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VITÓRIA, SÁBADO, 26 DE NOVEMBRO DE 2011 www.agazeta.com.br Pensar Um beatle tranquilo Entrelinhas RUY CASTRO E HELOÍSA SEIXAS FAZEM O LEITOR VIAJAR COM O LIVRO TERRAMAREAR Página 3 Biografia CHANEL, ENTRE A MODA E O ENVOLVIMENTO COM A ESPIONAGEM INTERNACIONAL Página 4 Música NOVOS DVD E BLU-RAY TRAZEM A SEGUNDA SINFONIA DE MAHLER Página 5 Arte urbana DO MUNDO PARA A GRANDE VITÓRIA: A TRAJETÓRIA DO GRAFFITI Páginas 10 e 11 O TALENTO DISCRETO DE GEORGE HARRISON, DEZ ANOS APÓS SUA MORTE Páginas 6 e 7

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Suplemento de Cultura de A Gazeta

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VITÓRIA, SÁBADO, 26 DE NOVEMBRO DE 2011www.agazeta.com.brPensar

Um beatle tranquilo

EntrelinhasRUY CASTROE HELOÍSASEIXAS FAZEMO LEITORVIAJAR COMO LIVROTERRAMAREARPágina 3

BiografiaCHANEL, ENTREA MODA E OENVOLVIMENTOCOM AESPIONAGEMINTERNACIONALPágina 4

MúsicaNOVOS DVD EBLU-RAYTRAZEM ASEGUNDASINFONIA DEMAHLERPágina 5

Arte urbanaDO MUNDOPARA A GRANDEVITÓRIA: ATRAJETÓRIA DOGRAFFITIPáginas 10 e 11

O TALENTO DISCRETO DE GEORGE HARRISON,DEZ ANOS APÓS SUA MORTE Páginas 6 e 7

Documento:AGazeta_26_11_2011 1a. SABADO_CP_Pensar_1.PS;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:24 de Nov de 2011 20:17:24

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2PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,26 DE NOVEMBRODE 2011

marque na agenda prateleiraquempensa

Flávia Dalla Bernardinaéadvogada,bailarinaeescritora.www.tubodeensaios.com.br

SilvanaHolzmeisteré jornalistaemestreemModa,CulturaeArtepeloSenac (SP). [email protected]

EricodeAlmeidaMangaraviteéservidorpúblicoe frequentadordeconcertoseó[email protected]

RicardoCostaSalvalaioémembrodaAcademiadeLetrasHumbertodeCampos. [email protected]

EduHenningé jornalista, produtore [email protected]

NayaraLimaéescritoraegraduandaemPsicologiapelaUfes.www.nayaralima-versoeprosa.blogspot.com

TavaresDiasé jornalista, escritor, compositoremestreemEstudosLiterários. [email protected]

BrunoLuizé técnicoeminformática, escritorepoeta.http://brunluizz.blogspot.com

LuizEduardoNevesdaSilveiraé jornalista, publicitárioediretordeconteúdodositePanelaAudiovisual.www.panela.tv

NômadeAyaan Hirsi AliNesta história da transiçãoda vida tribal à cidadaniaplena em uma democraciaocidental, Ayaan relata asreviravoltas em sua vidaapós o rompimento com a

família, que a renegou quando elarenunciou ao islã depois do Onze deSetembro. É o retrato de uma famíliadilacerada pelo choque de civilizações

392 páginas. Companhia das Letras. R$ 46

Formação do BrasilcontemporâneoCaio Prado Jr.É dos textos maisinfluentes sobre asrelações entre nação ecolônia no processohistórico que originou o

Brasil. Publicado em 1942, “Formação doBrasil contemporâneo” é um clássico dopensamento social e da historiografiabrasileira.464 páginas. Companhia das Letras. R$ 49,50

A consciência daspalavrasElias CanettiReúne ensaios sobreConfúcio, Georg Büchner,Tolstói, Kafka, HermannBroch, Karl Kraus e Hitler,além de uma evocação da

tragédia de Hiroshima por intermédio dodiário de um de seus sobreviventes ou dereminiscências sobre as origens de seumonumental romance “Auto de fé”.328págs. Companhia das Letras. R$ 25

ClaraboiaJosé SaramagoPrimavera de 1952. Umprédio de seisapartamentos numa ruamodesta de Lisboa é ocenário principal dashistórias simultâneas que

compõem este romance da juventude deJosé Saramago.384 páginas. Companhia das Letras. R$ 46

LançamentoNovos livrosDia 1º de dezembro, Antonio Carlos Amador Gil, coordenadorda pós-graduação em História da Ufes, lança o livro “Espaço,Representação e Luta na América Latina”, junto com MarcosRamos e seu livro de poemas, “Um corpo que se escrevepedra”, às 18h30, na Adufes.

ExposiçãoSatéliteA mostra apresenta o artista plástico Celso Adolfo, até 20 dejaneiro na Galeria de Arte Espaço Universitário, na Ufes.Informações: 4009-2371.

1ºde dezembroPopular e eruditoÀs 20h, o flautista Edu Rosa faz um passeio musical porobras de compositores como Vivaldi, Villa-Lobos ePixinguinha, no Teatro da Fafi, em Vitória. Ingressos: R$30 (meia). Reservas: (27) 3215-0083.

30de novembroEstação CapixabaO lançamento do site será às 19h, na Biblioteca Pública doEspírito Santo. Av. João Baptista Parra, 165, Vitória

Carol Rodrigues e Vilmara Fernandeseditoras interinasdoPensar, novoespaçoparaadiscussãoe reflexãocultural quecirculaaossábados.NEM TÃO COADJUVANTES ASSIM

Quando se fala em Beatles, o maior fenômeno pop doséculo XX, involuntariamente pensamos em John Len-non e Paul McCartney, a dupla que se destacava eacabava ditando os rumos musicais e comportamen-tais do grupo. Nesta edição, o Pensar abre suas portaspara a outra metade da banda: o guitarrista GeorgeHarrison e o baterista Ringo Starr. Por razões distintas.Enquanto o primeiro é lembrado por sua ausência, osegundo tem destaque pela presença. Há dez anos, omundo perdia o talento de George Harrison, o beatle“transcendental”, da guitarra que gentilmente chorava

e até hoje encanta novos e velhos admiradores de suaobra. E tambémumgrande compositor, como veremosno artigo de Ricardo Salvalaio. Já Ringo Starr dá ascaras após realizar uma turnê por várias cidades dopaís, em sua primeira incursão em solo brasileiro. Oprodutor musical Edu Henning, em sua crítica, diz quesentiu falta de mais Ringo nas apresentações da AllStarr Band. E por falar em presença, na próximasemana o editor José Roberto Santos Neves retorna aocomandodoPensar.Departida, nós agradecemosa suacompanhia. Boa leitura!

Pensar na webVejavídeosdeGeorgeHarrisoneRingoStarremsuascarreirassoloecomosBeatles.Veja tambéminterpretaçõesdeobrasdeMahler, e leia trechosde livros.

