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ano oito | nº 46 | março / abril 2015 | R$ 10,00 AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE www.plurale.com.br FOTO DE LUCIANA TANCREDO – TUCANO-DO-BICO-VERDE NO PARQUE NACIONAL DA BOCAINA (RJ) ENTREVISTA EXCLUSIVA COM A MINISTRA DO MEIO AMBIENTE YUNUS E ARTIGOS INéDITOS BOCAINA, NAMíBIA, E PATAGôNIA

Plurale em Revista - Edição 46

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ano oito | nº 46 | março / abril 2015

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ano oito | nº 46 | março / abril 2015 | R$ 10,00 AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

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EntrEvista Exclusivacom a ministra domEio ambiEntE

Yunus E artigos inéditos

bocaina, namíbia, E Patagônia

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INVESTIR EM DUAS FÁBRICAS,DOIS CENTROS DE DISTRIBUIÇÃOE QUATRO UNIDADES DE NEGÓCIOFAZ PARTE DO NOSSO TRABALHO.O SORRISO NO ROSTODE MILHARES DE PESSOASÉ PARTE DA RECOMPENSA.

Sempre que vendemos um produto, transformamos a vida de alguém.Quando investimos em uma região, transformamos a vida de milhares de pessoas.Com a atuação de cada franqueado ou revendedor, aumentamos a nossacapilaridade e levamos beleza para diversas cidades espalhadas por todo o país. Transformar a vida das pessoas é a nossa maneira de continuar espalhando a beleza.

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INVESTIR EM DUAS FÁBRICAS,DOIS CENTROS DE DISTRIBUIÇÃOE QUATRO UNIDADES DE NEGÓCIOFAZ PARTE DO NOSSO TRABALHO.O SORRISO NO ROSTODE MILHARES DE PESSOASÉ PARTE DA RECOMPENSA.

Sempre que vendemos um produto, transformamos a vida de alguém.Quando investimos em uma região, transformamos a vida de milhares de pessoas.Com a atuação de cada franqueado ou revendedor, aumentamos a nossacapilaridade e levamos beleza para diversas cidades espalhadas por todo o país. Transformar a vida das pessoas é a nossa maneira de continuar espalhando a beleza.

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PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 20154

CINEMA VERDE Por Isabel CaPaverde

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ARquItEto quE REsgAtA o sAgRADo Por lou Fernandes 38

PAtAgôNIA Por danIlo vIvIan

50PELAs EMPREsAs Por Isabella ararIPe

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PRêMIo DE INoVAção EM sEguRos30

Hélio rocha, jornalista brasileiro é voluntário na namíbia, um dos países mais secos do planeta, no qual a busca pela água é questão de vida

a visita de camareiras da rede accor ao projeto de plantio de árvores na Serra da canastra, na nascente do rio São Francisco, em Minas

14.

8.

44.

a exuberância da natureza na Serra da Bocaina, na divisa entre o rio de Janeiro e São Paulo Por luCIana TanCredo

Conte xto

BAzAR étICo54.

entrevista exclusiva com a Ministra izabella teixeira, do Meio ambiente

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14 e 15 de julho de 2015Local de realização: Fecomercio – São Paulo/SP

Estão abertas as inscrições para o maior evento da área de RI e Mercado de Capitais da América Latina. As vagas são limitadas, faça já sua inscrição.

O maior encontro do mercado de capitais brasileiro e da América Latina, em Relações com Investidores, já tem data marcada: dias 14 e 15 de julho próximos. Uma vez mais a capital de São Paulo sediará o Encontro Nacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais, promovido conjuntamente entre a ABRASCA – Associação Brasileira das Companhias Abertas e o IBRI – Instituto Brasileiro de Relações com Investidores.

O 17º Encontro Nacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais é parte do calendário de eventos das principais companhias abertas, agentes reguladores, dirigentes de entidades, analistas e pro� ssionais de investimentos, bem como advogados, auditores e especialistas em relações com investidores de todo o Continente.

Como acontece todos os anos, representantes de companhias abertas, bolsas de valores, consultorias e instituições � nancieras deverão passar pelo evento, que reúne público superior a 700 pessoas em seus dois dias de realização.

Paralelamente aos painéis da programação o� cial, haverá uma exposição de serviços composta de estandes onde as empresas e instituições expõem seus produtos e serviços pra um público customizado, tornando-se também um oportuno ponto de encontro de todo o mercado.

Mais informações:(11) 3107.5557 - (11) 3106.1836www.encontroderi.com.br

REALIZAÇÃO:

PATROCINADOR DIAMANTE:

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ABRAPP, ABVCAP, AMEC, ANBIMA, ANCORD, ANEFAC, APIMEC NACIONAL, APIMEC SÃO PAULO, BRAIN, CODIM, FIPECAFI, IBEF, IBGC, IBRACON e IBRADEMP

PATROCINADORES PRATA:

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c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b rCartasquem faz

“Querida Sônia,Muito obrigada por teu carinho e atenção sempre!”maria Elena Pereira Johannpeter, Presidente (voluntária) da ong Parceiros voluntários, Porto alegre (rs), por e-mail

“A matéria sobre a reinvenção do CDI, de Elis Monteiro, assim como toda a Edição 45, está excelente. Agradecemos o carinho com que a equipe de Plurale em Revista sempre trata a nossa organização e o apoio para a divulgação de nossas iniciativas. Vocês também são grandes agentes de transformação da sociedade ajudando a divulgar e a incentivar projetos que fazem a diferença no mundo. Parabéns!”rodrigo baggio, presidente do cdi e membro da liderança ashoka, Washington (Eua), por e-mail

“Em nome do Instituto Entre Rodas & Batom, registramos nossos agradecimentos a Plurale em Revista e ao jornalista Nélson Tucci, pela excelente matéria sobre a nossa instituição. Ficamos honrados de fazer parte dessa impecável publicação, oportunidade ímpar de ver noticiada nossa missão e realizações sociais em uma publicação de altíssimo nível, credibilidade e respeitabilidade.Na

DiretoresSônia Araripe [email protected] [email protected]

Plurale em site:www.plurale.com.brPlurale em site no twitter e no facebook:

http://twitter.com/pluraleemsite

https://www.facebook.com/plurale

Comercial

[email protected]

ArteJurandir Santos e Julio baptista

FotografiaLuciana Tancredo e Eny Miranda (cia da Foto); Agência brasil e divulgação

Colaboradores nacionaisAna cecília Vidaurre, Isabel capaverde, Isabella Araripe, Lília Gianotti, nícia Ribas e Paulo Lima.

Colaboradores internacionaisAline Gatto boueri (buenos Aires),Ivna Maluly (bruxelas), Vivian Simonato (dublin), Wilberto Lima Jr.(boston)

Colaboraram nesta ediçãoAcervo da coleção brasiliana Fotos, Assessoriaa de comunicação do Mosaico bocaina de Áreas Protegidas, carolina Stanisci (1 Papo Reto), dal Marcondes (Envolverde), daniéle carazzai, danilo Vivian, Gabriela Kopko (Agência Saúde), Hélio Rocha, Lou Fernandes e Lúcia chayb (Eco 21).

oportunidade, aproveitamos para apresentar a Vossa Senhoria os protestos de estima e consideração.Atenciosamente,”adelino ozores, presidente do instituto Entre rodas & batom, são Paulo (sP), por e-mail

“Caro Nelson TucciAcompanho seu trabalho e agradeço pelo prazer de ler seus textos sempre tão claros e atuais. Acredito que nós, leitores, somos tão carentes de modelos de textos como os seus e eu não poderia deixar minha opinião sobre sua matéria “Instituto Entre Rodas e Batom” publicada na Revista Plurale. Adorei a forma que apresentou o excelente trabalho do instituto e também os dados que divulgou, demonstrando que a violência contra mulheres e pessoas vulneráveis é muito mais comum do que pensamos.”marlene galvão de Freitas, diretora executiva - aPaE sapucaí mirim (mg), por e-mail

“A edição 45 da Plurale traz artigos e matérias de leitura bem interessante e agradável, tais como: objetivos do desenvolvimento sustentável, questões sobre a arte de envelhecer e sobre a corrupção vista como um “câncer” antissocial. Igualmente interessante é o depoimento de Lou Fernandes – Indira Prem sobre as benesses da meditação feito por Sri Prem Baba. Vale também conferir os três estudos de caso que aprofundam o problema da escassez da água em nosso país. Como sempre, Plurale inovando e reunindo conhecimento de qualidade. Parabéns para Sonia Araripe e sua competente equipe de trabalho.”luiz guilherme dias, sócio da sabE, consultoria para o mercado de capitais, rio de Janeior (rJ), por e-mail

Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos certificados pelo FSc de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais.

Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202cEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932

Impressa com tinta à base de soja

Plurale é a uma publicaçãoda SA comunicação LtdacnPJ 04980792/0001-69Impressão: WalPrint

os artigos só poderão ser reprodu-zidos com autorização dos editores

© copyright Plurale em Revista

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EntrEvista com a ministra izabElla tEixEira, artigos inéditos, sErra da bocaina, Patagônia E muito mais

Tudo isso e muito mais. Nícia Ribas esteve na Serra da Canastra, onde nasce o Rio São Francisco com camareiras de hotéis do Grupo francês Accor que foram conhecer, in loco, o projeto de recuperação das matas ciliares. Deolinda Saraiva descortina o lirismo da musical Conservatória (RJ) e no Ba-zar Ético é apresentado o criativo trabalho de Mulheres da Reserva, do município de Silva Jardim (RJ).

Artigos inéditos – de Nélson Tucci, Patricia Almeida Ashley e Renato Manzano – reforçam esta edição com te-mas atuais como a questão da Educação, dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e o papel dos executivos nos recentes escândalos de empresas envolvidas em denúncias de corrupção.

A jornalista Lou Fernandes – Prem Indira conta como o arquiteto Carlos Solano procura resgatar o sagrado no que faz. Confira ainda as colunas tradicionais de Plurale, como Ecoturismo, por Isabella Araripe e Cinema verde, por Isabel Capaverde. Apresentamos ainda todos os detalhes da 5ª edi-ção do Prêmio Antonio Carlos de Almeida Braga de Inova-ção em Seguros, promovido pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg). Também esti-vemos acompanhando a visita do Prêmio Nobel Muhamad Yunus ao Rio de Janeiro. Tivemos o prazer de cobrir a sua palestra, fazer pergunta e entregar, em mãos, a nossa Plurale para o economista que fez fama ao criar o conceito de negó-cios sociais. Confira o que Yunus falou.

Boa leitura!

Por Sônia araripe, editora de Plurale

A cada edição de Plurale, temos procurado trazer aos leitores um leque amplo de temas relevantes. Neste número apresentamos o resumo de entre-vista exclusiva nossa e de colegas da Mídia Am-biental com a Ministra do Meio Ambiente, Iza-

bella Teixeira, em Brasília.Na entrevista, a Ministra conta sobre os desafios ocupan-

do o cargo também no segundo mandato da Presidente Dil-ma Rousseff, como Gestão de Recursos Hídricos, desmata-mento, conservação, parques nacionais, etc. Tivemos as companhias dos jornalistas Dal Marcondes (Envolverde), Lúcia Chayb (Eco 21) e da jovem ecologista Raquel Rosen-berg (Engajamundo). Na entrevista, Izabella Teixeira con-tou que havia chegado de mais uma visita à Serra da Bocaina. Local também de expedição da nossa Editora de Fotografia, Luciana Tancredo, que nos apresenta o Tucano-de-Bico--Verde que ilustra a capa desta edição e muito mais em um ensaio deslumbrante.

Da Mata Atlântica para a gelada Patagônia, Danilo Vi-vian nos apresenta as Torres del Paine, patrimônio nacional do Chile. Não é só. Temos ainda a viagem como voluntário do também jornalista Hélio Rocha para a distante e árida Namíbia, na África. Ele revela como a busca por água lá pode ser decisiva para a vida e a morte. Da Austrália outra realida-de: Marina Guedes esteve na bela exposição de Wil Aguiar e seus cliques de ondas incríveis.

Editorial

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nEWTon VIcToR MEyoHAS - PLuRALE

AScoM / MMA

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Entrevista

Izabella Teixeira,ministra do meio ambiente

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mantida pela

presidente dilma no

ministério do meio

ambiente, izabella

teixeira tem o

desafio de enfrentar

a crise hídrica,

preparar o país para

o acordo climático de

Paris e aliar turismo

e a preservação de

áreas de conservação

Por Sônia araripe (Plurale), Lúcia chayb (eco 21) e dal Marcondes (envolverde) * Fotos: MMa e agência Brasil

Desvinculada de partidos, a ministra Izabella Teixeira foi mantida no Ministério do Meio Ambiente na cota pes-soal da presidente Dilma

Roussef. Em um ano de muitos desafios ambientais internos, o Brasil tem ainda de enfrentar a renovação do acordo climático global, em dezembro, na COP 21 que será realizada em Paris, e ainda trabalhar para que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS), que deverão substi-tuir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) sejam realmente relevan-tes para apoiar a transformação do modelo econômico e de desenvolvimento, não apenas do Brasil, mas globalmente.

Em meio ao fogo cruzado na Praça dos Três Poderes o Ministério do Meio Am-biente procura estruturar uma ação basea-da em políticas públicas. Um dos princi-pais desafios será fazer com que o país se adapte a uma nova realidade hídrica, onde a escassez não é mais privilégio dos nor-destinos, mas pode atingir qualquer re-gião, impactando estilos de vida, modos de produção e modelos de gestão da água.

Izabella Teixeira recebeu em Brasília, no fim de março, os jornalistas/editores Sônia Araripe, de Plurale, Lúcia Chayb (ECO21) e Dal Marcondes, da Envol-verde, para uma conversa franca sobre os cenários ambientais que se formam no Brasil e no mundo. Confessou estar cansa-da, mas não pensou nem por um momen-to em recusar o desafio de ajudar o país a transpor esse momento delicado na área ambiental. Uma das principais priorida-

des é a transição para um novo modelo de gestão de águas que permita dar mais se-gurança às pessoas e às empresas. Uma amante da natureza, a ministra contou que tinha acabado de visitar a Serra da Bo-caina, na divisa entre os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, justamente destaque de capa nesta edição de Plurale. Brasilien-se de nascimento, carioca de coração, a ministra falou sobre a relevância de ter um projeto articulado de preservação e turis-mo. Confessou preocupação com as filas gigantescas para visitação de um dos prin-cipais pontos turísticos carioca, o Cristo Redentor no Parque Nacional da Tijuca. “Não é possível ter filas tão grandes no sol e chuva para subir até o Corcovado”, la-mentou. Aqui as principais partes desta entrevista que contou com a participação também da jovem Raquel Rosenberg, da ONG Engajamundo.

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Entrevista

Plurale/Envolverde/Eco21 – Quais sãos os seus grandes desafios nessa nova ges-tão?

– Ministra Izabella Teixeira - Nova? Eu estou fadigada (rs). Achei que eu tinha ter-minado o trabalho e, na verdade, estava pronta para ir embora. Até porque eu sou servidora pública e me aposento esse ano formalmente. Foi uma convocação da presi-denta e essa convocação tem dois lados. Pri-meiro, um reconhecimento do trabalho que foi feito, de organizar o Ministério porque o Ministério existe enquanto Ministério. E se existe significa envergadura política. Hoje é um Ministério com mais credibilidade nas conversas, no diálogo. Segundo, por um olhar para o futuro sobre desenvolvimento e o quê que o Ministério pode oferecer. Então, independentemente do contexto atual de início de governo, a presidenta dialoga com essas duas perspectivas. É obvio que do pon-to de vista da agenda tradicional tem que acabar com o desmatamento ilegal, e não é só na Amazônia. Hoje o desmatamento ile-gal na Amazônia é crime organizado segun-do a Polícia Federal. Então não é uma tarefa trivial. O desafio não é só acabar com o des-matamento. Se fechamos uma madeireira ilegal em menos de uma hora, não tem mais os empregos informais que estão ligados àquilo. Há um problema social, de inclusão econômica, de modelo de desenvolvimento da região que não dá pra fugir de uma voca-ção florestal e uma vocação de acesso a recur-sos genéticos que a região tem.

– Qual é a saída então? Porque visita-mos muito a região para reportagens e só se vê madeireiras.

– Ministra Izabella Teixeira - Primeiro, tem que acabar o desmatamento ilegal e tem que recuperar a floresta naquilo que há uma vocação de recuperação da floresta. Tem 22% do território desmatado da Amazônia em recuperação. O projeto TerraClass, feito pela Embrapa e pelo Inpe, faz isso. Recupe-ração é floresta secundária já, ou seja, a Ama-zônia tem 22% do seu território desmatado com a vocação de sumidouro, de captura de carbono. Em termos de área isso dá duas ve-zes e meia o que foi desmatado entre 2008 e 2012. Só para vocês terem uma ideia do que está em recuperação, a magnitude disso. Re-cuperar aquilo que foi desmatado de manei-ra inadequada, indevida, ilegal, e fazer retirar a pressão sobre a floresta em pé. Ou seja, é

preciso fazer uma recuperação de área degra-dada, terá que trabalhar degradação de pas-tagem no outro patamar, ou seja, criar uma interlocução política, influenciar um mode-lo de desenvolvimento em que recuperação de pastagem etc. Para será a base para que possamos vocacionar também a Amazônia para as concessões florestais da floresta nati-va. A produção de madeira ilegal na Amazô-nia hoje é em torno de 68% do mercado. Não tem concessão que sobreviva a um mer-cado ilegal dessa maneira porque o preço é lá em baixo. Não cria mercado. É preciso também criar as condições para você ter um mercado legal. Aí sim, pode-se falar de con-cessão florestal, de produção sustentável na Amazônia a partir de um olhar mais estrutu-rado da chamada agenda florestal nativa. Existe a agenda florestal plantada, que o Bra-

sil tem protagonismo em eucalipto, em pi-nus etc, e que no meu entendimento poderá e deverá ter protagonismo em outras espé-cies. A nossa capacidade de manejo está aí e o brasileiro pode ser extremamente competi-tivo com Finlândia, com Suécia etc. O Códi-go Florestal oferece a partir do Cadastro Am-biental Rural uma tremenda oportunidade para você plantar a floresta em uma lógica de negócios e de recuperação. Uma coisa é plan-tar uma floresta de APP, daquilo que é uso restrito ou uso exclusivo de proteção para serviços ambientais, e outra coisa é você oti-mizar o manejo das reservas legais.

– O cadastro está avançando? – Ministra Izabella Teixeira – Está

avançando. Nós temos o desafio de chegar em cerca de 329 milhões de hectares. Lem-brando que o cadastro é competência dos estados e municípios. Nós tivemos que fazer um sistema, a presidente criou o Sicar para apoiar os estados e municípios. Para vocês terem ideia, quando nós começamos tínha-mos 11 estados que queriam o cadastro. Hoje (em março) só seis tem cadastro pró-prio, os outros migraram para o nosso ca-dastro. Estamos continuando a comprar todas as imagens de satélite. A maior com-pra de imagem de satélite no mundo é o Brasil que faz.

– Tem desafios em relação ao cadastro. – Ministra Izabella Teixeira – Tem. Fi-

zemos a primeira reunião da história de Se-cretário de Meio Ambiente com Secretário de Agricultura, foi há três semanas. Eu e a ministra Kátia Abreu fizemos essa reunião. Nunca eles tinham sentado junto. Obvia-mente o Meio Ambiente vai trabalhar junto com a Agricultura e vice-e-versa, ou então

“o Brasil precisa compreender que a água é um recurso escasso. enquanto a seca era no nordeste a mídia não tinha muito interesse em fazer disso uma pauta nacional. Mas agora que a escassez atingiu o Sudeste a grita se tornou generalizada.”

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não faz Cadastro, não faz Código Florestal, não faz nada. Ou seja, essa situação polari-zada é burra para Agenda de Desenvolvi-mento do País. As disputas políticas mos-tram que você precisa ir avante. O povo não quer viver de problemas, ele quer soluções. Uma agenda ambiental que vive de proble-mas não se imporá como uma agenda que ajuda a construir os novos modelos de de-senvolvimento, que é o sonho de todo mundo. Todo mundo deseja influenciar o desenvolvimento. Ou se entra, e obviamen-te quando se entra em negociação você ga-nha muita coisa, mas também perde muita coisa. Terá que entender a dinâmica de ter-ritório. A dinâmica da Amazônia não é a dinâmica do Sul do País. As pessoas que colonizaram o Sul do País há 100 anos, com agricultura, com a migração da década de 30, década de 40, 50, 60, 70 anos atrás, elas tem direito de ter suas propriedades como fizeram uso. Elas não declararam o fim do mundo por causa disso. E, de repente, tinha um quadro de 90% da agricultura brasileira na ilegalidade. Eu não tenho interesse em chamar todo mundo de criminoso ambien-tal. Tenho interesse de chamar todo mundo de produtor sustentável. Falar que o Brasil produz alimentos de madeira sustentável, protegendo águas e nascentes, se benefician-do dos serviços ambientais, incrementando a sua produtividade a partir da sua riqueza da biodiversidade, e não ‘vilanizar’. Obvia-mente aqueles que descumprem a lei, pau neles. A lei tem que ter mecanismo para pu-nir e excluir se necessário. Então, o Cadas-tro acaba trazendo uma realidade que foge do achismo ambiental - acho isso, acho aquilo. O que vai dar o dado de realidade é o Cadastro Ambiental Rural. E nós teremos que fazer uso disso, para o bem e para o mal.

