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Programa de Formação de Dirigentes e Gerentes de Cooperativas-FORMACOOP-TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO Instrutor: Mauro Luiz Costa Campello Entidade: SESCOOP-GO

Programa de Formação de Dirigentes e Gerentes de ... · 3 1. Programa do curso 1.1. Ementa Entender o processo de negociação, os hábitos de negociação e os elementos da negociação

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Programa de Formação de Dirigentes e Gerentes de

Cooperativas-FORMACOOP-TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO

Instrutor: Mauro Luiz Costa Campello

Entidade: SESCOOP-GO

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Sumário

1. PROGRAMA DO CURSO 3

2. INTRODUÇÃO 4

3. HÁBITOS E ELEMENTOS DA NEGOCIAÇÃO 6

4. OS CONFLITOS 12

5. PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO 16

6. FASE 1: PREPARAÇÃO 17

7. FASE 2: CONTATO 21

8. COMUNICAÇÃO NA NEGOCIAÇÃO 25

9. ESTILOS COMPORTAMENTAIS 30

10. FASE 3: SONDAGEM 33

11. FASE 4: POSICIONAMENTO 34

12. FASE 5: CONCESSÕES 37

13. ARGUMENTAÇÃO E OBJEÇÕES 40

14. FASE 6: ACORDO 43

15. FASE 7: ACOMPANHAMENTO 46

16. ASPECTOS GERAIS DA NEGOCIAÇÃO 47

17. PLANO DE DESENVOLVIMENTO INDIVIDUAL (PDI) 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 52

ANEXO I: ESTILOS COMPORTAMENTAIS 53

ANEXO II: MAIS SOBRE OS ELEMENTOS DA NEGOCIAÇÃO 57

APRESENTAÇÃO 64

3

1. Programa do curso

1.1. Ementa

Entender o processo de negociação, os hábitos de negociação e os elementos da

negociação.

Estudar o processo de negociação e suas distintas fases.

A comunicação e os estilos comportamentais e a negociação.

Elaborar um plano de desenvolvimento individual para mudar atitudes pós-

curso.

Desenvolver dois casos práticos envolvendo os conceitos da negociação.

1.2. Carga horária total

19,2 horas aula (ou 16 horas).

1.2. Objetivos

PRINCIPAL

▪ Estabelecer uma metodologia de negociação e argumentação para capacitar a

equipe de colaboradores nos processos de negociação com os cooperados de

forma a gerar negócios sustentáveis entre a Cooperativa e os cooperados,

com resultados satisfatórios para ambas as partes, de forma a incrementar

negócios com os cooperados, sempre baseados nos princípios do

cooperativismo.

SECUNDÁRIOS

▪ Conhecer o processo de negociação;

▪ Atuar com os diferentes estilos comportamentais na negociação;

▪ Desenvolver a comunicação na negociação;

▪ Lidar com os conflitos na negociação e sua gestão;

▪ Argumentar de forma positiva as objeções;

▪ Persuadir ou convencer nas negociações.

1.3. Conteúdo programático

Introdução Conceitos iniciais sobre negociação. Dinâmica introdutória. Por que negociamos? Aspectos diversos na negociação. Conflitos.

Hábitos e elementos da negociação

Negociação por resultado ou negociação por processo. Os elementos da negociação (visão Harvard). Mini caso prático.

As fases da negociação

Análise das diversas fases da negociação. A comunicação e os estilos comportamentais. Casos práticos.

Aspectos finais. PDI

Considerações finais sobre negociação. Plano de desenvolvimento individual. Fechamento.

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2. Introdução

A arte de negociar faz parte do dia a dia das pessoas. Para atingir um objetivo, na

vida pessoal ou profissional, as pessoas precisam negociar. Em certas situações, duas

ou mais pessoas têm uma série de interesses diferentes ou adotam posições distintas

em torno de um assunto, o que produz a necessidade de chegar a um acordo.

A maneira em que as pessoas resolvem esta situação potencial de conflito é

interagindo entre elas até conseguir, através de uma dinâmica de influências

recíprocas, um acordo de trocas benéfico para as partes.

O processo de resolução dos conflitos se baseia em torno de três pilares:

▪ As pessoas;

▪ Os interesses das partes: o que eu necessito, quero e desejo frente e o que a

outra parte necessita, quer ou deseja;

▪ Um processo dinâmico de troca de interesses que resolva o conflito entre as

partes.

A figura 1 apresenta esse processo.

Figura 1- Modelo da negociação.

De acordo com Fowler (2000), a negociação ocorre sempre que exista uma

situação que não possa ser resolvida por uma única pessoa, bem como quando duas

ou mais pessoas envolvidas possuem visões diferentes sobre como proceder ou tem

expectativas de alcançar diferentes uma das outras.

Por outro lado, o mesmo autor comenta que a negociação não ocorre ou se

torna inviável se:

▪ Uma das partes concorda imediatamente com aquilo que a outra está

pedindo ou sugerindo;

▪ Quando uma delas se nega até mesmo a discutir a questão.

Assim, Fowler (2000) comenta que em muitas situações não há nem aceitação

nem recusa imediatas e as duas pessoas começam a conversar e interagir a fim de

chegar a um acordo.

Então negociação pode ser definida como um processo de resolução de um

conflito mediante um acordo entre as partes.

5

Outra definição aplicável é a troca de interesses até obter um acordo benéfico

para as partes envolvidas.

Quando falamos de negociação, devemos ter em conta a diferenciação entre três

conceitos bem distintos, mas de certa forma inter-relacionados: transação comercial,

negociação e disputa, conforme apresentado no Quadro 1.

Transação comercial Negociação Disputa

Não há nenhum conflito Existe um conflito de

interesses Existe um conflito emocional

Troca-se um produto ou

serviço por uma quantidade

de dinheiro já definida

previamente

Acordam-se as condições

aproximando os interesses

Centraliza-se nos direitos

das partes para conseguir a

resolução do conflito

Quadro 1- Diferenças de conceitos.

De acordo com a Harvard Business School (HBS), um dos maiores centros

internacionais de ensino, negociação é um processo de comunicação encaminhado a

conseguir um acordo entre diferentes partes, que permita satisfazer as necessidades

das mesmas, considerando que cada parte tem algo que cobre uma necessidade ou

interesse da outra.

As partes tratam de chegar a um acordo que as deixe suficientemente satisfeitas,

de tal maneira que mantenham o acordado, conforme William Ury, professor da HBS.

Importante notar que esses conceitos trazem a ideia de que há algo em comum a

ser negociado, algo que interessa a duas ou mais partes.

A necessidade de negociação se origina a partir das seguintes circunstâncias:

▪ A escassez dos recursos que origina a competição entre aqueles que precisam

dos mesmos recursos;

▪ Uma atribuição desigual dos recursos que origina a necessidade de trocas

entre as partes dos diferentes recursos que necessita cada um;

▪ A possibilidade de negociação se dá em situações onde não há um domínio

total de A sobre B nem de B sobre A e, além disso, a relação de poder é

compartilhada;

▪ À medida que uma das partes domina a outra, a possibilidade de resolver o

conflito entre elas através de uma negociação diminui e a possibilidade de

que seja através de uma decisão unilateral aumenta.

É um erro confundir nas negociações o significado de VENCER com o de GANHAR

ou NÃO PERDER.

Muitas vezes se alcança metas nas negociações - que depois resultam

insuficientes para satisfazer as necessidades dos que negociaram - atuando de forma

reativa em vez de ter preparado cuidadosamente seus propósitos.

Algumas das errôneas medidas do êxito ou fracasso nas negociações são as

seguintes:

▪ Obter máximas concessões;

▪ Romper o último limite;

▪ Conseguir ate o último centavo;

▪ Ele perde mais;

▪ Todos igualmente insatisfeitos;

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▪ Não me destruíram no processo;

▪ Não serei criticado;

▪ Evitar confrontações.

Todos esses itens anteriores NÃO são as medidas adequadas para medir o êxito

ou fracasso da negociação.

O êxito, na verdade, depende da forma como as partes satisfazem suas

necessidades.

O bom negociador profissional tem inúmeras características, entre as quais

citamos:

▪ É capaz de negociar DENTRO da sua PRÓPRIA empresa;

▪ Está desejoso de se ENVOLVER PESSOALMENTE com outra pessoa; não se

preocupa em conhecer outros aspectos da sua vida que não seja o negócio;

▪ É AUDAZ e disposto a propor objetivos altos e ambiciosos;

▪ Não é muito rápido na tomada de decisões, já que uma negociação não é um

julgamento;

▪ Não lhe importa dizer “NÃO ENTENDO, importa-se em repetir”;

▪ É PERSISTENTE e capaz de fazer a mesma pergunta 10 vezes;

▪ É DIPLOMÁTICO e tem muito cuidado com o que diz;

▪ Ouvinte interessado e sabe apresentar seus pontos de vista;

▪ Não tolera a AMBIGUIDADE e sabe aclarar as coisas de forma sutil;

▪ Tem maior habilidade como OUVINTE do que como orador;

▪ Sabe consultar os superiores e companheiros e empregar com firmeza o

conceito de EQUIPE, já que as vantagens são:

▪ Mais conhecimento;

▪ Mais participação;

▪ Mais pontos de vista;

▪ Mais capacidade de escuta;

▪ Mais capacidade de tomar notas.

▪ É bom PLANEJADOR, ainda que seja um trabalho duro; planeja todas as suas

negociações minuciosamente;

▪ É criativo - produz ideias nunca antes expostas;

▪ Compreende as preocupações dos outros.

Da mesma forma, o negociador tem algumas habilidades, entre as quais se

destacam:

▪ Lida com objeções de forma clara e transparente;

▪ Concentra-se no que há por trás das posições e interesses;

▪ É flexível e criativo quanto às propostas;

▪ Cria opções de ganhos mútuos;

▪ É ético por princípios. Controla seu poder e conhece seus limites;

▪ Acredita no que está dizendo e fazendo;

▪ É firme em suas atitudes e propostas; ao mesmo tempo em que é amistoso,

persuasivo, sem usar coerção;

▪ Tem consciência dos vieses culturais de sua origem, assim como dos de seu

oponente;

▪ Adapta-se ao contexto cultural e age com naturalidade;

▪ Pensa no longo prazo.

7

3. Hábitos e elementos da negociação

São dois hábitos bem distintos que caracterizam os negociadores: por posição ou

por interesse. Vamos analisar cada um.

3.1. Negociador por posição

Negociador por posição é aquele que negocia sobre uma posição, postura ou

resultado que pretende conseguir. Seus únicos argumentos orientam-se a conseguir

que o acordo seja aquele que ele quer.

É competitivo em suas negociações: ELE QUER CHEGAR A UM RESULTADO QUE

JÁ DECIDIU PREVIAMENTE.

A figura 2 mostra a concentração do negociador por posição no contrato

(fechamento) e nas alternativas, não focando aspectos importantes na negociação,

como interesse e legitimidade, por exemplo.

Figura 2- Negociador por resultado.

3.2. Negociador por interesse

O negociador por interesse é aquele que busca satisfazer seus interesses ou

necessidades, sendo sensível aos interesses da outra parte. Um negociador por

interesse não está tão preocupado em chegar a um acordo que ele mesmo

preestabeleceu.

É colaborativo em suas negociações: ELE QUER CHEGAR A UM ACORDO QUE

SATISFAÇA OS INTERESSES DE AMBAS AS PARTES.

Analisando os dois conceitos anteriores, nota-se que a melhor forma de negociar

é por interesses, ou seja, uma negociação colaborativa.

A figura 3 apresenta a concentração do negociador por interesse nas opções,

legitimidade e comunicação, que são aspectos importantes na negociação por

interesse, não focando especificamente o contrato.

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Figura 3- Negociador por interesse.

Lembrando a dinâmica introdutória do trem, são os dois tipos de negociador:

competitivo (por posição) e colaborativo (por interesse).

O bom negociador deve concentra-se no processo e não tanto no resultado.

3.3. Elementos da negociação

De acordo com o processo de negociação da Harvard Business School, a

negociação tem sete elementos.

Aqueles relativos ao PROBLEMA são: centrar-se nos INTERESSES, ser criativo,

inventar OPÇÕES e utilizar critérios objetivos, ou seja, LEGITIMIDADE (não ser

subjetivo).

Já os relativos à PROPOSTA são: melhorar sua MAAN (Melhor Alternativa a um

Acordo Negociado) e construir RELAÇÕES.

Restam os elementos relativos às PESSOAS: colocar-se no lugar do outro

(COMUNICAÇÃO) e COMPROMISSOS.

Os sete elementos são apresentados na Figura 4.

Figura 4- Elementos da negociação.

Vejamos cada um desses elementos com mais detalhes. Mais informações sobre

os elementos da negociação são apresentados no ANEXO II.

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1. INTERESSES

Quando falamos de interesses, estamos falando de tudo aquilo que nos motiva a

chegar a um acordo. É dizer desejos, necessidades, metas.

São de três tipos de interesses:

▪ Comuns: tudo aquilo que faz com que as partes se sentem para chegar a um

acordo, é dizer, se não há interesses comuns, não há razões para que as

partes se sentem para negociar. Por exemplo, se um quer vender uma moto e

o outro lado quer comprar um micro-ondas, talvez no hospício eles

conversem. Se não há interesse comum não tem como sentar para negociar

para chegar a um acordo;

▪ Compatíveis: aqueles mais difíceis de detectar, mas que podem fazer com que

tenhamos benefícios para ambas as partes. Logicamente, quanto mais

interesses compatíveis colocarmos em uma mesa de negociação, mais

possibilidades de acordo;

▪ Incompatíveis: Aqueles que enfrentam as partes, por exemplo, duas partes

querendo a mesma quantidade de um determinado item. Algo que ambos

querem, mas não será possível, porque o ganho de um será a perda do outro.

E logicamente os interesses incompatíveis estarão muito presentes em

qualquer negociação, onde, por exemplo, o banco quer me cobrar uma tarifa

do cartão de crédito e eu não quero pagar, quero ser isentado.

2. OPÇÕES

As opções são todas as possibilidades que as partes têm de chegar a um acordo.

Qual é o segredo para chegar a um bom acordo? A informação.

Quanto mais informação eu colocar na mesa de negociação, mais possibilidades

de acordo. O que seriam as opções? O que ocorre numa venda? Um quer vender caro

e o outro pagar barato, além de colocarmos apenas valor, um único interesse. E aí não

negociamos e sim estamos barganhando.

Por que dizemos aqui MAXIMIZAR O VALOR? Que é ampliar o bolo.