PensarEditor: José Roberto Santos Neves;EditordeArte:Paulo Nascimento;Textos:Colaboradores;Diagramação:Dirceu Gilberto Sarcinelli;Fotos:Editoria de Fotografia e Agências; Ilustrações:Editoria de Arte;Correspondência: Jornal

A GAZETA, Rua Chafic Murad, 902, Monte Belo, Vitória/ES, Cep: 29.053-315, Tel.: (27) 3321-8323

Gilayôécantorecompositor, residindonaFrança-Caribe. [email protected]

[email protected]@redegazeta.com.br

Documento:AGazeta_26_11_2011 1a. SABADO_CP_Pensar_2.PS;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:24 de Nov de 2011 20:20:46

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3PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,

26 DE NOVEMBRODE 2011

entrelinhaspor Flávia Dalla Bernardina

MENOS QUE UM GUIA,MAIS QUE UM DIÁRIO

DIVULGAÇÃO

TerramarearRuy Castro e Heloísa Seixas.Companhia das Letras. 232páginas. Quanto: R$ 42

De Fernando de Noronha (no alto) a Veneza, os autores Ruy Castro e HeloísaSeixas carregam o leitor em sua bagagem nas páginas de “Terramarear”

Rio, Lisboa, Moscou, Bú-zios, Paris, Fernando deNoronha, Pompeia. Es-ses são alguns dos des-tinos que Ruy Castro eHeloísa Seixas deixam

marcados na bagagem do leitor de“Terramarear”, da Companhia dasLetras.Histórias de três décadas de via-

gens, sem ordem cronológica, quecontam as peculiaridades dos lu-gares visitados, as coincidênciasque protegem os bons viajantes, assurpresas que abraçam os inquie-tos, sem roteiros ou preciosismos.Menos que um guia, mais que umdiário.O leitor desatento pode até se

precipitar no julgamento do livro –como aqueles que as editoras en-comendam para bater metas de ven-das. Confesso que num primeiro mo-mento fiquei bastante tentada a ro-tular “Terramarear”. Mas depois,deixei-me levar sem compromissopor suas páginas, deixei-me levarpelo descompromisso de ter que ava-liá-lo para escrever uma resenha.Soltei meus olhos e viajei.

DinâmicaVoltar à Veneza, que à primeira

vista também pareceu-me confusa eincômoda. É preciso de muitos dias,talvez várias viagens para entendera dinâmica daqueles canais, que comcerteza devem mudar sua geografiaenquanto a vida dorme. E saber quetantos gênios lá viveram, lá pro-duziram obras eternas ou que lámorreram, também instiga o leitor aconhecer essa Veneza, e não a dosmilhares de turistas da Piazza SanMarco, alimentando pombos e ti-rando fotos sem perspectiva.Conhecer a Saint Tropez de Bri-

gitte Bardot, e toda a história decomo a pequena cidade, de umapobre vila de pescadores, tornou-seroteiro de glamour das décadas de60 e 70.A Havana de Hemingway – como o

único lugar possível onde a repu-tação do escritor americano aindapode permanecer estável. E a des-mistificação da lenda: não, He-mingway não inventou o daiquiri.No máximo, quase acabou com todoo estoque de rum, açúcar, suco delimão e gelo picado da ilha – comodiz Ruy Castro num sórdido bomhumor – por manter um consumomédio diário de quinze a vinte

drinks da bebida.Revisitei a Roma dos cinéfilos, Nova

York em duas versões, a reconstruçãode Berlim, as areias escaldantes do Rio,o paraíso na terra em Fernando deNoronha.

Saber viajarNem todo mundo sabe viajar. Her-

man Hesse já sabia disso quandoescreveu o livro “A arte dos ociosos”.O viajante deve perder a si mesmopara se (re) encontrar com as inú-meras possibilidades que seu sercomporta. Esse ser mutante que nãosó se transforma, mas que se deixatransformar em outro alguém, numanova cidade, num prato novo, numsom ou cheiro que marcam a vidadaquele dia.O verdadeiro viajante se permite

querer outra coisa, vestir outra rou-pa, ser outra pessoa... talvez aquelaque sempre quis ser. E numa viagem,sempre é possível, sempre há tempode ser possível.Parece ser esse o caso dos autores

de “Terramarear”, que mais do quevisitar monumentos, passeiam porsuas cidades internas, pela diversascamadas de humanidade que cons-troem seus nomes. Dizem que o me-lhor de viajar é voltar para casa...mas e se a casa for a viagem?

Documento:AGazeta_26_11_2011 1a. SABADO_CP_Pensar_3.PS;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:24 de Nov de 2011 20:25:16

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4PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,26 DE NOVEMBRODE 2011

A estilista francesa teria sido espiã dos alemães e amante de um agenteda Gestapo, a Polícia Secreta Alemã, durante a Segunda Guerra Mundial

livrosPor Silvana Holzmeister

A VIDA SECRETADE CHANEL

DIVULGAÇÃO

Dormindo com o Inimigo –A Guerra Secreta de ChanelHal VaughanCompanhia das Letras. R$ 43

Em fevereiro deste ano, JohnGalliano foi preso por agressãoverbal e antissemitismo a umcasal em um café do Marais,bairro francês habitado por fa-mílias judias. O assunto deu

pano paramanga e rodou. Na sequência, otabloide britânico The Sun divulgou umvídeo em que o estilista, bêbado, bradava“amo Hitler”. O desfecho, todo mundo jásabe,mas não custa repetir aqui. O estilistainglês perdeu não só o cargo que ocupavanaDiordesde1996,comoocontroledesuaprópria grife – ambas pertencem ao grupoLouis Vuitton Möet Henessy (LVMH). Emsetembro, foi considerado culpado e sen-tenciado a pagar a multa de US$ 8.400.É possível que Galliano não seja a

única celebridade com tendências ra-cistas, mas seu infortúnio foi tornar pú-blico o que pensa. Sob esse ângulo,Gabrielle Chanel, criadora damarcaCha-nel, foimuitomais longe, comonarraHalVaughan em Dormindo com o Inimigo –A Guerra Secreta de Coco Chanel.

Amante alemãoAté o fim da Segunda Guerra Mundial,

entreocírculodeamigos,nãohaviadúvidasdo quanto a grande dama da moda me-nosprezavaos judeus. Logo após suamorte,em 1971, Paris fervilhou aguardando LesAnnéesChanel, abiografiaescritaporPierreGalante, editor da revista Paris Match,ligando a estilista ao nazismo e mostrandoevidências de seu relacionamento com osuperespião germânico, o barãoHans Gün-ther von Dincklage, mais conhecido comSpatz – “pardal” em alemão.Como Chanel era a grande dama da

moda francesa, não é difícil imaginar aindignação dos franceses, ainda atormen-tados pelo fantasma da ocupação de Hi-tler. Aos poucos, entretanto, essa históriavirou uma pequena mancha no passadoda marca dos dois Cs entrelaçados.Especializado em política europeia,

Vaughan é jornalista, já foi diplomataamericano, atuou em operações da CIA,interessou-se em pesquisar o períodonegro de Mademoiselle quando desco-briu, por acaso, umdocumentodapolíciafrancesa indicando que Chanel haviatrabalhado para o serviço de inteligênciaalemão e, depois, outro indicando queSpatz havia sido um agente da Gestapo enão um apenas o amante da estilista.

