9

Click here to load reader

Problemas Ambientais Globais e Locais no Semiárido … · “CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION” São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015 Problemas Ambientais

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Problemas Ambientais Globais e Locais no Semiárido … · “CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION” São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015 Problemas Ambientais

“CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION”

São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015

Problemas Ambientais Globais e Locais no Semiárido

Brasileiro, um Estudo do Sertão do Moxotó

EL-DEIR, S. G.a*, PINHEIRO, S. M. G.a, SANTOS, L. A.a, MELO, M. B. C.a, LOPES, I.a

a.Grupo de Pesquisa Gestão Ambiental em Pernambuco – Gampe, da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, Recife – PE (Brazil)

*Corresponding author, [email protected]

Resumo

Os problemas ambientais globais e locais confiram-se em desafios diários ao potencial de adaptação dos povos, por alterações no modus operandis destes e pelo avanço da tecnologia focado em possíveis soluções. Entretanto, para tanto, há uma necessidade inicial, perceber e compreender estas mudanças. Dentre as áreas identificadas como que sofrerão maiores consequências fruto as mudanças climáticas, destaca-se o semiárido brasileiro, o qual há de apresentar índices pluviométricos menores e maior concentração das chuvas, o que se configurará num agravamento dos problemas de insegurança hídrica, alimentar e nutricional presente na região. O presente artigo estuda a percepção ambiental no semiárido por meio de uma série temporal de 2009 a 2013, buscando compreender também o impacto das atividades de extensão universitárias.

Palavras-chave: Percepção ambiental, Mudanças climáticas, Empoderamento social, Gestão ambiental.

1. Introdução

Nos últimos anos, as questões ambientais vêm tomando vulto nas discussões em geral, além de ser um dos focos emergentes para o estabelecimento de políticas públicas. O mundo atravessa uma crise ambiental, a qual se configura também como uma crise de conscientização, marcada pela forma inadequada com a qual a humanidade tem utilizado os recursos naturais. Esta discussão tem exigido uma reflexão sobre a relação homem-natureza (SILVA & SILVA JÚNIOR, 2010), buscando reverter a “Teoria da Tragédia dos Comuns” (HARDIN, 1968).

Albuquerque et al. (2010a) enfatizaram que desequilíbrios da relação entre homem e natureza vieram a configurar esta crise, a qual pode ser minimizada pela transformação da maneira que o indivíduo percebe, analisa e age no ambiente. De acordo com Lima et al. (2010), a percepção ambiental pode ser definida como o ato de perceber o ambiente, desenvolvendo um olhar crítico sobre possíveis problemas e tendo a consciência de protegê-lo e cuidá-lo.

Desta forma, a percepção ambiental se configura numa temática importante para análise e para a definição de políticas públicas, como ratifica Stotz (2012). Para El-Deir(2014) o cuidado ecológico é um fenômeno amplo e complexo, sendo este resultante das relações, interações e associações com o ambiente global. Assim, o estudo da percepção ambiental dos problemas locais e globais é pertinente para o desenvolvimento de práticas conservacionistas ou preservacionistas, visando à elevação da qualidade ambiental e de vida.

Page 2: Problemas Ambientais Globais e Locais no Semiárido … · “CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION” São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015 Problemas Ambientais

5th International Workshop | Advances in Cleaner Production – Academic Work

“CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION”

São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015

2

Visto a escassez de estudos que foquem a percepção socioambiental de comunidades que estão na “classe social baixa” (ALBUQUERQUE et al., 2010b), e mais especificamente de comunidades tradicionais (pescadores artesanais e agricultores familiares), o presente estudo busca compreender o nível de percepção dos problemas ambientais globais e locais das comunidades rurais do sertão pernambucano, além analisar a importância da extensão universitária quanto ferramenta para o diálogo sobre o conhecimento nas comunidades rurais, buscando a melhoria da qualidade ambiental destes espaços e o processo de empoderamento dos atores sociais na ampliação de uma visão mais crítica a respeito do espaço em que vivem.

2. O semiárido como local de problematização socioambiental

O semiárido brasileiro foi definido pelo Decreto nº 11.701/2003 como abrangendo uma área de 974.752 km2. Compreende partes dos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo, sendo 86,48% do Nordeste (MMA, 2005). Nesta região, a realidade das comunidades rurais apresenta graves problemas, pois nem mesmo as necessidades básicas do ser humano são supridas, como água potável, segurança e educação. Além do mais, estudos sobre segurança hídrica, segurança alimentar, resíduos sólidos e percepção ambiental são escassos quando comparados aos de contexto urbano (ARAÚJO et. al., 2012; ALVES et al., 2011).

Dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) afirmam que a área total do município de Ibimirim é de 2.034 km² e está localizada a 337 km da Capital Pernambucana (Fig. 1). Pertencente à Microrregião do Sertão do Moxotó, na Mesorregião do Sertão Pernambucano, na unidade geoambiental das Bacias Sedimentares, situado nas coordenadas geográficas 8° 54' de latitude sul, 37° 68' de longitude oeste.

Fig. 1. Localização geográfica de Ibimirim – PE. Fonte: Google MapMaker (2013).

Com população de 26.959 habitantes, Ibimirim registrou um dos menores indicadores socioeconômicos do país em 1991, com Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 0,284, elevando-se para 0,394 em 2000 e posteriormente para 0,552 em 2010 (IBGE, 2013). No que diz respeito à população rural do município (44,6%), esta reflete um quantitativo de 1.800 estabelecimentos rurais, dos quais 229 possuem lavouras permanentes e 1.571 temporárias. A produção agropecuária inclui a pecuária extensiva focada na bovinocultura e caprinocultura, extrativismo vegetal e a agricultura com cultivos temporários principalmente de tomate, milho, feijão e cultivos permanentes de banana e manga (IBGE, 2006). Um dos desafios desta região configura-se na estruturação de sistemas para a convivência com a seca e as características do semiárido, além da estruturação de atividades alinhadas as vocações edafoclimáticas e culturais da região (IBGE, 2010).

De acordo com Silva e Silva Júnior (2010), no contexto da região semiárida, as questões ambientais estão fortemente relacionadas às questões socioeconômicas, e faz parte da discussão local um modelo que possa propiciar a sustentabilidade e eleve a qualidade de vida dos moradores da região. Neste sentido, o estudo da percepção ambiental das comunidades rurais relativa a temas socioambientais tem por fim analisar como estes compreendem o ambiente e os problemas globais, quais as alterações desta compreensão ao longo do tempo face às políticas de capacitação e estabelecimento de diálogos, assim como auxiliar na definição de temáticas focadas no processo de empoderamento social.

Page 3: Problemas Ambientais Globais e Locais no Semiárido … · “CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION” São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015 Problemas Ambientais

5th International Workshop | Advances in Cleaner Production – Academic Work

“CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION”

São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015

3

3. Métodos

Este artigo reflete um experimento observacional no qual não há o controle de outros fatores que podem interferir nos resultados, qualificando-o como um experimento de trajetória, pois buscou fazer inferências de mudanças ao longo do tempo (GOTELLI & ELLISON, 2011, p. 159 – 162) a partir de indicadores simples, ou seja, constituídos de estatísticas sociais específicas, referidas a uma dimensão elegida (JANNUZZI, 2009, p. 22).

O levantamento de dados primários (BOLFARINE & BUSSAB, 2011, p. 13), partiu do método de dedução, “indo de um caso geral para o específico” (GOTELLI & ELLISON, op. cit., p. 98). Foram aplicados 273 (duzentos e setenta e três) questionários nas comunidades rurais de Lajes, Poço do Boi e Poço da Cruz, todas em Ibimirim (Tabela 1), por discentes e docentes integrantes do Grupo de Gestão Ambiental em Pernambuco (Gampe), do Departamento de Tecnologia Rural da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Estes discentes passaram pelas fases de recrutamento, treinamento, verificação e registro, como recomendam Bolfarine e Bussab (2011, p. 23 – 24).

Tabela 1. Número de entrevistados ao longo do período de pesquisa, de 2009 a 2013, nas comunidades rurais do Município de Ibimirim – PE.

Ano Total

2009 30

2010 50

2011 48

2012 49

2013 96

Total 273

Fonte: Pesquisa elaborada pelo autor

Também foi observado o impacto de atividades de capacitação desenvolvidos periodicamente ao longo de 5 anos de estudo (2009 a 2013), a partir da hipótese de impacto positivo das atividades extensionistas para a elevação da acuidade na percepção dos problemas ambientais locais e globais. Estes levantamentos foram norteados pelas recomendações de Vargas e Weisshanpt (1998). Os trabalhos de campo seguiram as orientações de Bolfarine e Bussab (op. cit., p. 22 – 24). Os parâmetros estabelecidos por El-Deir (1999) e as orientações de Oliveira (2011) foram seguidos, com questões fechadas, abertas e semiabertas, formuladas nas temáticas ambiental e socioeconômica, visando não só a análise da percepção dos problemas ambientais, assim como a qualificação do universo de amostra e a tipificação dos entrevistados, por meio de dados qualitativos ordinais (idade, renda, escolaridade) e nominais (sexo, estado civil), como classificados por Bussab e Morettin (op cit., p. 9 – 11).

