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Personagens de os maias

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Os Maias de Eça de Queirós (dossier)

Prof.ª Paula Pinto

Personagens de Os Maias Afonso da Maia Maria Eduarda Runa Pedro da Maia Maria Monforte

Manuel Monforte Carlos da Maia Maria Eduarda Vilaça pai

Manuel Vilaça júnior João da Ega Tancredo Tomás de Alencar

Dâmaso Salcede Os condes de Gouvarinho Brown, o inglês, Brown era o tutor de

Carlos da Maia, apoiava a educação

do corpo e só depois a educação da mente.

Os Cohen Craft Vitorino Cruges (o maestro) Steinbroken

O Marquês de Sousela Rosa Mr de Guimarães Miss Sara

Melanie Castro Gomes Eusébiozinho Silveira D. Maria da Cunha

A baronesa de Alvim Palma "Cavalão" Baptista (o criado de Carlos) Taveira

General Sequeira Reverendo Bonifácio, o gato de Afonso D. Diogo

Afonso da Maia: Baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes. A sua cara larga, o nariz aquilino e a pele corada. Os cabelos eram brancos, muito curtos e a barba branca e comprida. Provavelmente a personagem mais simpática do romance e aquele que o autor mais valorizou.

Não se lhe conhecem defeitos. É um homem de carácter culto e requintado nos gostos. Enquanto jovem adere aos ideais do Liberalismo e é obrigado, pelo seu pai, a sair de casa; instala-se em Inglaterra mas, falecido o pai, regressa a Lisboa para casar com Maria Eduarda Runa. Dedica a sua vida ao neto Carlos. Já velho, passa o tempo em conversas com os amigos,

lendo com o seu gato – Reverendo Bonifácio – aos pés, opinando sobre a necessidade de renovação do país. É generoso para com os amigos e os necessitados. Ama a natureza e o que é pobre e fraco. Tem altos e firmes princípios morais. Morre de uma apoplexia, quando descobre os amores incestuosos dos seus netos. É uma personagem que funciona como sustentáculo da

família Maia e é para ele que todos se voltam nos momentos de crise. Maria Eduarda Runa: Apresenta-se como uma forte oposição em termos ideais e sociais relativamente a Afonso. Trata-se de uma mulher de caprichos; muito dedicada aos ideais

religiosos, preconizando, por isso, a educação de Pedro com o apoio do padre Vasques. Maria Monforte: Fã dos jogos de sedução; Formosa, doida, excessiva; Pessoa séria e responsável aquando o nascimento de Maria Eduarda; Leviana e nada moral, é nela que

radicam todas as desgraças da família Maia (o drama em causa) Pedro Da Maia: pequenino, face oval de "um trigueiro cálido", olhos belos – "assemelhavam-no a um belo árabe". Valentia física. Pedro da Maia apresentava um temperamento nervoso, fraco e

de grande instabilidade emocional. Tinha assiduamente crises de "melancolia negra que o traziam dias e dias, murcho, amarelo, com as olheiras fundas e já velho". O autor dá grande importância à vinculação desta personagem ao ramo familiar dos Runa e à sua semelhança psicológica com estes.

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Pedro é vítima do meio baixo lisboeta e de uma educação retrógrada. O seu único sentimento vivo e intenso fora a paixão pela mãe. Apesar da robustez física é de uma enorme cobardia moral (como demonstra a reação do suicídio face à fuga da mulher). Falha no

casamento e falha como homem. Carlos da Maia: belo e magnífico rapaz. Era alto, bem constituído, de ombros largos, olhos negros, pele branca, cabelos negros e ondulados. Tinha barba fina, castanha escura, pequena e

aguçada no queixo. O bigode era arqueado aos cantos da boca. Como diz Eça, ele tinha uma fisionomia de "belo cavaleiro da Renascença". Carlos era culto, bem-educado, de gostos requintados. Ao contrário do seu pai, é fruto de uma educação à Inglesa. É corajoso e frontal. Amigo do seu amigo e generoso. Destaca-se na sua personalidade o cosmopolitismo, a

