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Projeto de leitura – Crise nas relações humanas
“Mas os laços - os tais laços humanos (...)” Lygia Fagundes Telles – “Natal na Barca”
Imagem disponível em http://www.livrariacultura.com.br/ - Acesso em março de 2014.
Título: Antes do baile verde
Autora: Lygia Fagundes Telles
Faixa etária: Ensino Médio
Sinopse: Compilação de contos de Lygia Fagundes Telles, Antes do Baile Verde é uma obra
instigante e pungente da literatura contemporânea brasileira. Aprofundando no universo íntimo
das personagens, desvela algo de perturbador nas relações humanas, sejam elas familiares,
amorosas ou firmadas em cenas aparentemente banais. Tematizando, em alguns pontos, a
loucura, lança também um olhar particular sobre o tema. Em alguns momentos, penetra na rotina
familiar das personagens para revelar como sua aparente harmonia escamoteia desejos
oprimidos, silenciados, de insatisfação e miséria existencial, como no belo conto “Eu era mudo e
só”. Não raro explora as ambiguidades humanas, a impossibilidade do encontro e da
compreensão do outro, bem como a ruptura de expectativas em relação aos enlaces e
desenlaces amorosos.
Introdução
Professor, em Antes do Baile Verde, você pode encontrar uma rica fonte de abordagens e de
temas para trabalhar com seus alunos em sala de aula. Conforme já indicado na sinopse do livro,
o foco principal, contudo, é o universo íntimo das personagens, que, por sua vez, revela
problemas intrínsecos às relações humanas.
O livro traz à tona facetas da loucura, do amor, da velhice, da morte, quase sempre a partir de
cenas cotidianas. A autora apresenta um olhar arguto para tratar dos temas que escolhe, ora com
contos narrados da perspectiva masculina, ora narrados do ponto de vista feminino. Revelando as
perturbações intrínsecas às relações humanas, sua escrita é capaz de perturbar o leitor, levando-
o a refletir também sobre os temas colocados em questão e a se perguntar sobre seu papel nos
jogos sociais de que faz parte.
Características da prosa psicológica, encontradas também em autoras - como Clarice Lispector,
Virgínia Woolf, Lya Luft -, são abundantes na obra, podendo ser trabalhadas com os alunos em
profundidade. Obra já abordada em vários vestibulares do país, de linguagem, ao mesmo tempo
sofisticada e simples, já provou a importância de ser lida, partilhada e estudada nas escolas
brasileiras.
Ao longo do projeto, são propostos passos que você pode usar como parte de sua aula. Você
pode, todavia, fazer adaptações, considerando as especificidades da sua turma e o contexto em
que a sua escola está inserida. Optou-se aqui por dividir o trabalho em 5 partes principais. São
elas: 1 – Provocações iniciais, 2 – Iniciando a leitura, 3 – Construção, registro e sistematização, 4
– Para casa, 5 – Avaliação.
1 - Provocações iniciais
Antes do baile verde (1970)
Fotografia disponível em http://www.crmariocovas.sp.gov.br/lyg_l.php?t=001 - Acesso em março de 2014
Propõe-se a escolha do conto “Eu era mudo e só” para iniciar a leitura do livro. Você pode
começar, projetando na lousa o seguinte trecho:
Eu era mudo e só
“Eu também estou dentro do postal.
(...)Mas a alegria simples de sair em silêncio
para visitar um amigo. De amar e deixar de
amar sem nenhum medo, nunca mais o
medo de empobrecer, de me perder, já
estou perdido! Poderei tomar um trem ou
cortar os pulsos sem nenhuma explicação?
Através do vidro as estrelas me parecem
incrivelmente distantes. Fecho a cortina.”
Antes de ler o conto como um todo, detenha-se nas possíveis interpretações que o excerto,
isolado, pode permitir.
O que significa estar dentro de um cartão postal?
Qual, então, poderia ser a simbologia que o cartão postal comportaria no conto em
questão?
Qual a relação entre cartão postal e a ausência de alegria por amar, empobrecer, perder,
viver, enfim?
