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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE / DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENFERMAGEM
SAMARA DOURADO DOS SANTOS MORAES
PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM MULHERES COM CÂNCER DE MAMA: contribuições para a enfermagem
TERESINA 2011
SAMARA DOURADO DOS SANTOS MORAES
PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM MULHERES COM CÂNCER DE MAMA: contribuições para a enfermagem
Dissertação de Mestrado submetida à Banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Enfermagem.
Orientadora: Profa. Dra. Inez Sampaio Nery
Área de Concentração: A enfermagem no contexto social brasileiro
Linha de Pesquisa: Políticas e práticas sócio-educativas de Enfermagem
TERESINA 2011
SAMARA DOURADO DOS SANTOS MORAES
PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM MULHERES COM CÂNCER DE MAMA: contribuições para a enfermagem
Dissertação de Mestrado submetida à Banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Enfermagem.
Aprovado em 25/11/2011
Profa. Dra. Inez Sampaio Nery - Presidente
Universidade Federal do Piauí – UFPI
Profa. Dra. Rosângela da Silva Santos – 1ª Examinadora Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – FE/UERJ
Profa. Dra. Claudete Ferreira de Souza Monteiro – 2ª Examinadora Universidade Federal do Piauí (UFPI)
Suplente: Profa. Dra. Silvana Santiago da Rocha Universidade Federal do Piauí (UFPI)
Dedico este trabalho aos meus pais Onofre e Inez, que sempre acreditaram, apostaram e investiram em minha capacidade, e ao meu esposo Perysson, por toda a compreensão e apoio nesta árdua caminhada.
AGRADECIMENTOS
A Deus e à Mãe Rainha, pela presença constante em minha vida, por ter
sempre me fortalecido quando eu estava fraca e por sempre iluminar os meus
passos.
À minha mãe, por ser a minha mãezinha maravilhosa, amiga e companheira.
Obrigada por seu amor, dedicação, exemplo, compreensão incondicional e por
sempre me ter incentivado à constante qualificação.
Ao meu pai, por ser aquele pai preocupado, presente e protetor em todos os
momentos. Por todas as suas renúncias em nome da nossa educação e por ser
exemplo de que só pela qualificação profissional é que se consegue vencer os
obstáculos mais críticos.
Ao meu esposo Perysson, pelo amor e companheirismo em todos os
momentos, especialmente nos mais difíceis, de muito estresse e falta de tempo.
Obrigada por entender minha ausência e por ser meu apoio mais próximo, pois isso
me fortalecia e me fazia acreditar que tudo daria certo.
Aos meus irmãos Iomara e Onofre Júnior, pelo amor fraterno, respeito e por
sempre acreditarem em mim e se envaidecerem com as minhas conquistas.
Aos meus sogros Pedro Neto e Mercedes, pelo constante apoio durante esta
jornada.
A todos o meus familiares, avós, tios, primos e cunhados, pela torcida.
À UFPI, na pessoa do Magnífico Reitor Prof. Dr. Luiz de Sousa Santos
Júnior, pela oportunidade da realização deste mestrado.
À Coordenação do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Enfermagem
da UFPI, especialmente às profas. Dra. Telma Maria Evangelista de Araújo e Dra.
Lídya Tolstenko Nogueira, pela competência, esforço e dedicação com que têm
conduzido este programa de pós-graduação.
À minha orientadora Profa. Dra. Inez Sampaio Nery, pelo incentivo para
fazer a seleção, pela dedicação aos seus mestrandos, por conseguir transmitir a
importância da temática estudada e me fazer acreditar nela, por ter sido a minha
segurança e o meu ponto de equilíbrio quando o desespero em mim chegava.
Obrigada por tudo, tenho certeza que só consegui graças aos seus ensinamentos,
sua competência e seu apoio.
À Profa. Dra. Rosângela da Silva Santos, pela sua disponibilidade e todas
as suas contribuições para a melhoria desta pesquisa e por ter participado de minha
banca.
Às professoras doutoras da banca examinadora, Claudete Ferreira de Sousa
Monteiro e Silvana Santiago da Rocha, pelas valiosas reflexões e contribuições.
Às professoras do Programa de Mestrado em Enfermagem da UFPI, pelo
compromisso com a nossa formação e incentivo à produção do conhecimento
científico na área da enfermagem.
À minha amiga Juscélia, pelo apoio e seus ensinamentos durante a
construção deste estudo.
À amiga mestranda Verbênia, pela amizade e companheirismo, por
compartilhar comigo momentos de angústia, e pelas palavras de força que me deu
durante esta caminhada.
Às amigas mestrandas Lívia e Ivanilda, pela amizade, pelo
compartilhamento de conhecimento e por todas as parcerias na produção científica
durante o mestrado. Obrigada também por terem feito parte de bons momentos
nesta caminhada, como congressos e passeios.
Às demais colegas do mestrado, pelo companheirismo, amizade e pelos
inesquecíveis momentos de angústia e de alegria compartilhados ao longo período,
em especial, Mariana, Cláudia, Carminha, Taiane, Francidalma e Dinah, pela
maravilhosa convivência e apoio mútuo nesta jornada.
Aos funcionários do Departamento e do Mestrado em Enfermagem,
respectivamente, Valdira e Júnior, e todos os demais, pelo apoio essencial na
realização de nossas atividades acadêmicas.
Às alunas do Curso de Enfermagem - Bacharelado da Faculdade Santo
Agostinho Kátia Siveira, Alliny Silva, Aurislânia Bezerra e Daniele Dias, por terem
realizado comigo duas pesquisas na área temática de minha dissertação, que
serviram para elucidar alguns questionamentos nos meus estudos.
Ao Hospital São Marcos, em especial a psicóloga Roberta, por ter feito o elo
entre mim e o “Grupo Amigas do Peito”, para que eu construísse minha identidade
de pesquisadora, tão necessária à realização da pesquisa com o Método História de
vida.
A todas as mulheres do “Grupo Amigas do Peito”, por terem confiado a mim
as suas histórias de vidas.
À Faculdade Santo Agostinho, por acreditar que um ensino de qualidade
somente acontece com professores qualificados e, assim, apoiar e incentivar a
qualificação de seus docentes.
À Secretaria Municipal de Saúde de Cocal, na pessoa da Sra. secretária
Maria do Socorro Vieira Marques, por proporcionar flexibilidade nos meus horários
de trabalho e por me liberar para que eu pudesse me qualificar.
À equipe de Agentes Comunitários de Saúde da Estratégia Saúde da
Família Santo Hilário, pelo apoio, amizade e compromisso em suas atividades,
mesmo com a minha ausência.
Às enfermeiras Ariadna, Fátima, Islândia, Roberta, Gilmária e Geísa,
companheiras da ESF de Cocal-Pi, pelo imenso apoio que recebi de todas durante o
período em que trabalhávamos juntas e fazia o mestrado. Obrigada por tudo! Sem o
apoio de vocês, teria sido muito difícil para mim!
Às minhas amigas enfermeiras do Centro Cirúrgico da Maternidade Dona
Evangelina Rosa, em especial, Amparo, Francisca, Núbia, Divonete e Jucéia, pelo
total apoio e compreensão durante o período do mestrado.
Aos colegas do Centro de Saúde Vila Irmã Dulce, da Fundação Municipal de
Saúde de Teresina-PI, meu recente local de trabalho, pelo apoio e compreensão em
minhas ausências.
A todos aqueles, mesmo não mencionados nominalmente, que de algum
modo torceram por mim e contribuíram direta ou indiretamente com este estudo e
com a realização deste grande sonho, o meu MUITO OBRIGADA!!
“Agradeço todas as dificuldades que enfrentei, não fosse por elas, eu não teria saído do lugar. As facilidades nos impedem de caminhar; mesmo as críticas nos auxiliam muito” (Chico Xavier).
RESUMO
O câncer de mama é uma doença de significação diferenciada devido às repercussões do tratamento na identidade feminina e na sua qualidade de vida. Assim, a interdependência corpo-mente-espírito deve ser considerada e, nesse contexto, as práticas integrativas e complementares são importantes recursos por proporcionarem melhoria na qualidade de vida e melhor resposta ao tratamento oncológico alopático. Dessa forma, este estudo teve como objetivos descrever as práticas integrativas e complementares adotadas por mulheres com câncer de mama e analisar a percepção da mulher com câncer de mama sobre os efeitos dessas práticas em sua qualidade de vida. Trata-se de uma pesquisa descritiva, qualitativa, que contou com a participação de 14 mulheres com câncer de mama como sujeito e teve como cenário um hospital filantrópico em Teresina–PI, que é referência no norte-nordeste em tratamento de câncer. A produção dos dados foi realizada por meio de uma entrevista aberta, em conformidade com o método história de vida, e os resultados foram analisados à luz do referencial teórico construído a partir dos temas emergidos dos depoimentos. Adotou-se a técnica de análise de conteúdo segundo Bertaux, da qual emergiram as seguintes categorias: o yogaterapia, na promoção do bem-estar físico e mental; a terapia comunitária, como um espaço de trocas, empoderamento e resiliência; o uso de plantas medicinais, como prática complementar no combate ao câncer; Argiloterapia e religiosidade, como práticas integrativas e complementares no tratamento de câncer de mama. O yoga foi percebido de forma positiva e relacionado a melhorias físicas e mentais na vida das mulheres com câncer de mama. Elas relataram melhora na saúde psíquica, que fora abalada pela doença, e benefícios físicos como relaxamento e alívio de dores na coluna e nos membros. A troca de experiências entre mulheres que vivenciam a mesma situação durante a terapia comunitária foi propulsora para o processo de empoderamento e resiliência e possibilitou uma vivência menos traumática com o câncer. As participantes deste estudo relataram a utilização de plantas medicinais como o none, ameixa, janaguba, aveloz, babosa e mangaba, como forma complementar ao tratamento alopático e acreditam que essas ervas contribuíram positivamente para a melhora de seu estado geral e para a cura de sua doença. A argiloterapia promoveu conforto e relaxamento, e as práticas religiosas foram importantes terapias no enfrentamento da doença, tendo em vista que a fé em Deus promoveu redução da ansiedade e estresse implicando diretamente na melhoria de vida dessas pacientes. O estudo recomenda aos serviços de oncologia a adoção de programas de práticas integrativas e complementares por uma equipe multiprofissional e a extensão dessa assistência para o âmbito da atenção básica. Nesse contexto a enfermeira tem um papel primordial, pois é ela quem tem um maior contato com a paciente e pode educá-la para o uso adequado dessas práticas. A atuação da enfermeira nas práticas integrativas e complementares abre espaço para a enfermagem e proporciona autonomia e independência à enfermeira na sua prática em qualquer âmbito profissional. PALAVRAS CHAVE: Práticas Integrativas e Complementares. Câncer de Mama. Qualidade de Vida. Enfermagem.
ABSTRACT
Breast cancer is a disease of significance differentiated due to the impact of treatment on female identity and quality of life. Thus, the interdependence mind-body-spirit must be considered and in this context, integrative and complementary practices are important resources for providing better quality of life and better response to allopathic cancer treatment. Therefore, this study aimed to describe the complementary and integrative practices adopted by women with breast cancer and to analyze the perception of women with breast cancer on the effects of these practices in their quality of life. It is a descriptive qualitative research, which had the participation of 14 women with breast cancer as the subject and was set in a charity hospital in Teresina-PI, which is a benchmark in the north-northeast in cancer treatment. Data production was performed using an open interview, in accordance with the method of life history, and the results were analyzed according to the theoretical framework built from the themes that emerged from interviews. It was adopted the technique of Bertaux content analysis, from which emerged the following categories: the yoga therapy, in promotion of physical well-being and mental health; therapy community, as a space of exchange, empowerment and resilience; the use of medicinal plants as complementary practice in fighting cancer; clay therapy and religion as complementary and integrative practices in the treatment of breast cancer. The yoga was positively perceived and related to physical and mental improvements in the lives of women with breast cancer. They reported improved mental health, which had been shaken by the disease, and physical benefits such as relaxation and relief of back pain and limb. The exchange of experiences among women who experienced the same situation during therapy community was propulsive into the process of empowerment and resilience and allowed a less traumatic experience with cancer. The study participants reported the use of medicinal plants such as noni, plum, janaguba, aveloz, aloe vera and mangaba as a complement to allopathic treatment and believe that these herbs have positively contributed to the improvement of their general condition and for the healing of their disease. The clay therapy promoted comfort and relaxation, and religious practices were important in fighting the disease therapies in order that faith in God promoted reduction of anxiety and stress directly involved in improving the lives of these patients. The study recommends to oncology services programs the adoption of integrative and complementary practices expertise in a multidisciplinary team and the extent of assistance to the scope of primary care. In this context, the nurse has a key role because it is she who has a greater contact with the patient and can educate them to the appropriate use of these practices. The activity of the nurse into integrative and complementary practices open space for nursing and provides the nurse’s autonomy and independence in their practice in any professional field. KEY WORDS: Integrative and Complementary Therapies. Breast Cancer. Quality of Life. Nursing.
RESUMEN
El cáncer de mama es una enfermedad de importancia debido a los efectos diferenciales del tratamiento sobre la identidad femenina y la calidad de vida. Por lo tanto, la interdependencia mente-cuerpo-espíritu debe ser considerada y en este contexto, las prácticas de integración y complementariedad son recursos importantes para proporcionar una mejor calidad de vida y una mejor respuesta a la quimioterapia alopática. Por lo tanto, este estudio tuvo como objetivo describir las prácticas complementarias y de integración utilizadas por las mujeres con cáncer de mama y analizar suyas percepciones sobre los efectos de estas prácticas en su calidad de vida. Es un salto cualitativo descriptivo, que contó con la participación de 14 mujeres con cáncer de mama como el sujeto y se estableció en un hospital de caridad en Teresina-PI, que es una referencia en el norte-noreste en el tratamiento del cáncer. La producción de datos se realizó por medio de una entrevista abierta, de acuerdo con el método de la historia de vida, y los resultados fueron analizados a luz de la construcción teórica sobre los temas que surgieron de las entrevistas. Hemos adoptado la técnica de análisis de contenido segunda Bertaux, del cual surgieron las siguientes categorías: terapia de yoga en la promoción del bienestar físico y mental; la terapia de comunidad, como un espacio de intercambio, empoderamiento y resistencia; el uso de plantas medicinales como práctica complementaria en la lucha contra el cáncer; la terapia de barro y la religión como prácticas complementarias e integradoras en el tratamiento del cáncer de mama. El yoga se percibió de manera positiva y relacionada con las mejoras física y mental en la vida de las mujeres con cáncer de mama. Se informó una mejor salud mental, que había sido sacudida por la enfermedad, y los beneficios físicos, como la relajación y el alivio del dolor lumbar y las extremidades. El intercambio de experiencias entre las mujeres que viven la misma situación durante la terapia de comunidad llevó el proceso de empoderamiento y la resistencia y permitió una experiencia menos traumática con el cáncer. Los participantes del estudio reportaron el uso de plantas medicinales como el noni, ciruela, janaguba, aveloz, aloe vera y mangaba como complemento al tratamiento alopático y cree que estas hierbas han contribuido positivamente a la mejora de su estado general y para curación de su la enfermedad. La comodidad y la relajación promovidas por la terapia de barro, y las prácticas religiosas fueron importantes en la lucha contra la enfermedad de las terapias con el fin de que la fe en Dios promovió la reducción de la ansiedad y el estrés directamente implicados en mejorar la vida de estos pacientes. El estudio recomienda al programa de servicios de prácticas de oncología las experiencias integradoras y complementarias por un equipo multidisciplinario y la amplitud de la asistencia con el ámbito de la atención primaria. En este contexto, la enfermera tiene un papel fundamental porque es ella quien tiene un mayor contacto con el paciente y puede lo educar para el uso adecuado de estas prácticas. La asistencia de enfermería con las prácticas de integración y complementariedad proporciona la autonomía del enfermero y la independencia en su práctica en cualquier campo profesional.
PALABRAS CLAVE: Prácticas Complementarias y de Integración. Cáncer de Mama. Calidad de Vida. Enfermería.
SUMÁRIO
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 1.1 Contextualização do problema e objeto de estudo 1.2 Questões norteadoras e objetivos 1.3 Justificativa e contribuições do estudo 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 O Câncer de mama: sintomatologia, tratamento convencional e a
busca por novas possibilidades 2.2 Aspectos históricos, políticas de saúde e a inserção da enfermagem
nas práticas integrativas e complementares. 2.3 A utilização das práticas integrativas e complementares em
mulheres com câncer de mama 2.4 Práticas integrativas e complementares e a qualidade de vida
3 ABORDAGEM METODOLÓGICA 3.1 Tipo de Estudo 3.2 O Método História de Vida 3.3 Cenário do estudo 3.4 Sujeitos da pesquisa 3.5 Produção dos dados 3.6 Análise dos dados 3.7 Aspectos éticos 4 RESULTADOS
4.1 Caracterização dos sujeitos 4.2 Percepções de mulheres com câncer de mama sobre práticas
integrativas e complementares em sua qualidade de vida 4.2.1 O yogaterapia na promoção do bem-estar, físico, mental e
espiritual 4.2.2 A terapia comunitária como espaço de trocas, empoderamento e
resiliência 4.2.3 O uso de plantas medicinais como prática complementar de
combate ao câncer 4.2.4 Argiloterapia e religiosidade como práticas integrativas e
complementares no tratamento do câncer de mama
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ANEXOS
APÊNDICE
13 19 19
23
27
30 43
48 48 50 51 52 54 56
58
60
60
67
75
84
91
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
13
1.1 Contextualização do problema e objeto do estudo
Vivencia-se um momento de grandes avanços na área da saúde, com o
desenvolvimento de tecnologias e terapêuticas que prometem revolucionar a cura de
doenças antes consideradas incuráveis, como o câncer. Porém, o surgimento de
especializações que reduzem o ser humano a partes gera crises, pois deixam
lacunas na assistência ao indivíduo, à família e à comunidade e são incapazes de
atender à totalidade das demandas de saúde. Nesse contexto, observa-se uma
crescente busca por práticas terapêuticas que assistam o indivíduo de uma forma
holística, que contemplem os seus aspectos físicos, mentais, espirituais e
emocionais.
Assim, este estudo tem, como questão central, a reflexão sobre a percepção
dos efeitos das práticas integrativas e complementares na qualidade de vida de
mulheres com câncer de mama, num contexto em que as taxas de incidência e de
prevalência desse tipo de câncer mantêm-se elevadas, apesar das políticas públicas
existentes na área da oncologia e da saúde da mulher que visam à detecção e
tratamento precoce da doença. Acrescenta-se a isso o fato de o câncer de mama
trazer repercussões biopsicossociais que interferem diretamente na qualidade de
vida, necessitando assim de práticas que assistam o indivíduo integralmente.
As neoplasias são responsáveis por 13% de todas as causas de óbito no
mundo. Estima-se que, em 2020, o número de casos novos anuais seja da ordem de
15 milhões, dos quais 60% ocorrerão nos países em desenvolvimento. O Sistema de
Informação Sobre Mortalidade (SIM) registra que o câncer constitui-se na segunda
causa de morte por doença no Brasil. Em 2004, o Brasil registrou 141 mil óbitos por
câncer, sendo os mais incidentes os de próstata e pulmão no sexo masculino, e os
cânceres de mama e do colo de útero no sexo feminino (BRASIL, 2008).
As estimativas, para o ano de 2010, que eram válidas também para o ano de
2011, apontavam para a ocorrência de 489.270 novos casos de câncer. Esperava-se
ao final deste ano 236.240 casos novos para o sexo masculino e 253.030 para o
sexo feminino. Os tipos mais comuns, além do câncer de pele do tipo não
melanoma, seriam os cânceres de próstata e de pulmão, no sexo masculino, e os
cânceres de mama e do colo do útero, no sexo feminino. Já as estimativas para
14
2012, que também são válidas para o ano de 2013, mostram um aumento do
número de casos esperados de câncer, esperam-se 518.510 novos casos, incluindo
os de pele não melanoma, o que reforça a magnitude do problema do câncer no
país (BRASIL, 2009a; INCA, 2011).
O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo, e
o mais comum entre as mulheres. A cada ano, 22% dos casos novos de câncer em
mulheres são de mama. No Brasil ele é o mais incidente entre as mulheres em
quase todas as regiões, ocupando segundo lugar apenas na região norte (BRASIL,
2007).
A estimativa de novos casos de câncer de mama para o Brasil em 2010 era
de 49.240, com um risco estimado de 49 casos a cada 100 mil mulheres. No Piauí,
estimava-se que ocorreriam 350 casos, dos quais 150 seriam em Teresina. Já para
o ano de 2012, a estimativa nacional era de 52.680 novos casos de câncer de
mama, com um risco estimado de 52 casos a cada 100 mil mulheres, sendo a
estimativa no Piauí de ocorrência de 410 casos, dos quais 180 são na capital.
(BRASIL, 2009a; INCA, 2011).
Analisando-se as estimativas acima, percebe-se que há uma elevação do
número esperado de casos de câncer, a cada ano, incluindo-se aí o de mama. Essa
comparação é importante para estabelecer prioridades na assistência ao paciente,
direcionada para a melhoria da qualidade de vida, tendo em vista que o câncer,
principalmente o de mama, traz repercussões biopsicossociais.
De acordo com Silva (2008), o diagnóstico de câncer tem um efeito
devastador na vida de quem o recebe e, no caso do câncer de mama, esse impacto
ainda é maior em virtude de o tratamento trazer repercussões importantes no que se
refere à identidade feminina e, geralmente, levar a sentimentos de baixa autoestima,
medo e incerteza, interferindo diretamente em sua qualidade de vida.
Assim, é necessária uma compreensão de que, ao adoecer, todo o corpo se
transforma para enfrentar a doença. Ao entrar em ação de enfrentamento da
doença, o portador do câncer pode se expressar de maneiras diferentes: física,
emocional ou espiritualmente. Dessa forma, novas abordagens a esses pacientes
avançam para uma compreensão mais abrangente sobre o desequilíbrio causador
do processo de adoecimento, que coloca o cliente, e não a doença, no foco central
da atenção dos profissionais de saúde, que devem ter como meta ajudá-lo a criar
condições mais favoráveis ao enfrentamento da doença e processo de cura. Dentro
15
dessa perspectiva, as ideias de interdependência mente-corpo-ambiente têm sido
consideradas na assistência às pessoas portadoras de câncer e avançam para uma
compreensão mais abrangente do desequilíbrio causador do adoecimento
(FIGUEIREDO et al., 2009).
Nesse contexto, as práticas integrativas e complementares se inserem e
assumem um papel cada vez mais importante, tendo em vista que, ao considerarem
o indivíduo um ser holístico, suas intervenções são baseadas na integralidade e são
direcionadas para a recuperação do equilíbrio mente-corpo-espírito e para a
restauração da saúde e da qualidade de vida perdida com a doença.
A percepção gerada com a experiência do sofrimento faz surgir outros
conceitos no processo saúde-doença, como a intuição, a energia vital, o holismo, e
se impõe a necessidade de repensar a prática dentro de um novo espaço ético
(TESSER; BARROS, 2008).
A palavra holismo foi utilizada pela primeira vez em 1928 no livro Holism and
Evolution, escrito por Smuts. Holismo, nesse livro, representa os preceitos
filosóficos que consideram os sistemas como um todo, e não as suas partes, e
demonstra a importância de se estudar a maneira como as partes se relacionam.
Etimologicamente, a palavra holismo ou holístico vem do grego holos, que significa
todo, completo (PAULA, 2005).
Tem-se observado um aumento exponencial no uso de práticas integrativas
e complementares no tratamento de várias doenças agudas e crônicas, entre elas o
câncer. O processo de ampliação dessa prática acontece em paralelo ao progresso
científico e tecnológico da medicina moderna ocidental e desperta o interesse de
usuários, pesquisadores, profissionais e gestores de serviços de saúde (SPADACIO
et al., 2010).
As práticas integrativas e complementares são consideradas um conjunto de
ações de prevenção, diagnóstico e tratamento fora do modelo biomédico que, em
vez de se opor à doença, impedindo certas manifestações sintomáticas, tenta
compreender suas causas e envolver o indivíduo em seu modo de vida (ELIAS;
ALVES, 2002; SOUZA; VIEIRA, 2005).
Esse campo de saberes e cuidados desenha um quadro múltiplo e
sincrético, que articula um número crescente de métodos diagnóstico-terapêuticos,
tecnologias leves, filosofias orientais e práticas religiosas em estratégias sensíveis
de vivência corporal e de autoconhecimento. Esse amplo acervo de cuidados
16
terapêuticos abriga ainda recursos como terapias nutricionais, disciplinas corporais,
diversas modalidades de massoterapia, práticas xamânicas e estilos de vida
associados ao naturalismo e à ecologia (ANDRADE; COSTA, 2010).
