovacao do questionario implica uma renovacao dos metodos e/ou
do repert6rio documental. Nao aprofundaremos este ponto, ilustrado de
forma excelente pelo livro de J. Le Goff e P. Nora, Fa i re d e l 'h i st o ir e , com
os titulos de seus tres volumes sucessivos: N o uv e a ux P r o bl em e s, N o u ve ll es
A pp ro ch es , N o uv e au x O bje ts . A medida que formula novas questoes,
historiador constitui novos aspectos da realidade presentemente acessivel
em fontes e vestigios, ou seja, em documentos. Os historiadores do seoul
XIX privilegiavam os vestigios escritos, enquanto no seculo XX tl'lm
sido questionadas as escavacoes arqueol6gicas para respond r a s qu se Q S
sobre a hist6ria da vida material; verificou-se urn interesse p e lo s r i tua is,
simbolos e cerimoni.i, para identificar as praticas sociais ' ulturuis,
bustos que representam a Republica Francesa, os monU111ntos :lONIll! I'
tos e os campanarios das aldeias tornaram-se docurn J1 e o s : I or N l U J v ,~ ,
os textos escritos foram questionados sobre asp t S diferen« N d HIll ~Ifl"
que, segundo sepresume, eles deveriam xpriniir, 'Ill p:]l'lil'I!lIII ', 1o\1"~ilMl
uma abordagem linguistic a e a estatisti a I 'xi ' n J . A lnv '~IIHII,· II()I III I If
testemunhar os sobreviventes silenciosos l in h is t w i I, 1\111 NIIIIHl, 1111Itl l l l l"
oportunidade de voltar ao aSSlIIlCO , {) I' P c'lt )Jio dlH 11 11 11 11 11 \1 [ II 11 1M lIul
metodol6gico no,o 'SS:lJ':I1ll dl' tuuu-ru II !I'IIN II 'IVII 1'1101 I ~I111111'1 II
novas q ll sec's.
liNN:!I'C'llIlVU' II ill 11"1 1 1 1 1 1 1 1 1 t1,1j1lJ 1 111111 IIiII "h' II II dlill I
p I ill,llillllllrtitll I 1 1 1 IliI 1111 111111 1 I l l I h 1 11 1 Illdl llilll.l" I I 11111111111
A s QUe& 10 fi f i l i D I l I t l ' I ()IMDOII
As questoes encadeiam-se umas nas utras, geram-se mutuamente. :or
\
urn lado, as curiosidades coletivas d slo am-s.e;,poroutro'A a venficac;:aol
refutacao das hip6teses da origem a I vas hipoteses, no amago de teo-
, rias que evoluem. A pesquisa e , portanto, indefini~an;e~te relancada. ~
exemplo da lista dos fatos, 0 elenco das questoes hlst~ncas nunca estara
encerrado: a hist6ria tera de ser contmuamente reescnta.
Entretanto, em cada momento da hist6ria, existem questo.es ~ue
deixam de serformuladas e outras que estao na ordem do dia: aspnmeirassao contestadas e rebatidas, enquanto assegundas encontram-se no cerne
das preocupac;:oes da profissao. A insercao das questoes .no ,campo das
problematicas atuais da corporacao .~etermina seu s tatus cicntitico. Nem
todas exibem 0 mesmo grau de legltmudade.
9. _ Robin G. Collingwood: Qualquer coisa pode tornar-se fonte
Por urn lado, os dados (data) e, por outro, os principios de interpre-
tacao: eis os dois elementos de qualquer ref lexao de carater .hist6r ico.
Mas eles nao existem separadamente para sejuntarem postenormente:
s6 podem existir juntos. Em vez de adotar dois momentos sucessi-
vos - coleta dos dados, seguida por sua interpretacao -, 0 historiador
fc nnular urn problema em sua mente para orientar suacorneca por 0
busca de dados relativos a esse assunto. Tudo, e seja qual for sua
proveniencia , pode serv ir-Ihe de dados se ele fo r capaz de encont rar
a maneira de interpreta-los- Os dados do historiador consntuem a
totalidade do presente.
Portanto, em vez deser aco le ta ou a contemplacao de fatos brutos ail1dll
- . t t dos 0 comeco da pesquisa hist6rica consiste em fotlm,11Hna o Jl1 erpre a, .,-
1 . 1 1 1 1 3 questao para desencadear a busca de fatos que possam C 1 1 '1 '1 1 11 1 1
D d qualquer pesquisa hlKt )I '"para f rnecer- lhe uma resposta. este mo 0, ,
' se a f o .alizada sobre determinada questao ou problema part1culll ilil
define s >L 1 t ema. Alem disso , a questao s6 devera ser formul t < I I I " I I
", - e sera capaz de n '01111111h i st o ri o do r n v e r algumas razoes para pensar qu
11I1I1I I 'spost;] que, pOl:sua vez, devers basear-se em uma argum IJCII~ I
II lit, IlliCHIl1Cl1te historica; caso contrario, tal questao ficar{t sem Ii to I
: sid de o cio sa e 1150 Q 'ocro llllll1 1 0 1 1 I{ t )( i il l \) , s ' r{) apenas l ima CLlUOSl. ,3 , ., ,'" I
d . b I l h i e6" 0 "1'· cu X I)1 III 1111M1 ' 1 11 1 ( '1 ) 1 1 1 1 1e leruento e urn tra a .10 l\S 1.1 ,J;;" " 0
II ' g O L I 'S " ~ ~ "formu lav l" ou "n] 0", (1 1 1 1 1 1 II M ilIH I 1 ~ t'I' que' \1111:, '" 1:' 0" a
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 vel M iK ll iJ 1 " H 1 1 1'1 1 1 1 l1 i1 1l C '!U 1 1 1\ 1 v incu lo I I p , J rO (11111 1 1 1 1 M . I"
1 1 1 1 H !'~au t l im " I it "I I t ~l l, 1 (I II Il IR \1111 nu I.VIl pllll1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
1 11 I ~ 11 l1 1. U ll lw u il li M 1'11111111111\11 d 1111111 M l l l r " " 1 1 1 I 1 1 " i l l d
( I 1 1 11 1 11 1 1 III III 1 ' 1 I1 1 I I 1 I
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, II I'"_III IIIII~ IIIIII~ ' I 1IIIIli p H 1 1 I 1 I III1 tlll~ I I I N l l l i ll l d l l l l 'N , liNt t l ! 1 ~ I l N
1 1 1 1 1 I ~ IIIIIIIN _ 11 1, 1 1 " 11 11 11 11 1, I I. '1"1 I I I I III " I I 1 1 I 1 11 " N I I I I d lN ( pllllll, Mil I
'I" II ~I It "."llIlill1 i i I I I I I I I M I '~
1 1 I 1 1 1 1 1 ~ V ' I I I ~ I I I I I I I I II I " M d i 'I , 1 ! I i , 1 I 1 I 1 1 1 1 \ ' I I " I I I I M I t ' ) f i l1 l o 1 l l 1 1 1 I N ~ i l 1 1 " l l ' N
1 1 11 1_ 1 I > ' I I I I l"II'II( 1 1 1 '1 l iN I I ('I I II I N tit' 1 1 0 , N O M conh I c l l l l ' l l l u , ~ , M us I l q ll '
l 1IIIIIIIlIi 1 1 1 1 11 ' I I II V I " M(IIIIPI I U l l i n llld('in, (·tljll hl .~~1 ' 1 : 1 u i n d l l W () e e n h n
- h l t l I ~I , l i l t : IIII 1 1 11 1 11 1 (1 , I I I Ii N t Il'in d, 1 1 1 1 1 . 1 ,11I'siIIHI al,kia II" nchcrl:
I ldll li l i ll li ll fl ll l! ' t lli ll l li ll 'l Il l11?