Qual a relação entre estar dentro de um cartão postal e ver, através do vidro, as estrelas,
incrivelmente distantes?
A partir das discussões anteriores, pergunte aos alunos se é possível supor a temática do
conto como um todo.
Agora, execute, em sala, a canção “Cartão postal”, da banda brasileira Apanhador Só, disponível
em:
https://www.youtube.com/watch?v=qskeD0d11oc
Você pode, também, ao ouvir a canção com os alunos, projetar na lousa a letra:
Cartão Postal
Apanhador Só
Eu tô sentado dentro de um cartão postal
Olhando aqui de perto, tudo é tão normal
A imagem mais bonita de uma capital
Impressa na revista me deixou feliz
Mas olhando aqui de perto
Admito, tudo é tão normal
Comprei uma asa delta pra tentar um voo
Tentei, não consegui, mas vou tentar de novo
O problema é que não sei como subir no morro
E é preciso tá no alto pra se atirar
Não achei nenhum caminho, mas tá escrito
Vou tentar de novo
Eu espero a minha janta debaixo da mesa
Olhando aqui, calado, me veio a certeza
Que as pernas do meu lado vão envelhecer
Os sapatos que elas vestem vão perder o verniz
A carne dura menos que qualquer madeira
Que qualquer madeira,
Que qualquer madeira....
Que qualquer madeira,
Que qualquer madeira....
A partir das discussões anteriores e da música “Cartão postal”, pergunte aos alunos se é
possível aproximar a temática do trecho lido do conto à letra da canção, tentando chamar a
atenção para o jogo de aparências que o trecho de “Eu era mudo e só” indica.
Discuta com os alunos a relação entre o ideal e o real nos seguintes trechos da canção:
1. Eu tô sentado dentro de um cartão postal
Olhando aqui de perto, tudo é tão normal
A imagem mais bonita de uma capital
Impressa na revista me deixou feliz
2. Olhando aqui, calado, me veio a certeza
Que as pernas do meu lado vão envelhecer
Os sapatos que elas vestem vão perder o verniz
A carne dura menos que qualquer madeira
2 – Iniciando a leitura
Retome a leitura do conto “Eu era mudo e só”, recomeçando, agora, pelo seu início. Veja que há
novamente uma referência ao cartão postal. Transcreva no quadro o trecho:
“Sentou na minha frente e pôs-se a ler um livro à luz do abajur. Já está preparada para dormir: o
macio roupão azul sobre a camisola, a chinela de rosinhas azuis, o frouxo laçarote de fita
prendendo os cabelos alourados, a pele tão limpa, tão brilhante, cheirando a sabonete
provavelmente azul, tudo tão vago, tão imaterial. Celestial.
- Você parece um postal. O mais belo postal da coleção Azul e Rosa. Quando eu era menino,
adorava colecionar postais.”
A partir da leitura do trecho acima, dê continuidade à discussão com os alunos.
A narrativa se passa em 1ª ou em 2ª pessoa? Que marcas, no texto, comprovam isso?
Que tipo de situação é vivenciada pelas personagens do conto no trecho transcrito? É uma
cena cotidiana ou extraordinária na vida das personagens? Por quê?
Qual a função das descrições no trecho?
Como é possível interpretar a frase: “Você parece um postal”?
Mais à frente, o narrador assim descreve a sala onde se passa o conto:
“... mais parece a página de uma dessas revistas de arte de decorar”.
Copie, na lousa, também a descrição acima e, em seguida, pergunte aos alunos:
Que relação tal descrição tem com a imagem do “cartão postal” no conto?
Peça aos alunos que, em casa, continuem sozinhos a leitura do conto, identificando os trechos
que melhor representem a temática já identificada: o jogo de aparências, a artificialidade das
relações, a disjunção entre o ideal e o desejo. Na aula seguinte, você pode ainda destacar, nesse
conto, os seguintes trechos que iluminam tal temática:
“Os menores movimentos tinham que ter uma explicação, nenhum gesto gratuito, inútil.
