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O CANCIONEIRO DO SADO: Cantigas de raiz popular da Região de Alcácer do Sal, publicada no Jornal Pedro Nunes
Colecção - Elementos para a História do Município de Alcácer do Sal, nº 5 http://www.cm-
alcacerdosal.pt/PT/Actualidade/Publicacoes/Paginas/EstudosdoGabinetedeArqueologia.aspx
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O CANCIONEIRO DO SADO:
Cantigas de raiz popular da região de Alcácer do Sal, publicada no Jornal Pedro Nunes
Câmara Municipal de Alcácer do Sal
Alcácer do Sal, 2009
O CANCIONEIRO DO SADO: Cantigas de raiz popular da Região de Alcácer do Sal, publicada no Jornal Pedro Nunes
Colecção - Elementos para a História do Município de Alcácer do Sal, nº 5 http://www.cm-
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FICHA TÉCNICA
Tema do Quinto Volume: - O CANCIONEIRO DO SADO: Cantigas de raiz popular da
região de Alcácer do Sal, publicada no Jornal Pedro Nunes
Colecção Digital – Elementos para a História do Município de Alcácer do Sal, nº 5
Coordenação – Vereação do Pelouro da Cultura
Recolha e Análise Poética – Isabel Cristina Vicente e António Rafael Carvalho
Carta Agrícola de Portugal de 1893 (Folha de Alcácer do Sal/Palma) Instituto Geográfico
Português – licença de utilização nº 312/06
Capa e Grafismo – Dos autores
Fotografias – Arquivo Histórico do Município de Alcácer do Sal.
Edição on-line – Município de Alcácer do Sal
Alcácer do Sal, Junho de 2009
O CANCIONEIRO DO SADO: Cantigas de raiz popular da Região de Alcácer do Sal, publicada no Jornal Pedro Nunes
Colecção - Elementos para a História do Município de Alcácer do Sal, nº 5 http://www.cm-
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Indíce
Apresentação………………………………………………………………………….…………4
Breve Introdução à Poesia Popular de Alcácer do Sal…………………………………….….5
1. Algumas reflexões……………………………………………………………………5
2. Análise preliminar do Cancioneiro do Sado……………………………………….6
O Cancioneiro do Sado: Jornal Pedro Nunes, entre 1908 e 1911………………………….….9
I – Amor e Casamento………………………………………………………………….9
II – Família e Sociedade………………………………………………………………44
III – A Mulher………………………………………………………………… …...….48
IV -Modos de Vida…………………………………………………………………….50
V – Pobres e Ricos…………………………………………………………………….52
VI – Religião e Moralidade………………………………………………………...…53
VII – Sabedoria……………………………………………………………………..…56
VIII – Escárnio e Maldizer……………………………………………………...……60
IX -Graça e Malícia………………………………………………………………..….64
X – Indeterminado………………………………………………………………….…70
O CANCIONEIRO DO SADO: Cantigas de raiz popular da Região de Alcácer do Sal, publicada no Jornal Pedro Nunes
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Apresentação
Permitam-me que vos apresente mais este contributo que se insere na Colecção –
Elementos para a História do Município de Alcácer do Sal, que considero de extrema
importância para divulgação de alguns aspectos que marcam a nossa História e que assumem
grande influência na construção da nossa identidade, do nosso ser.
Estas colecções temáticas são, portanto, mais um contributo de dar a conhecer a História
e “estórias” de que todo o nosso concelho é portador. Este caderno (em formato digital) dedica-
se às “Cantigas Populares” tantas vezes cantadas pelos nossos avós nas suas lides diárias como
o labor no campo. Felizmente que este registo quase sempre oral passou a escrito, permite-nos,
neste início do século XXI, ter acesso a um tesouro de quotidianos, como os seus amores e
desamores, as suas tristezas e preocupações, os seus desejos e de uma maneira geral, pequenos
flashes das suas vidas.
Se é visível pelas várias posturas que temos assumido que consideramos como vector
estrutural da nossa política cultural o património arqueológico, histórico e religioso, com este
projecto pretendemos marcar uma posição em relação às nossas raízes culturais imateriais,
porque a nossa riqueza patrimonial não se esgota no que é visível no nosso concelho. Existe
outro tipo de património, igualmente importante, por vezes esquecido que pertence e cimentou a
intimidade e alma das gerações passadas.
Esta recolha foi realizada num esforço de divulgação. Este registo foi possível porque
em todas as épocas existiram homens e mulheres deste concelho que lutaram pela defesa do
património. Agora é Vosso e está nas Vossas mãos conhecer uma faceta pouco conhecida do
nosso passado colectivo.
Vereadora do Pelouro da Cultura e Desporto
Isabel Cristina Vicente
O CANCIONEIRO DO SADO: Cantigas de raiz popular da Região de Alcácer do Sal, publicada no Jornal Pedro Nunes
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Breve Introdução à Cantigas Popular de Alcácer do Sal
1. Algumas reflexões
A poesia popular é um mundo próprio, com as suas regras e os seus autores anónimos,
perdidos num tempo que decorre num determinado território geográfico, interiorizado como
seu, mas que perpetuaram as suas palavras numa memória de oralidade que sobreviveu até ser
registada em suporte escrito.
Trata-se de um mundo rico de sentimentos que preveligia uma oralidade, com uma
lógica que nos escapa e que é diferente da escrita.
Sendo oral, predomina o som, um sentido musical que brota de um mundo social, rural
ou urbano, que importa conhecer.
Como norma, só sabemos responder às perguntas que somos capazes de responder e ver
o que queremos ou sentimos necessidade de olhar.
Com a poesia popular poderá passar o mesmo. Temos que estar cientes que ela brota
espontaneamente no seio de uma minoria de “ cantadores anónimos1” que nascem, crescem e
vivem emersos numa determinada época e contexto social, onde o básico dos nossos dias ainda
não existe e os dias correm de maneira diferente, talvez mais lentos, numa direcção sem
pressas…
Em suma, a poesia é um reflexo de uma época, que espelha os sentimentos de uma
comunidade. Como tal é rico em informação historiográfica se a soubermos ler, porque nessa
perspectiva pode ser encarada como uma janela aberta para um determinado fragmento do
passado.
Geralmente quando analisamos a poesia, captamos as palavras, a mensagem, o som,
mas esquecemos as pessoas que estão por detrás da sua génese.
São homens e mulheres que num quotidiano difícil, conseguem criar dentro de si, um
espaço íntimo, onde conseguem dar brilho e sentimento ao que lhe vai na alma, partilhando com
a comunidade fragmentos desse mundo.