HII no s I l s i l l n l ' i a: 1 1 !J , '( l q u e
Hinda dcsc _1 11 1 11 • • IIIIIN Hili v ' ' ' ' d· 1 1 1 1 1 ( )b j~ '11lSlIpl ' ill . u t n r ' u j a histcl'ia IlaO e nh a
_ h l t l I NIl Iii, I (1Id,ld(·11'Il 1 : 1 ( , 1 1 1 1 : 1 "'OII.~tilllld:1 11d:1Sq l l 's t 5 'S ainda s m
I ' ~ J1 " ~1 1 1 IIiII II 11 M 11,~I()I'i,ld(lI'('S, 1 \ c o r u o aN ' I l l 'st 'S 8 1 , ; : I' ' 1 1 Q V a m , 0 orre
'1 1 1i til I ' 1 1 I t I " [(I.I~hll'llll:l,~ d 'saprn'l'Cl'lll sen: e ere m s id pre .n h id as . . ,
~ 1 1' 11 ~III pod"II! d~'ix<l1'd· S 'I' fO l'ln Llln das, lllC Sl11 0 antes de terem
II I , " till 1 1 1 1hI l'I'I~pOSe:t,
H N N , 1 (jIINLILiI~~n() ncarrcta duas conseqLl,encias, A primeira tern a
II 1 11 11 1 I I 1'1(0 (k' q ue a .scrita da histo ria nunca estara encerrada. Os
liI~I'IJi'I,jnl ,' N do ('inal do s6 .ulo XIX p e nsavam que seu trabalho era
til 1 1 1 1 I lv ! !: !I utnvn-se d . L1 l11 sonho. Sera necessario retomar incessan-
1111111111'I hlst()ria, lcvando em consideracao novas questoes e novos1 1 1 1 1 1 1 1 I1111IIto,~, J). acordo com a percinente observa<;:ao de R. G.
1 1 1 1 I l if>\w!)()d: [ualquer hist6ria e urn relat6rio de etapa sobre 0pro-
II f'NNI I(,lIli~Ido, at e 0 momento presence , no estudo do terna abordado.
I ,I I'Nul!a qu todas as hist6rias sao, ao mesmo tempo, uma hist6ria
d .1 I I NI(ll'i:l. ..Uis por que, em cada epoca, a hist6ria deve ser escrita sob
IIIIV,1 PI'I'SP' .t ivas" (1930, p. 15).
( ) I lI t'Sl lIO e dizer que a legitimidade do trabalho hist6rico nao se
111 1 ( 1 ) 1 1 1 1 ' [ 1 dirctamente nos documentos. Um estudo de primeira mao,
1 \ 1 1 1 I 1 1 ) f "do dirctamente a partir dos docurnentos, pode ser destituido de
1IIII'It'NI~l'r icntif ico se responder a questoes informulaveis; inversamente,
1 1 1 1 1 [ I N l li d o de segunda mao, baseado em trabalhos anteriores de outros
I liN11l Indorcs, pode apresentar uma grande pertinencin cient ifica , se vier
I 111"1('VlT-Se em urn questionamento inovador. Para ser plenamente
h'~1 I I I I i l para os histori adores, uma questao deve inserir-se em uma rede
,It· I I I I I I ' : I S questoes, paralelas ou complernentares, acompanhadas por
Ii HIli )N!:ISoss iveis, cuja escolha dependera do trabalho efetuado sobre os
dllllillll.'lItOS. A questao hist6rica e , assim, aquela que se ins c reve no que
tllllVl'll1 chamar, efetivamente, uma teoria.
80
H I I I I I ~ till Ilh l I II I III 1 1 1 1 1 1 , 1 11111111 1 1 1 1 1 111111 I' ( ' l l I p l o d ' s S '
11111111111111i!· II~ li~ II IIti 1111I'l"1 1 1 1 ' 1 1 1 1(11. 1 \ h 1l~I,;tli:l '1':1 plcnamcnte
II HI Ilhl I l i l l . 1 I "I~I 1III pili I I' ll. ( )N1111W!l lI t'S dONAnnales negaram-lhe
qllitlqlltll "ltt'i't\,~SL' P( ) I 'q l l~ · 1 1 1I IL l) p c rm i ee a p rc en d er os g r a n d e s con jun tos
r 1 1 1 1 1 1 1Ii1I 'ON t' sociais. L I ' SL iO ll: iI '-S C S bre um homern, e necessanamente
11111 luunvru conhecido - porque os outros raramente deixaram vestigios
, ('I I d 'sp .rdicar UD1 tempo que teria sido mais be m utilizado em en-
iuntrnr n .volucao dos pre<;:osou a discernir 0papel dos grandes a tores
I olcrivos, c a i . s 01110a burguesia. Assim, no periodo entre 1950 e 1970, a
hloKI ':1 f i: l - individual e singula r pOl ' definicao - era de ixada fora de u~a
l t is~6r in cicnt if ica, voltada para 0 aspecto geral . No entanto, ela respondia
. d nuanda do publico: grandes colecces obtiveram um verdadeiro sucesso.
POl 'so l ici tacao dos editores, oshistor iadores, seduzidos pela expectativa da
notori dade - participacao, por exemplo, no programa televisivo, sobre
litcratura, dirigido por Bernard Pivot - e 0 atrativo dos direitos autorais,
II .eitaram esse trabalho por encomenda que acabou por despertar seu
interesse. Simultaneamente, ver if icaya-se uma mudanca na configuracao
tcorica da his t6ria: apagava-se a expectativa relat ivamente a uma hist6r ia
sintetica, a uma hist6ria total, que permitisse uma compreensao global
da soc iedade e de sua evolucao; e tornava-se mais interessante compre-
ender, a parti r de casos concretos, os funcionamentos socia is, cultura is e
religiosos. Neste novo contexto, a biografia mudava de status e acabou
adquirindo legit imidade. Passou a ser elaborada de maneira diferente, nao se
Iimitando ados homens "importantes": em vez de determinar a influencia
do individuo sobre os acontecimentos, ela procurou compreender, por seu
intermedio, a interferencia de determinados encadeamentos e a art iculacao
de redes complementares.