Abri a televisão e a moça de peruca loura me avisou que eu perderia os dentes se não
comprasse o dentifrício... Desliguei depressa. Beba, coma, leia, vista – ah, Ah.”
“Gisela, minha filha, Já sabia sorrir como a mãe sorria (...). E já tinha a mesma
mentalidade, uma pequenina burguesa preocupada com a aparência (...). A querida tolinha
sendo preparada como a mãe fora preparada, o que vale é o mundo das aparências.”
“Depois, com o passar do tempo, a metamorfose na maquinazinha social azeitada pelo
hábito de rir sem vontade, de falar sem vontade, de fazer amor sem vontade... O homem
adaptável, ideal. Quanto mais for apoltronado, mais há de convir aos outros, tão cômodo,
tão portátil. Comunicação total, mimetismo: entra numa sala azul fica azul, numa sala
vermelha vermelho”.
Agora, após a leitura e discussão do conto como um todo, solicite aos alunos que escrevam um
texto dissertativo de 10 linhas, explicando como o título do conto analisado de Lygia Fagundes
Telles se relaciona à temática identificada.
3 - Construção, registro e sistematização
Após a análise do conto “Eu era mudo e só”, peça aos alunos que façam uma leitura global do
livro, tentando, desde já, identificar, em cada conto, uma temática específica, relacionada à crise
das relações humanas. O conto “A chave”, por exemplo, apresenta uma temática semelhante ao
conto anteriormente lido “Eu era mudo e só”. Entremeado pelo discurso indireto livre, esse conto
questiona as obrigações sociais e traz à tona crises relacionadas ao casamento e ao
envelhecimento.
Sugere-se, então, que você selecione o conto “A chave”, para trabalhar agora. Você pode pedir
aos alunos que destaquem trechos desse conto que melhor explicitem sua temática. Em seguida,
discuta com a turma:
Quais as diferenças fundamentais entre “Eu era mudo e só” e “A chave”?
Quais as semelhanças?
Em seguida, é hora de começar a sistematizar. É importante retomar com os alunos as
características fundamentais do gênero conto e a linguagem utilizada no livro como um todo. Para
facilitar o entendimento dos alunos, anote na lousa:
Antes do Baile Verde (1970)
Autora: Lygia Fagundes Telles (São Paulo, 1923).
O gênero conto
Prosa narrativa
Brevidade / concisão
Centrado em um único núcleo
Recorte de vida dos personagens / recorte de uma realidade
Intensidade / densidade
Linguagem
Presença de discursos metafóricos / analógicos
Simbolismo /polissemia
Subentendidos
Introspecção
Discurso indireto livre / fluxo de consciência
Contexto de escrita: das características culturais da época em que foram criados (49-69), os
contos, sobretudo, se aproximam do Existencialismo de Sartre.
Agora, peça que falem as temáticas que eles perceberam em cada conto e continue a
sistematizar na lousa:
Temática geral
Tensão das relações humanas
Insatisfação / amargura /angústia /conflito
Reflexão sobre a existência humana
Solidão / desencontros: amorosos ou familiares
Temas recorrentes
Cenas do cotidiano
Sentimentos ambíguos: amor/ódio, desejo/medo, inveja, rejeição, egoísmo, remorso,
trauma/esperança, desequilíbrio, frustração.
Fragilidade das estruturas
Finitude /efemeridade dos sentimentos e das relações
Proximidade de uma ruptura de estruturas (psicológicas, familiares).
