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MÚSICA E FILOSOFIA ATRAVÉS DO VIOLÃO A filosofia é a mais sublime das músicas. Platão Sem a música, a vida seria um erro. Friedrich Nietzsche A música é maior aparição do que toa a sabedoria e filosofia. Ludwig van Beethoven A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende. Arthur Schopenhauer INTRODUÇÃO Essas e outras frases filosóficas demonstram que a música e a filosofia sempre tiveram uma relação muito estreita. Admirada por todos filósofos, a música foi considerada, muitas vezes, como uma maneira sublime de dizer aquilo que a linguagem filosófica era incapaz de alcançar. Na República, um dos mais importantes diálogos de Platão, ao estudar a formação do caráter dos cidadãos, Sócrates dedica grande espaço para a influência que a música gera na alma de cada ser humano. Ainda hoje, qualquer observador atento pode perceber as influências que a música traz à vida de cada ser humano. Cada um de nós conhece um pouco como a música pode nos influenciar e utilizamos isso ao longo de nossa vida. Se estamos felizes, festejamos com músicas agitadas, mas se estamos tristes, quase sempre sabemos as músicas apropriadas para “curtir nossa fossa”. Se a festa está agitada e todos estão se divertindo, certamente está tocando uma música que agrada a maioria, mas se a festa está “caída”, logo criticamos a música. Nesse sentido, a música possui uma capacidade de “conduzir” nossos sentimentos, por caminhos que muitas vezes desconhecemos. Com a música aprendemos a guiar nossas emoções e com a filosofia compreendemos melhor para onde desejamos avançar. Por isso, a união entre música e a filosofia nos ajuda a adquirir

Projeto Música e Filosofia

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Um projeto que nos induz a pensar na música e a filosofia sendo trabalhadas conjuntamente

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MÚSICA E FILOSOFIA ATRAVÉS DO VIOLÃO

A filosofia é a mais sublime das músicas.

Platão

Sem a música, a vida seria um erro.

Friedrich Nietzsche

A música é maior aparição do que toa a sabedoria e filosofia.

Ludwig van Beethoven

A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende.

Arthur Schopenhauer

INTRODUÇÃO

Essas e outras frases filosóficas demonstram que a música e a filosofia sempre tiveram uma relação muito estreita. Admirada por todos filósofos, a música foi considerada, muitas vezes, como uma maneira sublime de dizer aquilo que a linguagem filosófica era incapaz de alcançar.

Na República, um dos mais importantes diálogos de Platão, ao estudar a formação do caráter dos cidadãos, Sócrates dedica grande espaço para a influência que a música gera na alma de cada ser humano. Ainda hoje, qualquer observador atento pode perceber as influências que a música traz à vida de cada ser humano. Cada um de nós conhece um pouco como a música pode nos influenciar e utilizamos isso ao longo de nossa vida. Se estamos felizes, festejamos com músicas agitadas, mas se estamos tristes, quase sempre sabemos as músicas apropriadas para “curtir nossa fossa”. Se a festa está agitada e todos estão se divertindo, certamente está tocando uma música que agrada a maioria, mas se a festa está “caída”, logo criticamos a música.

Nesse sentido, a música possui uma capacidade de “conduzir” nossos sentimentos, por caminhos que muitas vezes desconhecemos. Com a música aprendemos a guiar nossas emoções e com a filosofia compreendemos melhor para onde desejamos avançar. Por isso, a união entre música e a filosofia nos ajuda a adquirir consciência e capacidade para guiar nossa própria vida, que é o grande objetivo de qualquer projeto educacional.

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O projeto tem sua base de funcionamento através de aulas de violão. Essa abordagem é uma porta de entrada para a filosofia pois aprender a tocar um instrumento exige um constante exercício de conhecimento de si mesmo1. Cada aluno é incentivado a ser honesto consigo mesmo no reconhecimento de suas capacidades e de suas falhas. Como cada ser humano é um universo em sua complexidade, suas qualidades e dificuldades são também sempre individuais e apenas através do conhecimento de si pode-se aprender a tocar.

1 Toda a essência da filosofia pode ser resumida pela famosa frase de Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”. Apologia.

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Apenas este fator já seria suficiente para unirmos música e filosofia, mas ainda contamos com outro fator: a composição. O violão é um instrumento que permite e incentiva o canto, e se trabalhado corretamente pode incentivar que os alunos componham suas próprias canções.

Sabemos que vivemos em uma sociedade de acelerada troca de informações. Através do desenvolvimento tecnológico, somos constantemente bombardeados por estímulos externos, como as redes sociais, por exemplo, e poucas vezes sobra tempo para contemplarmos o que há de mais importante em nós: nós mesmos. Nesse sentido, escrever os próprios textos se apresenta como uma possibilidade de dar uma pequena pausa na acelerada vida que levamos e nos conectarmos conosco mesmo. Por ser um hábito, a escrita precisa “nascer” na vida de cada pessoa, sobretudo nos jovens. Portanto, escrever músicas próprias é uma maneira eficiente de iniciar uma prática que pode durar pela vida toda.