E quais são os interesses que melhores opções geram? Os compatíveis. Quanto

mais informação, mais possibilidades de combinar jogadas, combinar cartas. Quanto

mais opções, mais chances de chegar a um acordo que em definitivo satisfaça os dois

lados. E que satisfaça os dois não é apenas dizer ok, vamos fechar, e sim que depois,

no futuro, negociemos com mais confiança, maior relação. E o que vai trazer essas

margens de manobras são as informações que coloquemos. Por exemplo, se eu tenho

aplicados R$ 60 mil, tenho 100 % de isenção. Para cada ano de relacionamento são 10

pontos. Tendo mais que R$ 60 mil, posso fazer um bem bolado no cartão de crédito.

Mas o que precisamos é de várias informações para gerar diferentes opções. O cliente

quer opções e não alternativas.

3. LEGITIMIDADE

Persuasão baseada em normas independentes ou em critérios objetivos, onde o

resultado é percebido como justo. Basear a argumentação em critérios objetivos, em

estudos, dados de mercado, práticas, leis e regulamentos. Por exemplo, citar o site do

Banco Central, ou outra fonte isenta, para mostrar que a tarifa da cooperativa é a

menor. Assim parece que algo seja percebido como racional e justo, objetivando

aquilo que falamos, demonstrando tudo.

10

4. ALTERNATIVAS

Referem-se àquilo que podemos fazer no caso de não chegarmos a um acordo

negociado. As alternativas estão fora da mesa de negociação. Eu estou sentando com

você para tentar chegar a um acordo, e caso não cheguemos é o meu coringa, uma

carta na manga. O fato de ter ou não alternativas condiciona minha forma de negociar.

Por exemplo, se eu quero vender meu apartamento que está à venda há um ano e

agora chega um cliente interessado eu vou negociar de diferente forma. Caso eu

receba essa nova oferta e se eu já tiver quatro outros interessados reais, minha forma

de negociar muda.

Caso eu não chegue a um acordo com esse provável comprador, o que é que eu

tenho? Nem sempre terei alternativa, porque a alternativa deve ser segura. Mesmo

que eu não esteja negociando com você eu possa negociar com outra pessoa, a outra

pessoa não é uma alternativa segura e sim uma possibilidade.

A parte com a que eu estou chegando a um acordo não tem influencia sobre a

minha alternativa. A alternativa está fora da mesa. Outro exemplo, o gerente de

relacionamento Van Gogh tem que fazer o possível para que chegar a um bom acordo

que mantenha o cliente satisfeito e garanta a rentabilidade dessa conta, pois o cliente

dele tem algumas alternativas que são o Prime, o Itaú Personnalité, o Estilo, etc. E

quando falamos de Van Gogh, com alta renda, certamente terá muitas boas

alternativas. É a “carta na manga”, mas tem que ser segura e não um blefe.

5. RELAÇÕES

São referentes à habilidade das partes para manejar suas diferenças de forma

efetiva, onde o processo que usamos hoje melhora nossa relação para negociar

amanhã. Aqui falamos de negociador por posições ou negociador por interesses. A

ideia é que quando eu tenho claro os meus interesses, sou sensível aos interesses da

outra parte, tentamos chegar ao melhor acordo possível, colocando essas informações

sobre a mesa. Eu não tento convencer o outro com subjetividade, e sim estou

argumentando e legitimando tudo aquilo que está sendo dito. Eu não quero que o

outro acredite no que estou falando e sim estou demonstrando tudo que estou

falando. Tudo isso aumenta as possibilidades de um bom acordo. E um bom acordo

onde as partes não se sentem lesadas, o que logicamente vai solidificando essa

relação. A relação, ao final, não é um elemento e sim uma série de consequências.

6. COMUNICAÇÃO

Intercâmbio de pensamentos e ideias, mensagens ou informação através de atos

verbais, incluindo sinais, escrita ou qualquer outra mensagem.

Deve ser efetiva e eficiente, precisa e empática. A ferramenta de trabalho na

negociação é a comunicação. A troca de informações.

7. COMPROMISSOS

É a declaração sobre o que as partes farão ou não. Devem ser bem planejados,

realistas, suficientes e operacionais, permitindo que se possa e se queira cumprir.

Qual é a diferença entre acordo e compromisso? O acordo é formal, mas não me

obriga a cumprir. Eu posso brigar na justiça. Quando falamos de compromisso estamos

falando desse acordo formal e desse acordo emocional; é dizer, eu o vejo tão bom que

sou o primeiro que quer cumpri-lo. Quando eu quero cumprir? Quando eu vejo que

houve esforço da outra parte, que me explicaram as coisas diretamente, que não

11

foram imposições. Negociar não é ciência e sim uma comunicação entre caráteres

diferentes.

O Anexo II apresenta mais informações sobre os sete elementos da negociação,

bem como outros aspectos sobre os mesmos. Vale a pena uma leitura complementar.

3.4. Venda e negociação

Uma dúvida frequente é o que vem antes: a venda ou a negociação? A resposta

depende de duas situações: conhecimento pelo cooperado da cooperativa/gerente e

conhecimento pelo cooperado do produto/serviço.

A figura 5 apresenta essa situação com o eixo horizontal representando o

conhecimento do produto ou serviço. Já o eixo vertical corresponde ao conhecimento

da cooperativa/gerente.

.

Figura 5- Venda ou negociação.

No quadrante 1 - alto conhecimento da cooperativa/gerente e baixo

conhecimento do produto/serviço - é necessário vender: o produto.

No quadrante 2 - baixo conhecimento da cooperativa/gerente e baixo

conhecimento do produto/serviço - é necessário vender: a marca e imagem da

cooperativa/gerente e o produto/serviço.

No quadrante 3 - baixo conhecimento da cooperativa/gerente e alto

conhecimento do produto/serviço - é necessário vender: a marca e imagem da

cooperativa/gerente.

Finalmente, no quadrante 4 - alto conhecimento da cooperativa/gerente e alto

conhecimento do produto/serviço - é necessário negociar: condições, preços, taxas,

etc. O cooperado já tem conhecimento dos demais fatores.

A venda é mais lógica e mais motivacional. Uma parte vende e a outra compra. É

como uma escada de um único sentido: o vendedor dirige a entrevista.

Por outro lado, a negociação é mais psicológica, porém mais técnica. As partes

compram e vendem: condições, cessões, prazos, etc. É, assim, uma escada de duplo

sentido: as partes envolvidas têm o que dizer.

12

4. Os conflitos

Foi comentado que o modelo de negociação leva em conta que pessoas

resolvem ou tentam resolver uma situação potencial de conflito através da interação

com a outra parte.

Assim sendo, antes de analisarmos o processo de negociação, vejamos alguns

conceitos relativos aos conflitos.

Para Berg (2012), a palavra conflito vem do latim conflictus, que significa choque

entre duas coisas, embate de pessoas, ou grupos opostos que lutam entre si, ou seja, é

um embate entre duas forças contrárias.

Aplicando à realidade, conflito é um estado antagônico de ideias, pessoas ou

interesses e não passa, basicamente, da existência de opiniões e de situações

divergentes ou incompatíveis (BERG, 2012)

Berg (2012, p.18) afirma ainda que: “O conflito nos tempos atuais é inevitável e

sempre evidente. Entretanto, compreendê-lo, e saber lidar com ele, é fundamental

para o seu sucesso pessoal e profissional”.

Burbridge e Burbridge (2012) defendem que os conflitos são naturais e em

muitos casos necessários, além de serem o motor que impulsiona as mudanças. No

entanto muitos conflitos são desnecessários e destroem valores, causando prejuízo

para as empresas e pessoas que nela trabalham. O principal desafio dos gestores é

identificar os conflitos produtivos e contra produtivos e gerenciá-los.

Por outro lado, Chiavenato (2004) comenta que o conflito ocorre pela diferença

de objetivos e interesses pessoais, sendo parte inevitável da natureza humana;

constitui o lado oposto da cooperação e da colaboração. A palavra conflito está ligada

a desacordo, discórdia, etc. Para que haja conflito, além da diferença dos fatores

citados, deve haver uma interferência deliberada de uma das partes envolvidas, ou

seja, quando uma das partes, seja individuo ou grupo, tenta alcançar seus próprios

objetivos interligados com alguma outra parte, a qual interfere na sua busca de atingir

os objetivos.

Os conflitos existem desde o início da humanidade e fazem parte do processo de

evolução dos seres humanos. São necessários para o desenvolvimento e o crescimento

de qualquer sistema, seja familiar, político, social e organizacional.

E continuarão a existir.

Cada pessoa tem uma visão ÚNICA do mundo. Nossos pontos de vista e

percepções são a nossa REALIDADE.

Os outros podem não aceitar nossos pontos de vista ou percepções como

adequadas.

Para melhor comunicação e conseguir o compromisso dos outros, devemos

aprender a RECONHECER o que está na janela da outra pessoa.

Conflito é o processo onde uma das partes envolvidas percebe que a outra parte

frustrou ou irá frustrar os seus interesses.

O conflito se instala quando ocorre:

▪ Divergência de ideias;

▪ Choque de princípios entre pessoas e/ou processos;

▪ Diferenças nas necessidades, objetivos e valores;

▪ Diferenças na percepção de motivos, ações, comunicações e situações;

▪ Expectativas diferentes sobre resultados;

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▪ Falta de colaboração e concessões.

Os conflitos apresentam diversas fases a seguir descritas:

▪ Oculto: começam a reunir as condições “necessárias” para que surja o

conflito;

▪ Antecipação: primeiros sintomas;

▪ Conscientização: sensação de dificuldades, porém não expressas;

▪ Discussão: pontos de vista declarados;

▪ Disputa aberta: discussões tendentes ao antagonismo;

▪ Conflito aberto: posições definidas tendentes à radicalização (ganha vs.

perde).

Uma alternativa de solução às vezes mal praticada é o chamado esgotamento,

isto é, espera-se que o conflito se resolva sozinho ou se dá por solucionado sem que

esteja realmente resolvido. Essas duas situações nem sempre acontecem e o conflito

permanece, mesmo que latente.

Assim, o melhor é a busca de uma solução onde as partes encontram ou tentam,

pelo menos, uma solução, com a que estão de acordo e que lhes agrada em menor ou

maior medida.

Os conflitos apresentam duas conotações distintas: conotação positiva e

conotação negativa.

CONOTAÇÃO POSITIVA

▪ Serve como “sensor”: algo estanho existe;

▪ Motiva a busca de soluções;

▪ Sinergia positiva;

▪ Oportunidade de crescimento e desenvolvimento.

CONOTAÇÃO NEGATIVA

▪ Causa tensão;

▪ Leva à agressão;

▪ Ambiente improdutivo;

▪ Sinergia negativa;

▪ Leva à guerra, destruição, violência.

De acordo com a intensidade dessas atitudes, podem ser definidas cinco formas

de encarar os conflitos: evitar, acomodar, compromisso, competir e colaborar.

As bases de análise são a atitude competitiva (foco nos nossos interesses) e

atitude colaborativa (foco nos interesses dos outros, colaboração).

A Figura 6 apresenta essas formas.

14

Figura 6- Formas de encarar os conflitos.

Fonte: Thomas-Kilmann Conflict Mode Instrument (1970).

Vejamos as principais características de cada uma:

▪ Evitar (afastamento): é uma atitude não assertiva e não cooperativa, pois ao

afastar-se a pessoa não se empenha em satisfazer os seus interesses e nem

tampouco coopera com a outra pessoa. O indivíduo se coloca à margem do

conflito, adiando-o ou evitando-o, recuando perante situações de ameaça. O

resultado é um impasse; por isso não se decide nada; sem confrontos;

▪ Acomodar (acomodação): é uma atitude não assertiva, cooperativa e

autossacrificante, o oposto da competição, pois ao acomodar-se a pessoa

renuncia aos seus próprios interesses para satisfazer os interesses de outra

parte. É identificada como um comportamento generoso, altruísta, e dócil.

Uma das partes considera mais os interesses da outra parte;

▪ Competir (competição): é uma atitude assertiva e não cooperativa, onde

prevalece o uso do poder. Ao competir o individuo procura atingir seus

próprios interesses em detrimento dos da outra pessoa, é um estilo agressivo

onde o individuo faz uso do poder para vencer. Num conflito de objetivos,

quer alcançar os objetivos próprios, sacrificando os do outro;

▪ Compromisso (acordo): é uma posição intermediária entre a assertividade e a

cooperação, onde o individuo procura soluções mutuamente aceitáveis que

satisfaçam parcialmente os dois lados. O compromisso significa trocar

concessões ou, então, procurar uma rápida solução de meio termo. Cada uma

das partes cederá algo dos seus interesses para obter um resultado

satisfatório;

▪ Colaborar (colaboração): é uma atitude tanto assertiva quanto cooperativa,

onde ao colaborar o indivíduo procura trabalhar com a outra pessoa tendo em

vista encontrar uma solução que satisfaça plenamente os interesses das duas

partes. Busca pelo interesse de ambas as partes; num conflito de objetivos

tenta atingir os objetivos de ambas as partes.

15

Com base em todas as consequências citadas, é fundamental buscar soluções

para os conflitos.

Alguns conceitos positivos na boa gestão dos conflitos são:

▪ Procurar soluções, não culpados;

▪ Analisar a situação (Qual? Quem? O que? Desde quando? Onde? Por quê?);

▪ Manter um clima de respeito;

▪ Aperfeiçoar a habilidade de ouvir e falar;

▪ Ser construtivo ao fazer uma crítica;

▪ Procurar a solução ganha-ganho;

▪ Evitar preconceitos e estereótipos;

▪ Quando estiver errado, reconhecer o erro;

▪ Lembrar que administrar conflitos significa também administrar a si mesmo.

16

5. Processo de negociação

O processo de negociação aqui apresentado é composto de sete fases distintas:

preparação, contato, sondagem, posicionamento, concessões, acordo,

acompanhamento.

Essas fases são apresentadas na Figura 7.

Figura 7- Fases do processo de negociação.

Nos próximos módulos serão apresentadas as características de cada fase e os

aspectos importantes para conduzir uma boa negociação, além de conceitos

relevantes nas negociações, como a comunicação e os estilos comportamentais.

Notar que, conforme a Figura 7, a participação da outra parte vai aumentando à

medida que a negociação vai evoluindo, fase a fase.

Muitos aspectos influem na negociação, tais como:

▪ Poder real e aparente;

▪ Negociação das partes com outros envolvidos;

▪ Aspirações de ambas as partes;

▪ Tempo;

▪ Telefone;

▪ O fato de ter que chegar a um acordo;

▪ Necessidade do produto ou do serviço;

▪ Informação disponível;

▪ Conhecimento do negociador;

▪ Local onde se negocia;

▪ Pessoas envolvidas;

▪ PREPARAÇÃO.