Podemos concluir que a poesia popular tem um papel profilático de espantar os males
deste mundo, brincar com a adversidade, convidar-nos a sonhar ou corar e acima de tudo, dá-
nos um vínculo poderoso, que permite uma cumplicidade entre nós e os nossos vizinhos, dando
sentido à comunidade de um determinado território.
Para concluir, que podemos nós saber de Alcácer através da análise desta poesia? 1 Como norma, estes autores populares não se assumem como poetas, eles simplesmente transformam a experiência, os desejos, as crises de crescimento e os sonhos colectivos em palavras para serem cantadas em grupo durante a faina do campo. Havendo uma rígida separação entre os sexos, que começa a diluir no início do século XX, e como norma os casamentos por amor era algo pouco comum à época, as cantigas revelam estratégias rituais de enamoramento e disponibilidade que eram lançadas no seio do grupo de forma subtil. Não é de admirar que a quase totalidade das cantigas recolhidas estejam inseridas no grupo do Amor e Casamento.
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Muito e pouco, dependendo da perspectiva que utilizarmos para a analisar e das
respostas que temos necessidade em responder, que vão variando consoante vai decorrendo o
processo de investigação.
É certo que o passado existiu e que deixou marcas, mas a forma como o vemos,
seleccionamos e conseguimos transmitir aos outros, depende da natureza das fontes disponíveis,
da nossa base como investigadores e fundamentalmente de nós próprios, porque as respostas só
chegam às questões que sabemos ou temos necessidade de colocar!
2. Analise Preliminar do Cancioneiro do Sado.
As cantigas populares do Sado que tivemos ocasião de recolher para este livro são o
resultado de uma lenta evolução em termos de concepção, que remontam numa primeira análise
à época islâmica.
Como foi exposto num trabalho recente sobre a “Musica através dos ossos?..2, após a
reconquista, a actividade musical, as cantigas e a produção poética nas cortes hispânicas, vão
beber às raízes profundas da cultura islâmica, cujo rasto iconográfico e textual e métrica poética
podemos detectar nas Cantigas de Santa Maria, Cancioneiro da Ajuda, etc.
Que produção poética terá existido em Alcácer nessa altura?
A existência de uma elite governativa no seio de uma cidade de grandeza média,
detentora de um vasto território administrativo, é um indicador seguro da existência de uma
actividade intelectual importante.
É provável que à semelhança de Silves em contexto islâmico, a população rural
alcacerense produzisse cantigas de apoio ao seu quotidiano. O único dado interessante que
aponta nesse sentido é a existência de uma Cantiga Popular dedicada ao Santuário de Nossa
Senhora dos Mártires, efectuada pouco depois da conquista de Alcácer e recolhida em 1283 na
obra de Afonso X, Rei de Castela.
Contudo, a obra poética alcacerense mais recuada que temos conhecimento neste
momento, é a que foi produzida por Abd Allah Ibn Wazir, que foi o governador islâmico que se
rendeu em 1217 às tropas cristãs.
Depois abate-se um pesado silêncio documental até ao início do século XX.
O Cancioneiro do Sado é uma prova de que a produção de cantigas e poesia não cessou
ao longo dos séculos seguintes, contudo ainda falta efectuar muita investigação nesta área.
2 GARCIA, M Moreno e PIMENTA, C., 2006. Música através dos ossos?... Proposta para o reconhecimento de instrumentos musicais no Al-Andalus. In Actas Al-Andalus Espaço de Mudança. Balanço de 25 anos de História e Arqueologia Medievais. Mértola, páginas 226 a 239.
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Não pretendemos efectuar o estudo crítico do Cancioneiro do Sado nesta primeira
abordagem e nem queremos dar um contributo para o estudo historiográfico de Alcácer nos
inícios do século XX.
O nosso objectivo é unicamente chamar a atenção para um património documental
muito interessante para o estudo da nossa história local.
Pormenor da “Folha agrícola nº 28” efectuada em 1893.
Instituto Geográfico Português, licença de utilização 312/06.
Nesta abordagem preliminar, o que é que podemos extrair deste cancioneiro?
Para o efeito, definimos uma metodologia de análise.
Após a recolha das canções no Jornal Pedro Nunes, estas foram inseridas num conjunto
de itens de carácter temático, e os resultados numéricos obtidos foram os seguintes:
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Amor e Casamento – 89 Cantigas
Graça e Malícia – 13 cantigas
Família e Sociedade – 9 Cantigas
Escárnio e Maldizer – 8 cantigas
Sabedoria – 8 cantigas
Indeterminado – 7 cantigas
Religião e Moralidade – 6 cantigas
A Mulher – 4 Cantigas
Modos de Vida – 3 cantigas
Pobres e Ricos – 2 cantigas
Antes de tecermos alguns comentários, importa referir que as cantigas referem
claramente um contexto geográfico regional, de carácter rural que é identificado com o rio Sado.
Nota-se uma aparente ausência do meio urbano e a título de exemplo, Alcácer nunca é
referida ou quando é indirectamente, o local referido é o Santuário do Senhor dos Mártires.
Quando é referida uma estrutura urbana ela é sempre direccionada para as aldeias do
nosso concelho, como por exemplo Santa Catarina de Sítimos, Santa Susana, Vale de Guizo,
São Romão, Palma e Valle de Reis.
Numa análise preliminar, chegamos facilmente à conclusão que a esmagadora totalidade
das cantigas encontram-se inseridas no grupo temático definido como Amor e Casamento.
Apesar da aparente facilidade que nos deparamos para isolar este vasto conjunto de
cantigas, elas encerram dentro de si um conjunto interessante de subgrupos.
Uns dizem respeito a estratégias e rituais socialmente aceites para iniciar o namoro,
quase sempre a uma certa distância!
Outras revelam desencontros amorosos
Outros ciúmes e traições
Detectamos igualmente críticas às condutas dos progenitores, quase sempre o pai da
jovem, notando-se a ausência da figura materna.
Outro grupo interessante é o referente à mulher, que necessitava de um estudo mais
profundo.
Não faltam também referencias a uma critica social e de costumes, que por vezes
assumem uma postura de escárnio e maldizer.
Muito ficou por dizer, mas o nosso objectivo é por à disposição do leitor este tesouro
que foi nascendo nas margens do nosso Sado.
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O Cancioneiro do Sado: Jornal Pedro
Nunes, entre 1908 e 1911.
I – Amor e Casamento
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Jornal nº 92, de 26 de Abril de 1908
Podesse eu amor,
Viver no teu monte;
Conversas teria…
Contigo na fonte!
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Seriam p´ra nós
D´immensa alegria!
Comtigo na fonte…
Conversas teria!...
_________________________________________
Jornal nº 94, de 10 de Maio de 1908
Amor se não era
Do teu próprio gosto,
P´ra que me deixaste…
Beijar o teu rosto?!
