Upload
others
View
3
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
GOVERNO DO
ESTADO DO
PARANÁ
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
Título DAS ATIVIDADES DE ORALIDADE PARA RETEXTUALIZAÇÃO ESCRITA DO GÊNERO
MEMÓRIAS LITERÁRIAS: O aluno com voz e com vez
Autor Rosilene Aparecida Bender Ferreira Corrêa.
Escola de Atuação
Colégio Estadual Ana Neri – Ensino Fundamental e Médio.
Município da escola Perobal – Paraná .
Núcleo Regional de Educação
Umuarama – Paraná.
Orientador Neiva Maria Jung.
Instituição de Ensino Superior
IES – UEM (Universidade Estadual de Maringá).
Disciplina/Área (entrada no PDE)
Língua Portuguesa.
Produção Didático-pedagógica
Sequência Didática.
Relação Interdisciplinar
Não há relação interdisciplinar.
Público Alvo
As propostas deste material foram planejadas para serem desenvolvidas com alunos do primeiro ano do Ensino Médio, do Colégio Estadual Ana Neri, que participarão de maneira voluntária em contra-turno (período da tarde).
Localização
Colégio Estadual Ana Neri – Ensino Fundamental e Médio. Rua Guilherme Bruchel, 795 – centro.Perobal – Paraná. CEP- 87538 000.
Apresentação:
Desde a publicação dos PCNs, no final da década de 90, vêm sendo publicados diversos estudos debatendo o ensino da modalidade oral. De acordo com as DCEs (2007), “O trabalho com os gêneros orais deve ser consciente”, ou seja, não basta deixar, ou fazer com que o aluno fale, é necessário todo um planejamento e encaminhamento, com objetivos claros e práticas linguísticas voltadas para o desenvolvimento de habilidades orais. Diante desse cenário, optou-se para que esta Produção Didático-Pedagógica esteja devidamente relacionando a oralidade e a escrita por meio de atividades de retextualização. O que propõe este material é um conjunto sistematizado de atividades ligadas entre si, que objetiva contribuir com práticas linguageiras voltadas para o ensino da oralidade por meio da retextualização, baseado no modelo e nas propostas sugeridas por Marcuschi na obra “Da fala para a escrita: atividades de retextualização”. Para tanto, o material apresenta diversas atividades, relacionando as modalidades oral e escrita, a temática minha escola e os gêneros entrevista e memórias literárias, com a proposição de cada uma das etapas a serem seguidas pelos alunos, sempre acompanhadas de informações e esclarecimentos direcionados ao professor que pretensa aplicar esta sequência didática.
Palavras-chave ( 3 a 5 palavras)
Oralidade; retextualização escrita; entrevista; memórias
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO
EDUCACIONAL – PDE
ROSILENE APARECIDA BENDER FERREIRA CORRÊA
SEQUÊNCIA DIDÁTICA
DAS ATIVIDADES DE ORALIDADE PARA RETEXTUALIZAÇÃO ESCRITA DO GÊNERO MEMÓRIAS LITERÁRIAS:
O aluno com voz e com vez
Trabalho realizado como apresentação da Sequência Didática do projeto desenvolvido no Programa de Desenvolvimento Educacional, como pré-requisito parcial para complementação das etapas do programa. Orientadora: Profª Drª Neiva Maria Jung
MARINGÁ 2011
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO AOS PROFESSORES ...................................................................... 4
CRONOGRAMA DE TRABALHO: ............................................................................... 7
MÓDULO I – TROCANDO IDEIAS ORALMENTE: ................................................... 9
MÓDULO II – MAPEANDO O CONHECIMENTO .................................................. 12
MÓDULO III - O QUE É GÊNERO TEXTUAL? ........................................................ 14
MÓDULO IV – ESTUDANDO O GÊNERO ENTREVISTA ....................................... 17
MÓDULO V – AMPLIANDO OS ESTUDOS DO GÊNERO ENTREVISTA ............. 25
MÓDULO VI – TRANSCRIÇÃO DO TEXTO ORAL ENTREVISTA ....................... 32
MÓDULO VII – RETEXTUALIZANDO A ENTREVISTA ........................................ 35
MÓDULO VIII – TRANSFORMANDO A ENTREVISTA EM UMA ÚNICA VOZ ... 38
MÓDULO IX – UM NOVO GÊNERO: MEMÓRIAS LITERÁRIAS ......................... 40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 53
ANEXO I ........................................................................................................................ 56
ANEXO II ...................................................................................................................... 59
4
APRESENTAÇÃO AOS PROFESSORES
Desde a publicação dos PCNs, no final da década de 90, vêm sendo
publicados diversos estudos debatendo o ensino da modalidade oral. De
acordo com as DCEs (2007), “O trabalho com os gêneros orais deve ser
consciente”, ou seja, não basta deixar, ou fazer com que o aluno fale, é
necessário todo um planejamento e encaminhamento, com objetivos claros e
práticas linguísticas voltadas para o desenvolvimento de habilidades orais.
Diante desse cenário, optou-se para que esta Produção Didático-Pedagógica
esteja devidamente relacionando a oralidade e a escrita por meio de atividades
de retextualização.
É natural que diante de um cenário tão jovem como os estudos em
Linguística Aplicada nas práticas escolares que envolvam oralidade e práticas
discursivas, nós professores de Língua Portuguesa, ainda sintamos imensas
dúvidas de como conduzir essas práticas no ambiente escolar. O que propõe
este material é um conjunto sistematizado de atividades ligadas entre si,
baseado em estudos teóricos e com uma metodologia e avaliação
desenvolvidas para este material, que objetiva contribuir com práticas
linguageiras voltadas para o ensino da oralidade por meio da retextualização.
Mediante estudos de Marcuschi (2010), observou-se o relato de
experiências feitas com alunos de Letras, por meio das quais sugere atividades
de retextualização de um texto oral, passando-o a outro num processo contínuo
de reescrita, tentando sempre manter as informações básicas, mas
modificando o original passo a passo. O autor destaca, entretanto, que às
vezes as transformações acabam por alterar também as informações iniciais, o
que pode ser discutido com a turma. Dessa forma descobrimos no transcorrer
de formulações discursivas que, o distanciamento entre textos não é gerado
pela modalidade (fala e escrita) utilizada, mas por todas as condições e
características envolvidas no ato de cada produção.
As propostas deste Caderno Pedagógico foram planejadas para serem
realizadas com alunos do primeiro ano do Ensino Médio, do Colégio Estadual
Ana Neri, no município de Perobal – Paraná, dispondo de um total de 32 horas-
aulas para a realização das atividades de oralidade para a retextualização
5
escrita. Os alunos serão convidados a participarem de um grupo de estudos
em contra-turno (os alunos da manhã que tiverem interesse em desenvolverem
os estudos do material deverão comparecer no período da tarde). A
metodologia e as atividades a serem desenvolvidas, no transcorrer do processo
(da oralidade para retextualização), tomarão como base o modelo e as
propostas sugeridas por Marcuschi na obra “Da fala para a escrita: atividades
de retextualização”. Para tanto, torna-se necessário elucidar que o “Modelo das
operações textuais-discursivas na passagem do texto oral para o texto escrito”
é de autoria do teórico, mas a condução das atividades serão propostas
mediante a realidade da turma, pois todo processo de ensino e aprendizagem
com a língua requerem a observação de vários e complexos aspectos, como: o
contexto, a faixa etária dos envolvidos, o conhecimento prévio, o gênero
textual, o propósito, os objetivos de cada atividade, as condições de produção
e assim por diante.
O material está composto por atividades de linguagem voltadas à
compreensão e realização por parte dos alunos, mas cada etapa do processo
está também minuciosamente detalhada e esclarecida nas “orientações aos
professores” deste material, por isso, para o sucesso do trabalho é necessária,
por parte do professor regente, a leitura cuidadosa de cada proposta com o
acompanhamento das orientações, antes da aplicação das atividades,
observando que os trabalhos a serem realizados apresentam uma sequência
sistematizada de atividades, relacionando as modalidades oral e escrita, a
temática minha escola e os gêneros propostos: entrevista e memórias literárias,
com a proposição de cada uma das etapas a serem seguidas.
Torna-se necessário ressaltar também que, para que as propostas
atinjam os objetivos esperados, as atividades deverão seguir o curso
estabelecido neste material, ou seja, o professor que pretensa observar se há
eficiência nesta sequência, deverá segui-la da forma como ela se apresenta, só
minimizando as atividades que observar que seus alunos já dominam, ou
acrescentado e especificando onde perceber maiores dificuldades por parte
dos discentes, adequando-a à realidade dos seus alunos.
Não temos a pretensão de esperar que o aluno, ao término das
atividades deste Caderno Pedagógico, esteja “dominando a fala e a escrita”,
mas acreditamos que ao longo das execuções das atividades, o discente seja
6
capaz de perceber, de forma menos ingênua e preconceituosa, a prática da
oralidade, e isso inclui também a comparação dessa modalidade com a prática
da escrita, para que assim, diante dessas percepções, ele possa fazer
escolhas e usos conscientes dessas duas modalidades na sua vida escolar e
social, pois o falar e o escrever são práticas corriqueiras de uso diário.
7
VAMOS COMBINAR?
Conversando com os alunos sobre o plano de ação da sequência
didática
Você está convidado a partir de agora a compartilharmos um percurso
de atividades que serão desenvolvidas da fala até chegarmos a uma coletânea
de textos escritos. A seguir conversaremos um pouco sobre as atividades que
serão desenvolvidas, quando serão nossos encontros e como iremos estudar.
CRONOGRAMA DE TRABALHO:
TRAÇANDO CAMINHOS – Apresentação do percurso dos estudos
Uma conversa sobre oralidade e escrita.
Produção de um primeiro texto individual (avaliação do
conhecimento prévio).
Breve definição de gênero textual.
As marcas próprias do gênero entrevista: Atividades de
compreensão e fixação.
Ampliação do conhecimento sobre o gênero entrevista. Atividades
para: ouvir, ler, responder, escrever, apreciar e comentar sobre esse
gênero.
A produção da entrevista. – O que é importante saber?
A busca de informações sobre o tema: colocando a entrevista em
prática.
Estudo do processo de transcrição.
Professor (a): Este deverá ser seu primeiro encontro com os alunos, por isso é importante explicar como serão as atividades, o envolvimento, o tempo necessário, os encontros, o crescimento esperado; para isso faça um plano de trabalho com o grupo. Prepare um cartaz com a lista das atividades dos próximos encontros. Depois de pronto, leia o cartaz em voz alta e o coloque num lugar de destaque, ou você poderá entregar cópias do roteiro do percurso. Assim, a turma poderá acompanhar e marcar as tarefas já realizadas. Lembre: É importante explicar o trabalho passo a passo, para que os alunos conheçam e se envolvam em cada etapa proposta.
8
A passagem do texto oral (entrevista) para o grafado.
O gênero memórias literárias: O que vocês conhecem sobre esse
gênero?
O processo da retextualização.
Ensaio geral: produzindo um texto coletivamente.
A hora de retextualizar individualmente.
Escrever e transcrever exige estudo, esforço e dedicação:
Melhorando o texto.
Aprovação da retextualização pelo entrevistado.
A reunião dos textos em uma coletânea.
9
MÓDULO I – TROCANDO IDEIAS ORALMENTE: O que é mais importante a oralidade ou a escrita?
ORIENTAÇÕES AOS PROFESSORES
Tema: Oralidade e escrita. Justificativa: Desmistificar a superioridade da escrita sobre a fala e
vice-versa. Objetivos:
Propiciar uma prática de oralidade reconhecendo suas particularidades, diversidades múltiplas e seus valores sociais;
Levar os alunos a refletirem e a construírem opiniões direcionadas sobre a construção e usos da oralidade e da escrita.
Recursos: Por ser oral, esta atividade só necessitará da entrega dos
questionamentos aos alunos. Desenvolvimento: Essa atividade poderá ser lida pelo professor,
para em seguida ser discutida em pequenos grupos e, finalmente, apresentadas e confrontadas as opiniões para toda turma, com cadeiras dispostas em um grande círculo.
Tempo: 50 minutos (uma hora-aula). Avaliação: Observação, por parte do professor, do envolvimento e
participação dos alunos. Conversando com o(a) professor(a): Os questionamentos propostos são para que os alunos possam expor
o que sabem e o que pensam a respeito dos usos e importância da fala e da escrita. Nessa atividade inicial, é relevante deixar os alunos falarem de forma livre, para expressarem suas ideias. A organização e o tempo de duração dessa atividade, dependerá da disponibilidade do professor e da participação da turma.
