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ISRAEL BELO DE AZEVEDO PASTOREADOS POR PAULO U tneí t mi x eua d e   f {( f / n ai t o s < i Ef é si o s   comentadas   tenta p or tema  

Pastoreados Por Paulo Vol. 1- Israel Belo de Azevedo

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ISRAEL BELO DE AZEVEDO

PASTOREADOS POR

PAULOU tneítmi xeua de  

f {( f / nai tos <i Efésios  

comen t a da s  

t en t a p o r t ema 

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O 2011}«>i Israel Belodr Azevedo

Ucvis.ll>A i h l i r   / m u 

Prisci la Porch er 

(lapaMaqu inar ia Studio 

I)iagraniação Son ia Pctico v 

F.ditor  Juan Car los M ar t in ez 

Coordenador de produção Mau ro W.Ter rengui 

I ' edição - Setembro de 2012

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

 Azevedo, Israel Belo dePastoreados por Paulo / Israel Belo de Azevedo. — São Paulo: Hagnos, 201 2

ISBN 978-85-7742-094-0

1. Bíblia. N.T. Epístola de Paulo —Teologia 2. Paulo, Apóstolo, Santo I.Título

II 14440 GDI) 227.l>‘>2

Impressão e acabamentoIm prensa da Fé 

Todos os direitos desta edição reservados á

E D I T O R A H A G N O S

Av. Jacinto Júlio, 27São Paulo - SP - 04K15-1600 Tel/Fax: (II) 5668-5668

[email protected] - www.hagnos.com.br

índice para catálogo sistemático:1. Epístola de Paulo: Teologia 227.092

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S u m á r i o

 Paulo, cronologia da sua vida e obra

L i v r o  IPaulo pastoreia os romanos

E ntrevista imaginária com o apóstolo Paulo (1) • R o m a n o s

1. Romanos 1.11-18 — A marca do evangelho2. Romanos 1.16-17 — O poder do evangelho3. Romanos 3-9-18 — A queda4. Romanos 5.1-11 — Graça, maravilhosa graça

5. Romanos 7-7-25 — A luta6. Romanos 8.1-18 — A cruz manda lembranças7. Romanos 8.24-28 — Não sabemos mesmo orar8. Romanos 8.28-39 — Que diremos, pois?9. Romanos 8.28 — Eis a diferença!

10. Romanos 10.9-17 — A fé vem pelo ouvir11. Romanos 12.1-2 — Sacrifícios?12. Romanos 13.1 lb-14 -— Revestidos de Jesus Cristo

13- Romanos 15 e 16 — Um autorretrato

L i v r o IIPaulo pastoreia os coríntios

r 1 1 1 revista imaginária com o apóstolo Paulo (2) • 1e 2 C or ín t io s

14. I( '.oríntios 1.3 — Um testamento de graça e paz1S. I Coríntios 1.10-17 — A unidade e seus inimigosl(i. 1Coríntios 1.18-2S— A loucura de Deus

17. I( 'oríntios 2.16 — De quem éa nossa mente?I H. ICoríniios S. 1 13  A disciplina de Deus

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19. 1Coríntios 6.9-11 — Lavados, santificados e justificados20. 1Coríntios 7 — Teologia da sexualidade

21. 1Coríntios 7.17-23 — O cristão no seu tempo22. 1Coríntios 10.23-33 — Uma teologia da liberdade23. 1Coríntios 11.23-34 — Aprendendo a celebrar a ceia do Senhor24. 1Coríntios 12 e 14 — Os dons de Deus25. 1Coríntios 12.18-27 — O dom da vida26. 1Coríntios 12.31b — O caminho mais excelente27. 1Coríntios 13 — Aprendendo a amar28. 1Coríntios 15 — Nós também ressuscitaremos

29. 2Coríntios 1.3-11 — A arte de consolar30. 2Coríntios 1.20-22 — Em que somos especiais31. 2Coríntios 2.14-17 — Cheiros32. 2Coríntíos 4.6-7 — Tesouros em vasos de barro33. 2Coríntios 4.6-11 — Mas...34. 2Coríntios 5.1-10 — Diante do tribunal de Cristo35. 2Coríntios 9.6-15 — Diminuir para multiplicar36. 2Coríntios 12.1-10 — Baste-nos a graça37- 2Coríntios 13.14 — O Deus que nos completa

L i v r o  IIIPaulo pastoreia os gálatasEntrevista imaginária com o apóstolo Paulo (3) • G álatas

38. Gálatas 1.6-9 — Por que precisamos da graça de Deus39. Gálatas 2.20 — A crucificação do cristão40. Gálatas 3.19-21 — Vivendo pela graça41. Gálatas 4.19 — As paixões de um cristão

 42.  Gálatas 6.17 — As marcas de Jesus

Livro  IV Paulo pastoreia os efésiosEntrevista imaginária com o apóstolo Paulo (4) • Ef é s i o s

43. Efésios 1.3-14 — Toda sorte de bênçãos(4. Efésios 3.10-19 — A igreja que podemos seri‘> I'fésÍos 4 e 5 Vocacionados e capacitados pela graça

i(i Efésios (>.S0Princípios bíblicos para a vida profissionalt ' Mrstos O. 10 20 Na íorça do poder de Deus

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E s t e   l i v r o   é  p a r a

Luiz Antônio Curvacho 

e Domingos José Sant’Anna 

(in memoriam)

Quando preguei sobre as cartas do apóstolo Paulo, na IgrejaBatista Itacuruçá (no bairro daTijuca, Rio de Janeiro),chamei a longa série de 14 mensagens (“Ufa!” Devem ter ditoos ouvintes!) de PASTOREADOS POR PAULO. Depois, aindapreguei muitas outras.

Na série, comecei dizendo que gostaria de ser pastoreado por Pauloe dei as suas prerrogativas para o meu desejo: inteligente, poeta,filósofo, místico, racional, emotivo, antenado, amoroso, firme,flexível, disponível, cidadão dos céus e da terra. Saulo de Tarso nãonos pode pastorear fisicamente, mas seus textos podem.Deixemo-nos pastorear por ele.

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Pa u l o , c r o n o l o g i a  d a  su a   v i d a  e  o b r a

 A seguir, veja a cronologia da vida e do ministério do apóstolo Paulo. A fonte principal de informação é o livro de Atos cotejado com as cartas

do apóstolo.

Meados de 33• Conversão perto de Damasco (cf. G11.17c)• Na Arábia (G1 1.17b)• Retorno a Damasco (At 1.17c) após três anos• Saída de Damasco (2Co 11.32-33; At 9.23-25)• Em Jerusalém (G1 1.18-20; At 9.26-29)

Final de 36• Nas “regiões da Síria e Cilícia” (Gl 1.21-22)• Em Cesareia e Tarso (At 9.30)• Em Antioquia (At 11.26a)• Em Jerusalém (At 11.29-30; At 12.25)• Missão I: Antioquia (At 13.1-4), Selêucia, Salamina e Chipre

(At 13.4b-12)

Meados de 37• Igrejas evangelizadas antes da Macedônia filipense (Fp 4.15)• No sul da Galácia (At 13.13-15.25)• Em Antioquia (At 14.26-28)

Início de 51• “catorze anos depois, subi novamente a Jerusalém” para <>( nm íli<>

(('d 2.1)

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

• Em Jerusalém (At 15.1-2)• Incidente em Antioquia (G1 2.11-14)• Em Antioquia (At 15-35)• Missão II: na Síria, na Cilícia (At 15.41) e no sul da Galácia (At 16.1-5)

Meados de 51• Na Galácia (ICo 16.1) evangelizada pela primeira vez (Gl 4.13)• Na Frigia e no norte da Galácia (At 16.6)• Na Mísia e em Trôade (At 16.7-10)

Final de 51• Em Filipos (lTs 2.2 [=Macedônia, 2Co 11.9])• Em Filipos (At 16.11-40)• Em Tessalônica (ll’s 2.2; cf. 3.6; Fp 4.15-16)• Em Anfípolis, Apolônia e Tessalônica (At 17.1 -9)• Na Bereia (At 17.10-14)

Início de 52• Em Atenas (lTs 3.1; cf. lTs 2.17-18; At 17.15-34)

Início de 52 a meados de 53• Corinto evangelizada (cf. ICo 1.19; At. 11.7-9)• Em Corinto por dezoito meses (At 18.1-18a)• Paulo escreve as duas primeiras cartas:1e 2 TESSALONICENSES• Timóteo chega a Corinto (lTs 3.6), provavelmente acompanhado por

Silvano (lTs 1.1)• Silas e Timóteo chegam da Macedônia (At 18.5)

Início de 53• Paulo deixa Cencreia (At 18.18b)• Paulo escreve sua terceira carta: 1CORÍNTIOS• Paulo deixa Priscila e Áquila em Éfeso (At 18.19-21)• Apoio (em Éfeso) desafiado por Paulo a ir a Corinto (ICo 16.12)

• Apoio enviado para Acaia por Priscila e Áquila (At 18.17)• Paulo em Cesareia Marítima (At 18.22a)

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PAULO, CRONOLOGIA DA SUA VIDA E OBRA 

• Paulo em Jerusalém (At 18.22b)• Em Antioquia por certo período de tempo (At 18.22c)• No norte da Galácia, segunda visita (G1 4.13)• Missão 111: norte da Galácia e Frigia (At 18.23)

Final de 53 a meados de 56• Éfeso (ICo 16.1-8)• Éfeso por três ou dois anos (At 19.1-20; cf. At 20.31)• Paulo escreve sua quarta carta: GÁLATAS• Paulo escreve sua quinta carta: 2CORINTIOS• Visita de Cloé, Estéfanas e outros a Paulo em Éfeso (ICo 1.11;

ICo 16.17), levando uma carta (ICo 7.1)• Paulo preso (? cf. ICo 15.32; 2Co‘ 1.8)• Timóteo enviado a Corinto (ICo 4.17; ICo 16.10)• Segunda “dolorosa” visita de Paulo a Corinto (2Co 13.2); retorno a Éfeso• Tito enviado a Corinto com a carta “escrita em lágrimas” (2Co 2.1 3)• Planos de Paulo para visitar Macedônia, Corinto e Jerusalém/ Judeia

(ICo 16.3-8; cf. 2Co 1.15-16)• Planos de Paulo para visitar Macedônia, Acaia, Jerusalém e Roma

(ICo 16.3-8; cf. 2Co 1.15-16)• Ministério emTrôade (2Co 2.12)• Na Macedônia (2Co 2.1 3; 7.5; 9.2b-4); chegada de Fito (2Co 7.6)• Macedônia (At 20.1b)• Tito enviado à frente para Corinto (2Co 7.16-17), levando parte de

2Coríntios• ilírico (Rm 15.19)

? Final de 56 ao início de 57• Acaia (Rm 15.26; 16.1)• Terceira visita de Paulo a Corinto (2Co 13.1)• Três meses na Grécia (Acaia) (At 20.2-3)• Paulo escreve sua sexta carta: ROMANOS• Páscoa de 57• Paulo começa o retorno à Síria (At 20.3), mas vai através da M.uvdo

III.I c de Filipns (At 20.3b 0a)

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PASTOUHADOS POR PAULO — VOL. 1

• Km Trôade (At 20.6b)

•  Km Mileto (At 20.15c-38)

• Hm Firo, Ptolemaida, Cesareia (At 21.7-14)

Pentecoste de 57• Planos para visitar Jerusalém, Roma, Espanha (Rm 15.22*27)• Em Jerusalém (At 21.15-23.30)

Meados de 57 a meados de 59

• Em Cesareia (At 23.31-26.32)

Meados de 59 ao início de 60• Viagem a Roma (At 27.1-28.14)

Início de 60 a meados de 62

• Em Roma (At 28.15-31)• Paulo escreve mais quatro cartas: EFÉSIOS, FILIPENSES,

COLOSSENSES, FILEMOM

Início de 62• Libertação da prisão romana (At 28.30)

Meados de 62?

• Possível viagem à Espanha (Rm 15.24,28)

Meados de 62?

• Em Creta (Tt 1.5)

Final de 62?• Em Éfeso (2Tm 4.9-19)

Início de 63?

• Em Mileto (2Tm 4.20)• Em Trôade (2Tm 4.13)

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PAULO, CRONOLOGIA DA SUA VIDA E OBRA 

Final de 63?• Na Grécia; em Nicópolis (Tt 3.12; lTm 1.3)

• Paulo escreve mais duas cartas: 1TIMÓTEO, TITO• Em Corinto (2Tm 4.20)

Meados de 64?• Em Roma (2Tm 1.17)• Paulo escreve sua carta de número 13: 2TIMÓTEO

Final de 64?

• Morte em Roma — 2Tm 4.6-8

Fonte: EDGECOMB, Kevin P. Chronology of Paui s Letters. Disponível emhttp:/ /wwvv . bombaxo.com/ paulchron.html. Acessado em dezembro de 2011.

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Quero conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação 

em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos.

 Não que eu já tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas prossigo para alcançá-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo Jesus. (...) Uma coisa faço; esquecendo-me das coisas que 

 ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, afim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus 

em Cristo Jesus.Todos nós que alcançamos a maturidade devemos ver as coisas dessa forma.

(Fp 3.10-15, Nova Versão Internacional)

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LIVRO 1

Paulo pastoreia os romanos

O Império se estendia desde a Bretanha até a fronteira da Pérsia; doReno e do Danúbio às areias do Saara. Cerca de 100 milhões de pessoas ohabitavam. Um exército de 300 mil legionários bem pagos garantia a suadefesa. Uma rede de estradas entrecruzava-se por todo o vasto domínio.Naves de guerra patrulhavam as águas. O correio deslocava-se a uma espantosa velocidade de 65 quilômetros por dia. Mercadorias dos extremos

da Terra chegavam continuamente a Roma. A exceção de ocasionais incidentes de fronteira, a famosa Pax Romana permaneceu intacta durante 250anos. O Império era um lugar seguro para se viver.

Roma era o centro palpitante desse superestado. Com cerca de 19 quilômetros de circunferência, tinha-se tornado a maravilha do mundo. Desdeque o primeiro imperador, Augusto, em suas próprias palavras, a encontrou“feita de tijolos e deixei-a feita de mármore”, uma série de governantes esbanjou somas fabulosas no embelezamento de Roma. Um estádio, o Circus 

 Maximus, acomodava 250 mil espectadores. Onze aquedutos traziam diariamente mais de 1,3 bilhões de litros de água fresca das montanhas para acapital. Balneários, cujos grandes átrios abobadados eram milagres de engenharia, enchiam-se, todos os dias, de romanos que trocavam boatos e se distraíam. Contemplada da Colina de Palatino, suntuoso palácio dos césares,Roma era uma vista tão magnificente que um príncipe persa, visitando-a noano 357 da nossa era, admirou-se: “As pessoas serão mortais aqui?”'

'PC) 1■SIA, Amahfo,  Ascensão e quedtt do im pério romano. Disponível cmlitip://www ‘.i.ntu ws.>001 i nm I>1 / liisti>ii,i.litml.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

En t r e v i s t a  i m a g i n á r i a  c o m o  a pó st o l o   Pa u l o   (i ) • R o m a n o s  

Leia, a seguir, uma entrevista imaginária com o apóstolo Paulo sobre a suaCarta aos Romanos.

ENTREVISTADOR — O senhor escreveu aos romanos antes de conhe

cer a cidade, capital do Império?

PAULO— Meu motivo foi preparar meus irmãos romanos para a minha

 visita à grande cidade. Eu estava em Corinto, hospedado na casa do irmão Caio,

e planejava ir antes a Jerusalém levar a oferta que as igrejas tinham recolhido.

Romanos foi minha sextacarta. Antes, mandei correspondências para os tes-salonicenses (duas), para os coríntios (duas) e para os gálatas. Em cada uma,

eu tinha um foco. Escrever foi um modo de estar presente onde eu não estava.

ENTREVISTADOR— E qual o foco da carta para os cristãos de Roma?

PAULO — Como tive um pouco mais de tempo, procurei fazer uma

espécie de resumo da teologia cristã. É claro que não esqueci os desafios

próprios lançados pelo Império, mas me lembrei de muitos irmãos que são judeus como eu. Alguns tiveram que fugir, por causa do decreto de Cláu

dio. Ficaram uns poucos, mas firmes. Eles cultuavam e pregavam com os

outros, os não-judeus. Havia certa tensão entre eles. Na verdade, as igrejas

de Roma se reuniam em vários lugares, inclusive nas sinagogas. Por isso,

mostrei nessa carta que Jesus é o Messias verdadeiro. Todos, judeus e não-

 judeus, tinham que lidar com problemas para os quais não tinham orienta

ção, sobretudo com a questão política. Os romanos pensavam que tudo se

resolvia pela política. O que resolve é o evangelho, vivido com fidelidade.

Ele é o poder de Deus para a transformação do mundo.

ENTREVISTADOR — Notei que, na sua carta, você menciona várias pessoas.

PAULO — O cristianismo é relacionamento com Cristo e com os ir

mãos. Eu citei pessoas que conheci em diferentes momentos e espero en-

umtrar quando eu for a Roma, viagem que está demorando a acontecer,

mas estou certo de que irei; também quero ir à Espanha.

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1 R o m a n o s   1.11-18

 A marca do evangelho

 Encontrar Cristo é tocar a realidade e experimentar a transcendência. Jesus nos dá um senso de dignidade e sentido pessoal, porque ele nos assegura que Jesus nos ama. Elenos faz livres da culpa porque ele morreu por nós edo medo paralisante porque ele reina.  Elenos dá sentido ao casamento e ao lar, ao trabalho e ao lazer, a individualidade e à cidadania.''

Imaginei o apóstolo Paulo, acorrentado numa prisão por pregar o evangelho, abrindo o jornal Valor de 2.3.2001 (ou Financial Times, de 1.3.2001,que foi a fonte primeira) e lendo a seguinte notícia:

“Segundo pesquisa feita pela agência de publicidade Young & Rubi-cam, com 45 mil pessoas, entre adultos e adolescentes espalhados por 19países, as marcas de consumo são a nova religião da humanidade”2. É paraelas que as pessoas estão se voltando em busca de significado para a vida.

 As marcas de sucesso são aquelas que têm paixão e energia para mudar omundo e converter as pessoas ao seu estilo de vida. Desde 1991, nos Estados

'NTOTT, John. Between Two Worlds, p. 154. Disponível cm http:/ / chrisrian-quoU's. <x liiisii:in.com/John-Stott-Quotes> Acessado em 4/ 7/ 201].

l'( )KSIA, Arnaldo. Ascensão e queda do império romano. Disponível cmhttp:/ / starnews2001.ium. l)i7histori;i.h(ml.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. L

Unidos, mais de 12 mil pessoas se casaram na Disneyworld, e é cada vez maiscomum os aficionados na motocicleta Harley-Davidson serem enterrados

em caixões da marca, como a dizer que essas máquinas são o sentido da vida.Para a agência, uma das maiores do mundo, os criadores de marcas po

dem ser comparados aos missionários que espalharam o cristianismo e o is-lamismo ao redor do mundo. “Foi a paixão com que eles comunicaram suascrenças que levou pessoas a responder aos milhões, porque estas religiõeseram baseadas em ideias poderosas que davam sentido e propósito à vida”— disse um dos diretores da Y&R. Do mesmo modo, as marcas de sucesso

de hoje são aquelas que permaneceram não por sua qualidade ou credibilidade, mas por um conjunto de crenças que elas se recusaram a abandonar.

Entre as marcas, a pesquisa cita Calvin Klein, Gatorade, Microsoft,MTV, Nike, Sony, Playstation e Yahoo como exemplos de marcas com

crenças inegociáveis. A propósito, pelo levantamento da agência, as dez marcas mais im

portantes do mundo são: Coca-Cola, Walt Disney, Nike, BMW, Porsche,Mercedes-Benz, Adidas, Rolls-Royce, Calvin Klein e Rolex.

(Também a propósito, era assim em 2001. A cada ano, novas marcassurgem, e velhas viram brumas...)

Então, o apóstolo Paulo (imagino ainda) chama seu secretário e dita o seguinte parágrafo aos seus irmãos da cidade de Roma:

 Muito desejo ver-vos, a fim de repartir convosco algum dom espiritual, para que sejais confirmados, isto é, para que, em vossa companhia, reciprocamente nos confortemos por intermédio da fé mútua, vossa e

minha, Porquenão quero, irmãos, que ignoreis que, muitas vezes, me propus ir ter  

convosco (no que tenho sido, até agora, impedido), para conseguir igualmente entre vós algum fruto, como também entre os outros gentios. Pois sou devedor  tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes; por isso, quanto está em mim, estou pronto a anunciar o evangelho também a vós 

outros, em Roma. Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a 

salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto

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 A MA RCA DO EV ANG ELHO

que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como estã escrito:O justo viverá por fé.

 A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou.

Romanos 1.11-19 — ARA 

Os construtores de marcas de consumo querem despertar a paixão nosconsumidores, paixão por suas marcas. O apóstolo Paulo confessa a suapaixão pela pregação do evangelho, causa pela qual conheceu prisões e

privações, açoites e naufrágios, ansiedade e morte.Paulo tinha a convicção de que o evangelho é o poder de Deus para a

salvação dos homens. Paulo tinha certeza de que somente pela fé os sereshumanos são justificados e afastados da impiedade e da perversão. Paulo tinha o desejo de dizer isso pessoalmente a tantos quantos pudesse encontrar.

Por isso, lendo o jornal (nesse exercício de imaginação), Paulo ficouperplexo em saber que o seu evangelho foi trocado pela MTV como marcacapaz de dar sentido à vida das pessoas, em saber que a cruz de Cristo foisubstituída pela Coca-Cola como a marca do mundo.

Nós também nos devemos preocupar com essa pesquisa. Se ela for

 verdadeira, o cristianismo estará condenado a ser uma religião inexpressiva no mundo. O futuro será ditado por aquilo que nós fizermos doevangelho.

Podemos ceder à última tentação do capitalismo (título da matéria doFinancial Times sobre o assunto), que é a de substituir a religião pelo con

sumo, ou podemos manter a paixão por Cristo. Essa é a escolha que temospor fazer.

Pa u l o , u m  h o m e m   c o m   pr o pó s i t o s   c l a r o s

Comecemos por falar dos sentimentos, desejos e certezas de Paulo, quedevem ser nossos também.

1. Paulo se sentia, segundo seu texto, um devedor para com os que nãotinham ainda recebido o evangelho de Jesus Cristo. Ele não se lamentou

que outros não tenham ido, embora devessem. Ele tomou a tareia paia si

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

O seu encontro com Jesus no caminho de Jerusalém para Damasco fez

nascer nele um sentimento de débito profundo, débito de alegria, em relação a Cristo. Paulo não é um devedor constrangido, chateado por ter quepagar uma dívida, mas um devedor feliz e interessado em compartilhar suaexperiência com outras pessoas, para que essas passem a ver o mundo comos olhos transformados que agora ele tem.

É dessa postura que decorre a sua prontidão para anunciar o evangelho.Só as ordens expressas do seu Senhor impediam-no de comunicar tal boa-nova. Ele mesmo não estivera ainda em Roma porque Deus não lhe havia

permitido.Esses sentimentos de Paulo devem ser os nossos. Com eles, as pessoas

 vão procurar Jesus Cristo para orientar sua vida, nunca uma marca deroupa.

2. Em relação, portanto, aos seus irmãos romanos, Paulo tinha algunsdesejos, que também devem ser os nossos em relação aos irmãos de nossobairro.

O apóstolo lhes queria comunicar algum dom espiritual, que é diferen

te do dom espiritual (carisma) referido em 1Coríntios 12. Aqui, trata-seda comunicação do conteúdo do evangelho, visando o fortalecimento doscristãos.

Paulo sabia que, ao fazê-lo, receberia o consolo de ver outras pessoasnascendo para a salvação e se desenvolvendo para o conhecimento da graça. Não acontece assim conosco? A fé é sempre uma experiência de mutua-lidade. Este é, por exemplo, o tema de Filipenses: a fé não é para ser vividana misantropia, mas na solidariedade.

O apóstolo queria, principalmente, conseguir algum fruto. Ele queriacomunicar o conteúdo e ser fortalecido, mas queria ver resultado do seuministério, pessoas reconduzidas para o palco da glória de Deus. Essa eraa sua alegria.

3. Paulo se movia desse modo por causa de duas convicções básicas queadquiriu em sua trajetória.

 A primeira era a certeza do significado do evangelho como poder de

I)eu,s para a salvação de todos os que creem. Nesse sentido, a teologia dePaulo n.>Dguardava qualquer espaço para um relativismo imobilizador. Só

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 A MA RCA DO EV ANG HI .HO

há salvação pelo evangelho. Só Jesus Cristo é o caminho; não há outro.Paulo tinha orgulho do poder do evangelho.

 A segunda convicção paulina era que essas pessoas só poderiam ser sal vas se fossem evangelizadas. Elas só poderão crer se forem alcançadas coma boa notícia. A conseqüência prática da teologia do poder do evangelhoera assumida como  tarefa deie, não missão para os outros. A fuga desta conseqüência é uma das desgraças do cristianismo. A lógica é clara: oevangelho é o poder de Deus; as pessoas precisam ouvir o evangelho paraserem salvas; eu preciso comunicar o evangelho a tais pessoas se quero ser

coerente com o que creio. A terceira percepção paulina diz respeito à inclusão do evangelho. Esteé o ponto que ele quer destacar quando menciona os judeus e gregos comoo público-alvo de sua pregação. A inclusão étnica é apenas uma indicaçãoda universidade do evangelho, não só no plano étnico, mas no intelectual,econômico, familiar, etc.

4. Paulo queria muito ir a Roma, mas até aquele momento fora proibido por Deus. O único impedimento à paixão evangelizadora de Paulo era

o próprio Senhor do evangelho. Todos os outros impedimentos ele buscavacontornar. Os exemplos são inúmeros: se o dinheiro estava curto, ele faziatendas; se o templo se fechava, ele ia para a escola; se a multidão o chamavapara falar no estádio, ele ia sem medo.

Quem tem nos impedido? Deus ou os homens?

R o t e i r o   d a   e v a n g e l i z a ç Á o

Se estivermos convencidos de que devemos sentir, pensar e agir como Pau

lo, de que modo podemos colocar em prática nossas convicções e desejos? A evangelização, em todos os tempos, requer criatividade.Há dois tipos de pessoas que precisam do evangelho: as acessíveis e as

inacessíveis.

Como, por exemplo, alcançar pessoas acessíveis?1. Primeiramente, devemos orar por aquelas pessoas com quem temos relacionamento, com o desejo de lhes comunicar o dom do evangelho. Alguém mu dia desses me perguntou:

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

— Adianta orar por uma pessoa, se ela, no exercício do seu livre-arbí-trio, rejeita o evangelho? O Espírito Santo pode realmente incomodá-la?

— Adianta! O Espírito Santo, por meio de nossa intercessão, poderádirigir para essa pessoa a atenção do seu afeto convencedor. O Filho estáà porta e bate (Apocalipse 3.20). Devemos pedir para que ele insista nessetoque.

Nós também não podemos desistir, nem que leve trinta anos. WilliamCarey pregou mais de uma década até que houvesse a primeira conversãono país onde servia como missionário.

2. Em segundo lugar, devemos falar. Nós devemos nos comunicar sequeremos compartilhar com nossos vizinhos, amigos ou parentes o domdo evangelho. Nossa fala deve ser coerente com a nossa vida, e a nossa vidadeve desembocar em nossa fala.

3. Em terceiro lugar, devemos encontrar fórmulas para pôr essas pessoas emcontato com a proclamação pública da mensagem.

 A igreja deve criar essas oportunidades, como chás, jogos de futebol,cultos nos lares, cultos temáticos, congressos temáticos e espetáculos ar

tísticos, por exemplo. Quando essas oportunidades se apresentarem, devemos participar delas de modo a torná-las efetivamente ocasiões e espaçospara que as pessoas sejam confrontadas com o oferecimento do dom doevangelho de maneira educada e cordial.

4. Em quarto lugar, devemos lutar com a alma dessas pessoas para queelas se desenvolvam. O trabalho de evangelização não termina quandouma pessoa se batiza. A responsabilidade do evangelista não cessa naquelemomento. Antes, deve prosseguir até que essa pessoa caminhe com as pró

prias pernas para trazer outras pessoas a Cristo. Precisamos cultivar aquelesa quem Jesus por nosso intermédio cativou.

Buscando os inacessíveis — E o que fazer com aqueles a quem temos pouco ou nenhum acesso? Além dos cuidados anteriores (oração, comunicação direta, apresentaçãode Jesus e empenho pessoal), precisamos encontrar fórmulas criativas paraentrar nas casas cada vez mais cercadas e nos apartamentos cada vez mais

inatingíveis.

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 A MARCA DO liVA NtMil.l IO

Náo podemos obviamente esquecer que os mais importantes arautos

do evangelho a esse tipo de público são seus vizinhos crentes, verdadeiramente compromissados com Jesus. O amor a Cristo, somado à convicção

de que só a fé nele é que salva, fará com que nosso tempo se multiplique,nossa timidez seja controlada e nossa incompetência seja superada. Nem acriatividade supera o amor.

Nem por isso, podemos deixar de lado a criatividade. Tenho pensadoque poderíamos criar um cadastro de endereços eletrônicos (e-mails) dosmoradores do nosso bairro. De posse desses endereços, poderemos mostrar

que existimos como igreja, poderemos convidar as pessoas para virem aténós e poderemos encaminhar mensagens, diretas e discretas, sobre o evangelho de Jesus Cristo, a quem anunciamos.

Tenho pensado que poderíamos cadastrar (ou identificar) os grupos es

pecíficos de nosso bairro (empresários, idosos, crianças, adolescentes, jo vens, profissionais) e propor programas específicos para eles.

No entanto, só farão algo aqueles que tiverem a mesma paixão do apóstolo Paulo.

• * •

Entre as dificuldades que o cristianismo enfrenta, uma é a estagnação. Te

mos crescido menos que a população. Se tirarmos o crescimento em conseqüência da adesão dos nossos filhos (que já estão conosco e não precisamosatrair), o índice é ainda mais pífio.

No caso específico dos batistas brasileiros, houve nos anos 60 do século 20 uma interessante campanha: 1+1 =500 mil. O alvo era modesto:

bastava um batista levar uma pessoa a Cristo e os batistas dobrariam de extensão numérica. Infelizmente, o alvo só foi alcançado muitos anos depois.

 Até hoje os batistas orbitam em torno de um milhão.Essa história nacional é a história de muitas igrejas locais. Pensemos

então nelas, no que têm feito para que as marcas de consumo sejam menosatraentes que a cruz de Cristo.

Em seguida, pensemos nos membros válidos das igrejas, que são aquelesque têm dado a Deus oportunidade de lhes falar por meio da participaçãona vid.i comunitária eclesial.

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2 Romanos 1 .16-17

O poder do evangelho

 Ah, se eu tivesse mil vozes para o Brasil encher  com os louvores de Cristo: Que singular prazerf 

 Assustado com a falta de vergonhados brasileiros, dos que estão no poder

e do povo em geral, o psicanalista ítalo-brasileiro Contardo Calligaris escre veu uma série de artigos, que valem sobretudo pela preocupação. Ele lembraque a antropóloga norte-americana Ruth Benedict estudou o comportamento das pessoas em relação à moralidade. Ela mostrou que há sociedadesreguladas pela vergonha e outras pela culpa. É comum no Japão uma pessoa, flagrada em corrupção, tirar a própria vida. É a maneira que tem parapreservar sua dignidade. “Nas sociedades em que predomina a vergonha, osujeito escolhe agir, se abster ou impor limites à sua açáo para não perder

a face e para preservar ou resgatar sua honra e sua dignidade. Nas outras, osujeito age para evitar a culpa ou para expiá-la”.2

Os brasileiros dão um nó na antropologia em particular e nas ciênciassociais em geral. A vergonha é escassa. Seria de esperar, então, que hou vesse culpa, mas o sentimento de culpa é abrandado pela impunidade.

'I liito do í linário para o Culto Cristão.'( Al I K i AKIS, ( 'onctrdo. Culpa e vergonha (Moralidade 1). Folha de S. Paulo, 2/ 2/2006, 

iliistia<l.i, |'. I ’.

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O PODER DO EVANGELHO

De impunidade em impunidade, a culpa e a vergonha vão cauterizando amente (ITm 4.2) para não sentir vergonha nem culpa por mais vergonhosae culpada que seja a ação.

 Vergonha e culpa são da condição humana. A Bíblia e o apóstolo Pauloem particular põem a primeira como conseqüência da segunda. Nossa culpa, diz Daniel, deve nos levar a sentir vergonha. Ele orou assim: Ó Senhor, nós e nossos reis, nossos líderes e nossos antepassados estamos envergonhados por  termos pecado contra ti (Dn 9.8).

Em sua vida pessoal, o apóstolo Paulo experimentou a mesma realidadeem função daquilo que Deus tinha feito. Ele era uma pessoa correta, se-

guidora dos mandamentos de Deus, mas não de Deus, porque em nomedo Senhor odiava outras pessoas também tementes a Deus. O judeu Saulode Tarso (este era o seu nome de nascimento, nome hebraico) perseguia oscristãos. O poder de Deus o alcançou, derrubou-o de sua pretensão de fazer justiça com as próprias mãos, e o então convertido Paulo (nome grego)se tornou pregador do evangelho pelo qual foi salvo da ira de Deus. Só queesse evangelho era visto como loucura. Como um só homem pode morrerpor todos? Como as culpas de todos podem ser apagadas pelo sacrifício de

um só? Só pelo poder de Deus, mas quem o aceita?Diante dos seus ex-correligionários, Paulo deve ter sido tentado a não

contar sua história. Envergonhar-se do evangelho é uma tentação. Certamente Paulo, não somente eu ou você, foi tentado. Evidentemente, não hásentido algum em afirmar que não se tem vergonha de alguma coisa, a nãoser que se tenha sido tentado a envergonhar-se dessa coisa”, disse JamesStewart. Por isto, disse a si mesmo: A i de mim se não pregar o evangelho (ICo 9.16).

C r i st ã o s  q u e  se  e n v e r g o n h a m

Paulo não se envergonhava do evangelho porque cria no poder de Deus.Não se envergonha do evangelho quem crê no poder de Deus.E por que alguns cristãos se envergonham do evangelho?

1. Uma razão é intelectual A idcia de que há um Deus pessoal criador que intervém na história, sendo 

a sua maior intervenção o envio do seu Pilho para resgatar a humanid.ul<-

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

do pecado para um relacionamento com ele, não atende ao postulado darazão. A existência desse Deus não pode ser racionalmente provada. A ideiade que Deus tomou a forma humana, tendo morrido na cruz para expiar osnossos pecados, é tomada como absurda. Já ao tempo do apóstolo Paulo, aideia de uma cruz com efeito universal era considerada louca. Ele escreveu

 Minha mensagem e minha pregação não consistiram de palavras persuasivas de sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder do Espírito, para que a fé que vocês têm não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus por meio da loucura da pregação (ICo 2.4-5).

Um pensamento deste deve ter irritado os politeístas, que se achavamracionalistas, por exemplo o médico Celso no segundo século da era cristã: “Deve-se primeiro seguir a razão como guia antes de se aceitar umacrença, porque quem crê sem antes testar uma doutrina certamente seráenganado”.’ E ele não ficou sozinho. Nietzsche (século 19) achava que a féé apenas uma forma de se evitar conhecer a verdade. Stendhal brincava que“a única desculpa para Deus é que ele não existe”.4

O cristianismo é visto, em muitos círculos intelectuais, como umaforma de superstição, a ser evitada. Nesses ambientes, o cristão é

 visto como alguém que abriu mão da razão, logo, perigoso para aciência e para o pensamento.

Ser visto assim é uma pressão muito grande. A tentação ao silêncio é forte.Por isso, é como se Paulo nos dissesse: “não se envergonhe do evangelho porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”, seja ele bem

ilustrado ou pouco letrado. Bem ilustrados e pouco letrados só conhecerãoo poder de Deus se o evangelho lhes for anunciado, mesmo que sob vaia.Não há dúvida que de “a mensagem da cruz é loucura para os que estão 

perecendo, mas para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus. Pois está escrito: “Destruirei a sabedoria dos sábios e rejeitarei a inteligência dos inteligentes. ” Onde está o sábio? Onde está o erudito? Onde está o questionador 

' 0 .1SUS. On True Doctrine. Disponível em <http:/ / www.angelfire.com/ scifi/ deadan- 1',1-Imoi/ irlsi!squote$.html>. Acessado em 25/ 07/ 2011.

'STKNDIIAI , Ilenri. Disponível em <http:/ / pensador.uol.com.br/ frascs_de_dcus/13>.

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O PODER DO EVANGELHO

desta era? A caso não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, agradou a Deus salvar aqueles que creem  (ICo 1.18-21). Por isso, Irmãos, pensem no que vocês eram quando foram chamados. Poucos eram sábios segundo os padrões humanos; poucos eram poderosos; poucos eram de nobre nascimento. Mas Deus escolheu o que para o mundo é loucura para envergonhar  os sábios, e escolheu o que para o mundo ê fraqueza para envergonhar o que é forte. Ele escolheu o que para o mundo é insignificante, desprezado e o que nada é, para reduzir a nada o que é, afim de que ninguém se vanglorie diante 

dele. E, porém, por iniciativa dele que vocês estão em Cristo Jesus, o qual se tornou sabedoria de Deus para nós, isto é, justiça, santidade e redenção, para que, como está escrito: “Quem se gloriar, glorie-se no Senhor ’ (ICo 1.26-31).

2. A outra razão ê socialO cristianismo é uma religião de alta moralidade. Seus padrões são tãoelevados que são considerados inalcançáveis por aqueles que só conhecema sua superfície.

Para muitos em nossa sociedade, ser cristão é renunciar à vida e à liberdade. Abre-se, por exemplo, uma revista popular para adolescentes e alinão se encontra nenhuma moral, a não ser esta: cada um deve fazer com oseu corpo o que lhe der vontade ou cada um deve fazer com a sua vontadeo que o corpo pede.

Para muitos em nossa sociedade, ser cristão é abrir mão do enriquecimento ilícito, é não se envolver em esquemas que tragam riqueza rápida,é não subir tendo o próximo como trampolim, é não idolatrar o dinheiro

ou aquilo que o dinheiro compra. Para muitos, o cristão ignora a naturezahumana, só sobrevive quem for lobo do outro.

 A pressão é grande sobre o cristão. Para aquele que tem fé, é grande atentação de ficar anônimo nesse ambiente hostil.

O cristão lê e então entende o que João escreveu: Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que hã no mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não provém do Pai, mas do mundo. O mundo e a sua cobiça passam, 

mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre (I Jo 2.!5-1’/)■

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

C o mo  e n v e r g o n h a r   o  e v a n g e l h o

Paulo não se envergonhava do evangelho e nem envergonhava o evangelho.Não se envergonha do evangelho quem não envergonha o evangelho.

Envergonhar o evangelho é uma possibilidade. Alguns o faziam. Paulodesejava que isso jamais acontecesse com ele. Envergonha o evangelho quemenvergonha a Cristo, negando a fé nele por atos e palavras. Nesse sentido, omaior inimigo do cristão, para que o evangelho avance, é o próprio cristão.

Temos problemas com as palavras, mas nosso verdadeiro campo de vergonha é o gesto. E a ação, quando esta contradiz o que falamos.

Envergonhar o evangelho é dar um nó na Bíblia, porque nela estão todas as advertências quanto ao abismo, e caímos nele.

O evangelho não pode ser uma coisa, e o evangélico outra. O evangelhoé o poder de Deus para a salvação. O evangélico deve viver sob esse poder.

Eu envergonho o evangelho quando digo que faço o que não faço.Eu envergonho o evangelho quando passo ao largo de quem está

ferido.Eu envergonho o evangelho quando compro sem poder pagar e

não pago.Eu envergonho o evangelho quando fecho um negócio no balcão

baixo da negociata.Eu envergonho o evangelho quando empenho a minha palavra,

mas não cumpro o prometido.Eu envergonho o evangelho quando minto para obter uma van

tagem, mesmo que o desvio seja mínimo.Eu envergonho o evangelho quando trabalho menos do que o

combinado, chegando tarde ou saindo cedo.Eu envergonho o evangelho quando rio do que não podia rir.Eu envergonho o evangelho quando surrupio direitos que são dos

outros.Eu envergonho o evangelho quando julgo o outro, eu que sei que

não devo julgar.Eu envergonho o evangelho quando odeio.Eu envergonho o evangelho quando me arvoro em agente da ira

dc Deus, como um membro da Al Qaeda.

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O PODER DO EVANGELHO

Eu envergonho o evangelho quando fico com o que é do outro.Eu envergonho o evangelho quando me sujeito ao preconceito.

Eu envergonho o evangelho quando tomo o nome de Deus em vão.Eu envergonho o evangelho quando erijo altares para deuses do

além ou daqui mesmo.Eu envergonho o evangelho quando não honro ao meu pai.Eu envergonho o evangelho quando eu guardo como meu o que

é de Deus.Eu envergonho o evangelho quando forjo palavras para diminuir o

outro.

Eu envergonho o evangelho quando desejo o que meu próximoconquistou.

Eu envergonho o evangelho quando levanto minha mão paraagredir.

Eu envergonho o evangelho quando seduzo o outro.Eu envergonho o evangelho quando me deixo seduzir pelo outro.Eu envergonho o evangelho quando digo que meu próximo disse

o que não disse.

Eu envergonho o evangelho quando penso que o evangelho éapenas um conjunto de palavras.

Eu envergonho o evangelho quando brinco de evangélico.Eu envergonho o evangelho quando acho que há poder em ser

evangélico.Eu envergonho o evangelho quando sucumbo diante do velho

homem que habita em mim e desisto de ser santo.Eu envergonho o evangelho quando perco a vergonha de não ter

mais vergonha.

Paulo estava certo de que Jesus Cristo não se envergonharia dele.Quem não se envergonha do evangelho e não envergonha o evangelho

não é envergonhado por Jesus Cristo.

'STKNDHAl,, Henri. Disponível em http:/ / pensador.uol.com.br/ frases 

de deus/ 13.

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PASTOREADO S POR PAULO — VOL 1

EVANGELHO É VIDA 

Quando queremos transformá-lo em outra coisa, nós o defraudamos.Um evangelho defraudado não é evangelho. Um evangelho feito de pa-

lavras, na pregação e no louvor, não é evangelho. Um cristão que defraudao evangelho não é cristão. Ele não passará pelo crivo de Cristo, que dirá:“Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo. Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram 

de mim; estive preso, e vocês me visitaram. Então os justos lhe responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?’ O 

 Rei responderá: ‘Digo-lhes a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram” (Mt 25.34-40).

Um cristão que envergonha o evangelho não é um cristão, porque não écristão aquele que aprendeu uma seqüência de palavras sobre o evangelho.

 Jesus mesmo o diz: Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o  Filho do homem se envergonhará dele, quando vier em sua glória e na glória do  Pai e dos santos anjos (Lc 9.26). Permaneçamos em Jesus,para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e não sejamos envergonhados diante dele na sua vinda. Sevocês sabem que ele é justo, saibam também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele (ljo 2.28-29).

Um cristão é aquele que recebe o poder de Deus para a salvação e odom de Deus para a fidelidade. Ele não nos deu espírito de covardia, mas de 

poder, de amor e de equilíbrio. Portanto, não se envergonhe de testemunhar  do Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro dele, mas suporte comigo os meus sofrimentos pelo evangelho, segundo o poder de Deus, que nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas por  causa da sua própria determinação e graça. Esta graça nos foi dada em Cristo 

 Jesus desde os tempos eternos, sendo agora revelada pela manifestação de nosso Salvador, Cristo Jesus. Eletornou inoperante a morte e trouxe à luz a vida e a imortalidade por meio do evangelho (21 m 1.7-10).

Não envergonhamos o evangelho quando vivemos pelo poder de Deus.

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O PODER DO EVANGELHO

Quando lemos que o evangelho é poder, ficamos um pouco assustadosporque conhecemos o poder. Não imaginamos que de algum poder possa

 vir uma boa notícia. Não imaginamos que alguém possa usar o seu poderpara nos saívar.

Quando pensamos em poder, vem-nos logo à mente Maquiavel (século15), o pensador medieval que descreveu os meios como os homens conquistam e mantêm o poder. E um desses modos é que o detentor do podernão pode ser bom sempre; oferecer à sociedade sacos de maldades faz parteda estratégia de manutenção do poder.

Para entendermos o que é o poder de Deus, precisaríamos deixar denivelá-lo ao poder do homem, mas nossa mente não é capaz de esquecer oque aprendemos sobre poder ou de apagar da memória o que já perdemospor causa do poder. Só o poder de Deus justifica; o dos homens pune. Algumas antíteses podem nos ajudar.

O poder do homem mais poder para o homem ambiciona.O poder de Deus é distribuído a quem com ele se relaciona.O poder do homem tem uma volúpia que nos assusta.

O poder de Deus é justiça plena que nada nos custa.O poder do homem oprime, comprime, reprime.O poder de Deus é simplesmente sublime.O poder do homem se ufana, afana, engana, esgana, profana e dana.O poder de Deus o caminho aplana, os seres irmana e o enfermo sana.C) poder do homem ameaça, amordaça, despedaça, devassa e passa.O poder de Deus é graça, que suavemente e para sempre nos abraça.C) poder do homem magoa, enodoa, agrilhoa, amaldiçoa.

O poder de Deus abençoa, afeiçoa, aperfeiçoa, sobretudo perdoa.( ) poder do homem irrompe, interrompe e corrompe para se manter.C) poder de Deus se oferece gratuito a quem só pela fé deseja viver.í ) poder do homem revela quem o homem é.C) poder de Deus revela quem o homem pode ser.() poder do homem no seu altar nos empala.( ) poder de Deus na sua cruz nos saúda.( ) poder do homem nos antagoniza e nos cala.

(> poder dc Deus nos evangeliza e nos muda.

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3  Romanos 3.9-18

 A queda

Quando cristãos são expostos à tentação, eles devem orar a Deus para sustentá-los. Quando eles são tentados, não devem desanimar. Não é pecado ser tentado; o pecado é cair na tentação.’

Convido-o a se olhar no espelho, lendo Romanos 3-9b-18, com a ajuda

dos textos que o próprio Paulo cita. Nesse conjunto de versículos, o apóstolo apresenta um retrato do ser humano. Gostaríamos que fosse outro orosto que vemos nesse retrato.

Tanto judeus quanto gentios estão debaixo do pecado. Como está escrito: “Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos sedesviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer ”.

Romanos 3.9b-12

 Não há ninguém que faça o bem. O Senhor olha dos céus para os filhos dos homens, para ver se há alguém que tenha entendimento, alguém que busque a Deus. Todos sedesviaram, igualmente se corromperam; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer.

Salmo 14.1 b-3

’O.L. MOODY. Disponível em <http:/ / christian-quotes.ochristian.com>. Acessado em 

.’5/ 7/ 2011.

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 A QUEDA 

Todavia, não há um só justo na terra, ninguém que pratique o bem e nunca peqtie.

