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1 SBAC NO LABORATÓRIO NO LABORATÓRIO Publicação trimestral da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas Nº 003 Julho 2016 Pesquisa e tecnologia A qualidade e o conhecimento em prol da segurança dos procedimentos laboratoriais Congresso da SBAC Inovar sempre para transformar Pág.10 Arboviroses O grande desafio Pág.14

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1SBAC no laboratório

no laboratório

Publicação trimestral da Sociedade Brasileira de Análises ClínicasNº 003 • Julho 2016

Pesquisa e tecnologiaA qualidade e o conhecimento em prol da segurança dos procedimentos laboratoriais

Congresso da SbaC Inovar sempre para transformar Pág.10

arboviroses O grande desafio Pág.14

2 Sociedade Brasileira de Análises Clínicas

3SBAC no laboratório

apresentação ÍndiceA revista SBAC no Laboratório chega à terceira edição trazendo, mais uma vez, reportagens sobre temas atuais e artigos exclusivos escritos por profissionais renomados.

A cada número trabalhamos para aperfeiçoar o conteúdo, tornando

este veículo de comunicação uma ferramenta útil para seus leitores. Queremos, desta forma, nos transformar em um canal que facilite e promova a troca de conhecimento entre os associados da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas e os profissionais da área de análises clínicas em geral.

Uma das marcas da revista é a abordagem leve e agradável de temas científicos, que geralmente costumam ser tratados de forma árida e acadêmica.

Entre os destaques desta edição está uma entrevista com o Dr. José Abol Correa, diretor administrativo do Programa Nacional de Controle de Qualidade (PNCQ). Trazemos ainda algumas informações referentes ao 43º Congresso Brasileiro de Análises Clínicas, realizado em São Paulo no mês de junho.

Também neste número você ficará sabendo mais sobre o Next Generation Sequency (NGS), exame que detecta a predisposição genética para o câncer de mama, tema de um estudo publicado em março pelo Journal of Clinical Oncology.

Um extenso artigo sobre o diagnóstico das arboviroses está em destaque, devido à relevância do assunto nos dias atuais. O leitor também encontra na publicação o segundo artigo da série sobre neuroparasitoses. Na área de gestão, tratamos da importância do QUALISSIS da ANS para a Saúde complementar. Boa leitura! Abraços,amadeo Sáez-alquezar Editor chefe da SBAC no Laboratório

diretoria eXeCutiVa SbaC Presidente: Jerolino Lopes Aquino Vice-Presidente: Maria Elizabeth Menezes Secretário Geral: Jairo Epaminondas Breder Rocha Secretário: Luiz Roberto dos Santos Carvalho Tesoureiro: Estevão José Colnago Tesoureiro Adjunto: Marcos Kneip Fleury Diretor Executivo: Luiz Fernando Barcelos

SbaC no laboratório Editor chefe: Amadeo Sáez-Alquezar Conselho Editorial: Ana Paula Faria - Antonio Walter Ferreira Caio Maurício Mendes de Cordova - Jerolino Lopes Aquino José Abol Corrêa - Lea Costa - Lenilza Mattos Lima Marcos Kneip Fleury - Mauren Isfer Anghebem Maria Elizabeth Menezes - Pedro Dazevedo Jornalistas responsáveis: Adriana Carvalho / Ivolethe Duarte Projeto gráfico e editorial: Smart Design Revisão: Tânia Cotrim Impressão: Input Bureau Comunicação Gráfica Tiragem: 7.000 exemplares Periodicidade: Trimestral

FALE CONOSCO Rua Vicente Licínio, 99 - Tijuca Rio de Janeiro - RJ - Brasil CEP: 20270-902 (21) 2187-0800 | (21) 2187-0805 [email protected]

sociedade-brasileira-de-analises-clinicas

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Todos os direitos reservados

• Eles podem mexer com sua cabeça

• Diagnóstico laboratorial das arboviroses

• A importância do QUALISS para a saúde complementar

SbaCINFORMA

SbaCgESTão

• Inovar sempre, para transformarSbaCEmdESTAquE

• José Abol CorrêaSbaCENTREVISTA

• Sequenciamento de próxima geração expande-se na rotina do testes clínicos

• Cursos

SbaCATUALIZA

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a versão digital da revista está disponível no site www.sbac.org.br e na fanpage no www.facebook.com/SbaCorg

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SbaCATUALIZA

Sequenciamento de próxima geração expande-se na rotina dos testes clínicosCom redução de custos e tempo, método amplia estudo do câncer e melhora a qualidade da avaliação clínica

Considerado como um dos avanços tecnológicos mais significativos das ciências biológicas dos últimos 30 anos, o sequenciamento de próxima geração, conhecido como NGS – sigla em inglês para Next Generation Sequencing –, está em expansão na rotina dos testes clínicos em laboratórios, com expectativa de crescimento exponencial de demanda nos próximos meses e anos. Com rápida capacidade de resposta e menor custo comparado a outros testes moleculares, o NGS permite determinar se um paciente tem risco elevado para o desenvolvimento de câncer por meio da investigação de mutações genéticas hereditárias.

Resultado da integração do Projeto Genoma com a prática clínica, esse sequenciamento já auxilia no estudo de variados tipos de câncer. A detecção de uma mutação em um membro da família indica elevado

marCadoreS tumoraiS, aliadoS de longa data Os Marcadores Tumorais (MTs), substâncias moleculares presentes em células cancerosas, sangue ou outros fluidos orgânicos, são importantes aliados dos oncologistas para o manejo clínico de pacientes. Eles são úteis para o diagnóstico complementar, avaliação de prognóstico e da resposta terapêutica, além da detecção precoce de recidivas, sendo fundamentais para a monitoração do tratamento oncológico. Os MTs podem ser proteínas, antígenos, hormônios, ácidos nucléicos, poliaminas, antígenos, enzimas ou lipídios específicos da membrana celular. Mais recentemente, componentes teciduais genéticos também passaram a ser considerados marcadores.

Embora o nível elevado de uma determinada substância possa ser indicativo de um câncer,

o aumento pode ser provocado por causas não malignas. Eles podem ser analisados por meios bioquímicos ou imuno-histoquímicos nos tecidos ou no sangue, e por testes genéticos para investigações de oncogenes, genes supressores de tumores e alterações genéticas.

