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Noite dos investigadores. A segunda vida das espinhas e outras inovações // PÁGS. 26-27

Press Review page · 2016-07-11 · gado e peixe que chegue para todos. Os tenébrios são um exemplo de alternati-va proteica, contam. A ciência ainda está a tentar perceber que

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Page 1: Press Review page · 2016-07-11 · gado e peixe que chegue para todos. Os tenébrios são um exemplo de alternati-va proteica, contam. A ciência ainda está a tentar perceber que

Noite dosinvestigadores.A segunda vidadas espinhas eoutras inovações// PÁGS. 26-27

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Ciência do futuro.Do frigoríficointeligente àsegunda vidadas espinhasNoite dos Investigadores reuniu recorde departicipantes. O i esteve no Pavilhão doConhecimento a espreitar ideias inovadoras

NOITE DOS

INVESTIGADORESA nível nacional, a iniciativa

europeia que teve lugar nasexta-feira contou comeventos em 26 localidades,que atraíram mais de 30 milpessoas. No Pavilhão doConhecimento houve 2600visitantes

MARTA F. REIS (Texto)mana. [email protected] VAZ (Fotografias)

sofia. [email protected]

Zoom // Ciência

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Ainda falta algum tempo para encerrara noite, mas da cozinha improvisada no

Pavilhão do Conhecimento já desapare-ceram todas as iguarias à base de insec-

tos e algas. Resta uma compota adoci-cada de tenébrios. Laszlo Zsiros, húnga-ro de 32 anos, da equipa educativa do

centro, lança o desafio: porque não pro-var as larvas do frigorífico... vivas? A

curiosidade fala alto, mas é preciso fecharos olhos e trincá-las sem pensar muito- além de estarmos a travar o curso devida de um besouro, não sabe nada bem."São as melhores: crescem depressa, não

fogem muito e não cheiram mal", dizLaszlo, que os colegas apresentam como

"aquela pessoa" que apareceu um diapara almoçar com arroz e larvas na mar-mita. Até pela nossa cara pouco conven-cida esclarece que por agora é tão rarocomer larvas como, vá lá, coelho. Mas o

que interessa é estar preparado para seruma boa boca: trata-se de uma fonte de

proteína abundante e sustentável.Em 2030 seremos 9 mil milhões de seres

humanos e é pouco provável que hajagado e peixe que chegue para todos. Os

tenébrios são um exemplo de alternati-va proteica, contam. A ciência ainda estáa tentar perceber que rótulo pôr do pon-to de vista nutricional, explica Sara Ramos,do centro que dedicou a última ediçãoda Noite Europeia dos Investigadores a

antecipar o futuro próximo: 2020. Por

agora sabe-se que estes bichos, à venda

em lojas de animais de estimação, são

ricos em cálcio, fibra e têm quase 50% de

proteínas. Alimentados diariamente com

farinha, começam a ficar com um tama-nho bom para massa à bolonhesa emduas ou três semanas.

Se esta era a experiência mais exótica

no pavilhão que na sexta-feira recebeu2600 visitantes em sete horas, não fal-

taram amostras do futuro, a maioria de

origem portuguesa. João Pedro, finalis-ta de Engenharia Mecânica no Institu-to Superior Técnico, apresenta o protó-tipo de fórmula 1 que desenvolveramcom motores eléctricos da Siemens. Pesa

menos 23% que o carro mais leve do mer-cado. Com o chassis em fibra de carbo-no e estudos aerodinâmicos que envol-veram 22 estudantes de Engenharia e

uma colega de Arquitectura, consegui-ram um carro mais rápido que um Fer-rari, capaz de ir dos 0 aos 100 em 2,8segundos. "Em 2020 mais de metade dos

carros vão ser eléctricos", diz o estudan-

te, que investiu 15 horas por semana no

projecto. Tem cadeiras em atraso e fal-

ta a tese, mas acha que estas parceriasentre indústria e universidades, em que

Mais de 2600 pessoasforam ao Pavilhão doConhecimento na últimasexta-feira espreitarinovações portuguesasse exploram os limites da eficiência namecânica, valem mais para o CV.

