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POR QUE OPTEI POR CURSAR LICENCIATURA EM QUÍMICA? ANÁLISE DAS
MOTIVAÇÕES DOS ESTUDANTES DA UNESP DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
Amadeu Moura BEGOGabriela AGOSTINI
Évelin Carolina SGARBOSALarissa Vendramini da SILVA
Juliana Aparecida Chudo MARQUESInstituto de Química, Unesp, Araraquara
Eixo 01 - Formação inicial de professores de educação bá[email protected]
1. Introdução
Nas últimas décadas, o país incrementou expressivamente o número de estabelecimentos
de ensino e o número de matrículas na Educação Básica (EB), fazendo com que a demanda por
professores com formação em nível superior, particularmente na segunda etapa do Ensino
Fundamental (EF) e no Ensino Médio (EB), também se elevasse significativamente. Dados do
Resumo Técnico do Censo Escolar da EB de 2012 (BRASIL, 2013a) mostram que nos
estabelecimentos de EB do país estavam matriculados 50.545.050 alunos, sendo 42.222.831
(85,53%) estavam em unidades escolares da rede pública e 8.322.219 (16,46%) em unidades
escolares da rede privada. No EF o número de matrículas em 2012 nos anos iniciais foi de
16.016.030 e nos anos finais foram registradas 13.686.468 matrículas. No EM o número de
matrículas cai para 8.376.852, o que demonstra uma evasão ainda considerável, porém mostra o
alto contingente de alunos que supera os 8 milhões. O mesmo relatório mostra que o número de
professores atuando em 2012 na EB foi de 2.095.013 e que, desse número, 78,1% apresentavam
formação em nível superior, 21,5% possuíam formação no EM e 0,3% tinham formação completa
em nível fundamental (BRASIL, 2013a).
Segundo dados da Sinopse Estatística da Educação Básica de 2012 (BRASIL, 2013b),
497.797 professores atuavam no EM, destes 486.523 tinham formação superior e 406.521
possuíam o curso de licenciatura. Dentre os docentes com Ensino Superior que atuavam no EM,
apenas 17.273 tinham ciências, matemática ou computação como área geral de formação. No
Estado de São Paulo, dos 118.039 professores com formação superior, 93.087 possuíam curso de
licenciatura e apenas 4.890 eram formados na área geral de ciências, matemática ou computação.
Em relatório produzido pela Comissão Especial instituída no âmbito da Câmara de
Educação Básica (CEB) do Conselho Nacional de Educação (CNE) para estudar medidas que
visassem superar o déficit docente no EM, os conselheiros concluíram que, caso medidas
emergenciais e estruturais não fossem tomadas, o Brasil estaria ameaçado a sofrer um “apagão
docente no EM”, sobretudo nas áreas de ciências exatas e da natureza (BRASIL, 2007). De
acordo com o relatório, em 2007, a demanda de professores de Química, Física, Biologia e
6764
Matemática estimada para o EM era, respectivamente de 23.514, 23.514, 23.514 e 35.270; contra
13.559, 7.216, 53.294, 55.334 licenciados formados, entre 1990 e 2001, nas áreas de Química,
Física, Biologia e Matemática, respectivamente. De modo especial, para as disciplinas Química e
Física os números são alarmantes, uma vez que não somam valores minimamente suficientes,
além disso, se a essa demanda forem adicionados os professores de Química e Física
necessários para atuarem nos anos finais do EF, o número atinge o valor de 55.231. Além disso,
como decorrência do baixo número de licenciados formados, o relatório aponta que o percentual
de docentes com formação específica que ministram as disciplinas Química, Física, Biologia e
Matemática são, respectivamente, 13%, 9%, 57% e 27%, o que torna clara a inadequação da
formação de muitos professores que atuam nestas disciplinas no EM.
Corroborando esses dados, Gatti e colaboradores (2009) apresentam os resultados dos
relatórios de 2005 e 2006 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) que indicam a escassez de docentes nos países integrantes de organização como um
fato preocupante em função da falta de candidatos. No Brasil, são apresentadas evidências de
que o número de aposentadorias tende a superar o número de formandos nos próximos anos,
haja vista que cerca de 40% estão mais próximos da aposentadoria que do início de carreira.