Vamos analisar cada fase da negociação e outros aspectos a elas relativos.

17

6. Fase 1: Preparação

A preparação é o que acontece antes da negociação propriamente dito, sem a

presença do cooperado, mas tem uma importância fundamental no sucesso da

negociação.

Como comentado, entre os diversos aspectos que influem na negociação, temos:

poder real e aparente, negociação das partes com outros envolvidos, aspirações de

ambas as partes, tempo, telefone, o fato de ter que chegar a um acordo, necessidade

do produto ou do serviço, informação disponível, conhecimento do negociador, local

onde se negocia, pessoas envolvidas e PREPARAÇÃO.

Por que é essencial preparar uma negociação?

Embora às vezes o êxito de uma negociação dependa do modo em que esta se

desenvolve e da sorte que acompanha o negociador, existem numerosos estudos

realizados que demonstram que o bom desenvolvimento da negociação encontra-se

condicionado pela preparação prévia realizada pelas partes.

O objetivo de preparar uma negociação consiste em:

▪ Não deixar espaço à improvisação;

▪ Não esperar que surja uma ideia brilhante ou que a atuação tática de uma

parte intimide a outra;

▪ Evitar o acaso e planejar o processo do começo ao fim;

▪ Identificar os interesses de cada uma das partes e analisar o modo de

consegui-los;

▪ Elaboração de opções criativas;

▪ Estratégias para elaboração de ganhos mútuos;

▪ Comunicação na negociação;

▪ Condições básicas para um diálogo efetivo;

▪ Compreensão das fontes de poder e de persuasão;

▪ Elaboração de um plano alternativo;

▪ O acordo;

▪ A negociação após a formalização do acordo.

A preparação de uma negociação exigirá que cada um dos atores formule, por

exemplo, as seguintes questões:

▪ Quais são os nossos interesses? Esclareça seus interesses

▪ Quais são os interesses da outra parte? Estime os interesses das outras partes

▪ Como procederíamos se estivéssemos no lugar deles?

▪ Existem stakeholders envolvidos?

▪ Quais os interesses devem nos preocupar, quais os interesses são

compartilhados, quais os interesses são diferentes e quais interesses são

conflitantes?

▪ O que você busca atingir nesta negociação?

Aspectos que afetam as negociações:

▪ Aspectos intrínsecos: aqueles que fazem referência aos assuntos que vão ser

negociados;

18

▪ Aspectos extrínsecos: aqueles que fazem referência a tudo o que está ao

redor dos assuntos a negociar e, que dependendo de como os utilizamos,

influenciam no resultado da negociação.

A figura 8 apresenta os aspectos que influenciam a capacidade de persuasão na

negociação.

Figura 8- Aspectos que influenciam a capacidade de persuasão na negociação.

Os seis maiores pecados do negociador são:

▪ Improvisa muito, prepara-se pouco;

▪ Tende a ver somente o seu lado, esquecendo a outra parte (não escuta o

cooperado);

▪ Não entende a necessidade da outra parte (pensa apenas na sua);

▪ Tenta mostrar o quanto sabe e perde o foco do negócio (no cooperado);

▪ Fala demasiadamente sem objetivo;

▪ Tem baixa flexibilidade.

Uma frase de Thompson (2001) retrata fortemente a importância da preparação

no processo negocial: “O aspecto mais importante da negociação acontece antes que

as partes se encontrem na mesa de negociação”.

A fase de preparação tem três áreas importantes:

▪ Coleta e análise de informações;

▪ Objetivos;

▪ Estratégias.

Vejamos cada uma dessas áreas.

1. COLETA E ANÁLISE DE INFORMAÇÕES

Os negociadores não tomam boas ou más decisões; tomam decisões baseadas na

informação disponível. Os negociadores tomarão decisões acertadas se estiverem de

posse de toda a informação relevante.

O saber não é poder, o que você faz com o saber é poder.

É importante que se tenham as informações do cooperado e da cooperativa

necessárias em cada processo negocial, que podem variar de situação para outra.

19

O Quadro 2 apresenta as principais informações na preparação da negociação.

Quadro 2- Principais informações para a negociação.

2. OBJETIVOS

A orientação a resultados é essencial na hora de encarar uma negociação. A

pessoa que ambiciona conseguir resultados objetivos tem mais possibilidades de

fechar suas negociações com um bom acordo.

Os objetivos que nós devemos marcar na preparação podem ser QUALITATIVOS

e/ou QUANTITATIVOS, mas devem ter as seguintes características:

▪ Objetivos máximos: aqueles que gostaríamos de alcançar (G);

▪ Objetivos médios: aqueles que pretendemos alcançar (P);

▪ Objetivos mínimos: aqueles que temos que alcançar (T).

O Quadro 3 apresenta uma ferramenta para definição dos objetivos.

Quadro 3- Ferramenta para definição dos objetivos.

20

3. ESTRATÉGIAS E MEIOS

Nessa área é importante definir o que se deverá fazer para alcançar o sucesso

desejado. Entre os principais aspectos, podem ser destacados:

▪ Definir as concessões que vou dar pelas contrapartidas que vou/quero

receber;

▪ Fixar um objetivo mínimo e um objetivo máximo: é mais fácil chegar a

acordos, nos quais desde o inicio está fixado um limite mínimo de negociação;

▪ Estabelecer agenda de assuntos a serem abordados em função dos aspectos

que interessa ir fechando até o acordo final;

▪ Preparar as perguntas que devem ser feitas;

▪ Preparar os argumentos que causarão mais impacto na negociação;

▪ Prever as objeções possíveis: preparar a forma para rebatê-las;

▪ Definir o papel que deve ser adotado diante do cooperado: buscar uma

mudança de atitude inicial no cooperado, detectar falhas cometidas em nossa

relação comercial anterior, etc.

É importante investir algum tempo na preparação, pois a probabilidade de

sucesso será maior que a improvisação.

21

7. Fase 2: Contato

Essa é a segunda fase da negociação. A partir de agora, estamos frente a frente

com o cooperado.

A fase de contato tem duas áreas importantes:

▪ Aproximação

▪ Predisposição ao benefício mútuo.

Vejamos cada uma dessas áreas.

1. APROXIMAÇÃO

Essa área é a apresentação inicial, a forma como deve ser abordado o processo

negocial com o cooperado. Neste momento é muito importante cuidar de alguns

aspectos que influenciam o relacionamento - não só nesse momento, mas também no

futuro - que são apresentados no Quadro 4.

Quadro 4- Aspectos físicos e verbais na aproximação.

Na negociação podemos lidar com três atitudes distintas de negociador: o

cooperativo, o competitivo e o concordante.

O primeiro atua de forma a buscar acordos que atendam as duas partes,

enquanto o segundo tem uma postura competitiva achando que só suas demandas

devem ser atendidas.

O terceiro tipo tem uma atitude passiva e nada contribui para a negociação.

O Quadro 5 mostra as características dos três tipos de negociadores.

22

Quadro 5- Características dos comportamentos dos negociadores.

Para cada um dos comportamentos comentados, devem ser aplicadas algumas

habilidades para lidar com os mesmos.

Tais habilidades são apresentadas no Quadro 6.

Quadro 6- Habilidades para cada um dos comportamentos.

2. PREDISPOSIÇÃO AO BENEFÍCIO MÚTUO

São ações que ocorrem para o estabelecimento de uma boa reputação, pela

expectativa de retorno mediante a reciprocidade, à obtenção de vantagens futuras em

reposta a uma atitude justa e leal.

Na negociação colaborativa, as ações devem buscar maior aproximação entre as

partes, o que ajuda em muitas situações:

▪ Maximizar as chances de se encontrar seus interesses, ao mesmo tempo em

que as outras partes também alcançam seus interesses;

▪ Criar e manter um bom relacionamento entre as partes que estão na

negociação;

▪ O foco central da abordagem de ganhos mútuos é o foco nos interesses, não

em posições;

▪ Capacidade para ganhos mútuos: cada pessoa possui algo que é desejado por

outra pessoa.

23

Para manter um processo colaborativo na negociação, as partes devem atuar de

forma positiva para haver maior entendimento e serem realizados bons negócios.

Algumas ações para isso são:

▪ Clima de receptividade;

▪ Pessoas receptivas; descontrair o ambiente: quebra-gelo;

▪ Definir o propósito;

▪ Concordância enquanto ao processo;

▪ Facilitar a descoberta de fatores de motivação e necessidades do cooperado;

▪ Descobrir problemas do outro;

▪ Buscar interesses em comum;

▪ Provar as necessidades presumidas na etapa de preparação;

▪ Ajudar a compreender as necessidades;

▪ Quais são suas preocupações?

Os quatro possíveis estados do negociador, em função do resultado da

negociação, são:

▪ GANHA: Ao utilizar a terceira pessoa, nos referimos à percepção de que de

que a outra parte obtém acordos acima de nossos objetivos mínimos (ou seja,

ela GANHA);

▪ GANHO: Percepção de que a outra parte obtém acordos abaixo de seus

objetivos mínimos (ou seja, eu GANHO);

▪ PERDE: Percepção de que a outra parte obtém acordos abaixo de seus

objetivos mínimos (ou seja, ela PERDE);

▪ PERCO: Percepção de que eu obtive acordos abaixo de meus objetivos

mínimos (ou seja, eu PERCO).

A Figura 9 mostra esses estados comentados.

Figura 9- Os possíveis estados do negociador.

A negociação colaborativa envolve o ganha-ganho. A negociação competitiva

envolve as demais condições: ganho-perde, perde-ganho e perde-perde.

24

O aspecto mais importante da predisposição ao benefício mútuo é a incentivar a

confiança entre as partes. Ou seja, uma forma de aumentar a credibilidade (o

cooperado acreditar em você) e a afinidade (o relacionamento) entra as partes e

diminuir o risco da relação (as soluções propostas).

25

8. Comunicação na negociação

A partir da fase anterior - contato - e até a fase final da negociação - o acordo, há

uma troca constante de informações entre as partes na negociação. Assim, vejamos

alguns temas relevantes na comunicação que contribuem de forma positiva na

negociação.

Segundo Ferreira (1995), comunicação é definida como:

▪ Ato ou efeito de comunicar;

▪ Processo de emissão, transmissão e recepção de mensagens por meio de

métodos e/ou sistemas convencionados;

▪ Capacidade de trocar ou discutir ideias, de dialogar, de conversar com vista ao

bom entendimento entre pessoas.

O último item da definição anterior tem uma concordância perfeita com o tema

desse módulo.

De acordo com David Ogilvy, “comunicação não é o que você diz, mas o que o

outro entende”.

Essa frase mostra a responsabilidade do emissor da informação para o sucesso

da comunicação, ou seja, a responsabilidade de quem comunica alguma coisa a

alguém, tal que esse alguém entenda o que foi dito.

A comunicação se utiliza dos diversos sentidos humanos através e de canais

específicos de comunicação.

Segundo a Wikipédia (2015) e Molden (1999), os canais de comunicação são três:

▪ Visual - meio de comunicação expresso com a utilização de componentes

visuais, como signos, imagens, desenhos, gráficos, ou seja, tudo que pode ser

visto. O termo comunicação visual é bastante abrangente e não precisa ser

limitado a uma única área de estudo;

▪ Auditivo - é a forma sonora a mais predominante. O auditivo consegue

perceber com maior nitidez e facilidade dados vinculados ao som, como

volume, tonalidade, vocabulário, ruídos, discursos, conversas, discussões.

Uma pessoa auditiva presta muita atenção naquilo que está sendo dito;

▪ Cinestésico - característica de pessoas muito extrovertidas, que se

movimentam muito, que gesticulam com facilidade e que utilizam o corpo

(linguagem não verbal) para se expressar.

Segundo Molden (1999), as características de uma pessoa com forte canal visual

são: direto e rápido; pensa através da imagem; olhar para cima/desfocado ou olhar ao

longe (visão macro); foca fisionomias e não nomes; aparenta e demonstra

autoconfiança; fala rápido e num tom de voz alto. Postura “olho no olho”.

Já as pessoas com forte canal auditivo apresentam, segundo o mesmo autor, as

seguintes características: detalhistas e abordam fatos; ritmo de falar é moderado e voz

com variações tonais; tendem a balançar o corpo de um lado para outro; olhar para os

lados, altura dos ombros. Postura: contato mais impessoal.

Por último, aqueles com fortes características no canal sinestésico, em geral

apresentam: decisão baseada em sentimentos/intuição; são mais envolventes, com

muita prática e exemplos pessoais; abordam percepções e sensações; toque e

26

compartilhar vivências e experiências; ritmo da fala pausado e de tom de voz baixo;

respiração profunda e lenta; olhar para baixo. Postura: contato mais próximo.

Importante citar que, as pessoas que tem os sentidos em bom funcionamento,

aplicam os três canais de comunicação, mas de forma diferenciada, ou seja, um canal

pode ser mais destacado que outros.

Além do modo verbal, a comunicação também pode ser não verbal.

Segundo estudo de Mehrabian (2007), o que dizemos, isto é, as palavras que

usamos representam 7% do processo de comunicação; a forma como dizemos, isto é,

o uso da voz em termos de tom, volume, ritmo, entusiasmo e convicção que

representa 38%; logo, para fechar o processo, a linguagem corporal (não verbal:

gestos, postura, expressão facial, etc.) corresponde a 55% do processo de

comunicação.

O Quadro 7 apresenta as possíveis interpretações sobre a linguagem corporal

(comportamento não verbal).

Quadro 7- Comportamento não verbal: possíveis interpretações.

Fonte: adaptado de diversos autores.

A comunicação apresenta três comportamentos distintos: agressividade,

passividade e assertividade.

O comportamento agressivo tem as seguintes características:

▪ Defende excessivamente seu ponto de vista, sem pensar no outro;

▪ Fala sem dar atenção à opinião do outro;

▪ O tom de voz é duro e ríspido;

▪ Pensa que só ele é importante;

▪ Acredita que demonstrar interesse pelo outro é mostrar-se “vulnerável”;

▪ Tudo se situa em termos de ganhar ou perder: o agressivo só quer ganhar.

27

O comportamento passivo (submisso) tem as características abaixo:

▪ Não defende seu ponto de vista; mantém-se quieto;

▪ Respeita os outros, mas não a si próprio; esconde opiniões e emoções;

▪ Voz hesitante e baixa;

▪ Costuma queixar-se a outras pessoas, mas jamais diretamente a quem se

aproveita dele; recua frente às objeções;

▪ São pessoas “sacrificadas”.

