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Pedro José Wolf Documentário biográfico Nilson Cardoso de Carvalho O suíço Pedro José Wolf, vindo menino ainda da terra materna, fincou raízes na região de Indaiatuba, casou-se, criou muitos filhos e fundou, com outros companheiros, a Colônia Helvétia, que tanto tem contribuído, no transcorrer dos tempos, para a formação do perfil sócio-cultural de Indaiatuba. A chegada ao Brasil Filho de Joseph Wolf e Catharina Sigrist, nasceu Pedro José Wolf em Giswil, no ano de 1843, e estava entre as cerca de 150 pessoas que, vindas do cantão de Obwalden, embarcaram num veleiro no porto de Hamburgo, Alemanha, na primavera de 1854, com destino ao Brasil. Vinha com o pai, Joseph, vários irmãos, uma irmã e outros membros da família Wolf, nove pessoas ao todo 1 , as quais após tenebrosa viagem marcada pela fome, sofrimentos e mortes, aportaram em Santos a 13 de julho do mesmo ano 2 . Sitio Grande Não terminou porém, com o desembarque, a odisséia; pois a viagem serra acima, a pé, as crianças em cargueiros ou no colo das mães, todos arrastando suas bagagens, se prolongou na imensidão do planalto, em carros de bois, atravessando campos e florestas até o Sitio Grande. Essa propriedade de Antonio de Queiroz Telles (mais tarde Barão de Jundiaí) era um imenso

Pedro José Wolf

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Pedro José Wolf

Documentário biográfico

Nilson Cardoso de Carvalho

O suíço Pedro José Wolf, vindo menino ainda da terra materna, fincou raízes na região de

Indaiatuba, casou-se, criou muitos filhos e fundou, com outros companheiros, a Colônia

Helvétia, que tanto tem contribuído, no transcorrer dos tempos, para a formação do perfil

sócio-cultural de Indaiatuba.

A chegada ao Brasil

Filho de Joseph Wolf e Catharina Sigrist,

nasceu Pedro José Wolf em Giswil, no ano

de 1843, e estava entre as cerca de 150

pessoas que, vindas do cantão de Obwalden,

embarcaram num veleiro no porto de

Hamburgo, Alemanha, na primavera de

1854, com destino ao Brasil. Vinha com o

pai, Joseph, vários irmãos, uma irmã e

outros membros da família Wolf, nove

pessoas ao todo1, as quais após tenebrosa

viagem marcada pela fome, sofrimentos e

mortes, aportaram em Santos a 13 de julho

do mesmo ano2.

Sitio Grande

Não terminou porém, com o desembarque, a odisséia; pois a viagem serra acima, a pé, as

crianças em cargueiros ou no colo das mães, todos arrastando suas bagagens, se prolongou na

imensidão do planalto, em carros de bois, atravessando campos e florestas até o Sitio Grande.

Essa propriedade de Antonio de Queiroz Telles (mais tarde Barão de Jundiaí) era um imenso

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latifúndio de mais de mil alqueires3, localizado na vila de Jundiaí, próximo à divisa com o

atual município de Indaiatuba e à Faz. Monte-Serrate.

Seriam eles os imigrantes de Obwalden, dos primeiros a experimentar uma nova forma de

relacionamento entre o proprietário das terras e os trabalhadores que cuidavam do cultivo e

produção do café. Foram eles dos primeiros a por em prática os chamados “contratos de

parceria”, acordo em que o colono não era empregado e nem dono, mas parceiro do

fazendeiro, na produção do café. Das 26 famílias emigradas poucas resistiram ao convívio

com o meio ambiente adverso e o pesado trabalho nos cafezais. Entre as que resistiram, a

família Wolf se destacou, tendo alguns de seus membros, se tornado proprietários de terras,

com o produto de seu trabalho, como aconteceu com Luiz Wolf, desbravador dos “sertões” de

Barra Bonita, onde foi dono da grande fazenda “Ponte Alta” e, mais tarde, em 1888, comprou

uma área de três mil e seiscentos alqueires na Noroeste, tornando-se o primeiro fazendeiro a

se estabelecer na região4.

O primeiro casamento

Pedro José Wolf casou-se em 1873, aos 30 anos de idade, com Maria Langensand, jovem da

família Langensand, uma das famílias emigradas em 18545. Com esta companheira teve doze

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filhos - seis homens e seis mulheres - nascidos em Sítio Grande, no sertão de Jaú e na Colônia

Helvétia.

