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81 músico argentino Emilio Balcarce já somava 82 anos quando foi procurado para ser diretor de uma or- questra-escola que levaria o seu nome. Esquecido desde o final dos anos 1970, Emilio guardava um conhecimento que ameaçava perder-se sem chegar às novas gerações. Maestro, compositor e instru- mentista, ele era a memória viva da técnica com que sua geração tocava os tangos que se tornaram sinô- nimo não só da cultura, mas da alma argentina. E, entre todos os instrumentos, o que ele melhor do- minava era o bandoneon, símbolo maior do gênero musical definido como “um pensamento triste que se dança”. E o que faz aqui a história de um músico argentino? Bem, ela tem mais a ver conosco do que parece num primeiro momento. A escola de Bal- carce foi o ponto de inflexão para unir passado e presente, com a téc- nica dos antigos – vários outros foram reunidos – passando aos jovens, que a somaram ao que já sabiam e ampliaram seu repertório e sua formação com esse convívio. Se você gosta de música, pode conhecer melhor essa história por meio do documentário Si sos brujo, una histo- ria de tango (2005), de Caroline Neal (http://bit.ly/2JmdGSa). Agora, se você está mais preocupado com a educação brasileira, assim como o cientista político Fernando Abrucio, chefe do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, é bom tomar esse exemplo como análogo, em escala bem menor, ao problema que estamos próximos de viver com nossos professores. Isso porque, do total de 2,2 milhões de docentes de educação básica no Brasil, cer- ca de metade deve se aposentar num prazo que varia de quatro a oito anos. E serão substituídos por jovens que chegarão às escolas menos preparados do que eles próprios chegaram. É PRECISO FAZER DA ESCOLA UMA VERDADEIRA COMUNIDADE DE APRENDIZAGEM, PROPICIANDO O CONVÍVIO CONSTANTE ENTRE PROFESSORES COM VARIADOS NÍVEIS DE EXPERIÊNCIAS, DEFENDE CIENTISTA POLÍTICO PONTO DE VISTA onde nascem os professores FERNANDO ABRUCIO é cientista político e chefe do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. O

ponto de vista nascem Oapp.cadernosglobo.com.br/banca/volume-14/pdf/80-87_onde... · 2019-11-12 · 82 ponto de vista “É preciso criar uma cultura profissional do ofício de professor”,

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músico argentino Emilio Balcarce já somava 82 anos quando foi procurado para ser diretor de uma or-questra-escola que levaria o seu nome. Esquecido desde o final dos anos 1970, Emilio guardava um conhecimento que ameaçava perder-se sem chegar às novas gerações. Maestro, compositor e instru-mentista, ele era a memória viva da técnica com que sua geração tocava os tangos que se tornaram sinô-nimo não só da cultura, mas da alma argentina. E, entre todos os instrumentos, o que ele melhor do-

minava era o bandoneon, símbolo maior do gênero musical definido como “um pensamento triste que se dança”.

E o que faz aqui a história de um músico argentino? Bem, ela tem mais a ver conosco do que parece num primeiro momento. A escola de Bal-carce foi o ponto de inflexão para unir passado e presente, com a téc-nica dos antigos – vários outros foram reunidos – passando aos jovens, que a somaram ao que já sabiam e ampliaram seu repertório e sua formação com esse convívio. Se você gosta de música, pode conhecer melhor essa história por meio do documentário Si sos brujo, una histo-ria de tango (2005), de Caroline Neal (http://bit.ly/2JmdGSa).

Agora, se você está mais preocupado com a educação brasileira, assim como o cientista político Fernando Abrucio, chefe do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, é bom tomar esse exemplo como análogo, em escala bem menor, ao problema que estamos próximos de viver com nossos professores. Isso porque, do total de 2,2 milhões de docentes de educação básica no Brasil, cer-ca de metade deve se aposentar num prazo que varia de quatro a oito anos. E serão substituídos por jovens que chegarão às escolas menos preparados do que eles próprios chegaram.

É preciso fazer da escola uma verdadeira comunidade de aprendizagem, propiciando o convívio constante entre professores com variados níveis de experiências, defende cientista político

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“É preciso criar uma cultura profissional do ofício de professor”, reforça Abrucio, para quem a formação tem o importante papel de dar com-petências profissionais diversas – interpessoais, de comunicação, didáticas, metodológicas. Mas essa cultura comum, criada no convívio em que se ensina uma técnica particular de percutir um instrumento ou de saber abordar um aluno, precisa de espaço para ocorrer. “É no período de residência que os médicos viram médicos. Não temos um espaço institucional em que os professores viram professores”, observa.

