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PELAS ROTAS DA VIDA E DA OBRA DE PABLO NERUDA Maria Inês Cardoso Saes Pre.rsora de Ungua e eralra Eanhola da Universidade Federal do Ceará. "Os sistemas caetn, os cultos se desfazem. os poetnas pare- cen1 cada vez mais jovens e mais belos, sob os beijos fatais do tempo." disse utna vez Antero de Quental. O poeta açoriano do oitocentos não se referia a toda e qualquer poesia, mas àquela ante a qual arregalamos nossos olhos de leitores e ao encontrá-la, tratamos de mantê-la guarda- da no espírito, ou na alma - como quer que chametnos essa porção etérea de nós. A grande poesia de fato não atura moldes, fôrmas, balizas cro- nológicas, desliza entre o antes, o durante e o depois da existência de seu próprio autor dialogando com o outro. Em um mundo em que os sistemas perecem, os muros erguem- se e caem, as linhas divisórias se esvaecem inevitavelmente diante desse "teatro do bem e do mal" , para usar a expressão do escritor uruguaio Eduardo Galeno, não podemos pensar em atrelar a sobrevivência de utna obra, à fascinação ou ao encanto que o posicionamento ideológi- co de seu autor podem despertar. Pablo Neruda é um desses poetas cuja atividade política mere- ceu quase tanta atenção quanto sua produção poética. Sobre sua poe- sia pesa seu ideário políco. É certo que a poesia de causa de Pablo Neruda - afeição reco- nhecida do poeta antes tnesmo de sua conversão política - que cotnpõe sua in1agem de "intérprete das aspirações e dores da tribo"1 faz frente à sua poesia de caráter mais lírica e metafísica. No entanto, muito, de abas, ganha o tnundo e o tetnpo. No caso do grande poeta chileno, atribuir a enorme e durável receptividade de sua poes ia á sua participa- 1 El)WA RI)S, J orgc. Las convcrsiones de PabloNeruda. I n: SCI-H)PF, Fede rico. Ncruda cocn ta do. 2003. 325

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PELAS ROTAS DA VIDA E DA

OBRA DE PABLO NERUDA

Maria Inês Cardoso Salles Proje.rsora de Ungua e Literal/ira Espanhola

da Universidade Federal do Ceará.

"Os sistemas caetn, os cultos se desfazem. Só os poetnas pare­cen1 cada vez mais jovens e mais belos, sob os beijos fatais do tempo." disse utna vez Antero de Quental. O poeta açoriano do oitocentos não se referia a toda e qualquer poesia, mas àquela ante a qual arregalamos nossos olhos de leitores e ao encontrá-la, tratamos de mantê-la guarda­da no espírito, ou na alma - como quer que chametnos essa porção etérea de nós.

A grande poesia de fato não atura moldes, fôrmas, balizas cro­nológicas, desliza entre o antes, o durante e o depois da existência de seu próprio autor dialogando com o outro.

Em um mundo em que os sistemas perecem, os muros erguem­se e caem, as linhas divisórias se esvaecem inevitavelmente diante desse "teatro do bem e do mal" , para usar a expressão do escritor uruguaio Eduardo Galeno, não podemos pensar em atrelar a sobrevivência de utna obra, à fascinação ou ao encanto que o posicionamento ideológi­co de seu autor podem despertar.

Pablo Neruda é um desses poetas cuja atividade política mere­ceu quase tanta atenção quanto sua produção poética. Sobre sua poe­sia pesa seu ideário político.

É certo que a poesia de causa de Pablo Neruda - afeição reco­nhecida do poeta antes tnesmo de sua conversão política - que cotnpõe sua in1agem de "intérprete das aspirações e dores da tribo"1 faz frente à sua poesia de caráter mais lírica e metafísica. No entanto, muito, de atnbas, ganha o tnundo e o tetnpo. No caso do grande poeta chileno, atribuir a enorme e durável receptividade de sua poesia á sua participa-

1 El)WA RI)S,J orgc. Las convcrsiones de PabloNeruda. I n: SCI-H)PF, Fede rico. Ncruda

cotncn ta do. 2003.

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ção política no cenário de seu tempo, seria uma s.it�plificação e um

equívoco. A capacidade de sobrevivência e a ':_eceptl��dade de sua lite­

ratura, atestam suficientemente sua sustentaçao poettca, valor que al-

guns libelos não hesitam em tentar diminuir. .