Quando eu te osculei
Se tu não gostaste,
Beijar o teu rosto…
P´ra que me deixaste?!
_________________________________________
Jornal nº 95, de 17 de Maio de 1908
Se eu tivesse a dita
Que a guitarra tem.
Andava nos braços
Do meu lindo bem.
Gosando estaria
De tão doces laços,
De meu lindo bem
Andava nos braços.
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____________________________________
Jornal nº 96, de 24 de Maio de 1908
Amores ao longe
Não se podem ter,
Dão muito trabalho
Aquém os vae ver.
Embora caminhem
Por qualquer atalho!
A quem os vae vêr…
Dão muito trabalho.
__________________________________
Jornal nº 97, de 31 de Maio de 1908
Despreza-me amor,
Se o teu gosto é esse.
- Só fazes as coisas
A quem não merece!
Com tanto adejar
Vê lá onde poisas.
- A quem não merece
Só fazes as coisas!
______________________________________
Jornal nº 98, de 7 de Junho de 1908
Já lá vae a lima
Cá fica o limão.
-Fiquei sem a prenda
Do meu coração!...
Ainda não fiz
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D´amor encommenda.
- Do meu coração
Fiquei sem a prenda!...
_____________________________________
Jornal nº 99, de 15 de Junho de 1908
Amor se te fores
Leva-me também,
Em tua companha
Sempre eu ando bem!...
Embora só coma
Feijão e castanha,
Sempre eu ando bem
Em tua companha!...
______________________________________
Jornal nº 100, de 21 de Junho de 1908
O meu bem se foi,
Nem adeus me disse
Nunca tive penas
Que menos sentisse.
Como elle só gosta
De moças morenas,
Que menos sentisse
Nunca tive penas.
_____________________________________
Jornal nº 102, de 12 de Julho de 1908
Parece-me amor
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Que tu me dizias:
Logo me´screvias.
Caso te fizessem
Ir ao mel, à serra,
Logo me ´screvias
Em chegando à terra.
_______________________________________
Jornal nº 103, de 19 de Julho de 1908
Amor dá-me um ramo
Do teu mangerico,
São obrigações
Que a dever te fico.
Satisfaz-me tu
Minhas petições,
Que a dever te fico
Mil obrigações.
____________________________________
Jornal nº 104, de 26 de Julho de 1908
Andam os rapazes
Dizendo p´la rua:
- Aqui mora a minha,
ali mora a tua.
A minha da tua
Vem a ser visinha.
Ali mora a tua,
Aqui mora a minha.
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Jornal nº 106, de 9 de Agosto de 1908
Emquanto não tive
Comtigo contractos,
´Stragava de menos
Um par de sapatos.
Antes d´eu gosar
Teus lindos acenos,
Um par de sapatos
´Stragava de menos.
____________________________________
Jornal nº 110, de 6 de Setembro de 1908
O meu amor se foi
A´segunda feira,
Deixou-me saudades
P´r´a semana inteira.
Como foi sósinho
Ver outras herdades,
P´r´a semana inteira
Deixou-me saudades.
___________________________________________
Jornal nº 111, de 13 de Setembro de 1908
Senhor dos Martyres
Meu rico santinho,
Hei de convidal-o
Para meu padrinho.
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• 15
Quando me casar
Irei adoral-o,
Para meu padrinho
Hei de convidal-o
____________________________________________
Jornal nº 114, de 4 de Outubro de 1908
Pega na viola
Fal-a retinir,
Meu amor ´stá longe
Fal-o aqui vir.
´Stando em companhia
D´um beato monge
Fal-o aqui vir,
Meu amor´stá longe.
____________________________________________
Jornal nº 115, de 11 de Outubro de 1908
Quando eu não tinha
Desejava ter,
Uma hora no dia.
Meu bem p´ra te ver.
Agora já tenho
Com muita alegria,
Meu bem p´ra te ver
Uma hora no dia.
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Jornal nº 116 de 18 de Outubro de 1908
O meu lindo amor
Ficou d´aqui vir,
Deitou-se na cama
Deixou-se dormir.
Como qu´ria ser
Cantador de fama,
Deixou-se dormir
Deitou-se na cama.
____________________________________________
Jornal nº 118, de 1 de Novembro de 1908
Se o meu lindo amor
Viesse aqui ter,
Uma missa às almas
Mandava dizer.
P´ra ver o meu bem
Coberto de palmas,
Mandava dizer
Uma missa às almas.
_________________________________________
Jornal nº 119, de 8 de Novembro de 1908
Passas-me pela porta
Uma vez e outra,
E nada me dizes
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• 17
O´cara marota!
Eu sei que tu gosas
Momentos felizes
O´cara marota,
E nada me dizes!
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Jornal nº 122, de 29 de Novembro de 1908
Assenta-te amor
Conchega-te a mim,
N´esta cadeirinha
De pau d´alecrim.
Comtigo assentado
Me julgo rainha
De pau d´alecrim
N´esta cadeirinha.
____________________________________________
Jornal nº 123, de 6 de Dezembro de 1908
Assenta-te amor
Aqui a meu lado,
N´esta cadeirinha
De pau encarnado.
Não tenhas receio
Porque é muito minha,
De pau encarnado
Esta cadeirinha.
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• 18
__________________________________________
Jornal nº 125, de 20 de Dezembro de 1908
Vim eu de tão longe
P´ra te ver querida,
Por ti me arrisquei
A perder a vida.
Por muitos caminhos
P´rigosos andei.
A perder a vida
Por ti me arrisquei.
__________________________________________
Jornal nº 126, de 27 de Dezembro de 1908
A minha adorada
Já se foi deitar,
Não inha sapatos
Para vir dançar!
Trazia uns chinellos
Sem solas nem saltos!
Para vir dançar
Não tinha sapatos.
__________________________________________
Jornal nº 127, de 3 de Janeiro de 1909
Eu subi ao alto
A´meia ladeira,
P´ra ver o meu bem
Que andava na eira!
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• 19
Ainda depois
Subi mais alem,
Que andava na eira
P´ra ver o meu bem.
__________________________________________
Jornal nº 128, de 10 de Janeiro de 1909
O´meu qu´rido amor
Só tu, ninguèm mais,
Tiveste a dita,
D´ouvir os meus ais.
Alem de não teres
Figura bonita,
D´ouvir os meus ais
Tivestes a dita.
__________________________________________
Jornal nº 129, de 17 de Janeiro de 1909
O´meu lindo amor
Só tu, mais ninguém,
Me tira a paixão
Que a minh´alma tem.
De te ver meu bem
E´grande alegrão,
Que a minh´alma tem
E me tira a paixão.
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• 20
__________________________________________
Jornal nº 131, de 31 de Janeiro de 1909
Fui ao verde campo
P´ra ver um amigo,
Que encontro tão lindo
Eu tive comtigo.