Percebe-se, portanto, a vasta quantidade de práticas integrativas e
complementares que podem ser utilizadas como recursos terapêuticos importantes
na assistência à saúde, entre elas acupuntura sistêmica, fitoterapia, cromoterapia,
florais de Bach, musicoterapia, reflexologia, shiatsu (massagem terapêutica),
alinhamento de chackras, reiki, toque terapêutico, laserterapia, auriculoterapia,
terapia comunitária, yogaterapia, argiloterapia, alimentação natural, radiestesia,
entre outras.
Essas práticas podem ser utilizadas simultaneamente, a depender de cada
situação, e são empregadas na maioria dos casos de forma integrada ao tratamento
alopata, modalidade convencional de cuidado. Têm mostrado importantes
repercussões físicas, mentais e espirituais na recuperação e resposta ao tratamento
de diversas enfermidades, entre elas o câncer.
Os motivos da expansão contínua das práticas integrativas na sociedade
atual não podem ser reduzidos a questões de insatisfação ou ineficiência da
medicina ocidental contemporânea ou aos sistemas públicos de saúde, apesar de
sua inegável influência. Fundamentam-se, principalmente, em escolhas culturais e
terapêuticas que apontam para mudanças nas representações de saúde, doença,
tratamento e cura, presentes no processo de transformação da cultura, criando
outras que valorizam o indivíduo e sua relação com o terapeuta como fundamental
para o tratamento, bem como o uso de pouca tecnologia para resgatar a relação
profissional-paciente, fragilizada pela interposição tecnológica. Nesse novo contexto,
a saúde é valorizada como elemento fundamental da terapêutica, opondo-se ao
papel central que a doença e seu combate atuam na biomedicina (SOUZA; LUZ,
2009).
A utilização de práticas integrativas e complementares está diretamente
relacionada ao alívio físico da dor, alívio emocional, diminuição dos efeitos colaterais
de medicamentos alopáticos, melhoria no funcionamento do sistema imunológico e
aumento da qualidade de vida. Acrescenta-se a isso o fato de essas práticas
possibilitarem um cuidado integral focado na individualização do tratamento e nos
impactos positivos junto ao tratamento convencional (SPADACIO et al., 2010).
17
Em virtude de as práticas integrativas e complementares proporcionarem
aos pacientes melhoria da qualidade de vida, assim como uma melhor resposta ao
tratamento clínico, já são adotadas de forma integrada ao tratamento convencional
do câncer em diversos hospitais de referência no mundo, como por exemplo no MD
Anderson Cancer Center, nos Estados Unidos, e no Hospital Israelita Albert Einstein,
no Brasil.
O Medical Doctor Anderson Cancer Center é um dos centros mais
respeitados no mundo, dedicado exclusivamente ao cuidado de paciente com
câncer. Vinculado à Universidade do Texas (EUA), ele tem dado importante
contribuição na pesquisa, educação e prevenção do câncer. Esse centro possui o
programa de Medicina Integrativa, que é referência mundial, em que os tratamentos
oferecidos melhoram a qualidade de vida dos pacientes por meio de programas que
focam a mente, o corpo e o espírito. Nesse sentido, utilizam a meditação, o yoga, a
massagem, que complementam o tratamento convencional. Possui ainda um núcleo
de pesquisa, cujo foco de investigação é a redução das consequências negativas do
diagnóstico e tratamento do câncer pela utilização de práticas integrativas. Para isso
utiliza ensaios clínicos rigorosamente controlados (MD ANDERSON, 2010).
Nos moldes do que ocorre em grandes centros de excelência no tratamento
de pacientes oncológicos como o MD Anderson (EUA), o Hospital Israelita Albert
Einstein iniciou esse programa pioneiro no Brasil. O paciente passa pela avaliação
do grupo de Terapias Integrativas e Complementares, na qual é discutida a sua
indicação e utilização junto à Medicina Alopática. Dada a grande frequência com que
os pacientes lançam mão de terapias alternativas, é de extrema importância que
sejam acompanhados por profissionais estudiosos do tema e familiarizados com as
terapias convencionais praticadas nesse hospital. O paciente é orientado nas
diversas modalidades de medicina integrativa e complementar (acupuntura,
meditação, yoga, toque terapêutico, entre outras), e pode contar com a segurança
de profissionais especialmente capacitados para tratar de pacientes com câncer
(HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN, 2010).
A utilização de práticas integrativas e complementares é parte do escopo
social dos pacientes oncológicos. O uso dessas práticas tem um sentido
sociocultural importante na construção da identidade do paciente com câncer,
ajudando-os, inclusive, na tomada de decisão sobre o próprio tratamento
convencional (SPADACIO; BARROS, 2008).
18
Assim, essas práticas contribuem como recursos úteis na promoção da
saúde individual e grupal de pacientes com câncer e ajudam na superação das
dificuldades encontradas no enfrentamento da doença, o que repercute
positivamente na resposta ao tratamento quimioterápico, radioterápico ou cirúrgico
(mastectomia). Dessa forma, tornam-se particularmente importantes, tendo em vista
que o diagnóstico de câncer e todo o processo de tratamento da doença são vividos
pelos pacientes com sofrimento e ansiedade, além de outros sentimentos.
Nesse contexto, as terapias integrativas e complementares são primordiais
no tratamento do câncer de mama, já que, de acordo com Elsner, Trentin e Horn
(2009), nesse tipo de câncer, adicionam-se ainda outras angústias relacionadas ao
simbolismo que o seio representa, tornando esse câncer de significação diferenciada
dos demais para a mulher que o vivencia.
As questões que envolvem corpo, gênero e saúde são indissociáveis nos
estudos sobre mulheres com câncer de mama, pois todo o contexto de significação
da doença está intimamente ligado à questão do corpo feminino, da representação
social que ele envolve, estando a mama associada à sexualidade, à maternidade e à
feminilidade da mulher (AURELIANO, 2009).
Por muito tempo o seio foi mais valorizado quanto aos aspectos
relacionados à maternidade, mas hoje essa valorização está mais voltada ao seu
significado de feminilidade, sendo fortemente explorado como ícone de apelo sexual.
Assim, a mulher com câncer de mama é susceptível a prejuízos em sua experiência
de sentir-se mulher, pois seu seio foi atingido pela doença e mutilado pelo
tratamento. Dessa forma, o câncer de mama leva geralmente a sentimentos de
baixa autoestima, de inferioridade e de medo da rejeição do parceiro, interferindo
diretamente em sua qualidade de vida (SILVA, 2008).
Assim, em virtude de o câncer de mama ser o mais temido entre as
mulheres, sobretudo pelo impacto biopsicossocial que provoca e consequente
diminuição da qualidade de vida, é oportuno desenvolver esse estudo com as
mulheres que vivenciam o processo de adoecer e utilizam práticas integrativas e
complementares como adjuvantes no tratamento convencional da doença.
Nesse enfoque, refletindo sobre a problemática que envolve as
repercussões do câncer de mama na vida da mulher e baseando-se nas implicações
na qualidade de vida que as práticas integrativas e complementares proporcionam
em pacientes oncológicos, delimitou-se como objeto de estudo a percepção das
19
mulheres com câncer de mama sobre os efeitos das práticas integrativas e
complementares em sua qualidade de vida.
De acordo com George (2000), a percepção consiste na representação que
cada ser humano tem de si próprio e de tudo que faz parte de seu meio e de sua
realidade sendo peculiar para cada pessoa. Isso significa que qualquer situação é
vivenciada de uma maneira única por cada um dos indivíduos envolvidos. Ballone
(2005) acrescenta que é ato pelo qual tomamos conhecimento de um objeto do meio
exterior. A maior parte de nossas percepções conscientes provém do meio externo,
portanto, a apreensão de uma situação objetiva baseada em sensações
acompanhada de juízos.
1.2 Questões norteadoras e objetivos
Com base no problema e objeto de estudo, foram elaboradas as seguintes
questões norteadoras, que serviram para estruturar esta pesquisa: Que práticas
integrativas e complementares são utilizadas por mulheres com câncer de mama?
Como percebem os efeitos das práticas integrativas e complementares em sua
qualidade de vida?
Considerando a problemática, objeto de estudo e questões norteadoras
foram traçados os seguintes objetivos:
Descrever as práticas integrativas e complementares utilizadas por
mulheres com câncer de mama.
Analisar a percepção da mulher com câncer de mama sobre os efeitos
das práticas integrativas e complementares em sua qualidade de vida.
1.3 Justificativa e contribuições do estudo
Realizar este estudo justifica-se pela importância da temática para a
Enfermagem, já que a cada dia cresce a adesão a práticas integrativas e
complementares no tratamento de diversas enfermidades e, principalmente, entre
20
pacientes oncológicos, e essas terapias atuam na promoção da saúde, prevenção,
tratamento e reabilitação de diversas doenças. Assim, um estudo desse tipo
mostrará o impacto que essas práticas trazem para a qualidade de vida das
mulheres com câncer de mama e poderá servir de subsídios para a elaboração de
estratégias que introduzam essas terapias de forma efetiva na assistência dos
serviços de saúde em geral e, sobretudo, nos de tratamento de câncer.
Observa-se que, de uma maneira geral, há uma carência de estudos
qualitativos que mostrem os efeitos do uso de práticas integrativas e
complementares em tratamentos de doenças. Em sua maioria os trabalhos utilizam
abordagem quantitativa e são de caráter experimental, com o objetivo de saber
como acontece o uso dessas terapias. Diante dessa realidade, torna-se necessária a
realização de pesquisas que aprofundem a compreensão sobre os sentidos,
entendimentos, percepções, experiências e vivências de pacientes sobre o uso de
práticas integrativas e complementares.
Estudos têm mostrado que essas terapias são seguras e eficazes se
utilizadas corretamente e orientadas por profissionais capacitados. Utilizar essas
práticas sem a orientação de um profissional é um risco à saúde. Portanto, deverá
ser desenvolvida uma atitude profissional direcionada para o papel educativo em
saúde. Nesse contexto, a enfermeira1 exerce papel fundamental, pois o contato
direto e mais profundo com a população permite educá-la e esclarecê-la quanto ao
uso benéfico ou não dessas técnicas, seja em hospitais, em centros de saúde ou
junto à comunidade. Para que isso ocorra é necessária a capacitação técnico-
científica em terapias integrativas e complementares, pois a falta de conhecimento
sobre elas acabaria por prejudicar sua adoção no cotidiano de trabalho.
O conhecimento dessas práticas deve ter suas bases ainda na graduação
em Enfermagem, com a inserção obrigatória de práticas integrativas e
complementares no conteúdo curricular do curso. Assim, o estudante de hoje, que
refletirá no profissional de amanhã, estará mais preparado para prestar uma
assistência holística ao indivíduo. Também as atualizações dos profissionais de
saúde nessas práticas devem ocorrer em um processo contínuo por meio de
1 Neste estudo será utilizada a denominação “enfermeira(s)” para representar o gênero masculino e
feminino, devido a Enfermagem ser uma categoria em que predominam as mulheres. Porém, nas fontes bibliográficas e transcrições, quando o termo estiver no masculino, assim permanecerá.
21
educação permanente, pois vem ao encontro das necessidades do contexto da
prática.
A educação permanente é necessária para que os profissionais construam
conhecimentos e os fortaleçam. Os programas educacionais preparam os
capacitados para darem suas contribuições no âmbito social, promovendo a
valorização dos recursos humanos. O profissional preparado faz a diferença e seu
saber faz parte do cuidado integral (PARNAGUÁ; BEZERRA, 2008).
O estudo sobre as práticas integrativas e complementares é hoje uma
necessidade para a Enfermagem, tendo em vista que o conhecimento profundo de
seus princípios resultará na ampliação do campo de atuação da enfermeira,
podendo esta conduzir a efetivas intervenções terapêuticas. Todavia há que se
estimular essa discussão como responsabilidade de todos os envolvidos: docentes,
enfermeiras do serviço e dos próprios graduandos, tendo em vista serem as práticas
integrativas e complementares um novo cenário no mercado de trabalho da área da
saúde, que se mostra promissor.
22
2 REFERÊNCIAS CONCEITUAIS
23
É primordial a abordagem de alguns aspectos conceituais relacionados a
toda a problemática do câncer de mama, como sua sintomatologia, tratamento
convencional e a busca por novas possiblidades, e aí se inserem as práticas
integrativas e complementares. A partir daí se discorre sobre as práticas integrativas
e complementares, abordando conceitos e definições, bem como os aspectos
históricos, políticas de saúde, a inserção na enfermagem e sua relação com a
qualidade de vida. Essa explanação irá auxiliar no entendimento sobre a percepção
das mulheres com câncer de mama sobre os efeitos das práticas integrativas e
complementares em sua qualidade de vida.
2.1 O Câncer de mama: sintomatologia, tratamento convencional e a busca
por novas possibilidades
As neoplasias constituem-se em um grupo vasto e heterogêneo de doenças,
que se caracterizam pelo crescimento anormal e pela capacidade de disseminação
para os demais tecidos do organismo, ocorrendo modificações na função de genes
responsáveis pela proliferação, a diferenciação e a morte celular. Essas mutações
podem ser herdadas ou adquiridas, por meio de processos considerados endógenos
ou pela exposição a fatores ambientais (SCHWARTSMANN; MARTELETE, 2006).
O câncer, principalmente o de mama, é uma doença de significação
diferenciada, pois há toda uma simbologia que permeia o processo de construção
social da doença, uma vez que a sua vivência transcende a dimensão biológica do
fenômeno. Ele é provavelmente o mais temido pelas mulheres, devido a sua alta
frequência e pelo fato de ser uma doença que resulta em mutilação da mama, e
muitas vezes a morte. Consequentemente se desenvolve uma diversidade de
sentimentos negativos, tais como ansiedade, choque, desespero, depressão e
medo, que geram estresse e diminuem a qualidade de vida destas mulheres.
Apesar de ser considerado um câncer de relativamente bom prognóstico, se
diagnosticado e tratado oportunamente, as taxas de mortalidade por câncer de
mama continuam elevadas no Brasil, muito provavelmente porque a doença ainda é
diagnosticada em estágios avançados (BRASIL, 2009a).
24
O câncer de mama apresenta um grande número de fatores de risco, os
principais são: idade; história pessoal ou familiar de câncer de mama; exposição à
radiação ionizante; obesidade, principalmente em mulheres pós-menopausa ou após
os 60 anos; terapia de reposição hormonal, devido aos hormônios femininos
estrogênio e progesterona; uso de bebida alcoólica. Outros fatores são história
ginecológica, menarca precoce ou menopausa tardia, história de doença mamária
proliferativa benigna, nuliparidade e primeira gestação tardia (BEREK, 2005).
A causa específica para a transformação maligna da célula epitelial ductal da
mama é considerada ainda desconhecida. A gênese do tumor é um processo de
vários estágios, desencadeado por carcinógeno, que provoca lesões genéticas e
epigenéticas em células susceptíveis, cuja vantagem é crescer seletivamente e
favorecer uma expansão clonal, que tem como resultado a ativação do proto-
oncogenes ou inativação de genes supressores de formação tumoral (MACHADO et
al., 2009).
Desde o início da formação do câncer até a fase em que ele pode ser
descoberto pelo exame físico, isto é, a partir de um centímetro de diâmetro, passam
em média dez anos. Estima-se que o tumor duplica de tamanho a cada período de
3-4 meses. No início da fase subclínica, tem-se a impressão de crescimento lento,
porém, depois que o tumor é palpável, a duplicação é facilmente perceptível. Se não
tratado, o tumor desenvolve metástase, mais comumente nos ossos, pulmões e
fígado (BRASIL, 2006b).
De acordo com o Ministério da Saúde, os sintomas do câncer de mama
palpável são o nódulo ou tumor no seio, acompanhado ou não de dor mamária.
Podem surgir alterações na pele que recobre a mama, como abaulamentos ou
retrações ou um aspecto semelhante à casca de laranja. Também podem surgir
nódulos palpáveis na axila (BRASIL, 2006b).
Contudo, as características biológicas, os atuais conhecimentos sobre o
câncer de mama e a disponibilidade de recursos tecnológicos não justificam a
adoção de programas de prevenção primária que evitem o aparecimento da doença.
Os maiores esforços relacionados ao controle dessa doença está dirigida às ações
de detecção precoce, ou seja, a descoberta de tumores mamários ainda pequenos,
com doença restrita ao parênquima mamário. Assim, o exame clínico das mamas e a
mamografia constituem estratégias recomendadas para o rastreamento do câncer
de mama. Atualmente, o autoexame das mamas não é estimulado como estratégia
25
isolada para a detecção precoce, e sim, como ação de educação para saúde que
contempla o conhecimento do próprio corpo (BRASIL, 2008).
No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda que todas as mulheres a partir
de 40 anos de idade realizem anualmente, para a detecção precoce do câncer de
mama, o rastreamento por meio do exame clínico. Esse procedimento é ainda
compreendido como parte do atendimento integral à saúde da mulher, e deve ser
realizado em todas as consultas clínicas, independente da faixa etária. Também se
recomenda o rastreamento por mamografia para as mulheres com idade entre 50 a
69 anos, com o intervalo máximo de dois anos entre os exames. Para as mulheres
pertencentes a grupos populacionais com risco elevado de desenvolver câncer de
mama, o exame clínico e a mamografia anual são recomendados a partir dos 35
anos de idade (BRASIL, 2004).
O exame clínico da mama é parte fundamental da propedêutica para o
diagnóstico de câncer. Deve ser realizado como parte do exame físico e
ginecológico e constitui a base para a solicitação dos exames complementares. Já a
mamografia é um procedimento diagnóstico que identifica alterações ou sinais de
malignidade nas mamas, mesmo ainda não perceptíveis ao exame clínico, ou seja,
antes de tornar-se uma lesão palpável. O diagnóstico é feito por meio das
características das imagens radiológicas. A lesão benigna é homogênea, de bordas
lisas e sem alterações secundárias nas mamas. Já a maligna apresenta-se como
nódulo irregular e pode causar alterações secundárias no parênquima mamário e na
pele (BRASIL, 2008)
Dependendo do estágio e do tipo de câncer, da idade e das condições da
mulher, o tratamento pode ser realizado basicamente por quatro abordagens: a
cirurgia (mastectomia unilateral, bilateral, total ou parcial) e radioterapia, como
tratamentos locais; a quimioterapia e a terapia com agentes biológicos, como
hormônios, anticorpos ou fatores de crescimento, como tratamentos sistêmicos. Os
métodos convencionais são eficazes no tratamento ao câncer, porém trazem efeitos
extremamente agressivos ao organismo e causam diversos efeitos colaterais
(ANJOS; ZAGO, 2006).
O tratamento cirúrgico é o mais antigo, principalmente de tumores sólidos.
Sua indicação vai depender do estadiamento clínico e do tipo histológico, podendo
ser conservadora, fazendo a ressecção do seguimento da mama (setorectomia,
26
tumorectomia alargada, e quadrantectomia), com retirada de gânglios axilares, ou
não conservadora, que consiste na mastectomia (MACHADO et al., 2009).
A radioterapia tem o objetivo de destruir as células remanescentes após a
cirurgia ou de reduzir o tamanho do tumor antes da cirurgia. Após cirurgias
conservadoras, deve ser aplicada em toda a mama da paciente, independentemente
do tipo histológico, idade, uso de quimioterapia ou hormonioterapia ou mesmo das
margens cirúrgicas livres de comprometimento neoplásico (BRASIL, 2004).
A quimioterapia é amplamente utilizada para o controle da doença, devido à
estratégia de tratar micrometástase. Constitui a unidade de tratamento sistêmico,
sendo classificada em adjuvante, neoadjuvante e paliativa. A adjuvante antecede os
tratamentos locorregionais. Na neoadjuvante, a terapia locorregional é feita
previamente. Já na paliativa, o objetivo é reduzir as células tumorais, diminuindo os
sinais e sintomas relacionados à doença (MACHADO et al., 2009).
As diversas modalidades de tratamento do câncer de mama garantem uma
maior expectativa de vida das pacientes, contudo, muitas vezes produzem efeitos
indesejados a nível biopsicossocial, que repercutem no bem estar e na qualidade de
vida da mulher. Assim, de acordo com Elias, Alves e Tubino (2006) e Jaconodino;
Amestoy e Thofehr (2008), o paciente, diante do diagnóstico de câncer, muitas
vezes deseja experimentar o que for possível para enfrentar a gravidade de sua
doença. Dessa forma, buscam diversas possibilidades de cura, como suporte físico
e emocional fora da medicina alopata. Dessa forma, um número significativo de
portadores de câncer usa ou considera a possibilidade de usar as práticas
integrativas e complementares em seu tratamento.
Um estudo realizado na Nigéria mostrou que o uso de práticas integrativas e
complementares é comum em pacientes com câncer. De 160 pacientes
entrevistados, 104 afirmaram utilizar essas práticas em algum momento do curso da
doença (EZEOME; ANARADO, 2007). No Japão, um estudo realizado por Hyodo et
al., (2005) revelou uma alta prevalência do uso de práticas integrativas e
complementares em paciente com câncer.
Nos Estados Unidos, Gross, Liu e Bauer-Wu (2007) realizaram uma
pesquisa para avaliar a prevalência e os preditores demográficos do uso de práticas
complementares em uma amostra de mulheres com câncer de mama e verificaram
que dos 173 participantes, 78% usaram pelo menos um tipo de terapia
complementar, 43% utilizaram dois ou mais tipos, e 23% usaram três ou mais tipos,
27
excluindo as práticas espirituais e exercícios físicos. Ao incluir práticas espirituais e
exercícios físicos, 90% usaram pelo menos uma terapia complementar, 70% usaram
dois ou mais tipos, e 45% usaram três ou mais tipos. Os citados autores concluíram,
então, que o uso de terapias integrativas e complementares é generalizado entre os
pacientes com câncer de mama, particularmente entre aqueles que são mais jovens
e culturalmente qualificados.
No Brasil, as investigações sobre a temática são escassas, principalmente
em pacientes com câncer de mama. Porém um estudo realizado por Cruz, Barros e
Hoehne (2009), cujos objetivos eram identificar a prevalência do uso de práticas
alternativas e complementares entre pacientes com neoplasias mamárias tratadas
no Ambulatório de Mama do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher
(CAISM), Unicamp, e os motivos para o uso desses tratamentos, revelou que,
apesar de 90,2% das entrevistadas negarem o uso de algum tipo dessas práticas,
96,3% faziam menção ao uso de pelo menos uma dessas terapias no decorrer das
entrevistas. A prática mais utilizada era a oração, seguida de grupos de apoio, ervas
e dieta.
Observa-se, portanto, que em diversas partes do mundo existe uma busca
crescente pelo uso de práticas integrativas e complementares entre os pacientes
com câncer. Tal fato não dever ser ignorado por profissionais de saúde,
principalmente as enfermeiras, que devem buscar continuamente educação
profissional em relação às terapias integrativas e complementares para que estejam
aptos a realizar uma orientação adequada para seu uso, contribuindo, assim, para a
melhoria na qualidade de vida de seus pacientes e para a redução dos possíveis
riscos decorrentes desses tratamentos.
2.2 Aspectos históricos, políticas de saúde e inserção na enfermagem nas
práticas integrativas e complementares
A estrutura conceitual das práticas complementares e alternativas obedece a
um princípio mais amplo e integrado de saúde e doença e adota a concepção de ser
humano como unidade inseparável de corpo, emoção e mente, que tem suas raízes
na tradição da medicina hipocrática. Essa tradição, que permaneceu até o século
28
XV, concebia a saúde como um estado de equilíbrio entre as influências ambientais
e as forças inerentes aos organismos vivos, e a doença como um distúrbio que
envolvia a pessoa de uma forma holística, ou seja, não só o seu corpo, mas também
a sua mente (NAGAI, 2005).
Porém, a partir dos séculos XVI e XVII, com a revolução científica, o mundo
da ciência foi reduzido a fenômenos matemáticos e quantificáveis, e o holismo deu
lugar ao reducionismo e mecanicismo. Nesse contexto, a doença é encarada como
um mau funcionamento de mecanismos estritamente biológicos. Perde-se então a
noção do todo sistêmico e dinâmico (CARNEIRO; SOARES, 2004).
Porém, no final da década de 60 do século XX, observa-se um movimento
de resgate de valores e concepções holísticas perdidos na dimensão terapêutica da
biomedicina que reduziu a perspectiva terapêutica com a desvalorização da
abordagem do modo de vida, valores, dos fatores subjetivos e sociais relacionados
ao processo saúde-doença (SOUZA; LUZ, 2009, TESSER, 2006).