Neruda é exemplo de homem que devotou sua vtda a grandes e intensas paixões: as mulheres, a natureza, o Chile, a humanidade. Con­verteu-as, todas, em poesia, por que esse era seu oficio e cotno resulta­do, compôs uma obra caleidoscópica, uma poesia variada tanto nos temas como na forma.

Porque estamos neste ano que marca o centen�.��?. ?o nascimen-

..................... to .. dO···pOeta ·Chileno; ·cujo· ·"cumpleafios" OCOrria a cada 12 de julho . dessa centúria, permitir-me-ei, ao contrário do que recomenda o bom senso do pesquisador habituado aos necessários recortes, manter aqui esta noite, uma conversa também caleidoscópica, em que tentarei traçar um breve percurso através da vida e da obra do autor.

Sigo ainda, para marcar esse percurso, um hábito que apesar de haver custado severas acusações a Neruda, mostra seu temperamento inquieto e movediço, atento às variações, à multiplicidade do fenômeno da vida: o hábito de enumerar. Esta tentativa de traçar, portanto, uma breve retrospectiva, obedece ao desejo de ampliar a minha fala, ainda que isso implique numa perda de profundidade, abarcando os anos de infância e juventude do autor e sua passagem à idade madura.

Não poderia recapitular a história do poeta com informações tnais precisas e originais do que as que ele próprio nos deixou, além daquelas que dele nos legaram muitos que já se debruçaram sobre ela, entre eles Jorge Edwards, Volodia Teitelboim, Dámaso Alonso, Anto­nio Melis. .. permito-me tomar-lhe de empréstimo parte de seus textos

• aos que acrescentare!, oportunatnente, meus próprios cotnentários. Recentemente, por ocasião da data do seu aniversário de nasci­

tnento, muitos chilenos e estrangeiros visitaram Ilha Negra para depo­sitar no seu túmulo cravos, lágrimas e palavras, tnas esse ritual só acontece assim, nos últimos 12 anos, antes disso, a multidão que diri­gia-se ao setor mais pobre do Cetnitério Geral de Santiago, tútnulo do poeta durante o regitne militar, sofria dura repressão policial.

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Recorrendo a Infância do poeta

Divagando sobre as razões que levatn alguém a ser utn escri­tor, e o que leva un1 autor a expressar suas itnagens e experiências sob a forn1a de prosa, enl]Uanto outros encontram na poesia sua vestimenta tnais justa, ocorreu-tne desconfiar das memórias auto-biográficas. A tnarca da lírica, por exemplo, no caso dos poetas, cavaria em suas

, . '

n1emor1as certas tmagens que seguramente se sobreporiam aos fatos. Mas, ao ler Confesso q11e uivi crê-se piatnente no garotinho magricela que atravessou Temuco, seu povoado, durante semanas carregando utn cisne enorme nos braços, num esforço monumental para resti­tuir-lhe o lago, seu elemento natural. Assistiu sua morte e descobriu etn meio à dor e à tristeza que "os cisnes não cantam ao morrer". A alma de poeta que habitava o menino franzino e esquálido transfor-

• A • • • � •

tnou, no entanto, uma expertencta que tantas crtanças Ja vtveratn, em uma imagem poética recorrente. Confiante no valor da verdade poé­tica, o autor ainda nos adverte: " ... inventei alguns pássaros para que voas­senJ entre as aves verdadeiras e me representasse entre elas. n Entre verdades e verdades, a prosa do poeta não se limita apenas a relatar o episódio que seus versos multiplicariam:

Trouxeram-me um cisne meio morto. Era uma dessas aves maravi­lhosas que não voltei a ver no mt-tndo: O cisne de pescoço negro, nave de neve com pescoço esbelto como que metido em uma estreita meia de seda negra, o bico alaran;ado e os olhos vermelhos . . . . 2

Essa e outras histórias trançavam ruídos, odores e itnagens que '

a metnória poética evocou urna e outra vez. A fauna silvestre dedicou atnor, temas e o título de um de seus livros: (63) Arte de pc!Jaros, além de incontáveis crônicas. Etn " Pássaros e passarinhos" um grande Albatroz "quase cobria com as asas o corpo estreito do Chile" e o poeta recebe a visita do trinado de pequenos cantores, diucas, pintassilgos, tencas e chincoles, em alegria, etn desvario. Afinal, " tudo lhe professam os

2 NE RUI)A, Pablo. Confesso <-}UC vivi. 19BO. l)oravantc, tod�\S as citnç<>cs de Confesso

estarão transcritas cm letra ArinJ Narrow.

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' , .