Ao ver-te meu bem
Alegre e sorrindo,
Eu tive comtigo
Um encontro lindo.
__________________________________________
Jornal nº 132, de 7 de Fevereiro de 1909
Toma lá amor
Que te manda a prima,
Um lenço d´abraços
Com beijos em cima.
Acceita meu bem,
Envolve em teus laços,
Com beijos em cima
Um lenço d´abraços.
__________________________________________
Jornal nº 138, de 21 de Março de 1909
Conta-me o motivo
Da tua paixão,
Pode ser que eu traga
Remédio na mão.
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• 21
E´d´algum rival
Com certeza praga,
Remédio na mão
Pode ser que eu traga.
__________________________________________
Jornal nº 139, de 28 de Março de 1909
Amor não me´screvas,
Cartas em latim,
Que eu não as sei ler.
São paixões p´ra mim.
Se das mesmas cartas
Teimas em ´screver,
São paixões p´ra mim
Que eu não as sei ler.
__________________________________________
Jornal nº 145, de 9 de Maio de 1909
Amor não me escrevas
Que me mata mais,
Cartas são papeis
Lettras são signaes.
Pois já me aborrecem
Os seus aranzeis,
Lettras são signaes
Cartas são papeis.
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• 22
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Jornal nº 147, de 23 de Maio de 1909
Não vejo o meu bem
Senão ao domingo,
Em toda a semana
Em chorar me vingo.
Somente em pensar
Que elle me engana,
Em chorar me vingo
Em toda a semana.
__________________________________
Jornal nº 148, de 30 de Maio de 1909
Anda cá meu bem
Anda cá, vem ver,
Amorinhos novos
Qu´eu ´stou para ter!
Vê lá se me arranjas
Uma assorda d´ovos,
Qu´eu s´tou para ter
Amorinhos novos.
_____________________________________
Jornal nº 149, de 6 de Junho de 1909
O meu coração
A tudo se anima,
Recebe desfeitas
De quem mai estima
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• 23
Em tudo consente
Nunca tem suspeitas,
De quem mais estima
Recebe desfeitas.
______________________________________
Jornal nº 150, de 13 de Junho de 1909
O meu coração
Em tudo é valente,
Mesmo com ciúmes
Vive alegremente.
Da vida dos outros
Não toma os costumes,
Vive alegremente
Mesmo com ciúme.
_______________________________
Jornal nº 152, de 27 de Junho de 1909
Adeus oliveiras
Adeus olivaes,
Adeus meu amor
Para nunca mais.
Desculpem se fujo
Como desertor,
Para nunca mais…
Adeus meu amor.
O CANCIONEIRO DO SADO: Cantigas de raiz popular da Região de Alcácer do Sal, publicada no Jornal Pedro Nunes
Colecção - Elementos para a História do Município de Alcácer do Sal, nº 5 http://www.cm-
alcacerdosal.pt/PT/Actualidade/Publicacoes/Paginas/EstudosdoGabinetedeArqueologia.aspx
• 24
_______________________________
Jornal nº 153, de 4 de Julho de 1909
O meu lindo amor
Tem bonitas prendas,
Não gosta de vinho
Nem joga nas vendas.
Como elle não há
Tão bom rapazinho,
Não joga nas vendas,
Nem joga nas vendas.
_______________________________
Jornal nº 154, de 11 de Julho de 1909
O´moças não queiram
Amar o meu bem,
Elle ainda não foi
Leal a ninguém.
Pois alem de ter
Força como um boi,
Leal a ninguém
Elle ainda não foi.
_______________________________
Jornal nº 155, de 18 de Julho de 1909
Deixa-te estar rosa
Na tua roseira,
Para mal casada
Mais vale solteira.
O CANCIONEIRO DO SADO: Cantigas de raiz popular da Região de Alcácer do Sal, publicada no Jornal Pedro Nunes
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• 25
Para não viveres
Bem acompanhada,
Mais vale solteira
Que mal casada.
_______________________________
Jornal nº 158, de 8 de Agosto de 1909
O´ amor, amor,
O´amor vadio,
Já há tanto tempo
Que andas arredio.
Eu tenho soffrido
Muito contratempo,
E tu arredio
Já há tanto tempo.
_______________________________
Jornal nº 159, de 15 de Agosto de 1909
Triste coração
Alegra-te agora,
Aqui tens à vista
Um bem que te adora.
Se do meu amor
Tu andas na pista,
Um bem que te adora
Aqui tens à vista.
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• 26
_______________________________
Jornal nº 161, de 29 de Agosto de 1909
Adeus oliveiras
Adeus olivaes,
Adeus meu amor
Para nunca mais.
Eu sei que te faço
Com isso favor,
Para nunca mais
Adeus meu amor.
_______________________________
Jornal nº 162, de 5 de Setembro de 1909
Amor de viúvo
Amor bandoleiro,
Quanto mais não vale
Um rapaz solteiro.
Em amor p´ra velhos
Meu pae não me fale.
Um rapaz solteiro
Quanto mais não vale.
_______________________________
Jornal nº 163, de 12 de Setembro de 1909
Estás bem de preto
Senão fosse o dó,
Paciência amor
E´um anno só.
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• 27
Satisfaz o mundo
Que elle é impostor,
E´um anno só.
_______________________________
Jornal nº 164, de 19 de Setembro de 1909
Considera amor
Ao depois não digas:
- As mulheres são
Como as raparigas.
Se o amor não é
Sincera paixão,
Como as raparigas
As mulheres são.
_______________________________
Jornal nº 165, de 26 de Setembro de 1909
Eu hei de te amar
Eu hei de te querer,
Sem teu pae sonhar
Sem teu pae saber.
Sempre que poder
Te hei de falar,
Sem teu pae saber
Sem teu pae sonhar.
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• 28
_________________________________
Jornal nº 167, de 10 de Outubro de 1909
Amores, amores
Como eu tenho tido
«Agora já» não
Teem-me morrido.
Amores eu tive
Mais d´um quarteirão
Teem-me morrido
«Agora já» não.
___________________________________
Jornal nº 168, de 17 de Outubro de 1909
Vae-te embora amor,
Desculpa mandar-te…
Sabe Deus a pena
Que tenho em deixar-te.
Enormes castigos
O destino ordena,
«Que tenho em deixar-te»
«Sabe Deus a pena»
_______________________________________
Jornal nº 169, de 24 de Outubro de 1909
N´outro tempo amor
Que te não amava,
Lograva saude
Pouco me ralava.
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• 29
S´isto não é certo
Deus me ajude,
Pouco me ralava
Lograva saude.
