PATRIOTA, Cristina - O Instituto Rio Branco e a Diplomacia Brasileira

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    MOURA, C. R.O Instituto Rio Branco e a diplomacia brasileira.

    Um estudo de carreira e socializao,Rio de Janeiro, FGV, 2007,

    136 pp.

    Alexandre Colli de SouzaMestrando em Cincias Sociais PPGCSO/UFSCar

    O livro de Cristina Patriota de Moura aborda o processo de ressociali-zao vivido pelos nefitos na carreira diplomtica no Instituto RioBranco (IRBr), rgo com sede no Palcio do Itamaraty, ligado ao Mi-nistrio das Relaes Exteriores (MRE), e que tem o monoplio de for-mao dos futuros diplomatas brasileiros. O livro uma verso quasecompleta da dissertao defendida em 1999 no PPGAS do Museu Na-

    cional, sob orientao de Gilberto Velho.A pesquisa de campo intensa nas aulas preparatrias para o concursoe nas aulas do IRBr aliada s entrevistas, aos questionrios e convi-vncia informal com os alunos do Rio Branco. Nesses momentos, ali-s, so revelados mecanismos sutis e constantes, indcios de valores eclassificaes que, muitas vezes, no esto explcitos em regulamentos edocumentos oficiais, mas que so essenciais na socializao e na vida dacarreira diplomtica.

    O primeiro captulo uma etnografia e anlise das mais significati-vas cerimnias da diplomacia brasileira: a Cerimnia de Formatura (CF)e a Cerimnia de Imposio de Insgnias e Medalhas da Ordem de RioBranco (CI). Baseada na perspectiva de Stanley Tambiah (1985) de queos rituais so momentos privilegiados para a observao etnogrfica pordestacarem os aspectos fundamentais da cosmologia de determinado

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    grupo, a autora procura situar o leitor nos valores e nas classificaes da

    Casa que podem ser observados com clareza nessas cerimnias.1

    Um aspecto importante nessas cerimnias a demarcao hierrqui-ca de espaos, atitudes, pessoas e circuitos. Por exemplo, na cerimniade imposio das medalhas, fica evidente a separao entre os perten-centes ao mundo de Rio Branco e os de fora na diferena da locali-zao espacial das pessoas, nas vias de acesso ao recinto, nos distintoslugares do coquetel aps a cerimnia e mesmo na classificao dos qua-dros da Ordem: os pertencentes carreira diplomtica compem oQuadro Ordinrio da Ordem, enquanto os no diplomatas que passama pertencer Ordem compem o Quadro Suplementar (embora os nodiplomatas passem a pertencer Ordem, no pertencem a Casa de RioBranco que significa o corpo diplomtico brasileiro). A cerimniaconta com a execuo do Hino Nacional, e a entrega das condecoraessegue a ordem geral de Precedncia e a hierarquia de Graus da Ordem,de modo que o Presidente da Repblica entrega as insgnias que repre-

    sentam o maior grau da Ordem (Gro-Mestre) e os outros impositoreso fazem de acordo com sua posio na Ordem de Precedncia e a cor-respondncia com a hierarquia da Ordem, enquanto o Hino a Rio Bran-co executado.

    Moura mostra que a formalidade (e padronizao) dos atos pode serpercebida tambm no cumprimento s autoridades, em que os agracia-dos com a medalha formam uma fila em ordem hierrquica e repetemum cumprimento igual: aperto com a mo direita e um tapinha no bra-

    o esquerdo. De maneira geral, essa cerimnia reafirma o statusda casa,demonstrando sua grandeza e tradio para os diplomatas; para os ou-tros, regula relaes amistosas com as pessoas que no pertencem casa(por meio da imposio das medalhas e da criao do pertencimento ordem) mas que so representantes de outros rgos do Estado. Nessacerimnia, tambm mostrado aos prprios alunos do IRBr um prin-

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    cpio classificador do mundo, no qual se pode ver que posio os ami-

    gos de fora ocupariam l dentro e qual o tratamento necessrio paracom essas pessoas. Demonstra tambm a fora da identidade que elesesto prestes a adquirir e que a grandeza da Casa reconhecida por pes-soas de fora.

    Se na CI temos uma predominncia da msica e, de uma certa ma-neira, do espetculo de imposio das medalhas, na CF o foco o discur-so, ressaltando a grandeza da Casa, da Nao e da carreira diplomtica.Na viso de Moura, a CF pode ser entendida enquanto um ritual depassagem (Van Gennep, 1978) ou de Instituio (Bourdieu), pois a par-tir de ento os alunos do Rio Branco passam a ser terceiro-secretriose a ocupar um lugar na carreira diplomtica, dentro de uma ordem deprecedncia com base na antigidade na carreira: os alunos tm seunome anunciado em seqncia pelo diretor do Instituto nessa cerimnia.