A pista e a curiosidade lhe consu-miram anos de pesquisas nos arquivossecretos da Inglaterra e da França, alémde uma verdadeira imersão na vida daestilista. Mesmo sendo ácido às vezes, otexto deixa ao leitor a tarefa de concluirse Chanel foi vítima da educação querecebeu ou vilã capitalista.Apesar de ser sinônimo de luxo, Ga-

brielle Chanel nasceu num abrigo parapobres em Saumur, no Pays de la Loire,em 1883. Seus pais, que eram cam-poneses, viraram vendedores ambulan-tes depois que a praga da ferrugemdevastou as plantações. Quando suamãe, Jeanne Devolle, morreu aos 33anos, o pai, Albert, deixou Chanel e asduas irmãs mais novas no orfanato doconvento Aubazine, em Corrèze, umaregião inóspita na França central. Umainstituição que seguia a rígida disciplina

católica: trabalho duro e vida frugal.Quando Chanel fez 18 anos e teve de

abandonar o convento, suas regras a acom-panharam junto com seus pouquíssimospertences. Para sobreviver, trabalhou comocostureiraecorista.Donadeolhosardentes,bela e de uma magreza quase infantil,despertou a paixão de um rico ex-oficial,Étienne Balsan e tornou-se uma de suasamantes. Durante os três anos seguinte, elamorou em seu castelo, onde teve acesso aouniverso da aristocracia e começou a ins-pirar-se no vestuário masculino para criarsuas próprias roupas. Foi ali, também, queconheceu Boy Capel, seu grande amor, equem a ajudou a abrir sua primeira loja.Ao longo da vida, Chanel teve vários

amantes poderosos, fez fama e criou omítico perfumeN.5, cujas vendas a fizerammilionária. Foi em parte por causa dafragrância lançada em 5 de maio de 1921

que ela virou espiã nazista. Sócia de umjudeu–PierreWertheimer–naLesParfumsChanel, ela se sentia injustiçada com suaparticipação de apenas 10% na empresa.Quando veio a Segunda Guerra Mundial eWertheimer fugiu para os Estados Unidos,ela enxergou a oportunidade de tornar-sedona da empresa respaldada pelas leis dearianização dos bens judaicos.A prisão de seu sobrinho, André Palasse,

foi o outro motivo que a levou a cooperarcom os alemães sob o codinome West-minster. A ponte foi feita porDincklage, porquem Chanel apaixonou-se em 1940, aos57 anos. Quando a guerra terminou, foiprocessada por apoiar o inimigo. Seu en-volvimento, entretanto, nunca foi inves-tigado a fundo. E foi na Suíça, onde viveuaté 1950, com Dincklage.Em 1953, quando seu envolvimento

com os alemães havia se tornado umahistória sem fundamento, a estilista re-tornou a Paris e às atividades damaison,fechada desde o início do conflito. Ape-sar da coleção apresentada em 1954 tersido recebida friamente pela imprensa,aos poucos ela recobrou o sucesso.A marca ainda brilha sob a direção

criativa de Karl Lagerfeld. Ao longo desteano, a marca realizou exposições, comoThe Culture Chanel, sobre o legado desua criadora, em cartaz até 5 de de-zembro em Pequim e lançou um livrohistórico, contrabalanceando o peso deDormindo com o Inimigo, que talveztenha o mesmo destino da biografiade Pierre Galante. Fica o registro.

Os mistérios da vida de CocoChanel (acima) e seu amante – oespião alemão –, o barão HansGünther von Dincklage, maisconhecido com Spatz

Documento:AGazeta_26_11_2011 1a. SABADO_CP_Pensar_4.PS;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:24 de Nov de 2011 20:51:28

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5PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,

26 DE NOVEMBRODE 2011

Mahler - Sinfonia n° 2Regência de Riccardo ChaillySelo AccentusPreço médio: R$ 130 (Blu-ray),R$ 90 (DVD). Importado.

falando de músicapor Erico de Almeida Mangaravite

O TEMPO DEMAHLER É AGORA

DIVULGAÇÃO

Em1891, o experiente diretormusical de Hamburgo, Hansvon Bülow (que regeu a or-questra na estreia da com-plexa ópera wagnerianaTristão e Isolda e foi o solista

ao piano na primeira execução do Con-certo n° 1 de Tchaikovsky), declarou quea cidade contava com um regente ope-rístico de alto nível: Gustav Mahler.Encorajado, Gustav decidiu apresen-

tar uma de suas composições a Bülow:era a peça orquestral denominada To-tenfeier (Rituais Fúnebres). SegundoMahler, durante a execução ao pianoBülow mostrou-se tenso. Ao fim, ex-clamou: “Comparada com a sua obra,Tristão e Isolda soa tão simples comouma sinfonia de Haydn! Se isso quevocê executou é música, então eu nãoentendo absolutamente nada a respeitode música!”. Reagindo estoicamente,Mahler concluiu que Bülow o con-siderava um regente habilidoso, masum compositor sem futuro.Dado o teor desse encontro, é sur-

preendentequeaamizadedeambos tenhaperdurado pelos anos seguintes. De fato,ainda que magoado com a veemente crí-tica, Mahler nutria grande admiração pelodiretor musical. Tanto é que, em 1894, nofuneral de Bülow, GustavMahler sentiu-seprofundamente impactado ao escutar umcoro entoar a ode intitulada Aufersteh’n(Ressurreição), de Friedrich Klopstock. Aexperiência foi tão significativa queMahlerimediatamente pôs-se a compor uma obrabaseadanessepoema.E, apenas trêsmesesdepois, finalizou aquela que seria a suaSegunda Sinfonia, denominada Ressur-reição, agrupando a recém-concluída par-titura a outros quatro movimentos com-postos anteriormente. O primeiro dessesmovimentos era, ainda que com algumaspequenas modificações, Totenfeier.

VisionárioMahler, o compositor, foi um vi-

sionário: não criava suas obras visandose enquadrar nas preferências musicaisvigentes. Seu objetivo era transmitir aopúblico sentimentos e ideais que jul-gava relevantes. Assim, a Segunda Sin-fonia deve ser ouvida e analisada comatenção, uma vez que seu significadotranscende a literalidade das notas mu-sicais. Foi escrita para uma enormemassa de músicos, incluindo em suaorquestração toda uma gama de ins-trumentos de percussão, órgão, coromisto e duas vozes solistas (soprano emeio-soprano).O primeiro movimento (Allegro maes-

toso) representa o desconforto, o es-tarrecimento perante a inexorável morte.Qual seria o significado desta vida, se éque há algum? Após uma pausa parareflexão silenciosa, seguem-se três mo-vimentos centrais: a lembrança dos bonsmomentos em vida (Andante moderato);a incessante correria sem sentido docotidiano (Scherzo); e, na voz domeio-soprano, um clamor aos céus: tra-ta-se do célebre Urlicht (Luz Primordial),

porta de entrada de muitos ouvintes parao universo mahleriano. Aqui, temos umforte indicativo dos sentimentos de Mah-ler – a frase “Ich bin von Gott und willwieder zu Gott” (“Eu venho de Deus e heide regressar a Deus”). Seria essa a res-posta à pergunta colocada no primeiromovimento ?O último movimento (Im Tempo des

Scherzo), que dura cerca de 40 mi-nutos, é uma das mais grandiosas pas-

sagens escritas por Mahler. O textobaseia-se na ode de Klopstock, comacréscimos e modificações da lavra docompositor. Trata-se de umamensagemde esperança para a humanidade: mor-reremos para viver, não obstante nossafragilidade e nossos temores. Acercadesse movimento, afirma o jornalistaPeter Korfmacher que Mahler não sepreocupou em fazer qualquer distinçãoentre o bem e o mal ou entre os justos eos pecadores – para o compositor, todosos indivíduos são possíveis beneficiá-rios do milagre da ressurreição e daimortalidade da alma.