Para os autores, a procura pelos cursos de licenciatura está atrelada, mesmo que não
diretamente, à atratividade da carreira docente, sendo que a atratividade de determinada carreira
social é influenciada pelas transformações sócio históricas no mundo do trabalho e é composta
por aspectos objetivos e subjetivos. Os primeiros incluem as condições históricas, sociais e
materiais, envolvendo questões relativas à estabilidade, à remuneração, à projeção do plano de
carreira etc. e os segundos estão relacionados com o modo como os indivíduos percebem as
carreiras e a si próprios, envolvendo questões referentes ao status sociocultural da posição
ocupada.
Além disso, sabe-se que o projeto profissional é influenciado por diversos fatores
extrínsecos e intrínsecos que articulados formam uma teia de relações e valorações inter-
relacionadas, alguns desses fatores podem ser elencados: os aspectos situacionais e de
formações; a perspectiva de empregabilidade, renda e taxa de retorno; o status relacionado à
carreira; além de identificação, autoconceito, interesses, habilidades, maturidade, valores, traços
de personalidade e expectativas com relação ao futuro (GATTI et al., 2009).
No tocante as motivações para o ingresso na carreira docente, diversos estudos indicam
que estas, em geral, situam-se no campo dos valores altruístas e da realização pessoal,
abarcando motivos como: dom e vocação, amor pelas crianças e pelo próximo, amor pela
profissão, amor pelo saber e possibilidade de atuar como agente de transformação social.
Entretanto, nas últimas décadas, em decorrência de transformações sociais ocorridas
globalmente, tem ocorrido uma aguda precarização e flexibilização do trabalho do professor que
conduziram à massificação do magistério, materializada em inadequadas condições de trabalho,
desprestígio social e baixos salários. Somando-se a isso a violência nas escolas, à falta de
6765
interesse dos alunos e as novas exigências em relação à atividade docente, tais fatores têm
conduzido a uma profunda crise de identidade da profissão e a sua baixa atratividade (GATTI et
al., 2009, SÁ; SANTOS, 2011, SALES; LOPES, 2004).
Em particular, no caso das Licenciaturas em Química, percebe-se que a escolha por esse
curso se relaciona, muitas vezes, a outros fatores, além daqueles apontados por Gatti e
colaboradores (2009), e não necessariamente ao interesse em seguir a docência, visto que o
profissional formado nesse curso dispõe de diversas opções de emprego certas vezes mais
atraentes financeiramente ou com melhores condições de trabalho que a profissão de professor
(SGARBOSA et al.,2014).
De forma complementar, Gatti e colaboradores (2009) afirmam que, no Brasil, a questão da
atratividade da carreira docente não tem sido alvo de sistemáticas pesquisas acadêmico-
científicas, apesar da relevância do tema e o seu quadro emergencial.
Dentro desse contexto, o presente trabalho integra um projeto maior que objetiva analisar
as motivações que têm conduzido estudantes a ingressarem nos cursos de licenciatura em
Química da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Particularmente,
neste texto, são apresentados os resultados referentes ao campus de São José do Rio Preto.
2. QUESTÃO DE PESQUISA E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Considerando o contexto e o objetivo desse trabalho, propomos o seguinte problema de
pesquisa: que motivações conduziram estudantes a ingressarem no curso de licenciatura em
química da Unesp? Como desdobramento da questão central e de forma a operacionalizar melhor
o processo de coleta e tratamento de informações, propomos as seguintes questões: que fatores
foram responsáveis pela escolha da Universidade? que fatores foram responsáveis pela escolha
do Curso? quais as expectativas dos licenciandos acerca de suas carreiras profissionais? qual a
percepção dos licenciandos acerca da profissão docente?