    H ainda a entrega de medalhas para os alunos que obtiveram o maiordesempenho no concurso de admisso e no curso de formao. Segue-

    se a isso um almoo com o presidente da Repblica e com as altas auto-ridades da Casa, em que os alunos tm a oportunidade de experimentarum certo grau de intimidade e de conversas informais com eles (mascom a ordem de precedncia orientando os posicionamentos mesa).Esse o ponto culminante de um processo de aquisio de uma novaidentidade e um ethosespecfico:

    Essa identidade provm de pertencer a uma coletividade que tem a condu-

    ta de seus membros regulada pelas normas da hierarquia e pela tradioda casa, formas de sociabilidade codificadas e uma viso de mundo pauta-

    da nos valores condensados na figura do Baro do Rio Branco: a diploma-

    cia como meio de vida, a Casa e a ptria.(Moura, 2007, p. 97)

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    Se so nessas cerimnias do Dia do Diplomata que as classificaes e

    os valores do ethosdiplomtico aparecem de maneira flagrante para oobservador, elas so apreendidas pelos novos diplomatas num processode socializao contnuo e intenso, muitas vezes de maneira sutil, nasaulas do IRBr e com a convivncia com outros diplomatas. Esse proces-so o mais interessante do livro descrito a partir do segundo captu-lo, que mostra como a idia e a preparao para a carreira diplomticacomeam muito antes da entrada no concurso.

    A idia de carreira, termo significativo muito usado pelos diploma-tas, refere-se sua trajetria dentro do servio exterior brasileiro, e muito identificada de maneira ampla com a prpria vida, com a diplo-macia como razo de ser. A autora mostra tambm uma viso geral que,retrospectivamente, caracteriza a idia da carreira diplomtica como umprojeto de vida iniciado muito anteriormente ao ingresso no IRBr, mui-tas vezes na infncia ou nos primeiros anos do ensino mdio, na decisode ser diplomata. A carreira, para os diplomatas, pode se iniciar em

    algum instante entre a aprovao no concurso e a Cerimnia de Forma-tura no Dia do Diplomata; no entanto, a caracterizao subjetiva dessemomento inicial muito fluida e s vezes percebida como um processonico, sem grandes quebras, em que a familiaridade com a carreira di-plomtica vai crescendo aos poucos.2

    A autora mostra que a carreira diplomtica , em muitos casos, umprojeto familiar, que tem incio pelo fato de ela ser representada comouma carreira aprovada. Um conjunto de representaes da carreira di-

    plomtica elencado como garantidor dessa aprovao familiar. A co-mear pelo esteretipo do diplomata, que caracterizar muitos com vo-cao, sendo diplomata nato, tendo perfil riobranquino de acordocom certas caractersticas percebidas: inteligncia, fineza, educao, cor-tesia etc. Outros fatores dessa legitimidade da carreira so a idia de per-tencer a um grupo de status, ascender socialmente, estar prximo ao

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    poder, ser considerado membro de uma elite sofisticada e de difcil aces-

    so. Ainda que a autora ressalte que possvel identificar um ethosdiplo-mtico diferente do ethoscorts (Elias, 2001),3 de especial significaoque os termos nobre e aristocrtico sejam usados por candidatos eparentes para se referir ao profissional do servio exterior, combinadoscom a idia de que eles seriam muito inteligentes, formando uma elitedos intelectualmente capacitados. H tambm um conjunto de razesmais prticas para a escolha da carreira, como conhecer outras culturas,viajar, ter estabilidade etc.

    O concurso considerado de extrema dificuldade, com provas obje-tivas, dissertativas e orais de diversas disciplinas; e, no processo de pre-parao para o concurso, os candidatos muitas vezes fazem aulas prepa-ratrias de vrias matrias com professores-diplomatas, envolvendo namaioria das vezes um grande esforo financeiro e dedicao. O concur-so tambm vivido como um momento muito importante, mas de gran-de tenso, principalmente nas etapas finais, quando os aprovados vo a

    Braslia, onde durante um ms se realizam as ltimas provas.Nesse momento que eles tm a primeira oportunidade de convi-vncia mtua, de relacionamento prximo e pessoal com os possveisfuturos colegas. Para Moura, esse o instante da criao do sentimentode communitas(Turner, 1974), caracterstico do perodo marginal doprocesso ritual; no entanto, ao mesmo tempo, h tambm uma compe-tio entre os candidatos que permanecer at o Profa-I, a qual estabele-cer a ordem de precedncia na carreira. o momento tambm em que

    se desfazem caracterizaes prvias a respeito dos outros candidatos,como serem srios demais, de classe alta, superdotados etc.