GravaçãoUma nova gravação da sinfonia che-

gou recentemente ao mercado, emDVD e Blu-ray. No palco, a Gewandhau-sorchester Leipzig sob a regência deRiccardo Chailly. De se destacar a qua-lidade da imagem e do som, tecni-camente primorosos. No aspecto mu-sical, Chailly opta por uma regênciaequilibrada, não empregando escolhasinterpretativas tão idiossincráticas co-mo as de Leonard Bernstein e KlausTennstedt. Isso não significa que aemoção esteja ausente: em Urlicht, sãopalpáveis a ternura e a esperança, re-tratadas de forma contida, mas su-ficientemente tocante.Emais: do Scherzo final, é pertinente

destacar o trecho que se inicia com odueto das vozes solistas, às quais seagregará o coro (“O Glaube, meinHerz” – texto escrito por Mahler). Oregente desenvolve com competência otrajeto que se inicia em meio a sen-timentos de fragilidade e incerteza,mas que culmina em um final apo-teótico, no qual a vida triunfará sobre amorte: solistas, coro e orquestra (comdestaque para o órgão, os gongos e ossinos) ressoam em um fortissimo,quando a sinfonia chega ao fim.Em2011, completaram-se cemanosda

morte deGustavMahler. Compositor cujoreconhecimento emvida sedeu à custadeintenso trabalho e superação de durascríticas, Mahler dizia que seu tempo ha-veria de chegar. Parafraseando LeonardBernstein, em tempos marcados por ho-locaustos e massacres, pela persistentecontradição entre o avanço das demo-cracias e a manutenção das guerras e dosregimes ditatoriais e pela intensa re-sistência ao estabelecimento de uma so-ciedade igualitária, finalmente é possívelouvir a música de Mahler e entender queele já antecipara tudo isso. O seutempo chegou.

Em 2011, completaram-se cem anos da morte do compositor Gustav Mahler

Documento:AGazeta_26_11_2011 1a. SABADO_CP_Pensar_5.PS;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:24 de Nov de 2011 20:52:24

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7PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,

26 DE NOVEMBRODE 2011

6PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,26 DE NOVEMBRODE 2011

HÁ DEZ ANOS MORRIA O GUITARRISTA QUEAJUDOU A CONSTRUIR A HISTÓRIA DO POP

capapor Ricardo Salvalaio

A PAIXÃOSEGUNDOGEORGEHARRISON

NOTORIAMENTE TÍMIDO E AVESSO À FAMA, O GUITARRISTA DOS BEATLES ERA UM MÚSICO DISCRETO QUE, COM MUITA DELICADEZA, TOCAVA O INSTRUMENTO A SERVIÇO DO GRUPO

DIVULGAÇÃO

Místico e tímido, George Harrison não era afeito a exibicionismos com sua guitarra como alguns contemporâneosHá dez anos a música per-dia umdos seusmelhoresrepresentantes. Em 29 denovembro de 2001, mor-ria George Harrison, obeatle “mais tranquilo”,

que detestava a fama. O músico, quenasceu em Liverpool, Inglaterra, no dia25 de fevereiro de 1943, deixou sau-dades e um repertório riquíssimo queinfluencia e emociona milhões de sereshumanos ao redor do mundo. Harrisonera, ao mesmo tempo, transcendental,místico, rebelde, tímido, amoroso edono de um humormuito peculiar. Esteartigo versará sobre a vida e a im-portância do guitarrista que nos fezconhecer oOriente e que,mesmo sendoum “rockstar”, manteve a serenidade,lucidez e altivez até seus últimos dias.Um guitarrista discreto que tocava a

serviço do grupo. Assim era GeorgeHarrison. Ao contrário de seus con-temporâneos ingleses – Jimmy Page,Eric Clapton e Jeff Beck –, não gostavade se exibir, não fazia cara feia nemgrandes solos. Harrison era preocu-pado com a melodia. Com a harmoniade sons, com sons harmônicos. Har-monia com as músicas que a duplagenial Lennon – McCartney produzia.Seus sons harmônicos nos marcaram.Frases redondas, delicadas, lógicas. Pa-recem simples, mas não são. Sua gui-tarra chorava suavemente. Harrisonocupa a 21ª posição da lista "Os 100Maiores Guitarristas de Todos os Tem-pos", da revista “Rolling Stone”, mas emoutras eleições já figurou entre os dezmelhores.Ao conhecer e se encantar pelo trabalho

domúsico indiano Ravi Shankar, Harrison

trouxe um pouco do encantamento orien-tal para os Beatles. Namúsica “NorwegianWood”, do álbum “Rubber Soul” (1965),George introduziu a cítara, dando umtoque todo especial à canção. Foi a pri-meira vez que um músico do ocidenteusou a cítara.

SomethingFrank Sinatra, um dos maiores can-

tores do século XX, gostava particu-larmente de uma música dos Beatles:“Something”. Ele acreditava que essaera umas das mais belas canções deamor já compostas. Gostava tanto, aliás,que chegou a cantá-la inúmeras vezes epensou, por um bom tempo, que elahavia sido composta pela dupla di-nâmica Lennon e McCartney. “Some-thing” foi composta por George, o maisespiritual entre os Beatles. Talvez poresse motivo, Sinatra possa ser perdoadoem seu erro grotesco. “Something” é,depois de "Yesterday" (também dos Bea-tles), a música mais gravada de todos ostempos. Elvis Presley, James Brown emuitos outros grandes artistas já a gra-varam. Muitos a consideram a melhorcomposição de Harrison.“Something”, ao lado de “Here comes

the Sun”, se encontra no álbum “AbbeyRoad” (1969). Sãoasmelhoresmúsicasdodisco mais vendido dos Beatles. GeorgeHarrison também compôs outros temasclássicos do grupo, tais como “While myguitar gently weeps” (a qual ele convidouseu amigo Eric Clapton para fazer a gui-tarra solo), “I need you”, “Piggies”, “Tax-man”, “For you blue”, entre outros.Ao longo da carreira dos Beatles, Har-

rison sempre quis gravar seu material.Entretanto, era impossível sobrepujar ocerco formado por John Lennon e PaulMcCartney. Assim, George conseguia duasou três músicas nos álbuns. O guitarristaseria o compositor principal em qualquerbanda do mundo. No entanto, para suasorte (ou azar), tinha ao seu lado, sim-plesmente, os dois maiores compositoresdo século XX.O resultado de anos e mais anos de

recusa foi reunidoem “All thingsmustpass”(1970), logo após o final dos Beatles. Oálbum triplo, um dos melhores álbuns doex-beatle, reúne as canções recusadas pelabandademaior sucesso do século passado.Oálbumpossuigrandeshits, tais como “Mysweet lord”, “What is life”, “All things mustpass”, entre outros. O single “My sweetLord”, um mantra de melodia irresistível,foi alçado ao Olimpo do pop, atingindo oprimeiro lugar nas paradas de vários paísesdo mundo, incluindo os EUA.Apesar de não gravar um disco por

ano e não ligar para fama, George teveuma carreira solo muita bem sucedida.Lançou mais um disco de enorme su-cesso, “Living in the Material World”(1973), com outro número um nasparadas, “Give Me Love (Give MePeace on Earth)”, e a partir daí, sua>