Para consecução dos objetivos realizamos uma pesquisa com abordagem qualitativa do
tipo Estudo de Caso (ANDRÉ, 2008) no segundo semestre do ano de 2013 com todos os
estudantes do 2º Ano do curso de Química, que já haviam optado pela Licenciatura. Além disso,
para uma comparação em relação ao nível socioeconômico (NSE), foram analisados os
questionários do grupo de ingressantes que ainda não havia optado pela modalidade que
cursariam, e do grupo que já havia optado pelo bacharelado em Química Ambiental. No total,
participaram 47 alunos da pesquisa.
Utilizou-se como instrumento de coleta de informações um questionário baseado nos
trabalhos de Gatti e colaboradores (2009) e de Sá e Santos (2011). O questionário apresenta 36
itens divididos em 3 grandes blocos.
Com as informações coletadas no primeiro bloco, Caracterização, construímos um
indicador de (NSE) com base nos critérios de pontuação definidos por Gatti e colaboradores
6766
(2009). A classificação do NSE ocorreu em função da pontuação total atingida por cada sujeito de
acordo com os seguintes intervalos: i) até 10 pontos: NSE baixo; ii) entre 11 e 20 pontos: NSE
intermediário; iii) acima de 20 pontos: NSE alto.
O segundo bloco do questionário, Motivações para a Carreira Acadêmica, visou levantar
informações acerca dos principais fatores que influenciaram os estudantes a ingressarem no
curso de Química na Unesp.
Por fim, o terceiro bloco, Expectativas Profissionais, objetivava coletar informações sobre
as expectativas que os licenciandos possuem para atuar na carreira docente e também suas
percepções sobre o trabalho do professor no tocante à sua importância social e à sua valorização
profissional.
Para chegar aos resultados que apresentamos aqui, procedemos a uma análise, que se
constituiu em dois momentos. Primeiro, utilizando conceitos e métodos da Estatística Descritiva
(BUSSAB; MORETTIN, 2009), procedemos a uma análise quantitativa sendo que os dados
obtidos foram tratados e organizados em tabelas. Em um segundo momento, procedemos a uma
análise qualitativa dos dados, utilizando os procedimentos da Análise de Conteúdo (BARDIN,
2011).
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O curso de Química da UNESP de São José do Rio Preto foi implementado em 2003,
sendo oferecidas 40 vagas anuais no período diurno com duração de 4 anos. O referido curso
oferece as modalidades Licenciatura e Bacharelado em Química Ambiental, sendo que a entrada
pelo vestibular é única e os alunos cursam disciplinas comuns às duas modalidades até o
segundo semestre do segundo ano, e então optam por uma das duas modalidades oferecidas.
I. Caracterização dos estudantes
Para esta pesquisa foram considerados os questionários de 47 graduandos em química,
dos quais: 18 ainda não haviam optado pela modalidade que cursariam, 9 optaram pela
licenciatura e 20 escolheram o bacharelado em Química Ambiental.
Com o objetivo de verificar se há diferença no perfil socioeconômico dos alunos que já
optaram por bacharelado e pela licenciatura, e dos ingressantes que ainda não realizaram a
opção pelo curso, apenas para fins comparativos, foram construídas três tabelas de
caracterização dos graduandos.
Uma primeira importante observação a ser feita é que a quantidade de ingressantes que
optou pelo bacharelado em Química Ambiental é muito superior aos alunos que optaram pela
Licenciatura. Dessa forma, a comparação entre os perfis será baseada em diferenças que se
sobressaem, sem, no entanto, alta precisão estatística.
Tabela 1. Caracterização dos Licenciandos.
