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II 1 PESQUISA-AÇÃO: ANÁLISE DA TRAJETÓRIA PROFISSIONAL DE UM GRUPO DE PROFESSORES EM INICIO DE CARREIRA Resumo Este texto se reporta à um projeto de pesquisa-ação de ums professora da disciplina de Prática Pedagógica, do curso de licenciatura em matemática da Fundação Educacional de Fernandópolis(FEF). Trata-se da trajetória dos alunos submetidos a práticas de reflexão-ação desde a sua formação inicial. Em contrapartida, a professora leva em consideração essa prática para também melhorar suas atividades. Destaca a relevância do trabalho em sua região e o objetivo da melhoria da formação inicial do professor de matemática. Tem como questões de pesquisa validar cientificamente uma metodologia inovadora na formação de professores de matemática. Confirmando a eficiência do método acompanhando os professores que participaram da disciplina nos anos de 2008 e 2009 e hoje atuam como professores na educação básica Palavras-chave: : pesquisarão; matemática; formação inicial.

PESQUISA-AÇÃO: ANÁLISE DA TRAJETÓRIA PROFISSIONAL … · ano seguinte, comecei a lecionar ... Levamos em conta que o individuo não é só e deve interagir com seu ... crítica

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PESQUISA-AÇÃO: ANÁLISE DA TRAJETÓRIA

PROFISSIONAL DE UM GRUPO DE PROFESSORES EM INICIO

DE CARREIRA

Resumo

Este texto se reporta à um projeto de pesquisa-ação de ums

professora da disciplina de Prática Pedagógica, do curso de licenciatura em

matemática da Fundação Educacional de Fernandópolis(FEF). Trata-se da

trajetória dos alunos submetidos a práticas de reflexão-ação desde a sua

formação inicial. Em contrapartida, a professora leva em consideração essa

prática para também melhorar suas atividades. Destaca a relevância do

trabalho em sua região e o objetivo da melhoria da formação inicial do

professor de matemática. Tem como questões de pesquisa validar

cientificamente uma metodologia inovadora na formação de professores de

matemática. Confirmando a eficiência do método acompanhando os

professores que participaram da disciplina nos anos de 2008 e 2009 e hoje

atuam como professores na educação básica

Palavras-chave: : pesquisarão; matemática; formação inicial.

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Introdução

Licenciei-me em matemática pela UNESP/São José do Rio Preto em 1997. Já no

ano seguinte, comecei a lecionar em séries do ensino fundamental e médio e naquele

momento é que percebi as deficiências do meu curso e/ou minhas próprias. Embora o

conteúdo específico tenha sido bem explorado e aproveitado, o conteúdo pedagógico

apresentava certa defasagem. Concordando com o que diz Rocha, mestre pela Unicamp,

em sua tese de mestrado:

“Ao concluir o curso pensava que sua

formação estava completa, que nada mais lhe

faltava. Mas, ao iniciar a profissão, as primeiras

dificuldades foram aparecendo. Hoje, ao refletir

sobre esse fato, acha natural ter percebido lacunas

em sua formação, pois reconhece que nenhum curso

daria conta de abarcar a realidade de todas as

escolas. Em sua perspectiva, é na prática que se

constitui o professor”.

Mesmo me esforçando, não conseguia fazer com que meus alunos assimilassem

o conteúdo de forma satisfatória. Comecei, então, a procurar cursos que sanassem essa

dificuldade. Em 2004, fiz uma especialização em psicopedagogia, pois precisava

conhecer mais sobre problemas de aprendizagem para diferenciá-los. Nesse ano,

descobri a importância de haver sempre uma interlocução entre a pedagogia e a

matemática. E foi notória a melhora do desempenho dos meus alunos. Por esse motivo,

fui convidada a ministrar as aulas de práticas pedagógicas no curso de licenciatura em

matemática da Fundação Educacional de Fernandópolis, que se iniciava em 2005. Com

uma mudança de grade no curso de pedagogia, foi incluída uma disciplina de conteúdos

e metodologia de matemática da qual fiquei responsável.

Nas práticas pedagógicas, num primeiro formato, tentava passar minhas

experiências para os alunos. Ministrava aulas de conteúdos matemáticos com ênfase

inovadora, introduzindo o uso de jogos, materiais concretos e de manipulação, sempre

apresentando algum material concreto nas aulas. Os alunos estavam muito satisfeitos

com as aulas, pois eu sempre sugeria uma receita para trabalhar aquele determinado

conteúdo. As aulas eram divertidas e produtivas, tinha a falsa concepção de que era isso

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que havia faltado para mim. No entanto, em uma das avaliações coletivas que faço no

final de cada bimestre, um aluno levantou uma discussão, argumentando que nas

bibliografias indicadas no curso não havia os procedimentos que eu recomendava.