Naturalmente, a def inicao do campo var iavel das questoes legit imas
constitui urn desafio de poder no interior da profissao de historiador;
com efeito, os detentores das posicoes de poder e que decidem os ques-
tionamentos pertinentes. Ao ace ita rem ou recusa rem art igos, a s revi st as
sao urn desses espac ;:os de poder;dai, sua importancia na hi st6ria da dis-
cipl ina. A polemica dos Annales contra a hist6ria historizante e urn bomexemplo dos conflitos que atravessam a corporacao para a definicao das
questoes legitimas; do mesmo modo, no final da decada de 70, a discus-
sao desencadeada pe la hist6ria autoproclamada "nova" contra a hist6ria
decretada, por isso mesmo, tradicional. Deterrninados grupos, mais ou
menos numerosos e constituidos por membros de diferentes procedencias,
enfrentaram-se ass im em debates te6ricos, cujo pretexto era a hegemonia
81
5/14/2018 PROST, Antoine. Doze li es sobre a Hist ria. Cap. 3 e 4 - slidepdf.com
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( '1 1 1 1 ('I Nllllll II I till H M l il . Ii ~ 1 1 1 1 1 1 I 1" 1 1 1 1 1 1 1 I II I N I I I Itlll" '110111
g e n s m a c - d i l iN ~ l l l l h ( Il·il~. II H 1111111 I I I l h l III .1 " 1 1 1 1 1 1 II 1 1 1 1 1I,1~ t II
a r e cu p e r a ,0 do p t sto s ]ll"NlilJ,loNON, A I III 1'1 III I (II, Illlil t 1 1 1 1 1 1 1
sociais de um tipo parti ular: ' s S ' duplo IISI (ttl l i l i P II ,It 1I1Wlli !II '
signado pela expressao "conflitos de ·s olas" [ml" () tcrnm II sculu''
exprime, simultaneamente, um grupo de inc I, ' t u n i . s in e c or in ill NC'l 'V'
de fundamento a sua identidade.
A pluralidade dos polos em torno dos quais se organizou a profissf I
tais como sua abertura aos historiadores estrangeiros, impediu qu tais
conflitos - alias, atenuados - nao redundassern em lln1.a v erdadeira do-
minacao. Entretanto, contr ibuiram para fazer evoluir a conf iguracao da s
questoes per tinentes e suscitaram "modas" histor iograficas que est iveram
na origem de inumeros estudos inspirados pelas mesmas problematicas.
Em suma, trata-se de urn importante fator da historicidade das pr6prias
questoes hist6ricas.
No entanto, a hist6ria destas questoes nao se limita a hist6ria,
cientifica e social, das "escolas" hist6ri cas, nem obedece apenas a fatores
internos a profissao que, por sua vez, encontra-se inserida globalmente
em uma sociedade para a qual ela funciona e que a faz viver. Por outro
lado, ela e composta por individuos que, ao fazerem hist6ria, sao movidos
por razoes pessoais. A questao hist6rica e formulada no amago nao s6 da
profissao, mas tambem de uma sociedade e por pessoas: dupla polaridade
que nos compete aprofundar .
o enraizamento social das quest6es hist6ricas
Pettinencio social e pertinencia cientffica
De um ponto de vista cientifico, nem toda a producao de obras cha-
madas hist6ricas a disposicao de nossos contemporaneos possui 0mesmo
grau de aceitabilidade.
Algumas hist6rias desempenham um papel de diversao, com 0ob-
jet ivo de distrair , de fazer sonhar . Elas procuram 0ins6lito no tempo, um
exotismo an:i1ogo ao que era proporcionado, no espac;:o,pelas revistas de
vulgarizacao geografica; esse t ipo de hist6r ia e que obtem sucesso na midia
e se vende em grande nurnero de exemplares nas bancas de revistas das
estacoes ferroviarias. Sua funcao social nao e desprezivel , nem inofens iva,
a semelhanca do que ocorre com as reportagens da revista Par i s -Match
sobre a familia reinante do Principado do Monaco ou com os catalogos
82
I h l ~ .1 1 I ii h lH Ii, I U t i 1110 , P a r :1 ) H IiNLulllll()I"S, ~ ' H R n h
1 "1 ' '11 11 N ' I \1 II d ( I 1 ' i n s , f) .alizada na vi L a privada d s p I'm 'l1 ~ Ii • IH IIII 1 I .
1111 t di ll .~ Ililldll 1150 ·Jucidados, em epis6dios esp en. u ln e
(Mlllllillo., 1 1 0 0 merecc grande interesse; em vez de scr d 's 111 '\11
'II ~ I II 'cmlos qu ~ podem garantir a perfeita observan i[ 1 1 a . 11 III
It lica, it hisc6rllll11idi:ltica e desacreditada pela futilidad de H U I ,
( )~ S ervemos, de passage111., poder social exercid ,f 'I.Ql1 i, 1
no I histor iacior . Com que direito poder iamos afirrnar U :IS I I
M il 1:1111.(,)e Pompadour ou 0 assassinato do almirante e 1 : 1 1 , n 1 1 I 1 1 N h "
I'. I arlan, sao questoes futeis, ao passo que se justifica a Itlh ,I' (I II (
hist6tia relativa aos mineiros de Carrnaux (R. Trempe), a r pr 'S'Ilt I~'il!' Iiiliteral (A. Corbin) ou ao livro no seculo XVIII? A profissao d e h i. II II II t II
e que decide a aceitabilidade de deterrninada hist6ria e fixa s 'l'it'· ill 1
apreciac;:ao, a exemplo da profissao de medico que rejeita 01.1 reeonh
o valor medicinal da vacinacao ou da homeopatia. Neste asp 0,' HI
~1l11poder efetivo, cujo monop6lio se encontra, quase sempr , n NHillIN
de historiadores inexperientes.
Outras questoes apresentam uma pert inencia social. Nao ' '(H I, II!H
exemplo, comemorar 0desembarque das trop~s aliadas na N ,~lII1HIII
(6 de junho de 1944) ou a aniquilacao dos resistentes pelos l1ahlM tl~ 1111
Parque Regional de Vercors Gunho-julho de 1944), atraves d all I ! I .ou de programas de televisao. Na opiniao dos proflssionais, as 1 1.1 '· ~1 •
formuladas nao sao novas e essas produc;:oes midiat icas nao fazen Ii V \1 1
car" a hist6ria. Por que motivo 0desembarque ocorreu nessas Pl'\ lI N
Por que razao os alernaes nao reagiram mais rapidamente e d~ U111~ 8 111101
mais macica? Mesmo que a resposta seja conhecida pelos historia 1)1 M ,
nao deixa de ser util para sociedade que ela seja exposta ou lembrada I 11
ocasiao da passagem do cinquentenar io desses eventos.