Eclesiastes 7.20

 Nos lábios deles não há palavra confiável; suas mentes só tramam destruição. Suas gargantas são um túmulo aberto; com suas línguas enganam su- tilrnente.

Salmo 5.9

 A fiam a língua como a da serpente; veneno de víbora está ern seus lábios.Salmo 140.3

Sua boca está cheia de maldições, mentiras e ameaças; violência e maldade estão em sua língua”.

Salmo 10.7

Seus pés correm para o mal, ágeis em derramar sangue inocente. Seus pen

samentos são maus; ruína e destruição marcam os seus caminhos. Não conhecem o caminho da paz.Isaías 59.7-8a

 Há no meu íntimo um oráculo a respeito da maldade do ímpio: Aos seus olhos é inútil temer a Deus.

Salmo 36.1

(guando diz que tanto judeus quanto gentios estão debaixo do pecado (9b),Paulo relembra (e seria preciso?) a inclusão do pecado. Todos, crianças eadultos, homens e mulheres, brasileiros e estrangeiros são pecadores. Opecado faz parte do ser humano.

I;,m seguida, o apóstolo, lançando mão da Bíblia que ele conhecia— o Antigo Testamento — , relaciona alguns desses pecados, que apenas demonstram que não há sequer uma pessoa justa, isto é, uma pessoa que nãoirnha pecado sobre a face da terra, exceto o Justo Jesus.

No entanto, religiões e ideologias dizem o contrário: que o ser humanoc   Iidiii  Alguns chegam a dizer que estamos caminhando para um mundo

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

melhor, graças ao esforço humano. Outros reclamam que a afirmação todos pecaram é uma generalização, porque alguns podem não pecar. Outrossustentam sua argumentação na tese de que não existe pecado; há, nomáximo, erros e equívocos. Tudo aquilo que uma pessoa faz com amornão é pecado.

Os argumentos são vários. No entanto, a Bíblia diz que o pecado fazparte da condição humana.

Po r  q u e  a l g u n s n ão  sã o  sa l v o s?

 Ao mesmo tempo, a Bíblia diz que onde habita o pecado está presentetambém a graça.E o que é a graça? A graça é uma oferta; por ela, manifesta em Jesus na

cruz, Deus oferece a salvação a todos.Quando uma loja anuncia um produto, e este, por sua qualidade ou

preço, vem a interessá-lo, você vai até lá, vê as condições e, se for o caso,paga o preço do produto para que ele passe a ser seu. E assim com todamercadoria. Não é assim com a graça que salva. O único ponto em comum

é a oferta. Não há esforço a ser feito. Não há preço a ser pago. Tudo já foifeito por Jesus Cristo. Basta-lhe aceitar a graça.Se é tão simples, por que muitos não recebem a graça da salvação?Sugiro algumas respostas:

1. Alguns preferem a fantasia à realidade da pecaminosidade universal. Sãoaqueles que, mesmo vendo a crueza penetrante do pecado, insistem emachar que o mundo não pode ser assim, que o homem não pode ser isto,que estamos sendo pessimistas demais. Lembro-me de uma visita que fiz a

uma cidade do interior da Amazônia legal. Hospedei-me no centro, ondetambém estavam hospedados líderes indígenas, que chegavam e saíam comseus carros possantes. Depois fui visitar suas aldeias, onde seus irmãos morriam de analfabetismo e doença.

O evangelho começa com esta certeza: todos [indígenas, idosos, jovens, juniores, adolescentes, homens, mulheres] pecaram e estão destituídos [afas-lados] da glória de Deus. O evangelho não para aí: todos os que creem são

 justificados  | perdoados, tornados justos] gratuitamente por sua graça, por  

meio da redenção que há em Cristo Jesus (Rm 3.23-24).

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 A QUI iDA 

2. Outros preferem concordar com a ideologia dominante no mundo,

de que há outros caminhos além de Jesus Cristo para a redenção do serhumano. Se o caminho é religioso, há outras religiões: o importante é cadaum ter a sua, para transcender — esse é o pensamento vendido como verdade. Se o caminho é outro, há a arte.

3. Outros preferem acreditar na possibilidade da autossalvação. Parauns, se seguimos os mandamentos de Deus, seremos honrados por elecom a salvação. Para outros, as ações humanas de bondade e solidariedade

são capazes de purificar o coração humano. Não é preciso um Salvador; o

homem se salva a si mesmo. O resumo do pensamento da autossalvaçãoé simples: eu preciso fazer alguma coisa. É como se Deus não fosse capaz

de nos oferecer de graça algo tão extraordinário quanto a graça. Pararodos esses, deve soar cristalina a mensagem paulina: Portanto, ninguém serã declarado justo diante dele baseando-se na obediência à Lei, pois ê me

diante a Lei que nos tornamos plenamente conscientes do pecado,  (...) Pois sustentamos que o homem é justificado pela fé, independente da obediência 

à Lei (Rm 3.20,28).

4. Outros preferem o desespero. Eles aceitam a maldade humana epõem tanto peso nela que não veem mais lugar para a redenção. Algunsparticularizam a experiência universal e, diante dos próprios pecados, não

 veem que possa haver salvação para si. Do ponto de vista da lógica humana, não há mesmo alternativa ao desespero; foi por isso que Deus ofereceu

 Jesus Cristo como sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue, 

demonstrando a sua justiça (...) a fim de ser justo e justificador daquele que 

tem fé em Jesus (Rm 3.25-26).

Em q u e   f a l h a m o s sa l v o s?

<iraças a Deus, muitos têm aceitado a oferta, e a partir dali a vida passa aler um centro, que é Jesus Cristo.

Paulo sabia que o evangelho é tão poderoso que pode se tornar um

perigo. Por isso, eíe é tão firme quando o apresenta e quando nos adverte

quanto aos riscos. Menciono alguns deles:

 A tentação do esoterismo — Paulo conviveu com um tipo de esoterismo muito sedutor. O do seu tempo dizia que a fé era uma espécie de

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

conhecimento. Quando alguém travava conhecimento com a luz dessafé, bastava ficar exposto a ela para ser alcançado e ser inscrito no rol dos

salvos.É possível que haja cristão com tal tipo de cristianismo? Não! Isso não é

cristianismo: ser cristão é ter um encontro pessoal com uma pessoa, Jesus,o Filho de Deus. Não basta conhecer a Bíblia. Não basta concordar com aBíblia. Ser salvo é sentir o peso do pecado e ser livre desse peso pela obraexpiatória de Jesus Cristo. Jesus náo nos revela o que há de bom em nós,como ensina o esoterismo; Jesus nos revela o que há de mal em nós e noslivra do mal por sua ação.

 A tentação do legalismo — Parece que Paulo escreve suas cartas paracombater o legalismo. Parece que Jesus teve um inimigo o tempo todo: olegalismo personificado no farisaísmo do seu tempo. Por quê? Porque olegalismo é a crença de que o homem pode salvar-se a si mesmo.

 Até o cristão, que já experimentou que isso náo é verdade, pode cair denovo nesse equívoco. Para o homem, é difícil reconhecer sua insuficiência;o cristão crê na suficiência de Cristo, mas tende a projetar uma sombra na

cruz: um sábado, um jejum, um voto, um esforço qualquer. O resultadoé culpa, porque ninguém consegue cumprir os ditames da lei; foi por essarazão que Deus enviou seu Filho, para que a lei não fosse mais necessáriapara a salvação. Na cruz, a lei perdeu o seu efeito, que já era pífio. A leié ótima para nos revelar o pecado, mas não faz nada para nos oferecer aredenção.

 A tentação da jactância—- Este legalismo enrustido no cristão produzuma jactância; no caso antigo, era uma vangloria baseada no conhecimen

to e na prática da lei mosaica; no caso novo, no caso cristão, até hoje, é uma vangloria fundada na posse da salvaçáo. A jactância cristã tem a seguinteredação secreta: “a graça me alcançou, graças a mim”. É como se a salvaçãofosse uma resposta de Deus ao valor do crente, cujo único discurso deviaser o de Paulo: Miserável homem que eu sou! (Rm 7-24).

Há cristãos que olham para os não-cristãos como se estivessem no altodc um pedestal... Nesse sentido, a única vantagem do cristão é saber queé pecador e que pode cair a qualquer hora, e saber, também, que a queda

ainda tem suas conseqüências.

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 A QUEDA 

 A tentação do libertinismo— Há outro raciocínio não dito, mas feito:“se a lei não salva, e eu estou salvo pela graça, posso quebrar todas as leis,

não serei cobrado”. O libertinismo é o maior ladrão de alegria do cristão.Sua tentação é muito forte; seu prejuízo é devastador.

• • •

O que fazer, então, com a salvação oferecida por Jesus Cristo?Os cristãos sabem o que fazer, porque já fizeram o principal.Se você ora como o fariseu ‘‘graças a Deus, muitos têm aceito a oferta,

experiência a partir da qual suas vidas têm um centro, que é Jesus Cristo”,

peça perdão a Deus. Se você tem se orgulhado de sua salvação, peça perdão a Deus. Se você tem vivido de modo a envergonhar o evangelho, peçaperdão a Deus. Se você não tem anunciado o evangelho da graça, compalavras e ações, peça perdão a Deus.

Quero falar com aqueles que ainda não se deixaram invadir pela graçade Jesus. Se você quer saber o que fazer para receber a salvação oferecidapor Jesus, eis o caminho a ser percorrido.

1. Tenha uma visão bíblica acerca de sua natureza Você é pecador. Admita que você é pecador. Não engane a si mesmo.

2. Tenha expectativas realizáveis para a sua vidaNão fique desesperado com o que a Bíblia afirma a seu respeito. Essa éapenas a primeira parte da notícia. A segunda é que a esperança é possívelpara quem confessa o seu pecado.

Não ache que não vai pecar. Você não é diferente de Adão. Esse tipo deexpectativa só produz culpa, nunca liberdade.

Não ache que vai deixar um pecado que o acompanha. Você não vaideixá-lo; ele é que vai deixá-lo se você o confessar a Jesus e receber a purificação. Um dos efeitos do pecado original (ou queda) é a baixa autoestima,a convicção que alguém tem de que não tem nenhum valor. Você tem tan~to valor que Jesus morreu por você, para que você, criado por Deus, sejasalvo. Um dos recursos que Satanás usa para nos destruir é soprar em nós

expectativas que não podemos realizar; ele fica feliz quando dizemos: “não vou conseguir”, ou “ninguém gosta de mim”.

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3. Aceite a redençáo oferecida por Jesus CristoCreia que a redenção dos seus pecados é possível. Creia que o Redentor lhe

ofereceu o perdão na cruz. Creia que esse perdão continua disponível para você. Creia que, perdoado, você pode ter uma vida com qualidade, que éa verdadeira vida cristã.

Deixe que Deus declare você justo, por meio da fé que você tem em Jesus Cristo.

Comprometa-se com o Deus que se compromete com você, ao pontode oferecer seu Filho em sacrifício por você.

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4 Romanos 5 .1 -11

Graça, maravilhosa graça

Graça e glória são a mesma coisa em formas diferentes: em minúsculas 

e em maiúsculas. A glória está contida e compactada na graça, como a 

beleza de uma flor está contida e oculta na semente.1

 A manifestação suprema da justiça pessoal de Deus se revela na cruz de

Cristo. Foi ali que Deus o apresentou como sacrifício que substitui o nosso

sacrifício.

Deus decidiu usar seu poder para produzir boas notícias. Por causa de

sua justiça, ele age para nos salvar.

No entanto, Paulo nos apresenta a graça falando da ira de Deus.

Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor   Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual 

agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. Não 

só isso, mas também nos gloriamos nas tribulaçóes, porque sabemos que a 

tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e

o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque

'I l<>PKINS, Thomas. Disponível cm <http:/ / citacoes.dosenhor.com/ tag/ graca>. Acessa 

doem 25/ 7/ 201 I.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

 Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele rios concedeu.

 Defato, no devido tempo, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu pelos ímpios. Dificilmente haverá alguém que morra por um justo, embora pelo homem bom talvez alguém tenha coragem de morrer. Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores.

Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda, por  meio dele, seremos salvos da ira de Deus! Sequando éramos inimigos de 

 Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida! Nâo apenas isso, mas também nos gloriamos em Deus, por meio de nosso Senhor  

 Jesus Cristo, mediante quem recebemos agora a reconciliação.Romanos 5.1-11

 A LÓGICA DA JUSTIFICAÇÃO

O raciocínio do apóstolo Paulo é bem claro.

Ser justificado pela fé significa ser justificado por Deus a partir da nossaresposta de fé ao oferecimento de Jesus na cruz. A graça da justificação(obra de Deus) nos vem pela fé. Essa graça, para poder continuar com seuefeito salvífico, demanda perseverança. Essa graça nos acompanha até amanifestação plena de Deus (versículos 1e 2).

 A vida cristã consiste de um “círculo virtuoso”: esperança >perseverança >caráter aprovado >esperança (versículos 3 e 4).

Deus não nos decepciona. Ele já se comprometeu conosco, enchendo

nosso coração de amor (dele para conosco). A maior evidência disso é Jesusna cruz (versículo 5).

Fomos justificados quando ainda éramos fracos, não houve nem há mérito em nós (versículos 6 e 8).

 A ira de Deus é uma justa (Deus é justo) atitude diante do pecado (queprovoca indignação e tristeza em Deus). O pecado tem que ser punidocom derramamento de sangue. E foi na cruz que a justificação se fez pelosangue derramado (vida) (versículo 9).

Somos salvos da ira de Deus pela vida de Jesus Cristo (versículo 10).

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

eterna; já quem rejeita o Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele (jo 3.36). Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso 

 favor quando ainda éramos pecadores. Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda, por meio dele, seremos salvos da ira de Deus! Sequando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por  sua vida! (Rm 5.8-10). Deus não nos destinou para a ira, mas para recebermos a salvação por yyieio de nosso Senhor Jesus Cristo. Elemorreu por nós para que, quer estejamos acordados quer dormindo, vivamos unidos a ele (lTs 5.9-10).

Pela leitura do Novo Testamento, deve ter ficado claro que a ira de Deusé reta, justa e boa. E ira contra o mal e o pecado, a violência, a imoralidade

e a injustiça.Por causa da queda, somos pecadores nas mãos de um Deus irado. Um

pregador do século 18, Jonathan Edwards, escreveu: “A ira de Deus é comograndes águas represadas que crescem mais e mais, aumentam de volume,até que encontram uma saída. Quanto mais tempo a correnteza for repri

mida, mais rápido e forte será o seu fluxo ao ser liberada. (...) A enchente

da vingança de Deus encontra-se represada. (...) As águas estão subindocontinuamente, fazendo sua força aumentar mais e mais. Nada, a não sera misericórdia de Deus, detém as águas, as quais não querem continuarrepresadas e forçam uma saída. Se Deus retirasse sua mão das comportas,elas se abririam imediatamente e o mar impetuoso da fúria e da ira de Deusiria se precipitar com furor inconcebível, e cairia sobre vocês com poderonipotente. (...) O arco da ira de Deus já está preparado, e a flecha ajustada ao seu cordel. A justiça aponta a flecha para vosso coração, e estica o

arco. E nada, senão a misericórdia de Deus — um Deus irado! — que nãose compromete e a nada se obriga, impede que a flecha se embeba agoramesmo do vosso sangue”.-

 A ira de Deus é uma boa-nova. Ela convive e é satisfeita pela obra deCristo na cruz. Nela Jesus fez o seu sacrifício, tomando nosso lugar de

2EDWARDS, Jonathan. Pecadores nas Mãos de um Deus Irado. Disponível em <http://  

 www.monergismo.com/ textos/ advertencias/ pecadores_maos_deus_iracio.htm>. Acessado cm 28/ 7/ 201 1.

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GRAÇA, MARAV ILHO SA G RAÇA 

condenados. Ele agiu como nosso substituto. A punição que merecíamosrecaiu sobre ele.

 A Bíblia trata da ira de Deus, da sua santa ira contra o pecado e contraaqueles que o praticam. Sua ira é justa e completamente reta; é dirigida anós. Se não fosse a ira de Deus no universo, estaríamos vivendo num mundo injusto e sem esperança. O fato de sermos inimigos de Deus significaque somos, por natureza, filhos da ira. É isso que João quer dizer quandoescreve: Ele é a propiciação pelos nossos pecados (ljo 2.2),3

C o m o   s o m o s   j u s t i f i c a d o s

( ) evangelho é o poder de Deus para a salvação porque nele se revela a justiça de Deus.

Salvação é a forma que a justiça de Deus assume.1É isso que aprendemos também em Romanos 5-17 e 3-22.

 A justiça de Deus é a iniciativa que Deus tomou na cruz, onde Jesus,o Justo, morreu por nós, os injustos, para nos justificar, concedendo-nosuma justiça que não nos pertence, mas que vem do próprio Deus. E o perdão de uma dívida deliberadamente contraída. É o esquecimento de umapena por um crime efetivamente cometido.

O poder de Deus salva todo aquele que crê. Salvação é restauração dacomunhão e da saúde perdidas na queda.

O poder de Deus justifica todo aquele que crê. Logo, o poder de Deusexige uma resposta: a fé. A fé não pressupõe qualquer condição de naturezasocial, econômica, psicológica, intelectual. É para todos. É para quem temuma vida correta, por meio da atenção às leis de Deus, como do homemque procurou a Jesus, mas não foi salvo; embora cumprisse todos os mandamentos fielmente, ele não amava a Deus porque não quis distribuir seusbens entre os pobres. É para quem tem uma vida dissoluta, como o filho daparábola, que torrou sua herança em restaurantes e boates, mas que voltoue fui recebido e salvo.

'I .(. | KNSKN, Peter. The Good News of Gods Wrath. Disponível em <http:/ / www.chns ii.inirytoday.eom/ ct/ 2004/ 003/ 5.45.html>. Acessado em 28/ 7/ 201 1.'P I IT .K,  John. Sn.st.iined by Ali His Grace. Disponível em chtrp:/ / www.tle.sirii «1 ,oi i•/ rcsotirce !ibr;iry/ scrm<ms/ sust;iined-by-all-bis-grace>. Acessado em 5/ 1/ 201 I

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Somos chamados a responder com a fé e a viver pela fé, na verdade, defé em fé, que significa somente pela fé e por mais nada.

 A palavra fé aparece 33 vezes na epístola aos Romanos e 129 nos 87capítulos das treze cartas de Paulo.

Tem fé quem reconhece que precisa de Deus, que tomou a iniciativa denos redimir. É por isso que nossa fé é resposta ao amor de Deus. Essa era anossa condição (Cl 2.12-15).

Por isso, temos certeza de que

Só o poder de Deus pode mudar teu ser.

 A prova que eu te dou é que mudou o meu.Não vês que sou feliz, servindo ao Senhor.Nova criatura sou, nova sou.

 Letra: Pastor José dos Reis Pereira  Música: leda Cardoso de Oliveira

En t ã o , ...

 A palavra “maravilhosa”, de tão repetida, perdeu seu significado. Indica

algo admirável, único.Quanto à graça, a palavra aparece 38 vezes no Antigo Testamento e 128

no Novo Testamento.Na cultura religiosa brasileira, é usada (no singular e no plural) para de

signar bênção ou bênçãos específicas de Deus. A graça, no entanto, é única,exclusiva, não pode ser repetida, por isso é maravilhosa.

Graçacharis é o poder da salvação. Além disso, “graça é poder para a vidacristã. Graça é o poder que toma posse do que Deus é para nós em Jesus.

Graça é o poder de amar quem Deus ama. Graça é o poder de orar por todosos propósitos de Deus. Graça é o poder meditar em toda a Palavra de Deus”.1’

• • •

O que fazemos com tal graça?Devemos responder com fé, que...... é a crença na ação de Deus em nosso favor por meio de Jesus.

'IMPKR, John. Sustained by Ali His Grace. Disponível em <http://www.dcsiriiiggod.org/ resource-lihrary/sermons/sustained-hy-all-liis-graco. Acessado em5/ I/ .2.01i.

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GRA ÇA , MA RA V I LHOSA GRA ÇA  

... é a confiança em que Deus ainda age em nosso favor.

... é gloriarmo-nos (firmarmo-nos) na “esperança da glória de Deus”.

... é aceitar o sacrifício perdoador de Jesus na cruz.

Graça é iniciativa divina. Fé é resposta humana.Devemos viver pela graça e com graça.E nós o fazemos quando proclamamos a graça, deixamo-nos acompa

nhar pela graça, refletimos a graça e distribuímos a graça (chega de lei!chega de sisudez!).

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5 Romanos 7.7-25

 A luta

 A hipocrisia é como infecção hospitalar que 'pega alguém que foi fazer  um examede sangue, e sai do hospital carregando Aids.1

Nós sempre nos surpreendemos com a capacidade humana de fazer o

mal.Nós, às vezes, nos surpreendemos com o fato de fazermos aquilo que

não queríamos. Temos princípios e nos vemos, por vezes, quebrando essesprincípios.

 Ah, que bom: não estamos sozinhos. Temos a companhia do apóstolo Paulo, num texto dramático em que se autodenomina “homemmiserável”.

 Antes, no entanto, de íazer a leitura, preciso fazer uma distinção.

Paulo usa a palavra “lei” em senridos diferentes, e precisamos romarmuito cuidado para não trocar o que ele não trocou.

Para nós, lei é um conjunto de regras impostas à sociedade por outraspessoas, membros desta sociedade. No âmbito de uma nação, os códigosreúnem essas leis, como a Constituição Brasileira e o Código Civil Brasileiro, enrre outros,

'('AlO FÁBIO. Hipocrisia, o que é. Disponível em <http:/ / www.ionuinidadecaio!,il>ii>. <.<>»!»/?{> 1506>. Acessado em 20/7/ 201 1,

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 A LUT A 

Para Paulo, há esse sentido legal, má há dois sentidos ainda. Lei é o

conjunto de regras oferecidas ao povo de Israel por meio de Moisés. Lei é

também o conjunto de mandamentos de Deus, transcritos no Antigo e noNovo Testamentos. Devemos viver segundo os preceitos dessa Lei.

Que diremos então? A Lei é pecado? De maneira nenhuma! De jato, eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da Lei. Pois, na realidade, eu não 

saberia o que é cobiça, se a Lei não dissesse: “Não cobiçanís ”. Mas o pecado, 

aproveitando a oportunidade dada pelo mandamento, produziu em mim 

todo tipo de desejo cobiçoso. Pois, sem a Lei, o pecado está morto. Antes eu vivia sem a Lei, mas quando o mandamento veio, o pecado reviveu, e eu morri. Descobri que o próprio mandamento, destinado a produzir vida, na 

verdade produziu morte. Pois o pecado, aproveitando a oportunidade dada 

pelo mandamento, enganou-me e por meio do mandamento me matou. De fato a Lei é santa, e o mandamento é santo, justo e bom. E então,

0 que é bom se tornou em morte para mim? De maneira nenhuma! Mas, 

para que o pecado se mostrasse como pecado, ele produziu morte em mim 

por meio do que era bom, de modo que por meio do mandamento ele se mostrasse extremamente pecaminoso.

Sabemos qiíe a Lei é espiritual; eu, contudo, não o sou, pois fui vendido 

como escravo ao pecado. Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, 

mas o que odeio. E, se faço o que não desejo, adrnito que a Lei é boa. Neste caso, não sou mais eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Sei 

 f/i/enada de bom habita cm mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o 

desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não e o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazen

do. ()ra, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim.

 Assim, encontro esta lei que atua em mim: Quando quero fazer o bem, o 

nud está junto a mim. No íntimo do meu ser tenho prazer na Lei de Deus; nt.is vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, guerreando contra 

,/ lei dtt minha meu te, tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua

<m meus membros. Miserável homem que eu sou! Quem me libertará do1mpo sujeito a esta morte:' (l raças a l )eus por fesus ( risto, nosso Senhor! I  V 

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

modo que, com a mente, eu próprio sou escravo da Lei de Deus; mas, com 

a carne, [sou escravo] da lei do pecado. Romanos7.7-25

Quando lemos esse texto, ficamos logo impressionados e até mesmoconfusos.

O retrato traçado não nos é muito favorável. Não estamos sozinhos.Estamos na companhia do apóstolo Paulo. Essa companhia nos consola: ohomem que foi levado até o terceiro céu tinha as mesmas dificuldades que

cada um de nós.Quero tomar esse texto para mostrar que ele, com o testemunho dei

xado pelo autor, desmente afirmações internas e externas ao cristianismo.

M e n t i r a s e x t e r n a s

Há três mentiras externas que o texto bíblico nega. Enquanto não as negamos, elas vão sendo apresentadas como verdadeiras, logo, nossas inimigas.

1. O pecado precede o mandamentoEssa parece ser uma mentira ingênua, como se fosse apenas uma constatação. Há um pressuposto aqui: se o pecado precede o mandamento, omandamento é uma ordenação para reprimir e, logo, deve ser repudiado.O pecado é visto como o estado natural e só é pecado porque o mandamento diz que é pecado. Então, o problema não está no pecado, mas nomandamento.

Lendo o texto bíblico, desde o Gênesis e também em Romanos, fica cla

ro que o pecado é rebeldia contra o mandamento. O mandamento é bom.O pecado é ruim. A pergunta é: o que surgiu primeiro, o mandamento ouo pecado? O mandamento — destinado a produzir vida (versículo 10) —,eis a resposta. Deus disse ao homem que não comesse da árvore do bem edo mal antes de o homem comer da árvore do bem e do mal. Até então oprimeiro casal náo tinha ainda pecado.

 Assim, não há pecado sem mandamento. Está morto o pecado, se não

há mandamento.

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 A LUTA 

2. Não há mandamento válido0 grande esforço humano é negar que haja um mandamento válido para(odos. Não havendo mandamento, também não haverá pecado.

O que se diz é que cada cultura tem os próprios mandamentos, que não

são universais.Para algumas pessoas, os mandamentos são invenções humanas, atribu

ídas a Deus, para aterrorizar pessoas com a intenção de controlá-las.Há até uma música popular brasileira, meio antiga, mas ainda cantada,

que ensina que “não existe pecado do lado de baixo do Equador’’ (Chico

Buarquc/ Ruy Guerra, 1972-1973).Para outros, cada pessoa sabe o que é melhor para si mesma.

 Ao contrário, o que a Bíblia afirma e a experiência demonstra é que a  J i‘i é santa, e o mandamento é santo, justo e bom (versículo 12).

 A lei é boa, mas é insuficiente para levar à salvação.

.1. () homem é capaz de produzir seu próprio bem<'.14Ia vez mais, mesmo contra as evidências, temos ouvido que o ser hu-

iii.nio é bom. O que falta é cada um liberar o que há de bom dentro de si.( >que falta ao ser humano é encontrar o seu verdadeiro eu, que é honestor generoso.

Por isso, é chocante o que lemos no versículo 18: Sei que nada de bom ludnia em mim, isto é, em minha carne.

( ) 1 1  istão pode perguntar: “como pode ser assim, se já fui redimido na1 iii/:  Paulo mesmo responde: na minha carne, na minha natureza, não

Im ii.ida de honi. Isso não quer dizer que uma pessoa que não confessou ahmi*, i oino Senhor não possa produzir algo bom; pode.

Na verdade, nós fomos vendidos como escravos ao pecado.|o!m I )onne, num belo poema de 1633, refere-se a si mesmo como

’1 1 iim.ii.ido paia casar” com o inimigo de Deus, razão por que pede di- VlMi l*t

I N tf It I I , | ■>1111 I l o l y S o n n e t M . Disponível cm <http:/ / www.luminarium.org/ sc . \ 11111 /■|t mi iii /*.<íhnct I i php ■. Acessado em 28/ 7/ 201 I .

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 3

M e n t i r a s  i n t e r n a s

Em muitas situações, as mentiras internas são mais perigosas. Eis algumasdelas.

1. Somos joguetes nas mãos do bem e do malFala-se muito em batalha espiritual, na qual somos apenas mariscos, comona luta entre o mar e o rochedo,

O que a Bíblia ensina é que a batalha espiritual nas regiões celestes já foitravada e já foi vencida por Deus. Não uma batalha entre dois princípios,

como ensina o dualismo; só há um Deus criador; o resto é criatura. Deustem adversário, mas adversário criado, que não onipotente, nem onipresente, nem soberano.

 A batalha difícil, ainda não vencida, é a que se trava no nosso coração.Essa ainda está em curso. É a batalha pela posse do território do nosso coração, incluídos aí os desejos. E a tal batalha que o apóstolo Paulo se referequando fala de um bem que deseja fazer, mas não consegue.

Dentro de cada um de nós há o pecado residente e o Espírito residente.

Quem delimita o seu espaço somos nós. O pecado residente quer ampliaro seu território. O Espírito Santo residente está à espera para tomar o nossocoração. Essa é a escolha que temos que fazer.

Não é verdade que nosso espírito seja bom, e o corpo, mau. Tudo nasceno coração.

2. Não temos culpa do pecado, já queé da nossa natureza pecar Quando alguns leem esse texto tendem a cair numa atitude escapista. Se éda natureza humana pecar, por que nos esforçar para não pecar, se não oconseguiremos?

 Vejo jovens nesse caminho, mesmo que sem o saber. Abandonam-se aopecado porque desistiram de lutar contra ele. E como se fosse uma forçainvencível.

É natural pecar; é espiritual não desejar pecar.Essa deve ser a nossa luta.

 Assim, por exemplo, uma pessoa que rouba não deve dizer “eu sou umladrão”, mas “alguém que tem desejos de roubar .

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 A I.UTA 

Uma pessoa que vive na homossexualidade não deve dizer “eu sou umhomossexual”, mas “alguém com desejos homossexuais”.

Uma pessoa que vive se divertindo em falar da vida alheia não devedizer “eu sou um maledicente”, mas “uma pessoa que tem desejos de ma

ledicência”,Uma pessoa que só pensa em si não deve dizer “eu sou em egoísta”, mas

“alguém que tem desejos egoístas”.Nosso compromisso é espiritual, não natural ou carnal, como diz o

apóstolo.

Em outro texto (ICo 6.9-14), ele diz: Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o 

 Reino de Deus. Assim foram alguns de vocês. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus. “Tudo me é permitido  [como dizem alguns], mas nem tudo 

convém.  “Tudo me é permitido” mas eu não deixarei que nada me domine. 

"Os alimentos foram feitos para o estômago e o estômago para os alimentos ”,|i nino dizem outros], mas Deus destruirá ambos. O corpo, porém, não épara 

,i imoralidade, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo. Por seu poder ; Deus ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitará (ICo 6.9-14).

Quando ignoramos essa verdade, podemos cair na hipocrisia.

I lipocrisia é a discrepância entre o desejo e a prática da virtude. A hipocrisia pode ser sincera, quando o coração da pessoa mostra o

desejo pela virtude que não consegue vivenciar. A hipocrisia pode ser desonesta, quando a pessoa propõe a virtude para

* uuder a sua devassidão.

 A hipocrisia pode ser doentia, quando a pessoa convive com a virtudehuni.i área de sua vida e com a devassidão em outra área.

I existe a hipocrisia da hipocrisia. É aquela vivida por pessoas que se. 1 1 vem da hipocrisia do outro para justificar o seu pecado. Trata-se de umahíptti nsi.t porque o seu pecado nasce, na verdade, do seu desejo de pecar,

n In do <ompoilamento hipócrita do outro.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

3. Podemos náo pecar Há outra mentira pregada por cristãos: os que já recebemos Jesus comoSalvador podemos náo pecar.

Essa é uma teoria vazia, sem base bíblica e sem base na experiência, Oúnico que efetivamente não pecou foi Jesus. Paulo pecou. Pedro pecou. Todos pecamos. Somos como escorpiões atravessando o rio de carona, comona conhecida história inventada. Para atravessar um lago, o escorpião pedeà tartaruga que o leve para o outro lado. Depois de alguma relutância, atartaruga concedeu. Perto do fim da travessia, o escorpião picou a tartaruga, que lhe perguntou por que. A resposta foi:

—- É da minha natureza.O que precisamos é conhecer o nosso pecado. Devemos ficar tristes

quando descobrimos que não ficamos tristes com os nossos pecados. Sóassumindo a tristeza pelo nosso pecado, podemos experimentar a alegriado perdão.

 A tensão do pecado se aplica a cristãos e não-cristãos, embora em graudiferente.

No cristão, há uma consciência maior do pecado (ou deveria haver),mas se há esse peso, há o recurso do Espírito Santo, a partir da convicçãode que nossos pecados podem ser perdoados. A culpa dura até a confissão.

O crente verdadeiro é aquele que confessa seus pecados.• • •

Não adianta querer ser bom. Só pelo sangue santificador de Jesus Cristo você pode vencer o pecado. Vigie o senhor de escravos (Satanás, que precisa levar você a pecar) que vigia sua vida.

Não precisa se desesperar. O resgate foi providenciado. Há um EspíritoSanto residente em você. É daí que vem o seu descanso.

Não adianta pensar que você é bom porque o sangue de Jesus já o perdoou. A batalha pelo senhorio do seu coração continua. O Espírito Santoescreve a lei de Deus em nossos corações. Deixe-o fazer isso em você.

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 A cruz manda lembranças E muitíssimo mais fácil sofrer na obediência a alguma ordem humana do que sofrer na liberdade de uma ação responsável,

 E muitíssimo mais fácil sofrer em comunidade do que na solidão.  E muitíssimo mais fácil sofrer em público e sob honras do que às escondidas e em desonra. E muitíssimo mais fácil sofrer pelo sacrifício da vida material do que pelo espírito. Cristo sofreu na 

solidão, isolado e em vergonha na carne como no espírito, e desde então muitos cristãos sofrem com ele o mesmo.1

( lomecemos por uma correspondência imaginária:“Eu sou crente, mas tenho muitas dúvidas. A principal delas é quanto

ao meu perdão. EU SEI que Jesus Cristo me perdoou, mas EU NÃO MESI N I ( ) perdoado, embora todos os dias eu peça perdão a Deus”.Muitos crentes se deixam atordoar por essa dúvida (que, em alguns, é

mi.iis urna certeza de que não foram perdoados). No fundo, a teologia donin im (1)eus salva quem é bom) anula a teologia da graça (Deus salva por«.nis.i d.i bondade dele, não por causa da nossa bondade).

*|U >NI K )l' ITT.R, l)ictrieli. Dez anos depois. 1disponível em <ht[p:/ / www.stK  ied.idelxillltiifllci *n]■, 1>iAlt-/ .mós depois.I itni Aeessatlo em 20/ 7/ 201 I.

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PASTOUlíADOS POR PAULO — VOL. 1

Então, encontramo-nos com esse verdadeiro hino do apóstolo Paulo

sobre o poder da cruz em nossa vida.Devíamos gravar esses versículos numa placa para nos deixarmos transformar por suas verdades a cada dia.

Como é maravilhoso ler que:

 Portanto, agora jd não hã condenação para os que estão em Cristo Jesus (versículo 1). Estamos em dívida, não para com a carne, para vivermos sujeitos a ela (versículo 12). Quemvive de acordo com o Espírito, tem a mente voltada 

para o que o Espírito deseja (versículo 5), porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus (versículo 14). O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus (versículo 16).

Le m b r a n ç a s  pe r ma n e n t e me n t e  n e c e s s á r i a s

Paulo nos deixa algumas verdades, espalhadas a partir da cruz, para qüedelas nos lembremos.

1. Precisamos nos lembrar de que não há nenhuma condenação contra nós

Um homem que aguarda o alvará de soltura só pensa nesse assunto todosos minutos do dia. No entanto, enquanto continuar condenado, náo sairáda prisão.

Em Cristo, não estamos mais condenados. Nosso alvará de soltura foiassinado e expedido. Podemos estar seguros disso. Toda a redenção foi paranos dar essa certeza. É nesse sentido que somos herdeiros com Cristo, e ele

não perderá a sua parte na herança celeste, nem nós.Não temos mais dívida com a lei. Nossa ficha está limpa.

 Você está em dúvida de que é filho de Deus? O Espírito Santo está dizendo que você o é.

Cante essa verdade.

2. Precisamos nos lembrar de que a vida no Espírito é uma possibilidade concreta

I is uma situação real, vivida por tantos de nós:

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 A CRUZ MANDA LEMBRANi, A 

Uma pessoa, crente, que no trabalho tinha um grupo sob o seu comando, se viu minada pelos colegas. Acabou perdendo o emprego. Um dia, elase abriu e disse:

— Você sabe onde eu trabalho. O que aconteceu comigo foi “coisa decrente”.

Chocante.É chocante que crentes se deixem levar pela mentalidade da carne.

 Ao contrário, precisamos mortificar (matar) essa mentalidade carnal.Não podemos nos deixar submeter.

Mortificação não é masoquismo (prazer em sofrer) nem ascetismo (negação do desejo). E reconhecer o mal e repudiá-lo (desejar matá-lo).Santificar-se é fazer morrer os atos da carne, o que permite uma abertu

ra para uma vída plena.Quem habita em nós? O Espírito daquele que ressuscitou Jesus?

3. Precisamos lembrar que nossa dívida é viver uma vida dignaHá alguns anos o diretor do IBAMA no Mato Grosso, órgão encarregado

de preservar o meio ambiente, foi preso e algemado, acusado de desmatarcom uma quadrilha parte da floresta amazônica. A carga foi levada pormais de 60 mil caminhões.

 A natureza aguardava que aquele alto funcionário cuidasse dela, não quea destruísse. A humanidade também aguarda que os cristãos cuidem dela.

Nossa dívida é com o Espírito Santo, porque ele nos convida a uma vidadigna, cujo resultado é plenitude.

Temos vidas miseráveis quando erramos o foco.

Erramos quando pomos o foco na DÚVIDA acerca de nossa libertação.Esquecidos de quesomos herdeiros; herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo (versículo 17). Não permitamos que espíritos deste século nos escravizem,estabelecendo novas dívidas, que já foram pagas.

Erramos quando pomos o foco no SOFRIMENTO que experimentamos. Não podemos nos esquecer de que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada (versículo 18).

Erramos quando pomos o foco em NÓS MESMOS. Devemos sempre

nos lembrar de que a natureza criada aguarda, com grande expectativa. <]ui

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

os filhos de Deus sejam revelados (versículo 19). Precisamos viver em bondade, integridade e santidade. Somos bondosos quando tomamos a iniciativa

de praticar atos de misericórdia. Somos íntegros quando, como cristãos,parecemos ser aquilo que realmente somos. Somos santos quando mortifi-camos a carne, com os seus desejos.

N o s sa s  a t i t u d e s

Três atitudes devem decorrer de nossa vida fitada na cruz de Jesus Cristo.

1. Celebremos a libertação

Mesmo em meio ao sofrimento, que não pode ser olhado como se fosse aúnica realidade da vida, celebremos que não estamos mais sob condenação.

 Você absolutiza o sofrimento, colocando-o acima da esperança? Lembrede tudo o que Deus já lhe fez, além do perdão plenário na cruz.

 Você está idolatrando a circunstância? Lembre de situações pelas quaispassou e em que Deus o livrou. Use a memória a seu favor, não contra você.Permita que a memória seja um instrumento de graça (não um chicote)para você.

2. Deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo, não pelos espíritos de nossa época, não pelo nosso jeito de ser e pensar 

Não há vida cristã transbordante, de onde fluem rios de água viva, semo Espírito Santo. Apesar disso, há cristãos tentando viver sem o EspíritoSanto; o resultado é uma vida vazia, fria e sem fruto algum.

Não precisamos mais de Pedro e João para recebermos o Espírito. Já orecebemos! O Espírito Santo já chegou, e não podemos ignorá-lo. O Es

pírito Santo já veio, e podemos pedir a ele que nos renove. A promessa deque o Espírito Santo viria foi cumprida, dando-nos agora o fluir de rios deágua viva do nosso interior.

 A pergunta agora precisa ser a seguinte: Quem está conduzindo você nasolução do seu (possível) problema no casamento? Deixemos o EspíritoSanto viver a nossa vida para que vivamos plenamente.

Quem está conduzindo você numa decisão no trabalho, em que lhe pedem para mentir para “salvar” a empresa? Deixemos que o Espírito Santo

nos oriente na tomada de decisões.

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 A CRUZ MANDA LEMBRA NÇA S

Ligamos a televisão e encontramos conselhos em todas as telas. Quemsão os conselheiros? Há corruptos falando de ética. Há pessoas no quarto

casamento orientando sobre a vida conjugal. Há economistas endividadosensinando finanças.

 Vamos ouvir essa gente?

3. Publiquemos a mensagem de JesusSerá que nós cremos que essa mensagem tem a ver com a vida toda?

No caso dos grandes centros urbanos, cremos, por exemplo, que, se to

dos confessassem a Jesus como Salvador, o tráfico de drogas, com todas assuas conseqüências, seria zerado? Se cremos, por que não pregamos?Precisamos voltar ao começo deste estudo:

 Agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus (versículo 1).Cremos nesse versículo e vivemos na plenitude da liberdade?

 Estamos em dívida, não para com a carne, para vivermos sujeitos a ela (ver-sículo 12). Somos devedores a Cristo ou devedores à carne? Dependemosdo Espírito ou dependemos da carne?

Quem vive de acordo com o Espírito, tem a mente voltada para o que o  Espírito deseja (versículo 5). Vivemos de acordo com o Espírito Santo? Ou

confiamos em nós mesmos, em nossa inteligência, em nossa força?Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus (versículo

14). Que condição pesada: somos filhos de Deus quando somos guiadospor Deus. Nossa filiação não é apenas uma carteira de identidade; é umadisposição de vida.

O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus 

(versículo 16). Não há lugar para a dúvida. Quem nos diz que somos filhosde Deus é o próprio Espírito Santo, que lança fora toda a dívida de condenação e toda a dúvida sobre nossa libertada condição.

• • •

Inspire-nos a letra da seguinte canção:

Eu quero ter a mente de Cristo

Para então saber quem eu sou:

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

 Amado profundamente por Deus,Logo, livre para andar como Jesus andou.

Quero pensar as coisas que vêm do altoPorque fui feito para alvos perenesMas não deixarei os gestos pequenosSe não tiver a mente de Cristo.Quero manter sadios relacionamentosExalando o perfume da graçaMas não amarei os que são diferentes

Se não tiver a mente de Cristo. (Israel Belo de Azevedo)

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7 Romanos 8 .24 -28

Não sabemos mesmo orar 

Como devemos agir diante de nossos problemas? Devemos aprender a 

conviver com eles até que Deus nos livre deles. Devemos orar por graça 

para resistir sem murmurar. Problemas pacientemente suportados 

atuarão para nosso aperfeiçoamento espiritual. Eles nos fazem mal 

somente quando os enfrentamos de má vontade.1

O apóstolo Paulo escreveuque nós (e isso certamente o incluía) não sabe

mos orar como devemos. Lamentou ele: não sabemos o que havemos de pedir  

como convém (Rm 8.26, ARC). Não fosse o todo do texto, deveríamos ficar

desesperados.

Leiamos o texto:

 Pois nessa esperança fomos salvos. Mas, esperança que se vê não é esperança. 

Quem espera por aquilo que está vendo? Mas se esperamos o que ainda não 

vemos, aguardamo-lo pacientemente.

 Da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não 

sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos 

inexprimíveis. E aquele que sonda os corações conhece a intenção do Espí-

'A.W. TO/ r.R. Disponível em <hup,./ / christian-quotes.ochristian.com>

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rito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de  Deus.

Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito.

Não sabemos orar?Exatamente. Não sabemos orar.Não sabemos orar quando pedimos para nossos próprios deleites. Paulo

é sutil, mas Tiago é direto: não sabemos orar quando pedimos por motivoserrados, para gastar em prazeres (Tg 4.3). Mas como não orar para satisfa

ções próprias, se é nisso que pensamos o dia todo, desde o ventre materno?Só tem um jeito, precisamos aprender a orar.

Não estamos sozinhos em nossa dificuldade. Os discípulos não sabiamorar e pediram a Jesus que lhes ensinasse. Ainda precisamos fazer o mesmopedido preliminar (Lc 11.1). Mas enquanto aprendemos, oremos, porquea oração é a escola da vida. Orar é um jeito de viver. Quem sabe orar sabe viver. Quer aprender a viver? Aprenda a orar.

Precisamos aprender a orar e esperar. Essa é a ordem. Oramos pelo

que não vemos e com paciência aguardamos o que ainda não vemos (Rm8.26). Sabemos que o tempo de nossa vida está no ínterim entre a promessa (“já”) e sua realização (“ainda não”). Em nosso pecado (continuamos pecadores, mesmo depois de alcançados pela graça), não queremossaber de ínterim; Deus tinha que ser uma máquina de refrigerantes: apertou (pediu “em nome de Jesus”), recebeu. Quando se chega diante deuma máquina, é preciso aprender onde colocar o dinheiro, onde apertare onde pegar o produto. É fácil para quem sabe, É difícil para quem ainda

não sabe.Orar é difícil para nós todos. Estamos aprendendo. Orando e apren

dendo.Poderíamos pensar que aprender a orar é aprender a se comunicar com

a máquina que obedece ao nosso comando. Que palavras usamos? Quala postura do corpo? Isso serve para máquinas; para Deus, as coisas nãofuncionam assim. Aprender a orar é aprender a obedecer ao comando deI )eus, com quem está o controle.

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NÂO SABEMOS MESMO ORAR 

1. Aprender a orar é aprender a confessar a nossa dificuldade em orar,

em esperar e saber do que realmente precisamos. (E ainda bem que Deusfaz mais do que pedimos ou pensamos — Efésios 3-20.)

2. Aprender a orar é aprender a esperar, esperar Deus agir. Jesus disse

que nenhum de nós pode acrescentar um côvado à nossa estatura (AlmeidaRevisada) ou uma hora à nossa vida (Quem de vocês, por mais que se preo

cupe.,pode acrescentar uma hora que seja à sua vida?— Mateus 6.27 [Nova

 Versão Internacional]). Jesus lança mão de uma ironia (ao dizer que nãotemos poder para mudar realidades aparentemente simples) para mostrar

quão ridícula é a nossa ansiedade. (E nós sabemos que somos ridículosquando ansiosos. Sabemos, mas continuamos ansiosos.) Que faz uma pes

soa ansiosa? Exige. Que faz uma pessoa de fé? Espera. Com nossos amigos,a coisa tem que ser do nosso jeito. E não é que fazemos o mesmo com

Deus, querendo que ele faça as coisas do nosso jeito?3. Aprender a orar é aprender a confiar que a nossa oração ao Pai conta

com a intercessão de Jesus Cristo e com a interpretação do Espírito Santo. A oração, portanto, é nunca uma fórmula e sempre um mistério, uma vez

que envolve quatro pessoas: o Pai, o Filho, o Espírito Santo e aquele/ aquelaque ora. O Espírito Santo ora em nosso lugar, quando nossas palavras sãoinadequadas.

4. Aprender a orar é aprender a ver a glória de Deus ser revelada (Rm

8.18), quando ele faz convergir todas as coisas (mesmo as mínimas) para onosso bem, para o nosso real bem, não para aquilo que imaginamos ser o

nosso bem. Na verdade, nós não sabemos orar porque não sabemos o que

é bom para nós. Nem sequer valorizamos as incontáveis vitórias pequenas,que, de tão discretas, ficam esquecidas, mas é com elas que Deus vai tecendo a história dele com a nossa.