10
ATIVIDADES PARA O ALUNO
Nesta atividade inicial é importante que você expresse seus
conhecimentos e opiniões, para que assim possamos conversar e aprofundar
os saberes a respeito dos usos e da importância da fala e da escrita.
CONVERSANDO COM OS COLEGAS:
O que é mais importante falar ou escrever?
O que o ser humano aprendeu a utilizar primeiro: a oralidade ou a
escrita? Posso dizer que a mais antiga é também a mais importante,
ou vice-versa?
Qual das duas modalidades é mais difícil de formular: falar ou
escrever?
O que utilizamos mais no nosso cotidiano: a fala ou a escrita?
Nós usamos a oralidade e a escrita para as mesmas finalidades?
Na escola, qual das duas é mais usada? E em casa?
Cite um lugar fora da sua casa e da escola onde a fala seja muito
usada.
Agora, cite um lugar fora de casa e da escola onde a escrita seja
muito usada.
Toda as pessoas falam da mesma forma?
Você fala sempre da mesma forma?
Quase todos aprendem a falar, e por que muitos não aprendem a
escrever?
Onde as pessoas aprendem a falar? Como aprendem e com a ajuda
de quem?
E a escrever, onde aprendem? Como aprendem e com a ajuda de
quem?
Comente um pouco sobre como foram as suas experiências de
aprendizagem da fala e da escrita.
Em sua opinião, ensinar a escrever é tarefa de qual professor? E
11
como você acredita que isso deveria ser ensinado?
Você pensa que a escola deveria ensinar a falar? Caso sim, como
seria?
Existe a expressão “falar difícil”, o quê seria “falar difícil”?
Saber falar bem é o mesmo que “falar difícil”?
E a expressão “escrever difícil” existe? Justifique sua resposta.
Posso afirmar que escrever bem só pode ser dito para grandes
autores, estudiosos, aqueles que escrevem “sem erros de
português”?
Você, sendo uma pessoa que vive em uma sociedade, “abriria mão”
de saber falar ou escrever?
12
MÓDULO II – MAPEANDO O CONHECIMENTO (Produzindo texto)
ORIENTAÇÕES AOS PROFESSORES
Tema: Investigando os saberes dos alunos. Justificativa: Nesta etapa, é importante diagnosticar o conhecimento da
turma em relação a capacidade discursiva escrita, para que o professor possa melhor intervir no processo de aprendizagem.
Objetivos:
Verificar o que os alunos já conhecem sobre o gênero memórias literárias;
Observar o nível linguístico-discursivo dos alunos. Recursos: Atividades do Caderno Pedagógico; Texto:Uma definitiva
presença, do escritor Bartolomeu Campos de Queirós; Folhas para produção; cópias dos textos produzidos nesta aula.
Desenvolvimento: Essa atividade poderá ser conduzida pelo professor por meio da proposição de uma conversa sugerida pelo questionamento inicial. Após breves reflexões, o professor poderá ler, ou solicitar que algum aluno leia o texto proposto. Para finalizar, o professor deve explicar a importância dessa produção inicial e os passos a serem seguidos, e então esperar que os alunos escrevam seus textos. Sugestão: Devolver aos alunos uma cópia do texto que eles produzirem, pois assim eles também poderão ir observando os seus progressos desde o diagnóstico inicial.
Tempo: 100 minutos (duas horas-aulas). Avaliação: Análise do nível lingüístico-discursivo escrito e do conhecimento
sobre o gênero memórias nos textos produzidos pelos alunos. Conversando com o (a) professor (a): Procure levar os alunos a conversarem sobre o que conhecem a respeito do
gênero em estudo, ou suporem sobre o que imaginam ser. Comente com os alunos que um texto de memórias literárias é uma história contada pelas lembranças de alguém, por isso, a verdade é sempre uma versão do real.
No momento da produção, peça aos alunos que escrevam livremente, sem temores, pois essa é uma atividade importante para observar o que eles entendem do gênero e como relacionam os seus saberes. Nesse momento, o mais importante é a produção de um material que possibilite verificar o que os alunos conhecem para poder propor novos conhecimentos.
13
ATIVIDADES PARA O ALUNO
MAPEANDO O CONHECIMENTO: Conversando sobre o texto de
memórias literárias
Vocês já ouviram falar sobre texto de memórias literárias? Já
escutaram ou leram algum?
Ouvindo história
Ouçam agora a história que será contada a vocês. Fiquem atentos aos
detalhes.
Produzindo um primeiro texto
Você irá agora escrever seu primeiro texto de memórias literárias da
nossa sequência de atividades. Para sua história obedecer ao esperado,
observe as situações indicadas abaixo:
a) Você deverá escrever sobre um acontecimento ou uma reunião de
lembranças do seu passado escolar. Ou seja, aconteceu na escola,
em uma aula, ou em uma série específica. Por isso, você não pode
perder de vista que há um leitor curioso para conhecer o seu
passado.
b) Você será o autor (escritor) e narrador do seu texto, ou seja, a
história aconteceu com você (use o pronome eu).
c) Seu texto será uma história de ficção, ou seja, de invenção da
realidade, por isso ora você poderá recorrer a sua memória, ora
“enfeitar” suas lembranças com fatos e palavras, ou seja, você não
precisa se preocupar em ser totalmente verdadeiro em suas
lembranças.
d) A história que você irá escrever será lida pelos colegas do grupo e
pela professora, para podermos assim ampliar nossas conversas e
estudos sobre esse tipo de texto.
Professor (a): O texto sugerido encontra-se no final deste material como anexo I.
14
MÓDULO III - O QUE É GÊNERO TEXTUAL?
ORIENTAÇÕES AOS PROFESSORES
Tema: Gêneros textuais na sala de aula. Justificativa: O trabalho e definição de gênero textual são muito amplos
para estudarmos detalhadamente neste momento. Para nosso aluno cabe agora uma breve e simplificada definição apenas para que ele seja capaz de formar uma ideia sobre esse assunto e assim executar as atividades propostas, e além disso, para que se sinta estimulado para identificar e construir as marcas próprias dos gêneros que serão estudados nesta sequência didática.
Objetivos:
Propiciar atividades com gêneros textuais reconhecendo suas particularidades;
Formar um conceito básico sobre a definição de gêneros textuais. Recursos: As atividades poderão ser reproduzidas ou passadas no
quadro-negro. Desenvolvimento: As atividades deverão ser direcionadas por você,
professor. E, após a explicação, os exercícios deverão respondidos em duplas. Tempo: 50 minutos (uma hora-aula). Avaliação: Observação, por parte do professor, do envolvimento e
participação dos alunos na realização das atividades.
Breve definição Quando interagimos por meio da linguagem, seja na modalidade oral ou
escrita, produzimos textos com poucas variações, que se repetem na estrutura (se devem ou não ter título; se está organizado em prosa ou verso; se deve ou não ser assinado; e assim por diante); no conteúdo (se é pessoal; humor; técnico; literário;...); e no tipo de linguagem (formal ou informal).
Existem alguns aspectos que nos ajudam a reconhecer um gênero, mas é importante ressaltar que não se trata de uma “fórmula” completa ou fechada, é apenas uma simples contribuição para verificação, que são: estrutura (formato da composição do texto); veículo (local onde o texto circula); suporte ( “local” físico ou virtual onde o texto está fixado. Por exemplo para gêneros orais: rádio, telefone. Para gêneros escritos: livros, jornais); finalidade (para que o texto foi produzido?:- Para expressar opiniões e defesa de um ponto de vista?; - Para transmitir conhecimentos?; – Para contar fatos reais ou imaginários?; – Para ensinar?; e assim por diante).
15
ATIVIDADES PARA O ALUNO
O QUE É GÊNERO TEXTUAL?
Você sabe o que é gênero textual? Qual o significado dessas
palavras para as aulas de Língua Portuguesa?
Gêneros textuais são modelos comunicativos que cumprem uma
finalidade específica na sociedade. Difícil? Não se imaginarmos alguns gêneros
que circulam socialmente, como: bilhete, convite, receita culinária, contrato de
aluguel, piada, fofoca, manual de instruções, tabela de preços, letra de música,
entre muitos outros.
Atividades
1) Para entender um pouco mais.
Abaixo temos alguns gêneros textuais. Procure encaixá-los nas suas
breves definições.
. é um gênero composto por uma história
contada em primeira pessoa (eu: singular ou nós:plural), onde se
estabelece uma ligação entre passado e presente, por isso
expressões e verbos marcam o tempo passado (tempo de
relembrar), e ainda, os autores utilizam uma linguagem literária com
emoções e sentimentos para atrair o leitor.
é um gênero que tem por
finalidade a interação com um interlocutor distante, com o objetivo
de informar, fazer um convite, agradecer, aconselhar, solicitar,
reclamar, sugerir, dentre outros, de forma a contemplar a
necessidade do momento. Sua característica primordial é a
aproximação entre autor (remetente) e interlocutor (destinatário). O
gênero é composto por cabeçalho (que indica a cidade e a data),
lenda Memórias literárias seminário carta familiar entrevista
16
vocativo (saudação), desenvolvimento (assunto), despedida e
assinatura (do autor).
é um gênero oral que leva os
participantes a uma reflexão maior sobre conteúdos pesquisados. A
organização desse gênero deve ser através da formação de grupos,
tendo como representante um coordenador. E deve seguir a
seguinte ordem: Introdução (apresentação da temática geral,
ressaltando as questões mais relevantes); em seguida, cada grupo
realiza a apresentação dos sub-temas (objetivos, justificativas, falas
dos participantes, conclusões); e finalmente espaço destinado à
interlocução com o público ouvinte (discussão do assunto) e
despedida.
é um gênero concebido de
forma oral face a face, assim, não é possível estabelecer uma nítida
fronteira entre a informação (relato oral ou descrição de um fato) e a
versão da exposição grafada desse mesmo fato, ou seja, os
comentários e adequações do redator do texto (aquele que passou
o oral para o escrito), sempre estarão presentes no texto impresso.
é um gênero que tem como
função social preservar histórias fantásticas (e/ou fantasiosas)
criadas pela imaginação do homem, pelas suas crenças, e que
foram sendo repassadas, oralmente, de geração para geração,
tornando-se parte da cultura popular. A narrativa é centralizada em
torno de algum herói popular (revolucionário, santo, guerreiro), se
amplia e se transforma sob efeito de evocação poética ou da
imaginação popular, sem explicações científicas.
17
MÓDULO IV – ESTUDANDO O GÊNERO ENTREVISTA
ORIENTAÇÕES AOS PROFESSORES
Tema: Reconhecimento do gênero entrevista. Justificativa: Iniciar atividades com um gênero oral. Objetivos:
Propiciar práticas de oralidade e escrita reconhecendo suas particularidades, diversidades múltiplas e seus valores sociais;
Estimular a percepção do discurso constituído oralmente (face a face);
Reconhecer o gênero entrevista. Recursos: Os textos e atividades poderão ser reproduzidos ou passados no quadro-
negro. Desenvolvimento:As conversas deverão ser direcionadas por você, professor. E,
após a “descoberta” do gênero, os textos poderão ser lidos em duplas para toda turma, antes das atividades de compreensão.
Tempo: 50 minutos (uma hora-aula). Avaliação: Observação, por parte do professor, do envolvimento e participação dos
alunos nas atividades orais e escritas.
Breve definição A entrevista é um gênero produzido, geralmente, entre duas pessoas face a face,
caracterizada pela alternância “pergunta/resposta”, que reproduz tão fielmente quanto possível uma conversa entre entrevistador e entrevistado, ou seja, a entrevista organiza-se em turnos da fala e tem como finalidade uma das duas situações:
a) levar a conhecer a opinião de uma figura pública (entrevistado) sobre um tema da atualidade (porque o assunto é importante ou o entrevistado é importante com relação ao assunto em questão);
b) levar a conhecer a importância de uma personalidade, instituição ou circunstância que, embora não sendo do conhecimento geral, tenha vindo a assumir pelo seu trabalho ou impacto uma relevância que justifique a sua divulgação.
As entrevistas podem ser de dois tipos: oral (radiofônica ou televisiva) em que o texto é registrado no discurso oral, de forma direta; ou escrita (impressa) em que o enunciado da entrevista é passado ao registro escrito, permitindo pequenas correções ou reformulações.
O contato com esse gênero nos permite identificar, questionar ou reconhecer opiniões e visões de mundo.
Para todas as entrevistas, é fundamental a elaboração de um roteiro que oriente o processo a ser seguido.