    Por outro lado, se so desfeitas imagens prvias dos outros candida-tos, certas caractersticas do pessoal do Itamaraty so vistas pela pri-meira vez por meio de um contato muito formalizado. significativa adescrio do procedimento das provas orais, que so ocasies solenes,

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    que ocorrem no espao das cerimnias e exigem o traje de passeio com-

    pleto o candidato deve falar e se comportar de maneira mais formal.Essa maneira mais formal, com a qual o candidato toma contato

    inicialmente no concurso, a que ser exigida dele com mais intensida-de no Profa-I. No terceiro captulo, Moura demonstra que o processoressocializador realizado no curso tem como base um esforo de adapta-o ao ethosdiplomtico, que maior do que o esforo empregado noscontedos do curso. O que deve ser aprendido nessa fase a forma: otratamento com os outros na relao pessoal, a maneira apropriada dese vestir (camisas claras, gravatas no extravagantes etc.), como falar empblico, no ficar annimo durante as aulas, falar o portugus correto,sem vcios de linguagem etc. Se durante o concurso os alunos j haviamtido contato com a formalidade da instituio, agora essa experincia setorna mais intensa, j que, alm da formalidade, eles entram em conta-to com a hierarquia interna da instituio e tm de interiorizar umamaneira de se situar na hierarquia da carreira, bem como estar gradual-

    mente adaptados aos novos cdigos que organizaro e classificaro omundo com base em sua nova identidade de diplomata.As conseqncias desse aprendizado so a necessidade de incorporar

    novas formas de comportamento e controle emocional, que sero pos-tos em uso de acordo com a pessoa com quem se relacionam.Concomitante a isso, os alunos devem apreender tambm que sua as-censo na carreira depende da valorizao de caractersticas individuais,que sero levadas em conta na sua avaliao e no estabelecimento da

    ordem de classificao na carreira.Podemos observar no texto que essa apreenso de uma nova identi-

    dade tem como mecanismo mais eficiente a relao dos alunos comoutros diplomatas, principalmente com os que ministram aulas. Soesses professores-diplomatas que iro repreender os alunos com relaoa sua vestimenta, seu possvel comportamento inadequado (bocejar

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    durante uma palestra, por exemplo) ou formalidade e apresentao

    pessoal necessrias em suas falas. Do ponto de vista dos alunos, a per-cepo de que, alm de professor, ele um modelo de diplomata (quehierarquicamente est mais prximo da totalidade, da Casa) e uma pes-soa que poder ser fundamental na carreira de cada ingressante, indi-cando os que ele considerar mais competentes e deixando para trs osmais ineficazes. Nesse arranjo, tudo colabora para um privilgio das re-laes verticais em detrimento da relao entre pares, criando um climade tenso no grupo que entrou coeso no incio do Profa-I.

    O ethosdiplomtico, que vivenciado e ao qual os alunos tm de seadaptar, tem por base uma distino de status(dos diplomatas com rela-o aos demais brasileiros), uma preeminncia da totalidade sobre aspartes e a ascenso na hierarquia por meio da valorizao das qualidadesindividuais, um arranjo parecido com o que existe nas Foras Armadas,inclusive no sistema organizacional da carreira e da ascenso.4

    Alm da experincia enquanto aluno do Rio Branco e como mem-

    bro da carreira diplomtica, somos apresentados no captulo 4 s dimen-ses da vida do novo diplomata que vo alm do desempenho tcnico-funcional da carreira do servio exterior, a vida domstica e a famlia.Moura aponta que a percepo dos novos diplomatas a respeito da car-reira e da instituio classifica-as como totais, devido ao tipo de adesoque exigida, que implica a incorporao de um ethosque se estendepor todas as reas da vida. A entrada na carreira diplomtica implicar,em primeiro lugar, uma ruptura com uma srie de vnculos anteriores,

    tais como famlia, grupo de amigos e vizinhos e promover o estabeleci-mento de relaes intensas entre os prprios diplomatas, que passam afreqentar os mesmo clubes, restaurantes e muitas vezes so vizinhos.

    A prpria famlia nuclear reclassificada e englobada pela identidadediplomtica, que estendida a cnjuge de diplomata e filho de diplo-mata.5 As escolhas matrimoniais tambm parecem apontar no sentido

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    de uma certa tendncia para uma regra de casamento preferencialmen-

    te endogmico: o statusdos diplomatas faz que eles adquiram um pa-dro de aceitabilidade especfico para seus cnjuges e tendam a escolheralgum altura da categoria cnjuge de diplomata(Moura, 2007,p. 97). Por outro lado, a carreira exige que o cnjuge tenha disponibili-dade para acompanhar o diplomata em suas mudanas de local de tra-balho, bem como a Casa exige que aquele desempenhe funes de re-presentao diplomtica por meio da organizao e participao de

    jantares e eventos em geral. A soluo encontrada, tanto para se adaptar classificao e aos valores quanto para ser prtico, o casamento comoutro diplomata.