5. Aprender a orar é aprender a continuar orando, mesmo que aparen-

temente nada esteja acontecendo; mesmo que a nossa fé esteja diminuindo; mesmo que Deus nos soe ausente. Quanto mais Deus parece ausente

(tomo num deserto), mais ele está presente.

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8 Romanos 8 .28-39

Que diremos, pois?

Umhomem pode estar tão convicto de sua predestinação que se esquece de sua conduta.1

Romanos 8é um dos mais extraordinários capítulos do Novo Testamen

to. É para todo cristão saber de cor.No versículo 31, Paulo pergunta:

Quediremos, pois, diante dessas coisas? SeDeus épor nós, quem serã contra nós?

No entanto, o apóstolo Paulo faz essa pergunta sete vezes nesta epístola

(Rm 3.5, 4.1, 6.1, 7.7, 8.31, 9.14, 9.30).O capítulo 8 é o clímax do livro. Sabemos que Deus age em todas as

coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acor

do com o seu propósito.

 E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.

'ADAMS, Ihomas. A puritan golden treasury. Disponível em <http:/ / christian-quotes. ochristian.com>

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 Porque os que dantes conheceu ta?nbém os predestinou para serem con 

 formes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito eníre 

muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que 

chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glori- 

 ficou. Que diremos, pois, a estas coisas? SeDeus épor nós, quem será contra 

nós? Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou 

por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? Quem 

intentará acusação contra os escolhidos de Deus? E Deus quem os justifica. 

Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou 

dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? A tributação, ou a angústia, ou a 

perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está 

escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados 

como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do 

que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem. 

a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, 

nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em 

Cristo Jesus nosso Senhor.

Romanos 8:28-39

Io d a s a s  c o i sa s

Que diremos diante da verdade segundo a qual todas as coisas concorrempara o bem daqueles que amam a Deus?

Diremos que amamos a Deus e confiamos que ele fará que todos oslatos de nossa vida concorram para o nosso bem. Afinal, ele nos deu Jesus

( aisto para nos salvar.lista é a nossa certeza, derivada da promessa bíblica: que todas as coisas

cia nossa vida, tanto as duras quanto as felizes, serão transformadas em ser vas de nosso bem, como ocorreu com José, que disse aos seus irmãos, que

o tinham vendido como escravo: não foram vocês que me mandaram para 

cá, mas sim o próprio Deus (Gn 45.8).Todas as coisas cooperam para fazer com que nosso coração, despertado

pelo Espírito Santo, alcance mais da graça, da glória e da presença de Deus.

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PASTOREADOS POR PAUJ.O — VOL. 1

Pr e d e s t i n a d o s

Que diremos diante da verdade do amor de Deus, que nos conhece desde a

eternidade, nos predestina para sermos conformes à imagem de Jesus Cristo,nos chama, nos justifica e nos glorifica, que é a ordem como Deus vê as coisas?Ou nos conhece, nos chama, nos justifica, nos glorifica e nos predestina parasermos conformes à imagem de Jesus Cristo, queéa ordem na história humana?

O ensino de Paulo sobre a escolha (eleição, predestinação) dos salvostem suscitado muitas discussões.

Opõem-se duas visões: a da predestinação, segundo a qual Deus soberanamente escolhe quem será e quem não será salvo, e a do livre-arbítrio,segundo a qual o homem escolhe ser salvo ou perder-se.

Romanos 8.29-30 estabelece uma clara seqüência (Deus conhece, predestina, chama, justifica e glorifica).

Francisco Leonardo Schalkwijk oferece uma conciliação para as duasperspectivas (Deus é soberano, mas o homem é livre) que aparecem aolongo da Bíblia,2Para ele, o apóstolo, devido a tanta intimidade com Deus,apresenta a seqüência da salvação como Deus vê.

Na ORDEM DIVINA DA SALVAÇÃO, Deus nos conhece, nos predestina para sermos conformes à imagem de Jesus Cristo, nos chama, nos

 justifica e nos glorifica.Na ORDEM HUMANA DA SALVAÇÃO, a que nós observamos,

Deus nos conhece, nos chama, nos justifica, nos glorifica e nos predestinapara sermos conformes à imagem de Jesus Cristo.

O r d e m d i v i n a  k a  sal mação O r d e m h u m a n a  d a .sa l vação

Deus nos conhece

Deus nos predestina parasermos conformes à imagem

de Jesus CristoDeus nos chamaDeus nos justificaDeus nos glorifica

Deus nos conhece

Deus nos chamaDeus nos justifica

Deus nos glorificaDeus nos predestina parasermos conformes à imagemde Jesus Cristo

’S<'I IALKWIJK, Francisco Leonardo. Confissão de um peregrino: para entender a elei- (,.!(>r o livre-arbítrio. Viçosa: Ultimato, 2002.

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QUi ; i >i r l ! m< >s, i ' i 1r . '

Nós vemos por partes. Deus vê todas as partes de uma vez. Para nos, .1

predestinação está no final, quando somos selados para a vida eterna. Pata

Deus, que vê todo o processo, a predestinação está no começo.Que essa perspectiva das duas ordens da salvação nos ajude a não nos per

dermos em discussões que se tornam estéreis por si mesmas.

 AS ORD ENS DA SALVAÇÃO

Diremos que amamos a Deus, porque o nosso amor é a resposta ao seuamor. Ele nos amou primeiro (ljo 4.19) e amou a todo o mundo (Jo 3.16).No entanto, os beneficiários dessa promessa são as pessoas que amam a Deus.

O primeiro e grande mandamento é que amemos a Deus (Dt 30.6), sabendoque o que ele nos preparou vai além do que podemos ver, ouvir e imaginar(lCo 9.2).  Deus é poderoso para fazer que lhes seja acrescentada toda a graça, para que em todas as coisas, em todo 0  tempo, tendo tudo 0  que é necessário, vocês transbordem, em toda boa obra  (2Co 9.8). A quele que é capaz de fazer  infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, de acordo com o seu poder que atua em nós (Ef 3.20). Por essa causa também sofro, mas não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou bem certo de que ele époderoso para guardar o que lhe confiei até aquele dia (2Tm 1.12). Deus époderoso para impedi-los de cair e para apresentá-los diante da sua glória sem mácula e com grande alegria (Jd 24).

Será que Deus só ama a quem o ama?Sim: o amor salvador é para aqueles que o desejam.

In s e p a r á v e i s

Que diremos diante da verdade de que nem uma acusação, condenação ouexecução nos separa do amor de Cristo?Continuaremos afirmando que, uma vez que Deus é por nós, ninguém

triunfará no seu intento contra nós, pois nada, nem mesmo a morte, nospode privar do amor de Deus.

Diremos diante da acusação: uma vez que Deus é por nós, quem nosacusará? Então ouvi uma forte voz dos céus que dizia: “A gora veio a salvação,o poder e o Reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo, pois foi lançado 

 fora o acusador dos nossos irmãos, que os acusa diante do nosso Deus, dia e noite'' (Ap 12.10).

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Diante da condenação: uma vez que Deus é por nós, quem nos condenará? Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus 

(Rm 8.1). Seo nosso coração nos acusar, certamente, Deus é maior do que o nosso coração e conhece todas as coisas (ljo 3.20, ARA).

Diante da execução: uma vez que Deus é por nós, quem nos separará doamor de Cristo?

Também oraremos para que a nossa visão acerca do que Deus faz não fique restrita ao curto prazo de nossos desejos, mas na justa distância de nossasnecessidades. Afinal, Deus trabalha para satisfazer nossas necessidades, nãonossos desejos.

M a is q u e   v e n c e d o r e s

Que diremos diante da verdade de que Jesus nos torna mais que vencedores?Diremos que desejamos ser tornados iguais a Cristo, que experimentou a

fraqueza (da cruz) para ter o poder (da ressurreição).Para alcançar a beleza, o triunfo e a glória de Romanos 8, sabemos que

precisamos experimentar a luta e as dores dos capítulos 6 e 7. Não queremoso Pentecoste antes do Calvário, porque sabemos que a plenitude do Espírito

só é possível após termos experimentado a morte de cruz. Nossos sofrimentos devem ser vistos como prova de nossa união com Cristo, e não comomotivo para duvidarmos do seu amor.

 A esperança do crente não é que escapará da angústia, do perigo, da fome ouda morte; Deus não promete que o sofrimento não vai nos afligir, mas que não vainos separar do amor de Cristo. A promessa é que o Todo-poderoso fará com quecada uma dessas agonias se torne em instrumento de sua misericórdia para conosco. Nossa esperança está firmada no amor de Deus, sob quem está toda a criação.

Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis tributações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.

 João 16.33

 Eu vos escrevi, meninos, porque conheceis o Pai. Eu vos escrevi, pais, porque conheceis aquele que é desde o princípio. Eu escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e já veneestes o Maligno.

1 J o ã o 2 . 1 4

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QUH DIHliMOfi, l'til\ V

 Filhinhos, vós sois de Deus, e já os tendes vencido; porque maior ê itijuclc que está em vós do que aquele que está no mundo.

ljoão 4.4

Todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o 

mundo: a nossa fé. Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê que  Jesus é o Filho de Deus?

 Joáo 5.4

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R o m a n o s   8.28

Eis a diferença!

 As coisas dolorosas que entram em nossa vida não são descritas por   Deus como acidentais ou como fora do controle dele. Isso não seria 

nenhum conforto. Que Deus não pode parar um germe, ou um carro, 

ou uma bala, ou um demônio não são boas notícias; nâo são as 

notícias da Bíblia. Deus pode. E dez mil vezes, ele faz. Mas quando 

ele não faz, ele tem suas razões. E em Cristo Jesus elas são todas cheias 

de amor. Nós somos ensinados nesta soberania de forma que a bebemos até saturar nossos ossos.1

Romanos 8.28 ainda nos desafia. Esse versículo tem várias traduções,

sendo a mais conhecida em língua portuguesa esta: Sabemos que todas as 

coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deiís, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.

O sentido é sempre o mesmo. Por exemplo, a palavra no grego para

“contribuem” ou “concorrem” ou “cooperam” é “sinergia”, que um dos

nossos dicionários define como uma “ação associada de dois ou mais ór

gãos, sistemas ou elementos anatômicos ou biológicos, cujo resultado seja

a execução de um movimento ou a realização de uma função orgânica”

PIPl.R, John. A sweet and bitter providence. Downers Grove: IVP, 2010, p. 137.

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EIS A DIFí: R li N<,'A 1

(Houaiss). A definição está de acordo com sua etimologia (sim +ergoconjunto +trabalho).

No grego ainda, a condição do amor a Deus vem primeiro. Desse modo,preferimos a seguinte tradução: Sabemos que, para aqueles que amam a 

 Deus, todas as coisas convergem para o bem (American Standard Version)Dada a seqüência, optamos por estudar palavra por palavra dessa pro

messa.

Sa b e m o s

 A Bíblia o diz. As promessas de Deus na Bíblia, por instruções e por experiências de homens e mulheres que o amaram, mostram como terminamas agruras de agora: no nosso bem.

Nossa memória o diz. Nossas experiências anteriores em que passamos

por dificuldades mostram como elas terminam: no nosso bem.

Se a sua memória anda obstruída, desobstrua-a com a Palavra de Deus. Veja o que aconteceu com Ismael, abandonado pelo pai no deserto para

morrer, mas cujo choro chegou aos ouvidos do Pai celestial, que o salvou.

 Veja o que aconteceu com Jacó, odiado pelo irmão, que o recebeu comlesta por causa da oração.

 Veja o que aconteceu com José, vendido pelos irmãos mas tornado pri

meiro-ministro do Egíto. Veja o que aconteceu com Josué, tendo à frente uma cidade inexpugná

 vel para vencer e a venceu. Veja o que aconteceu com Davi, perseguido implacavelmente por um

rei, a quem sucederia magistralmente. Veja o que aconteceu com Elias, deprimido numa caverna, mas chama

do para novos projetos proféticos. Veja o que aconteceu com Ezequias, condenado à morte pelos médicos,

mas cuja vida foi prolongada pelo médico dos médicos. Veja o que aconteceu com Pedro, o discípulo-traidor tornado líder-

i riador.

 Veja o eunuco da rainha Candace, que foi a Jerusalém buscar o que não

encontrou, mas encontrou quando o Espírito Santo lhe enviou Felipe já nocaminho de volta para casa.

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[■IN A t>U-1- Hl‘N(, Al

• pecados próprios (um adolescente que resolve experimentai1a d ri >}',.»

e se torna escravo dela)* pecados dos outros (uma filha que lhe dá um neto antes ou fora do

casamento)

Todas essas situações podem ser alteradas por Deus. Não há nada queele não possa alterar.

C o n v e r g e m

Deus faz as coisas trabalharem juntas. Uma rocha com que Moisés deviafalar era o próprio Jesus Cristo jorrando água para dessedentar uma mul

tidão.

Deus faz os animais cooperarem para o bem do ser humano. Ele fez a jumenta falar para livrar o povo de Israel.

Deus faz as pessoas trabalharem juntas, mesmo que não saibam. Arta-xerxes concordou que Neemias voltasse para reconstruir Jerusalém.

Deus faz impérios trabalharem juntos, mesmo sem saberem que estãopreparando a terra para receber o Messias.

Todas as coisas que nos acontecem contribuem para o nosso bem.

E aquela tragédia que nos sobreveio? Também ela concorrerá para o nos

so bem, mas na perspectiva de Deus, que é a perspectiva da eternidade.

Todo o capítulo 8 de Romanos é a história como Deus a vê se desenrolando.Se tudo converge para o nosso bem, até o que fazemos de errado con

 verge para o nosso bem? Podemos viver então sem pensar nas conseqüên

cias dos nossos atos? Apenas excepcionalmente Deus nos livra das conseqüências de nossos

atos. A razão é simples: Deus respeita nossa liberdade, o que inclui arcar

com o ônus de nossos atos. Se Deus nos eximisse das conseqüências do

exercício de nossa liberdade, não seriamos autenticamente livres.

Sendo práticos: a vida é feita de leis. Quebrando-as, pagamos o preço.Se avanço um sinal e vem outro carro, há uma colisão, com ou sem feridos.

Poderia Deus agir para que nada nos acontecesse? Sim, e a prova é que, às

 vezes, raramente (milagre é coisa rara), o faz, mas geralmente não o faz,

para que eu seja livre.69

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL, 1

 À medida que vamos amadurecendo, entendemos esse versículo. Quan-

do crianças, achamos que podemos tudo. Vamos crescendo e percebemosque não podemos quase nada. O mesmo se dá na vida com o nosso Deus.Há pessoas que acham que ele nos livra de tudo, até das conseqüências daliberdade humana, nossa e dos outros, mas ele não nos livra, e tambémpara o nosso bem.

Em todos esses casos também, Deus está em ação. Como traz uma dastraduções, sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam (NVI). Por trás da liberdade humana, está a soberania amorosa de

Deus.Por causa de sua soberania amorosa, Deus MANTÉM SITUAÇÕES,

MAS LHES DÁ UM NOVO SIGNIFICADO por meio de sua presença.Davi orou, e seu bebê morreu, não porque fora filho do adultério, mas

porque nascera doente. O que Davi disse dessa experiência é um verdadeiro curso sobre o luto (2Sm 12.15-23).

Um amigo muito querido perdeu um filho. Estive no primeiro aniversário desse menino. No funeral, meu amigo, pastor, para meu escândalona época, dizia como Jó: O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor  (Jó 1.21b). E com isso se consolou. Depois, Deus lhe deudois filhos, um menino, que está estudando para ser pastor como o pai, euma menina, que está terminando seu curso de medicina. Não sabemospor que o primeiro menino morreu, mas sabemos que seus pais foramconsolados e abençoados.

Por causa de sua soberania amorosa, Deus SUAVIZA AS CONSEQÜÊN

CIAS DE NOSSOS ERROS E MESMO DOS NOSSOS PECADOS.Quando estava na terra do faraó, Abraão mentiu, dizendo que Sara erasua irmã. Em lugar de matá-lo, como seria a regra, o faraó o perdoou emandou-o ir. Deus entrou em ação e suavizou as conseqüências do pecadode Abraão.

Um casal de namorados adolescentes se envolveu em pecado, e a menina ficou grávida. As dores das famílias e dos amigos da igreja dele foramintensas. Resolveram casar-se. Meses depois, a menina perdeu o bebê.

Seus pais lhes perguntaram se ainda queriam casar: queriam e se casaram. Tiveram muitas lutas. A vida profissional do rapaz ficou bastante

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EIS A DIFERENÇA!

atrasada, com muitos desencontros. Muitos anos depois, nasceu a primeira filha do casal (hoje com 3 anos), que vive muito bem há dez anos.Eles tiveram a atitude certa diante do pecado, arrependendo-se do quecometeram, sem banalizar o seu erro; eles foram acompanhados pelas

orações de seus pais e amigos; eles foram apoiados por seus pais e amigos;a moça, que não era cristã, converteu-se e foi batizada. Deus suavizouo erro dos meninos, que amavam a Deus, porque os que amam a Deustambém erram, mas não se alegram com o pecado, não querem ser pro

tegidos no seu pecado.

Na convergência que Deus produz, o pecado seguido de arrependimento pode ter como conseqüência um avivamento espiritual profundo,com ampla abrangência para o indivíduo, sua família, sua comunidade.

Por causa de sua soberania amorosa, Deus REVERTE SITUAÇÕES,

mesmo que não seja do modo que desejamos, mas sempre para melhor.Moisés matou um homem e teve que fugir. Assim mesmo Moisés não

perdeu a sua vida. Um dia, Deus o encontrou e o chamou para libertaro seu povo, transformando-o em líder e no homem mais manso da terra.

Há muitos anos traduzi um livro de história do cristianismo; por minha.sugestão, fui encarregado de escrever um capítulo latino-americano; escre vi, mas ficou longo demais. A editora o recusou, com razão, para minhatristeza. A solução foi melhor: um amigo me ajudou a publicá-lo à parte,1 1 0  que seria meu primeiro livro (As cruzadas inacabadas; introdução à história do cristianismo na A mérica Latina). Deus transformou a decepção em

 vitória.Por causa de sua soberania amorosa, Deus NOS ENSINA A TER

NOVA COMPREENSÃO sobre as situações pelas quais passamos.Pedro estava pronto para morrer por Jesus a fim de salvar os judeus. No

entanto, do lado de fora os gentios esperavam, mas Pedro resistia. Certa vez, teve uma visão terrível, na qual recebeu a ordem para comer animais

considerados impuros pelo judaísmo. Logo após acordar, chegaram emissários de um desses gentios, que queria ouvir o evangelho. Pedro entendeu

o ensino e partiu, e o gentio, Cornélio, se tornou cristão.

( iostamos de dizer que a vida ensina. Não é verdade; é Deus quem eusina por meio da vida. Sem ele, náo aprendemos nada com a vida.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

B e m

Todas as coisas concorrem para o nosso bem, mas o que é bom para nós?

Esta semana, durante um funeral na família, encontrei um primo comquem passei a minha infância. Ele era forte e até me defendia na rua. Meu

primo, um ano mais novo que eu, não estudou e nunca teve um empregorazoável na vida. Eu era franzino e doente, por causa de uma otite. Durantenosso encontro, ali no santuário da igreja, ele fez uma revelação, da qual

eu não me lembrava:— Enquanto nós brincávamos, você ficava lendo na varanda com os

olhos compridos em nossa direção, sem poder sair de lá.

 A saúde excelente do meu primo não foi o seu bem. A minha saúdefrágil foi o meu bem, embora eu invejasse o desempenho dos meus primos

na corrida e no futebol.O que é bem e o que é mal deve ser visto na perspectiva de Deus, a

perspectiva da eternidade.Muitos anos depois, tive que deixar a instituição de ensino onde atuava

apaixonadamente no Rio de Janeiro. O clima interno era ruim, e já não

podia trabalhar com entusiasmo e liberdade. Um colega que saíra antesme chamou, e fui trabalhar com ele em outro Estado. Foram tempos difí

ceis, pela falta de amigos e pelas constantes viagens, para tristeza de minhaesposa e de minha filha pequena, alérgica ao clima daquele lugar. Algum

tempo depois, fui escalado para uma viagem, para substituir meu amigo echefe. Sem tempo para me preparar, fui fazer uma série de palestras numa

instituição de ensino em outro Estado, ao sul. A contragosto, meu e de

minha família, fui. Perto da cidade para onde fora, morava um ex-colega

de organização, trabalhando numa importante universidade. Fui visitá-lo.Ele me apresentou ao reitor, com quem conversei. Seis meses depois,estava em outra viagem, muito longe, e recebi um recado, de que aquele

reitor queria conversar comigo pessoalmente. Voltei direto até lá e troquei de emprego, não tendo mais que viajar. Foram anos bons, mas, aofim de seis anos, não havia para onde crescer. Um amigo foi me visitar.

Conversamos sobre o desejo de voltar ao Rio de Janeiro. Alguns meses

depois, recebi o convite de uma universidade aqui do Rio para fazer algoque nunca fizera: dirigir um de seus cursos. Dois anos depois, recebi

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EIS A DIFERENÇAI

outra incumbência, completamente nova*, dirigir toda a área acadêmica na

mesma universidade. Bem, a história continua.

Posso imaginar outras histórias.Uma família vai para a rodoviária para uma viagem a passeio. Por algu

ma razão, perdem o ônibus. Voltam para casa, um acusando o outro. Em-

burram-se todos os rostos. Como aquilo podia lhes acontecer? Como todasas coisas convergem? No dia seguinte, chega um telegrama: um membro

da família devia se apresentar para um emprego há muito esperado. Agora,

;ilegram-se os rostos.Uma senhora olha para a sua vida. Sobre a mesa, há uma foto de sua

família; ela e seus filhos. Ela recorda sua vida, uma vida conjugal feliz; uma

 vida profissional feliz. Nem sempre foi assim. Na juventude, ela amargou

duas reprovações para o curso que desejava na universidade. Ganhou umadepressão severa. Perdeu muitos amigos. Conseguiu, fez um brilhante cur

so. Quando terminou, encontrou um excelente emprego e foi uma vitorio

sa na profissão. Na mesma faculdade, no terceiro ano encontrou o amor desua vida, com quem se casaria. A derrota da juventude não foi uma derrota,

há muito ela o sabe, mas não sabia quando era jovem e sua vida se agitava.O bem, para ser mesmo bem, não pode ser visto apenas na perspectiva

do resultado imediato. Nós sequer sabemos o que é bom para nós. É porisso que nem sempre pedimos como deveríamos pedir (Rm 8.26).

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1 0 Romanos 10.9-17

 A fé vem pelo ouvir 

 Devemos pregar compartilhando nossa experiência com os outros.  Devemos pregar exaltando Cristo em nossa vida diária. Sermões que são vistos geralmente são mais eficientes que aqueles que são ouvidos.

 A verdade é esta: os melhores sermões são aqueles ouvidos e vistos. Eles são uma espécie de testemunho audiovisual.

Tambémpregamos dando-nos aos outros, para que eles possam pregar. 

 Doações missionárias, ofertas na igreja e contribuições para a caridade  falam todas eloquentemente de nosso altruísmo e da generosidade cristã.1

 A leitura do que o apóstolo escreveuaos Romanos (10.9-17) inspira umapergunta: o evangelho envelheceu?

Sevocê confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo. Pois com o coração se crê para justiça, ecom a boca se confessa para salvação. Como diz a Escritura: “Todo o que nele confia jamais será envergonhado” Não há diferença entre judeus e gen tios, pois o mesmo Senhor é Senhor de todos e abençoa

'BILI.Y ( iRAHAM. Some think that only ministers are to preach, but that is wrong. Dis

ponível em <lurp:/ / www. bilIygraham.org/ dailydevotion.asp?ArtidcI 0=7394 >. Acessado cm 2S/7/201 1.

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 A FR VF M ITÍt.i ) »MIVIH

ricamente todos os que o invocam, porque “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”.

Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão na 

quele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem 

pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: ‘Como são belos os pés dos que anunciam boas novas!

 No entanto, nem todos os israelitas aceitaram as boas novas. Pois Isaías diz:  “Senhor ; quem creu em nossa mensagemConsequentemente, a fé 

vem por se ouvir a mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra 

cie Cristo.Romanos 10.9-17

Em Romanos 10.9, o apóstolo Paulo trata sobre a salvação que al

cança a todo aquele que confessa: jesus, ressuscitado dentre os mortos,

é o Senhor. Nesse texto, Paulo parte de um pressuposto já estabelecido

em sua carta, sobretudo em Romanos 3.23-26. Envelheceu dizer quetodos pecaram e estão destituídos da glória de Deus se não crerem em Jesus

Cristo?O mesmo apóstolo diz que Deus deseja que todos os homens sejam salvos 

e cheguem ao conhecimento da verdade (ITm 2.4). Será que Deus não tem

mais tal desejo? Será que o projeto salvador de Deus foi só para a antigui

dade, tornando-se desnecessário com o “progresso” da humanidade?Deus não é o Deus de uma época, mas de todas as épocas.Quando olhamos para os nossos dias, não vemos esse “progresso” capaz

de substituir a salvação, desejada por Deus. A humanidade continua precisando de Deus, apesar de seus progressos tecnológicos todos (e só nesta

área se pode falar mesmo de progresso). O progresso não trouxe paz. Oprogresso não trouxe segurança O progresso não trouxe alegria. O medo

do presente e do futuro consome os seres humanos. A insegurança quanto

ao que vem após a morte aperta os corações. O efeito alegrador do espetáculo logo cede lugar ao tédio. Só há paz no coração habitado por Jesus. Só

há segurança na certeza do amor de Deus. Só há alegria quando sua fonte

e alimentada pelo Espírito Santo. Só há paz, segurança e alegria em quemlem comunhão com Deus, ou um relacionamento amoroso em que ele é

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

o Pai que se interessa, e nós somos filhos profundamente amados por ele,agora e para sempre.

Quem deseja paz, segurança e alegria precisa confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos para ser “salvo” (versículo 9). Salvo para ter uma vida de paz, segurança e alegria.

Salvo de quê?, perguntam alguns em tom cético, achando-se provocativos. Salvo do pecado e de suas conseqüências, eis a resposta. Quem

 vive controlado pelo pecado está afastado da glória de Deus, isto é, não

pode ver a Deus, não pode ter comunhão com ele. O pecado nos separade Deus. O pecado nos afasta de Deus. O pecado nos torna inimigos deDeus. O pecado nos faz infelizes, pois infelizes somos quando Deus não éo Senhor de nossa vida.

O apóstolo Paulo oferece o roteiro para a salvação em três passos.

T r ê s  p a ss o s  pa r a  a  sa l v a ç ã o

O terceiro passo é confessar que Jesus Cristo é o Salvador. Essa confissão

começa no plano individual e deve alcançar a cena pública. Quando en viou seus discípulos, Jesus assim os instruiu: Vãopelo mundo todo epreguemo evangelho a todas as pessoas. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado (Mc 16.15-16).

Logo no início da história do cristianismo, ouvimos de um homem quefez uma pergunta necessária a Paulo e seu colega:

— Senhores, que farei para ser salvo? A resposta foi:— Creia no Senhor Jesus, e serão salvos, você e os de sua casa.Em seguida, correndo todos os riscos, o novo convertido levou os dois

pregadores a anunciar o evangelho a todos de sua casa (At 16.25-32). A confissão precisa ser pública, para que ela mesma seja proclamação

aos outros. Cada cristão, durante todo o seu tempo de vida, precisa bradarcom o apóstolo Paulo: Não me envergonho do evangelho, porque é o poder  

de Deus para a salvação de todo aquele que crê (...). Porque no evangelho é 

revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito:  “O justo viverá pela fé” (Rm 1.16-17).

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Precisamos viver o evangelho e anunciar o evangelho. Não basta anunciar. Precisamos viver. Não basta viver. Precisamos anunciar.

Diante das respostas, quero ser bem pragmático com alguns desafios.

• • •

Comprometa-se a levar a Jesus uma pessoa pelo menos neste ano. Comecepor fazer o compromisso, quem sabe, por escrito. Eu lhe sugiro algumas

etapas específicas:Comprometa-se a viver o evangelho e anunciar o evangelho. Se algo em

 você está errado, busque corrigir. Se tem talado tendo algo errado em sua vida, disponha-se a corrigir. Se não tem falado porque tem algo errado,corrija e fale, para que possa ter pés tormosos.

Use os recursos e programas de que a igreja dispõe, como cultos, eventos, cursos, classes e sobretudo grupos familiares. Se ainda não participa,comece agora.

Procure primeiramente alcançar quem faz parte de seu círculo de relacionamentos. Missões começa onde você está.

Seja criativo. Faça de sua casa, escola ou trabalho uma igreja. Esteja aigreja onde você estiver. Use a internet. Use o teatro. Use o cinema. Use amúsica. Use os seus talentos.

Se é verdade que precisamos de templos maiores para anunciar Jesus,precisamos de templos melhores (nós mesmos) para anunciar Jesus. Nossotemplo ficará cheio de pessoas quando nós estivermos cheios do EspíritoSanto.

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R o m a n o s   12 .1-2

Sacrifícios?

Sabemos que ler a Bíblia e orar todos os dias, ir aos cultos e participar da ceia nunca foram, por si só, sinais confiáveis de 

espiritualidade, muito menos um caminho seguro para a maturidade. 

 Muitas pessoas fazem isso por puro legalismo. Por outro lado, sabemos 

também que não fazer nada disso é um caminho seguro e certo para o 

 fracasso espiritual,1

Há muitos anos, como parte de estudos de antropologia, visitei um ter

reiro de candomblé. Conversei com o líder, que me deu uma explicação

para as oferendas, que incluem sacrifícios de animais: é para acalmar os

espíritos.

Fiquei feliz em não ter que fazer isso. Meu Deus nunca está bravo comigo, de modo que tenha que fazer algo para acalmá-lo. Mesmo quando

pec o, ele fica triste, mas não me pede senão arrependimento e nenhum

sacrifício.l;ico triste, então, quando ouço cristãos falarem de sacrifícios como ne-

t essários no exercício da fé. Dirá alguém: eles estão na Bíblia.

'HARIUXSA, Ricardo. Hábitos que transformam. Disponível em <http:/ / www.ippd(. i om.Wr/ ipn/ node/ 63íi>. Acessado em 20/ 7/ 201 I.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Sim, de fato, estão, mas quem ler todas as orientações sobre sacrifícios verá que não guardam qualquer relação com as trocas que alguns tentamfazer. Digo tentam, porque a troca não se completa, visto que Deus nãoaceita o jogo.

 Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam [apresentem seus corpos] em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; esteé o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se [sejam transformados] pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa,agradável e perfeita vontade de Deus.

Romanos 12.1-2

 A SEDUÇÃO DO SACRIFÍCIO

Há uma visão popular segundo a qual são precisos muitos gestos para sermos ouvidos por Deus. Eu me lembro da canção conhecida de Gilberto Gil.

Se eu quiser falar com DeusTenho que ficar a sósTenho que apagar a luzTenho que calar a vozTenho que encontrar a pazTenho que folgar os nósDos sapatos, da gravataDos desejos, dos receios

Tenho que esquecer a dataTenho que perder a contaTenho que ter mãos vaziasTer a alma e o corpo nusSe eu quiser falar com DeusTenho que aceitar a dorTenho que comer o pãoQue o diabo amassou

Tenho que virar um cão

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SA CRII■' 1<'I<

Tenho que lamber o cháo

Dos palácios, dos castelos

Suntuosos do meu sonho

Tenho que me ver tristonho

Tenho que me achar medonhoE apesar de um mal tamanho

 Alegrar meu coraçãoSe eu quiser falar com Deus

Tenho que me aventurar

Tenho que subir aos céusSem cordas pra segurar

Tenho que dizer adeusDar as costas, caminhar

Decidido, pela estradaQue ao findar vai dar em nada

Nada, nada, nada, nada

Nada, nada, nada, nada

Nada, nada, nada, nadaDo que eu pensava encontrar

GILBERTO GIL

Há muito de meia verdade nesse poema, mas há muito de mentira inteira nele também.

Sim, para falar com Deus, preciso estar de mãos vazias e alma nua, mas

cu não consigo esvaziar as minhas mãos se não for esvaziado; não consigotnc desnudar se não for desnudado. Entro com o desejo. Deus entra com.1  ação.

Se eu puder, ao falar com Deus, apagar a luz e calar a voz, ótimo; se nãopuder, posso falar com ele em meio ao ruído e ao agito.

Para falar com Deus, não preciso aceitar a dor, porque posso protestar e

questionar, que Deus não se aborrecerá como se aborrece um ser humano

questionado. Eu preciso me quebrantar, lambendo o chão dos castelos que

t*i i|’,i, e, quebrantado, serei alegrado. Gilberto Gil, religião não é esforçohumano; é esforço divino para abençoar.

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PASTOREADO S POR PAULO - VOL. 1

Para subir aos céus, não tenho que subir sem cordas. Jesus Cristo é a

minha corda. Ele é a estrada para Deus. Se eu trilhá-la, não é verdade que vou dar em nada, vou dar no centro do coração de Deus.

D e us q u e r   se r  c o n h e c i d o  d o c e m e n t e

 Apesar do tom exortativo (“rogo”), o texto oferece um conjunto de informações sobre a natureza divina e sobre o ser humano. Conhecer e permanecer ciente dessas realidades são verbos indispensáveis. Se queremos nosrelacionar com Deus, precisamos saber quem ele é, para não adorarmos a

pessoa errada; precisamos saber quem nós somos, para não vivermos noautoengano.

Por essa razão, quero convidá-lo a refletirmos juntos sobre o já lidotexto de Paulo aos romanos. Ele nos mostra como deve ser nossa religião,como deve ser o sacrifício que oferecemos a Deus.

Romanos 12.1-2 deve ser lido em duas dimensões. Uma é informativa. A outra é exortativa.

Na primeira dimensão, Paulo nos informa, inicialmente, que Deus é

misericordioso e que se apresenta a nós para se relacionar conosco.1. O escritor bíblico lembra que Deus tem misericórdias. O plural é

premeditado, para indicar que a bondade de Deus é múltipla, como seele tivesse um estoque inesgotável de misericórdias para distribuir. Porsua misericórdia, fomos criados. Por sua misericórdia, somos sustentadosbiologicamente. Por sua misericórdia, ele encarnou, revelando-se a nóscomo o filho amado, tirando de nós o peso de nos esforçamos para asalvação. Por sua misericórdia, somos acompanhados em nossas labutase alegrias.

Por sua misericórdia, Deus faz com que a salvação não dependa doesforço humano, mas tão somente da misericórdia dele. Paulo mesmo lembra: a salvação não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus (Rm 9.16). Por sua misericórdia, somos tornados filhosqueridos de Deus (Rm 8).

 A amplitude dessa verdade transforma completamente a nossa vida.

Sem essa perspectiva, viver é debater-se cansativamente. Com ela a vidalem esperança presente e futura. Sem essa perspectiva, uma pequena

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

para se adorar a Deus. O culto 1 1 0  templo é apenas um tipo de culto, nãoo único. Culto é para ser prestado em casa, na rua, no trabalho, onde nãoé possível vivenciar um cerimonial. A religião deve ajudar o crente em seuculto, não atrapalhá-lo. O templo deve concentrar os que cultuam, masnão ser tido como o único lugar para a adoração.

3. Paulo acrescenta outra informação essencial sobre Deus. A vontadedele é boa, agradável e perfeita. Por sua vontade, ele criou o mundo. Porsua vontade, ele decidiu criar o homem. Por sua vontade, ele nos convidapara um relacionamento.

Quando compreendemos a vontade de Deus, compreendemos que elaé boa; ela tem, portanto, uma dimensão ética. A vontade de Deus não trazprejuízo para ninguém. A vontade de Deus não é um capricho para benefício dele mesmo. Deus é um ser pessoal e ético; ele pensa corretamentesempre, ele age corretamente sempre, ele ama corretamente sempre. Se nãocompreendemos a vontade de Deus como boa, ainda temos que crescernosso culto (relacionamento) com ele.

Quando compreendemos a vontade do Senhor, compreendemos que

ela é agradável. A vontade de Deus tem, portanto, uma dimensão estética.Não para ele, mas para nós. Quando Deus manifesta a sua vontade, e nósa compreendemos, o prazer é nosso. Quando conhecemos sua vontade,seja ela qual for, nossa vida se enche de alegria. Quando cumprimos sua

 vontade, é como se levitássemos, como se voássemos, mesmo que issoimplique negar a nossa. O que Deus nos pede pode ser desagradável ànossa carne (a nossa vontade dominada pelo pecado), mas nunca o é aonosso ser interior (a nossa vontade dominada pelo Espírito Santo). Não

há, portanto, problemas na vontade de Deus quando eia nos desagrada;há na nossa.

Quando compreendemos a vontade de Deus, compreendemos que elaé perfeita. A vontade de Deus revela quem ele é: perfeito. Nela tudo seencaixa, fazendo com que haja uma convergência boa, de novo não paraDeus, mas para nós; a vontade dele não é para ele; é para nós. A vontadede Deus é perfeita a curto prazo, mesmo que só a vejamos a longo prazoe achemos que ela é perfeita somente a longo prazo; não, ela é perfeita já,

agora, embora só descubramos isto mais tarde.

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0 MUNDO BUSCA O CONTROLE DE NOSSA VIDA 

Kmsegundo lugar, Paulo dá informação a respeito do mundo, e não po

demos ignorá-la.

1. O mundo requer que o aceitemos como eleé() mundo não é pensado pelo apóstolo apenas como a sociedade em que

 vivemos. Nesse sentido, não podemos estar opostos ao mundo; nós somos,

portanto, o mundo. No entanto, Paulo, quando pede que cultuemos a

1 )cus, vai além e pensa no mundo como um sistema de valores, não como

o espaço onde as pessoas se encontram.Talvez uma palavra moderna para esse sistema de valores seja ideologia.

Kítrl Marx a conceituou como uma visão necessariamente deformada da

realidade. Obrigado, Marx, o mundo tem mesmo uma visão necessaria

mente deformada de si mesmo e de nós mesmos. É preciso desmascará-lo,

porque o mundo seduz ao apresentar sua visão como um pensamento úni-

t o, como a melhor visão, como a única visão possível.

2. O mundo busca o controle de nossa vida() mundo, como sistema de valores, deseja controlar a nossa vida, como

\e soubesse o que é melhor para nós. O que Deus pede é para o nosso

Item. O que o mundo pede é para o bem dele. As aparências enganam:

quando Deus convida para o culto, convida para um relacionamento queè bom, agradável e perfeito para quem cultua; quando o mundo convida

para o culto, quer o seu próprio bem, embora procure nos seduzir com

.1

  ideia contrária. Deus não é egoísta, mas bom, agradável e perfeito; omundo é mau, fedorento e imperfeito, ainda que a capa que o esconde

ii.io revele suas estratégias de sedução, porque parece bom, cheiroso e

interessante.

() mundo busca o controle de nossa forma de cultuar í * mundo se insinua em todas as nossas relações porque é totalitário e gu-

lnso; quer tudo para si, inclusive a nossa forma de cultuar.

() apóstolo Paulo foi criado num sistema religioso baseado no sacrifíciode animais, oferecidos para obtenção do perdão dos pecados humanos.

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Entre os seus leitores, havia judeus que certamente entenderam a sugestão

de se oferecerem em sacrifícios vivos. Durante muitos séculos, compare

cer perante um sacerdote com um animal vivo debaixo do braço para ser

sacrificado no altar era a forma de se tornar puro diante de Deus. Paulomesmo fez isso várias vezes, até aprender, ao aceitar o sacrifício de Jesus

Cristo na cruz, que tais sacrifícios não eram mais necessários. Deus pede

misericórdia e não sacrifício. A misericórdia humana, que imita a divina,

se expressa em sacrifícios vivos: ninguém precisa morrer, nem um animal

inocente, nem o pecador. Jesus já foi sacrificado. Quem assim se sacrifica

continua vivo. Deus é Deus dos vivos.

Os judeus compreendiam bem o que Paulo estava dizendo nesse capítulo. Que dizer dos leitores romanos que não eram judeus? Que dizer de

nós, que, judeus não sendo, também não compreendemos todo o peso dos

rituais de sacrifícios?

Quanto aos leitores romanos não-judeus, eles também estavam familia

rizados com o tema do sacrifício. Em Roma, havia tanto sacrifícios domés

ticos quanto públicos. Os procedimentos eram bem definidos, e os rituais

consistiam de vários elementos: Praeparatio, Praefatio, Precatio, Immolatio, 

 Redditio, Profanatio e Epidum.  Quem sacrificava geralmente era o pater- 

 familias  (chefe da família). O sacrifício principal começava com oração

dirigida à divindade que se queria honrar. Na oração, eram mencionados

a razão para o sacrifício e os benefícios que se desejava receber em troca.

No caso de sacrifícios com sangue, as vítimas eram geralmente animais

domésticos cuidadosamente selecionados. Se a divindade era masculina,

as vítimas eram masculinas. Porcas prenhas, por exemplo, eram ofereci

das a Ceres e Telus em ritos expiatórios. Porcos e ratos eram oferecidosgeralmente em sacrifícios fúnebres. Nesses casos, a vítima era consagrada.

Depois era morta e, em seguida, esquartejada. As entranhas ficavam para

a divindade. O resto era destinado aos seres humanos e comido num ban

quete (epidum) após o sacrifício.’

'A síntese — Templateandgiúdelinesfordomestic roman sacrifice— aparece numsitedestinado a 

provocar a volta da religião romana. Disponível emhttp:/ / www.novaroma.org/ religio_romana/  I)omcst icSacrifice lcmplate.html.

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SACRIFÍCIOS?

Nesse contexto, Paulo fala em sacrifício vivo.íí ele o faz também por conhecer a tendência humana. O ser humano

gosta de uma religião ritualizada, em que os benefícios podem ser calcu-lados. O ser humano gosta da ideia de que a resposta a sua oração é razãodireta do seu esforço. A sedução do sacrifício vem daí. Por essa razão é quese encontra presente ainda em religiões não-cristãs e mesmo em segmentoscristãos.

Tais práticas, no entanto, por mais sedutoras que sejam, não são propriamente cristãs.

 Jesus usa a palavra “sacrifício” apenas cinco vezes nos evangelhos. Des

tas, duas são para se referir ao sistema judaico com regras para a saúde(Meireos 1.44; Lucas 5.11). Nas outras duas, ele cita Oseias 6.6, lembrandoque Deus prefere a misericórdia ao sacrifício (Mt 9.13; 12.7). Na quinta,a referência é também crítica: Amar a Deus de todo o coração, de todo o entendimento e de todas as forças, e amar ao próximo como a si mesmo é mais importante do que todos os sacrifícios e ofertas (Mc 12.33).

Paulo usa o termo duas vezes. Uma para simbolizar a fé (Fp 2.17-18)e outra para se referir às ofertas que recebeu (Fp 4.5). As referências queaparecem em Hebreus se referem a Jesus Cristo. Pedro emprega a palavrano mesmo sentido de Paulo aos romanos: vocês também estão sendo utilizados como pedras vivas na edificação de uma casa espiritual para serem sacerdócio santo, oferecendo sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus, por meio 

de Jesus Cristo (lPe 2.5).O sacrifício requerido por Deus, portanto, é o sacrifício vivo, que não é

a morte de uma pessoa viva no altar, mas a vida de uma pessoa viva, que se

apresenta por inteiro (“corpo”) diante de Deus para o culto.

 A p r e n d e n d o  s o b r e  n ó s me smo s

O texto essencial de Paulo contém, em terceiro lugar, valiosas informaçõessobre nós mesmos.

1, Somos irmãos Jesus nos chama de irmãos (Hb 2.11), dizendo que formamos com ele uma

família espiritual (Lc 8.21). Quando ressuscitou, Jesus orientou aqueles

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

que o viram a que fossem dar as boas notícias aos irmãos (isto é, seguido

res) dele (Mt 28.10).Por isso, desde muito cedo, os cristãos se chamavam de “irmãos” (At

1.15). Antes mesmo do Pentecoste, era assim que se saudavam (Jo 21.23).Em Atos dos Apóstolos, os cristãos são chamados de irmãos 44 vezes. Porcem vezes, treze das quais só em Romanos, Paulo se refere aos leitores desuas cartas como seus irmãos. Quando convida a um culto racional, elechama aos romanos e a nós de irmãos (Rm 12.1).

Quando nos chamamos irmãos, como Paulo fazia, dizemos que somos

iguais, que dependemos uns dos outros, que estamos juntos para louvar eservir ao Senhor. Podemos nos achar melhores que os outros, mas sabemosque isso não é verdade. Podemos achar que não precisamos de ninguém,mas na primeira crise, aprendemos que precisamos, no mínimo, das orações dos nossos irmãos. Podemos louvar sozinhos, mas na irmandade somos melhores; podemos servir a Deus sozinhos, mas na irmandade nossoesforço alcançará melhores resultados.

cristianismo não rima com solipsismo (individualismo), mas com comu- 

nitarismo (solidarismo).

2. Somos sacerdotesOs irmãos de Jesus, irmãos que nos tornamos quando aceitamos o sacrifício dele por nós, somos povo sacerdotal.

Paulo, quando nos pede para prestar culto, pressupõe que somos sacerdotes. Lendo o Antigo Testamento, compreendemos que sacerdote é aquele que se põe entre o povo e Deus para oferecer sacrifícios para substituiçãodos pecados.

Percorrendo o mesmo Antigo Testamento, vemos que o povo de Israelera considerado por Deus como um povo sacerdotal. O próprio Deus declarou: Embora toda a terra seja minha, vocês serão para mim um reino de sacerdotes [reino sacerdotal] e uma nação santa. Essas são as palavras que você dirá aos israelitas (Ex 19-5b-6). O apóstolo Pedro aplicou o conceito aoscristãos: Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. Antes vocês nem sequer eram povo, mas agora

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S A C R I F Í C I O S ?

são povo de Deus; não haviam recebido misericórdia, mas agora a receberam 

(IPe 2.9-10).Náo podemos incorrer no mesmo equívoco dos judeus, que se esque

ceram de anunciar as grandezas daquele que chama das trevas para a sua

luz maravilhosa. Somos sacerdotes quando anunciamos o amor de Deus.

Somos sacerdotes porque somos a voz de Deus. É por ouvir a sua pala

 vra que a fé pode começar. A fé é sempre resposta. Toda iniciativa vem de

I )eus.

O fato de sermos povo sacerdotal não nos torna melhores que os outros,

;ipenas mais responsáveis diante de Deus pelo sacerdócio que ele nos deu.

3. Somos seres em transformaçãoEsses sacerdotes precisam ser transformados, o que significa essencialmente

deixar que Deus os transforme.

Esses sacerdotes sabem que são peregrinos a caminho de uma terra (lPd

2.1 1), não onde manarão leite e mel, mas onde a glória e a graça de Jesus

não serão como nuvens passageiras, mas o próprio ar que se respirará e a

própria água que se beberá.Esses sacerdotes sabem que não podem transformar a si mesmos, por

que, se o fizessem, fariam como os camaleões, que se transmutam para

íicarem iguais ao seu meio ambiente a fim de tirar proveito dele. Nós de

 vemos permitir que Deus nos transforme para sermos semelhantes a Jesus,

não iguais às pessoas com quem convivemos. Não devemos permitir que o

inundo nos esprema para dentro dos seus próprios moldes, mas devemos

deixar que Deus remodele a nossa mente a partir de dentro, segundo os valores que vêm dos altos céus (cf. a paráfrase de J.B. Phillips, em Cartas 

ã\ igrejas novas.