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Característica Perfil do aluno Contagem Percentual
Sexo Feminino 8 88,9Masculino 1 11,1
Idade Entre 17 e 19 anos 2 22,2Mais de 20 anos 7 77,8
Cor declarada Branco 6 66,7Pardo ou mulato 3 33,3
Você estudou onde? Sempre em escola pública 3 33,3Sempre em escola particular 1 11,1
Iniciou em escola pública e mudou para particular 4 44,4Iniciou em escola particular e mudou para pública 1 11,1
Você trabalha? Sim 1 11,1Não 8 88,9
Porque você trabalha? Melhor formação profissional 1 100
Sua jornada de trabalho é de: 30 horas semanais ou menos 1 100
Escolaridade dos pais Pai MãeEnsino fundamental incompleto 2 22,2 1 11,1Ensino fundamental completo 1 11,1 1 11,1
Ensino médio completo 2 22,2 3 33,3Ensino superior incompleto 2 22,2 0 0Ensino superior completo 2 22,2 4 44,4
Profissão dos pais Pai MãeNão respondeu 1 11,1 3 33,3
Prestação de serviços 6 66,7 5 55,6Aposentado (a) 2 22,2 1 11,1
Renda familiar De um a três salários mínimos 2 22,2De três a seis salários mínimos 4 44,4Mais de seis salários mínimos 3 33,3
Sua casa é: Própria 8 88,9Alugada 1 11,1
Sua família é formada porquantas pessoas:
Menos de quatro 4 44,4Quatro 4 44,4
Mais de quatro 1 11,1
NSE Baixo 1 11,1Intermediário 5 55,6
Alto 3 33,3
No tocante ao perfil dos licenciandos, podemos observar na Tabela 1 que há
predominância do gênero feminino (88,9%), enquanto que o gênero masculino representa apenas
11,1%. O mesmo pode ser observado na análise do grupo que ainda não optou pela modalidade
(Tabela 3), mas não para os que cursam bacharelado em Química Ambiental (Tabela 2), em que
há quase uma equiparação entre o percentual de estudantes do gênero feminino (55%) e do
masculino (45%). Quanto à idade, entre os que optaram pela licenciatura, a maioria dos alunos
possui mais de 20 anos, representando 77,8% do total. No bacharelado, esse percentual cai para
55%. Já entre os ingressantes, que ainda não optaram por uma modalidade, esse quadro se
inverte, ou seja, a maioria (66,7%) tem entre 17 e 19 anos. Em relação a cor autodeclarada, nos
três grupos a maioria se autodeclara branca.
Do total de participantes da pesquisa, apenas 3 afirmaram estar trabalhando, todos com
carga inferior a 30 horas semanais, sendo um ingressante, um licenciando e um graduando em
Química Ambiental. Cada um indicou um motivo, sendo eles: ajudar a família, melhorar a
formação profissional e ser mais independente financeiramente, respectivamente.
Tabela 2. Caracterização dos Graduandos em Química Ambiental.
Característica Perfil do aluno Contagem Percentual
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Sexo Feminino 11 55Masculino 9 45
Idade Entre 17 e 19 anos 9 45Mais de 20 anos 11 55
Cor declarada Branco 13 65Amarelo 3 15
Pardo ou mulato 4 20
Você estudou onde? Sempre em escola pública 4 20Sempre em escola particular 1 5
Iniciou em escola pública e mudou para particular 6 30Iniciou em escola particular e mudou para pública 9 45
Você trabalha? Sim 1 5Não 19 95
Porque você trabalha? Para ser mais independente 1 100
Sua jornada de trabalho é de: 30 horas semanais ou menos 1 100
Escolaridade dos pais Pai MãeEnsino fundamental incompleto 2 10 1 5Ensino fundamental completo 3 15 0 0
Ensino médio incompleto 2 10 3 15Ensino médio completo 6 30 6 30
Ensino superior incompleto 1 5 1 5Ensino superior completo 6 30 9 45
Profissão dos pais Pai MãeNão respondeu 0 0 1 5
Prestação de serviços 14 70 15 75Comércio 4 20 2 10Indústria 1 5 0 0
Aposentado (a) 1 5 0 0Outros (do lar, não trabalha) 0 0 2 0
Renda familiar De um a três salários mínimos 6 30De três a seis salários mínimos 7 35Mais de seis salários mínimos 7 35
Sua casa é: Própria 16 80Alugada 4 20
Sua família é formada por quantas pessoas: Menos de quatro 5 25Quatro 14 70
Mais de quatro 1 5
NSE Baixo 0 0Intermediário 8 40
Alto 12 60
No que diz respeito à família dos estudantes, notamos que uma parcela considerável dos
pais possui formação em nível superior, com destaque ao grupo que optou pelo bacharelado, no
qual 30% dos pais e 45% das mães possuem nível superior completo. Esses percentuais são um
pouco menores nos outros dois grupos analisados. Em relação à profissão dos pais, dos três
grupos que responderam ao questionário, a maioria deles trabalha no setor de prestação de
serviços.