Antes disso, no entanto, é preciso atrair os jovens à profissão, dificuldade que tem sido verificada em vários países. Um exemplo re-cente de nação que resolveu atacar o problema com uma campanha pública de convencimen-to é o Chile. Mesmo com a melhor educação da América do Sul, o país aprovou em 2016 uma lei que cria o sistema de desenvolvimen-to profissional docente. No seu embalo, em 2017, veiculou uma campanha para incentivar os jovens à docência. Um dos filmes publici-tários trazia a então ministra da Educação, Adriana Delpiano, atribuindo o futuro de me-ninos e meninas chilenos aos docentes. Sob o título Professores: a profissão mais importante do Chile, buscou despertar nos jovens o signi-ficado que a escolha representa.

Fator estratégicoCom a revolução digital dos últimos anos e a transformação do conhecimento em um gran-de diferencial das economias contemporâneas, a educação tem sido objeto de reformas re-centes em muitos países. E, como ressalta Abrucio, um dos grandes desafios do Brasil é pensar em termos sistêmicos, para que as ações tenham mais efetividade e não se tornem ape-nas esforços isolados.

Nesse sentido, um caminho que pode nos aju-dar é aquele apontado pela pesquisadora e presidente do Conselho Estadual de Educação de São Paulo, Bernardete Gatti, que defende que a formação de todas as licenciaturas das disciplinas específicas deveria ocorrer num mesmo lugar, também com a licenciatura em pedagogia, oferecendo, além de conhecimen-to disciplinar específico, o conjunto de saberes batizado na Europa, desde os anos 1960, de ciências da educação, mesmo título do livro de um dos pioneiros do campo, Gaston Mialaret.

Ou seja, que metodologias, didáticas e todas as experiências práticas pudessem dialogar diretamente também com as disciplinas que lhes dão base teórica, da antropologia à neu-rociência, passando pelos fundamentos clássicos (sociologia, história, psicologia e filosofia da educação).

“Vamos ter um terrível apagão docente”, aler-ta Abrucio. E uma das alternativas para evitá-lo ou para minimizar seus efeitos, diz ele, é apro-veitar da melhor forma possível esses expe-rientes professores em vias de se aposentar. Para tanto, ele aponta duas possibilidades: ou atrasar o processo de aposentadoria (o que ajudaria a aliviar o problema fiscal do país), ou criar um mecanismo de premiação, sem in-corporação do benefício, para aqueles que se aposentarem virarem mentores dos jovens docentes que estão ingressando na carreira.

Em conversa com o Caderno, Abrucio listou e comentou os principais fatores que podem dar materialidade para a muito comentada e pou-co detalhada ideia da valorização docente. Entre esses pontos destacam-se:

• mudanças substantivas na formação inicial e continuada dos professores;

• aumento da atratividade da carreira, com a criação de campanhas de comunicação e de incentivos financeiros para que os jovens mais qualificados se interessem pela profissão;

• melhoria dos canais para a escuta docente;

• um novo desenho da carreira, com oferta de salário inicial mais alto e vários níveis inter-mediários;

• transformação das escolas em comunidades de aprendizagem, com a permanência do professor, se possível, em tempo integral;

• criação de uma cultura do professor, tradu-zida na noção de profissionalidade que daria identidade a todos como sujeitos de um mes-mo ofício.

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No entanto, outro elemento é importante para essa escolha: a destinação de incentivos finan-ceiros, em forma de bolsas que vigorem na graduação ou mesmo no ensino médio, como forma de atrair os estudantes para a carreira. Quando isso é feito já no ensino médio, ajuda aqueles que necessitam desde cedo colaborar com a renda de suas famílias.

Para completar as estratégias de atratividade, deve-se elevar o salário inicial. No âmbito das carreiras públicas no Brasil, muitas delas, es-pecialmente aquelas ligadas ao direito e à jus-tiça, tiveram o salário de entrada bastante ma-jorado desde o governo de Fernando Henrique Cardoso, a ponto de ultrapassar o ganho inicial de um professor em mais de uma dezena de vezes. Em 2016, por exemplo, o vencimento inicial de um procurador da República ou de um juiz federal era de R$ 28.947,55, cerca de 13,5 vezes mais do que o piso salarial do pro-fessor, que no mesmo ano era de R$ 2.135,64.

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função – de professor para diretor ou técnico de secretaria – para receber um salário maior. Com isso, desfalca a escola e vai exercer algo para o qual não foi preparado, que exige outras competências, o que demandará novamente um longo aprendizado. No citado exemplo de Cingapura, o docente permanece vinculado a uma escola, a não ser no topo da carreira, em que existe a figura do mestre, alguém que muda de escolas, porém com a missão de trazer, como um docente de alta especialização, um olhar de fora para as práticas que analisa.