Entre os principais marcadores tumorais estão: AFP (alfafetoproteína); MCA (antígeno mucoide associado ao carcinoma); Cromogranina A; BTA (antígeno tumoral da bexiga); Telomerase; NMP22 (proteína da matriz nuclear); Cyfra 21.1; PAP (Fosfatase Ácida Prostática); CA 72.4; ß-HCG (gonadotrofina coriônica humana); CA 125; CA 15.3; CA 19.9; CA 27.29; CA 50; Calcitonina; Catepsina D; CEA (antígeno carcinoembrionário); C-erbB-2 (oncogene); LDH (desidrogenase lática); K-ras; NSE (Enolase Neurônio Específica); PSA (antígeno prostático específico); p53 e β2-Microglobulina.

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risco de que outros sejam portadores da mesma, com importantes implicações à saúde inclusive das gerações futuras. No aspecto clínico, o aumento da capacidade de sequenciamento permite o estudo de regiões muito maiores do genoma.

E as técnicas de NGS não param de ampliar o conhecimento científico sobre os processos neoplásicos. No câncer de mama, a maior causa de mortalidade por câncer entre mulheres em todo o mundo, com cerca de 520 mil mortes estimadas por ano, o método permite o sequenciamento completo dos genes BRCA1 e 2. Dentre as pessoas que herdam mutações nocivas do BRCA1/2, a probabilidade de que transmitam para seus filhos é de 50%.

Um estudo recente feito por pesquisadores do Beth Israel Deaconess Center de Boston (EUA) com 488 pacientes diagnosticadas precocemente com câncer de mama, publicado em 14 de março deste ano no Journal of Clinical Oncology, analisou, por esse método, a frequência e o valor preditivo de mutações em 25 genes de predisposição ao câncer, incluindo o BRCA 1/2, em pacientes com início precoce de tumor de mama. Os resultados mostraram que 10% das pacientes tinham mutações genéticas de predisposição ao câncer de mama, cerca de 30 delas no gene BRCA 1/2 e 21 em outros genes – o que representa um

aumento de 70% em relação às mutações identificadas apenas pelo teste do BRCA 1/2.

No Brasil, alguns laboratórios realizam esses testes para desenvolver a chamada “Medicina Personalizada”, como é o caso do Grupo Fleury. “A pesquisa de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, cuja presença provoca risco aumentado de câncer de mama ou de ovário; a investigação de cromossomopatias fetais pelo sangue materno, com identificação de trissomias nos cromossomos 13, 18, 21 ou cromossomos sexuais; e estudos mais abrangentes, como o exoma clínico, são todos exemplos de testes em que esse novo método vem sendo empregado no Fleury”, informou Edgar Gil Rizzatti, diretor de análises clínicas do laboratório. Segundo ele, o NgS revolucionou os testes moleculares. Com os equipamentos de sequenciamento de próxima geração disponíveis atualmente, é possível sequenciar o genoma humano em questão de dias, e a um custo de alguns poucos milhares de reais”, afirmou Rizzatti.

Fontes: 1) http://www.labmedica.com/genetic-testing/articles/294763784/genetic-testing-for-breast-cancer-patients-expanded.html 2) http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3219767/ 3) https://genomemedicine.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13073-015-0203-x 4) http://jco.ascopubs.org/content/early/2016/03/09/JCO.2015.65.0747.abstract

Histórico A ideia de que algumas substâncias são produzidas pela presença de câncer no organismo já é conhecida há mais de 100 anos, desde que o médico e químico inglês Henry Bence Jones identificou, em 1847, uma proteína na urina de doentes com mieloma múltiplo, que passou a ser chamada proteína de Bence Jones. A partir de então, outros cientistas aportaram importantes conhecimentos para que essa área de pesquisa evoluísse aos patamares de hoje:

1867: Foster assinalou a importância da amilasemia e da amilasúria na neoplasia de pâncreas. 1930: reconhecimento da fosfatase ácida e alcalina nas neoplasias da próstata e sarcomas osteogênicos, respectivamente. 1950: importância das enzimas glicolíticas nas metástases hepáticas.

1965: identificação do antígeno carcinoembrionário (CEA) no feto. 1969: E R. Heubner e G. Todaro identificaram oncogenes. 1975: H. Kohler e G. Milstein - importância dos anticorpos monoclonais. 1979: Wang et al. identificaram o antígeno prostático específico (PSA). 1981: identificação do CA 19.9, por Koproski et al.; e do C-erb B-2, por Shih et al. 1984: identificação do CA 15.3 por Kufe e Hilkens. 1987: identificação do CA 125 por Bray et al.

Fontes: 1) http://www.cancer.gov/about-cancer/diagnosis-staging/diagnosis/tumor-markers-fact-sheet 2) http://cancerres.aacrjournals.org/content/canres/40/8_Part_2/2973.full.pdf 3)http://www.fmh.org/body.cfm?id=598 4) http://www.inca.gov.br/rbc/n_53/v03/pdf/revisao1.pdf

6 Sociedade Brasileira de Análises Clínicas

SbaCENTREVISTA

José abol Corrêa

Farmacêutico-bioquímico, José Abol Corrêa é um defensor incansável da gestão de qualidade nas análises clínicas. Sua trajetória no setor teve início nos anos 1960, quando criou a Sociedade Brasileira de Análises Clínicas, a SBAC. Atualmente está à frente do Programa Nacional de Controle de Qualidade (PNCQ). Nesta entrevista, ele conta um pouco do trabalho que desenvolve há décadas em prol da segurança dos procedimentos laboratoriais.

este ano o PnCq completa 40 anos. Conte um pouco sobre essa trajetória e aponte qual seria, na sua opinião, a principal contribuição para a melhoria da qualidade das análises clínicas nesse período. A grande contribuição para o setor foi, sem nenhuma dúvida, a fundação da SBAC em 1968, e, oito anos depois, o início do funcionamento do PNCQ. Em 1974, durante um congresso da SBAC em Porto Alegre, em contato com o dr. Martin Rubin, ex-presidente

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da International Federation of Clinical Chemistry and Laboratory Medicine (IFCC), iniciamos a inclusão dos laboratórios clínicos brasileiros na busca pela qualidade. Em 1976, eu e o colega Marcio Biasoli, fundador da ControlLab (Controle de Qualidade para Laboratórios), preparamos o primeiro soro liofilizado no Instituto de Hematologia Santa Catarina, que foi distribuído, na ocasião, para alguns laboratórios clínicos durante um Congresso da SBAC em Belo Horizonte. Em seguida, foram realizados vários cursos sobre controle de qualidade nos eventos das sociedades profissionais, levando o assunto aos seus associados. Portanto, foi a SBAC a pioneira nesta implantação da qualidade laboratorial no país.