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. , "tos l)"'SS"rl· nhos 1)assarolos, passacéus"3 e e] e gue confessa não p a s s ,, .. , " "' .. , , .. ,

.

haver aprendido a voar ou a cantar, reafir�a �e� a�1or por esses seres

alados quando os faz revoar em sua poesta. T�o IIUJJOtta�tes quanto

exp. erl'e"ncias tão íntitnas cotn a natureza fo1 sua tncursao no mun-essas .. , ..

do dos livros. Atnbas, pouco a pouco iam-no deixando "entrever misté-

rios esmagadores" e aplacavam a solidão de um "menino poeta, vesti­

do de negro, na fronteira espaçosa e terrível." Imagens colhidas do real ou do real ünaginário que lhe enchiam a alma e que ele, muito cedo, desenharia no papel de seus pritneiros poetnas.

Tão cedo cotno os anos etn que aprendeu suas primeiras letras, acompanhamos o menino de pernas trêmulas e etnoção contida ante a "pritneira [e precoce] visita da inspiração: entrega ao pai distraído seu primeiro poema, aquele que escreveu para sua suave tnadrasta angelical, sua mamadre (sua sensibilidade para as palavras o impediam de chamá­la madrasta), o pai, que sem dar tnuita atenção, perguntou de onde o havia copiado, e representou naquele tnomento a favorável ainda que desatenta "crítica literária" disponível.

Anos depois, já adulto, volta o poeta ao tnestno tema e retira o título de madrasta do livro dos vilões ao imortalizar D. Trinidad Candia Marverde, segunda mulher de seu pai, como a "anjo tutelar" de sua infância a quem dedicara versos que a cotnparavatn, em sua suavidade, à tímida frescura do sol das regiões tetnpestuosas ... " La 1na11Jadre viene ah� .. . dulce como la tímida fre.rcJtra de/ . rol en las regione.r tenpe.rtuo.ra.r,lan;parita ... "

O menino Neruda foi, em várias ocasiões, presenteado cotn li­vros que entraram em sua «predileção profunda». Na infância, esse ritual foi inaugurado por uma senhora recén1-chegada a Ten1uco, a noYa diretora do Liceu de tneninas. Senhora alta, cotn vestidos tnuito cotn­pridos e sapatos de salto baixo ... assustava a principio o joYenzinho, mas, seu sorriso pleno e generoso - chamado pelo poeta 111ais tarde de sorriso de farinha etn cara de pão tnoreno - no rosto queitnado em que o sangue índio predotninava cotno um belo cântaro araucano - dissi­pou os temores e consolidou un1a relação amistosa e11tre o pequeno Neruda e sua benfeitora, Gabriela 11istral. Gabriela in11 ôs un1 pouco ao tnenino sua predileção pelos autores russos. 1\nos de1 ois, o joven1

3 I dcrn. Para nascer nasci. 1980.

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poeta no frescor de seus vinte anos e na solidão de sua função consular no Ceilão veria 111antida a t"t�adição iniciada pela escritora chilena, desta vez, receberia os generosos en1préstin1os de Lionel Wendt (93), que con1ovido diante da solidão e do isolatnento cultural etn que vivia o )·oven1 cônsul, enviava-lhe sema11almente através de um ciclista sacos , '

de livros de sua vasta biblioteca. Neruda então, tornou-se íntimo dos novelistas ingleses.

1\inda sobre livros, conta Neruda como assustou-se o livreiro García Rico quando lhe pediu que vendesse livros.. . à prazo. Livros que transforn1ados etn uma vasta biblioteca doaria anos depois à ) ) )

Uni,rersidad de Chile, junto com sua coleção de caracóis. Sua bibliote-ca, contava, então cotn edições antiqüíssimas e valiosas, como as de Garcilaso de la Vega, de Góngora, "editadas em uma época em que os livros dos poetas tinham uma inigualável majestade".

Em 191 O, aos seis anos, Neruda ingressa no Liceu de homens de Tetnuco. "Vasto casarão cotn salas desarrutnadas e subterrâneos som­brios" de onde fugia, vez ou outra, para banhar-se nas águas frias do rio Cautín. Passa no Liceu seus anos de infância e juventude. Lá o poeta cursa a escola primária e secundaria. Demonstra uma certa inabilidade para os jogos que envolvem disputas e lutas, o que consegue suplantar atnplatnente por suas aptidões literárias, desde cedo voltadas para os tetnas da natureza e do atnor.