sensualidade, o gosto pelo luxo, e diletantismo (incapacidade de se fixar num projeto sério). Todavia, apesar da educação, Carlos fracassou. Não foi devido a esta mas falhou, em parte, por causa do meio onde se instalou – uma sociedade parasita, ociosa, fútil e sem estímulos e também devido a aspetos hereditários – a fraqueza e a cobardia do pai, o egoísmo, a futilidade e

o espírito boémio da mãe. Eça quis personificar em Carlos a idade da sua juventude, a que fez a questão Coimbrã e as Conferências do Casino e que acabou no grupo dos Vencidos da Vida, de que Carlos é um bom exemplo.

Maria Eduarda: bela mulher: alta, loira, bem-feita, sensual e delicada, "com um passo soberano de deusa", é "flor de uma civilização superior, faz relevo nesta multidão de mulheres miudinhas e morenas", era bastante simples na maneira de vestir. Maria Eduarda nunca é criticada, é uma personagem delineada em poucos traços, o seu passado é quase desconhecido o que contribui

para o aumento e encanto que a envolve. A sua caracterização é feita através do contraste entre si e as outras personagens femininas, e ao mesmo tempo, chega-nos através do ponto de vista de Carlos da Maia, para quem tudo o que viesse de Maria Eduarda era perfeito.

João da Ega: usava "um vidro entalado no olho", tinha "nariz adunco, pescoço esganiçado, punhos tísicos, pernas de cegonha". João da Ega é a projeção literária de Eça de Queirós. É um personagem contraditório. Por um lado, romântico e sentimental, por outro, progressista e crítico, sarcástico do Portugal Constitucional. Amigo íntimo de Carlos desde os tempos de Coimbra,

onde se formara em Direito (muito lentamente). A mãe era uma rica viúva e beata que vivia ao pé de Celorico de Bastos, com a filha. Boémio, excêntrico, exagerado, caricatural, anarquista sem Deus e sem moral. É leal com os amigos. Sofre também de diletantismo. Terminado o curso, vem viver para Lisboa e torna-se amigo inseparável de Carlos. Ele teve a sua grande

paixão – Raquel Cohen. Um falhado, corrompido pela sociedade. Encarna a figura defensora dos valores da escola realista por oposição à romântica. Na prática, revela-se um eterno romântico. Nos últimos capítulos ocupa um papel de grande relevo no desenrolar da intriga. É a ele que Guimarães entrega o cofre. É juntamente com ele, que Carlos revela a verdade a Afonso. É ele

que diz a verdade a Maria Eduarda e a acompanha quando esta parte para Paris definitivamente. Eusébiozinho: O oposto de Carlos (lado negativo) no que respeita à educação; doentio, mergulhado nas educações da sua mãe e tia.

Dâmaso Salcede: personagem mais caracterizado por Eça, tornando-se um cabide de defeitos: defeitos de origem (filho de um agiota); presumido; cobarde; não tem dignidade; mesquinho; enfatuado e gabarola; provinciano e tacanho, somente uma preocupação na vida o ‘chique a

valer’. Fisicamente é baixote, gordo, frisado como um noivo de província, mas a quem não falta pretensiosismo. Aproxima-se de Carlos, que admira e inveja, por interesse e desejo de condição

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social. Tenta convencer-se e convencer os outros do seu fascínio irresistível face ao sexo oposto, não obstante as suas conquistas estarem confinadas a espanholas de reputação muito duvidosa. Possuidor de grande bazofia e sendo um enorme cobarde, difama pública e

anonimamente Carlos, mas retrai-se logo em seguida. Nada tem de inteligente, de honrado ou de nobre. Consegue casar com a uma filha dos Condes de Águeda que se apressa a trai-lo. Condensa toda a estupidez, futilidade e ausência de valores da sociedade. Decalca qualquer comportamento importado do estrangeiro, principalmente de França.