atualmente, temos vários grandes laboratórios no brasil que executam, rotineiramente, procedimentos muito complexos. Paralelamente, temos também um número muito expressivo de pequenos e médios laboratórios. o senhor acha que todos atendem às condutas básicas de gestão da qualidade e de procedimentos de controle de qualidade? Lamentavelmente ainda existem muitos laboratórios clínicos que não participam de um ensaio de proficiência – apesar da obrigatoriedade desse

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processo. Mas isso ocorre porque falta fiscalização por parte das Vigilâncias Sanitárias estaduais e municipais, responsáveis pela legislação vigente. Os grandes laboratórios geralmente possuem a acreditação do seu sistema de qualidade, o que os obriga a realizar um bom controle de qualidade. Mas é importante ressaltar que os laboratórios das pequenas cidades, longe dos grandes centros, prestam um serviço de saúde pública espetacular, mesmo sem esse rigor na qualidade. Vale ressaltar que eles funcionam onde o governo não oferece serviço algum. Portanto, preenchem uma lacuna importante para a população. E ultimamente estão sofrendo muito com a descapitalização, por conta da falta de reajuste dos serviços por parte do SUS. Por outro lado, cresceram muito os laboratórios de apoio, que fazem exames mais simples a valores baixos, e ganham pela quantidade de procedimentos que realizam. Essa é uma realidade que precisa ser levada em conta pelas entidades do setor.

Um laboratório pode afirmar que seus resultados são confiáveis apenas porque possui uma ou mais certificações, sejam elas nacionais ou internacionais? Não. A acreditação pelas ISO 9.001 ou 15.189 fornece somente as diretrizes para um sistema de gestão da qualidade. Para a obtenção de uma qualidade total de seus laudos, o laboratório clínico tem que estar embasado na realização eficiente de um bom programa de controle interno de qualidade e participar ativamente de um ensaio de proficiência, os quais permitem a avaliação de sua precisão e a exatidão em seus laudos. Todas as normas de acreditação laboratorial exigem os controles internos e externos de qualidade.

o desenvolvimento de equipamentos automatizados capazes de atender a grandes rotinas tem sido uma constante no cenário atual dos laboratórios de análises clínicas. o senhor acha que os procedimentos de controle de qualidade têm evoluído para atender às novas necessidades do setor? Sim, de certa forma têm. Laboratórios com grandes rotinas e automação tendem a apresentar mais qualidade nos resultados laboratoriais, mas sempre a partir da instalação de um bom controle interno de qualidade, com amostras-controles já estabelecidas e utilizadas em vários pontos da corrida automatizada. Atualmente, 30% a 40% dos laboratórios do país são

automatizados, o que traz mais segurança para o paciente. Em relação à qualidade, estimamos que 70% dos laboratórios do Brasil fazem controle de qualidade.

A qualidade dos resultados finais emitidos pelos laboratórios clínicos também depende do grau de conhecimento e comprometimento dos profissionais que neles trabalham. Como as entidades do setor contribuem para esse aprimoramento? A SBAC e o PNCQ oferecem cursos de capacitação em controle de qualidade para seus profissionais associados, estimulam a participação em congressos, jornadas e treinamento de implantação do sistema de Gestão da Qualidade, através dos cursos do PNCQ Gestor. Lutamos também pela formação universitária e treinamento constante dos profissionais. O avanço da tecnologia nessa área exige uma educação continuada, com atualizações constantes.

qual a sua opinião a respeito da legislação no brasil que regulamenta o funcionamento dos laboratórios de análises clínicas? as normas ambientais sempre são respeitadas? O Brasil sempre saiu na frente na adoção de normas e diretrizes para o aperfeiçoamento dos laudos laboratoriais. Temos hoje em vigor a RDC ANVISA 302:2005, elaborada em conjunto com as sociedades científicas da especialidade. Já tivemos normas de gestão do INMETRO – Boas Práticas de Laboratório Clínico-BPLC, do Mercosul, substituídas em 2014 pela internalização da norma NBR ISO 15.189, Laboratórios Clínicos - requisitos de qualidade e competência. Portanto, hoje no Brasil, para a acreditação de laboratórios clínicos, já há uma tendência de todas as acreditadoras para o uso das diretrizes estabelecidas por esta norma internacional.

quem deve auditar os laboratórios clínicos no que diz respeito ao cumprimento das normas de gestão de qualidade vigentes no país? Atualmente as acreditadoras de laboratórios clínicos no país são INMETRO, ONA, DICQ e PALC. Com exceção da ONA, que tem norma específica, todas as outras têm o seu manual de acreditação com base na ISO 15.189. O DICQ – Sistema Nacional de Acreditação - patrocinado pela SBAC tornou-se a maior acreditadora de laboratórios clínicos da América Latina. Conta hoje com mais de 285 laboratórios acreditados e uma grande parcela em andamento, aguardando as

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SbaCENTREVISTA

respectivas auditorias. Este aumento de laboratórios interessados na qualidade surgiu em função das normas da ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar, que implantou o Fator de Qualidade, a fim de incentivar os prestadores de serviço de saúde a oferecerem serviços com qualidade total para seus associados. Como consequência, o PNCQ planejou e implantou em todo o país os cursos do PNCQ Gestor, para auxiliar os laboratórios clínicos a preparar sua documentação e treinar seus funcionários para a implantação do seu sistema de gestão da qualidade. Além do curso teórico e prático, o PNCQ disponibiliza um software de gestão. No site do PNCQ é possível conferir a programação desses cursos.