18
ATIVIDADES PARA O ALUNO – ESTUDANDO O GÊNERO ENTREVISTA
Faça uma breve observação dos textos a seguir, publicados em
revista, para podermos conversar sobre eles.
TEXTO 1
O que um turista cego vê Tony Giles nasceu com um problema na visão e ficou cego aos 10 anos. Mas isso
nunca o impediu de viajar. Aos 32 anos, o inglês já encheu 3 passaportes com vistos
de 56 países. E decidiu contar como enxerga as belezas e os problemas de cada lugar
no recém-lançado livro Seeing the World My Way (sem tradução em português). Giles
falou com a SUPER por telefone de 3 cidades diferentes – La Paz, Londres e Atenas.
– Texto de Felipe Datt
Como você faz para
conhecer os locais que
visita?
Não consigo enxergar
sequer sombras. Isso
significa que preciso de
todos os outros sentidos
para absorver a cidade de
acordo com o tipo de
superfície, as músicas, as
vozes, as comidas, os
aromas. Tenho um senso
único em relação aos
outros turistas, porque uso
todos os meus sentidos
em conjunto, algo
raramente feito por quem
enxerga.
Como esses sentidos
ajudam a diferenciar os
lugares?
Pelo ar sei se estou perto
da praia, como quando
sinto o ar salgado de
Seattle ou Bodrum, na
Turquia. Ou se a cidade é
poluída. De Yerevan, na
Armênia, minha
lembrança é uma
combinação de fumaça de
escapamentos, chaminés
de fábrica e cigarro.
Também aprendo sobre a
cultura. Sei que estou em
Chicago logo ao sair da
estação de ônibus por
causa do cheiro da carne
e do jazz e do blues que
ouço. Já Buenos Aires e
Lima me dão a sensação
de caminhar por cidades
interioranas, em vez de
grandes megalópoles,
pois consigo ouvir o som
de pássaros e cachorros.
Qual é sua cidade
favorita?
Na verdade prefiro
natureza a cidades.
Consigo captar muito pela
pele e uso meu corpo
para sentir o ambiente.
Quando caminho por uma
floresta, tenho a sensação
de que o ar está
comprimido. Se parece
que ele se expandiu, sei
que cheguei a uma área
aberta. Posso detectar
mudanças na pressão do
ar e na temperatura. E
sinto que pode chover se
o vento sopra mais forte.
Mas se tivesse que
escolher uma cidade...
Bangcoc, na Tailândia, é
incrível. O cheiro de
19
sujeira, dos incensos, da
comida de rua, dos canais
e dos esgotos a céu
aberto se junta ao calor, à
umidade e ao barulho do
trânsito para atacar meus
sentidos
simultaneamente. Por
outro lado, Veneza me
decepcionou. Para mim a
cidade cheira a esgoto,
não importa quão
romântica seja para os
outros.
Como você se orienta?
Ando com uma bengala e
na mesma direção do
trânsito ou do vento. Uso
o barulho do tráfego para
me guiar. Se preciso
encontrar um metrô, uma
boa indicação é sentir um
grande número de
pessoas indo e vindo, ou
a vibração que o trem
provoca na calçada.
Também conto as ruas
que atravesso quando me
locomovo e refaço o
caminho na volta. Em
algumas cidades é mais
difícil transitar. Como em
Atenas, onde as pessoas
estacionam os carros na
calçada.
O que achou do Brasil?
O trânsito no Rio, em São
Paulo e no Recife era
impressionante, com
motoristas buzinando e
motores de carros que
soavam como armas de
fogo. Em Salvador tinha
batuque o dia todo, um
barulho parecido com
pessoas batendo à porta.
Gostei muito do povo, das
praias de areia macia e
dos sucos de frutas
frescas. Que país maluco!
Você já sentiu medo de
viajar sozinho?
Sou confiante. Viajar
sozinho nunca foi um
problema e nunca será. É
minha paixão.
Superinteressante,
jun/2011
20
TEXTOII
O homem que ouve tudo
Julian Treasure não é nenhum caso raro na ciência. É só alguém que resolveu
prestar atenção a todos os barulhos e ritmos que nos cercam. Segundo
Treasure, sons tão banais quanto a música que toca no supermercado podem
interferir radicalmente no seu comportamento. Como? Até empresas como
Honda e Unilever ficaram curiosas – e contrataram a consultoria inglesa de
Treasure para entender. – Texto de Eduardo Szklarz
Você diz que nossa
relação com o som está
cada vez mais
inconsciente. Por quê?
Muito tempo atrás, as
pessoas eram cercadas só
pelo barulho do vento, da
água, dos pássaros. A
audição era nosso sentido
de alerta, indicando
ameaças. Com a
industrialização, criamos o
hábito de suprimir os
ruídos das cidades e
ignorar a audição. A
maioria dos efeitos dos
sons ao nosso redor se
moveu para um plano
inconsciente. Hoje
dependemos demais dos
olhos e não
compreendemos como os
sons influenciam nossa
vida.
Eles podem nos deixar
alertas ou relaxados, é
isso?
Sim, sons têm efeito
psicológico, dependendo
da associação que
fazemos. Muitos acham o
canto dos pássaros
reconfortante, pois ao
longo da evolução
aprendemos que tudo está
tranqüilo quando os
pássaros cantam. O mar
nos relaxa, porque tem
uma freqüência de 12
ciclos por minuto – a
mesma da nossa
respiração quando
dormimos. Mas não é só
isso. Sons interferem no
funcionamento do nosso
corpo. Uma sirene gera
uma descarga do
hormônio cortisol, que
acelera o nosso coração.
Além dos efeitos que
podem influenciar o nosso
comportamento.
Como assim?
Você já deve ter reparado:
se alguém puxa papo
enquanto você trabalha no
computador, sua
concentração vai piorar. É
porque você usa a
memória sensorial para
manipular símbolos e
palavras, e a conversa
afeta seu senso de espaço
– afetando sua
produtividade. Escritórios
amplos e barulhentos
derrubam em 66% a
produtividade dos
funcionários. Nesses
lugares, um fone de ouvido
e música ambiente
ajudariam você a se
concentrar no trabalho.
Alguém poderia usar
sons para nos
21
manipular?
Sim. O ambiente musical
tem um efeito radical sobre
compras. Mas as
empresas, em geral, não
sabem disso. Em lojas de
departamento, uma
música inapropriada pode
reduzir as vendas em até
28% [como música infantil
em loja de crianças, que
pode espantar os adultos].
A mensagem captada
pelos olhos do cliente é
“entre e gaste seu
dinheiro”, mas
os ouvidos escutam “vá
embora, ambiente hostil”.
Ou então a música pode
influenciar a decisão dos
clientes,como aconteceu
numa loja de vinhos
inglesa. Apesar de os
vinhos franceses serem
mais tradicionais, eles
eram menos vendidos do
que os alemães quando a
loja tocava música da
Alemanha. Ou seja: o som
foi capaz de vencer a
tradição.
Como você chegou a
essas conclusões?
Aliei minhas duas
profissões – além de ter
sido baterista a vida inteira
[Treasure tem 50 anos],
tenho 30 anos de
experiência em marketing.
A busca pelo uso eficiente
do som é o ponto em
comum entre as duas
atividades. E hoje é um
novo tipo de marketing,
que tem crescido. Espero
transformar o som dos
negócios e o modo como o
mundo soa ao nosso
redor.
Superinteressante,Dez/
2009
22
ATIVIDADES PARA O ALUNO
1. Conversando sobre os textos:
a) Normalmente, as pessoas gostam de conversar. O que é uma
conversa?
b) Podemos dizer que os textos que acabamos de ver são conversas?
Explique.
c) Onde encontramos esse tipo de texto?
d) Quem escreve esse tipo de texto? E para quem é escrito?
e) Com que finalidade esse tipo de texto é produzido?
f) Como os textos estão organizados?
g) A linguagem dos dois textos é espontânea?
h) Você acha que a linguagem dos textos é parecida com a linguagem
do cotidiano? Comente.
i) Você já tinha ouvido no rádio, assistido na televisão, ou lido em
revistas ou jornais algum texto desse tipo?
j) Quais são as principais características desses textos? E que tipo de
textos são esses?
k) Como chamamos a pessoa que faz as perguntas? E a pessoa que
responde?
l) Vamos retornar aos textos para lermos quem são essas pessoas
nos dois textos.
Professor (a), este momento está destinado ao reconhecimento do gênero entrevista, por isso incentive seus alunos a retornarem aos textos deste módulo sempre que considerarem necessário e os conduza a “descobrirem” esse gênero no decorrer da conversa.
Professor (a), as atividades a seguir estão direcionadas a compreensão discursiva das entrevistas, por isso é interessante que sejam respondidas individualmente ou em duplas e por escrito.Chame a atenção dos alunos para a questão e, pois nesse momento vale explicar a complexidade do discurso oral “por telefone de três cidades diferentes”, ou seja, foi demorado e não está escrito da mesma forma que foi dito, sofreu alterações de edição.
23
2. Mostre que você entendeu os assuntos das entrevistas e responda
as questões abaixo:
a. Com relação ao assunto dos dois textos, o que há em comum entre
eles?
b. E em relação aos entrevistados, o que há em comum entre eles?
c. O título do texto I é: “O que um turista cego vê”, mas se ele é cego
como pode ver?
d. Podemos afirmar que Tony Giles é um exemplo de superação?
Justifique.
e. Na definição de entrevista observamos que “É um discurso de
origem oral constituído face a face”. Essa definição se confirma na
entrevista com Giles? Justifique.
f. Ainda em relação ao texto I, você acredita que a opinião de Tony
Giles sobre o Brasil é boa ou má? Comente sua resposta.
g. O título do texto II é: “O homem que ouve tudo”, mas de acordo
com o texto ele não tem uma audição superior a nossa. Explique
então qual é o diferencial na audição de Julian Treasure.
h. Julian Treasure afirma que o barulho atrapalha em até 66% a
produtividade de funcionários em um escritório, e na sala de aula
você acha que acontece o mesmo?
i. Em sua opinião, qual das duas entrevistas é mais interessante?
Justifique.
j. A revista de onde foram retirados os textos é uma revista destinada
a descobertas e curiosidades, você acha que foi boa a escolha dos
entrevistados dos dois textos? Comente.
3. Observe as palavras destacadas nos trechos retirados dos dois
textos:
“Tony Giles nasceu com um problema na visão e ficou cego aos
10 anos”(texto I)
“A maioria dos efeitos dos sons ao nosso redor se moveu para um
Professor (a), os próximos exercícios estão direcionados ao plano linguístico discursivo, dessa forma, você deverá orientar e mediar sempre que houver necessidade.
24
plano inconsciente”. (texto II)
a) As palavras destacadas sugerem:
( ) a marcação de um tempo passado
( ) a marcação de um tempo presente
( ) a marcação de um tempo futuro
4. Observe, agora, os seguintes trechos retirados do texto II:
“Muito tempo atrás, as pessoas eram cercadas só pelo barulho do
vento, da água, dos pássaros”.
“Hoje dependemos demais dos olhos e não compreendemos como
os sons influenciam nossa vida”.
Observe que, nos dois trechos temos marcada a relação temporal
do passado (antes) e do presente (agora). Essa relação é
estabelecida somente pelos verbos? Explique.
5. Releia mais um trecho do texto II:
“Ou seja: o som foi capaz de vencer a tradição”
a) A palavra destacada remete :
( ) um fato passado concluído
( ) um fato passado, mas não concluído, ou seja, prolongado.
b) Se em vez de “foi” fosse empregado “era” mudaria o sentido
deste trecho? Explique.
6. Retorne nas entrevistas, localize e copie os quatro pronomes
interrogativos usados nas perguntas, ou seja, as palavras que indicam o início
de uma pergunta.
25
MÓDULO V – AMPLIANDO OS ESTUDOS DO GÊNERO ENTREVISTA
ORIENTAÇÕES AOS PROFESSORES
Tema: Do estudo à produção da entrevista. Justificativa: Aplicar atividades de aprofundamento do gênero oral entrevista,
para que os alunos consigam analisar e identificar os recursos do gênero em estudo e assim realizarem individualmente sua própria entrevista.
Objetivos:
Propiciar práticas de oralidade e escrita reconhecendo suas particularidades, diversidades múltiplas e seus valores sociais;
Estimular a percepção do discurso constituído oralmente (face a face);
Compreender e registrar o discurso oral do outro;
Aprofundar o reconhecimento do gênero entrevista;
Desenvolver práticas direcionadas de oralidade com o gênero entrevista;
Realizar individualmente sua própria entrevista. Recursos: Cópia dos textos e atividades do módulo em estudo (poderão ser
reproduzidos ou passados no quadro-negro); quadro-negro; giz colorido (para diferenciar entrevistador e entrevistado).