A hist6ria que responde assim ao que, por convencao, se designa - ' )11\
uma expressao um tanto imprecisa, sern deixar de ser conveniente - p i I
"demanda social" pode muitissimc bern respeitar todas as exigencies I 1
prof issao. Ela compreende naturalmente a hist6r ia que se ens in~ nas es ( h I
e pode ser considerada legitima se tiver sido construida a part ir de fc n~,
e se levou em consideracao as ultimas aquisicoes da pesquisa. Ocorre qu •
do ponto de vista cientifico, ela pode ser rambem pert inent: , ao re~ova~ a
problemat ica, para nao cit ar a documentacao Para a proflss.ao de historia
dor, e importante que essa hi st6ria seja feita por profissionais: abandona~' 11
vulgarizac;:ao aosjomalistas especializados seria tao perigoso quanta renun ttl\'
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~ N)I'lil:l~': tl IO N l 'll jlMNI lI \ Ii INIi 'IIH 1 1 1 1 1 I \h l I" 1 1 1 1 1 '1"1\ 1 ' 1 1 1 ~'I"I.t
p ertinen ia 'kJl~ljkil d 'SHIIII ,~II'JIII, I,d l'IIIIIO II tliIN I llililll 1 1 1 1 1 , . 1dllvldllN I:
a frente pioneira da d i s . ip l inu 1':lI':Il1I'II!t' III P " C ' S I I I 1 1 ' 1 1 \ ' , 1 0 ,
As questoes cientificarn ntc p 'I'tin ' I 1 C IS, as ' I I I ' tnz II I "nvnn ' , I I " I I
hist6ria, nao sao desprovidas, direta u indir 'cam 'ilt " de pel'tin~lldn HI
cial: apesar de nao servir de fundamento a pertinencia i n c f A '[1, 1 . ' 1 : 1 pod.
acornpanha-la de forma harmoniosa. A historia da forrnacfo pl'ofissional
na Franca , por exemplo, apresenta a tua lmente urn interesse ti l vigoroso
no plano social, quanto no plano cientifico. Como e que se constituiu,
exclusivamente neste pais, urn ensino profissional tao fortalecido? POl' qu '
a Franca decidiu formar os opera rios na escola? Essas questoes suscit am
o inte resse dos proprios profi ssionai s, empresarios ou sindica tos, assim
como dos politicos, por esclarecerem as evolucoes atuais e as decisoes a
serem tomadas; mas nao deixam de desperta r igua l inte resse aos hi storia -
dores que, por seu intermedio, esperam obter uma nova cornpreensao da
art iculacao entre evolucao tecnica, relacoes sociais na empresa, estruturas
dos ramos profiss ionais e relacao das empresas com 0Estado. Tive a sorte
de apresentar as provas do livro H i s t o ir e d e l 'e n se i gn em en t a meu editor,
cuja sede e situada no boulevard Sa i n t-Miche l , em pleno Qua r ti e r L a ti n , na
manha do dia - i1 de maio de 1968 - em que, a noite, foram erguidas
barricadas; confesso ter experimentado 0sentimento de certa uti lidade
social na medida em que eu havia procurado inserir uma historia, ate
entao, puramente inst itucional, em uma his t6ria social em conformidade
com as questoes cientif icas da epoca . .. Apesar de sua imprevisibi lidade,
nunca se deve excluir a possibilidade de coincidenc ias feli zes.
o encontro entre pertinencia social e pertinencia cientifica nao e,
no entan to, somente uma questao de oportunidade: se , as vezes, 0 acaso e
favoravel deve-se ao fa to de que os histori adores, como indiv iduos e como
grupo, fazem parte da sociedade em que vivem; mesmo quando julgam
suas questoes "puramente" hi st6ricas, ela s estao impregnadas sempre dos
problemas de seu tempo. Assim, em geral , e las apresentam inte resse para
a sociedade no amago da qual se pro cede a sua formulacao.
Historicidade das ouestoes hist6ricas
Qualquer questao hist6rica e , de fato, formulada h ie e t n un c por urn
homem situ a do em urna sociedade. Mesmo que pretenda voltar-lhe as
costas e atribuir a hist6ria uma funcao de puro conhecimento desinte res-
sado, ele nao consegue abstrair-se de seu tempo. Todas as questoes sao
formuladas a partir de determinado lugar. Como foi mostrado por R.
84
I 1 1 . , 1 1 1 1 1 , 1 1 1 1 1 1 " 1 1 ( 1 1 1 1 II d tl I I MlllI I ilil 1 ( · d ( l H IHIIIIIIH t i l K i l l t I , ( It ~IIHII
dill, I' till 1 1 1 1 tlNNld,lIh' qllt' III' " ill 'I' 'lIL~ d' I' \'H~I 'VI'I IH"IIIIIII 1 1 1 1 1 1 J I ll I
hl~lllIlI, 1 1 1 1 1 1 dOHII'n~'( )scnractcr is ti s d a I np lia ~1)11HIIII \.11, 1 I 1 1 1 1 d
JIll I l i l l l 'V III, do Pt'IIS:lIl1.nto h isto ri () 1 1 1 0 lerno. N HI' 11111 1 1 1 1 1 1 1
1 1 1 I 1 1 t 1111'1110IOS 'III citnr ;0 .th':" ont 'lJlP( l'nll'O ii i 1 1 1 1 1 Ii 1 1 1 1 1 1 1
1{1I1IIVIIII~H • l e v n d o II P '1'. ' p~ocs a partir d a s quais \1 : INNI t ! I ~I I
Iplt. 'IItl l' l '.ilil~ill'tlt! uma nova maneira" (K 5,81.L81(, 19!)(),p. If!I) I II
1 ( 1 1 ' 1 1 ucuhn impondo, ;)s5 i111, seuspontos de vista a es 'I'!! Ilhl It ~ 1 1 1 l 1 1
I I O l ' l l l u I U I ' , por exemplo, a questao da historia de 1 1 11 1 11 I II 1 1 1 1 1
~1I1l~ 'II 'alogiil . d suas aliancas, elaborar a biogr fi t d I uru I I I
N'U I' - in a do , t in h a s ntido na Idade Media, epoca 111 pi liN III III II
N ' 'II ion t ravam, quase sempre, sob a dependencia d s 11 1 III II' ~ l i l t
( Antigo Regime. 0 proprio Voltaire iniciou sua b ru I, I11I I I 1 " 1 1
1 1 1 1 1 : 1 H is to ue d e C ha rle s X II (1731) e deu-lhe continuida ll' 1'1 H I I" , '/ ,I,
t i l ' Louis XI V (1751); no entanto, imerso em um periodo ( ' 0 1 1 1 1 1 1 1 Ildll,
elepercebeu que, pa ra 0 historiador, a ternatica relativa a s mu 1 . 1 1 1 ~ · I 1 1 1 1 1 1
ostumes e nas leis mere cia mais interesse que os reis . as 'm 'L 'M. I ' , " 1I
[ue , na sua estei ra, Gu izot (1787-1874) - em muitos C I ' P ' e m , )llltil II
do Iluminismo e Minist ro da Instrucao Publ ica (1832-1837) - d ' H l p , l I l l d ,
sob a Restauracao, como a "civilizacao ".Com Augustin Thierry e Michelet, encontramo-nos 11 pil-1l0 I II
mantismo. A hist6ria centralizava-se no povo, como heroi ' 1 l l v u ; I III
enfatizava 0detalhe pitor esco, a "cor local "; chegava mesmo a privil P o II,
ate certo ponto, a Idade Media que, no mesmo periodo, havia SUS( I 1 1 1 I 1
o estilo "trovador". Uma das questoes que obcecava a epoca 'O l iN HIH
em conhecer as origens da nacao francesa a partir do povo f 1 ' : 1 1 1 '\1; ('Iii
t inha inte rferencia com a questao das o rigens da nobreza e, eneao, il(' II 1 1 1 1
convergindo para a questao da sociedade de ordens e da Revoluc I, iii
falamos da importancia desse contexto para a hist6ri a no seculo XI
Os pr6prios historiadores da escola met6dica - que pret31 1 1 1 1 1111
escrever uma histori a puramente c ientifi ca , desl igada, sem tumultc I l, I I II ~
contingencies sociais - formularam a questao relat iva a nacao e a s i l 1 H l , 1 1 1 1
coes, ou seja, a squestoes poli ticas mais relevantes da epoca . Foi nee 'S H I II
esperar que a vit6ria de 1918 t ivesse tornado a Repub lica incontest IVI.I
para que outras questoes fossem formuladas, desta vez, economic 1M I
sociais, coincidentes com as preocupacoes de uma epoca habitada 1 1 1 , 1 11
crise economica e a luta de classes. Labrousse - que havia sido adv lJ I \dl
e, em seguida, jornali st a comunista em 1920 - dedicou-se ao estud till
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Odp."IIN '(' Il l) III III dill ~v l l i t l I Il'hlll f Mil 1 11 11 11 1'1 11 11 11 11 11 1 I 1I 11 '1 11 ! I I I !