___________________________________________
Jornal nº 176, de 17 de Dezembro de 1909
A tua abalada
Para mim foi boa,
Já cá ´stou virada
P´ra outra pessoa.
Nunca mais serei
Tua namorada,
P´ra outra pessoa
Já cá ´stou virada.
___________________________________________
Jornal nº 177, de 19 de Dezembro de 1909
Eu não sei mal
Que te tenho feito,
Para mim não tens
O olhar com geito!
Sempre carrancudo
P´ra meu lado vens,
E o olhar com geito
Para mim não tens!
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• 30
________________________________________
Jornal nº 181, de 16 de Janeiro de 1910
Adeus oliveiras
Adeus olivaes,
Adeus meu amor
Não vos vêjo mais.
Eu bem sei que morro
De paixão e dôr,
Não vos vêjo mais
Adeus meu amor!
________________________________________
Jornal nº 182, de 23 de Janeiro de 1910
A paixão d´amores
Mata muita gente,
A mim não me mata
Andando eu doente.
Só o que faz falta
A morte arrebata,
Andando eu doente
A mim não me mata.
_______________________________________
Jornal nº 183, de 30 de Janeiro de 1910
Se a morte viesse
E ella me levasse,
Não tinha ninguém
Que por mim chorasse.
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• 31
A não seres tu
Oh! Meu lindo bem,
Que por mim chorasse
Não tinha ninguém.
__________________________________
Jornal nº 185, de 13 de Fevereiro de 1910
O´meu lindo amor
Despacha, despacha,
Não te posso vêr
De cabeça baixa.
A tua attitude
Me faz esmor´cer,
De cabeça baixa
Não te posso vêr.
________________________________________
Jornal nº 186, de 20 de Fevereiro de 1910
Se tu me não amas
Maria meu bem,
Vou assentar praça
Não olho a ninguem.
Sendo tu a causa
Da minha desgraça,
Não olho a ninguem
Vou assentar praça.
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• 32
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Jornal nº 187, de 27 de Fevereiro de 1910
Tens os olhos pretos Como o cezirão,
Namora-te agora
Bella occasião!...
Que lindo zaga!
Ao pé de ti móra,
Bella occasião
Namora-te agora!...
____________________________________
Jornal nº 188, de 6 de Março de 1910
Moças não se enlevem
Nos homens de c´rôa,
Pois é um peccado
Que Deus não perdoa…
Nem devem olhar
P´ra quem é prelado,
Que Deus não perdoa
Pois é um pecado.
____________________________________
Jornal nº 194, de 17 de Abril de 1910
Se quizeres saber
Pergunta meu bem,
O mar de fundura
Quantas braças tem.
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• 33
Como és curioso
Meu amor procura,
Quantas braças tem
O mar de fundura.
_______________________________________
Jornal nº 195, de 24 de Abril de 1910
Vae-te embora amor
Desculpa mandar-te,
Só Deus sabe a pena
Que eu tenho em deixar-te!
Um vilão maldito
A tal nos condemna.
Que eu tenho em deixar-te
Só Deus sabe a pena1…
_____________________________________
Jornal nº 196, de 1 de Maio de 1910
Eu não venho aqui
P´ra ganhar a palma.
Vim só p´ra te vêr
Amor da minh´alma!
Há quem se admire
D´eu aqui vir ter.
Amor da minh´alma
Vim só p´ra te vêr!
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• 34
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Jornal nº 197, de 8 de Maio de 1910
Já não tenho amores
Já não tenho nada,
P´ra mim se acabou
Tudo de pancada.
´Té já como os velhos
A um canto estou,
Tudo de pancada
P´ra mim se acabou.
_________________________________________
Jornal nº 198, de 15 de Maio de 1910
Amor se te fores
Has de me levar,
Na tua companha
E´que quero andar.
Só porque te tenho
Affeição tamanha,
E´que quero andar
Na tua companha.
_______________________________________
Jornal nº 199, de 22de Maio de 1910
Meu bem se te fôres
Leva-me tambem,
Em tua companha
Eu vou muito bem.
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• 35
Embora me leves
Para terra extranha,
Eu vou muito bem
Em tua companha.
__________________________________________
Jornal nº 203, de 19 de Junho de 1910
Não tenho alegria
Se não em te vendo,
Cada vez mais lindo
Me estás parecedo.
Para mim amor
E´s sempre bemvindo,
Me estás parecendo
Cada vez mais lindo.
_________________________________________
Jornal nº 205, de 3 de Julho de 1910
Quando eu não tinha
Contractos comtigo,
Vivia contente
E livre de p´rigo…
Andava bem visto
Pela fina gente,
E livre de p´rigo
Vivia contente.
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• 36
_________________________________________
Jornal nº 207, de 17 de Julho de 1910
Meu bem anda triste
Anda imaginario,
Eu bem o conheço
Pelo seu duario.
Parece-me que eu
Tambem lhe aborreço
Pelo seu duario
Eu bem o conheço.
________________________________
Jornal nº 208, de 24 de Julho de 1910
Amores, amores,
Como eu tenho tido,
Se agora os não tenho
Teem-me morrido.
Por lindos amores
Sempre eu fiz empenho,
Teem-me morrido
Se agora os não tenho.
______________________________________
Jornal nº 210, de 7 de Agosto de 1910
Não chores amor
Que eu não vou morrer,
Dá graças a Deus
Qu´inda me has de vêr.
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• 37
Vou servir o rei
Por peccados meus,
Qu´inda me has de vêr
Dá graças a Deus.
____________________________________________
Jornal nº 211, de 14 de Agosto de 1910
Não chores amor
Que a desgraça é minha,
Isto são dois annos
Que eu sirvo a rainha.
Obrigam-me a ir
Servir os tyrannos,
Que eu sirvo a rainha
Isto são dois annos.
_____________________________________
Jornal nº 213, de 28 de Agosto de 1910
Se eu quizesse amores
Tinha mais d´um moio,
Se tenho só um
E´trigo sem joio.
E não desejando
De ter mais nenhum,
E´trigo sem joio
Se tenho só um.
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• 38
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Jornal nº 214, de 4 de Setembro de 1910
Se eu quizesse amores
Tinha mais d´um cento,
E´pão bolorento.
Até já com elle
Me não entretenho,
E´pão bolorento
Esse qu´inda tenho.
___________________________________________
Jornal nº 215, de 11 de Setembro de 1910
Lindo amor eu tenho
Sezões a morrer,
Suppõe o valor
Que eu poderei ter.
Sem te vêr meu bem
Soffro tanta dôr,
Que eu poderei ter
Suppõe o valor.
________________________________________________
Jornal nº 216, de 18 de Setembro de 1910
O´juizo vario
Vareia, vareia.
Não posso ser firme
A quem me falseia.