As casas de todos os estudantes são em zona urbana, sendo que a maioria das casas são
próprias. As famílias são formadas, predominantemente, por quatro pessoas, e a renda familiar é
composta por duas pessoas, em média. Analisando esses dados, notamos que a renda familiar é
composta, na grande maioria, por três a seis salários mínimos.
Em relação ao NSE, podemos observar que a maioria dos alunos, nos três grupos,
encaixa-se no NSE intermediário. Entretanto, é possível ressaltar algumas observações
relevantes, que acabam por diferenciá-los: o único aluno classificado como NSE baixo optou pela
licenciatura; no bacharelado em Química Ambiental, a grande maioria dos estudantes encaixou-se
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no NSE alto; entre os que ainda não optaram por uma das modalidades, a maioria foi classificado
como NSE intermediário.
Tabela 3. Caracterização dos Ingressantes no Curso de Química (ainda não optaram a modalidade).
Característica Perfil do aluno Contagem Percentual
Sexo Feminino 14 77,8Masculino 4 22,2
Idade Entre 17 e 19 anos 12 66,7Mais de 20 anos 6 33,3
Cor declarada Branco 17 94,4Pardo ou mulato 1 5,6
Você estudou onde? Sempre em escola pública 10 55,6Sempre em escola particular 3 16,7
Iniciou em escola pública e mudou para particular 4 22,2Iniciou em escola particular e mudou para pública 1 5,6
Você trabalha? Sim 1 5,6Não 17 94,4
Porque você trabalha? Por necessidade de ajudar a família 1 100
Sua jornada de trabalho é de: 30 horas semanais ou menos 1 100
Escolaridade dos pais Pai MãeNão sei 1 5,6 0 0
Ensino fundamental incompleto 3 4Ensino fundamental completo 2 2
Ensino médio incompleto 4 0 0Ensino médio completo 3 6 33,3
Ensino superior incompleto 1 5,6 0 0Ensino superior completo 4 22,2 6 33,3
Profissão dos pais Pai MãeNão respondeu 4 2
Prestação de serviços 8 44,4 10 55,6Comércio 2 2Indústria 1 5,6 0 0
Aposentado (a) 1 5,6 1 5,6Outros (do lar, não trabalha) 0 0 3
Desempregado 2 0 0
Renda familiar De um a três salários mínimos 7De três a seis salários mínimos 9Mais de seis salários mínimos 2
Sua casa é: Própria 17 94,4Cedida 1 5,6
Sua família é formada porquantas pessoas:
Menos de quatro 5Quatro 10
Mais de quatro 2
NSE Baixo 0Intermediário 13
Alto 5
II. Motivações dos estudantes para a escolha acadêmica
Na análise deste bloco de questões, apenas as respostas do grupo de alunos que optaram
por cursar licenciatura serão apresentadas, em função de a elaboração do questionário estar
relacionada às motivações para a escolha da Química e da docência.
A partir dos dados colimados na Tabela 4, é possível perceber que, dos 9 licenciandos, 6
tentaram outros vestibulares antes de ingressar no curso atual, sendo que 5 relataram que o curso
de Química não havia sido sua primeira opção. Como cursos desejados foram citados: Farmácia,
Engenharia Química, Biomedicina, Ciências Contábeis, Gestão Ambiental e Turismo. Apesar de a
grande maioria ter se submetido a exames vestibulares de outras Instituições de Ensino Superior
(IES), os fatores relacionados à escolha do curso foram a identificação com a grande área do
6770
conhecimento e a reputação da Unesp, conforme indicado por 7 estudantes. Apenas 1 estudante
afirmou que a escolha do curso foi motivada pela universidade ser pública e na cidade onde mora,
e 1 aluno escolheu o curso atual por não ter conseguido passar em outro curso de uma
universidade pública.