a rise " 0 1 1 ml ~a d · I II .W Mul tI ! I I I I I 1 1 1 1 ,iI III, I 1 1 1 1 ( H I I ,
E s s a c o n fi g u ra c fo d o J ) )' o/ 1 N N 1 0 d I h L ~ ( O l ' i l l 10 1 P l NN O Ii j ml ' u u u l 1 I 1~ ' iN 11:1
decada de 70. Mais acima. j i .fhbl1l(),~ 'Ill' C SSl1 'V Olll~'i 0 so lh 'Ll 1 inllu nd I
do contexte intelectual, da emergencia das novas 'i '\ll ias so his . d) 's-
truturalismo; convern, igualmente, fazer intervir recuo do mar i S I J . ) o ,
desmantelamento do movimento operario e aprogressao do individualismo.
N o momento da criacao do MLF, 78 da Iegalizacao da interrupcjio voluntaria
da gravidez e do direito de votar aos 18 anos, a nova hist6ria foi levada a
formular questoes relativas ao genero, a morte e a festa.
Certamente, nessa epoca, tratava-se de coincidencias globais e, nes- ,..
te grau de generalidade, nao se corre grande risco em afirmar a relacao
entre a questao dos historiadores e 0 momenta hist6rico em que eles
vivem. No entanto, de acordo com 0 que se observou relativamente a
Labrousse, 0vinculo era, as vezes, mais direto. Eis 0que ja se verificava
com 0autor do "petit Lavisse": que 0 celebrante da identidade nacional
francesa tenha mostrado seu interesse pela hist6ria da Prussia, durante 0
reinado de Frederico II, no momenta em que a unidade alerna ameacava
a Franca e em que se consolidava 0 triunfo de Bismarck, da testemunho
de urn vinculo direto entre a questao hist6rica e 0 contexto.
No entanto, trata-se tambem de um elo direto entre a questao do
historiador e seu formulador.
o enraizamento pessoal das questoes historicos
o peso dos compromissos
Nao causa espanto a ninguem 0 fato de que um ex-rrunistro da
Fazenda frances, afastado momentaneamente da politica, utilize seu lazer
para escrever um livro sobre L a D i sg ra ce d e T u rg ot : adivinha-se, nesse es-
tudo hist6rico, ajustificativa para sua acao. No entanto, os historiadores
profissionais assemelham-se perfeitamente ao amador de talento que era
Edgar Faure: os compromissos deles sao simplesmente menos visiveis e sua
iJ1lplica<;:aoa vida politica menos direta; e nern sempre e assim. Se pres-
tarmosuma atencao maior asquestoes que haviam suscitado seu interesse,
certamente, ficaremos impressionados com 0peso de seus compromissos
ou, pelo contrario, com seu desapego.
'"Sig!a de Mouvement de liberaton desfemmes [Movimento de l ibe ra cao das mulhe re s] : movimento femini st a
cnado, naPranca , em 1968. (N.T. ).
86
I I ~ , 1 1 1 1 1 1 ~ iii IlIlhllllhllll'l N I til I I 1 1 1 1 1 1 I i I : I' .IIIIIIN, pili I I IIlplll, I)
l i tH" '" ; 1 1 1 1 1 1 1 . , 'WII! lO (IH.II')'12),l)Il1·11J1)1 It' 1I1111tUlllllltll.1
11111 " , ,1 1 1 1 (1 ( 1 ' O ll l! ' 1 1 1 1 D lit' '081110 , q U I ' ~l'k)l' O M qlllLI'O VO lll l ll tlN d 1 1 / . 1 ' 1 0 / 1 ' 1 '
I/r'/,'/""(//lI'(, Crl I t ICI 'N}JOr l1 ine- que a b " n l l g ' 1 ' )1(~d( do ~ k ! J , ' l 1 l l d o 1 1 1 1 1 ' 1 1 ' i o I II
I I) I 1 ' 1 : 1I1!1tl hist' ria P liti a b 11 1 nt 'nIp dn '[1. P ilh o I l11l1 1 \Ill', dn
i~lmllj ' : 1110 do departament d e A rd ch e , de cl'(J(:H~i'io p r I; .stan tc , '1
fh l III n m ilita nc e d re yfu sista b asta nte a tiv o; mais t ar de , a ss in 1,.1 p ' ti~5.
contra a "lei dos tres anos [de service militar]" (1913) e apoiou urn ·om.it~·
h ,a ifista", em 1917. Como sera POSSlV 1deixar de vel' 0 vin ul
St'L1 omprornisso e a hist6ria que escreve?
Esse vinculo e , evidentemente, mais dire to para os historiador 's
do contemporaneo que para os outros. Eis, por exemplo, uma gera<;:;o
de historiadores que deram sua plena legitimidade cientifica a historic
operaria com C. Willard (os simpatizantes de J. Guesde), M. Reberi ux
a . jaures), R. Trempe (os mineiros de Carmaux), M. Perrot (a grey ),
J. Julliard (F.Pelloutier), assim como a geracao da Liberation, aquela ql..H:
conheceu 0 Partido Comunista em seu apogeu e aderiu a causa do 1110-
vimento operario de uma forma intermitente, ou seja, aproximando-s
ou mantendo-se a distancia dele. Os historiadores atuais do comunismo,
tais como A. Kriegel ou P. Robrieux, chegaram a ser, muitas vezes, di-
rigentes desse Partido; neste caso, transferiram um conhecimento dire to
dos costumes comunistas para suas analises hist6ricas.