Desenvolvimento: As atividades deverão ser direcionadas por você,
professor. Como já foi realizada a “descoberta” do gênero, as atividades deste módulo deverão ser realizadas individualmente, para que os alunos consigam sanar dúvidas e fixar as características da entrevista. Após as atividades escritas, as respostas poderão ser trocadas entre duplas de alunos para confrontaram as compreensões e depois apresentadas em um grande círculo. As atividades de produção deverão ser todas mediadas por você, professor.
Tempo: 150 min. (duas a três horas-aulas). Avaliação: Observação do envolvimento e participação dos alunos nas
atividades orais e escritas. Gravação da entrevista. Comentário: neste módulo a entrevista será vista em todos os aspectos do
gênero: discursivo, lingüístico e da produção textual.
26
ATIVIDADES PARA O ALUNO – AMPLIANDO OS ESTUDOS DO GÊNERO ENTREVISTA
TEXTO
Ela voltará à selva, apesar do jacaré Era meio-dia de 30 de dezembro de 2009 quando o maior predador da
Amazônia, o jacaré-açu, atacou a bióloga paulista Deise Nishimura, 25, que
limpava peixe na varanda de sua casa flutuante no lago Mamirauá. Não morreu
por pouco, mas perdeu a perna direita. Ainda assim, Deise não desistiu da
ciência. Ela que estudava o comportamento de botos-vermelhos, não vê a hora
de voltar à pesquisa na selva. – Por Willian Vieira
Como você foi atacada
por um jacaré de 6
metros?
Eu estava sentada
limpando peixe para o
almoço quando o vi saltar
mais de 1 metro e morder
minha perna direita.
Fomos para o fundo do
lago e ele começou a girar,
girar, mas eu não sentia
dor nenhuma, por causa
da adrenalina. Nossa,
dava para pensar em
muita coisa, pois o tempo
lá tem outra dimensão.
E como você
sobreviveu?
Eu me lembrei de ter visto
em um documentário que
a parte mais sensível do
tubarão é o nariz. Enfiei os
dedos em dois buracos,
que deviam ser os olhos, e
apertei com toda força. Ele
me largou – só não sei se
por isso ou se porque já
tinha levado o que queria,
a minha perna. Nadei
então uns 4 metros, subi a
rampa da casa me
arrastando e chamei ajuda
pelo rádio. O pessoal da
reserva veio, fez um
torniquete e me levou ao
hospital.
Depois do ataque, como
sua vida mudou?
Eu ainda estou me
recuperando, fazendo
fisioterapia. Passei 16 dias
no hospital. Coloquei uma
prótese, mas ainda
estamos fazendo a
adaptação. Talvez tenha
de fazer mais uma cirurgia.
Então minha pesquisa
parou por ali, porque
preciso me dedicar à
recuperação.
É mais arriscado para
um boto ou para uma
pessoa viver nas
mesmas águas que o
jacaré-açu?
Embora eles dividam as
mesmas águas, o boto é
rápido demais para ser
pego por um jacaré. A não
ser que haja um incidente.
O jacaré come peixes,
tartarugas, às vezes aves.
Mas é um animal
oportunista: se vê uma
oportunidade, ele ataca, se
aproveita mesmo da
situação. Se um boto
estiver machucado, vai
pegá-lo.
Mas você é contra a caça
do animal?
27
Eu sou contra a caça
indiscriminada do jacaré,
mas sou a favor da caça
manejada. Naquela região
há jacarés demais. Caçar
não é um risco tão grande
para o ecossistema, mas o
bicho é para a população
ribeirinha
Você pretende voltar
para a selva? Continuar
a pesquisa de onde
parou?
Eu não sei quando, mas
quero voltar para lá o mais
rápido possível. Sempre
foi meu sonho estudar
cetáceos [ordem de
mamíferos a que
pertencem os botos e as
baleias]. Aí surgiu essa
oportunidade na Amazônia
e eu fui. Desde o momento
que cheguei, me senti em
casa. Acordava às 5h30,
saía de barco e passava 7
horas fazendo avistagem.
De volta em casa,
trabalhava no computador
com os dados que havia
coletado. Eu nunca havia
me sentido tão à vontade
na cidade. A única coisa
que me fez pensar em
desistir foram os
mosquitos. Era uma média
de 15 picadas por dia. Mas
me adaptei bem, pois eu
gostava bastante da rotina.
Então pretendo voltar
assim que me recuperar
totalmente.
Não passou pela sua
cabeça estudar jacarés?
Depois do que aconteceu,
sim. Fiquei bastante
interessada em estudar
esses bichos tão
fascinantes. Vamos ver
Superinteressante, Nov/2010
ATIVIDADES PARA O ALUNO
1. Demonstre que você entendeu a aventura vivida por Deise
Nishimura respondendo as questões abaixo:
a. Qual é o nome do entrevistador e do entrevistado no texto?
b. A bióloga paulista Nishimura sabia dos riscos que corria ao morar
em uma casa flutuante no lago Mamirauá? Comente sua reposta.
Professor (a), o esperado é que neste momento o aluno já seja capaz de reconhecer a entrevista como um gênero textual que se inicia na oralidade e que depois é transferido para a forma grafada passando por mudanças para edição e publicação, mas caso julgue necessário aproveite para conversar sobre isso logo após a leitura feita por alunos em dupla e em voz alta. As atividades seguirão a seguinte ordem: discursivas (de leitura e compreensão do texto); linguística discursiva (da linguagem empregada no texto) e finalmente de produção (fixação e verificação dos conteúdos estudados).
28
c. É possível afirmar que depois do que aconteceu com a bióloga
Deise, ela está determinada a estudar jacarés? Explique.
d. Deise Nishimura é contra a caça de jacarés? Justifique.
e. Como foi possível uma jovem de apenas 25 anos livrar-se de um
jacaré de 6 metros?
f. Podemos afirmar que qualquer pessoa num confronto com um
jacaré se salvaria?
g. Em sua opinião, por que Deise Nishimura não ficou traumatizada
com o ataque que sofreu do jacaré-acú?
h. Você teria coragem de retomar suas pesquisas após sua
recuperação como pretende fazer a bióloga da entrevista?
Comente.
2. A entrevista tem origem oral, entretanto, quando ela é passada para
forma escrita (registro linguístico), sofre alterações de palavras e de
construção da linguagem. Apesar de a linguagem utilizada no texto ser
simples e clara, é possível percebermos algumas palavras e construções
que a maioria das pessoas não utilizaria na fala. Localize e circule no
texto termos que justifiquem essa afirmação.
3. Em entrevistas temos a utilização da terceira pessoa do singular
nas perguntas (identificando o entrevistado pelo nome ou cargo), e da
primeira pessoa do singular ou do plural nas respostas (a fala do
entrevistado). Transcreva do texto o que se pede:
a. dois pronomes da primeira pessoa do singular:
b. dois verbos na primeira pessoa do singular:
c. dois verbos terceira pessoa do singular:
4. Observe que o pronome “você” refere-se a segunda pessoa do
singular (a pessoa com quem “eu” falo), mas os verbos utilizados com
esse pronome (você) estão conjugados na terceira pessoa (a pessoa de
quem eu falo). Localize e circule na entrevista duas ocorrências desse
caso.
29
5. O texto que lemos apesar de ser uma entrevista, em certos trechos
“conta uma história” de aventura e terror. Retire do texto e explique ao
menos duas características de narrativa.
PRODUÇÃO DE TEXTO
Nós lemos, conversamos, analisamos, estudamos e identificamos
marcas próprias do gênero entrevista. Agora é o momento de cada um fazer
sua própria entrevista.
Inicialmente precisamos estabelecer um roteiro a ser seguido, ou seja,
o que devemos perguntar, a quem e como perguntar.
1. Definição do tema. Esta é uma questão valiosa para dar
consistência ao texto. É preciso conhecer o tema sobre o qual se escreve, por
isso vamos retomar o mesmo assunto do primeiro texto que você escreveu nos
nossos estudos: Uma experiência escolar. A organização da sua entrevista
deverá ser sobre esse assunto: um acontecimento ou uma reunião de
lembranças do passado escolar do entrevistado. Ou seja, aconteceu na
escola, em uma aula, ou em uma série específica. Por isso, você não pode
perder de vista que há um leitor curioso para conhecer o passado escolar do
entrevistado
2. Escolha do entrevistado. Na sua casa, você já conversou com sua
família sobre como era a escola no tempo deles? O seu entrevistado deverá
ser alguém da sua família, preferencialmente alguém mais velho, que
frequentou a escola por pelo menos um ano, como: avô, avó, pai, mãe ou tios.
Essa escolha se justifica pelo fato de que alguém da família poderá trazer para
o presente o seu passado escolar, e assim com todas as entrevistas
poderemos fazer uma relação de como era a escola no passado e como é hoje
e dessa forma conhecermos a visão da sua família sobre a escola no tempo
deles e ainda das outras famílias entrevistadas que pertencem a nossa
comunidade escolar.
3. Elaboração das perguntas. O que saber e como perguntar?
Devemos considerar os seguintes aspectos:
As perguntas poderão ser “abertas” (permitindo respostas
mais ou menos longas e discursivas) ou “fechadas”
(permitindo respostas do tipo sim/ não);
30
As perguntas devem ter uma organização lógica, para
permitir a sequência da entrevista;
As perguntas devem ser breves, claras e significativas para o
conhecimento do tema;
A linguagem deve estar adaptada ao entrevistado;
Devem estar previstas estratégias para retornar ao tema,
caso o assunto se desvie;
Deve ficar claramente definido o número de perguntas ou o
tempo de duração da entrevista.
Vamos elaborar nosso roteiro?
Abertura: (sugestão de texto para abertura da entrevista)
Nossas memórias estão sempre repletas de acontecimentos, e
todos aqueles que frequentaram a escola sempre tem histórias para
contar. O que nos interessa, neste caso, são as lembranças fortes e
significativas da sua época escolar, como você recorda, como
viu o que sentiu e o que aconteceu.
Professor (a), abaixo apresentamos um roteiro de questões para a entrevista que nos
conduzem ao gênero final que pretendemos que é Memórias Literárias, mas neste momento isso não
deve ainda ser dito aos alunos, pois a intenção é a de que eles descubram o gênero aos poucos, para
não causar espanto, nem desânimo pelas dificuldades para passar de um gênero (entrevista) a outro
(memórias literárias).
Peça aos alunos para observarem nas entrevistas estudadas que todas elas tem uma
introdução/ abertura antes de iniciarem as perguntas, por isso que antes da elaboração das questões
é necessário deixarem combinado como iniciarão o assunto.
Queremos ainda reforçar que a abertura e as questões já elaboradas são apenas sugestões,
mas caso pretenda usá-las vá sugerindo aos poucos e escrevendo-as no quadro-negro, de forma que
os alunos possam intervir, sugerir e sintam-se parte importante no processo de elaboração do roteiro da
entrevista.
1) Sabemos que, na época em que o (a) senhor (a) frequentou a escola, ela não era
exatamente como é hoje. Caso o senhor (ou a senhora) fechasse os olhos poderia ver o
lugar onde estudou e descrevê-lo para nós?
2) É possível lembrar mais ou menos de que ano estamos falando, ou de qual série escolar?
(por exemplo: ginásio, colegial , escola normal...)
3) Por que o (a) senhor (a) ia pra escola? Gostava de estudar?
4) Vocês usavam uniformes? Como era?
5) E o comportamento dos professores como era?
6) E os alunos como se comportavam em aula?
7) Tem alguma lembrança especial de algum professor ou colega de turma?
8) E as aulas? Como eram? Vocês liam, escreviam, conversavam, copiavam,... o que
faziam? E como faziam?
9) Como o senhor (ou a senhora) se sentia na sala de aula?
10) Na sua memória tem algum acontecimento, uma festa na escola, um dia de prova, um
passeio, um desfile, uma aula, um fato qualquer, pensamento ou costume da época que o
senhor (ou a senhora) gostaria de contar?
11) O senhor (ou a senhora) tem algum recado que gostaria de deixar para os alunos de hoje?