Tabela 4. Escolha do curso e da Universidade.
Questão Resposta Contagem Percentual
Tentou outro vestibular?Sim 3 33,3Não 6 66,7
Vestibulares realizados
FATEC 1 11,1ENEM 1 11,1UEM 2 22,2USP 6 66,7
Unicamp 1 11,1
O curso atual foi a primeira opção?Sim 4 44,4Não 5 55,6
Principal motivo para a escolha do curso nestaUniversidade
Gostar do Curso e Reputação da Universidade 7 77,8A Universidade ser pública e na cidade onde moro 1 11,1
Foi o único curso que conseguiu passar emuniversidade pública
1 11,1
Em relação às influências para a escolha do curso, analisando os dados reunidos na
Tabela 5 notamos que apenas 44,4% dos alunos afirmaram ter escolhido o curso de Licenciatura
em função de realmente pretenderem ser professores. Entretanto, todos os licenciandos afirmam
já terem pensado algum dia em seguir a carreira docente, em sua maioria no nível técnico
associado à outra modalidade de ensino (55,6%). Entre outros motivos para a escolha da
licenciatura, 2 estudantes destacam a possibilidade de dupla habilitação, e outros 3 indicam outros
motivos, como o desejo de conhecer melhor a modalidade ou a pretensão de seguir carreira
acadêmica.
Tabela 5. Influências para a escolha do curso.
Questão Resposta Contagem PercentualVocê sabe a diferença profissional entre
bacharel e licenciado?Sim 2 22,2Não 7 77,8
Análise das respostas Sabe a diferença 4 44,4Sabe parcialmente a diferença 4 44,4
Não Justificou 1 11,1Porque você decidiu fazer licenciatura? Quero ser professor 4 44,4
Dupla Habilitação (Bacharel e Licenciado) 2 22,2Outros motivos (conhecer melhor a modalidade, querer
seguir carreira acadêmica etc.)3 33,3
O que influenciou sua escolha paramatricular-se no curso?
Próprias opiniões e pretensões profissionais 6 66,7Opiniões de familiares e amigos 2 22,2
Outros motivos - Receios quanto à inserção no mercado detrabalho
1 11,1
Além disso, a maioria dos alunos indicou saber a diferença profissional entre um bacharel
e um licenciado, e, em que pese algumas visões simplistas e distorcidas acerca dessa diferença,
88,9% dos estudantes responderam adequadamente sobre a diferença questionada.
Os dados apresentados nesta seção somados à constatação de a maior parte dos
licenciandos se encontrar na faixa de NSE intermediária parecem concordar com a afirmação
encontrada em Gatti e colaboradores (2009) de que os cursos relacionados à carreira docente
6771
atraem principalmente alunos oriundos de classes socioeconômicas menos favorecidas. Segundo
a autora, essa constatação está relacionada ao fato de o magistério ainda significar, de certo
modo, a possibilidade de ascensão social. A partir dos dados da Tabela 5, percebe-se que, no
processo da escolha do curso de Licenciatura em Química, o que mais influenciou os jovens
foram suas próprias pretensões profissionais (66,7%). Destaca-se ainda que, um dos licenciandos
optou por essa modalidade devido à insegurança em relação ao mercado de trabalho caso
optasse pelo bacharelado. Porém, ao contrário do observado por Gatti e colaboradores (2009), a
possibilidade de ascensão social prevista pelos licenciandos de nossa amostra está relacionada à
atuação no nível Técnico e não necessariamente na Educação Básica.
A partir das respostas dos estudantes acerca das razões para a escolha da carreira ao
prestar vestibular foram identificadas 3 categorias temáticas apresentadas no Quadro 1.
Quadro 1. Categorias de respostas referentes à razão pela escolha da carreira.
