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Anais da Conferência da Terra, 21 -24.05.2008, João Pessoa, Paraíba
EDUCAÇÃO AMBIENTAL X MEIO AMBIENTE: CONCEITOS EM CONSTRUÇÃO?
A. G. PEDRINI; G. RIBEIRO
Laboratório de Ficologia e Educação Ambiental, Departamento de Biologia Vegetal,
Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Rua São Francisco Xavier, 524, Pavilhão Haroldo Lisboa da Cunha, Sala 525/1, CEP
20550-013, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; [email protected]
Resumo
A metodologia apresentada é factível, simples e oferece respostas rápidas para a
obtenção de concepções sobre MA e EA e sua eventual modificação após uma preleção. As
concepções identificadas nos pré -testes, em termos de conteúdo, apontam para um
desconhecimento do que seja MA e EA, pois mostram uma visão fragmentada, parcial e
insuficiente sobre os dois temas. A análise dos pós -testes mostra que a visão fragmentada
de EA diminuiu, tornando-se 22% mais globalizante. Esse incremento para uma visão
totalizante é um avanço formidável, pois avança para uma aderência ao ProNEA. Sugere -se
que não só a prefeitura de São João da Barra como de outros municípios promovam, amplas
pesquisas conceituais sobre esses assuntos e posteriormente realizem atividades de E A para
que os docentes possam ser de fato agentes multiplicadores da questão ambiental.
Palavras-Chaves: educação ambiental, meio ambiente, questão ambiental, percepçãoambiental, conceito
Abstracts:
The presented methodology can be applied, is simple and it offers fast answers to
the acquisition of the concepts about Environment and Environmental Education and its
eventual modification after a speech. The identified conceptions in the pre tests, in terms of
content, signalize to an unknown concept of what Environment and Environmental
Education is, because they show a fragmented ,partial and insufficient vision about the two
themes. The analysis of the post tests show that the Environmental Education fragmented
vision decreased, so that it became 22% more globalized. This increase for a total vision is
an amazing advance, for it goes towards the principles of the ProNEA. The suggestion is
that not only the São João da Barra City Hall but also the other towns promote wide
conceptual researches about these issues and lately they will be able to have
Environmental Education activities, so that the teachers can really be multiplying agents of
the environmental issue.
Key-Words: environmental education, environment, environmental issue, environmental
perception, concept
Introdução
A Educação Ambiental (EA) emerge dentro de um contexto de caos socioambiental
como uma atividade tão importante quanto à fiscalização de ações impactadoras
negativamente. Porém, para que se possa desenvolver atividades no cam po é necessário se
identificar previamente quais concepções os sujeitos possuem quanto à própria EA e ao
meio ambiente (MA). Ao se conhecer o que é concebido antes de uma ampla ação de EA
pode-se verificar que deficiências devem ser corrigidas e facilita a escolha de estratégias
adequadas para a promoção da atividade.
Alguns educadores ambientais brasileiros vem se preocupando com esse tema,
sendo que REIGOTA (1991) foi o primeiro autor a se dedicar ao tema. Ele criou uma
tipologia em que as visões de MA po dem ser de três tipos (Cf. Quadro I).
Quadro I. Tipologia de Meio Ambiente, segundo REIGOTA (1991).
Tipologia Descrição do Meio Ambiente
Naturalista Meio como sinônimo de natureza intocada, caracterizando -seTipicamente pelos aspectos naturais.
Antropocêntrica Meio como fonte dos recursos naturais para a sobrevivência doser
humano.Globalizante Meio integrado pela natureza e sociedade
Nem sempre é possível se identificar cada uma dessas categorias claramente nos
dados coletados aos sujeitos, pois out ras possibilidades são possíveis e seus contornos nem
sempre são óbvios. Outros autores adotando (BEZERRA e GONÇALVES, 2007) ou não
(PINHEIRO, 2004; FREDERICO et al., 2007) essa tipologia levantaram as concepções de
sujeitos de contextos variados. Em geral , nesses trabalhos há sempre visões variadas, mas a
visão do meio construído como ambiente é bem rara.