Era impossívelsobrepujar o cercoformado por JohnLennon e PaulMcCartney”

carreira teve várias atividades:aprimorou-se na jardinagem zen

que praticava, passou a frequentar cor-ridas de Fórmula 1 e tornou-se pro-dutor cinematográfico, envolvendo-secom o pessoal do Monty Python, grupohumorístico inglês, para quem pro-duziu “A Vida de Brian” (1979).Seus outros hits em carreira solo são:

“Crackerbox Palace”, “Poor Little Girl”,“Blow Away”, “That's TheWay It Goes”,“Cockamamie Business”, “Dark Horse”,“WakeUpMy Love”, “You”, “Life Itself”,“Cheer Down”, “What Is Life”, “Got My

Mind Set On You”, “Cloud 9”, “HereComes The Moon”, “Gone Troppo” e“Love Comes To Everyone”.Nos fins dos anos 80, George for-

mou, por pouco tempo, outra banda, osTraveling Wilburys, junto com algunsmúsicos famosos: Bob Dylan, Roy Or-bison, Tom Petty e Jeff Lynne.

“Vivendo nomundo material”Lançado em 2011, “George Harrison:

Living in the Material World", docu-

mentário dirigido por Martin Scorsese,tem entrevistas com muitos músicos,além de filmagens e fotos caseiras for-necidas pelo arquivo particular da fa-mília de Harrison. O filme mostra acarreira do guitarrista nos Beatles, suabem-sucedida empreitada solo e tambémsua passagem pelo cinema. A espiri-tualidade oriental, elemento chave tantoem suas composições como em seu co-tidiano, tambémé central no filme, que éconduzido por narrações do guitarrista.A obra traz o rigor jornalístico de MartinScorsese para desvendar o personagem,

guitarrista, membro da maior banda derock do mundo.Harrison, assim como Ringo Starr, nun-

ca desfrutou da idolatria gerada por PaulMcCartney e John Lennon. Ao reconstituirseus passos, o cineasta renova o fascíniopor alguém que ignorou a posteridade."Nãome importo se eu não for lembrado",disse certa vez, conforme relatou OliviaHarrison ao New York Times. Ela foicasada comobritânico entre 1978 e 2001,ano da morte dele. Olivia, também pro-dutora do filme, foi quem procurou Scor-sese para assumir a empreitada. O prin-cipal argumento para sensibilizá-lo foiumaafetuosacartaescritaporGeorgeparaa mãe dele quando tinha um pouco maisde 20 anos. "Ele expressava a ideia de quesabia que a vida não se limitava à riquezae à fama".“Living in the Material World” tem

depoimentos dos amigos do guitarris-ta, incluindo Eric Clapton, Terry Gilliam,Eric Idle, George Martin, Paul McCartney,Yoko Ono, Tom Petty, Phil Spector, RingoStarr e Jackie Stewart. O filme, que podeser encontrado na internet, ainda não temdata de lançamento no Brasil.

My sweet lordEpifania é uma súbita sensação de

realização ou compreensão da essência oudo afeto de alguém. O termo é usado nossentidos filosófico e literal para indicar quealguém encontrou finalmente a últimapeça do quebra-cabeças e agora conseguever a imagem completa.No romance “A Paixão Segundo G.H.”,

deClariceLispector, ocorrenapersonagemG.H. o fenômeno epifânico quando ela

come uma barata e co-meça enxergar o mundode uma forma diferente.Como G.H., ocorreu emGeorge Harrison o mes-mo fenômeno quandoele se envolveu com acultura indiana e o hin-duísmonomeiodos anos60. O ex-beatle ajudou aexpandir e disseminar,pelo Ocidente, instru-

mentos como a cítara e omovimentoHareKrishna.Apartir dessemomento,Harrisonpassou a ser um compositor mais fi-losófico, com músicas cada vez mais ins-piradas.Harrison também se engajou em

campanhas para chamar a atençãomundial para a Índia, como o “Con-certo para Bangladesh” (1971). Nessetipo de evento, George foi pioneiro. Aíestá umadas virtudesmaismemoráveisdo músico. Harrison sempre foi umapessoa comprometida com o amor, aharmonia, alguém que desejava e lu-tava para viver nummundo mais dignoe igualitário. Ele não foi tão-somenteummúsico brilhante,mas tambémum ser humano extraordinário, deações admiráveis.

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8PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,26 DE NOVEMBRODE 2011

+ beatlespor Edu Henning

RINGO STARR NO BRASIL:SETE HOMENS E UM SUCESSOProdutor musical avalia que formato dos shows da All Starr Band – onde cada músicoapresenta duas canções – precisa ser revisto, com aumento da participação do ex-beatle

DIVULGAÇÃO

Para Edu Henning, plateia iria se desmanchar ao ouvir Ringo cantando alguma coisa de Paul, John e George

Todos que conhecem um pou-co da história dos Beatlessabem que Ringo Starr sem-pre foi um boa praça, umsujeito do bem, amigo dosamigos, super simpático e ca-

rinhoso. Todos que conhecem um poucoda história de Ringo sabem que ele, desdeque formou a primeira All Starr Band, sepreocupa em abrir espaço para que osmúsicos que o acompanham possam bri-lhar, cantar seus sucessoeassimreceberemaplausos após momentos solos.É uma ideia simples, genialmente

simples. Ringo apresenta algumas can-ções de sua carreira solo e sucessos quecantou quando ainda era um beatle, eosmúsicos da All Starr Band, entre umaperformance e outra do astro, mostramdois de seus sucessos. Até hoje foramonze versões da All Starr Band e semprecom os shows seguindo o conceitocriado pelo produtor David Fishof eabraçado por Ringo Starr.Algunsmúsicosqueformarameformam

a atual All Starr Band, apesar de seremconsagrados, respeitados e com carreirasconsolidadas, estavam quase que esque-

cidos por parte da grande mídia. Vários,inclusive, não saíam em excursão mundoafora há muitos anos. Mas, ao seremconvidados para fazer parte da banda deRingo, ganharam muito mais do que di-nheiro. Ganharam palco, luzes e aplausos.

SucessosPor outro lado, quem acabou ganhando

também foi o público. Fãs saem de casapara ver e ouvir o ex-beatle e ainda re-cebem de presente apresentações de gran-des nomes da música pop mundial can-tando grandes sucessos. Pelo menos, issoaconteceu com as formações anteriores daAll Starr Band, que já foi formada pornomes lendários. Joe Walsh (Eagles), Dr.John, Billy Preston, Randy Bachman (Ba-chman-Tuner Overdrive), Mark Farner(Grand Funk Railroad), John Entwistle(TheWho), Peter Frampton (Humble Pie edono de uma carreira solo de sucessomundial), Gary Brooker (Procol Harum),Jack Bruce (Cream), Simon Kirk (BadCompany), Roger Hodgson (Supertramp),Greg Lake (Emerson, Lake&Palmer e KingCrimson), Sheila E. (percussionista im-

pecável) e Colin Hay (Men AtWork), entreoutros. Isso sem falar das formações (92 e95) com Zak Starkey na bateria.Já pensou ver, lado a lado, o ex-ba-