Os dados foram plotados em planilha de contingência multifatorial em Excel (GOTELLI & ELLISON, op cit., p. 382), montados gráficos de análise temporal, além do uso do JMP Stackversion 12 (tryversion) para estatística descritiva com montagem do gráfico de mosaico ilustrando os dados de frequência dos fatores ao longo do tempo (GOTELLI & ELLISON, op. cit. p. 384). Para as inferências sobre as relações entre os dados, foi realizada a análise de correspondência, visto esta ser apropriada para tabelas com duas entradas ou de múltiplas entradas, levando em conta algumas medidas de correspondência entre linhas e colunas, como ressaltam Alves et al. (2011).

4. Resultados e discussões

Quanto à percepção dos problemas mundiais globais, observou-se que houve significativa queda dos entrevistados que afirmavam não saber responder à questão sobre problemas ambientais globais, havendo ascensão de temas diversos como poluição, lixo, queimadas, seca e enchentes (Fig. 2).

Page 4: Problemas Ambientais Globais e Locais no Semiárido … · “CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION” São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015 Problemas Ambientais

5th International Workshop | Advances in Cleaner Production – Academic Work

“CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION”

São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015

4

Fig. 2. Análise temporal da percepção dos entrevistados sobre os principais problemas ambientais globais.

Analisando o gráfico de mosaico (Fig.3), evidencia-se a evolução da percepção dos problemas ambientais globais pelos entrevistados durante o período de pesquisa. Após equalização destes dados para percentual, demonstra-se que no ano 2009 a resposta “não sabe” foi a mais presente, sendo que ao longo do tempo houve um decrescimento gradual e outras temáticas foram evidenciadas. No último ano da pesquisa, há certo equilíbrio entre boa parte das respostas, demonstrando uma elevação da percepção pela verbalização dos problemas ambientais globais por parte dos entrevistados.

Fig.3. Evolução temporal da percepção ambiental dos entrevistados quanto aos problemas ambientais globais.

Na análise de correspondência (Fig.4), a componente 1 (c1) explica 65% da variação dos dados, ao passo que a componente 2, 17%. Juntas as componentes explicam 83% da variação presente nos dados. A correspondência estabelecida entre esses pontos indica que a frequência relativa de respostas “não sei” é maior no ano de 2009 do que no ano de 2013; já a resposta “seca” é maior no ano de 2013 do que no ano de 2009. Também há proximidade entre os pontos do ano 2011 e da resposta “enchentes”, face neste ano tal resposta ter sido a mais expressiva em toda a série temporal. Os pontos “queimadas”, “secas” e “lixo” guardam proximidade com o ano 2013, momento em que estas respostas foram mais presentes na verbalização dos entrevistados. Quando observada a análise de correspondência na segunda coordenada (c2), do eixo vertical observa-se que o ponto referente à resposta “outros” encontra-se no lado esquerdo do gráfico, em oposição ao ponto referente à resposta “enchentes”, situado no lado direito.

Um dos desafios é a adaptação aos problemas globais. Para Ventura et al. (2012, p. 625), as tecnologias sociais apresentam potencialidade na adaptação das comunidades tradicionais aos problemas ambientais mundiais fruto das mudanças climáticas. Ressaltam as tecnologias como barragem subterrânea, biodigestores, bomba d’água popular, cisterna calçadão, cisterna de placas, fogão eficiente, policultura, pintadas solar, sistemas agroflorestais. Estas e outras formas de adaptação aos problemas ambientais globais e suas consequências devem ser fruto de aprofundamento em futuros estudos.

PAM

0,00

0,25

0,50

0,75

1,00

2009 2010 2011 2012 2013

desmatamento

lixo

nao_sabe

poluicao

queimadas

seca

Fre

quên

cia

(%)

Ano

Page 5: Problemas Ambientais Globais e Locais no Semiárido … · “CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION” São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015 Problemas Ambientais

5th International Workshop | Advances in Cleaner Production – Academic Work

“CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION”

São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015

5

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

c1

2009

2010

2011

2012

2013

desmatamento

enchentes

lixo

nao_sabe

outros

poluicao

queimadas

seca

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

c2

Fig.4. Correspondência das respostas dos entrevistados quanto aos problemas ambiental globais, ao longo dos 5 anos de pesquisa.