1 - Objetivo

Seu primeiro objetivo é ajudar o aluno a se interessar pelo instrumento. Apresento as noções básicas do instrumento de modo a tornar o aluno o mais autônomo possível, podendo, posteriormente, sentir-se mais à vontade com relação aos seus destinos musicais. Acima de tudo, o curso tem por objetivo desenvolver no aluno a compreensão que ele não deve aprender a tocar violão, mas expressar suas emoções e sentimentos ATRAVÉS do violão, que é por isso mesmo chamado de INSTRUMENTO.

2 - Metodologia

O curso é dividido em três partes, que variam de duração conforme também a duração do curso. São elas:

2.1 - Introdução

A primeira habilidade de qualquer músico é saber ouvir bem. A maioria das pessoas só escutam as partes mais óbvias de uma música, como a letra ou a melodia mais imediata, por exemplo. Com alguns exercícios simples de atenção, o aluno pode descobrir outros instrumentos e nuanças da música, abrindo um novo mundo para ele. Esses exercícios consistem, basicamente, em sessões de música comentada.

Em um segundo momento, apresento noções básicas aos alunos, tais como: Postura de posicionar-se ao violão, suas partes e a base de seu funcionamento além, claro, dos acordes de mais fácil execução (C, D, Dm, E, Em, G, A, Am) e suas respectivas leituras através do sistema de cifras.

Para a mão direita, primeiramente deixamos que ela se manifeste por conta própria, para que o aluno tenha a consciência da pulsação que emana de sua “própria música”. Em seguida, vamos aos poucos trabalhando pequenas variações dentro destas mesmas batidas, valorizando a confiança e a criatividade. Se o curso permitir, apresentamos também algumas noções de dedilhado e básicos exercícios de escalas, a fim de desenvolver a mão direita e esquerda.

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O objetivo principal desta parte do curso é observar cada um dos alunos. Mais do que lhe passar os conteúdos necessários (que são bem simples e que eles continuarão a tomar contato em sua escalada musical), o professor deve encontrar suas dificuldades mais marcantes para trabalhar posteriormente sobre elas. Alguns alunos são tímidos, outros não têm ritmo, outros tem dificuldades com a mão esquerda, muitos não têm hábito de escutar música, etc.

Como meta base, cada aluno deve ser capaz de tocar uma ou duas músicas simples.

Uma parte importante que deve ser desenvolvida já nesta parte é o aspecto da criação. Criar as próprias músicas ajuda o aluno compreender a estrutura musical de modo mais consciente e acelerado, além de ser prazeroso e satisfatório. Na primeira parte, os alunos são incentivados a fazer suas primeiras composições, utilizando-se de dois ou três acordes, ensinando e apresentando-as aos seus colegas de classe. Não é necessário que haja letra ou complementos, mas cada aluno deve ensinar sua música para que outros possam tocar. Ou de preferência tocarem juntos.

2.2 - Desenvolvimento

Nesta parte do curso, o aluno toma contato com um repertório que visa trabalhar especificamente sobre as dificuldades encontradas na primeira parte. Continuamos trabalhando os exercícios básicos que foram inseridos no início do curso, ampliando gradativamente as dificuldades. Como o foco principal desta parte é ajudar o aluno a tocar uma música, os exercícios também podem ser especificamente direcionados para esta tarefa.

Apresentamos duas novas ferramentas da mão esquerda: a pestana e escalas. A pestana deve ser inserida aos poucos a partir das três primeiras cordas, até alcançar o domínio da técnica. É ideal que o repertório desta parte inclua pelo menos uma ou duas pestanas. As escalas (maior e menor) devem ser trabalhadas fundamentalmente em seus aspectos práticos através de exercícios.

Para a mão direita, continuamos trabalhando com as técnicas de dedilhado, que já dão bastante trabalho.

Quanto às composições dos alunos, este momento do curso pode ser utilizado (dependendo do desenvolvimento da turma) para que eles componham suas primeiras melodias, encaixando-as, preferencialmente, nas linhas harmônicas desenvolvidas na primeira parte. Desenvolvendo as primeiras noções de “música tonal” através dos exercícios de escala apresentados nesta parte.

Como esta parte do curso trabalha em cima da execução musical em duplas (ou mais), as dificuldades na comunicação musical devem ficar evidentes. E serão trabalhadas na terceira parte do curso.

2.3 – Final

Todos os exercícios anteriores devem ser agora praticados buscando o mais próximo possível da execução excelente.

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Quanto às composições dos alunos, até este momento, eles tomaram contato com todos os acordes tríades básicos, mas como chegamos a um momento de preparo para a apresentação, devemos trabalhar a inserção da sétima nota aos acordes. Mas por que a sétima? A inserção de uma quarta nota ao acorde abre um campo de possibilidades praticamente infinito se considerarmos todas as possiblidades de acréscimo e as inversões de acordes, no entanto, a sétima é utilizada em praticamente todas as composições da música brasileira e apresenta um aspecto sonoro específico de “preparo” para outras notas. Portanto, a sétima ajuda o músico a compor um “caminho” musical facilmente perceptível pelos ouvintes, trabalhando sua criatividade e prazer composicional.