terista dos Beatles tocando com o filho?Para muitos, só isso, esse encontro defamília, valeu cada centavo investido nocaro ingresso. E a turnê atual? Bem, aformação atual da All Starr Band, querodou o Brasil com Ringo, não produz amesma química comopúblico. E olha quetodos são, sem exceção, excelentes mú-sicos. Posso até arriscar em dizer que sãoextraordinários. Impressionam pela téc-nica e pela habilidade. Dominam seusinstrumentos como poucos no mundo.Mas a plateia – que educadamente aplau-diaao final de cada soloapresentadopelosmúsicos da banda – parecia desconheceros sucessos de Wally Palmar (The Ro-mantics), Rick Derringer (The McCoys),Richard Page (Mr.Mister), Garry Wright(Spooky Tooth) e Edgar Winter.Plateia despreparada? Público que caiu

de paraquedas no show de Ringo Starr?Pessoas que desconhecem os grandes su-cessos individuais dosmúsicos daAll StarrBand? Não, nada disso. É que alguns,

apesar de toda a competência e respeitoque realmente merecem, não consegui-ram emplacar dois hits no Brasil. GarryWright, por exemplo, tem uma músicaque fez sucesso no país. Richard Pagetambém. E são belas baladas românticasque até hoje tocam nas rádios FMs.Baladas que, inclusive, destoam com-

pletamente da linhamusical que norteiaa carreira de Ringo (tanto no períododos Beatles quanto em seus trabalhosposteriores). Mas não peçam dois su-cessos de Richard Page e Garry Wrightpara emoldurar o show de Ringo Starr,pois na realidade eles não têm.A segunda canção apresentada pelos

músicos é algo que a esmagadora parte daplateia desconhece completamente. Omesmo acontece com Edgar Winter eWallyPalmar.Essequadromostraaquebrado andamento do espetáculo. O públiconão canta junto, não explode em emoção,nãovibra comosmomentos solosdessaAllStarrBandqueacompanhouRingoemsuaprimeira passagem pelo Brasil.

MudançasMuito diferente de outras edições quan-

do, por exemplo, Ringo ficava em segundoplano para Peter Frampton cantar “Baby, ILoveYourWay” e “ShowMeTheWay”. Ouquando todos cantavam “The LogicalSong” com Roger Hodgson ou “Hey You”comRandyBachman.Oquenósbrasileirosvimos, em termos de qualidade técnica , éuma das mais consistentes formações daAll Starr Band. Mas é uma das mais fracasem termos de sucesso individual.Ringo, ao insistir como formato, ou seja,

ao dar para cadamúsico da banda a chancede mostrar duas canções, nos permite umaconclusão: estánahoradele rever omodeloe, quem sabe, aumentar o seu espaço nasapresentações. Se existe um artista no pla-neta que tem o direito de cantar asmúsicasdos Beatles é justamente Ringo Starr.A plateia iria se desmanchar ao ouvir

Ringo cantando alguma coisa de Paul, Johne George, por exemplo. O show tambémpoderia apresentar mais da carreira solo doSr. Richard Starkey (nosso queridoRingo) emenos músicas “conhecidas” de seus ta-lentosos amigosdepalco e estrada.Afinal, oseupúblicoconhecetudoqueenvolveavidae obra do ex-baterista dos Beatles. Cantariajunto qualquer música dele. Mesmoaquela que jamais fez sucesso.

Documento:AGazeta_26_11_2011 1a. SABADO_CP_Pensar_8.PS;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:24 de Nov de 2011 21:08:34

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9PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,

26 DE NOVEMBRODE 2011

poesias

MUNDOPERTURBADOBRUNO LUIZHá algumas palavras que não queremsairMomentos apenas idealizadosFaces apenas pintadas na imaginaçãoAbraços idealizadosCompaixão apena negada.

Vamos brincar de acreditar no destinoSentir o vento e as correntesmarítimasE seguir seu fluxo sem relutar.

Os beijos vistosTrazem os nossosQue não estão existindo.

E esse descompasse na dança malucaCausa uma pequena dor semimportânciaQue um dia vai crescer até se tornarUm motivo mortalDe uma partida sem ida.

Mundo perturbado que absorve umaenergiaQue não lhe pertence.Mundo perturbado que não contasuas regrasApenas ensina por rasteiras eenganos.Mundo perturbado que passou aexistirQuando amar passou ser meu objetivode acordar.Mundo perturbado que acerta mesmoerrandoOu é apenas uma forma de tornartudo justo?

Mundo perturbado que daria de tudoum poucoPara descobrir um pouquinho e sairdo meu normal.

Vou fugir um poucoAcreditar na dorE nas poucas regras que conheçoPartir sem voltarEspalhar minhas palavrasAté que o vento leve aos seus ouvidosE nos leve naquele localQue sussurrei que gostaria de lhelevarUm dos poucos lugaresQue posso me esconder sem mepreocupar.

Estou seguindo a maré, mas estoucontra sua correnteAlguém me disse que seria diferenteMas é uma diferença tão igual.

Mundo perturbadoVamos brincar de acreditar no destinoE viver aqueles momentosidealizados?

crônicas

HÁ QUE SE TERSAUDADEPor Nayara Lima“Aos jovens de uma turma do CursoTécnico em Rádio e TV do VascoCoutinho, retribuo ao convite feito,com esta crônica sobre o nossotempo.”

Tenho tentado fazer jus a minha juven-tude. Não sei se consigo. Fico confusa aobuscar descobrir o que se deve ou o quenão se deve fazer para que a juventude,esta chuva rápida no tempo quente, tornea fotografia que vou olhar com saudadequando o tempo me pedir inverno emprimavera. Há quem dê o mergulho maispuro que omeuporque não precisa pensarsobre oprofundooua superfície doquevê.Mas a vida me trouxe ao difícil e tambémbonito caminho de precisar dizer sobre ascoisas de modo a pensar sobre elas.Tentodizer agora e você, leitor, se jánão

é mais jovem, sabe disto mais que eu: háque se ter saudade da juventude. Porquenão ter saudade dela significa que o co-

ração pode não ter acelerado o suficiente,as mãos podem ter tremido menos quedeveriam, o sorriso pode não ter sido “apluma que o vento vai levando pelo ar”,como diria o poeta Vinicius de Moraes.Aqui eu não digo da juventude que

permanece pra além do tempo cro-nológico. Aqui eu me refiro à cro-nologia dos olhos pro espelho, ao diaque o telefone tocou e você não con-seguiu atender porque tudo que vocêmais queria era ouvir a voz de quemchamava, mas você era jovem e nãoatendeu. “Há tantas perguntas para asquais a única resposta é a juventude”,disse-me um dia a poeta Rúbia Bour-guignon, que muito antes de eu serjovem me apresentou à poesia. As pes-soas tem me ensinado a ver o tempo.Uma pessoa que conheço desde o

sempre, usa relógios de todo tipo, devárias cores, de vários tamanhos, mastodos comacondiçãodequenãoestejam

funcionando. Então se alguém perguntaa ela que horas são, ela olha o relógioparado e diz que o relógio está parado.Há muitas razões possíveis que justi-fiquem Carolina parar o relógio. O ChicoBuarque escreveu que “o tempo passouna janela e só Carolina não viu”.Um senhor esguio, que vi por poucos

minutos, de nome Benjamim, de pro-fissão aMatemática, veiome dizer que avida pode ser calculada dentro da lógicadas coisas e que se dissermos que foiuma surpresa ter visto fulano naqueledia, na verdade não foi. A lei das pro-babilidades explica. Discordei do senhormatemático, disse a ele que a vidaescapa às lógicas domundo. Emesmo seerro em dizer isso, estou certa daquideste tempo. E aqui, seu Benjamim, deonde estou, há que se ter o improvável,o insondável, o que a gente não calculacom nada. A surpresa.Seu Benjamim, o senhor tem sau-

dade de sua juventude? Diz que sim...?Diz que um dia o senhor torceu pra nãoter como calcular o que sentia, pra nãoter como definir os números de ba-timentos cardíacos, a pressão sanguí-nea, a hora do sol amanhecendo noArpoador. Diz que sim, seu Benjamim.