31
Formulando as perguntas
Caso necessário, você poderá retornar ao assunto da entrevista ou
ainda, complementar alguma questão com as sugestões abaixo:
“O senhor (ou a senhora) poderia explicar um pouco mais como
era...”;
“O senhor (ou a senhora) poderia comentar um pouco mais esse
fato, esse costume...”;
“O senhor (ou a senhora) poderia dar mais detalhes...?”.
* Caso o entrevistado fale alguma expressão antiga ou palavra que
esteja em desuso, peça a explicação do sentido ou emprego atual do que foi
dito.
O momento da entrevista
A entrevista deve, de preferência, ser gravada e feita em um lugar
bem silencioso sem interrupções;
Lembremos que para gravarmos a entrevista é preciso primeiro
testar o material (gravador) e pedir a permissão do entrevistado;
Procure tranquilizar o entrevistado, dizendo que ele poderá falar
conforme a memória permitir, que não precisa ter pressa. É
fundamental criar um clima de respeito para que o entrevistado se
sinta à vontade para falar com espontaneidade;
Diga ao entrevistado que ele poderá contar sobre fatos engraçados
ou tristes, que o importante é ele falar como se sentiu e viveu esses
acontecimentos;
A duração da entrevista não deve ultrapassar 12 minutos (gravação
da conversa), para não ficar cansativa e não dificultar a organização
do texto escrito;
As perguntas servem para guiar o entrevistador e entrevistado, mas
vocês não precisam ficar presos a elas, pois o objetivo é uma boa
conversa na qual o entrevistado revele sensações e sentimentos
sobre o que está contando;
Caso a conversa não tenha sido satisfatória, avise que vocês
precisarão marcar uma nova entrevista;
32
No final da entrevista, deve-se agradecer ao entrevistado e dizer o
quanto foi importante a sua contribuição. Procure explicar que ele
deverá ler o que será escrito por você, para ver se concorda e
aprova o texto escrito. Se estiver de acordo, precisará assinar uma
autorização para a publicação do texto final.
Coletando as informações
Agora que já estudamos como fazer uma entrevista e elaboramos
nosso roteiro de questões, é hora de praticarmos. Marque seu momento da
entrevista e grave-a para nosso próximo encontro. Não se esqueça se seguir
os passos estudados. Caso necessário, leve anotado tudo o que for precisar.
Boa entrevista!
MÓDULO VI – TRANSCRIÇÃO DO TEXTO ORAL ENTREVISTA
ORIENTAÇÕES AOS PROFESSORES
Tema: Transcrição da entrevista. Justificativa: Iniciar a “passagem” da modalidade oral para a escrita. Objetivos:
Compreender e registrar o discurso oral na forma grafada;
Estimular a percepção do discurso constituído oralmente (face a face) na apresentação escrita.
Recursos: Os textos e atividades poderão ser reproduzidos ou passados no quadro-
negro. Gravador, lousa e giz (caso o professor tenha uma gravação). Desenvolvimento: É importante que os alunos tenham em mãos as atividades e
explicações deste módulo, mas a compreensão deve ser lida e orientada pelo professor, com exemplificações e interferências sempre que houver necessidade. Caso o professor tenha feito sua gravação, ele poderá transcrever um trecho coletivamente no quadro-negro, para que os alunos acompanhem, mas caso não tenha, ele poderá pedir a autorização para usar a gravação de um dos alunos. Lembre que a transcrição individual deverá ser realizada em casa, pois exige silêncio e concentração de cada um. A cópia das transcrições deverá ser arquivada pelo professor para acompanhamento dos trabalhos futuros.
Tempo: 50 minutos (uma hora-aula). Avaliação: Os registros escritos das transcrições.
Breve definição
Transcrever é passar um texto de uma modalidade a outra (do oral para o escrito), sem que, entretanto ocorram grandes transformações de conteúdo, ou seja, é a reprodução gráfica dos sons de uma língua.
33
ATIVIDADES PARA O ALUNO – TRANSCRIÇÃO DO TEXTO ORAL ENTREVISTA
Você coletou as informações, ou seja, fez e gravou a entrevista
oralmente, agora é o momento da transcrição. Como assim? Siga as
recomendações abaixo e observe os modelos.
A entrevista foi oral (conversa gravada) em que o texto foi registrado
no discurso oral, de forma direta; agora para escrita (conversa grafada) o
enunciado da entrevista deve ser passado ao registro escrito da forma que
ocorreu. Somente em atividades futuras iremos fazer algumas mudanças,
permitindo pequenas correções ou reformulações, assim como nos textos das
entrevistas escritas que estudamos.
Ouça a gravação com calma e atenção. Observe como se
assemelha a uma conversa, em que um pergunta e o outro
responde, ou seja, um fala e depois o outro fala (na entrevista
chamamos isso de turnos da fala);
Procure ouvir novamente, só que agora vá passando para o papel o
que escutar, da mesma forma que ouvir. Vá pausando a gravação
para dar tempo de escrever e ouça poucas palavras e já registre,
para não correr o risco de mudar palavras ou a ordem do que foi
dito;
Quando mudar a voz (entrevistador) mude de linha para separar a
outra voz (entrevistado);
Lembre: Nessa atividade procure ser o mais fiel possível ao registro
oral, ou seja, não use pontuação, não se preocupe em usar letras
maiúsculas e não mude a pronúncia das palavras ( Ex: se o
entrevistado disser: nóis era – você deverá registrar dessa forma);
Quando o entrevistado fizer pausas na fala, na escrita marque assim
(...);
Procure manter no escrito todas as palavras do oral: “daí”, “né”,
“bem”, “hã”, “sim”, “sabe”, e outras;
Registre as observações das ações do entrevistado. Por exemplo:
34
(tossindo), (rindo), (alguém bate na porta).
Observe abaixo alguns exemplos de transcrição (texto oral registrado
na escrita), que foram retirados do livro “Da fala para a escrita: Atividades de
retextualização”, escrito por Luiz Antônio Marcuschi.
eh... eu vou falar sobre a minha família...sobre os meus pais...o que eu acho deles..
como eles me tratam... bem... eu tenho uma família...pequena..ela é composta pelo meu pai...
pela minha mãe...pelo meu irmão...eu tenho um irmão pequeno de...dez anos...eh...o meu
irmão não influencia em nada...a minha mãe é uma pessoa superlegal...sabe? (Narrativa
oral de uma jovem de 17 anos)
J- mas o senhor tem certeza que ele num fez...que ele saiu com o senhor no ônibus e
a morte dele aconteceu?
D- aí num ((incompreensível)) aí/
J- OCORREU naquele momento/
D- aí pode ser até...eu/
J- ele sempre acompanhado pelo senhor heim?
D- justamente/
J- HEIM? (Tomada de depoimento – texto oral)
L2- e ela mora lá...mas ela é ...bem velhinha...maluca né? ela até hoje não sabe das
coisas ela esquece os nomes elea::a mim ela sabe...mas eu invento história pra ela...e ela
acredita em todas as histórias que eu invento... perturba mui:to a vida de minha irmã porque
não tem/...os conceitos de higiene dela já sumiram...só gosta de andar mulamba...
L1- ((riu)) (Texto oral do Projeto NURC- Recife)
Você aprendeu nessa aula como transcrever, agora em casa
procure fazer individualmente a transcrição da sua gravação.
35
MÓDULO VII – RETEXTUALIZANDO A ENTREVISTA
ORIENTAÇÕES AOS PROFESSORES
Tema: Retextualização sem mudança de gênero. Justificativa: Modificar a entrevista da modalidade oral para a entrevista na modalidade
escrita, e assim ir percebendo a igualdade de complexidade nas duas modalidades. Objetivos:
Desenvolver práticas direcionadas de retextualização;
Verificar os processos de mudanças ocorridos na entrevista oral (interação face a face) para a retextualização na modalidade escrita no mesmo gênero.
Recursos: Esta atividade necessitará das gravações, das transcrições dos textos realizadas
pelos alunos, do uso de dicionário, da observação das entrevistas trabalhadas anteriormente, como também, de outras entrevistas grafadas de revistas.
Desenvolvimento: Esta atividade deverá ser iniciada com a proposta de observação de
entrevistas diversas de revistas, de forma a perceberem as diferenças entre esses textos impressos e as transcrições da entrevista oral realizadas por eles. Após esse momento o professor deverá chamar a atenção para complexidade do gênero nas duas modalidades: oral e escrita. E finalmente solicitar que, em casa, os alunos mudem o texto transcrito para um texto retextualizado, ou seja, mude as marcas da entrevista na modalidade oral para as da modalidade escrita.
Tempo: 50 minutos (uma hora-aula) em sala, mas o aluno gastará mais tempo
retextualizando o texto em casa. Avaliação: Observação e comparação, por parte do professor, do texto transcrito para o
texto retextualizado. Breve definição: Retextualização é a transformação de um texto em um novo texto, no caso, ela “obriga”
mais do que simplesmente escrever um texto falado, ela necessita da interpretação do oral para que possa ser registrado o grafado, por vezes, com mudança de modalidade e até de gênero. Por exemplo: uma secretária que ouve uma reunião e registra as falas de forma escrita em uma ata. Ou ainda uma pessoa contando a outra um texto que leu. Observe assim que a retextualização pode ser do oral para o grafado, do grafado para o oral ou ainda do oral para o oral.
Lembre que retextualizar não é o mesmo que transcrever ou reestruturar, é mais do que isso, o redator deve estar ciente que terá que tranformar um texto oral em escrito ou vice-versa, além disso, manter-se atento as características específicas do texto final a que se pretende.
36
ATIVIDADES PARA O ALUNO – RETEXTUALIZANDO A ENTREVISTA
TRANSFORMANDO A ENTREVISTA
Você leu e estudou entrevistas escritas. Em seguida, você realizou sua
própria entrevista oralmente (gravou uma conversa). Depois passou para o
grafado as falas da entrevista oral e observou as diferenças entre um texto
produzido oralmente (para ser ouvido) e outro produzido de forma escrita (para
ser lido). Agora é o momento de transformar seu texto oral, ou seja, sua
transcrição, em um texto com marcas próprias da entrevista escrita.
Vamos brincar de jornalista?
De acordo com as formulações de Luiz Antônio Marcuschi, estão
apresentadas abaixo a releitura adaptada de alguns passos que você poderá
seguir para modificar seu texto. Mas lembre: não se trata de uma receita a ser
seguida passo a passo, são apenas operações que você deverá observar no
seu texto.
Eliminação das marcas próprias da oralidade e da transcrição:
a) hesitações (por exemplo: ah..., eh..., e...e, o...o, de..., do..., da...,
dos...),
b) elementos típicos da fala (por exemplo: “sim”, “claro”, “certo”, “viu”,
“entendeu”, “né”, “sabe”, “que acha?”, “bem”, “hã”, principalmente
quando aparecem no interior das falas),
c) partes de palavras iniciadas e não concluídas, que muitas vezes
são transcritas como hesitações,
d) repetições desnecessárias seguidas de palavras e partes duvidosas
são aqui eliminadas.
Professor (a), aqui iremos trabalhar com a retextualização sem mudança de gênero, ou seja, mudaremos a entrevista oral para entrevista escrita, porque essa atividade facilitará a retextualização futura em memórias literárias, pois na entrevista manteremos as falas (as “vozes” do entrevistador e do entrevistado) em perguntas e respostas. Mas observe: retextualizar não é transcrever, pois na transcrição só registramos os turnos da fala sem interferências na escrita; também não é reestruturação do texto, pois não vamos “arrumar” o texto de acordo com normas da língua; retextualizar é transformar um texto em outro texto, no caso, um texto com características da entrevista oral em um texto com características da entrevista escrita.
37
Permanência ou acréscimo das expressões que ocorreram no
ato da entrevista oral para clareza do leitor dos aspectos
constituídos face a face (por exemplo: ((falando em voz alta)),
((balançando as pernas)), ((batendo com a mão na mesa)),
((fechando os olhos)), e assim por diante).
Introdução da pontuação com base na entoação das falas na
gravação.
(Tente colocar vírgulas e os pontos que julgar importantes para
compreensão do texto pelo leitor).
Retirada de repetições desnecessariamente reduplicadas, pois
na fala muitas vezes repetimos palavras para retomar ou dar
continuidade a um assunto (por exemplo: Naquele tempo eu
pensava que a história era assim, eu pensava que todos eram
felizes, eu pensava como criança).
Introdução da paragrafação e pontuação detalhada sem
modificação da ordem do texto.
Introdução de palavras de preenchimentos das falas, ou seja,
na fala pode aparecer um “ele” ou um “lá” que na escrita deve
ser substituído por um nome e um local, para assim evitar duplo
sentido na leitura ou má compreensão do que foi dito.