Fale um pouco mais sobre o PnCq. O Programa Nacional de Controle de Qualidade – PNCQ, patrocinado pela SBAC, é o maior e melhor provedor de ensaio de proficiência da América Latina. Ele fornece programas de controle de qualidade para praticamente todos os testes laboratoriais. Prepara suas próprias amostras-controle, quase todas liofilizadas, para o controle externo, e disponibiliza para os seus participantes amostras-controle para o controle

Preocupação constante com a segurança

Formado em Farmácia, na turma de 1955, pela Universidade Federal do Pará, José Abol Corrêa é também coronel da Aeronáutica, onde se especializou em Saúde, em 1962. Quando iniciou na profissão, ele se surpreendeu com a ausência do controle de qualidade nos laboratórios de análises clínicas. Foi então que criou a SBAC, onde exerceu durante 13 anos o cargo de presidente. Foi chefe do laboratório de Análises Clínicas do Hospital da Aeronáutica (1962) e membro do Comitê de Educação da IFCC (1976 - 1984), entre outros cargos. É, desde 1985, coordenador geral do Programa Nacional de Controle de qualidade (PNCq) e auditor líder do DIQC (Sistema Nacional de Acreditação).R

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interno, além de estar desenvolvendo materiais de referência certificados para vários analitos.

alguns dados sobre o PnCq

• Possui cerca de 4.880 laboratórios participantes, sendo 110 no exterior;

• Tem amostras-controle para 59 programas;

• Avalia o desempenho de 280 analitos;

• Avalia mais de 3,8 milhões de resultados por ano;

• Tem amostras-controle para uso no controle interno para mais de 80 analitos e programas;

• Já possui material de referência PNCQ para bioquímica, sorologia para banco de sangue, NAT, metais para urina, Medicina do Trabalho, substâncias voláteis, biologia molecular para HIV, HCV, HBV e tuberculose.

• Está exportando amostras-controle para a Europa e países da América Latina.

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10 Sociedade Brasileira de Análises Clínicas

SbaCEmdESTAquE

inovar sempre, para transformar

Num cenário cada vez mais competitivo, sobressaem as empresas que investem em pessoas criativas, em ambientes que estimulem a inovação. É trilhando esse caminho que se transforma positivamente uma empresa, alavancam-se novos negócios e abrem-se oportunidades no mercado.

Com esse mote, a SBAC realizou, em São Paulo, no Palácio das Convenções do Anhembi, entre os dias 26 e 29 de junho, a 43ª edição do Congresso Brasileiro de Análises Clínicas.

“Nosso foco maior está na inovação. Estamos muito satisfeitos em ver que conseguimos trazer esse conceito para os temas científicos do evento, além de investirmos também em gestão”, disse Jerolino Lopes Aquino, presidente da SBAC.

As palestras magnas do congresso, aponta Aquino, pautaram-se pelo conceito da inovação como algo transformador. O médico Amilcar Tanuri, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tratou da infecção pelo zika vírus, apontando novas investigações e abordagens preventivas a respeito da epidemia. Foi muito aplaudido pelo público presente.

Para falar sobre aspectos gerenciais a serem aplicados na rotina dos laboratórios, o congresso convidou o administrador de empresas Max Gehringer, que apresentou a palestra Gerenciamento de Mudanças.

“Buscamos mostrar como melhorar a performance dos negócios, alavancar produtividade, compreender melhor o mercado”, observou Aquino.

Na sua avaliação, o congresso, que teve como tema “Integrar, inovar e empreender”, superou as expectativas em relação à qualidade e à quantidade também.

“Conseguimos reunir no Anhembi 2.900 inscritos e expositores no total, contando com a presença de 730 donos de laboratórios, o maior número num evento deste porte”, garantiu. “O conteúdo científico

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apresentado foi de primeira linha, as salas de aula tiveram tanta procura que muita gente ficou em pé.”

Para o dirigente, o congresso teve como mérito principal mesclar com maestria conteúdo científico com aspectos gerenciais. “Os pequenos laboratórios, por exemplo, vivem um momento econômico particular. Para se manterem sustentáveis, precisam viabilizar novas estratégias. Uma delas, vista aqui, pode ser o associativismo”, observou Aquino, lembrando que há 23 anos o SUS não reajusta o valor dos serviços laboratoriais contratados. “Esta questão foi alvo de discussões aqui no evento também”, afirmou.

Após quatro dias de trabalho intenso, Aquino avaliou, de forma geral, como muito satisfatório o congresso. “Acho que fomos muito felizes na escolha do tema. Vimos isso na satisfação do público participante e dos expositores. Também posso dizer que estou entusiasmado com o legado que deixamos após esse evento: acredito que avançamos bastante em conhecimento técnico e científico. Isso irá se traduzir positivamente na rotina dos procedimentos laboratoriais e nos resultados a serem alcançados”, finalizou.

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SbaCINFORMA

eles podem mexer com sua cabeçaNo segundo artigo da série sobre parasitoses que afetam o Sistema Nervoso Central (SNC) você saberá mais sobre os graves riscos da meningite provocada pelo parasita Angiostrongylus cantonensis

Na edição anterior comentamos sobre as amebas de vida livre que podem causar doenças cerebrais graves e fatais para o homem. Nesta edição e na próxima, os holofotes se voltam para helmintos emergentes pouco conhecidos no Brasil, que infectam o homem acidentalmente, podendo afetar seu cérebro de forma letal.

Pouco se falava sobre o parasita Angiostrongylus cantonensis até serem divulgados na mídia nacional relatos de meningite fatal causada por caramujo contaminado com este nematoda.1 O hospedeiro definitivo do parasita é o rato e o caramujo é o hospedeiro intermediário. O homem é um hospedeiro acidental que se infecta quando ingere larvas presentes em caramujos crus ou mal cozidos. Isso pode acontecer também ao ingerir frutas e vegetais contaminados com as secreções desses moluscos. As larvas penetram o trato gastrointestinal do homem e migram para o SNC, onde se desenvolvem em vermes jovens. Esses vermes não completam seu ciclo de vida e, ao morrer, causam processos inflamatórios graves no cérebro, conhecidos pelo termo Meningite

Eosinofílica (ME).2 os sintomas mais comuns relatados são dores de cabeça, fotofobia ou distúrbios visuais, hipertesia, rigidez de nuca, náuseas e vômitos, fadiga e parestesia. Embora normalmente seja uma infecção autolimitante, podem ocorrer sequelas neurológicas e até morte.3

Como é difícil encontrar as larvas de A. cantonensis em amostras biológicas dos pacientes com ME, o diagnóstico laboratorial pode ser feito baseado em uma contagem absoluta de 10 eosinófilos/mL ou mais de 10% dos glóbulos brancos totais no líquor, e pela pesquisa do parasita através de imunoensaios ou testes moleculares.4, 5 O tratamento da ME causada por A. cantonensis consiste no controle da inflamação.2

Gnathostoma spinigerum é outro nematoide capaz de causar ME. O ciclo de vida deste parasita é complexo: o primeiro hospedeiro intermediário é um crustáceo que ingere os ovos larvados de G. spinigerum, que são liberados juntos com as fezes de cães e gatos contaminados (hospedeiros definitivos). Peixes de

