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PRODUÇÃO DE LEITE A PASTO COM USO DE PIVÔ CENTRAL
1. INTRODUÇÃO
A água é indispensável para desenvolvimento das forrageiras e a irregularidade do
regime pluviométrico de algumas regiões pode tornar-se uma restrição à produção. A
irrigação tem sido uma das técnicas mais utilizadas na agricultura, visando acréscimos nas
produtividades. Um bom sistema de irrigação deve aplicar água no solo uniformemente, até
determinada profundidade, propiciando umidade necessária ao desenvolvimento normal das
espécies vegetais. A irrigação por aspersão é bastante utilizada para pastagem, devido à
possibilidade de elevada uniformidade de distribuição, à adaptabilidade a diversos solos, a
facilidade de controlar o volume de água aplicado e à possibilidade de aplicação de
fertilizantes e outros produtos através da água de irrigação (DRUMOND E AGUIAR, 2005).
O conhecimento das vantagens e das limitações da aspersão é importante na escolha e
na implantação do sistema. Para irrigação de pastagem, os sistemas mais utilizados são os
sistemas de irrigação por aspersão. Os detalhes desses sistemas serão abordados mais adiante.
2. IRRIGAÇÃO DE PASTAGEM PARA PRODUÇÃO DE LEITE
A irrigação de pastagem (Figura 1) possibilita a produção de altas quantidades de
forragem por hectare por ano, com redução de custos. É possível lotações de 7 a 10 vacas por
hectare, produzindo 10 a 13 litros de leite por vaca por dia. Isso significa que é perfeitamente
possível produzir 90 a 130 litros de leite por dia por hectare.
Figura 1 – Vacas de leite em área de pastagem irrigada de capim Tifton 85.
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Essa tecnologia deve ser calcada em uma orientação técnica, onde o técnico necessita
ter persistência criativa, com AÇÕES PLANEJADAS, executadas sem atrasos, com
EFICÁCIA, de modo a levar o produtor a ALCANÇAR o resultado possível e esperado,
dentro de ALTO NÍVEL DE EXCELÊNCIA. Precisa de TREINAMENTO. Além disso,
temos que ter em mente que existirá um ganho ambiental, pois é possível aplicar água
residuária no sistema de irrigação, implementando uma racionalização do sistema de
irrigação, com redução na compra de adubo químico e ganho ambiental, pois estaremos
transformando o resíduo da atividade em insumo. O produtor, ainda, não precisa de muita área
para produção de alimento para seu rebanho, pois a lotação é alta. Com isso, pode-se
promover recomposição ambiental.
3. SISTEMA DE IRRIGAÇÃO DE PASTAGEM POR PIVÔ CENTRAL
Segundo Drumond e Aguiar (2005), a escolha correta do melhor sistema de irrigação
para a situação em questão poderá definir o lucro ou o prejuízo da atividade.
O sistema de irrigação por aspersão mais automatizado disponível no mercado
nacional, é o sistema Pivô Central (Figura 2).
Segundo Fernandes e Drumond (2001), o sistema Pivô Central consiste
fundamentalmente de uma tubulação metálica, onde estão instalados os aspersores, que gira
continuamente ao redor de uma estrutura fixa. Os aspersores, que são abastecidos pela
tubulação metálica, dão origem a uma irrigação uniformemente distribuída sobre uma grande
superfície circular.
É um sistema de irrigação por aspersão que opera em círculo, constituído de uma linha
lateral com aspersores, ancorada em uma das extremidades e suportada por torres dotadas de
rodas, equipadas com unidades propulsoras, que, na maioria das vezes, são compostas por um
motorredutor de 1 ou 1,5 CV, que transmite o movimento, mediante um eixo cardã, aos
redutores das rodas existentes nas torres móveis, que são do tipo rosca sem fim. Dessa forma,
a linha lateral realiza um giro de 360º em torno da torre central. A velocidade de rotação das
torres móveis é regulada por um relê percentual, localizado no painel de controle, que
comanda a velocidade da última torre de acionamento.
As torres se movem continuamente, acionadas individualmente por dispositivos
elétricos ou hidráulicos, descrevendo circunferências concêntricas ao redor da torre central. O
movimento da última torre móvel (anel externo) inicia uma reação de avanço em cadeia,
progredindo para o centro.
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Figura 2 – Vista geral de Pivô irrigando Tifton 85.