Nasceu em Parra! "onde crecen la vifias y abunda el vino" mas foi etn Tetnuco que viveu sua infância e primeira juventude e sobre a cidade, declarou o poeta certa vez quando por lá passou clandestina­mente a caminho da liberdade: "Cresci nesta cidade, minha poesia nasceu entre o morro e o rio e totnou a voz da chuva, itnpregnou-se dos bosques tal cotno a tnadeira." Foi etn Tetnuco que em 1917 o jornal "Maiiana" publicou "Entusiasmo e Perseverança" seu prin1eiro artigo e etn 1918, publicou suas primeiras poesias na re,rista Corre V11ela de Santiago, assinados ainda com seu notne de batistno Neftalí Reyes.

Acompanhando a Juventude de Nerttda

O escritor Jorge Edwards, un1 dos 111(ÜS destacados críticos da obra nerudiana, diplotnata e conselheiro da en1baixada en1 Paris ao

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lado de Neruda, letnbra etn utn de seus prólogos para os Vinte poe-111c1.r de clnJor e Un1a Ctlnçiio de.re.rperada4 tlue na Santiago dos anos 20, mais precisamente em 21, numa pensão da rua Maruri, um jovem provin­ciano de parcos 17 anos escrevia poetnas. U tn, dois, cinco . . . ao dia, mais do que em realidade eram as suas refeições, e conta ainda que 0 no1ne do então jovetn Neftalí Ricardo Reyes Basoaldo já havia sido preterido em favor de Pablo Neruda, porque o jovetn poeta já esta­va decidido a liberar-se do ambiente familiar, da hostilidade paterna por sua vocação literária. Conta Neruda em suas memórias que es­colheu seu pseudônitno em utna revista literária, sem suspeitar da ((estatura" do poeta checo Jan Neruda, entre seu povo . Mais tarde, depositaria flores em sua estátua etn Praga. A curiosidade sobre seu pseudônimo atormentou alguns de seus amigos, não por isso abriu mão de um silêncio enigmático cada vez que lhe perguntavam a res­peito. Egon Erwin I<.ish, uma das pedras do sal do mundo, como o poeta costumava chatnar aos artistas e escritores exilados no Méxi­co da década de 40, onde era cônsul, havia descoberto, segundo ele, intricado caso de espionagem5, morreu, no entanto, sem desco­brir o enigma do famoso pseudônitno. Não valia a pena que se que­brara o sigilo e o encantamento de uma história tão simples e pouco extraordinário, confessou o poeta.

Voltando à narrativa de Jorge Edwards, acompanhamos o jovem Neruda que nos entardeceres, religiosamente à varanda, contemplava o extraordinário espetáculo do crepúsculo, que na descrição exata do pró­prio poeta surge com {�randiosos hacinamientos de colore� repartos de luv abanico .r inmensos de anaran;ado.r ,Y escarlata 'r,. '�ssim, terminou seu pri­tneiro livro de poemas", prossegue Edwards, "reunidos a principio em utn caderno cujo título era Helios, antes de se transfortnar no inconfun­dível Crepusculário. Este neologismo marcaria o espírito enumerativo, colecionador de seu autor", espírito que se alargaria ao longo de sua carreira nos títulos de suas obras que juntavatn odes, extravagâncias,

, . amores e epopetas. Crept�sct�lán'o foi publicado etn 1923, na n1estna Santiago que es-

4 El T jbro de bolsillo. l)e i\lian.7.a Editorial, 1991. 5 o farnoso caso do Coronel Rcdl, cn1 19 14 na Áustria ó apud El)Wi\Rl)S, Historia Y n1itología de un1 Iibro. ln: Vcintc Poctnas. 1999.

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cutou a voz do poeta declan1ar seus versos etn vários de seus recantos, e11tte os quais no Instituto Pedagógico onc.le estudava francês e cujos pátios "freqüentava cotn tnais assiduidade do que as salas de aula". O Livro já registra a tnarca pessoal de Neruda, tnestno que também guar­de o rastro de poetas tnodernistas de quem o jovem autor chileno guar­dava os passos. Sua poesia receptiva, portanto, aos " filões dominantes na poesia do seu tetnpo"7 foi prontamente aclamada pela critica; os poetnas se tornaram populares, alguns deles de um dia para o outro, segundo J. Ed\vards. A imensa popularidade de alguns aborrecia tre­tnendatnente Neruda que nutria uma "saudável e biológica alergia" pela ünobilidade que o sucesso de tlm único poema representa para o poeta. Apenas chegava etn utna reunião e alguma moça elevava a voz recitando os versos de Farewell, as vezes, ministros de Estado se perfi­lavam e espetavam-lhe os primeiros versos do poema, seguramente seu primeiro grande sucesso. Sua aversão a essa moda, era cotnpartilhada por seu grande atnigo o jovem poeta espanhol Federico García Lorca, cujo poema "La casada infiel" teve a mesma sorte. Em realidade, pode­ria considerar-se dileto amigo de Garcia Lorca aquele para quem o poeta andaluz repetisse seus versos.

