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PROBLEMAS DE RECUPERAÇAO DE AREAS DEGRADADAS NOS ALPES ITALIANO E FRANCESES Ricardo Valcarcel, MSc,Dr.(l) Resumo Descreve os principais fenômenos erosivos que atuam nas bacias torrenciais dos Alpes, demonstrando através de slides as obras desenvolvidas pelas instituições locais; os detalhes técnicos das áreas-problemas, as soluções e o rendimento conservacionista. 1 - INTRODUÇÃO OS fenômenos torrenciais nos Alpes se apresentam com elementos e fatores diferentes daqueles encontrados na Espanha, mas com algumaS características comuns, entre as quais destacamos a própria essência do fenômeno torrencial (cheias súbitas e violentas) e suas conseqüências. As bacias torrenciais causam, com freqüência, prejuízos de grande magnitude em muitos paises europeus, especialmente os que compartilham o conjunto montanhoso alpino. Por este motivo, estes paises dedicam grande atenção ao estudo dos problemas de recuperação de áreas degradadas, onde se observa o engajamento de um considerável contingente de pessoal técnico especializado trabalhando em órgãos dotados de boa infraestrutura operacional, quer na pesquisa, quer na execução e manutenção de obras no campo. O Grupo de Trabalho para Ordenação de Bacias de Montanha da Comissão Florestal Européia/FAO, o C.E.M.A.G.R.E.F/França, a Sociedade de Pesquisa para a Luta Preventiva Contra Enchentes - Interpraev/Áustria e a Azienda Speciale di Sistemazione Montana/Trento - Itália, entre outras, constituem uma mostra das principais instituições ligadas à recuperação de áreas degradadas na região. Servindo como indicador da atual importância atribuída aos estudos dos problemas decorrentes de bacias torrenciais, e ao mesmo tempo, demonstra a tradição Européia no combate das áreas degradadas nos Alpes, uma vez que existem instituições centenárias. Apesar de contar com toda a infraestrutura necessária disponível, tradição conservacionista já arraigada na população, e o longo tempo despendido no estudo e aprimoramento das técnicas conservacionistas, o problema de prevenção e recuperação de áreas degradadas encontra-se longe de ser totalmente resolvido. Cada situação-problema deve ser tratada como um novo caso, que requererá novas estratégias. Sem dúvida alguma, o uso da experiência e tradição desenvolvidas ao longo do tempo facilita o entendimento e equacionamento dos problemas. Os principais processos que influenciam o geodinamismo torrencial nos Alpes Franceses e Italiano serão discutidos conjuntamente à apresentação dos slides demonstrativos das técnicas e experiências práticas. 2 - PRINCIPAIS PROCESSOS EROSIVOS O projeto da obra conservacionista, bem como o delineamento das estratégias para sua execução, com a finalidade de minimizar os impactos causados pelas cheias em bacias hidrográficas, requer um profundo conhecimento da dinâmica hidro-geológica da região.

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PROBLEMAS DE RECUPERAÇAO DE AREAS DEGRADADAS NOS ALPES ITALIANO E FRANCESES

Ricardo Valcarcel, MSc,Dr.(l)

Resumo

Descreve os principais fenômenos erosivos que atuam nas bacias torrenciais dos Alpes, demonstrando através de slides as obras desenvolvidas pelas instituições locais; os detalhes técnicos das áreas-problemas, as soluções e o rendimento conservacionista.

1 - INTRODUÇÃO OS fenômenos torrenciais nos Alpes se apresentam com elementos e fatores diferentes

daqueles encontrados na Espanha, mas com algumaS características comuns, entre as quais destacamos a própria essência do fenômeno torrencial (cheias súbitas e violentas) e suas conseqüências.

As bacias torrenciais causam, com freqüência, prejuízos de grande magnitude em muitos paises europeus, especialmente os que compartilham o conjunto montanhoso alpino. Por este motivo, estes paises dedicam grande atenção ao estudo dos problemas de recuperação de áreas degradadas, onde se observa o engajamento de um considerável contingente de pessoal técnico especializado trabalhando em órgãos dotados de boa infraestrutura operacional, quer na pesquisa, quer na execução e manutenção de obras no campo.

O Grupo de Trabalho para Ordenação de Bacias de Montanha da Comissão Florestal Européia/FAO, o C.E.M.A.G.R.E.F/França, a Sociedade de Pesquisa para a Luta Preventiva Contra Enchentes - Interpraev/Áustria e a Azienda Speciale di Sistemazione Montana/Trento - Itália, entre outras, constituem uma mostra das principais instituições ligadas à recuperação de áreas degradadas na região. Servindo como indicador da atual importância atribuída aos estudos dos problemas decorrentes de bacias torrenciais, e ao mesmo tempo, demonstra a tradição Européia no combate das áreas degradadas nos Alpes, uma vez que existem instituições centenárias.