– De que maneira o Ministério do Meio Ambiente pretende tratar o tema da escas-sez hídrica?

– Ministra Izabella Teixeira – O Brasil precisa compreender que a água é um recur-so escasso. Enquanto a seca era no Nordeste a mídia não tinha muito interesse em fazer disso uma pauta nacional. Mas agora que a escassez atingiu o Sudeste a grita se tornou generalizada. Precisamos de estudos e pes-quisas para entender mais claramente os motivos da seca, não basta simplesmente afirmar que é causada pelas Mudanças Cli-máticas. Estamos no terceiro ano de seca e

“como é que a gente pega um parque de 100 mil hectares de Mata atlântica absolutamente fantástico, que desce para dentro, que pega o mar, ligando São Paulo e rio de Janeiro, e abre esse parque? em quais condições? como se debate isso?”

poderemos ter um quarto e quinto. Os me-teorologistas acreditam que estes ciclos são de quatro a cinco anos. O MMA monitora o stress hídrico do Sudeste há bastante tem-po e estive com o governador Geraldo Alck-min um ano atrás para conversar sobre a necessidade de ampliar as estruturas de pre-servação de água. Nossa preocupação é basi-camente com a grande quantidade de pes-soas que dependem dos sistemas hídricos de São Paulo, que vai muito além da capital, com o Vale do Paraíba e o Rio de Janeiro sendo diretamente afetados. Uma das ne-cessidades que apontamos, juntamente com a Agência Nacional de Águas (ANA) foi em relação à Sabesp, que precisaria de uma atenção redobrada do governo do Estado.

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– Essa escassez não foi uma surpresa para os gestores de recursos hídricos?

– Ministra Izabella Teixeira – Não, graças aos diálogos entre a ANA e os gesto-res do Estado foi levantada a hipótese de se utilizar o “volume morto” do sistema Can-tareira. O governador teve, então, tempo para investir nas obras necessárias para ex-plorar essa reserva adicional. A lógica da Agência Nacional de Água é manter o máxi-mo de reserva possível, preservando os ma-nanciais e reservatórios, mesmo que a situa-ção não esteja crítica. São Paulo trabalhou com o cenário de chuvas no final do ano, que foram muito frustrantes. As chuvas de fevereiro foram melhores. As obras de inter-ligação de represas, que incluem a Guarapi-ranga e a Billings, podem ajudar a melhorar o nível de acesso à água estocada e diminuir a pressão sobre o sistema Cantareira.

– Mesmo com as grandes obras, há que se entender que o cenário de escassez é crônico, não?

– Ministra Izabella Teixeira – Sim, o problema é crônico. Não se trata de uma simples crise, que será superada, e tudo vol-ta a ser como antes. A menor quantidade de chuvas da história na região Sudeste passa a ser a série de 2014, e não mais 1953, que detinha o recorde anterior. E janeiro deste ano choveu abaixo de 2014. Fevereiro não. Estamos monitorando o Paraíba do Sul e alertando o Rio de Janeiro que é necessário estabelecer mais eficiência na alocação das águas. A cidade do Rio d Janeiro necessita de 50 metros cúbicos por segundo, está re-cebendo 110, no entanto não consegue su-prir todas as suas necessidades de uso. O sistema de distribuição é ineficiente. A ANA está reorganizando a oferta para ofere-

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Entrevista

“não é fácil abrir um Parque nacional porque quando se coloca uma pessoa dentro de um território de domínio da união. eu passo ser responsável pelo que acontece com aquela pessoa dentro daquela área. do ponto de vista jurídico, é preciso de tudo muito organizado”

cer 70 m³/s, o governo do Rio está resistin-do. Há três tipos de ineficiência do sistema, a primeira, do próprio Guandu, que ainda opera por gravidade, sem um sistema de bombeamento. É preciso fazer uma obra que está planejada há 20 anos, mas não foi feita, depois muita água ainda é utilizada para diluir esgotos, e, quando chegamos no Baixo Paraíba, a intrusão de água do mar, salina, que torna a água inservível para o tra-tamento convencional. Estamos conversan-

do com representantes de diversos países que enfrentam escassez crônica de água para aprender, desenvolver tecnologias e mode-los de gestão capazes de enfrentar esse novo cenário no Sudeste e também ajudar a resol-ver a seca no Nordeste. Entre nossos interlo-cutores estão representantes dos governos do Japão, Cingapura, Espanha, Israel, Esta-dos Unidos, Uruguai …Algumas destas empresas já até atuam em nosso país.

– A atual escassez não tem nada a ver mesmo com mudanças do clima, ou é só porque é muito difícil de comprovar?

– Ministra Izabella Teixeira – Real-mente é muito difícil de comprovar, temos fenômenos de falta de chuva que afetam o país de quando em quando. Houve perío-dos secos nos anos 1950, 1980 e agora. Nos casos anteriores, quando choveu as autori-dades abandonaram os planos de investi-mentos para essas contingências. Temos ilhas de calor e diversos sinais de mudanças no clima, mas não é possível afirmar com certeza que essas secas pontuais sejam de fato oriundas das mudanças climáticas. O Painel Intergovernamental Para as Mudan-ças Climáticas (IPCC) vai continuar estu-dando e compondo séries históricas, mas mudanças climáticas são medidas em déca-das e séculos e não em anos. Vamos conti-nuar a apoiar os pesquisadores, a ciência, a buscar respostas, mas vamos também tomar providências para mitigar os impactos da escassez hídrica.

– E qual a sua visão sobre áreas protegi-das e turismo? Este é um debate muito presente.

– Ministra Izabella Teixeira – A dis-cussão quando se quer tratar de áreas pro-tegidas, que seja visível, é preciso dialogar sobre a qualidade de vida e bem-estar das pessoas; é necessário ter estrutura de turis-mo, que não seja só nos atrativos turísticos; tenho que dialogar com o negócio turístico como um todo. Isso não é trivial de ser fei-to. É preciso ter segurança jurídica para os investimentos. Não é fácil abrir um Parque Nacional porque quando se coloca uma pessoa dentro de um território de domínio da União. Eu passo ser responsável pelo que acontece com aquela pessoa dentro da-quela área. Do ponto de vista jurídico, é preciso de tudo muito organizado.

– O que falta então?– Ministra Izabella Teixeira – Falta

uma melhor mobilização das pessoas de tra-tarem a questão de abertura de Unidades de Conservação com uma base real das possibi-lidades de fazê-la. Efetivamente, o que signi-fica abrir Unidade de Conservação? Vamos olhar o caso do Rio. O Parque da Tijuca tem uma vocação, e o Parque Estadual da Pedra Branca – que é três vezes maior que a Tijuca e tem floresta primária de Mata Atlântica, que é lindo e está sofrendo invasão – é outra realidade. Qual é a visão da Prefeitura do Rio para trabalhar conjuntamente com o Gover-no Estadual e Governo Federal e vice-e-ver-sa, para entregar à população aquelas áreas protegidas, essas duas joias da coroa? Não tem visão pactuada. Ou tem visão pactuada em torno de interessados, mas não necessa-riamente uma visão política construída em que você vai dialogar com o bem-estar.

– Explique um pouco melhor, por favor.– Ministra Izabella Teixeira – Quando

ocorreram as chuvas em São Paulo que co-meçaram a destruir com a inundação, a Fo-lha de S. Paulo começou a noticiar: São Paulo perde não sei quantas árvores. Eu pensei: é a primeira vez que eu vejo com indicador de degradação, de perda, de vul-nerabilidade, a perda de árvores. Isso signifi-ca dizer que o paulista cada vez mais valoriza suas áreas verdes. Se você mora em Vila Nova Conceição (área nobre na Zona Sul da capital paulista) uma das riquezas não é só o fato de ter casas, é também ter área ver-

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“o povo não quer viver de problemas, ele quer soluções. uma agenda ambiental que vive de problemas não se imporá como uma agenda que ajuda a construir os novos modelos de desenvolvimento, que é o sonho de todo mundo. todo mundo deseja influenciar o desenvolvimento.”

de, ter praças, um centro de convivência. Ou a área ambiental começa a discutir com esses prefeitos estrategicamente o papel da qualidade de vida das cidades, ou então você vai continuar reduzindo o desmata-mento da Amazônia sem dialogar com o cidadão comum no dia a dia. O prefeito do Rio fez o Parque Madureira. É um sucesso. Quando um visitante vai ao Jardim Botâni-co, ouve o silêncio. Por que isso não é voca-cionado no País? É claro que eu tenho que eu tenho parques naturais de 3,5 milhões de hectares, mas eu também tenho que tradu-zir esse verde no dia a dia de cada cidadão.

– Mas há muitas críticas sobre as con-cessões públicas....

– Ministra Izabella Teixeira – É fácil fazer a crítica porque não abre. Mas como é possível abrir sem plano de manejo, se não dou a base real para fazer as concessões pú-blicas com o caráter de segurança do que ele pode fazer. Nós tivemos que fazer os planos de manejo de unidades de conservação e em quatro anos nós fizemos 60. Os dois gover-nos do presidente Lula fizeram 58. Os dois governos do Fernando Henrique fizeram 22. E nós contratamos 111 e vamos entregar a diferença este ano. Agora eu tenho revisão de plano de manejo…. tem plano de mane-jo que diz o seguinte: só pode andar no par-que com sandália havaianas! Juro! Está escri-to. Isso não é regra de plano de manejo. Plano de manejo tem que dar as diretrizes de uso, tem que dizer da zona intangível, da zona primitiva do parque, onde você não entra, qual é a pesquisa que você quer ali, onde você entra, como você usa. O Parque da Bocaina tem uma demanda e o de Itatiaia tem outra. Fui na Bocaina porque decidi-mos fazer este o parque símbolo desse mo-mento de nova abertura dos parques nacio-nais. O Rio de Janeiro, acreditamos que a partir de 2016 nasce uma nova cidade, vem um novo apelo. Como é que a gente pega um parque de 100 mil hectares de Mata Atlântica absolutamente fantástico, que des-ce para dentro, que pega o mar, ligando São Paulo e Rio de Janeiro, e abre esse parque? Em quais condições? Como se debate isso? O que se quer de um turismo que nós já re-cuperamos, aquela parte das praias, ali em Trindade. Um trabalho feito pelo Instituto Chico Mendes de fechar, remover, junto com o Ministério Público. A gente quer transformar aquilo em uma referência. Ago-

ra tem que entender o que é referência. Subi o parque e resolvi dormir lá em cima e no outro dia fui até Cunha. Aí todo mundo olhou para mim.... Eu queria entender Cunha. Cunha é um município de 22 mil habitantes. Tive uma conversa ótima com vários pousadeiros, gente que faz turismo. Perguntei: como eu tomo um banho de água quente? Aí me falaram que era para aquecer a água no fogão à lenha. Eu fiz um sobrevoo de helicóptero, depois eu desci e subi tudo de carro. A cidade é bonitinha. Um polo de cerâmica, um polo da parte de joias, uma cidade bem arrumadinha. O que vai ser? A gente explode turismo ali ou a gente mantém as características daquele mu-nicípio e faz as pessoas ganharem dinheiro?

Qual é a vocação? O Parque é uma âncora do desenvolvimento local? Pode ser. Em que condições? Não é só chegar e falar abre......

– Aliás, essa questão de vocação tem que ser estudada no Brasil inteiro.

– Ministra Izabella Teixeira – Você terá que discutir isso com a sociedade, você terá que pactuar um projeto mínimo, você terá que trabalhar sim, no meu entendimento, Bocaina, como um parque âncora do desen-volvimento regional dali, que vai ter que dia-logar com as vocações específicas de Itatiaia porque é muito próximo. Se você pegar a Via Dutra, descendo Cunha, pega a Dutra …Itatiaia está a menos de 50km....Enfim, não adianta vir com pacote pronto. Não é assim. A decisão política de abrir os parques está to-mada. Quais são as questões essenciais? Como eu faço um turismo com qualidade e com retorno …com turismo científico tam-bém, com eu abro para pesquisa? Qual é o networking mínimo de cada unidade de conservação. E aí escolher o Rio de Janeiro porque tem o maior conjunto de Mata Atlântica, como você tem no sul de São Pau-lo e norte do Paraná, uma outra estrutura que terá que ser montada. É a mesma coisa se você for pegar a Pedra Azul, no Espírito San-to, que é belíssima também. Você pode com-binar várias situações e isso tem que estar em uma narrativa de abertura de parques, em não uma coisa dissociada do desenvolvimen-to regional, ou dissociada minimamente da interlocução daquela sociedade. Explodir Cunha, tirar o caboclo de Cunha…Preservar na fotografia antiga também não serve.

– Dal – Aqui no Brasil se tem a sensação que liberou e liberou geral.

– Ministra Izabella Teixeira – Não pode ser assim e também não pode ser trá-fico e não pode ser roda presa. E tem que qualificar os editais de concessão. Você tem que modelar para atrair a expertise in-ternacional para fazer PPP Parceria-Públi-co-Privada) no Brasil. Nós levamos quatro anos construindo modelos de PPP, com o Bando Interamericano (BID) junto. No caso de Bocaina é super interessante por-que é marinho-costeiro e serra com cacho-eiras fantásticas! Tem problema de caça, problema de invasão de limites, dialogar com aquele entorno; uma Paraty-Cunha passando no meio, etc.

(*) Com a participação de Raquel Rosenberg (Engajamundo)

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Serra da Bocaina: estado da arte

Partindo de são José do barreiro, no Estado de são Paulo, por uma estradinha cheia de curvas, para um lado e para o outro, subindo, subindo com vontade, chegamos

ao alto da serra da bocaina. de lá, na divi-sa entre os estados de são Paulo e rio de Janeiro, o olhar se perde nos tons de ver-de que vão mudando conforme a distância das ondulações, mais parece um mar ver-de do que realmente montanhas.o Parque nacional da serra da bocaina foi criado por decreto Federal em 1971, com uma área aproximada de 134 mil hectares e uma expressiva biodiversidade. Para quem não sabe, a definição do parque teve um objetivo estratégico: preparar

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E n s a i o TEXTO E DE FOTOS:

Luciana tancredo

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TEXTO E FOTOS DE

Luciana tancredo

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uma espécie de escudo natural, com vegetação nativa, nas escarpas da serra do mar, como proteção de um eventual  acidente nuclear  nas usinas de angra.Felizmente, a serra está intocada, sem precisar testar esta sua capacidade. E podemos apreciar, a natureza preservada com diversas espécies. como o tucano-do-bico-verde que ilustra a capa desta edição e tantos outros animais. no Parque nacional da bocaina, não se pode entrar de carro, só quem tem permissão especial concedida com certa antecedência. Então, os passeios têm mesmo que ser a pé.

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TEXTO E FOTOS DE

Luciana tancredo

Entrando na bocaina, a vegetação repleta de bromélias e orquídeas coloridas deslumbram o visitante, que depois de caminhar um pouco começa a apreciar a primeira das muitas cachoeiras da região, a imponente santo isidro, perfeita para um mergulho. um pouco mais para dentro, começam a aparecer os verdadeiros moradores da região - o macaco bugio e o tucano-do-bico-verde, mostram aos visitantes que a casa é deles. mais adiante, trilha adentro , chega-se nas cachoeiras das Posses, dos veados , da Palmeiras e muitas outras. E é por essa trilha que muitos fazem a chamada travessia do caminho do ouro, atravessando rios e caminhando mata adentro. nessa região, frequentada por muitos praticantes de voo-livre e parapente, pois existem duas rampas de salto por lá, são os que gostam de um bom trekking e de mergulhar nas águas geladas de uma cachoeira é que fazem a festa. Há diversas opções de pousadas na região. saiba mais sobre a serra no site oficial do icm-bio e procure dicas de pousadas e trilhas em sites que falam da região:

http://www.icmbio.gov.br/parnaserradabocaina/

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Diálogo

Buscando ampliar o conheci-mento e debater alternativas para a redução e solução de conflitos relacionados ao aces-so dos recursos da biodiversida-

de nos territórios tradicionais o Ministério Público Federal (MPF) em Angra dos Reis (RJ), a 6ª Câmara de Coordenação e Revi-são da Procuradoria Geral da República (PGR), o Fórum de Comunidades Tradi-cionais Indígenas, Quilombolas e Caiçaras de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba (FCT), o Mosaico Bocaina de Áreas Pro-tegidas, a Fundação Oswaldo Cruz (Fio-cruz) e a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), através do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS), realizaram entre 9 e 10 de abril o “Encontro de Justiça Socioam-biental da Bocaina - Territórios Tradicio-nais: Diálogos e Caminhos”, no Quilom-bo do Campinho, em Paraty.

Na abertura do evento foram realiza-das homenagens aos mestres Euzébio Hi-gino de Oliveira, caiçara da Praia Barra Seca em Ubatuba (SP), Marciana Parami-rim de Oliveira, pajé da Aldeia de Arapon-ga em Paraty (RJ) e o quilombola José Adriano da Silva do Quilombo Santa Rita do Bracuí, em Angra dos Reis (RJ). Apre-sentações culturais de Luís Perequê, o Co-ral Guarani Itaxi da Aldeia de Paraty Mi-rim, Jongo dos Quilombos do Bracuí e Campinho e a Folia do Divino Espírito Santo de Ubatuba (SP).

encontro de Justiça Socioambiental da Bocaina abre um novo espaço de diálogo entre comunidades tradicionais e unidades de conservação

O evento ainda contou com tradução simultânea para o guarani, por Julio Karai Xiju, liderança da TI Sapukai.

um novo caminho para o diálogo No Brasil, a gestão territorial e o con-

sequente estabelecimento de tensões e conflitos pelo uso do espaço são temas atu-ais. As Unidades de Conservação, as Terras Indígenas e os Territórios Quilombolas são considerados Áreas Protegidas pelo Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas (PNAP), que prevê estratégias para a ges-tão compartilhada. A Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), prevê que os governos tomem me-didas, com a participação dos povos afeta-dos, para proteger e preservar o meio am-biente dos territórios em que habitam.

Para o gestor da APA de Tamoios e membro da Coordenação Colegiada do Mosaico Bocaina, Vinicius Martuscelli Ra-mos, é possível compatibilizar o uso do ter-ritório com a preservação ambiental, respei-tando o Plano de Manejo da UC e os modos de vida tradicionais, “Os gestores são os atores da ponta, estão em contato di-reto com as comunidades, e devem mediar possíveis conflitos para garantir o fortaleci-mento da conservação ambiental das áreas protegidas e seu entorno, caminhando para a solução do uso das Comunidades Tradi-cionais nas Unidades de Conservação”.

Os conflitos gerados podem não ape-nas se configurar como resultado do pro-

cesso histórico e da sobreposição de áreas protegidas criadas, mas também como re-sultado da presença e das práticas de po-pulações tradicionais no interior de unida-des de conservação, sobretudo de proteção integral. O encontro demonstrou que é possível, e legalmente permitido, o uso compartilhado dos recursos naturais pelas comunidades com o objetivo da conserva-ção, principal objetivo de uma UC.

“É compatível a dupla afetação de Unidade de Conservação na Comunidade Tradicional, mas para isso é necessário di-álogo e bom senso. A divergência é cen-tral, mas é nesse caminho que a gente avança, mostrando que no conflito temos a oportunidade de corrigir erros do passa-do”, diz Ronaldo dos Santos, quilombola do Campinho e coordenador da Coorde-nação Nacional de Articulação das Comu-nidades Quilombolas (CONAQ).

O Encontro promoveu um novo es-paço de interação entre pesquisadores, re-presentantes das comunidades tradicio-nais, procuradores do Ministério Público Federal, gestores de Unidades de Conser-vação e órgãos ambientais, impulsionando os atores locais a pensar como unir a pre-servação ambiental com possibilidades de desenvolvimento social e comunidades das áreas preservadas.

“Sabemos que no Brasil, as áreas onde o meio ambiente resiste de maneira pre-servada são, em grande maioria espaços de convívio de comunidades tradicionais”, pontua Felipe Bogado, procurador do Mi-nistério Público Federal. Bogado destaca a importância de fazer com que a sociedade brasileira enxergue o trabalho desses povos e permita que eles tenham sua sociobiodi-versidade preservada.

No encerramento do evento foi produ-zida e validada em plenária a Carta do En-contro de Justiça Socioambiental da Bocai-na. Ela contém 13 itens que ressaltam a existência de marcos legais que garantem os direitos das comunidades tradicionais e a conservação das áreas protegidas, assim ampliando o diálogo e mantendo uma rela-ção entre UCs e comunidades tradicionais. Além disso, será formado grupo permanen-te, envolvendo todos os principais atores e coordenado pelo Ministério Público Fede-ral, para traçar uma estratégia para debru-çar sobre os casos concretos e temáticas es-pecíficas de cada situação, visando buscar maneiras efetivas de reduzir esses conflitos no território. A primeira reunião do grupo deve ocorrer até o mês de julho de 2015.