Tal como o MA a EA e o seu conceito muitas vezes não é identificado. E claro, se
os sujeitos crêem que a EA se resume, por exemplo, a reciclagem de latin has ou plantio de
mudas numa horta é fundamental que seja investigado seu conceito. Identificadas suas
nuances conceituais atividades concatenadas de uma verdadeira EA deverão ser planejadas
e executadas devidamente contextualizadas para os sujeitos estuda dos.
Concepções equivocadas sobre EA e MA podem sugerir que amplas ações de EA
devam ser amplamente realizadas no Brasil. Tal como no Brasil a EA vem sendo
timidamente apoiada no mundo, principalmente nos mais expropriados onde seus recursos
ambientais são irreversivelmente esgotados. O Brasil era um desses exemplos, mas nos
últimos governos federais nosso país criou sua Política Nacional de EA (PNEA) que
mesmo com suas incoerências técnicas (cf. PEDRINI, 2004) não deixa de ser um avanço.
Apesar de haver na PNEA uma previsão e apelo para que as atividades de EA no
Brasil sejam permanentemente avaliadas são diminutas as avaliações publicamente
difundidas. A eficácia da EA no Brasil (PEDRINI e JUSTEN, 2006) vem sendo
questionada, pois em vários contextos ela somente sensibiliza e informa o cidadão. Porém,
alguns autores argumentam que a Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis
(EASS) professada pelo Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA, versão
2004), é um processo pedagógico demorado e não p ode ser avaliada em curto prazo de
tempo. O ProNEA que foi construído a múltiplas mãos da maioria dos educadores dos
confins brasileiros trouxe grandes avanços. O ProNEA adotou a base conceitual do Tratado
de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global (TEASS).
Traçou planos de ação e metas para variados atores sociais e contextos onde a EASS deve
ser assumida e praticada. Assim, se espera que a EASS, continue sendo a grande esperança
para a mudança de hábitos, posturas, condut as e posturas humanas.
PEDRINI (2007) propõe que para uma atividade ser denominada de EASS ela
apresente características conceituais de qualidade espelhando o que preceitua o ProNEA. O
Quadro 2 apresenta essas características.
Quadro 2. Indicadores de Qualidade Conceitual e sua descrição operacional.
Indicador de Qualidade
ConceitualDefinição do indicador de qualidade conceitual
EA Emancipatória
a) dinâmicas, integrativas, participativas que permitam ao
cidadão adquirir conhecimentos e habi lidades, através de
experiências que o torne apto a enfrentar e resolver
problemas ambientais.
EA Transformadorab) capacitando o cidadão a se interessar e pleitear seus
direitos via mobilizações coletivas;
EA Abrangente c) envolvendo a totalidade dos grupos sociais da área das
atividades;
EA Globalizadorad) abordando o ambiente, integrando as escalas local,
regional, nacional e global;
EA Contextualizadora
e) identificando e adotando conhecimentos sobre a
realidade local onde se situa a atividad e de EA;
EA Ética
f) estimulantes a uma consciência ética de respeito a todas
as formas de vida do planeta;
EA Interdisciplinar
g) arrolando profissionais de diferentes matizes
disciplinares, pois a questão ambiental sempre se
transforma e demanda diferentes áreas do saber.
Desse modo, em toda ação de EASS devem ser identificadas previamente as
concepções dos sujeitos a serem abordados, visando um adequado planejamento das
atividades que serão adotadas. O presente trabalho, tenciona apresentar concepç ões sobre
MA e EA de professores para se planejar atividades futuras em EA para eles próprios.
Metodologia
A busca dos conceitos foi feita por ocasião da ministração de uma conferência a
cerca de 200 professores desde Educação Infantil até o Ensino Médio presentes na IV
Semana de Integração da Secretaria de Educação do município de São João da Barra,
estado do Rio de Janeiro na programação sobre Meio Ambiente (MA).
Foi solicitado a cada professor presente que respondesse perguntas sobre MA e EA
numa folha considerada nesse momento pré -conferencia como um pré-teste. Ao final as
mesmas perguntas foram feitas para resposta no verso da mesma folha. Foram distribuídas
200 folhas aos professores presentes. As perguntas foram agrupadas em caracter ização dos
respondentes e os temas de conteúdo. Na parte de caracterização foi perguntado: a) Nome;
b) Sexo; c) escolaridade; d) Disciplinas ministradas; e) Tipo de escola (pública ou privada).