Reconstrução do texto com normas da língua culta escrita.
Esta operação envolve ações bastante diversificadas, pois aqui
deverá aproximar o texto das normas da escrita, como:
concordâncias, reordenação das frases e sequência das falas.
Seleção de novas palavras. Como tomamos por base um texto
oral, as palavras poderão agora ser substituídas visando a uma
maior formalidade. Ou seja, na escrita podemos “escolher” as
palavras que melhor expressem as ideias da entrevista,
deixando-a mais formal.
Agora, em casa, procure, a partir da sua entrevista oral, chegar a
um texto escrito que possa ser publicado em um jornal escolar.
Professor (a), para toda atividade de escrita é preciso oportunizar a reescrita, dessa forma, estabeleça um momento em que o aluno possa ser orientado e acompanhado caso ele sinta essa necessidade.
38
MÓDULO VIII – TRANSFORMANDO A ENTREVISTA EM UMA ÚNICA VOZ
ORIENTAÇÕES AOS PROFESSORES
Tema: Retextualização com mudança de gênero. Justificativa: Modificar a entrevista escrita, transformando-a em
sequência narrativa. Para falarmos em um novo gênero ficará, ainda, complexo para o aluno, por isso iniciaremos com aspectos estruturais: eliminando as falas e organizando o texto em parágrafos; e em seguida aspectos da narração: narrador em primeira pessoa e verbos no pretérito.
Objetivos:
Desenvolver práticas direcionadas de retextualização;
Verificar os processos de mudanças ocorridos na entrevista escrita para a estrutura narrativa.
Recursos: Esta atividade necessitará das retextualizações das
entrevistas realizadas pelos alunos, do uso de dicionário, como também, de giz e quadro-negro.
Desenvolvimento: Esta é uma atividade bastante desafiadora e
árdua do processo. O professor deverá mediar e coordenar a retextualização de um texto coletivo, dando oportunidade para os alunos manifestarem seus conhecimentos e dúvidas. O professor organiza as falas, faz comentários e observações às participações e vai no quadro-negro transformando as falas da entrevista escrita em uma sequência ordenada em parágrafos.
Tempo: 150 minutos (duas a três horas-aulas) em sala, mas o aluno
gastará mais tempo retextualizando o texto em casa. Avaliação: Observação e comparação, por parte do professor, do
texto entrevista para o texto em parágrafos. Comentário: Nesta atividade, não é tão importante a preocupação
com os verbos ou pronomes, o mais importante aqui é que o aluno seja capaz de “misturar” as falas do entrevistador às do entrevistado, ou seja, a retirada dos turnos da fala, transformando o texto em narrativo.
39
ATIVIDADES PARA O ALUNO – TRANSFORMANDO A ENTREVISTA EM UMA ÚNICA VOZ
Você realizou várias mudanças textuais desde a coleta oral das
informações até a sua entrevista escrita. A proposta agora é transformar a
entrevista em uma única voz, ou seja, não teremos mais as “vozes” do
entrevistador e do entrevistado, no final será uma única voz contando uma
história.
Vamos trabalhar? A seguir, alguns procedimentos que poderão ser
observados:
Eliminação total das perguntas. Neste caso, as perguntas e
respostas deverão estar “misturadas” em uma única voz, ou seja,
tudo o que for necessário para sequência e compreensão do texto
deverá ser mantido ou adequado, transformando a conversa em
história.
Mudança de pronomes. Na entrevista o entrevistador pergunta
para “você ou senhor (a)” e nas respostas o “eu” responde. Agora,
por ser uma história acontecida com o “eu”, o narrador deverá estar
sempre em primeira pessoa (eu ou nós, dependendo do caso), pois
a primeira pessoa do plural (nós) marca o pertencer a um grupo ou a
comunidade e a primeira pessoa do singular (eu) traz a voz e marca
a história pessoal do entrevistado. Lembre: agora a história é sua,
como se tudo que foi contado fosse uma experiência sua, acontecida
com o “eu”. Você deverá se colocar no lugar do entrevistado.
Transformação dos verbos. Como em uma história alguém conta
algo que já aconteceu, os verbos deverão estar todos no passado.
Agora, em casa, procure, a partir da sua entrevista escrita,
chegar a um texto narrativo que possa ser publicado em um livro
de memórias.
40
MÓDULO IX – UM NOVO GÊNERO: MEMÓRIAS LITERÁRIAS
ORIENTAÇÕES AOS PROFESSORES
Tema: Da entrevista para retextualização escrita no gênero memórias literárias. Justificativa: Nossas atividades partiram das práticas orais para a modalidade
escrita. Neste módulo iremos finalmente realizar a retextualização do gênero entrevista “texto falado base” ao gênero memórias literárias “texto escrito final”.
Objetivos:
Propiciar práticas de oralidade e escrita reconhecendo suas particularidades, diversidades múltiplas e seus valores sociais;
Reconhecer o gênero memórias literárias;
Verificar os recursos expressivos utilizados no processo comunicativo de memórias literárias;
Verificar os processos de mudanças ocorridos na entrevista oral (interação face a face) para a retextualização no gênero memórias literárias;
Observar mudanças ocorridas textual e discursivamente nas retextualizações produzidas pelos alunos.
Recursos: Os textos e atividades poderão ser reproduzidos ou passados no
quadro-negro. Desenvolvimento: As atividades deverão ser orientadas e direcionadas por
você, professor. Os textos deverão ser lidos por você, para serem ouvidos e apreciados pelos alunos antes da leitura individual. Após a “descoberta” do novo gênero os alunos deverão realizar as atividades de compreensão, e a produção da retextualização final.
Tempo: 150 minutos (três horas-aulas). Avaliação: Observação, por parte do professor, do envolvimento e participação
dos alunos nas atividades orais e escritas. Leitura das retextualizações finais. Breve definição O gênero memórias literárias é um meio de resgatar as lembranças das
pessoas mais velhas articulando o passado ao presente – a história de cada indivíduo traz em si a memória do grupo social a que pertenceu. Ao escreverem memórias literárias, os escritores devem assumir a voz do depoimento, ou seja, o texto deve ser em primeira pessoa, como se a história fosse sua, deve também recorrer aos verbos no pretérito perfeito ou imperfeito, algumas palavras e expressões de época, e evocar emoções, sentimentos e sensações ao traçarem uma comparação entre o tempo antigo e o atual.
41
ATIVIDADES PARA O ALUNO – UM NOVO GÊNERO: MEMÓRIAS LITERÁRIAS
DESCOBRINDO O GÊNERO
Preste muita atenção à leitura dos textos a seguir para podermos
conversar sobre eles.
TEXTO I
Como num filme
Antonio Gil Neto
Não foi difícil cair nas graças de Seu Amalfi. Direto, sincero, amoroso,
foi logo falando de sua vida, com um jeito meio solto, especial, como quem vai
montando uma sequência de cenas em nosso pensamento. De início, estáticas
e em preto-e-branco, e, aos poucos, em impulsos coloridos. Depois de uma ou
outra pergunta, quase nem precisei falar mais nada. Apenas ouvir, entregar-se
à brincadeira da memória era o que bastava.
Ele foi contando, contando e imagens foram se instalando em mim
como quem entra em um filme.
“Esse cheirinho de café pendurado no vento leve conduz a meu tempo
Professor (a), o esperado é que neste momento o aluno já possua um amadurecimento maior com relação ao estudo de oralidade, escrita e gêneros textuais, dessa forma haverá o trabalho com o gênero em todos os aspectos, mas de forma mais sintetizada. As atividades terão a seguinte ordem: descoberta do gênero; discursivas (de leitura e compreensão do texto); linguística discursiva (da linguagem empregada no texto) e finalmente de produção (fixação e verificação dos conteúdos estudados).
42
mais antigo.
Pensei ouvir bem baixinho um fiapo de uma canção napolitana e tudo
veio à tona. Logo lembrei-me de minha mãe torrando café, fazendo o pão, a
macarronada. Bem que procuro não pensar muito para não marejar os olhos.
O começo de tudo foi na Itália. De lá vieram meus pais. Fugidos do
horror da guerra, acabaram por fazer a vida aqui em São Paulo, onde nasci.
É a partir dessas lembranças que minha cabeça parece uma máquina
de fabricar filmes.
Recordo muita coisa. Não só do que minha mãe contava, mais ainda
das que eu vivi.
Lá pelos idos de 1929, com cerca de sete anos de idade, era menino
feito. Minha vida era um misto de cowboy com Tarzan. Onde hoje fica o
Shopping Center Norte era só mato, água e muita, muita terra. Era lá meu
paraíso. Meu e dos meus amigos: o Vitorino, o Zacarias...Vivia para jogar
futebol, nadar, pescar e caçar passarinhos.
Uma brincadeira de que gostávamos muito era „chocar o trem‟. Sabe o
que é isso?
Era subir rapidinho no trem em movimento. Ele andava bem devagar, é
claro, levando pedras da Serra da Cantareira para construir a cidade. Com o
tempo seu trajeto se encheu de bairros: Tucuruvi, Jaçanã, Vila Mazzei, Água
Fria e mais o que há agora. Lembra aquela música do Adoniran? Tem a ver
com esse trem...
Da escola não gostava tanto. Não era um bom aluno, mas era esperto,
vivido. Isso sim. O que acabava ajudando em muitas situações... Em um abrir e
fechar dos olhos da memória lá estão a escola, o corre-corre das crianças e
todos eles, intactos e em plena labuta do dia: Dona Albertina, Dona Isabel, Seu
Luís, os professores. Ainda o Seu Peter, o diretor, e Seu Luigi, o servente.
Quantas vezes em meio à cópia da lousa, que seguia plena em silêncio e
dever, disparava um piscar enviesado para meus companheiros de time.
Quebrávamos as pontas dos lápis e com o descaramento e a falsa pretensão
de deixarmos todos eles apontadinhos para a letra ficar bem desenhada e bem
bonita nas nossas brochuras, lá íamos nós, atrás da porta e com a gilete em
punho, armar em cochichos a melhor estratégia para o próximo jogo. Tudo
lorota!
43
Meio moleque, meio mocinho, sempre dava algum jeito de arranjar um
dinheirinho para ir à Voluntários, uma das poucas ruas calçadas do bairro, nas
matinês do cine Orion.
Meu figurino era feito por minha mãe: uma camisa clara, bem limpa e
passadinha com ferro de brasa. Com meus colegas ia ver o que estava em
cartaz. Bangue-bangue era o melhor. Lembro-me do Buck Jones, do Rin Tin
Tin, do Roy Rogers e mais uma porção daqueles bambas do momento.
Também me recordo do cine Vogue e de Seu Carvalho, seu dono e operador,
que, ao constatar a enorme fila na bilheteria, dizia para nós, garotos, com certo
orgulho solene, só haver lugares em pé. Entrávamos mesmo assim. Depois de
alguns minutos já tínhamos nossos lugares escolhidos e ... sentados. No
escurinho do filme começado, queimávamos um barbante mal cheiroso que
fazia todo mundo desaparecer de nosso lugar preferido. Comédia pura, não é?
Com o passar dos anos, veio o tempo do trabalho para valer. De
aprendiz de químico tornei-me o titular na fábrica de perfumes dos libaneses.
Fiz de tudo lá: brilhantina, rouge, pó-de-arroz, produtos muito usados na época.
Veio também o tempo do namoro sério e, com ele, o cinema com sorvete a
dois. Minha vida era um filme de aventuras, mais que outra coisa. Tive de
vencer muitos obstáculos. E foi um bom tempo assim.
Construir uma família não é fácil, mas, como se sabe, o amor sempre
vence.
Como nos filmes de amor, acabei me casando em technicolor e em
cinemascope, como um galã, com minha Mercedes, mais bonita que Greta
Garbo ou qualquer outra estrela de Hollywood. Com ela comecei a frequentar o
centro de São Paulo. Íamos de bonde elétrico, descíamos na Praça do Correio
e andávamos de braços dados pelos pontos mais elegantes da cidade.
Misturados aos carros que pertenciam a gente muito rica, estavam os
cabriolés, uma espécie de carroça puxada a cavalos... Na Avenida São João
estavam os melhores cinemas: o Marabá, o Olido, com seu camarotes e frisas.
Quantos filmes! „O Canal de Suez‟, „O Morro dos Ventos Uivantes‟, „E o Vento
Levou!‟. Vejo-nos direitinho, como em um musical indo para cidade de bonde.