Nesse momento percebi que era eu que desenvolvia as metodologias e que isso não

estava escrito em lugar nenhum. Então passei a planejar as aulas de maneira que os

alunos participassem de todo o processo desde a elaboração, planejamento, aplicação e

avaliação das aulas. Uma metodologia que possibilitasse que os futuros professores

tivessem acesso à realidade e aprendessem, ainda na graduação, a planejar sua aula

(ação), a se avaliar (reflexão) e replanejar (reação). Concordei, então, com No voa que

defende que os programas de formação devem desenvolver três “famílias de

competência” – saber relacionar e saber relacionar-se, saber organizar e saber organizar-

se, saber analisar e saber analisar-se – essenciais para que os docentes se situem no

novo espaço público da educação.

“... objetos e sujeitos da formação. É no trabalho de reflexão individual e

coletivo que eles encontrarão os meios necessários ao desenvolvimento profissional.”

(NOVOA, 2008, p.228). Proponho então que esse processo comece em sua formação

inicial. Na disciplina de Prática Pedagógica, o objetivo é primeiramente articular

pedagogia e matemática, formando assim um professor que tenha características

inovadoras e críticas em relação ao seu próprio desenvolvimento profissional.

O tema formação de professores aparece com muita ênfase em minha carreira,

pois percebi que poderia despertar nos futuros professores o gosto por estarem sempre

em busca de novos caminhos para ensinar.

Como isso acontecia?

Essa disciplina tem um total de cento e vinte horas divididas em dois semestres

de sessenta horas cada, com encontros semanais de três horas-aulas. Os alunos, em

grupos, escolhem uma sala de aula que acompanharão em todo o semestre. As aulas são

organizadas da seguinte forma:

� Preparação e organização da aula a ser aplicada. (1° momento)

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Figura 1- Grupo elaborando as aulas

Fonte: Aulas de Práticas Pedagógicas

� Aplicação na sala de aula na escola previamente escolhida. (2°

momento)

Figura 2 - Aplicação da atividade

Fonte: Aulas de Práticas Pedagógicas

� Retorno e avaliação para modificação do trabalho. (3° momento)

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Figura 3 - Alunos avaliando e corrigindo a aula

Fonte: Aulas de Práticas Pedagógicas

“Na primeira aplicação sentimos a necessidade de

estarmos cientes da proposta de trabalho do professor, assim a

preparação da aula do círculo trigonométrico estaria de

acordo com o material trabalhado pelo professor.

Conseguimos trabalhar o assunto previsto de forma que os

alunos pudessem compreender o tema. Fomos bem recebidos,

tanto pelo professor da sala, como pelo diretor e funcionários

gerais da unidade escolar, e também tivemos retorno em

relação aos alunos. A nossa proposta de aula estava avançada

em relação ao conhecimento da sala e necessitamos fazer

algumas revisões e reforço no conhecimento dos alunos. Tendo

em vista o contratempo, conseguimos realizar toda a nossa

proposta de trabalho e despertar nos alunos a compreensão do

tema.” ( conclusão de uma avaliação de um grupo após a

aplicação de uma aula).

As aulas são quinzenais, sendo que nesse dia refletimos sobre a aula aplicada na

semana anterior e preparamos a próxima visita, sempre levando em consideração as

observações feitas na reflexão. Os grupos se reúnem, avaliam a aula que foi ministrada,

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levantando os pontos positivos e negativos, tentando justificá-los, aproveitando a

discussão para preparar a próxima visita.

As visitas são feitas alternadas com as aulas. Nesse formato é possível pensar e

analisar cada visita para não cometer os mesmos erros, preparando o futuro professor

com uma rotina refletida, para melhoria da qualidade de ensino. Levamos em conta que

o individuo não é só e deve interagir com seu meio. Essa interação que Ubiratan D

ambrosio chama de ciclo vital: ... “REALIDADE informa INDIVÍDUO que processa e

executa uma AÇÃO que modifica a REALIDADE que informa INDIVÍDUO ...”.

Podemos imaginar que aula também passa por esse processo que chamaria de ciclo vital

da aula.