Apesar de contar com toda a infraestrutura necessária disponível, tradição conservacionista já arraigada na população, e o longo tempo despendido no estudo e aprimoramento das técnicas conservacionistas, o problema de prevenção e recuperação de áreas degradadas encontra-se longe de ser totalmente resolvido.

Cada situação-problema deve ser tratada como um novo caso, que requererá novas estratégias.

Sem dúvida alguma, o uso da experiência e tradição desenvolvidas ao longo do tempo facilita o entendimento e equacionamento dos problemas.

Os principais processos que influenciam o geodinamismo torrencial nos Alpes Franceses e Italiano serão discutidos conjuntamente à apresentação dos slides demonstrativos das técnicas e experiências práticas. 2 - PRINCIPAIS PROCESSOS EROSIVOS

O projeto da obra conservacionista, bem como o delineamento das estratégias para sua execução, com a finalidade de minimizar os impactos causados pelas cheias em bacias hidrográficas, requer um profundo conhecimento da dinâmica hidro-geológica da região.

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(1) Prof. Adjunto UFRRJ/IF/DCA Cep.23.851 Seropédica, RJ

Para facilitar o entendimento da dinâmica dos processos erosivos, recomenda-se

desenhar detalhadamente as áreas afetadas, para que se possam reconstituir os processos através da "animação" do desenho. Esta técnica, apesar de empírica, oferece importantes informações, que contrastadas com os vestígios deixados pelos processos erosivos no campo, permitirão compreender os principais componentes do processo ocorridos durante transcorrer do fenômeno.

Esta interpretação, associada aos conhecimentos sistematizados e científicos dos processos geológicos e hidrológicos que ocorrem em bacias hidrográficas alpinas determinará o traçado das obras, sua localização e a estratégia a ser utilizada.

Os movimentos de massa constituem, na região, o tipo de erosão determinante nas bacias hidrográficas alpinas. 3 -BREVE DESCRIÇAO DOS MOVIMENTOS DE MASSA

São movimentos naturais de terra que fazem parte do modelado do terreno. A força de gravidade é o agente primário de movimento. A água diminui a resistência da massa ao movimento e pode agregar peso ao mesmo, provocando ruptura estrutural do sistema, dando inicio ao movimento.

Podem ser identificados 3 tipos básicos de movimentos: movi- mentos rápidos (queda de barreiras), lentos (deslizamentos) e muito lentos (deformações). Várias são suas classificações e denominações.

As quedas de barreiras são provocadas pela ruptura das vertentes e queda de material no vale.

Os deslizamentos são movimentos lentos de material terroso, que ocorrem como conseqüência da superação da tensão limite de corte da massa afetada.

As deformações são movimentos muito lentos de corpos plásticos ou semiplásticos (reptação, solifluxão, avalanche de colúvio e de solos, corrente de lava torrencial). 4 - CLASSIFICAÇAO DE BACIAS TORRENCIAIS NOS ALPES

São varias as classificações existentes (Stiny, 1931; Munteanu, 1970; Karl e Mangelsdorf, 1982; entre outras). Cada uma delas visa atender a problemática específica de uma dada região. A última tem uma base geomorfológica e esta dirigida à recuperação de áreas degradadas e especificamente a bacias com regime hidrológico de grande torrencialidade, chamadas de bacias torrenciais.

Fará-se uso da classificação de Karl e Mangelsdorf como critério diferenciador de bacias, para uma posterior analise e discussão de técnicas conservacionistas utilizadas(slides).

A magnitude e o tipo de transporte de sólidos das bacias torrenciais dependem da forma da cheia, dos focos susceptíveis de erosão e da disponibilidade de sedimentos disponíveis para o transporte.

A vazão de sólidos pode ser constante ao longo do tempo, produto da contínua atividade de meteorização existente nos segmentos da bacia. Pode ser descontínua, com grandes quantidades de sedimentos entrando violentamente no fluxo quando existem. Pontos críticos, como por exemplos: quando se produzem deslizamentos rotacionais ou descalce das ladeiras das vertentes.

Os referidos autores consideram 2 grandes grupos de bacias torrenciais, que se subdividem:

a)Torrentes com focos erosão expansivo, onde as vazões sólidas e liquidas são influenciadas pelo homem.

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b)Torrentes com focos erosão estacionário, onde as vazões sólidas e líquidas não são influenciáveis pelo homem.

a.1)Torrentes com várzeas (figura 01)

Os focos de erosão estão constituídos por deslizAmentos rotacionais de formações rochosas soltas, e/ou translacionais de rochAs soltas e solos, movimentos de deformações de rochas não consolida- das, descalçamento de ladeiras e retrogressao de leitos de rios.

As atividades humanas, especialmente o desmatamento, podem ocasionar mudanças nas condições de drenagem, favorecendo o desenvolvimento dos focos de erosão mencionados.