O condutor, o Delmiro mais parecia um bailarino, um Fred Astaire tropical, por
conta dos trejeitos, malabarismos de corpo que fazia ao parar, descer,
cumprimentar, receber as pessoas, acomodá-las e, enfim, conduzir o bonde.
44
Era mais que um motorneiro. Esse era um show à parte!
Se bem me lembro, o cinema me acompanhou a vida inteira. Isso
porque sou do tempo do cinema mudo, veja você, onde os violinos e o piano
faziam nossa imaginação ouvir as vozes e sentir as emoções dos artistas que
passavam rápidos nas telas. Depois veio o cinema falado e para nós isso era a
maior e a melhor invenção. Olhando para o que passou, constato que fui um
bom frequentador das telas. Com chuva ou com sol!
Até nossa primeira filha, com poucos meses de idade, não impedia
nossa diversão preferida! Era nossa figurante proibida. Íamos ao Bom Retiro,
ao cine Lux. Lá eu conhecia todo mundo e sentávamos com a menina nos
braços bem na última fila, caso precisássemos sair às pressas para acalmar
um choro repentino. Assistimos a tantas histórias e nossa menina dormia
profundamente. Quase sempre.
Talvez por conta de trabalho, das exigências da vida, dos cuidados com
a família e mesmo com a facilidade da televisão, acabei me dando conta de
que fiquei muito tempo sem ir ao cinema. Engraçado, agora que estou
praticamente sozinho, em consequência das perdas que a vida nos traz, o
cinema volta com toda a força. Não perco quase nada do que passa nos
shoppings perto de casa. Tudo é mais confortável, imenso. Mas tudo é mais
barulhento, apressado e real demais. Não sobra muito tempo para sonharmos.
Mesmo assim, quero ir a outros cinemas desta cidade que cresceu e
cresce tanto. O jeito é me armar de um celular para que minha filha não fique
tão preocupada comigo por causa dessas minhas aventuras cinematográficas.”
Quando releio o que está escrito, não sei onde está o que o Seu Amalfi
me contou e onde está o que projetei de sua vida em mim. Engraçado mesmo!
Perdi-me nos labirintos da imaginação, onde o presente e o passado se
fundem em um só desenho. A memória brinca com o tempo, como em um
filme, como uma criança feliz.
Antonio Gil Neto, escritor paulista.
Texto escrito com base no depoimento do sr. Amalfi Mansutti, 82 anos.
45
TEXTO II
Uma definitiva presença
Nas lembranças do premiado escritor Bartolomeu Campos de Queirós,
ficou marcada a figura da professora que lia história para ele e seus colegas
numa escola do interior de Minas Gerais.
Bartolomeu Campos de Queirós
Ela entrava na escola abraçando os nossos cadernos “Avante”. (A sala
tinha cheiro de roupa lavada. Tudo limpo como água de mina e o mundo ficava
mudo para escutá-la. Sobre a sua mesa pousava uma jarra sempre com flores
do mato que os alunos colhiam pelo caminho.) Ao abraçar os cadernos era
como se a professora me apertasse sobre seu coração, me perdoando, com
antecedência, os meus erros e acertos. Eu ainda não lia ou escrevia de
“carreirinha”. Mas o seu olhar foi o meu primeiro livro! Ela me acariciava com
seus olhos e derramava sobre mim uma luz mansa de luar, capaz de alvejar
meu desejo obscuro de aprender. Seus olhos me permitiam a liberdade. Sua
presença inteira me trazia uma paz azul e uma certeza de que o futuro era
possível.
É que Dona Maria Campos levava nossas composições, ditados,
cópias, para corrigir em casa. Eu morria de inveja do meu caderno por saber
que ele conhecia onde a professora vivia. Seu lápis, metade azul e metade
vermelho, bordava em nossos trabalhos as notas que iam de 0 a 10. E trazia
sempre uma observação: “muito bom”, “parabéns”, “ótimo”, “mais atenção”, “é
preciso estudar mais”. Eu recebia meu caderno com o coração descontrolado.
Parecia que uma borboleta tinha vindo morar em meu peito. Tinha medo de
não corresponder aos seus ensinamentos. Não queria que a professora
deixasse de me amar.
E como Dona Maria Campos sabia! Para tudo ela tinha uma resposta
ou outra pergunta na ponta da língua. Dava aulas como se estivesse recitando
46
uma poesia feita de água, névoa ou nuvem. Eu achava minha professora mais
bonita que os poemas. E não era difícil decorar os versos e repeti-los depois,
no escuro do meu quarto. Guardava tudo de cor sem esforço.
E quando ela pegava no giz branco e passava o ponto, no quadro-
negro, eu mordia a ponta da língua esforçando-me para imitar a sua escrita.
Ela fazia as letras tão bonitas que não me bastava apenas copiar: eu desejava
aprender também a sua letra. E como me emocionavam aqueles “as”
redondinhos, aqueles “emes” como cobrinhas, aqueles “eles” como orelha de
coelho espantado.
Em meus momentos de calma eu enchia páginas e outras páginas com
seu nome, o nome de minha mãe, de meu pai, de minha escola. Era minha
maneira de ter sempre a Dona Maria Campos ao meu lado.
E quando escolhido para passar o ditado no quadro, para os colegas
corrigirem o deles, mais eu caprichava na letra.
O difícil era o quadro não ter linha, pois seguir em linha reta, sem
estrada, dependia também do olhar. Mas para alegrar a professora toda
dificuldade era pouca. Se ela me elogiava eu baixava a cabeça. Por fora muita
vergonha e por dentro um herói.
Nas horas de leitura em voz alta eu não media esforços. Cada menino
lia um pedaço. E a professora escolhia alternado. Ninguém sabia sua hora. Eu
acompanhava as linhas do livro com o dedo. Cheio de medo e desejo esperava
minha vez. Lia devagar cada palavra, obedecendo à pontuação, controlando o
fôlego. Dona Maria Campos dizia que nas vírgulas a gente respirava e no ponto
final dava uma paradinha.
Mas o melhor era quando ela nos mandava guardar os objetos. A gente
fechava o caderno, guardava o lápis e a borracha dentro do estojo e esperava
com os braços cruzados sobre a carteira. Assim, ela continuava mais um
pedaço da história. Parecia com a Sant‟Ana da capela com o livro no colo. Eu
não acreditava que podia existir outro céu além da nossa sala de aula.
Ficava intrigado como num livro tão pequeno cabia tanta história, tanta
viagem, tanto encanto. O mundo ficava maior e minha vontade era não morrer
nunca para conhecer o mundo inteiro e saber muito, como a professora sabia.
O livro me abria caminhos, me ensinava a escolher o destino.
Eu pedia o livro emprestado, depois que Dona Maria terminava. Levava
47
para casa e brincava de escola com meus irmãos menores. Assentava com o
livro, com pose de professor, e lia para eles. Era difícil guardar tanta beleza só
para mim. Não sei se gostavam da leitura ou se imaginavam, um dia, serem
alunos da minha escola.
Meu pai, assentado na escada de casa, prestava atenção na minha
leitura, de maneira despistada. De noite, antes de dormir, curioso, ele queria
que eu adiantasse um pouco mais da história. Mas eu não contava. Sabia que
imaginar fazia parte da leitura.
ATIVIDADE DO ALUNO
1- Conversando sobre os textos:
a. Normalmente, as pessoas gostam de contar e ouvir histórias?
b. Podemos dizer que os textos que acabamos de ver são histórias?
Explique.
c. Onde encontramos esse tipo de texto escrito?
d. E oralmente?
e. Quem escreve esse tipo de texto? E para quem é escrito?
f. Com que finalidade esse tipo de texto é produzido?
g. Como os textos estão organizados?
h. A linguagem dos dois textos é espontânea?
i. Vocês acham que a linguagem dos textos é parecida com a
linguagem do cotidiano? Comente.
j. Quais são as principais características desses textos? E que tipo
de textos são esses?
k. No texto I, uma pessoa escreve a história de outra pessoa. Quem
são essas pessoas?
l. Vamos retornar aos textos para lermos e conhecermos melhor as
Professor (a), este momento está destinado ao reconhecimento do gênero memórias literárias, por isso incentive seus alunos a retornarem aos textos deste módulo sempre que considerarem necessário e os conduza a “descobrirem” esse gênero no decorrer das atividades.
48
duas histórias e um único gênero.
2- Refazendo o caminho.
No início da nossa sequência de atividades, no módulo II, conversamos
sobre o que você conhecia ou imaginava ser o gênero memórias literárias,
então vimos que é uma história contada pelas lembranças de alguém, por isso,
a verdade é sempre uma versão do real. Depois, a professora fez a leitura do
texto II deste módulo, e assim você escreveu o seu primeiro texto dos nossos
estudos, ainda no módulo II. Agora, retornando aos textos I e II deste módulo,
responda a atividade a seguir colocando V quando as informações sobre o
gênero memórias literárias forem verdadeiras e F quando as informações
sobre o gênero forem falsas.
( ) O texto de memórias literárias é uma história contada por alguém e
depois registrada por escrito, por isso o escritor deve registrar com
as mesmas palavras e na mesma ordem que o depoente contou.
( ) Alguns elementos normalmente presentes nos textos de memórias
literárias são as comparações entre passado e presente, a
presença de palavras e expressões que transportam o leitor para
uma certa época do passado.
( ) Para escrever um texto de memórias literárias o escritor deverá
identificar uma pessoa que possa realmente contribuir com suas
lembranças para elaboração do texto, pois jamais o autor poderá
escrever sobre suas próprias lembranças.
( ) O gênero memórias literárias é composto por uma história contada
em primeira pessoa (eu: singular; ou nós:plural).
( ) A primeira pessoa do singular (eu) traz a voz e marca a história
pessoal do entrevistado.
( ) A primeira pessoa do plural (nós) relata o sentimento de
pertencimento à comunidade das experiências relatadas.
( ) Um texto de memórias literárias não precisa ter título.
( ) O texto de memórias literárias traz expressões e verbos no
pretérito imperfeito ou perfeito, pois marcam o tempo passado,
tempo de relembrar.
49
3- Mostre que você entendeu os assuntos dos textos e responda
as questões abaixo:
a. Com relação ao assunto dos dois textos, o que há em comum entre
eles? Localize e escreva abaixo, ao menos, três características
comuns nos dois textos.
b. Nos dois textos, os personagens contam sobre suas memórias do
tempo escolar. Escreva um parágrafo comparativo com as
semelhanças e as diferenças desse período na vida dos dois
personagens.
c. “Recordo muita coisa. Não só do que minha mãe contava, mais
ainda das que eu vivi”. De acordo com essas frases do texto e sua
experiência de vida, é possível afirmarmos que nossa memória
mistura fatos vividos com fatos ouvidos? Justifique.
d. O personagem das memórias do texto II é um apaixonado por
cinema? Comente sua resposta.
e. Qual dos dois textos nos deixa claro, em sua estrutura e linguagem,
que foi produzido a partir de uma entrevista ou conversa? Justifique
sua resposta.
f. Retorne aos textos I e II, transcreva os títulos abaixo e procure
explicá-los de forma a relacioná-los com suas histórias.
Texto I :
TextoII:
g. Em sua opinião, qual dos dois textos é mais interessante? Comente.
4- Estudo da linguagem
O texto II, deste módulo, já tinha sido lido pela professora. Assim pudemos
perceber que o gênero memórias literárias é um tipo de texto narrativo. Diante
das informações já estudadas, retorne ao texto II e localize três ocorrências de
Professor (a), as atividades a seguir estão direcionadas a compreensão discursiva dos textos, por isso é interessante que sejam respondidas individualmente ou em duplas e por escrito, e somente após a leitura dos dois textos oralmente para a turma.
Professor (a): As atividades que seguem são práticas linguístico-discursivas (estudo da linguagem empregada no texto).
50
cada uma das marcas próprias desse gênero. Em seguida transcreva-as
abaixo:
a) Palavras que marcam a primeira pessoa (eu: singular ou nós:
plural)=
b) Verbos ou expressões que marcam o tempo passado (tempo de
relembrar)=
c) Linguagem literária (figurativa, com emoções e sentimentos)=
5- No texto II, qual foi o recurso utilizado pelo escritor Gil Neto, para
separar sua fala das memórias do sr. Amalfi?
6- O fato no tempo
O autor de memórias faz uso dos verbos no pretérito perfeito e
imperfeito. O pretérito perfeito indica uma ação pontual, completamente
terminada no passado (marca ações que se destacam para quem relembra:
“Ela saiu sem se despedir de mim”). E o pretérito imperfeito indica uma ação
que era habitual no tempo passado, um fato cotidiano que se repete muitas
vezes (marca o tempo das memórias. A pessoa que relembra entra num outro
mundo e, muitas vezes, consegue levar o ouvinte/leitor com ela...).