Em virtude de que cada torre descreve uma circunferência de raio diferente, suas
velocidades de deslocamento deverão ser diferentes. Portanto, a última torre controla a
velocidade das demais. O alinhamento das torres é garantido por um sistema localizado em
cada torre, que liga e desliga o sistema de propulsão.
A estrutura do equipamento é rígida, composta por tubulação, cantoneiras, suportes e
barras de tensão, fabricadas em aço zincado. Um conjunto motobomba de acionamento
elétrico ou a diesel fornece água pressurizada ao sistema, com vazão e pressão de acordo com
o projeto.
A divisão da área em piquetes tem sido realizada de formas diferentes. Algumas
favorecem o manejo da pastagem e dos animais e outras favorecem o manejo da irrigação e da
fertirrigação. É realmente difícil encontrar uma maneira que favoreça as duas situações. O que
devemos fazer é analisarmos a situação e optarmos pela forma de dividir a área irrigada.
A mais utilizada é a forma de pizza (Figura 3), pois dentre outras coisas, favorece em
muito o processo de fertirrigação. A área de lazer pode ser feita no centro ou na periferia do
Pivô. Quando instalada no centro, temos observado problemas de compactação na região de
estreitamento e formação de grande quantidade de lama na ocasião de uma chuva. A
vantagem é a facilidade construção, manejo, distribuição de bebedouros e cochos de sal
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mineral. O ideal é quando existe a possibilidade de instalar a área de lazer no centro e na
periferia do Pivô (DRUMOND E AGUIAR, 2005).
A divisão dos piquetes pode ser feita com cercas fixas ou móveis, sendo que essas
últimas têm sido as mais usadas, pela facilidade de mudança e pela economia de arame.
Normalmente, usa-se um carretel com um cabo de aço de 1,6 mm de diâmetro, colocando um
fio a cerca de 70 cm e o outro de 110 a 130 cm de altura em relação ao solo. Em uma área de
100 ha, um funcionário gasta cerca de uma hora para mudança das cercas e a formação do
piquete.
Figura 3 – Divisão em pizza, com área de lazer no centro do Pivô (Fonte Valley).
4. POTENCIAL DE PRODUÇÃO DE LEITE
Segundo Drumond e Aguiar (2005), a Tabela 1 reúne dados dos potenciais de
produção de leite a pasto de acordo com o nível tecnológico de exploração da pastagem.
Observa-se que a produtividade de leite pode ser aumentada em 45 vezes em relação à
produtividade média nacional quando os componentes, taxa de lotação passar de
aproximadamente 1,0 para 12 UA/ha (aumento de 12 vezes) e o desempenho animal saltar de
4,89 para 20 kg de leite/vaca/dia (aumento de 4,0 vezes).
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Tabela 1 – Dados de produtividade de leite de fazendas comerciais que usam sistemas
intensivos e de fazendas comerciais nos estados de Minas Gerais e Goiás e na pesquisa.
Pastagem UA/ha (Lts/vaca/dia) (Lts/ha/ano) Média de MG (1996) 0,45 4,80 651 Média de GO (1999) 0,70 3,50 844 Estimativa atual 1,00 4,89 1.000 FAZENDAS TECNIFICADAS Sequeiro 4,90 12,0 12.000 Irrigado 8,00 14,0 24.000 PESQUISA 12,00 20,0 > 45.000
5. INVESTIMENTOS E CUSTOS DE PRODUÇÃO EM PASTAGENS IRRIGADAS
PARA PRODUÇÃO DE LEITE
O custo de produção é influenciado pelos seguintes fatores: depreciação (10 a 20
anos), manutenção do sistema, seguros, custo da energia elétrica, custo de água
(US$ 0,03/m3), potência do conjunto motobomba (0,5 a 2,5 CV/ha), correção e adubação do
solo, preço dos animais, valor da terra, potencial de produção da planta forrageira, entre
outros (DRUMOND E AGUIAR, 2005).
Em um trabalho realizado por Aguiar e Almeida (1998), foi possível demonstrar que a
introdução da irrigação possibilitou manter quase o mesmo custo do leite durante as estações
do ano e a irrigação da pastagem provocou uma redução de 18% no custo total do leite
durante a seca, o que criou uma redução de 28,50% nos custos variáveis com as vacas em
lactação e uma redução de 46 % nos custos com alimentação no período da seca,
demonstrando a viabilidade do uso desta tecnologia.