 A pergunta que não pode calar jamais é a seguinte: a quem queremos se

guir? A mente do mundo (constituída de um padrão exterior e transitório)

mi ,i vontade de Deus (que deve moldar nossa natureza íntima)?

I >I’. V KM OS OFERECER SACRIFÍCIOS A D E US, MAS SACRIFÍCIOS

um: Deus r e c e b e

( ) apóstolo Paulo nos prepara um programa de vida.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

1. Devemos oferecer a Deus um culto racional, que se dá mediantea entrega de nosso corpo em sacrifício a Deus

Por que nosso culto racional é prestado por meio do corpo? Assim como a depravação humana se manifesta através do corpo (lín

gua e outros membros), de igual modo a santidade humana (esta é a transformação desejada) deve se expressar por meio de nosso corpo (língua eoutros membros).

Nosso corpo pertence ao Deus que o criou e o redimiu. Nosso corpodeve ser instrumento de justiça, ao mesmo tempo em que brinca, trabalha,

íê, cozinha, come, corre, imagina, escreve.Nossos joelhos devem ser dobrados diante de Deus como forma de culto, pelo reconhecimento de quem Deus é e de quem nós somos: oh, radicaldiferença. Mas quando nos inclinamos, Deus se inclina: oh, doce encontro.

Nossos pés nos devem levar pelos caminhos que Deus aponta, e eleaponta para as sendas onde a semente do evangelho não foi ainda semeada.

Nossos braços devem ser levantados para exaltar a força de Deus. Nossos braços devem ser estendidos para levantar os abatidos.

Nossas mãos devem recolher as bênçãos de Deus. Nossas mãos devemlevar o alimento a quem não o tem.

Nossos lábios devem conduzir vozes que declaram amor a Deus. Nossoslábios devem pronunciar palavras que curam.

Nossos ouvidos devem estar colados na boca de Deus, cuja palavra jamais cai no vazio. Nossos ouvidos devem estar prontos para escutar o outro, mesmo que sejam queixas.

Nossos olhos devem estar voltados para Deus.

2. Seremos capazes de oferecer nosso corpo a Deus se deixarmos que ele nos transformeCom os nossos olhos voltados para Deus, pensaremos nele, será ele a forçade nossa vida, virão dele os valores que nos conduzirão vida afora, seremosmoldados por ele.

Fora dessa transformação, nossos sacrifícios seguirão os padrões do mercado em que vivemos. Deus nos convida para um relacionamento, que

tentaremos transformar em magia, que nós controlamos. Deus nos chama

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SA(‘1<IRl CH)■:

para uma caminhada, que procuraremos transformar em troca, em quepesquisaremos o que precisamos oferecer para receber o que queremos.

Se para receber muito precisamos orar muito, oraremos muito. Se para

ser prósperos precisamos doar muito, sacrificialmente até doaremos muito,

olertando inclusive o que não temos. Sim, precisamos ser transformados,para que ofereçamos nosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável se

cundo a perspectiva do próprio Deus.Só transformados por Deus, ofereceremos sacrifício vivo, apresentando-

nos a nós mesmos completamente, não apenas nosso exterior; apresentan

do-nos a nós mesmos, e não animais ou coisas.Só transformados por Deus, ofereceremos sacrifícios santos, que são

aqueles que nos custam algo (para lembrarmos o exemplo de Davi: quan-

do quiseram lhe dar um terreno, ele preferiu comprá-lo para construir um

santuário para o Senhor), não o resto, como somos tentados, não o último, mas o primeiro do que recebemos.

Só transformados por Deus, ofereceremos sacrifícios agradáveis, agra

dáveis a Deus. Agradável para Deus é algo que não visa a nossa satisfação,

mas a dele. A esse propósito, temos que perguntar: nosso louvor é agradável a quem? Temo que busquemos louvar mais a nós mesmos do que a

l )eus.Ó Senhor, vem transformar nosso corpo, para que possamos apresentá-

lo a ti de um modo vivo, santo e agradável, mesmo que morramos paranós mesmos (não digo que não vivo eu, mas Cristo vive em mim?), mesmo

que percamos aquilo que nos parece tão caro (que tipo de perfume tenho

derramado sobre o “corpo” de Deus?), mesmo que prefiramos outro estilode adoração (estou mesmo a louvar como Deus quer ser louvado?).

Deixando Deus nos transformar, seremos capazes de comprovar como se manifesta a vontade de Deus

Só a mente transformada pode comprovar que a vontade de Deus é boa,

.i radável e perfeita.

Eis os passos essenciais dessa transformação:

Somos salvos pela misericórdia de Deus. Nossa salvação é um presente,n.to uma conquista.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Somos capacitados para discernir e desejar a vontade de Deus. Sem tal

capacitação, adoramos ser independentes, até aprendermos que a independência é a morte; a dependência de Deus é que é a vida. Deus nos capacita

a perceber que o bom mesmo é compreender a vontade dele, a única queé boa para nós, perfeita para nós e agradável para nós. Deus é totalmente

altruísta: não quer nada para si. Vamos sendo transformados dia após dia pelo Espírito Santo em nós,

que vai tomando cada dia o seu espaço dentro do nosso coração e renovan

do-o, até aquele dia em que será absoluto ali.

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PASTORHADOS t’OR PAULO — VOL. 1

 Ao contrário, revistam-se do Senhor Jesus Cristo, e não fiquem premedi

tando como satisfazer os desejos da carne.

Romanos 13.1 lb-14

Cristão é quem se reveste de Cristo — repete o apóstolo Paulo.

...pois os que em Cristo foram batizados, cie Cristo se revestiram.Gálatas 3.27

 Portanto como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de pro funda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência.

Colossenses 3.12, Cf. Colossenses 3.10,14

...a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade.

Efésios 4.24

 Ao contrário, revistam-se do Senhor Jesus Cristo, e não fiquem premeditando como satisfazer os desejos da carne.

Romanos 13.14

Os versículos 11 a 14 nos dão o roteiro para uma vida revestida.

D e spe r t a r  

Chegou a hora de vocês despertarem do sono  (versículo 11b).

Como aprendemos com John Stott, dorme o cristão que perdeu a 

perspectiva da salvação como ocorrida no passado, desenrolando-se no presente e a ser completa no futuro. No passado, ela se manifestou como justi

 ficação. No presente, ela se desenvolve como santificação. No futuro, ela se 

mostrará como glorificação.1

Se estamos descansando com a salvação operada por Jesus Cristo na

cruz, num dia radioso de alegria que não existe mais, estamos dormindo.

Salvação tem um poder operativo hoje.

 J STOTT, John. Romanos. São Paulo: ABU, 2000, p. 427-428.

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REVESTIDOS DE JESUS CUISTo

St* fomos salvos, mas vivemos premeditando como satisfazer os desejos

d.i carne, feitos de orgia, bebedeira, imoralidade sexual e depravaçáo, per

da. íos a oportunidade de nos parecermos cada dia com Jesus. Ele enfren-1 1 mi tribulações, mas venceu cada uma delas. Seus seguidores percorrem omesmo itinerário.

Sc, como cristãos, não nos vemos como peregrinos que um dia seremoslori ficados —se for assim, seremos salvos (oh, maravilhoso amor de Deus!)

tiimo que pelo fogo (ICo 3.15) —, não assistiremos ao mundo sendo jubg.uio (Lc 22.30), mas ainda assim seremos salvos por causa do decretoimutável de Deus.

Sc não nos vemos como peregrinos, não queremos ser glorificados, porrstarmos satisfeitos com a vida que levamos só por causa de algum mísero|»».r/,er que hoje sentimos. Prazer que é uma lentilha diante de um pratoi lu-io. Prazer que dura um minuto do relógio da eternidade. Ah, comosomos Esaú!

( KIR 

.'I nossa salvação está mais próxima do que quando cremos (versículo 11c). A nossa salvação está mais próxima porque já passou o tempo em que

«1.»se manifestou como justificação, que foi quando cremos em Jesus Cristo como Salvador. Estamos no tempo da santificação e chegará o tempo

da glorificação. A salvação mais próxima, referida pelo apóstolo Paulo, é.i s.ilvação-glorificação. Alguns poderiam pensar que a salvação depende

d.ujiiilo que fazemos, mas ela depende tão só da graça de Deus. A salvação- justificação já aconteceu. Nunca mais seremos condenados, porque já fo

mos absolvidos. A salvação-glorificação é para ser desejada. Deseja-a quem diz: com toda 

,i determinação de sempre, também agora Cristo será engrandecido em meui orfw, quer pela vida, quer pela morte; porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Caso continue vivendo no corpo, terei fruto do meu trabalho. E /,/ nao sei o que escolher! Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar 

i nm Cristo, o que é muito melhor  (Fp 1.20-23).1 Vseja-a quem não tem a volta de Jesus Cristo como tardia, como

se ele não cumprisse as suas promessas (2Pe 3.9) .  Vivemos extremos

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

equivocados: de um lado, estão os irritantes calendaristas, sempre vascu

lhando sinais para tentar datar a vinda próxima de Jesus Cristo; para eles,tudo é escatologia: uma guerra, uma fome, um terremoto. Jesus mesmonão sabia quando haveria de voltar; Paulo não sabia; Pedro não sabia, maseles querem saber, ou melhor, eles dizem que sabem. De outro lado, estãoaqueles que têm certeza de que Jesus, quando voltar, não os encontrará vi

 vos, porque certamente vai demorar muito para acontecer. Para eles, nadaé escatologia; tudo é natural e não tem nenhum significado espiritual maisprofundo, além da superfície.

 A história está sob o controle de Deus. Ele a está escrevendo. Seu ápiceé a volta de Jesus Cristo. Quando ele voltar, os que estiverem vivos serãoglorificados. Os que estiverem mortos serão ressuscitados com um corpoglorificado. Essa esperança é essencial. Por melhor que seja a vida que vivamos, ela não passa de uma imagem do que será a vida eterna.

C o r r e r  

 A noite está quase acabando; o dia logo vem (versículo 12a).

Por melhor que seja a nossa vida aqui, ela está plena do poder da queda,aquela que o pecado original provocou.

Há algumas certezas na minha vida pessoal: não consigo não pecar. Eu souum pecador. Quando olho para a humanidade, vejo que não estou sozinho.

“Noite” é o nome deste período que vivemos. Depois vem o dia, o diado Senhor, o dia em que o Senhor será finalmente reconhecido como Senhor, o dia em que a luz será plena. Para quem é salvo, é certo que o dia

 virá. A noite existe, mas não será definitiva. Para quem não é, não há dia;a noite será eterna.

“O dia logo vem”. Nenhum cristão precisa se desesperar.“A noite está quase acabando”. Nenhum cristão precisa se sentir tentado

a fazer o que se faz à noite. Há mais crimes de noite do que de dia porqueas trevas permitem o anonimato próprio para o ataque e para a fuga. Masa noite — graças a Deus — vai acabar.

O cristão precisa tomar cuidado para não ceder à tentação de viver a

noite, como se não fosse do dia, já que foi resgatado da noite (isto é, dastrevas) por Jesus para a sua maravilhosa luz (lPe 2.9). Ele pode ser um

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REVESTIDOS DE JESUS CRIS TO

agente duplo, mas não deve. Quando está com os que são do dia, pratica oque é próprio do dia, mas seu coração arde de desejo pelos desejos próprios

da noite, que Paulo arrola como orgias, bebedeiras, imoralidade sexual, de-pravação, desavença e inveja (versículo 13). Já justificado, o cristão está notempo da santificação, a caminho do tempo da glorificação. A noite, mesmo que iluminada pela sedução, não é nosso tempo. É por isso que a Bíbliapropõe: deixemos de lado as obras das trevas e revistamo-nos da armadura da luz (versículo 12). Não fiquemospremeditando como satisfazer os desejos da carne (14b).

R e v e s t i r  -se

 Revistam-se do Senhor Jesus Cristo (14a).O que significa esta expressão: revestir-se do Senhor Jesus Cristo?Revestir-se do Senhor Jesus Cristo é vestir-se da armadura de Deus.Em outro lugar, o mesmo apóstolo nos recomenda: fortaleçam-se no Se

nhor e no seu forte poder. Vistamtoda a armadura de Deus, para poderem ficar   firmes contra as ciladas do Diabo, pois a nossa luta não é contra seres humanos, 

mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais. Por isso, vistayn toda 

a armadura de Deus, para que possam resistir no dia mau e permanecer inaba-  Líveis, depois de terem feito tudo. Assim, mantenham-se firmes (Ef 6.10-14).

Em seguida, o apóstolo descreve como é esta armadura: vistam-se coma couraça da justiça e tenhamos pés calçados com a prontidão do evangelho da paz. Além disso, usem o escudo da fé, com o qual vocês poderão apagar todas as setas inflamadas do Maligno. Usemo capacete da salvação e a espada do 

 Espirito, que é a palavra de Deus (Ef 6.14-17). A armadura de Jesus, o Filho de Deus, é própria para cada um de nós.

 A armadura de Jesus não é a que Jesus usa. E a que nos dá, ele mesmo,para as lutas da vida. Viver é lutar. A armadura de Jesus não é como a de( iolias, aquele gigante inimigo de Israel, ou a do rei Saul, enfiada no corpode Davi, um jovem (ISm 17-18). Ao contrário, a armadura de Jesus, usadapelo crente, é utilizável pelo cristão. Seu corpo é igual ao de Jesus, de quem

('■irmão. Não somos coerdeiros com ele (Rm 8.17; Tt 3.7)?Quando recomenda que nos revistamos de Jesus, Paulo usa o nome

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completo do Mestre: Senhor Jesus Cristo ( Kyrios Iesus Cristos). E ele o fazpropositalmente, como acontece em outras sessenta vezes no Novo Testamento. Nos escritos de Paulo, 48 vezes o apóstolo usa a palavra para exaltaraquele que nos protege e que nos supre, por nos amar. Assim, revestir-se doSenhor Jesus Cristo é confiar no Senhor como nosso protetor; é esperar em

 Jesus como aquele que supre todas as nossas necessidades; é amar a Cristocomo o maior tesouro da nossa vida.2

 A ideia de que devemos nos vestir com a armadura de Deus, isto é, coma armadura que Deus prepara para nós, é destacada pelo apóstolo Paulo

em outras cartas. Aos efésios ele recorda: Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade (Ef4.22-24). A armadura de Deus é nova; náo é uma armadura natural, masespiritual; náo aquela da nossa inteligência ou esperteza ou força. Não é aarmadura da ansiedade; é a armadura de quem se entrega e se deixa vestir.

Quem veste a armadura de Deus se assemelha a Deus, porque seu conteúdo não é ferro ou bronze, mas justiça, santidade e verdade. Aos tessalonicenses, ele traz à memória dos crentes o seguinte: Nós, po

rém, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo a couraça da fé e do amor e o capacete da esperança da salvação. Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para recebermos a salvação por meio de nosso Senhor Jesus Cristo (lTs 5.8-9). A couraça divina, oferecida a nós, é feita de fé, amor, esperança. Essassão as armas ao dispor de quem quer.

Com os colossenses, Paulo parece mais preocupado: Não mintam uns aos outros, visto que vocês já se despiram do velho homem com suas práticas e se revestiram do novo, o qual está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador  (Cl 3.9-10). Por fim, ele assim descreve os gaiatas: Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus, pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram (Gl 3.26-27). Que assim nos permitamos

2Adaptado de STEDMAN, Ray. The night is nearly over. Disponível em <http:/ /www. 

raystcdman.org/ romans2/ 3533.html>. Acessado em 25/ 7/ 2011.

PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

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Romanos 15 e 16

Um autorretrato

 A vida se torna difícil para nós quando vivemos para os outros, mas,

ao mesmo tempo, ela se torna mais rica e mais feliz?

 Jesus nos chama de irmãos (Hb 2.11), dizendo que formamos com ele

uma família espiritual (Lc 8.21). Quando ressuscitou, Jesus orientou aque

les que o viram a que fossem dar as boas notícias aos irmãos isto é, segui

dores dele (Mt 28.10).

Por isso, desde muito cedo, os cristãos se chamavam de “irmãos” (At

1.15). Antes mesmo do Pentecoste, era assim que se saudavam (Jo 21.23).

Lm Atos dos Apóstolos, os cristãos são chamados de irmãos 44 vezes. Por

cem vezes, treze das quais só em Romanos, Paulo se refere aos leitores de

suas cartas como seus irmãos. Quando convida a um culto racional, elechama aos romanos e a nós de irmãos (Rm 12.1).

Quando nos dizemos irmãos, como Paulo fazia, dizemos que somos

iguais, que dependemos uns dos outros, que estamos juntos para louvar e

servir. Podemos nos achar melhores que os outros, mas sabemos que isso

não é verdade. Podemos achar que não precisamos de ninguém, mas, na

1S( !l IWHITZER, Aibert. Disponível em <http:/ / christian-quotes.ochristian.com>. Accs s.nlo cm 31/7/201 1.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOI.. 1

primeira crise, aprendemos que precisamos, no mínimo, das orações dos

nossos irmãos. Podemos louvar sozinhos, mas na irmandade somos melhores; podemos servir sozinhos, mas na irmandade nosso esforço alcançarámelhores resultados.

U ma  q u e st ã o  d e   c o n c e i t o

Para que nos chamemos de irmãos e nos consideremos irmãos, precisamos,como Paulo, ter um conceito adequado dos nossos irmãos (Rm 15.14-17,30-33; 16.1-17).

O apóstolo via valoresem seus irmãos, não apenas defeitos (Rm 15.14).

Ele valorizava a comunidade (Rm 15.15)Uma evidência disso é sua preocupação com o efeito de sua carta, porquenão gostaria que provocasse alguma amargura, especialmente quando precisou falar com franqueza. Uma prova desse respeito é o seu reconhecimentode que nada realizava sozinho, como o demonstra sua admirável lista de 26cooperadores, boa parte dela de mulheres (Rm 16.1-27); o ministério apostólico de Paulo era um ministério de equipe, Uma forma de participação queapreciava em seu ministério era a intercessão dos irmãos (Rm 15.30-32).

Paulo admitia que há influências positivas e negativas, mesmo dentro da comunidade de fé. Ele sabia da força de sua influência (Rm 15.17).

Ele desejava paz aos outros (Rm 15.33)Como Paulo, precisamos valorizar as pessoas, destacando suas qualidades,

não apenas seus defeitos. Aprendamos a elogiar. Há pessoas que, mesmoquando têm que elogiar, incluem uma crítica, do tipo: “essa comida estáótima, apesar de um pouco salgada”.

Precisamos valorizar a comunidade, o encontro das pessoas. Fico pensando na dificuldade de alguns quando chegarem aos céus: vão ter queestar sempre juntos uns com os outros. Valorizar a comunidade significaque reconhecemos que nada realizamos sozinhos. Por isso, afirmo e reafirmo que o meu ministério é o nosso ministério. Valorizar a comunidade

implica compartilhar nossas necessidades de oração. Jesus compartilhavacom os discípulos suas necessidades de oração.

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UM AUTORRETRATO

Precisamos reconhecer que influenciamos uns aos outros. Nossa in

fluência pode ser positiva ou negativa. Devemos tomar cuidado com asinfluências negativas.

Precisamos abençoar os outros, com “paz”, “graça e paz”, “Deus aben

çoe você” e outras saudações, bíblicas ou não.

E n v o l v i m e n t o

Paulo queria ter mais irmãos. Por isso, ele se envolvia na salvação dos perdidos (Rm 15.16-21).

 A glória, isto é, a alegria de Paulo, seu currículo, sua razão de ser era apregação do evangelho (Rm 15.17).

Paulo se recusa a contar vantagens (e teria muito para enumerar), porque tudo o que fez foi pelo poder de Deus e para a glória de Deus (para que

I)eus fosse reconhecido como Deus). Paulo nos diz: é o Deus do evangelhoque é poderoso, não eu.

Como Paulo, precisamos nos envolver na salvação dos perdidos.

Cremos que há “perdidos”, ou esta é uma palavra ultrapassada e umconceito superado?Qual é a razão de ser de nossa vida?De que falamos? Do carro que compramos?

Como gostamos de contar vantagens. Alguns pastores, por exemplo, têm a mania da comparação: a igreja

aiilcs dele era uma, mas agora, com a graça de Deus, está assim. Qualquerpessoa que realize um ministério da igreja corre o mesmo risco. Todos são

humildes até começarem a falar...

11Á MAIS

Paulo cria que a vida não se esgota no humano (Rm 15-22; 16.20). Elenutiia que, embora quisesse muito avançar no seu projeto missionário, elefoi impedido. Ele não diz o que ou quem o impediu. Pode ter sido Satanás,ruas ele também sabia que em breve Satanás seria esmagado (Rm 16.20).

( !oji)o Paulo, precisamos saber que a vida não é apenas o que vemos,

compreendemos ou fazemos. Há muito mais. Há um Deus. Há forçasnaturais e há forças sobrenaturais. Muito do que recebemos advém

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PASTOREADOS POR PAULO — V O L.1

diretamente de nossos atos. Algo do que recebemos advém diretamente

de forças sobrenaturais, como a graça, positivamente, e a tentação, negativamente.Precisamos viver na perspectiva da eternidade, não apenas da tempora-

lidade. Não precisamos nos apegar demasiadamente à nossa vida, ao nossopresente; nossa vida é apenas a nossa vida, a vida que podemos viver, mas épouco; é apenas uma duração, um instante (mesmo que dure 90 anos: quesão 90 anos no compasso da eternidade?). Isso implica reconhecer a nossafragilidade, que percorre a nossa força muscular ou intelectual. Implica pôr

 valor no que tem valor e não pôr valor no que não tem.Precisamos viver na perspectiva da esperança. Nós não derrotaremos

Satanás; é Deus quem o derrotará. E nós o veremos. Pode parecer que,em sua vida, Deus está perdendo, mas ele nunca perde, mesmo que não

 vejamos o seu triunfo.

Pr o j e t o s  p a r a  a   v i d a

Paulo fazia projetos para a sua vida (Rm 15.23-29).

 Aprendemos nesses dois capítulos e em Atos que Paulo queria ir aRoma, a capital do Império. Queria pregar lá. Na Grécia, tinha plantado igrejas, plantaria outras igrejas na Espanha, mas no caminho estavaRoma. Roma comandava o mundo; era a maior cidade do mundo. Romaditava a moda. Roma ditava a filosofia. Roma ditava a ética. Roma ditavaa religião. Paulo queria ir a Roma para, a partir de lá, contribuir para oalcance do mundo. Não pretendia ficar lá, porque não fundara a igreja ali,mas queria conhecer os irmãos e ser ajudado a chegar à Espanha, aonde

ninguém tinha ido. Antes, havia outro projeto: ir a Jerusalém. Paulo era um homem orien

tado por projetos. Queria ir a Roma quando fosse à Espanha, mas antes iriaa Jerusalém para outro projeto: levar pessoalmente a oferta que seus irmãoslevantaram para os irmãos na primeira igreja cristã (Jerusalém). Quandoestava realizando um projeto, visualizava outro. Ele era um pioneiro: elequeria ir aonde ninguém tinha ido. Ele queria fazer do modo que não foraainda feito.

Em todos, tinha um objetivo: abençoar os outros.

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UM AUTORRf-TRATt >

No entanto, Paulo não era um fanático. Quando chegasse a Roma (e

isso não se realizou, porque chegou preso), iria descansar um pouco, en

contrando refrigério entre seus irmãos (Rm 15.33).Como Paulo, precisamos ter projetos, orientando nossa vida por alvos

(que são gerais) e metas (que são específicas). Precisamos de um projeto-

 Jerusalém, de um projeto-Roma e de um projeto-Espanha. Jerusalém não épropriamente um projeto; é um encargo que recebemos e executamos comprazer; é um compromisso que assumimos, em função da necessidade de

fazer executar. Roma é o projeto do outro, que vamos apoiar. Espanha é o

nosso projeto, para o qual precisamos de apoio. Não podemos nos contentar e abrir mão da Espanha por causa de Roma ou de Jerusalém.

Quantos anos provavelmente teremos de vida? E o que vamos fazer atélá? Que faremos ao nos aposentar? Muitos aposentados desperdiçam sua

 vida.

Entre os nossos projetos, deve estar o de descansar, passear com a família, conhecer outras pessoas e novos lugares. Quando e de quantos dias

serão suas próximas férias?

Precisamos fazer projetos que abençoem outras pessoas. Se nossos pro jetos alcançam apenas a nós mesmos, ainda não são projetos nascidos no

coração de Deus.Precisamos saber que, por vezes, teremos que adiar um projeto, talvez

o projeto de nossa vida. Antes de ir à Espanha, seu grande projeto, Paulo

linha que ir a Jerusalém e a Roma. Precisamos aprender a lição da flexibi

lidade.

Precisamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para realizar osnossos projetos. Quando nos firmamos em nossos projetos, Deus se junta

a nós para nos ajudar a realizá-los.

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LIVRO II

Paulo pastoreia os coríntios

Corinto é chamada de “rica”por causa de seu comércio, uma vez 

que ela está situada no Istmo e possui dois portos, um que leva direto para a Asia e outro para a Itália. Isso facilita a troca de mercadorias de 

ambos os países, que são tão distantes um do outro. (...) De qualquer   forma, esta foi uma alternativa bem-vinda, tanto para os comerciantes 

da Itália quanto para os da Asia, para evitar a viagem por Maleae e desembarcar suas cargas ali. (...)

 E tempos mais tarde, isso se manteve assim. Mas para os coríntios de tempos posteriores, tal fato acarretou ainda maiores vantagens, 

pois também os Jogos ístmicos, que foram comemorados lá, atraíam 

multidões de pessoas.

(...)

 E o templo de A jrodite era tão rico que possuía mais de mil escravos 

e prostitutas do templo, que homens e mulheres dedicavam à deusa.  Assim, foi também por causa dessas mulheres que a cidade cresceu e se 

enriqueceu. Por essa razão, os capitães dos navios gastavam livremente 

seu dinheiro. Vemdaí o ditado: “Uma viagem a Corinto não épara 

todos os homens”.1ESTRABÃO, 

geógrafo do início do século 1 d.C.

'1S IUAIÍÁÍ). ( leografia, 8.6.20-23. Disponível em http:/ / www.abu.nb.ca/ courses/Pau- |lH*'/tHMj,>cs/Sii abo(-oi.litm?. Acessado em 1/7/ 201 1.

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PASTOREADOS POR PAULO - VOL. 1

E ntrevista imaginária com o apóstolo  

Paulo (2) • 1 e 2 corín tio s

Confira, abaixo, uma entrevista imaginária com o apóstolo Paulo, em queele fala sobre o contexto das suas duas cartas aos coríntios.

ENTREVISTADOR — Imagino que escrever as cartas aos coríntios tenha-lhe doído muito.

PAULO — Sim, doeu. Estive na cidade por dezoito meses, na minhasegunda viagem pela Europa, para pregar o evangelho. Muitos se conver

teram, de todas as classes sociais, escravos e senhores, por exemplo. Algumtempo depois, comecei a receber cartas relatando os problemas enfrentadospelos meus irmãos. Quando morei em Efeso, pude me dedicar aos problemas dos coríntios e escrevi minha correspondência, com a ajuda dos meusamigos Sóstenes e Timóteo. Escrevi como pastor e mestre. Escrevi paraadvertir e ensinar.

ENTREVISTADOR -— Parece que os irmãos de Corinto se deixaram in

fluenciar demais pelo ambiente.PAULO — O meio sempre nos influencia e pode nos corromper. Corinto é a capital da licenciosidade. Eles acham tudo normal e até se vangloriam dos seus pecados. A cidade paga um preço alto por estar no coraçãode várias rotas comerciais. E bom que a cidade seja intelectual e materialmente próspera, mas a corrupção é uma das conseqüências terríveis dessariqueza. A outra conseqüência é a depravação.

ENTREVISTADOR — As cartas surtiram os resultados esperados?PAULO— Bem, sim e não. Antes de ir, escrevi. Depois, voltei lá numa

dolorosa viagem. Tive que confrontar muitos irmãos. Depois voltei a escre ver. As cartas anteriores aos tessalonicenscs foram mais tranqüilas: os problemas eram mais suaves. Em Corinto, não; eles estavam acabando com agraça, tornando-se muito carnais. Não eram todos, mas os pecadores erammuito ousados. Cínicos até. No entanto, devo dizer que os problemas deCorinto me ajudaram a refletir sobre muitos temas, como a ceia de Jesus

Cristo e a sua ressurreição.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Quando enviou seus discípulos, Jesus os ensinou a desejarem que a paz

estivesse na casa em que se encontrassem (Lc 10.5). Ele mesmo saudouseus discípulos assim após sua ressurreição (Lc 24.36; cf. Jo 20.19,21,26). A literatura do Novo Testamento, como nenhuma outra, colocou sau

dações desse tipo no coração do cristianismo, não somente como algo protocolar, mas como expressão de desejos profundos, decorrentes da bênçãoalcançada com a aceitação do evangelho de Jesus Cristo. Há duas palavrasmais comuns nessas saudações bíblicas: graça e paz.

 A expressão “que a graça de Jesus Cristo seja com...” aparece catorze

 vezes na literatura apostólica (Rm 16.20,24; ICo 16.23; G1 6.18; Ef 6.24;Fp 4.23; Cl 4.18; ITs 5.28; 2Ts 3.18; ITm 6.21; Tt 3.15; Fm 25; Hb13.25; Ap 22.21).

Por sua vez, o desejo de “paz” ocorre seis vezes (Rm 15.33; Ef 6.23; Cl3.15; 2Ts 3.16; IPe 5.14; 3Jo 15).

 Aparecem outras expressões, como graça, amor e comunhão (2Co13.13) e misericórdia, paz e amor (Jd 2), mas a preferida é “graça e paz”,usada dezessete vezes pelos apóstolos (Rm 1.7; ICo 1.3; 2Co 1.2; G1 1.3;

Ef 1.2; Fp 1.2; Cl 1.2; ITs 1.1; 2Ts 1.2; ITm 1.2; 2Tm 1.2; Tt 1.4; IPe1.2; 2Pe 1.2; 2Jo 1.3; Ap 1.4).

Num mundo com tão pouca graça e paz, esses cumprimentos devemestar nos nossos lábios e sobretudo em nosso coração. Deus deseja quetenhamos graça e paz.

O TESTAMENTO DA GRAÇA 

Graçaê a manifestação do amor de Deus, amor tornado concreto por Jesus

Cristo. Por causa de sua graça, Jesus habitou entre nós (Jo 1.1; Tt 2.11). A graça de Jesus nos resgatou do domínio do fracassado esforço hu

mano. Quando o homem falha, entra a graça. Quando a lei falha, entraa graça. A graça nos lança numa nova vida, a partir da experiência daconversão, que é a aceitação da graça, que segue ao arrependimento (Ef2.8; Rm 11.6).

 A graça de Jesus não tem preço, mas já teve um preço. A graça agora égratuita (Rm 3.24; 5-15; 11.6).

 A graça de Jesus nos capacita para uma vida vitoriosa (2Co 8.9).

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UM TESTAMENT O DE GRAÇA E l>AZ

 Vida vitoriosa é uma vida com força na hora da fraqueza, por causa da

presença de Cristo em nós (2Co 12.8b-9; 2Tm 2.1), suprida no tempo danecessidade (Hb 4,16), capacitada a permanecer firme na hora da dificul

dade (Rm 5.2; SI 86.15).Graça é algo que se vê na vida daqueles que a experimentam (Gn 33.10;

 At 11.23).O que se vê numa vida cheia de graça é o fruto do Espírito Santo: ale

gria, amor, benignidade, bondade, domínio próprio, fidelidade, longani-

midade, mansidão, paz (G1 5-22-23).

0 TESTAMENTO DA PAZ

() Novo Testamento dá vários títulos para Deus; um deles é Deus de paz,

empregado diretamente seis vezes (Rm 15.33; 16.20; Fp 4.9; lTs 5.23; 2Ts

3.16; Hb 13.20-21).

Paz é liberdade da culpa, liberdade com acesso direto ao Pai (Jo 14.27;

Rm 5.1; Ef 2.14; Cl 1.20).Nesse sentido, a paz tem uma tríplice dimensão. Quando temos a paz

de Jesus, somos libertos dos pecados cometidos no nosso passado, pois( Iristo os pregou na cruz; somos libertos dos pecados de hoje, pois Cristo

os prega na cruz; somos libertos dos pecados que ainda cometeremos, pois

( >isto os pregará na cruz. Quem está em Cristo tem perfeita paz e não temmedo de ser feliz.

Paz é tranqüilidade, apesar das pressões da vida (ICo 14.3; Jo 16.33),

c integridade de mente e coração em meio a outras possibilidades (Fp 4.7;

llb 13.20-21). Jesus é o autor da paz. O Espírito Santo é o seu agente.

Pa r a   q u e e x p e ri m e n te m o s g r a ç a e paz

1 Vsejemos graça e paz para nós mesmos. O desejo de Deus para nós é claro: dar-nos graça e paz (SI 84.1).

Ioda bênção começa com o desejo da bênção. Para experimentar a gra-

«,.i c a paz em nossa própria vida, precisamos aceitar a graça e a paz que

I )i us nos oferece. Isso significa reconhecer que nossos esforços, por melho-Hs que sejam, redundam em desgraça e medo. Deus nos oferece a graça da

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

salvação, que deve ser recebida como é: graça. Deus nos oferece a paz doacesso livre a ele, numa vida sem medo.

É Jesus mesmo que nos capacita a viver segundo a sua graça e segundoa sua paz.

Desejemos graça e paz aos outros. O apóstolo Paulo tinha suas lutas.Quando escreveu suas cartas, escreveu-as para responder a problemas concretos das igrejas destinatárias. Assim mesmo, em todas elas há desejos de“graça e paz” para seus leitores/ ouvintes.

Se nossos próximos têm problemas, precisamos desejar-lhes “graça e

paz”. Se nossos próximos estão bem, devemos desejar-lhes “graça e paz”.• • •

Cresçamos na graça. A graça não é estática, mas dinâmica, para nos acompanhar em cada diferente estágio de nossa vida (2Pe 3.18; Fp 2.12).

Sejamos promotores da paz. Nem no plano da linguagem deve haverguerra em nós. Nada de “retaliação” ao inimigo... (Mt 5.9; 2Co 13.11;Hb 12.14).

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15  1Coríntios 1.10-17

 A unidade e seus inimigos

 A unidade da igreja precisa ser buscada. Difícil! Cristãos juntos em um lugar ou em uma instituição (que o diga o Conselho Mundial de Igrejas) não criam unidade automaticamente. (Uma hoste de cadáveres num cemitério não produz ressurreição.) Nossa unidade tem sua raiz e fundamento no tipo de unidade que Deus tem: três “pessoas” em harmonia perfeita. Então, diz Paulo, nada faça para pôr limites à 

unidade que o Espírito dá. Seja um unificador, não um divisor; uma  fonte de harmonia, não de desarmonia; alguém pleno de paz, não dado ao conflito.1

O apóstolo Paulo pensa a igreja como corpo, o corpo de Cristo. A ideiaexplícita da igreja como corpo de Cristo aparece, com todas as letras, em

 vários versículos de suas cartas (Rm 7.4; 12.5; ICo 10.16; 12.27; Ef 1.23;4.12; 5.23; 5-30; e Cl 1.18, 24).

Leiamos primeiramente lCoríntios 1.10-17:

 Irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo suplico a todos vocês que concordem uns com os outros no que falam, para que tião haja divisões

'( ’R( HJCHER, Rowland. Unity, ministry and maturity in Christian church. Disponível cm <http:/ / jmm.aaa.net.au/ iirticles/ 12779.htm>. Acessado em 2/ 7/ 2011.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

entre vocês; antes, que todos estejam unidos num só pensamento e num 

só parecer. Meus irmãos, fui informado por alguns da casa de Cloe de que 

há divisões entre vocês. Com isso quero dizer que algum de vocês afirma: “Eu sou de Paulo”; ou “Eu sou de Apoio"; ou “Eu sou de Pedro’) ou ainda  Eu sou de Cristo ”,

 Acaso Cristo está dividido? Foi Paido crucificado em favor de vocês? Foram vocês batizados em nome de Paulo? Dou graças a Deus por não ter  

batizado nenhum de vocês, exceto Crispo e Gaio; de modo que ninguém pode dizer que foi batizado em meu nome. (Batizei também os da casa de Estéfa- nas; além destes, não me lembro se batizei alguém mais.) Pois Cristo não me 

en viou para batizar ; mas para pregar o evangelho, não porém com palavras de sabedoria humana, para que a cruz de Cristo não seja esvaziada.

 A igreja, portanto, é o corpo de Cristo. Cristo é o cabeça; esta cabeçatem um corpo, e este corpo é a igreja. Foi por isso que John Wesley pôde

dizer que o cristianismo é uma religião essencialmente social. Cristianis

mo, portanto, é comunidade, o que, num trocadilho, quer dizer que a

igreja é a instituição pela qual a unidade se torna comum, isto é, possível.

O CORPO DA UNIDADE

O apóstolo Paulo desenvolve no capítulo 12 uma espécie de fábula paramostrar a natureza desse corpo em sua dimensão prática.

Todos os membros do corpo se reuniram numa assembleia. Todos seachavam um pouco sobrecarregados e pretendiam se eximir de suas res

ponsabilidades.

O pé, insatisfeito por carregar todo o peso do corpo, declarou:— Como não sou mão e estou cá embaixo, não faço parte do corpo.

 A mão, por sua vez, reclamou por ser surda:— Como não sou ouvido e nada posso escutar, não faço parte do corpo.O ouvido queria ter outra competência:

— Como não posso ver, porque não sou olho, não faço parte do corpo.

O apóstolo encerra a fábula perguntando:— Se todos os membros do corpo fossem um só membro, como estaria

o corpo? Se o corpo todo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se o corpo

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 A UNIDADE E SEUS lNIMICO í

todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? O olho não pode dizer à mão:“Não tenho necessidade de você”. Nem ainda a cabeça pode dizer aos pés:

“Não tenho necessidade de vocês”.Em outras palavras, se você é um seguidor de Jesus, mesmo que você

não se ache parte da igreja, você é parte da igreja. Como diz Paulo, nós somos corpo de Cristo e individualmente seus membros (ICo 12.27). Se ummembro do corpo sofre, todos os membros sofrem (ICo 12.26a).

Esse é o significado da palavra “unidade”, marca essencial da igreja,conforme o ensino de Jesus Cristo, que espera que todos sejamos um nele

(Jo 17.21).

R e t r a t o   d e  u ma   i g r e j a  d e s u n i d a

No entanto, temos triunfado e fracassado na produção dessa marca. O com-portamento da igreja em Corinto, como retratado na primeira epístola que

Paulo lhe escreveu, é uma indicação desse fracasso, conquanto no plano gerala unidade tenha triunfado. Para que seja o que Jesus Cristo espera da igreja

nesse campo, precisamos aprender com a experiência dos coríntios.

Paulo foi informado de que havia contendas (divisões, desunião, partidarismo) entre eles, produzidas por vários fatores:

l . Muitos firmavam sua fé em pessoas, não diretamente em Cristo A igreja conhecera vários líderes, direta ou indiretamente: Paulo, Pedro e Apoio. Paulo fundou a igreja, mas não era seu dono. Apoio pastoreou-apor um tempo, e ela recebeu o ensino (talvez indiretamente) de Pedro. Osestilos de cada um despertaram nos coríntios simpatias distintas.

Esquecidos de que todos pregavam o mesmo evangelho, apesar das ênfases de cada um, os coríntios passaram a se identificar orgulhosamente

com seus mentores. Os mentores gostam de ser seguidos.Tenho-me preocupado com algumas identificações que têm aparecido,

estimuladas pelos próprios líderes: igreja X do pastor Y, que soaria como:

“Primeira Igreja de Corinto, pastor Paulo de Tarso”. Essa personalizaçãoé estranha ao espírito do cristianismo. Por isso, por favor, jamais digam:

“Vou à igreja Batista Itacuruçá, do pastor Israel”. Esta é uma igreja de Cris-to, não minha ou de quem quer que seja.

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PASTOREADOS POR PAUÍ.0 — VOL. 1

O apóstolo Paulo tinha horror a esse tipo de comportamento. Quando percebeu que muitos exibiram seus certificados de batismo com suaassinatura, ele delegou o ritual aos seus auxiliares, para que náo houvessequalquer tipo de “paulolatria”. Assim mesmo, há muitas pessoas hoje in ventando títulos para si mesmas; por isso, temos tantos apóstolos, bispose patriarcas... Esses títulos afastam as pessoas de Cristo e as aproximam deseres humanos falíveis, chamados por Jesus deservos inúteis. Por que títulos, por que heróis?

2. Muitos não entendiam a natureza da igreja A igreja é um corpo, apesar de tantos não a compreenderem como tal eimaginarem que podem formar “igrejas-do-eu-sozinho”. Posso louvar sozinho, mas vou louvar por meio de canções ensinadas na igreja. Posso evan-gelizar sozinho, mas vou depender do estímulo e da capacitação recebidosna igreja.

Em Corinto, muitos não entendiam a natureza social da igreja. Por essarazão, Paulo usou a imagem do corpo, que é essencialmente social, por seus

bilhões de moléculas...Precisamos “desprivatizar” a igreja em duas dimensões. A primeira é que

temos de assumir, de uma vez por todas, que igreja é plural, nunca singular. A própria Trindade, seu modelo, é plural.

 A segunda é que temos de deixar de lado a preservação extremada daprivacidade. Muitas vezes escondemo-nos atrás dessa defesa para justificarnosso desinteresse pelos outros. Lembremo-nos de que poderá chegar umdia em que nós seremos vítimas de tal desinteresse.

Precisamos de um equilíbrio dessa dimensão. Todas as pessoas têm odireito à privacidade, o direito de não tornarem públicas informações aseu respeito e de sua família, o direito de não serem cobradas inadequadamente, o direito de curarem sozinhas suas dores e o direito de festejaremreservadamente suas vitórias. Essas pessoas, contudo, não têm o direito decobrar uma visita se não disseram a ninguém que estavam doentes; nãotêm o direito de reclamar a falta de uma cesta básica se ninguém ficousabendo de suas dificuldades; não têm o direito de lamentar que ninguém

as advertiu se nunca confessaram os seus pecados.

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 A UNIDA DE E SEUS INtMK IOS

Os que querem ficar anônimos não podem reclamar do anonimato.Fausto Vasconcelos, quando pastor da Primeira Igreja Batista do Rio de

 Janeiro, contou que esteve num funeral em que participaram a viúva, ele esua esposa e mais ninguém da igreja. O falecido entrava no culto, diretamente do seu carro, sem falar com ninguém, e saía do modo como entrava.Fausto brinca que quem quer ser conhecido na igreja tem que freqüentaros banheiros. Não sou assim tão irreverente. Quem quer ser conhecidodeve freqüentar os lugares onde as pessoas estão na informalidade. Podeser o banheiro, o salão de festas, a entrada do templo, a saída do templo.

Procure variar as portas de entrada ou de saída... A igreja, portanto, é uma comunidade, não uma individualidade. Suanatureza é comunitária, porque nós não somos nada sozinhos.

3. Muitos eram vaidosos de seus conhecimentos ou de suaespiri tual idade

Muitos se julgavam intelectualmente superiores. Grupos se formavam porque alguns se consideravam os verdadeiros defensores da verdade. Estavam

sempre procurando erro nos outros. Sua teologia era poderosa... Eles confiavam demasiadamente em si mesmos, em sua sabedoria de palavras (lCo1.17), o que Paulo condena com veemência.

Muitos se julgavam espiritualmente superiores. Se havia os que seguiama Paulo, a Pedro ou a Apoio, havia aqueles que, para arrotar sua profundasuperioridade espiritual, se diziam seguidores de “Cristo”, e não de qualquer pregador humano.

Para todos eles, Paulo dirige uma pergunta definitiva: foi algum de nós

i rucificado (ICo 1.13)? Sim, porque todos tinham se esquecido de Cristo,de quem estavam vazios, porque cheios de si mesmos.

4. Muitos apreciavam as polêmicas estéreisQuando se reuniam, os coríntios discutiam temas sem nenhuma importân-tia, temas cujo resultado da discussão não faria qualquer diferença. Essaspessoas tinham o prazer de ser polêmicas. Quando a provocação não faziamais sentido, inventavam outra, como se tudo na passasse de uma diversão.

 A advertência de Paulo é clara: as igrejas de Deus não devem ter tal*ostutnc (1 Co 11.16).

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Isso não quer dizer que não deve haver discussão na igreja. Deve. No

entanto, precisamos, antes de levantar um tema, perguntar pelo significadodo seu resultado. Se não vai contribuir para a edificação da maioria, mudemos de tema ou nem mesmo o formulemos.

Estes são os inimigos da unidade na igreja.

 A NATUREZA DA UNIDADE

 A recomendação paulina é muito precisa: Irmãos, em nome de nosso Senhor   Jesus Cristo suplico a todos vocês que concordem uns com os outros no que 

 falam, para que não haja divisões entre vocês; antes, que todos estejam unidos num só pensamento e num só parecer  (1 Co 1.10).Nossa unidade na igreja só é possível em Jesus Cristo. Por nós mes

mos, não somos capazes desse dom. Devemos buscá-lo. Devemos orarpela unidade.

Se você está em dissensão com alguém na igreja, só haverá mudançadepois de você orar a Deus pedindo unidade. Orar pela unidade é muitodifícil, porque Deus pode nos pedir para tomar o primeiro passo, que pode

ser um sorriso, um telefonema, um pedido de desculpas ou perdão. Comoisso é difícil, se sempre nos achamos os ofendidos da história...Por isso, a unidade só é possível a um cristão. Se você olha para alguém

na igreja com rancor, eu posso garantir que você não é uma pessoa a quempoderíamos classificar de “espiritual”. Sua razão (em relação ao caso) nãoexime você de culpa. Não espere que o outro tome a iniciativa; afinal,ele também está, como você, esperando. Nenhum mal-entendido resistea uma boa conversa. O ódio não permanece o mesmo quando alguém se

dispóe a dar o primeiro passo em direção ao outro.O apóstolo Paulo pede concordância no falar, que significa três atitudes:1. Transparência, que é dizer o que se pensa; um sorriso é um sorriso;

uma lágrima é uma lágrima. Há que haver uma unidade entre aquilo quesai de nós e aquilo que está dentro de nós.

2. Disposição em discutir um assunto (seja ele teológico ou existencial)com abertura de mente, não com o interesse apenas em convencer o outro.Nesse caso, não haverá unidade; no máximo, haverá imposição.

3. Disposição em ouvir o outro lado e conviver com o outro. Precisamos aprender a ceder, para que haja concordância, que significa mudança

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

nos afasta uns dos outros por nossa pretensa superioridade, para adorar oRei dos reis.