DEBAIXO DAS COBERTAS DE FULANAPor Tavares Dias

Uma incerta estação se esvaía, ma-landramente. Foi quando, então, o tem-po. Tem razão. Era debaixo das co-bertas de Fulana, cinturinha de pilão,vizinha da ampulheta. E eram noitesdaquelas que todo ano alugam casasque ficam por uns tempos entre aesquina do solstício de junho e o equi-nócio de setembro.Ali, então, estão, no lesco-lesco, no

vamuvê, valendo três pontos. Naquelecalor febrão emqueparece que os odoressão fumaças e osmovimentos descobremnovas linhas senoidais, e tangentes, esecantes e, já ia dizendo exteriores, masnão, isso só quase demanhã, a reposiçãodas energias por conta de um sono daprofundidade do mar grande das TrêsIlhas e das cobertas de Fulana e dossorrisos quedemoravama se esquecer doenquantamento. E gemidos e sussurrosimitavam urros debaixo das cobertas,agora importante explicar, grossas feito

as coxas de Fulana.Desesperadamente, quer dizer, sem

serem esperadas, deram-se passagensmemoráveis, então, que melhor dariamuma balada, nesse referido período deKhronos, pela graça de Kairós. E deDionísio, também, que os romanos, ten-do vencido aos gregos pelas armas, foramfelizmente derrotados em sua barbáriepela cultura de Helena, de Homero, deHércules e das sereias e Aquiles e osouvidos de seus bravos cobertos comalgodão. E acabaram esquentando umtanto a sacanagem, Evoé, Baco.Delícia, mesmo, era o sorrir no es-

curo, tudo ali, o baile de amor, gafieirapura, a banda tocando longe, feitoaquele pega-pega lá detrás do muro dobaile, as promessas só pensadas ecoan-do quase que pra fora das cobertasgrossas feito as coxas de Fulana.Quase que um trespassava o outro, o

nariz quase saído na nuca da uma,

peitos seios como que assomando nascostas, joelhos dum eram panturrilhasdoutra, casais habitués daquele sexo-zinho casamentício arrozinho de ge-ladeira, ah, se os vissem assim feitocurupiras, os pés revirados no surto dapaixão, quanto haveriam de invejar. Oude com Spring e Fulana aprender.Então veio de longe, muito longe, um

triiiiimmmm triiimmmm triiimmmm. Epedaço de corpo demorou demais a acharlugar seu, pensando que pra sempre seoutrofizera.E triiimmm.EéFulana,adonada casa, quem se arrasta, as coxas grossas,até a porta, parte gente, parte pegnoir,parte edredon, parte uma leseira, e quebom que era, mas putz, que hora de tocarcampainha.Porta não. Só vai deixar mais es-

voaçante o calibre da roupa, de cor-po e de cama. É primo Summer quemchegou. Não demora tem folgançaoutra vez.

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11PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,

26 DE NOVEMBRODE 2011

10PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,26 DE NOVEMBRODE 2011

arte urbanapor Luiz Eduardo Neves

NAS RUAS, TUDO É GRAFFITIDIVULGAÇÃO

Os primeiros grafiteiros do Estado surgiram no final dos anos 80.Mas essa arte só atingiu sua maturidade por aqui na virada do século

Aexpressão pichação éutilizada apenas no Bra-sil. Em qualquer outraparte do mundo, tudo égraffiti. Tal afirmaçãotem mais sentido quan-

do pensada numa linha histórica,que é permeada de fatos que re-tornam em diferentes períodos. Cla-ro que esse intervalo do tempo podeter ondas cíclicas maiores, como é ocaso das pinturas em paredes. Arterupestre é o nome que se dá às maisantigas representações pictóricas co-nhecidas.Datadas a partir do período Pa-

leolítico Superior (40.000 a.C.), asprimeiras impressões de registro ar-tístico foram gravadas em cavernasou também em superfícies rochosasao ar livre. As pinturas rupestres sãovibrantes descrições do cotidianopré-histórico realizadas em policro-mia que, determinada a imitar anatureza com o máximo de realismo,gravaram para sempre as observa-ções feitas durante as caçadas an-cestrais.Milhares de anos mais tarde, a

partir dos anos 60, a arte nas pa-redes ressurgiu por meio do braçodas artes plásticas da culturahip-hop. No Bronx, subúrbio de No-va York, para dividir o territóriodominado pelas gangues, pintavamnos muros palavras quase ilegíveis,denominadas tags, facilmente re-conhecíveis como símbolos de umgrupo. Não apenas paredes e mo-numentos recebiam tintas. Toda acidade, os metrôs, viraram alvos dasgangues que buscavam divulgar suaexistência.O conceito continuou o mesmo du-

rante alguns anos, até que as tags nãocomportaram mais a ansiedade dosartistas. As pichações ganharam estilo eassumiram o status de graffiti, com ainclusão de personagens e cenários.Na terra brasilis, o hip-hop co-

meçou a surgir emmeados de 80, pormeio das equipes de black music,como Chic Show, Black Mad, Zim-babwe, além de algumas revistas edos discos que apareciam na galeriada rua 24 de Maio, em São Paulo. Ospioneiros praticavam quase todos oselementos desse novo movimentocultural – o break, o graffiti e o rap.

ColoridasangústiasOs primeiros grafiteiros da Grande Vi-

tória também dançavam, cantavam e pin-tavam pelas ruas e paredes da cidade. Hámais de vinte anos, começavamaapareceros primeiros grafiteiros capixabas. Entreeles, EdsonSagaz, que, em1989, comprouduas latas de spray – uma vermelha eoutra azul – para dar início às primeirasintervenções coloridas no cinza das edi-ficações urbanas.Ao longodadécada de 90, personagens

como Cyborg, Chicão, Alecs Power, San-drinho, Aloyr e Fredone Fone surgiram,acrescentando técnicas que, na virada doséculo, formaram a identidade estética daarte urbana local.Os graffitis que vemos por aí podem

ser classificados por seus estilos e pra-ticantes. Por exemplo, artistas comoFagundes e AQI desenvolvem o Rea-lismo, enquanto Moska, Kika e Giudominam os Personagens. Smoke eMaik trabalham mais com o Freestyle.As Letras são especialidade de AlecsPower e Japão. No entanto, o estiloclássico da Tag todos dominam.Porém, para essa arte ser decodi-

ficada, é preciso conhecer os códigos dacultura hip-hop. As mensagens des-critas nas obras dos grafiteiros são umaverdadeira “queda-de-braço” com o po-der constituído, tendo em vista a so-ciedade descrita pelo filósofo francêsMichel Foucault, pois os integrantes detal cultura não compram ideias pron-tas. Há a necessidade de produzir algopara o seu próprio consumo. É ne-cessário colocar a cara a tapa sem anecessidade de obter sucesso.Entretanto, a aceitação faz parte do

objetivo de qualquer tipo de arte, mes-mo que isso não seja declarado. Oartista quer aplausos, quer reconhe-cimento. Entre esses artistas estão osgrafiteiros. Marginais, os seus quadrossão os muros - a sua janela para oreconhecimento a partir dos transeun-tes das ruas das cidades. Se o poderconstituído não lhes cedeu espaço, elesretomaram um modo de exprimir suasangústias e sentimentos.Da mesma forma que as pinturas

rupestres, o graffiti é um reflexo es-tético dos anseios do homem, se fa-zendo notar por seu caráter primordial:encher de desenhos coloridos osespaços da vivência humana.