E finalmente, o comportamento assertivo tem as características a seguir

descritas:

▪ Conhece e defende seus pontos de vista e limites, respeitando os outros;

▪ Pode discordar e solicitar esclarecimentos abertamente;

▪ Sabe dizer “não” quando não concorda ou não pode. Usa linguagem clara e

direta;

▪ Sabe controlar suas emoções e reconhecer erros.

A assertividade é a arte de defender o meu espaço vital, sem recuar e sem

agredir.

Assim, a pessoa assertiva não deixa dúvidas quanto às suas intenções, motivos e

forma pela qual busca seus objetivos, disseminando confiança em relação às demais

pessoas com quem convive.

Como estratégias para a assertividade, podem ser destacadas:

▪ Ter um bom conceito de si mesmo;

▪ Planejar as mensagens;

▪ Ser educado;

▪ Não desprezar os outros;

▪ Guardar as desculpas e justificativas para quando sejam necessárias;

▪ Nunca recorrer às ameaças ou formas inapropriadas;

▪ Aceitar a derrota quando for necessário.

Alguns problemas básicos na comunicação são:

▪ Distorcer o que vemos ou ouvimos de acordo com nossas necessidades e

experiências;

▪ A incapacidade e a falta de habilidade em ouvir. Ouvimos apenas o que

queremos;

▪ Resistência às mudanças, rejeitamos novas ideias;

▪ Julgamentos e preconceitos;

▪ Como se percebe os fatos, dificuldades de percepção;

▪ Vocabulário (problema semântico: ciência dos significados).

O maior e, talvez o mais verdadeiro, problema da comunicação é que não

escutamos para compreender, mas sim para responder.

Como forma de reduzir e eliminar tais problemas, algumas formas para isso:

▪ Colocar-se no lugar do outro;

▪ Ter o objetivo claro;

▪ Ordenar e concretizar a mensagem;

▪ Envolver o receptor;

▪ Usar uma linguagem clara e simples;

28

▪ Apoios não verbais;

▪ Obter feedback.

No processo de comunicação, a escuta ativa é uma forma de prestar maior

atenção e focar a comunicação assertiva. A prática da escuta ativa envolve:

▪ Demonstrar sincero interesse no outro;

▪ Prestar atenção no que a outra pessoa diz;

▪ Suspender seus próprios pensamentos, opiniões, ideias e recomendações;

▪ Demonstrar interesse através da sua comunicação não verbal;

▪ Ser espontâneo; a outra pessoa perceberá caso você não seja autêntico.

O Quadro 8 apresenta ferramentas da escuta ativa.

Quadro 8- Ferramentas da escuta ativa.

Fonte: adaptado de diversos autores.

A comunicação, segundo Almeida e Almeida (2000), pode ser comparada a um

iceberg, já que o mesmo tem aproximadamente 20% de visibilidade e os restantes 80%

estão submersos. No relacionamento negocial com o cooperado, os argumentos

básicos usados são aparentemente racionais, correspondentes aos 20% visíveis do

iceberg.

Os 80% restantes representam os argumentos emocionais, aqueles submersos.

Numa negociação, geralmente as partes envolvidas revelam apenas o superficial

de suas necessidades, o que se traduz em uma lista de produtos e exigências... Cada

lado coloca-se em sua posição e a defende com todas as suas forças.

Deve-se ficar atento nas negociações, pois aquilo que é apresentado no primeiro

momento é apenas a ponta do iceberg, o principal está submerso. Lá estão as

informações que lhe levarão ao melhor resultado. Desenvolva suas técnicas para

descobrir o que há na parte submersa do iceberg.

No relacionamento negocial com o cooperado, os argumentos básicos usados

são aparentemente racionais, correspondentes aos 20% visíveis do iceberg.

Os 80% restantes representam os argumentos emocionais, aqueles submersos;

aí está o segredo da negociação bem sucedida.

Assim, a comunicação como forma de buscar interesses para a negociação

colaborativa, pode ser melhorada com a percepção das verdadeiras emoções que

envolvem tais interesses, necessidades e anseios.

A Figura 10 apresenta esses conceitos de forma bem clara.

29

Figura 10- Conceito do iceberg na comunicação.

O grande desafio do bom negociador:

▪ Controlar suas emoções;

▪ Usar o pensamento lógico;

▪ Identificar as razões motivacionais das demandas do cooperado.

30

9. Estilos comportamentais

Como comentado em módulos anteriores, alguns fatores são fortemente

utilizados na negociação, como a solução de conflitos e a boa comunicação.

Além desses dois itens, o conhecimento dos estilos comportamentais colabora

de forma positiva nas fases seguintes da negociação: posicionamento, concessões e

acordo.

Os estilos comportamentais também são chamados de estilos de personalidade

ou de relacionamento.

São muitas as análises sobre estilos comportamentais, mas aqui vai ser usado o

conceito desenvolvido com base nos modelos de observação de personalidade

elaborado por Merrill & Reid (1981).

O conhecimento dos estilos comportamentais possibilita:

▪ Compreender nosso comportamento e seus impactos diante dos

colaboradores;

▪ Compreender o comportamento do colaborador porque ele reage de

determinada maneira;

▪ Identificar e entender as situações nas quais somos bem sucedidos junto aos

colaboradores;

▪ Também identificar e entender as situações onde não somos bem sucedidos

junto aos colaboradores;

▪ Melhorar a comunicação e a relação;

▪ Mas, principalmente, desenvolver estratégias para aumentar a empatia, a

confiança e conseguir o melhor resultado com benefícios mútuos.

Benefícios mútuos são aqueles desejados em uma negociação colaborativa.

Essa análise leva em consideração o estudo de duas dimensões distintas:

assertividade e sensibilidade.

A assertividade é a dimensão da conduta que mede o grau em que os outros

percebem uma pessoa com tendência a perguntar ou afirmar ao interagir com outros.

Representando em um eixo horizontal, à esquerda teríamos a tendência para

perguntar e à direita estaria a tendência para afirmar.

Já a sensibilidade é a dimensão da conduta medida pelo grau em que outros

percebem uma pessoa com tendência à racionalidade ou mostrar seus sentimentos e

emoções quando interage. Representando em um eixo vertical, acima seria a

tendência à racionalidade e abaixo teríamos a tendência à emotividade.

Com a interseção desses dois eixos, teríamos, assim, definidos os quatro estilos

comportamentais:

▪ Analítico: alta racionalidade e baixa assertividade (muita razão; muita

pergunta). Em geral é sério, exato, indeciso, lógico. Mais lento e centrado em

detalhes;

▪ Empreendedor: alta racionalidade e alta assertividade (muita razão; muita

afirmação). Normalmente é independente, formal, prático, dominante. Mais

rápido e centrado em detalhes;

▪ Expressivo: alta assertividade e alta sensibilidade (muita afirmação; muita

emoção). Em geral é animado, enérgico, teimoso, impulsivo, informal. Mais

rápido e centrado em generalidades.

31

▪ Integrador: alta sensibilidade e baixa assertividade (muita emoção; muita

pergunta). Na maioria das vezes se mostra dependente, solidário, flexível,

aberto, informal. Mais lento e centrado em relações.

A figura 11 apresenta esses estilos comportamentais, as relações entre as

dimensões e algumas características dos mesmos.

Figura 11- Estilos comportamentais.

Fonte: adaptado de Merrill & Reid (1981).

Na descrição dos estilos foram apresentados conceitos gerais sobre os mesmos.

Vejamos um pouco mais sobre as características deles:

▪ Analítico: forte necessidade de dados e pesquisas. O analítico é aquele que

adora fazer perguntas, obter o máximo de informações, coletar todos os

dados disponíveis. Sempre preocupado em saber todos os detalhes de cada

empreendimento antes de iniciar qualquer tarefa ou tomar qualquer decisão.

Eventualmente pode ser visto como sendo perfeccionista, detalhista em

excesso, procrastinador, etc;

▪ Empreendedor: sua necessidade maior são as metas e resultados. O

empreendedor é aquele que toma decisões rápidas, está sempre preocupado

com o uso do seu tempo, com redução de custos; nas discussões não faz

rodeios, vai direto ao assunto. É organizado, conciso, objetivo. Sua meta

básica é conseguir seus resultados. Eventualmente pode ser visto como

insensível às pessoas, durão, carrasco, etc;

▪ Expressivo: tem forte necessidade de inovação. A pessoa com este estilo

tende a ser extremamente criativa e sempre com novas ideias, entusiasta dos

grandes empreendimentos, empreendedora. É o homem das coisas novas,

dos grandes projetos e decisões. Eventualmente, pessoas com esse estilo

podem ser vistas como superficiais, irreais, estratosféricas em suas decisões e

ações;

32

▪ Integrador: prima pela garantia de satisfação. O integrador é aquele que

considera que os seres humanos são mais importantes que qualquer trabalho;

aprecia atuar sempre em equipe, procura agradar os outros, fazer amigos.

Eventualmente pode ser visto como incapaz de cumprir prazos, desenvolver

projetos, enfim, mais como um missionário do que um executivo. Suas

decisões são mais lentas e ele sempre busca não melindrar a outra parte.

Para o bom relacionamento entre os estilos, levar em consideração os seguintes

aspectos:

▪ Com o analítico, prover fatos e evidencias, pois ele decide pelas

consequências;

▪ O empreendedor deseja poder de escolha, uma vez que pensa no resultado;

▪ O expressivo se preocupa com a inovação e decide em função das

expectativas futuras;

▪ Por sua vez, o integrador necessita de presença, de apoio, pois decide com

base no impacto em pessoas.

Por outro lado, alguns cuidados devem ser tomados, principalmente na relação

entre os estilos dispostos em quadrantes opostos, conforme mostra a figura 8, ou seja,

analítico com expressivo, pois o analítico é mais lento, centrado em detalhes e tem

uma visão séria e formal, enquanto o expressivo é mais rápido, centrado em

generalidades e tem uma visão descontraída e informal. A outra relação conflitante é

entre o empreendedor e o integrador, pois o empreendedor é mais rápido, centrado

em metas e resultados e tem uma visão séria e formal. Já o integrador é mais lento,

centrado em relações e tem uma visão descontraída e informal.

Muito importante destacar que todos temos os quatro estilos, isto é, não cada

um de nós não tem apenas um estilo. Normalmente um dos estilos é o predominante,

ou seja, temos mais características desse estilo em relação aos demais.

O fato de termos características dos quatro estilos é o que possibilita a

capacidade de adaptação ao nos relacionarmos com pessoas de estilos diferentes do

nosso estilo predominante.

O Anexo I apresenta mais informações relevantes sobre estilos

comportamentais, além de dicas de relacionamento com os mesmos e outros itens.

Vale a pena dar uma olhada lá.

33

10. Fase 3: Sondagem

A terceira fase da negociação é a sondagem. Os principais objetivos da sondagem

são conhecer os interesses do cooperado em relação ao nosso objetivo, determinando

aquilo que finalmente será comum e aquilo que será o oposto, além de conhecer e

determinar o equilíbrio de interesses sendo conscientes “do que motiva e do que não

motiva”.

Os passos para realizar a sondagem com êxito são:

▪ Definir a situação de ambas as partes: tomar a iniciativa;

▪ Determinar interesses, motivações e necessidades do cooperado: utilizar a

técnica de perguntas;

▪ Buscar soluções: confirmar necessidades detectadas;

▪ Determinar propostas: Identificar posicionamento: Cooperativa e cooperado.

As informações podem ser obtidas através da escuta, da observação e das

perguntas, sendo que essas são a forma mais efetiva de obter informação.

São dois tipos básicos de perguntas na sondagem: abertas e fechadas.

As perguntas abertas são úteis para OBTER INFORMAÇÃO, por exemplo:

▪ O que você acha de trocar seu equipamento antigo por um mais moderno?

▪ Qual é a sua expectativa para o crescimento da economia?

▪ Como você vê a questão da redução da taxa SELIC para o seu negócio?

▪ Quais as vantagens, em sua opinião, de contratar com taxa pré-fixada?

Já as perguntas fechadas são úteis para CONFIRMAÇÃO OU FECHAMENTO:

▪ Você prefere colocar essa conta em débito automático?

▪ O empréstimo contratado atendeu às suas expectativas?

▪ Esse número de prestações atende suas necessidades?

▪ Já que as taxas de juros aumentaram, vamos fechar nesse prazo?

▪ O prazo de 24 meses é atraente para suas condições?

Algumas dicas para perguntar bem na negociação:

▪ Gerar um clima propício (aproximação/sintonia);

▪ A pergunta deve ter um objetivo bem definido;

▪ As perguntas devem ser curtas e claras;

▪ Fazer uma pergunta de cada vez;

▪ Negociação não é um interrogatório (interação);

▪ Evitar as perguntas incômodas;

▪ Não responder suas próprias perguntas;

▪ Solicitar permissão para perguntas sobre temas delicados;

▪ Atenção às respostas; tomar notas;

▪ Aproveitar as respostas para o acordo.

Conhecimento é saber todas as respostas... Inteligência é saber fazer as

perguntas certas no momento certo!

34

11. Fase 4: Posicionamento

Até o momento foram analisadas três fases da negociação - preparação, contato

e sondagem, mas não chegou o ponto em que acontece a argumentação, que

acontece de forma intensa nas fases de posicionamento, concessões e acordo.

No posicionamento temos dois grandes objetivos:

▪ Fixar os limites da negociação, onde temos que nos concentrar nos pontos a

tratar;

▪ Colocar a outra parte à prova e para isso é necessário tentar que o cooperado

se posicione primeiro.

▪ Para um bom posicionamento é necessário que tenhamos uma zona de

negociação, ou seja, aquela que fica entre os limites de resistência das partes.

Esta pode ser:

▪ Positiva: quando os interesses das partes se sobrepõem dando lugar à

possibilidade de negociar uma troca de interesses. Se não se consegue

resultado nesta negociação e se produzir um impasse, gerará o ponto morto

que envolve um resultado não ótimo e uma perda de dinheiro/tempo para

ambas as partes;

▪ Negativa: quando os limites de resistência estão afastados e ficam abaixo da

melhor alternativa ao acordo negociado.

Graficamente temos os exemplos de zona de negociação positiva e negativa na

Figura 12.

Figura 12- Zona de negociação.

Para um bom posicionamento devemos conhecer as expectativas do cooperado,

mas como conhecer tais expectativas?

É preciso introduzir as nossas ideias na mente de nosso interlocutor, assim como

impedir que ele tenha ideias erradas a respeito da negociação.