Relativo aos problemas ambientais locais, no início da pesquisa quase metade dos entrevistados das comunidades rurais estudadas não verbalizaram nenhum tipo de problema ambiental local, compreendendo que a sua localidade estava de acordo com o esperado, até mesmo porque tal estado fazia parte do seu imaginário do local em que vivem e em que muitos nasceram (Fig.5). Neste período, cerca de 20% já percebiam a disposição inadequada dos rejeitos e resíduos sólidos como problemática a ser resolvida nas suas comunidades rurais.

Partindo-se desta leitura de mundo, foram desenvolvidas diversas atividades ambientais, buscando elevar a criticidade da comunidade, além de discutir novas possibilidades para o espaço em que vivem. O impacto destas ações é claramente visível até 2012, quando apenas 20% dos entrevistados afirmam não saber identificar problemas ambientais locais. Temas emergentes no imaginário como queimadas, poluição e animais soltos aparecem nas falas. Observa-se que, com o agravamento da seca em 2013, a fome aparece como problema socioambiental local, refletindo o estado de insegurança alimentar e nutricional observado por estes em muitas famílias do semiárido do Moxotó.

Ano

Fre

quência

(%

)

Page 6: Problemas Ambientais Globais e Locais no Semiárido … · “CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION” São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015 Problemas Ambientais

5th International Workshop | Advances in Cleaner Production – Academic Work

“CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION”

São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015

6

Fig.5. Análise temporal da percepção dos entrevistados sobre os principais problemas ambientais locais.

Partindo-se da análise em gráfico de mosaico relativo à verbalização dos entrevistados quanto aos problemas ambientais locais (Fig.6), evidencia-se a evolução da percepção ambiental local ao longo do período de pesquisa, pois era evidente o desconhecimento dos problemas da localidade em 2009, fato que vai sendo gradualmente diminuído e substituído por respostas mais críticas das condições locais.

Fig.6. Gráfico mosaico da evolução temporal da percepção ambiental dos entrevistados quanto aos problemas ambientais locais.

Por meio da análise temporal, fica evidente que na perspectiva da percepção ambiental dos moradores das comunidades rurais estudadas, o seu nível de insatisfação com a falta de infraestrutura e gestão ambiental são crescentes, sendo este conjunto de indicadores relevantes para medir a qualidade de vida e a condição ambiental do meio de forma subjetiva (JANNUZZI, 2009, p. 114). Entretanto ainda não se observa estratégias de enfrentamento ou coping, que se configura como “uma resposta à emoção que objetiva aumentar, criar ou manter a percepção de controle pessoal” (ALBUQUERQUE et al., 2008, p. 510) por parte dos entrevistados, apesar das iniciativas focadas no empoderamento social que tem lugar em tais comunidades.

Para Pinheiro et al. (2011) o estudo da percepção ambiental serve como estratégia de participação comunitária no planejamento de futuras ações, podendo fundamentar políticas públicas. Santos e Jacobi (2011, p. 264) afirmam que “o estudo socioambiental da realidade e seus problemas tem levado a uma reavaliação da necessidade de se repensar a educação dos professores como critico e reflexivo, com uma visão interdisciplinar, construtivista e com atitude comunicacional, capaz de entender as relações entre sociedade e meio ambiente, assim como a relação entre pedagogia e o exercício da cidadania”. Já Silva e Silva Júnior (2010) assinaram que é necessário que o poder público permaneça atuante, amplie sua ação nos segmentos populares e busque estruturar soluções para os problemas identificados, através de políticas públicas efetivas e participativas, levando em consideração as percepções socioambientais dos atores sociais envolvidos no processo.

Atribui-se em parte a elevação da criticidade destes atores sociais às ações de extensão desenvolvidas para o empoderamento socioambiental como estratégia do processo de aproximação do Gampe/UFRPE iniciado em 2009 nestas comunidades, como atividades lúdicas e teatros (FAUSTINO, 2012), discussões e oficinas. Por meio de espaços de diálogo, oficinas e capacitação buscando o empoderamento dos atores sociais locais sobre diversos temas emergentes locais (PAZ et al., 2011), o grupo discutiu temas emergentes nos diálogos estabelecidos com os residentes destas comunidades, buscando pautá-los como temas relevantes para a construção do imaginário coletivo do espaço em que estes vivem.