Categoria Extratos de texto representativo ContagemI Interesse e/ou afinidade com a grande área “A facilidade com tal matéria na escola.” (A3)
“Gosto pela área.” (A5)7
II Influências de terceiros e reputação do curso “(...) influência familiar” (A4) 1III Expectativas profissionais “Oportunidade de emprego.” (A6) 3
A categoria que apresentou frequência mais expressiva (identificada em 7 respostas) foi a
de “Interesse e/ou afinidade com a grande área”, a qual compreendem as respostas que
relacionam a escolha da carreira com o interesse em adquirir ou aprimorar os conhecimentos na
área de química, ou, ainda, por gostar dos conteúdos da área aos quais foram familiarizados no
Ensino Médio ou em cursos técnicos. De fato, a afinidade com a grande área é esperada para a
escolha da carreira para prestar vestibular. Um aluno afirmou que foi motivado a escolher a
carreira devido à influência familiar, e outros 3 vislumbram sucesso profissional, motivados por
fatores como a empregabilidade ou o retorno financeiro. Diferentemente do que foi observado em
trabalhos anteriores (SGARBOSA et al., 2013), os alunos não apresentaram motivações
relacionadas a valores altruístas, vocação ou realização pessoal/profissional.
III. Percepções sobre o trabalho docente
Em função das respostas para as questões que exploravam as percepções dos
licenciandos sobre o trabalho docente, foram identificadas quatro categorias apresentadas no
Quadro 2. Algumas respostas contêm diferentes ideias sobre o trabalho docente e acabam se
encaixando em mais de uma categoria, por isso a somatória das contagens excede no número
total de sujeitos.
Quadro 2. Categorias de respostas para a percepção sobre o trabalho docente.
Categoria Extratos representativos do texto ContagemI Papel importante na sociedade “Acho que o trabalho do professor é crucial na vida de um aluno” (A6) 5II Visão romantizada do trabalho que traz
recompensa pessoal“O professor não somente é o responsável por ensinar o conteúdo, é
também um exemplo para o aluno” (A2)4
6772
III Trabalho muito exigente e em condiçõesprecárias
“É um trabalho complicado. Você tem que aprender além de ensinar.Aprender a dar aula, aprender a conviver com diferentes tipos de
pessoas, adaptar-se a maneiras de ensinar”(A3)
5
IV Trabalho pouco valorizado e desmotivador “[profissional que] tem pouco reconhecimento”(A5) 2
Na primeira categoria se encaixam as respostas de 5 licenciandos que ressaltaram a
importância do trabalho do professor para a sociedade. Para eles, essa profissão é a base para a
formação acadêmica, profissional e cidadã dos indivíduos.
Para 4 estudantes a profissão está relacionada a alguma satisfação pessoal, com o
sentimento de prazer resultante do ato de ensinar que acaba, de certa forma, por compensar as
adversidades encontradas no exercício do magistério, o que revela certo grau de altruísmo para a
profissão. Ainda nessa perspectiva notamos que alguns licenciandos têm grande admiração pelos
professores e, de certa forma, enobrecem a docência, colocando-a em uma posição grandiosa,
como observado na fala do Aluno 8: “Ser professor hoje é ser um guerreiro”. Essa visão
romantizada da profissão, além da concepção da docência como sacerdócio, na qual o prazer
pessoal é mais importante que as desvantagens, também foi identificada por Gatti e
colaboradores (2009). De acordo com os pesquisadores, para essa concepção “pode-se lançar a
hipótese de que os alunos enxergam a docência não como profissão, mas como sacerdócio, uma
missão em resposta a uma vocação” (GATTI, 2009, p. 41).
As respostas relativas aos aspectos negativos das condições para se exercer o trabalho
docente, dadas por 5 licenciandos, foram agrupadas na terceira categoria. Eles acreditam que o
trabalho é muito exigente e desgastante, e para ser professor é preciso ter certas predisposições,
tais como: saber lidar com diferentes situações e problemas do cotidiano escolar, capacidade de
inovação e responsabilidade.
A quarta categoria compreende as respostas dos 2 licenciandos que consideram o trabalho
docente desvalorizado social e financeiramente, e que o professor não é respeitado pela
sociedade e governantes, sendo uma profissão difícil, que desmotiva quem exerce e não atrai
novos profissionais.
Em contraposição à percepção pessoal, investigamos as concepções dos licenciandos
quanto à visão da sociedade sobre o trabalho docente.