Ainda sobre Crepttsculán'o, saudado pelo público e pela crítica imediatatnente após sua publicaçãonão, não é difícil imaginar o porquê do entusiasmo dos seus leitores chilenos diante dos seus versos de atnor, tão atemporais que permitem diálogos renovados como o que com ela tnantêm o cantor argentino Fito Paez que re-lançou os versos da quinta estrofe do famoso Fare\vell, desfrutando do encantamento de jovens dessa 11ova geração, incluindo-se ai os fãs dos Titãs com quem o ídolo pop argentino gravou "Go Back": Seus versos que dizem:

, . . .

Ya no se encantaran rrus OJOS en tus OJOS

Ya no se endulzará junto a tí mi dolor.

Pero hacia donde vaya llevaré tu tnirada

Y haci� donde camines llevarás mi dolor

7 f\1ELIS, Antonio. "Ncruda y la pocsí� hispanoamcricana: um:1 presencia polémica. lN:

SC()PF, Fcdcrico. Ncrutb Cornentado

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E concluetn: De..rde 111 corazón tne dice adiós un niiio. Y yo /e digo adiós.

Nestes versos, 0 poeta parece prenunciar duas despedidas. Uma delas

é a despedida dos moldes marcados pela poesia amorosa própria do

111odernistno «tnórbido e decadenteH ". A partir de Crep11scu/ário, o autor já tateia seus novos caminhos, não apenas àqueles que o levarão à sua poesia amorosa, mas também, de forma mais esfumaçada, à sua poesia política futura. A outra despedida parece ser a da poesia que canta o puro prazer do amor sensual, despede-se do menino em seu encanta­tnento de atnor e avança nas descobertas do corpo erótico que inevita­veltnente deságuatn na constatação do caráter contraditório da relação an1orosa. Dirige-se finalmente à extenuação dolorosa daquela sensuali­dade, cotno podetnos observar já no pritneiro dos Veinte Poemas . . . em cujos versos finais vaticina:

Cuerpo de mujer mía, persistiré en tu gracia. Mi sed, mi ansia sin lünite, mi camino indeciso! Oscuros cauces donde la sed eterna sigue, Y la fatiga sigue, y el dolor infinito.

Publicado em 1924, será Vinte poemas ... seu segundo livro "dolo­roso e pastoril que contém a mais atormentada paixão adolescente, misturada à natureza avassaladora do sul de sua pátria>>. 1926 é um ano profícuo para o jovem escritor que publica seu livro de poesia Tentatit'a

do Ho11Jen1 Infinito e mais dois livros em prosa: Anéis (Prosa poética) e O he�bitante e sua esperança (relato e aventuras)

Neruda viveu intensamente a juventude, desfrutando de atniza­des muito especiais, nutriu-se da seiva do atnbiente tão peculiar em que viveu. Alguns episódios da época, narrados en1 Confe.r.ro . . . dão conta dis­so. Entre suas atnizades contavatn: Alberto Rojas Jitnénez, um dos seus tnais queridos companheiros de geração que esbanjava talento e encan­to, e que mudava-se constantemente distribtündo prodigamente sua atnizade por onde passava, além de versos, desenhos e gravatas, dirigia a revista Claridad na que Neruda se incorporou cotno 111ilitante políti-

H Idem.

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co; i\lberto \7aldivia- o cadáver Valdívia, a quem Neruda e seus amigos costun1avan1 deixar, depois das noitadas em noites de finados, às por­tas do cen1itério; On1ar V ignole, poeta agrônotno que andava por toda Buenos 1\.ires con1 un1a vaca cotn quetn tnantinha estreita atnizade e a quen1 levou ao 1" Congresso do 'Pen Clube mundial no hotel Plaza; o

Pintor 1\lvaro : 'Chile'' Guevara, cotn idéias .menos brilhantes do que seus quadros; Alvaro 1-Iinojosa, poeta com quem, em algutn tnomento planejou sair da pobreza, negociando couros de leão-marinhos pelu­�os. J\tnizades que renderiatn ao poeta inspiração e poesia, vida afora.