O princípio da imitaçáo de Cristo— Quando nossos comportamentos imitarem a Cristo, esses comportamentos promoverão a unidade na

igreja.1. Precisamos da atitude de humildade de Cristo. Ele não pôs sua di

 vindade como obstáculo para a nossa salvação. Não podemos pôr nossahumanidade como obstáculo à unidade. Não podemos permitir que nos

so temperamento nos encastele, afugentando as pessoas de nós. Podemoseducar nosso temperamento. Não podemos permitir que nosso caráter nosafaste dos outros. Nós podemos converter nosso caráter.

2. Precisamos de disposição para o serviço. No corpo de Cristo, uns são

mãos; outros são ouvidos (ICo 12.22-25).Não há funções menos e mais nobres. Aparentemente numa igreja a

função mais importante é a do pastor, que é tão importante quanto airmã que silenciosa e secretamente ora pelo ministério de Cristo por meio

da igreja. Sem as orações dos irmãos, um pastor não faz absolutamentenada de relevante; ele não consegue sequer amar seus irmãos. O pastor é

tão importante quanto o irmão da tesouraria ou da portaria. Sem umatesouraria com pessoas dedicadas, os recursos ofertados pelos irmãos nãoseriam multiplicados. Sem uma pessoa dedicada e competente na portaria, esta igreja estaria vazia, e o pastor não teria para quem pregar. Mesmoaquele que não tem função formal é tão importante quanto aquele quetem. Você é importante para quem está ao seu lado. Um gesto seu pode

levá-lo a Cristo. Um gesto seu pode barrar seu acesso a Cristo. Um gestoseu pode aumentar o desânimo de um irmão. Um gesto seu pode contribuir para que seu irmão saia da caverna onde se encontra em sua vida.Olhar para o lado e acolher seu vizinho é tão importante quanto cantarno coro ou tocar piano.

3. Precisamos de coragem para sentir o que o outro sente. A atitude necessária entre os membros da igreja é descrita pelo apóstolo

nos seguintes termos: Quando um membro sofre, todos os outros sofrem com de; quando um membro é honrado, todos os outros se alegram com ele. Ora,

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 A UNIDADE E SEUS INIMIG OS

vocês são o corpo de Cristo, e cada um de vocês, individualmente, é membro 

desse corpo (ICo 12.27)

O sofrimento do nosso irmão é o nosso sofrimento, assim como o sofrimento do ouvido é o sofrimento da boca.

 A alegria do nosso irmão é a nossa alegria, assim como uma vitória se

obtém com o cérebro e com as pernas.

O princípio da interdependência entre os cristãos — Nada ilustra

melhor o princípio da interdependência entre os cristãos que a atitude de

Paulo em relação ao seu ministério entre os coríntios.

Nós somos cooperadores da obra de Deus no mundo. Nós plantamos

para ele. Nós edificamos para ele (ICo 3.9).

Nada fazemos sozinhos. Nós precisamos até daqueles que não conhe

cemos. A obra de Deus exige um tempo longo, em que um planta e outro

colhe. Afinal, é ele quem faz com que as coisas aconteçam.

• • •

Faça a sua parte para que não haja dissensão entre você e seu irmão.Faça a sua parte para que não haja dissensão na igreja. Afinal,

Como é bom e agradável quando os irmãos convivem em união! F. como 

óleo precioso derramado sobre a cabeça, que desce pela barba, a barba de 

 Arão, até a gola das suas vestes. E como o orvalho do Hermom quando desce 

sobre os montes de Sião. Ali o Senhor concede a bênção da vida para sempre.

Salmo 133

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16 I C o r í n t i o s   1.18-25 

(2.14-16 e 3.19-20)

 A loucura de Deus

Tanto o amor de Deus quanto a ira de Deus estão limitados em seu 

movimento da velha aliança, para a nova, do Antigo Testamento para o 

 Novo. Esses temas correm lado a lado ao longo da história da redenção 

até que cheguem ao altissonante clímax — na cruz.1

Há um modo humano de proceder e um modo divino.O modo humano procede de sua sabedoria. O modo divino procede

de seu poder.

 Aos olhos de Deus, o modo humano é insuficiente. Aos olhos dos ho

mens, o modo divino é insensato.

Os gregos (entendidos como os membros da civilização greco-romanade quem somos todos tributários) viviam este conflito, que é também o

nosso. Eles nunca engoliram a ideia da cruz, para eles um absurdo comple

to. Paulo usou a mente grega para mostrar a sua insuficiência,

 Pois a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo, mas para 

nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus. Pois está escrito: “Destruirei

'('ARSON, D.A. The difficult doctrine of the love nf Ciod. Whf.iion: ( >ossw;iy, p. 70.

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 A LO UCURA DE DEUS

a sabedoria dos sábios e rejeitarei a inteligência dos inteligentes”, Onde está

o sábio? Onde está o erudito? Onde está o questionador desta era? Acaso 

não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Vistoque, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, agradou 

a Deus salvar aqueles que creem por meio da loucura da pregação. Os ju

deus pedem sinais miraculosos, e os gregos procuram sabedoria; nós, porém, 

pregamos a Cristo crucificado, o qual, de fato, é escândalo para os judeus 

e loucura para os gentios, mas para os que foram chamados, tanto judeus 

como gregos, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus. Porque a lou

cura de Deus é mais sábia que a sabedoria humana, e a faqueza de Deus 

é mais forte que a força do homem.

ICoríntios 1.18-25

Q u a n d o  a   c r u z   é  l o u c u r a ?

 A cruz de Cristo é loucura quando náo podemos ver sua sabedoria porque

estamos dominados pela razão. Quando a razão se torna a via única de

compreensão do mundo, não vemos a cruz de Cristo. A razão não admite a

cruz. A razão tem horror a sofrimento e a sangue. A razão recusa o que nãopode explicar, e a cruz não pode ser explicada, como não o podem a nossa

salvação, nem a ressurreição de Cristo no passado e a nossa no futuro.

 A cruz de Cristo é loucura quando não podemos ver a graça da cruz

porque somos condicionados à noção de justiça. A ideia de justiça não

admite o castigo ao inocente, como aconteceu com Jesus por nós. Saulo de

Tarso estava cego pela ideia da justiça, mas foi alcançado pela luz de Cristo

c passou a ver. Depois disso, o intelectual Paulo pôde dizer que a graça lhe

bastava.

 A cruz de Cristo é loucura quando não vemos Cristo nela, senão a nós

mesmos. Quando olhamos para a cruz e vemos a nós mesmos, não vemos acruz, que se torna loucura. De fato, era para estarmos lá, mas Cristo tomou

o nosso lugar.

 A cruz de Cristo é loucura quando não tomamos a decisão de viver por

c para ele. Quando, apesar de todas as verdades históricas e bíblicas acerca

de Jesus, não nos decidimos por ele, seu sacrifício é tornado inútil por nós.Se não nos decidimos a viver por ele e para ele, seu sacrifício foi em vão.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Pa r a  t o r n a r   sáb ia  a  c r u z

Tornamos eficaz a cruz para nós quando reconhecemos que Deus tomou a

iniciativa de vir ao nosso encontro para nos salvar (selar para viver em seuconvívio, agora e para sempre). A cruz é a manifestação mais completa da

graça de Deus para nós.

Tornamos eficaz a cruz para nós quando reconhecemos que ela é o po

der e a sabedoria de Deus para a nossa salvação. Isso começa a acontecer

quando colocamos a razão em seu devido lugar, tornando-a cativa de Cris

to. A razão não pode ser a nossa via única de compreensão do mundo. Ela

é indispensável, mas não pode excluir a via da fé. Antes, deve estar ao seu

serviço, porque a felicidade está na fé.

Tornamos eficaz a cruz de Cristo quando tomamos a decisão de corres

ponder ao gesto da graça, aceitando a libertação de nossa culpa.

• • •

Quem quer rrazer do passado para o presente a cruz de Cristo, atualizan

do-a em sua vida?

Quem quer tomar a decisão de viver por e para ele?

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17  1 C o r ín t io s 2.16

De quem é a nossa mente?

 De todas as marcas de uma mente cristã, a mais 

importante é a sua orientação sobrenatural, para quem 

está diatite do choque entre a mente cristã e a mente 

secular no mundo moderno.1

I )csde Adão e Eva, há uma luta entre aquilo que Paulo chama de espírito 

do mundo contra o Espírito que provém de Deus (lCo 2.12). Esta luta é tra

 vada no coração de cada um de nós e alcança o coração da própria história.

 A igreja, mesmo formada por pessoas geradas de novo, não está fora

desta luta. As epístolas de Paulo são o seu esforço para advertir profetica

mente aquela comunidade contra a sua submissão ao espírito do mundo,

esquecida de que era santuário de Cristo.Decorre desta preocupação a citação que Paulo faz de Isaías 40.13, com

o seu comentário:

“'quem conheceu a mente do Senhor para que possa instruí-lo?”

 Nós, porém, temos a mente de Cristo.

1Coríntios 2.16

1III AMIRRS, Ilarry. lhe Christian Mind. Vancouver: Regent Collcge, 2005, p. 74.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

 Ainda hoje, cada um de nós deve se perguntar se está vivendo segundoa mente de Jesus.

Cada igreja deve se perguntar se está vivendo segundo o Espírito de Deus.É um equívoco preferir orgulhosamente a sabedoria humana, em lugar da

sabedoria divina, para a solução dos problemas da vida; contentar-se displicentemente com um nível superficial de conhecimento de Deus; e trocar aliderança de Cristo por lideranças humanas. Continuam atuais os avisos quePaulo emite, porque nos ronda o perigo de sermos naturais, e não espirituais.

 A SEDUÇÃO DO CONHECIMENTOIncomodado com a tendência dos coríntios, Paulo lembra o tempo emque estiveram juntos. O apóstolo tinha tudo para se achar o máximo. Noentanto, sua atitude foi outra (lCo 2.1-2).

Não é agradável escutar que nossas palavras e nossos conhecimentosnão têm o valor que imaginamos. Os “sem-Deus” de todos os tempos nãoconcordam que não devem apoiar suas escolhas na sabedoria dos homens,mas no poder do Espírito Santo.

Há muitos tipos de poder, como o poder intelectual, o poder político eo poder religioso. Sem o mistério de Deus, que é Cristo crucificado, todosesses tipos de poder afastam o homem do Criador. Eles levam os seres humanos a se encantar orgulhosamente com a sublimidade de suas própriaspalavras e de seu próprio conhecimento, ficando inchados de si mesmos eintoxicados com os valores que regem a sociedade.

Não há problema em conhecer; antes, é muito bom conhecer. Não há problema em usar os recursos intelectuais e tecnológicos, construídos por cristãos

e não-cristãos; o erro é transformar esses recursos em fetiches ou ídolos.Nossa sociedade exacerba o conhecimento como se fosse uma divinda

de a ser reverenciada. A sedução é poderosa e alcança os cristãos, que de vem se lembrar de que o conhecimento secular, seja científico, filosófico oumoral, não está apto “a dar conselhos para vidas íntegras e de valor dentro

do contexto da criação e em resposta à redenção de Cristo”.2O problema

“PETERSON , Eugene. O pastor que Deus usa. São Paulo: Mundo Cristão,2008, p. 17.

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DE QUEM É A NOSSA MENTE?

é que há muitos cristãos bebendo de outras fontes de conhecimento que

não Cristo — e até aí tudo bem — , como se estivessem — e aqui começa a

tragédia — no mesmo nível ou em nível mais elevado que o fundamento,que é Cristo.

Quem bebe nessas fontes é ensinado, por exemplo, a praticar a “au-

toexaltação” como um valor supremo em nossa sociedade. Afinal, o ma

rketing é  tudo, ou tudo é marketing.  Por isso, os cristãos devem ficar

atentos a toda forma de sedução pelo conhecimento. Há cristãos tão

cheios de si que Cristo não tem a menor chance de aparecer na sua vida

e por meio de sua vida. Quem olha para eles vê a glória deles, não a

glória de Cristo.

 A vaidade — o termo bíblico para a ‘“autoexaltação” — tem dividido

igrejas, derrubado pastores e cegado membros de igreja. Eles são o máxi

mo, e Cristo é o mínimo. Pelo menos, é como vivem, esquecidos de que no

Reino de Jesus não importa quem faz isto ou aquilo, porque é Deus quem

faz as coisas acontecerem (ICo 3.7).

0 MEDO DA PROFUNDIDADE

Os coríntios estavam cheios de si, mas quando Paulo esteve com eles, não

conseguiram acompanhar a profundidade do seu ensino (ICo 3.1 -2a).

Os coríntios tinham uma percepção de si mesmos bastante equivoca

da. Achavam-se cristãos maduros, mas não conseguiram acompanhar o

raciocínio da pregação de Paulo, sempre sobre o caminho mais excelente

(ICo 12.31; cf. Fp 1.10; Rm 2.18), caminho que cava sulcos na terra,

porque não se move na areia, caminho que entra fundo no corpo e nãost* aloja apenas na pele. Para ser ouvido, o apóstolo teve que baixar o

nível. Teve que repetir o bê-á-bá para uma igreja que se achava na pós-

graduação...

Os coríntios viviam num tempo de fórmulas religiosas. O marketing 

religioso (das chamadas religiões de mistério) era poderoso, com suas pro

postas sobre o conhecimento verdadeiro e com os seus símbolos etéreos.

1 )o outro lado, vinha Paulo pregando durante horas seguidas, reinterpre-

lando o Antigo Testamento de modo novo, colocando no centro a cruz e aressurreição de Jesus. Acompanhá-lo exigia esforço.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Os coríntios não sabiam que não sabiam. Aliás, o problema deles não

era não saber; era achar que já sabiam. Eles sabiam pouquíssimo, mas acha

 vam que sabiam muito. Nesse sentido, estavam incorrendo no pecado dasuperficialidade, superficialidade de conhecimento, superficialidade de

 vida. Eles queriam respostas prontas, mas Paulo queria perguntar. A curiosidade por Cristo era zero.

Estive num determinado país onde vivi grande frustração. Eu esta

 va preparado para responder sobre o Brasil, mas ninguém me perguntounada. Eu estava ávido para aprender tudo sobre aquele país com os seus

habitantes; eu perguntava tudo. E eles não me perguntavam nada. Eles

não tinham o menor interesse pelo Brasil. Imagino que Paulo experimentou uma frustração semelhante. Ele estava louco para falar de Cristo, masninguém lhe perguntava nada. Há cristãos com um nível de conhecimento

tão superficial sobre Cristo que é difícil conversar com eles sobre Cristo...

E eles são cristãos... Se alguém lhes pede para recitar um versículo bíblico,

não conseguem ir muito além do Salmo 23.1 e de João 3.16.

São, como diz Paulo, crianças espirituais.

 A g a r r a n d o -se  a  h e r ó i s

Como crianças espirituais, os cristãos de Corinto precisavam seguir he-

róis de carne e osso. Jesus Cristo ressuscitado era-lhes muito distante(ICo 3-3b-6).

Uns chegaram a Cristo por meio de Apoio. Outros, por meio de Paulo.

Cada um defendia com zelo a origem do seu discipulado. Este zelo levou

um grupo a olhar de modo negativo para o outro lado. Na língua portu

guesa, este olhar atravessado tem um nome: inveja. Como conseqüência, veio a contenda, isto é, a divisão. Inveja e contenda são indissociáveis comoprodutos de vidas que andam segundo os homens, segundo o jeito naturalde ser, não segundo o Espírito de Cristo, o jeito de Cristo.

O jeito humano (natural, carnal) consiste em considerar-se melhor do

que o outro. Cada grupo se apresentava como mais cristão que o outro,

como mais espiritual que o outro. Nada mais carnal que esse tipo de per

cepção. O espiritual é aquele que reconhece a sua fraqueza (ICo 2.3). Porisso, o apóstolo Paulo nos adverte que não devemos ter de nós um conceito

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DE QUEM É A NOSSA MHNTH

fora do compasso do que somos (Rm 12.3). No plano da igreja local, esse

pecado tem feito estragos capazes de destruir comunidades. Seu oposto é

ii humildade, a marca de todo aquele que tem a mente de Cristo (Fp 2.1). A carnalidade estava destruindo a igreja. Enquanto Apoio e Paulo gas-

lavam a sua vida na comunicação do evangelho, os coríntios disputavam

qual dos dois era melhor pregador... Há disputas desse tipo até hoje. No

mundo a disputa não é constante? Por que deveria ser diferente entre os

c ristãos? Em nossas igrejas, há quem pergunte qual classe da escola bíblica

tem o melhor professor? Que banda toca melhor? Que coro inspira mais?

Q ie ministério é mais empolgante?

O jeito humano é humano porque opõe pessoas que não estão opostas,

prefere pessoas a Cristo, esquece que na igreja todos são servos, porque

i| tiem dá o crescimento é Deus. A mente do mundo não deveria prevalecer

na igreja.

 A MENTE DO CRISTÃO

 A mente do cristão deve conter a mente de Cristo se quer ser realmente

espiritual. Cristãos espirituais ocupam-se em edificar a sua igreja.O apóstolo Paulo propõe três alvos a serem buscados pelo cristão espi

ritual: a profundidade, a humildade e o serviço.

 A única maneira de o cristão não se deixar seduzir é a profundidade.

I)o contrário, será um bebê idoso, nunca um adulto (ICo 2.6-11). Não há

profundidade na sabedoria deste mundo. Não há segurança na força deste

mundo.

 A sabedoria está no mistério de Deus. A maior força do mundo é a fraqueza da cruz de Cristo. A partir da cruz, Deus preparou para aqueles que

0 amam uma vida cheia de profundidade e qualidade.

Profundo é quem se deixa esquadrinhar pelo Espírito. Profundo é quem

sc empenha em compreender o que Deus nos dá.

Não podemos esquecer que Deus esquadrinha o nosso coração. O

mttrkcting nos vende, as pessoas nos compram, mas Jesus Cristo não nos

1ompra, porque ele nos ama e nos vê como somos.

Precisamos assumir nossa fraqueza (ICo 2.3-5) para aceitar o podertlc I )eus, visando ter o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus. A 

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

felicidade de Jesus foi abrir mão de sua grandeza para ser pequeno. A feli

cidade segundo Jesus é ter a humildade de abrir mão da própria grandeza

para que Deus seja grande em nós.Precisamos pôr nossa vida sobre o fundamento (ICo 3.11). Só Jesus

Cristo é o fundamento, não nossas visões pessoais. Ele é umcom o Pai.Ele é Deus, não um mestre, não um homem evoluído, não um filósofo

ultrapassado.

Precisamos cooperar com o mistério de Cristo (ICo 3.9), que nos leva

à descoberta essencial: a descoberta da dimensão do serviço.

• • •Largue a superfície, venha para a profundidade de Deus. Você é santuárioonde o Espírito de Deus quer habitar.

 Abandone o seu orgulho, assuma a humildade diante de Deus. Reco-

nheça que sozinho não dá, por sua própria conta você não vai. Convide

 Jesus Cristo para ser o Senhor da sua vida.

Deixe de plantar para o nada, venha plantar para Deus.

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1 8 1C o r í n t i o s 5.1-13

 A disciplina de Deus

O cristianismo oferece uma visão de mundo que conduz à geração 

de valores e ideais morais que são capazes de dar sentido e dignidade 

moral à nossa existência.1

() capítulo 5 de lCoríntios nos ensina como tratar os pecadores em nossomeio. Havia naquela igreja um grave problema.

 Por toda parte se ouve que há imoralidade entre vocês, imoralidade que 

não ocorre nem entre os pagãos, ao ponto de um de vocês possuir a mulher  

de seu pai.

1Coríntios 5.1

Todos os pecados são graves, mas aquele punha em risco a comunidade,porque havia uma cumplicidade (e uso a palavra no sentido original, e não

no sentido que os enamorados lhe têm dado...) entre a fonte do problema

<*a com unidade de que fazia parte. As recomendações do apóstolo Paulo àqueles primeiros cristãos são ab

solutamente contemporâneas e úteis, como veremos.

'MCXiRATH, A li s te r . Disponível em <http:/ / christian-quotes.ochristian.com>. Accs 

«rido cm 3/ 7/ 201 I.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

O PROBLEMA 

Os problemas dos coríntios eram essencialmente dois. O primeiro era aimoralidade, e o segundo era o tipo de tolerância, tolerância orgulhosa,para com a imoralidade (ICo 5.1-2).

Um dos membros da igreja náo só vivia em pecado, como se orgulhavado seu pecado. Os demais não se incomodavam com aquele pecado, que

tendia a se tornar um padrão entre eles. A justificativa de todos era que os

cristãos, que vivem pela graça, estão livres para fazer o que quiserem. Oscoríntios se achavam tão superiores que pensavam que podiam fazer do

corpo o que bem quisessem, numa espécie clara de libertinismo. Assim,este negócio de “padrão moral” era do tempo da lei, lei que fracassara, lei

que Jesus Cristo abolira. A graça os libertara desses padrões. Na cabeça dealguns, o seguinte pensamento começava a correr: se Fulano faz isso, eu

também posso fazer. O “vale-tudo” estava prestes a se instalar.Esse tipo de raciocínio persiste, clara ou veladamente, tanto na área da

moral sexual como em outras áreas, algumas das quais o apóstolo Paulomenciona nos versículos 10 e 11.

Há cristãos, ou indivíduos que se dizem cristãos, que vivem na prostituição como completos devassos, que são tão avarentos que jamais co

metem um ato de generosidade nem mesmo para com Deus, que seguemídolos feitos por mãos humanas, que têm prazer em usar a sua língua para

ferir às escondidas seu próximo, que fazem do álcool a sua alegria e queroubam os bens dos outros.

Há muitos cristãos do tipo “qual é o problema?”. Quando alguém os

questiona, eles respondem: o que estou fazendo não tem nada demais.Conheço até pastores que fazem pior do que eu. Eles se esquecem de que o verdadeiro cristão, o cristão que procura ser 100% cristão, tem que ter umpadrão necessariamente superior. O padrão elevado não salva, mas mostraqual é o nosso compromisso.

O pecado produz orgulho, mesmo orgulho espiritual, para ficar escondido.

Há também os cristãos que não justificam seus pecados. Eles admitem

que precisam mudar, mas são incapazes de dar um passo. Há cristãos enredados pelo pecado, porque o pecado é bom. Aquele homem a que Paulo

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 A DISCI PLINA I>I- I>Fí Uf'

se referia continuava no pecado, porque o pecado lhe trazia prazeres que os

padrões elevados de Deus não traziam. Pecar é bom, muito bom, especial

mente quando conseguimos justificá-lo. Como diz o sábio, doce é o pão damentira... até a boca se encher de pedras (Pv 20.17). O homem de Corinto

estava na primeira parte do versículo...

 A SOLUÇÃO

Como o comportamento desse homem tendia a se tornar padrão para

muitos, Paulo é obrigado a oferecer uma solução radical. É possível que o

próprio apóstolo já tivesse esgotado outras instâncias. Já tinha dialogado

com a igreja, recomendado a disciplina necessária, mas ainda não radical.

 Aquele que vivia assim, orgulhava-se de proceder assim e estimulava outros

a viver assim devia ser afastado da comunidade. Os termos são fortes:

 Apesar de eu não estar presente fisicamente, estou com vocês em espírito. 

 E jd condenei aquele que fez isso, como se estivesse presente. Quando vocês 

estiverem reunidos em nome de nosso Senhor Jesus, estando eu com vocês 

em espírito, estando presente também o poder de nosso Senhor Jesus Cristo, entreguem esse homem a Satanás, para que o corpo seja destruído, e seu 

espírito seja salvo no dia do Senhor.

lCoríntios 5.3-5

 A b ast a n d o   o   p e c a d o r  

lista era a sugestão de Paulo para a preservação da igreja. No entanto, ele

não queria que fosse uma decisão dele, mas de todos. Por isso, ele diz:

estando eu com vocês em espírito, isto é, concordes (de acordo), vocês e eu. A.

disciplina não pode ser decisão de uma pessoa, mas da comunidade. Há

riscos nisso, porque a comunidade, como a de Corinto, pode tolerar exces

sivamente o pecado, mas há riscos maiores em apenas uma pessoa decidir

tudo, porque o seu julgamento pode ser falho.

O resumo da recomendação paulina é o seguinte: o pecador Fulano

de Tal deve ser afastado da comunhão dos crentes para, dando valor a ela,

«.iii em si, destruir suas inclinações e voltar à comunhão com o corpo de( 't isto. Serentregue a Satanás significa ser entregue ao seu próprio pecado,

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PASTOREA DO S POR PAULO - VOL. 1

de modo a viver claramente para ele e não na duplicidade. Significa serafastado do convívio da igreja, de modo a perceber que não dá para levar

duas vidas, achando possível servir ao mesmo tempo a Deus e a Satanás. Amesma instrução aparece em Apocalipse: quem é sujo suje-se mais ainda(Ap 22.11).

Enquanto a igreja tolerasse a arrogante duplicidade daquele seu membro, ele provavelmente jamais cairia em si. Paulo recomenda uma solução

de risco, com o desejo de que ele viesse a se arrepender e então fosse salvo(versículo 5), já que seu comportamento indicava que não o era.

Paulo estava preocupado com aquele indivíduo, mas também com todaa comunidade. Ela estava ignorando, em seu orgulho (versículo 6), que um

pouco de fermento leveda a massa toda? Por isso, Paulo entendia que aquele pecador (fermento velho) devia ser retirado da comunidade (massa). Do

contrário, aquele fermento faria um pão com tais características que anulariam o sacrifício de Cristo na cruz do Calvário (versículo 7).

O cristão tem uma responsabilidade com a sua comunidade. A comunidade tem uma responsabilidade com cada um dos seus integrantes. Para

o bem de todos, a tolerância não pode ser absoluta, Se ela levar a comunidade à autodestruição, é melhor que se perca um, mediante uma cirurgia.

 A disciplina é para corrigir, não para punir. A disciplina da igreja nãoquer dizer extinção ou excomunhão, porque não é o pertencimento à igrejaque salva, mas a fé em Jesus Cristo. A missão da igreja é levar as pessoas aoarrependimento. A disciplina que ela ministra deve ter esse mesmo objeti

 vo. A igreja não existe para fazer justiça com suas próprias mãos, mas paraoferecer a graça.

Nesse sentido, se a comunidade tem uma pessoa, ou mais de uma, queimpede que ela cumpra seu ministério, a igreja deve agir, disciplinando,mas não abandonando o disciplinado, que é o grande erro de muitasigrejas.

 A f a st a n d o -se  d o s  p e c a d o r e s

O apóstolo Paulo vai além do caso e faz aplicações mais amplas.

 Antes, ele já tinha escrito à igreja (uma carta que se perdeu), comrecomendações que não foram bem entendidas ou não foram cumpridas

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 A D ISCI PLINA DE DEUS

(versículo 9). Ele tinha recomendado que os cristãos náo deviam manter

qualquer tipo de relacionamento com os que vivem fora dos padrões de

Deus, por viverem na prostituição, na avareza, no roubo e na idolatria(versículo 10), mas que, apesar disso, se dizem cristãos.

 Alguns interpretaram que a regra fosse geral, pelo que o apóstolo lem

bra que, se fosse, todos os cristãos teriam que se retirar da sociedade em

que vivem, o que é impossível (versículo 10).

Paulo repete o mesmo argumento aplicado ao pecador que devia ser

expulso do grupo (Expulsem esse perverso; expulsem todos os perver

sos — versículo 13). Se há indivíduos que, embora se dizendo cristãos, vivem como se Cristo não tivesse morrido por eles, porque escravos da

ilcvassidão, da avareza, da idolatria, da maledicência, da intemperança

ou da desonestidade, esses indivíduos não devem ter livre trânsito na

Igreja, porque eles vão contaminá-la.

Os cristãos devem se afastar do convívio dessas pessoas. Essa é a orien

tação divina, por meio da sua palavra inspirada a Paulo:

 Mas agora estou lhes escrevendo que não devem associar-se com qualquer  

que, dizendo-se irmão, seja imoral, avarento, idólatra, caluniador, alcoóla

tra ou ladrão. Com tais pessoas vocês nem devem comer.

lCoríntios 5.11

Como iremos comunicar à sociedade os padrões de Deus, se nós não

uh  vivemos dentro de nossa própria sociedade? Esse é o maior problema

do cristianismo. Nossos dedos apontam para o mundo, quando deviam

 Apontarprioritariamente para nós mesmos. Essa atitude se aplica no plano

pCISoal e no plano eclesial.

I lá pais que desejam que seus filhos sejam o que não são. Há crentes

que almejam que os incrédulos sejam o que eles não são. Essa hipocrisia

tf RI minado pela raiz o cristianismo. A hipocrisia tem minado pela raiz

Hovsa.s igrejas.

() que fazer, então, com aquelas pessoas que dizem ter a mesma fé quettél di/ xmos ter, mas vivem de um modo condenável por Deus?

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

1. Você tem que se perguntar se você é realmente um cristão e está dis

posto a viver por Cristo, seja qual for o preço a pagar.

2. Você tem que se perguntar se está disposto a ajudar as pessoas queestáo no erro, mesmo que talvez venha a perder temporariamente a sua

amizade. Isso não quer dizer que você é juiz de todos, porque você também

precisa ser corrigido. Todos precisamos de disciplina. Não somos melhores

que os outros. A vida é um crescimento continuado.

3. Você precisa tomar cuidado para que o seu convívio com essas

pessoas não lhes dê a impressão de que está de acordo com o estilo de

 vida delas. Elas precisam do seu apoio, mas não é esse apoio que vocêdeve lhes dar.

4. Você deve se afastar das pessoas que, vivendo no pecado, têm orgulhodo pecado. Sabe por quê? Você pode começar a gostar de viver desse modo.

Cuidado para não ser convencido de que essas pessoas estão certas no seu

erro, e você errado no seu acerto.

5. Deve haver uma dimensão missionária em nossos relacionamentos

com essas pessoas. Se elas se permitem ser confrontadas com a Palavra de

Deus, vale a pena insistir, tomando precaução para não ser contaminado.Se essas pessoas mostram que querem mudar de vida, vale a pena insistir.

6. Devemos tomar cuidado para não cair no legalismo farisaico, aqueíe

marcado pela disposição de julgar os outros, de classificar os pecados como

menores ou maiores e pela incapacidade de ver os próprios pecados. Emtudo, nosso comportamento deve ser movido pelo amor. Na dúvida, apli

quemos a graça. Se for para errar, erremos acreditando.

 A síntese bíblica é que devemos evitar o convívio com o pecador que,dizendo-se irmão, se comporta sistematicamente como impuro, avarento,

idólatra, maldizente, beberrão ou ladrão. A igreja é o lugar dos impuros,

dos avarentos, dos idólatras, dos maldizentes, dos beberrões e dos ladrões...desde que arrependidos.

Quem continua no erro não deu meia-volta na sua vida.

O CONVITE PARA A FESTA 

Todos somos impuros, mas não queremos ser. Essa disposição nos capacitapara a festa da ceia do Senhor. O convite é claro:

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 A D ISCI PLINA DE DIUI

 Por isso, celebremos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento 

da maldade e da perversidade, mas com os pães sem fermento, os pães da 

sinceridade e da verdade.1Coríntios 5.8

Eis como NÃO devemos participar dessa festa: como se fosse um ritual

mecânico e triste. Trata-se de uma festa, festa de gratidão pela redenção

cm Jesus Cristo, festa de gratidão pela certeza de sua volta para nos buscar.

Não é hora de olhar para baixo, mas para os lados, onde estão nossos ir

mãos, e para o alto, onde está o nosso Senhor, ansioso pela hora de vir aonosso encontro.

 Antes, nossa disposição deve ser a de uma vida sincera e veraz. Ser since

ro e verdadeiro é fazer coincidir nosso exterior com nosso interior, nossa fé

com nossa prática. Participar da festa com sinceridade e verdade é partici

par com gosto e prazer; não é um participar por participar, mas um esperar

pela hora do seu acontecimento.

Somos convidados a ser massa nova (fermento novo), e isso só acontece

i| uando aceitamos o sacrifício de Jesus Cristo por nós e vivemos segundoas conseqüências desse sacrifício.

• • •

t ) “que é que tem” é o grande inimigo do cristianismo. A lista do que nos

ó lícito fazer é imensa. Fracassaremos, no entanto, se não olharmos a outra

coluna, onde estão anotadas as práticas que não nos convêm.

Quem está como aquele devasso de Corinto deve se arrepender. Quemestá se deixando levar por ele também deve tomar um novo caminho para

sti.i vida.

|esus Cristo nos fez massa nova, e como tal devemos viver.

L35

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19  I C o r í n t i o s 6 .9 -1 1

Lavados, santificados e justificados

 Deus não nos justifica porque somos dignos, mas, ao nos justificar, ele 

nos faz dignos.'

C o m o   d e f i n i r   u m   c r i s t ã o ?

Eis o que somos, segundo o apóstolo Paulo: lavados, santificados e justificados pelo poder conjunto da Trindade divina.

Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se 

deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homosse

xuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem 

caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus. Assim foram al 

guns de vocês. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus.

ICoríntios 6.9-1 1

 Antes dessa operação em nós, éramos outras pessoas, seguindo, talvez,

o triste ensino de um contemporâneo de Paulo, Sêneca (1-65), para quem

os homens amam seus vícios.

'WATSON, Thomas. A Puritan Golden Treasury. Disponível em <http:/ / christi;ui <|in>

tes.ochnsdan.com>. Acessado em 3/ 7/ 201 1.

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LAVADOS, SANTIFICADOS E JUSTIFICADOS

U m  n â o -c r i st Ã o   é  q u e m   n ã o   se  d e i x o u  a l c a n ç a r   po r  D e u s  

Paulo descreve os não-cristãos como escravos dos vícios.

Ü apóstolo faz um contraponto entre um não-cristão e um ‘ex-não-cristão\ Um cristão é aquele que deixou de ser um não-cristão, que

Paulo descreve em termos que eles próprios geralmente não aceitam

para si mesmos. Eles não se convertem precisamente por isto: acham

que estão certos. Quem está certo não muda, embora viva fora da justiça

tio Reino.

Paulo, talvez olhando para como viviam seus leitores antes de se permi

tirem alcançar por Deus, faz uma lista daqueles que não herdarão o Reino

de Deus. Não se trata de uma relação exaustiva, mas indicativa dos padrões

do Rei.

 A relação é a mesma de ICoríntios 5.10-11, acrescida de quatro tipos:

íidúlteros, homossexuais passivos ou ativos e trapaceiros. Ao todo, Paulo

pefere dez tipos de pecado, todos sob a marca genérica de injustos, isto é,

de não-justificados por Deus.

 A lista inclui as cinco dimensões do pecado.

1. Ficarão fora do Reino de Deus os que vivem pecando contra a igrejaSomo corpo de Cristo, ilustrados pelos imorais ou impuros e pelos calu

niadores. Imoral (pornoi) é aquele que não tem compromisso com Cristo;

í aqueleque acha que tudo lhe é lícito (possível) fazer. Caluniador é aquele

que se coloca como padrão para os outros; por julgar os outros com sua

própria regra, ele busca defeitos neles para os condenar com uma dureza

que não quer para si. Sua língua maldiz, amaldiçoa. Há lugar no Reino de

I )cus para imorais e caluniadores que se tenham arrependido.Ficarão fora do Reino de Deus os que preferirem atentar contra

I )eus, tipificados pelos idólatras, que são aqueles que tornam a religião fá-

i ll demais, como no caso do bezerro de ouro. Não há lugar no Reino para

pessoas que preferem adorar os símbolos acerca de Deus em lugar do Deus

dos símbolos, mas há para aqueles que amam verdadeiramente a Deus.

 V Ficarão fora do Reino de Deus os que pecarem contra o corpo, reu

nidos em torno da dependência do álcool, ao qual poderíamos acrescentarit uso de qualquer tipo de droga, como o cigarro e o tóxico. Alcoólatra é

aquele que só está bem quando adiciona algum produto químico à sua

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

corrente sanguínea. Não há lugar no Reino para aqueles que não podem seapresentar sóbrios, como Deus os fez, diante do Pai.

4. Ficarão fora do Reino de Deus os que escolherem pecar contra opróprio corpo e o corpo dos outros, vivendo como adúlteros ou homosse

xuais. Adúltero é todo o que quer a satisfação infinita de seus desejos; porisso, se presta a qualquer tipo de papel em busca da continuidade de tal

satisfação. Adúltero é aquele que, no plano do desejo e da prática, buscasexualmente quem não é seu cônjuge; como deseja, fará tudo, como Davi

em relação a Bate-Seba, para consumar o desejo. Adúltero é todo aquele

que se tornou um viciado em sexo, seja virtual ou realmente, não importa

sua idade ou estado civil. Adúltero é quem não controla seus desejos e viveguiado por eles.

Se adúltero é um termo genérico para os pecados sexuais, efeminados

(homossexuais passivos) e sodomitas (homossexuais ativos) são termos es

pecíficos. O problema não é recente, embora cada vez mais estejam eles areivindicar a legitimidade da experiência e da convivência homossexual, ao

ponto de a Holanda tornar legais casamentos entre pessoas do mesmo sexo.

Dos quinze primeiros imperadores romanos, apenas um não era homossexual. Paulo, portanto, estava falando de um problema real, oferecendo,

assim, um ensinamento ainda atual.

Diante desse quadro e do ensino bíblico, precisamos derivar dois con

selhos:

O primeiro é que devemos ter o maior respeito pelos homossexuais.

Devemos dar boas-vindas a eles em nossas igrejas. Não devemos discrimi

ná-los. Esse respeito deve ser mútuo, no sentido de que precisam respeitar

a comunidade onde estão e que busca outros valores.

O segundo, nessa mesma linha de raciocínio, é que, supondo haver

nele alguma compulsão além de seu controle, o único caminho para o

homossexual que quer fazer parte do Reino de Deus é a abstinência. O

convite a todos é para a plenitude de vida, desfrutando sua sexualidade

segundo os padrões de Deus. Esse convite deve ser feito, seja qual for a

sua experiência de vida. Ninguém pode ser escravo do seu passado, seja o

abuso sexual de que foi vítima, seja a educação equivocada que recebeu. Se você é pai 0 1 1  mãe, veja como está educando seu filho, nunca lhe impondo

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I .AVADOS, SANT IFICAD O S F. JUSTIFI CAD O S

limites ou apenas lhe impondo limites. Reavalie sua presença, como pai ou

como mãe. Se você é pai ou mãe e verifica tendências homofóbicas cm seu

filho, converse com ele, procure ajuda. Se o caminho que seu filho escolherestiver fora da vontade de Deus, ame-o assim mesmo. Há lugar no Reino

de Deus para adúlteros e homossexuais que tenham se comprometido a

mudar de vida.

5. Ficarão fora do Reino de Deus os que insistirem em pecar contra

os bens, vivendo como avarentos, ladrões ou trapaceiros. Avarento, neste

texto, é todo aquele que guarda para si aquilo que não lhe pertence. La

drão (gatuno) é aquele que se apossa às escondidas dos bens dos outros,furtando-lhes. Trapaceiro (assaltante) é aquele que usa a força, a lei ou a

arma para retirar o que pertence aos outros. Zaqueu era um assaltante.

Quando foi transformado por Cristo, deixou de ser um assaltante. Mais

que isso: dispôs-,se a reparar (devolver) os danos provocados por ele. Para

aquele homem houve lugar no Reino de Deus.

IJm c r i s t ã o   é  q u e m   f o i   t r a n s f o r m a d o   pe l a   a ç ã o   c o n j u n t a  

d a  T r i n d a d e

 Apesar de sermos o que somos, não estamos condenados a ser o que somos,

pois Deus nos transforma. Não é magia, mas uma operação da Trindade,

que nos sela para um novo tipo de vida.

Para descrever essa profunda mudança, Paulo usa uma construção lin

güística incomum, começando três frases com um inusitado “mas” que as

tonecta magistralmente. Por isto, podemos reescrever seu texto assim:

 Assimforam alguns de vocês; mas vocês foram lavados em nome do Senhor  

 Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus; assim foram alguns de vocês; mas 

vocês foram santificados em nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do 

nosso Deus; assim foram alguns de vocês; mas vocês Joram justificados em 

nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus (ICo 6.11).

 A transformação é o resultado da ação da Trindade divina sobre nós. 

C'om o sangue, o Filho nos lava de todos os pecados. Depois de lavados, somos declarados pelo Espírito Santo como santificados, isto é, separa 

dos para Deus. Lavados e santificados, o Pai põe-nos seu selo.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

1. Um cristão é quem foi lavado por Jesus Cristo A primeira ação por nós é, portanto, de Jesus Cristo, que nos lava com oseu sangue, sangue de Cordeiro de Deus imolado (morto) por nós.

O sangue está onde sempre esteve, vertendo da cruz. Para nos lavar, precisamos ir até a cruz, para que o sangue venha sobre nós e nos lave. Nessesentido, é como se nós mesmos nos lavássemos, uma vez que aceitamos oconvite de Jesus Cristo.

 A razão identifica dois equívocos na redenção: o primeiro é que é in justo um morrer por todos, incluindo-nos. A razão não entende nada de

amor, muito menos do amor de Deus. A justiça de Deus é injusta, precisamente por nos alcançar a todos.O segundo equívoco é que Deus respeita a nossa liberdade. O sangue

que nos lava está vertendo da fonte, mas nós precisamos nos deixar lavarpor ele.

Um cristão é alguém que se deixou lavar pelo sangue do Filho. E alguém que quis ser lavado pelo sangue do Cordeiro. É alguém que assumiuo compromisso de se deixar transformar por Cristo.

Muitos recusam o sangue de Cristo. Talvez você o ache irracional. E émesmo: Paulo disse que a cruz é uma loucura de Deus.

Talvez você imagine que esse sangue verterá da cruz para todo o sempre e que ele pode esperar por você. Não é bem assim: a oferta da cruzé limitada ao período de vida de cada um de nós. Além disso, aqueleque morreu nela oferece-lhe a vida desde agora e já, não para um futuroincerto.

Talvez você pense que o amor de Deus é tão grande que ninguém preci

sa ser transformado. Sim, o amor é imenso, mas esse amor só fará sentidoquando transformar você. Você já experimentou contemplar uma fonte deágua numa estrada? Contemplar a fonte lhe tirou a sede?

Não recuse o sangue de Cristo. Aceite-o e venha se preparar para o batismo, o símbolo maior de que você foi lavado pelo sangue do Cordeiro.

2. Um cristão é quem foi santificado pelo Espírito Santo

Há uma progressão na obra da Trindade. Depois de lavados, somos santificados pelo Espírito Santo, que declara que agora somos de Deus.

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LAVADOS, SANTI FICADO S E JUSTIFICAD OS

É o Espírito Santo agindo em nós que impede que voltemos a ser imo

rais, idólatras, adúlteros, homossexuais passivos ou ativos, ladrões, avaren

tos, alcoólatras, caluniadores ou trapaceiros. Não voltar a esse tipo de vidaé também uma promessa, para a qual fomos selados, (Quando vocês ouvi

ram e creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram 

selados em Cristo com o Espírito Santo da promessa — Ef 1.13.)

Essa santificação implica também um compromisso, o de não trocar

o convívio com o Espírito Santo por outros convívios. É absolutamente

incrível como algumas pessoas, um dia seladas e santificadas, passam a ter

prazer numa vida que entristece o Espírito Santo, algumas por descuido,

mas outras muito conscientemente. ( Não entristeçam o Espírito Santo de 

 Deus, com o qual vocês foram selados para o dia da redenção — Ef 4.30.)

 Você quer saber se alguém é salvo? Procure ver se ele busca a santifica

ção. Quem náo se santifica não é salvo.

3. Um cristão é quem foi justificado pelo Pai

Depois de lavados pelo Filho e santificados pelo Espírito, somos justifica

dos pelo Pai. Ser justificado é ser aceito como filho pelo Pai. Éramos o queéramos, mas agora, porque lavados e santificados, não somos mais o que

éramos: somos filhos de Deus.

 Acontece conosco o que aconteceu com Jesus Cristo, por ocasião do seu

batismo, Quando todo o povo estava sendo batizado, também Jesus o foi. E, 

enquanto ele estava orando, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele 

em forma corpórea, como pomba. Então veio do céu uma voz: “Tu és o meu 

 Filho amado; em ti me agrado” (Lc 3.21-22).

É assim que o Pai nos apresenta aos homens como filhos amados dele.

Essa é a nossa nova identidade.

 Assim justificados, podemos produzir atos de justiça. Não são os atos

de justiça que nos justificam, mas Deus. A nossa justificação por ele é que

nos leva a produzir tais atos.

* • •

Lavados, santificados e justificados, mas isso não quer dizer que não pecamos mais. Quando o apóstolo diz que éramos o que éramos, ele nao

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

garante que não cometemos mais aqueles pecados, mas que não nos orgu-

lhamos mais deles; pelo contrário nos propusemos a não mais praticá-los.

E isso que é ser um cristão. Seja um cristão e se tome participante do

Reino de Deus, porque ser cristão é penetrar no futuro do Reino de Deus

e desfrutá-lo agora.

Se você é cristão e ainda não se batizou, tome a decisão de se tornar um

discípulo de Jesus Cristo, que inclui ser batizado, como ele o foi.

Se você é cristão, mas tem prazer no pecado, saiba que uma das provas

do poder do cristianismo é que Deus nos liberta do domínio do pecado.

 Você pode ser livre.Se você ainda não é cristão, deixe-se lavar pelo sangue do Cordeiro,

deixe o Espírito Santo habitar em sua vida, deixe-se ser amado por Deus.

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20  1C o r í n t i o s   7

Teologia da sexualidade

 Pornografia, é difamação contra a bondade da criação de Deus e 

corrupção desse bom presente que Deus deu às suas criaturas a partir  

do seu próprio amor abnegado. Abusar desse presente é debilitar, não 

só a instituição do matrimônio, mas a própria essência da civilização. 

 Escolher a luxúria em vez do amor é degradar a humanidade e adorar  

o falso deus Priapus na forma mais descarada de idolatria moderna.'

O capítulo7 de 1Coríntios é um amplo manual sobre a sexualidade hu

mana segundo o plano de Deus.

O modo de desfrutar do sexo preocupa os cristãos de todos os tempos.

Também os coríntios tinham dificuldade em relação à sexualidade. Por

isso, escreveram ao apóstolo Paulo com várias perguntas, perguntas das

quais só temos as respostas.Entre eles havia duas perigosas tendências: os ascetas, que pregavam que

o sexo é pecaminoso em si, e os devassos, que ensinavam que a vida sexual

nada tem a ver com a vida cristã. A igreja estava confusa. Paulo condena os

dois caminhos e põe o assunto em termos adequados.

1M< )1ILER, Albert. The seduction of pornography and the integrity of Christian marria 

gr, p. 11. Disponível em <http:/ / www.sbts.edu/ documents/ Mohler/ EyeCovenant.pilf  

 Ai cssado cm 3/ 7/ 201 I.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL, 1

 A  ATUALIDADE DOS ENSINOS BÍBLICOS

 A teologia paulina acerca da sexualidade, no entanto, náo se aplica apenas

àquele tempo, pois as preocupações permanecem. Há ainda quem ensineque sexo é pecado. Há ainda quem ensine que náo existe pecado debaixo

da linha do Equador... e muito menos acima.