O papel das parcerias na inovação é

um traço comum. Francisco Melo, doInstituto de Sistemas e Robótica, tam-bém do IST, mostra um robô desenvol-vido em conjunto com a Universidade

Carnegie Mellon (CMU). No futuro, o

protótipo poderá tornar a experiênciade quem se perde num parque de esta-cionamento menos frustrante. Basta agi-tar as mãos frente às câmaras de vigi-lância para o robô ir ter com o automo-bilista e oferecer ajuda. Outro protótipoque levaram à iniciativa já vagueia nos

corredores da CMU, num conceito a quechamam "autonomia simbiótica". Rece-be convidados ou ajuda nas reuniões.Faz o reconhecimento espacial e orien-ta-se com lasers. E quando se perde pedeajuda. Se o mote da noite é falar de ino-

vação a curto prazo, o investigador nãotem dúvidas que esta forma de pensaros robôs como ferramenta integradanum sistema, seja de relações públicas,seja de vigilância ou resgate, vai concre-tizar-se mais depressa que a ambiciona-da (e temida) substituição do ser huma-no pela máquina. 'Temos percebido queé muito difícil conseguir que os robôs

sejam completamente autónomos e inte-

ligentes. Processamos um contexto quelhes escapa." Exemplo disso é o coßot da

CMU, desorientado entre os visitantes.

Programaram-no com a sala do pavilhãomas perde-se na enchente.

Eduardo Lima, do Instituto de Teleco-

municações, apresenta outro objecto mais

perto de se tornar inteligente: um frigo-rífico normal, equipado com uma ante-

na para ser capaz de avisar o dono dos

produtos em falta. Entre os trabalhoscom satélites, os investigadores do ITestudam aplicações para aproveitar nodia-a-dia a tecnologia RFID, método de

identificação através de sinais de rádio.

"Agora só falta a operação logística desubstituir códigos de barra por chips",diz. O preço já não é obstáculo: ainda lon-

ge de massificaçâo, cada etiqueta do futu-ro já sai a 10 cêntimos. Mas se há inova-

ção a pensar no futuro, há outra que nas-ce porque o negócio do passado falhou.Patrícia Calado, da biotecnológica Bioal-

vo, conta que o projecto esteve para desa-

parecer em 2011, quando a área em queestavam a apostar, de novos medicamen-

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tos, entrou numa espiral de desinvesti-mento. Viraram-se para o bem-estar e a

cosmética e preparam-se para um feitoinédito: vender a um dos principais for-necedores mundjais de ingredientes de

beleza o primeiro produto com proprie-dades de botox de origem natural e mari-nha, cortesia de uma bactéria açoriana.Em dois anos, reuniram 50 mil extrac-tos de bactérias que vivem nas águas por-tuguesas, muitas delas esquecidas nasuniversidade e que agora testam à pro-cura de propriedades antioxidantes ou

anti-rugas. "Estava muito estudado masfaltava pensar a exploração", diz.

Em tempo de crise, tirar mais provei-to do que existe é assim outro gatilho da

inovação. Clara Piccirillo e Manuela Pin-tado, da Escola Superior de Biotecnolo-

gia da Universidade Católica, mostramo que fizeram em parceria com empre-sas como a Pescoal ou A Poveira: encon-traram formas de dar nova vida a espi-nhas e escamas de bacalhau e sardinhas,

que até aqui iam para o lixo. Após aque-cerem estes restos acima dos 1000 grausdescobriram um produto valioso, a hidro-

xiapatita. "É um dos principais compo-nentes das próteses", explica Piccirillo,italiana a fazer o pós-doutoramento em

Portugal. "Um quilo de qualidade, mes-mo sintético, pode chegar aos mil euros.Se conseguirmos um quilo com dois qui-los de espinha o retorno é considerável."

É ainda fonte de fósforo, nutriente escas-

so para o aumento da procura, sobretu-do pelo sector agrícola. Com a produçãode lixo a aumentar e o tratamento a saircaro às empresas, pensam estar numaárea cheia de potencial e já foram desa-fiados a estudar como reaproveitar o

soro da produção de leite ou a levedurada indústria cervejeira, extraindo pro-priedades antioxidantes e anti-hiperten-sivas para enriquecer produtos alimen-tares. Com resultados, precisam de maisparceiros. "Aprovar um produto destes,da investigação aos ensaios em sereshumanos, custa 4 a 8 milhões de euros.É preciso haver interesse e viabilidadeeconómica."

CONHECER O PROCESSOMais que resultados, a noitedos investigadores mostra os

processos. Como extrair

propriedades de bactérias e

testá-las em leveduras ou tirar

componentes de espinhasforam métodos ensinados

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Na Católica hainvestigadores a estudarnovas formas devalorizar lixo, porexemplo soro e escarnas

Empresa portuguesaprepara-se para venderprimeiro produto compropriedades de botoxde origem marinha

DE TODAS AS IDADES

Experimentar ciência faz

parte da aprendizagem. É a

ideia por detrás de uma novaala que inaugurou no

pavilhão, chamada Doing.Um dos ateliês junta a

electrónica ao vestuário

CARRO DA VITÓRIA É o quintoprotótipo desenvolvido noInstituto Superior Técnico e o

que tem tido mais vitórias nocircuito da Formula Student.Na "prova rainha", que teve

lugar em Setembro emEspanha, foram a primeiraequipa ibérica qualificada,graças ao terceiro lugar