Ao observar os valores dos detalhes da análise de correspondência das respostas focadas nos problemas ambientais locais (Fig.7), percebe-se que o primeiro componente 1 explica 0,80% da variação dos dados, ao passo que se acrescido do componente, a análise explica 0,96%, visto que o

0,00

0,25

0,50

0,75

1,00

20092010 2011 2012 2013

Ano

animais_soltos

lixo

mau_cheiro

não_sabe

outros

poluicao_hidrica

Page 7: Problemas Ambientais Globais e Locais no Semiárido … · “CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION” São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015 Problemas Ambientais

5th International Workshop | Advances in Cleaner Production – Academic Work

“CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION”

São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015

7

segundo componente isoladamente explica 0,16% dos dados, demonstrando-se válida a análise de correspondência para expressar a variação dos dados ao longo do período analisado.

-1,5

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

c1

2009

2010

20112012

2013

animais_soltos

desmatamentofome

lixo

mau_cheiro

não_sabe

outros

poluicao_hidrica

queimada

-1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5

c2

Fig.7. Análise de Correspondência das respostas do entrevistadosquanto aos problemas ambientais locais, ao longo dos 5 anos de pesquisa.

Por fim registra-se a necessidade de se levar em conta toda a discussão mundial e local, articulandosaberes acadêmicos e populares e compreendendo a percepção dos atores sociais a respeito das problemáticas socioambientais globais e locais, como ratifica Silva e Silva Júnior (2010). Tais informações são imprescindíveis para um melhor alinhamento das políticas públicas e no processo de empoderamento dos atores locais. Entretanto, para Guimarães et al. (2009), não só espaços informais educacionais, mas espaços formais, onde vivenciar um ambiente educativo para a formação contínua dos docentes, por meio de redes, poderá auxiliar na construção de um ambiente para a praxis comprometida com a educação ambiental crítica, basilar para a criação de valores focados na sustentabilidade.

5. Conclusões

O presente estudo demonstrou que houve um impacto positivo das ações extensionistas focadas nas temáticas de percepção ambiental global e local das comunidades rurais ao longo dos cinco anos de pesquisa. A percepção dos problemas mundiais teve alteração durante o tempo estudado, elevando o grau de criticidade dos entrevistados. Tal modificação pode ser atribuída em parte pelos meios midiáticos, especialmente sobre os problemas globais.

Quanto aos problemas locais, observou-se igual comportamento. Tal alteração da percepção entre 2009 a 2013 pode ser atribuída às atividades de capacitação, diálogos e oficinas, desenvolvidas pela Universidade, com o intuito de empoderar as comunidades quanto a sua inserção crítica sobre os temas ambientais de sua localidade. Considera-se, a partir destes dados, que as Políticas Públicas focadas no empoderamento social utilizadas tiveram repercussão positiva.

A continuidade das atividades de empoderamento social, por meio da extensão universitária, está sendo uma estratégia positiva no que tange a discussão dos problemas ambientais globais e locais no sertão nordestino. Políticas públicas necessitam ser delineadas para dar suporte a tais atividades.

Page 8: Problemas Ambientais Globais e Locais no Semiárido … · “CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION” São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015 Problemas Ambientais

5th International Workshop | Advances in Cleaner Production – Academic Work

“CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION”

São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015

8

Referências

Albuquerque, C. G., Gomes, R. K. L.,El-deir, S. G.2010a.Estudo comparativo do perfil socioeconômico e percepção ambiental de comunidades do semi-árido nordestino, Pernambuco (Brasil). Anais do Congresso Latinoamericano de Sociologia Rural.

Albuquerque, C. G.,El-deir, S.G., Correa, M. M.,Silva, E. F. de F., Gomes, R. K. L. 2010b.Caracterização, infra-estrutura e percepção ambiental de comunidades rurais do Semi-Árido Brasileiro.Congresso Nacional de Meio Ambiente, Poço De Caldas.

Albuquerque, F. J. B., Martins, C. R., Neves, M. T. de S. 2008. Bem-estar subjetivo emocional e coping em adultos de baixa renda de ambientes urbano e rural. Estudos de Psicologia,v. 25, n. 4, 509 – 516.

Alves, M. S., Soares, T. M., Silva, L. T., Fernandes, J. P., Oliveira, M. L.A., Paz, V. P. S. et al. 2011. Estratégias de uso de água salobra na produção de alface em hidroponia NFT.Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, vol.15, n. 5, 491 – 498.