Do mesmo modo, os historiadores do catolicismo ou do protes-
tantismo sao, quase sempre, cat6licos ou protestantes convictos; entre
eles, a exemplo do que ocorre entre os historiadores do comunismo, epossivel encontrar transfugas, ou seja, padres em conflito com a Igreja
que solicitaram a reducao ao estado laical, assim como profissionais fieis,
cujas competencias ou reputacao sao utilizadas pela Igreja.
Finalmente, terceiro e ultimo exemplo para a hist6ria contempora-
nea: 0rapido desenvolvimento atual da hist6ria judaica, a do antissemi-
tismo do governo de Vichy e do genocidio, a dos campos de exterminio,
deve-se, frequentemente, a historiadores, cuja familia havia sido vitima
dessa perseguicao.
Estariamos equivocados, entrctanto, se acreditassernos que, alem dos
contemporaneos, ninguem mais S .ria tributario de seus engajamentos;
muitas vezes, esse foi, tamb "111, 0 ':ISO dos historiadores da Revolucao
Francesa. 'Aulard, primeir titulo!' ci a 5tedra na Sorbonne, era um agrege
de letras designado para ess PON to , lIflo tanto por sua formacao, mas por
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s u n s ( , \ 1 I I V k~ '( 'M l 1 1 1 1 1 N II I ' I II ( 1 11 '1 11 ,t 1 1 1 1 1 1 1 1 1 , 1 ' " 1 1 1 ' 1 11 11 " , 1 11 11 ti l 1 1 1 1 1 1 1 1 1
sua prcforen 'j:1 pc lo 'OJlllll I I N I I I I I,
E verdade qll ' 11'In toclos o,~h Islol'llId, )1(' '~(I Il I I I K I liitill, I I I ' I I
tanto, 0 interesse profissional do hisecr indor I ~\III~vllllI~l1ii ii i ('(III I dllil
constitui urn fator favoravel ao compromisso III " j l l ' O V I I V -lm 'lilt·, • lIh dM
frequente na corporacao que no conjunto In I )lllla~'1 0 ' 0 1 1 1 !) lili' II I
nivel cultural. 0 que nao prejulga 0 sentido d e ss a a ti tu d e 'xj~l'lIl
historiadores em todos os campos -, nem a coma aut l 1 1 u c l c a : djJ;UllN
historiadores de elevada reputacao evitararn pre isamentc qunlqu 'I
compromisso para se dedicarem integralmente a historia; ali{ts,'ssa (hi 1
escolha dos integrantes dos Annales. No livro L'Etrmlle d i j a , i t e , M. 131{)" S '
quest ionava: "Resta a maior pa rte de n6s 0direito de dizer que [om s b l1S
operarios . Teremos s ido, de forma convincente, bons cidadaos?" (BLO '1I,
1957, p. 217-218). E ajustando sua vida as suas afirrnacoes - enquanto L.
Febvre dava cont inuidade, a contragosto, aos Annales e Labrousse ac i tava
minis trar , provisoriamente, cursos na Sorbonne que the eram interdi tados
pelas leis antijudaicas - , M. Bloch, apesar de seus 55 anos, envolveu-se 110
movimento da Resistencia a ocupacao da Franca; tendo sido capturad ,
foi fuzilado pelos nazistas. Na obra de M. Bloch, L. Febvre ou F. Brandel
- para cit ar apenas hi storiadores ja falecidos -, e irnperceptivel 0 tipo de
compromisso soc ial que a limentava a pesquisa ; isso deve-se, tambem, ao
fato de que 0 engajamento, se e que se trata de uma experiencia social,
em certos aspectos, insubstituivel - voltarernos ao assunto -, esta longe
de constituir 0 unico modo de implicacao do historiador, como pessoa,
nas questoes abordadas no exerc icio de sua profi ssao.
o peso do personolidode
Qualquer oficio "intelectua l" impl ica di retamente a pr6pria pessoa.
o estudo cotidiano, durante anos a fio, da filosofia, da literatura ou da
hist6ria, acaba assumindo uma significacao pessoal. Nao creio que seja
possivel ser um born historiador sem urn pouco de paixao, sinal de re-
levantes desafios pessoais. 0 enraizamento existencia l da curiosidade no
ambito da hist6r ia explica a constancia da pesquisa, 0 esforco despendido
pelo histor iador e, convern reconhecer, igualmente, 0 prazer e a alegria
prodigalizados, asvezes, pelo exercicio desse oficio.
Neste aspecto, os psicanali st as te riam algo a dize r; 0inconsciente
desbrava seu caminho, certamen te, na obra dos hi storiadores. Ainda nao
existem estudos sobre esse pon to. No entanto, cit arei 0l ivro de Roland
Barthes, Michelet: 0 fascinio visive l do grande hi storiado r pelo sangue ,
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1 " 1 1 I 1 1 1 1 1 ' 1 1 1 , 1 I I U ' ( ( l 1 1 d I l l I I I I 1 I I I I ' I l i i 1 1 1 1 1 1 1 ,11I1.IVIIII~.ll 1 . 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ,
II It 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ' N I I I I l ·II'CI· 10111.' I .d 1 1 11 1 I lI ll tl J ( , I I I ~ I 1 1 1 1IIltlili I I III qllltl .,
1 11 1 11 .1 , P l I1 P 1I I~ N lv :1 I1 1 I ll ', MII.IIIIIIHI. l"I'lllld,I~1 . Ao d'htll~'11 ! N11111'
I lill I' II 1111)1'(~' do s 1101)1n~ do III ~IHII1I ' ' ' " t ru ba lh a e ain l 'Ill ~tlhl( ' ~II"
1IIIIjllllvdn'"lOt'C'. deslocal1li.lllcoll)CipQdesuacLirioshJl1l·: Ill·tidll
'lit I I V II I I ~ ' i l 1 1 1 i a d e e , tambem, a hist6ria de uma id n t i d n d c p , N I) 1 1 : IN
II qll!' 1 . 1 1 , todo 0 interesse at ribuido, recentemente, e um caliCo IIUll
1 1 1 1 1 1 ' 1 1 1 C'. :1 t:go-hist6ria.