Nos estilos “personagem” e “tag”, os traços dos artistas Somall e Iran preenchem um dos muros de Jardim da Penha, em Vitória

Na Ilha de Santa Maria, em Vitória, quem passa pela rua pode ver a obra de Alecs Power e Fredone Fone no estilo “letras”

Os grafiteiros Iran e Cain dividem o espaço com placas e publicidade numaparede da Ilha do Príncipe, no Centro de Vitória. A dupla usa tag epersonagem para estabelecer um contato com quem passa pela rua

Documento:AGazeta_26_11_2011 1a. SABADO_CP_Pensar_10.PS;Página:1;Formato:(548.22 x 382.06 mm);Chapa:Composto;Data:24 de Nov de 2011 21:11:02

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12PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,26 DE NOVEMBRODE 2011

artigopor Gilayô

NA MÚSICA, O BRASIL ÉSEMPRE A ATRAÇÃOA música brasileira é reconhecida internacionalmente, mas os artistas que queremconquistar o mercado externo precisam mostrar que ela vai além do samba e da bossa nova

DIVULGAÇÃO

No mercado musical inter-nacional é o nome Brasilque sempre se sobrepõeaonomedo artista. Quando amídia anuncia a realizaçãode algum espetáculo, em

geral a chamada vem: “O brasileiro fu-lano de tal”. Isso se deve ao fato de que,até a década de 60, os ritmos que foramdestaque lá fora foram o samba e a bossanova, que deixou o rótulo de que “Brasilé só samba e bossa nova”.A nossamúsica e os nossosmúsicos são

muito bem conceituados não só peloseuropeus, mas por outros povos, como osamericanos. A classe social mais elitizadade outros países, que conhecem a va-riedade dos ritmos brasileiros, valorizamuito a riqueza harmônica e melódica dopaís, conhecendo a variedade dos ritmosbrasileiros. Mas amaioria dos estrangeirosconhecemvagamente anossamúsica, poiso rótulo “Brasil: Samba e Bossa Nova”ainda impera. O samba, por ser muitosincopado e de difícil assimilação rítmicapara os estrangeiros, sobretudo para dan-çar, fazia sucesso de uma forma restrita eaté um pouco folclórica.

UnanimidadeJá abossa nova, ritmoque é associado a

um estilo sofisticado, lá fora correspondequase que por unanimidade ao nome deTomJobim.Mesmoassim,asmúsicasmaisconhecidas são: “Garota de Ipanema”,“Corcovado”, “Wave”, “Desafinado”,“Samba de uma nota só” e outras. Claroque nosso maestro é de se reverenciarmesmo, mas sabemos que a bossa nova ébem ampla e envolve muito mais artistas.Muitos dos nossos artistas brasileiros

nacionalmente conhecidos são convidadospara grandes manifestações, shows e fes-tivais internacionais. Mas o que atrai osespectadores, em primeiro lugar, é o nomeBrasil, poisopróprioeventoparaoqual elefoi convidado é a atração principal. Ob-viamentequeanotoriedadedoartista aquinoBrasil acabapordespertar a curiosidadeda mídia internacional.Baseado em minha própria experiên-

cia, posso afirmar que todo artista bra-sileiro que desejar alcançar outros mer-cados além do nacional e se instalar noestrangeiro deverá levar em sua bagagemtrês fatores essenciais: procurar dominaro idioma do país, adquirir o direito legal

para trabalhar, e enfrentar a dificuldadede mostrar que o Brasil não é apenassamba e bossa nova.Quando estou no universo musical

fora do país, percebo uma lacuna dasgravadoras e produtores de shows, quedeveriam difundir commais frequênciaos nossos artistas, principalmenteaqueles com outros estilos.Engana-se aquele que pensa: “Vou tra-

balhar foradoBrasil porque tenhoamigosmorando lá”. Em primeiro lugar, temosque nos integrar socialmente, conquis-tando relacionamentos com o povo e acultura daquele país, e não formandoguetos com os brasileiros também imi-grados sem,obviamente, denegrir onossopovoeanossa cultura, que sãomuitobemconceituados internacionalmente, espe-cialmente quando falamos da música.

Muitos saíram do Brasil para buscaroutros mercados. Com algumas exceções,na maioria das vezes perdem o contatocom o mundo artístico brasileiro, poiscriam raízes lá fora, e poucos conseguemfazer a ponte Brasil – exterior por diversasrazões. Por isso, é comum encontrarmosartistas brasileiros fazendo sucesso no ex-terior e raramente conhecidos em seupróprio país. Os artistas que não possuemgravadoras e produtores como suportecomercial e promocional sofrem uma di-ficuldade ainda maior para se projetarinternacionalmente.

MudançasTodas as vivências e experiências com

o mundo musical internacional fazemcompreender que, para alcançar umaposição, é necessário driblar o estigma deumamúsica “típicabrasileira”, compondouma linha melódica mais interativa, sema barreira das adversidades culturais.E assim foi feito: em 1985, em

primeira visita ao Caribe, simpati-zei-me com o estilo local – o Zuck, umestilo próximo ao meu. O casamentonão foi difícil, nascendo o SambaZuck, que me levou ao apogeu nomercado internacional. Daí a razãode eu afirmar que “o Brasil é sempreatração”, para todos. É claro que issonão é válido para quem faz um showou uma turnê de curta duração, maspara quem vai adotar outros países eoutras culturas para viver musical-mente é inevitável que aconteça essafusão de musicalidades.Um bom exemplo dessa integração

cultural é a banda Sepultura, que fezsucesso internacionalmente, fazendo umsom pesado, levando a identidade bra-sileira e usando um ritmo amplamenteconhecido que é o heavymetal. Há algunsanos radicados no Brasil e com um vo-calista americano, a banda é hoje uma dasmais conhecidas internacionalmente.A integraçãomusical é um caminho que

pode abrir as fronteiras doBrasil para alémdo samba e da bossa nova. Hoje a músicabrasileiraéglobalizadaeampla.Éummito,em pleno século XXI, pontuar a musi-calidade brasileira resumida a dois ritmos.Isso não corresponde à atual música con-temporânea do Brasil. De qualquer forma,todo artista brasileiro levará suas re-ferências aonde quer que vá.

O Sepultura, com o guitarrista Andreas Kisser, é exemplo de sucesso no exterior

Documento:AGazeta_26_11_2011 1a. SABADO_CP_Pensar_12.PS;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:24 de Nov de 2011 21:12:04