    Alm disso, as imagens de parentesco tambm aparecem como ma-neiras de a instituio se representar, orientar as relaes entre seus mem-bros tanto no ambiente domstico quanto no profissional. Nesse senti-do, a autora reala que a categoria Casa, quando usada oficialmente pelainstituio para se definir, adquire um carter familiar e sagrado ao unir

    cada um com a totalidade, ao fortalecer a Casa de Rio Branco enquan-to comunidade moral que une patrimnio e parentesco (aos moldes deLvi-Strauss e Bourdieu). Um patrimnio principalmente imaterial, quetem sua base no monoplio da Casa de produzir os representantes ofi-ciais do Estado brasileiro.

    quase impossvel no fazer uma comparao maior com a institui-o militar, devido semelhana que envolve o processo de socializaoe todo um conjunto de valores e classificaes das duas instituies.

    A comear pela figura do patrono, no Exrcito brasileiro a figura deCaxias sintetiza qualidades, bem como smbolo de feitos histricos doExrcito que o ligam simbolicamente com a histria da nao. A figurado Baro do Rio Branco o emblema da comunidade moral dos di-plomatas. Sendo o responsvel pelos acordos de negociao das ltimas

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    fronteiras e por dar forma diplomacia brasileira, ele a soluo simb-

    lica que vincula duas totalidades, a Casa e a Nao.Da mesma forma, militares e diplomatas tm de passar a viver e a

    incorporar uma srie de novas maneiras de comportamento, de contro-le psicolgico e de um domnio da formalidade (enquanto qualidadeou substncia), que passam perto daquilo que definido por Elias comoum ethos de corte. Talvez a comparao mais significativa seria, ainda, ade que os dois tipos de instituio formam com exclusividade os profis-sionais que so os representantes legtimos do Brasil no contato comoutros Estados, e de que, apesar de poderem ser consideradas institui-es burocrticas e racionais, conservam caractersticas que as aproxi-mam a estamentos, como uma noo de exclusividade.

    Por fim, ressalto ainda o pioneirismo dessa pesquisa, no cenrio daproduo antropolgica brasileira, no que se refere ao estudo de carrei-ras e de maneira especial quando se pensa nesse tipo de abordagem et-nogrfica dos processos de socializao nas carreiras de Estado. O li-

    vro atia a curiosidade de pensar, por exemplo, quais as relaes possveisentre o ethosdiplomtico e o esprito militar (Castro, 1990), e se possvel pensar que essas duas carreiras tm processos parecidos por sereferirem a instituies (o MRE e as Foras Armadas) que tm a funode lidar com o exterior, seja pela via do acordo e da negociao, sejapela via da inimizade e do conflito. Ainda, seu trabalho faz levar emconsiderao que os aspectos oficiais, as meras formalidades, tm mui-to a dizer a respeito da realidade dos processos circunscritos pelo Estado.

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    Notas

    1 Essa duas cerimnias ocorrem normalmente no dia 20 de abril de cada ano, que o Dia do Diplomata. Essa data comemorativa foi instituda em 1970, quando damudana do MRE do Rio de Janeiro para Braslia, no novo Palcio do Itamaraty.Nessas cerimnias segue-se um ordenamento rgido de procedimentos, que soconduzidos pela equipe de Cerimonial do Itamaraty e nos quais os membros doprimeiro ano do Profa-I (Programa de Formao e Aperfeioamento PrimeiraFase, curso feito no IRBr aps a aprovao no concurso de admisso) ajudam naconduo.

    2 interessante observar como esse processo, que considerado sem muitas que-bras, pode ser pensado quando se leva em conta a idia de ritual, que pressupealguma ruptura de algum nvel.

    3 Alm disso, a autora compara a estrutura fsica e hierrquica do Palcio do Itamaratycom a descrio das estruturas arquitetnicas da corte.

    4 Para maiores detalhes da organizao militar enquanto um sistema de castas deum homem s, ver Leirner (1997). Cabe ressaltar ainda que, em ambas as organi-zaes, existe um sistema de avaliao individual vertical e horizontal, que classifi-ca os sujeitos de acordo com determinadas qualidades. Muito embora no seja apre-

    sentado no livro de Moura nenhum maior detalhe a respeito desse tipo de avaliao,se tomarmos por base a instituio militar, podemos notar que as tais qualidadesindividuais so a resultante da eficincia ou no dos sujeitos em apreender as ca-ractersticas inerentes ao ser militar ou ao ser diplomata.

    5 A autora trata dessa categoria em trabalho anterior (Moura, 1996). Essas duas no-vas classificaes implicaro novos documentos.

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