Frutas e legumes contaminados com secreções de moluscos podem causar meningite

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água doce ou sapos atuam como segundo hospedeiro intermediário quando ingerem o crustáceo infectado com larvas do parasita. Os cães e gatos se infectam quando se alimentam de qualquer um dos hospedeiros intermediários, fechando o ciclo. O homem pode ingerir acidentalmente água ou peixes contaminados com larvas que penetram a mucosa intestinal e migram através da cavidade peritoneal, podendo atingir o SNC.6, 7

A neurognatostomíase (NG) é a principal doença parasitária no diagnóstico diferencial de ME causada por A. cantonensis. Tanto na ME causada por A. cantonensis como na NG, cerca de 5% dos pacientes

Fontes: 1) Lanfredi RM, Fraiha Neto H, Gomes DC. Scanning electron microscopy of Lagochilascaris minor Leiper, 1909 (Nematoda: Ascarididae). Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. 1998;93(3):327-30. 2) Semerene AR, Lino Rde S, Jr., Oliveira JA, et al. Experimental lagochilascariosis: histopathological study of inflammatory response to larval migration in the Murine model. Memorias do Instituto Oswaldo Cruz. 2004;99(4):393-8. 3) Aquino RT, Magliari ME, Vital Filho J, et al. Lagochilascariasis leading to severe involvement of ocular globes, ears and meninges. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo. 2008;50(6):355-8. 4) Veloso MG, Faria MC, de Freitas JD, et al. [Human lagochilascariasis. 3 cases encountered in the Federal District, Brazil]. Revista do Instituto de Medicina Tropical de Sao Paulo. 1992;34(6):587-91. 5) Vieira MA, de Oliveira JA, Ferreira LS, et al. [A case report of human lagochilascariasis coming from Para State, Brazil]. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 2000;33(1):87-90. 6) Guimaraes VC, Barbosa AP, Camargo LA, et al. Otomastoidite por Lagochilascaris minor em criança: Relato de caso. Arq Int Otorrinolaringol. 2010;14(3):373-6. 7) Senthong V, Chindaprasirt J, Sawanyawisuth K. Differential diagnosis of CNS angiostrongyliasis: a short review. Hawai’i J/M/P/H: a J of Asia Pacific Medicine & Public Health. 2013;72 (6 Suppl 2):52-4.

Mauren Isfer Anghebem-Oliveira - Farmacêutica-bioquímica e professora adjunta de Bioquímica Clínica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em Curitiba.

podem relatar dor, mas no segundo caso a dor será ao longo da distribuição da raiz do nervo. O diagnóstico diferencial deve levar em conta sinais clínicos, a história de exposição ao parasita e testes sorológicos.5 A NG pode ser tratada com corticoides para redução do edema cerebral, e anti-helmínticos.2

Caramujos: da zika à meningite

Comuns em ambientes sujos e úmidos, tais como terrenos com entulhos e fundos de quintal, os caramujos podem ser hospedeiros tanto de vermes como de larvas de mosquitos que provocam doenças em seres humanos. Quem faz o alerta é a Fundação Fiocruz. Segundo pesquisas da equipe do Laboratório de Helmintologia e Malacologia Médica da instituição em Minas Gerais, já foi identificada a presença do verme A. cantonensis em quatro espécies de moluscos, entre elas o caramujo de jardim e a lesma. O verme, que pode provocar Meningite Eosinofílica, também foi encontrado em caramujos africanos, espécie introduzida no Brasil na década de 1980 com a finalidade de ser comercializado em restaurantes como “escargot”. Porém, como não houve aceitação no mercado brasileiro, a espécie foi solta e se proliferou rapidamente no meio ambiente.

Além de poder ser hospedeiro do A. cantonensis, os caramujos africanos também representam outro risco à saúde: sua casca pode servir de criadouro para o mosquito Aedes aegypti, transmissor da

dengue, chikungunya e zika. Como isso acontece? A resposta é simples: após a morte do molusco, a concha que ele carrega demora muito tempo para se decompor. Nesse período, pode acumular água de chuva e se tornar um berçário perfeito para as larvas do mosquito.

Pesquisadores da Fiocruz orientam a manter áreas externas sempre limpas e a queimar e enterrar as carcaças de caramujos, assim como seus ovos, para impedir a proliferação da espécie. Ao fazer isso, porém, é preciso proteger as mãos com luvas para evitar qualquer contato com o molusco. Segundo informações da Fiocruz, além de o caramujo africano não ter predadores naturais no Brasil, ele coloca em média 600 ovos por ano e atualmente está presente em quase todos os estados brasileiros. Se a infestação dos caramujos for muito grande, a orientação é entrar em contato com o setor de zoonoses do município para que a remoção seja feita de maneira adequada.

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diagnóstico laboratorial das arboviroseso mosquito Aedes aegypti foi introduzido no Brasil na época da escravidão, provavelmente transportado por navios vindos da África.1 A primeira arbovirose notada e documentada transmitida por este vetor, no país, foi a febre amarela. No fim do século, os estudos de Carlos Finlay e Walter Reed provaram a transmissão da doença pela picada do mosquito vetor, o que originou as campanhas para sua erradicação.2 Embora o Aedes aegypti tenha sido considerado erradicado do país na década de 1950, já na década de 1970 surtos de dengue no Caribe e na Colômbia mostravam que o vetor ressurgiu: em 1981-1982 o Brasil testemunhou uma epidemia em Roraima, seguida de outra em 1986 no Rio de Janeiro.3 As péssimas condições urbanas nas grandes cidades, aliadas à negligência no combate ao vetor, forneceram condições ideais para que este mosquito antropofílico se espalhasse por todo o país. Hoje em dia, focos de Aedes aegypti são encontrados em todos os estados brasileiros, e centenas de milhares de casos de dengue contabilizados a cada ano.

Além do vírus da febre amarela (YFV), que dá nome a toda a família Flaviviridade (flavus = amarelo em latim), o Aedes aegypti é o vetor de diversas viroses de importância médica, como a dengue (DENV), a chikungunya (CHIKV) e o zika vírus (ZIKV) entre outras. Nenhuma destas três enfermidades possui uma vacina 100% efetiva, Desta forma, o combate ao mosquito é a medida mais lógica e efetiva, mas difícil, exemplificado pelo número crescente de casos de dengue no Brasil ano a ano, e a emergência de chikungunya seguida de zika em 2014/2015.