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Colecção - Elementos para a História do Município de Alcácer do Sal, nº 5 http://www.cm-
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• 39
Se amar quem é falso
E´um grande crime,
A quem me falseia
Não posso ser firme.
______________________________________________
Jornal nº 222, de 30 de Outubro de 1910
O´rosa não queiras
Viver nos quintaes,
Aqui no meu peito
´Inda brilhas mais.
Para me tornares
Um rapaz perfeito,
´Inda brilhas mais
Aqui no meu peito.
_________________________________________
Jornal nº 224, de 13 de Novembro de 1910
A paixão d´amores
Não mata mas moe,
O meu coração
De leal se doe.
Porque espero amor
A nossa união,
De leal se doe
O meu coração.
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• 40
___________________________________________
Jornal nº 226, de 27 de Novembro de 1910
Anda meu amor
Anda vem dançar,
Inda é muito cedo
Para te ires deitar.
Vem dançar commigo
E não tenhas medo,
Que p´ra te ires deitar
Inda é muito cedo.
___________________________________________
Jornal nº 227, de 4 de Dezembro de 1910
O´olhos azues
Que já foram meus,
Agora são d´outros
Paciencia, adeus.
Olhos que parecem
De fogazes pôtros,
Paciencia, adeus,
Agora são d´outros.
_______________________________________
Jornal nº 229, de 18 de Dezembro de 1910
O meu bem me disse
Hontem no jardim,
Querida adorada
Não chores por mim.
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• 41
Forçam-me fazer
Tamanha jornada,
Não chores por mim
Querida adorada.
_____________________________________________
Jornal nº 230, de 25 de Dezembro de 1910
Tenho cinco amores
Contigo são seis,
Tenho quatro em Palma
Dois em Valle dos Reis.
Com tantos amores
Se expande minh´alma,
Dois em Valle dos Reis
E quatro em Palma.
______________________________________
Jornal nº 232, de 8 de Janeiro de 1911
Venho de tão longe
P´ra te ouvir cantar,
Essa tua fala
Me foram gabar.
E porque o teu canto
A todos regala,
Me foram gabar
Essa tua fala.
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• 42
________________________________________
Jornal nº 235, de 29 de Janeiro de 1911
O meu bem é lindo
Não pode ser mais,
Só basta não ter
No rosto signaes.
E p´ra sua cara
Mais bonita ser,
No rosto signaes
Só basta não ter.
_____________________________________
Jornal nº 238, de 19 de Fevereiro de 1911
Querida Maria
O teu pae é meu,
Minha mºae é tua
Teu amor sou eu
Pois que nos casamos
Em noite de lua,
Teu amor sou eu
Minha mãe é tua.
_________________________________________
Jornal nº 239, de 26 de Fevereiro de 1911
Amor se não era
Da tua vontade,
Para eu me deste
Tanta liberdade.
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• 43
P´ra que me censuras
Se assim o quizeste;
Tanta liberdade
Para que me deste?
_________________________________________
Jornal nº 240, de 5 de Março de 1911
O´meu lindo amor
Despacha, despacha,
Não te posso vêr
De cbeça baixa.
Pois tal posição
Faz aborrecer,
De cabeça baixa
Não te posso vêr.
__________________________________________
Jornal nº 241, de 12 de Março de 1911
O´meu lindo amor
Despacha que é tempo,
Eu não estou guardada
P´ra nenhum convento.
Se não fosses tu
Já estava casada,
P´ra nenhum convento
Eu não estou guardada
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• 44
II – Família e Sociedade
_______________________________________
Jornal nº 87, de 22 de Março de 1908
Maldito ferreiro
Que tem quanto quer;
Por já não ter ferro…
Malhou na mulher!
A pobre até treme!
Em lh´ouvindo um berro;
Malhou na mulher…
Por já não ter ferro.
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• 45
_______________________________________
Jornal nº 135, de 28 de Fevereiro de 1909
O meu pae não quer
Que eu fale comtigo,
Fazemos-lh´o gosto
Fala tu commigo.
E não há por isso
O menor desgosto,
Fala tu commigo
Fazemos-lh´o gosto.
_______________________________________
Jornal nº 140, de 4 de Abril de 1909
Minha q´rida mãe
Tudo sei fazer
Menos namorar
Eu hei de aprender.
O pouco que falta
P´ra poder casar
Eu hei de aprender
Menos namorar.
____________________________________
Jornal nº 142, de 18 de Abril de 1909
Menina de luto
Seu pae lhe morreu,
Já não vale tanto…
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• 46
Como já valeu!
Embora a menina
Se desfaça em pranto,
Como já valeu…
Já não vale tanto.
____________________________________
Jornal nº 144, de 2 de Maio de 1909
Assim não me custa
Subir a ladeira,
Somente receio
Que teu pae não queira.
Meu bem p´ra te ver
Descobri o meio,
Que o teu pae não queira
Somente receio.
____________________________________
Jornal nº 146, de 16 de Maio de 1909
Tenho ódio aos paes
Da minha adorada,
Pois me dão a filha
Por mal empregada.
Malditos que lêem
P´la mesma cartilha.
Por mal empregada
Não lhes quero a filha.
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• 47
________________________________________
Jornal nº 191, de 27 de Março de 1910
Quem quizer vêr gente
Da côr do carvão,
Vá dar um passeio
Até S. Romão.
Vêja o nosso Sado
Não tenha arreceio,
Até S. Romão
Vá dar um passeio.
____________________________________
Jornal nº 202, de 12 de Junho de 1910
Tenho o coração
No peito afflicto,
E´de tanta coisa
Que me teem dito.
Se este passarinho
Já não cae em loisa,
Que me teem dito
E´de tanta coisa.
___________________________________________
Jornal nº 228, de 11 de Dezembro de 1910
Quem quizer ser homem
Vá p´r´as Amoreiras,
Que lá não se dormem
As noites inteiras.
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• 48
Vae p´ra lá meu bem
Apprende a ser homem,
As noites inteiras
Que lá não se dormem.
III – A Mulher
________________________________________
Jornal nº 124, de 13 de Dezembro de 1908
Minha querida mãe
Tudo sei fazer,
Menos namorar
Nem quero aprender!...
No rol dos honrados
Me vou collocar,
E tudo aprender
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• 49
Menos namorar.
________________________________________
Jornal nº 206, de 10 de Julho de 1910
Cautella Maria
Co´os teus palavrões,
Que a gente vê caras
Sem vêr corações!
Vê bem com quem falas,
Pois tu não reparas
Bem vêr corações
Que a gente vê caras?!
_______________________________________
Jornal nº 212, de 21 de Agosto de 1910
Eu não sei cantar
Nem armar cantigas,
Todos os meus enlevos
São as raparigas.