Se queremos viver nossa sexualidade segundo o plano de Deus, precisa

mos seguir seus ensinos, alguns dos quais expressos nesse difícil capítulo.

 A propósito, duas expressões recorrentes nele são “não eu, mas o Senhor”

e seu reverso: “eu, não o Senhor”. Alguns poderão tomar essas expressões

para relativizar o ensino paulino, como se na Bíblia houvesse verdade inspirada e verdade não-inspirada.

Não há oposição entre o que Paulo pensa e o que Deus pensa. Quandoo apóstolo diz que é o Senhor quem está falando, ele cita textos do Antigo

ou do Novo Testamento (mesmo que de memória quanto ao Novo Testa

mento), como acontece quando se refere ao divórcio, cujo ensinamento é

uma citação das orientações de Jesus Cristo (cf. Mt 19.9).

Esta seção deve ser lida à luz de Efésios 5.22-23 e 1Timóteo 3.2-5, para

não se pensar que o apóstolo era contra o casamento.E bom termos em mente que o apóstolo escrevia a partir de sua ética: a

ética do ínterim, aquela segundo a qual tudo devia ser relativizado diante

do fato absoluto da volta de Cristo. É por isso que no versículo 1, que se

completa com o versículo 26, ele recomenda o celibato como estilo de

 vida. Se não considerarmos que toda a ética paulina é uma ética escatológi-

ca, corremos o risco de descartá-la. Era essa ética que permitia ao apóstolo

 ver as coisas como elas são, não como aparentam ser.

 A NATURALIDADE DO SEXO

O desejo sexual é algo natural na vida das pessoas.

O natural é as pessoas se casarem, quando atraídas uma pela outra. O

sexo deve ser praticado dentro do casamento. O apóstolo chega a dizer que

é praticamente impossível (por causa da prostituição - ICo 7.2) a uma

pessoa viver sem exercer sua sexualidade.

1. O lugar para esse exercício é o casamento monogâmico (entre duas pes

soas de sexos diferentes). Cada marido deve ter apenas uma esposa (ICo 7.2).

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TEOLOGIA DA SEXUALIDADE

 A monogamia é um padrão neotestamentário para todas as sociedades.

Há culturas poligâmicas (um homem e várias esposas) e poliândricas (uma

mulher e vários maridos), que a própria experiência vai demonstrando

como modelos inviáveis. Nos países africanos, os casais mais jovens ten

dem a ser monogâmicos, porque eles mesmos foram vítimas de casamentos

múltiplos, cujos resultados eram esposas preferidas e filhos preferidos.

No reino animal, a monogamia não é padrão, e há muitos humanos

querendo copiar os animais. A poligamia pode ser boa para bichos, não

para seres humanos. As relações extraconjugais estão na base de muitas

separações. As relações extraconjugais também fizeram com que, no Brasil,as esposas fossem a grande vítima da Aids, ao ponto de as autoridades da

.saúde recomendarem que as esposas exijam o uso de preservativos no caso

de desconfiarem do seu cônjuge. É possível que haja maridos e esposas

cristãos com relacionamentos fora do casamento. Eles precisam saber que

estão pecando contra seus cônjuges e contra Deus. Por isso, precisamos

repetir os padrões bíblicos. Alguns justificam a sua infidelidade com a infi

delidade do outro. Alguns justificam sua duplicidade por causa dos filhos.

Quem ama mesmo os filhos fica com eles e com a mãe deles.

2. No casamento, cada cônjuge renuncia aos direitos exclusivos sobre

•CU próprio corpo (ICo 7.3-5), exceto quando é desrespeitado. Nesse caso,

0 cônjuge deve se preservar do contato sexual com quem o desrespeita.

 As mulheres que às vezes se ressentem do aparente machismo do após

tolo Paulo deviam ler com atenção os versículos 3 e 4. Os direitos de mari-

do e mulher são absolutamente iguais no pensamento paulino num tempo

i*mque as mulheres não tinham quaisquer direitos.I lá casamentos que fracassam porque um dos cônjuges nega ao outro o

prazer do sexo. Em Corinto, havia esse problema, agravado com a descul

pa religiosa. O sexo era negado a pretexto de atrapalhar a comunhão com

1)eus ou o serviço no seu Reino. Por isso, o apóstolo vai direto ao assunto,

dizendo que nenhum dos cônjuges tem direito sobre seus órgãos sexuais,

quedevem ser colocados ao prazer do outro. No caso de motivação religio

sa, arestrição devia ser por pouco tempo e de comum acordo. Há cônjugesque se sentem liberados para procurar outros corpos por não terem satis

ffçào em casa. A negação não justifica esse comportamento, mas também

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

nada justifica a negação. A falta de vida sexual ativa no casamento é um

terreno fértil para a ação de Satanás (versículo 5), que tenta dividir, tenta

levar um dos cônjuges a ceder seu corpo a outro. A recomendação é clara: Não se recusem um no outro (versículo 5).

O sexo não tem a ver apenas com a procriação, mas com o prazer. Essa visão, derivada do gnosticismo, é atacada pelo apóstolo, que sequer men

ciona filhos nessa seção.

3. O casamento é uma concessão, não um mandamento (ICo 7.7).O casamento, portanto, não é obrigatório, embora seja desejável pela

natureza humana.

Com isso, o apóstolo quer dizer também que sexo não é tudo, Há pessoas que podem viver sem sexo ou com baixa taxa de uso. Se marido emulher têm imensidades diferentes, devem concordar num ponto de equi

líbrio, para que ambos sejam felizes, e não apenas um deles.

Se um deles é extremado, para o pouco ou para o muito, além de seentenderem, devem procurar ajuda profissional em busca do ajuste sexual,

para que o casamento possa perdurar.

Nos versículos 29 a 31, o apóstolo relativiza a vida conjugal, como re-lativiza a alegria e o sofrimento. Com isso, ele quer dizer que todas asdimensões de nossa vida devem ser experienciadas à luz do poder de Deus

sobre nós. É ele que nos dá o casamento e o celibato, o ter filhos e o nãoter. Nossa cultura “pansexualiza” os relacionamentos, como se fora do sexo

não houvesse vida.

Se alguém quer ser celibatário, deve consultar a Deus e decidir.

Nos versículos 32 a 35, o apóstolo Paulo faz um elogio do celibato,

mostrando a vantagem do solteiro no cuidado do Reino. Não há dúvida dique quem não tem família dispõe de mais tempo para se dedicar à obra de

Deus. No entanto, Paulo não coloca o celibato como condição indispen

sável e nem se coloca como padrão, embora ele mesmo estivesse solteironaqueles tempos e conquanto ele provavelmente tivesse sido casado. Deus

não chama as pessoas em função do seu estado civil. O celibato é um domde Deus, mas o casamento também.

O apóstolo não defende o celibato como algo necessário. O celibatoé antinatural. Não pode ser imposto a ninguém. Paulo se fez celibatário

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TEOLOGIA DA SEXUALIDADE

para se dedicar exclusivamente à pregação do evangelho. Paulo tinha o

casamento em alta conta, ao ponto, por exemplo, de recomendar que os

pastores sejam casados.Se alguém pretende casar, deve consultar a Deus e decidir. Esse é um

assunto importante demais para ser decidido apenas por duas pessoas (os

cônjuges). Deus precisa ser chamado para o centro de nosso coração para

participar do processo decisório.

O pior erro de quem casa é não levar a sério o casamento. A facilidade

das leis acerca do divórcio acaba funcionando como um salvo-conduto

para decisões precipitadas. Se você está solteiro, na dúvida não case, mas

arque com as conseqüências de sua decisão, entre as quais não dispor do

corpo de quem não é seu cônjuge.

Separar-se é uma tragédia, diferentemente do que mostram os filmes e

as novelas. Esse negócio de que “cada um foi para o seu canto” só perdura

na ficção. Na vida real, separação é solidão, confusão, dor e angústia.

4. A propósito, nos versículos 10 a 16, Paulo discorre sobre o divórcio,

COmalgumas instruções também sobre o relacionamento entre um cônju

ge cristão e um não-cristão. A separação mencionada nos versículos 10 e 11 se refere à separação

aicética, cometida por um dos cônjuges para o fim de servir ao Senhor.

1lavia em Corinto, por causa da teologia equivocada sobre a sexualidade,

quem achasse que devia se separar do seu cônjuge para servir melhor ao

Senhor. Não era a famosa “incompatibilidade” de gênios que mais tarde

fitria a alegria dos advogados de família..., por justificar toda e qualquer

separação, mesmo aquelas que jamais deveriam ter ocorrido. O apóstolol.u menção de separações motivadas por razões religiosas (versículo 12). O

princípio é claro: se um cristão tem um cônjuge incrédulo que concorda

cm viver regularmente a vida conjugal, o cristão não deve se separar.

Paulo não está fazendo um tratado acerca do divórcio, mas fica eviden

te que o apóstolo não o apoia. Esse é o ideal bíblico, e não temos como

moldá-lo às nossas conveniências. A separação deve ser evitada.

( lomo Jesus (Mt 19.9), Paulo tolera o divórcio no caso deporneia (pros

tituição, traição, adultério), se não for possível a reconciliação, e ainda emilu.is outras situações com conotação religiosa.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Paulo admite também a separação por razão de atuação religiosa, isto é,para que um dos cônjuges viva integralmente para o serviço do Reino de

Deus. Nesse caso, não deveria haver novo casamento, embora fosse admissível a reconciliação (isto é, volta ao estado conjugal).

O apóstolo admite ainda a separação quando a iniciativa for tomadapelo cônjuge incrédulo (versículo 15). Nesse caso, o cônjuge abandonadotem direito a novo casamento. No entanto, o cônjuge cristão não deve usara incredulidade do parceiro para se separar dele, pois precisa pensar também nos filhos (versículos 14 e 16).

O princípio, portanto, é este: o divórcio não está nos planos de Deus,

mas é tolerado em casos em que não haja, esgotadas todas as tentativas deconciliação e reconciliação, possibilidades de convivência saudável.

5. No contexto do divórcio, o apóstolo trata de um assunto que afligia

os coríntios e, de resto, os cristãos ao longo da história: o casamento de umcristão com um não-cristão.

Pressuposto que o ideal é a união entre cristãos, e pressuposto tambémque uma união entre cristãos não tem sucesso garantido, um casamentodesse tipo pode ser um instrumento de salvação. Esse é um problema queaflige a muitos jovens não casados e a cristãos já casados.

Paulo mostra que o casamento pode ser um instrumento para a sal vação. No entanto, não pode um noivo entrar nesse tipo de casamentocontando que o seu par se converterá. Nem todos os noivos incrédulos seconvertem depois que se casam. Alguns deles, que vinham à igreja quandonamorados, nunca mais põem os pés numa. Quem entrar nessa deve saber

dos riscos e depois não ficar cobrando de Deus uma conversão ou uma

convivência melhor.Embora não se possa ter a certeza de um bom resultado, o cônjuge cren

te deve santificar o outro, não só com seu comportamento moral, mas emseu relacionamento com Deus. Infelizmente há cônjuges cristãos que não

 vivem Deus em casa, embora até queiram trazer seus companheiros para a

igreja, à espera de um milagre. O milagre da conversão virá primeiramentequando Deus quiser e seu cônjuge o aceitar.

 Você pode ser um instrumento para isso, desde que você o santifique,

separando seu lar para Deus, por meio da oração. Ore todos os dias por seu

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TEOLOGIA DA SEXUAL1DADI!

cônjuge. Ore e espere. Conta-se a história de uma mulher que pediu ao seu

pastor que orasse pela conversão do seu marido. Ele concordou, colocando

uma condição: que ela orasse meia hora por dia pelo mesmo assunto. Suaresposta foi:

— Ah, pastor, assim o senhor está pedindo demais!

 Aquela mulher, na verdade, jogava para a platéia. Ela não achava a con

 versão do seu marido algo realmente importante.

6. O apóstolo Paulo sintetiza seus conselhos, recomendando, agora par

ticularmente aos jovens, que casar é melhor do que abrasar-se, isto é, do

que se deixar dominar ou se deixar consumir pelo desejo sexual (ICo 7.9).

Existe uma ética sexual para os jovens crentes e outra para os não-cren-

tes? Ou melhor: têm nossos jovens se comportado diferentemente dos não-

crentes? Muitos jovens crentes vivem (e não é fácil) segundo os padrões de

Deus. Muitos jovens crentes, infelizmente, não vivem assim.

Talvez fosse melhor aos expositores da Palavra de Deus esquecer o as

sunto. Seriam mais simpáticos, haveria menos culpa entre os seus ouvintes.

No entanto, um expositor explica, não inventa a Palavra.

Os textos bíblicos são claros: a atividade sexual deve ser desenvolvida nointerior do casamento monogâmico. Não há o que se fazer para interpretar

diferentemente, de modo mais cômodo, a Palavra divina.

É possível que o número de jovens cristãos fiéis a esse princípio seja cada

 vez menor. Assim mesmo, o apóstolo Paulo tem que ser repetido.

Um jovem crente precisa controlar seus desejos sexuais. Nossa socieda

de ensina que não, que os desejos devem ser atendidos, que não podem

ser reprimidos. A Bíblia ensina que os impulsos devem ser controlados. Ocristão precisa escolher a quem seguir, se à “sociedade-sem-Deus” ou ao

Senhor da sociedade.

• • •

Infelizmente há cristãos que têm desvalorizado o casamento, achando-o tão

somente uma convenção humana, apenas para justificar suas escolhas.

I lá casais cristãos, com vida sexual ativa, em que um quer casar, e o

Outro se recusa a fazê-lo, por razões nem sempre defensáveis. Há casais cris

tftos em que um força o outro, até com ameaças, para a vida sexual aiiv.i

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21  1 C o r í n t i o s   7.17-23

O cristão no seu tempo

 A cultura é boa. A cultura é bela. A cultura merece respeito. Mas a 

cultura, como toda realidade humana, carrega o selo do pecado e pode 

muito bem ser seu instrumento.1

Será que o antigo cristianismo de Jesus e de Paulo pode ser vivido nos

dias de hoje com a mesma qualidade e intensidade?Temos que ser antigos para sermos cristãos? Temos que renunciar a nos

sas produções culturais para sermos fiéis a Jesus Cristo?

O conflito é real, já que pertencemos a Cristo, no sentido de que temos

usua mente, não a mente da cultura de nossa época.

Essa seção de 1Coríntios nos ajuda a responder a algumas dessas indagações.

I. Nosso compromisso é viver segundo os mandamentos de Deus, 

mesmo que a sociedade onde vivemos não os reconheçalintretanto, cada um continue vivendo na condição que o Senhor lhe de

signou e de acordo com o chamado de Deus. Esta é a minha ordem para

todas as igrejas (lCo 7.17). A chave dessa seção está no versículo 23. Nós fomos comprados por

|csus Cristo. Somos dele. Não somos de nós mesmos. Não somos da socie

dade cm que vivemos.

' t.()NZALF,Z, Justo. Cultura c evangelho. São Paulo: Hagnos, 2011, p. 77.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Em nosso coração e em nossa mente, trava-se uma guerra. Os valores da

cultura em que vivemos querem dominá-los (coraçáo e mente). Aconteceque nós já os consagramos a Deus. Não há outro Senhor sobre eles senão

o Senhor de nossa vida. Devemos andar como ele nos designou, isto é,

segundo os seus mandamentos.Precisamos permanecer conectados com ele para saber quais são es

ses mandamentos. Precisamos permanecer conectados com ele para to

mar as decisões que estejam de acordo com esses mandamentos. Todas

as nossas decisões são decisões espirituais. É infelizmente corrente a

ideia de que nosso relacionamento com Deus não tem nada a ver comnossos relacionamentos afetivos, nossos estudos ou nossos negócios. Se

 vivemos segundo essas convicções, saibamos que nossa vida sentimen

tal, nossos estudos ou nossos negócios estão destinados a experimentaro fracasso.

Dividimos o que não pode ser dividido. Complicamos o que é simples. Basta, diz o apóstolo Paulo, viver como Deus quer que vivamos. Nãoprecisamos inventar nada. Lendo a Bíblia, aprendemos como viver. Dis-pondo-nos a levar a sério os mandamentos de Deus, ele nos capacita paracolocá-los em prática.

 A obediência a Deus é vital. A atenção aos valores culturais é secundária. Nosso compromisso deve ser viver neste mundo obedecendo ao seu

Criador e Senhor.

2. Há valores na cultura que podemos fruir 

 Foi alguém chamado sendo jd circunciso? Não desfaça a sua circuncisão. Foi alguém chamado sendo incircunciso? Não se circuncide.

lCoríntios 7.18

Os primeiros cristãos discutiam se era necessário a um não-judeu setornar judeu para ser cristão. A óbvia conclusão — de que não — demorou

a ser consenso. Alguns achavam que a cultura hebraica era essencial para se

entender a iniciativa salvadora de Deus por Jesus Cristo.Outras discussões têm sido debatidas ao longo dos séculos cristãos.

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O CRISTÃO NO SEU TEMPO

Há ainda, por exemplo, um grande debate acerca da música. Para uns,

há um ritmo sagrado e um ritmo profano. Há denominações que conside

ram sagrados os hinos de seus hinários. Os ritmos mais recentes, mesmoestrangeiros, como o jazz e o rock, são profanos. Os ritmos brasileiros,

como o samba, são inaceitáveis no culto cristão.

Possivelmente tais pessoas estão sacralizando seus gostos particulares e

tradicionais para recusar aqueles ritmos dos quais não gostam.

0 mesmo ritmo de um samba composto para celebrar o amor entre

duas pessoas pode ser usado para a adoração a Deus. Todo ritmo é uma

expressão cultural de um povo (ou de parte de um povo) e de uma época.

Como tal, pode ser consagrado ao Senhor dos povos, das culturas e das

épocas.

Não há um volume de som mais sagrado e menos sagrado. Trata-se tudo

de uma questão de hábito, conveniência e instrução; hábitos, conveniên

cias e graus de instrução que variam no espaço e no tempo.

Não há instrumentos mais sacros e menos sacros. Nas primeiras décadas

do século 20 evangélico houve um predomínio absoluto do órgão nos cul

tos. A chegada do piano foi marcada por muita controvérsia, sob o argumento de que esse instrumento não era sacro. Nos anos 70, a discussão se

ira vou em torno da guitarra. Depois, houve um debate em relação à bateria

Caos instrumentos de percussão. Não sei que instrumentos serão objeto

de controvérsia nas próximas décadas. Espero que nenhum, por termos

aprendido que não há instrumentos intrinsecamente sacros ou profanos.

Profano é o uso que fazemos deles. Quando os usamos para nos ajudar a

exaltara Deus, eles são sagrados.1 iá valores na cultura que podemos fruir. Podemos curtir Vivaldi e Pa-

ganini, Lulu Santos e Os Travessos. Seus ritmos podem nos fazer bem ou

in.il conforme nossa formação e nosso gosto. Nossa crítica estética deve se

razer a partir de nossa percepção. No entanto, há outro tipo de crítica, que

t  .1 crítica radical crista. A mensagem que esses artistas veiculam, pelo rit

mo ou pela letra, é compatível com os mandamentos soberanos de Deus?

N.u>podemos ser ingênuos de aceitar uma “arte pela arte”. Mesmo “a arte

pela arte” contém uma mensagem. Ao consumir essa mensagem, devemos

fu/ é-lo criticamente.153

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Os mandamentos são a nossa régua para medir as produções da cultura

no campo moral, artístico, científico e tecnológico. Os recentes desenvol vimentos no campo das ciências biológicas são um enorme desafio. Nãopodemos aceitar tudo que as ciências podem produzir sem passar essas

possibilidades pelo crivo da soberania de Deus. Nunca precisamos tantode profissionais cristãos nesses campos do conhecimento! Eles poderão nosajudar a evitar o vale-tudo científico! E bom saber que vão bem as pesquisas (e os brasileiros têm se destacado nesse campo) na luta contra o câncer.É triste saber que há cientistas mais interessados em “brincar de Deus” do

que em curar doenças que apequenam o ser humano e atentam contra oprojeto perfeito de Deus!

No campo da ciência e da arte, do lazer e do esporte, da educação e dapolítica, devemos fruir (usar)o que é bom e rejeitar o que é ruim. Para isso,

precisamos estar vigilantes, sem ingenuidade. O mundo não está feito; nóso estamos fazendo, Que mundo estamos construindo?

3. Não podemos sacralizar as experiências culturais, por melhores que sejam

 A circuncisão não significa nada, e a incircuncisão também nada é; o que importa é obedecer aos mandamentos de Deus.

1Coríntios 7.19

Quando aceitamos a Cristo, não precisamos renunciar aos valores legí

timos da cultura. Um índio não precisa deixar de ser índio para ser cristão.Um esquimó não precisa deixar de ser esquimó para ser cristão. Um judeunão precisa deixar de ser judeu para ser cristão. Só precisamos renunciaraos valores que estejam em contradição com as recomendações divinas.

Isso se aplica também no campo profissional. Uma professora de culinária continuará sendo professora de culinária. Uma dentista continuarásendo dentista. Uma dona de casa continuará sendo dona de casa. Ummédico continuará sendo médico. Uma estudante continuará sendo estu

dante. O que se torna diferente nas vidas dessas pessoas quando elas se deixam comprar por Jesus Cristo e se comprometem a viver por ele e para ele?

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O CRISTÃO NO SEU TEMPO

Terão que deixar suas profissões? Não!

Cada um deve permanecer na condição em que foi chamado por Deus.1Coríntios 7.20

Essas pessoas devem passar a considerar suas profissões como campos

missionários, como têm feito médicos, advogados e esportistas.

Quando surgiram os Atletas de Cristo, muitos colocavam a expressão

“de Cristo” entre aspas. Podiam ser atletas, mas não de Cristo. O futebol,

achavam alguns, é incompatível com a vida cristã. Hoje há jogadores que

fizeram do esporte seu meio de vida e seu meio de evangelização.

Toda a vida do cristão deve ser desenvolvida com uma constante missão.

4. Nosso mundo tem regras que não podemos mudar. Antes, temos

que nos adaptar a elas, mesmo que a contragosto

 Foi você chamado sendo escravo? Não se incomode com isso. Mas, se você 

puder conseguir a liberdade, consiga-a. Pois aquele que, sendo escravo, foi chamado pelo Senhor, é liberto e pertence ao Senhor; semelhantemente, 

aquele que era livre quando foi chamado, é escravo de Cristo.

1Coríntios 7.21-22

 Vivemos em constante tensão com as práticas vigentes no mundo. Dessa

recomendação paulina acerca da escravidão, podemos derivar alguns con-

«cllios para a nossa vida diária, para que não fiquemos ansiosos (versículo22a). Aliás, quanto ao problema em si, o apóstolo não estava justificando

a escravidão. Ao contrário, orientou a quem fosse escravo que lutasse por

Mia liberdade, mesmo porque o feroz sistema escravagista romano era algo

passageiro, não absoluto, como ensinava o Império.

Somos escravos de um conjunto corrompido de valores.

Quem viaja profissionalmente sabe do que estou falando. Quando se

pede uma nota fiscal, o garçom ou o atendente pergunta, com a cara maistranqüila do mundo, qual o valor que deve ser colocado nela. Esse tipo de

compromisso com os valores seculares nós podemos evitar, fazendo c o í i k  idi

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

rem nossas despesas com a declaração do quanto gastamos. Se erramos nisso,estamos comprometendo nossos valores, por mais que todo mundo faça e

por mais que possamos justificar nossos atos (com os baixos salários etc.). Às vezes, não temos como escapar do estilo de vida da cultura predo

minante. As vezes, fazemos coisas que não são justas, mas somos obrigadosa fazê-las. Um médico pode cobrar apenas pelo serviço que realizou, mas

um médico de uma equipe em hospital não pode fazer muito quando sua

equipe ou seu hospital decide aumentar os itens da fatura para receber mais

do plano de saúde ou do paciente. São as chamadas regras do jogo.Um construtor terminou sua obra em dia com os impostos e taxas. No

entanto, ele se recusou a pagar um valor a mais para receber um documen

to de quitação. Ele resistiu por um ano contra isso. No fim, os moradoresdo prédio cotizaram para dar o que queriam aqueles funcionários, e o do

cumento foi liberado.O ideal, diz Paulo, é evitar as situações em que temos que abrir mão

dos nossos valores. Conheci um cristão que trabalhava numa fábrica de

cigarros quando se converteu. Ele só sossegou quando conseguiu outro

emprego. Paulo lhe teria dito: não fique ansioso; busque se livrar dessasituação; quando puder, fique livre.

5. Não podemos permitir que a cultura nos escravize e nos afaste de

Deus

Vocês foram comprados por alto preço; não se tornem escravos de homens. 

 Irmãos, cada um deve permanecer diante de Deus na condição em que foi 

chamado.1Coríntios 7.23-2''i

Por fim, o apóstolo Paulo apresenta o princípio fundamental. Não podemos ser escravos de nenhum valor cultural, mesmo que predominante

em nossa sociedade e mesmo que aparentemente aceitável. Não podemosseguir a nenhum outro senhor.

Não era fácil ser cristão em Corinto. A religião pagã dominava todas asáreas. Era muito difícil a uma pessoa ser romana sem ser pagã. Os prédios,

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O CRISTÃO NO SP.U TEMPO

as aulas, os esportes e as atividades profissionais estavam impregnados de

paganismo. Paulo então lhes diz: vocês podem continuar romanos, exceto

quando ser romano exigir de vocês uma lealdade completa que só devemosa quem nos comprou. Um cristão, por exemplo, não podia ser professor,

porque na escola ele era obrigado a ensinar o politeísmo greco-romano

como verdade.

Não é fácil ser cristão na sociedade de hoje. O secularismo domina to

das as áreas. Deus foi expulso de nosso tempo. Mesmo onde Deus parece

que permanece, sob a forma, por exemplo, de um crucifixo num tribunal,

0 que permanece é uma herança cultural sem valor existencial. A vida da

maioria das pessoas gira em torno de prestígio, poder e dinheiro. A cor

rupção se tornou um estilo aceitável de viver. A sonegação é algo natural,

r só não sonega quem não consegue. Esta linda palavra “política”, a arte

de viver em sociedade, tornou-se impronunciável. Tornou-se um território

onde os bons não querem estar, para alegria dos maus que a dominam...

Expressões como “soberania de Deus”, “propósito de Deus”, “miseri-

1órdia de Deus” sobrevivem apenas nos cultos. Mesmo os que as afirmam

num templo não encontram espaço e estímulo para afirmá-las no seu dia4  dia.

Então, Paulo nos lembra de que fomos chamados a viver diante de

I >rus precisamente neste tempo e não em outro, nesta sociedade e não

rm mitra. E ao viver neste tempo e nesta sociedade, temos que viver como

pessoas que têm um dono: Jesus Cristo.

Só viveremos segundo esse princípio quando lembrarmos que Cristo

lim K improu com o seu próprio sangue. Nós custamos caro demais paraI >ms: a vida do seu Filho.

N.io pertencemos ao mundo em que vivemos. Nós pertencemos a Cris-

11 * Às vezes, tanto nos envolvemos com o mundo em que estamos que pa-

m ruins ser dele. Estamos nele, mas não somos dele. Nós somos de Cristo.

I l.i muitos senhores desejosos de nos escravizar, para que façamos a cul-

I i i i . i |'tirar a favor deles. No entanto, nosso compromisso é fazer a cultura

|iii . 1 1  i in direção a Deus. Como nos lembra John Piper, o sentido de nossa

 vld.i c obedecer a Jesus Cristo e desfrutar da presença de Deus no tempo

t m qtir vivenu>s.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

O trabalho quer nos escravizar. Por isso, diante do emprego, por melhor

que seja, devemos dizer: “Minha vida não é o emprego. Minha vida é obedecer a Jesus Cristo e desfrutar da presença de Deus no trabalho”.

 A escola quer nos escravizar. O desejo, por exemplo, de entrar em uma

universidade pública é legítimo, se esta for a meta de um cristão. Passar deano todos os anos com média elevada é um desejo louvável, e bom seria quenossos adolescentes e jovens jamais se contentassem com médias inferiores a

oito. No entanto, os fins não justificam os meios, mesmo porque nosso fim

deve ser obedecer a Jesus Cristo e desfrutar da presença de Deus na escola.

 A ciência quer nos escravizar. Ela precisa que lhe digamos que tudo é lícito e quer que nós façamos tudo para o seu progresso, como um culto

que lhe prestamos. Por isso, nossa oração deve ser: “Minha vida não é aciência. Minha vida é obedecer a Jesus Cristo e desfrutar da presença deDeus enquanto pesquiso, estudo e produzo”.

 As amizades querem nos escravizar. Os amigos exigem lealdade absoluta, lealdade que não temos, porque já a prometemos a Jesus Cristo. Quantos amigos nos fazem convites que precisam ser atendidos na hora do culto,

que demandam o tempo que dedicamos à oração e à leitura da Bíblia! A

nossa meta é convidá-los, por nosso comportamento e por nossos lábios, atambém prestarem lealdade a Jesus Cristo e a desfrutarem da presença deDeus em sua vida, prazer que nós já fruímos.

Esta, pois, deve ser a nossa oração:

Ó, Senhor, que nos chamaste brasileiros,

neste tempo em que nem tudo compreendemos e muito menos acxitamos,

 vem nos ajudar a discernir os caminhos a trilhar.Por vezes, Senhor, tudo parece tão natural, tão legítimo, tão nornul,

que te rogamos que nos venhas orientar,

para que possamos fazer as escolhas que não nos escravizem,

porque nós te pertencemos.

Ó, Senhor, que nos chamaste para viver neste tempo,nós te pedimos coragem,

5 8

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O CRISTÃO NO SEU TEMPO

para conviver com o que não podemos mudar

e para mudar o que precisamos mudar,

seja qual for o preço a pagar. Vem, Senhor, nos fortalecer,

para te enxergarmos nos esperando no final do caminhar.

O, Senhor, que nos chamaste para viver neste lugar,

nós te pedimos a alegria de te servir,

de modo que desfrutar da tua presença conosco

seja melhor que todas as presenças. Vem, Senhor, nos cobrir com tua graça,

graça que protege, desafia e capacita,

porque queremos ser completamente teus,

eis o que te rogamos em nome daquele

que nos comprou, Jesus, o teu Filho.

I S R A E L B E L O D E A Z E V E D O

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22  1Coríntios 10.23-33

Uma teologia da liberdade

 A verdadeira liberdadeconsistesomenteno poder de fazer o quedevemos desejar e não emser constrangido a fazer aquilo quenão devemos desejar .1

T o d o s   n ó s   a m a m o s   a   l i b e r d a d e

Por isso, a história da humanidade pode ser vista como a história da afir

mação e da negaçáo da liberdade. A maioria dos sistemas políticos promcu

liberdade plena. As mais importantes revoluções dos dois milênios da eni

cristã (as paradigmáticas revoluções inglesa e francesa do século 18) foram

feitas em nome da liberdade e também da igualdade e da fraternidade-.

Os Estados Unidos da América surgiram como o resultado de uma lui.i

pela liberdade, inexistente na Inglaterra, tanto no plano econômico c o m o

no social e religioso. No Brasil, houve vários movimentos pela liberdatíi

política em relação a Portugal, culminando no acordo conhecido como

“Independência do Brasil”.

Uma das liberdades mais ameaçadas no mundo contemporâneo é a d«

ir e vir. Em Cuba, os cubanos lutam pelo direito de entrar e sair livremcim

' E D W A R D S , Jo n ath a n. D is p o n í v e l e m < h t t p : / / c h r i s c i a n - q u o t e s . o c h r i s t i a n . c o m . Ais .mi  

e m 2 7 / 7 / 2 0 1 1 .

160

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UMA TEOLOGI A DA L I BERDA DE

do país. Nos Estados Unidos, os estrangeiros lutam pelo direito de entrar

naquela potência, que restringe o acesso ao sabor dos seus interesses mais

imediatos. Os palestinos lutam pelo direito de ter um Estado livre. NoBrasil, todos somos livres para ir, depois de ter colocado ferrolhos em todas

as portas e nas janelas dos automóveis, mas o vir depende da permissão dos

bandidos.

 A coroa das liberdades, que é a de o ser humano poder expressar sua

opinião, ainda é vista como uma ameaça por centenas de governos nacio

nais. Pessoas ainda são presas por pensarem diferentemente do ideário ofi

cial, como se pudesse haver uma cartilha pela qual as mentes devessem se

reger. Em boa parte do mundo não há liberdade de culto. Ainda é proibido

pregar o evangelho na índia, por exemplo. Na Indonésia, cristãos são mas

sacrados sob os olhares complacentes das autoridades políticas e policiais.

( ) mesmo islamismo que se beneficia da liberdade que lhe dá para crescer

c se tornar uma das principais religiões do mundo em termos quantitativos

cassa o direito de seus seguidores conhecerem o cristianismo e optarem por

|esus Cristo.

No Brasil e nos países considerados plenamente democráticos, os meiosde comunicação nos colocam diante de um dilema. Eles alcançaram um

poder, nunca conhecido, de conquistar as atenções e conduzir as socieda

des, ao ponto de se poder dizer que só existe aquilo que esses meios mos

tram; só interessa o que está exposto em suas páginas e principalmente em

luas telas.

I )evem ter esses meios o direito de escolher aquilo que vamos pensar

r aquilo que vamos ver? Deve ser absoluta a liberdade concedida aos seusdonos, já que as populações são indefesas diante do seu poder, exercido

ftrmpre em função de interesses ideológicos e principalmente econômicos?

 A TENSÃO

 Apesar dessas ameaças, nós vivemos numa sociedade democrática, na qual

imla pessoa pode crer no que quiser (até mesmo em superstições, como

Iri/i.im os coríntios ao reverenciar um deus desconhecido), pode cultuar

ittnio achar melhor (conquanto as modas litúrgicas nos tentem seduzir), jiude votar em quem escolher (embora numa lista sempre muito reduzida),

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

pode se portar segundo a sua consciência (mesmo que seja difícil saber o

que é ela e mantê-la). Eu me refiro à consciência da sociedade contem

porânea.Sim, existe uma consciência coletiva, que tem valores próprios. Um

deles é que a liberdade é o bem maior do cidadão, com o que nós, cristãos,devemos estar de acordo, e que cada indivíduo é senhor do seu próprio

destino, com o que também devemos estar de acordo.

O problema começa quando esta consciência coletiva se torna absoluta,o que nos coloca diante de um duplo paradoxo. A marca essencial da visão

secular acerca da liberdade é o relativismo, segundo o qual todas as decisõeshumanas devem ser respeitadas, porque são legítimas. Esse relativismo, no

entanto, se torna absoluto ao pretender que todas as consciências individu

ais aceitem o padrão coletivo, subordinando as suas visões a ele.Ora, o cristão é cidadão de duas pátrias, habitante do Reino de Deus

e do reino dos homens, e tributário de valores humanos de orientaçãodivina, pela Palavra de Deus, e de valores humanos humanistas, às vezes

conflitantes com os de instrução divina.

Os valores humanos humanistas afirmam que todas as coisas permitidaspelas leis da sociedade são lícitas, mas os valores humanos divinos lembram

que mesmo algumas coisas legais não são lícitas para um cristão. A lista

poderia ser enorme, mas lembremos apenas que as leis brasileiras pernii-tem, sob a supervisão do governo federal, os mais variados tipos de jogo

(discriminando apenas os explorados por setores considerados marginais,

como o jogo do bicho); no entanto, um cristão não deve jogar, por maissedutora que seja a propaganda bancada peío próprio Estado. Os vícios d<>

fumo e do álcool são social e legalmente aceitos, mas nem por isto devemser praticados por um cristão.

De outro lado, é longa a lista de determinações injustas que somos ohrigados a respeitar, como o pagamento de impostos com destinação imoral,

como a CPMF, que nasceu para financiar a saúde e mudou de nome edestino e continua permanentemente a surrupiar parte de nossos recursos.Quando fazemos nossa declaração de Imposto de Renda, somos obrigados

a abater com a educação dos nossos filhos um valor que corresponde.1

despesas mensais, nunca a encargos anuais.

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UMA TEOLOGIA DA LIBERDADE

O DRAMA DOS CORÍNTIOS

 Ao tempo do apóstolo Paulo, todos os cidadãos eram obrigados por lei a

reverenciar o imperador como um deus; embora lícita, essa reverência nãoconvinha aos cristãos. Em Corinto, o centro da vida eram os templos pa

gãos. O mais importante deles ficava na parte mais elevada da cidade e era

dedicado a Afrodite. Seus mil prostitutos e prostitutas prestavam seus ser

 viços em honra de Vênus, tida como a deusa do amor. Mais que centro de

adoração, o templo era o lugar mais interessante da cidade. Ao seu redor,

ao ar livre, ficavam os melhores restaurantes. Neles se tocava e se cantava

a melhor música, comia-se a melhor comida e bebia-se o melhor vinho.

Os cristãos que tinham posses eram tentados a freqüentar esses lugares em

busca dos prazeres da vida. Paulo adverte que a participação nesse tipo de

 vida era lícita, mesmo estabelecida na agenda cultural, mas não convinha

aos cristãos, como ele explica nos versículos 20 e 21 com todas as letras:

AS coisas sacrificadas nesses templos são sacrificadas aos demônios e um

cristão não deve se associar aos demônios.

Vocês não podem beber do cálice do Senhor e do cálice dos demônios; não podem participar da mesa do Senhor e da mesa dos demônios.

ICoríntios 10.21

Os cristãos podiam até ir a esses centros culturais e sociais, mas sabiam

(tue estavam fora dos padrões divinos para seus filhos.

Havia, no entanto, um ponto que gerava dúvida entre os cristãos. A

produção e a distribuição dos alimentos, especialmente da carne, seguiamum roteiro comum: iam direto para os templos, onde eram sacrificados

aos ídolos (“demônios”, como diz o apóstolo) e usados para fins litúrgi'

COs, sendo consumidos pela elite religiosa. Depois, o excedente (que era

obviamente a maior parte da produção) era encaminhado para venda nos

mercados (particularmente os açougues). Só então a população, a cristã

Idclusive, tinha acesso a esses produtos.

() cristão podia comprá-los, prepará-los e consumi-los? A respost.i

de Paulo é “sim”: Comam de tudo o que se vende no mercado, sem fa -ei 

perguntas por causa da consciência  (1 Go 10.25). E se um cristão lov>»

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

almoçar ou jantar na casa de um pagão, e este pusesse à mesa esses pro

dutos, o cristão devia comê-los? “Claro”, diz o apóstolo (versículo 27).

Ele mesmo os comia (como o indica o versículo 30, em que lembra quefoi acusado de ter esse tipo de comportamento). Embora tivessem pas

sado por ritos de consagração aos ídolos, esses alimentos continuavam

com as mesmas propriedades; eram alimentos e deviam ser comidos.

 Além disso, seria muito difícil aos cristãos obter carne com outro tipo de

itinerário. Igualmente, seria praticamente impossível saber se um deter

minado produto havia passado ou não pelo rito de consagração idolátri-

ca. Os cristãos acabariam vítimas de uma paranóia (como a nossa hoje,para saber se o produto tem ou não agrotóxico, é ou não transgênico, é

ou não asseado).

O critério devia ser alterado apenas numa condição: se, antes da compra

ou antes da refeição, alguma pessoa voluntariamente informasse a origem

dos produtos, o cristão faria bem se se abstivesse, não por causa dos ali

mentos, que continuavam alimentos, mas por causa do escândalo que a

prática poderia originar. Desenvolvendo diretamente a recomendação de

 Jesus (apresentada em Lc 17.1 — É inevitável que aconteçam coisas que levemo povo a tropeçar, mas ai da pessoa por meio de quem elas acontecem), Paulo

coloca um princípio essencial: Não se tornem motivo de tropeço, nem parti  judeus, nem para gregos, nem para a igreja (membros) de Deus (versículo 32).

Os benefícios pessoais, ensina Paulo, não compensam os custos nas vidas

dos outros, com prejuízos às vezes irreparáveis.

Os problemas de Corinto não são os mesmos que os nossos. Mas os

princípios propostos por Paulo precisam ser postos em prática por nós,porque são preciosos e profundos.

Temos problemas em que esses princípios podem nos orientar. Eis ;al

guns deles:

• Pode um cristão comer acarajé preparado por senhoras de branco <

pretensamente dedicado aos orixás? Uma cristã pode ter uma barnn .<

de produtos da culinária baiana?

• Deve um cristão pagar uma conta numa casa lotérica, onde pode s«i

confundido com um apostador? Ou o problema é de quem o viu

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UMA TEOLOGI A DA L I BERDA DE

• Até que ponto deve ir um cristão em sua resistência à corrupção,

 já incorporada à cultura de nossa época e vista como normal? Não

estaremos sendo rígidos demais nessa matéria?• Precisa o cristão se afastar dos pagãos para marcar sua diferença?

Existem ambientes inconvenientes para o cristão, ou será que tudo

depende de sua atitude neles? Mais que apenas convivido com os

pagãos, não temos aceitado como nossos os seus valores?

• Deve um cristão propor a censura prévia aos meios de comunicação

eletrônicos (especialmente a televisão) como forma de preservar va

lores cristãos e proteger as crianças?

• Deve um cristão aceitar como legítimas todas as decisões legais?

Se, por exemplo, o Congresso aprovar uma lei que torne ampla

mente legal o aborto, teremos que mudar nossa opinião contrá

ria a ele?

• Deve o cristão se abster de alguma prática que considera correta só

porque seu amigo (não-crente) ou seu irmão em Cristo considera

essa prática como inconveniente?

SÚMULA DE PRINCÍPIOS

 A súmula de princípios que o apóstolo Paulo apresenta no capítulo 10 nos

ujuda na resposta a essas perguntas.

1. Nós fomos retirados do reino das trevas e habitamos o território

da luz, tendo sido conduzidos pela nuvem de Deus, sobrevivido a todo

tipo de tempestade e sido batizados pelo Espírito Santo. Portanto, o único

manjar que nos deve dar prazer é o manjar de Deus. A fonte de nosso ali-incnto é Cristo (versículos 1-4). Não faz sentido voltar a nos alimentar dos

ttiunjares das trevas, por mais doces que pareçam.

2. Não podemos colocar nenhum desejo acima da glória de Deus. Se o

n/ rrmos, estaremos sendo idólatras, ao trocar nossos prazeres em Deus por

fines desejos. Qualquer coisa que você faça e que o afasta dele é idolatria.

 Afcsim, atitude idolátrica é toda aquela ação que toma o lugar do seu amor

tt ( ‘tisto. Pode ser uma telenovela ou um jogo de futebol. Pode ser uma

namorada ou mesmo um parente obsessivamente querido. No passado, aUll.i de controle em relação aos seus desejos levou os israelitas a quererem

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PASTO READO S POR PAULO — VOL. 1

atravessar de volta o deserto e o mar, de onde foram tirados e sobre o qual

trafegaram miraculosamente (versículos 7-14).

3. Deus nos fez livres, e temos o dever de conservar a nossa liberdade,Essa liberdade não é um salvo-conduto para uma vida imoral, como a

sociedade em que vivemos. A preservação dessa liberdade implica que de

 vemos olhar para a vida de modo responsavelmente crítico. Ninguém pode

pensar por nós (versículo 15). Todas as nossas ações devem considerar as

suas conseqüências.

4. A propósito, devemos continuar campeões da liberdade, que é

sempre uma conquista. Na Inglaterra do século 17, um grupo se levan

tou a favor da liberdade de pensamento e de culto, primeiramente para

si mesmos, que discordavam da religião oficial de então, e depois para

todos os outros crentes. Essa luta os tornou batistas. Devemos lutar pela

liberdade religiosa, mesmo para credos contrários ao nosso e até mesmo

para o ateísmo. Como a concebemos, a liberdade foi gratuitamente con

cedida a nós por Deus, que nos criou livres e para a liberdade. O pecado

fez com que ela se tornasse uma conquista. Por isso, por exemplo, deve

mos nos opor a todo tipo de censura prévia, que volta e meia é sugerida como estratégia para “moralizar” a televisão brasileira. Nossa escolha

deve ser outra: a censura posterior, com processos contra os programas

que atentarem contra a liberdade e contra os valores da dignidade huma

na, e a educação dos produtores e dos espectadores em relação aos meios.

Se você acha imoral uma novela, não a veja mais. Se você acha que um

programa atentou contra a dignidade da pessoa, não o assista mais. O

problema é que assim como os produtores não são responsáveis, nóstambém não somos. Preferimos o fácil e perigoso caminho de transferir

para os outros a nossa responsabilidade, que significa abrir mão de nossa

liberdade. Educarmo-nos para os meios, é o melhor meio de educar esses

meios.

5. Devemos viver segundo os valores de Deus, sem concessões aos pa-

drões do nosso tempo, por mais “lógicos” que pareçam. Deus não quer

que os que bebemos do cálice da graça de Deus venhamos a misturar o seu

líquido com a graxa que unta os motores do mundo (versículos 16-22).Isso não quer dizer fuga da vida. Separarmo-nos para Cristo não significa

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UMA TEOLOG I A DA L I BERDA DE

nos separarmos das pessoas para quem Cristo também veio. Devemos

evitar o templo dos pagãos, mas náo os pagãos que vão lá, desde que não

os deixemos impor sobre nós seus valores.6. Há costumes e hábitos que a sociedade e o governo consideram líci

tos, mas que não devem integrar as práticas dos cristãos. Sua disseminação

c sua elevação à categoria de normais não autorizam a sua adoção pelos

cristãos. Todos os nossos atos devem contribuir para a glória de Deus,

tanto na nossa vida pessoal quanto na vida da sociedade em que vivemos.

Todos os nossos atos devem contribuir para a construção de uma igreja

mais envolvida com o Reino de Deus e de uma sociedade mais justa (ver

sículos 23-24,31-33).

7. Voluntariamente podemos abrir mão de nossa liberdade, desde que

para a edificação dos membros da igreja. O critério do amor ao outro

pode nos levar a uma restrição temporária de nossa liberdade, no campo

daquelas açóes que, embora não ofendendo a Deus, podem ofender a

consciência do nosso irmão. O princípio permanece: devemos fazer aqui

lo pelo que, antes de fazer, podemos dar graças a Deus por estar fazendo.

Podemos dar graças a Deus por estar fazendo algo que levou nosso irmão ao pecado? A consciência de nosso irmão, mesmo que estreita, deve

ser considerada. A nossa consciência também. O problema se manifesta

quando nossa consciência se torna tão elástica que ela passa a abarcar

todos os hábitos. Quanto mais larga for nossa consciência, menos proble

mas de consciência teremos... e mais usaremos a nossa liberdade, não para

a santidade, mas para o pecado...

• • •

C) cristão valoriza a liberdade, porque é a liberdade que nos faz imagem

e semelhança de Deus. O valor da liberdade é tal que pode se tornar um

ídolo, posto acima daquele que nos fez livres.