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da assessoria de comunicação do Mosaico Bocaina de Áreas Protegidas

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Renato Manzano

Artigo

PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 201520

A maioria das pessoas talvez não saiba e nem mesmo se lem-bre. Mas a autossuficiência proclamada pela grande em-presa de petróleo, em 2006,

nunca aconteceu. De lá para cá, pelo con-trário, o gasto com importações chegou próximo dos US$ 50 bilhões, abrindo um rombo imenso na balança comercial brasi-leira.

Em 2009, a gigante mineradora fez uma campanha publicitária impactante em nível nacional, declarando ser a pri-meira empresa do setor no mundo a “zerar seu footprint”. Não era verdade: os impac-tos gerados no Brasil e no mundo jamais foram zerados mesmo com a impressio-nante escala de plantio de árvores.

Há poucos anos, uma imensa rede de supermercados obteve matérias favoráveis em vários jornais, a partir de sua assessoria de imprensa, sobre sua política de qualida-de de vida dos colaboradores e chegou a ser dada como exemplo em uma revista de negócios. Pendurou cartazes imensos em todas as lojas. Neles se via a imagem de colaboradores felizes praticando ginástica laboral. A empresa ganhou um importan-te prêmio da área de RH com a iniciativa. Mas o programa era uma farsa. “Só para inglês ver, moço”, disse-me uma funcioná-ria que se queixava de dores nas costas, porque ficava sentada por muito tempo no caixa e só podia sair para ir ao banheiro com autorização expressa do supervisor. “Aqui a gente parece escravo”, confessou

O CEOMENTIu SOzINhO?

Em meio aos grandes escândalos e mentiras que assolam o mundo corporativo, muitos executivos e especialistas de comunicação Empresarial estão envolvidos até o pescoço e são os responsáveis por dar forma às escaramuças de seus superiores e à manipulação da opinião pública através da mídia.

seu sentimento. De fato, havia professores de educação física contratados e os alto--falantes, com estardalhaço, convidavam os clientes para se juntar aos colaboradores para a sessão de alongamento. Mas notei várias vezes que apenas meia dúzia deles participava. Era pura encenação. Os de-mais eram literalmente proibidos de dei-xar seus postos de trabalho pelos quinze minutos. “O supervisor não deixa”, expli-cou-me a moça inconformada. Depois soube: os cartazes foram produzidos pela agência de comunicação com modelos: nenhum empregado jamais foi retratado na campanha em uma situação real.

Em 2004, um tradicional conglome-rado de construção civil chegou a lançar um livro escrito por um renomado edu-

cador e consultor sobre o “pensamento empresarial, pedagógico e filosófico” de seu fundador que moldou o pensamento de toda a organização. A obra exaltava os princípios, valores, a transparência, as relações humanas e “uma nova visão de mundo”, baseada, sobretudo, na “cons-trução da confiança”. Com carinho, na ocasião, recebi o livro das mãos de um alto executivo da empresa e o li com res-peitosa atenção. Hoje, com tristeza, vejo que a marca se envolveu em um tremen-do escândalo de pagamento de propinas e outras graves irregularidades, com diri-gentes presos, processados... E isto me faz indagar: até que ponto essa emprei-teira realmente acredita no legado de seu fundador?

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as empresas mentem!A maioria dos que lerem este artigo

identificará essas empresas com facilidade. Eu poderia citá-las diretamente, sem re-ceio algum, mas não o faço por dois moti-vos. Primeiro porque seria injusto citá-las sem enumerar a imensa lista de verdadei-ras instituições empresariais, das quais de-veríamos nos orgulhar, que se envolveram em mentiras e falcatruas, gastando mi-lhões de reais em propaganda para con-vencer a população de que são empresas íntegras e confiáveis. Segundo, porque ci-tar esta ou aquela empresa pode passar a impressão de que esse é um problema res-trito a esta ou aquela marca institucional, o que está longe de ser verdade.

Infelizmente, ludibriar, passar por cima do código de ética institucional da própria organização, desrespeitar as leis e os direitos dos cidadãos, corromper e ma-nipular, não tem sido exclusividade de poucas empresas. O fato é que um núme-ro muito expressivo delas, de todos os ta-manhos e em todos os setores, adota uma “moral elástica” e a corrupção para garan-tir lucros e/ou vantagens sempre que pos-sível ou “necessário”. Resumindo, as em-presas mentem enquanto tentam vender uma imagem exemplar.

Que o diga o resultado do estudo de grande repercussão da professora Bethania Tanure, em 2012, feito com 330 represen-tantes de alto escalão das maiores empre-sas do Brasil, quase metade delas com fa-turamento superior a R$ 5 bilhões anuais, naquele ano. Segundo a pesquisa, 74% dos altos executivos admitem que o dis-curso de suas empresas é o oposto do que realmente acontece na prática. Ou seja, são presidentes, vice-presidentes e direto-res de mega empresas admitindo mentir,

principalmente em assuntos relacionados a governos, funcionários, fornecedores e parceiros. E mais: dão pouca importância à qualidade de vida de seus subordinados, privilegiam amigos em detrimento de fun-cionários melhor capacitados, entre outras mazelas apontadas no estudo.

Falcatruas com assessoria técnica da comunicação empresarial

A questão que se coloca aqui é a se-guinte: esses executivos não atuaram sozi-nhos. O fato comum a todas essas empre-sas é que elas se utilizaram de seu aparato comunicacional para “blindar” suas repu-tações, como se costuma dizer no jargão profissional. Essas empresas possuem pro-fissionais tecnicamente gabaritados, con-tratam institutos caros que se utilizam de pesquisas e metodologias de análise muito avançadas, além, é claro, de tecnologia de ponta. Tudo isso visa tanto a perscrutar a mente e os hábitos de seus públicos, quan-to a montar verdadeiros dossiês sobre po-líticos, ambientalistas, autoridades do ju-diciário etc. - o que é ilegal, quanto também para ocultar seus crimes e tentar criar uma imagem totalmente diferente diante da opinião pública. Nem que para isso tenham de gastar fortunas em campa-nhas publicitárias e manobras de relações públicas contratadas a peso de ouro.

Vejamos o que mostra uma pesquisa do Databerje realizada em 2009, com 282 res-pondentes entre as 1.000 maiores empresas listadas pelo “Valor Econômico”. Nela, 94,6% das organizações declaram ter de-partamentos de Comunicação estrutura-dos. Esses departamentos abrangem os ser-viços de relações públicas, assessoria de imprensa, eventos, patrocínios, comunica-ção interna, marca etc. e é comum que

contem com o apoio de fornecedores espe-cializados – normalmente grandes agências de “public relations”, assessoria de impren-sa e publicidade. Em 40% das empresas com mais de 5.000 empregados, ainda de acordo com o estudo, essas áreas têm status de diretoria e em mais da metade delas o responsável pela comunicação organizacio-nal têm representação no Conselho Execu-tivo. Parte significativa das grandes empre-sas envolvidas nos últimos escândalos veiculados pela mídia entrou nesse estudo.

Está claro, portanto, que os(as) executivos(as) de comunicação dessas or-ganizações não podem alegar inocência diante dos crimes cometidos pelo alto es-calão – até porque muitos fazem parte dele. Na quase totalidade dos casos eles(as) não só sabiam o que acontecia na organi-zação como também eram os responsáveis por assessorar diretamente o primeiro es-calão e por produzir conteúdos e veicular as estratégias midiáticas mentirosas e ma-nipuladoras. São cúmplices conscientes.

Sempre caberá o argumento de que estavam “sob ordens”. Mas cabe, igual-mente, o recurso da recusa ou da tentativa de dissuasão dos altos executivos, ainda que isso possa levar à demissão – o que também não é incomum. Felizmente, há muitos profissionais que levam sua profis-são a sério e não fazem concessões, mesmo colocando seus cargos e carreiras em risco.

Segredos patéticos, Mas se por um lado as áreas de comu-

nicação corporativa possuem esquemas muito bem estruturados (e caros), por ou-tro são de um amadorismo risível. Isto por-que é bastante comum que à boca miúda, muito além dos gabinetes dos executivos, a chamada “rádio peão” ou “rádio corredor” comente os fatos mais bizarros pelos corre-dores das empresas. Inclusive as falcatruas. São tabus. Mas nos “círculos de confiança” não são segredos assim tão bem guardados, já que mesmo os colaboradores mais hu-mildes acabam tendo acesso a muita infor-mação, ainda que por meios e formas as mais enviesadas. As informações vazam quase sempre da boca dos próprios executi-vos durante “conversas reservadas” com co-legas e membros da equipe a quem se pede “o máximo sigilo”. Basta isso para que o movimento de sucessivos pedidos do mais absoluto segredo adquira um efeito cascata

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que inunda até o chamado “chão de fábri-ca”. É um fenômeno tão comum quanto degradante para a cultura de qualquer or-ganização. Mas é, antes de tudo, patético.

Mas é fato que também no mercado da Comunicação Empresarial há uma crimi-nosa indústria da mentira. Pelo dinheiro, pelo status e pelo poder, muitos comunica-dores preferem o “caminho mais fácil”. Re-centemente, soube por fonte da mais alta confiabilidade, que há executivos de mar-cas conhecidas que chegam à desfaçatez de cobrar comissão de produtores culturais para aprovarem projetos culturais e esporti-vos incentivados por Lei. Nestes casos, tra-ta-se de corrupção direta: é propina! Os produtores têm medo de denunciar e sofrer sanções do mercado. Assim, muitos pagam.

a ética profissional e os conflitos morais

A Comunicação Empresarial é um mercado no qual atuo há 30 anos. Tenho imenso orgulho de conhecer incontáveis profissionais de caráter ilibado, pessoas exemplares, técnica e eticamente, os quais jamais se envolveram em esquemas dessa natureza. Vejo ainda entre meus alunos toda uma geração que está assumindo pos-tos e que não compactua com esse estado de coisas. Mesmo assim se deparam com um tremendo conflito...

Há alguns anos, após ter ministrado uma aula de pós-graduação, uma jovem executiva veio me procurar em particular e disse em tom de brincadeira, para puxar conversa: “O senhor tem quase 30 anos de mercado na Comunicação e quer me con-vencer que nunca aceitou fazer nada de errado?”. Eu sorri e respondi com serieda-de categórica a mais pura verdade: nunca! E contei a ela que pedi demissão de três excelentes empresas em defesa de questões éticas e morais, e que apesar disso ter me

trazido momentos muito difíceis, inclusive financeiros, eu estava absolutamente feliz com minhas escolhas e em paz com a mi-nha consciência. Ela trabalhava para um dos maiores conglomerados de bens de consumo do planeta. Visivelmente tocada, criou coragem e contou-me às lágrimas que havia participado de uma iniciativa para mascarar informações sobre os males que um determinado produto alimentício muito vendido poderia causar às crianças. Ela tinha fortes razões para acreditar que a empresa havia pagado propina a altos fun-cionários do Governo. Aquilo estava fa-zendo muito mal a ela. Essa jovem e bem sucedida executiva tinha uma filha peque-na. E ela não deixava sua filha consumir o produto cuja estratégia de comunicação ela ajudara a compor. “Eu preciso do em-prego”, disse-me ela, “mas sua aula foi per-turbadora porque me colocou diante de um espelho para o qual eu tenho evitado olhar faz muito tempo. Não sei o que fa-zer. Penso em pedir demissão, porque não estou conseguindo conviver mais com isso”. Foi o que ela fez. Não é um dilema incomum. Não são situações fáceis.

e os valores das empresas, onde ficam?Não há Missão, Sistema de Crenças e

Valores ou Código de Conduta que se sus-tentem em uma organização sem que a verdade esteja presente nas atitudes, no próprio modo de fazer as coisas. É uma construção incessante e por vezes penosa. Sobretudo em um ambiente cultural, no Brasil, onde ser ético parece uma caracte-rística dos tolos.

O principal propósito da Comunica-ção, dentro e fora das organizações capita-listas é ajudar na evolução humana e na transformação social, na construção de um mundo mais justo e igualitário. No caso específico das empresas, a Comunicação

ajuda a criar o próprio sentido da organiza-ção, através de seus colaboradores, e a cons-truir relações e vínculos inquebrantáveis baseados na verdade, na confiança e na co-erência entre as marcas institucionais, seus produtos e serviços, e toda a sociedade. Se não for assim, a comunicação torna-se uma ferramenta poderosa para que pessoas, gru-pos, regimes e empresas atravanquem o progresso humano e subvertam o próprio estado de direito. A corrupção e a manipu-lação comunicacional são aliadas poderosas contra a Democracia e os princípios repu-blicanos. É triste observar que em pleno século XXI, o espírito dos Robbers Barons do século XIX continue a nos assombrar e a assustar tanto, ainda que com toda sofis-ticação e tecnologia dos dias atuais.

Contudo, há certas coisas, certas leis, que atravessam o tempo e são imutáveis porque fazem parte da essência da vida em sociedade. A máxima de Públio Siro, escrita no ano 50 a.C., segundo a qual:“A verdade, assim como a alma, nunca re-torna, uma vez que tenha ido embora”, continuará para sempre verdadeira. Ela deveria orientar a construção das reputa-ções de empresas e organizações humanas em geral, hoje e sempre. As empresas, afi-nal, acabam por refletir o ambiente polí-tico e social vigente. E nós, brasileiros, convenhamos, não temos muito do que nos orgulhar nesse quesito. Mas pelo imenso poder econômico e pela impor-tância social que têm as empresas, sobre-tudo as grandes corporações, cabe a elas uma responsabilidade maior em dar o exemplo ético e mostrar que a riqueza pode e deve ser gerada com honestidade e competência e não com propinas, menti-ras e manipulação.

Os profissionais de Comunicação que se dedicam ao mercado empresarial fazem de seu trabalho a sua religião. Para nós o trabalho ético é algo sagrado. E é por isso que causa tanta indignação e revolta cons-tatar que entre nós, como em outras pro-fissões, há ainda muitos que cometam ter-ríveis sacrilégios.

(*) Renato Manzano é consultor e especialista em Estratégia, Gestão e Ati-vação de Negócios e Marcas (Bran-ding),  Marketing, Cultura e Comunica-ção Organizacional, Relações com Clientes e Públicos Estratégicos (RCPE).

Renato Manzano

Artigo

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a sustentabilidade como disciplina obrigatória é apelo ao compromisso ético

mente deixar-lhe uma sugestão: institua a disciplina sustentabilidade (ou outro nome, se preferir, mantendo-se a essência da mesma) como obrigatória no ensino público de todo o país.

Crianças, adolescentes e jovens adul-tos de hoje sempre tiveram facilidades em lidar com água, luz e comida. Alguns, é certo, têm consciência disto, mas outros tantos (e tantos são estes que fica difícil de contar...) não têm e não querem saber de reduzir o consumismo. Um consumismo cego daqueles que não conheceram priva-ções – por menores que sejam - às quais os filhos e nós, os “netos da guerra”, também um dia enfrentamos. Logo, o desperdício e a falta de compromisso com o planeta, com a sociedade, e com as contas que pa-pai, mamãe, titios, padrastos, madrastas e vovós pagam, não raro o são exacerbados.

Não desejo que ninguém se submeta a dificuldades que meus pais e avós passaram; antes pelo contrário. Não tenho saudade também de ter um regime “meio militar” para tomar banho e fazer uso de energia elé-trica. Mas o fato é que ficou uma herança, digamos, cidadã. Para eu e os demais “netos da guerra”, economizar é prática incorpora-da à rotina. Soa como natural. A exceção, até hoje, pra mim é o desperdício como lar-gar luz acesa em cômodos sem ninguém (ou mesmo ocupados, durante a luz do dia); banhos de 40, de 30 ou até mesmo de 20 minutos por adultos e crianças; botar mais comida no prato do que se tem capacidade de comer; misturar lixo orgânico com mate-

riais recicláveis e deixar o ar condicionado ligado quando se pode abrir a janela.

importante A proposta de inserir a sustentabilida-

de como disciplina obrigatória no ensino público de todo o país não exime a res-ponsabilidade do agronegócio que consu-me mais de 70% da água disponível, nem a indústria com aproximadamente 11% (os números variam, conforme a fonte consultada e a região). Todos os consumi-dores, sem exceção, precisam rever os seus respectivos hábitos e processos. Até por-que estamos em um único planeta e não há um “Plano-Planeta B” do qual possa-mos nos socorrer depois. Então, vamos trabalhar no antes. Ao conscientizar pes-soas, estas terão embasamento para mudar o que está errado e cobrar os negligentes e perdulários de forma incisiva.

Sei que você entende exatamente o que estou dizendo e, assim, fica fácil estudar esta modesta sugestão. Trata-se de um compro-misso ético com o planeta, em meu modo de ver. Até porque as crises da água e da energia vão passar, e poderão voltar, e vão passar de novo, e poderão retornar impie-dosas. Os filhos, netos e bisnetos da guerra também passarão, mas não o globo terres-tre. Com a devida licença do poeta Mário Quintana, todos nós que atravancamos a natureza passaremos e o planeta passarinho!

(*) Nelson Tucci é jornalista e cola-borador de Plurale

MInISTéRIo dA EducAção

Por nelson tucci

EXMO. Sr. Ministro Renato Janine Ribeiro.

NESTA.Com a devida vênia, envio-lhe uma

carta aberta.

Nascido nos longínquos anos 50 do século passado... sou filho dos “filhos da guerra”, ou seja, pais que passaram involuntariamente pelo pe-

ríodo da II Guerra Mundial. Os mesmos pais que comiam pão preto (não desses chi-ques e caros de hoje, mas os antigos com farinha escura não processada), andavam em carros movidos a gasogênio, tomavam banhos frios, apagavam todas as luzes e acendiam fraquíssimos lampiões, ou uma vela, ao anoitecer para não dar mole ao `inimigo`. Um inimigo que, na realidade, não se via no Brasil mas... “era melhor pre-venir que remediar”, como se dizia à época.

Por estranho que possa parecer isto à “Geração do Milênio”, na primeira metade do século passado não existiam smartpho-ne, tampouco internet, a televisão ainda não tinha chegado ao Brasil e as pessoas das notícias só tinham conhecimento pelo rá-dio ou pelos jornais do dia seguinte (com-prando-os nas bancas ou “filando-os” nas viagens de bonde, quando não se tinha di-nheiro disponível para tal). Carros – impor-tados, naturalmente - só para famílias abas-tadas ou “carros de praça” (leia-se táxi, ok geração Y) em casos de extrema urgência.

O Sr. Ministro, filósofo, pensador e professor, tem pouca idade mais que eu e, acredito, mais cultura também, por isso tem plenas condições de acrescer uma enor-midade de dados aos que pincei pela me-mória. Agora mais que isso, meu caro Jani-ne, você (permita-me tratá-lo assim, pela proximidade etária) tem responsabilidades gigantescas. E, sinceramente, boto a maior fé na sua gestão. Acredito que vá dar certo.

Valendo-me do direito de opinar, como cidadão e jornalista, quero humilde-

nelson Tucci

Artigo

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PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 20152424

Repúblicas federativas tem uma característica comum que é a organização político-adminis-trativa do governo, usualmen-te em duas camadas ou níveis,

a nacional e a estadual. O Brasil é um caso único no mundo das repúblicas federati-vas, por ter três níveis de governo com os municípios tendo autonomia administra-tiva com sua respectiva Constituição Mu-nicipal [a Lei Orgânica Municipal]. Há uma complicação e, de fato, uma comple-xidade de diversos sujeitos e entidades po-líticas com responsabilidades constitucio-nais distintas e fontes de recursos próprios que limitam ou ampliam as possibilidades de políticas públicas federais, estaduais e municipais em se tornarem oportunas e coerentes em suas agendas, especialmente diante da complexidade de 17 objetivos e 169 metas da Agenda Global Pós-2015 com distintas atribuições para os entes fe-derais, estaduais e municipais. Os 17 ob-jetivos de desenvolvimento sustentável para a Agenda Global Pós-2015 definidos pelo Grupo de Trabalho Aberto - GTA [Open Working Group - OWG] de países

abordagem multiescalar e multilateral em blocos regionais e repúblicas Federativas na negociação e implementação da agenda global Pós-2015:

Que

2030?emergirá até

Brasilmembros da Organização das Nações Unidas contempla temas que avançam a agenda global de desenvolvimento ante-rior que se encerrará em 2015 – a Agenda de Objetivos do Milênio. Os 17 ODS definidos pelo GTA a serem alcançados em 169 metas até 2020 e 2030 são:

Objetivo proposto 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares

Objetivo proposto 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agri-cultura sustentável

Objetivo proposto 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades

Objetivo proposto 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualida-de, e promover oportunidades de aprendi-zagem ao longo da vida para todos

Objetivo proposto 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas

Objetivo proposto 6. Assegurar a dis-ponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos

Objetivo proposto 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia, para todos

Objetivo proposto 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclu-sivo e sustentável, emprego pleno e pro-dutivo, e trabalho decente para todos

Objetivo proposto 9. Construir in-fraestruturas resilientes, promover a in-dustrialização inclusiva e sustentável e fo-mentar a inovação

Objetivo proposto 10. Reduzir a de-sigualdade entre os países e dentro deles

Objetivo proposto 11. Tornar as ci-dades e os assentamentos humanos inclu-sivos, seguros, resilientes e sustentáveis

Objetivo proposto 12. Assegurar pa-drões de produção e consumo sustentáveis

Objetivo proposto 13. Tomar medi-das urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos

Objetivo proposto 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, mares e dos recursos marinhos, para o desenvolvimen-to sustentável

Objetivo proposto 15. Proteger, re-cuperar e promover o uso sustentável dos

Patricia Almeida Ashley

Artigo

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ecossistemas terrestres, gerir de forma sus-tentável as florestas, combater a desertifi-cação, deter e reverter a degradação da terra, e estancar a perda de biodiversidade

Objetivo proposto 16. Promover so-ciedades pacíficas e inclusivas para o de-senvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclu-sivas em todos os níveis

Objetivo proposto 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável

Processos democráticos com efetiva representatividade e influência da socieda-de como um todo para a proteção dos bens difusos são fatos políticos e culturais recentes na República Federativa do Bra-sil, com uma história democrática ainda em sua infância ou adolescência. É rele-vante influenciarmos e monitorarmos a República Federativa do Brasil na nego-ciação externa e nacional para a constru-ção e implementação da Agenda Global Pós-2015, a ser publicada em setembro de 2015. Vivemos um momento atual no Brasil de articulação crescente de deman-das da sociedade e organizações da socie-dade civil, como a OAB, CNBB, movi-mentos sociais e ambientalistas, em busca de reformas políticas, eleitorais, tributárias e de melhores condições institucionais para uma sociedade com pleno acesso aos direitos humanos e proteção dos recursos naturais e da biodiversidade e diante dos riscos já visíveis das mudanças climáticas, com ressonâncias distintas no Poder Le-gislativo e Poder Executivo, além do avan-ço das ações de investigação de órgãos do Estado como Polícia Federal, Receita Fe-deral, Controladoria Geral da União, Mi-

nistério Público e órgãos do Poder Judici-ário Federal, inclusive no âmbito do Supremo Tribunal Federal.