Quando ellas se enfeitam
Com cheirosos trevos,
São as raparigas…
Todos os meus enlevos.
________________________________________
Jornal nº 225, de 20 de Novembro de 1910
O´moças, ó moças
Cá da minha aldeia,
Não queiram andar
Commigo em garreira.
O CANCIONEIRO DO SADO: Cantigas de raiz popular da Região de Alcácer do Sal, publicada no Jornal Pedro Nunes
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Porque eu só assim
As posso estimar,
Commigo em garreira
Não queiram andar.
IV – Modos de Vida
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Jornal nº 86, de 15 de Março de 1908
Ribeira do Sado,
Ella é toda minha,
Do Porto d´El Rei…
´Te à Barrozinha!
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Tem lindas herdades!
São minhas por lei.,
`Te à Barrozinha…
Do Porto d´El Rei.
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Jornal nº 218, de 2 de Outubro de 1910
E´um gosto ouvir
Nas manhãs d´Abril,
Chiar os carrinhos
De Banagazil (1)
Há quem se aborreça
D´ouvir p´los caminhos,
De Banagazil
Chiar os carrinhos.
(1) Grande herdade na margem sul, do alto Sado, da qual teem fama os seus grandes palheiros e
a chiada dos seus carros.
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Jornal nº 219, de 9 de Outubro de 1910
Já não há quem queira
Ganhar um vintem,
Ir à outra banda
Chamar o meu bem.
Esse que quer vae
E o que não quer manda,
Chamar o meu bem
Ir á outra banda.
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V – Pobres e Ricos
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Jornal nº 107, de 16 de Agosto de 1908
Se algum dia fores
A ´salvada à missa,
Emprega os teus olhos
N´uma campaniça.
Se quer´s que te tenham
Amisade, aos molhos,
N´uma campaniça
Emprega os teus olhos.
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Jornal nº 189, de 13 de Março de 1910
Dizem que não há
Na terra «pardaes»,
De bico amarello
Cada vez há mais.
D´esses «passarinhos»
Ali p´r´o castello,
Cada vez há mais
De bico amarello.
VI – Religião e Moralidade
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Jornal nº 107, de 16 de Agosto de 1908
Lá em S. Mamede
Já se não diz missa,
Queimaram-se os santos
Que eram de cortiça!
Devastando o fogo
As c´roas e mantos,
Por serem de cortiça
Queimaram-se os santos.
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Jornal nº 108, de 23 de Agosto de 1908
Quem quizer fazer
Um ladrão bem feito,
Alevante a fala
Não puxe do peito.
Que as notas lhe saiam
Como por escala,
Não puxe do peito
Alevante a fala.
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Jornal nº 109, de 30 de Agosto de 1908
Lá em Valle de Guizo
Não se pode estar,
`Stá lá um prior
Que em todos quer dar.
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Já da freguezia
Se julga senhor,
E em todos quer dar
Tão bello prior.
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Jornal nº 190, de 20 de Março de 1910
Quem quizer ouvir
Cantar o grazina,
Vá domingo á missa
A Santa Cath´rina…
Levante-se cedo
Não tenha preguiça,
A Santa Cath´rina
Vá domingo á missa.
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Jornal nº 193, de 10 de Abril de 1910
Estes namorados
Agora de novo,
Querem pôr peneiras
Nos olhos do povo.
Para lhe não vêrem
As suas asneiras,
Nos olhos ao povo
Querem pôr peneiras.
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Jornal nº 220, de 16 de Outubro de 1910
Eu ouvi tocar
A campa no adro,
Abalei, fui vêr
Meu bem sepultado.
Com muito desgosto
E nenhum prazer,
Meu bem sepultado,
Abalei, fui vêr.
VII – Sabedoria
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Jornal nº 85, de 8 de Março de 1908
Ribeira do Sado
Verdura, verdura…
O que é bom acaba,
O que é mau atura!
De ter boas moças,
Tal gente se gaba.
O que é mau atura…
O que é bom acaba.
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Jornal nº 105, de 2 de Agosto de 1908
O´Elvas, ó Elvas,
Badajoz á vista.
Já não faz milagres
S. João Baptista.
Para quem navega
No porto de Sagres,
S. João Baptista
Já não faz milagres.
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Jornal nº 117, de 25 de Outubro de 1908
Cantador de fama
Deita-te a dormir,
Quem te cá mandou
Mais valia vir.
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A´s tuas cantigas
Valor nenhum dou,
Mais valia vir
Quem te cá mandou.
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Jornal nº 120, de 15 de Novembro de 1908
Mais vale um ganhão
Sem manta nem nada,
Que vale um «dandy»
De bota engraxada.
O´meu lindo amor
Pergunto-te a ti,
De bota engraxada
Que vale um «dandy»?
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Jornal nº 121, de 22 de Novembro de 1908
O´moças não queiram
Casar com ganhões, (1)
O seu ganho não chega
P´r´os nossos botões.
Até ao domingo
Nem vão p´ra a adega.
P´r´os nossos botões
O seu ganho não chega!
! – Creados de lavoura a quem os lavradores do Sado não chegam a pagar 200 réis por dia!...
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Jornal nº 175, de 5 de Dezembro de 1909
Ainda que cuide
De levar pancadas,
Eu hei de seguir
As tuas passadas…
Embora p´ra longe
Tu queiras partir,
As tuas passadas
Eu hei de seguir!
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Jornal nº 180, de 9 de Janeiro de 1910
Oliveira secca
Quem tevarejou?
Nem uma raminha
Sequer te deixou.
Para te despir
A gente damninha,
Sequer te deixou
Nem uma raminha.
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Jornal nº 221, de 23 de Outubro de 1910
Se te dei palavra
Agora não quero,
Palavras não são
Correntes de ferro.
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Se a palavra d´honra
Tem acceitação,
Correntes de ferro
Palavras não são.
VIII – Escárnio e Maldizer
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Jornal nº 90 de 12 de Abril de 1908
Lá em Val de Guizo
Navegam bateis;
As moças do Sado…
Não valem dez reis!
Todas ellas teem
Calcanhar rachado!
Não valem dez reis…
As moças do Sado!....
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Jornal nº 91 de 19 de Abril de 1908
As moças do Sado
Ajuntam-se às dez!
Derrubam a lenha…
Co´as unhas dos pés!...
P´ara dentro dos mattos…
Se alguma se embrenha,
Co´as unhas dos pés…
Derrubam a lenha!...
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Jornal nº 101, de 28 de Junho de 1908
O senhor dos Martyres
Lá da carvalheira,
É o pae dos pretos
D´aquela ribeira.
S´nhor João da Costa
Quem lh´o diz sou eu!...
Se elle é pae dos pretos…
Também elle é seu.
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Jornal nº 136, de 7 de Março de 1909.