Todos os 9 licenciandos acreditam que o trabalho do professor não é valorizado e que não
há o devido reconhecimento social e profissional, sendo que essa profissão é desrespeitada por
pais, alunos, governantes e a sociedade em geral. Essa desvalorização profissional associada à
baixa remuneração e as precárias condições de trabalho contribuem para uma visão negativa do
magistério.
Na perspectiva dos licenciandos a sociedade considera a docência como uma carreira
desestimulante e pouco atrativa. Em alguns casos tem-se até uma visão depreciativa da profissão:
“[a sociedade] vê o professor como uma pessoa que não teve uma oportunidade melhor” (A6).
Diferentemente do que foi observado nas análises das respostas dos ingressantes em trabalhos
6773
anteriores (SGARBOSA et. al, 2014), nenhum dos estudantes afirmou que a sociedade reconhece
a importância do professor, embora ele ainda assim não seja valorizado.
Ao final do questionário, uma das questões informava o piso salarial nacional definido em
lei para os professores da Educação Básica na rede pública. No grupo analisado, 6 licenciandos
consideram o valor tão baixo que desestimula o ingresso na carreira docente. Os outros 3 indicam
que o valor não é tão baixo, mas que a carga horária é alta, e o professor provavelmente terá que
pegar muitas aulas e se sobrecarregará para poder ganhar mais e viver mais confortavelmente.
4. Conclusões
No ano de 2013 o grupo de estudantes que optaram pela licenciatura, já no 2º ano do
curso de Química da Unesp de São José do Rio Preto, apresentou equivalência de gênero,
formado majoritariamente por jovens com mais de 20 anos oriundos em grande parte de escolas
públicas e que não trabalhavam em emprego formal. A maioria dos estudantes provém de famílias
cujos pais não possuem Ensino Superior e possuem nível socioeconômico intermediário. No
tocante à diversidade étnica e racial, a maior parte dos ingressantes se autodeclara branca, com
percentual pequeno de pardos e negros. Quadro este que se repete em vários outros cursos e em
várias outras universidades. Vale sublinhar que a Unesp vem implantando gradativamente
políticas de reservas de vagas e, por isso, seria interessante acompanhar o comportamento desse
cenário nos próximos anos.
Para a grande maioria dos estudantes o curso na Unesp não foi a primeira opção, embora
relatem que o que influenciou na decisão de se matricular no curso foi o interesse na grande área
do conhecimento e a reputação e prestígio dessa universidade. A opção pela licenciatura em
Química se deu, no geral, pela identificação com a grande área e por expectativas profissionais,
como empregabilidade.
Interessante notar que os motivos para a opção pela licenciatura são diversos, desde a
pretensão de realmente seguir a docência até outros fatores, como a possibilidade de dupla
habilitação oferecida pelo curso. Essa escolha foi feita conscientemente em relação à diferença do
curso de Bacharelado. Porém, os estudantes pretendem majoritariamente atuar na docência do
Ensino Técnico associado à outra modalidade, com um percentual pequeno afirmando querer
atuar no Ensino Básico. Esse fato se relaciona com a percepção negativa dos alunos acerca do
trabalho do professor da EB, pois o consideram como essencial para a sociedade e que traz
grande recompensa pessoal, porém com pouca valorização social e realizado em condições
penosas e precárias.
Portanto, as motivações dos estudantes do curso de Licenciatura em Química se
relacionam, por um lado, a fatores ligados ao interesse pela grande área do saber, ao prestígio e
reconhecimento da Unesp de São José do Rio Preto e às expectativas profissional-financeiras
resultantes da diplomação; por outro lado, a fatores ligados à admiração pela atuação docente e à
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importância social da profissão. Contudo, apesar de possuir a pretensão de exercer a profissão
docente, a maioria absoluta não vislumbra a atuação na EB em função de seu baixo status
sociocultural e da projeção de condições difíceis de desenvolvimento do trabalho, e inclusive
considera que o baixo valor do piso salarial nacional definido em lei é um fator desestimulante
para uma possível atuação.
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