Emergem as dúvidas, diante dos desa-fios da implementação da Agenda Global Pós-2015, sobre o que sobrará de vetores ultrapassados em marcos legais e políticas nacionais que não consideram bases sus-tentáveis, a exemplo do próprio Código Florestal que reduziu as áreas de preserva-ção permanente em torno de nascentes, em margens de rios e, principalmente, com grande redução das áreas de preserva-ção permanente em topos de morro, nos casos em que haja ocupação agropecuária ou instalações consideradas como áreas consolidadas quando ocupadas até 2008. A Agenda Global Pós-2015, como já vem sendo apontado nas discussões globais em sua formação, demandará amparo na atu-alização dos marcos legais para promover as condições institucionais favoráveis e as condições de financiamento que possam valorar economicamente aqueles investi-mentos e inovações que tragam a proteção ambiental, a inclusão e justiça social e o crescimento econômico sustentável.

Inclusive, os organismos que ainda adotavam o uso do termo ‘crescimento econômico sustentado’ e resistiam à troca pelo termo sustentável, reconheceram agora em 2015 que o emprego correto para a nova agenda global é o uso do ter-mo sustentável para quando forem se refe-rir ao crescimento econômico na Agenda Global Pós-2015. Isso irá gerar toda uma mudança nas escolhas de quais indicado-res são apropriados para a agenda global e não se encontra mais apoio político dos países membros das Nações Unidas e que estejam em condições de países em desen-volvimento ou países emergentes para a

adoção de uma seleção padronizada de in-dicadores globais para a Agenda Global Pós-2015, em vista das distintas condições institucionais de cada país para viabilizar a coleta e atualização de dados para compor tais indicadores, além dos riscos de indica-dores globais não capturarem as desigual-dades dentro de cada país.

As últimas declarações em final de março de 2015, apresentadas na reunião de negociação intergovernamental na ONU quanto aos objetivos, metas e indi-cadores para a Agenda Global Pós-2015, foram convergentes por tais países em propor que haja uma delegação de auto-nomia a blocos regionais e aos países para o método de construção e seleção de indi-cadores, inclusive com a participação da sociedade em sua elaboração. É uma sig-nificativa mudança em relação ao modelo tecnocrata de indicadores mensuráveis de forma objetiva e global para o monitora-mento da Agenda de Objetivos de Desen-volvimento do Milênio. Inclusive houve a troca recente do Chefe do Organismo de Estatísticas Oficiais das Nações Unidas, muito provavelmente pelas críticas às su-gestões desse organismo para que fossem adotadas as clássicas métricas já disponí-veis em agendas anteriores e negando ou desqualificando metas da Agenda Global Pós-2015 que hoje não possam ter métri-cas disponíveis na base de indicadores da ONU.

Em síntese, temos uma Agenda Glo-bal Pós-2015 que desde a sua formação já terá, no documento final a ser aprovado pela Assembleia Geral da ONU em setem-bro de 2015, as diretrizes para meios de implementação, em que processos demo-cráticos e participativos são premissas na formulação, implementação, monitora-mento e avaliação de políticas públicas para a implementação da agenda global. E mais, é legitimada cada vez mais a força do multilateralismo nas declarações das negociações intergovernamentais que es-tão convergindo para ter uma participação política maior dos blocos regionais e dos Estados-Nação, inclusive dos Parlamen-tos, na construção de condições institu-cionais para a sua implementação.

(*) Profª. Dra Patricia Almeida Ashley – Núcleo de Estudos em EcoPolíticas e EConsCiencias – www.ecopoliticas.uff.br – Contato: [email protected]

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P elo Brasi l

PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 201526

Por Gabrielle Kopko, da agência Saúde

O índice de obesidade está es-tável no país, mas o número de brasileiros acima do peso é cada vez maior. Pesquisa do Ministério da Saúde, Vi-

gitel 2014, alerta que o excesso de peso já atinge 52,5% da população adulta do país. Essa taxa, nove anos atrás, era de 43% - o que representa um crescimento de 23% no período. Também preocupa a proporção de pessoas com mais de 18 anos com obesidade, 17,9%, embora este per-centual não tenha sofrido alteração nos últimos anos. Os quilos a mais na balança são fatores de risco para doenças crônicas, como as do coração, hipertensão e diabe-tes, que respondem por 72% dos óbitos no Brasil.

“O mais importante para o Brasil nes-te momento é deter o crescimento da obe-sidade. E nós conseguimos segurar esse aumento. Isso já é um grande ganho para a sociedade brasileira. Em relação ao so-

brepeso, não temos o mesmo impacto da obesidade, de estabilização, mas também não temos nenhuma tendência de cresci-mento disparando”, destaca o ministro da Saúde, Arthur Chioro. “No Brasil não há tendência de disparos como nos outros países em que o crescimento da obesidade é avassalador. Em comparação com nossos vizinhos conseguimos deter o crescimen-to, quando é essa a tendência”, reforça. O índice de obesidade do Brasil está abaixo, por exemplo, da Argentina (20,5%), Para-guai (22,8%) e Chile (25,1%).

Entre os homens e as mulheres brasi-leiros, são eles que registram os maiores percentuais. O índice de excesso de peso na população masculina chega a 56,5% contra 49,1% entre elas, embora não exis-ta uma diferença significativa entre os dois sexos quando o assunto é obesidade. Em relação à idade, os jovens (18 a 24 anos) são os que registram as melhores taxas, com 38% pesando acima do ideal, en-quanto as pessoas de 45 a 64 anos ultra-passam 61%.

A pesquisa demonstra ainda que as pessoas com menor escolaridade, 0 a 8 anos de estudo, registram a maior índice, 58,9%, enquanto 45% do grupo que es-tudou 12 anos ou mais está acima do peso. O impacto da escolaridade é ainda maior entre as mulheres, em que o índice estre os mais escolarizados é ainda menor, 36,1%. As mesmas diferenças se repetem com os dados de obesidade. O índice é maior en-tre os que estudaram por até 8 anos (22,7%) e menor entre os que estudaram 12 anos ou mais (12,3%).

O Vigitel 2014 entrevistou, por in-quérito telefônico, entre fevereiro e de-zembro de 2014, 40.853 pessoas com mais de 18 anos que vivem nas capitais de todos os estados do país e do Distrito Federal. Realizada desde 2006 pelo Mi-nistério da Saúde, a pesquisa, ao medir a prevalência de fatores de risco e proteção para doenças não transmissíveis na popu-lação brasileira, serve para subsidiar as ações de promoção da saúde e prevenção de doenças.

obesidade estabiliza no Brasil, mas excesso de

peso aumenta

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da Fundação Grupo Boticário de Proteção à natureza

No final de 2014, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) divulgou duas listas atualiza-das das espécies brasileiras ameaçadas de extinção, de

flora e de fauna. No tocante aos animais, 170 saíram da categoria de vulnerabilidade. Entre elas, destacam-se a baleia-jubarte (Me-gaptera novaeangliae) e a arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus). A lista brasi-leira usa como base os indicadores e as clas-ses estipuladas pela União Internacional para Conservação da Natureza (UICN). Dessa forma, aquelas espécies que constam na listagem do Brasil são as que estão nas categorias ‘Criticamente em Perigo’, ‘Em Perigo’ e ‘Vulnerável’ dessa instituição.

“A melhora no status de conservação dessas espécies é um avanço significativo para toda a sociedade, incluindo o poder público, o meio científico e as organizações que atuam em prol da biodiversidade brasi-

leira. Esses bons resultados práticos são re-sultado da ação conjunta desses setores e devem ser reconhecidos”, afirma Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. A instituição foi responsável por financiar projetos de conservação de 18 das 170 es-pécies que saíram da lista, com destaque, além da própria baleia-jubarte e da arara--azul-grande, para o papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis), o albatroz-de-so-brancelha (Thalassarche melanophris) e a jaguatirica (Leopardus pardalis mitis).

De acordo com Rosana Subirá, coor-denadora substituta da Coordenação Ge-ral de Manejo para Conservação do Insti-tuto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CGESP/ICMBio), dois fatores foram determinantes para melho-rar o status de conservação dessas espécies.

“O primeiro foram as medidas de conservação rigorosas, como a proibição da caça à baleia-jubarte, que foi determi-nada por lei e fortemente fiscalizada. O

segundo foi a atuação diária de pessoas de-dicadas à causa ambiental”, explica. Com relação a essa atuação, Rosana cita como exemplo o caso da arara-azul-grande “que teve sua captura na natureza para abastecer o tráfico ilegal fortemente reduzida devido a intensas campanhas de sensibilização fei-tas por pesquisadores com moradores das áreas onde a espécie ocorre”.

Ela comenta ainda que a saída das 170 espécies ensina duas coisas: “a importância das pesquisas para que tenhamos uma compreensão cada vez melhor da nossa biodiversidade, sua dinâmica e inter-rela-ções; e que, com vontade e esforço, é possí-vel sim evitar a extinção de espécies”, con-clui. “Um resultado direto disso é o fato de 23 das170 espécies terem recebido finan-ciamento da Fundação Grupo Boticário, instituição que já apoiou quase 1.400 pes-quisas em todo o país”, completa Malu Nunes, evidenciando como o fomento à pesquisa traz resultados práticos para a conservação de espécies e ecossistemas.

espécies ex-ameaçadas ainda estão vulneráveis

A jaguatirica (Leopardus pardalis mitis) saiu da lista

HARoLdo PALo JR/ dIVuLGAção

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O Prêmio Mobilidade Urba-na é uma iniciativa da Fe-deração das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Ja-

neiro (Fetranspor). Sua missão é a pro-moção de um amplo debate sobre Mo-bilidade Urbana de modo a gerar o amadurecimento das reflexões sobre o tema e contribuir para inovação no se-tor.

O tema Mobilidade Urbana refere-se aos meios, serviços, infraestruturas e polí-ticas voltados à garantia dos direitos dos cidadãos, relativos aos deslocamentos de pessoas nas cidades.

O prêmio – lançado em 2010- tem por objetivo reconhecer os melhores tra-balhos sobre o tema, desde que estejam direta ou indiretamente ligados à Mobi-lidade Urbana no Estado do Rio de Ja-neiro.

inscrições abertas para o Prêmio Mobilidade urbana especial Fetranspor, 60 anos

Prêmio Mobilidade Urbana“Mobilidade com qualidade merece reconhecimento”

Realização:

Informações, inscrições e regulamento no sitewww.premiomobilidadeurbana.com.br

O PMU é uma iniciativa da Fetranspor que premia cases de sucesso para a evolução da mobilidade urbana no estado do Rio de Janeiro. Em 2015, a edição está ainda mais especial, e

os três primeiros colocados em cada categoria serão premiados. Afinal, são 60 anos de Fetranspor. Inscreva-se.

PMU Especial Fetranspor 60 anos

Inscrições abertas

Até 10/8/2015

Categorias:

Educaçãoe Cultura

JornalismoMídia impressa | Mídia eletrônica

Relacionamentocom Clientes

Desenvolvimento Sustentável

Planejamento de Transportese Tecnologia

AN_21X28CM.indd 1 4/14/15 4:41 PM

Excepcionalmente, em 2015, o Prêmio Mobilidade Urbana reconhecerá uma per-sonalidade que tenha contribuído de forma significativa para o desenvolvimento do tema objeto de cada categoria, e, de forma geral, uma personalidade de merecido des-taque especial pela sua relevante contribui-ção à Mobilidade Urbana, em comemora-ção ao 60º aniversário da Fetranspor.

P elo Brasi l

PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 201528 PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 201528

SISEMA/dIVuLGAção

empresas precisam estar atentas às mudanças climáticas, protegendo e gerando valor, diz castro

Por nélson tucci, de São Paulo

As mudanças climáticas têm impacto significativo para as empresas. O diferencial está na capacidade das compa-nhias em proteger e gerar va-

lor para os negócios. Essa questão foi o ponto de partida para o evento realizado ontem, 7, pelo CDP (anteriormente Car-bon Disclosure Project) e ABRASCA, no campus do Insper, em São Paulo. “Com-panhias precisam estar atentas em não ge-rar incertezas sobre suas políticas de emis-são de carbono e gerenciamento de água”, enfatizou Antonio Castro, da Associação Brasileira das Companhias Abertas (ABRASCA).

Segundo Castro, a remoção das incer-tezas - que evitariam o impacto da precifi-cação das ações pelos investidores - é um trabalho que deve contar com a integração das áreas de sustentabilidade e de relações com investidores. “Sem olhar para a água e o carbono, a governança não consegue ser sustentável”, completou ele, que tam-bém preside o Conselho do CDP. Já a di-retora do CDP Latin America, Juliana Lopes, destacou que a entidade é um ins-trumento eficaz na gestão de riscos e que os temas apontados pelo colega Castro não podem ser negligenciados. “Estes hoje são imperativos para se fazer negócios”, pontuou. O CDP atualmente tem 822 in-vestidores associados, que movimentam

mais de US$ 90 trilhões e estão perma-nentemente atentos às emissões e a criação de valor pelas companhias no mundo todo.

Em suas intervenções, Roberto Gonza-lez (VP do Conselho do CDP) destacou que “hoje todos os segmentos são impacta-dos pelas mudanças climáticas”. Com o que concordou o colega Sérgio Lazzarini, pro-fessor do Insper, destacando exemplos bem sucedidos de PPPs focadas na sustentabili-dade, utilizando métricas propostas pelo Insper. Lazzarini também citou exemplo dos Estados Unidos com o Public Energy Performance Contractting e explicou de que forma investidores apoiam projetos e se remuneram a partir de seus resultados.

O trabalho vencedor de cada categoria será premiado em cerimônia oficial, com o Troféu Mobilidade Urbana e um cheque no valor de R$ 20.000,00. A cerimônia de premiação será em novembro.

Leia o regulamento e saiba como se inscrever no site:

http://www.premiomobilidadeur-bana.com.br/

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SISEMA/dIVuLGAção

As violações de direitos huma-nos e impactos ambientais cometidos pela Vale no Brasil e em outros oito países da América, África e Ásia são

denunciadas no “Relatório de Insustenta-bilidade 2015” da empresa, cujo lança-mento aconteceu hoje (dia 16 de abril), na sede do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro.

Produzido pela Articulação Interna-cional dos Atingidos pela Vale, o relató-rio reúne informações sobre mais de 30 casos de conflitos envolvendo toda a ca-deia de produção da Vale em diferentes países onde a empresa opera. Os casos mais graves incluem episódios de espio-nagem e trabalho em condições análogas

“relatório de insustentabilidade da Vale” é lançado no rio

às de escravo, que recentemente foram objeto de denúncias ao Ministério Públi-co. A publicação também apresenta casos de investimentos da Vale em projetos com pendências legais, associadas ao des-cumprimento da legislação de proteção ao meio ambiente, como o da fragmenta-ção do licenciamento ambiental da du-plicação da Estrada de Ferro Carajás. Em 2012, a Vale recebeu o “Public Eye Award”, o prêmio de pior empresa do mundo.

Procurada pela Plurale, a Vale, através da Assessoria de Imprensa, divulgou nota comentando alguns dos principais pontos das denúncias feitas. Leia a íntegra da matéria no site Plurale.

http://migre.me/pxBOu

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Seguros

O executivo Antonio Carlos de Almeida Braga (esquerda) com Solange Beatriz Palheiro Mendes, Diretora-Executiva da CNseg e o presidente da CNseg, Marco Antonio Rossi

da cnseg

Foi lançada no último dia 30 de abril, a 5ª edição do Prêmio An-tonio Carlos de Almeida Braga de Inovação em Seguros, promo-vido pela Confederação Nacio-

nal das Empresas de Seguros Gerais, Previ-dência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg). As inscrições irão até 30 de setembro. A premiação, criada em 2011, busca estimular e reco-nhecer os trabalhos que contribuem para a inovação no mercado de seguros.

Poderão participar aqueles que fo-rem colaboradores de empresas de se-

PrêmiO AntOniO CArlOS dE AlmEidA BrAgA

guros, previdência privada e vida, saúde suplementar, capitalização, res-seguros, corretoras e corretores de se-guros e resseguros autônomos. Os projetos concorrerão nas categorias “Produtos e Serviços”, “Processos” e “Comunicação”. A avaliação será feita pela Comissão Julgadora em duas eta-pas, sendo a primeira de julgamento individual dos trabalhos.

Este ano, a segunda fase foi ampliada, dando a 15 finalistas a oportunidade de defender seus projetos presencialmente. A mudança permite o conhecimento mais detalhado de um maior número de proje-tos concorrentes. Ao final do processo, os

5ª edição do

de Inovação em Seguros é lançada pela CNsegtrês primeiros colocados de cada categoria serão premiados.

Para auxiliar e inspirar os interessados em participar da premiação, a CNseg pro-moverá, ao longo do período de inscrições, uma série de eventos voltados à inovação. A expectativa é de que o total de trabalhos concorrentes seja ainda maior que o recor-de de 78, registrado em 2014. O aumento, de 41,3% em relação à edição anterior, re-afirma a importância do Prêmio dentro e fora da Confederação, que vê na iniciativa uma maneira de reforçar o papel do setor como agente fundamental do desenvolvi-mento socioeconômico do país.

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Vencedores da 4ª Edição do Prêmio, em 2014, com a Diretora-Executiva da CNseg, Solange Beatriz Palheiro Mendes

Poderão participar aqueles que forem colaboradores de empresas de seguros, previdência privada e vida, saúde suplementar, capitalização, resseguros, corretoras e corretores de seguros e resseguros autônomos. os projetos concorrerão nas categorias “Produtos e Serviços”, “Processos” e “comunicação”.

Para auxiliar e inspirar os interessados em participar da premiação, a cnseg promoverá, ao longo do período de inscrições, uma série de eventos voltados à inovação. a expectativa é de que o total de trabalhos concorrentes seja ainda maior que o recorde de 78, registrado em 2014

Sobre antonio carlos de almeida Braga

Nascido em 1926, filho de engenheiro português dos setores imobiliário e de segu-ros, Antonio Carlos de Almeida Braga fez da Companhia Atlântica uma das maiores seguradoras da América Latina, vendida para o Bradesco em 1984. Foi ainda o fun-dador, posteriormente, da Icatu Seguros.

Por seu caráter, sua generosidade e, principalmente, sua trajetória profissio-nal, sempre ligada à inovação, Antonio Carlos de Almeida Braga é praticamente uma lenda viva do setor de seguros e in-contestável homenageado pela CNseg com o Prêmio em seu nome.

Sobre a cnsegA Confederação Nacional das Empre-

sas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitaliza-ção (CNseg) elevou em 2008 ao status de Confederação a Fenaseg (Federação Na-cional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização. A CNseg conta em sua formação com a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), a Federação Na-cional de Previdência Privada e Vida (Fe-naPrevi), a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), e a Federação Nacional de Capitalização (FenaCap). A entidade representa o mercado perante o Governo Federal, a sociedade em geral e as entidades nacionais e internacionais.