Assumiu-se esse novo paradigma científico com base em uma nova visão de
mundo, cujo principal motivo não é mais a fragmentação da realidade e a
especialização profissional, mas a construção integradora ou holística de uma
realidade em sintonia com um cosmo mais amplo (NAGAI, 2003).
Na década de 70, essas práticas foram reforçadas após a Conferência
Internacional sobre Atenção Primária em Saúde em Alma-Ata, em 1978. A
Declaração de Alma Ata reconheceu, pela primeira vez oficialmente, seus
praticantes como trabalhadores de saúde, sua importância para o cuidado à saúde
das populações e a necessidade de intercâmbio de informações entre os diversos
modelos das mesmas nos sistemas mundiais de saúde (BRASIL, 2009b).
Ao final da década de 70, a OMS criou o Programa de Medicina Tradicional,
objetivando a formulação de políticas na área. Desde então, em vários comunicados
e resoluções, a OMS expressa o seu compromisso em incentivar os Estados-
membro a formularem e implementarem políticas públicas para uso racional e
integrado da Medicina Tradicional com a Medicina Complementar e Alternativa nos
sistemas nacionais de atenção à saúde e para o desenvolvimento de estudos
científicos com o fim de melhor conhecer sua segurança, eficácia e qualidade. O
documento “Estratégia da OMS sobre Medicina Tradicional 2002-2005” vem
reafirmar o desenvolvimento desses princípios (BRASIL, 2006a).
29
No Brasil, a legitimação e institucionalização das práticas integrativas e
complementares têm expressão histórica e faz parte das demandas coletivas desde
a criação do SUS, por meio das Conferências Nacionais de Saúde. A Oitava
Conferência Nacional de Saúde é considerada um marco para a oferta das práticas
integrativas no sistema de saúde do Brasil, pois, pautada pela reforma sanitária,
deliberou em seu relatório final a introdução de práticas alternativas de assistência à
saúde no âmbito dos serviços de saúde, possibilitando ao usuário o acesso
democrático de escolher a terapêutica preferida (BRASIL, 2009b).
Contudo, a instituição de um grupo de trabalho específico para a elaboração
da política se deu apenas em 2003, com estudos sobre a inserção das práticas
integrativas e complementares no SUS a partir de 2004. Assim, no dia 03 de maio
de 2006, ocorreu a aprovação e publicação da Portaria nº 971 da Política Nacional
de Práticas Integrativas e Complementares no SUS- PNPIC (ANEXO A). Ao atuar
nos campos da prevenção de agravos e da promoção, manutenção e recuperação
da saúde baseada em um modelo de atenção humanizada e centrada na
integralidade do indivíduo, essa política contribui para o fortalecimento dos princípios
fundamentais do SUS (BRASIL, 2006a).
As práticas integrativas e complementares podem ser adotadas tanto por
profissionais médicos como por outros profissionais, incluindo-se aí as enfermeiras.
Porém é de fundamental importância definir quem poderá praticá-la ou não, a partir
de uma ampla discussão e pelo compartilhamento de experiências com outros
países (BRASIL, 2009a).
A Enfermagem é uma das profissões com respaldo legal para o
desenvolvimento dessas práticas. O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), na
Resolução COFEN – 197/97, estabelece e reconhece as Terapias Alternativas como
especialidade e/ou qualificação do profissional de enfermagem, desde que ele
conclua e tenha sido aprovado em curso reconhecido por instituição de ensino ou
entidade congênere, com uma carga horária mínima de 360 horas (COFEN, 2007).
Mais que qualquer profissional, a enfermeira tem sua formação voltada para
o atendimento integral do ser humano, nos níveis de promoção, prevenção,
recuperação e manutenção da saúde. A partir das práticas integrativas, ela adquire
novos meios de auxiliar a si mesma, a seus familiares, aos usuários, clientes e
funcionários de uma unidade de trabalho e aos outros que a procuram (NUÑEZ,
2002).
30
Ainda de acordo com Nuñez (2002), diversas enfermeiras têm abordado as
práticas integrativas e complementares em seus estudos, sendo a Dra. Maria Jacyra
Nogueira, em 1983, uma das pioneiras, com sua tese de Livre Docência A
Fitoterapia Popular e a Enfermagem Comunitária. Há ainda diversos núcleos de
trabalho que vêm pesquisando essas práticas de norte ao sul do país, e muitas
pesquisas foram apresentadas isoladamente em eventos científicos.
Os méritos das práticas complementares estão obtendo reconhecimento da
população, da sociedade formal e em parte da ciência biomédica particularmente no
que se refere à experiência com o processo adoecimento-cuidado-cura e ao
estímulo do potencial de reequilíbrio e cura do próprio paciente, com uma relação de
maior solidariedade e proximidade entre curador-doente, maior satisfação com
abordagem filosófica cosmológica e de significação (holística) nos adoecimentos,
proporcionada no campo dessas práticas (TESSER, 2009).
Assim, analisando-se toda a trajetória histórica na qual estão inseridas as
práticas integrativas e complementares, observa-se, ao final da década de 60, que
houve uma necessidade de resgate de práticas com abordagem holística, perdidas
com as transformações no sistema de assistência à saúde com o advento do
capitalismo. Nesse novo contexto, o sujeito reassume seu papel ativo no processo
saúde-doença, e a concepção de saúde está intrinsecamente ligada ao bem estar
físico, mental, social e espiritual. Percebe-se que muito já se tem avançado,
principalmente após a implantação da Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares, porém ainda há desafios importantes a serem superados, como
aqueles relativos à qualificação massiva de profissionais, o fomento à pesquisa, e a
efetivação dessas praticas na assistência.
2.3 As práticas integrativas e complementares utilizadas nas mulheres com
câncer de mama
As práticas integrativas e complementares têm consolidado seu espaço junto
às práticas de saúde. Adotada de maneira individual ou articulada ao tratamento
alopático, essas práticas são um novo campo de atuação na assistência. As
terapias, que eram fruto das tradições culturais, passaram a serem validadas e
31
adquiriram cientificidade e reconhecimento pela biomedicina e pelos profissionais da
saúde, em especial os enfermeiros, como importante recurso terapêutico para a
população.
A resolução de agravos à saúde mostra-se permeada da influência de
práticas, crenças, valores e recursos populares. Dessa forma, a utilização de
terapias integrativas e complementares na prevenção e resolução de problemas de
saúde é uma realidade que precisa ser considerada no contexto saúde-doença
(PARANAGUA; BEZERRA, 2008).
As terapias complementares são abordagens que visam à assistência à
saúde do indivíduo, seja na prevenção, tratamento ou cura, considerando-o como
corpo, mente e espírito, não o enfocando como um conjunto de partes isoladas.
Essas práticas ainda podem ser definidas como um grupo de sistemas médicos e de
cuidado à saúde, práticas e produtos que não são presentemente considerados
parte da biomedicina (CEOLIN, 2009; NATIONAL CENTER OF COMPLEMENTARY
AND ALTERNATIVE MEDICINE, 2010).
As denominações das práticas variam, e é preciso ressaltar que as
diferenças de terminologia trazem toda a carga cultural envolvida. O que no Brasil se
chama de práticas integrativas e complementares, no México, por exemplo, é
conhecido como medicina complementar e integrativa e, em alguns outros países,
terapia alternativa e complementar (BRASIL, 2009a).
Segundo o National Center of Complementary and Alternative Medicine
(2010), quando elas são usadas junto com práticas da biomedicina, são chamadas
complementares; quando são usadas no lugar de uma prática biomédica,
consideradas alternativas; e quando são usadas conjuntamente, baseadas em
avaliações científicas de segurança e eficácia de boa qualidade, chamadas
integrativas.
De acordo com Fontanella et al. (2007), o termo Medicina Alternativa não
seria o mais adequado, pois nem sempre as terapias convencionais são
substitutivas, mas sim, complementares ou integrativas entre si. Assim, neste
estudo, optou-se por utilizar o termo Práticas Integrativas e Complementares, por
considerar-se mais abrangente e por ser a denominação adotada pelo Ministério da
Saúde. Porém, nas fontes bibliográficas, quando a terminologia utilizada for Terapias
Alternativas e/ou Complementares, assim permanecerá.
32
Segundo Hill (2003), as correntes terapêuticas básicas das medicinas
alternativas classificam-se em quatro: Medicina Oriental, Hindu ou Ayurvédica,
Homeopática e a Medicina ampliada pela Antroposofia.
A medicina oriental baseia-se na convicção de que a humanidade é uma
parte importante da natureza e de que a saúde só pode ser obtida se o homem
reconhecer, clara e ativamente, esse fato essencial. Inversamente, a doença é uma
consequência da incapacidade de viver em harmonia com as leis da natureza. Sua
maior contribuição diz respeito ao campo da prevenção e do auto-tratamento das
doenças (TARA, 2003).
Com uma visão holística do ser humano, a medicina ayuvérdica é antes uma
ciência preventiva do que uma prática médica intervencionista. Para ela, o ser
humano adoece por ignorância da própria vida, da vida em harmonia consigo
mesmo e com o ambiente ao seu redor. Essa harmonia depende de uma respiração
correta, dieta adequada, prática regular de atividades físicas e bons desempenhos
nas esferas social, profissional e sexual. Quando em desequilíbrio, o organismo
envia sinais que, se tratados, evitam a instalação de doenças (BOTSARIS;
MEKLER, 2004).
A Homeopatia é o nome do sistema médico descoberto no final do século
XVIII por Samuel Christian Hahnemann, que se baseia no princípio de que quanto
menor for a quantidade de substância medicamentosa presente na dose, mais
potente será seu efeito. Sua tarefa é selecionar o remédio, segundo os sintomas e
escolher a potência mínima na menor dose possível para conseguir a cura
(SHARMA, 2003).
A Medicina Antroposófica é outro recurso complementar utilizado na
assistência à saúde. Seu processo de trabalho é focado em equipes
multidisciplinares, dispõe de metodologia científica própria, além de uma abordagem
integrada da fisiologia, da fisio-patologia e da terapêutica, com uma visão voltada
para o corpo, que contempla quatro organizações (eu, anímico, vital e físico) e três
sistemas orgânicos funcionais (neuro-sensorial, rítmico, e metabólico-motor),
correspondendo a terapias diversas, tais como: banhos; massagens; terapia
artística; terapia externa, que são escalda-pés, enfaixamentos, compressas e
emplastros à base de chás, óleos e pomadas fitoterápicas; terapia medicamentosa,
que compreende diferentes farmacopeias, como terapia alopática, fitoterápica e à
base de dinamizados (BRASIL, 2009a).
33
Dentro dessas correntes terapêuticas, pode-se observar a existência de uma
grande diversidade de práticas integrativas e complementares, nem sempre
pertencentes a uma única corrente. A exemplo, tem-se o uso da fitoterapia, que é
utilizada tanto na medicina chinesa, quanto na ayurvédica, homeopática e
antroposófica, diferenciando-se apenas pelo enfoque dado por cada corrente.
Além da fitoterapia, observam-se diversas práticas integrativas e
complementares conhecidas e utilizadas por diversos pacientes no tratamento de
suas enfermidades, como, por exemplo, pelas mulheres com câncer de mama deste
estudo. Entre elas, citam-se o yoga, a terapia comunitária, a fitoterapia, a
argiloterapia e as práticas religiosas que serão discorridas a seguir:
Yoga:
De forma geral, a palavra sânscrita yoga quer dizer união e, nos sistemas
filosóficos e religiosos indianos, significa união consciente entre os aspectos material
e espiritual do homem. Seu objetivo final é o alcance da integração (BLAY, 2004).
O Yoga é uma filosofia que abrange os vários aspectos da vida humana:
espiritual, emocional, mental e físico. Embora seja, na atualidade, utilizado para fins
terapêuticos, na realidade não foi criado com este objetivo. Originalmente, o yoga
era um sistema de aperfeiçoamento individual ou de evolução consciente que
transcendeu esse patamar e transformou-se em 6.000 anos de existência conhecida
(WORTHINGTON, 2003).
Ainda de acordo com o autor, há um século, quando o yoga chegou ao
Ocidente, trazido por soldados e funcionários que regressavam da Índia, e através
da Sociedade Teosófica, as formas que predominavam eram o gnama yoga (yoga
espiritual), o bhakti yoga (yoga emocional) e o haja yoga (yoga mental). Apenas
alguns anos depois o hatha yoga (yoga físico) surgiu, inclusive na Índia, e ganhou
popularidade.
O Hatha Yoga é o tipo mais popular do Ocidente e busca alcançar a
integração pelo domínio interno e externo do corpo. Para isso, combina exercícios
posturais (“ásanas”), relaxamento e controle voluntário da respiração (“pranayamas”)
(CHANAVIRUT et al., 2006).
Ásanas é a parte mais conhecida do sistema. Sua tradução literal é
“postura”, e geralmente tem nomes de animais ou coisas relacionadas à natureza.
Elas guardam semelhança com exercícios de alongamento e são posturas que
34
devem ser mantidas em conforto e estabilidade por um tempo razoável, de acordo
com o envolvimento do praticante. Esse mecanismo livrará a mente de tensões ou
inquietações para acionar os mecanismos sutis de percepção, colocando o indivíduo
em maior contato com ele mesmo e reestabelecendo, assim, um relacionamento de
estabilidade entre seu corpo e sua mente. Dessa forma, o praticante perceberá e
superará as dificuldades de cada exercício, não só no plano físico, mas também no
mental (RODRIGUES, 2006).
Ainda de acordo com Rodrigues (2006), as posturas são divididas em três
grupos: 1. Culturais, que reestabelecem o equilíbrio fisiológico nos vários sistemas
do corpo humano, para que se obtenha máximo vigor orgânico. Destina-se
principalmente à coluna vertebral e promove força e flexibilidade aos seus músculos;
2. De relaxamento cuja manutenção tem como única atividade mecanismos
indispensáveis à sobrevivência humana, como a respiração; e 3. As posturas de
meditação, que podem ser mantidas por horas, sem desconforto.
Os pranayamas são exercícios respiratórios com controle consciente, nos
quais as três etapas, respiração-aspiração, retenção e expiração, variam de diversos
modos. Esses exercícios costumam ser repetidos até dez vezes. Podem, contudo,
produzir uma sensação de enjôo, devido ao excesso de dióxido de carbono
produzido na corrente sanguínea (WORTHINGTON, 2003).
Os pranayamas melhoram o funcionamento respiratório e formam um dos
mais importantes canais de acesso para as emoções. O trabalho respiratório é uma
porta de entrada para o sistema nervoso, constituindo-se numa técnica importante
para a prática posterior do yoga, que é a meditação (RODRIGUES, 2006).
O Hatha Yoga é considerado por muitos uma forma alternativa de atividade
física e se popularizou no Ocidente devido à semelhança de suas posturas com
exercícios físicos convencionais e aos resultados alcançados com a utilização de
suas técnicas sobre a saúde, condicionamentos físicos e padrões estéticos (SILVA,
2005).
Semelhante à atividade convencional, acredita-se que as práticas da postura
do Hatha Yoga proporcionam o aumento da força muscular, flexibilidade, melhora do
equilíbrio e outras adaptações fisiológicas. Contudo, é importante observar que,
enquanto o objetivo da ginástica é a saúde física, o do Yoga é a saúde mental,
passando pela física (HAGINS; MOORE; RUNDLE, 2007; BLAY, 2004).
35
Assim, por ter uma visão holística e enfocar simultaneamente os aspectos
físicos, mentais e espirituais, o yoga contribui para a melhoria da qualidade de vida e
bem estar geral dos indivíduos.
Terapia Comunitária Integrativa Sistêmica
A Terapia Comunitária constitui uma prática integrativa de efeito terapêutico,
destinada à prevenção na área de saúde e a atender grupos num contato face-a-
face, com o interesse comum de aliviar seu sofrimento e buscar bem-estar. Ela
promove a construção de vínculos solidários e cria uma rede de apoio social, em
que a comunicação busca resolver problemas que estão ao alcance da coletividade
(FUKUI, 2004).
De acordo com Barreto (2008), a Terapia Comunitária é um espaço no qual
pessoas em situação de crise e sofrimento têm a oportunidade de externar sua dor e
seus conflitos. Ela propicia aos seus participantes experimentar a ajuda do grupo,
que oferece apoio e suporte, e oportuniza, assim, a expressão de sofrimento e
reposição de energias sem o risco de exclusão, valorizando cada experiência.
Camarrroti et al. (2003) acrescenta que essa prática surgiu para ser espaço
de fala das situações que promovem sofrimento, angústia e da possibilidade de
prevenção dos efeitos do estresse do cotidiano das pessoas, visando garantir a elas
o resgate da autoestima necessária para a implementação de mudanças em suas
vidas.
A terapia Comunitária nasceu das queixas sociais apresentadas por pessoas
que moravam na favela de Pirambú, em Fortaleza-Ce. Essas queixas se
concentravam em problemas psicológicos e de relacionamento familiar, levadas ao
Projeto de Apoio aos Direitos Humanos de Pirambú. Tal projeto é de criação de
Aírton Barreto, advogado, que ainda quando estudante optou por viver de perto os
problemas das pessoas dessa comunidade. Adalberto de Paula Barreto, seu irmão,
médico psiquiatra, doutor em Antropologia pela Universidade de Lion II, na França, e
professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) foi seu apoio, pois solicitou ajuda
para atendimento a essa população (BARRETO, 2008).
Ainda conforme Barreto (2008), os primeiros atendimentos foram realizados
de forma individual, em locais distantes de Pirambú. A demanda cresceu e, pouco
tempo depois, Aírton convidou o irmão para realizar atendimento no próprio local de
moradia das pessoas. Sabendo que não conseguiria oferecer atenção individual
36
adequada àquela população, o Prof. Adalberto Barreto sistematizou uma técnica
própria para realizar esses atendimentos. Para ele, seria necessário que esse novo
método fosse coletivo, estimulasse a participação de todos e contribuísse para o
fortalecimento da rede social daquele grupo de pessoas. Dessa forma, surgiu a
Terapia Comunitária.
A Terapia Comunitária já é utilizada em outros países, como a Suíça, a
França e o México. No Brasil, já está presente em todos os estados. Ela é
considerada uma prática integrativa terapêutica que tem a finalidade de promover
saúde e prevenir o adoecimento, ajuda na promoção da cidadania, no fortalecimento
da identidade cultural das comunidades, das redes sociais solidárias e possibilita
aos indivíduos e às famílias o desenvolvimento da autonomia e das bases
necessárias para o equilíbrio pessoal e social (GUIMARÃES, 2006).
Na Terapia Comunitária, o conhecimento científico é agregado ao saber
popular. Os encontros são transformados em um ambiente em que se produz um
saber procedente da experiência pessoal. Ao longo dos anos, essa prática
terapêutica tem demonstrado eficácia na promoção da autoestima e prevenção do
adoecimento mental (CARÍCIO, 2010).
Conforme Barreto (2008), a Terapia Comunitária pode ser realizada em
contexto e espaços diversificados, pode acontecer em locais públicos, como
parques, clubes, salas de espera, ambulatórios, salas de aula, igrejas ou qualquer
outro local em que as pessoas vivem e que frequentam. Deve ser realizada com
regularidade semanal ou quinzenal, de acordo com a participação. Cada encontro
dura aproximadamente duas horas e é desenvolvido em seis momentos:
acolhimento, escolha do tema, contextualização, problematização, encerramento e
avaliação.
Na visão de Barreto (2008), a Terapia Comunitária está fundamentada
teoricamente em cinco pilares conceituais: Teoria da Comunicação, Antropologia
Cultural, Resiliência, Teoria Sistêmica e Pedagogia de Paulo Freire. A Teoria da
Comunicação enfatiza a comunicação como o elemento que une os indivíduos no
seu grupo social e considera que todo comportamento é comunicação, que pode
acontecer de forma verbal ou não verbal, indo além das palavras. A Antropologia
Cultural considera as diferentes culturas onde as pessoas estão inseridas como um
elemento de referência fundamental na identidade pessoal e grupal. E é a partir
dessa referência que os indivíduos se afirmam, aceitam-se e assumem sua
37
identidade. A resiliência consiste na superação de uma dor profunda transformada
em sabedoria para lidar com esse tipo de sofrimento. A Teoria Sistêmica chama
atenção para a questão de que as crises e os problemas individuais só podem ser
resolvidos se percebidos dentro de um contexto biopsicossocial. Já a Pedagogia
Freiriana considera que todos os indivíduos têm experiência e conteúdo a trocar,
aprendendo e ensinando em uma constante sinergia.
A Terapia Comunitária constitui assim uma importante prática para
mulheres com câncer de mama, tendo em vista que a troca de experiências no
grupo empodera essas mulheres e lhes dá mais habilidade para enfrentar o câncer,
melhora a sua auto-estima e a própria imagem corporal e contribui positivamente
para a melhoria de sua vida.
Fitoterapia
A palavra fitoterapia, formada pelos radicais gregos phyton (planta) e terapia
(tratamento), foi criada para definir diversas tradições populares de tratamento, nas
quais as plantas medicinais são utilizadas (BOTSARIS; MEKLER, 2003)
As substâncias fitoterapêuticas são muito utilizadas na medicina tradicional e
nas terapias complementares. Por serem naturais, as pessoas acreditam que as
plantas medicinais são necessariamente melhores ou mais seguras que os fármacos
preparados (DUCAN et al., 2006).
De acordo com Hill (2003), as fitoterapias podem ser utilizadas de diversas
modalidades, como a Terapia aromática, os Florais de Bach, Vita Florum, Exultação
de Flores e Medicina Herbária.
A Medicina Herbária pode ser definida como a ciência de reestabelecer a
saúde por meio de remédios vegetais. Ela pode utilizar-se de diferentes órgãos de
uma planta, como a raiz, o rizoma, o caule, as folhas, as flores, os frutos ou as
sementes, de tecidos como casca e a madeira, e de gomas e resinas obtidas pela
exsudação das incisões feita na planta, ainda que um grande número de pequenas
plantas anuais seja utilizado integralmente (HYDE, 2003).
As plantas medicinais podem ser utilizadas para tratar diversas doenças,
sendo que nas graves deve ser associada à outra terapêutica, a fim de melhorar
seus próprios resultados e para reduzir os efeitos colaterais provocados por outros
medicamentos (BOTSARIS; MEKLER, 2003).
Apesar dos grandes avanços na indústria farmacêutica, que a cada dia
fabrica drogas mais potentes para o tratamento de doenças, observa-se que uma
38
grande diversidade de plantas é utilizada na medicina popular para o tratamento de
diversas enfermidades. Entre as plantas medicinais, observa-se que algumas têm o
uso mais popular para o tratamento de específicas doenças. Assim, podem-se citar
plantas popularmente conhecidas como a babosa, o ipê-roxo, a mangaba, a ameixa,
a janaguba, o noni e o cachorro pelado, utilizadas no tratamento do câncer.
A babosa é o nome popular dado a uma planta africana pertencente à
família das Liliáceas e do gênero Aloe, à qual pertencem mais de 300 espécies,
muitas delas utilizadas em diversos países, inclusive no Brasil, para fins medicinais e
na cosmética. Entre as espécies existentes, as mais conhecidas são: Aloe socotrina,
Aloe arborescens, Aloe chinensis, Aloe ferox e Aloe vera, essa última, a mais
estudada pelas indústrias alimentícia, farmacêutica, cosmética e fitoterápica (BACH;
LOPES, 2007).
A Aloe vera, uma planta com caule curto e estolonífero e raízes abundantes,
longas e carnosas, e que possui características de climas tropicais e subtropicais.
Deve ser cultivada em solos protegidos de geadas e ventos frios, tendo em vista que
é uma planta de plena luz (CASTRO; RAMOS, 2002)
O uso terapêutico da babosa data de milhares de anos, desde os povos
antigos, como gregos, judeus, egípcios, árabes, africanos, europeus e, mais
recentemente, povos do continente americano. Ela tem sido utilizada na medicina
tradicional, na cura de diversos males, como as doenças de pele, danos por
irradiação, afecções dos olhos, desordens intestinais e doenças virais. Apresenta
ação cicatrizante, anti-inflamatória, protetora da pele, tendo ainda propriedade
bactericida, laxante e desintoxicante. É muito utilizada nas lesões de pele, devido ao
seu poder emoliente e suavizante. Além das vitaminas C, E, do complexo B e ácido
fólico, contém minerais, aminoácidos essenciais e polissacarídeos, que estimulam o
crescimento dos tecidos e a regeneração celular, sendo por isso utilizada no
tratamento do câncer (HEDENDAL, 2001; DOMÍNGUEZ et al., 2006).