Colônia Helvétia

Como seu irmão Luiz, Pedro Wolf esteve também na região de Jaú, e em 1888 tinha boas

economias, pois “a família Pedro Wolf, que então era a mais abastada, entrou com a maior

importância”6 na compra das fazendas Capivary-Mirim e parte da Serra d’Água, núcleo

inicial da Colônia Helvétia. A área dessas terras era de 468 alqueires e meio, com 44.500 pés

de café, 63 bovinos, 46 cavalares e muares, 65 suínos, 22 ovinos, 6 carros, carroças, senzalas,

outras casas de habitação, maquina de beneficiar café, moinho de fubá e a casa grande,

residência do fazendeiro. A medição e divisão só foi feita em 1894, seis anos depois da

compra. Foi dividida em quatro partes iguais cabendo a quarta parte a cada uma das famílias

adquirentes: Ambiel, Amstalden, Bannwart e Wolf7.

Pedro José Wolf se instalou na antiga sede da fazenda Serra d’Água, ex-propriedade de

Vicente de Sampaio Goes, com a esposa Maria Langensand e os nove filhos, existentes em

1888. Nesta casa nasceram os filhos: Augusto em 1889, Cristina, em 1890 e Inácio, em 1891;

e foi este o último filho, que Pedro Wolf teve com Maria Langensand, pois esta faleceu em 13

de junho de 1893, quando Inácio tinha de um e meio para dois anos8. Esta casa era térrea com

embasamento de pedras e paredes de tijolos. Todo o vigamento do telhado foi renovado pelo

mestre Franz, arquiteto e mestre de obras suíço, construtor da igreja da Colônia Helvétia9.

A fase posterior à fundação da Colônia foi de grande prosperidade para Pedro Wolf, assim

como para os demais sócios. Comprou ele, em 1891, junto com os irmãos Ambiel e Benedito

Amstalden, o Sítio Prado, adjacente ao Capivary, no município de Campinas. Foi adquirido

de Antonio Dias de Oliveira Cruz, e tinha 20 mil pés de café, muita terra para roça e plantação

de café, muito pasto e algumas edificações10 - casa de morada, terreiro para café, três casas

para colonos, moinho e monjolo11. Além dessas duas propriedades nos municípios de

Indaiatuba e Campinas, tinha também outra no município de Capivary, de sociedade com seu

genro Luiz Enz, casado com sua filha Bárbara. Era a fazenda São Fernando, que em 1894

tinha: área de 200 alqueires, 41 mil pés de café, casa grande de morada, casa pequena de

morada, seis casas para colonos, uma casa contendo vapor, serra e moinho e veículos de

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transporte, trolys, carroças, carretões, carros de bois e animais de tração - burros e bois de

carros.

Na compra das terras da Helvétia, em 1888, Pedro Wolf investiu a quarta parte de 23 contos

de réis, ou seja quase 6 contos de réis. Seis anos depois, em 1894, por ocasião do inventário

de sua mulher, seus bens foram avaliados em 78 contos de réis12, valor líquido. Esta

verificação comprova a grande capacidade de trabalho e tino administrativo e negócios de que

era dotado.

O segundo casamento

Pedro José Wolf, em 1896, ainda com filhos pequenos para criar, casou-se novamente, agora

com a moça Antonia Strabello, então com 22 anos de idade, nascida em 1874. Dessa união

teve o casal oito filhos, elevando para vinte o número de filhos do pioneiro13. Desde que

passaram a residir no município de Indaiatuba, após a fundação de Helvétia, alguns colonos

suíços, liderados por Antonio Ambiel, no início da República, participaram com assiduidade

das atividades políticas da municipalidade, como eleitores. Antonio Ambiel ocupou o cargo

de vereador, em uma legislatura14. O nome de Pedro José Wolf aparece com freqüência nos

livros de atas de presença dos eleitores de Indaiatuba, nas eleições para preenchimento de

cargos da câmara municipal, dos congressos estaduais e Federais e ainda para a presidência da

República. Votou em 1898 na eleição de Manoel Ferraz de Campos Sales à presidência da

República15.Depois de uma vida fecunda e honrada faleceu Pedro José Wolf, no dia 4 de

novembro de 1917, sendo sepultado na Cidade de Indaiatuba, no “cemitério de pedras”,

sepultura no. 26016.

Descendência de Pedro José Wolf

Estudo realizado por helvetianos, publicado no centenário da Colônia, mostra que Pedro Wolf

deixou a mais numerosa descendência, entre os pioneiros da Helvétia.

Casado em 1873 com Maria Langensand teve:

1- Josefa, foi casada com Ignácio Amstalden e faleceu em 1932. O casal teve doze filhos.

2- Bárbara, foi casada com Luiz Enz, falecido em 1933, deixando também doze filhos.