Fiorentini(2002) já alertava para a importância fundamental das disciplinas de

Prática de Ensino e Estágio Supervisionado na formação do futuro professor. Mas esses

estudos alertam que isso acontece quando essas disciplinas promovem, entre os

estagiários, um espaço de compartilhamento de experiências e de discussão e reflexão

sobre a prática docente, possibilitando, assim, “a constituição e a re-significação dos

saberes docentes e escolares, tendo como eixo de formação a pesquisa e/ou a reflexão

sistemática sobre a prática” (ROCHA,2005; CASTRO, 2002).

Justificativa: A relevância de formar professores reflexivos na região

Já que em minha região há uma escassez de cursos de formação continuada de

professores e a grande maioria das vagas é preenchida com professores formados por

instituições privadas da própria região. As políticas que são aplicadas nas licenciaturas

das universidades públicas pouco atingem nossas escolas. Em contrapartida, o ensino é

na maioria municipal e a formação continuada não acontece de maneira satisfatória.

Então vejo que se o professor se tornar um profissional pesquisador, poderá produzir

um conhecimento relevante para sua prática. Será reflexivo e crítico quanto a sua práxis

diária e assim terá autonomia para gerar soluções para seus próprios problemas.

Questão de pesquisa

A proposta deste trabalho é estudar a contribuição dessa metodologia na

formação inicial do professor de matemática, tornando-o, assim, um potencial

professor-pesquisador desde o início de sua carreira, contribuindo positivamente para a

construção de um profissional mais critico e reflexivo.

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A pesquisa-ação crítica deve gerar um processo de reflexão-ação coletiva, em

que há uma imprevisibilidade nas estratégias a serem utilizadas. ( FRANCO, 2005) O

grupo deve, como um todo, participar dos progressos é nessa perspectiva que essa

experiência contribuiu também para “minha” formação. Uma experiência desse âmbito

transformou minha realidade enquanto professora, inserindo em meu cotidiano uma

prática de pesquisa, servindo como multiplicadora dessas características nos futuros

professores. Essa metodologia passou a fazer parte, então da minha rotina e me tornou

uma profissional mais pensante, atuante e “proprietário” das minhas aulas. Propriedade

no sentido ser ter mais clareza de que ação praticar diante de cada situação. Em

contrapartida, todo o grupo pensa a ação e isso faz com que todos tenham

responsabilidade diante do resultado.

Pensando que esses alunos formavam um universo setenta e seis licenciados, que

hoje já se formaram e estão atuando fica algumas questões relevantes a serem

respondidas:

• Quantos desses alunos estão trabalhando com educação.

• Em que medida a metodologia a qual foram submetidos os ajudaram em

seu inicio de carreira.

• Quais angustias que trouxeram da licenciatura que ainda persiste em seu

inicio de carreira. Essas angustias se diferencia daquelas sentidas por

alunos que tiveram uma formação mais tradicional.

• A prática reflexiva faz parte de sua rotina enquanto professor.

Considerações Finais

Ouso a acreditar que nessa disciplina, trabalhada com essa metodologia,

os alunos (futuros professores) estarão mais preparados para enfrentarem suas próprias

salas de aulas e ainda já terão experimentado uma prática de ação-reflexão-ação.

Podemos afirmar que essa prática passa a fazer parte do cotidiano do professor,

fazendo- o procurar alternativas de melhorias em seu trabalho diário. Diminuindo as

angustias que lhe são natural em inicio de carreira.

Os registros

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Os alunos montavam um portfólio das atividades desenvolvidas. Nesse

documento havia as aulas aplicadas, as reflexões do grupo e as mudanças feitas em

função da reflexão.

Figura 4 - Portfólios confeccionados pelos alunos

Figura 5 - Aplicação de atividade construída pelos licenciandos

Em contrapartida, eu fazia também minhas reflexões, sempre anotava os fatos

que interpretava como relevantes. Por exemplo, os tópicos de discussão que brotavam

com a prática deles, serviam como uma bússola para eu procurar os textos que iriam

ajudá-los como referência teórica para sanar os possíveis problemas. Sendo assim, eu

também estava participando do processo de formação enquanto formação continuada.

Minhas aulas eram planejadas e refletidas a cada encontro, os tópicos e textos

discutidos, os autores eram escolhidos no processo de construção do próprio curso.

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• Será que essas reflexões fazem integram o saber docente desses

professores?

Questões como essas fazem parte de um universo investigativo da prática de

professores em inicio de carreira. Saberes que eles conseguiram acumular e/ou antecipar

fazendo parte de uma rotina escolar antes mesmo da formatura.