A Tabebuia impetiginosa, popularmente conhecida como ipê-roxo, pau
d'arco-roxo, ipê-roxo-de-bola, entre outros nomes, é uma Bignoniaceae de porte
arbóreo, que alcança alturas de 8 a 20m, com características de planta decídua. Sua
ocorrência estende-se desde o Estado do Piauí até o de São Paulo, tanto na floresta
pluvial atlântica como na semidecídua. Seu extrato está entre os mais estudados, já
possui diversos componentes isolados e estruturalmente elucidados, entre os quais
furano-naftoquinonas, quinonas (sendo a principal o lapachol), naftoquinonas, ácido
39
benzoico, derivados de benzaldeído, dialdeídos, ciclopenteno e flávoides (LORENZI;
MATOS, 2002; PARK et al., 2003).
O lapachol, a principal quinona encontrada no ipê-roxo, possui várias
atividades biológicas. Em um estudo de revisão, Hussain et al. (2007) verificaram
que o lapachol possui atividades antiulcerogênica, leishmanicida, anticarcinogênica,
atiedematogênica, anti-inflamatória, antimalárica, anti-séptica, antiviral, bactericida,
fungicida, pesticida e esquistosomicida.
A mangabeira (Hancornia speciosa), frutífera nativa do Brasil, pertencente à
família Apocynaceae, é encontrada em vários estados brasileiros, com grande
dispersão natural na região Nordeste. O fruto, principal produto da mangabeira,
utilizado na alimentação humana principalmente na forma de suco e sorvete, pode
também ser consumido in natura. Além disso, seu látex tem sido empregado por
algumas comunidades para fins terapêuticos (SANTOS et al., 2007).
A Ximenia americana, popularmente conhecida como ameixa, é uma planta
cosmopolita tropical com ocorrência silvestre no nordeste do Brasil, utilizada na
medicina popular, principalmente para o tratamento da dor de estômago, sífilis,
reumatismo, câncer e infecções da boca. Ainda é uma espécie pouco investigada
cientificamente, porém bastante utilizada na medicina popular, principalmente em
países pobres. Possui atividade antimicrobiana em diferentes microorganismos
devido a seus constituintes químicos, como os taninos, que vêm sendo
tradicionalmente usados, principalmente para a proteção de superfícies inflamadas.
A presença de polifenóis pode ser um forte indicativo da sua atividade
antiinflamatória, antialérgica, antibacteriana, antifúngica, além de seus efeitos
vasoprotetores. Possui ainda proteína inibidora de ribossomos, o que lhe confere
atividade antineoplásica (BRASILEIRO et al., 2008).
A janaguba pertence a família Apocynaceae e é uma espécie arbórea,
latescente, da região amazônica, cujo tronco é ereto e a casca é rugosa. Na
medicina popular, seu látex e suas folhas são utilizados como antitumoral,
antifúngico, antianêmico, vermífugo e no tratamento de gastrites e artrites. A infusão
feita a partir da casca do caule é utilizada no tratamento de tumores, furúnculos,
edemas, artrites e ainda como vermífugo e laxativo (FERNANDES et al., 2000;
LARROSA; DUARTE, 2005).
A planta conhecida como noni, cujo nome científico é Morinda citrifolia, é
originária da Polinésia, Malásia, Austrália, Índia e Sudeste da Ásia. Ela tem crescido
40
em muitas regiões do mundo, inclusive no Brasil, e chama a atenção de
pesquisadores em âmbito mundial devido a suas propriedades terapêuticas. Esta
vasta gama de propriedades medicinais é originada de diferentes partes da planta. O
fruto e as folhas exercem atividade antibacteriana, a raiz remove infecções
pulmonares e hemorroidas e também mostra naturais propriedades sedativas e de
controle da pressão arterial. Os extratos de folhas inibem a formação de coágulos
sanguíneos. É particularmente útil para tratar a dor e inflamação da pele. Muitas
pessoas tomam o suco da fruta para tratar a hipertensão, cólicas menstruais, artrite,
úlceras gástricas, diabetes, câncer e outras afecções (LAVAUT; LAVAUT, 2003).
Euphorbia tirucalli, popularmente conhecida como aveloz ou cachorro
pelado, é um arbusto suculento, que, apesar de ser comum em regiões equatoriais
como a África, Ásia e América Latina, apresenta distribuição mundial universal. É
encontrado no Brasil, principalmente nos estados do Pernambuco, Ceará, Piauí,
Bahia, Rio de Janeiro e litoral de São Paulo. Seu látex é comumente utilizado por via
oral ou tópica na medicina tradicional e é popularmente conhecido como um agente
antitumoral (mama, próstata, pulmão, rim), não só no Brasil, mas em vários outros
países (AQUINO et al., 2008).
Na última década, houve progressos consideráveis na Medicina Herbária, e
muito provavelmente o câncer já teria sido dominado se os esforços dedicados a
investigações químico-terapêuticas tivessem sido nos remédios antitumorais de
origem vegetal (HYDE, 2003).
Argiloterapia
A Argiloterapia, também conhecida como geoterapia ou fangoterapia,
consiste na utilização da argila de forma terapêutica. De acordo com Nightingale
(2003), há milênios de anos a argila foi utilizada para fins curativos, e Hipócrates,
Dioscórides, Avicena e Galeno realizaram milagres com tratamentos utilizando
argila. Tal recurso natural, utilizado desde os primórdios da humanidade, continua a
ser utilizado na atualidade no tratamento de diversas enfermidades.
A argila são rochas sedimentares constituídas por vários minerais em
diferentes proporções e estão associadas aos óxidos, que lhes conferem várias
tonalidades. Tem um aspecto terroso e com granulações finas. São classificadas em
primárias, quando originadas da decomposição do solo por ações físico-químicas do
ambiente natural ao longo dos anos, e secundárias, quando decorrentes da
41
sedimentação de partículas transportadas pelas chuvas e pelos ventos, e possui a
aparência de lama ou tem aspecto mais pastoso (CLAUDINO, 2010).
Para o emprego medicinal, não se utiliza qualquer tipo de argila, somente
aquelas extraídas de grandes profundidades de solos não contaminados, em regiões
não habitadas, onde não haja escoamento de água e raízes vegetais e que seja
posteriormente esterilizadas (SPETHMANN, 2003).
De acordo com Claudino (2010), existe uma grande diversidade de argilas e,
embora tenham seus valores individuais bem semelhantes, há uma pequena
diferença de um tipo para outro. Contudo, essa variação não modifica seu valor de
atuação, já que está diretamente relacionada à concentração individual de seus
minerais. Todos os tipos de argila são utilizados para fins medicinais e estéticos.
Quimicamente, a argila é composta por cálcio, enxofre, ferro, magnésio,
potássio, silício, sódio e titânio, o que lhe confere vários poderes terapêuticos.
Quando aplicada sobre a pele, age de forma absorvente, adsorvente e de liberação.
Seus benefícios se estendem até três horas depois da aplicação (VILA, 2000;
CLAUDINO, 2010).
Dependendo da enfermidade a ser tratada, a argila pode ser administrada
internamente, diluída em água, ou externamente, em forma de banhos,
pulverizações, emplastros, cataplasmas entre outros usos. Para o tratamento interno
poderá ser diluída em água a ser tomada em jejum ou como comprimido, meia hora
antes das refeições. Nas aplicações externas, ganham um maior valor curativo se
utilizada com a fervura de plantas indicadas de acordo com as condições a se tratar
(YWATA; ANTÔNIO; CORDEIRO, s.d.)
A argiloterapia é muito procurada devido à sua ação, que deixa o organismo
humano isento dos radicais livres. Para que esta prática seja correta e garanta os
benefícios, Masckiewic (2010) afirma serem importantes estudos aprofundados de
todas as formas e relatos científicos da sua utilização, afim de se ter um tratamento
seguro.
Práticas religiosas
De acordo com Bousso (2011), a religião ou crenças e práticas religiosas
podem ser determinantes do processo saúde-doença na medida em que prega a
adoção de hábitos e de comportamentos saudáveis que beneficiam aqueles que os
praticam. Algumas práticas religiosas trazem efeitos salutares tanto na saúde física
como na mental.
42
A relação espiritualidade/religiosidade com a saúde tornou-se um tema de
interesse de estudiosos nos últimos tempos, e se acredita em sua influência positiva
sobre o bem-estar das pessoas. Esses estudos partem de uma visão integral da
saúde, que aborda o sujeito em suas diferentes dimensões e supera o modelo
biomédico que acentua apenas o aspecto físico do processo saúde-doença e opera
com uma concepção mecanicista do corpo e de suas funções, responsável por um
atendimento fragmentado (ALVES; JUNGUES; LOPÉZ, 2010).
A ressignificação e reinterpretação da enfermidade pelo pensamento e pela
prática religiosa podem ordenar e dar sentido a uma realidade que aparece para o
indivíduo doente como desordenada e caótica. Dentro dessa perspectiva, os
fenômenos patológicos não são compreendidos somente sob a ótica da etiologia
biomédica. Além disso, a doença ganha significado na medida em que extrapola o
corpo individual e abrange as relações sociais e o mundo sobrenatural (BALTAZAR,
2003).
Assim, as práticas religiosas têm sido utilizadas por um número crescente de
indivíduos com doenças crônicas, como o câncer. Elas representam uma estratégia
importante para o enfrentamento da doença e do tratamento e promovem uma
melhoria no bem estar do paciente, o que repercute diretamente em sua qualidade
de vida. De acordo Moreira-Almeida, Lotufo-Neto e Koening (2006) o indivíduo tem
direito à qualidade de vida até seu último momento de existência. Assim, os
profissionais de saúde, principalmente o enfermeiro, que tem um maior contato com
o paciente, devem atentar para as maneiras de reduzir a ansiedade e o sofrimento, e
as práticas religiosas podem contribuir como uma importante aliada nesse momento.
Diversos estudos evidenciam a influência da religião no lidar com o câncer.
Alguns autores apontam que os pacientes com crenças religiosas têm uma
reabilitação com senso de esperança e satisfação com a vida, com níveis menores
de depressão. Assim, a fé religiosa é reconhecida como uma estratégia de
negociação para a sobrevivência ao câncer, pois o poder atribuído ao divino
possibilita a satisfação das necessidades que escapam do controle do ser humano
(AQUINO; ZAGO, 2007).
Em um estudo realizado com pacientes em tratamento de câncer no serviço
de oncologia do Hospital das Clínicas da Unicamp, Spadacio e Barros (2009)
observaram que a prática religiosa possui caráter curativo no tratamento do câncer.
Os sujeitos desse estudo consideram o recurso religioso como uma prática
43
terapêutica de cura, identificada como outras formas de tratamento e fundamental
para o tratamento convencional e superação da doença.
Depreende-se, então, que as práticas religiosas representam importantes
trajetórias terapêuticas integrativas capazes de conduzir as mulheres ao
enfrentamento da doença alicerçadas na esperança da cura ou como atenuante do
possível sofrimento iminente por meio de uma ressignificação positiva do câncer.
Dessa forma, devem ser consideradas, ao se prestar assistência ao paciente
oncológico.
2.4 Práticas integrativas e complementares e qualidade de vida
O conceito de qualidade de vida vem sendo amplamente utilizado na
atualidade, principalmente na saúde quando se trata de abordagem terapêutica a
doenças crônicas, como o câncer, que altera a estrutura biopsicossocial do
indivíduo.
A veiculação na mídia de maneira indiscriminada sobre qualidade de vida
favorece uma visão genérica ou reducionista, sem o aprofundamento subjetivo que
comporta. Essa dimensão, quase sempre ignorada, desperta interesse científico e
uma conscientização cada vez maior e recebe devida consideração numa
abordagem integrada e interdisciplinar, na tentativa de soluções holísticas, voltadas
para o bem-estar integral do ser humano (NUCCI, 2003).
De acordo com Minayo, Hartz e Buss (2000), a qualidade de vida pressupõe
uma noção eminentemente humana, que se aproxima do grau de satisfação
encontrada na vida familiar, amorosa, social, ambiental e da própria estética
existencial, deixando clara a importância da percepção subjetiva na sua avaliação.
Pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese cultural de todos os elementos que
determinada sociedade considera seu padrão de conforto e bem-estar. O termo
abrange muitos significados, que refletem conhecimentos, experiências e valores de
indivíduos e coletividades que a ele se reportam em variadas épocas, espaços e
histórias diferentes; é, portanto, uma construção social com a marca da relatividade
cultural.
44
Quanto à conceituação do termo na área da saúde, duas tendências são
identificadas: qualidade de vida com um conceito mais genérico e a qualidade de
vida relacionada à saúde. No primeiro caso, apresenta uma acepção mais ampla,
influenciada por estudos sociológicos, sem fazer referência a disfunções ou agravos.
Ilustra com excelência essa conceituação a que foi adotada pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) em seu estudo multicêntrico, que teve por objetivo
elaborar um instrumento que avaliasse a Qualidade de Vida em uma perspectiva
internacional e transcultural. Assim, a qualidade de vida constitui a percepção do
indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de
valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e
preocupações. Já quando se relaciona à saúde, pode ser definida como o impacto
que uma enfermidade e seu tratamento têm sobre a percepção do paciente quanto a
seu bem-estar (SEIDL; ZANON, 2004).
Dentro desse conceito de qualidade de vida, dois aspectos são considerados
relevantes: a subjetividade e a multidimensionalidade. No que concerne à
subjetividade, trata-se de considerar a percepção da pessoa sobre o seu estado de
saúde e sobre os aspectos não médicos do seu contexto de vida. Quanto à
multidimensionalidade, refere-se ao reconhecimento de que o construto é composto
por diferentes dimensões (THE WHOQOL GROUP, 1995).
Nos últimos anos a avaliação da qualidade de vida tem-se tornado cada vez
mais importante na determinação do impacto global das doenças e tratamentos a
partir da perspectiva do paciente. Ela tem sido potencialmente útil e pode auxiliar os
profissionais de saúde a priorizar problemas, a se comunicar melhor com os
pacientes, a prevenir adversidades e identificar preferências do cliente (CARR;
HIGGINSON, 2001).
Considerando que o câncer traz consigo uma série de implicações na saúde
do paciente, interferindo diretamente em sua qualidade de vida, aliado ao aumento
da sobrevida e da possibilidade de cura, faz-se necessário uma maior abrangência
nos cuidados não somente biológicos, mas também sociais, psicológicos, espirituais,
buscando o atendimento das várias necessidades do paciente (NUCCI, 2003).
Nesse contexto, as práticas integrativas e complementares se inserem como
importantes recursos terapêuticos, que reestabelecem a qualidade de vida do
paciente, perdida com a doença e o tratamento alopático.
45
Atualmente, as intervenções em saúde são propostas ao paciente, com
intuito de proporcionar-lhe uma vida mais confortável do que propriamente para dar-
lhe a cura. Assim, a incorporação da qualidade de vida deve ser meta assistencial a
ser alcançada pelos profissionais de saúde no atendimento aos pacientes,
principalmente os que têm doenças crônicas como o câncer.
O câncer deixa o indivíduo intimidado com a possibilidade do fim de sua
existência. Isso gera uma ansiedade que determina comportamentos variados e leva
à busca de outras formas de tratamento. Assim, as práticas integrativas e
complementares dão ao paciente oncológico mais uma opção de complementação
ao tratamento oficial a ele sugerido. Essas terapias possibilitam ainda a esses
pacientes a diminuição da dor e dos efeitos secundários da quimioterapia e
radioterapia. Dessa forma, as terapias complementares proporcionam certo conforto
e melhoram a qualidade de vida (ELIAS; ALVES, 2002; SERRANO, 2005).
Spadácio e Barros (2008) mostraram em seus estudos que os pacientes
percebem o uso das práticas integrativas e complementares de maneira positiva,
como úteis e não tóxicas, e acreditam que propiciam uma mudança no estilo e na
qualidade de vida, influenciando positivamente os rumos da doença. Outra
percepção significativa relaciona-se à sensação de maior controle sobre o corpo e o
próprio tratamento após usarem alguma terapia complementar. Os estudos mostram
que é grande o número de pacientes que usam algumas dessas práticas após o
diagnóstico de câncer.
Esse mesmo estudo mostrou ainda que as motivações para o uso de
práticas integrativas são de natureza biológica, psíquica e técnica. Os primeiros
relacionam-se ao aumento e à habilidade do corpo para “lutar” contra a doença,
promover o fortalecimento do sistema imunológico, aliviar os efeitos colaterais
provocados pela quimioterapia, criando uma esperança de “cura” e de prevenção do
retorno da doença. Em relação à motivação psíquica foram descritas promoções de
bem-estar, o controle do estresse e a melhoria da qualidade de vida. Os motivos
técnicos para o uso de práticas complementares no tratamento do câncer estão
ligados à insatisfação com o tratamento convencional, principalmente os efeitos
secundários e a interação que se desenvolve com os profissionais, além do
processo de autonomia e humanização promovido pelas práticas não convencionais.
Em outro estudo, Spadacio et al. (2010) explicam que, no que se refere à
experiência de pacientes com a utilização de práticas integrativas e
46
complementares, destaca-se um possível cuidado integral focado na
individualização do tratamento e nos impactos positivos junto ao tratamento
convencional.
Diante do que foi discorrido, percebe-se a importância da utilização das
práticas integrativas e complementares na assistência ao paciente oncológico, tendo
em vista que o câncer transcende a dimensão biológica da doença. A qualidade de
vida é um componente bastante afetado durante o tratamento, repercutindo na
saúde e na resposta do indivíduo como um todo. Assim, não se pode reduzir a
assistência desse paciente ao combate das células cancerígenas, pois é o paciente,
e não a doença, o foco principal dessa assistência.
47
3. ABORDAGEM METODOLÓGICA
48
3.1 Tipo de estudo
O processo metodológico que se insere nessa pesquisa é do tipo descritivo
com abordagem qualitativa, cujo método utilizado foi História de Vida, que prioriza as
ideias e os significados da vida da entrevistada, sem interferência da pesquisadora.
A abordagem qualitativa, segundo Polit, Beck e Hungler (2004), parte da
premissa de que o conhecimento sobre as pessoas só é possível a partir da
descrição da experiência humana, tal como ela é vivida e tal como é definida pelos
seus próprios sujeitos, permitindo a expressão do rico potencial que forma o
conteúdo das percepções e subjetividade dos seres humanos.
Dessa forma, essa abordagem é a que melhor se ajusta ao objeto de
estudo, pois permite compreender a percepção dessas mulheres com câncer de
mama sobre os efeitos das práticas integrativas e complementares em sua
qualidade de vida, com toda a sua riqueza de significados que não podem ser
reduzidos a números e percentuais.
3.2 O Método História de Vida
Para melhor entender o uso das práticas integrativas e complementares em
mulheres com câncer de mama, utilizou-se o Método História de Vida, que trabalha
com a reconstrução de experiências vividas e permite a obtenção dessas
informações a partir do ponto de vista da própria mulher.
Esse método é um procedimento que utiliza a narrativa da vida do sujeito ao
entrevistador, tal qual foi vivenciada por ele mesmo, com enfoque nas suas
convergências e divergências, em suas condições sociais, culturais e da práxis,
assim como nas relações sócio-estruturais e na dinâmica histórica. Portanto, por
mais particulares que possam ser as histórias de vida, serão sempre relatos de
práticas sociais: a maneira como o indivíduo se insere e atua no mundo e no grupo
no qual ele está inserido (BERTAUX, 2005).
A expressão “narrativa de vida” foi introduzida na França há cerca de vinte
anos por Daniel Bertaux. Até esse período, o termo consagrado em ciências sociais
49
era “história de vida”, que era uma tradução literal da expressão americana life
history. Contudo, esse termo apresentava inconvenientes, como o de não distinguir
a história vivida por uma pessoa e a narrativa que ela poderia fazer de sua vida.
Com Bertaux, a concepção proposta consiste em considerar que a narrativa de vida
acontece a partir do momento em que o sujeito conta a outra pessoa, pesquisador
ou não, um episódio qualquer de sua experiência vivida. Faz-se essencial nesse
contexto o verbo “contar”, que significa que a produção discursiva do sujeito tomou a
forma narrativa (BERTAUX, 2010).
O método começa a partir do desejo do entrevistado de contar sua vida.
Pede-se ao sujeito que conte sua história, como achar melhor. É a partir da relação
que vai sendo estabelecida – o vínculo, a confiança, a construção de sentidos – que
o método se desenvolve. Ao contar sua vida, o sujeito fala de seu contexto, fala do
processo por ele experimentado, intimamente ligado à conjuntura social onde se
encontra inserido (SILVA et al., 2007).
Cabe ressaltar que, segundo Bertaux (2010), a narrativa de vida pode ser um
importante instrumento para a elaboração dos saberes práticos, podendo, assim,
orientar para a descrição das experiências vividas por cada pessoa dentro do seu
contexto. Dessa forma, as narrativas de vida poderiam ser chamadas de “narrativas
de práticas”.
Para Nogueira (2004), a história de vida propõe uma escuta comprometida,
engajada e participativa. Na relação de cumplicidade entre pesquisadores e sujeitos
pesquisados, encontra-se a oportunidade de aquele que narra sua história
experimentar uma ressignificação de seu percurso e dar continuidade à construção
de um sentido frente a esse relato endereçado.
A História de Vida é um método que tem como principal característica a
preocupação com o vínculo entre pesquisador e sujeito. Os aspectos metodológicos
apresentam uma grande inovação proposta pelo interacionismo simbólico, quando
propõe ceder o lugar do saber ao agente social, postulando que o conhecimento
deve ser construído a partir das interpretações e significações daquele que está
inserido no fenômeno social a ser estudado (SILVA et al., 2007).
No Brasil, a origem da história de vida remonta à década de 50, na época
utilizada com mais frequência nas áreas das Ciências Humanas, especialmente
Sociologia, Antropologia e Psicologia. Na área de Enfermagem foi introduzida em
50
1995, por Santos, em tese de doutorado defendida pela Escola de Enfermagem
Anna Nery na Universidade Federal do Rio de Janeiro (SAMPAIO, 2005).
As investigações na Enfermagem têm buscado maior aproximação com os
sujeitos do estudo, procurando escutá-los, e não apenas tratá-los como simples
objeto de pesquisa, numa relação impessoal e fria. Assim, o método História de Vida
oportuniza aos pesquisadores aprender a ouvir o sujeito que vivenciou a situação
que se quer estudar, o que implica tê-lo como um parceiro, como alguém que é ativo
no estudo e que reflete sobre sua própria vida (SANTOS; SANTOS, 2008).
Para Nery e Tyrrell (2010), o método História de Vida permitiu o
aprofundamento do tema por meio dos relatos sobre a trajetória de cada mulher na
vivência da situação de aborto, traduzindo as suas percepções, sentimentos e
experiências.
A utilização das narrativas de vida para esse estudo se mostra
particularmente eficaz, pois, de acordo com Bertaux (2010), essa forma de coleta de
dados empíricos se ajusta às trajetórias de vida e permite identificar por meio de
quais mecanismos e processos os sujeitos chegaram a uma dada situação, como se
esforçam para administrar essa situação e até mesmo para superá-la.
3.3 Cenário do estudo
O cenário dessa pesquisa foi um hospital filantrópico localizado no
município de Teresina-PI, que atende múltiplas especialidades e que atualmente é
referência Norte e Nordeste no tratamento do câncer. Esse hospital apoia o ensino e
a pesquisa e faz parte do Sistema de Procedimentos de Alta complexidade na Área
do Câncer (SISPAAC) do Ministério da Saúde. Sua atuação no tratamento de câncer
tem se projetado aqui e além de nossas fronteiras, com imensa repercussão social,
criando oportunidades de cura ou, no mínimo, de melhor qualidade de vida para os
portadores desse mal (HSM, 2010).
Esse hospital oferece diversos serviços como o Núcleo de Assistência
Domiciliar Interdisciplinar ao Paciente Oncológico (NADIPO), que tem por objetivo
oferecer atendimento integral ao paciente em seu domicílio, com uma equipe
multidisciplinar, composta por médicos, assistentes sociais, nutricionistas,
51
psicólogos, farmacêuticos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, além dos serviços
de fisioterapia, assistência social e psicologia, entre outros que visam a uma melhor
assistência aos seus pacientes, sobretudo os oncológicos.