Loucura/razão
Hipocrisia social
Relação entre homens e objetos
O envelhecimento humano
Elementos recorrentes
A cor verde
O anão
Após essa sistematização geral, sugere-se que você eleja alguns contos principais para continuar
trabalhando com seus alunos. Para facilitar seu trabalho e com base na importância que esses
textos ganham na obra da autora, recomendam-se os seguintes:
1 – Eu era mudo e só
2 – A chave
3 – Os objetos
4 – Verde lagarto amarelo
5 – O menino
6 – Antes do Baile verde
7 – Apenas um saxofone
8 – A ceia
9 – Venha ver o pôr do sol
Esses contos, por sua vez, a partir das temáticas que abrangem, podem ser organizados da
seguinte forma:
Relação filho-mãe/ filho-pai
“Verde lagarto amarelo”
“O menino”
“Antes do baile verde”
Relação amorosa
“Os objetos”
“Apenas um saxofone”
“A chave”
“A ceia”
“Venha ver o pôr-do-sol”
“Eu era mudo e só”
Peça aos alunos para relerem os contos selecionados. Em seguida, a fim de verificar e
sistematizar a leitura, tome o primeiro conto escolhido “Verde lagarto amarelo” e proponha o
seguinte quadro:
Estudo dos contos
1) Relação filho-mãe/ filho-pai
“Verde lagarto amarelo”
Foco narrativo: Temática:
Linguagem:
Personagens:
Enredo:
Outras Considerações:
Peça aos alunos que transcrevam o quadro no caderno. A partir de uma discussão coletiva,
complete o quadro. Assim:
Foco narrativo: 1ª. Pessoa Temática: Rejeição / Família
Linguagem: Metafórica
Personagens: Rodolfo, Eduardo, o pai, Ofélia,
Júlio.
Enredo: Com a visita de Eduardo, Rodolfo relembra a infância e situações familiares
traumáticas. Não se sentia amado pela mãe, que aparentemente preferia o irmão. A presença
de Eduardo é, para o narrador, um incômodo, porque ativa essas lembranças, e porque sua
presença faz com que se sinta inferior.
Outras Considerações: (Pessoal)
Continue o exercício, tomando, agora, o segundo conto selecionado:
“O menino”
Foco narrativo: 3ª Pessoa Temática: Adultério / desmitificação da figura da
mãe
Linguagem: Uso frequente do discurso
indireto livre
Personagens: A mãe, o menino, o pai, o amante,
Júlio, dona Margarida.
Enredo: O menino, fascinado, observa a mãe se arrumar para irem ao cinema. Vão juntos e, na
rua, o menino orgulha-se da mãe, deseja desfilar com ela, mostrá-la a todos. No cinema, ao
tentar oferecer doces à mãe, percebe que ela pousa as mãos sobre os joelhos do homem que
estava ao seu lado. O menino fica em pânico e, a partir de então, desmitifica a figura da mãe. Já
não sente prazer ao desfilar com ela na rua, de volta pra casa. Chega angustiado, reclamando
de dor no dente. Observa o pai, quer falar, gritar, mas não consegue. Apenas o abraça.
Outras Considerações:
Após essas discussões iniciais, ainda em sala de aula, peça aos alunos que continuem o
exercício, realizando a Atividade 01, em duplas ou sozinhos.
Proponha, agora, uma correção coletiva dos quadros da Atividade 01. Para facilitar seu trabalho,
seguem, abaixo, algumas sugestões possíveis de preenchimento dos quadros:
1) Relação filho-mãe/ filho-pai
“Antes do baile verde”
Foco narrativo: 3ª pessoa Temática: prazer x dever / desejo x lei moral
Linguagem: informal, presença de diálogos
Personagens: Tatisa, Lu, Raimundo, o pai de
Tatisa
Enredo: Na casa de Tatisa, ela termina sua fantasia para o carnaval com a ajuda de Lu,
enquanto o pai agoniza no quarto. Dando retoques finais na sua fantasia verde, Tatisa quer,
também, viver na fantasia, fugindo da realidade. Quer evitar a lembrança do pai. Acusa Lu de
egoísmo, para esquecer seu prórpio egoísmo. Tenta se justificar. Ambas, na saída de casa,
revelam grande conflito interno. Elas não saem apenas, promovem uma fuga. Mas Tatisa prefere
viver apenas a fantasia.