Araújo, G. R.,Steuer, I. R. W., Costa, A. R. S., Silva, T. E. P., El-Deir, S. G. 2012. Compreensão ambiental sobre o uso e conservação da água pelos moradores de Poço da Cruz, Ibimirim-PE. Anais do III Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental, Goiânia.

Bolfarine, H.,Bussab, W. O. 2011. Elementos de amostragem,2. Blucher, São Paulo.

El-deir, S. G., 1999. Gestão ambiental: I - Percepção ambiental e caracterização sócio-econômica e cultural da comunidade de Vila Velha, Itamaracá - PE (Brasil). Trabalhos Oceanográficos, vol. 27, n. 1, 175 – 185.

El-deir, S. G. 2014. Metodologias inovadoras para o empoderamento social. Edufrpe, Recife.

Faustino, A. C. 2012. Detetives da saúde. In: El-deir, S. G. (org.), Educação Ambiental no Semiárido.Edufrpe, Recife.

Gotelli, N. J., Ellison, A. M. 2011.Princípios de estatísticas em Ecologia. Artmed, Porto Alegre.

Guimarães, M., Soares, A. M. D., Carvalho, N. A. O., Barreto, M. P. 2009. Educadores ambientais nas escolas: as redes como estratégia.Caderno Cedes, v. 29, n. 77, 49 – 62.

Hardin, G.1968.The Tragedy of the Commons. Science, New Series, v. 162, n. 3859, 1243 – 1248.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ibimirim – Pernambuco http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=260660#acessado em Fevereiro/2011.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Índice de Desenvolvimento Humanohttp://www.ibge.gov.br/acessado em Janeiro/2014.

Jannuzzi, P. de M. 2009.Indicadores sociais no Brasil: conceitos, fontes de dados e aplicações para a formulação e avaliação de Políticas Públicas e elaboração de estudos socioeconômicos. Alínea, Campinas.

Lima, A. S. T., Albuquerque, C. G., Cavalcanti, N. S., LEAL, M. F.,El-deir, S. G., Paz, Y. M. 2010. Percepção ambiental na ruralidade do Semiárido, estudo junto aos moradores de comunidades rurais de Ibimirim PE. Anais do Congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

MMA – Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Recursos Hídricos. 2005. Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca PAN-Brasil. Ministério do Meio Ambiente, Brasília.

Page 9: Problemas Ambientais Globais e Locais no Semiárido … · “CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION” São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015 Problemas Ambientais

5th International Workshop | Advances in Cleaner Production – Academic Work

“CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION”

São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015

9

Oliveira, B. M. C, Paz, Y. M., Oliveira, F. C. 2011. Percepção Ambiental da comunidade rural do semiárido pernambucano: estudo de caso em Poço da Cruz, Ibimirim – PE (Brasil). In: Anais do II Congresso Nacional de Educação Ambiental,João Pessoa.

Paz, Y. M., Cavalcanti, N. S., Rocha, C. M. C., El-deir, S. G. 2011. A problemática da água no semiárido pernambucano. In: Messias, A. S., Feitosa, M. C. A. (org.). A influência das mudanças climáticas sobre os recursos hídricos. FASA, Recife, v. 6, 330-337

Pinheiro, I. de F. S., Lima, V. L. A., Freire, E. M. X., Melo, A. A. 2011. A percepção ambiental de uma comunidade da caatinga sobre o turismo: visões e perspectivas para o planejamento turístico com vistas à sustentabilidade. Sociedade&Natureza, v. 3, 467 – 482.

Santos, V. M. N., Jacobi, P. R. 2011.Teacher education and citizenship: school projects in environmental studies. Educação e Pesquisa, v. 37, n. 2.

Silva A. J., Silva Júnior, M. F. 2010. Representações sociais e agricultura familiar: indícios de práticas agrícolas sustentáveis no Vale do Bananal. Sociedade & Natureza, v. 3, Salinas, 525 – 538.

Stotz, E. N. 2012. Os limites da agricultura convencional e as razões de sua persistência: estudo do caso de Sumidouro, Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 125, 114 – 126.

Ventura, A. C., García, L. F., Andrade, J. C. S. 2012. Tecnologias sociais: as organizações não governamentais no enfrentamento das mudanças climáticas e na promoção de desenvolvimento humano. Caderno EBAPE.BR, v. 10, n. 3, 605 – 629.