1)0 1 a J 1 ' • essidade de uma tomada de consciencia e d un m iIII
dll~.0 qu ' S ' impoe, de forma evidente, pelos compromiss HI )1 Ii· I) •
i IIKlosos ou sociais. 0 conhecimento intimo fornecido pO I ' I I ' M II
II 'NI 'ito do objeto de estudo constitui urn trunfo insubstituiv ·1 : (II
nheccr, a partir do interior, como as coisas podem passar-se no allllW'
l il l ! J; I" U pO que e objeto de anal ise, acaba pOl' sugeri r hipoteses, orl ' 1 1 1 1 1
('Ill di recao de documentos e fa tos que passariam despercebid S ['llll! fI
obs .rvador exte rno. No entanto, 0 ri sco de ser pa rcia l, a favor O~I '011
CI'a , de prepara r uma defesa -ou uma acusacao, nao e menos evid 'ul tl. A
paix50 acaba por obcecar; ela inspira a disposicao de compr val : tilllill
os crros, quanto os acertos, de denunciar as perversidades e as ilndllM
ou de celebrar a generosidade e a lucidez. Por exirnir-se de conr 'NII
sua vontade de proceder a urn ajuste de contas ou de corrigir S ,'!'OI
o histori ador corre 0 risco de acei ta r fatos, de forma precipitada, N III
construi- los com 0 devido cuidado, a tribuindo-lhes uma importftnctu
cxagerada. A exemplo do que ocorre com qualquer oportunidadc, 0
conhecimento intl rno por compromisso pessoal e tambem um rise ; I
permite que 0 historiador possa avancar, de forma mais rapida e mill
profunda, na cornpreensao de seu tema, mas tambem pode of us cal' ~1I1
luc idez sob a turbulencia dos afe tos.
o publico traduz, em geral, essa dificuldade ao afirmar que esses
histori adores carecem de "recuo": de alguma forma , convi ria espera r c reo
distanciamento em relacao aos acontecimentos para fazer hist6r ia; trata-se
de uma visao sumaria, 0 bicentenario daRevolucao Francesa mostrou-n H
que 0periodo de dois seculos e insuficiente para esfriar as paixoes. Em
seus traba lhos sobre a Antiguidade, os historiadores fazem refe rencia, ~s
vezes , a questoes bas tante contemporaneas: seria incornpreensivel a energia
investida , sob' a 3a Republica, no estudo de Dem6stenes e da resistencit
de Atenas a Filipe de Macedonia se, em filigrana, nao Fosse percebida,
por tras da figura do rei conquistador, a figura de Bismarck e, pOl' tras da
cidade grega, a Republica Francesa.
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A h ~ ( 1 I !I'IIIIIt'I',"" h td , , ' 1 1 11 1 11 1 1 11 , I " 11 11 1 1 1 " , , 1 1 ,1 1 1 1 1 1 11 1 1 1 1 1 1 1 ,
nao pr V 'Ill n uu l ll ol h'H l i1 'III~dtl.iI.\NI 1111111111 1 1 1 11 ( '1 1 1 11 1 : dill d NII, III I
basta esperar para qll' se 'Ulll 'l 't'! 1f t lid d lH ll1 l • 111I lito, ;O l lV 'Ill I'I~ I , I
hist6ria do tempo pr sent' 'Oi l J 1 1 ' 0 1 1 , ~ , lllll II, 1I llll'lir I· do 11]11 -neo
e nao de lembrancas, para deixa-le a unu i d i s c ~ 1 1 .ia ad iquada. Nes t e
sentido, de acordo com a afirmacao de Robert rank ( ,[994, 1. 'J 4),
a hist6ria do tempo presente nao poderia ser uma historia im diata:
convern quebrar a imediatidade da atualidade e, para isso, 0historiad r
deve reservar 0tempo para construir mediacoes entre 0tempo presente
e a hist6ria que escreve sobre esse tema; isso supoe, em part icular , que
ele esclareca suas implicacoes pessoais. Os historiadores republicanos
do inicio do seculo xx nao tinham, alias, a t imidez manifestada por
alguns, atualrnente, em relacao ao passado pr6ximo. 0 recuo nao e a
distancia no tempo exigida como condicao previa para fazer hist6ria:
pelo contrario, a hist6ria e que cria 0 recuo.
No entanto, alern de ser necessaria para elaborar a hist6ria "quente"
ou do tempo presente, a elucidacao das implicacoes pessoais do historiador
impoe-se em todos os casos. De acordo com a afirmacao de H.-I. Mar-
rou, ao referir-se a Croce, "toda a hist6ria e contemporanea", qualquer
problema autenticamente hist6rico (que Croce opunha ao "fato curio-
so", oriundo de uma pura e inutil curiosidade), mesmo que se refira ao
passado mais longinquo, e precisamente urn drama que se representa na
consciencia de urn homem de nossos dias: trata-se de uma questao que
o historiador se formula, tal como ele e, "em situacao", no contexte de
sua vida, de seu meio e de seu tempo (1954, p. 205).
Ao menosprezarmos essainsercao da questao hist6rica na consciencia
de urn historiador situado h ie e t n un c, correriamos 0risco de nos ludibriar
a nos mesmos. A observacao e recorrente e, inclusive, ja havia sido feita
por Bardley, em 1874:
Nao ha hist6ria sempreconceitos; a verdadeira distincao deve ser esta-
belecida entre 0 autor que nao tern consciencia de seus preconceitos,
talvez, falsos, e 0 autor que ordena e cria conscientemente a partir
de referencias ja conhecidas e que servem de alicerce ao que, para
ele, e a verdade. Ao tomar consciencia de seu preconceito, a hist6ria
corneca a tornar-se verdadeiramente critica e se previne (na medida
do possivel) contra asfantasiasda ficcao. (1965, p. 154)
Os historiadores nao comprometidos, que pretendem ser cientistas
genuinos, estao talvez, neste aspecto, mais ameacados pela falta de lucidez
90
lIlt I 1 I I ,I 1 "1 11 1 ( l i ! '1 11 I I~ h I IllllllIlI II tI,IHpili III II Ht'llI I' 1111\ "ssi-
d l l l l , d tllIl IilltlllllnOIVI~ 1 1 , " ' 1 ' 1 1 1 1 ' " HIII"lwd·nIZ·j'qualquercoi·a,
,"111 lI'IIIHIl\'( 0 d '~:lt '1 ' { III l H l i ll lH 1H I , l l ! ! ; 'II lo", diz 0 bom senso popular:
1 1 1 1 11(111110,1'1" .isam nee, hiscor indor nunca se limita a fazer his~6~a.
'I ' 'nllo Hldoum importante historiador do catolicismo antigo, espeClallsta
l it , '\1110 Agos t i nho e, ao mesmo tempo, urn cat6lico convicto e rnilitante
d,' .. qu rda, H.-I. Marrou formulou perfeitamente essa exigencia.
10. _ Henri-I. Marrou: Elucidar as razoes de sua curiosidade
Parece-me que a honestidade cienti£1ca exige que 0 historiador,por urn esforco de tomada de consciencia, defina a orientacao de
seu pensamento e (na medida do possivel) explicite seus postulados.
Que ele se mostre em a<;:aoenos faca assistir a genese de sua obra:
a razao da escolha e delimitacao de seu terna, assim como a maneira
de aborda-lo: seu objetivo e 0 resultado de sua investigacao. Que
ele descreva seu itinerario interior porque toda pesquisa hist6rica, se
for verdadeiramente fecunda, implica um progresso na pr6pria alma
de seu autor: 0 "encontro com outrem", dos instantes de e;Panto
as descobertas, contribui, por sua rransformacao, para aprofundar 0
autoconhecimento. Em suma, que ele nos forneca todos osmateriais
que uma introspeccao escrupulosa pode contribuir para aquilo que, em
termos tornados de emprestimo a Sartre, eu havia proposto designar
como sua "psicanalise existencial". (MARROU,1954, p. 240)
Por "psicanalise existencial", H.-I. Marron entendia 0esforco des-
pendido para elucidar as pr6prias motivacoes; de fato, trata-se de uma
catarse, de uma purificacao e de urn despojamento. Neste sentido, em vez
de um passatempo ou ganha-pao, a hist6ria e , em deterrninados aspectos,
uma ascesepessoal, a conquista de uma libertacao interior. 0 recuo criado
pela hist6ria e, rambem, recuo em relacao a si mesmo e a seus pr6prios
problemas. Vemos, aqui, a seriedade profunda da hist6ria. Alem de urn
saber, ela e urn trabalho de autoanalise; e ainda insuficiente afirmar que
e uma escola de sabedoria. Ao escrever historia, 0, historiador se cna asimesmo. Eis 0que, no termo de sua obra, Michelet exprimiu em uma
pagina impressionante.