Momento-chaveEssa troca geracional que se avizinha, ao lado da alta competitividade internacional que tem redundado nas mudanças dos sistemas de di-versos países, torna o momento de extrema importância para que o Brasil mexa conjunta-mente na formação docente, nos processos da carreira e na oferta de formação continuada.

Dois aspectos devem ressaltados nesse senti-do. O primeiro deles é que a educação, como enfatiza o professor da FGV, é um fenômeno intergeracional, o que vale tanto para alunos e famílias como para professores. E a nova geração que está assumindo os postos de do-cência vem, em sua maioria, de famílias com pouca escolaridade, resultado da tardia uni-versalização brasileira. Significa que esse ciclo de aprendizado contínuo, de preferência uti-lizando ao máximo a geração que está se apo-sentando, será vital para que não decaiamos do ponto em que estamos.

O segundo ponto assinalado por Abrucio é que precisamos manter os olhos abertos para o que está acontecendo no mundo, para as experiên-cias que estão dando certo, o que se está bus-cando, principalmente em países com cultu-ra ou histórico semelhante ao nosso.

Como enfatiza o professor da FGV, essa dife-rença acaba sendo ruim para os dois lados: para o procurador ou juiz, gerará frustração ao lon-go da carreira, pois já começa num patamar muito alto, tendo pouca margem para subir; além disso, tende a atrair para o professorado aqueles que não têm condições de conseguir outras funções mais bem remuneradas. Para o país, o desequilíbrio cria desigualdade exces-siva e insatisfação geral. Mas aqui há uma cer-teza: para valorizar a carreira docente, atrair jovens mais bem formados e conquistar parâ-metros mais elevados de profissionalidade, será preciso fazer esse esforço, que se traduz na sinalização, com um salário inicial mais robus-to, de uma carreira que permita progressões. Ou seja, é questão de achar a dosagem certa.

Comunidades de aprendizagemEssa progressão, hoje, está ligada quase que exclusivamente a um fator inercial: o tempo de serviço. Numa época extremamente dinâmica, com muitos novos aportes teóricos chegando às escolas e pedindo diálogo com a prática, esse modelo tem se mostrado mais do que esgotado.

O modelo que mais tem prosperado transfor-ma a escola no centro do processo de apren-dizagem não só de alunos, mas também dos próprios professores. Vários países têm orga-nizado as escolas como comunidades de apren-dizagem, entre eles Portugal, Finlândia, Cingapura, Xangai (China) e o estado da Co-lúmbia Britânica, no Canadá, entre outros. Esses lugares instituíram a escola como um local onde circula e se constrói continuamen-te um saber colaborativo.

No caso de Cingapura, há mentores na esco-la que funcionam como lideranças que orga-nizam o processo em conexão com o órgão

Por exemplo, se muitos sistemas, em especial os orientais, foram bem-sucedidos em vários fatores, estão hoje se ressentindo da baixa criatividade de alunos que respondem bem a testes padronizados, mas têm dificuldades no campo da linguagem, entre outros. Ou como na Coreia do Sul, em que a pressão excessiva levou o país a ter a maior taxa média de suicí-dio juvenil do mundo.

Por esse motivo, o desejo nostálgico de resti-tuir a “ordem de antigamente”, de uma escola que corresponde mais a uma visão idea-lizada do passado do que à realidade, pode nos fazer retroagir.

“Os defensores do ‘Escola sem Partido’, um modelo que não foi adotado por nenhum país do mundo – não só os bem-sucedidos, mas nenhum –, não percebem que o tipo de esco-la que estão vendendo é a morte da escola e do professor, um desastre no médio e longo pra-zos”, diz Abrucio.

O Escola sem Partido é um movimento que apresentou projetos de lei semelhantes em municípios, estados e no Congresso Nacional, com o intuito, segundo seus defensores, de não permitir doutrinação dos alunos pelos docentes. A Assembleia do estado de Alagoas chegou a aprovar a Lei 7.800/2016, depois vetada por inconstitucionalidade pelo gover-nador Renan Filho. O caso aguarda votação no Supremo Tribunal Federal, com parecer inicial do relator, ministro Roberto Barroso, que tam-bém considera a lei inconstitucional.

equivalente à nossa Secretaria de Educação. Esses mentores vão ajudando os docentes des-de a sua chegada à escola e ao longo de toda a sua carreira. À medida que vão se tornando mais experientes, esses mesmos docentes co-meçam a participar da formação de quem está chegando, e assim sucessivamente.

“Temos de complexificar a carreira docente formando um espaço de aprendizado contínuo, em que se possa ter várias funções – professor iniciante, professor que treina os iniciantes, coordenador de disciplinas, mentor. Com isso, a sala de aula ganharia maior centralidade na política educacional”, sintetiza Abrucio.