Deus ama a liberdade, pelo que não só a criou como a respeita,

mesmo contra a sua vontade. Este é, por exemplo, o sentido da in-

lormação do Apocalipse (Ap 3.20), segundo a qual Jesus está à porta

das vidas das pessoas, batendo e esperando ser convidado para entrare transformá-las.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Depois de o convidarmos para dirigir nossa vida, procuremos fazer

aquilo que contribua para a sua glória e pelo que possamos dar-lhe anteci

padamente graças. Esse é um princípio que deve reger nossas ações.Na dúvida, se esse princípio não pode ser posto em prática, não faça

mos. Não vamos morrer por isso. Afinal, nosso comportamento não deveservir de pedra para que nós mesmos ou nosso próximo (cristão ou não)

 venhamos a tropeçar e cair.

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1Corínt ios 11 .23 -34

 Aprendendo a celebrar a ceia do 

Senhor 

 A ceia do Senhor é uma solenidade, é um ato observado em caráter  

permanente. Enquanto a igreja existir, observe ela a segunda 

ordenança da igreja.'

É prática de muitas igrejas ministrar a ceia do Senhor. Temos feito tal

celebração conforme Cristo a ensinou e Paulo a normatizou? Precisamos

 voltar à Bíblia e conferir nossas práticas.

 Pois recebi do Senhor o que também lhes entreguei: Que o Senhor Jesus, na 

noite em que foi traído, tomou o pão e, tendo dado graças, partiu-o e disse: 

“Isto é o meu corpo, que é dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim”. Da mesma forma, depois da ceia ele tomou o cálice e disse: Este

cálice é a nova aliança no meu sangue; façam isso, sempre que o beberem em 

memória de mim”. Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste 

cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha.

 Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor  

indignamente será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor.

• S O R K N , J oã o F i ls o n . E m m e m ó r ia de m i m . R i o d e J a n e ir o : C o n v i c ç ã o , 2 0 0 8 , p. SS .

23

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

 Examine-se cada um a si mesmo, e então coma do pão e beba do cálice. Pois 

quem come e bebe sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe para sua 

própria condenação. Por isso há entre vocês muitos fracos e doentes, e vários  já dormiram. Mas, se nós tivéssemos o cuidado de examinar a nós mesmos, 

não receberíamos juízo. Quando, porém, somos jidgados pelo Senhor, esta

mos sendo disciplinados para que não sejamos condenados com o mundo.

 Portanto, meus irmãos, quando vocês se reunirem para comer ; esperem uns pelos outros. Se alguém estiver com fome, coma em casa, para que, 

quando vocês se reunirem, isso não resulte em condenação.

Quanto ao mais, quando eu for lhes darei instruções.1Coríntios 11,23-34

COMO PARTICIPAR DA CEIA DO SENHOR 

Eis o que aprendemos com o apóstolo Paulo, que aprendeu com Jesus.

1. A ceia do Senhor não é uma invenção humana. Antes, foi instituídapor Deus, e a sua fórmula repete o gesto de Jesus na despedida dos seus

discípulos (versículos 24-25).

Por isso, devemos buscar formas criativas de celebrá-la, desde que sensentido e sua fórmula original sejam mantidos. Ela contém dois elementos,

o pão, que é mastigado, e o suco de uva, emulando o vinho, que é bebido.

(Por que o suco e não o vinho? Por uma convenção, que indica a nossa

disposição de nos abstermos do álcool. Há igrejas que usam vinho, embora

a maioria prefira o suco.)

O pão simboliza o corpo de Cristo, morto por nós, e o vinho simboliza

o sangue de Jesus, derramado por nós na cruz. Como símbolos, o pão e o vinho, mesmo depois de consagrados ou ingeridos, permanecem com as

mesmas substâncias químicas. Eles não contêm o corpo de Jesus (consubstanciação) nem se transformam no corpo de Jesus (transubstanciação).

2. A ceia do Senhor é uma celebração memorial (passada) do novo p;u

to e uma celebração escatológica (futura) do cumprimento do Reino dt*

Deus (versículos 24-26). A celebração da ceia do Senhor é uma recordação do novo pacto selado

conosco na cruz. O pacto velho se dava pela reciprocidade mediada pel.ilei. O novo pacto se dá pela fidelidade de Deus para com o homem e d<>

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 A PREND END O A CE LEBRA R A CEIA DO SE NHO R 

homem para com Deus, fidelidade esta mediada pela graça. Ele é fiel por

sua graça, não por nossa fidelidade. Nós lhe somos fiéis não por nossa competência, mas por sua graça.

3. A ceia do Senhor deve ser celebrada pela igreja, porque é ela quemanuncia o Reino de Deus. Por seu caráter público e por sua natureza, a

postura dos que dela participam deve ser sempre reverente e festiva.Dela devem participar todos os que creem que Jesus Cristo é o Salvador

e que Jesus Cristo voltará como Senhor, razão pela qual já entregaram sua vida a ele.

Quanto à época, a igreja apostólica celebrava a ceia a cada culto que

realizava; nossa igreja dela participa todo primeiro domingo de cada mês.1lá igrejas que têm outro tipo de calendário.

Há denominações que servem a ceia do Senhor nas casas das pessoasimpossibilitadas de virem ao templo. Nossa igreja não tem esta prática, por

entender que sua ministração deve ser pública.

Nas igrejas batistas, há uma variação quanto aos que devem ter acesso aesta parte do culto. Umas optam pela ceia restrita, ministrando-a somente

. 1  batistas. Outras oferecem-na somente aos membros da igreja local. Eoutras dão o privilégio da livre participação aos crentes em Cristo e batizados em idade consciente. Nossa igreja tem escolhido a terceira opção, por

entender que é mais fiel ao espírito apostólico.

4. A ceia do Senhor deve ser tomada de modo digno (versículo 27) enunca sem o discernimento da natureza do corpo do Senhor (versículo 32).

Tomar a ceia do Senhor de modo digno é compreender o seu significa

do memorial e escatológico, que exclui a ideia de que a participação na ceia

tio Senhor confere qualquer graça a quem dela toma, mas apenas a alegriatl.i renovação do seu pacto com Deus.

Tomar a ceia do Senhor de modo indigno é evitar a comunhão fraternal. Em Corinto, os cristãos usavam a ceia como forma de ostentação de posses materiais. Podemos não ostentar diante do nosso irmão

durante a ceia (não esperando pelo outro para a refeição — a primeira

parte da ceia porque o contexto não o permite), mas podemos ignorar

nosso irmão.

‘Ibmar a ceia do Senhor de modo indigno é tomá-la burocraticamente,irm se apossar da alegria que a participação nela distribui.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Tomar a ceia do Senhor de modo indigno é deixar de tomá-la por causa

de algum pecado, pois o correto é pedir perdão a Deus e estabelecer com

ele a intimidade que a ceia sela.5. Ao participarmos, estejamos conscientes em relação ao pão, que

tomamos porque recebemos o sacrifício de Jesus Cristo por nós. Graças ao seu amor, somos fortalecidos por ele e capacitados a viver o

evangelho.

 Ao tomarmos o vinho, recordemos o sacrifício de Jesus Cristo por nós,sacrifício que permite a cada um de nós a força da alegria. Nossa vida seja,portanto, um compromisso de proclamação da sua volta.

COMO NÃO PARTICIPAR DA CEIA DO SENHOR 

Como não devemos participar dessa ceia? O apóstolo Paulo responde do

seguinte modo:

Na igreja apostólica, a celebração da ceia era dominical. Era parte dafesta do ágape (festa do amor fraternal), quando se reuniam todos na igreja

para uma refeição comunitária e litúrgica. Cada família levava de casa a

sua bebida e a sua comida. A última parte dessa festa era a participação naceia do Senhor.

Era assim na igreja em Corinto. A beleza da festa, no entanto, estavamanchada por alguns que não entendiam a natureza da igreja, o corpo do 

Senhor  (versículo 29). Alguns havia que levavam de casa e guardavam sua comida, não a dis

tribuindo entre os outros, mesmo que estes não tivessem o que levar. O

apóstolo Paulo adverte os egoístas, que não estavam discernindo (enten

dendo) o corpo do Senhor, pelo que toda a sua participação redunda- va em condenação para si mesmos. Era preciso, portanto, que cada um

examinasse o seu comportamento e, se estivesse no erro, se arrependesse,

confessasse e então participasse da segunda parte da festa, (a ceia própria-mente dita).

Era comum que, durante a primeira parte da festa, as pessoas bebessem o vinho que tinham levado. Alguns bebiam até ficar embriagados.

Esses não entendiam a natureza da vida cristã, que consiste na moderação.Como poderiam participar, bêbados, da ceia do Senhor? Era preciso que,

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 A PRE ND END O A CE LEBRA R A CEIA DO SENHO R 

também no tocante à bebida forte, comum na cultura judaica, cada umexaminasse o seu comportamento e, se estivesse no erro, se arrependesse,

confessasse e então participasse da ceia em memória de Jesus Cristo.Esses erros, pelas características da ceia moderna, náo são os nossos. No

entanto, a advertência de Paulo se aplica inteiramente a nós: náo devemosparticipar de modo indigno da ceia do Senhor.

Esse memorial pede, pois, de nós uma reflexão acerca do modo comonos apresentamos hoje diante de Deus.

Em outra seção dessa mesma epístola, Paulo adverte duramente contraa prostituição e recomenda que uma pessoa, culpada de prostituição, seja

afastada da igreja. Ao fazê-lo, ele faz um convite de grande valor.O fermento velho, podemos aplicar, é a culpa. Há pessoas que se dei

xam levedar (e o fermento leveda toda a massa, diz o apóstolo — ICo5.6) pelo fermento velho. Essas pessoas se esquecem de que Cristo já foicrucificado e querem se crucificar constantemente para expiar suas culpas.

Nosso culto, que é celebração, procede da cruz, onde Cristo apagou todasas nossas culpas.

Se cultuássemos a nós mesmos, celebraríamos a malícia (maldade) e a

corrupção. De nós, só há um requerimento: arrependimento. Quando ofazemos, participamos do culto com os pães ázimos, isto é, pães sem fermento da sinceridade e da verdade.

E com sinceridade e com verdade que devemos participar da ceia. Examine-se a si mesmo e participe. Com sinceridade e verdade. Não peçaperdão por uma multidão de pecados, mas por algum pecado específico,

que só você sabe. Revele-o a Deus no momento da ceia.

Se, portanto, descobrir que não está em condições de participar da ceia(seja por causa da prostituição, seja por um profundo sentimento de culpa,

seja pela dificuldade de respeitar as pessoas como poemas de Deus), ponha-ic em condição: confesse os seus pecados a Jesus, arrependa-se do seu erro,seja ele qual for, e venha participar da mesa de Deus. Examine-se, não paranáo participar, mas para participar. Examine-se e se arrependa, com since-ridade e verdade, e participe.

CConfesse os seus pecados a Jesus. Peça-lhe para vir limpar o seu coração,

entoe uma canção de arrependimento. Depois, ore em silêncio e vá diretouu coração de Deus.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

O pão

O pão da ceia do Senhor nos lembra de que cultuamos a Deus para agra

decer a ele o que fez/ faz por nós.Quando celebrou a ceia fundadora, Jesus deu graças (versículo 24a).

 Jesus deu graças porque ia morrer na cruz denrro de pouco tempo. Graças a ele, não precisamos dar graças porque vamos morrer. Nossa gratidãodecorre da cruz de Cristo, pela vida que trouxe/ traz. Damos graças porque

 vamos viver.

Damos graças porque estamos livres diante da culpa.Damos graças porque fomos feitos irmãos de Jesus.

Damos graças porque somos feitos irmãos uns dos outros, coirmãos detodos quantos aceitam o sacrifício de Jesus na cruz.

Damos graças porque remos livre e direto acesso ao coração do Pai.Por isso, podemos dar glórias a Deus por suas bênçãos sem fim para

conosco.Podemos dar glórias a Deus porque temos o que agradecer: a salvação,

mas também a presença dele conosco.Cultuamos a Deus para reviver o poder do seu amor.

 A ceia do Senhor é um memorial da sua graça.Não recebemos graça ao partilhar do cálice. Apenas, ao tomá-lo, recor

damos que fomos alcançados pela graça de Deus. Jesus o disse de modobastante claro: Estecálice é o novo pacto no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim (v. 26).

O cálice

O cálice nos recorda que somos salvos não mais pelas obras, mas pela fé.O cáüce nos recorda que, em lugar do esforço próprio, podemos de.s

cansar nos braços daquele que morreu por nós.O cálice nos recorda que, em lugar de fazer justiça para conosco, Dei r.

nos justifica, não mais como conseqüência de nossas tentativas, mas c o iim

resultado de sua iniciativa.Estamos longe de entender o que é a graça. Nossa finitude não aicaiu,.i

a infinitude do gracioso Deus. Nosso legalismo nos impede de fruir o dom

que não espera nada em troca, porque nós não conseguimos pensar e v i v u

se não na lógica da retribuição.

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 APREND END O A CE LE BRAR A CEIA DO SENHO R 

 A graça do cálice é ver simbolicamente esse sangue que foi derramado

por Jesus Cristo, que não espera que nós ofereçamos uma justa retribuição

pelo sacrifício.

 A graça do cálice é ver nele um convite, convite à aceitação do sangue e

do sacrifício por nós.

Cultuamos a Deus para nos comprometermos com ele.

 A ceia é uma espécie de memorial do futuro. Isso está claro na ordem

de culto deixada pelo apóstolo Paulo, inspirado por Deus: Porque todas as 

vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice estareis anunciando a morte do Senhor, até que ele venha (v. 26).

 As sociedades humanas, em todas as épocas, gostam de memoriais, memoriais que podem até falar do passado, mas que visam alcançar o futuro.

( )s egípcios erigiram pirâmides para falar aos que viessem depois deles. Os

russos construíram estátuas para anunciar as virtudes dos seus heróis. Os

brasileiros temos nossos memoriais, como, por exemplo, o Monumento

*tos Pracinhas mortos na Segunda Guerra Mundial no Rio de Janeiro ou o

Memorial da América Latina em São Paulo.

Iodos esses memoriais têm um objetivo: comprometer os visitantes

t um a sua causa. Eles, portanto, apontam para o futuro.

E assim com o memorial da ceia do Senhor.

( 'ulto é êxtase. Culto é arrebatamento. Culto é enlevo. Culto é elevação.

N<>culto, nós saímos de nós mesmos, mas não podemos ficar no êxtase/

tim-batamento/ enlevo/ elevação. Ele deve continuar na vida, na vida que

rtmmcia a morte que traz a vida, a morte de Jesus Cristo.

I levemos anunciar sua morte até que ele venha. Até que ele venha é nos-

ftni ompromisso falar de sua morte, para que nossos ouvintes tenham vida. A participação na ceia do Senhor nos deve recordarque somos respon-

tuívris pelo futuro a ser construído. Os homens tentam construído sem

I >«ns. Precisamos mostrar-lhes que se trata de tarefa inútil. A ceia, portan

to, (' uni símbolo missionário, como fica evidente neste poema.

I )iante do cálice que minha mão sustém,

penso no sangue que Jesus verteu por mim,

r uma vontade de lágrima logo me vem,

m.is o Espírito ao ouvido me sussurra assim:175

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

“A morte de Jesus é a sua vida tornada possível;

festeje-a com a força de uma alegria indizível”.

Diante do pão que meus dedos levantam,penso num corpo dolorosamente esmagadonão pelo dele, mas pelo meu rebelde pecado,e lágrimas tristes em meus olhos se plantam,mas o Espírito com seu jeito pronto e doceme lembra de que seria eu, se redimido não fosse.Então, eu olho para cima para um cantocheio de gratidão por sacrifício tão imenso,

e o cálice do fruto da vide firme levantopara radiantemente celebrar amor tão densoporque para mim, alegremente reconheço,o sangue de Jesus é presente que não mereço.Então, eu olho para o lado para um abraçoque deseja ser parte de uma fraternidadeque tem no corpo de Jesus o vigoroso laço,que integra os diferentes numa comunidade

que se reúne para tomar o cálice e o pãoentregues como voluntária doação.

 Assim alcançado por esse grande mistério,tiro meus olhos felizes do passado crucialporque no futuro também sinto refrigérioao fruir o convite para a eterna festa final,quando todos entoaremos a mesma melodiaque hoje cantamos com a antecipada ousadiaque brota solene do oferecimento da cruz:“Digno de receber toda a glória é Jesus”.

I S R A E L B E L O D E A Z E V E L X )

 A ceia é, pois, um convite, convite a que celebremos sempre, enquantoestivermos vivos ou enquanto o celebrado não voltar.

Quando ele voltar, ele vai levar aqueles que viveram celebrando a su;imorte e a sua volta. Ele vai me levar. Ele vai levar você?

Se você é crente e não foi ainda batizado, batize-se e participe dessa celebração. Se você tem participado de modo indigno, arrependa-se e venha celebrar.

.76

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24  I C o r í n t i o s 12 e 14

Os dons de Deus

 Muitas pessoas estão perguntando hoje: “Por que não 

temos milagres como os do Novo Testamento? Por que 

não temos grandes curas, manifestações tremendas do poder de 

 Deus?” Bem, a resposta é: o Espírito não tem dado esses dons. Não 

éporque a igreja seja carnal. É carnal, mas Corinto também 

o era. A igreja mais carnal no Novo Testamento tinha esses 

dons abundando. Isso não é um sinal. A verdadeira resposta é: o  Espírito não tem escolhido dar esses dons nos dias de hoje. Se ele

o fizesse, ele os concederia independentemente de quão espirituais 

ou carnais somos, como fez em Corinto. Os dons são dados pelo 

 Espírito, “como ele quer”?

0 tema dos dons espirituais tornou-se um capítulo de discórdia nahistória do cristianismo. Em vários momentos da trajetória da igreja,

pessoas e grupos se desentenderam em relação aos “carismas” de Deus.

1 )esde os coríntios, e não apenas agora, as igrejas têm se dividido em

torno de duas visões antagônicas. Nas igrejas, uns se interessam pelo

assunto e se incomodam com o fato de não saberem quais são seus dons

' S T K l ) M A N , R a y C . G u i d e l in e s o n G i ft s . D i s p o n í v e l e m < h t tp : // w w w .r a y s t e d m a n .o r g /  

n ew t e s ta m e n t /1 - c o r i n t h i a n s / g u i d e l in e s - o n - g i ft s > . A c e s sa d o e m 2 5 / 6 / 2 0 1 1 .

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

ou como colocá-los em operação. Outros não têm o menor interesse

pelo assunto, ao ponto de o apóstolo Paulo os chamar de “ignorantes”

(ICo 12.1) Há muitos cristáos que ignoram seus dons porque nuncase interessaram por eles.

Entre os crentes que procuram viver a sua fé em Cristo, todos concordam que os dons existem e que vêm de Deus, pressupondo que a igrejaprecisa deles para cumprir sua missão. O acordo para aqui, porque unsacham (em Corinto, inclusive) que os dons devem ser buscados, com prio

ridade para os dons espetaculares (como curar e falar em línguas). Outrosacham que os dons devem ser apenas buscados, mas sem priorização para

qualquer tipo de manifestação.

Estamos diante de duas correntes clássicas: uma iluminista, que colocatodas as experiências humanas sob o foco da luz da razão. A luz do enfoque

racionalista, quem está doente deve procurar um médico, que fará o quefor possível. À luz da fé, quem está doente deve orar pela cura e buscar um

médico, deixando a Deus a decisão sobre como vai operar, se espetacular

mente ou se cientificamente.

 A segunda corrente é a neoiluminista (conhecida como carismática oupentecostal), que prefere para cada decisão uma luz direta e espetacular de

Deus. Ele é sempre emoção; é sempre show\  toca sempre a nossa pele. A

luz do enfoque emocionalista, quem está doente deve procurar alguém que

tenha o dom de curar espiritualmente. À luz da fé, quem está doente — repito — deve orar pela cura e buscar um médico, deixando com Deus a de

cisão sobre como vai agir, se miraculosamente ou se por meio da medicina.

Diante dessas tendências, o apóstolo Paulo nos apresenta uma teologia

prática, clara e desafiadora acerca dos dons.

O VALOR DOS DONS

 A primeira verdade que o apóstolo Paulo destaca é que o tema dos donsespirituais é muito importante, porque é por meio deles que Cristo edifica

a sua igreja e que a igreja edifica o mundo.Uma igreja sem dons é como um cadáver. A vida da igreja são os seus

dons. E por isso que não é possível haver um crente sem dons. Não podehaver um crente sem que nele habite o Espírito Santo.

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OS DONS DE DEUS

 A igreja é uma comunidade de pessoas diferentes. O mistério de Deus,

de que fala Paulo várias vezes, é fazer essas pessoas diferentes agirem segun

do o conselho do Senhor. A igreja é a família de Deus, composta, portanto,por pessoas diferentes (como na família humana).

 A igreja é o corpo onde Deus vive e através do qual ele opera. “Se você

quer encontrar Deus no mundo de hoje, seu endereço é a igreja' não ape

nas quando ela está reunida, mas quando os seus membros estão em ação,

onde quer que vivam. A igreja não é apenas seus membros reunidos. Uma

igreja não acontece nos seus encontros dominicais.

Nesse sentido, ela é diferente de uma escola ou de uma fábrica. Uma

escola é uma organização de pessoas reunidas. Uma fábrica é uma organi

zação de pessoas reunidas. Uma igreja não. Uma igreja é uma organização

diferente, porque composta por pessoas verdadeiramente regeneradas pelo

Espírito Santo para formar um corpo vivo, que vive e se desenvolve no

mundo (não à parte dele) para alcançar os desamparados com o amor de

Deus e com a vida que provém dele.

Há muitas pessoas que não entenderam essa verdade e ficam contentes

com um belo culto dominical. Se esse culto não me capacitar a alcançaraqueles que Deus quer alcançar, ele não terá valido absolutamente nada. A

experiência de culto verdadeira é aquela que termina com a mesma oração

de Isaías: “Senhor, envia-me”. E para esta ida ao mundo que Deus capacita

as pessoas com dons.

Precisamos ter uma convicção clara a respeito do assunto, para não ser

mos levados de um lado para o outro, como acontece àqueles que, não

seguindo a Deus, seguem os deuses do momento. Essa convicção, no entanto, não nos deve levar a anatematizar (ICo 12.3) os que pensam dife

rentemente de nós. Eu me refiro à tensão entre “tradicionais” e pentecostais

DU neopentecostais, lembrando que a distinção é meramente didática, já

que o neopentecostal de hoje será o pentecostal de amanhã. Também não

devemos esquecer que boa parte de nossas diferenças é muito mais se

mântica (significado de palavras) e muito menos existencial (significado

‘STlsOMAN, Ray. Guidclines on Gifts. Disponível em <http:/ / www.raystetliii;iu.oi /  

nc w tc m amem / I-corimhi;uis/ guidelÍncs-on-gilts>. Acessado c m S/ 7/ - 20 11.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

de vida). Aquilo que uns chamam de plenitude do Espírito Santo, outroschamam de segunda bênção ou batismo do Espírito Santo. Se vivemos de

modo que o Espírito flua em nós, não importa o nome que venhamos a dara tal manifestação. Se brigamos por causa dessas palavras, podemos estarcertos de que o Espírito Santo não está em nós...

 A PLURALIDADE DOS DONS

Paulo prossegue lembrando que a igreja precisa de pessoas com dons diversos (cf. ICo 12.29-30). Não há dons de primeira classe e dons de segunda,

como não deveria haver cidadãos de primeira ou de segunda classe. O domda profecia (exposição da Palavra de Deus como vinda mesmo de Deus)não é superior ao dom da portaria, que tinha muito valor na igreja antiga edeve ter na nossa. (Como os cultos eram proibidos, os porteiros cuidavamda segurança dos crentes reunidos. Hoje, como são poucas as pessoas que

 vão à igreja, elas precisam ser recebidas de tal modo que queiram ficar.)Somos todos iguais, não importam as funções pelas quais exerçamos

nossos dons. Aqueles dons considerados mais humildes são necessários.

Se não fossem, Deus não os daria. Na vida de uma cidade, os garis são tãoimportantes quanto os poetas. Podemos ficar anos sem estes, mas nem umdia sem aqueles.

Por isso, não podemos pensar em nossa importância pessoal. Comoensinou Barclay, sempre que começamos a pensar nela, pomos fim à possibilidade de fazer algo realmente importante para Cristo por meio da igreja.

Ninguém pode se achar o todo do corpo (ICo 12.27), e ninguém podeser excluído dele. Nenhum de nós escolheu o dom que tem. Fomos esco

lhidos. Foi Deus quem os dispôs como quis (ICo 12.18). Onde está a nossa importância? Se tivermos essa convicção, na teoria e na prática, não nospermitiremos ser derrubados pela autoexaltação. Há pregadores corroídospelo cancro da vaidade. Há cantores corroídos pelo cancro da vaidade. Há

corais corroídos pelo cancro da vaidade. Há professores da escola dominical corroídos pelo cancro da vaidade. Sabe qual o valor daquilo que fazem?Nenhum. Eles não edificam a igreja, antes destroem-na e a si mesmos. Porisso, os que exercemos nossos dons devemos orar todos os dias para não

sermos derrubados.

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OS DONS DE DEUS

Nós precisamos de mais pessoas com mais dons, mas não “autodons”,

e sim dons de Deus, colocados por ele para edificar a igreja, que é sempre

plural. Celebremos a Deus pela diversidade dos seus dons entre nós e paraconosco.

 A UNIVERSALIDADE DOS DONS

Ensina ainda o apóstolo que todo cristão tem um dom, pelo menos um.

Mesmo que você esteja sendo apenas um cristão de domingo e não

precise de dons, você tem pelo menos um. Na manhã do dia 12 de outu

bro, enquanto nos dirigíamos para participar da festa da solidariedade na

Cidade Batista (em Campo Grande, Rio de Janeiro), para arrecadação defundos para o trabalho social na cidade, uma irmã se lamentou comigo por

não ter nenhum dom. Então, eu lhe disse:

— A senhora acordou de madrugada para vender sorvete e levantar re

cursos para a obra social das igrejas, sem nada em troca. Então, pelo menos

um dom a senhora tem: o dom da misericórdia (conforme lCo 12.28) ou

do socorro (conforme Rm 12.8). Possivelmente, a senhora tenha ainda

outros dons.Deus tem uma infinita variedade de dons para dar.

Em sua Primeira Carta aos Coríntios, Paulo arrola treze dons (lCo

12.8-11, 28-30), assim apresentados:

1. Dom da palavra da sabedoria (capacidade intelectual para agir sa

biamente diante de situações específicas).

2. Dom da palavra da ciência (capacidade espiritual de conhecer a

Palavra de Deus e aplicá-la).

3. Dom da fé (além da fé salvadora, é a disposição de viver pela fé, es

perando em Deus nas mais diversas situações de vida, vivendo num

modo fora dos padrões naturais).

4. Dom da cura (física, emocional e espiritual).

5. Dom do milagre (operação de obras poderosas de Deus).

6. Dom do discernimento de espíritos (percepção dos falsos profetas,

como ter um telefone com identificador de chamadas, que indicaque número está ligando).

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

7. Dom da profecia (exposição daquilo que Deus diz, apresentação da

mente dc Deus, interpretação do seu pensamento claramente aos

ouvintes).8. Dom de falar em línguas (falar em línguas não-naturais, mas espiri

tuais, provindas diretamente de Deus e não da aprendizagem ou do

inconsciente humano).

9. Dom de interpretar línguas (interpretar essas mesmas línguas, para

a edificação dos ouvintes).

10. Dom do apostolado (dom de fundar igrejas e mantê-las unidas na

doutrina e na prática).11. Dom do ensino (exercido por mestres, cf. Ef 4.11, por professores

da Bíblia).

12. Dom do socorro (ou misericórdia, cf. Rm 12.8, ou da diaconia em

geral, da ação social em geral).

13. Dom do governo (ou presidência, cf. Rm 12.8, na direção das igre

 jas ou de segmentos das igrejas).

 Você não tem nenhum desses dons? Não se preocupe. O mesmo apóstolo

acrescenta outros em Romanos 12 e Efésios 4, num total de, pelo menos,

dezessete (que podem ser dezoito ou dezenove, conforme a interpretação).

14. Dom do ministério (ou pastorado, cf. Ef 4.11).

15. Dom da exortação.

16. Dom do repartir (suas posses) com os outros.

17. Dom da evangelização.

 Você não tem nenhum desses dons? Não se preocupe.

 Você pode completar a lista, porque as listas de Paulo foram formuladas

conforme os exercícios que ele viu nas igrejas, em função das necessidades

delas.3

'Para um detalhamento do tema dos dons, veja, por favor, o meu Genteain.utd/ i de por esta editora.

182

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OS DONS DE DEUS

 A DESCOBERTA E O DESENVOLVIMENTO DOS DONS 

 A manifestação do dom é manifestação do Espírito. Não é algo normal

nem nenhuma habilidade natural, como cantar ou pregar. Não basta saber

cantar. Não basta saber pregar. A capacitação espiritual transforma essashabilidades em dons.

 A manifestação do dom é, pois, um movimento carismático, mas não

apenas carismático espetacular. Dom não é talento. Todas as pessoas têm

talentos, mas nem todas têm carismas (dons espirituais). Se talento e caris

ma estiverem juntos, Deus fará proezas.

Cantar é habilidade natural; encorajar os outros por meio do cântico é um

dom. Pregar é habilidade; deixar-se usar como a voz de Deus para os outros édom. Ensinar uma classe na escola dominical é habilidade natural; ensinar de

modo a que as pessoas entendam e vivam a Palavra de Deus é dom.

Há muitos talentos desperdiçados, porque não ungidos. Há muitos

dons desperdiçados, porque não desenvolvidos.

 Você quer descobrir quais são seus dons?

1. Ache que vale a pena viver pelo Espírito Santo.2. Dedique tempo para a igreja.

3. Veja as necessidades (deixando-se tocar pelas carências dos outros).

Se as necessidades o tocam, você está no caminho de descobrir seu dom.

1lá muitas necessidades em nossa igreja. Precisamos receber melhor as pes

soas que nos procuram; logo, precisamos de mais gente na portaria, gente

disposta e bem preparada. Precisamos dizer aos nossos vizinhos que nósexistimos; logo, precisamos de mais gente na área da comunicação, in-

duindo aí o jornalismo, a publicidade e o marketing. Precisamos alcançar

mais pessoas com o amor de Cristo, porque uma igreja vive para fazer

discípulos» não para se divertir no culto; logo, precisamos de mais evan

gelistas, de mais visitadores. Precisamos fazer mais em muitas áreas, mas

precisamos de gente com dons, dons descobertos e exercidos.

4. Busque os dons com zelo — vigor, força (ICo 14.1) — e com ,iIntenção de usá-los para a edificação da igreja. Assim acontece com voch.

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Vistoque estão ansiosos por terem dons espirituais, procurem crescer naqueles que trazema edificação para a igreja (lCo 14.12). Se você tiver um dom

espetacular, subordine-o à ordem no culto coletivo. (Assim, setoda a igreja sereunir e todos falarem em línguas, e entrarem alguns não instruídos ou descrentes, não dirão que vocês estão loucos?— lCo 14.23.)

5. Esqueça sua importância pessoal. Enquanto você se preocupar com

ela, você náo descobrirá seu dom. O seu dom é para o proveito coletivo. O

seu benefício direto é o benefício da comunidade (lCo 12.7).

• • •

O dom, para ser descoberto, exige compromisso com Deus.

O dom, para ser aperfeiçoado, exige compromisso com Deus.

O dom, para que não se torne motivo de vaidade, exige compromisso

com Deus.

O dom se desenvolve no exercício. Deus o dá, mas não o dá já desen

 volvido. Nesse sentido, seu desenvolvimento se assemelha ao talento (ha

bilidade natural). Mesmo sendo espiritual, o dom precisa ser aperfeiçoado.

Não tenha medo de ter consciência do seu dom. Essa consciência vaiimplicar trabalho, mas valerá a pena, porque você não só estará sendo útil

como estará crescendo em direção à maturidade e à santidade.

Não tenha medo de usar o seu dom. O uso vai torná-lo uma pessoa cada

 vez mais controlada pelo Espírito Santo, mas vale a pena viver no sobrena

tural. O natural não esgota a realidade humana. Viver pela razão nao nos

completa, porque é uma vida incompleta.

Não tenha medo de crescer. Não tenha medo de conhecer a Deus. Nãotenha medo de ser santo.

Não ponha o seu dom acima de Cristo e seus valores. O uso dos dons

espirituais é real, mas deve ser submetido a Cristo e aos valores éticos. Dom

e ética não podem estar separados. Se alguém diz ter dom, mas não vive a

moral de Cristo, certamente não o tem, ou está se confundindo para sua

própria destruição. Não despreze sua igreja. A verdadeira espiritualidade

conduz o crente para dentro da igreja local, onde desenvolverá seu compromisso com o senhorio de Cristo.

PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

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OS DONS DE DEUS

Em tudo, vivamos segundo a recomendação do apóstolo Pedro:

Se alguém fala, faça-o como quem transmite a palavra de Deus. Se alguém 

serve, faça-o com a força que Deus provê, de forma que em todas as coisas 

 Deus seja glorificado mediante Jesus Cristo, a quem sejam a glória e o poder  

para todo o sempre. Amém.

1Pedro 4.11

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25  1Coríntios 12.18-27

O dom da vida

O objetivo da vida não é agir, mas desfrutar. (...) 

O homem feliz será o que souber saborear o mais 

completamente o instante que tem em mãos.x

Tornou-se um lugar comumdizer que nós formamos uma unidade biop-

síquica. Eu descobri isso muito cedo. Quando meu pai ameaçava me bater,

por algo que ele achava merecedor de castigo, imediatamente me dava

uma incontroláveí vontade de ir ao banheiro. Não era “cena” de minha

parte. Era uma necessidade real, de tal modo que eu só apanhava depois de

ter ido ao banheiro...

Eis o que somos: um corpo. O que acontece com você quando você está

tenso? Eu, por exemplo, sinto dores nas pernas. Para uns, dói a cabeça; para

outros, disparam os batimentos cardíacos. Uns têm fome; outros perdem afome. Uns têm sono; outros ficam insones.

Sem o conhecimento que temos hoje do campo das ciências biológicas,

o apóstolo Paulo afirmou a natureza interdependente dos órgãos do corpo

humano, ao utilizá-lo como uma imagem para a igreja de Cristo.

'TE1EHARD DE CHARDIN, Pierre. Em outras palavras. São Paulo: Martins Fontes, 

2006, p. 160.

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O DOM DA VIDA 

Nessa seção, o apóstolo fala diretamente de quatro dos cinco sentidos

do corpo humano: visão (que, aliás, é necessária em 90% de todas as ati

 vidades humanas), audição (que vem pelo ouvido, que, aliás, é capaz dedetectar frequências sonoras entre 20 e 20 mil hertz), olfato (ICo 12.17) e

tato (ICo 12.17). Ele só não menciona o paladar.

C e l e b r e m o s   o   D e u s   d a   v i d a   e   a g r a d e ç a m o s

PELOS SEUS PARCEIROS

 Já não se sabe o que é a natureza, tal a sua transformação pelas ciências.

Esse é um longo processo, graças ao qual, por exemplo, dispomos de luz

elétrica, que nos permite reunir-nos na igreja. Dispomos hoje, portanto, deconhecimentos, recursos e instrumentos que nos permitem cessar a noite,

fazendo-a dia.

 A apreensão dessas percepções nos deve levar a uma atitude de exal

tação do Criador e de cuidado com a criatura. Podemos transpor ve

locidades com meios de transportes que nos levam de uma cidade a

outra, de um país a outro, de um continente a outro, sem que o sol se

ponha.Quanto à engenharia genética, fomos todos informados de que os cien

tistas conseguiram sequenciar os genomas do corpo humano. Em certo

sentido, foram iluminados três bilhões de pares de bases do DNA (ácido

desoxirribonucleico), expressos pelas letras T, A, G e C (relativas às bases

nitrogenadas de timina, adenina, guanina e citosina).

Segundo prometem os especialistas, a descoberta abre perspectivas

novas para o tratamento de doenças de natureza genética. Talvez daqui acinco anos já seja possível a realização de testes de predisposição genética

 visando o diagnóstico precoce de pelo menos 80% dos casos de tumores

malignos e o combate ao mal antes que ele se instale no organismo de for

ma incurável. Só em São Paulo há 150 pesquisadores trabalhando para isso

cm 33 laboratórios.

Não há dúvida de que se descortinam horizontes promissores. No

entanto, a manipulação genética pode trazer sombras para os seres hu

manos. Precisamos discutir esses avanços e lhes pôr, se for o caso, limites,porque a ciência não pode ser um fim em si mesma, pois seu fim deve sei

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

o benefício global do ser humano, não um espetáculo sobre a competência

dos pesquisadores.

Há pesquisas em outros campos da tecnologia da saúde que são admirá veis. Já acompanhamos o drama de dois siameses peruanos. A medicina doPeru informou que só um poderia ser salvo. A medicina norte-americana,no entanto, por ser mais adiantada tecnologicamente, salvou os dois.

Há alguns meses oramos por uma menina com graves patologias, des

cobertas quando ela estava ainda no útero. Ela foi operada. Nós, na verdade, não oramos por uma menina, mas por um feto, um feto com sexo e

com nome.

Temos que celebrar a Deus por essas maravilhas e também por esta: porpermitir ao homem alargar o horizonte da vida. Deus não é egoísta. Ele

permite ao homem ser “cocriador”.

C u i d e m o s   d a   v i d a   q u e   D e u s   n o s   l e g o u

Somos criação de Deus. O processo como isso se deu está em aberto. A

instrução foi dele. Só isso explica a harmonia do nosso corpo, que é uma

criação maravilhosa e não pode ser duplicada por máquinas. Trata-se deum sistema químico complexo, em que os músculos são 45% do peso do

corpo e precisam de energia para funcionar.Louvamos a Deus quando cuidamos do nosso corpo. O cristão precisa

cuidar do seu corpo mais que um não-cristão, porque o Espírito Santo

habita no seu corpo, mas não habita no corpo de um não-cristão.Precisamos viver em harmonia com o corpo que somos. Não podemos

permitir que ele envelheça antes do tempo. Para tanto, precisamos dormir

o necessário. Comer o necessário. Trabalhar o necessário. Descansar o necessário.

Somos santuários de Deus.Não devemos permitir que esse santuário se consuma no sedentarismo

nem no excesso de exercício. Vivemos numa cultura dos jovens-bombas,

que são aqueles rapazes musculosos (com músculos construídos pela ma

lhação e/ou pela ingestão de anabolizantes).

Não devemos permitir que esse santuário se consuma na droga, seja elao cigarro, o álcool ou o tóxico.

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O DOM DA VíDA 

Quanto ao cigarro, os números são assustadores, embora ele seja vendi

do em qualquer esquina e a qualquer pessoa. Há um bilhão e cem milhões

de fumantes no mundo, o que significa que um terço da população mun

dial adulta é viciada em cigarro. A cada conjunto de dez vítimas de câncer

no pulmão, nove são fumantes. O cigarro contribui para 22% da mortali

dade geral, 30% para a de origem cardiovascular, 30% para o câncer e 30%

para as doenças respiratórias. No Brasil e no mundo, o cigarro mata mais

que a heroína, a cocaína e a Aids somadas.

Quanto ao álcool, basta dizer que seu consumo é responsável por 50%

dos acidentes automobilísticos.

Quanto ao tóxico, esta semana caiu o mito “gabeiriano” de que a maconha não vicia. Testes feitos com macacos (conforme publicados na pres

tigiada revista Naturé) mostraram cabalmente a dependência da maconha

depois de iniciados nela.

Não devemos permitir que esse santuário se consuma na gula. Nós co

memos mal, quanto à dieta e à forma, e muito. A maioria de nós come

mais do que precisa.

Não devemos permitir que esse santuário se consuma na solidão. Como ensina o apóstolo insistentemente, devemos considerar todos os membros do corpo como igualmente necessários (versículos 14-17). Saúde se adquire no cuidado do corpo. Saúde se adquire no relacionamento uns com os outros, transformado cada um em membro do grande corpo da fraternidade, uma vez que nascemos para viver em comunidade, não na solidão.

• • •

 Além daqueles cuidados básicos, como o de não se automedicar, quero .sugerir alguns simples e gratuitos.

Sorria mais. O sorriso é terapêutico. O sorriso cura. A você e ao seu próximo.

 Abrace mais. O abraço é terapêutico. O abraço cura. A você e ao seu próximo.

Caminhe mais. Caminhar faz bem. Se for o caso, corra. Se for o caso, nade. Se for o caso, pedale.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Cante mais. Qual foi a última vez em que você cantou no banheiro?Cante na igreja, cante na congregação, cante num coro, forme um conjun

to, forme um quarteto. A música cura. Cura e alegra o coração de Deus. Agora, alguns conselhos negativos.

Odeie menos. Perdoe mais e tenha amigos.Critique menos. Viva a vida, porque há muita coisa boa nela.Saiba menos. Tenha menos razão. Seja menos chato.Seja menos ansioso. Você só vai resolver o que você for resolver.Seja menos teórico e mais prático. Pare de falar da vida e viva.

 Você é de Cristo. Seu corpo é de Cristo.

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2 6 1C o r í n t i o s   12.31b

O caminho mais excelente

 No novo caminho, as bênçãos são esperadas, a cura é objeto de 

oração, famílias felizes são edificadas, sentimentos de maravilha 

e alegria em servir a Deus são universalmente esperados, e 

quaisquer bênçãos que jorrem sobre nós são alegremente 

comemoradas — embora nada, absolutamente nada, seja 

exigido. A paixão por uma vida melhor, embora real eprofunda 

e se?itida sem qualquer sentimento de vergonha, não está no centro. 

Uma vida melhor não é o ponto; ela não governa nossos atos; 

não é a primeira paixão do coração de um revolucionário do novo 

caminho. Dançamos ao redor de um Deus diferente.1

No século 1antes de Cristo, o general Pompeu comandava uma embar

cação cujos marinheiros estavam tomados pelo medo. Para animá-los, omilitar cunhou a seguinte frase: “Navegar é preciso; viver não é preciso”.

( !om ísso ele quis ensinar que ninguém devia parar de navegar por causa

do medo de morrer.

Quase vinte séculos depois, o poeta português Fernando Pessoa fez da

frase o centro de um de seus poemas, que começa assim:

'l KAKH, l arry. C h e g a d e r e g r a s . São Paulo: Mundo Cristão, 2003, p. 116.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:

“Navegar é preciso; viver não é preciso”.

O português acrescentou:

Quero para mim o espírito desta frase, transformada A forma para a casar com o que eu sou: Viver não

É necessário; o que é necessário é criar.

Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.

Só quero torná-la grande, ainda que para issoTenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo.

Podemos considerar a frase antiga, retomada por Fernando Pessoa,

como equivocada no sentido de que não se pode navegar sem viver, nem sepode viver sem navegar. Ouso dizer que boa parte das pessoas tem tomadoo conselho ao pé da letra, porque parece apenas navegar, apenas caminhai,apenas seguir em frente, mas sem viver, porque viver exige um roteiro.

Ouso sugerir que era isso que o apóstolo Paulo queria dizer quando prometeu, aos seus leitores, mostrar-lhes um caminho mais excelente

(lCo 12.31b).

 Passo agora a mostrar-lhes um caminho ainda mais excelente.

ICoríntios 12.311»

Q u e   c a m i n h o   é   e s se ?1. É um caminho feito em direçáo a um alvo. O alvo intermediário de todo

cristão é parecer-se mais com Jesus Cristo, sabendo que sua pátria final é océu, razão pela qual o cristão é docemente cativo da esperança. Viver com

um alvo significa viver a partir de um projeto de vida, mesmo que mutável

2. E um caminho feito com as próprias pernas, não com as pernas <!<»-,outros. Quem, por exemplo, faz 15 anos sabe que, dali para a frenie, .r.decisões serão próprias. Não se deve trocar a orientação dos pais pela oricii

tação dos outros, especialmente a orientação invisível da cultura.

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O CAMINHO MAIS EXCELENTE

3. Esse é um caminho a ser feito contra a superficialidade (Oprofundi

dade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deusl Quão insondáveis 

são os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos!— Rm 11.33).4. E um caminho feito segundo as instruções de quem conhece todos

os caminhos.

... por um novo e vivo caminho que ele (Jesus) nos abriu por meio do véu,

isto é, do seu corpo.

Hebreus 10.20

Nosso caminho deve ser feito com:

• justiça (cheios do futo da justiça, fruto que vem por meio de Jesus Cris

to,para glória e louvor de Deus — Fl 1.11)

• verdade (contra um mundo do que parece ser, sem o ser) — (Seja o 

sim de vocês, sim, e o não, não, para que não caiam em condenação —

Tg 5.12)

• paz {Esforcem-se para viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá o Senhor — Hb 12.14)

• constância {pois tem ?nente dividida e é instável em tudo o que faz —

Tg 1.8).

 Voltemos a Fernando Pessoa, agora para concordar e dizer que viver é

<liar: vive quem cria. Quem não cria apenas navega.

• # •

F.vsc é o roteiro para a caminhada do cristão.

I )eus nos abençoa neste caminho.

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I C O R Í N T I O S 13

 Aprendendo a amar 

 Eis o supremo trabalho a que precisamos dedicar nossa vida neste mundo: aprender a amar. A vida não é cheia de oportunidades 

para aprender a amar? Todo homem e toda mulher têm milhares 

delas. O mundo não é um “playground”, mas uma sala de atda.

 A vida não é diversão, mas educação. E a única eterna lição 

para nós é como amar melhor .1

O poema paulino acercado amor, registrado em lCoríntios 13, é um

interlúdio ao tema teológico dos dons espirituais. Com ele, Paulo, na

mesma orientação de Tiago (Tg 1.19-27), mostra o sentido da verda

deira religião, que não se esgota em práticas litúrgicas inesquecíveis,

nem em espetáculos grandiosos, nem em estratégias de conquista do

mundo.

 Ao fazê-lo, Paulo escreveu o mais lindo capítulo do Novo Testamento,

podendo ser colocado ao lado do Salmo 23, no Antigo Testamento, como

um patrimônio insuperado da literatura universal.

O sentido da religião é o amor, essa palavra indefinível e de cujo sentido

só a poesia pode nos aproximar. A falta de palavras que o exprimam levou

'DRUMMOND, Henry. The greatesr rhing in the world. Londres: Houghrer & Stou ghton, 1890, p. 12. Há edições em português.

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 APREN DEND O A A MA R 

o escritor apostólico João a declarar que Deus é amor (ljo 4.8), na mais

curta e mais precisa informação acerca da Trindade divina.

No entanto, o amor não é Deus. O amor é um sentimento que Deusinspira. Não se pode idolatrar o amor, nem aqueles a quem amamos. As

pessoas são para serem amadas, não veneradas, pois a adoração é uma atitude exclusiva para Deus.

O amor descrito pelo apóstolo é o amor que as pessoas devem ter umas

pelas outras, mas é também o sentimento modelado no amor de Deus para

conosco.Dessa descrição podemos derivar um estilo de vida, capaz de nos per

mitir viver o cristianismo com plenitude e vivenciar os relacionamentoscom maturidade.