O trânsito da infância para a juventude é celebrado em quase todas as tribos do mundo por certos rituais de passagem, entre os jo­vens das culturas ocidentais, é marcado, basicamente por convenções burocráticas estabelecidas pela idade cronológica do indivíduo. Já a passagen1 da juventude para a maturidade se dá de forma mais silenci­osa. Com os poetas, por outro lado, são vários os indícios que marcam ·

essa passagetn, devidatnente registrado sem sua poesia. Quando se deixa tomar pelo entusiasmo da inspiração que o

conduz aos versos perspassados pela dimensão cósmica do amor, ver­sos que comporão seu livro E/ hondero entusiasta, Neruda sofre um abalo que ele chamou "golpe de claridade" ao descobrir que aquela poesia cotn ambições de englobar " não só o homem, mas a natureza, as forças escondidas; utna poesia épica que se confrontasse com o grande nústério do uni,rerso e também com as possibilidades do homem", poesia que parecia haver saído de sua pena em momento sublitne de inspira­ção e de tnaneira delirantemente espontânea" não era inteiratnente sua, "tinha algo de Sabat Erscaty", grande poeta uruguaio. A atualmente chatnado angústia da influência, caiu como chutnbo para o jovetn poe­ta - que abortou, pelo menos naquele momento, sua atnbição cíclica de un1a poesia an1pla - e lhe fechou as portas da eloqiiência, reduzit1do seu estilo e sua expressão. O poeta que constata equívocos de atltenticida­de etn e/ H ondero eJt!Jt.rict.rta será aquele que retotna seu universo de temas e de formas próprias, c resolve retornar às autênticas fontes de seu sentir poético, itnortalizados etn T/einte PoeJJJa.r de tJIJJot: . . obra con1-posta etn seguida ao desengano ao qual nos referitnos antes.

No entanto, uma vez que o próprio poeta se refere aos T/einte

poema.r ... , como livro doloroso e pastoril que contem, misturadas à natu-

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reza envolvente do sul de sua pátria, suas mais ator1nentadas paixões

adolescentes, seria oportuna escolher outro motnento para iJusttar o

percurso do poeta catninho à maturidade. . .

A viagetn é setnpre utn eletnento de grat;de stml)ologta, especial-

mente para aquele que está em busca de algo. E in�gável, portanto, que

há utn momento que constitui-se etn bisagra na vtda do poeta, aquele

etn que 0 hotnem - Neruda - começa a trilhar os caminhos do mundo e isso se dá graças a sua notneação como cônsul Ad Honorem do Chile em

Ragún na Birmânia. Em sua estadia na Birmânia, acossado pela solidão, ensimesmado,

Neruda se torna um homem profundamente reflexivo, e o resultado desse processo se vê com clareza em sua poesia: Lá, ele compõe poemas que integrarão Residência na Terra, livro cuja importância está, segundo o autor, em sua irreversível ruptura com a tradição, tanto como em sua originalidade. Nesse tnotnento já se sente, à margetn dos aspectos estilísticos, que em Residéncit1 nos confrontamos com a dor realmente infinita: Segundo Amado Alonso, " Antes de residência . . . hay en toda la poesía de Neruda una bella tristeza que se complace em si rnisma. Esta melancolia habla mucho del dolor infinito, pero solo en Residencia se nos pondrá adelante, y sin nombrarlo, el dolor realmente infinito." 9• E afirma, para ilustrar seu comentário: Na poesia juvenil há uma melanco­lia (saudade) que se veste de nostalgia: a tristeza do bem perdido que descansa na recordação. Atneaçada pela angustia as águas do sentimento ainda se tnostram como saudade, utn modo de felicidade, porque o sofritnento se auto-contetnpla envolvido em beleza e feito canção: Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Pensar que não a tenho. Sentir qtte a perdi. (canção XX). A saudade do perpétuo adeus às coisas que se vão é ainda um modo de retê-las, é o pagamento em tristeza para revivermos em nossa aln1a momentos de felicidade já idos. 10 Esses sentimentos que atra­vessam a alma do poeta se manifestam primeiro como nuvens passagei­ras, logo como um estado de alma: em Veinte PoenJa .. r "o sentimento se refugia ainda na saudade, fugindo da angústia' '11 :