Na parte de conteúdo foi perguntado o seguinte: a) Qual o conc eito de Meio Ambiente; b)
Qual o conceito de EA e as metas que ela deve buscar?; c) Cite exemplos de uma atividade
de EA.
Com as respostas foi feita uma Análise de Conteúdo das respostas (cada um das
respostas lidas deveriam ter em seus texto p alavras ou situações que remeteriam a um
destes indicadores conceituais, partindo -se do princípio que com um conceito adequado e
de qualidade a atividade de EA teria chances de sucesso). Foi adotada a tipologia conceitual
de MA, segundo REIGOTA (1991) e de conceito específico de EASS, segundo PEDRINI
(2007), em que ele indica como sendo de qualidade o que arrole, pelo menos,
características emancipatórias do cidadão, transformadoras, permanentes, contextualizadas,
interdisiciplinares, etc (vide Quadro 2).
Resultados
Cerca de 200 folhas A4 distribuídas em branco,mas apenas 32 foram devolvidas
respondidas, mas após uma triagem que permitiu uma pré -análise restaram 27 folhas que se
constituíram na base de análise.
1.Caracterização dos respondentes.
Todos os respondentes foram de escolas públicas.
1.1. Sexo dos respondentes.
A Fig. 1 mostra a distribuição relativa dos docentes por gêneros.
Figura 1. Representação do universo de doc entes por gênero.
A Fig. 1 mostra a quase totalidade do gênero feminino presente entre os
respondentes.
1.2. Idade dos respondentes.
A Figura 2 mostra as classes de idade dos docentes estudados.
Fig. 2. Representação dos docentes pela sua idade.
A Fig. 2 mostra que os docentes se distribuem entre a faixa de 23 -50 anos,
prioritariamente na faixa mais jovem. Essa informação sugere que a capacitação formal dos
professores é recente, pois são bem jovens.
1.3. Disciplinas ministradas
Fig. 3: Disciplinas ministradas pelos docentes.
A Fig. 3 mostra que a maioria absoluta dos do centes é multidisciplinar, seguido por
professores de ciências.
1.4. Área de atuação no ensino
Figura 4. Representação relativa das áreas de atuação dos docentes
pesquisados.
A Fig. 4 apresenta as áreas de atuação dos docentes, mostrando que 45% são de
professores do nível fundamental
1.5. Formação
Figura 5. Representação relativa da formação dos docentes.
A Fig. 5 mostra que a maioria dos docentes cursou apenas o nível médio, devendo
ser os professores de Educação Infantil e de ¼ series do Fundamental, enquanto que os
32% de nível superior devem ser os professores de 5/8 do Fundamental e do ensino médio.
1.6. Áreas de Formação
Figura 6. Representação relativa das áreas de formação dos docentes.
A Fig. 6 mostra que a maioria dos docentes são das áreas de português e literatura
portuguesa e de História. Os professores tradicionalmente das áreas naturais como biologia
e geografia não foram a maioria como era de se esperar numa conferencia sobre meio
ambiente.
1. O conteúdo pesquisado
2.1. Concepção de MA
A Fig. 7 e 8 mostram, respectivament e, resultados do pré e pós-teste em termos do
conceito sobre MA.
Figura. 7. Representação relativa das concepções, segundo a tipologia selecionada
no pré-teste.
A Fig. 7 mostra um predomínio absoluto da visão naturalista tal qual foi também
verificado por BEZERRA e GONÇALVES (2007).
Figura 8. Representação relativa das concepções, segundo a tipologia selecionada
no pós-teste.
Comparando as Figuras 7 e 8 percebe -se que a visão antropocêntrica desapareceu
(talvez tenham migrado para a concepção naturalista), mas não houve modificação em
termos de aumento de pessoas que apresentaram a concepção naturalista para uma
concepção Globalizante. Na realidade, houve incremento em termos absolu tos, mas como
muitos professores que responderam o pré -teste foram maiores do que aos que responderam
o pós-teste isso não foi verificado ao se fazer uma leitura relativa. De fato, houve
incrementos absolutos, mas não relativos.
2.2. Concepção de EA.
As figuras 9 e 10 mostram que após a preleção o conceito amplo de EA foi
aperfeiçoado, sendo a visão fragmentada diminuída em cerca de 22%..