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PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 201532 PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 201532

Case sustentável

texto e fotos de nícia ribas, de Plurale da Serra da canastra (MG)

Manhã do dia 23 de abril, quinta-feira. Um grupo de mulheres de camisa branca chama a atenção dos que circulam pelo ae-

roporto de Confins, em Belo Horizonte, São camareiras e governantas de hotéis da rede Accor iniciando ali o programa de vi-sita à região da Serra da Canastra, onde sua empresa investe no plantio em torno de nascentes e margens dos Rios São Fran-cisco e Grande.

Graças à economia obtida com o reuso de toalhas, o projeto Plant for the Planet em parceria com a ONG Nordesta do Brasil, já reflorestou 140 hectares, deven-do chegar a 180 até o final deste ano, num total aproximado de 400 mil árvores. Por que as camareiras? Porque são elas que es-tão na ponta da linha, mantendo os quar-

PlAntAr, PlAntArrede accor leva camareiras de seus hotéis para conhecer o projeto de replantio de árvores na serra da canastra (mg), que visa recuperar nascentes e margens dos rios são Francisco e grande

tos bem arrumados e incentivando os hós-pedes a colaborar com a mãe natureza.

Do aeroporto, partem de ônibus em direção a Arcos, onde houve um plantio há dois anos, graças ao acordo feito com o proprietário da fazenda, Geraldo Apareci-do Lopes. A área recuperada, de oito mil metros quadrados, recebeu 2.500 mudas de 50 espécies. “Estão vendo como as mu-das crescem rápido? Aí está o resultado do trabalho de vocês no seu cotidiano!”, dis-se-lhes a presidente da Nordesta, Neuza Falco Galvão.

Entusiasmada com o projeto, Neuza explica para a Plurale como funciona: “Procuramos pequenos e médios produto-res, cujas terras abrigam nascentes e mar-gens de rios. Se eles aderem, plantamos e cuidamos por dois anos. Trata-se de uma parceria muito importante para a preser-vação da nossa região e até o final deste ano, vamos abranger a bacia de mais um rio, o Araguari. Tudo isso graças a ativida-

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des simples como o reuso de toalhas, in-centivado pelas camareiras, por isso é tão importante que elas vejam o resultado”. Em seguida, Neuza lembrou a todos que no dia anterior, 22 de abril, comemorara--se o Dia da Terra.

Segundo o sargento Alan Silva, da Po-lícia Militar de Meio Ambiente de Arcos, aquela área “estava degradada e corria o risco de a nascente ali existente desapare-cer”. Ele espera que o projeto sirva de exemplo para outras empesas.

Para a diretora de Comunicação do Grupo Accor, Antonietta Varlese, o objeti-vo é incentivar seus hóspedes a refletir e economizar recursos naturais através do reuso de toalhas: “Destinamos metade das economias em lavanderia ao financiamen-to do plantio de árvores, realizado pela Nordesta; Com esta visita, queremos esti-mular os colaboradores a se envolverem no projeto e torná-los multiplicadores no relacionamento diário com os hóspedes.”.

a natureza encantaEntre o mar de viveiros da Nordesta,

as camareiras ficaram entusiasmadas, que-rendo saber os nomes das plantas e fazen-do fotos de todos os ângulos.” As mudas de jatobá, por exemplo, ficam germinan-

“ Projetos similares estão sendo desenvolvidos em mais 21 países”arnaud Herrmann, diretor Global de Sustentabilidade da accor Neuza Falco Galvão, presidente da Nordesta, também plantou a sua árvore

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Case sustentável

do em tubetes por um ano e depois vão para o campo”, explicou Neuza, responsá-vel pelos viveiros. Para garantir a germina-ção, as sementes são escarificadas, isto é, perfuradas, uma a uma.

A Nordesta mantém junto aos viveiros uma criação de abelhas nativas, sem fer-rão, que têm um importante papel como polinizadoras de culturas agrícolas. As ca-mareiras, depois de se certificarem que elas não picavam, trataram de fotografar as colmeias. E Neuza aproveitou para con-tar que a cada quatro mil mudas planta-das, o proprietário da área ganha uma col-meia. “Muitas vezes, essa colmeia é o início de um novo negócio”, disse ela.

Como parte do programa, o grupo fez o plantio simbólico de árvores. Vindo espe-cialmente de Paris para o evento, o diretor global de Sustentabilidade da Accor, Arnaud Herrmann, contou à Plurale que projetos similares estão sendo desenvolvidos em mais 21 países. Ele plantou um pé de ingá.

Mais árvoresEm Piumhi, na Fazenda Guaiçara, de

café, foram plantadas 517 mudas em ja-neiro deste ano. “Procuramos preservar a genética local, plantando a maior quanti-dade possível de espécies; aqui na Guaiçara temos 42.” explica o engenheiro ambiental da Nordesta, Claiton Majela da Silva.

Perto dali, numa grande plantação de cereais – milho, soja, feijão, a Nordesta plan-tou 1.100 mudas em 2013. “Procuramos cercar um raio de 50 metros da nascente”, explica Claiton. Ele explicou que o processo começa com a coleta de sementes da região Centro Oeste de Minas Gerais, próxima ao Parque da Serra da Canastra. Em seguida, as sementes são beneficiadas e plantadas nos viveiros. As mudas são levadas para as áreas de plantio. Até 10 quilômetros na borda do Parque é considerado área de amortecimen-to: “ São os corredores ecológicos, que facili-tam o fluxo de flora e fauna”, diz Claiton. O Parque abrange parte das bacias dos rios São Francisco, Grande e Araguari. O Plant for the Planet está beneficiando as três.

Depois de uma longa viagem, entre-meada de visitas a viveiros e plantio de mudas debaixo do sol forte do cerrado, as camareiras já esperavam pelo merecido descanso. Mas não podiam imaginar todo o conforto e beleza que as esperavam no Hotel Balneário do Lago, em Capitólio. Foi uma sucessão de emoções.

Ao pé dos cânions da Serra da Canastra, muita emoção para as visitantes

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Vindas dos mais distantes rin-cões brasileiros, algumas nun-ca tinham viajado de avião e nem entrado num hotel como hóspedes. Livres dos quartos e

banheiros, dos lençóis e das toalhas, elas se soltam entre risos e conversas, trocando ex-periências, aproveitando a vida. Acostuma-das a servir, agora são servidas.

Com a benção do Padim Cícero, a ce-arense de Ibiapina, Cícera Esmerino de Souza, de Ibiapina (CE), mudou-se para São Paulo há mais de 20 anos, trabalhan-do como babá e auxiliar de serviços. Atu-almente integra a equipe de camareiras do Ibis Budget Jardins, com 390 quartos. Ela limpa e arruma diariamente de 20 a 30. “Gosto do que faço, me divirto muito com as colegas e agora tive a chance de ver o resultado do reuso das toalhas”, diz ela.

A baiana de Alagoinhas, Dejeane dos Santos Silva foi para Macaé (RJ), onde já morava sua irmã, conseguindo uma vaga no Ibis. Evangélica e tímida, sai de casa para o trabalho e vice-versa. A viagem, para ela, é diversão pura, entrosando-se rapidamente com as colegas.

Durante um passeio de chalana pelo Lago de Furnas, conhecido como o Mar de Minas, a piauiense Neide Tavares, do IBIS Barretos (SP), é a primeira a se aven-turar, subindo pelas pedras até a Lagoa Azul. Patrícia Rabello, do Ibis Budget Pi-racicaba (SP) vai atrás. Mais adiante, ao avistarem a imensidão dos cânions, as ca-mareiras se emocionam: “Deus é sobera-no!”, exclamam.

Entre elas estão três colegas peruanos. Ana Milagros e Guido Pipa vieram de Lima; Glenny Torre, do Novotel de Cus-

O voo dascamareIras

co. No início ficam tímidos, apreciando em silêncio a beleza natural do lugar, mas logo se entrosam com as colegas brasilei-ras, trocando telefones e e-mails.

Maria Aparecida, Maria José, Patrícia, Adriana, Andréia, Tátila, Verônica, todas as 28 camareiras acostumadas a um dia-a--dia duro de trabalho sob a vigilância das governantas, agora descem para o café da manhã, deixando suas camas por fazer. A todo momento dedilham seus celulares, enviando fotos pelo watstApp. Domingo elas voltam para suas casas e seus hotéis, mas nunca mais serão as mesmas. Em seus devaneios, entre um edredom bem estica-do e uma toalha bem dobrada, elas vão se lembrar do azul do céu, do verde das mon-tanhas, do branco das nuvens e se sentirão gratificadas por estarem contribuindo para a preservação do Planeta.

Ana Milagros, do Novotel, de Lima, Peru, adorou o passeio e trocou contato com as colegas brasileiras e de outros países

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Diálogo

muhamad Yunus vem ao Rio e fala para plateia formada por jovens Em palestra ele advertiu que o emprego tradicional já não é mais tão importante, defendeu o empreendedorismo e criticou o sistema que visa só o lucro, sem olhar o social

Por Sônia araripe, editora de Plurale Fotos de newton Victor Meyohas

Não é todo dia que temos a oportunidade de poder ou-vir um Nobel da Paz. Ainda mais se for encontrar Muhamad Yunus, o único

economista que já atingiu este feito, aqui mesmo, na nossa cidade. O evento, orga-nizado pela Yunus Negócios Sociais Brasil - centro de pesquisa e consultoria em ne-gócios sociais liderado pelo professor que acaba de ser lançado no Brasil -, contou com o apoio de ONGs e de alguns parcei-ros privados e governamentais.

Nascido em Bangladesh, Yunus ga-nhou fama global por seu trabalho trans-formador ao lançar, em 1976, o Grammen Bank. Foi laureado em 2006, não com o Prêmio de Economia, mas o Nobel da Paz. Fez jus à vontade de seu criador, Alfred Nobel, para quem o prémio deveria dis-tinguir “a pessoa que tivesse feito a maior

ou melhor ação pela fraternidade entre as nações, pela abolição e redução dos esfor-ços de guerra e pela manutenção e promo-ção de tratados de paz”.

Sua trajetória é relatada no best-seller “Banker to the poor” ou “O banqueiro dos pobres”, como foi chamado quando traduzido para o mercado brasileiro. O li-vro conta a história de transformação de uma verdadeira legião de miseráveis em cidadãos empreendedores e com seus pe-quenos negócios. Este case foi apresentado no evento no Rio, do qual participamos. “Empreender é a palavra-chave”, explicou para os atentos ouvintes, o professor Yu-nus. A plateia, de cerca de 400 pessoas, era formada principalmente por jovens, enga-jados em causas relevantes e/ou empreen-dedores de negócios sociais novos.

Na casa de Betinho - Em uma estrutu-ra simples, em formato de arena, o profes-sor falou durante duas horas para uma plateia atenta de cerca de 400 pessoas. O local não poderia ser mais apropriado – a

sede da Ação da Cidadania, ONG funda-da por Betinho (Herbert de Souza), cria-dor do Balanço Social e um dos principais combatentes da fome no Brasil. O filho de Betinho, o jovem Daniel de Souza, foi um dos organizadores do evento.

“Estou feliz por ver tantos jovens aqui”, disse Yunus, ao subir o pequeno ta-blado armado no meio do público, que o recebeu de pé sob aplausos. Simples, sim-pático e denso, muito denso, este poderia ser um bom perfil para o Nobel que roda o mundo expondo suas ideias e espalhan-do novos ideais.

Para os jovens, garantiu que ninguém precisa mais ficar desesperado por não encontrar emprego tradicional e defen-deu que basta uma boa ideia para empre-ender.  “Quem precisa de um emprego? As pessoas precisam empreender, ter uma boa ideia e levá-la adiante. E eu sempre digo isso. Os jovens estão aí ajudando a mudar o sistema.” Ele contou que sem-pre era questionado pelos filhos das mu-lheres que ajudou a mudarem de vida e acharem suas vocações em negócios ao terminarem os estudos e não terem em-pregos. “Eles me pressionavam para saber o que fazer já que tinham estudado tanto e não encontravam emprego. Foi então que percebi que eles não precisavam ter esta posição. Poderiam aprender em casa, com suas mães, que com uma boa ideia é possível empreender e mudar de vida”, citou Yunus.

Redução das desigualdades - O econo-mista criticou o sistema capitalista que só visa o lucro e a vaidade, sem se preocupar com a sociedade e com a redução das desi-gualdades. “O sistema, como é hoje, está errado. Está baseado apenas no bem-estar de cada um. No seu lucro, na sua vaidade.

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Por que não podemos pensar em lucro sim, mas também no bem-estar de todos, de uma comunidade, da sociedade?”

Para empreender, explicou o econo-mista, é preciso traçar um bom plano de negócios e saber que diferencial cada um tem. Alguém da plateia perguntou como resolver problemas que dependem de au-toridades públicas, nem sempre cientes das dificuldades de comunidades carentes. Yunus respondeu que muitas vezes isso acontece porque as autoridades estão dis-tantes da sociedade e dos problemas e por isso não sabem como resolvê-los. Mas de-fendeu que muitas vezes, com “soluções simples, mas não simplórias” é possível sim equacionar dilemas antes aparente-mente intransponíveis.

“95% das acionistas do Banco Grammen são mulheres. a maioria (85%) vinha da extrema pobreza, morava na rua ou em barracas. Hoje elas têm suas casas e trabalham em suas áreas de negócios. ajudamos a mudar esta realidade.” “ninguém quer dar um dólar para quem não tenha já algum, nem que seja 50 cents. Banqueiro é assim. resolvemos mudar esta realidade. Mostramos que os pobres são bons pagadores.” “criamos uma empresa de telefonia, a drami Phone e passamos a dar telefones para os mais pobres. estas pessoas, principalmente mulheres de pequenas vilas do interior, puderam ligar para melhorar suas vidas e das comunidades. eles passaram a ter voz. Pobres também têm direito à tecnologia.” “o negócio social é bem diferente da filantropia tradicional. na caridade, você doa e este dinheiro só tem uma mão, não volta. no conceito de negócio social o dinheiro tem vida ilimitada. Pode ser reinvestido e é possível se fazer um ótimo uso do dinheiro.” “quem precisa de um emprego? as pessoas precisam empreender, ter uma boa ideia e levá-la adiante. e eu sempre digo isso. os jovens estão aí ajudando a mudar o sistema.” “o sistema, como é hoje, está errado. está baseado apenas no bem-estar de cada um. no seu lucro, na sua vaidade. Por que não podemos pensar em lucro sim, mas também no bem-estar de todos, de uma comunidade, da sociedade?” “os problemas, na maioria das vezes, não são complicados. Basta que as pessoas estejam próximas para conhecê-los e saber como resolvê-los. Governos e sistemas costumam estar distantes da realidade. aí fica mais difícil achar a solução.” “não recomendo que ninguém faça algo totalmente sozinho. temos visto que empreender ou buscar soluções é mais fácil junto a outros, que já tenham vivido aquilo ou que estejam envolvidos na mesma área.” “o que diferencia um menino pobre e um rico é a educação, de casa e das escolas. a mãe, os pais e a escola fazem diferença.

Um grupo de intelectuais foi convida-do para dialogar com o Prêmio Nobel, contando com a presença, do cantor Mar-celo Yuka, um dos fundadores do grupo Rappa, que levou um tiro em assalto no Rio e ficou paraplégico. Yuka perguntou sobre o comprometimento da sociedade com um novo modelo de consumo.

Ao fim do evento, conseguimos nos aproximar do Professor Yunus e perguntar para ele que setores seriam mais fáceis para os jovens empreenderem. Afável, ele gen-tilmente recebeu dois exemplares de edi-ções recentes de Plurale em revista e res-pondeu. “Qualquer um. Design, moda, tecnologia, culinária....depende de uma boa ideia e da vontade do jovem”, senten-ciou. Mais didático, impossível.

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Bem-estar

Há palavras que nos beijam como se tivessem boca. Pas-sar alguns dias em compa-nhia do arquiteto e escritor Carlos Solano é entender o

sentindo da poesia de Manoel de Barros. Em seu curso Casa Natural, realizado nes-te último mês, no Rio de Janeiro, mas que ele ministra pelo Brasil a fora, Solano con-segue reunir cultura popular, terapias da casa, ecologia e bem-estar. Um verdadeiro alquimista que ensina, tudo, tudo mesmo, para que se dê alma e vida à casa.

Carlos Solano, formado em Arqui-tetura e Urbanismo pela Universidade de Minas Gerais (UFMG) é uma mistura de fogo e água – assim como o Feng Shui – que ele conheceu em 1991, por meio da arquiteta chinesa Ping Xu, PhD., e fez estudos na Europa e Ásia sobre o tema. Ele é autor dos livros “Feng Shui – arquitetura ambiental chinesa” , “Casa Natural” e colunista da revista Bons Fluidos. E ainda conse-guiu a proeza de incentivar o plantio de “um milhão de árvores , na campanha que iniciou em 2007 ( www.ummilhao-dearvores.org.br). Recentemente lançou o livro “Nossas Árvores – o Resgate do Sa-grado”, em parceria com Sandra Siciliano. Sua meta agora é a de incentivar uma árvore para cada habitante do País.

“ A casa que tem harmonia tem também um cheiro de sejam bem-vindos”, ensina So-lano no seu livro Casa Natural, com receitas de Dona Francisca a faxineira “sabe tudo “, onde apresenta receitas que foram publica-das na revista Bons Fluídos, da editora Abril. Muitas delas, Carlos Solano ensinou em seu curso no Rio, que foi organizado pela tera-

Um arquitetoque resgata o

CArlOS SOlAnO:

no que fazSAgrAdO

Por Lou Fernandes – Prem indira especial para Plurale do rio de Janeiro

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peuta Márcia Côrtes Duarte, e ainda con-tou com a participação especial de Fernan-do e Tantinha, raizeiros e benzedeiros.

Uma das primeiras lições que Solano ensina é limpar o ambiente. Para realizar um “limpa tudo” caseiro, devemos reunir meio litro de água, quatro colheres de vina-gre branco comum, duas colheres de chá de bicarbonato de sódio e gotinhas de limão. “É um super curinga da limpeza caseira, uma fórmula simples e econômica que aju-da na remoção das gorduras e desinfeta, pois o vinagre é um ácido. Se não tiver limão, use erva cidreira ou eucalipto. Para dar espuma, é só acrescentar um pouquinho de deter-gente biodegradável (é só ler no rótulo). O vinagre pode ser usado para eliminar odores da casa e manchas. O próximo Curso Casa Natural será em Belo Horizonte.

destralhar a casa para se encantar a vida

Tudo que acontece fora deve também acontecer dentro da gente. Outro ensina-mento importante é fazer a terapia do “destralhamento”. Conforme garante So-lano, “a saúde melhora, a criatividade cres-ce e os relacionamentos se aprimoram. Conforme preconiza o Feng Shui, confir-ma o arquiteto, é comum a pessoa se sen-tir cansada, deprimida, desanimada em

um ambiente cheio de entulho. “Pois exis-tem fios invisíveis nos ligando aquilo que possuímos e uma das pergunta que deve-mos nos fazer é: por que estou guardando isso? O que vou sentir ao liberar?

Depois de “destralhar”, Solano orien-ta que se jogue sal grosso nos ralos, ponha um prato com carvão no quarto que tira cheiros e fluídos ruins e deixe um ramo de boldo num copo com água para purificar a casa”, orienta Solano. Liberar as mágo-as, parar de fumar, terminar projetos ina-cabados, diminuir o consumo de carne ou eliminar o uso da carne. E arremata coma as sábias palavras do evangelho de Tomé “se deixas sair o que está em ti, o que dei-xas sair te salvará. Se não deixas sair o que está em ti, o que está em ti te destruirá”.

a casa deve estar sempre pronta para receber a visita de um anjo

outra orientação do curso Casa Natu-ral é abençoar a casa. Segundo Solano, na cultura popular das benzedeiras, devemos ter uma casa sempre preparada para rece-ber a visita de um anjo. Isso requer muito zelo e carinho com todos os cômodos e, mais ainda, com as pessoas que vivem na casa. Conforme diz dona Francisca, o idioma dos anjos não é feito de palavras mas de perfumes e cores. Gabriel que

anunciou a chegada de Jesus Cristinho rege a entrada da casa, oferte a pureza de uma aroma de rosas ou flores brancas. Sa-muel arcanjo guerreiro cuida das necessi-dades básicas como proteção e sobrevivên-cia, uma pedra granada e um cheirinho de cravo podem ser oferecidos a este arcanjo pedindo forças para se livrar de tudo que nãos erve mais.

A quem ficou decaído ou amolado, Ra-fael consola e dá certeza de amparo divino, rosas amarelas e cheirinho de lavanda agra-dam o arcanjo. Saquiel preza a caridade, um jasmim cheiroso abrem as portas para sua visita. Anael traz beleza e alegria, enchei a casa de canções e enfeite com lírios azuis. Cassiel governa os bens materiais e objetos cor de terra são bem vindos para recebê-lo. Miguel é a verdade e a luta deste Arcanjo, ensina Solano, é contra tudo que nos dis-tancia da grandeza de Deus*.