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3- Ana Maria, foi casada com Francisco Amstalden, faleceu em 1922 deixando cinco filhos.

4- Pedro, solteiro e com 17 anos de idade em 1894.

5- José, nascido em 1879, foi casado com Maria Stocco, com quem teve 14 filhos.

6- Angelina, nascida em 1880, foi freira, das irmãs de São José, do Colégio do Patrocínio em

Itu.

7- Martim, nascido em 1882, casou-se com Josefa Stifter, com quem tinha sete filhos (até

1935).

8- Catharina, também freira.

9- João, nascido em 1885, foi casado com Augusta Sigrist e o casal tinha 11 filhos (até

1935).

10- Augusto, nascido em 1889, foi casado com Christina Ambiel e tinham 9 filhos (até

1935).

11- Christina, nascida em 1990, foi casada com Leopoldo Denni e tinham 11 filhos (até

1935).

12- Ignacio, nascido em 1891, casado com Adelina Bannwart, com quem tinha 7 filhos em

1935.

Maria Langensand faleceu no dia 13 de junho de 1893.

Pedro José Wolf casou-se novamente, em 1896, com Antonia Strabello, nascida em 1874 e

teve mais os oito filhos seguintes:

1- Emile, nascida em 1898, casada com Alfredo Jakober, com 10 filhos até 1935

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2- Paulina, nascida em 1902, casada com Paulo Ming, filho de Luiz Ming.

3- Antonio, nascido em 1904.

4- Elisa, nascida em 1905.

5- Benedito, nascido em 1907, casado com Antonia Campreguer

6- Gertrudes, nascida em 1909.

7- Francisco, nascido em 1911.

8- Arnoldo, nascido em 1912.

Antonia Strabello faleceu em 1932, aos 58 anos de idade17.

Os vinte filhos de Pedro José Wolf se multiplicaram e em 1988, segundo pesquisa relatada

por Leonor Amstalden, o número de seus descendentes era de 1509 pessoas18.

1Weizinger, Dr. Franz, Colônia Helvétia no Brasil, 1885-1935, São Paulo: Escolas Profissionais Salesianas,

1935, p. 86 e 193. 2 Brischgi, Franz Joseph Nikodem, Cartas de, transcrição em “Helvetia, 100 anos de Brasil” Imprensa Oficial do Estado SA, São Paulo, julho de 1988, p. 50 e 51. 3 Pereira de Queiroz, Carlota, Um fazendeiro paulista no século XIX, Conselho Estadual de Cultura, Imprensa Oficial do Estado, São Paulo, 1965, p. 21 4 Bombonatto, Irio Color, in artigo no “Jornal da Barra”, Barra Bonita, 19 a 25-06-1987, transcrito em “Helvetia, 100 anos de Brasil” Imprensa Oficial do Estado SA, São Paulo, julho de 1988, p. 64 e 65. 5 Weizinger, obra citada, p. 89. 6 Weizinger, obra citada, p. 99. 7 Weizinger, obra citada, p. 100. 8 Carvalho, Nilson Cardoso de, pesquisa de, DCI-86, (Documentos cartoriais da Comarca de Itu, no. 86), Inventário de Maria Langensand, Cartório do Primeiro Ofício de Itu, ano de 1894, maço 146, f. 4. (Transcrição e resumo manuscrito, 1997). 9 Amstalden, Pe. Polycarpo O.S.B., “Memórias de um filho da Colônia Helvétia no Brasil”, Indaiatuba - São Paulo, 1989, Edição do Autor, p. 103. 10 Weizinger, obra citada, p. 100. 11 Carvalho, Nilson Cardoso de, documento citado, f. 25. 12 Carvalho, Nilson Cardoso de, documento citado, f. 36 e 49.

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13 . Weizinger, obra citada, p. 193. 14 Vereadores de Indaiatuba desde 1859, A Gazeta do Povo, Indaiatuba, 9 dez. 1930, páginas 10 e 11. 15 Carvalho, Nilson Cardoso de, pesquisa de, Livro de Presença de Eleitores, 1892-1903, Arquivo Público Municipal de Indaiatuba. 16 Carvalho, Nilson Cardoso de, pesquisa de, Livro de Assentamento dos enterros no Cemitério Municipal de Indaiatuba, 1911-1919, f. 80, Arquivo Público Municipal de Indaiatuba. 17 Os dados genealógicos foram baseados na obra citada do Dr. Franz Weizinger. 18 Amstalden, Leonor, relatora de “Pesquisando Nossa Gente”, em “Helvétia, 100 anos de Brasil, 1988”, Imprensa Oficial do Estado, São Paulo, 1988, páginas 13 a 28.