Este tipo de bacia torrencial constitui o protótipo de bacia influenciada pela intervenção humana.. a.2)Torrentes em corpo de depósito (figura 02,03)

Os depósitos que contribuem com sedimentos estão situados nas ladeiras. O material transportado sedimenta-se sobre o vale, gerando o aparecimento de cones de dejetos sobre o vale da bacia principal.

Em relação aos focos de erosão e influência antrópica, esta é uma bacia igual à anterior. b)Torrentes com focos de erosão estacionários, onde as vazões sólidas e liquidas não são influenciáveis pelo homem.

Torrentes coletoras de colúvio que captam os materiais depositados nos cones de dejetos sobre o leito principal da bacia.

Podem ser classificadas, em função do seu substrato, em: * Torrentes sobre rochas vulcânicas (figura 04) * Torrentes sobre rochas sedimentares duras (figura 05) * Torrentes sobre rochas metamórficas (figura 06,07)

c)Torrentes com focos de erosão expansivo e estacionário. Vazão sólida e liquida parcialmente influenciada pelo homem. c.1)Torrentes em zonas com grandes movimentos de massa

Os focos de erosão podem ser ativados ou estendidos pela modificação da vegetação. Costuma apresentar deslizamento em grandes proporções. c.2)Torrentes sobre antigos cones (figura 08)

Quando estes cones se encontram com cobertura florestal, o desmatamento pode ser a determinante para a desestabilização de todo o depósito, produzindo descalçamento e aprofundamento do leito. c.3)Torrentes intermitentes c.3.1)Torrentes de aluviões de várzeas (fig. 09)

O caráter torrencial se apresenta somente em ocasiões de grandes cheias, deformando o leito da bacia, descalçando as margens e alargando a calha principal. c.3.2)Torrentes de desmatamento (figura 10)

Causadas pelo deslizamento translacional do solo coberto com florestas, ou por descalçamento da vertente. 5 - CONTROLE DE TORRENTES. ESTRATÉGIA E TÉCNICAS

Considera-se a bacia hidrográfica como um sistema integral, onde é possível conhecer e identificar os principais fatores determinantes do fenômeno torrencial. A partir deste ponto se definem as estratégias, se projetam as obras e se atacam os problemas na sua origem.

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Esta abordagem integral permite a formulação de estratégias realista e eficazes de controle, pois se assume que os fenômenos torrenciais são naturais e incontroláveis. São estabelecidas medidas para eliminar os fatores humanos negativos e se concentra também a atuação sobre os fatores naturais, objetivando diminuir sua intensidade e freqüência, principalmente sobre cheias.

Todo este conjunto de medidas na bacia é complementado com medidas preventivas emergenciais (muros longitudinais, canais de desvios nas proximidades dos núcleos urbanos, etc.), e com a normatização do uso do solo em locais de alto risco. Estes procedimentos minimizam os efeitos destrutivos das cheias e, conseqüentemente, os prejuízos na região.

O técnico responsável pela consecução das obras deve evitar os problemas decorrentes das cheias, sem, no entanto, interferir de forma drástica no transporte dos sedimentos. Desta forma, serão mantidas, assim como nas ladeiras e margens. Para tanto, devem ser utilizados diques que não perturbem o transporte de materiais e que permaneçam ativos nas cheias catastróficas.

Os diques podem exercer as seguintes funções: 1) Estabilização do leito evitando a socavação de fundo; 2) Consolidação das ladeiras, evitando a socavação laterais margens do rio; 3) Seleção de material, filtrando e armazenando materiais de granulometria diversas; 4) Retenção, armazenando e depositando os materiais até o alcance de sua capacidade

de retenção. 5) Dosificaçao, laminando a vazão (sólida + liquida), diminuindo o alto nível de energia

da corrente durante lapsos de tempo e influenciando o tempo de concentração da bacia. 6 - APRESENTAÇÃO DE CASOS

Foram projetados slides correspondentes às obras de recuperação de áreas degradadas em bacias torrenciais dos Alpes franceses (Barcelonette, Carcassone, Digne e Draix) e italianos (Trento e Bolsano), ocasião em que aproveitou para apresentar os problemas, as estratégias para sua Solução, e visualização dos detalhes técnicos das obras conservacionistas. 7 - BIBLIOGRAFIA

KARL, J. & MANGELSDORF, J. Die wildbachtypen der Ostalpen. Munich. Landesant furr Wasserwirtschaft, 1982, 19p.

MUNTEANU, S. Considerations preliminares Sur le passage de la clasification qualitative a la clasification quantitative des basins torrentiels. Reunião FAO, 1970

STINY, J. Die geologischen grundlagen der verbaung der Geschiebenherde in Gewassern. Viena, 1931.

VALCARCEL,R.(1991) Problemas de Recuperação de áreas degradadas nos Alpes Italianos e Franceses.. In:Workshop Sobre Recuperação de Áreas Degradadas. Anais..., Itaguaí, RJ. UFRRJ. 202p, p17-35. CDD 631.4