Lembre que resulta extraordinariamente difícil tratar de alterar as ideias do

cooperado quando o processo de negociação está avançado.

35

Se devemos reduzir as expectativas do cooperado, devemos fazê-lo nos

primeiros momentos, sempre que o nosso poder de negociação seja forte. Se for fraco

é melhor deixar os temas difíceis para o final da negociação já que o que queremos é

que se mantenha interesse pela nossa proposta.

Algumas perguntas são fundamentais nesse processo, conforme visto na Figura

13.

Figura 13- Perguntas para explorar no posicionamento.

O posicionamento é um passo firme para o acordo e são quatro os resultados

possíveis em função do posicionamento efetuado, conforme a Figura 14.

Figura 14- Resultados dependendo do posicionamento.

Sempre bom lembrar que na negociação colaborativa, o melhor posicionamento

é o que nos leva à situação 4 da Figura 12, ou seja, ganha-ganho.

Temos vantagens e desvantagens de se posicionar primeiro na negociação.

As principais vantagens são:

▪ Iniciativa na negociação;

36

▪ Marca-se uma proposta da qual, psicologicamente, é difícil se afastar muito.

(efeito âncora);

▪ O primeiro sinal é o mais forte;

▪ Reduz as aspirações da outra parte.

Por outro lado, as principais desvantagens seriam:

▪ O cooperado conhece nossa proposta sem que conheçamos a dele;

▪ Corre-se o risco de elevar as expectativas, se a proposta inicial é melhor do

que o cooperado esperava;

▪ Quase sempre, quem se posiciona primeiro, costuma ser, também, o primeiro

a ceder.

O objetivo de uma negociação não é somente chegar apenas a um acordo, mas

sim a um bom acordo para ambas as partes.

Para isso é necessário conseguir PODER na negociação, sendo PODER entendido

como a capacidade para mudar a atitude da outra parte de forma positiva para nossos

interesses.

Segundo Robert Dahl: A tem poder sobre outra pessoa, grupo ou instituição B, à

medida que pode conseguir que B faça algo ou deixe de fazer algo que de outro modo

não faria.

O poder de A surge da relação que tem com B, de modo que A não tem muito ou

pouco poder sobre B se não existe uma relação entre ambos.

O poder na negociação deve ser utilizado como forma de persuadir a outra parte

para nossos interesses, além de conseguir entender os interesses dela. O poder é

relativo e, poucas vezes, podemos dizer que o comprador ou vendedor desfrutam de

poder completo.

O poder pode ser real ou aparente: se não percebemos nossas vantagens (ainda

que tendo), não temos poder.

O poder é sempre limitado e depende da situação, da ética e da competência

profissional, presente e futura. O poder existe só se a outra parte o aceita: um

vendedor pode ter o produto líder, mas se o comprador não aceita esta situação,

então o poder é mínimo.

Não podemos explorar as pessoas, ainda que tenhamos poder, já que vitórias são

curtas e teremos outros negócios.

Exercer o poder sempre envolve custo e risco. E não queremos criar

indisposições com o cooperado.

37

12. Fase 5: Concessões

Nesta etapa deve-se começar a tratar de aproximar posições, ou seja, minimizar

as diferenças entre os interesses para chegar ao acordo. Para isso são feitas as

concessões e contrapartidas.

As concessões dependerão da situação em que nos encontremos na etapa

anterior (posicionamento).

Um bom posicionamento inicial pode ser perdido por uma concessão mal

planejada.

A rentabilidade de uma operação pode ser incrementada se negociarmos boas

contrapartidas.

São três os passos importantes nessa fase: defesa, concessão e alternativas.

1. DEFESA

Devemos usar o poder de maneira adequada e basear nossa defesa em

argumentos positivos.

Um aspecto fundamental nesta fase é levar preparadas várias alternativas que

nos permitem conseguir um acordo, assim como ter quantificadas todas as

compensações que podemos dar e as concessões que vamos receber. Isto é, preparar

uma larga lista de concessões/contrapartidas que nos ajudarão a alcançar o acordo

que seja benéfico para ambas as partes.

Normalmente é nesta fase onde aparecem os bloqueios e os pontos mortos.

Nestes momentos às vezes é melhor parar, pois é melhor ganhar tempo para pensar. A

base do êxito está 90% ligada à preparação e ao planejamento.

Uma demanda grande no começo da negociação incrementa as possibilidades de

êxito. Os perdedores fazem as maiores concessões em uma negociação. As pessoas

que fazem as concessões menores em uma negociação fracassam menos.

2. CONCESSÕES

Devemos detectar sinais de negociação e pedir contrapartidas às nossas

concessões.

Os perdedores têm tendência a realizar as primeiras concessões e

compromissos. O negociador profissional realiza concessões menos importantes antes

do final da negociação.

Quando um negociador realiza uma demanda alta e inesperada ao inicio da

negociação, tem mais possibilidades de êxito.

Normas para a defesa:

▪ Devemos nos concentrar nos argumentos mais fortes, os fracos só servem

para que o cooperado os ataque sem piedade;

▪ Apoiar fortemente nos interesses comuns;

▪ Evite a aparição dos interesses opostos;

▪ Fale para aproximar posições, não para demonstrar sua força;

▪ Fazer balanço e resumo do que acontece: esclarecer a negociação;

▪ Definir claramente as zonas de acordos e desacordos;

▪ Tente ganhar pequenas batalhas para depois ganhar a guerra.

38

Lembrar que o ganhar aqui não é ser contra o cooperado, mas atuar da forma

mais positiva para sua satisfação, manter a rentabilidade da operação, a

sustentabilidade do negócio com sobras positivas ao final do exercício.

3. ALTERNATIVAS

Trata-se de apresentar formas que permitam fechar um acordo amplo e

satisfatório para ambas as partes.

Princípios básicos no uso das alternativas:

▪ É importante ter sempre várias alternativas preparadas;

▪ Não devemos abrir com o cooperado várias alternativas de uma única vez

perante uma situação de pressão do outro;

▪ A falta de alternativas obriga a realizar concessões, ainda que estas não sejam

necessárias pelo posicionamento detectado no cooperado;

▪ Lembre que o cooperado só tem alternativas. Devemos conhecê-las.

A Figura 15 apresenta uma estratégia para trabalhar as concessões e

contrapartidas.

Figura 15- Estratégia para concessões.

Lembrar que contrapartida é uma forma de compensar uma concessão feita ao

cooperado.

Devemos fazer uma análise das concessões realizadas e das contrapartidas

recebidas.

Que contrapartidas oferecer? Qual o custo dessa contrapartida?

Que cessões de pouca importância para nós tem considerável valor para o

cooperado? Qual o respectivo custo?

Que concessões de maior importância para nós tem considerável valor para o

cooperado? Qual é o custo referente?

Na hora de definir as concessões que temos que realizar, devemos analisar

sempre o valor que a mesma tem para nós e o que desejaria obter por cada uma delas

em troca.

A ideia é sempre dar as concessões de menor valor para a Cooperativa e que

representam uma maior contrapartida para o cooperado.

O Quadro 9 apresenta um modelo para isso.

39

Quadro 9- Análise de concessões e contrapartidas.

Uma vez selecionadas e classificadas as concessões que podemos dar ao

cooperado e as contrapartidas que podemos pedir em troca devemos utilizá-las

seguindo o seguinte processo:

▪ Primeiro ceder naqueles itens que tenham um maior impacto para o

cooperado e que suponham um menor custo para a Cooperativa;

▪ Pedir primeiro as contrapartidas que tenham um maior valor para a

Cooperativa para seguir com aquelas que cada vez tenham um menor valor,

tendo em conta o grau de dificuldade que essa contraprestação supõe para o

cooperado, de forma que facilitemos a aproximação entre ambos;

▪ Lembre que na negociação é bom cuidar da divisão de poder entre as partes e

o nível de conflito entre as mesmas.

40

13. Argumentação e objeções

Tanto na fase de posicionamento como na fase de concessões temos que

argumentar com o cooperado, ou seja, convencê-lo/persuadi-lo das condições e/ou do

valor agregado da nossa oferta.

Esse processo é importante para o acordo.

O que se pretende com a argumentação: obter a conformidade do cooperado

sobre a conexão entre seus interesses e os benefícios da solução colocada.

Devemos fazer:

▪ Traduzir a proposta em benefícios diretos para o cooperado;

▪ Argumentar somente sobre aqueles atributos de valor que estão diretamente

relacionados com os interesses do cooperado;

▪ Falar a mesma linguagem do cooperado utilizando seus termos e conceitos,

evitando falta de sintonia.

Argumentar é transformar a ideia que eu quero transmitir em vantagens e

benefícios para a outra parte.

Para isso é importante:

▪ Uso de argumentos eficazes (influência e persuasão);

▪ Satisfação do cooperado através do valor agregado;

▪ Uso dos fatores da venda eficaz: evitar a dor e propiciar prazer;

▪ Lidar com os medos e as falsas crenças;

▪ Responder às objeções.

O Quadro 10 apresenta alguns diferenciais para argumentação.

Quadro 10- Diferenciais para argumentação.

11.1. Objeções

No processo de argumentação acontecem, em diversos momentos, algumas

dificuldades na negociação: as objeções.

Se bem que as objeções também podem ocorrer em outras fases da negociação.

Objeção não é uma declaração do cooperado de que não vai comprar, nem uma

conclusão negativa da venda: é apenas uma dúvida.

41

se...”.

A objeção é um sinal que o cooperado tem interesse, ou seja, “eu compraria

Ao questionar quaisquer aspectos da solução ou mesmo a adequação às suas

necessidades, o cooperado está demonstrando interesse, porém quer ou precisa de

mais informações para decidir.

Ao responder todas as dúvidas do cooperado, sobra o interesse e fica mais fácil

chegar ao acordo.

As principais causas das objeções são:

▪ Má vontade - não está disposto a atender alguém ou está tentando se

livrar do vendedor;

▪ Atenção - não percebe a necessidade do produto ou serviço apresentado;

▪ Não conhece - dar mais e diferentes informações;

▪ Não entende - explicar melhor e/ou de outra forma;

▪ Não aceita - fazer uma melhor exposição das vantagens e benefícios;

▪ Não lembra - recordar vantagens e benefícios;

▪ Medo de decidir - demonstrar confiança na solução;

▪ Negar - simples hábito de dizer não;

▪ Finanças - não tem dinheiro para a compra;

▪ Quer testar - demonstrar segurança, apresentando as fontes onde se obteve a

informação (no caso de produtos financeiros nem sempre é possível o teste).

O processo de gestão das objeções começa com gerenciar de forma positiva a

objeção (empatia com o cooperado), dimensionar a objeção (perguntar para

entender), dar uma resposta à objeção (argumentar com base nas respostas),

conseguir a aceitação (resolução da objeção).

Caso não solucione, voltar a perguntar para entender.

Pode-se observar que a escuta é importante, não só no tratamento das objeções,

mas em toda a negociação.

A Figura 16 apresenta esse fluxo.

Figura 16- Fluxo para gestão das objeções.

42

O que normalmente ocorre no tratamento da objeção é que pulamos os passos

(1), (2) e (3) da Figura 16, ou seja, vamos logo argumentando sem o conhecimento

mais profundo da objeção e, lógico, será difícil contornar a mesma, podendo criar

novas barreiras no cooperado.

Então, para a gestão completa da objeção, não esquecer os seguintes passos:

▪ Manter a calma sempre;

▪ Deixar o cooperado falar sem interrompê-lo;

▪ Escutar atentamente o que ele diz;

▪ Prestar atenção à linguagem não verbal do cooperado (o corpo fala);

▪ Fazer perguntas para entender exatamente qual é a objeção;

▪ Descobrir o que o cooperado realmente quer com a objeção;

▪ Manter um comportamento disponível e aberto;

▪ Demonstrar consideração pelos argumentos do cooperado;

▪ Evitar polêmica;

▪ Responder depois de refletir e ter uma resposta precisa e pontual para

rebater a objeção.

43

14. Fase 6: Acordo

Após as fases anteriores, o cooperado começa a dar alguns sinais de fechamento,

tanto verbais, quanto físicos.

É importante estar atento a tais sinais e aproveitar o momento positivo para um

bom acordo.

O Quadro 11 apresenta tais sinais.

Quadro 11- Sinais de fechamento.

O acordo não é apenas um contrato a ser assinado. Como foi visto no módulo 2

(Hábitos e elementos da negociação), o compromisso é mais que o acordo, pois as

partes estão satisfeitas com o resultado e dispostas a cumprir os itens acordados. Por

outro lado, contratos podem ser discutidos na justiça.

O acordo acontece quando se atinge o ponto de equilíbrio conforme a Figura 17.

Figura 17- Ponto de equilíbrio na negociação.

Em resumo, cabem as seguintes perguntas:

▪ As partes chegaram a um bom acordo?

▪ As partes se sentem igualmente obrigadas a cumpri-lo?

Entre os diversos tipos de fechamento, podem ser destacados os seguintes:

44

1. FECHAR COM CONCESSÃO

É a forma mais frequente de fechar as negociações. Equivale a terminar a fase de

troca oferecendo uma concessão para chegar a um acordo.

As possibilidades são:

▪ A concessão de um elemento importante para o cooperado;

▪ Ceder em um dos grandes obstáculos da negociação;

▪ Ceder em um ponto de menor importância;

▪ Apresentar uma nova concessão, não exigida anteriormente, porém atrativa

para o cooperado.

2. FECHAMENTO COM RESUMO

Fazer um resumo de todos os acordos alcançados até o momento, destacando as

concessões que o cooperado obteve da nossa parte e destacando a necessidade para

ambas as partes de chegar a um acordo sobre os pontos pendentes. O cooperado deve

pensar que estamos no nosso limite.

3. FECHAMENTO DISJUNTIVO

Apresentar ao cooperado a escolha de duas soluções. Tem a vantagem de dar à

outra parte certa liberdade de escolha.

4. O FECHAMENTO COM ULTIMATO

Indica ao cooperado que se nesse momento não chegar a um acordo, não

poderemos manter as mesmas condições favoráveis no futuro.