Além de esses vários estágios compreenderem a evolução tanto da aquisição de competências quanto financeiras, permitem também que a ascensão profissional não retire o docente da sala de aula ou do ambiente escolar. Hoje, é muito comum que um profissional mude de

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os educadores. Combateu-se a reprovação, em que antes o país apresentava altos índices, e os professores passaram a trabalhar de forma mais coletiva, pensando num processo de me-lhoria constante da educação. Com isso, Por-tugal passou do 29o ao 18o lugar em Ciências no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) entre 2012 e 2015, melhorando também em Leitura (de 22o para 15o) e Mate-mática (28o para 21o).

Recalibragem e dedicação exclusivaIndagado sobre como avalia os resultados do Plano Nacional de Educação (PNE) nas quatro metas relativas à docência (15, 16, 17, 18; ver www.observatoriodopne.org.br), Fernando Abrucio mostra desânimo. “Infelizmente, o PNE deixou de ser uma bússola”, avalia. Para ele, apenas os abnegados da educação ainda cobram o poder público a partir das metas do plano, mas elas já deixaram de ser reais, em parte devido ao seu abandono, em parte por talvez terem sido muito ambiciosas. Ele avalia que é preciso ver o que é factível neste momen-to para restabelecer as metas, cuja existência é imprescindível. “Governos contemporâneos trabalham com metas, e não dá para dobrar as metas se você não sabe qual é a meta”, diz.

Um exemplo é a meta 6, que, em tese, poderia trazer muitos benefícios à educação, sobretu-do ao ensino médio, uma vez que prevê a por-centagem de escolas públicas com matrículas de educação e de matrículas de ensino integral em escolas públicas para 2024 (meta de 50% e 25%, respectivamente, resultados hoje de 40,1% e 15,5%).

A educação integral e em tempo integral traz uma série de benefícios à formação do aluno, se feita adequadamente. Mas custa caro. E, em muitas redes, ofertá-la para alguns significa tornar precária a oferta para outros ou, ainda que se mantenha igual, ter uma oferta desnivelada.

O melhor seria, então, que a matriz de acompa-nhamento e pensamento fosse haver professores trabalhando em um único local em tempo integral, pois a sua permanência por mais tempo e traba-lhando em uma única unidade é o maior benefí-cio da escola de tempo integral, defende Abrucio.

Essa presença seria um ponto basilar para a formação das comunidades de aprendizagem, para a interação entre os docentes, para a rea-lização de um trabalho efetivamente coletivo e o acompanhamento da carreira. Significaria, também, dar mais institucionalidade à escola, fortalecer o ambiente escolar, criar uma iden-tidade entre profissional e local de trabalho.

Segundo muitos economistas brasileiros, a edu-cação tem sido um empecilho para o cresci-mento do país, cujos índices de produtividade estão estagnados faz algumas décadas. E, aler-ta Abrucio, “se matarmos a escola e o professor, nosso futuro é o subdesenvolvimento”.

Por isso, ao falarmos sobre valorização docen-te, precisamos passar do apoio genérico à de-finição mais precisa do que ela significa. E, ao olharmos os exemplos internacionais, três deles dizem mais coisas ao Brasil. Em primei-ro lugar, o já mencionado Chile, pela proxi-midade geográfica e histórica, exemplo no processo de construção social de uma nova importância para o professor. Em segundo lugar, a Austrália, que já serviu de base na questão curricular e também pode fazê-lo em relação à articulação federativa, um de nossos grandes entraves para fazer funcionar as po-líticas públicas.

E, por fim, o país de maior influência e proxi-midade histórica e de pensamento, que é Por-tugal. Como o Brasil, Portugal universalizou tarde a educação, apenas nos anos 1970. Aí, como bem expressou o educador António Nóvoa, da Universidade de Lisboa, em discurso feito no Brasil anos atrás, os portugueses fizeram uma opção clara pela escola pública, atrelada inclu-sive ao processo de redemocratização do país.

Depois, a partir do início desta década, houve uma grande reforma na formação inicial e a adoção das escolas como comunidades de apren-dizagem, estimulando a formação continuada.

Isso criou uma mudança de mentalidade entre

Por meio desse processo é possível garantir a transmissão geracional de conhecimentos em meio a buscas de novos parâmetros. E, refor-çando os laços com a cultura nacional, talvez tornássemos mais conhecido o fato de que houve, lá no século 19, um gênero musical chamado de tango brasileiro. Seu maior ex-poente foi o compositor Ernesto Nazareth, autor de clássicos como Brejeiro e Fon-fon (am-bos denominados tangos brasileiros, mas re-conhecidos como autênticos chorinhos). A primeira composição desse gênero misterioso, no entanto, permite muitas e variadas leituras do Brasil, com a criatividade que não nos fal-ta: assinada por Henrique Alves de Mesquita em 1871, chama-se Olhos matadores.

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