Por fim, esta parte do curso trabalha a consolidação de um repertório básico, que possibilite a realização de uma pequena apresentação. Pode ser trabalhado individualmente (se o aluno tiver interesse em cantar) ou em pequenos conjuntos. Este repertório e os grupos de trabalho devem ser escolhidos o quanto antes, a fim de termos tempo para o trabalho e possamos valorizar o entrosamento entre os músicos.

2.3.1 - A apresentação

Como o SESC conta com uma excelente estrutura para apresentações, além de um histórico na realização deste tipo de evento, o curso deve ser marcado por apresentações periódicas (a cada semestre ou ano, por exemplo). Uma apresentação, pelo menos, deve ser organizada, pois músicos em formação necessitam passar por esta experiência.

COMUNICAÇÃO MUSICAL

Devido à timidez, ao pouco domínio da técnica, à insegurança típica dos iniciantes etc. muitos músicos se apresentam como que “escondidos” no palco. Alguns fecham seus olhos, outros os fixam na partitura e muitos se escondem atrás de seus instrumentos e de suas notas. Mas o palco, este lugar que o músico habita constantemente, é o pior lugar do mundo para se esconder, pois é iluminado por todas as luzes e é para onde todos os olhares convergem.

Quando nos apresentamos, devemos deixar transparecer nossas emoções, devemos ser capazes de colocar nossos sentimentos da ponta de nossos dedos e lança-los ao mundo através das notas. Ao fazer uma nota, o músico não deve se esconder atrás dela, mas deve deixar que todo o mundo saiba que é ele que a está fazendo. Muitos “Lá” existiram e existirão depois dele, mas naquele momento único do tempo e do espaço é aquele músico que o está executando.

Deixar de esconder-se é um processo natural para alguns, mas que pode ser trabalhado em outros, e como muitos músicos passam por essa dificuldade, qualquer curso de música deve trabalhar este aspecto, que talvez possa ser um ganho, quem sabe, para a vida toda...

Não existem métodos definidos para isso, mas conforme os músicos aprendem a se comunicar com os outros músicos do palco e com a plateia ele vai aos poucos saindo de seu esconderijo e tornando-se verdadeiramente um musico, e não apenas um operador de um instrumento.

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Este é um trabalho que deve ser iniciado o quanto antes, através, principalmente, da prática.

ORQUESTRA SINFÔNICA

A diferenciação dos instrumentos dentro de cada composição não é uma tarefa simples de realizar, uma vez que nem sempre contamos com uma aparelhagem de qualidade que permita a percepção de cada instrumento. Mas contamos com uma excelente ajuda em Barra Mansa: A Orquestra Sinfônica. A Orquestra se apresenta ao menos uma vez por mês na Igreja Matriz, é constitui uma das maiores oportunidades para que os alunos apreciem obras de pouca visibilidade sendo executadas por um grande número de músicos de grande qualidade e com uma enorme variedade de instrumentos.

Por isso, além de incentivamos que os alunos busquem essas apresentações por conta própria, devemos planejar uma visita à orquestra. Esta visita deve ser autorizada pelos pais através de um documento escrito e acompanhada pelo professor e monitor da turma. Pode contar também (seria ótimo) com a presença de alguns pais, sendo uma grande oportunidade para o desenvolvimento musical dos alunos e sua sociabilidade com o universo musical (ao desenvolver o hábito de apreciar o trabalho de outros músicos).

CONCLUSÃO

Este tipo de curso diferencia-se de um curso livre (onde o aluno toma aulas de violão sem um período para o término) pois possibilita uma maior consciência sobre seu próprio desenvolvimento musical. Por apresentar início, meio e fim, este curso pode ser compreendido pelos alunos e pelos pais dos alunos, que sabem exatamente quanto tempo de curso ainda resta para a conclusão.

Claro que por ser um curso inicial, ele visa fornecer ao aluno a autonomia necessária para continuar seus estudos, mas principalmente apresentar os prazeres que a música pode oferecer. Claro que ele não esgota as possibilidades artísticas do aluno (algum curso pode fazer isso?) trabalhando os seguintes aspectos técnicos: [1] a escuta musical; [2] os acordes tríades básicos; [3] os acordes com sétima; [4] a leitura musical através de cifras e [5] uma técnica base de mão direita em batidas e dedilhado.

Quanto aos aspectos artísticos (que não estão separados efetivamente dos aspectos técnicos, apenas para efeitos didáticos), o curso visa apresentar ao aluno que é ele que está tocando e se expressando através do seus instrumento, e que o violão deve ser utilizado por ele, trabalhando os seguintes pontos: [6] o hábito de compor as próprias músicas e [7] a comunicação musical, tornando-os mais confiantes. Nesse sentido, este curso trabalha o desenvolvimento musical artístico e pessoal do aluno, pois liga suas lições sobre violão à sua própria vida.