A minha rival
E´um escarapão;
Tem nariz de bicha
Testa de Furão.
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Arrebita o rabo
Como a lagartixa,
Testa de furão,
E nariz de bicha.
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Jornal nº 137, de 14 de Março de 1909.
´Inda que meu pae
Na rua te ponha,
Amor finge ter
Cara sem vergonha.
Nunca dês ouvidos,
Ao que elle disser,
Cara sem vergonha
Amor finge ter.
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Jornal nº 156, de 25 de Julho de 1909
Já não há quem ouça
Cantar um ganhão,
Só lá na lavoura
Tanto á língua dão!
Julgam que a mulher
E´d´elles vassoura,
Tanto á língua dão
Só lá na lavoura!
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Jornal nº 160, de 22 de Agosto de 1909
Eu tenho-te dito
Tu tens ateimado,
Agora é que temos
O caldo entornado.
D´essas teimosas
O resto veremos,
O caldo entornado
Agora é que temos.
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Jornal nº 233, de 15 de Janeiro de 1911
Maria Paulina
Diz que canta bem,
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E´maior a fama
Que a fala que tem.
Não sei p´ra que gabam
Uma tal madama.
Que á fala que tem
E´maior a fama.
IX – Graça e Malícia
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Jornal nº 130, de 24 de Janeiro de 1909
Venho de tão longe
Patinhando poças,
Venho só à fama
De tão lindas moças.
Não disse nem digo
Quem aqui me chama,
De tão lindas moças
Venho só à fama.
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Jornal nº 133, de 14 de Fevereiro de 1909
Assim pequenina
Como um cascabulho,
Eu sou a que faço
Nos bailes barulho.
Quando o tocador
Não toca a compasso,
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Nos bailes barulho
Sou eu que o faço.
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Jornal nº 141, de 11 de Abril de 1909
Gosto de cantar
Com quem canta bem,
Gosto de ter graças
Com quem graças tem.
P´ra que acceites sejam
As minhas chalaças,
Com quem graças tem
Gosto de ter graças.
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Jornal nº 143, de 25 de Abril de 1909
DESCANTE
ELLE
O´minha menina
Viva descançada,
Da sua belleza
Não pretendo nada.
Se quer que lhe fale
Com toda a franqueza,
Não pretendo nada
Da sua belleza.
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ELLA
Nobre cavalheiro,
A minha belleza
Que o não enfeitiça
Eu tenho a certeza.
Até a menina
Que agora derriça,
Eu tenho a certeza
Que o não enfeitiça.
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Jornal nº 192, de 3 de Abril de 1910
Quem quizer ouvir
Cantar minha mana,
Vá vêr uma festa
A Santa Susana.
Quem santos adora
E attenção lhe presta,
A Santa Susana,
Vá vêr uma festa.
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Jornal nº 200, de 29 de Maio de 1910
Mana Claudina
Que tens que não cantas?
Onde estão senhoras
Não se adoram santas.
Muito embora ellas
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Sejam seductoras,
Não se adoram santas
Onde estão senhoras.
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Jornal nº 201, de 5 de Junho de 1910
Eu tenho-te dito
Tu tens teimado,
Agora é que temos
O caldo entornado.
Como há muitos annos
Que nos conhecemos,
O caldo ntornado
Agora é que temos.
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Jornal nº 217, de 25 de Setembro de 1910
O Anna, ó Anna,
Quem cahiu, cahiu,
Levanta-te ó Anna
Que ninguem te viu.
Pareces a ser
Muito leviana,
Que ninguem te viu
Levanta-te ó Anna.
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Jornal nº 223, de 6 de Novembro de 1910
Ateima teimoso
Tens bem que ateimar,
Tua teima ávante
Não has de levar.
Embora teimoso
E mito embirrante,
Não has de levar
Tua teima ávante.
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Jornal nº 231, de 1 de Janeiro de 1911
Gosto de cantar
Com quem canta bem,
Gosto de ter graças
Com quem graças tem.
Como me admittam
As minhas chalaças,
Com quem graças tem
Gosto de ter graças.
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Jornal nº 234, de 22 de Janeiro de 1911
O cantar quer hora
E o bailar maré,
Diga lá menina
Se isto assim não é.
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Sei que sempre foi
Boa dançarina,
Se isto assim não é
Diga lá menina.
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Jornal nº 236, de 5 de Fevereiro de 1911
Aquella menina
Do lenço encarnado,
Já me perguntou
Se eu era casado.
Não sei se a pequena
Commigo engraçou,
Se eu era casado
Já me perguntou.
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Jornal nº 237, de 12 de Fevereiro de 1911
Aquella menina
Do lencinho branco,
Já me perguntou
Se eu era do campo.
Que int´resse terá
De saber quem sou,
Se eu era do campo
Já me perguntou.
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X - Indeterminado
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Jornal nº 88, de 29 de Março de 1908
(referência à Feira Nova de Outubro)
Este é o «ladrão»
Que a «Ritta» cantava;
Lá na feira nova…
Ninguém lhe ganhava!
De boa cantora
Sempre ella deu prova;
Ninguém lhe ganhava…
Lá na feira nova!
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Jornal nº 89, de 5 de Abril de 1908
O Senhor dos Martyres,
Lá nos olivaes,
Senhora Sant´Anna…
No meio dos sapaes!
Tem seu lindo altar,
Bem feito à romana!
No meio dos sapaes…
Senhora a Sant´Anna!
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Jornal nº 113, de 27 de Setembro de 1908
Já não tenho pae,
Nem mãe, nem ninguém,
Sou um desgraçado
Que´este mundo tem!
NEM tenho parentes
Por quem seja olhado,
Qu´este mundo tem
Mais um desgraçado!
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Jornal nº 170, de 31 de Outubro de 1909
Oliveira secca
Quem te varejou,
Nem uma raminha
Sequer te deixou.
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Quem tão mal te fez
Foi alma damninha,
Sequer te deixou
Nem uma raminha.
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Jornal nº 173, de 21 de Novembro de 1909
Eu sou oliveira
Sou oliveirinha,
Creada e nascida
Na «Enxarraminha»
No Sado formoso
Passo minha vida,
Na «Enxarraminha»
Creada e nascida
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Jornal nº 174, de 28 de Novembro de 1909
Ateima teimoso
Tens bem que ateimar,
Eu sou ferro frio
Que é mau de dobrar.
Talvez não triumphes
N´este desafio,
Que é mau de dobrar.
Eu sou ferro frio.
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Jornal nº 179, de 1 de Janeiro de 1910
Ò morte tyranna
Porque me não levas?
Não tenho ninguem
Sou filho das hervas…
Se ella me levasse
P´ra mim era um bem,
Sou filho das ervas
Não tenho ninguem…