Vale destacar que nesse hospital o serviço de psicologia desenvolve
diversas atividades visando minimizar o sofrimento causado pela doença e oferece
suporte emocional para favorecer a qualidade de vida aos pacientes assistidos pela
Instituição. Entre essas atividades, está o grupo de apoio “Amigas do Peito”, que
trabalha com pacientes em tratamento e controle do câncer de mama e constitui-se
em um grupo de autoajuda com sessões conduzidas por uma psicóloga e com apoio
de uma equipe multidisciplinar, que realiza orientações e presta informações. Nesse
grupo, que se reúne quinzenalmente, e que tem uma população flutuante de quinze
mulheres, são desenvolvidas práticas, como Terapia Comunitária, que é um espaço
de fala e escuta em que são compartilhadas experiências de dor, sofrimento e
superação do câncer de mama, e a yogaterapia, que é conduzida por uma
profissional voluntária.
3.4 Sujeitos da pesquisa
Os sujeitos do estudo foram 14 pacientes que fazem parte do grupo “Amigas
do Peito”, que vivenciam ou vivenciaram a situação do câncer de mama, que
utilizaram práticas integrativas e complementares no tratamento e aceitaram
participar da pesquisa. A inclusão dos sujeitos foi feita de forma gradativa até
observar-se a negação dos dados obtidos, ou seja, até chegar ao ponto de
saturação. De acordo com Bertaux (2010), o ponto de saturação é atingido quando o
entrevistador chega ao caso negativo. Ou seja, após chegar à formulação do
modelo, graças à observação de recorrências, é necessário procurar casos que
negam o que se encontrou. Caso o pesquisador não encontre o caso negativo, ele
precisará modificar o modelo em função disso.
A escolha por trabalhar com o Grupo “Amigas do Peito” deveu-se ao fato de
ele ser composto, em sua maioria, de mulheres que já estão na fase de controle do
câncer de mama, tendo, assim, uma história de vida para contar no que se refere ao
uso de práticas integrativas e complementares.
52
Considerando a resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que
trata da regulamentação da ética em pesquisa com seres humanos, os participantes
do estudo assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (ANEXO B),
previamente explicitado aos sujeitos. Nele estão garantidos a preservação da
identidade e o direito a interromper o estudo voluntariamente a qualquer tempo
(BRASIL, 1996). O anonimato teve a sua garantia assegurada com a substituição
dos nomes das depoentes pela numeração sucessiva, conforme a sequência em
que as entrevistas aconteceram.
3.5 Produção dos dados
A produção dos dados desta pesquisa foi realizada pela autora, no período
de janeiro e fevereiro de 2011. Inicialmente, procurou-se a psicóloga que conduzia o
grupo, explicando-lhe os objetivos da pesquisa com a aplicação do Método História
de Vida. Falou-se sobre a importância da construção da identidade da pesquisadora
para que fosse construído um vínculo com os sujeitos, uma relação de confiança
necessária para a coleta dos relatos.
É importante a relação de confiança estabelecida entre entrevistador e
entrevistada para a obtenção dos relatos de vida. Essa relação torna a entrevista um
momento mágico de exteriorização de sentimentos, emoções, angústias e mágoas.
Daí a necessidade do estabelecimento de um contexto social, pois ele permite que
essa relação de confiança seja alcançada (SPINDOLA; SANTOS, 2003).
Assim, após autorização da instituição, foi iniciado o contato com as
mulheres do Grupo “Amigas do Peito”. Iniciaram-se conversas informais que
aconteceram em três encontros e que proporcionaram uma aproximação com os
sujeitos. Esses momentos foram relevantes, pois permitiram uma maior
familiarização sujeito-pesquisadora, e foram enriquecedores para a pesquisadora
como ser-humano, já que se percebeu a experiência transformadora que é vivenciar
o câncer.
No último encontro, as mulheres perguntaram quando seria o início das
entrevistas. Uma delas pediu que se iniciasse por ela, pois iria viajar. Foi aí que se
percebeu que se tinha conseguido estabelecer o vínculo necessário para iniciar a
53
coleta dos relatos de vida. Para tanto se utilizou um roteiro constituído de uma
caracterização sociodemográfica e gineco-obstétrico dos sujeitos e a seguinte
questão norteadora da pesquisa: Fale sobre sua vida relatando o uso de práticas
integrativas e complementares durante seu tratamento do câncer de mama
(APÊNDICE A).
A técnica utilizada para a produção dos dados foi a entrevista aberta ou
prolongada, que, segundo Nery e Tyrrell (2010), não tem necessidade de um roteiro
previamente elaborado, apenas uma pergunta norteadora, na qual se pede ao
sujeito que fale livremente sobre sua vida referentemente ao objeto estudado.
As duas primeiras entrevistas foram realizadas no ambulatório da instituição
de realização da pesquisa e serviram para validação e ambientação à técnica
proposta pelo método. A princípio, a pesquisadora encontrou dificuldades, como a
de manter-se calada no decorrer do procedimento. Essa entrevista serviu de base
para adaptação e correção.
Calar-se não constitui uma tarefa fácil principalmente para as enfermeiras,
que são treinadas para falar, interagir e intervir na comunidade. Porém, por muitas
vezes é preciso calar, pois nem sempre as pessoas querem ouvir uma opinião. Às
vezes, elas necessitam apenas de alguém para escutá-las. Esse é um cuidado que
merece atenção da pesquisadora que escolhe o Método História de Vida como
metodologia a ser utilizada em seu estudo (SPINDOLA; SANTOS, 2003).
As entrevistas ocorreram com as mulheres que aceitaram participar do
estudo e foram gravadas em aparelho eletrônico MP4, com autorização prévia das
depoentes e garantia de sigilo e anonimato. Foram realizadas no próprio local do
encontro do “Grupo Amigas do Peito”, no ambulatório da referida instituição e no
domicílio, conforme a preferência das depoentes. A pesquisadora teve o cuidado de
seguir o que é recomendado pelo método, como considerar sempre um tempo de
preparo de uma hora como parte integrante do trabalho de pesquisa, durante o qual
refletia sobre o objeto de estudo e objetivos.
Para a realização das entrevistas buscava-se sempre um lugar adequado, a
fim de deixar a depoente mais à vontade e evitar interrupções. Era explicada às
mulheres a proposta do trabalho, a importância do estudo e como poderiam
colaborar. A adesão foi quase total, com recusa de apenas duas mulheres que
frequentavam o grupo.
54
Durante os depoimentos, as mulheres se emocionavam em alguns
momentos e, às vezes, houve confiança nos relatos até de outras questões não
aplicadas ao objeto de estudo, como as angústias, as dificuldades financeiras, o
divórcio com a descoberta da doença, a sexualidade após a mastectomia, entre
outras. As entrevistas proporcionaram grande aprendizagem, por estar ouvindo
alguém contar sua história de vida sobre um momento tão difícil de ser vivenciado. A
superação demonstrada por aquelas mulheres foi uma experiência transformadora
para quem é pesquisador.
As transcrições das entrevistas foram feitas na íntegra e deu-se
imediatamente após sua realização, permitindo, assim, a organização das ideias em
relação ao questionamento e ao ponto de saturação.
3.6 Análise dos dados
A análise dos relatos começava logo após a sua transcrição, realizada
progressivamente após cada entrevista, pois, segundo Bertaux (2005), essa análise
inicia-se e permanece contínua e simultaneamente à transcrição dos depoimentos.
Isso equivale a dizer que a análise de um relato de vida constitui um episódio dentro
de uma totalidade dinâmica. O modelo de análise proposto não extrai do relato de
vida todos os significados que podem existir, mas somente aqueles pertinentes que
podem ajudar na construção do objeto de investigação.
Spindola e Santos (2003) acrescentam que a análise simultânea à
transcrição facilita a avaliação do procedimento metodológico, cria possibilidades de
ajustes no processo e direciona o caminhar do pesquisador.
Depois de colhidos e transcritos, os depoimentos foram submetidos a uma
análise temática que, de acordo com Bertaux (2005), consiste em buscar nos relatos
os discursos correspondentes ao tema. Baseia-se em operações de
desmembramento do texto em unidades, ou seja, descobrir os diferentes núcleos de
sentido que constituem a comunicação e, posteriormente, realizar o seu
reagrupamento em classes ou categorias.
A análise de uma entrevista biográfica tem por objetivo explicitar as
informações e significados pertinentes nela contidos. A maioria dessas informações
55
e significados não aparece na primeira leitura; sem dúvida, a experiência demonstra
que vão surgindo umas atrás das outras no transcurso das leituras sucessivas. Cada
leitura revela novos conteúdos semânticos (BERTAUX, 2010).
Dessa forma, realizaram-se sucessivas leituras e releituras buscando
compreender as ideias centrais dos temas revelados naqueles discursos para a
construção das categorias temáticas. Ao realizar esse procedimento, os temas
revelados se tornaram mais precisos e principiados pela sistematização e
condensação das narrativas. Também, foram-se organizando os elementos que
passaram a constituir os conteúdos de informação necessários para serem
integrados no texto.
Segundo Bertaux (2005), no método História de Vida, a busca e a seleção
do referencial que dá suporte teórico às análises somente são feitas a partir do
surgimento dos temas nos depoimentos, pois o pesquisador deve ir a campo sem
ideias preconcebidas, desarmado de hipóteses e pronto para se defrontar com o
novo, o inesperado. Dessa maneira, após a identificação dos temas, busca-se o
material que apoiará a análise. Santos e Santos (2008) reiteram as palavras de
Bertaux, ao afirmarem que é através do significado atribuído por cada depoente à
sua história de vida que o pesquisador pode determinar a orientação teórica de seu
estudo.
Assim, para embasar as análises e discussão, foi utilizado o referencial
teórico construído a partir dos temas que surgiram nos depoimentos, em
conformidade ao método história de vida. É importante ressaltar que, para iniciar as
análises, discussões e interpretações dos dados contidos nas categorias temáticas,
quais sejam o yogaterapia, na promoção do bem-estar físico e mental; a terapia
comunitária, como um espaço de trocas, empoderamento e resiliência; o uso de
plantas medicinais, como prática complementar no combate ao câncer; a
argiloterapia e a religiosidade, como práticas integrativas e complementares no
tratamento do câncer de mama, seguiram-se os passos metodológicos do método
História de Vida de acordo com Bertaux (2010).
56
3.6 Aspectos éticos
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da
Universidade Federal do Piauí (UFPI), no dia 07 de dezembro de 2010 – CAAE nº
0322.0.045.000-10, (ANEXO C) e pelo Centro de Ensino e Pesquisa da instituição
onde foi realizada a produção dos dados deste estudo.
Antecedendo a realização das entrevistas, foi solicitada às participantes do
estudo a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Elas ainda
foram informadas de que a participação seria voluntária e livre de qualquer ônus em
caso de desistência.
Em respeito às diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa com
seres humanos, estabelecidas pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde (CNS) e Conselho Nacional de Pesquisa em Seres Humanos (CONEP), as
mulheres que aceitaram participar do estudo foram esclarecidas acerca dos
objetivos e contribuições do estudo, assim como do direito de se recusar a participar
ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem nenhuma
penalização e prejuízo ao seu cuidado.
57
4 RESULTADOS
58
Os resultados compreenderam a caracterização dos sujeitos quanto aos
aspectos sociodemográficos e gineco-obstétricos e à percepção de mulheres com
câncer de mama sobre práticas integrativas e complementares em sua qualidade de
vida.
4.1 Caracterização dos sujeitos
Para caracterizar os sujeitos que participaram deste estudo, utilizaram-se os
aspectos sociodemográficos e gineco-obstétricos, conforme descrito nos quadros 1
e 2.
Quadro 01. Perfil dos sujeitos segundo os aspectos sócio-demográficos
Dep Idade Escolaridade/ Grau de Instrução
Estado Civil/ Situação Conjugal
Profissão/ Ocupação
Renda mensal (SM)
Procedência
Religão
01 45 ESC Casada Professora 10 Brasília-DF Católica
02 52 EFI União estável
Autônoma < 1 Caxias-MA Evangélica
03 44 Não alfabetizada
Casada Do lar 2 Teresina-PI Católica
04 44 EMC Divorciada Do lar < 2 Teresina-PI Evangélica
05 51 ESI Casada Do lar 2 Buriti dos Lopes-PI
Evangélica
06 40 EMC Solteira Doméstica 1 Jaicós-PI Católica
07 56 EFI Divorciada Costureira < 1 S. João da Serra-PI
Evangélica
08 31 EFI União estável
Do lar < 1 Teresina-PI Católica
09 57 EFI Casada Autônoma < 1 Teresina-PI Evangélica
10 50 EMI Viúva Do lar < 1 Teresina-PI Católica
11 69 EFI Casada Do lar 3 Teresina-PI Católica
12 73 EMC Solteira Agente Adm.
3 Guadalupe-PI
Evangélica
13 53 EFI Solteira Doméstica < 1 Caxias-MA Evangélica
14 59 EFI Viúva Lavradora < 2 Batalha-PI Evangélica *Legenda: Dep- depoente; ESC-Ensino Superior Completo; ESI- Ensino Superior Incompleto; EMC-Ensino Médio Completo; EMI- Ensino Médio Incompleto; EFC-ensino Fundamental Completo; EFI- Ensino Fundamental Incompleto; Agente Adm.- agente administrativo; SM- salário mínimo(R$ 545,00).
Conforme Quadro 01, os sujeitos deste estudo possuíam idade entre 31 e 73
anos. Das quatorze mulheres, 13 possuíam escolaridade que variava de
fundamental incompleto a superior completo e apenas 01 não era alfabetizada. No
que tange ao estado civil/situação conjugal, sete eram casadas e em união estável e
sete eram solteiras, viúvas ou divorciadas. Quanto à profissão/ocupação, a
59
predominância foi do lar, a renda variou de menos de um a dez salários mínimos.
Em relação à procedência, onze eram do Piauí. Quanto à religião, oito eram
evangélicas e seis católicas.
O quadro 02 a seguir apresenta os dados referentes aos aspectos gineco-
obstétricos: menarca, menopausa, uso de contraceptivo oral, reposição hormonal,
gestação, parto, aborto e amamentação.
Quadro 02. Perfil dos sujeitos segundo os aspectos gineco-obstétricos. Dep Menarca Menopausa Contracep
Oral Reposição hormonal
Primeira Gestação
(idade)
G P A Amam
01 12 40 * Sim Não 38 01 01 00 Sim
02 12 50 Não Não 18 08 07 01 Sim
03 14 39 * Não Não 19 03 03 00 Sim
04 14 43 Não Não 29 03 02 01 Sim
05 13 45 Não Não 25 04 03 01 Sim
06 14 (-) Sim Não 17 03 02 01 Não
07 13 51 Sim Sim 17 06 06 00 Sim
08 12 27 * Sim Não 18 03 03 00 Sim
09 15 46 Sim Sim 19 06 03 03 Sim
10 15 48 * Não Não 20 03 03 00 Sim
11 13 50 Sim Sim 22 07 07 00 Sim
12 14 49 Não Não - 00 00 00 Não
13 13 48 * Não Não 29 01 01 00 Sim
14 13 45 * Não Não 23 01 01 00 Sim Legenda: *Menopausa após quimioterapia; (-) não ocorrência do evento; Dep- depoente; contracep oral- uso de contraceptivo oral; G- número de gestações; P- número de partos; A- número de abortos; Amam- amamentação.
Nos aspectos ginecológicos, o Quadro 02 mostra que a idade da menarca
das mulheres em estudo variou entre 12 e 15 anos, e a menopausa ocorreu entre 27
e 50 anos em treze mulheres, das quais 06 tiveram a última menstruação em
decorrência do início da quimioterapia. Das quatorze mulheres, seis fizeram uso de
contraceptivos orais. Quanto à reposição hormonal, onze não a fizeram.
Em relação aos aspectos obstétricos, no que se refere à gestação: cinco
eram multigestas; cinco, trigestas; três, primigestas; e uma, nuligesta. Já quanto à
paridade, três eram multíparas; cinco, tercíparas; duas, secundíparas; três,
primíparas; e uma, nulípara. Das quatorze mulheres, cinco tiveram abortos. Quanto
à amamentação, 12 amamentaram.
60
4.2 Percepção de mulheres com câncer de mama sobre práticas integrativas e
complementares em sua qualidade de vida
Por meio da história de vida das mulheres sujeitos desta pesquisa,
compreendeu-se qual a percepção dessas mulheres sobre os efeitos das práticas
integrativas e complementares em sua qualidade de vida, o que está bem
evidenciado no conteúdo das falas pertinentes ao objeto deste estudo.
Cada achado foi analisado e articulado com o referencial conceitual
construído ao longo desta pesquisa. Nesse sentido, com a finalidade de atingir aos
objetivos propostos pelo estudo, realizou-se o mapeamento dos dados, que foram
agrupados nas seguintes categorias temáticas: o yogaterapia, na promoção do bem-
estar físico e mental; a terapia comunitária, como um espaço de trocas,
empoderamento e resiliência; o uso de plantas medicinais, como prática
complementar no combate ao câncer; a Argiloterapia e a religiosidade, como
práticas integrativas e complementares no tratamento do câncer de mama.
4.2.1 O yogaterapia na promoção do bem-estar físico mental
A partir da leitura dos depoimentos das mulheres que vivenciaram o câncer
de mama, conseguiu-se observar que essa doença traz repercussões
biopsicossociais que fazem com que as mulheres busquem as práticas integrativas e
complementares como recursos que atendam não apenas as necessidades
biológicas geradas com a doença. Assim as mulheres com câncer de mama citaram
o yoga como uma prática útil no enfrentamento da doença. Elas percebem que, com
o yoga, adquirem uma maior capacidade de lidar com a doença, como mostram os
seguintes depoimentos:
Eu também participei do yoga, muito bom! Eu gostava. Quando eu fazia me sentia bem, bem mesmo. A gente se sente leve, desaparecem as preocupações, uma coisa muito boa e o meu astral como melhorou. Isso fez muito bem a muita gente [...]. (Dep.11) Eu também participei do yoga e achava ótimo [...] melhora muito a mente da gente, melhora com yoga por tem coisas que ela fala [referindo-se a
61
instrutora] que a gente parece que sai e esquece tudo [...] mas que era ótimo era e eu me sentia muito melhor. É como se a gente tivesse com a cabeça muito quente e tomasse um banho, aquele alívio. Esfria mesmo. (Dep.12)
O yoga era bom porque a gente relaxava, tinha gente que até dormia. A gente se sente bem, mais leve. Eu me sentia melhor, porque às vezes a gente ficava pensando umas coisas, e ai com ele eu melhorava. (Dep.13)
As depoentes foram unânimes em referir-se ao yoga como muito bom e ótimo
para a sua melhora física, mental e emocional durante o tratamento do câncer, pois
desapareceram as preocupações, melhorou o astral e relaxavam chegando até a
dormir.
Assim, ao reportar-se à fala das depoentes, houve o impacto da yogaterapia
na saúde física e psíquica dessas mulheres. Essa prática foi importante para
amenizar a angústia psicológica trazida pelo câncer, pois elas demonstraram
claramente que foi a partir do uso dessa prática que conseguiram melhorar sua
saúde abalada. Assim, na história de vida das mulheres pesquisadas, observa-se
que o estar com câncer de mama traz um grande sofrimento psíquico, pois, para as
mulheres, o câncer é sinônimo de morte, principalmente morte da feminilidade, em
virtude da simbologia que o seio tem em nossa sociedade.
Os transtornos de ordem psíquica são frequentes e levam a uma diminuição
da qualidade de vida de pacientes com câncer. Entre esses transtornos, a ansiedade
está entre as mais comuns e pode exacerbar outras formas de sofrimento, como a
dor. O sofrimento psíquico é tão perturbador quanto o sofrimento físico e, para
muitas pacientes, menos tolerável que o sofrimento físico (SILVA, 2004).
Assim, Nucci (2003) chama atenção para o fato de que, na assistência ao
paciente com câncer, os cuidados devem ser voltados não somente para o aspecto
biológico, mas também sociais e psicológicos, buscando atendimento para várias
necessidades do paciente.
Nesse contexto, as diversas práticas integrativas e complementares têm
assumido um papel importante, tendo em vista que o foco de sua assistência está
voltado para o indivíduo e não para a doença. Ao contemplar aspectos físicos,
mentais e espirituais, essas terapias têm sido utilizadas de maneira crescente por
pacientes com câncer, em virtude, sobretudo, das repercussões que elas têm na
qualidade de vida do indivíduo. Entre elas, o yoga tem mostrado importante efeito
mental, físico, espiritual e emocional.
62
Diversos estudos têm sido realizados para avaliar o efeito do yoga na saúde
mental. Um dos mais recentes foi conduzido por Gururaja et al. (2011) entre jovens e
idosos. Nessa pesquisa, vinte e cinco voluntários saudáveis de ambos os sexos
foram divididos em dois grupos, de acordo com a idade. Esses indivíduos foram
submetidos a noventa minutos de aula de yoga, uma ou duas vezes por semana,
durante um mês. A atividade salivar, que é um dos métodos mais simples para
avaliar a resposta simpática e consequentemente o estresse, foi avaliada antes e
depois da prática de yoga. O Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE), que
apresenta duas escalas cujo propósito é o de quantificar a ansiedade como estado
(IDATE-E) e a ansiedade como traço (IDATE-T), foram aplicadas antes da primeira
prática de yoga e após um mês de terapia.
Gurujara et al. (2011) observaram que o nível de atividade de amilase salivar
diminuiu após a prática de yoga em ambos os grupos, significando uma diminuição
no nível de estresse e uma redução da pontuação do estado e do traço da
ansiedade, o que significa que o yoga tem efeito tanto imediato como a longo prazo
sobre a redução da ansiedade. Assim, os estudiosos concluíram que o yoga ajuda a
melhorar a saúde mental de jovens e idosos, reduz o estresse e pode ser
sabiamente aplicado em programas assistenciais para melhorar a qualidade de vida
em todas as faixas etárias.
Os achados neste estudo corroboram com os encontrados na pesquisa de
Gururaja et al.(2011), já que se pôde perceber que o yoga proporcionou uma
melhoria da saúde física e psíquica destas mulheres com câncer de mama, o que
repercutiu diretamente na qualidade de vida dessas pacientes.
Mas que prática é essa que traz tão importantes repercussões holísticas na
vida do indivíduo? De acordo com Andrade (2006), Jorge e Matos (2009), o yoga
constitui um movimento cultural ou conjunto de condutas e práticas que buscam
identificar o indivíduo com sua própria natureza e sua integração com o universo,
levando a um equilíbrio interno que balanceia mente, corpo e espírito. É também
uma filosofia de vida associada ao hinduísmo e ao budismo, como suporte para o
trabalho de aperfeiçoamento espiritual. Pertence, assim, a um dos seis sistemas
filosóficos hindus, transmitidos oralmente ao longo de gerações, há milênios de
anos.
Nessa filosofia, o indivíduo é incentivado a assumir algumas de suas
inspiradoras ideias, como adotar uma atitude adequada em relação à vida, aos
63
demais seres humanos e a todo seu meio ambiente. Dessa forma, poderá obter
resultados benéficos. Assim, após uma sessão de hatha yoga, os participantes
sentem-se relaxados física e mentalmente (WORTHINGTON, 2003).
Porém, por ter uma filosofia própria, algumas pessoas podem não se deixar
beneficiar completamente da prática do yoga, tendo em vista que não conseguem
uma sintonia com seus preceitos. Tal fato pode ser observado no relato da depoente
04:
[...] o yoga é bem relaxante pra todo mundo, mas assim, eu tenho uma religião que a gente não costuma misturar com yoga. Pra gente yoga é uma coisa que é contra os princípios. Eu fazia mais porque estava ali no grupo, mas minha consciência assim, eu não me sentia mentalmente muito bem fazendo yoga. Fisicamente podia até me ajudar, mas eu sabia que aquilo não tinha nada a ver com meus princípios. (Dep. 04)
Nesse relato, a depoente 04 reconhece o yoga como uma prática relaxante,
mas, como é contrária a seus princípios religiosos, ela refere que fazia somente
porque participava do grupo, porém não se sentia bem mentalmente. No entanto diz
“fisicamente poderia até ajudar”, mas sabia que não fazia parte de seus princípios.
Percebe-se, assim, que seu desconhecimento sobre o yoga faz que ela confunda
essa prática com uma religião. Em virtude disso, não consegue experimentar os
benefícios holísticos que ele proporciona por medo que venha a interferir em sua fé
religiosa.
Na verdade, enquanto na Índia, há mais de sessenta anos, o yoga vem
sendo objeto de estudo e, na Europa, utilizado com parte integrante de treinamento
de atletas de alto nível, no Brasil há ainda os que o confundem com religião,
faquirismo ou prática exótica (RODRIGUES, 2006b).
O yoga esteve associado desde a antiguidade a vários sistemas filosóficos e
teológicos, sendo que nenhum o define enquanto tal. Isso porque ele é, antes de
tudo, uma disciplina espiritual prática que atribui a máxima importância à
experimentação e verificação pessoal. Por isso, o yoga pode ser praticado por
pessoas que adotam as mais diversas filosofias e crenças, pois ele,
independentemente da religião, ajuda na medida em que equilibra o sistema nervoso
e imobiliza a mente por meio de seus vários exercícios (FEUERSTEIN, 2005).