É importante acrescentar que a irrigação contribui com o aumento da produção de
forragem mesmo na época das chuvas quando ocorrem os períodos de veranico. Dias muito
quentes e com alta intensidade luminosa são condições ambientais muito favoráveis para a
resposta de pastagens adubadas intensivamente e irrigadas, além da maior segurança de se
obter realmente a quantidade de forragem necessária para este período, sem ter que se
preocupar com a resposta às adubações por falta de chuvas.
O aumento esperado na produção do pasto irrigado na primavera-verão é de 30% a
mais que nos pastos não irrigados neste período. As adubações nitrogenadas e potássicas
podem ser feitas por fertirrigação com custos muito menores, pois não envolvem máquinas e
as perdas são menores.
A seguir um resumo das conclusões dos autores acima sobre este trabalho:
O custo total de produção do leite aumentou em 18% no período da seca nas
áreas não irrigadas, devido à introdução de mais alimentos concentrados e de
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cana com uréia, que são mais caros que a pastagem. Só o custo com alimentação
aumentou em 46%.
A introdução do sistema de irrigação possibilitou manter praticamente o mesmo
custo de produção do leite no período da seca, com um pequeno aumento de 3%
e reduziu em 18% o custo total do leite. Os custos variáveis com as vacas
diminuíram em 28,50%.
O retorno sobre todo o capital investido, sem incluir a terra, foi de 12% e,
incluindo a terra, foi de 11%, o que demonstra a viabilidade da atividade leiteira
no Brasil quando conduzida com índices de produção adequados.
No sistema com irrigação, a margem líquida (receita menos custo variável e
menos custo fixo) foi de 16% maior.
Os autores concluíram que o uso dos sistemas de irrigação constitui uma alternativa
para a redução de custos de produção do leite, aumento do lucro e da rentabilidade.
Na Tabela 2 é possível observar os custos de produção de alimentos volumosos e
concentrados mais usados em dietas de ruminantes, comparados com os custos de produção
da matéria seca da forragem proveniente de uma pastagem irrigada (DRUMOND E AGUIAR,
2005).
Tabela 2 – Custos de produção de diferentes tipos de alimentos volumosos e de
concentrados na matéria seca, comparados com o custo da matéria seca produzida em
pastagem irrigada.
Alimentos Produtividade (t MS/ha) R$ (t MS) Concentrados 750,00 – 900,00 Fenos de gramíneas 20 450,00 Silagem de Capim Elefante 40 380,00 Silagem de Milho 14 250,00 - 350,00 Silagem de Sorgo 15 – 20 230,00 - 320,00 Cana + Uréia 24 – 30 80,00 - 90,00 Pastagem Irrigada 40 – 50 76,00 - 83,00 Pastagem Intensiva 25 - 35 50,00 Pastagem Extensiva 8 - 10 15,00 – 20,00 Adaptado de Drumond e Aguiar, 2005.
Pode ser observado que o custo de produção da matéria seca de forragem produzida
em uma pastagem irrigada só é maior que o da produzida em pastagens extensivas e em
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pastagens intensivas não irrigadas, mas possui custo equivalente ao da MS da cana corrigida
com uréia. O custo da matéria seca produzida em pasto irrigado representa a metade ou um
terço do custo da MS de silagem, de fenos e pré-secados. Ainda, comparando com os
suplementos concentrados, o custo da MS da pastagem irrigada é de aproximadamente seis a
sete vezes menor.
Em uma simulação feita por Weigand (1997), citado por Drumond e Aguiar (2005), o
lucro por hectare por ano foi 3,18 vezes maior com a exploração leiteira em relação à
exploração com gado de corte, comparando num mesmo nível tecnológico em pastagens
irrigadas, o que é normal não só aqui no Brasil, mas também em tradicionais regiões e países
produtores de leite. São comuns situações nas quais o faturamento chega a cinco vezes mais
na exploração leiteira, comparado com a do gado de corte.
6. REFERÊNCIAS
DRUMOND, L. C. D.; AGUIAR, A. P. A. Irrigação de pastagem. Uberaba:
L.C.D.DRUMOND, 2005. 210p.
DRUMOND, L. C. D.; FERNANDES, A. L. T. Irrigação por aspersão em malha. Uberaba:
UNIUBE, 2001. 84p.