As frases abaixo foram retiradas dos textos I e II. Escreva se os verbos
destacados estão no pretérito perfeito ou no pretérito imperfeito.
a. Mas seu olhar foi o meu primeiro livro.
b. O livro me abria caminhos, me ensinava a escolher o destino.
Professor (a): lembre seus alunos que no gênero “memórias”, além dos tempos verbais, o autor utiliza palavras e expressões como recurso para marcar o tempo passado, faz comparações entre ontem e hoje, e usa expressões antiquadas. Exemplos: “naqueles tempos”; “era assim”; “bambas”; “brilhantina”; “Greta Garbo”; “chocar o trem”; “quando”; “decorar versos”;...
51
c. Não era um bom aluno, mas era esperto, vivido.
d. (...) o cinema me acompanhou a vida inteira.
e. Seus olhos me permitiam a liberdade.
7- Produção
Você já deve ter percebido que assim como um escritor de memórias
literárias, você também partiu de um texto oral (a entrevista), selecionou e
organizou as informações relevantes coletadas e escreveu seu texto. Agora,
finalmente, você deverá retextualizar sua entrevista com mudança de gênero,
ou seja, transformar seu texto, o mais aproximado possível, em um texto com
as características próprias do gênero memórias literárias.
Para sua história obedecer ao gênero memórias literárias, observe as
situações indicadas abaixo:
a) O acontecimento ou a reunião de lembranças do passado escolar já
foram coletados com a entrevista. Ou seja, aconteceu na escola,
em uma aula, ou em uma série específica do entrevistado. Agora
você deverá escolher a forma de “como irá apresentá-lo”. Caso
necessário procure o entrevistado para esclarecer dúvidas ou
complementar informações.
b) Você será o autor (escritor) e narrador do seu texto, ou seja, conte a
história como se tivesse acontecido com você (use o pronome eu
ou nós).
c) Seu texto será uma história de ficção, ou seja, de invenção da
realidade, por isso ora você poderá recorrer as suas gravações, ora
enriquecer as lembranças com palavras ou expressões, ou seja,
você não precisa se preocupar em ser totalmente fiel a gravação.
d) Fique atento ao uso dos tempos verbais (pretérito perfeito e
imperfeito);
Professor (a): Chegou o momento da produção final (fixação e verificação dos conteúdos estudados). Incentive seus alunos a revisarem seus textos com carinho e a fazerem quantas inferências forem necessárias. Lembre que você é o mediador das atividades. Bom trabalho!
52
e) Sua história será escrita a partir do depoimento de alguém,
portanto, após concluído seu texto, leve-o para o seu entrevistado
reler aquilo que falou e ver se está de acordo.
f) A história que você irá escrever será lida pelos colegas do grupo e
pela professora, para podermos assim organizar os textos em uma
coletânea que ficará na biblioteca do colégio. ficará na biblioteca do
colégio.
Bom trabalho!
Professor (a): Para considerarmos que nossos trabalhos estão concluídos será importante, após o recolhimento dos textos, uma nova conversa sobre a importância das modalidades oral e escrita. Procure deixar clara a complexidade da estrutura e composição das duas modalidades. Este é também o momento oportuno para retomar uma observação aos textos desde a conversa inicial até a última retextualização, solicitando aos alunos que manifestem suas concepções e, para finalizar, lance o seguinte questionamento: - Podemos afirmar que a oralidade e a escrita são igualmente importantes para o processo de interação, e por isso devemos estudar as duas formas para aprendermos o que constitui diferentes gêneros orais e escritos para que possamos usá-los com propriedade no nosso cotidiano?
53
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Imagem capturada da internet <http://www.seeklogo.com/images/U/Uem-logo-AED026A367-seeklogo.com.gif>, acesso 03 set.2010.
Imagem capturada da internet <http://www.app.com.br/portalapp/uploads/img_noticias/logo_pde.jpg>, acesso em 03 set. 2010
CORREIO ELETRÔNICO BELINTANE, Claudemir. Ensinado a leitura a partir de diagnósticos orais. Revista Educação, número 146. Disponível em < WWW.redacaocriativa.com.br/entrevista-oralidade-incentiva-a-escrita-e-redacao.html> acesso 06 julho 2011
CAMARGO, Flávio Pereira. Marcel Proust e o triunfo da memória, 2009 (Doutorando Estudos Literários- UFG e professor Teoria Literária Brasileira – UEG). Disponível em < WWW.ucm.es/info/especulo/numero42/mproustm.html> , acesso em 08 abril.2011
SANTOS, Janete S. dos. Letramento, variação Linguística e Ensino de Português. Revista Linguagem em (Dis)curso, volume5, número1, 2005. Disponível em < http://ww3.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/0501/06.htm> acesso em 14abril.2011
SE BEM ME LEMBRO...: memórias – caderno do professor da Olimpíada de Língua Portuguesa: Escrevendo o futuro, 2010. Disponível em < http://escrevendo.cenpec.org.br/ecf/index.php?option=com_content&task=view&id=16818> , acesso em 04 abril.2011
VASCONCELOS, José Paulo. Estrutura da entrevista, 2007. Disponível em < http://jpvasc.no.sapo.pt/port-10/entrevista.pdf> acesso em 06 julho 2011
WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Lingüística Aplicada. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org./wiki/LingÃ1/4Ãstica_textual> Acesso em: 25/08/2010.
BIBLIOGRÁFICAS BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico: o que é, como se faz. 52.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2009.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
54
DATT-FELIPE. T. da C. Papo – Entrevista O que um turista cego vê. Texto retirado da Revista Superinteressante, edição 292, p.30, jun/2011.
KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura: teoria e prática. 10.ed. Campinas: Pontes, 2004.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2010.
_________.Produção Textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.
NA PONTA DO LÁPIS: edição especial da revista da Olimpíada de Língua Portuguesa - Escrevendo o futuro. São Paulo: AGWM. Iniciativa: MEC, Fundação Itaú Social e CENPEC, ano V – n.11, agosto de 2009. P22-39.
Parâmetros Curriculares Nacionais – Primeiro e Segundo Ciclos do Ensino Fundamental: Língua Portuguesa. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, MEC/SEF,1997.
Parâmetros Curriculares Nacionais – Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental: Língua Portuguesa. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, MEC/SEF,1998.
PERES, Aparecida de Fátima. Conceitos introdutórios em Linguística. In: Formação de Professores EAD n.18: Concepções de Linguagem e o Ensino de Língua Portuguesa. Maringá, Pr: UEM, 2005,pp.11-24.
SE BEM ME LEMBRO...: Memórias – caderno do Kit Itaú de Criação de Textos. São Paulo: Peirópolis, 2004.
SE BEM ME LEMBRO...: Memórias – caderno do professor da Olimpíada de Língua Portuguesa – Escrevendo o futuro. São Paulo: AGWM. Iniciativa: MEC, Fundação Itaú Social e CENPEC, 2008.
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED – PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná – Língua Portuguesa para o Ensino Médio. – versão preliminar. Curitiba, 2006, pp.07-20.
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED – PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná –
55
Língua Portuguesa .Paraná, 2008, pp.60-62. pp.77-80. SZKLARZ-EDUARDO. T. da C. Papo – Entrevista O homem que ouve tudo. Texto retirado da Revista Superinteressante, edição 272, p.30, Dez/2009.
VIEIRA-WILLIAN. T. da C. Papo – Entrevista Ela voltará à selva, apesar do jacaré. Texto retirado da Revista Superinteressante, edição 284, p.36, Nov/2010.
56
ANEXO I
TEXTO
Uma definitiva presença
Nas lembranças do premiado escritor Bartolomeu Campos de Queirós,
ficou marcada a figura da professora que lia história para ele e seus colegas
numa escola do interior de Minas Gerais.
______________________________________
Bartolomeu Campos de Queirós
Ela entrava na escola abraçando os nossos cadernos “Avante”. (A sala
tinha cheiro de roupa lavada. Tudo limpo como água de mina e o mundo ficava
mudo para escutá-la. Sobre a sua mesa pousava uma jarra sempre com flores
do mato que os alunos colhiam pelo caminho.) Ao abraçar os cadernos era
como se a professora me apertasse sobre seu coração, me perdoando, com
antecedência, os meus erros e acertos. Eu ainda não lia ou escrevia de
“carreirinha”. Mas o seu olhar foi o meu primeiro livro! Ela me acariciava com
seus olhos e derramava sobre mim uma luz mansa de luar, capaz de alvejar
meu desejo obscuro de aprender. Seus olhos me permitiam a liberdade. Sua
presença inteira me trazia uma paz azul e uma certeza de que o futuro era
possível.
É que Dona Maria Campos levava nossas composições, ditados,
cópias, para corrigir em casa. Eu morria de inveja do meu caderno por saber
que ele conhecia onde a professora vivia. Seu lápis, metade azul e metade
vermelho, bordava em nossos trabalhos as notas que iam de 0 a 10. E trazia
sempre uma observação: “muito bom”, “parabéns”, “ótimo”, “mais atenção”, “é
preciso estudar mais”. Eu recebia meu caderno com o coração descontrolado.
Parecia que uma borboleta tinha vindo morar em meu peito. Tinha medo de
não corresponder aos seus ensinamentos. Não queria que a professora
deixasse de me amar.
E como Dona Maria Campos sabia! Para tudo ela tinha uma resposta
ou outra pergunta na ponta da língua. Dava aulas como se estivesse recitando
uma poesia feita de água, névoa ou nuvem. Eu achava minha professora mais
bonita que os poemas. E não era difícil decorar os versos e repeti-los depois,
no escuro do meu quarto. Guardava tudo de cor sem esforço.
57
E quando ela pegava no giz branco e passava o ponto, no quadro-
negro, eu mordia a ponta da língua esforçando-me para imitar a sua escrita.
Ela fazia as letras tão bonitas que não me bastava apenas copiar: eu desejava
aprender também a sua letra. E como me emocionavam aqueles “as”
redondinhos, aqueles “emes” como cobrinhas, aqueles “eles” como orelha de
coelho espantado.
Em meus momentos de calma eu enchia páginas e outras páginas com
seu nome, o nome de minha mãe, de meu pai, de minha escola. Era minha
maneira de ter sempre a Dona Maria Campos ao meu lado.
E quando escolhido para passar o ditado no quadro, para os colegas
corrigirem o deles, mais eu caprichava na letra.
O difícil era o quadro não ter linha, pois seguir em linha reta, sem
estrada, dependia também do olhar. Mas para alegrar a professora toda
dificuldade era pouca. Se ela me elogiava eu baixava a cabeça. Por fora muita
vergonha e por dentro um herói.
Nas horas de leitura em voz alta eu não media esforços. Cada menino
lia um pedaço. E a professora escolhia alternado. Ninguém sabia sua hora. Eu
acompanhava as linhas do livro com o dedo. Cheio de medo e desejo esperava
minha vez. Lia devagar cada palavra, obedecendo à pontuação, controlando o
fôlego. Dona Maria Campos dizia que nas vírgulas a gente respirava e no ponto
final dava uma paradinha.
Mas o melhor era quando ela nos mandava guardar os objetos. A gente
fechava o caderno, guardava o lápis e a borracha dentro do estojo e esperava
com os braços cruzados sobre a carteira. Assim, ela continuava mais um
pedaço da história. Parecia com a Sant‟Ana da capela com o livro no colo. Eu
não acreditava que podia existir outro céu além da nossa sala de aula.
Ficava intrigado como num livro tão pequeno cabia tanta história, tanta
viagem, tanto encanto. O mundo ficava maior e minha vontade era não morrer
nunca para conhecer o mundo inteiro e saber muito, como a professora sabia.
O livro me abria caminhos, me ensinava a escolher o destino.
Eu pedia o livro emprestado, depois que Dona Maria terminava. Levava
para casa e brincava de escola com meus irmãos menores. Assentava com o
livro, com pose de professor, e lia para eles. Era difícil guardar tanta beleza só
para mim. Não sei se gostavam da leitura ou se imaginavam, um dia, serem
58
alunos da minha escola.
Meu pai, assentado na escada de casa, prestava atenção na minha leitura, de
maneira despistada. De noite, antes de dormir, curioso, ele queria que eu
adiantasse um pouco mais da história. Mas eu não contava. Sabia que
imaginar fazia parte da leitura.
59
ANEXO II