Constituindo uma intervenção holística, por considerar o indivíduo corpo,
mente e espírito, o yoga é uma prática integrativa, que tem sido recomendada como
64
uma estratégia para ajudar os indivíduos a lidar como os sintomas e os efeitos
colaterais associados ao câncer e seus tratamentos.
Participantes de um estudo realizado por Ducan, Leis e Taylor (2008) que
estavam em tratamento de câncer atribuíram benefícios físicos à prática do yoga,
como uma sensação de fortalecimento físico e mental após as sessões. Eles
também listaram o relaxamento como um efeito positivo dessa prática, o que
permitiu aos participantes uma maior concentração e redução da ansiedade.
Esta pesquisa oferece apoio adicional para o estudo citado, porque as
participantes também atribuíram à prática do yoga uma melhoria física e mental,
como se pode observar pelos depoimentos que seguem:
[...] eu melhorava porque tinha o yoga, a gente vinha toda entrevada, dor aqui, dor acolá, aí a gente fazia o relaxamento e melhorava muito [...] olha quando eu vim pra cá, tinha perdido a mama e tinha muita dor nas costas porquê eu sentia falta da mama né, ai eu tava com muita dor na coluna. Doía meu ombro, o braço e no meio das costas era uma dor monstra. Aí comecei o yoga e fiquei boa, sem remédio, boa dessas dores que eu tinha nas costas que era demais, acho que porque eu tirei a mama e sentia falta do peso da mama e eu fiquei boa só com esses exercícios aqui da yoga. Serve muito pra gente! Chegava aqui minhas pernas nem dobrava e depois do yoga tava sentando normal. Sentava no chão e levantava numa boa. É muito bom. O yoga foi muito bom pra mim durante o tratamento. (Dep. 05) [...] também participei do yoga. Achei bom porque ali só em deitar a gente relaxa [...] Mas é muito bom, e me aliviou as dores na mama, porque tinha hora que a gente sentia a aquele cansaço na mama aí a gente fazia o exercício e ia indo e passava [...] no yoga a gente chegava com baixo astral e saia com alto astral. Aliviava o corpo e a mente. Tem gente que vinha preocupada e depois melhorava. (Dep.08)
Durante todo o discurso, a depoente 05 vai relatando a melhoria das dores,
conseguida por meio dessa terapia, e enfatiza ainda não ter feito uso de nenhum
recurso farmacológico para alívio da dor. O relato mostra como o yoga foi uma
prática importante para o tratamento das dores que a paciente sentia após a
mastectomia. Já a depoente 08 relata que, por meio do yoga, ela relaxava e que era
muito bom, porque também aliviava suas dores nas mamas. O yoga também
promovia um alívio na mente, já que chegava preocupada e, após o yogaterapia, ela
melhorava. Assim, analisando os dois discursos, percebe-se que o yoga, ao
englobar aspectos físicos, mentais e espirituais, exerceu impacto positivo sobre a
qualidade de vida dessas mulheres.
A dor constitui uma das queixas mais frequentes em oncologia e é uma
variável peculiar que exige um manejo adequado. A influência da dor sobre a
65
qualidade de vida dos pacientes oncológicos é algo marcante. Assim, diversas
intervenções complementares e alternativas ao tratamento medicamentoso têm sido
utilizadas visando reduzir o sofrimento relacionado e/ou acentuado pela dor, e
promover a qualidade de vida nas diferentes fases do tratamento clínico usual.
Dentre elas, o yoga tem mostrado impacto positivo na dor oncológica (GRANER;
COSTA JUNIOR; ROLIM, 2010).
De acordo com Silva (2005), o yoga tem mostrado efeitos positivos para o
controle do quadro álgico, atuando principalmente no equilíbrio das energias internas
com as externas, ou seja, participa da vivência do indivíduo, considerando que as
doenças também são causadas por disfunção crônica de energia emocional e por
maneiras pouco saudáveis de nos relacionarmos conosco e com as outras pessoas.
Essa prática também desenvolve bem-estar geral por meio de exercícios para
força, flexibilidade e equilíbrio, em posições estacionárias que usam contração
isométrica e relaxamento dos grupos musculares, criando alinhamentos específicos.
A prática dessas posturas pode ainda proporcionar, entre outras adaptações
fisiológicas, aumento da força muscular e da flexibilidade e melhora do equilíbrio.
Associadamente, estabelece técnicas respiratórias e exercícios para concentração e
meditação. Atua ainda sobre a coluna vertebral, órgãos viscerais e também estimula
os sistemas endócrino e nervoso autônomo. A ação sobre os órgãos viscerais, em
grande parte, verifica-se pela criação de pressões intra-abdominais
(WORTHINGTON, 2003; JORGE; MATOS, 2009; COELHO et al., 2011).
Segundo Shannahoff-Khalsa (2005), o yoga tem sido uma prática utilizada
em pacientes com câncer para o tratamento de ansiedade, fadiga e dor. Além disso,
tem sido usado para estimular o sistema imune para o tratamento de tumores
sólidos, expansão e integração da mente, desenvolvimento de uma mente
comparativa, compreensiva e intuitiva e para a regeneração do sistema nervoso
central. O uso dessa técnica pode ser muito significativo, inclusive, em termos de
cuidados paliativos.
De acordo com o que foi discorrido anteriormente, observa-se que o yoga
constitui um importante recurso terapêutico a ser integrado ao tratamento
convencional do câncer, tendo em vista que essa prática mostra repercussões no
bem-estar físico, mental e espiritual dos pacientes oncológicos. Tal fato pode ser
observado nos discursos das depoentes 05 e 08 desta pesquisa.
66
Em virtude das repercussões dessa terapia no bem-estar integral de
pacientes com neoplasias, os estudos sobre a terapia do yoga têm crescido nas
últimas décadas e têm chamado atenção dos pesquisadores do mundo inteiro.
Especificamente em pacientes com câncer, essas pesquisas têm mostrado a
melhoria que essa prática proporciona na qualidade de vida das pacientes.
Uma pesquisa americana realizada por Moadel et al. (2007) examinou o
impacto do yoga incluindo postura e exercícios de respiração e meditação na
qualidade de vida, fadiga, alteração do humor e bem-estar espiritual entre uma
amostra multiétnica de pacientes com câncer de mama. Os resultados sugeriram
que o yoga está associado à melhoria na qualidade de vida entre uma população
urbana de diferentes raças com câncer de mama. Também se observou que ele
pode ter servido para promover uma sensação de apoio social entre os praticantes.
Tal apoio é importante porque tem sido associado à promoção da qualidade de vida
e até mesmo à maior sobrevida do paciente com câncer.
Na Índia, pesquisadores avaliaram os efeitos da terapia do yoga em
sintomas de angústia entre pacientes em estágio inicial de câncer submetidos à
radioterapia. Os resultados indicaram que a intervenção do yoga foi útil para reduzir
a angústia e, consequentemente, o sofrimento físico e psicológico e para
proporcionar uma melhoria nas atividades diárias. Assim, concluiu-se que o yoga é
uma importante ação profilática nos estágios iniciais de tratamento, e pode trazer
repercussões no futuro para a qualidade de vida do paciente (HOSAKOTE, 2009).
Assim como esses, diversos estudos têm sido realizados para examinar os
efeitos do yoga entre pacientes com câncer. Contudo, essas pesquisas vinham
mostrando algumas limitações, como a ausência de grupo-controle. Mas,
recentemente, no congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica,
conhecido como ASCO, o maior e mais importante encontro mundial sobre câncer,
divulgou-se a mais importante pesquisa sobre o yoga, na qual pesquisadores do
Medical Doctor Anderson Cancer Center relataram como ele ajuda a tratar o câncer.
A pesquisa de Cohen et al. (2011) teve por objetivo realizar um ensaio
clínico controlado para examinar os efeitos do yoga na qualidade de vida, os níveis
de cortisol e a variabilidade da frequência cardíaca em mulheres com câncer de
mama submetidas à radioterapia. Para isso, pacientes com estágios de 0-III da
doença foram recrutadas antes da radioterapia e randomizadas para um dos três
grupos: yoga ou alongamento três vezes por semana durante seis semanas, durante
67
a radioterapia ou grupo controle. O cortisol foi medido cinco vezes por dia em cinco
dias consecutivos, durante a intervenção e cada período de acompanhamento.
Realizavam eletrocardiogramas e coletavam saliva depois de 10 minutos no início do
estudo, final do tratamento e 1, 3 e 6 meses depois.
Os resultados dessa pesquisa evidenciam que as mulheres que praticaram
yoga tiveram os maiores declínios em seus níveis de cortisol, ao longo do dia, o que
indica que essa prática tem a capacidade de melhorar a regulação do hormônio do
estrese. Em 1, 3 e 6 meses após a radioterapia, as mulheres que praticaram yoga
durante o período de tratamento relataram maiores benefícios no funcionamento
físico e saúde geral. Elas também estavam mais propensas a perceber mudanças
positivas em sua experiência de vida com o câncer do que qualquer uma
participante de outros grupos. No grupo de yoga, as participantes tinham melhoria
contínua no funcionamento físico. Seis meses pós-yoga, aquelas que participaram
da maioria das aulas continuaram a ter melhorias. Vale ressaltar que esse estudo é
o primeiro a incluir um grupo controle ativo, sugerindo que os benefícios dessa
terapia se devem a mais do que simples alongamentos, apoio social ou outros
efeitos indiretos (COHEN et al., 2011).
Os estudos de Moadel et al.(2007), Hosakote(2009) e mais recentemente o
de Cohen et al.(2011) vêm dar uma sustentação científica para todas as melhorias
proporcionadas pelo yoga às mulheres com câncer desse estudo, apontando para o
fato de que, comprovadamente, essa terapia integrativa e complementar promove
um impacto biopsicossocial na vida das pacientes e repercute diretamente na
qualidade de vida.
4.2.2 A terapia comunitária como um espaço de trocas, empoderamento e
resiliência
Na categoria “a terapia comunitária como um espaço de trocas,
empoderamento e resiliência” observou-se pelos relatos que a participação na
terapia comunitária foi muito importante para o enfrentamento da doença. A troca de
experiências entre mulheres que vivenciam a mesma situação foi propulsora para o
68
processo de empoderamento e resiliência, que possibilitou uma vivência menos
traumática do câncer.
A Terapia Comunitária constitui um espaço de promoção de vínculos
interpessoais e intercomunitários, objetiva a valorização das histórias de vida dos
participantes, o resgate da identidade, a restauração da autoestima e da confiança
em si e o aumento da percepção dos problemas e das possibilidades de resolução.
Tem como base de sustentação, o estímulo para o desenvolvimento ou a criação de
uma rede de solidariedade. Esse contexto de possibilidades de demonstração dos
conflitos, medos e dúvidas em um ambiente livre de julgamentos, em que se
valorizam as diferenças individuais e as experiências de vida de cada um, favorece a
prevenção, o tratamento e a reinserção social das pessoas (BARRETO, 2008).
De acordo com Holanda, Dias e Ferreira Filha (2007), a Terapia Comunitária
permite a ampliação da consciência crítica sobre os dilemas existenciais, e cada
pessoa pode transformar sua história e seu sofrimento. Constitui uma estratégia não
mais centrada no modelo medicalizado, mas na potencialidade do indivíduo,
proporcionando equilíbrio físico, mental e espiritual, por meio de uma abordagem
sistêmica, aliada a suas crenças e valores espirituais.
Ela favorece o desenvolvimento de uma teia de relação social que
proporciona troca de experiências, retomada de habilidades e superação de
adversidades com base na aquisição de recursos sociais e emocionais na conquista
de forma individual e coletiva (GUIMARÃES; FERREIRA FILHA, 2006).
Segundo Holanda (2006), nos encontros de Terapia Comunitária,
geralmente as pessoas falam sobre seus problemas, suas inquietações e
perturbações. Dessa forma, essa terapia ajuda a expressar algo que ainda não foi
verbalizado. Tal fato pode ser observado no seguinte relato:
[...] o que mais me levantou foi lá, porque quando a gente chega lá desabafa, conta tudo sabe e o fato de eu ouvir aqueles testemunhos daquelas mulheres que já passaram pelo problema aquilo me fortaleceu [...] (Dep.07)
Nesse relato, a depoente fala que a terapia comunitária a reanimou, pois
quando ela chegava lá, desabafava e, como ouvia os testemunhos das mulheres
que já passaram pelo problema, ela se sentia fortalecida.
69
Vale enfatizar que a depoente 07 valoriza a oportunidade de falar, de
desabafar sobre as angústias que o câncer lhe trouxe. Com a fala e a troca de
experiências, ela encontra força para enfrentar a doença e confiança para superá-la.
Assim, a Terapia Comunitária cria um espaço de palavra que é terapêutico para
quem fala e para quem ouve e proporciona apoio pela troca de experiências.
É através da fala, de cada história compartilhada e do desabafar dos
problemas que os participantes compreendem mais a si mesmos e aos outros e
saem da terapia comunitária com um sentimento de pertencimento e alívio
(HOLANDA, 2006).
De acordo com Camarotti et al. (2003), no ato de comunicar-se entre si, o
homem ganha consciência do seu próprio eu , passando a fazer parte viva de sua
própria realidade. Dessa forma, a Terapia Comunitária, por meio da comunicação,
apropria-se das experiências da roda e amplia as possibilidades de ressignificação e
transformação do eu de cada participante.
Contudo, apesar de a comunicação possibilitar uma transformação pessoal e
coletiva, deve-se ficar alerta aos efeitos nocivos usados de maneira ambígua, uma
vez que todo ato verbal tem diversas possibilidades de significado e sentidos que
podem estar ligados ao comportamento e à busca de cada ser humano pela
consciência de existir e pertencer como cidadão (BARRETO, 2008).
Ao reportar-se à fala da depoente 09, podem-se observar as diversas
significações que o ato verbal pode ter. Eis o relato:
[...] às vezes eu achava que era bom eu ir e às vezes eu achava que não, porque tinha vezes que eu chegava em casa muito carregada e eu ficava pensando, meu Deus eu não sei se eu vou, pra saber mais coisa ruim[...] eu vou mais por causa das colegas, mas muitas vezes eu saio de lá muito arrasada por conta de algumas que estão piores ou que se foram e eu saio quase com depressão[...] (Dep. 09)
A depoente 09 revela que nem sempre “achava que era bom ir”, porque
chegava a casa sem se sentir bem devido ao que ouvia. Afirma que ia mais por
causa das colegas, mas muitas vezes saía de lá ruim em virtude da piora ou morte
de algumas.
Observa-se em seu discurso que as vivências do câncer de mama
compartilhadas eram percebidas de forma negativa, causavam mal-estar e as
deixavam deprimidas. O depoimento mostra como o ser humano percebe e atribui
70
significados diferentes às palavras, pois os relatos, que para muitas mulheres eram
motivo para superação, para a depoente 09 era sinônimo de angústia. Assim, a
terapia comunitária pode ter uma repercussão positiva ou negativa e está
condicionada à percepção de cada mulher.
Na história de vida das mulheres pesquisadas, também se observava que,
na terapia comunitária, as participantes tiveram a oportunidade de estabelecer
vínculos de amizades, importantes durante o tratamento do câncer. A depoente 02
relata que essa prática ajudou bastante no tratamento do câncer, pois os encontros
com as amigas na terapia comunitária e as conversas distraíam e ajudavam a tirar a
doença do foco de seus pensamentos. Eis o relato:
[...] acho que me ajudou bastante no tratamento do câncer porque ali a gente fica junto com as amigas e aí fica conversando, fica se distraindo, não fica pensando muito na doença. (Dep.02)
A depoente 10 afirma que, depois que entrou para o grupo de terapia
comunitária, e conheceu as colegas, sua vida ficou mais alegre e nunca mais ela
teve medo de morrer. O convívio com pessoas enfrentando a mesma situação fez
que ela superasse a tristeza e o medo da morte, como se pode observar no
depoimento a seguir:
Antes de eu participar desse grupo eu ficava em casa só aqui deitada e começava a chorar. Eu chorava e ficava imaginando besteira. Depois que eu entrei para grupo comecei a conhecer as colegas, a ficar mais alegre. Aí nunca mais eu tive aquela tristeza, aquele medo de morrer [...] (Dep. 10)
A formação de vínculos e o estabelecimento de relações de amizade, de
convivência e de manifestações afetivas são necessários ao existir do ser humano
convivendo em sociedade. A terapia comunitária constituiu para as mulheres com
câncer de mama uma estratégia que promoveu a construção de vínculos, criando-
se, assim, uma rede de apoio social tão necessária na superação dessa doença.
De acordo com Barreto (2008), o vínculo é tudo que liga o homem à terra,
às suas crenças, aos seus valores, enfim, à sua cultura. Confere ao ser humano
identidade, inclusão e sentido de pertença. Podem-se identificar três tipos de
vínculos: os saudáveis, que ligam as pessoas de maneira positiva, e as deixam
confiantes e felizes, pois reforçam a identidade pessoal e cultural, consolidam a
inclusão social e reforçam o sentimento de pertença; os frágeis, em que há
71
desconforto; e os de risco, que geram coisas desagradáveis e podem causar
prejuízos às pessoas e a sua saúde e separação nos relacionamentos.
Para se entenderem vínculos, é importante considerar o sujeito como
múltiplo, com múltiplas origens ao longo de sua vida, além das primeiras relações.
Alguns vínculos são considerados como emergidos em sua origem, por inscrever no
sujeito o que não fazia parte de sua personalidade, modificando-o, suplementando-
o, tornando-o outro sujeito que não estava previsto na infância. Nesse contexto o
enquadre grupal é considerado como próprio da vincularidade e se configura como
um atributo terapêutico. Dessa forma, a realização de seu potencial constitui-se na
medida em que as relações em seu interior estimulam em seus participantes a
constante produção de novos vínculos e pertenças e, com isso, a formulação de
sujeitos (HOLANDA; DIAS; FERREIRA FILHA, 2007).
Como já mencionado anteriormente, a partir dessa construção de vínculos,
criou-se uma rede de apoio social. De acordo com Ferreira (2011), o apoio social
pode ser definido como resultado de um conjunto de informações que levam o
indivíduo a acreditar que é amado, estimado, valorizado e que está inserido em uma
rede de relações sociais. Evidências mostram que a presença do apoio social pode
atuar como fator de proteção para a saúde humana, reduz a necessidade da
utilização de determinados medicamentos e acelera o processo de recuperação,
repercutindo diretamente na qualidade de vida do paciente.
A Terapia Comunitária constitui uma estratégia eficaz porque leva à
construção de um sentimento de pertença, de valorização, uma melhoria das
relações interpessoais, de autoestima, da saúde, da expressão emocional e
qualidade de vida das pessoas. O sentimento de pertença permite a formação de
grupos e é responsável por sua manutenção, introduzindo elementos na fala, nos
gestos e no agir cotidiano (MALHEIROS, 2007; GUIMARÃES; FERREIRA FILHA,
2006).
A valorização pessoal ocorre quando o indivíduo acredita que ele, como
sujeito do processo da vida que se dá de modo dinâmico, passa a ser pertença
desse grupo social, entendida na aceitação de diferenças individuais, que faz surgir
a valorização de cada ser humano e o aprendizado de conviver com a diversidade
(CECCARELLI, 2005). Tal fato pode ser observado no depoimento a seguir:
72
[...] me ajudou muito, me ajudou da mais valor, ajudou ainda eu ser forte, ajudou eu não ter vergonha do que eu sou[...] (Dep.03)
No discurso da depoente 03, ela afirma que a terapia comunitária ajudou
muito a se valorizar, a se fortalecer e não ter vergonha de si. Essa prática contribuiu
para a paciente empoderar-se para enfrentar a situação vivenciada, visto que, ao
participar dessa terapia, ela afirma que ganhou forças para superar a situação em
que se encontrava.
O enfoque principal da Terapia Comunitária é identificar e suscitar as forças
e capacidades dos indivíduos, famílias e comunidades, que foram desenvolvidas ao
longo de suas histórias pessoais e de suas experiências de vida. À medida que são
identificadas e valorizadas, passam a ser reconhecidas como fonte de
competências. Assim, as pessoas são estimuladas a encontrar as suas próprias
soluções e superar as dificuldades impostas pelo meio e pela sociedade
(BARRETO, 2008).
O empoderamento, palavra muito utilizada por Paulo Freire, tem sentido de
transformação e pode ser definida como a capacidade de realização. Uma pessoa
empoderada realiza por si mesma as mudanças e ações que a levam a evoluir e
fortalecer-se. Implica em conquista, avanço e superação; é algo que acontece
internamente pela conquista (VALOURA, 2005).
De acordo com Holanda (2006), o empoderamento é um processo contínuo
que fortalece a autoconfiança dos grupos e do indivíduo, capacita-os para a
articulação de seus interesses e para a participação na comunidade e que lhes
facilita o acesso aos recursos disponíveis e o controle sobre eles. Ele garante um
ganho de poder, traduzido em habilidade de agir e criar mudanças conscientes,
permitindo aos participantes despertarem para um significado que mude sua
condição de sofrimento.
Assim, as depoentes falam desse empoderamento experimentado na terapia
comunitária, que realizou mudanças em suas vidas, como chama atenção o relato a
seguir:
Aqui no grupo é muito bom, a gente chega triste, abatida, sem força, sem coragem, sem esperança, mas aí quando chega aqui vê que não é aquele bicho monstro que a gente cria na cabeça. Vamos melhorando, criando mais esperança, uma luz que brilha. Só de tá aqui até começa a esquecer de tanta coisa que passou no tratamento. Mas quando deixar de vir pra cá a
73
gente sempre cai porque é aqui que estamos encontrando força, esclarecimento e a alegria pra continuar [...]. (Dep. 05)
Em seu discurso, a depoente 05 afirma que o grupo de terapia comunitária é
bom porque ela chegava triste, abatida, sem força e lá ela percebia que a doença
não era bem o que criava em sua cabeça. Assim ia melhorando e criando
esperança. Acrescenta ainda que quando não ia piorava porque era lá que
encontrava forças para enfrentar a doença.
Nessa perspectiva, pode-se perceber que o grupo de terapia comunitária
permite a ela uma transformação, tendo em vista que chegava com uma baixa
autoestima e ao participar da roda de terapia, ganhava poder que lhe permitia
superação, renovando suas forças necessárias para vivenciar o câncer. Assim
Terapia Comunitária não constitui apenas uma prática voltada para a resolução de
problemas, mas, sobretudo, para o desenvolvimento da resiliência.
Segundo Melillo (2007), a resiliência é um processo que vai além do simples
superar, já que permite sair fortalecido de situações adversas e contribui
necessariamente para saúde mental. Ela diminui a intensidade de sinais emocionais
negativos, como depressão, ansiedade, raiva e, sob condições e valores próprios,
permite-lhes metabolizar o evento negativo e construir a partir dele. Dessa forma, a
capacidade resiliente permite tolerar, manipular e aliviar as consequências
psicológicas, sendo efetivas para a promoção da saúde mental e emocional,
contribuindo dessa forma para a qualidade de vida.
A resiliência constitui uma âncora para a Terapia Comunitária, por ser
compreendida como a capacidade de transformar sofrimento em aprendizado,
modificando os desafios em contextos de crescimento e incremento de autonomia.
Desse modo, a mudança é de fato para as pessoas, já que nesse espaço há uma
transformação de seus problemas em um novo jeito de enfrentar a vida
(GRANDESCO; AMARANTE, 2007).
Assim, percebe-se em vários relatos que a terapia comunitária contribui
efetivamente para desenvolver o empoderamento e a capacidade de resiliência e
promover uma mudança na percepção de cada mulher sobre o estar com câncer,
como se observa no relato da depoente 07:
Muitos testemunhos que eu ouvi foi que me deu força. Ah, então não vou morrer não, porque essa mulher fez (referindo-se ao tratamento do câncer)
74
ta com dez anos e ainda ta viva. Aí pronto, me levantei né porque tava nervosa mesmo. E venci! [...]. (Dep.07)
Nos testemunhos ouvidos na terapia comunitária, a depoente 07 fala que
adquiriu forças, pois viu que uma colega há dez anos tinha se tratado do câncer e
ainda estava viva. Foi a partir dessa fala que afirma ter encontrado forças para
superação da doença. Percebe-se o significado do empoderamento presente nesse
relato, um “ganho de poder”, traduzido como habilidade de agir e criar mudanças
conscientes que permitem a essa mulher despertar para o fato de que o câncer não
seria o fim, que ele poderia ser superado, como foi.