Gratidão atrai satisfação Solano garante que satisfação existe

mas depende da gratidão. Segundo ensina, um pensamento de gratidão pela casa que nos acolhe do frio, das tempestades, o ali-mento que nos traz saúde e os amigos que nos trazem a certeza de sermos presença, muda tudo e traz alegria de viver. Pois como ele mesmo diz “a coisa mais impor-tante da vida é a vida”. Ele nos ensina que temos três casas: a casa corpo, a casa casa e a casa planeta. “E devemos dar atenção a todas elas”. Além dos livros e cursos que ministra, Carlos Solano promoveu o Em-pório Casa Natural, em Belo Horizonte, reunindo e expondo objetos raros e delica-dezas feitas à mão e com amor, voltados para a casa e uso pessoal., com vivências e receita do “bem viver”.

No livro que escreveu, em parceria coma paisagista Sandra Siciliano, “ Nos-sas Árvores e o Resgate do Sagrado”, Sola-no ensina que não basta homenagearmos as árvores, precisamos cultivá-las. E foi assim que nos presenteou com mudas de ipê. E finalizou nos ensinando que “ os ipês são árvores especiais, contemplá-las é como fazer uma oração”. Saímos do curso em estado de graça.

(*) Todas essas orientações estão no livro Casa Natural: receitas – volume 1/Carlos Solano; ilustrado por Débora Damasceno e Marina Nabuco Leva – Belo Horizonte: Ed. Do Autor, 2014.

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Turismo

Por deolinda Saraiva, especial para Plurale de conservatória (rJ)

Entrar em Conservatória pelo Túnel que Chora é como atravessar um portal para chegar a um lugar mágico, em que a música, a gentileza e a tranquilidade esco-lheram para morar.

Resquícios da história do Brasil colo-nial recebem o visitante já nessa travessia, observada nas paredes rústicas do túnel, cavado pela mão dos escravos para dar passagem à linha férrea, inaugurado por D. Pedro II. Foi dos cascalhos de pedra dali retirados que se fez o pavimento das ruas de pé-de-moleque que compõem a arquitetura da cidade.

Para chegar ao seu nome definitivo, esse pequeno enclave nas serras do Sul Fluminense passou por outros batismos. Primeiro, foi a Conservatória dos Índios Araris, assim chamada a partir de uma ses-maria ali autorizada por D. João VI no século 19 para abrigar uma tribo de ín-dios. Os Araris eram originários de Valen-ça, viviam em guerra com outras tribos, e foram deslocados pela administração da Coroa Portuguesa ao serem abertos os pri-meiros caminhos para o desenvolvimento da cultura cafeeira no Médio Paraíba.

Depois, foi fundado o Curado de San-to Antonio, e o vilarejo passou a se chamar “Santo Antonio do Rio Bonito”. Em mea-

dos do século 20, por haver cidades com o nome de Santo Antonio no estado, foi-se buscar nomes de origem. Não existiam mais os Araris, mas Conservatória – pala-vra de origem portuguesa, que até hoje designa tipo de cartórios em Portugal para registro de populações e documentos – fi-cou como o nome definitivo.

Festa de 137 anos de serestaConservatória é um dos mais antigos

distritos de Valença, no Sul do Estado do Rio de Janeiro, e tem sua arquitetura colo-nial característica do século dezenove tombada pelo patrimônio histórico muni-cipal. O vilarejo tornou-se nacionalmente conhecido pelas serenatas que promove sob suas noites estreladas.

Há versões diversas para a cultura se-resteira. Uns falam de músicos que acom-panhavam a Coroa e se apaixonaram pela vila ou namoraram as moças locais e lá fi-caram tocando nos saraus de época. Ou-tros contam sobre um violonista que criou a tradição de tocar em noites enluaradas e passou a ser acompanhado por outros mú-sicos. O que importa é que, no dia 30 de

maio, no Aniversário do Seresteiro, serão comemorados 137 anos de tradição seres-teira em Conservatória. É um dos eventos mais importantes do vilarejo.

A cidade das serestas – tocada em am-bientes fechados - e das serenatas (apre-sentada nas ruas, sob o sereno) também oferece uma paisagem de vales, rios e pe-quenas reservas de Mata Atlântica, com ipês, quaresmeiras, espatódias, paineiras e diversas espécies que deslumbram o olhar do visitante.

Outro atrativo é a segurança e tranqui-lidade sentidas por todo lugar em que se passa. Não há desemprego em Conserva-tória, porque o turismo ocupa intensiva-mente a mão-de-obra local. Talvez por isso, não há crianças abandonadas nas ruas, flanelinhas, pedintes ou favelas, nem mesmo grades nas janelas. E os índices de criminalidade são praticamente nulos. As-sim, você pode caminhar tranquilamente pelas ruas nas madrugadas frias de Con-servatória sem sentir medo de seu seme-lhante, coisa rara em cidades turísticas próximas de grandes centros.

A música que transpira por todo o vi-larejo, as placas que relembram antigas canções de amor afixadas na porta das ca-sas, as rodas que se formam nas ruas para relembrar serestas, sambas-canção, chorinhos ou bossa nova... tudo isso faz de Conservatória um lugar de pessoas gentis e solidárias, de comerciantes que batizam seus negócios inspirados pelo amor das antigas canções, como “Sonho Meu”, “Dó-Ré-Mi”, “Além do Horizonte”, “Bela Cigana”, “Lua Branca”, “Melodia” ou “Se-renata de Amor”. É um lugar para onde se tem vontade de sempre voltar.

A magia das canções de amor em Conservatória

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A cidade, de clima seco e frio, fica a 600 metros de altitude e sua temperatura média é de 20 graus. Mesmo no verão, as noites de Conservatória são

frescas e agradáveis. Conservatória é distri-to de Valença, de onde dista 30 km. Está a 25 km da divisa de Minas Gerais, fica a 160 quilômetros do centro do Rio de Ja-neiro e a 480 quilômetros de São Paulo.

turismo tem ufologia, história e poesia Serra da Beleza – Com 1,2 mil me-

tros de altitude, oferece uma deslumbran-te vista da serra da Mantiqueira. É um encontro inesquecível com a natureza, com o canto dos pássaros e com o misticis-mo do lugar. Ufólogos e estudiosos garan-tem que, nas noites estreladas de lua nova, misteriosas luzes circulam pelo vale, sur-preendendo os visitantes.

Ponte dos Arcos – Construída durante a colonização para dar passagem à Maria Fumaça, que hoje repousa como relíquia no centro histórico. É uma imponente construção com dois arcos, constituída por grandes blocos de pedras ligados por óleo de baleia.

Fazenda Santa Clara – Já em Minas Gerais, distante 34 quilômetros de Con-servatória, a fazenda foi o cenário da nove-la Terra Nostra. Com quase 200 anos, tem 365 janelas e 3 andares em pau a pique, foi a única fazenda do Brasil a se tornar um local de reprodução de escravos, se-gundo documentos em posse dos herdei-ros. Ainda conserva a senzala e o pelouri-nho originais.

Fazendas São João da Prosperidade e Taquara – Abertas à visitação para gru-pos, as duas estão localizadas no municí-pio de Barra do Piraí.

Arte e poesia – É importante conhecer a “Casa do Poeta”, com saraus de poesia e exibição de aquarelas; a Casa D’Arte, de esculturas de santos barrocos em papel; o Museu Vicente Celestino, com discos, roupas e peças do cantor; e o Museu da Seresta, hoje instalado na Casa da Cultura.

onde ficar, o que provarHá várias opções de hospedagem na

cidade, entre elas Pousada D’Amoras (telef. 24-2438-0044 WhatsApp 24-98862-1699, site WWW.pousadadamoras.tur.br), Pousada da Figueira (tel. 24-2438-0125 www.pousadadafigueira.com.br) e Hotel Fazenda Prosperidade (tel. 24-2438-0124, WWW.hotelfazendaflorenca.com.br) . Recentemente, a Pousada D’Amoras abriu um restaurante anexo, o Bistrô 88 (tel. 24-2438-1699 ou 24-99983-5829), com pratos de bacalhau, escondidinho, co-zido, saladas, massas e pizza.

clima seco e frio

Guilherme de Brito e Tito Madi fize-ram a música “Canção para Conservató-ria”, que bem define essa paixão.

“conservatória, meu amor,quando eu partir por onde forHei de lembrar teus violões, tuas estrelas, teu luare essa flor que a saudade já semeou dentro de mimao regressar vou te ofertar para enfeitar o teu jardim.e quando alguém te visitar, eu acho que deves falarque eu estou apaixonado e diz por quêeu posso um dia te deixar, mas vou querer levar pra mimteus violões, tua seresta e o teu jardim.Se não puder, quero ficar pra amar teu céu, beijar teu chão.conservatória onde perdi meu coração.”

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Ecoturismo

Maior faixa de praia da américa do Sul: Barra do chuí

Uma curva do Rio Chui, no Rio Grande do Sul, é o ponto mais ao sul do país. O curso d’água funciona como divisa entre o Brasil e o Uruguai e desemboca no Oceano Atlântico, junto à Praia da Barra do Chuí. Uma das atrações da região de fronteira é o Farol da Barra, com 30 metros de altura e conhecido como o último posto brasileiro.

Na Barra do Chuí começa a maior extensão de praia da América do Sul, com 254 quilômetros, uma faixa de areia que segue até a praia do Cassino, no município de Rio Grande (RS). Um dos pontos mais conhecidos da praia é onde ficam os restos do Navio Altair, que encalhou na beira da praia em 1976, após uma tempestade, e acabou incorpo-rado à paisagem do litoral gaúcho.

Parque nacional da ibitipoca é o mais visitado de Minas Gerais

O Parque Es-tadual do Ibiti-poca é o mais visitado de Mi-nas Gerais, um dos mais co-nhecidos do Brasil e a prin-cipal atração da região. Ele está localizado

na Zona da Mata, nos municípios de Lima Duarte e Santa Rita do Ibitipoca. Com uma área de 1.488 hectares, a unidade de conservação ocupa o alto da Serra do Ibitipoca, uma extensão da Serra da Mantiqueira.

A fauna é rica, com a presença de espécies ameaçadas de extinção, como a onça parda, o lobo guará, entre outros. O Parque possui portaria, estacionamento, área de camping, restaurante, Centros de Visitantes, de Administração e de Pesquisas, casa de hóspedes e alojamentos destinados a pes-quisadores e funcionários. Nos dias úteis o ingresso custa R$ 10,00 e aos finais de semana e feriados o preço é R$ 20,00.

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Etravessia das Sete quedas será aberta em junho

A temporada 2015 da travessia das Sete Quedas, que integra o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO) e é administrada pelo ICMBio, será aberta dia 9 de junho. A data da abertura poderá ser alterada, dependendo do ní-vel do Rio Preto.

Responsável por proteger uma área de 65.514 hectares de cerrado de altitude, o Parque possui formações vegetais únicas, centenas de nascentes e cursos d’água, além de pai-sagens de rara beleza, com feições que se alteram ao longo do ano. O Parque também foi declarado Patrimônio Natu-ral da Humanidade pela UNESCO, em 2001. A partir de 11 de maio as reservas poderão ser feitas pelo site Eco-booking (http://www.ecobooking.info/). Para mais infor-mações ligue (62) 3455-1114.

O Brasil apareceu, pela primeira vez, entre os destinos com as melhores ilhas do mundo. O feito foi conquistado por Fernando de Noronha, que aparece na 10ª posição do prêmio Travellers’Choice 2015, realizado por um dos maiores sites de viagem do mundo: o Trip Advisor. A pes-quisa leva em conta avaliações de usuários que visitaram ilhas brasileiras e estrangeiras nos últimos 12 meses.

O Travellers’Choice 2015 também elegeu os arquipéla-gos da América do Sul. Nesse caso, Noronha (PE) lidera a lista, seguida de Ilha Grande (RJ), com Boipeba (BA) na décima colocação. Dados de julho do ano passado mos-tram que a rede social recebe 3,6 milhões de visitas na ver-são brasileira do endereço eletrônico. O prêmio também elege os hotéis, os restaurantes, as atrações, as praias e os destinos mais bem avaliados pelos colaboradores - e o Brasil aparece entre os mais votados em todas as categorias.Noro-nha é eleita uma das ilhas mais belas do mundo

noronha é eleita uma das ilhas mais belas do mundo

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Pelo Mundo

Como recuperar o ecossistema de um país pobre, onde é es-cassa a provisão de água, e por décadas populações foram se-gregadas e passaram fome? A

preservação da biodiversidade africana, empreendida por diversas entidades de todo o mundo, encontra na realidade so-cial e na severidade do clima do continente alguns de seus principais obstáculos. E um desses principais desafios está na conserva-ção dos recursos hídricos e naturais da sa-vana e do deserto, biomas que dominam amplos territórios no Sul do continente.

Sempre tive interesse pela África e por colaborar, de alguma forma, com a conser-vação daquele que cresci vendo ser nomea-do, na TV, como “continente perdido”. Por isso, aceitei o desafio de dar aulas para crianças numa escolinha destinada à tribo bushman, numa entidade chamada Na-ankusé, na Namíbia. Acabei inserido num contexto de luta pela preservação de todo um modelo de vida diferente do ocidental.

A

continenteafricano

e a vida noágua

num dos países mais secos do mundo, a busca pela água nos ecossistemas da savana e do deserto é a garantia da vida

A vida na Namíbia depende de um valor inestimável, a água, e a recuperação das tribos e dos ecossistemas onde elas vivem, depredados por anos de coloniza-ção branca, depende da manutenção dos recursos hídricos.

a integração com a vida animalNaankusé tem por princípio conservar

fauna, flora e populações tribais. Das uni-dades dispersas pelo país, trabalhei em duas: Naankusé, a unidade principal e a primeira da organização, e Kanaan, situada no deserto de Namib, ao Sul, que dá nome ao país. Ambos os locais têm algo em co-mum: a baixa disponibilidade de água.

A entidade mantém dezenas de espécies em seus territórios. Dos pequenos a animais de médio e grande porte, como oryx, ku-dus, babuínos e predadores como chitas e leopardos. A maior parte dos animais tran-sita livremente nos limites da reserva, onde estão seguros. Alguns, no entanto, ainda não estão recuperados para a vida selvagem e ficam nos limites da sede da fundação, onde são cuidados por biólogos, nativos da tribo bushman e voluntários.

Cheguei para trabalhar na escola que a entidade mantém para as tribos. Minha proposta era trabalhar com crianças, aju-dá-las a estudar, dar uma pequena contri-buição ao desenvolvimento de um país. No entanto, a surpresa que os próprios pequenos lhe revelam, quando se chega para ajudá-los, é de que a cultura ociden-tal será apenas uma opção, junto ao co-nhecimento que eles já carregam dentro de si: a relação das crianças com a nature-za, as histórias de seu povo e seu país, a luta por décadas pela soberania numa ter-ra árida.

“Muito sangue foi deixado nesse país pelos colonizadores, mas hoje somos um país livre. Somos pobres, mas somos li-vres”, disse-me a professora Hylma.

De fato, muitas mortes marcam a his-tória da Namíbia. Na verdade, um genocí-dio, no início do século XX, quando o chefe Hendrik Witbooi, do povo nama, uniu seus pares para combater a domina-ção alemã que perdurava desde o século XIX. Massacrados pelo poderio bélico ale-mão, os povos nama e herero foram desi-mados. Deixaram, porém, ao país o mito

texto e fotos por Hélio rocha, especial para Plurale editor do Portal Pautando Minas http://www.pautandominas.com.br

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fundador da resistência ante os coloniza-dores, até a independência, em 1990.

Desta forma, duas semanas se passa-ram naquela escola. Matemática, inglês, religião, tudo era ministrado pela profes-sora, com a minha ajuda diária, em in-glês. Os meninos falam, ainda, africâner e o idioma bushman. Daqueles dias, destacou-se o quanto cada criança, mes-mo aos cinco anos, conhece sobre babuí-nos, zebras, chitas, kudus. Alguns têm medo de um bicho, outros se sentem ín-timos do mesmo, e assim todas convivem com as criaturas da savana como se fizes-sem parte de um todo: o grande ecossis-tema africano.

E a certeza da escassez da água neste ecossistema eu teria em minha terceira se-mana, quando fui convidado a trabalhar em Kanaan, uma reserva recém-fundada, que estava sendo recuperada para receber a vida selvagem e as tribos nômades. Lá, an-tes uma fazenda, as espécies tinham sido extintas pelos caçadores, e restava aos bió-logos e voluntários mapear a área para trazê-las de volta.

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Pelo Mundo

a busca pelas “árvores da vida”Seis horas de viagem numa velha

Toyota Outlander 1987, cruzando, ini-cialmente, a savana africana, que em se-guida dá lugar, gradativamente, às dunas e descampados do deserto de Namib, encer-rados ao longe por escarpas e montanhas. Assim fizemos o caminho até Kanaan. Eu, Karl, o biólogo responsável, mais três vo-luntários, apenas.

Embora destruída em sua vida natural pela caça predatória, a fazenda de Kanaan é o que se pode chamar de santuário. Pla-no, vazio, apenas com as montanhas ao fundo e uma imensa estepe amarelada. Outrora um local habitado por todos os tipos de manadas e predadores do Sul afri-cano, hoje Kanaan é praticamente desabi-tada. Mas cabe à instituição recuperar o território, e nossa missão era encontrar os pontos por onde passam os animais.

A busca, como nos informou Karl, “parte da identificação de locais onde haja poços de água, muitos deles já estabelecidos pelos antigos fazendeiros, mas destruídos pelos anos de abandono”. No vasto deserto de Namib, a vida depende desses pontos onde há água, que justificam a existência das inúmeras espécies de animais de médio e grande porte numa área dominada pela vegetação seca e rasteira. E a maioria dos

poços, como nos explicou o biólogo, estava próxima a árvores centenárias capazes de conservar, no subsolo, água que fora depo-sitada ali pelas chuvas, décadas atrás.

A principal delas era o Camelthorn, ou “árvore da vida”, uma impactante fi-gura de tronco seco e galhos retorcidos, que é apontada pelos nativos como a grande guardiã da vida no deserto. Junto a elas há poços, perto de onde podería-mos instalar as câmeras com sensores de calor. Foram horas de caminhadas para encontrar estes locais na fazenda, instalar as câmeras, marcar o ponto no GPS e vol-tar, aguardando alguns dias para saber o que a câmera flagrou.

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Foram encontrados animais que, à noite, se aproximaram para beber água. Oryx, gazelas e hienas passaram por ali. “As hienas e as chitas são predadores natu-rais deste ecossistema, embora ainda sejam raros por aqui, que hoje é apenas um pon-to de passagem para grandes manadas”, nos explicou o biólogo.

Um passo, no imenso trabalho de se recuperar a vasta área degradada pela caça predatória. Ao fim de uma semana e com o retorno a reserva principal, uma certeza: no clima seco do deserto, a água torna-se ainda mais o sustento da vida.

o retorno e a nova compreensãoA volta à reserva principal permite

compreender o quanto a escassez de água é a principal dificuldade para se dar quali-dade de vida às populações do continente. Mais alguns dias dando aula para as crian-ças e, certa vez, fui conhecer o lugar onde elas viviam. Casas de estrutura simples, intercaladas por caminhos de chão e varais que se entrecruzam interminavelmente com as roupas coloridas dos africanos, for-mando uma festa de cores.

Contundo, a água é pouca, e preciosa, o que se percebe nas mulheres que en-chem balde numa torneira coletiva, no esgoto que sai pelos fundos das casas e pas-sa por onde as crianças, inocentemente, brincam umas com as outras. A emergên-cia da qualidade de vida na Namíbia ainda é dependente da criação de estruturas para o provimento de água, algo que o Estado e as organizações que lá atuam ainda são in-capazes de garantir com qualidade.

A volta ao Brasil se deu na consciência de que a água é um de nossos bens inesti-máveis, um dos alicerces do nosso futuro com qualidade de vida para todos.

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tuBoSa possibilidade de encontrar o desconhecido

Por Marina Guedes, especial para Plurale De sunshine Coast, Austrália

Até o início de maio, imagens que tem como foco as ondu-lações muito apreciadas por surfistas profissionais (popu-larmente chamadas de “tu-

bos”) serão o foco da exposição assinada pelo fotógrafo brasileiro Wilson Aguiar. Paulistano, ele tem como paixões (além da família), a gastronomia, viagens e os es-portes radicais: skate e surfe. 

Aos 35 anos - sendo 21 deles bem aproveitados no mar em diversos paraísos naturais como Brasil, México, Indonésia, além de diversos destinos australianos - Wil conta que as fotografias escolhidas para sua exposição trazem, em sua maio-ria, cenas onde o meio ambiente é prota-gonista. “Minha ideia é mostrar algo que a natureza possui de mais espetacular, lim-po, sem a interferência do homem”. 

A galeria escolhida para sua exposição intitulada “Tubes: the possibility to meet the unknown” (em Português: “Tubos, a possibilidade de encontrar o desconheci-do”) fica no país que escolheu para viver ao lado da esposa e filha: Austrália. O local situa-se na University of the Sunshine Co-ast (Universidade da costa onde o sol bri-lha), no Estado de Queensland. Acertou quem deduziu que por aqui o sol brilha, sim, praticamente o ano todo.