Fiorentini(2003) salienta que existe uma tensão conflituosa entre saberes

provenientes da academia ou dos especialistas e aqueles praticados/produzidos pelos

professores no exercício da profissão. Levando em conta tanto os conhecimentos

teóricos, produzidos pelos especialistas ou pelos pesquisadores universitários como os

produzidos ao longo de sua prática educativa, é esperado que os futuros professores

articulem com discernimento esses dois saberes. Analisando e refletindo esses aspectos

dentro da minha própria prática cotidiana, dentro e fora do grupo.

Para tanto, sugiro uma pesquisa-ação participativa, pois essa vem ao encontro

dos objetivos desse trabalho, sendo um processo social (realizada “em contexto”),

participativa (não é uma pesquisa realizada sobre “outros”), prática e colaborativa (visa

modificar as ações, é realizada com os “outros”), emancipatória (visa a superação da

“alienação”), crítica (visa a superação do “senso-comum”), recursiva (investigar a

realidade para mudá-la, mudar a realidade para investigá-la).

Os objetivos se resumiam em formar um professor-pesquisador em sua

graduação e consequentemente me fazer pesquisadora enquanto tutora desses alunos.

Agora fica a indagação será que isso ocorreu?

A pesquisa se limitou em observar e acompanhar os alunos de terceiro ano do

curso de licenciatura em matemática da Fundação Educacional de Fernandópolis, não

incluindo nos estudos as salas de aulas, nem os respectivos professores. Apenas a

formação do licenciando e a minha são focadas nessa pesquisa. Já nessa nova proposta o

intuito é estudar a trajetória desses licenciandos agora recém formados.

Gostaria, ainda, de ressaltar que “entre a teoria e prática persiste uma relação

dialética que leva o indivíduo a partir para a prática equipado com uma teoria a praticar

de acordo com essa teoria até atingir os resultados. ... Pesquisa é o que permite e

interface interativa entre teoria e prática. ... O novo papel do professor será o de

gerenciar, de facilitar o processo de aprendizagem e, naturalmente, de interagir com o

aluno na produção crítica de novos conhecimentos, e isso é essencialmente o que

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justifica a pesquisa.” (D AMBROSIO; 1997, p. 79). Não devemos nos esquecer de que

uns dos problemas que afeta a educação matemática hoje é a maneira deficiente como se

forma o professor. Então, quero com essa proposta justamente melhorar a formação do

futuro professor de matemática.

Para tanto, utilizaremos de filmagens das aulas presenciais, análise de

documentos produzidos no decorrer do processo, bem como entrevistas com os

licenciandos( agora professores) e anotações minhas sobre as interferências nas aulas,

construindo assim uma pergunta de pesquisa que seja pertinente à realidade local e

possa ser utilizada como parâmetro de metodologia para outras instituições de ensino

que visam formação de profissionais da educação com qualidade e responsabilidade.

Para tanto pretende-se realizar uma análise qualitativa dos dados recolhidos. Onde

serão utilizadas categorias de análise para encontrar possíveis respostas para nossas

questões.

Quadro 1 : Possível Cronograma

ATIVIDADE jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Elaboração do

Projeto de pesquisa

Revisão Bibliográfica

Coleta de dados

Análise dos

resultados

Redação do relatório

Apresentação do

relatório

Referências:

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Castro, F. C. de. Aprendendo a ser professor(a) na prática: estudo de uma

experiência em prática de ensino de Matemática e estágio supervisionado. 2002.

Dissertação. (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade Estadual

de Campinas. Campinas. Orientador: Dario Fiorentini.

D Ambrosio, Ubiratan. Educação Matemática: Da teoria à prática. – 2.ed.

Campinas, SP: Papirus,1997.

Fiorentini, D.; Nacarato, A. M; Ferreira, A. C.; Lopes, C. E.; Freitas, M. T. M.;

Miskulin, R. G. S. Formação de professores que ensinam matemática: um balanço

de 25 anos da pesquisa brasileira. Educação em Revista, Belo Horizonte: UFMG,

2002. Dossiê: A pesquisa em Educação Matemática no Brasil.

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Nóvoa, A. – Os professores e o “novo” espaço público da educação in O

Ofício de ser professor – História, perspectivas e desafios internacionais, Tardif, M.

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Rocha, Luciana Parente. (Re) constituição dos saberes de professores de

matemática nos primeiros anos de docência / Luciana Parente Rocha. -- Campinas,

SP: [s.n.], 2005. Orientador: Dario Fiorentini. Dissertação (mestrado) – Universidade

Estadual de Campinas, Faculdade de Educação.

Geraldi, C. M. G., Fiorentini, D., Pereira, E. M. de A.(orgs) Cartografias do

trabalho docente Professor(a)- pesquisador(a). Mercado das Letras,2003.

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