9 AJ .ONSO, An1ado. Angustia )' dcsintcgración. ln: SCHOPI� Fcdcrico. Ncrudn con1cntndo. P.159.

I O Idem 1 1 lbidcn1

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1\ y, seguir el can1ino que se aleja de todo, Donde no esté atajándola angustia, la muerte, el invierno, Con sus ojos abiertos ante el rocío.

iviais tarde perde, em n101nentos, sua brandura e resignação, dando passagen1 a lan1pejos de angústia que finalmente alcançarão em Residên­cia certo apogeo porque se identificam com o estado anímico do autor, com o seu coração que já não encontra refúgios poéticos . . . "Se antes seu sentin1ento en1anava da canção dolente da tnelancolia , agora soa Como un água feroz n;ordiéndose y sonando ". 12

!\las a trajetória geográfica e poética de Neruda ainda seria ex­tensa e cheia de reviravoltas. Etn 1928 continua suas atividades diplo­tnáticas epoéticas etn Colombo, Ceilão, atual Siri Lanka. Em 1930 é non1eado Cônsul na Batávia Qava). Em 1933 publica, depois de 10 anos, E/ bondero entusiastc1 (exaltação da paixão atnorosa e Residência na Terra (25/ 31) que juntamente ao Canto Geral constitui obra de grande relevância em sua produção poética. Viaja a Buenos Aires onde foi notneado cônsul e conhece a Garcia Lorca com quetn trava estreita atnizade e com quem improvisa um " discurso al alelí" em homenagem a Rubén Darío. Em 1934 é nomeado cônsul em Barcelona, transfere-se para :N1adrid, onde etn 1935 travará amizade com todos os poetas da Geração de 27, atnigos de Lorca, e, juntatnente cotn outro poeta sul­americano, César Vallejo, exerce sobre eles notada influência. Numa época em que a fatnosa Geração da amizade, como era chamada a Geração de 27, até pouco imersa nas experiências vanguardistas ou pós-modernistas, nos "ismos", adeptos da "poesia pura" promotora da "purificação da tnatéria poética"13 que em sua maioria pregava a ima­getn, influenciados pela exploração surrealista do "ElT" e pela tnudan­ça das circunstâncias sociopolíticas, assume utn certo comprotnisso cotn a sociedade: poetas sobre os que pesava a pecha de pouco-huma­nos, por catninhos, os tnais diversos, dirigetn seu olhar à profunda raiz de inspiração poética . . . mais ainda: etn alguns, o tom de voz se eleva até quase a ênfase profética, segundo Dátnaso Alonso.

12 1 bidcn1. P.163 13 LAl\f A, Victor. Po(;:sía d(;: laC<.:ncracic'>n dei 27. Ednf. t\ladrid, 1997

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1\ 111elhor acolhida que a Espanha lhe podia brindar o faz atra­vés de un1 tan1bén1 jovem poeta que numa estação de trens o recebeu con1 un1 ra1110 de flores na mão e as boas vindas dos colegas de sua geração. O poeta, o tnais popular de sua terra, apresenta Neruda etn �n1a Conferencia -Recital Na Uruversidade de 'Madrid. Federico Garcia Lorca, o introduz ao público cotn estas palavras:

. " .

E digo que se disponham a ouvir utn autcntlco poeta dos que têtn seus ouvidos amestrados nutn tnundo que não é o nosso e que poucos percebetn. Utn poeta tnais próx.itno da n1orte que da filosofia; mais próximo da dor que da inteligência, tnais próximo do sangue que da tinta. Um poeta cheio de vozes tnisteriosas que felizmente ele mes­mo não sabe decifrar; de u1n hon1em verdadeiro que sabe que o junco e a andorinhas são mais eternos que a face dura das estátuas.

O Poeta andaluz reconhece no poeta chileno uma voz autêntica da América e em seus versos o " tono descarado del gran idiotna espano! de los americanos, tan ligados con las fuentes de nuestros clásicos, poesía que no tiene vergüenza de rotnper tnoldes, que no teme al ridículo y que se pone a li orar de pronto a la tnitad de la calle". N eruda retribui:

Si pudiera llorar de miedo e n u n a casa sola, si pudiera sacartne los ojos y comértnelos, lo haría por tu

voz de naranjo enlutado y por tu poesía que sale dando •

grttos . • • •

Así es la vida, Federico, aquí tie11es las cosas que te puede ofrecer tni amistad de tnelancólico varón ,,aronil. Ya sabes por ti mistno tnuchas cosas. Y otras irás sabiendo lentamente. 14

Ser recebido por Garcia Lorca na estação de trens, ainda que

14 Neruda. Antologia Poética. José<)lytnpio, 199H.

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sozinho, bastava e sobrava. Não obstante, Neruda criou laços estreitos de amizade e companheirismo com outros jovens poetas da pátria mãe, entre eles, nutriu um profundo carinho de irmão mais velho pelo jovem poeta camponês Miguel Hernandez, que chegou a ele « com cara de batata recém colhida, com cheiro de Fray Luis [de León], de azahares, de esterco, tnas que trazia na boca um Rouxinol.»