A Polinésia Francesa foi a primeira localidade a documentar a cocirculação dos três vírus. No Brasil a introdução do CHIKV está bem documentada, tendo ocorrido em 2 episódios distintos; uma cepa de origem asiática foi introduzida do Caribe na Guiana Francesa, causando os primeiros casos no Amapá, enquanto uma cepa de origem africana foi introduzida por um viajante oriundo da África.

Já o ZIKV foi detectado pela primeira vez no Brasil em amostras coletadas em março de 2015. Suspeita-se que o ZIKV possa ter chegado ao Brasil através

de espectadores da Copa do Mundo de 2014. Não foi dada uma atenção maior ou particular ao ZIKV, inicialmente considerado como o menos agressivo entre os três arbovírus. Atualmente temos casos autóctones confirmados de ZIKV em 18 estados brasileiros11. Curiosamente, no Estado de São Paulo, o 1º caso autóctone descrito ocorreu em um doador de sangue, que comprovadamente transmitiu o vírus ao receptor de plaquetas, demonstrando a possibilidade de transmissão transfusional de ZIKV.12

Surpreendentemente, em outubro de 2015, médicos de Pernambuco relataram um grande aumento na incidência de crianças nascendo com microcefalia, observando que muitas das gestantes com RNs afetados haviam apresentado sintomas compatíveis com ZIKV durante a gravidez.

SintomaS As três viroses têm apresentações clínicas semelhantes, com algumas peculiaridades. A possibilidade de infecção do SNC pelo ZIKV é evidente nos casos de microcefalia e outras malformações cerebrais, algo inédito entre os flavivirus. Lesões cutâneas máculo-papulares e prurido com coceira são verificadas nas três doenças virais, sendo as manifestações mais frequentes na zika. Os quadros de dengue estão frequentemente associados à plaquetopenia, enquanto zika e chikungunya podem ter hemogramas normais. Apenas a dengue causa quadros hemorrágicos. Conjuntivite não purulenta é típica da zika.

O diagnóstico diferencial destas viroses só pode ser realizado por testes laboratoriais específicos. O curso rápido e característico destas arboviroses introduz um grau maior de dificuldade para o diagnóstico laboratorial, pois não existe um teste ideal que possa ser usado em todas as fases das doenças. A figura 1 mostra a evolução dos marcadores ao longo do tempo e o desenrolar da doença.

Importante ressaltar que a maior parte das pessoas infectadas será totalmente assintomática, sendo maior a proporção de assintomáticos:sintomáticos

Dr. José Eduardo Levi

SbaCINFORMA

15SBAC no laboratório

na zika (1:9), intermediária na dengue (1:3) e menor na chikungunya (1:1-2). Estas proporções variam de acordo com a população estudada, comorbidades, faixa etária e história de infecção por arbovírus.

diagnóStiCo O diagnóstico específico não modifica o tratamento, uma vez que não existem antivirais para estes agentes. Portanto, o reconhecimento do microrganismo tem importância epidemiológica e no manejo individual de cada paciente. No caso da dengue, existem riscos de agravamento dos quadros nas infecções secundárias, por isso é relevante saber com certeza se o indivíduo tem ou teve dengue. No aspecto da saúde pública, são feitos testes laboratoriais em situações de baixa incidência. Quando a epidemia supera 300 casos/ 100.000 pessoas não é necessária a coleta de amostras para testes laboratoriais, sendo os casos contabilizados como prováveis apenas com base nas manifestações clínicas. Os boletins epidemiológicos fornecidos pelo Ministério da Saúde e Secretarias Estaduais e Municipais chamam estes casos como prováveis, e normalmente os distingue dos confirmados. No entanto, é básico à propedêutica, e desejo legítimo do paciente, saber qual é o agente etiológico do quadro. Assim, muitos pronto-socorros e serviços de pronto-atendimento dispõem de testes rápidos (Point Of Care) para realizar o diagnóstico.

De um modo geral dispomos de testes sorológicos que detectam anticorpos IgG e/ou IgM, métodos de detecção de antígenos virais (NS1-dengue) e testes moleculares que têm como alvo o RNA viral.

teSteS moleCulareS Os métodos de amplificação de ácidos nucleicos são o padrão-ouro no diagnóstico por sua sensibilidade e especificidade. No entanto, seu intervalo de aplicação é muito curto, pois a viremia cursa em paralelo com a

Febre

Viremia

Teste Molecular

(PCR)

IgM

IgG

dia 5 dia 8 dia 30 dia 90

Figura 1 – Evolução dos marcadores laboratoriais das arboviroses

fase febril das três arboviroses, costumando ser mais curta na zika, onde dura em média apenas 5 dias. Esta também é a fase de maior sintomatologia, portanto onde a necessidade e procura pelo diagnóstico é maior. O material de eleição é o sangue (plasma ou soro), porém o vírus da zika é detectável na urina por um período mais prolongado, embora não se saiba o significado biológico deste achado. Especialmente em mulheres grávidas, o teste molecular da urina pode ser uma interessante forma de se fazer a vigilância viral.

Como qualquer outro método laboratorial, nem todos os testes moleculares são iguais e diversas variáveis influenciam no desempenho dos diferentes procedimentos. O tipo e volume de amostra biológica, o método de extração de RNA e principalmente os primers selecionados para a amplificação têm grande influência. Regiões genômicas conservadas permitem uma cobertura das diferentes cepas virais. Nesse sentido, o esforço de sequenciamento de isolados virais de um agente emergente é fundamental para o aprimoramento das metodologias. No momento, a maior parte dos laboratórios emprega os primers e sonda definidos por Lanciotti et al.13 mas, certamente, novos conjuntos de reagentes serão sugeridos e validados conforme aumentar a quantidade de dados das sequenciais virais disponíveis.14 duas vertentes de desenvolvimento estão ocorrendo; plataformas de high-troughput para diagnóstico de massa, aplicáveis por exemplo para triagem de bancos de sangue e órgãos mas também para pacientes durante epidemias, e testes moleculares POC para uso ao lado do paciente, como os já existentes empregados no diagnóstico do vírus da influenza.