Em seu trabalho, a mistura de cores e enquadramentos inusitados impressiona. Mas Aguiar explica que parte do acervo escolhido para a exposição inclui imagens em preto e branco também. A abertura ocorreu dia 26 de março, com a presença de músicos violinistas para compor o am-biente da arte de retratar as ondas pelo fotógrafo. 

Atualmente, o brasileiro que tem no currículo o título de campeão na modali-dade júnior em skate no Brasil (em

1992), divide seu tempo entre o portal recém lançado de fotos publicitárias (willartphotography.com), estudos e, ob-viamente, momentos dedicados à foto-grafia externa.

“Busco sempre enquadramentos dife-rentes, sem interferência de recursos visu-ais nas fotos que faço”. Em entrevista que concedeu a um jornal local da região de Sunshine Coast, Wil recomendou aos que buscam inspiração na arte de fotografia, que sigam sua paixão e registrem imagens de temas com os quais se identifiquem. “A possibilidade de registrar o desconhecido é o que me motiva na fotografia”, pontua o artista. 

Para conhecer mais sobre o trabalho de Wilson Aguiar, confira sua página no Facebook: www.facebook.com/willar-tphotography. O link para o seu site de fotografia é: http://www.willartphoto-graphy.com/

Wilson aguiar, fotógrafo brasileiro radicado na austrália, expõe fotos em diversos paraísos naturais, como brasil, méxico, indonésia e destinos australianos

Fotografia

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Fotos dewiL aGuiar

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Viagem

personalidade fortelindas e de torres del Paine:

as torres del Paine, na Patagônia, são um patrimônio nacional do chile. suas imagens ilustram anúncios em ônibus que circulam por santiago, rótulos de cerveja e as notas de mil pesos.

texto e Fotos por danilo Vivian, especial para Plurale

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Geologicamente falando, são três picos bem definidos, em granito cinza-azulado. Na mesma cadeia, ficam os Cuernos, conjunto de picos

em forma de chifres em granito cinza--claro e rocha sedimentar, escura, forman-do um efeito-camada. O maciço todo se ergue a três mil metros, formando pare-dões impressionantes. Abaixo, a água de degelo forma lagos em tons de verde e azul. Essa beleza atrai gente do mundo todo para um dos trekkings mais famosos do Planeta, o circuito W, percorrido em quatro dias, com hospedagem em abrigos ou campings.

Pude realizar o sonho de fazer essa tri-lha com minha esposa, Renata, no natal. Chegamos ao abrigo Las Torres, o primei-ro, dia 23 de dezembro. Quem está acos-tumado ao conforto de hotéis pode estra-nhar a simplicidade de um refúgio. Não há privacidade. Banheiros, só comparti-lhados. Nosso quarto, minúsculo, era composto por três beliches e muito equi-pamento: botas, mochilas, bastões de ca-minhada e quinquilharias que tínhamos de encontrar espaço para acomodar. Lon-ge do ideal de férias da maioria das pesso-as, mas de fazer brilhar os olhos de quem ama atividades outdoor.

Primeiro dia: refúgio Las torres – Mirador torres del Paine

Levantamos às 08h e fomos para o re-feitório, já lotado de trekkers. Tomamos

um café, preparamos a mochila e saímos. Como faríamos um bate-volta até o Mira-dor das Torres, optamos por levar uma mochila leve com equipamentos básicos, deixando as cargueiras (com 12 quilos de equipamentos cada) no abrigo. Isso nos daria agilidade e pouparia energia para o dia seguinte, quando caminharíamos com carga completa.

A trilha começa em um trecho plano, cortado por riachos que atravessamos por pontes suspensas. Depois de dois quilô-metros, dá uma guinada para a direita e tem início uma forte subida com pedras soltas e ventos fortíssimos, característicos da região – segundo os guias de trekking, podem atingir mais de 100 km/h. As tor-res são como algumas mulheres: lindas, mas de personalidade forte.

Avançávamos lutando contra o vento e o frio (10 graus), deixando para trás trekkers mais lentos. A trilha vai subindo, deixando cada vez mais abaixo, um vale cortado por um rio de degelo. Uma hora e meia de caminhada e avistamos no fundo do vale o El Chileno, abrigo mais isolado do Parque. Ali só se chega por trilha e o abastecimento é feito da maneira mais an-tiga que existe: em lombo de burro. Des-cansamos por 20 minutos, enchemos os cantis e seguimos. Passado o abrigo, a tri-lha desemboca num bosque, chegando, por fim, a um descampado no ataque final às Torres. O cenário lembra o de expedi-ções de alta montanha: o vento fica insu-portável e pedras enormes dificultam o

avanço. Formam-se congestionamentos. Trekkers em jaquetas da North Face discu-tem a melhor forma de superar os obstá-culos. Imagens que me traziam à mente cenas do livro No ar Rarefeito, de Jon Krakauer, maior autor nesse assunto.

Com a habilidade adquirida em trilhas aqui no Brasil, passamos alguns grupos e atingimos o mirador, ponto final da trilha. Ali, um lago verde-esmeralda avança até uma imensa plataforma de granito coberta de gelo, acima da qual se assentam as Tor-res. Um sonho realizado. Ficamos ali meia hora e iniciamos o retorno. Três horas de-pois estávamos de volta ao abrigo. Era noi-te de Natal e brindamos com gente do mundo inteiro aquela data especial. Meu desejo de natal se realizara um pouco: confraternização entre povos e respeito pela natureza.

abrigo torre central – refugio Los cuernos – abrigo Paine Grande

Comparado com a subida das Torres, o segundo dia seria uma caminhada de criança: apenas 13 quilômetros e 100 me-tros de desnível. Por isso, dormimos um pouco mais em nosso quarto lotado e caí-mos na estrada às 10h. Vencemos algumas subidas mais chatas, três ou quatro pontes suspensas, e antes das 13h estávamos no abrigo, aos pés dos impressionantes Cuer-nos. Baixamos as pesadas mochilas, tira-mos as botas e ficamos ali, aproveitando o sol pra bater papo com gente que conhe-

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Viagem

te. Talvez por isso, minha energia foi aca-bando sem que eu percebesse e meu ritmo caiu. Por sugestão da Renata, paramos pra descansar e comer. Voltamos a caminhar e a energia se esvaia do meu corpo; sentia que iria desmaiar. Mas nessas situações, vale o condicionamento psicológico. Repe-tia mentalmente algumas das minhas faça-nhas, como concluir a Serra Fina, trilha considerada a mais difícil do Brasil e peda-lar durante uma hora com câimbras numa

Corrida de Aventura. Aos poucos, retomei o controle e chegamos ao Mirador, de onde se avista um enorme vale nevado e as Torres del Paine, mas por outro ângulo. Descansamos meia hora e iniciamos a des-cida, pois ainda tínhamos 15 quilômetros pela frente. Recuperado, ‘empurrei’ a Re-nata e a Cecile (que nos acompanhava), descendo o mais rápido que conseguia.

Chegamos ao acampamento Italiano, pegamos nossos mochilões e seguimos para

cemos na caminhada: Cecile, uma alemã que vivera no Xingú; Rodrigo e Andressa, casal de Franca-SP; Andrea, italiano que adora o Brasil; Paul e Jaime, casal de velhi-nhos que têm no currículo a lendária Appalachian Trail, trilha da costa leste dos Estados Unidos, com 3.500 quilômetros.

No meio da tarde, o tempo fechou, nos obrigando a ir dormir mais cedo, poupan-do energia pro dia seguinte. O vento balan-çava o abrigo e o dia amanheceu frio (5 graus) e chuvoso. Mas não havia escolha. Tomamos café, colocamos capas de chuva nas mochilas e partimos. No primeiro tre-cho, uma praia de pedregulhos à beira do Nordenskjold, cravávamos nossos bastões no chão, lutando para nos manter em pé frente à força do vento. Caminhar assim, em contato direto com as forças da natureza e sem a proteção de fortalezas de aço, vidro ou tijolo, remete às nossas origens mais pri-mitivas. Isso fascina qualquer aventureiro.

Após uma hora de trilha, chegamos ao acampamento Italiano, um bosque com umas 20 barracas, cinco banheiros fedo-rentos e um posto de guarda da Conaf, o Ibama chileno. Dali, faríamos um bate--volta ao Mirador Francês, ascensão de mais de 800 metros. Repetimos a estraté-gia de deixar o equipamento pesado (que ficou no posto da Conaf ) e subir com uma mochila pequena.

A trilha sobe por bosques, acompa-nhando o vale. Em certos pontos, mal se nota que a inclinação aumenta rapidamen-

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Viagem

o refúgio Paine Grande. A partir dali, a trilha torna-se plana e segue margeando três lagos: o Nordenskjold, o Scottsberg e Pehoé, em cujas margens fica o abrigo Paine Grande. Depois de 10 horas de trilha, chegamos ao refúgio. Comemoramos com um pisco sour, drink típico do Chile. Fomos para o nosso quarto de três beliches e caímos na cama.

quarto dia - refugio Los cuernos – Glaciar Grey

Mais um dia de bate-volta; iríamos até um mirante de onde se avista o Gla-ciar Grey (terceiro maior do mundo, atrás da Antártida e da Groenlândia). De lá, voltaríamos para o abrigo e atravessa-ríamos o lado Pehoé de catamarã até a entrada do Parque, onde a aventura che-garia ao fim.

A caminhada começa por um vale cer-cado de montanhas baixas e sobe para cruza-las, chegando a uma pequena lagoa. Em seguida, cruza outro morro chegando ao lago Grey, de águas cinzentas e salpica-do por icebergs formados pelo descola-mento de placas de gelo do glaciar. Esse processo se acelerou com o aquecimento global. Após três horas, chegamos a uma colina de onde se avista o glaciar, nosso ponto final. A vista é impressionante. Fi-quei ali, contemplando a paisagem, alheio às fotos de outros trekkers, imaginando

como seria antes do aquecimento global, ou na Era glacial.

Descansamos e pegamos a trilha para nossa última perna no percurso. Após sete horas de caminhada, chegamos de volta ao Paine Grande. Tiramos várias fotos for-mando, com os braços, um ‘W’. A aventu-ra estava terminando.

Algumas pessoas consideram fazer uma trilha como essa um ato de coragem. É possível. Caminhar 80 quilômetros sob chuva, vento e frio injeta uma considerá-vel dose de autoestima em qualquer pes-soa. Há também um componente de consciência ambiental; aventureiro se pre-ze sabe que suas ações no dia-dia, longe da trilha, podem ter impacto nesses cenários, derretendo um glaciar, por exemplo. Nes-se sentido fazer o W foi educativo. Mas, mais que tudo, estar nas montanhas signi-fica ter contato com nossos instintos e nos sentir vivos.

Serviço Para chegar ao Parque Nacional Torres del Paine, é preciso pegar um voo de Santiago até Punta Arenas – duas empresas fazem o percurso, a LAN (www.lan.com) e a Sky (www.skyairline.cl) e depois ônibus até Puerto Natales (Buses Fernandes www.busesfernandez.com). De lá, tomar outro ônibus até o Parque – Buses Pacheco (www.busespacheco.com).As empresas que administram os refúgios são a Fantástico Sur (Torre Central, El Chileno e Cuernos - www.fantasticosur.com) e a Vértice (Paine Grande - www.verticepatagonia.com). Pelos sites, é possível reservar abrigos e espaço para camping. De maio a setembro, na baixa temporada, a maioria das trilhas permanece fechada.

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Bazar ético | Por Sônia araripe, editora de Plurale

mulheres da reserva trabalham com design

Luminárias com design são o carro-chefe de artesãs da Reserva Botânica, localizada no distrito de Gaviões, município de Silva Jardim (RJ). Acostumadas com a lida no campo, as mulheres passaram a conhecer a nova ativi-dade há três anos. A jovem Cecília Freitas passou a administrar a fazenda da família e começou a pesquisar com uma amiga – a só-cia Mônica Castedo – uma placa de fibras vegetais, oriunda de resíduos de produção agrícola, o VegPlac. “Ficamos um bom tempo pesquisando esse produto que seria, inicial-mente para revestimento de interiores. Não foi fácil. um final de ano, já sem dinheiro, resol-vemos que precisávamos fazer objetos e ven-der alguma coisa. Fizemos as primeiras lumi-nárias de nossa empresa, a Kaapora Design e com as aparas fizermos uma oficina criativa com nossas funcionárias e criamos alguns mobiles, enfeites de natal, descansos de pa-nela”, conta Cecília. Foi um sucesso: os pro-dutos foram vendidos em bazares e desde então a iniciativa só avançou. Atualmente, sete mulheres da Reserva – que engloba duas RPPNs, a Lençóis e a Quero-Quero- es-tão envolvidas na produção de objetivos de decoração que podem ser encontrados na Rede Asta e no Bazar da Chácara. A Kaapora

S e r V i Ç o

https://www.facebook.com/pages/Kaapora--design/679691162061161?fref=tshttps://www.facebook.com/bazarchacarahttp://www.redeasta.com.br/

• Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos étnicos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e Ongs.

Design faz os contatos comerciais para que as produtoras escoem os produtos. Até mes-mo a comunicação é difícil: na região, telefo-ne é raro e internet não funciona. Os resulta-dos do trabalho são inegáveis. Cecília se orgulha: “O mais gratificante é escutar a dire-tora da escola local dizer que não precisa se preocupar com as crianças da Reserva Botâ-nica, pq nada falta. Do sapato ao livro. Isso mostra que nossa ideia inicial estava certa. Quando o pai ganha um dinheiro extra, com-pra uma moto. Se é a mãe, investe na forma-ção dos filhos.”

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Espaço Aberje Sumaré Rua Amália de Noronha, 151 - 6° andar - São Paulo/SPPróximo à estação Sumaré do metrô.

Realização:

Palestrantes con�rmados

Apoio:

www.aberje.com.br/storytelling

29 de maiodas 8h30min às 18h

Palestra de Abertura

“Storytelling: aspectos de uma comunicação inclusiva, participativa e envolvente”

Com Rodrigo Cogo, Gerente de Conteúdo da Aberje e especialista em Storytelling

Santander“Storytelling em Quadrinhos”

Painel 1 - Storytelling no envolvimento do público interno

Painel 2 - Storytelling como estratégia de branding

Goodyear“Quilômetros de histórias”

Wilson, Sons “Protagonizando Histórias”

Volkswagen“Adeus Kombi”

Memória Votorantim“Será uma vez...”

Painel 3 - A força do storytelling nos projetos de memória organizacional

Garanta já a sua inscrição!

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Arte

Desde os dezoito anos, a jor-nalista Daniélle Carazzai teve de se planejar. Aos 21 já era mãe de um filho de três anos, divorciada e o destino

a fez tornar-se dona do próprio nariz, das próprias contas e de todas as reviravoltas que a vida adulta nos impõem. Quando chegou aos 30 anos tomou uma decisão que iria mudar de vez sua trajetória: quan-do chegasse à metade de sua vida, lá pelos 40 anos de idade, iria largar tudo para se dedicar ao que lhe dava mais prazer.

Para isso, foi necessário planejar. “A partir desse meu desejo, comecei a traçar objetivos com bem práticos, com prazos e tudo. Como meu marido concordou com minha empreitada, compramos terreno na área rural, construimos uma casa simples, terminamos de pagar o carro e nos livra-mos de tudo o que não era essencial”, con-ta. Dois anos antes de pedir demissão de uma grande empresa onde era coordena-

QuANDOmAiS

éMENOSJornalista deixa a vida corporativa para se dedicar à cerâmica e à vida no campo.

dora de comunicação, também preparou um sucessor e deu a notícia com alguns meses de antecedência. “A sinceridade sempre foi uma parceira que me abriu portas, fossem elas de entrada ou de saí-da”, completa. E assim foi, com um frio na barriga e boa dose de coragem.

Nesse meio tempo, foi se descobrindo, prestando atenção no que fazia sentido em sua vida e foi na cerâmica que se encon-trou. “Eu já gostava de arte e a cerâmica era o que mais me interessava em exposi-ções, então, decidi que iria tentar seguir esse caminho”, afirma. Em dois anos de curso no Museu Alfredo Andersen, em Curitiba, referência nacional em cerâmica artística, desenvolveu seu olhar e sua poé-tica até que, em 2013, abriu a Boitatá Ce-râmica Artística. “Meu filho acabou indo morar em Curitiba e o espaço deixado vi-rou meu atelier. Tenho a impressão que a vida cuida da gente quando fazemos as coisas com amor. Tudo se encaixa no tem-

po e no espaço”, profetiza a artista. E com-pleta, “o apoio da família também é fun-damental, financeira e emocionalmente”.

Mas ela garante que nem tudo são flo-res. Segundo ela, para mudar de vida é necessário desapego, uma boa dose de controle emocional e de paciência. “Vir-tudes que ainda estou desenvolvendo”, garante. Para ela, foi difícil passar de uma vida profissional muito ativa para uma re-alidade totalmente diferente, onde a natu-reza dita o ritmo, muito mais lento e natu-ral. Agora, ela caminha como as estações, dá mais valor ao tempo e às relações dura-douras, à família, à comida feita em casa, com ingredientes que, por vezes, vêm ali do quintal e até ao dinheiro – que é difícil de conseguir. “Como nunca fui uma pes-soa consumista, nem meus meninos, foi mais fácil passar por essa transição. Mas sei que não é pra todo mundo”, comenta.

O trabalho agora se divide entre os fre-elas de jornalismo e as horas modelando

de curitiba, Pr Fotos de divulgação/ Boitatá

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argila, já que ainda não está sendo possível viver totalmente da arte. “No Brasil, ainda são poucas as pessoas que conseguem so-breviver somente do seu trabalho artístico. As pessoas ainda preferem compras em shoppings onde tem de tudo; a cultura de uma peça exclusiva, feita a mão, com qua-lidade, tem um caminho a percorrer”. Mas ela não reclama. “Pelo tempo que es-tou no mercado considero que minha obra está ganhando espaço. Tenho em mente que estou sempre aprendendo e o que considero realmente fundamental nesse amadurecimento artístico é a pes-quisa, o parar para pensar no que se está fazendo, a criação de uma linguagem pró-pria a partir de percepções e da absorção de todos os fragmentos que vamos encon-trando pelo caminho”, reflete. Quando pergunto qual é esse seu caminho, ela me responde de imediato que é o não-objeto. “Não que eu não faça objetos, utilitários, mas eles não são meu foco principal. Eu gosto de desconstruir a partir da arquite-tura, uma de minhas inspirações, transfor-mando a argila em uma expressão que, quando pronta, tende naturalmente a cau-sar outras. Não somos mais donos do que fazemos depois do ponto final”, finaliza.

Para saber mais sobre a artista: http://danicarazzai.wix.com/boitata fa-cebook.com/ceramicaboitata Insta-gram: @boitata_ceramica

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ISABELLA ARARIPEP elas Empr esas

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Acaba de nascer a M i m o m e u , grife es-

pecializada em bolsas de tecidos e lonas, com foco em design, estampas diferencia-das e ótimos preços. “Este é um sonho rea-lizado”, conta Lili Ri-beiro, ex-funcionária de carreira da Vale que aposentou-se e depois de mudar-se com o ma-rido para Nova Fribur-go, na Serra Fluminense começou a acalentar o projeto de uma grife. Juntou-se à amiga Julie Scott Murray Breder e criou vários modelos de bolsas. A Mimo meu

também tem nécessaires e itens que podem ser feitos sob medida para eventos e empresas. Maiores informa-ções: http://mimomeu.iluria.com/

Lançamento da grife de bolsas Mimo Meu

produtos, ainda em uma farmácia de manipulação, no centro de Curitiba. A visitação termina na criação do Grupo Boticário, em 2010, e o lançamento das outras três unidades de negócio, nos dois anos seguintes. Há, também, objetos importantes que con-tam a história da companhia, como o primeiro molde de ânfora (embalagem de vidro usada em perfumes de O Boticário que se tornou um ícone da marca) e a batedeira de cozinha usada por Miguel Krigsner na primeira farmácia, para misturar as fórmulas dos produtos cosméticos manipulados.

ecobalsas leva estudantes para passeio ecológico na Barra

Em cinco anos, a Ecobalsas - empresa especializada em transporte lacustre - já levou mais de 16 mil alunos de escolas particulares do Rio de Janeiro para o pas-seio ecológico Expedição Barra. Há dois anos, o pro-jeto foi estendido a estudantes de colégios municipais

que, sem pagar nada, estão podendo conhecer um pouco mais sobre a fauna e a flora da região e navegar pela Lagoa de Mara-pendi, na Barra da Tijuca. Mais de 3.600 alunos já foram con-templados nos passeios que acontecem às segundas-feiras e têm roteiros elaborados em parceria com biólogos, educadores e com o Clube Marapendi.

“O resultado tem sido muito positivo e gratificante. Por meio de uma prazerosa experiência de navegação, aproximamos as crian-ças da Lagoa de Marapendi e chamamos atenção para a importân-cia de preservá-la. Elas se mostram muito interessadas em aprender mais sobre esse conjunto natural tão rico, porém pouco explorado e conhecido”, contou Georges Bittencourt, diretor da Ecobalsas.