Outras Considerações:
2) Relação amorosa
“Os objetos”
Foco narrativo: 3ª pessoa Temática: Loucura / amor
Linguagem: metafórica / analógica
Personagens: Miguel, Lorena, o pai de Lorena
Enredo: Diálogo entre um casal cuja relação é comprometida pela doença de Miguel, que passa
a ser tratado com cuidados, assim como uma criança. Daí seu desconforto. Não mais é olhado
como homem, não se sente amado. Compara-se, por isso, com objetos aparentemente sem
utilidade: o globo de vidro, o anjo dourado, a adaga. (“fico aquela adaga ali fora do peito”).
Outras Considerações:
“Apenas um saxofone”
Foco narrativo: 1ª pessoa Temática: amor / materialismo / melancolia
Linguagem: Metafórica / analógica Personagens: Luisiana, Jovem saxofonista,
Renê, Xenofonte, o velho.
Enredo: Luisiana inicia fazendo uma revisão da própria vida, comparando-a com sua casa, sua
sala – luxuosa, mas vazia de sentido. O luxo, a riqueza, as posses X a falta. As posses revelam
a falta. A busca por uma resposta impele a narradora. Onde estaria agora o saxofonista? As
memórias estão inicialmente intercaladas: a observação da casa, a lembrança de como ela foi
decorada, pinceladas de lembrança do amor. Depois, a narração se concentra no amor vivido no
passado. Para esse amor, fazia exigências que provassem o amor que o outro sentia por ela.
Final suspenso.
Outras Considerações:
“A chave”
Foco narrativo: 3ª pessoa Temática: casamento / envelhecimento
Linguagem: entremeada pelo discurso
indireto livre
Personagens: Tom, Magô, Francisca, o pai de
Magô, Fernando.
Enredo: Tom angustia-se diante da obrigação de comparecer a mais um evento social.
Enquanto sua mulher se arruma para o jantar e cobra-lhe que faça o mesmo, Tom não acha
forças para se arrumar e começa a refletir sobre sua própria vida. Ele havia trocado a
estabilidade do casamento com Francisca por um amor bem mais jovem, Magô. Conhecera-a,
quando ela tinha 18, e ele, 49. No fim, apenas Magô vai à festa. Tom imagina o retorno ao
conforto do antigo lar com Francisca, sem cobranças, sem exigências típicas da juventudde,
quando poderia continuar envelhecendo tranquilamente.
Outras Considerações:
“A ceia”
Foco narrativo: 3ª pessoa Temática: separação
Linguagem: simbólica / metafórica
Personagens: Alice, Eduardo, Olívia (Lili, atual
namorada de Eduardo), o garçom
Enredo: Em um restaurante, um ex-casal conversa sobre o fim do relacionamento. Relações
falsamente cordiais vão se delineando. Alice, entretanto, assume uma postura patética diante do
término, buscando resgatar seu amor. Eduardo já está noivo de Olívia, mais jovem que sua ex.
No fim, Eduardo vai embora e o garçom confunde Alice com a mãe de Eduardo.
Outras Considerações:
“Venha ver o pôr-do-sol”
Foco narrativo: 3ª pessoa Temática: vingança / separação
Linguagem: descritiva
Personagens: Raquel e Ricardo
Enredo: A contragosto, Raquel, vai ao encontro de seu ex, Ricardo, em um cemitério
abandonado para ver o pôr-do-sol. Ricardo mantém, o tempo todo, um tom doce e gentil,
enquanto Raquel permanece mal humorada e insatisfeita por ali estar. Enquanto isso, ele a
encaminha para a capelinha onde estariam os seus parentes mortos. Raquel, dentro da
capelinha, descobre, então, que a suposta prima morta nasceu em mil e oitocentos. Depois
disso, Eduardo a tranca na capelinha e diz: “Uma réstia de sol vai entrar pela frincha da porta
(...). Depois vai se afastando devagarinho, bem devagarinho. Você terá o pôr-do-sol mais belo do
mundo”.