teSteS antigÊniCoS A proteína não estrutural 1 (NS1) já vem sendo empregada como alvo para o diagnóstico de dengue há muitos anos. Em geral apresenta uma boa sensibilidade e alto valor preditivo positivo, sendo uma alternativa mais prática e barata aos testes moleculares. No entanto, estudos internacionais e no Brasil mostram que sua eficiência é drasticamente reduzida em populações já largamente expostas ao vírus.15 Testes de NS1 para dengue existem no formato de ensaios imunoenzimáticos em microplacas ou imunocromatográficos (teste-rápido), estes últimos podem ser realizados com sangue total além de plasma ou soro, pois necessitam de um volume de amostra muito pequeno (10-100µL), sendo portanto

16 Sociedade Brasileira de Análises Clínicas

SbaCINFORMA

José Eduardo Levi - Doutor em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo, é professor colaborador do Instituto de Medicina Tropical da USP (Lab. de Virologia), chefe do Laboratório de Biologia Molecular da Fundação Pró-Sangue / Hemocentro de São Paulo, pesquisador do Banco de Sangue / Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein e responsável pelo setor de Biologia Molecular do Dasa (Diagnósticos da América).Tem experiência na área de Microbiologia, com ênfase em Virologia, atuando principalmente nos seguintes temas: PCR, Diagnóstico Molecular, HPV e Neoplasia Intra-Epitelial Cervical, Doenças Transmissíveis pelo Sangue, Diagnóstico Fetal Não Invasivo.

executável com sangue obtido por punção digital, o que favorece os pacientes pediátricos, cujo número no Brasil é crescente entre os afetados pela doença. Para zika e chikungunya ainda não estão disponíveis comercialmente testes detectando antígenos específicos destas duas viroses.

teSteS SorológiCoS A designação “sorológicos” é empregada aqui como um jargão para testes que detectam anticorpos totais, IgG ou IgM no formato de ensaios imunoenzimáticos, realizados com soro ou plasma. O IgM é considerado um marcador muito útil para o diagnóstico destas arboviroses, pois cobre uma boa parte do período sintomático. Já o teste de IgG tem aplicação mais evidente apenas na pesquisa. Ainda não existe um método comercialmente disponível capaz de identificar as IgGs sorotipo-específicas. Métodos mais complexos conseguem fazer esta distinção analisando a avidez dos anticorpos.

Anticorpos podem ser capturados por antígenos imobilizados em matrizes sólidas, formato dos testes rápidos, sendo muito comum e difundido este tipo de teste para diferentes patologias, como HIV. No caso da

dengue dispomos, inclusive, neste formato, de testes que detectam IgG, IgM e NS1 simultaneamente, sendo muito informativos e ao mesmo tempo de fácil execução.

Um problema ainda não resolvido com os testes sorológicos (IgG e IgM) é que estes podem apresentar reação cruzada com outros vírus semelhantes ao zika, como o da dengue e o da febre amarela, todos flavivírus. Ressalta-se que este problema não é significativo em relação ao chikungunya, que pertence a família Togaviridae e apresenta uma composição antigênica muito distinta.

Na prática, se alguém teve dengue no passado e hoje estiver com suspeita de zika, o teste pode dar positivo para zika devido aos anticorpos contra dengue que já existiam, mesmo que o paciente não esteja com zika, levando ao falso-positivo, e vice-versa. Como os testes para zika são novos, ainda não está claro quais kits vão apresentar reação cruzada e em qual percentual. Torna-se sumamente importante a avaliação criteriosa e técnica dos produtos. No momento é recomendável cautela quanto aos resultados positivos para IgM e IgG de zika, principalmente nos locais onde já acontecem epidemias de dengue há tempos, como grande parte do Brasil.

não reagente reagente

Figura 2 – Testes imunocromatográficos para zika onde aparecem apenas as linhas de controle (esquerda) ou ambas as linhas (direita, amostra positiva para anticorpos contra zika).

Fontes: 1) Jeffrey R Powell JR, WJ Tabachnick. History of domestication and spread of Aedes aegypti - A Review. Mem Inst Oswaldo Cruz 2013; 108(Suppl. I): 11-17. 2) Staples JE, Monath TP. Yellow Fever: 100 Years of Discovery. JAMA 2008;300:960-2. 3) Dick OB, San Martın JL, Montoya RH, del Diego J, Zambrano B, Dayan GH. Review: The History of Dengue Outbreaks in the Americas. Am J Trop Med Hyg 2012; 87:584–593. 4) Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde − Ministério da Saúde − Brasil Volume 47 N° 1 - 2016. Disponível em http://portalsaude.saude.gov.br/. 5) Barjas-Castro ML, Angerami RN, Cunha MS, Suzuki A, Nogueira JS, Rocco IM, Maeda AY, Vasami FG, Katz G, Boin IF, Stucchi RS, Resende MR, Esposito DL, de Souza RP, da Fonseca BA, Addas-Carvalho M. Probable transfusion-transmitted Zika virus in Brazil.Transfusion. 2016 Jun 21. doi: 10.1111/trf.13681. [Epub ahead of print].

17SBAC no laboratório

CurSo PnCq geStor

Florianópolis - SC 25 e 26/08/2016

Fortaleza - Ce 15 e 16/09/2016

bento gonçalves - rS 18 e 19/10/2016

Para maiS inFormaçõeS aCeSSe

www.pncq.org.br/Noticia/BR/CursosCongressos

manaus - am 18 e 19/08/2016

Preparação do Laboratório para Implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade. PNCQ Gestor e Formação de Auditores Internos

rio de Janeiro - rJ 26 e 27/09/2016

belo Horizonte - mg 27 e 28/10/2016

Cuiabá - mt 06 e 07/10/2016

SbaCACoNTECE

18 Sociedade Brasileira de Análises Clínicas

a importância do qualiSS para a saúde complementarPrograma de qualificação é diferente de programa de qualidade. O primeiro, sobre o qual falaremos neste artigo, tem por objetivo estimular, por indução, a melhoria da qualificação dos laboratórios que prestam serviços para as operadoras de convênios de plano de saúde.

Desenvolvido pela ANS - Agência Nacional de Saúde Suplementar, controladora e fiscalizadora das operadoras de convênio de plano de saúde, o programa de qualificação a ser tratado aqui é chamado pela agência de QUALISS. Ele foi criado por intermédio de uma norma regulamentadora, a ANS RN 405:16.

Com o QUALISS, a ANS ampliou o poder de avaliação da qualidade e do desempenho dos serviços prestados pelos laboratórios aos beneficiários, pacientes e operadoras de convênio. Também aumentou o poder de escolha dos atuais e futuros beneficiários e das operadoras às quais estão vinculados.