11. -Jules Michelet: Fui criado por meu livro., .
Minha vida identiflcou-se com este livro, introduziu-se nele; alias,
tomou-se meu unico evento. No entanto, essaidentidade do livro
com 0 autor nao sera urn perigo? A obra nao ficara colorida com os
sentimentos, com 0 tempo, daquele que a elaborou?
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Ui M I) till( HI ' V(,dllt < I~II I I I ' I I I Iltll 1 1 11 1 I lilll I I lh ll _ 11 1 11 1 11 .1 1 11 1l lt
S u n ill) modcln, qlHlqll'l 1 ( 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 HIII IJ I I I ' I t l K I ! dlllill Hlil I ,I
Se tal p ro ccdim en to ' 1 I1 1l . ! ('1 (· 11 1 I, [ 11 11 0~ t il ' I \ l l l l t'N~111 q l l l ( 1 1 1 1 J I l i N
presta um b om s erv ic e. 0 h i~ Lm lild () I' dl'Hj1l'1lvldo d ' M H I ( '1 1 1 1 1 1 '1 1'1 M
tica, que pretenda ofuscar-sc a 'SCI'CV'I', d 'Sllj1111"~I' (. IIHII] [ 'I K\
por tras da cronica conternporanea [.. ,[ 115 6, do nu do "HIlI I I ,
historiador [...]
Ao penetrar mais profundamente no objeto, 0 individuo acaba I o r lh
ter afeicao e, desde entao, vai dedicar-lhe um interesse res cnee . )
coracao ernocionado e dotado de videncia, e capaz de enxcrgar IJJ1Hl
infinidade de coisas invisiveis para 0 povo indiferente, Neste olhar,
verifica-se uma interpenetracao entre hist6ria e historiador, Sera algc
de bom ou ruim? Ai, se opera algo que ainda nao foi descri to e que
temos 0 dever de revelar:
Na evolucao do tempo, emvez de ser feitapelo historiador, e a historia,
sobretudo, que 0 faz. Fui criado par meu livro; considero-rne obra
dele. 0ilho engendrou seu pai. Apesar de ter sido, inicialrnente, feito
por mim, oriundo daturbulencia (aindabastante conturbada) deminha
juventude, ele tornou-me muito mais forte, fomeceu-rne muito mais
luz, inclusive, mais energia vital, mais capacidade efetiva para fazer
emergir 0 passado. Se houver semelhanca entre nos, melhor ainda.
As caracteristicas que tenha absorvido de mim sao, em grande parte,
aquelas que eu the tinha pedido de emprestimo, que eu havia absor-
vido dele. (Michelet in Ehrard; Palmade, 1964, p. 264-265, Preficio)
No entanto, evitemos cair no outro extremo. Se qualquer historia-
dor, ate mesmo aquele que pretende ser 0mais "cientifico ", encontra-se
envolvido pessoalmente com a hist6ria que escreve, isso nao significa que
ele deva abordar seu trabalho como simples opiniao subjetiva, impulso
de seu temperamento e reflexo de urn inconsciente superlotado. Para
alcancar, precisamente, uma melhor racionalidade e que 0historiador
deve elucidar suas implicacoes, Colocar a enfase no sujeito-historiador
nao deve esbater os objetos da hist6ria, sealguern deseja prop or urn estudo
pertinente, do ponto de vista social, por basear-se em motivos convin-
centes. Philippe Boutry (1995, p. 67) sublinha 0 perigo da "hipertrofia
do sujeito-historiador":
[...] enquanto 0 ego do historiador ocupa, como senhor absoluto, 0
lugar em que, outrora, reinava 0 fato bruto, e como credulo da epoca
do cientificismo, uma evocacao mais ou menos radical da capacidade
da razao humana para alcancar uma verdade qualquer do conhecimento
92
1 1 1 1 1 11 1 " " 1 1 1 1 , 1 1 1 II 1 0 1 1 4 1 1 1 1 1 . 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ' 1 1 M fllllllt!,IH I II II II I, I II H 1 '! ip Il II lI IV I I, 1 " 11 11 HI
t I( 'I I, 1 ti ll 'I II lI lt ' II II W II II ' 1 11 11 1 , I 1')lI1l'r llllt:! ILi!~'i \l N iS i ' 1 1 1 ( 1 1 1 . ' : 1 t lliN Itlp )1 'SCS
I' dil~ I n C C I 'p "c C l I \' . ~ "I' vis ic l1das"i l i l l , icadnIl IOIiC ' , S ' 1 1 1 1 0 1 " dOj . l l gO: o
h iHcor i : ldor parece tel'perdido, a s vezes, a percepc;:50das implicacoes
dt' sua dis iplina - que nao poderiam ser algo alem da intehglblhda-
d' , para cada nova geracao, da mem6ria conservada em relacao aos
horucns, a s coisas e aspalavras que deixaram de existir.
A qu 'stao do historiador deve situar-se, assim, entre. 0mais subjetivo
[.II m a i s objetivo. Profundamente enraizada na personahdade de seu £01'-
m ulu do r, cla se formula apenas se for concordante com documentos '111
. ., net C' I '1Sllll'possa encontrar resposta. Insenda nas teonas ou, asveze~, SOl. , .'
modas , que penneiam a profissao, ela desempenha, a urn so ten~p?, ~lm'l
[' ~ . fissi Iuma funcao social e uma funcao pessoal mais mnn IU .I I 111 ( 3 0 pro issiona ,,;, ';'
Essa analise da questao , enquanto fundamento da seriedade da h iN
toria, permite trazer urn. primeiro esclarecimento a qucstao recorr '~(
da objetividade ao fazer hist6ria que nao pode provir do ponto de vlstn
adotado pelo historiador porque ele esta necessariamente situado ~ •
Ilecessariamente subjetivo. Na hist6ria, e impossivel opinar de ~ rm a
superficial e a distancia: quem pretendesse defender tal post~r~ sen,a n~J
tresloucado e estaria confessando simplesmente sua lllcornglv~l ~rg.
nuidade. Em vez de objetividade, seria preferivel falar de imparCl.ahdad'
e de verdade, as quais s6 podem ser conquistadas ao termo do intens
labor desenvolvido pelo historiador. Elas encontram-se, nao .no COl~ t j : , '
mas no termo de seu trabalho; tal coristatacao fortalece a importar ra
das regras do metodo.
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