Recordar a Miguel Hernández que desapareció en la oscuridad y recordaria a plena luz, es un deber de Espana, un deber de atnor. Pocos poetas tan generosos y lumino­sos como el muchachón de Orihuela cuya estatua se le­vantará algún dia entre los azahares de su dormida tierra. No tenía Miguel la luz cenital del Sur como los poetas rectilíneos de Andalucía sino una luz de tierra, de maiiana pedregosa, luz espesa de panal despertando. Con esta materia dura como el oro, viva como la sangre, trazó su poesía duradera. iY és te fue el hombre que aquel momen­to de Espana desterró a la sombra! 1Nos toca ahora y siempre sacaria de su cárcel mortal, iluminaria con su valentia y su martirio, ensenarlo como ejemplo de corazón purísimo! 1Darle la luz! 1Dársela a golpes de recuerdo, a paletadas de claridad que lo revelen, arcángel de una glo­ria terrestre que cayó en la noche armado con la espada de la luz!

Migue4 por sua vev brindo11 o poeta chileno com .rua mais proj11nda adnJi­raçào e .rua amizade. O canto do Rouxinol lhe entoou uma <( O da entre sangre)' ?JÚJo a Pablo Neruda)>.

Conozco bien los catninos conozco los catninantes del mar, dei fuego, dei sueno, de la tierra, de los aires. Y te conozco a ti que estás dentro de mi sangre.

Se Rafael Alberdi foi, dos atnigos desta geração, um pouco tnentor de Neruda, especialn1ente no que respeitava aos assuntos relacionados à política, Garcia IJorca foi seu irtnão. Etnbora não haja produzido

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muito na poesia, a Espanha pré-franquista o viu participar ativamente das produções culturais, tão efervescentes na época. Editou e dirigiu a

. - . . ,., ,

revista Cabal/o Verde para ltl poesta, entre outras parttctpaçoes, ate que em 1936 explode a guerra civil espanhola. Garcia Lorca é assassinado.

Aos 32 anos, Neruda se aparta das larvas vermelhas dos seus "grandes vulcões" e evoca o rio vermelho dos vulcões que a humanidade derrama.O ensitnestnatnento logrado no exílio se converte em atento vislumbrar do sofrimento alheio, que vê também como o seu próprio:

Yo de los hotnbres tengo la misma mano herida, Yo sostengo la misma copa roja E igual asombro enfurecido: Un día Palpitante de suefíos Humanos, un salvaje Cereal ha llegado A mi devoradora noche Para que junte mis pasos de lobo A los pasos del hombre

A Neruda, o acompanharam sempre, em clireção " a la edad mayor", bons amigos, mulheres amadas e seus ideais. Neruda amadu­rece e com ele sua poesia que, mais simples, ou mais elaborada, nunca haverá de perder essa multiciplicidade de cores, essa abertura caledoscópica a infinitas possibilidades.

BIBLIOGRAFIA:

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Buenos Aires, 19? NERUDA, PabloA ntologia Poética. José Olytnpio. Rio de Janeiro, 1998.

Pablo NerJJda. O Coração An;arelo. Tradução de Olga Sa,rary. L& P:tvL Porto

Alegre, 19?.

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__ . Corlje.r.ro que lJivi: 11" ed. Tradução de Olga Savary. Difel. S. Paulo - R. J a11eiro, l 9 80. NERLTDA, Pablo. Veinte poetJJas de amor y una canción desesperada. Alianza editorial. Madrid, 1999.

__ . Ct!IJJ .ronelo.r de tllllor. Tradução de Carlos Nejar. L&PM. Porto Alegre, 19?. __ . l)ara nascer nasci. Tradução de Rolando Roque da Silva. Difel. S. Paulo- R. Janeiro, 1980. Li\1{A, Victor de. Poesía de la Generación dei27.EDAF. Madrid, 1997. SCHOPF, Federico. Neruda Comentado. Sudamericana. Buenos Aires, 2003. TEITELBOIJvi, Volodia. Ner11da. Losada, Buenos aires, 1985.

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