Ressalta-se ainda que em outros depoimentos emergiram, além do
empoderamento, o desenvolvimento da capacidade de resiliência, como se
manifesta nas falas a seguir:
[...] a aceitação também né, porque a princípio ninguém aceita, vê aquele monte de mulher lá né, naquele grupo todo mundo de um jeito diferente, um olhar diferente, aí minha aceitação foi também a partir da participação no grupo. (Dep.01)
Sempre frequento o grupo. Lá eu acho bom e me sinto bem porque a gente escuta outras pessoas que tem problemas muito maiores. A gente sempre pensa que só nós estamos passando por isso, pensa que o problema da gente é maior e tem outros que tem problema maior que esse. Eu acho que o grupo ajuda no tratamento porque no início quando eu descobri, eu ficava pra baixo, assim, tava muito mal mesmo ai eu vim pra cá e melhorei [...]. (Dep. 06)
A depoente 01 afirma que a aceitação de estar com câncer só aconteceu a
partir de sua participação no grupo. Já a depoente 06 refere que, após frequentar
essa prática, percebeu que existem problemas maiores que o seu. Essa mesma
depoente refere que o grupo ajuda no tratamento porque melhora o astral e a auto-
estima. Observa-se que ela ampliou sua percepção sobre os problemas que causam
sofrimento e sobre o fato de que o problema dos outros pode ser maior que o seu, e
isso lhe permitiu a superação.
Diante do que foi discorrido durante a construção dessa categoria, concorda-
se com Andrade et al.(2010) na afirmação de que a terapia comunitária permite aos
indivíduos a recuperação de sua autoestima e, pelo processo de resiliência,
empoderarem-se e se tornam terapeutas de si mesmos, a partir da escuta de vida.
Essa prática promove ações positivas no âmbito da saúde mental, traduzidas em
75
aspectos de empoderamento e, por sua vez, em melhoria de qualidade de vida para
todos.
A Terapia comunitária constitui uma prática integrativa e complementar que
tem importante contribuição para as mulheres com câncer de mama, tendo em vista
que ela proporciona uma melhoria na qualidade de vida dessa mulher, uma vez que
o compartilhar de experiências de estar com câncer produz transformações que dão
outro nuance ao problema vivenciado.
4.2.3 O uso de plantas medicinais como prática complementar no combate ao
câncer
A partir da leitura dos relatos de vida das mulheres com câncer de mama,
observou-se que, além do tratamento alopático tradicional, elas buscaram outras
práticas terapêuticas para a cura do câncer de mama e, entre elas, o uso de plantas
medicinais. Assim, essas mulheres relataram a utilização de várias plantas
medicinais, durante ou após o tratamento convencional do câncer, como se pode
perceber nos seguintes relatos:
[...] eu tomei duas garrafadas com uísque e babosa que era muito bom e esse só foi o remédio que eu tomei contra o câncer fora a quimioterapia [...] (Dep.03)
Quando eu terminei a quimioterapia foi que eu fiz tratamento alternativo, eu tomei, por exemplo, garrafada do ipê roxo com ameixa, umas raízes que a gente bota de molho. (Dep.04) [...] eu utilizei a babosa e o leite da mangaba. Ainda hoje eu tenho na geladeira. Fiz uns dois litros. Ah lembro, usei também o noni [...] (Dep.07) [...] eu tomei a água da casca de ameixa durante um ano, você acredita? (Dep.11)
Nos relatos das depoentes 03, 04, 07 e 11, há menção à utilização de
plantas medicinais popularmente conhecidas, como a babosa, o ipê-roxo, a ameixa,
e a mangaba, no tratamento adjuvante de sua doença, e elas acreditam que as
referidas plantas têm poder curativo sobre o câncer não se limitando a utilizar uma
única erva.
O emprego de plantas medicinais para a manutenção e a recuperação da
saúde tem ocorrido ao longo dos tempos desde as formas mais simples de
76
tratamento local até as formas tecnologicamente sofisticadas de fabricação
industrial. Mas, apesar das enormes diferenças entre as duas maneiras de uso, em
ambos os casos o ser humano percebeu, de alguma forma, a propriedade de
provocar reações benéficas ao organismo (LORENZI; MATOS, 2008).
A utilização de plantas medicinais como medicamento é provavelmente tão
antiga quanto o próprio homem. Numerosas etapas marcaram a evolução da arte de
curar, porém torna-se difícil delimitá-las com exatidão devido ao fato de que a
medicina esteve por muito tempo associada a práticas mágicas, místicas e
ritualísticas. Consideradas ou não seres espirituais, as plantas, por suas
propriedades terapêuticas ou tóxicas, adquiriram fundamental importância na
medicina popular (MARTINS et al., 2000).
A cura pelas plantas e seus produtos como medicina popular têm resistido
às inovações que vêm ocorrendo com o passar dos tempos, as ervas têm
conseguido sustentar sua importância e a confiança das populações atuais. É
importante ressaltar que, mesmo diante dos progressos tecnológicos atuais, existem
locais em que as plantas medicinais representam o único recurso de tratamento
(MACIEL; PINTO; VEIGA, 2002).
No Brasil, as práticas naturais de utilização de ervas ou plantas medicinais
estão presentes em todo o território, independente das diferenças das regiões. Estas
ervas têm sido muito utilizadas nos dias atuais como estratégia terapêutica para
várias doenças, entre elas o câncer. Apesar de todos os avanços no
desenvolvimento de drogas e outros recursos de tratamento, observa-se um
crescente uso de plantas medicinais entre pacientes com essa doença.
O tratamento convencional contra o câncer tem mostrado algumas
limitações. A quimioterapia, apesar de seu efeito indiscutível no combate à doença,
provoca várias reações tóxicas. Além disso, tumores sólidos são geralmente
resistentes à quimioterapia, devido à incapacidade das drogas em acessar células
hipóxicas. Acrescenta-se ainda o fato de muitos agentes antineoplásicos não serem
específicos para células cancerosas e danificarem as células saudáveis,
principalmente aquelas com alta rotatividade como as do sistema gastrointestinal e
do sistema imunológico. Diante disso, muitos pacientes com câncer em todo o
mundo têm recorrido às práticas integrativas e complementares, como o uso de
plantas medicinais, para tratamento adjuvante ao convencional (OLIVEIRA; ALVES,
2002; CASSILETH; DENG, 2004; ALMEIDA et al., 2005).
77
As falas das depoentes 03, 04, 07 e 11 demonstram o uso, durante o
tratamento do câncer, de algumas das plantas medicinais/ervas mencionadas na
história de vida dessas mulheres e mostram que plantas populares são utilizadas de
forma empírica para o tratamento do câncer, sem a devida orientação ou prescrição
de um profissional capacitado.
Nos relatos a seguir as mulheres expressam a sua percepção de como
essas plantas foram importantes na sua melhora e na cura do câncer. Assim,
mesmo realizando o tratamento convencional, elas utilizaram essas ervas por
acreditarem que elas contribuiriam positivamente, conforme suas manifestações
seguintes:
[...] já tô num período da vida que nós já estamos em 2011 e graças a Deus até hoje eu não tenho comprovação nenhuma que a doença voltou [...] Eu tomei as garrafadas de babosa porque disse que é muito bom a gente tomar, que a garrafada servia pro câncer. Então como servia e eu já tinha dado mesmo o câncer aí eu ia tomar mesmo pra nunca vir de volta. (Dep.03)
[...] antes de eu fazer esse tratamento alternativo (referindo-se ao uso de várias plantas medicinais) eu fiquei tão pálida, em todo lugar e as pessoas da minha família olhavam pra mim e só achavam que eu ia morrer, né, meus olhos roxos, as unhas tudo roxa até mesmo por causa da vacina (referindo-se à quimioterapia) e aí depois que eu comecei esse tratamento alternativo tudo melhorou, minha pele mudou, eu engordei um pouquinho em vista do que eu era né, minha pele ficou limpa, limpou tudo né[...] eu tenho certeza absoluta em Deus que se eu não tivesse feito esse tratamento eu teria morrido. Eu sei que a quimioterapia me ajudou muito, eu acho que ela conserva a gente assim por uns anos viva, mas eu sei lá alguma coisa da natureza da gente que tem a ver com essas plantas que Deus já fez mesmo assim porque se eu não tivesse feito tratamento alternativo eu não estaria aqui bem hoje como eu tô. (Dep.04)
Eu tomei porque eu pensei se ainda tiver alguma coisa de câncer que a quimioterapia não matou, ele vai matar. Eu acho que tanto a babosa como a mangaba me ajudou na cura do meu câncer Eu achei também que elas melhoraram meu funcionamento intestinal. O noni abriu muito meu o apetite e me deixou corajosa e energética. (Dep.07)
[...] junto à quimioterapia eu usei a água da casca de ameixa e só sei que fiquei curada [...] no terreno de um amigo do meu marido, tem um caboclo morador, que teve câncer e foi despachado daqui pra casa porque o médico disse que o caso dele não tinha jeito. E lá a mulher dele e os vizinhos ensinaram pra ele tomar casca de ameixa. Botaram umas cascas lá de molho pra ele tomar e o homem ta bom. Já está com três anos que ele se recuperou e ele ta bonzinho. (Dep.11)
A depoente 03 fala que já faz algum tempo que terminou o tratamento do
câncer de mama e nunca teve recaída. Acrescenta que tomou a garrafada de
babosa porque ouviu falar que era bom para curar o câncer e para evitar que ele
78
retornasse. Já a depoente 04 diz que, antes de fazer uso das plantas medicinais,
estava com uma aparência ruim e, após utilizá-las, tudo melhorou, a pele, o peso e
revela que tem certeza de que, se não fosse esse tratamento com as plantas
medicinais, ela teria ido a óbito. Reconhece a importância da quimioterapia, mas
acha que, sem esse tratamento alternativo, ela não estaria tão bem. Já depoente 07
fala que fez uso da babosa e da mangaba para curar o que a quimioterapia não
curou do seu câncer de mama. Acrescenta ainda que tanto a babosa como a
mangaba melhoram o funcionamento de seu intestino e que o noni estimulou seu
apetite e lhe deu mais energia.
A depoente 11 diz ter feito uso da casca da ameixa e ficou curada. Também
contou a cura de um conhecido seu que tinha sido desenganado da medicina em
virtude de que seu caso não teria cura. Fala que, ao chegar a sua casa, fez uso da
água da casca de ameixa e se recuperou.
O discurso da depoente 03 revela que, diante de enfermidades como o
câncer, o indivíduo tenta esgotar todas as possibilidades de tratamento da doença.
Assim, utiliza tudo que a medicina científica e o saber popular oferecem para curar
sua enfermidade. A fala da depoente 04 mostra uma melhora integral, inclusive da
autoimagem, com o uso das ervas medicinais. Observa-se no seu discurso que
percebe uma melhoria em sua vida, o que proporciona uma satisfação com sua
saúde e repercute em sua qualidade de vida. Também se observa que, apesar de
esse tratamento com plantas medicinais ser referendado por ela como alternativo,
na realidade foi complementar, tendo em vista que ela realizou o tratamento alopata.
A satisfação com a saúde tem importante repercussão na qualidade de vida
das pessoas, porém, compreende-se que o significado de qualidade de vida é
subjetivo, supera o estado de saúde física e adquire proporções muito mais
significativas para o ser humano (ADAMOLI; AZEVEDO, 2009).
A depoente 07, em seu relato de vida, diz acreditar que a babosa e a
mangaba contribuíram para curar seu câncer enquanto o noni para ela proporcionou
uma melhoria em sua vida traduzida no aumento do apetite, da coragem e da
energia. Ela enfatiza que fez uso dessas plantas medicinais por crer que, se ainda
tivesse algo da doença que o tratamento alopata não tivesse curado, as ervas
curariam. A depoente 11 menciona o uso da água da casca de ameixa na cura do
câncer.
79
Observa-se, portanto, que entre as depoentes houve consenso quanto à
ocorrência de mudanças significativas em suas vidas após a adoção do uso de
plantas medicinais como modalidade terapêutica adjuvante à medicina alopática no
tratamento do câncer de mama. Essas mudanças são traduzidas na cura ou
melhoria do estado geral dessas mulheres e contribuem de forma positiva para a
melhoria da qualidade de vida dessas pacientes.
De acordo com Melo et al. (2011), as plantas medicinais utilizadas em vários
estudos experimentais mostram significativos resultados nos moldes farmacológicos
usados, e esses resultados corroboram com seu uso popular. Dentre essas, quatro
espécies de plantas merecem destaque por serem altamente citadas para o
tratamento de doenças, entre elas o câncer, em pesquisas realizadas. São elas:
Aloe vera, conhecida como babosa, Euphorbia tirucalli, que é corresponde ao aveloz
ou cachorro pelado e a Tabebuia impetiginosa, vulgarmente chamada de ipê-roxo.
Vários estudos realizados recentemente por Kametani et al. (2007), Guo et
al. (2007), Akev et al. (2007), Guo et al. (2008) e Cui et al. (2008), têm
proporcionado uma melhor definição do mecanismo da atividade antineoplásica da
Aloe vera.
Um estudo realizado por Lissoni et al. (2009) confirma investigações clínicas
preliminares anteriores que já haviam demonstrado a eficácia de extratos de Aloe
vera no tratamento paliativo de pacientes com câncer metastático, quer para
melhorar a sua qualidade da vida, ou para prolongar o tempo de sobrevida. Além de
disso, esse estudo demonstra a eficácia dessa planta em associação com
quimioterapia. Assim, extratos de aloe vera podem exercer não só efeito oncostático
direto, mas também melhoram a eficácia da quimioterapia na taxa de regressão do
tumor e tempo de sobrevivência, bem como na redução de alguns efeitos tóxicos.
É interessante destacar que, nos discursos, as mulheres referem não ter
associado o uso de plantas medicinais, como a babosa, com a quimioterapia, como
se pode observar a seguir:
Eu também tomei a babosa com mel, mas eu só comecei a tomar depois que tinha terminado a quimio e a radio, porque quando eu tava fazendo não tomava nada não, porque dizem que não é não é bom misturar [...] (Dep.13)
A depoente 13 refere que fez uso da babosa somente após o tratamento
alopático em virtude de ter medo de misturar com o uso de ervas. Pode-se perceber
80
que o saber popular considera maléfica a associação do uso de ervas à
quimioterapia. No caso específico da Aloe vera, vai de encontro com o estudo de
Lissoni et al. (2009), que relata efeitos benéficos da sua associação com a
quimioterapia já descrita anteriormente.
Um estudo realizado por Powell et al. (2002) mostrou que as ervas
medicinais são frequentemente usadas em conjunto com o tratamento
quimioterápico. Diante dessa associação, surge uma importante questão, o risco de
interação das ervas com os medicamentos da quimioterapia.
Em relação a essa interação, uma pesquisa realizada por Sparreboom, Cox
e Acharya (2004), que mostra as ervas mais comumente usadas no tratamento
alopático para o câncer, revela que todas elas têm potencial para interações
farmacocinéticas com as drogas anticâncer e podem, por exemplo, trazer graves
efeitos como a não resposta aos quimioterápicos.
Contudo, outros estudos, inclusive já citados nesta pesquisa como o de
Lissoni et al. (2009), aludiram essa interação como benéfica, podendo diminuir os
efeitos colaterais e tóxicos dos medicamentos alopáticos e otimizar a eficácia da
quimioterapia.
No que se refere à utilização do ipê-roxo, da mangaba e da casca de ameixa
já citadas nos discursos das mulheres deste estudo, autores dão ênfase quanto a
sua importância no tratamento de doenças, entre elas o câncer.
A espécie Tabebuia impetiginosa, relatada pelas mulheres deste estudo pelo
nome de ipê-roxo, também tem sido utilizado popularmente para o tratamento do
câncer. De acordo com Lee et al. (2006), no extrato da T. impetiginosa foram
identificados constituintes importantes como as naftoquinona e antraquinonas. Entre
esses, a naftoquinona beta-lapachona é um dos componentes isolados mais
estudados do gênero Tabebuia e já mostrou potencial antitumoral.
A mangaba (Hancornia speciosa) é utilizada no tratamento de moléstias
relacionadas ao aparelho genito-urinário, cólicas menstruais, luxações e hipertensão
(MONTELES; PINHEIRO, 2007). Apesar de nos relatos a mangaba ser utilizada
empiricamente para o tratamento do câncer, não se encontrou nenhuma referência
que mostrasse especificamente essa evidência. Na busca nos bancos de dados
indexados na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), encontrou-se o estudo de Wong et
al. (2011), que mostra que algumas espécies de família Apocynaceae, a mesma da
81
mangaba, têm propriedades anticâncer. Assim, não há indícios de embasamento
científico que sugiram o uso benéfico da mangaba contra o câncer.
Um estudo realizado por Voss et al. (2006) identificou uma mistura de dois
novos tipos de proteínas inibidoras de ribossomos, o riproximin, como o princípio
ativo da atividade antineoplásica contida no material vegetal, e a Ximenia americana,
popularmente conhecida como ameixa. Essa planta foi mencionada pelas mulheres
deste estudo como adjuvantes no tratamento do câncer de mama.
Ainda neste estudo destaca-se o relato de mulheres acerca da utilização da
janaguba, do noni e do cachorro pelado. Elas assim se manifestaram:
[...] eu tomei a janaguba. Depois de 6 meses eu passei 4 sem tomar nada aí depois passei 2 meses tomando janaguba. Aí depois da janaguba eu tomei também cachorro pelado. Era meu cunhado que preparava, botava 2 gotinhas de cachorro pelado em um litro de 2 litros de água aí a água que eu bebia era aquela nesses 2 meses. O último tratamento que eu fiz foi esse. Ah, fiz com noni agora já recente [...]. (Dep. 04)
[...] ai eu comecei fazendo garrafada, fiz de noni, de cachorro pelado [...] (Dep.14)
A depoente 04 fala que fez uso da janaguba em períodos alternados. Depois
da janaguba, tomou o cachorro pelado e recentemente fez uso de noni. A depoente
14 também relata o uso do noni e do cachorro pelado.
A janaguba, nome como é conhecida a espécie Himatanthus drasticus, foi
outra erva mencionada pelas mulheres deste estudo como coadjuvantes em seu
tratamento alopata. Essa planta, de acordo com Amaro et al. (2006), tem uma longa
história de emprego na cura do câncer no nordeste brasileiro, porém quase sem
registro na literatura até um passado recente.
Contudo, estudos recentes têm mostrado o efeito antineoplásico dessa
planta. Em 2008, Colares et al. isolaram e identificaram um extrato etanólico da
casca do caule de H. drasticus, que é, provavelmente, uma substância com
potencial com atividade anti-tumoral.
Uma pesquisa realizada por Sousa et al. (2010) investigou a atividade
antitumoral do extrato bruto metanólico das folhas de Himatanthus drasticus e
avaliou sua toxicidade aguda. Os resultados mostram que o mecanismo subjacente
à atividade antitumoral da janaguba ainda não foi elucidado. Sabe-se que o gênero
Himatanthus possui substâncias em sua composição química que provavelmente
são responsáveis por essa atividade. Estudos detalhados estão sendo realizados
82
para esclarecer a atividade antitumoral das folhas dessa espécie, assim como para
determinar nova via de administração de drogas.
Baseados nesses resultados, os pesquisadores concluíram que o extrato
metanólico das folhas de H. drasticus possui baixa toxicidade e atividade antitumoral
significativa nas doses testadas administradas por via oral. Os resultados de
atividade antitumoral eram muito bons em relação ao controle ciclofosfamida, uma
droga sintética amplamente utilizada nos protocolos de quimioterapia. O extrato
encontrado é seguro em termos de toxicidade aguda em animais experimentais.
Contudo, são necessários estudos sobre sua toxicidade crônica, mutagenicidade e
de carciogenicidade, para verificar a segurança e os benefícios das plantas.
Outra planta bastante relatada nos discursos das mulheres deste estudo foi
o noni. Conhecida cientificamente por Morinda citrifolia, o noni tem chamado atenção
de muito pesquisadores no mundo inteiro. De acordo com Franco (2008), o noni
contém antraquinonas, enzima proxeronina, alcaloide, teronina, fitonutrientes,
escopoleína e mais de 150 nutracêntricos. Ele reforça o sistema imunológico em
caso de doenças imunossupressoras, como o câncer, e possui um importante efeito
antitumoral e anticancerígeno, além de ter efeito restaurador celular.
Uma das teorias mais utilizadas para o funcionamento do noni está
relacionada com a proxeronina, que quando se liga a partes específicas das células
se combina com outros agentes bioquímicos naturais onde exerce sua ação, através
da corrente sanguínea, nas células doentes do organismo. Esta combinação se
converte em xeronina, que auxilia na reparação e regeneração da célula (LAVAUT;
LAVAUT, 2003).
Conhecida por aveloz ou cachorro pelado, a Euphorbia tirucalli, é a planta
hoje mais popularmente usada para tratar os diversos tipos de câncer e foi uma das
que teve uso mais mencionado pelas pacientes deste estudo.
De acordo com Aquino et al. (2008), tem sido utilizado com sucesso no
tratamento de tumores, embora os mecanismos envolvidos nesta atividade tumoral
não estejam totalmente elucidados. Um estudo realizado por Valadares et al. (2006)
demonstrou que o extrato de avelóz induziria mielopoiese e involução tumoral em
ratos com certo modelo de câncer experimental.
Mas segundo Varricchio et al. (2008), além de ação imunossupressora, o
látex do aveloz, tem efeitos nefro e hepatotóxicos devido à presença de ésteres de
forbol.
83
Nos discursos das mulheres deste estudo, percebe-se que, mesmo
utilizando o aveloz de forma empírica, elas conhecem por meio do saber popular sua
toxicidade, e algumas referem medo em utilizá-lo, como mostram os seguintes
depoimentos:
[...] me ensinaram também o cachorro pelado, mas eu também tenho medo de fazer porque dizem que é perigoso se a gente não souber fazer né, porque eu não sei quantos pingos é aí fica ruim. (Dep.02)
[...] Eu ainda usei cachorro pelado, mas foi por poucos dias porque eu fiquei com medo. Eu fiz por minha conta mesmo. Agora tô até com vontade de usar, mas tem gente que diz que queima. (Dep.09)
[...] daí pra cá apareceu o cachorro pelado. Tomei um bocado de dia, só que eu não tomei as quatro garrafadas porque me fizeram medo (referindo-se à comunidade), mas eu tomei bem duas [...]. (Dep 05)
Observa-se que houve um consenso entre as depoentes 02, 05 e 09 em
relação ao medo da toxicidade do aveloz, já que a depoente 02 não chegou nem a
fazer seu uso, e as depoentes 05 e 09, apesar de terem iniciado a utilização da
seiva desta planta, por medo de seus efeitos, desistiram usá-la.
É interessante observar ainda que mesmos as mulheres que ainda não
utilizaram o aveloz, manifestaram desejo de utilizá-lo após o tratamento com a
quimioterapia, o que está bem evidenciado no discurso a seguir:
[...] eu tenho lá em casa um pezinho de cachorro pelado (risos) pra quando terminar o tratamento (referindo-se à quimioterapia). Sei lá a gente escuta tanta coisa, ah! fulano tomou isso e se curou, ah fulano teve câncer tal tomou isso e foi curado. Eu mesmo já vi muitas, por isso eu vou tomar, quando terminar o tratamento eu vou tomar o cachorro pelado. (Dep.06)
No relato da depoente 06 fica evidente que, apesar de ela não ter utilizado o
cachorro pelado, ela irá utiliza-lo após o término da quimioterapia, já que no meio
popular observou muitos relatos de pacientes que se curaram com o uso de plantas
medicinais.
O uso do aveloz tem chamado maior atenção dos pacientes com câncer
após a divulgação na impressa sobre uma pesquisa que visa à produção de um
medicamento à base do látex dessa planta, eficaz no tratamento e cura do câncer.
Essa pesquisa, que tem por objetivo desenvolver o novo medicamento fitoterápico
batizado de AM 10, é financiada por um grupo de empresários do Nordeste e tem
apoio de renomados especialistas e destacados institutos, como a Faculdade de
84
Medicina do ABC, Hospital Albert Einstein, Instituto do Câncer Arnaldo Vieira de
Carvalho, Hospital Sírio Libanês e Centro Paulista de Oncologia (AMAZONIA
FITOMEDICAMENTOS, 2011).
A fase pré-clínica da pesquisa, com testes em células e animais, já foi
concluída, atualmente se encontra na fase clínica e está sendo realizada em
pacientes do sexo feminino e com diagnóstico de câncer de mama metastático.