14.1. Outras técnicas de fechamento

De acordo com diversas fontes pesquisadas, são descritas a seguir outras

técnicas alternativas também utilizadas nos processos de fechamento na negociação:

▪ Cobertor: o negociador apresenta uma vasta gama de reivindicações. Usa-se

para ter a certeza de que, pelo menos, obtém-se aquilo que realmente

queremos e para poder determinar até que ponto a outra parte esta disposta

a ceder (o que está coberto);

▪ Colchete: trata-se de uma tentativa de “afunilar” as reivindicações da outra

parte até chegar àquilo que ele realmente quer e então determinar o que irá

satisfazê-lo, isto é, abotoa-se um por um, cada um dos pontos que forem

colocados até chegar ao objetivo principal - fechar acordos (o colchete fecha,

une);

▪ Surpresa: consiste numa mudança rápida e ao mesmo tempo dramática nos

rumos da argumentação, da posição ou abordagem;

▪ Drible: dar a impressão de que se pretende uma coisa, embora o objetivo

principal seja outro. Toma-se como exemplo o futebol;

▪ Salame: pegar o todo e dividir em partes, obter-se algo que se quer em

pequenas partes, em vez de tentar abocanhar tudo de uma só vez;

▪ Silêncio: usado para demonstrar certa pretensão e que não há disposição de

sequer reconhecer alguma demanda ou discutir determinado assunto. Trate o

silêncio com silêncio, quem quebra o silêncio, está mais disposto e apressado

em buscar acordos;

45

▪ Autoridade limitada: trata-se de tentar forçar a aceitação de uma posição, sob

a alegação de que qualquer coisa a mais, se torna necessário, a participação

de uma autoridade superior;

▪ Abstinência: consiste em postergar uma decisão ou uma resposta, para que se

tenha mais tempo de pensar. De certa forma, isto coloca certa pressão no

oponente para fechar acordos, mais rapidamente;

▪ Data limite: normalmente os participantes de uma negociação têm certo

prazo para resolver a questão. Quanto mais uma das partes souber sobre o

prazo da outra, maior será a pressão que poderá exercer nos limites;

▪ Retirada aparente: é uma tentativa de fazer o adversário acreditar que o jogo

foi abandonado totalmente evitando qualquer discussão adicional sobre o

problema, quando na verdade foi apenas uma dramatização. O objetivo é

estimular o oponente a facilitar as coisas ou modificar a sua posição, sair da

defesa, e mostrar cooperação;

▪ Fato consumado: estratégia pela qual uma das partes, alcança seu objetivo,

aguardando a aceitação automática, por parte da outra, porque qualquer

alteração exigirá muito mais tempo e esforços. O que já foi feito geralmente é

difícil de ser desfeito;

▪ Bom sujeito/mau sujeito: um membro da equipe de negociação assume uma

“linha dura”, enquanto o outro membro torna-se, amistoso e acessível.

Quando o mau sujeito sai da mesa de negociação por alguns instantes, o bom

sujeito oferece uma alternativa que diante das circunstâncias parece bom

demais, para ser recusada na ausência;

▪ Reversão: esta estratégia trata-se de quando um negociador age de forma

oposta, aquela que seria a esperada, invertendo e promovendo o

“inesperado” virando o jogo.

46

15. Fase 7: Acompanhamento

O grande objetivo dessa fase, que se dá após o encerramento da negociação, é

fazer uma análise do que foi realizado, mesmo com sucesso na negociação.

Assim, temos possibilidade de analisar eventuais erros ou falhas e aprimorar o

processo para as próximas negociações, buscando a satisfação do cooperado e os

interesses da Cooperativa.

A Figura 18 apresenta o fluxo dessa fase.

Figura 18- Fase do acompanhamento.

47

16. Aspectos gerais da negociação

Algumas boas práticas na negociação colaborativa:

▪ Comunicação eficaz - importante e fundamental para a negociação fluir bem;

▪ Bom relacionamento - base para essa e outras negociações, aumentando o

número de negócios com o cooperado; a utilização dos melhores estilos

comportamentais ajuda;

▪ Descobrir o interesse do cooperado - assim pose-se atender não só esse, mas

outros interesses;

▪ Elaborar os diversos acordos possíveis - pensar que essa pode ser uma de

muitas negociações;

▪ Convencer o cooperado de que está sendo tratado com justiça - ter uma

atitude positiva e ser transparente e ético;

▪ Estar preparado para dizer não; se for necessário, diga;

▪ Nunca admitir: estou desesperado para fechar o acordo - a pior ação em uma

negociação;

▪ Definir quais são opções para o acordo - sem opções fica mais difícil fechar

acordos;

▪ Compromisso final - não esquecer o que acontece após o acordo.

Sempre bom lembrar aspectos relevantes e importantes com base nos conceitos

fundamentais de Harvard, conforme Figura 19.

Figura 19- Processo Harvard de negociação.

Nunca é demais destacar os sete erros mais comuns no processo de negociação,

que devem ser evitados com um bom método:

▪ Escalada irracional do compromisso: foco no passado ao invés de foco no

futuro;

▪ Torta mítica fixa: premissa da negociação distributiva, ao invés da integrativa;

▪ Ancoragem e ajustes: uso de posições inconsistentes ou inflexíveis;

▪ Estruturação da negociação: impacto na pré-disposição ao acordo devido à

forma de apresentação da proposta e/ou ligação emocional;

48

▪ Disponibilidade das informações: uso de informações parciais ou distorcidas

(mais fáceis de lembrar, mais acessíveis, de maior impacto, etc.);

▪ Praga do vencedor: quando a esmola é demais, o cego desconfia;

▪ Excesso de confiança e comportamento do negociador: ilusão de

superioridade, otimismo e controle; efeito pigmaleão.

Para encerrar o tema negociação, vejamos algumas considerações finais que

podemos chamar de 7 DICAS IMPORTANTES, a seguir descritas.

1. DEFINIR METAS E OBJETIVOS

▪ O que espero exatamente desta negociação?

▪ O que tenho que fazer para satisfazer minhas necessidades?

▪ O que estou disposto a ceder para obter o que quero?

▪ Quais são meus requerimentos de tempo e econômicos para esta negociação?

2. CLAREAR OS TEMAS A DISCUTIR

▪ Quais são os temas a tratar e como os vejo?

▪ Qual é o marco de apoio para minha posição?

▪ Como o apresentarei ao cooperado?

▪ Quais são os pontos a tratar e como o cooperado os vê?

▪ Como eles apoiaram sua posição?

▪ Quais parecem ser as diferenças importantes na maneira de ver de cada parte

em relação ao tema em discussão?

3. PREPARAR-SE PARA O CONFLITO, MAS BUSCAR A SOLUÇÃO

▪ Quais serão os pontos principais do conflito?

▪ Como determinarei o que o cooperado necessita em comparação com o que

quer?

4. REUNIR INFORMAÇÃO

▪ Com quem estarei negociando e o que está perto deles?

▪ Como costumam se dirigir a uma negociação?

▪ Quais são suas necessidades de ego?

▪ Quando e onde ocorrerá a negociação?

▪ Quais as vantagens e desvantagens oferecem as alternativas para mim? E para

o cooperado?

▪ Quais são as consequências econômicas, políticas e humanas?

▪ Que poder pessoal eu tenho para usar de forma construtiva na negociação?

5. CRIAR O AMBIENTE

▪ Qual é a melhor maneira de estabelecer uma boa relação?

▪ Como posso estabelecer um ambiente de ganha-ganho?

6. CONCESSÃO/SOLUÇÃO DOS PONTOS A TRATAR

▪ Como resolverei o conflito? Como responder aos interesses do cooperado?

▪ Quais concessões estou disposto a fazer? Em que condições?

▪ O que espero em troca de minhas concessões?

49

7. ACORDO E CONFIRMAÇÃO

▪ Quanto formal deve ser?

▪ Que processo de aprovação será necessário? Quanto tempo durará?

▪ Que passos serão necessários para sua execução?

50

17. Plano de desenvolvimento individual (PDI)

O objetivo deste plano de ação é que você faça uma reflexão ampla sobre o

conteúdo trabalhado em sala para facilitar a aplicação prática no seu dia a dia. Isto é,

fazer você pensar como pode usar o que aprendeu para desenvolver as habilidades de

negociador na busca de resultados com seus cooperados.

Faça uma boa reflexão no preenchimento do mesmo de forma a provocar uma

mudança nos pontos que julgar mais relevantes. Use suas anotações feitas ao longo do

treinamento.

Como forma de auxiliar na elaboração do PDI, use suas anotações feitas durante

o treinamento no documento AUTOPERCEPÇÃO – NEGOCIAÇÃO.

Seja realista e objetivo. Mas não demore a executá-lo aproveitando os conceitos

recentes do treinamento.

Se possível, peça a colaboração do seu gestor neste processo.

Você deve revê-lo periodicamente, já que o processo de melhoria é contínuo.

Esse período de revisão não deve ser superior a quatro meses.

O documento é apresentado no Quadro 12.

Bom trabalho!

51

PLANO DE DESENVOLVIMENTO INDIVIDUAL

Nome: Data: / /

Habilidades a serem desenvolvidas e potencializadas. Como?

Barreiras a superar. Como?

Minhas (pessoais)

De outros (quem)

Benefícios

Meus (pessoais)

De outros (quem)

Metas ou resultados almejados. Quando?

Para atingir essas metas/resultados, quais ações tenho que desenvolver?

Curto prazo

Médio prazo

O que preciso deixar de fazer?

Em relação a mim

Em relação aos outros

Quadro 12- Plano de desenvolvimento individual (PDI).

52

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2000.

BERG, Ernesto Artur. Administração de conflitos: abordagens práticas para o dia a dia. 1. ed. Curitiba:

Juruá, 2012.

BURBRIDGE, R. Marc; BURBRIDGE, Anna. Gestão de conflitos: desafios do mundo corporativo. São

Paulo: Saraiva, 2012.

CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas e o novo papel dos recursos humanos na organização. 2.

ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

DEVELOPMENT SYSTEMS. Negociação e gestão de conflitos. Treinamento para o Banco Santander. São

Paulo. 2008.

FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário básico da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995.

FOWLER, A. Negocie, influencie e convença. São Paulo: Nobel, 2000.

HONDA & GENTIL. Arte de argumentar. Treinamento para o Itaú Personnalité. São Paulo, 2011.

THOMAS, K. W., KILMANN, R. H. Conflict Mode Instrument. 1970. Disponível em

<http://www.kilmanndiagnostics.com/sites/default/files/TKI_Sample_Report.pdf>, acesso em

01/07/2017.

MC TREINAMENTOS. Formação de consultores financeiros. Treinamento para SICOOB ENGECRED-GO.

Goiânia, 2015.

. Prospecção de novos negócios. Treinamento para SICOOB Unicentro Brasileira. Goiânia, 2015.

. Técnicas de negociação e argumentação. Treinamento para SICOOB Credipar. Paraíso do

Tocantins, 2016.

MEHRABIAN, A. Nonverbal comunicación. New Jersey: Transaction Pub, 2007.

MERRILL, D. W.; REID, R. H. Personal Styles and Effective Performance. Bradner: Chilton Book Company,

1981.

MOLDEN, D. Neurolinguística nos negócios. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

THOMPSON, J. Strategic Management. USA: Thompson Business Press, 2001.

OVERLAP. Técnicas de negociação. Treinamento para Whirlpool. São Paulo, 2008.

Canal (comunicação) disponível em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Canal_%28comunica%C3%A7%C3%A3o%29, acesso em 08/05/2015.

53

Anexo I: Estilos comportamentais

Este anexo apresenta outros aspectos relevantes sobre estilos comportamentais.

1. ANALÍTICO

ADAPTAÇÃO E MUDANÇA DE ESTILOS

Os analíticos trabalham em salas arrumadas e bem organizadas; suas mesas

devem estar em ordem. São pontuais, bem preparados.

Eles preferem um relacionamento mais objetivo e apreciam os benefícios

comprovados e mais demonstrados bem como procedimentos lógicos e precisos. Não

são precipitados.

O analítico demonstrará um comportamento exato e reservado, mas será

educado e diplomático. Todavia, os analíticos podem ser céticos em relação às suas

propostas. Eles muitas vezes têm uma aparência conservadora e discreta e não

querem chamar a atenção para suas roupas.

Principais atitudes de um analítico:

• Tenta influir pela lógica, evidencia e dados;

• Valores e gostos: estrutura; discussão racional de problemas substanciais;

• Não gosta de conversa que seja muito emocional;

• Parece frio, estudioso e científico;

• Expressa: regras, sistemas, estruturas;

• Consegue travar largas discussões, usar argumentos bem formalizados;

• Eficaz quando os problemas são mais claros e há precedentes;

• Ineficaz quando são necessárias soluções criativas e novas ideias: explorando

áreas desconhecidas;

• Pontos fortes: articulado, analítico, vê os problemas de forma racional;

• Pontos fracos: difícil de mudar os sentimentos com os fatos.

Como lidar com um analítico

1. O que você deve fazer: usar dados comparativos referir-se a fatos e benefícios

lógicos e óbvios; ter todos os fatos à mão; ser organizado; ter documentos escritos

para tomada de decisão; apelar para seus interesses em pesquisas estatísticas; dar

propostas detalhadas; esclarecer totalmente as objeções e enfatizar qualidade,

confiabilidade e segurança.

2. O que você deve evitar: ser obscuro ou descuidado especialmente ao

responder às perguntas; concluir rápido demais; das tapinhas nas costas ou gestos e

comportamentos pessoais demais; falar de assuntos pessoais ou familiares antes de

conhecê-los bem; elogiar, persuadir ou induzir e falar com voz alta ou ameaçadora.

2. EMPREENDEDOR

ADAPTAÇÃO E MUDANÇA DE ESTILOS

Os empreendedores muitas vezes parecem ser fortes e de tempos em tempos

testam as reações dos colegas colocando sua contraparte sob pressão relativamente

cedo numa discussão. Às vezes são atrasados e outras vezes, indelicados durante a

primeira discussão.

54

Costumam atrapalhar a contraparte durante uma discussão lendo cartas, dando

instruções, etc.

Os empreendedores querem que os colegas cheguem ao objetivo diretamente e

geralmente estão interessados em novas maneiras de lidar com as tarefas de forma

mais rápida, mais barata e melhor. Eles gostam da escolha de alternativas e querem

tomar decisões só quando lhes convém. Os empreendedores são impacientes e

impulsivos. Muitas vezes parecem totalmente práticos e inteligentes.

Principais atitudes de um empreendedor:

• Tenta influir pela barganha, negociação, invocando a autoridade,

recompensas e punições;

• Valores e gostos: intercâmbio, concessão de recompensas, esboço de

consequências negativas;

• Não gosta de discussões teóricas, emoções, filosofia;

• Parece inteligente, rápido, competitivo;

• Expressa: ideias não complexas, valores de recompensas;

• Consegue usar exemplos de casos de negociações passadas;

• Eficaz quando tem autoridade e poder;

• Ineficaz quando é necessário um comprometimento com objetivos amplos de

longo prazo;

• Pontos fortes: sente-se à vontade nas negociações; assertivo;

• Pontos fracos: pode passar por cima de diferenças muito rapidamente.