Outras Considerações:
“Eu era mudo e só”
Foco narrativo: 1ª pessoa Temática: aparência / jogos sociais / burguesia
fútil
Linguagem: introspectiva
Personagens: Manuel, Fernanda, Jacó, Gisela,
Vicentina e o sogro
Enredo: Manuel se sente oprimido com o casamento. O texto se inicia com uma cena noturna,
na qual Manuel observa sua esposa preparando-se para dormir. A partir dessa cena, começa a
refletir sobre sua vida. A esposa perfeita – culta, inteligente, rica – torna-a artificial como um
cartão-postal. O narrador sente-se, por isso, angustiado e sufocado. Em uma busca inútil de se
libertar dessa relação familiar, rememora alguns episódios de seu passado (teve que abandonar
a profissão de jornalista) e chega a imaginar Fernanda morta. No fim do conto, Manuel toma
consciência da superficialidade que configurava suas relações afetivas e se vê preso no mesmo
cartão postal no qual imaginara a esposa.
Outras Considerações:
5 – Para-casa: aprofundando...
Em casa, propõe-se que os alunos façam, sozinhos, a Atividade 02, tentando, agora, avançar
ainda mais na leitura do livro, a partir de comentários críticos sobre a obra da autora. Na próxima
aula, faça uma correção cuidadosa das questões.
6 – Avaliação
Após as discussões em sala de aula e toda a orientação dada aos detalhes do livro, sugere-se
mais um passo. Peça que os alunos estudem, retornem às suas anotações, a fim de se
prepararem para a avaliação.
A avaliação é muito importante e deve sempre ser um instrumento sistemático ao longo do
processo. Sugere-se uma atividade formal em que você possa se basear para fechar as arestas
que ficaram e continuar o trabalho. Essa etapa deverá ser realizada por cada aluno,
individualmente, com o livro em mãos.
VER PROPOSTA DE Atividade_03 - AVALIAÇÃO
Outras obras da autora
Contos
Porão e sobrado, 1938
Praia viva, 1944
O cacto vermelho, 1949
Histórias do desencontro, 1958
Histórias escolhidas, 1964
O jardim selvagem, 1965
Seminário dos ratos, 1977
Filhos pródigos, 1978 (reeditado como A estrutura da bolha de sabão, 1991)
A disciplina do amor, 1980
Mistérios, 1981
A noite escura e mais eu, 1995
Venha ver o por do sol
Oito contos de amor
Invenção e Memória, 2000 (Prêmio Jabuti)
Durante aquele estranho chá: perdidos e achados, 2002
Meus contos preferidos, 2004
Histórias de mistério, 2004
Meus contos esquecidos, 2005
Romances
Ciranda de pedra, 1954
Verão no aquário, 1963
As meninas, 1973
As horas nuas, 1989
Sugestão de bibliografia crítica para consulta
Vera Maria Tietzman da Silva - A Metamorfose no Conto de Lygia Fagundes Telles.
Peggy Sharpe (ed.) - Entre Resistir e Identificar-se: Para Uma Teoria da Prática da Narrativa
Brasileira de Autoria Feminina (including a chapter on Lygia Fagundes Telles).
Cristina Ferreira-Pinto - Gender, Discourse and Desire in Twentieth-Century Brazilian Women‟s
Literature.
José Paulo Paes – „Ao encontro dos desencontros,‟ Cadernos de Literatura Brasileira, V (March
1998), 70-83.
Sônia Régis – „A densidade do aparente,‟ Cadernos de Literatura Brasileira, V (March 1998), 84-
97.
Silviano Santiago – „A bolha e a folha: estrutura e inventário,‟ Cadernos de Literatura Brasileira, V
(March 1998), 98-111.
Katia Oliveira – A Técnica Narrativa em Lygia Fagundes Telles.
Nelly Novaes Coelho – „Antes do Baile Verde,‟ Revista de Artes e Letras, LX (1970), 71-2.
Antônio Manuel dos Santos Silva – Existência e coisifição nos contos de Lygia Fagundes Telles,
Revista de Letras, XXVI (1986-87), 1-16.
Ana Maria Lisboa de Mello and Juracy I. Assmann Saraiva – „Variações sobre um tema de
Machado,‟ Letras de Hoje, XXIV, (June 1989), 81-101.
Peggy Sharpe – Entre resistir e identificar-se: para uma teoria da prática da narrativa brasileira de
autoria feminina.