Figura. 9. Representação relativa das concep ções, segundo a tipologia selecionada
no pré-teste.
Figura. 10. Representação relativa das concepções, segundo a tipologia selecionada
no pós-teste.
O conceito se modificou, reveland o maior adesão a EA de qualidade, segundo o
ProNEA (BRASIL, 2005).
2.3. Concepção de EA e suas Atividades em EA
Neste momento a análise do pesquisados se baseou no reconhecimento, em suas
respostas para as questões de concepção de EA e suas atividades, dos Indicadores de
Qualidade de Conteúdo (IQC) da Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis.
Sendo assim a análise buscou perceber nas respostas se houve indícios que caracterizariam
os IQC´s (Quadro 2) que indicariam uma concepção da E ASS (Emancipatória,
Transformadora, Participativa, Abrangente, Permanente, Contextualizadora, Ética ou
Interdisciplinar).
As figuras 11 e 12 vão nos mostrar os indicadores no pré -teste e no pós-teste.
Figura. 11. Representação relativa dos Indicadores de Qualidade de Conteúdo
(IQC).
As figuras 11 e 12 mostram claramente o acréscimo relativo de IQC ´ s e da inclusão do
parâmetro Abrangente. Esse particular é importante ser ressaltado, pois desperta no docente
que a EASS precisa atingir todos os atores sociais de um determinado contexto. O Aumento
em 100% do IQC Emancipatório sugere que os docentes perceberam que ele é o mais
importante de todos.
Considerações Finais
O presente trabalho mostra que a metodologia apresentada é factível, simples e
oferece respostas rápidas para a obtenção de concepções sobre MA e EA. Em termos
comparativos entre pré e pós-testes a metodologia seria melhor aproveitada se fossem
adotadas em atividades mais extensas e aprofundadas tal como adotado por PEDRINI et al.
que realizou oficinas de cerca de três horas.
As concepções identificadas nos pré-testes, em termos de conteúdo, apontam para
um desconhecimento do que seja EA, pois suas respostas mostram uma visão fragmentada,
parcial e insuficiente sobre o tema.
Assim, a prefeitura de São João da Barra como outros municípios p recisam
promover, amplas pesquisas conceituais sobre esses assuntos para confirmar ou não os
presentes resultados e posteriormente realizarem atividades de EASS para que os docentes
possam ser de fato agentes multiplicadores da questão ambiental. Essa post ura os habilitará
a enfrentar os desafios socioambientais que advirão com a instalação e funcionamento de
um porto no município.
Bibliografia Citada
BEZERRA, T. M. DE O.; GONÇALVES, A. A. C. Concepções de meio ambiente e
educação ambiental por professore s da Escola Agrotécnica Federal de Vitória de Santo
Antão-PE. Biotemas, v.20, n. 3, p.115-125, 2007.
BRASIL. Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA, versão 2004 ). Brasília:MMA, 2005.
FREDERICO, I. B.; SARACENI, R. F.; GEERDINK, F.; NEIMAN, Z. A opinião da
população do entorno sobre o Parque Nacional das Emas - Go/MS e sua relação com a
atividade turística. In: CONGRESSO NACIONAL DE ECOTURISMO, 6., Anais...,2007,
10 p.
PEDRINI, A. de G. (Org.) Metodologias em Educação Ambiental. Petrópolis:Vozes, 2007.
PEDRINI, A. de G. As Políticas Públicas Nacionais com Educação Ambiental no Brasil:
evolução e perspectivas. (traduzido do inglês). In: AZEITEIRO, U., GONÇALVES, F,
LEAL, W., MORGADO, F.; PEREIRA, M (Eds .) World Trends in Environmental
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PEDRINI, A de G.; JUSTEN, L. Avaliação em EA no contexto ibero -americano; estudo
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PEDRINI, A. de G. et al. Estratégias Didáticas em Biologia para atividades em Educação
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Anais..., Rio de Janeiro.
PINHEIRO, E. da S. Percepção Ambien tal e Atividade Turística no Parque Estadual do
Guartelá–TIBAGI, Pr. 2004 140 f..Dissertação de Mestrado (Geografia), Departamento de
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REIGOTA, M. O que é educação ambiental . Brasiliense, São Paulo|: Brasil, 1991.63p