Como lidar com um empreendedor

1. O que você deve fazer: dar respostas diretas, curtas e sucintas; dizer o que

será feito e não por quê; destacar resultados; fornecer alternativas e escolhas;

enfatizar a lógica das ideias e procedimentos; concordar com seu ponto de vista e não

somente com eles como pessoas e evitar falar sem parar sobre algum tema.

2. O que você deve evitar: mostrar indecisão; atitude orientada a problemas;

amizade exagerada; generalização; apresentar muitos detalhes; repetir, falar demais;

afirmações não comprovadas e tentar tomar decisão por ele.

3. EXPRESSIVO

ADAPTAÇÃO E MUDANÇA DE ESTILOS

Os expressivos frequentemente têm certificados, cartazes e fotos na parede. Eles

são orientados para novidades e geralmente preferem falar mais a ouvir. Os

expressivos ficam satisfeitos se causarem boa impressão para o outro e contam as

últimas piadas e anedotas que não têm nada a ver com a situação em si.

Os expressivos falam muito sobre si mesmos, interrompem as pessoas e

desviam-se do assunto. Mas no todo, são entusiasmados e têm a mente aberta

especialmente se um assunto é inovador ou moderno e confere certo status a ele. Os

expressivos são bem vestidos e normalmente atualizados no que se refere à moda.

Principais atitudes de um expressivo:

• Tenta influir criando e ouvindo visões e sonhos comuns;

• Valores e gostos: intercâmbio aberto de ideias, sonhos, objetivos; “grande

cenário”;

• Não gosta de discussão racional, fria ou análise de dados;

• Parece atencioso, perceptivo; compreende os outros;

55

• Expressa: cenários futuros, emoções, metáforas;

• Consegue usar questionamento indireto, maneiras de obter o consenso;

• Eficaz quando valores e interesses devem ser unidos para objetivos ou

projetos maiores;

• Ineficaz quando não há confiança e são necessárias soluções rápidas;

• Pontos fortes: nutre soluções criativas, novas, “mirabolantes”; posterga

dificuldades imediatas e passageiras;

• Pontos fracos: pode ser perturbado por emoções ou sonhos; atrasa as

decisões.

Como lidar com um expressivo

1. O que você deve fazer: enfatizar o que é novo, especial ou incomum; mostrar

suas habilidades de se expressar; enfatizar as referências de especialistas e líderes de

opinião; na discussão dos temas, deixar aberta a oportunidade de dar e receber

opinião; evitar dominar a discussão; ter a mente aberta, ser integrador e afetuoso;

escutar cuidadosamente e prestar atenção e levar algum tempo para formar um

relacionamento.

2. O que você deve evitar: não tomar cuidado demais com aspectos sociais, falar

muito o tempo todo; rejeitar propostas e interromper; ser brusco, frio e reservado;

falar de modo condescendente e desviar-se demais do seu objetivo.

4. INTEGRADOR

ADAPTAÇÃO E MUDANÇA DE ESTILOS

Os integradores geralmente têm quadros na parede do escritório e, se aceito e

comum, uma placa com o nome na porta ou sobre a escrivaninha, ou ambos. Mesmo

se os integradores parecerem casuais e com boa aparência, eles são conscientes

quanto à segurança e protegem a propriedade.

Rejeitam mudanças súbitas e preferem procedimentos convencionais e

comprovados.

Depois de certo tempo, quando perderam suas inibições, os integradores

tornam-se sinceros, liberais. São muito orientados para relacionamentos, mas

precisam confiar na outra parte. Não se pode julgar os integradores pela aparência

externa. Suas roupas podem ser malfeitas e antiquadas ou ter muito estilo.

Principais atitudes de um integrador:

• Tenta ouvindo, estabelecendo a harmonia, unindo;

• Valores e gostos: relacionamentos pessoais, autorrevelação, lado defensivo;

• Não gosta de fatos “puros”, falta de emoção;

• Parece afetuoso, apoiador, flexível;

• Expressa: empatia;

• Consegue usar diferentes estilos com diferentes pessoas ou grupos; anedotas

pessoais;

• Eficaz quando são necessários envolvimento e compromisso duradouros;

quando as soluções dependem de uma estreita colaboração;

• Ineficaz quando são necessárias soluções rápidas; quando ou outros não têm

iniciativa e experiência;

• Pontos fortes: estabelece a confiança; relações duradouras; compromisso;

• Pontos fracos: pode parecer que não tem opinião ou posição.

56

Como lidar com um integrador

1. O que você deve fazer: ser paciente ao descobrir os objetivos pessoais;

enfatizar como um procedimento bem planejado levará passo a passo até o resultado;

falar sobre serviço e confiabilidade; escutar cuidadosamente; ser sincero, ter a mente

aberta, ser honesto e manter a voz baixa e relaxada.

2. O que você deve evitar: ser direto demais; uma abordagem repetitiva demais

ou uma impressão exigente; pressão demais de tempo; ignorar muitos detalhes e pular

abruptamente de uma ideia para outra.

57

Anexo II: Mais sobre os elementos da negociação

Esse anexo apresenta mais informações sobre os sete elementos da negociação.

Vale a pena uma leitura.

1. INTERESSES

Quando falamos de interesse, estamos falando de tudo aquilo que nos motiva a

chegar a um acordo. É dizer desejos, necessidades, metas.

São três tipos de interesses:

INTERESSES COMUNS são aqueles que nos levam a sentar em uma mesa de

negociação, os que movem AMBAS as partes para se sentar e chegar a um acordo.

Lembram-se do caso das laranjas? Por que as partes se reúnem para negociar? Que

interesses têm em comum para se reunirem a fim de negociar? Obviamente, eram as

laranjas: uma das partes quer o suco, a outra, a casca, mas não sabem disso… Essa é a

razão pela qual se sentam para negociar. Se não há interesses comuns, não há

possibilidade de negocia. Eu não negocio as condições de compra e venda de um carro

com um senhor interessado em comprar uma motocicleta. Se não há um interesse

comum – eu vendo uma moto ou ele quer comprar um veículo de quatro rodas – não

há negociação. Podemos chamar isso de “colocar um produto, ver se ‘cola’ etc.”, mas

NÃO É NEGOCIAÇÃO.

INTERESSES INCOMPATÍVEIS são aqueles que “confrontam” ambas as partes,

como “algo que as duas partes querem e têm de negociar por isso, pois o ganho de

uma parte implica a perda da outra, o que uma parte consegue é à custa da outra”. No

caso das laranjas, quais eram os interesses incompatíveis, o que se queria igualmente e

ao mesmo tempo? E mais: no caso temos dois exemplos. De um lado, entre as partes

havia um interesse incompatível, que eram as laranjas para cada utilização (as duas

partes querem as laranjas, e isso não é possível). Por outro lado, havia um interesse

incompatível: a quantidade. Cada parte queria todas as laranjas.

INTERESSES COMPATÍVEIS são interesses diferentes para as partes, e conseguir

satisfazer esse interesse por uma das partes não significa que seja à custa da outra.

Ambas as partes podem conseguir satisfazer seus interesses sem prejudicar a outra.

Por quê? Porque são interesses diferentes, de intensidades ou prioridades diferentes

para cada parte. No caso das laranjas, quais são esses interesses compatíveis? Aqueles

que permitem chegar a acordos que maximizam o valor para ambas as partes? O fato

de que uma das partes queria o suco e a outra, a casca. Quanto mais interesses

compatíveis forem colocados na mesa de negociação, maiores serão as possibilidades

de acordo e, sobretudo, maiores serão as possibilidades de conseguir um acordo que

satisfaça ao máximo as duas partes. Daí a importância, para um bom negociador, de

indagar e conhecer a fundo os interesses da outra parte (e, claro, os próprios

interesses).

Outro exemplo: duas pessoas estão estudando em uma biblioteca, ai um levanta

e abre a janela, depois outro levanta e fecha a janela, e assim por diante. Interesse

incompatível é a janela aberta e fechada. O interesse comum é que os dois querem ler

e estudar. O compatível é que no dia a dia sempre temos um porquê das coisas.

Porque você quer a janela aberta e porque você quer a janela fechada. E através desse

PORQUE surgem informações, dados. Um está com calor e o outro o vento faz com

58

que as folhas voem. A não ser que comecemos de forma agressiva, teremos que entrar

em um meio termo. Ou mudamos de lugar ou a janela aberta pela metade...

Os interesses consistem em “tudo aquilo que motiva a negociação”, são todas

aquelas necessidades, pretensões, objetivos etc. que me levam à mesa de negociação.

▪ Um bom negociador deve saber fazer perguntas para identificar os interesses;

▪ Devem considerar-se os interesses dos que não estão presentes na

negociação;

▪ Temos que saber o que há por trás do posicionamento da outra parte.

Uma negociação baseada em interesses incompatíveis se transforma em um

regateio, em competição, em um toma-lá-dá-cá, e raramente satisfaz ambas as partes

(às vezes, até nenhuma delas). Uma negociação baseada em interesses também

compatíveis faz o bolo crescer, gera valor para as duas partes e elas podem sair MAIS

satisfeitas.

2. OPÇÕES

As opções são “Todas as possibilidades que as partes têm de chegar a um

acordo”.

Qual é o segredo para chegar a um bom acordo? A informação. Quanta mais

informação eu coloque na mesa de negociação, mais possibilidades de acordo. O que

seriam as opções? O que ocorre numa negociação? Um quer vender caro e o outro

pagar barato, além de colocarmos apenas valor, um único interesse. E, ai não

negociamos e sim estamos barganhando.

O que são opções? Que tipos de informações? Temos as quantidades? Temos o

preço? Temos o contrato? Temos a possibilidade da área de marketing de ajudar no

processo? Se tivermos somente o preço é mais difícil. Se tivermos preço + contrato, eu

já vinculo. Quantas mais variáveis colocarmos, mais possibilidades de fazer

contrapartidas. Eu baixo um pouco o preço aqui e você me dá isso. Algo que não

sucede quando eu quero vender a casa por um milhão e o outro quer pagar no

máximo 500 mil.

Porque dizemos aqui MAXIMIZAR O VALOR? Que é ampliar o bolo. E quais são os

interesses que melhores opções geram? Os compatíveis. Quanto mais informação,

mais possibilidades de combinar jogadas, combinar cartas. Quanto mais opções, mais

chances de chegar a um acordo que em definitiva satisfaça os dois lados. E que

satisfaça os dois não é apenas dizer... OK, vamos fechar, e sim que depois, no futuro,

negociemos com mais confiança, maior relação... E o que vai trazer essas margens de

manobras são as informações que coloquemos.

Trata-se de “todas as possibilidades que as partes têm de chegar a um acordo

negociado”.

▪ As opções dão soluções possíveis para lograr um acordo negociado;

▪ O segredo para inventar opções, é separar o processo de criar do processo de

julgar;

▪ Inventar opções significa encontrar a formula de aumentar o “bolo”;

▪ A pergunta para levantar opções: POR QUÊ?

Para colocar um exemplo gráfico, quando quero comprar um carro, por exemplo,

um KWID, o acordo possível (que se escreve nas linhas pontilhadas) admite muitas

possibilidades e muitas opções: quero com ar-condicionado e air-bag, verde metálico,

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com rodas especiais, motor a gasolina e bancos de couro etc. Todas elas são opções

para chegar ao acordo, caminhos para chegar ao destino desejado.

As opções são fundamentais em uma negociação porque evitam o risco de nos

fixarmos em um acordo possível e começarmos a discutir por ele; são verdadeiras

chaves para abrir o cadeado do acordo. Outro exemplo gráfico é o de um garçom que

só tem batatas chips como aperitivo. Terá que começar a discutir conosco para nos

convencer a pedi-las, pois estão ótimas, recém-fritas, que vêm de sua terra, que são

plantadas organizadamente etc. Mas se tiver mais variedade de aperitivos e tira-

gostos, terá mais possibilidades de cumprir seu objetivo, que é nos levar a consumir e

deixar mais dinheiro em caixa.

Os grandes negociadores são “muito criativos”, no sentido de que são capazes de

criar muitas possibilidades de acordo (para ambas as partes), baseando-se no

conhecimento dos interesses de ambas as partes, no conhecimento do produto, no

conhecimento da legislação, em experiências anteriores etc. Os interesses compatíveis

são os que geram opções melhores, em termos qualitativos.

3. LEGITIMIDADE

Legitimidade é basear minha argumentação em critérios objetivos, em estudos,

dados de mercado, práticas, leis e regulamentos.

Exemplo: nosso custo é o menor. Consultar o site do PROCON ou sindicato, por

exemplo.

Para que algo seja percebido como racional e justo, objetivar aquilo que falamos,

demonstrando tudo.

A legitimidade é a “persuasão baseada em normas independentes ou em

critérios objetivos”. Buscar a legitimidade na negociação significa simplesmente buscar

ou pretender que o acordo seja percebido como justo por ambas as partes, tentar

eliminar argumentos subjetivos que dificultem o acordo ou o compromisso posterior.

Os critérios objetivos são parâmetros para determinar o que é justo e o que não

Uma das barreiras mais comuns na hora de negociar é que as partes percebem

um mesmo aspecto de modo bem diferente. Por exemplo: eu acho que o meu Fiat 147

está bem-cuidado, é uma relíquia, recebeu durante muitos anos todo o meu carinho e

vale bom dinheiro. A outra parte acha que esse carro está velho, quase sem peças de

reposição, já rodou 325.000 km, e seu valor não deve passar de R$ 2.000,00. Podemos

tentar chegar a acordos discutindo aspectos subjetivos, mas o resultado normal é que

eu não conseguirei convencer o comprador de que meu “valor emocional” é o

adequado, nem o comprador vai me convencer de que o preço emocional é muito alto.

Falar em legitimidade é falar de argumentos que ambas as partes considerem justos,

convencer-nos com argumentos objetivos que se aproximem das posturas. Nesse caso,

eu recorreria a um avaliador ou a uma publicação especializada que digam o preço do

meu carro, uma cotação de mercado, e sobre esse preço continuaria negociando. Se

eu pedir R$ 10.000,00 e o outro me oferecer R$ 1.500,00 será muito difícil chegar a um

acordo. Mas se o avaliador disser que o valor da relíquia é de R$ 7.000,00 podemos

tentar chegar a um acordo acima ou abaixo dessa cifra. O comprador estará disposto a

me pagar pelo carinho que tive com o carro, mas com certo limite.