Nesta fase, o tratamento substitui as terapias convencionais, como a quimioterapia,
pelo novo medicamento fitoterápico. O AM 10, diferentemente de outros
medicamentos e da quimioterapia, que destroem células doentes e sadias, propõe-
se a atuar direto nas células doentes, sendo, portanto, menos prejudicial e
traumático ao paciente. A conclusão dos estudos sobre a ação do princípio ativo em
células tumorais no organismo humano dependerá ainda de uma terceira fase, em
que o medicamento terá que comprovar sua eficácia em um grande número de
pacientes, também com outros tipos de câncer (SAPIÊNCIA, 2010; AMAZONIA
FITOMEDICAMENTOS, 2011).
Segundo Oliveira, Barros e Moita Neto (2010), o estudo do emprego popular
de plantas medicinais é reconhecidamente uma ferramenta importante na
descoberta de novos fármacos, tendo em vista que o uso e permanência de
determinadas plantas dentro de uma comunidade sugere que ela possua real
eficácia.
Assim, observa-se que a utilização de plantas medicinais relatadas na
história de vida das mulheres deste estudo reitera a afirmativa dos autores referidos
anteriormente, tendo em vista que a maioria das ervas cuja utilização foi relatada
possuem, de acordo com a literatura, real eficácia no tratamento de tumores.
4.2.4 Argiloterapia e religiosidade como práticas integrativas e
complementares no tratamento do câncer de mama
É interessante observar que algumas práticas integrativas surgiram, de
forma isolada, nos relatos deste estudo. Dentre elas, o tratamento com argila e as
práticas religiosas foram apontadas com importantes recursos complementares ao
tratamento do câncer de mama.
85
A utilização e os benefícios da argiloterapia antes da mastectomia foram
mencionados na história de vida da depoente 04:
Ele (referindo-se ao cunhado que é terapeuta natural) fez um tratamento com argila, barro de olaria antes da cirurgia em mim. Aí ele preparava assim com água e ficava só aquela pasta aí ele colocava aqui na região todinha, na mama toda mesmo. Nossa, parece que eu entrava assim no céu e voltava porque assim, aquela quentura me incomodava tanto e quando ele colocava a argila era frio, bem friinho. Era uma temperatura natural, eu me sentia bem relaxada chega até dormir [...] só que o dr “X” falou assim, dona “Y” eu tô admirado do seu câncer não ter assim durante esse período da biópsia que a sra. fez, ele não ter generalizado, não ter afetado outros órgãos seus. Aí eu me lembrei do tratamento que tinha feito com argila, porque meu cunhado falou que ela suga as células cancerígenas. (Dep. 04)
A depoente 04 fala que fez uso da argila na mama, em forma de pasta
d’água, antes da mastectomia. Ela afirma que quando colocava a argila, aliviava a
quentura e ela se sentia relaxada que chegava até a dormir. Relata ainda que, ao
retornar ao médico com o resultado da biópsia, ele se admirou por não haver
metástase da doença.
Pode-se perceber pelo depoimento que a argila proporciona um
relaxamento, um conforto quando aplicada sobre a mama. Isso é importante, pois
durante o tratamento do câncer a utilização de práticas que diminuam o desconforto
gerado pela doença tem uma importante repercussão na qualidade de vida da
paciente. O discurso mostra ainda que a paciente atribui ao tratamento com argila o
não surgimento de metástase em seu corpo.
A argila constitui na atualidade uma das mais importantes técnicas
terapêuticas da medicina natural podendo ser utilizada tanto de modo preventivo
como auxiliar no tratamento de doenças. Seu poder curativo pode ser parcialmente
explicado pela sua composição química. Os íons negativos da argila podem atrair e
absorver toxinas provenientes de íons positivos. Assim, a argila elimina toxicidade
(NIGHTINGALE, 2003; SANTOS, 2004).
De acordo com Claudino (2010), a argila possui propriedades anti-
inflamatórias, refrescantes, analgésicas, cicatrizantes, descongestionantes,
desintoxicantes, antibióticas, bactericidas, calmantes e antissépticas. Elimina células
danificadas, mortas e fortalece as que estão por vir. Pode ser utilizada em quaisquer
tipos de lesões, debilidade dos ossos e músculos e ainda no tratamento do câncer
de mama, sendo observados resultados mais notáveis na fase inicial do problema.
86
Diversas pesquisas clínicas e experimentais têm sido realizadas com argila
e, em sua maioria, mostram apenas seu efeito terapêutico sobre processos
infamatórios. Essa ação anti-inflamatória foi sugerida, por exemplo, por Tarkhan-
Muuravi e Dzhakobiia (2006), ao analisar os resultados da sua aplicação em
pacientes com trauma de troncos nervosos. Observa-se, porém, uma carência de
estudos que relacionem outros efeitos da argila à regressão de tumores.
Outra prática integrativa e complementar mencionada na história de vida de
mulheres deste estudo foram as práticas religiosas, conforme no seguinte relato:
Assim, durante meu tratamento também, todo dia, toda pessoa tem que fazer né, eu li a bíblia, salmo 90. Esse salmo ele me fortaleceu muito durante o meu tratamento, eu sentia mais firmeza, achava que nada ia dar errado, que tudo daria certo, como deu certo. (Dep. 01) [...] Eu acho que uma coisa muito importante foi a minha igreja. Minha fé em Deus foi uma coisa que me deu muita coragem pra continuar (silêncio), eu fiquei muito forte depois que eu voltei mesmo e até hoje na hora que eu to sentindo qualquer coisa meu destino é ir pra igreja, num instante. (Dep. 05)
Ah eu também frequentei muita a igreja. Foi uma renovação na minha religião. Eu tinha muita fé e eu sentia que recebia muitas graças. Eu participava de um grupo de oração todos os sábados [...] (Dep.11)
A depoente 01 refere que a prática diária de ler um salmo da bíblia a deixou
fortalecida e confiante de que tudo daria certo, ou seja, que a cura ocorreria. Já a
depoente 05 atribui à igreja importância para o tratamento. Diz que sua fé em Deus
a deixou corajosa para enfrentar e acrescenta que ainda na atualidade quando sente
algo, sua vontade é de ir à igreja. A depoente 11 relata que com a doença teve uma
renovação em sua religião. Diz que participava de grupos de oração e recebia
muitas graças.
É interessante notar como a depoente 01 considera o recurso religioso como
uma prática terapêutica de cura importante para o sucesso do tratamento
convencional e superação da doença. No relato 05, observa-se que a fé em Deus,
deixou esta mulher fortalecida para lutar contra a doença. O recebimento de graças,
entendida neste estudo como melhora da doença, constitui, de acordo com a
depoente 11, consequência de sua fé em Deus. Ela ainda acrescenta que a
experiência do câncer permitiu uma renovação em sua religião. Assim, houve
consenso nos discursos de que ler a bíblia e ter fé em Deus, um ser sobrenatural
87
que só deseja o melhor para as pessoas, é um fator que reduz a ansiedade e o
estresse, o que repercute diretamente na qualidade de vida dessas mulheres.
Os efeitos adversos, o medo, as experiências negativas prévias e um desejo
por mais cuidados de apoio são algumas das razões apontadas por pacientes para
busca de práticas integrativas, incluindo-se aí as práticas religiosas. Essas práticas
constituem um dos recursos acessados a partir da ruptura biográfica que permite ao
paciente ampliar sua capacidade de negociação constituindo-se como estratégia que
legitima e ameniza a incerteza diante de uma enfermidade crônica como o câncer
(ROSNER, 2001; SPADACIO; BARROS, 2009).
Quando o paciente utiliza práticas religiosas de cuidado, ele adota uma
forma cultural e social de tratamento mais próxima de sua realidade, buscando
sentido para lidar com a vida e abrandar o sofrimento (CORTEZ; TEIXEIRA, 2010)
Assim, nas pessoas doentes, a crença e as práticas religiosas se tornam
particularmente importantes. Muitos pacientes veem na fé um remédio poderoso
para o seu restabelecimento, ou seja, para sua cura, que pode ser influenciada pelo
reforço positivista do paciente, e este efeito pode ser tão importante quanto os
efeitos do tratamento alopático (KOENIG, 2000; SAAD; MEDEIROS, 2008).
Culturalmente, a religião procura desempenhar várias funções, como criar
uma identidade de coesão entre as pessoas, ganhar novas energias na luta pela
sobrevivência e reforçar uma resistência cultural que, por si só, reforça também a
busca da religião como solução (AQUINO; ZAGO, 2007).
De acordo com Trentini et al. (2005) e Aquino e Zago (2007), uma das
formas de enfrentamento da doença e da morte está diretamente ligada à força da fé
e a crenças religiosas, ou seja, formas de expressar a espiritualidade, que constitui
uma expressão da identidade e o propósito da vida de cada um mediante a própria
história, experiências e aspirações. O alívio do sofrimento acontece na medida em
que a fé religiosa permite transformações na perspectiva pela qual o paciente
percebe a doença grave.
Assim, Barros e Lopes (2007) afirmam que o tratamento do câncer como um
todo se manifesta como uma situação extremamente difícil para as mulheres,
exigindo-lhes muitos esforços psíquicos para suportarem prosseguir nesta
caminhada, recorrendo, frequentemente, à dimensão espiritual, visto que a
proximidade com a possibilidade concreta de finitude leva as mulheres a
88
perceberem sua mortalidade, procurando, assim, fortalecer a esperança na
possibilidade de vida.
Atualmente, muitas evidências conectam a religião/espiritualidade à saúde
física e mental e à qualidade de vida. De acordo com Panzine et al.(2007), há
indícios consistentes de associação entre qualidade de vida e espiritualidade em
estudos com razoável rigor metodológico, utilizando diversas variáveis para avaliar a
espiritualidade, como, por exemplo, afiliação religiosa e oração.
Em relação especificamente ao câncer, pesquisas têm demonstrado que a
religiosidade/espiritualidade contribui significativamente para o ajustamento pessoal
à doença e seus tratamentos. A espiritualidade oferece a esperança para os
pacientes com câncer, e tem sido comprovado efeito positivo na qualidade de vida
desses pacientes, além de fornecer mecanismos de enfrentamento para o paciente
e até seus cuidadores. Os pacientes espiritualizados lidam melhor com o câncer e
têm uma postura mais ativa, aceitando sua doença e trantando-a de forma positiva
(WEAVER; FLANNELLY, 2004).
Um estudo de revisão realizado por Moreira-Almeida, Lotufo-Neto e Koenig
(2006) também mostra indícios de que relacionam o envolvimento religioso com o
processo de qualidade de vida de pessoas com câncer, trazendo evidências sobre a
possibilidade de que a fé possa influenciar positivamente na saúde e qualidade de
vida, permitindo, assim, redução de estresse e adesão ao tratamento.
Nesse aspecto, percebe-se a necessidade de uma compreensão da
importância da dimensão espiritual para a paciente com câncer, de forma a integrá-
la de forma efetiva ao tratamento convencional dessa doença, já que tem importante
repercussão na qualidade de vida desse paciente.
Contudo, Faria e Seidl (2005) ressaltam que o paciente tem o direito de
buscar alternativas para o próprio bem, desde que não interfiram no tratamento
médico, mesmo que isso tenha demonstrado refletir positivamente no bem-estar
físico e mental em todo o processo saúde-doença de um ser humano.
Nesse sentido, as mulheres deste estudo, por meio da religiosidade, tiveram
repercussões na qualidade de vida. Essas mulheres encontravam fortaleza para
enfrentar a doença e a terapêutica alopática, reduziam o estresse e melhoravam o
bem estar. Assim, a religiosidade foi utilizada por mulheres com câncer de mama
como uma prática integrativa e complementar que teve importante impacto durante o
tratamento do câncer de mama.
89
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
90
A realização deste estudo permitiu uma aproximação com uma temática
relativamente nova dentro da oncologia, que é a utilização de práticas integrativas e
complementares no tratamento do câncer. Essas práticas constituem-se um
importante recurso na assistência a esses pacientes tendo em vista que, com o
aumento da sobrevida deles, cresce a preocupação com a sua qualidade de vida.
No caso do câncer de mama feminino, essa é mais evidente, já que a doença
repercute na feminilidade da mulher e altera consideravelmente sua vida em
diversos aspectos.
A partir da utilização do método história de vida, conseguiu-se identificar
uma diversidade de práticas integrativas e complementares utilizadas por quatorze
mulheres com câncer de mama e conhecer suas percepções acerca dos efeitos
dessas práticas em sua qualidade de vida. Este método foi de fundamental
importância, pois permitiu uma aproximação pesquisador-sujeito necessária para a
abordagem de uma temática permeada de tantas controvérsias no meio popular.
Por meio dele, conseguiu-se entrar na história de vida daquelas mulheres e perceber
como a abordagem ao câncer, principalmente o de mama, exige a utilização de
práticas que contemplem o indivíduo de forma holística, já que a doença consegue
atingir o trinômio corpo-mente-espírito.
A análise dos relatos permitiu a construção de quatro categorias temáticas:
o yogaterapia, na promoção do bem-estar físico e mental; a terapia comunitária,
como um espaço de trocas, empoderamento e resiliência; o uso de plantas
medicinais, como prática complementar no combate ao câncer; Argiloterapia e
religiosidade, como práticas integrativas e complementares no câncer de mama.
Conforme se observou nos relatos, as mulheres deste estudo utilizaram
práticas integrativas e complementares, como o yoga, a terapia comunitária, as
plantas medicinais, a argiloterapia e as práticas religiosas, de forma adjuvante ao
tratamento alopático do câncer de mama e perceberam que todas essas terapias
promoveram, entre outro efeitos, a diminuição da ansiedade, melhora do estresse,
melhor aceitação e enfrentamento da doença, o que repercutiu diretamente em seu
bem-estar e qualidade de vida.
A prática do yoga foi percebida de forma positiva e relacionada a melhorias
físicas e mentais na vida das mulheres com câncer de mama. Em seus discursos,
elas relataram que foi a partir da participação nessa terapia que conseguiram
melhorar a saúde psíquica abalada pela doença. Elas também atribuíram benefícios
91
físicos como relaxamento e alívio de dores na coluna e nos membros. Assim,
relataram uma sensação de fortalecimento biopsíquico após as sessões.
Percebe-se ainda que o yoga, ao englobar aspectos físicos e mentais,
exerceu impacto positivo sobre a qualidade de vida nas mulheres com câncer de
mama. Dessa forma, constitui uma importante prática integrativa e complementar a
ser utilizada no tratamento oncológico.
No que se refere à categoria “A terapia comunitária como um espaço de
trocas, empoderamento e resiliência” observou-se, a partir das análises realizadas,
que essa prática foi muito importante para o enfrentamento da doença. A troca de
experiências entre mulheres que vivenciam a mesma situação foi propulsora para o
processo de empoderamento e resiliência possibilitando uma vivência menos
traumática do câncer.
Esta prática constituiu-se um espaço de fala, de desabafo das angústias
geradas pelo câncer de mama. E esse espaço de palavra era terapêutico para quem
falava e para quem ouvia, proporcionando apoio através da troca de experiências.
As participantes tiveram a oportunidade de estabelecer vínculos de amizades e
através deles, formou-se uma rede de apoio social que foi importante durante o
tratamento do câncer e contribuiu na melhora da qualidade de vida dessas
mulheres.
No que se refere à utilização de plantas medicinais, as participantes desse
estudo relataram também a utilização de plantas como o noni, ameixa, janaguba,
aveloz, babosa e mangaba de forma complementar ao tratamento alopático. Na
percepção dessas mulheres, essas plantas foram importantes adjuvantes na cura do
câncer. Assim, mesmo realizando o tratamento convencional, elas utilizaram essas
ervas e acreditaram que poderiam contribuir positivamente na melhora de seu
estado geral e na cura de sua doença.
As histórias de vida das mulheres em estudo ainda revelaram que o uso de
argila e a religiosidade foram formas utilizadas como práticas integrativas e
complementares no tratamento do câncer e tiveram importante contribuição no
tratamento do câncer, contribuindo positivamente na qualidade de vida dessas
mulheres.
A argiloterapia promoveu conforto e relaxamento quando diretamente
aplicada sobre mama. Essa prática, utilizada antes da mastectomia, também foi
percebida com a responsável pelo não aparecimento de metástase em seu corpo.
92
As práticas religiosas também estiveram presentes nos relatos das mulheres e
constituíram importantes terapias no enfrentamento da doença tendo em vista que a
fé em Deus promoveu redução da ansiedade e estresse, implicando diretamente a
melhoria de vida dessas pacientes.
Assim, os resultados deste estudo mostram que o câncer, ao promover
repercussões biopsicossociais e espirituais na vida de uma pessoa, não pode ter
seu tratamento reduzido ao componente biológico, tendo em vista que a doença
extrapola essa dimensão e interfere na qualidade de vida dessas pacientes.
Vale ressaltar que a incorporação da qualidade de vida deve ser uma meta
assistencial a ser alcançada pelos profissionais de saúde na assistência aos
pacientes com câncer, tendo em vista que os avanços tecnológicos na área da
oncologia, apesar de aumentarem a sobrevida dessas pacientes, não proporcionam
a elas viver com bem-estar.
Tendo em vista a necessidade de prestar uma assistência voltada para a
melhoria da qualidade de vida dos pacientes oncológicos, deve-se fazer uso de
práticas integrativas e complementares, já que elas constituem importantes recursos
terapêuticos ao promover uma assistência integral. Nesta pesquisa, a utilização
dessas práticas resultou em diminuição da ansiedade, depressão e estresse,
aumentou o bem-estar e promoveu, consequentemente, uma melhor resposta do
organismo ao tratamento alopático e uma melhoria na vida dessas mulheres.
Contudo, a utilização dessas terapias deve ser realizada de forma assistida, e
necessita obrigatoriamente da ajuda de profissionais capacitados nestas práticas,
entre os quais a enfermeira tem um papel primordial, tendo em vista que é ela que
tem um maior contato com a paciente, educando-a para uso adequado dessas
terapias.
Assim, este estudo recomenda aos serviços de oncologia a criação de
programas de práticas integrativas e complementares com uma equipe
multiprofissional, composta por médicos, enfermeiras, nutricionistas, psicólogos,
fisioterapeutas, terapeutas naturais, entre outros, que possam oferecer uma
associação benéfica entre o tratamento convencional e as terapias complementares
com o objetivo de alcançar os melhores resultados nos tratamentos e promover uma
melhoria de vida desses pacientes. Entre essas práticas, recomendam-se as
utilizadas pelas mulheres deste estudo, a saber, yoga, terapia comunitária, uso de
plantas medicinais, argiloterapia, práticas religiosas e outras mencionadas na
93
literatura e utilizadas em grandes centros, a exemplo do Hospital Israelita Albert
Einstein, como a acupuntura, o Reiki, o toque terapêutico, a meditação, entre outras.
Isso constitui um desafio que, para ser transformado em realidade, precisa
inicialmente da sensibilização dos gestores e profissionais de saúde para a
necessidade de uma nova abordagem ao tratamento oncológico, que vise
prioritariamente, a promover qualidade de vida do paciente.
Essas práticas dentro da oncologia vêm consolidar o principio do SUS da
integralidade e amplia aos menos favorecidos os recursos antes restritos ao setor
privado. Assim, tendo em vista que a Estratégia Saúde da Família deve ter sua
atuação voltada para a integralidade das ações, considerando o indivíduo como um
ser biopsicossocial e espiritual, que necessita de assistência voltada não apenas
para o físico, mas para a mente e a alma do indivíduo, recomenda-se que a
assistência por meio das práticas integrativas iniciada nos serviços oncológicos seja
estendida para o âmbito da atenção básica, na ESF, em virtude também de esse
serviço ser o que está mais vinculado ao paciente durante e após o término do
tratamento alopata.
Dentro desse contexto a enfermagem, como uma profissão que cuida do
paciente, tem um importante papel. Há atualmente necessidade de uma assistência
mais voltada para a integralidade e para a qualidade de vida da mulher com câncer,
e a atuação nas práticas integrativas e complementares constitui uma estratégia
para isso. No entanto, é necessário que haja capacitação dessas profissionais, pois
somente assim é que poderão realizar uma assistência de qualidade a essa
clientela. A qualificação dessas profissionais e a produção de conhecimento por
meio de pesquisas também abre espaço para a atuação da enfermagem e
proporciona autonomia e independência a enfermeira na sua prática em qualquer
âmbito profissional.
Considera-se ao final deste estudo que seus resultados não levam ao fim,
mas ao início de grandes discussões e reflexões sobre a importância da utilização
das práticas integrativas e complementares pelos serviços de saúde, e profissionais,
em especial a enfermeira, como estratégia adjuvante de tratamento do câncer que
vise sobretudo a uma melhoria na vida dessas pacientes.
94
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111
ANEXOS
112
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - MESTRADO EM ENFERMAGEM
ANEXO A - PORTARIA Nº 971, DE 3 DE MAIO DE 2006
113
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - MESTRADO EM ENFERMAGEM
ANEXO B- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Título do estudo: PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM MULHERES
COM CÂNCER DE MAMA: contribuições para a Enfermagem Pesquisador(a) responsável: : Inez Sampaio Nery
Colaboradora: Samara Dourado dos Santos Moraes
Instituição/Departamento: Universidade Federal do Piauí – Departamento de Enfermagem
Telefone para contato: 3215-5862
Você está sendo convidada a responder às perguntas deste questionário de
forma totalmente voluntária. Antes de concordar em participar desta pesquisa e
responder este questionário, é muito importante que você compreenda as
informações e instruções contidas neste documento. Os pesquisadores deverão
responder todas as suas dúvidas antes de você se decidir a participar. Você tem o
direito de desistir de participar da pesquisa a qualquer momento, sem nenhuma
penalidade e sem perder os benefícios aos quais tenha direito.
Objetivos do estudo: descrever as práticas integrativas e complementares
utilizadas por mulheres portadoras câncer de mama e analisar, a percepção da
mulher com câncer de mama, sobre os efeitos das práticas integrativas e
complementares em sua qualidade de vida.
Procedimentos. Sua participação nesta pesquisa consistirá apenas em falar a
respeito de sua vida relatando o uso de práticas integrativas e complementares
durante seu tratamento do câncer de mama, a qual será gravada para
posteriormente ser analisada.
114
Benefícios. Esta pesquisa trará maior conhecimento sobre o tema abordado, sem
benefício direto para você.
Riscos. Existe um desconforto e risco mínimo para você que se submeter à coleta
dos dados, pois como se trata de um relato de sua própria vida referente a uma fase
que pode ter tido repercussões negativas pode deixá-la constrangida ou até mesmo
trazer sofrimentos, sendo que se justifica pelo fato de você estar ajudando aos
profissionais a entender e esclarecer dúvidas sobre o uso de práticas integrativas e
complementares no câncer de mama, revertendo em benefício para outras.
Sigilo. As informações fornecidas por você terão sua privacidade garantida pelos
pesquisadores responsáveis. Os sujeitos da pesquisa não serão identificados em
nenhum momento, mesmo quando os resultados desta pesquisa forem divulgados
em qualquer forma.
Ciente e de acordo com o que foi anteriormente exposto, eu
___________________________________________________________, estou de
acordo em participar desta pesquisa, assinando este consentimento em duas vias,
ficando com a posse de uma delas.
_______________________________________________________________
Local e data
____________________________ ___________________________________
Assinatura N. identidade
_______________________________________________________________
Inez Sampaio Nery
Pesquisadora responsável
Observações complementares
Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato:Comitê de Ética em Pesquisa – UFPI - Campus Universitário Ministro Petrônio Portella - Bairro Ininga Centro de Convivência L09 e 10 - CEP: 64.049-550 - Teresina – PI tel.: (86) 3215-5734 - email: [email protected] web: www.ufpi.br/cep.
115
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - MESTRADO EM ENFERMAGEM
ANEXO C – CARTA DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA
116
APÊNDICE
117
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - MESTRADO EM ENFERMAGEM
APÊNDICE A - ROTEIRO DA ENTREVISTA
PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM MULHERES COM
CÂNCER DE MAMA: contribuição para a Enfermagem
1 – Caracterização socio-demográfica
Idade:_________________ Situação Conjugal:_____________________
Escolaridade:___________Ocupação/Profissão:_________________
Procedência:___________Renda Familiar:__________________________
Religião:___________
2 –Dados gineco-obstétrico:
Idade da menarca:_____________
Idade da menopausa:_____________
Uso de Contraceptivos Orais:_____________
Reposição hormonal:________________
Idade da 1ª Gestação:_____________
Amamentou:_____________
Gesta:__________ Para_____________ Aborto___________
2 – QUESTÃO NORTEADORA DA ENTREVISTA
Fale livremente sobre sua vida relatando o uso de práticas complementares
durante seu tratamento do câncer de mama.
118