Castro Gomes: personagem que funciona como o elemento catalisador da catástrofe ao desvendar o passado de Maria Eduarda, de quem fora amante em Paris durante três anos. É o grande responsável pela da mesma na sociedade lisboeta. Após a descoberta do romance de

Maria Eduarda com Carlos da Maia abandona Portugal, aparentemente, sem grande pesar. Craft: é filho de um clérigo da igreja inglesa, facto que o aproximará de Carlos e da sua forma de estar no mundo, pelo que, nascerá entre eles uma amizade espontânea. Trata-se de uma

personagem rica, de temperamento byroniano, dedicando o seu tempo a viajar e a colecionar obras de arte, acumulando-as na casa que possuía nos Olivais e que, posteriormente, será o ninho amoroso de Carlos e Maria Eduarda. Fruto da época em que vive, é marcado pelo diletantismo e desocupação que, à

semelhança de Carlos, o irão vitimar. Sabe-se no fim da obra que passará os seus dias em Richmond, sucumbindo ao álcool. Cruges: é uma personagem secundária, que simboliza o músico idealista, que sucumbe à

mediocridade cultural nacional. A sua aspiração seria compor uma ópera que o imortalizasse. Falta-lhe, no entanto, a motivação necessária para o fazer, em consequência da sua inserção no meio lisboeta. Afirma: “Se eu fizesse uma ópera, quem é que ma representava?” (Cap. VIII). Esta frase concentra a alma de uma personagem sem génio criativo, que se deixa esmagar por um

meio obsoleto. Alencar: incoerente; condena no presente o que cantara no passado; contradição entre aquilo que ele diz e aquilo que ele faz. Falso moralista; refugia-se na moral, por não ter outra arma de

defesa. Acha o Realismo/Naturalismo imoral. Desfasado do seu tempo. Defensor da crítica literária de natureza académica (preocupação com questões de natureza formal em detrimento da dimensão temática; obcecado pelo plágio) pouca credibilidade e seriedade da crítica literária em Portugal.

Guimarães: Joaquim Guimarães é um antigo trabalhador do jornal Rappel (fundado por Victor Hugo e Rochefort) e tio de Dâmaso; Guimarães é o portador da desgraça da família Maia. Tendo conhecido a mãe de Carlos em Lisboa, encontrara-a posteriormente em Paris, é o recetor da

caixa que encerra o segredo da verdadeira origem de Maria Eduarda e que, mais tarde, entrega a João da Ega. Vilaça (pai e filho): os Vilaça são os procuradores da família Maia (1ª e 2ª gerações). Vilaça é o mensageiro da fatalidade que ensombra a família e a sua casa na cidade de Lisboa – o

Ramalhete. Após a morte de seu pai, Manuel Vilaça assume a função de procurador, aspirando a ser vereador da Câmara e, até, deputado. Apesar da sua condição subalterna, este burguês diligente e empreendedor torna-se, e facto, o verdadeiro mensageiro da tragédia, ao revelar a Carlos a identidade de Maria Eduarda,

incumbido por Ega que não tivera coragem de o confessar ao seu melhor amigo. É de salientar a lealdade sincera com que quer o pai quer o filho serviram a família Maia.

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História de Afonso da Maia:

Filho de Caetano da Maia (um absolutista profundo, apoiante de D. Miguel), foi desterrado em jovem para Santa Olávia, por se ter envolvido numa revolução liberal.

Depois de uns tempos na Quinta, volta completamente modificado e decide ir viver para Inglaterra, mas com a morte do pai, regressa. É por esta altura que conhece Maria Eduarda Runa, uma mulher muito débil, por quem se apaixona e casa, e depois, têm Pedro.

Com o absolutismo em Portugal, Afonso vê a sua casa de Benfica ser invadida pela

polícia, e parte para o exílio em Inglaterra, com a mulher e o filho. Pedro é criado de uma forma muito romântica por vontade da mulher de Afonso, e devido à sua saúde muito fraca, Afonso decide não se impor às vontades da sua senhora; e assim contratam um padre português (porque Maria Runa odiava Inglaterra), o padre Vasques, para educar o menino. O estado de

saúde de Maria agrava-se e eles mudam-se para Itália, depois novamente para Portugal, para a Casa de Benfica, mas Maria Runa acaba por falecer.