Em uma negociação comercial, muitas vezes afirmamos que esse ou aquele

produto é sensacional, “o melhor”, e o cliente pode ou não acreditar, mas sempre será

recomendável legitimar nossa afirmação com uma comparação objetiva: “Este fundo é

altamente rentável, como a imprensa comentou no domingo, está qualificado como o

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terceiro mais rentável do mercado ou como o mais seguro…”. Ou seja, eu fundamento

e legitimo a venda com argumentos objetivos, muito menos discutíveis, e não tanto

com argumentos baseados em superlativos (ótimo, facílimo, rentabilíssimo etc.), que

podem ou não convencer.

Por que é mais simples a negociação sobre um produto que é de fato

competitivo? Porque podemos basear nossos argumentos em dados e variáveis

objetivas, podemos comparar etc. Não ocorre o mesmo quando nosso produto não é

bom, e temos de fazer maravilhas e “falar” muito para tentar vendê-lo.

Esses três elementos: o INTERESSE, as OPÇÕES e a LEGITIMIDADE entram na

mesa de negociação.

4. ALTERNATIVAS

As alternativas estão fora da mesa de negociação. Eu estou sentando com você

para tentar chegar a um acordo, e caso não cheguemos é o meu coringa, a carta na

manga.

Por quê? O fato de ter ou não alternativas condiciona minha forma de negociar.

Exemplo: Se eu quero vender o meu apartamento que está à venda há um ano.

Agora chega um cliente interessado. Eu vou negociar de diferente forma, sendo que eu

recebo essa oferta, se eu já tenho quatro outros interessados. Minha forma de

negociar muda.

Caso eu não chegue a um acordo com você, o que é que eu tenho? Nem sempre

terei alternativa, porque a alternativa deve ser segura. Mesmo que eu não negociando

com você eu possa negociar com outra pessoa, a outra pessoa não é uma alternativa

segura e sim uma possibilidade.

A parte com a que eu estou chegando a um acordo não tem influencia sobre a

minha alternativa. A alternativa está fora da mesa.

As alternativas são “aquilo que podemos fazer sem obter a permissão da outra

parte”, aquilo que nos resta se não chegamos a um acordo na negociação. A

alternativa responde à pergunta: Se eu não chegar a um acordo com esse senhor, o

que me resta?

▪ A MAAN é a opção mais conveniente no caso de não chegar a um acordo;

▪ Antes de ir a una negociação, devemos saber o que faremos se não

chegarmos a um acordo;

▪ Nunca devemos subestimar nosso próprio poder;

▪ Devemos estudar qual pode ser a MANN da outra parte;

▪ Não confunda MAAN com o mínimo que aceitaríamos na mesa de negociação;

▪ O resultado de uma negociação sempre deve superar nossa MAAN.

Por exemplo: se estou tentando vender minha casa e já tenho três propostas

concretas, e estou negociando com outro possível comprador, posso me perguntar: E

se eu não assinar, o que me resta? As outras três propostas concretas que já tenho.

As alternativas são muito importantes porque podem condicionar minha forma

de negociar e os resultados a que quero chegar. Quem negocia com alternativas

concretas tem muito mais probabilidade de chegar a um acordo. Se muitos candidatos

fizeram uma oferta concreta pela minha casa, vou negociar de forma “mais agressiva”

do que se tiver de anunciar durante quatro meses a venda da casa, sem que ninguém

me ligue, e de repente tiver de falar ao telefone com uma pessoa interessada.

Para que seja considerada ALTERNATIVA, deve ter dois requisitos fundamentais:

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1- Que seja REAL, concreta. Se estou vendendo a minha casa e sei que há duas

pessoas que me ligaram durante a manhã, mas que ainda não ligaram de novo e

também não tenho ofertas concretas delas, não tenho alternativas, mas

“possibilidades”. Para ser alternativa é preciso haver toda segurança. No mundo das

vendas, deve-se pensar que esse cliente não compra, outro comprará. Esse “outro”

não será alternativa até que me faça uma oferta concreta.

2- Que seja INDEPENDENTE DA OUTRA PARTE; que a outra parte não possa

influenciá-la. É lógico que essa alternativa deve ser independente da parte com a qual

vou negociar. Vejamos um exemplo. Estou em uma concessionária e pergunto o preço

de um KWID. O vendedor diz que custa em torno R$ 30.000,00. Depois pergunto o

preço do CAPTUR (em torno de R$ 70.000,00). O KWID não é uma alternativa, pois o

mesmo vendedor influi em ambas, e pode influir no meu “KWID” de modo a fazer

pressão para eu comprar o CAPTUR. Em contrapartida, a possibilidade do KWID está

em outra concessionária sem relação com a que estou: aí temos uma alternativa, pois

o vendedor de onde estou não pode influir nas condições do KWID.

Muitos negociadores consideram a alternativa como o valor mínimo pelo qual

estou disposto a negociar (se já tenho uma oferta de R$ 150.000,00 por minha casa, é

o mínimo que estou disposto a negociar, porque por menos que isso eu estaria

perdendo dinheiro). Consideramos essa filosofia perigosa, por fechar muito a

negociação. O verdadeiro negociador busca alternativas diferentes, com opções

múltiplas, e depois decide qual delas é a que melhor satisfaz seus interesses.

5. RELAÇÕES

Relações envolve a habilidade das partes para manejar suas diferenças de forma

efetiva, onde o processo que usamos hoje melhora nossa relação para negociar

amanhã.

Aqui falamos de negociador por posição ou negociador por interesse. A ideia é

que quando eu tenho claro os meus interesses, sou sensível aos interesses da outra

parte, tento chegar ao melhor acordo possível, colocando essas informações sobre a

mesa. Eu não tento convencer a outra parte com subjetividade, e sim estou

argumentando e legitimando tudo aquilo que está sendo dito. Eu não quero que você

acredite no que estou falando e sim estou te demonstrando tudo que estou falando.

Tudo isso aumenta as possibilidades de um bom acordo. E um bom acordo onde

nenhuma das partes se sente lesada, logicamente vai solidificando essa relação. A

relação, ao final, não é um elemento e sim uma série de consequências, afinal, todos

são gerentes de relacionamento.

As relações nunca devem ser um fim, e sim um meio para conseguir acordos

bem-sucedidos. Um negociador eficiente se distingue por sua habilidade para manejar

as diferenças entre as partes com eficácia.

O bom negociador sabe que uma boa relação facilita o acordo, mas também

sabe que se conferir a ela um peso exagerado pode dificultar o acordo bom. E essa é

uma medida ruim, pois não tem de haver, necessariamente, uma relação ruim entre as

partes, mas na negociação são colocados sobre a mesa interesses incompatíveis. Se

houver diferenças de enfoque ou de tratamento, a tarefa do negociador é não se

deixar levar pelas diferenças e trabalhar para maximizar o benefício de ambas as

partes.

Em outros casos, todos nós somos testemunhas de alguma experiência em que

se chantageia uma das partes com a relação, como ocorre no famoso “José, somos

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amigos há anos e você tem de fazer isso por mim…”. Um negociador inteligente se

preocupará em manter a relação, mas não irá considerá-la como único argumento

para chegar a algum acordo, e sim tentar chegar a acordos inteligentes que satisfaçam

os interesses de ambos e solidifiquem ainda mais a relação. Em muitos casos, nossas

relações com os clientes foram sendo erguidas sobre soluções e serviços que lhes

oferecemos e que resolveram algum problema ou uma necessidade.

6. COMUNICAÇÃO

Entramos em comunicação. Geralmente é o elemento que acaba sendo mais

prejudicado, porque omitimos certas informações, falamos o que nos interessa e da

forma que nos interessa, informamos mais do que perguntamos, deixando muito claro

o que queremos conseguir ou o que a empresa quer, mas não vinculo. Por isso a

importância da comunicação como ponte. Em definitiva, esses são os elementos que

devemos cuidar, que considerar... Interesses meus e da outra parte, onde através

desses interesses levantamos possibilidades, qualquer defesa que eu faça de um

argumento, na medida do possível eu tenho que legitimar. Não sempre terei

alternativas, mas se eu as tenho negociarei mais confortável que quando não as tenho

e estou pressionado, e vão aumentar as chances de falar besteira. Tudo isso, qual é a

ferramenta que é o denominador comum? A comunicação. A ferramenta de trabalho

na negociação é a comunicação. A troca de informações.

A diferença entre vender e negociar. Quando estamos negociando, o fulano já

conhece a empresa, já conhece os produtos, e estamos negociando condições. Eu não

quero um novo produto. Eu quero que você aumente o meu prazo de pagamento. Por

exemplo. Todas essas informações, considerando o risco do cliente, o histórico dele, se

tem cheque devolvido... Tudo isso vamos colocando no liquidificador e chegamos a

uma solução intermediária.

E logicamente todo esse processo onde eu comunico os meus interesses, que eu

tenho consideração, eu sei o que você procura, o que você busca e o que você quer, e

na medida do possível chegamos a esse meio termo, vamos construindo e solidificando

uma relação.

A comunicação talvez seja a ferramenta mais utilizada durante a negociação, que

definitivamente é um processo de troca de informações entre duas partes para

satisfazer seus interesses.

▪ Se não compreendemos a situação desde o ponto de vista do outro, nunca

poderemos solucionar uma disputa o chegar a um acordo;

▪ Os negociadores mais hábeis dedicam a maior parte do tempo a escutar.

Pode parecer óbvio, mas é assim que deve ser a comunicação em um processo

de negociação bem encaminhado: eficiente, clara, completa e empática.

Cuidado! Comunicação não é apenas falar, é toda “troca de pensamentos e

ideias, mensagens ou informação, por meio de atos verbais, incluindo sinais, escrita ou

qualquer outra mensagem”. Nós nos comunicamos com o que dizemos, com o que não

dizemos, com o modo de dizermos, com nossos gestos etc.

A comunicação é um dos grandes prejudicados no processo de negociação,

porque se somos muito competitivos tendemos a reduzir ao mínimo a comunicação

(omitimos parte da informação que é fundamental para se chegar a um acordo).

Tendemos a comunicar apenas o que nos interessa e como nos interessa, até que a

outra parte se dá conta e começa a fazer a mesma coisa, e a negociação se transforma

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em um jogo de ver quem conta menos, o que impossibilita um bom acordo. Tendemos

a enviar mensagens sem querer, mas a outra parte percebe e se contagia. Contamos

para a outra parte as coisas do modo que nos interessa; escutamos a outra parte até

que pronuncie as palavras mágicas, e pensamos com nossos botões: “Já sei o que ele

quer”, o que costuma coincidir com o produto que está sendo oferecido no momento.

Tendemos a falar mais do que escutar, a expor mais do que indagar etc.

A comunicação nunca deve ser um obstáculo para negociar, mas uma ponte para

o acordo.

7. COMPROMISSOS

O compromisso é a “Declaração acerca do que farão ou não as partes”, é o

resultado direto de uma negociação. No entanto, é importante nos determos em

alguns aspectos de interesse para entender esse elemento em toda a sua magnitude.

Em primeiro lugar, é importante frisar que estamos falando de

“COMPROMISSO”, e não de acordo, ajuste ou contrato. O que se quer indicar, quando

se fala de compromisso e não de acordo ou contrato? Evidentemente, o compromisso

dá a entender que, além de um acordo formal ou legal, há um acordo emocional; as

partes estão comprometidas para cumpri-lo, normalmente por dois fatos:

▪ O consideram justo;

▪ Satisfaz o suficiente para querer que seja cumprido.

Em segundo lugar, é importante ressaltar que o bom negociador deixa um

compromisso bem fechado, isto é, preocupa-se com o fato de que seja completa a

declaração sobre o que farão ou não as partes, que não fique nada sem rematar (todos

nós, com certeza, já tivemos alguma “surpresa” com acordos rompidos ou que dão

problemas depois de certo tempo, porque havia aspectos pouco claros, ocultos,

escritos em letra miúda etc.). Tudo isso solapa um compromisso. O resultado não é

simplesmente o rompimento do acordo, mas o impedimento de acordos posteriores.

O bom negociador tem uma visão que vai além da “própria empresa”, especialmente

se quer manter e fidelizar esse cliente por muito tempo.

Requisitos necessários em um acordo para que ele gere compromisso:

▪ Satisfaz ambas as partes (e até maximiza a satisfação);

▪ É eficiente (empregamos os recursos necessários e suficientes);

▪ É inteligente (pode ser cumprido e se quer cumpri-lo);

▪ É claro (não tem letras miúdas).

Qual é a diferença entre acordo e compromisso? O acordo é formal, mas não me

obriga a cumprir. Eu posso quebrar. Quando falamos de compromisso estamos falando

desse acordo formal e desse acordo emocional, é dizer, eu o vejo tão bom que sou o

primeiro que quer cumpri-lo.

Quando eu quero cumprir? Quando eu vejo que houve esforço da outra parte,

que me explicaram as coisas diretamente, que não foram imposições. Negociar não é

ciência e sim uma comunicação entre caracteres diferentes.

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APRESENTAÇÃO

Mauro Campello é Engenheiro de Produção (UFRJ), pós-graduado em Projetos

Industriais (COPPE-UFRJ). Mestre em Engenharia de Produção (UNIP).

Experiência profissional em diversas áreas, tanto em empresas públicas, como

privadas, nacionais e estrangeiras (Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Fundação de

Tecnologia Industrial, Citibank, Credicard) e em negócios próprios.

Experiência como docente na graduação desde 2003 e na pós-graduação (MBA e

Especialização) desde 2008. Professor da Faculdade Estácio Carapicuíba, Faculdade

FECAF e FATEC Carapicuíba.

Diversos artigos publicados e apresentados em simpósios, encontros de pós-

graduação, congressos e revistas técnicas, além de palestras realizadas em diversos

eventos e empresas.

Sócio diretor da MC Treinamentos. Atua como consultor (projetos e

treinamentos) desde 1998 (através de parceria com empresas de consultoria e com

clientes próprios) nas áreas administrativa, comercial, financeira e de Recursos

Humanos em diversos setores e segmentos de negócios, visando o desenvolvimento

gerencial e organizacional, melhoria de desempenho, troca de melhores práticas e

instalação de ambientes competitivos com respostas adequadas às mudanças por

meio da liderança e de suas equipes e desenvolvimento de equipes comerciais e

implantação de modelos de gestão de negócios.

Consultor da FEBRABAN e do SESCOOP-SP, bem como de outros estados.

Atua com treinamentos para cooperativas desde 2012 nos estados de MG, GO,

SC, SP e TO.

Contatos:

[email protected]

[email protected]

(11) 4169-8664

(11) 99699-1009