Ele consiste em:

Estabelecer pela ANS atributos de qualificação relevantes para o aprimoramento da qualidade assistencial ofertada pelos laboratórios; Verificar a forma como estes atributos são obtidos pelos laboratórios; Avaliar a qualificação dos laboratórios; Divulgar a qualificação alcançada pelos laboratórios.

São atributos de qualificação assistencial aplicáveis pela ANS:

Certificado de acreditação emitido por entidade acreditadora de laboratórios ou pelo INMETRO; Certificado de qualidade monitorada obtido pelos laboratórios no PM-QUALISS; Certificado ABNT NBR ISO 9001 – Sistema de Gestão da Qualidade emitido por organismo certificador autorizado pelo INMETRO; Certificado emitido por entidade gestora de outro programa de qualidade, ambos reconhecidos pela ANS; Participação no NOTIVISA – Sistema de Notificações em Vigilância Sanitária da ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

O PM–QUALISS – Programa de Monitoramento do QUALISS é um sistema da ANS de medição para avaliar a qualidade assistencial do laboratório prestador de serviço à operadora de convênio.

Os indicadores do PM–QUALISS possuem três componentes:

Validade; Comparabilidade; Capacidade de descremar os resultados.

Ao selecionar os indicadores do PM–QUALISS, a ANS tratou de prover as condições para poder estimular a qualidade da assistência prestada, e promover a disseminação de informação sobre o desempenho e qualidade do serviço.

Público que a ANS pretende alcançar com o PM–QUALISS:

A sociedade em geral; Os beneficiários e pacientes das operadoras de convênio de plano de saúde; Os prestadores de serviços congêneres ou não; As operadoras de convênios de planos de saúde.

Para os beneficiários e pacientes, a ANS espera contribuir com o aumento da capacidade de livre escolha de um laboratório da rede de prestadores de uma operadora de convênio. Às operadoras, a ANS pretende que melhorem a qualificação de sua rede de laboratórios prestadores de serviços.

Para os laboratórios prestadores de serviços aos beneficiários e pacientes das operadoras de convênio, a expectativa da ANS é o fomento de iniciativas e estratégias de melhoria do desempenho e da qualidade assistencial.

Os indicadores do PM–QUALISS da ANS estão agregados em quatro eixos, que constituem os seguintes domínios:

1. estrutura Indicadores compostos por recursos físicos, humanos,

SbaCgESTão

19SBAC no laboratório

materiais e financeiros necessários à prestação de serviços laboratoriais.

2. Segurança do paciente Indicadores definidos a partir da aplicação no Laboratório do PNSP – Programa Nacional de Segurança do Paciente, constituídos por um conjunto de ações ou processos que objetivem reduzir a um mínimo aceitável o risco de dano desnecessário associado ao cuidado de saúde dos beneficiários das operadoras de convênios.

3. efetividade Indicadores determinados pelo grau com que a assistência, os serviços e as ações laboratoriais atingem resultados esperados.

4. Centralidade no paciente Indicadores que consistem na percepção de satisfação das operadoras de convênio, associada ao relato de experiência, escuta ativa e atenta, comunicação e envolvimento com o paciente e do paciente na tomada de decisões de sua assistência de saúde quando no laboratório.

Estando o PM–QUALISS em vigor, a ANS promoverá a avaliação sistemática individualizada por laboratório prestador de serviço e coletivamente. Para que o laboratório possa implementar o PM–QUALISS, a ANS oferecerá, como já o faz para os hospitais, a FTI – Ficha Técnica do Indicador e descritor do indicador, composto de 16 itens.

Os laboratórios prestadores de serviços às operadoras de convênio deverão manter atualizados os seus CNES – Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde, incluindo neste os seus atributos de qualificação já descritos anteriormente e os dados da emissão dos certificados de acreditação ou de certificação do SGQ.

Os atributos de qualificação dos laboratórios descritos anteriormente serão divulgados da seguinte maneira:

1. Pela anS: Para a sociedade em geral e ao mercado da saúde suplementar, incluindo a fundamentação básica e a importância na escolha do laboratório.

A ANS poderá promover a divulgação pública dos resultados dos laboratórios no PM–QUALISS, inclusive pelo site na internet; entende a ANS que tal prática

contribuirá para o aumento do poder de escolha dos laboratórios por parte das operadoras de convênios e dos beneficiários e pacientes, destas.

Os resultados dos laboratórios no PM–QUALISS poderão ser divulgados respeitando-se as especificidades locais e regionais entre os laboratórios prestadores de serviços às operadoras de convênios.

2. Pela operadora de convênio Inclusão obrigatória dos atributos de qualificação de cada laboratório prestador de serviço em seu material de divulgação da rede assistencial, em meio eletrônico, impresso em papel ou audiovisual.

Deverá destacar as razões definidas pela ANS da importância da qualificação dos laboratórios no atendimento dos beneficiários dos planos da operadora.

3. Pelo CneS

4. Pela entidade certificadora, acreditadora, colaboradora ou gestora

Fontes: 1) Lei 8.078:90 2) Lei 9.656:98 3) Lei 9.961:00 4) Lei Complementar 123:08 5) Lei 13.003:14 6) http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ans/Planos_de_saude_Cobertura_Assistencial.pdf 7) ANS RN 124:06 8) ANS RN197:09 9) ANS RN 267:11 10) ANS RN 275:11 11) ANS RN 321:13 12) ANS RN 350:14 13) ANS RN363:14 14) ANS RN 364:14 15) ANS RN 387:15 16) ANS IN DIDES 52:13

Humberto Marques Tibúrcio - Presidente do SindLab – Sindicato dos Laboratórios de minas gerais. Coordenador do GMQL – Grupo mineiro da qualidade no Laboratório e professor do Curso de Especialização em gestão do Laboratório. Superintendente do ABNT – CB36 – Comitê Brasileiro de Análises Clínicas

e Diagnóstico In Vitro da Associação Brasileira de Normas Técnicas. Membro-nato do Conselho de administração e assessor do PNCQ – Programa Nacional de Controle da qualidade.

20 Sociedade Brasileira de Análises Clínicas

Integrar, inovar e empreender.4º Núcleo de Gestão e Qualidade Laboratorial2º Fórum de Proprietários de Laboratórios.Simpósio Satélite de Micologia Clínica

Mais de 2.900 inscritos, 734 proprietários de laboratórios,100 stands expositores, 120 palestrantes nacionais e internacionais.

Obrigado por fazerem parte dessa história!

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