História de Pedro da Maia:

Típico menino da mamã, cresceu de roda das suas saias e das empregadas, tornando-se um homem pequeno e nervoso, como a mãe, ainda que bonito. Nunca fora para a universidade, porque a mãe não o deixara e tivera uma educação completamente romântica. Passava os dias na farra, sem fazer nada.

Com a morte da mãe, Pedro ficou de rastos, infelicíssimo, mas depois, conhece Maria Monforte (filha de Manuel Monforte, que vivia às ordens da filha, e que tinha um passado obscuro; um negreiro), por quem se apaixona. Apaixonado, Pedro decide casar com Maria, ainda que Afonso o tenha proibido. Sai de casa, casa com Maria, e corta relações com o pai, que se

zangou com ele por tal casamento. Pedro e Maria viajam, por Itália, depois Paris e acabam por voltar para Lisboa, quando

descobrem que Maria estava grávida. Nasce a primeira filha do casal, Maria Eduarda, que Maria Monforte adora. Maria

começa a ter hábitos estranhos, como fumar com os homens à noite e conviver com eles em soirés, hábitos estes que Pedro odiava e condenava, sentindo ciúmes. Apesar de casada, o pai de Maria anda sempre com ela. Afonso refugia-se em Santa Olávia para evitar a família, convivendo alegremente com os amigos. Mais tarde, depois de Maria Eduarda fazer um ano,

Maria Monforte tem outro filho, desta vez um menino, a quem dá o nome de Carlos Eduardo, devido a um romance que andava a ler.

Certa tarde, numa caçada, Pedro fere acidentalmente a tiro um napolitano refugiado e condenado à morte, Tancredo, que era sobrinho dos príncipes de Sória, e leva-o para sua casa.

Maria Monforte dá-se muito bem com ele, bem demais. O pai de Maria parte numa viagem aos Pirenéus.

Um dia, quando Pedro regressa a casa, descobre que Maria fugiu com Tancredo, levando consigo a sua filha, Maria Eduarda, e deixando para trás Carlos. De rastos, Pedro vai ter

com o pai e conta-lhe tudo, e os dois acabam por fazer as pazes. Afonso fica felicíssimo por conhecer o neto, mas infeliz com o estado do filho. Sem aguentar, Pedro acaba por se suicidar, deixando Carlos Eduardo a cargo do avô.

Afonso da Maia muda-se para Santa Olávia para criar Carlos, e vende a Tojeira, casa de

Pedro. Afonso cria Carlos, mas desta vez como sempre quis criar Pedro e a sua mulher nunca o deixara: uma educação à Inglesa, muito rígida, principalmente fisicamente. Vilaça, amigo de

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Afonso e procurador da família visita-os regularmente. Anos depois, morre, sendo substituído pelo seu filho Manuel Vilaça júnior.

A Educação de Pedro da Maia

A educação de Pedro da Maia é preponderante nas suas acções e destino. Já que estavam em Inglaterra, Afonso propõe que o filho seja educado no Colégio de Richmond. Católica ("devoção (a devoção dos Runas!) sempre grande, exaltara-se, exacerbara-se"). Maria Eduarda Runa opõe-se à decisão do marido, apesar de Afonso lhe provar que se tratava de um

Colégio Católico e que lá teria todas as condições para ter uma boa educação. M.ª Eduarda manda então vir de Lisboa o Padre Vasques, que lhe dava uma educação

demasiado tradicional e centrada na Religião. Afonso por vezes revoltava-se e levava o filho a passear, constatando que este, de tal modo habituado à protecção da mãe e das criadas tinha

até medo das árvores, do vento e das sombras. Visto que a mulher estava a adoecer, Afonso não se atrevia a contrariá-la.

A partir destes elementos, podemos verificar que a educação de Pedro é uma das causas para as suas atitudes de ingenuidade e medo que toma enquanto adulto, e que culminam

no suicídio (demonstração de fraqueza). São comuns expressões como "tendo pouco da raça, da força dos Maias" e "era em tudo um fraco".