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O Grupo Boticário inaugurou em 24 de março a Ex-posição Histórias Grupo Boticário, que reúne o acervo da memória da companhia no mesmo local em que foi construído o primeiro prédio próprio da empresa, em 1982, em São José dos Pinhais

(PR).  Artur Grynbaum, presidente do Grupo Boticário, e Mi-guel Krigsner, fundador de O Boticário e presidente do Conse-lho de Administração, participaram da cerimônia de inaugura-ção.   A ação faz parte das comemorações pelos cinco anos do Grupo Boticário e 38 anos da unidade O Boticário.

A exposição é interativa, com vídeos e experiências sensoriais que contam a trajetória da empresa, contextualizada com marcos de cada período na história do Brasil. Tudo começa pela década de 70 quando O Boticário começou a produzir seus primeiros

Grupo Boticário inaugura exposição que resgata

história da empresa

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ACoca-Cola Brasil lança, no próximo mês, Del Valle 100% Suco, a linha de sucos prontos para beber da marca com 100% de suco, fibras e vitamina C — elementos que podem ser encontrados

na própria fruta. Além de alto valor nutricional, a bebida contém apenas açúcares da fruta e não possui, na composição, corantes e conservantes. Resultado de pesquisas nutricionais ao longo dos últimos anos, a nova linha chega para ampliar a família Del Valle, com a entrada da marca em um novo segmento.

nova bebida de del Valle é composta por 100% de suco de fruta

O McDonald’s está comprometido com a sustentabilidade, por meio de projetos de economia de recursos naturais e parcerias com seus fornecedores. Os resultados desses esforços da rede podem ser medidos em números e em certificações para a empresa.

No Brasil, a Arcos Dourados, operadora da marca McDonald´s no Bra-sil, tem várias ações de sustentabilidade. Hoje, estacionamentos e drive-thru de 40 restaurantes da marca são iluminados com LED e geram uma econo-mia de até 80% de energia elétrica para cada restaurante. Diante desses re-sultados a empresa decidiu que a partir do mês de abril todos os restaurantes inaugurados serão equipados com luzes da tecnologia LED.

“Promover a proteção dos recursos naturais, biodiversidade e gerar o respeito aos direitos humanos em todas as comunidades onde atuamos está na agenda de temas prioritários da Arcos Dourados”, afirma o Diretor de Sustentabilidade para a América Latina, Leonardo Lima, explicando que a empresa tem ações em vários segmentos, começando por uma eficiente ges-tão da cadeia de fornecedores, que passam por rígidas auditorias de padrão.

Mcdonald’s investe em programas sustentáveis

A Telefônica Vivo já contabiliza mais de 530 mil assinaturas ativa-das via tablet, dentro de seu programa de Venda Sustentável. Todas as lojas próprias da operadora já estão utilizando o siste-ma, que dispensa o uso de papéis e utiliza o tablet no momento da assinatura do contrato do cliente. Para cada nova aquisição

realizada em uma loja própria, costumavam ser impressas pelo menos duas páginas de contrato, mais 13 folhas opcionais referentes às cláusulas do docu-mento. Além de contribuir para a redução de papel, o novo sistema simplifi-ca o processo de venda e permite controle on-line, o que diminui o tempo para ativação dos serviços e minimiza custos com gestão de documentos.

telefônica Vivo: venda sustentável conquista clientes

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Os sabores de Del Valle 100% Suco são uva e laranja, em embalagens Tetra Pak de 1 litro e de 250 ml. As bebidas são fontes de vitamina C, um antioxidante natural que contribui para a prote-ção das células contra os radicais livres. A vitamina C ajuda na formação normal de colágeno, visando a função normal dos ossos, da cartilagem, das gen-givas e pele. Também auxilia o metabolismo ener-gético e na absorção de ferro. A fibra alimentar, presente na bebida, é importante para o funciona-mento do intestino.

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o jornalista e escritor eduardo Galeano, falecido recentemente, deixou obra relevante que marcará toda uma geração. o mais famoso livro – “as veias abertas da américa Latina” – foi dado como presente pelo então presidente da Venezuela, Hugo chavéz, para o presidente dos estados unidos, Barack obama, durante a 5ª cúpula das américas, em 2009. no dia seguinte, já era o segundo livro mais comprado no site amazon. confira algumas das frases e trechos de livros marcantes de Galeano.

“Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.”“ a utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar. ”“o corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. nem uma culpa como nos fez crer a religião. o corpo é uma festa.”

“quando as palavras não são tão dignas quanto o silêncio, é melhor calar e esperar.”“assovia o vento dentro de mim. estou despido. dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contra vento, e sou o vento que bate em minha cara.” (em o livro dos abraços. )

“o sistema internacional de poder fez com que a riqueza continue se alimentando da pobreza alheia. Sim, as veias da américa Latina continuam abertas.” (em entrevista para clóvis rossi, da Folha de S. Paulo)

Frases

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Estante

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Carlos Franco – Editor de Plurale em revista

o terceiro templo, por ivan sant`anna, Editora objetiva, 192 págs, r$ 29,90

Os conflitos em torno do pe-tróleo e as guerras político-reli-giosas pela posse das terras de Israel e da Palestina parecem cada vez mais distantes de uma solução pacífica. Em  O Terceiro Templo, Ivan Sant’Anna relata com maestria os principais even-tos políticos que culminaram na

Guerra do Yom Kippur, travada entre as forças de Israel e uma coalizão de Estados árabes sob a liderança da Síria e do Egito entre os dias 6 e 26 de outubro de 1973. A entrada dos Esta-dos unidos na disputa, em defesa dos interesses de Israel, e da união Soviética, ao lado dos países árabes, resultou em um dos momentos de maior tensão mundial, quando a ame-aça de uma corrida nuclear tornou-se iminente. O livro expõe de forma clara e concisa a atuação e as estratégias concebi-das pelos principais líderes políticos do mundo diante do que se tornou um dos maiores impasses da agenda internacional.

sirva para vencer – a dieta sem glúten para a excelência física e mental, por novak djokovic, Editora évora, 202 págs, r$ 39,90

Novak Djokovic é um atleta aci-ma da média. Natural de um país dividido por uma guerra civil, passou sua infância e adolescência fugindo de bombas e, às vezes vivendo à

base de pão e água. Não desistiu e, mesmo tendo que se es-conder ou treinar sobressaltado por conta dos bombardeios, se tornou o melhor tenista do mundo, encabeçando o ranking da ATP por dois anos consecutivos. Nem é preciso dizer que o caminho que o levou ao sucesso teve percalços, fracassos e descobertas. No livro “Sirva para vencer – a dieta sem glúten para a excelência física e mental”, lançado pela Editora évora, Djokovic narra sua trajetória até o pódio e reforça o ditado po-pular – “você é aquilo que você come”. Antes de mostrar a solução, Djokovic decreve todos os problemas que teve en-quanto participava de torneios, onde passava mal, se distraia, e perdia as forças para jogar, e competir, muitas vezes em partidas decisivas. Ganhou apelidos, trocou de técnicos e até ouviu de muita gente que não treinava suficiente, ou ainda, que era muito doente e fraco.

“viver é a melhor opção - a prevenção do suicídio no brasil e no mundo”, por andré trigueiro, 192 págs, Editora correio Fraterno

Autor de quatro livros - todos best-sellers - o jornalista André Tri-gueiro, com longa tra-jetória de cerca de 30 anos em diferentes re-

dações, se prepara para lançar mais um. Desta vez, de um tema realmente tabu: o suicídio. Trigueiro atua como voluntá-rio-colaborador na ONG Centro de Valorização da Vida (CVV), entidade com 53 anos de trabalho sério na causa. No livro - “Viver é a melhor opção” -, o jornalista fala de sua pesquisa e militância em torno de um assunto tão sério quanto urgen-te. Todos os direitos autorais do livro serão para o CVV. “A prevenção do suicídio é um assunto urgente, e ausente. São mais de 800 mil casos por ano, 2.200 por dia, um a cada 40 segundos”, adverte o autor.

contos da vida absurda, por luís Pimentel, Editora casarão do verbo.

A obra reúne textos pre-miados em diversos concur-sos nacionais de con-tos.  Luís Pimentel é jornalista e escritor, tendo trabalhado em grandes re-dações. Suas tramas, seus

enredos e seus personagens pertencem ao universo tenso e denso das humanidades, onde figuras miúdas, cotidianas, crescem no embalo de suas imagens, na música inconfun-dível dos seus textos. Como nas ficções que se desenvol-vem nestas páginas, em que as relações conflituosas, o amor, o desamor, as esperanças e o desespero dão o tom. um tom quase sempre contido, intenso, mergulhado em at-mosferas às vezes opressivas, mas sempre dominado por um lirismo comovente.

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Conservação

Finalmente, o tatu-bola vai ga-nhar casa própria. O mascote da Copa ameaçado de extinção terá um parque para chamar de seu, com a  criação do  Refúgio de

Vida Silvestre Tatu-bola, pelo governador de Pernambuco, Paulo Câmara, no último sábado, 14/3, na cidade de Petrolina (PE). No ano passado, pesquisadores da Univasf (Universidade Federal do Vale do São Francisco) se mobilizaram fortemente em prol da iniciativa, como foi relatado pelos parceiros do Portal 1 Papo Reto na Edição 41 de Plurale em revista.

A unidade de conservação tem 110 mil hectares, abrangendo os municípios pernambucanos de Petrolina, Lagoa Gran-de e Santa Maria da Boa Vista. O objetivo é proteger da devastação a rica biodiversi-dade da Caatinga. O  Tolypeutes tricinc-tus, considerado na lista internacional de espécies da IUCN como “vulnerável”, foi o ponto de partida dos professores da Uni-vasf René Cordeiro e José Alves de Siquei-ra Filho para a mobilização.

Como o bichinho simpático se tornou mascote da Copa (lembram do Fuleco?), a dupla de amigos docentes se animou e in-tensificou o ativismo em prol de um par-que numa área onde viviam  assentados pelo Incra. O problema maior seria conse-guir verba para tal.

O então secretário do Meio Ambiente de Pernambuco, Carlos André Cavalcanti,

tAtu-BOlAganha casa nova

Por carolina Stanisci, editora do Portal 1 Papo reto Fotos de renê cordeiro/divulgação

José A. Siqueira, Maria Jaciane e René Cordeiro

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dizia que os recursos viriam de compensa-ção ambiental de grandes empreendimen-tos realizados no Estado.

“Estou sentindo uma felicidade imen-sa e a sensação de uma etapa de vida cum-prida. Agora vamos fazer o refúgio virar realidade na prática”, afirma Cordeiro.

O decreto com a criação do parque será publicado nos próximos dias no Diá-rio Oficial de Pernambuco.

Olhe o que os protagonistas deste caso disseram na época:

Leia um resumo da verdadeira saga na qual se transformou o projeto de preserva-ção do tatu-bola:

O local escolhido para abrigar o par-que é rico em fauna e flora: tatus, veados, mocós, preás, uma infinidade de répteis e de  aves, além de  juazeiros, umbuzeiros, umburanas. O lugar pertence ao estado de Pernambuco, e hoje contempla assenta-mentos realizados pelo Incra.  Toda essa riqueza que salta aos olhos dos pesquisa-dores, porém, está ameaçada.

Os assentados acabaram desmatando muito o entorno e caçam os animais. “Um morador tem uma horta orgânica, mas a maioria lá desmata. Há uma escola tam-bém, mas é tudo muito precário. A me-

renda é macarrão com salsicha, o banheiro é ruim”, conta René. “Se não houver pre-servação, em 10 anos não vai existir mais nada.”

Um trabalho de campo feito pelos dois docentes da Univasf revelou o po-tencial daquilo tudo se tornar um par-que. “Perguntamos aos moradores sobre o tatu. Eles diziam: ‘Tinha o tatu-bola, o fulano caçava, mas hoje não estamos en-contrando’”, lembra René. O desapare-cimento do tolypeutes tricinctus fez soar o alarme.

Tendo tudo isso em vista, a dupla de amigos pensou: por que não aproveitar o gancho do mascote da Copa, o Fuleco (um tatu-bola), e conseguir recursos para um parque?

Em tempo recorde, colocaram a mão na massa: entraram em contato com o pessoal da Associação Caatinga, responsá-vel pela campanha que alçou o tatu a mascote da Copa, elaboraram um projeto para o parque, que envolve ação educati-va, trabalho de campo e formação de guias, procuraram o secretário do Meio Ambiente do Estado de Pernambuco e postaram abaixo-assinado online mobili-zando pessoas.

Trabalho do professor José Alves de Siqueira Filho em campo

Região, antes de virar oficialmente o Refúgio de Vida Silvestre Tatu-Bola

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Vida Saudável

PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 201564 PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 201564

Os chás, definitivamente, passaram a fa-zer parte do dia-a-dia de muitos brasileiros, fazendo uma verdadeira dobradinha com o tradicional café. O matcha é a novidade da vez. Com origem nos templos budistas do Japão, o matcha é elaborado com as folhas mais novas e tenras do chá verde, vindas de plantações protegidas do sol. Depois de co-lhidas, as folhas são trituradas muito lenta-mente em um moinho de pedra, até que se-jam reduzidas a pó. Nutricionistas alertam que não adianta esperar milagres, mas admi-tem que como o vegetal produz mais clorofi-la, aminoácidos e l-teanina, que ajudam a

Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês) comprovam que o nível do desperdício de alimento mun-dial é de um terço.

O rastro de desperdício de alimentos em escala global é da ordem de 1,3 bilhão de toneladas (excluindo peixes e frutos do mar), ocasionando, além de significativas perdas econômicas (750 bilhões de dólares por ano), também forte impacto ambien-tal, pois essa enorme perda, excetuando China e EUA, se fosse um país, seria a ter-ceira maior emissora de gases causadores de efeito estufa (são 3,3 bilhões de tonela-das de gases nocivos).

Cabe apontar que os gases de efeito estufa (GEE) modificam o balanço atmos-férico entre carbono e oxigênio, dos quais depende o equilíbrio ecológico e a repro-dução da própria vida.

Junto com a produção de alimentos desperdiçados, perde-se também água, energia e produtos químicos usados na produção alimentícia. Somente o volume de água “perdido” nesse desperdício equi-vale ao fluxo anual do rio Volga, na Rús-sia, aponta o relatório da FAO.

Estudos apontam que mais de 1% da população mundial sofre com a doença celíaca, mais conhecida como intolerância ao glú-ten. No Brasil, seriam mais de 2 milhões de pessoas com o problema, mesmo sem terem obtido ainda um diagnóstico médico. O Mundo Verde, maior rede de lojas especializadas em produtos naturais, orgâni-cos e para o bem-estar da América Latina, amplia agora o portfólio da marca própria Mundo Verde Seleção, que hoje conta com mais de 30 itens, e lança diversos itens naturalmen-te livres da proteína. São cookies, rosqui-

Mundo Verde lança linha sem glúten

desperdício de alimento mundial

é de um terço

chá matcha, a novidade da vez

O site do Vigilantes do Peso tem várias sugestões gratuitas de receitas fáceis e nu-tritivas para quem deseja perder peso. Como mousse de manga diet, quiche de espinafre e queijo e salada de macarrão com legumes. Quem preferir pode com-prar o livro pelo site com 200 opções. Confira diferentes receitas em http://vigi-lantesdopeso.com.br/receitas

receitas fáceis e nutritivas

dissolver a gordura e a eliminá-la mais rapi-damente. Isso foi mostrado a partir de um estudo publicado em 2005 no  American Journal of Clinical Nutrition(Jornal Ameri-cano de Nutrição Clínica, em tradução li-vre). Foram avaliados os efeitos dos chás que possuíam catequina e cafeína na composição para o emagrecimento. Os homens que to-maram o chá verde com altas doses de cate-quina conseguiram eliminar mais peso do que os que tomaram uma bebida com baixas quantidades da substância: enquanto os pri-meiros perderam aproximadamente 2,5 kg, os outros cortaram somente cerca de 1,3 kg.

nhas e mistura para bo-los e tortas salgadas, que proporcionam ao celíacos ou não, uma dieta balance-ada, sem contraindicações.

Segundo o presidente da rede Mundo Verde, Car-los Wizard Martins, os no-vos produtos foram espe-cialmente pensados para as pessoas que lutam contra esse tipo de intolerância ali-mentar. “A nova linha visa atender a uma demanda crescente no mercado ali-mentício, onde a qualidade

de vida e o bem-estar vêm ganhando cada vez mais atenção”, afirma Martins.

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i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r

cineMa Verde ISABEL CAPAVERDE

no meio do rio entre as árvores a lei da água - novo código

florestal

Discutir o impacto do novo código ambiental e levar essa discussão a univer-sidades, escolas, sindicatos rurais e comu-nidades carentes é a proposta do docu-mentário A Lei da Água – Novo Código Florestal, com direção de André D´ Elia e produção executiva de Fernando Meirel-les. Como é um filme sem fins lucrativos, ele utilizou o sistema de financiamento coletivo (crowdfunding) para ser divulga-do e exibido por todo país. Realizado ao longo de 16 meses, fruto de uma parceria entre Instituto Socioambiental (ISA), WWF-Brasil, Fundação SOS Mata Atlântica, Instituto Democracia e Sus-tentabilidade (IDS) e Bem-Te-Vi Diver-sidade, o filme dá voz a ambientalistas, cientistas, ruralistas e agricultores que acompanharam de perto a tramitação do Código Florestal no Congresso, em 2012, opinando sobre seus impactos e trazendo perspectivas diversas e discor-dantes sobre o tema. Segundo o diretor, “o Código Florestal Brasileiro deve ser bom para a agricultura, deve ser bom para a floresta e deve ser cumprido. Espe-ra-se que o público compreenda as ques-tões relacionadas à lei, podendo decidir por si próprio o que é melhor para o Bra-sil. E que vença a melhor ideia!”

Depois de rodar por vários festivais des-de o seu lançamento em 2010, o filme No Meio do Rio Entre As Árvores chega ao cir-cuito comercial brasileiro. Dirigido por Jor-ge Bodanzky (pai da também cineasta Laís Bodanzky e realizador que já trabalhou com Hector Babenco, Antunes Filho, Maurice Capovilla, José Agripino de Paula, Reinhard Kahn e João Batista Andrade), o documen-tário é resultado de uma expedição ao Alto Solimões, que ministrou oficinas de vídeo,

trinta anos de um circuito O Grupo Estação – hoje Circuito Es-

tação Net de Cinema – no Rio de Janei-ro, completa 30 anos em 2015. O circui-to independente de salas manteve como característica exibir filmes não comerciais e promover mostras, festivais e maratonas cinematográficas com o objetivo de for-mar novos públicos. Ano passado chegou a passar por um momento difícil e quase fechou as portas, mas com o apoio de

circo, fotografia às comunidades ribeirinhas dentro de reservas ambientais. Feito pelos ribeirinhos, a partir da tecnologia recém aprendida, o filme mostra a região e seus problemas pela visão deles mesmos. Não há interpretações externas. Eles escolheram o que queriam falar e filmar, seja o seu coti-diano, seus sonhos, suas dificuldades e como resolvem seus problemas, pois estão esquecidos pelo poder público. Por vezes são irônicos. Como ao falar da precariedade do atendimento médico na região. Nas pa-lavras de um ribeirinho, “se a gente chega com câncer o exame vai indicar malária”.

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Premier mundial do último filme de eduardo coutinho

Um dos maiores documentaristas bra-sileiros, Eduardo Coutinho – morto em fevereiro do ano passado – deixou o seu 14º longa, Últimas Conversas, inacabado. Documentário que acabou editado pela montadora Jordana Berg, parceira de Cou-tinho em diversos projetos e concluído por João Moreira Salles. O filme é realizado a partir de entrevistas feitas pelo cineasta com jovens estudantes brasileiros. De um jeito muito peculiar, como fez em tantos

trabalhos - Santo Forte (1999), Babilônia 2000 (2000),  Edifício Master (2002),  Pe-ões  (2004), O Fim e o Princípio (2005),  Jogo de Cena(2007),  Moscou  (2009),  Um dia na Vida  (2010),   As Can-ções (2011) - Coutinho tenta saber como vivem o que pensam e o que sonham os jovens que entrevista. O filme foi exibido em premiere mundial no Festival É Tudo Verdade que acontece em abril no Rio de Janeiro e em São Paulo.

uma legião de fiéis frequentadores que fizeram campanha em prol do Estação, como é conhecido, conseguiu um novo parceiro. Para celebrar o aniversário e a nova fase, a festa começa em abril. Filmes clássicos dos anos 80, maratona interati-va de terror, sessões com piano ao vivo, clássicos do cinema francês e o relança-mento da Revista Tabu marcam o início das comemorações.

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A foto histórica de uma índia botocuda de seios nus provocou polê-mica. O Facebook proibiu a sua exibição. Depois de protestes – inclusive de autoridades – a foto, de domínio público, pode, final-mente, ser exibida também nesta rede. A preciosidade – clicada em 1909 por Walter Garbe, no Espírito Santo - faz parte do acervo

Brasiliana fotos, que começou com a união de esforços da Fundação Bibliote-ca Nacional e do Instituto Moreira Salles, e pode ser encontrado no site: http://brasilianafotografica.bn.br/brasiliana/

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