P r e s s u p o s t o s 0 0   a m o r  

t) amor é o mais divino dos sentimentos humanos, um sentimento sobre

modo excelente (no dizer do apóstolo). Na hierarquia da vida santa, ele é

mais importante que a fé, pela qual somos salvos, e que a esperança, pela

qual nos mantemos vivos; ele é o sentimento mais importante, porque éo que dá qualidade à fé e à esperança. Fé sem amor é algo morto, como

ensinou Tiago. Esperança sem amor não tem a disposição essencial, de en

xergar concretamente o que se apresenta além do plano visível da realidade.

O apóstolo se refere ao amor como um caminho. A aplicação da

Idcia do caminho ao amor é muito feliz. O amor é um caminho, e isso

Indica uma de suas características: aprende-se a amar. Nenhum de nós

labe amar. No versículo 11, o apóstolo nos lembra de que, quando

(tianças, só sabíamos ser amados; quando adultos, devemos saber amar.(>natural é ser amado; amar é um dos sinais da espiritualidade cristã.

Nilo por acaso o apóstolo Paulo relaciona o amor como um fruto do

rfcpícito (Gl 5.22'23).Muitas vezes, ficamos felizes em termos avançado um pouco e conse

guirmos retribuir o amor que recebemos. Esta, no entanto, ainda não é

ilina condição de maturidade. Portanto, não ache estranho que você tenha

difii uldade de amar a partir de sua própria iniciativa.Para amar de fato, você precisa dc duas atitudes.

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PASTOREADOS POR PAUI.O — VOL. 1

1. A primeira é reconhecer que é amado por Deus. Deus já o ama, masseu amor universal (expresso na criação e na encarnação) pode se tornarpessoal, quando você se sente particularmente querido por ele. A vida cristã, que produz amor, começa com a experiência da cruz e da ressurreiçãode Cristo, que nos coíoca inteiramente no Reino do Pai.

2. A segunda atitude é amar a Deus. Se você amar a Deus, você vai amaro outro. Se você não ama seu próximo, você podecantar  louvores a Deus,mas você não ama a Deus; antes, torna-o e torna-se mentiroso. Como diz

 João, amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e praticamos seus

mandamentos (ljo 5.2), já que se alguém disser “Amo a Deus” e odiar seuirmão, é mentiroso, pois aquele que não ama seu irmão, a quem vê, nãopode amar a Deus, a quem não vê (ljo 4.20). Quando você ama a Deus,

 você é capacitado a amar as pessoas (Ray Stedman). Quando você ama a

Deus, ele o ensina a amar.Por isso, qualquer tentativa de amar sem a presença do Espírito de Deus

resulta em eros t filia, nunca em ágape. Eros é o “amor-posse”, que quer oamado para si, nem que o tenha que destruir para não o perder. Filia é o

“amor-amizade”, cujo resultado é a fraternidade. Quem tem o EspíritoSanto reproduz o caráter de Cristo, que renunciou à sua própria divindadecomo expressão do seu amor-ágape para com a humanidade (Fp 3.1 -11).

O VALOR DO AMOR 

Uma de nossas dificuldades em relação ao amor é confundi-lo com a perfeição. O apóstolo nos adverte acerca desse perigo. Nenhum de nós consegue ser perfeito, mas todos conseguimos amar. Como diz Paulo, o amoiconvive com a nossa imperfeição (versículo 10).

O amor, portanto, não tem a ver com perfeição, mas com motivação.No início do poema, aprendemos que amar as pessoas é mais importanu do que falar todos os idiomas da terra e dos céus. Comunicação sem amoinão tem valor.

Podemos alcançar o máximo em termos de espiritualidade, mas se noss.iespiritualidade não for motivada pelo amor, não nos aproximará de Deus.

 A religião deixará de ser rotina quando for permeada pelo amor. A religi.u >deixará de ser espetáculo quando for motivada pelo amor.

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 APREN DEND O A A MM í

 Amar as pessoas é mais importante do que conhecer a Bíblia e ter capa

cidade de expô-la. Conhecimento sem amor não tem valor.

Nós podemos impressionar as pessoas com nossos gestos e nossas bandeiras a seu favor, mas nossas ações só faráo sentido efetivo para elas se

as amarmos (sem qualquer interesse além do amor pelo amor). Mesmo a

ação social mais competente e mais sacrificial, visando à transformação das

pessoas e das comunidades, não terá valor se não tiver o amor como razão

essencial.

Se a motivação de nossos compromissos for o amor, nossas ações serão

de grande valor.

As m a r c a s   d o  a m o r  

Nos versículos 4 a 7, o “poeta-apóstolo” pinta um retrato vivo do amor,

que não é uma disposição vaga, mas uma atitude concreta.

Das marcas do amor, vou destacar apenas duas, cuja ignorância tem ma

tado o amor entre pais c filhos, entre irmãos, entre cônjuges c entre amigos.

1. O amor é generoso (versículo 4). O verdadeiro amor não é obsessivo,

não ardendo de ciúmes.Há pais que requerem obsessivamente o amor dos seus filhos, impedin

do que amem outras pessoas, que namorem e que se casem. Para alguns

pais, nunca os candidatos a namorados prestam. A obsessão se torna in

segurança e estorva a felicidade. Os pais que amam verdadeiramente têm

prazer em ver seus filhos crescendo, mesmo que longe de suas “asas”. Há

filhos que querem os pais só para si, não se impondo qualquer sacrifício

para que tenham momentos de lazer. Há filhos que “sugam” os pais não sófinanceiramente como também afetivamente. Há cônjuges que não permi

tem ao outro o menor espaço para a individualidade, como se não pudesse

ler gostos e interesses particulares e exclusivos. Há amigos que cortam os

ivhcionamentos quando seu amigo sai com outro ou dá atenção a outros,

(omo se o amigo lhes pertencesse.

() amor generoso não quer o outro só para si, mas é capaz de reparti-lo

COmos outros.

2. O amor é unilateral (versículo 5). O verdadeiro amor não espera aIniciativa por parte do outro para então se pôr a caminho.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

 A mágoa mútua tem assassinado o amor, especialmente entre os ca

sais. Por razões diversas, um acaba fazendo o mal ao outro. E o que diz o

apóstolo? Que o verdadeiro amor não se ressente do mal de que é vítima(versículo 5).

Em outras palavras, se você quer estancar a produção do rancor, tomea iniciativa de parar. Seja unilateral. Ser unilateral significa fazer algo sem

esperar nada em troca. Quando isso acontece, e não há correspondência, você desiste. Então, seja unilateral. Ame sem esperar reciprocidade. Esta

pode ser a sua única chance.

 A PERENIDADE DO AMOR 

Nos versículos 8 a 13, o autor torna o amor o único sentimento que ultra

passa a dimensão do tempo.O dom maior, a profecia, vai desaparecer (versículo 8). O dom mais

espetacular, a glossolalia, vai desaparecer (versículo 8). O dom mais racional, a ciência, vai desaparecer (versículo 8). A fé, que salva, vai desaparecer

(versículo 13). A esperança, que nos faz olhar para a frente e para o alto, vai

desaparecer (versículo 13). O amor não vai acabar, sob hipótese alguma.Mesmo quando Cristo se manifestar e a perfeição se estabelecer (versículo

10), o amor estará presente.

• • •

O amor é a condição essencial para que os dons espirituais sejam exercidos.

Os dons, que devemos buscar, cessam, mas o amor permanece.

Se você quer amar, ame a Deus. Ele o capacitará a amar a ele e ao pró

ximo.

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28 ICORÍNTIOS 15

Nós também ressuscitaremos

 A ressurreição não se completa enquanto não se conclui na história pessoal. Quando percebemos que Cristo ressuscitou, podemos experimentar  

temor, alegria, dúvida. Mas essas reações em relação aos fatos, às ordens e 

à promessa da palavra divina precisam ser incorporadas numa conclusão 

pessoal. A ressurreição requer uma conclusão que somente a participação 

pessoal pode fornecer .'

Precisamos começar nosso estudo sobre a escatologia confessando nossa ignorância. Nós sabemos muito pouco, mas sabemos o mais importante: nosso futuro está guardado no Livro da Vida, escrito por Deus.

 V i v e n d o em f u n ç ã o d a re s s u r re i ç ã o d e J e su s C r i s t o  

Os versículos 3 e 4, complementados pelos versículos 5 a 8, formam uma síntese do evangelho. Foi esse o conteúdo que Paulo recebeu e transmitia.

 Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi: que Cristo morreu 

pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao 

terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos Doze.

1PITKRSON, FAigene H. Espiritualidade subversiva. São Paulo: Mundo Cristão, 2009, p. 133.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

 Depois disso apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a 

maioria dos quais ainda vive, embora alguns já tenham adormecido. De

pois apareceu a Tiago e, então, a todos os apóstolos; depois destes apareceu também a mim, como a um que nasceu fora de tempo.

.ICoríntios 15-3-8

Esse é o evangelho que nós recebemos e devemos transmitir. Por isso,

precisamos começar falando do fato da ressurreição de Jesus e o faremos

primeiramente de forma poética.

O teu olhar para dentro da noiteé o olhar de quem busca a vida

e não teme o sepulcro.

 A tua lágrima que salta de dentro

é a lágrima de quem perdeu

toda a luz que da alegria nasce.

 A tua visão de dois anjos na noite

é a visão de quem enxerga o mistério

e ouve a sua voz em meio ao silêncio triste.

Soluça, mulher, Maria, Madalena,

que no fundo dos teus olhosdois anjos proclamarão a manhã.

Chora, mulher, Maria, Madalena,

que nos intervalos dos teus soluçosouvirás a palavra de quem procuras.

Mulher, reclama o corpo que roubaram.

Ladrões, para onde o levaram?

Mulher, de quem é esta voz que te olha?De quem é este olhar que te chama?

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NÓS TAMBÉM RESSUSCITAREMOS

Olha, mulher, e vê que é rosto do homem

que querias morto.

E agora tu o chamas pelo nome das flores.

E agora tu o vês pela imagem das águas

antes que ele Deus todo seja

e marche para o azul ao encontro deste Pai

que se fez filho conosco

e se deixou enterrar nas horas das pedras.

Tu o viste, não entre a reclusão das lápides,

nem a respirar a quietude dos troncos tombados,

mas a caminhar por entre as pétalas,

a ouvir o teu lamento sem luz.

Tu o viste, não a anunciar a vitória da noite,

nem a chorar a dor por quem partiu para sempre,

Mas a proclamar o sorriso suave dos teus lábios,tu que sorriste com ele

na mais feliz de todas as madrugadas:

quando a rocha se fendeu

e ele pôde enxugar da fronte o orvalho

que anunciava a sua ressurreição.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO

 A morte de Jesus é um fato histórico (lCo 15.11,20) não mais questio

nado e, com ela, o seu sepultamento. No entanto, a sua ressurreição tem

sido questionada em sua veracidade histórica, e isso não é de hoje. Tam

bém, e igualmente não de hoje, tem sido questionada fortemente a possibi

lidade da ressurreição dos homens no final dos tempos, especialmente pela

dificuldade de elas (tanto a de Jesus quanto a dos cristãos) fazerem sentido

luz da razão.

Quanto à ressurreição de Jesus, os argumentos em contrário são, entre

outros:201

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

• A falta de documentos extrabíblicos que a registrem;

• As contradições nas narrativas bíblicas sobre o mesmo fenômeno;

• A impossibilidade da ressurreição à luz da razão;• A natureza não essencial da ressurreição para a fé cristã.

Quanto à ressurreição dos mortos em geral, argumenta-se que o fenô

meno, tal como aconteceu com Cristo, não tem amparo na razão, à qual

devem estar subordinados todos os fatos.

De fato, não há narrativas extrabíblicas sobre a ressurreição de Jesus.

Não há também sobre o nascimento e a morte de Jesus.

 A ressurreição é apontada como um fato essencial para a fé. O apóstolo

Paulo várias vezes o afirma, deixando bem claro, em Romanos 10.9-10,

que a salvação vem pela confissão de Jesus Cristo como Senhor e pela cren

ça de que o Pai ressuscitou Jesus dentre os mortos.

Depois de ressurreto, ele ficou quarenta dias na terra, dando provas de

que estava vivo (At 1.3). Ao todo, ele apareceu a quinhentas pessoas de

uma só vez, o que é bem diferente de uma alucinação (cf. ICo 11.6). Nesse

tempo, ele preparou seus discípulos.Quanto às chamadas contradições, tratam-se antes de narrativas com

focos particulares. Cada testemunha narrou segundo a sua perspectiva e

segundo o que viu. Aliás, o teórico comunista Karl Kautsky2começou a

levantar essas contradições para desmascarar o cristianismo. Sua conclusão,

que ajudou a expulsá-lo do Partido Comunista, foi outra: se a ressurreição

de Jesus fosse uma lenda, as versões seriam previamente combinadas; o fat o

de guardarem uma subjetividade entre elas é uma evidência de que nad;ifoi inventado. Por isso tem razão também outro não-cristão, o historiadoi

 judeu Pinchas Lapide, para quem a ressurreição é a certidão de nascimento

do cristianismo,3

KAUTSKY, Karl. A origem do cristianismo. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 20111■LAPIDE, Pinchas. Voeresurrection ofJesus: a jewisb perspective. Eugcne: WipfÔí  Sim I. 

2002. Para resenha, veja A jewisb perspective on the resurrection of Jesus.  Disponível cm <http:/ / www.lightofmessiah.org/ resources/articIes/ jewÍsh_perspeetive_on_tvsm reeiion 

php>. Acessado cm 10/ 7/201 1.

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8/9/2019 Pastoreados Por Paulo Vol. 1- Israel Belo de Azevedo

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NOS TAMBÉM RESSUSCITAREMOS

Os símbolos cristãos são símbolos da ressurreição. O que é o batismo?

 A imersão simboliza a morte para o pecado e a ressurreição para uma nova

 vida. O que é a ceia, senão a afirmação da morte de Cristo e sua volta, que

só é possível por ter ressuscitado?

Não podemos esquecer ainda que parte das testemunhas do túmulo

 vazio era formada por mulheres. Se a história fosse uma lenda, seus inven

tores não colocariam essas narrativas nas bocas das mulheres, incapazes, na

lógica da época, de falar a verdade e, portanto, indignas de crédito. Que

 judeu iria crer numa ressurreição testemunhada por mulheres?

Há outra evidência interessante. Quanto custou para os primeiros a féna ressurreição? Além do escárnio, muitos pagaram com a vida. Não seria

razoável morrerem por uma lenda. Files pregaram o evangelho da ressurrei

ção como testemunhas.

 Alguém dirá que Paulo não foi testemunha ocular e, de fato, não o foi.

Ele se autodenomina apóstolo (testemunha) nascido fora do tempo (versí

culo 8). Esse trecho, de 3 a 8, especialmente 3 e 4, não são da lavra de Paulo,

que afirma tê-los recebido. Quando ele começou a pregar, já pregava segun

do as Escrituras, isto é, segundo o que recebera de outras testemunhas. A

fé na ressurreição não foi inventada por Paulo. Ele creu nela depois que o

próprio Jesus lhe apareceu e depois do que aprendeu com outros cristãos.

Se é difícil crer na ressurreição de Jesus, e o é, porque fruto da fé, é mais

difícil ainda crer nas ideias, há muito esposadas, de que o corpo dele foi,

nu verdade, roubado.

Os antigos judeus não sustentaram essa farsa diante de José de Arima-

teia. Mais recentemente, muitos creram noutro delírio: o de que ele nãoressuscitou, mas reencarnou. A ausência de provas documentais e racio

nais para a perspectiva cristã leva pessoas a forjarem teses delirantes, sem

qualquer apoio documental contemporâneo e sem qualquer elemento de

racionalidade.

() problema do crivo racional é tão sério que até mesmo cristãos, como

Kudolf Bultmann, no início do século 20, chegaram a considerar como

não essencial a ressurreição de Jesus. Ensinava aquele teólogo que o im

portante era ter a fé que os primeiros cristãos tiveram, pouco importando

.i historie'idade dela.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL, 1

 A FELICIDADE DA FÉ NA RESSURREIÇÃO

Paulo cria na ressurreição como um fato histórico, do qual deriva a nossa

própria ressurreição.E como ele que devemos crer. Eie lembra que a crença na ressurreição

era parte da pregação da igreja. O autor de ICoríntios relaciona essa ressurreição com a nossa.

Senão há ressurreição dos mortos, nem Cristo ressuscitou; e, se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa pregação, como também é inútil a fé que vocês têm. Mais que isso, seremos considerados falsas testemunhas de Deus (...). 

Seê somente para esta vida que te?nos esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de compaixão.

ICoríntios 15.1 3-1 5,19

Sem a fé na ressurreição de Cristo e sem a esperança em nossa ressurreição no final dos tempos, nós somos infelizes.

Por que somos infelizes sem a ressurreição?

• Somos infelizes porque cremos numa Bíblia que nos ensina uma farsa e nos faz crer numa lenda ou numa alucinação coletiva, mas queacontecia em blocos, porque pessoas isoladas e grupos viram Jesuscom o corpo glorificado.

• Somos infelizes porque cremos num cristianismo que faz de umnlenda o pilar do seu conteúdo existencial e teológico. Nesse caso,somos parte de uma igreja que se formou a partir de uma alucinação.

• Somos infelizes porque abrimos mão da bênção regeneradora da ressurreição (lPe 1.3). Sem a ressurreição, o evangelho está incompleto.Sem a ressurreição, não podemos ser salvos. Não há poder na mentira.

• Somos infelizes porque abrimos mão da fé para ficar com a razão,razão que matou Jesus Cristo, razão que foi insuficiente (com a Lei)para levar o homem ao reencontro com Deus, razão que não Ia/nenhum de nós salvo por Cristo no presente e no futuro. Alíá.s, <>século 20, o século da razão por excelência, é a maior prova da falát ia

e da insuficiência da razão, pois foi o século com maior número dtguerras e de vítimas de toda a história da humanidade.

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NÓS TAMBÉM RE SSUSClTARüMOÍ

Nós temos esquecido que Cristo ressuscitou. Tem feito pouca diferença

em nossa vida a esperança de que ressuscitaremos.

Como Paulo, precisamos crer na ressurreição de Jesus, por se tratar de

uma das colunas da fé cristã.

Mais que crer, precisamos viver como se crêssemos na ressurreição, por

que somos capazes de cantar e declarar que cremos em algo sem viver como

se crêssemos.

Cristo ressuscitou para que nós pudéssemos ressuscitar — eis o funda

mento de nossa própria esperança.

O tipo de corpo glorificado (isto é: imortal) é o que teremos. Ele é a

primícia dos ressuscitados (ICo 15.20).Sem a perspectiva do futuro, por melhor que seja o nosso presente,

nossa vida é vazia de sentido.

U m a   v i d a   r a d i c a l me n t e  d i f e r e n t e

Na primeira parte do capítulo, o apóstolo Paulo põe todo o seu argumento

na certeza da ressurreição de Cristo, e dela deriva a esperança da nossa.

Precisamos ficar com esta ênfase: se não vamos ter vida pós-humana, somos lastimáveis humanos. A ressurreição de Jesus e a nossa não são temas

apenas de natureza especulativa, mas de ordem existencial.

O argumento da indispensabilidade da ressurreição é repetido nas par

tes seguintes do mesmo capítulo. Conquanto o apóstolo não detalhe o

chronos do que há de vir, oferece-nos uma visão bastante ampla da existên

cia “pós-histórica”.

En t r e   o   f a n a t i smo   mi l e n i s t a  e o   f a t a l i smo   se c u l a r i s t a  

í )s temas relacionados à escatologia têm sido tratados de duas maneiras

antitéticas: uma se aproxima da superstição, e outra compõe a fila do pa

ganismo.

Essas duas tendências são retratadas no capítulo 15 de 1Coríndos, espe

cificamente nos versículos 29 e 32.

1 .0 apóstolo Paulo menciona que em Corinto havia cristãos que sebatizavam por antepassados mortos.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Senão há ressurreição, que farão aqueles que sebatizam pelos mortos? Se

absolutamente os mortos não ressuscitam,por que sebatizam por eles?lCoríntios 15.29

Esses cristãos estavam tão certos de que Cristo voltaria para aquela geração que, para salvar seus queridos já mortos, se lançavam às águas dobatismo, achando que assim contribuiriam para a remissão dos pecadosdeles e os preparariam para o juízo final próximo.

 A propósito, os mórmons, com cujos representantes cruzamos a todo

instante pelas ruas da cidade, ensinam, a partir desse versículo, que os cristãos de hoje devem se batizar pelos seus parentes não-cristãos, para que eles

possam ser salvos. E uma espécie de quebra de maldição ao contrário. Essesintérpretes preferem ignorar o fato de que, quando Pauío menciona batismo pelos mortos, ele não o recomenda, mas apenas o cita para argumentar

o seu absurdo... Além disso, eles se esquecem da verdade bíblica essencial,segundo a qual nós somos julgados quando, em vida, escolhemos aceitarou recusar o sacrifício de Jesus Cristo por nós. Como diz o evangelista

 João, Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê jd está condenado, por não crer no nome do Filho Unigênito de Deas (Jo 3.18).

O fanatismo coríntio, no entanto, encontrou entre os tessalonicensesoutra expressão. Muitos deixaram seus empregos e seus cursos nas escolas,certos de que a volta iminente de Cristo tornava inúteis o trabalho e oestudo. Ao longo da história, esse erro foi cometido várias vezes. Centenas

de líderes fanáticos marcaram datas e lugares para aparousia. Todos fra

cassaram, como fracassarão todos que continuarem a fazê-lo — e muitosainda o farão. Há pessoas que querem saber mais que Jesus, que garantiu

que aquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho,senão só o Pai (Mt 24.36). Devemos, portanto, tomar cuidado com asescatologias calendaristas, aquelas que, olhando os inequívocos sinais daproximidade do fim da história, equivocam-se ao marcar, com certeza, esquemas e datas.

2. A segunda tendência é que Pauio menciona de passagem no versículo

32, quando transcreve um dos argumentos da filosofia epicurista, bastantiaceita à época. (Se foi por meras razões humanas que lutei com feras em lijcso.

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NÓS TAMBÉM RESSUSCITAREMOS

que ganhei com isso? Se os mortos não ressuscitam, “comamos e bebamos, por

que amanhã morreremos”)

Contrariamente àqueles que vivem como se o mundo fosse explodirpelos ares ainda hoje, os secularistas de Corinto e de nossa cidade vivem

na perspectiva de que isso jamais acontecerá ou, se acontecer, está muito

distante. Nessa visão, a história não tem sentido. Sartre, que embalou as

duas gerações do período pós-guerra, ensinava que a vida não tem senti

do; só o presente importa. Epicuro, no passado remoto, e Sartre, no pas

sado recente, têm corrompido a teologia prática. Em Corinto e em nossa

cidade, as más companhias corrompem os bons costumes (versículo 33). Porisso, o apóstolo recomenda: A cordai para a justiça e não pequeis mais; por

que alguns ainda não têm conhecimento de Deus; digo-o para vergonha vossa 

(versículo 34). Em outras palavras, quem está no caminho secularizado

deve acordar para a justiça, isto é, para a verdade do evangelho, e não

pecar mais seguindo vergonhosamente teorias e perspectivas contrárias à

Palavra de Deus.

Para os existencialistas de ontem ou de hoje, Cristo voltará, mas não

para esta geração. Logo, o importante é viver o agora. Há cristãos para osquais aparousia não significa nada; é como se não fosse algo relevante, em

bora haja uma profusão de textos bíblicos a respeito e todo um livro para

descrevê-la, o Apocalipse.

0 tema da escatologia afugenta muita gente, por suas dificuldades e

pelas muitas discordâncías entre os estudiosos do assunto. Além disso, de

tanto se falar que a volta de Cristo está próxima, ela acaba vista como sen

do algo distante...No século 19, houve também uma tendência explícita, a de que o ho

mem construiria uma sociedade com tal grau de perfeição, pela influência

do evangelho, que não haveria necessidade de Cristo voltar. O progresso

educacional, moral, científico e tecnológico fará nascer a nova terra. Nós

reescreveríamos os apóstolos: Cristo não precisaria voltar; nós é que i ría

mos ao seu encontro, ao realizarmos seu projeto. Hoje não se enuncia essa

teologia, mas se vivência essa teologia imanentista, o que é pior.1 )Íferentemente dessas visões equivocadas, precisamos de uma visão bí

blica acerca do presente e do futuro. O nosso presente é possível pomue' 1 207

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

no passado Jesus Cristo morreu e ressuscitou por nós. O nosso presente é

possível porque no futuro Jesus Cristo voltará para nos fazer ressuscitar e

 viver para sempre com ele num tipo de vida radicalmente diferente da queconhecemos e experimentamos.

Nossa visão de Jesus Cristo deve ser tão forte que nos leve a viver como

Paulo, que perguntava:

Também nós, por que estamos nos expondo a perigos o tempo todo?Todos os dias enfrento a morte, irmãos; isso digo pelo orgulho que tenho de vocês em Cristo Jesus, nosso Senhor.

1Coríntios 15.30-31

Nós vivemos segundo o que cremos. Se cremos que Jesus Cristo veio,

nós o oferecemos a todos quantos podemos; se cremos que ele voltará,queremos que outras pessoas nos acompanhem nesta jornada sem fim pelotempo sem relógio da eternidade.

 A HISTÓRIA TEM SENTIDOO estudo da escatologia, como ensinada pelo apóstolo Paulo no capítulo15 de 1Coríntios, nos mostra que a história tem sentido.

 Então virá o fim, quando ele entregar o Reino a Deus, o Pai, depois de tei destruído todo domínio, autoridade e poder. Pois é necessãrio que ele reine 

até que todos os seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés. O último 

inimigo a ser destruído é a morte. Porque ele "tudo sujeitou debaixo de seus 

pés". Ora, quando se diz que  ‘tudo” lhe foi sujeito, fica claro que isso inclui o próprio Deus, que tudo submeteu a Cristo. Quando, porém, tudo 

lhe estiver sujeito, então o próprio Filho se sujeitará àquele que todas ■/'coisas lhe sujeitou, a fim de que Deus seja tudo em todos.

1Coríntios 15.24-28

 A história humana terá um fim quando o mal for aniquilado de modoterminal. O presente geme pela atuação dos domínios, autoridades e p<>

deres. Esta é a primeira utilidade de uma fe que contempla as dimensões

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NÓS TAMBÉM RE SSUSCIT AREMO S

escatológicas: nossa vida hoje pode ser marcada pelo gemido, mas estahistória terá fim.

Não há inimigo que não seja derrotado. Aquele que derrotou o inimigo definitivo, que é a morte, tomada relativa, derrotará qualquer outro

tipo de inimigo. A morte não venceu Jesus; graças a ele, a morte não nos vencerá.

Todo aquele que aceitar essa morte não experimentará o poder da

morte sobre si. Toda a força da morte despencou sobre o corpo de Jesus,que afundou numa tumba. Se a história tivesse acabado assim, esta-

ríamos todos mortos também. No entanto, o poder de Deus levantou Jesus de entre os mortos, para que nós vivêssemos. Esse é o resumo doevangelho.

No final dos tempos, Jesus entregará o Reino de Deus ao Pai. Essaafirmação deve ser compreendida no interior da economia divina da his

tória, sob pena de não entendermos a natureza da Trindade. O que Paulo

nos ensina é que o Filho tem uma missão, e tal missão terá fim: chegaráo tempo em que ele não será mais o mediador entre os homens e o Pai,

porque nao será mais necessária a presença de um mediador, já que oshomens e a Trindade estarão em contato direto e eterno, na grande festa

celestial. Ele, então, chegará perante o Pai e anunciará que sua obra terminou.

Quando isso acontecer, o Filho receberá todo poder, toda riqueza,toda sabedoria, toda força, toda honra, toda glória e todo louvor (Ap

S. 12). O contraste é claro: ele derrota toda autoridade e recebe por essa

 vitória toda honra. A glória do Filho é a mesma do Pai. No final doslempos, o Cordeiro reinará, submetendo sua obra ao Pai, que o exaltará

sobre todo nome e toda pessoa, e fará com que todo joelho se dobre dian

te dele e toda língua lhe cante louvores, porque estará completa a obra das.ilvação (Fp 2.9-11).

Essa obra, no entanto, começou na criação do mundo e continuou naencarnação. Desde então Cristo reina. Ele venceu a morte porque reinava.

Nós, no entanto, ainda não vencemos a morte. Venceremos quando Cristo

nos ressuscitar dentre os mortos. Todos os sofrimentos humanos são re-lompensados com a ressurreição, que os faz cessar e lhes dá sentido.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Por isso, as últimas coisas (escaton) são, na verdade, as primeiras. Cristoé o princípio e o fim, o Alfa e Omega, na linguagem apocalíptica. Quem

está no princípio e no fim governa o presente, o nosso presente.É encorajador saber que Jesus Cristo é rei agora também. É animador

saber que, apesar de seu aparente sumiço da história, ele a controla. Ele noscontrola. Ele controla as pessoas ao nosso redor. Ele controla as circunstâncias ao nosso redor. Ele controla a história, história que marcha parareconhecer que ele é o Senhor,

NÃo podemos prever o tempo da p a r o u s i a  

Sofremos porque não vemos com clareza o tempo da vinda de Jesus Cristo.Nós gostaríamos de sabê-lo, embora isso fosse péssimo. Se aparousia fosseocorrer este ano, e nós o soubéssemos, ficaríamos paralisados, como ficaram

alguns da igreja de Tessalônica nos tempos apostólicos. Se aparousia fosseocorrer em gerações posteriores à nossa, e nós o soubéssemos, nós ficaríamos descansados e não permitiríamos que ela afetasse o nosso presente.

É daí que advém a tendência de se calendarizar os acontecimentos es-

catológicos.Sabemos o que vai acontecer, porque a Bíblia é clara quanto a esse as

sunto. Sabemos por que vai acontecer, uma vez que é a forma pela qualDeus se torna tudo em todos. A Bíblia, do Antigo ao Novo Testamento,

garante-nos que, no final dos tempos, Deus reconciliará consigo a criação,inclusive a criação humana. Os problemas estão no quando e no como.

 A seqüência — Somos informados, em linhas gerais, da seqüência dosacontecimentos do fim. Paulo enumera os fatos do fim nos versículos 2 i

a 28 e 20 a 23:

 Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo as primícias deutn aqueles que dormiram. Vistoque a morte veio por meio de um só homem, 

também a ressurreição dos mortos veio por meio de um só homem. Pois d,>mesma forma como em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificit dos. Mas cada um por sua uez: Cristo, o primeiro; depois, quando ele via. os que lhe pertencem.

ICoríntios IS.20

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NÓS TAMBÉM RESSUSCITAREMOS

Os acontecimentos do fim estão no passado (encarnação e glorificação

de Jesus), no presente (nossa aceitação ou recusa do sacrifício de Cristo) e

no futuro. No caso dos salvos, o esquema é claramente o seguinte:

• morte de Jesus Cristo »nossa morte (ou transformação, para quemestiver vivo)

• ressurreição de Jesus Cristo »nossa ressurreição (ou transformação,

para quem estiver vivo)

• parousia »nosso arrebatamento• juízo final »nosso julgamento

• consumação do Reino de Deus »vida celestial

Essa seqüência geral pode ser detalhada, mas, ao fazê-lo, não podemos

perder a visão global da história no projeto de Deus. Mesmo as discordam

cias quanto ao tempo dos acontecimentos do fim no futuro não nos devem

separar da esperança de que o Jesus que reina agora reinará plenamente noporvir.

Os pré-milenistas não podem abafar a esperança com seus esquemas.()s pós-milenistas não podem anular a esperança com seu otimismo. Os

amilenistas não podem empobrecer a esperança com a redução dos acon-

tecimentos do fim a meros símbolos.

Os sinais — Pressupondo que aparousia é o acontecimento central, emlorno do qual orbitam os demais, devemos nos acautelar duplamente para

não achar que a volta de Cristo é algo para o “são nunca de tarde” (con-

forme o alerta de Pedro — 2Pe 3.9) ou que é algo para tão breve que nos

perturbe (2Ts 2.2).Nós simplesmente não conhecemos o tempo da volta de Jesus Cristo.

K isso é muito bom, conquanto para alguns possa soar como um convite

.1 colocá-lo para um futuro remoto. Nós temos que viver como se ele fos-sr voltar hoje, com os olhos voltados para a sua direção. Nós temos que

 viver como se ele fosse ainda demorar a retornar, mantendo nossos olhos

 voltados para o crescimento em direção à sua estatura perfeita. Enquantolutamos nossos projetos, de curto, médio e longo prazos, devemos esperar

r desejar a volva de nosso Senhor.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Era assim que Paulo pensava e agia. Embora achasse que alguns de sua

geração seriam arrebatados e transformados, sem passar pela experiência da

morte (só a da transformação), pela iminência daparousia (versículo 51),ele não deixava de fazer projetos para a universalização do evangelho.

Os sinais do fim estão na Bíblia. Alguns já se cumpriram claramente.Outros ainda não se cumpriram. Devemos ter cuidado de não os ignorar,

mas também de não os produzir, fazendo com que fatos se encaixem arti

ficialmente em nossos esquemas. Entre a indiferença em relação aos sinaise a indústria dos sinais, devemos ficar com a oração apostólica: Mamnatal Enquanto aparousia não acontece, devemos pedir por ela, repetindo a frase

com a qual Paulo termina esta epístola: Maranatcò,1, que quer dizer: Vem,Senhor Jesus (ICo 16.22).

Devemos ter a humildade ainda de reconhecer que há sinais que difi-

cilmente conseguiremos divisar com clareza. O objetivo dos sinais é nos

advertir contra a possibilidade de marcar tempos que só Deus conhece.O Senhor da história não é refém de nossas interpretações, que falham,

conquanto ele não falhe jamais.

SÓ PODEMOS FALAR DA ETERNIDADE POR MEIO 

DA LINGUAGEM POÉTICA 

 Além da fixação do tempo para os acontecimentos do fim, nós lavramosem outro tipo de dificuldade: a linguagem. A linguagem objetiva não con

segue falar da eternidade; só a imaginação poética nos ajuda. É isso que faz

o autor de Apocalipse. Tudo ali é poesia. A imaginação poética — Toda a descrição da vida celestial, ao longo de

todo o Novo Testamento, é poética. E a poesia que nos ajuda a descrevera morte, a ressurreição, aparousia e o céu. A poesia não remete para a

mentira, mas para a incompetência da linguagem narrativa (jornalística,objetiva, positiva).

Não podemos tomar as imagens acerca da vida celestial e limitá-las.Quem lê o Salmo 23 não pensa que Deus é um pastor de ovelhas com

um cajado na mão a cuidar delas, mas — isso, sim — imagina que Deusse parece com um pastor de ovelhas com um cajado na mão a cuidar dos

seus filhos. Quem lê a descrição das ruas celestiais, como a de Apocalipse.

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NÓS TAMBÉM RESSUSCITAREMOS

não deve imaginá-las de ouro, mas tão imponentes e valorosas como o

ouro, o mais rico dos metais preciosos, razão por que foi usado para servir

como meio de comparação acerca da vida “pós-esta”. O céu é um lugar. Até podemos chamá-lo de nova terra, à falta de elementos para descrevê-lo,

porque nada tem a ver com esta vida aqui, e não sabemos como será, a não

ser que será radicalmente diferente desta.

Diante de nossa impossibilidade de imaginar o diferente como sendo

diferente, só podemos falar da eternidade por meio da linguagem poética.

Um exemplo nesse capítulo é a referência à morte como um sono (aqueles

que dormiram — versículo 20 — nem todos dormiremos — versículo 51).

O apóstolo não está falando do sono da alma: está usando um termo próprio da tradição bíblica para descrever a morte.

 A vida celestial — Em sua descrição poética, Paulo prefere usar a ima

gem da semente para descrever a natureza de nossos corpos celestiais.

 Mas alguém pode perguntar: “Como ressuscitam os mortos? Com que espé

cie de corpo virão?” Insensato! O que você semeia não nasce a não ser que 

morra.Quando você semeia, não semeia o corpo que virá a ser, mas apenas uma 

simples semente, como de trigo ou de alguma outra coisa.

ICoríntios 15.35-37

Dessa seção, eivada de imagens poéticas, podemos reter algumas verda

des inquestionáveis:

1. A vida celestial é radicalmente diferente da vida terrena. Um fruto

não se parece com o grão do qual germinou. Uma árvore não se parece com

;i semente que a fez nascer. A vida celeste não se parece com a vida terrena.

Nosso novo corpo não conhecerá as limitações de tempo e espaço que

experimenta aqui. Podemos, diante disso, ainda nos referir a ele como

“corpo”?Não está o apóstolo novamente fazendo poesia?

2. Esse nosso novo corpo será corpo glorificado. O máximo que pode

mos saber a este respeito é que esse novo corpo se parecerá com o corpo do

 Jesus ressurreto. Mais do que isso não sabemos, exceto ainda que, quandoadentrarmos na eternidade, os elementos constitutivos desse nosso corpo

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PASTOREA DO S POR PAULO -■ VOL. 1

não serão mais a carne e o sangue, isto é, não serão céluias biologicamente

formadas, nem será mais passível de ser atingido pelo poder do pecado.

3. A participação na vida eterna celeste é o cume do processo iniciadona ressurreição de Jesus: a vitória sobre a morte. Depois de ver Jesus reinan

do nos céus e de nos contemplar ajoelhados diante dele confessando seu

senhorio, Paulo pergunta à morte, com ironia:— Ei, morte, onde está a ponta aguçada de ferro com a qual você flage

lava as pessoas? Ei, morte, onde está o seu sorriso de vitória?Mesmo a morte, esse acontecimento definitivo, tornou-se relativa dian

te do absoluto dos absolutos. Por isso, podemos cantar que Jesus está vencendo e um dia terminará sua obra.

• • •

O apóstolo Paulo termina o capítulo mostrando qual deve ser o sentido

de se estudar escatologia: reafirmar o valor da confiança no Senhor, que

transforma as nossas ações em ações úteis no seu reino.

 A especulação deve ceder lugar ao compromisso.

 A recordação deve preceder a esperança.

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29 2 C o r í n t i o s 1.3-11

 A arte de consolar 

Crer em Deus não épressupor que ele vá intervir. ’

Comecemos por ler e entender cada um destes nove versículos;

 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias 

e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações, para que, com a consolação que recebemos de Deus, possamos consolar os 

que estão passando por tribulações. Pois assim como os sofrimentos de Cris

to transbordam sobre nós, também por meio de Cristo transborda a nossa 

consolação. Se somos atribulados, é para consolação e salvação de vocês; se 

somos consolados, é para consolação de vocês, a qual lhes dá paciência para 

suportarem os mesmos sofrimentos que nós estamos padecendo. E a nossa 

esperança em relação a vocês está firme, porque sabemos que, da mesma 

 forma como vocês participam dos nossos sofrimentos, participam também 

da nossa consolação.

 Irmãos, não queremos que vocês desconheçam as tribulações que sofre

mos na província da Asia, as quais foram muito além da nossa capacidade 

de suportar, ao ponto de perdermos a esperança da própria vida. De fato, já 

tínhamos sobre nós a sentença de morte, para que não confiássemos em nós

'MANNINC, Brcnnan. Confiança cega. São Paulo: Mundo Cristão, 2009, p. I25.

215

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PASTOREA DO S POR PAULO VOL. í 

mesmos, mas em Deus, que ressuscita os mortos. Elenos livrou e continuará nos livrando de tal perigo de morte. Nele temos colocado a nossa esperança 

de que continuará a livrar-nos, enquanto vocês nos ajudam com as suas orações. Assimmuitos darão graças por nossa causa, pelo favor a nós concedido em resposta às orações de muitos.

2Coríntios 1.3-11

Br e v e  e x p o s i ç ã o

i. Paulo (versículo 3) bendiz (fala bem de Deus, diz palavras de alegriadiante de Deus, por reconhecer quem ele é) ao Senhor, chamando-o de

Pai, Pai das misericórdias e Deus das consolações.2. Paulo (versículo 4) não se detém em explicar a origem da tribulação.

Ele parte do fato de que elas chegam tanto a nós, da mesma forma quechegaram a ele. Quando ele diz se somos atribulados, o “se” paulino significamais “quando”.

3. Paulo (versículo 5) garante que a consolação vem dos sofrimentos deCristo, isto é, vem da cruz de Cristo. A graça desce da cruz para nos alcançar.

4. Paulo (versículo 6) mostra a finalidade que podemos dar às tri-

bulações. Elas podem nos afundar em tristeza e desânimo, mas podemnos fortalecer. Sua experiência foi que o seu sofrimento foi usado paraabençoar os coríntios, inclusive com esta saudação: Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor fesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação (versículo 3).

5. Paulo (versículo 7) oferece a contraparte humana na tarefa da consoíação. Ao ser atribulado e consolado, aprendeu a consolar. Sua esperam,;»é que seus leitores (os coríntios e nós) aprendam com os sofrimentos doapóstolo e com os seus próprios e, aprendendo, se tornem consoladores,como ele se tornou.

6. Paulo (versículo 8) salienta que as tribulações vêm para todos. Paulo,em que pese sua autoridade como apóstolo, não ficou imune às tribulações. Ele não as especifica. Não sabemos quais foram as suas tribulações,mas elas foram pesadas. Suas tribulações, ocorridas na província da Ásia(que não tem nada a ver com o continente asiático, mas com uma região

da Europa, na Turquia moderna), podem ter sido diretamente pessoai'.(perigo de morte) ou para o seu ministério (ameaça à pregação). E niai*.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. ]

igualmente devemos tomar cuidado com os “autoconsolos”, aqueles

que nós criamos e atribuímos a Deus. Em 2011, um jovem, num carro

possante, possivelmente em altíssima velocidade, colheu outro carro me

nos possante, com tanta força que os dois carros ficaram destruídos, e a

motorista, morta instantaneamente, Numa entrevista, o jovem praticou a

seguinte frase:

“A mensagem que eu gostaria de passar é que tudo tem um porquê.

 A gente tem que aceitar. Aconteceu um acidente, ela faleceu, com

certeza isso estava nos planos de Deus.”2

Sim, o acidente teve um porquê: irresponsabilidade humana. Não dá

para aceitar irresponsabilidade humana. Não dá para aceitar atribuir-se

aos “planos de Deus” a morte de uma jovem por irresponsabilidade huma

na, jamais divina. Devemos tomar cuidado com esse tipo de autoconsola-

ção, porque é falsa. Nós não nos autoconsolamos. Nós somos consolados

por Deus.

Precisamos confiar 

Confiar em Deus é um exercício de fé. A Bíblia diz que Deus nos con

sola? Confiemos.

Confiar em Deus é um exercício de aprendizagem. Confiar no Senhor

é contra a nossa natureza. É a favor da nossa natureza confiar em nós

mesmos.

Confiar em Deus é um exercício de entrega. Entrega é admissão deincompetência. Por isso, resistimos em nos entregar. Preferimos quebrar ;i

cabeça até o fim. Entregar é renunciar ao controle. Queremos confiar em

Deus e, ao mesmo tempo, manter o controle das coisas. Quando estamos

no controle, não temos como orar. Orar é entregar. Não dá para conjugai

os verbos controlar e orar ao mesmo tempo.

•’Cf. entrevista disponível em <http:/ / wwwl.folha.uol.com.br/ cotidiano/ 9487HI nao~sou-bandido-dÍ7.-d()no-do-porsche-envolvido-cm-acidente.shtml>. Acessado em ,V)/ 7/ 2011.

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 A ARTE DE CO NSO LA R 

É por isso que confiar em Deus é um exercício de aprendizagem. Apren

demos nas Sagradas Escrituras o que devemos fazer, pelo que um bom

exercício de aprendizagem é memorizar versículos sobre confiança emDeus, como estes dez:

1.  Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá.  (SI 37.5)

2. Os que conhecem o teu nome confiam em ti, pois tu, Senhor, jamais 

abandonas os que te buscam (SI 9.10).

3.  A lguns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós confiamos no 

nome do Senhor ; o nosso Deus (SI 20.7).

4.  Em ti os nossos antepassados puseram a sua confiança; confiaram, e 

os livraste. Clamaram a ti, e foram libertos; em ti confiaram, e não se 

decepcionaram (SI 22.4-5).

5. O Senhor é a minha força e o meu escudo; nele o meu coração confia, e 

dele recebo ajuda. Meu coração exulta de alegria, e com o meu cântico 

lhe darei graças (SI 28.7).

6. Confie nele em todos os momentos, ópovo; derrame diante dele o cora

ção, pois ele é o nosso refúgio (SI 62.8).7.  Pois tu és a minha esperança, ó Soberano Senhor, em ti está a minha 

confiança desde a juventude (SI 71.5).

8. Ó Senhor dos Exércitos, como éfeliz aquele que em ti confia! (SI 84.12).

9. Vocês que temem o Senhor, confiem no Senhor! Eleé o seu socorro e o seu 

escudo (SI 115.11).

10. Os que confiam no Senhor são como o monte Sião, que não se pode 

abalar, mas permanece para sempre (SI 125.1).

Sobretudo, confiar em Deus é um exercício de fé. “Fé” não é uma pa

lavra fácil. A Bíblia não define o que é fé, que tem várias dimensões. Uma

delas está contemplada em Hebreus 11.1: Ora, a fééa certeza daquilo que 

esperamos e a prova das coisas que não vemos.  Por isso, precisamos de adje

tivos para a fé. A fé mencionada em Hebreus é a ‘fé-visão’, aquela que nos

faz ver o que Deus faz por nós, mas a fé é mais que uma visão.

Quando o apóstolo Paulo afirma que o justo vive pela fé (Rm 1.17), elereelabora Habacuque (Hc 2.4), para dizer que somos justificados pela íé

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

em Cristo como Salvador, que perdoou os nossos pecados na cruz. Esta é

a fé salvadora.

Há também a “fé-confiança”. E é dessa fé que precisamos para a consolação. Um salmista cantou essa “fé-confiança” assim:

 Mas eu, quando estivei-com medo, confiarei em ti.Salmo 56.3

Ela, no entanto, é sintetizada como no registro deixado por João:

 Esta é a confiança que temos ao nos aproximarmos de Deus: se pedirmos

alguma coisa de acordo com a vontade de Deus, ele nos ouvirá.1João 5.14

Essa é a confiança de que precisamos, a fé que ouve Jesus falando eacredita: todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a 

porta será aberta (Mt 7.8).

Este é o exercício proposto por Jesus Cristo:

O que vocês pedirem em meu nome, eu farei. João 14.1-1

Precisamos exercitar a “fé-confiança”, que bem poderia ser chamada

de cega. E ela é cega porque é baseada na graça. “O ato de confiar com

base na graça é a grande decisão da vida. Sem ele, nada tem valor, e deli

deriva o significado definitivo de todos os relacionamentos e conquistas, 

de cada sucesso ou fracasso. Uma confiança sem limites no amor mise

ricordioso de Deus desfere um golpe mortal contra o ceticismo, contrao cinismo, contra a autocondenação e contra o desespero. E o nosso a(<>

de obediência às ordens de Cristo: ‘Creiam em Deus; creiam também

em mim\ ”!

'MANNINCi, Brcnnan. Confiança cega. São Paulo: Mundo Cristão, 200(), |*. I

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 A ARTE DE CON.Sol.AK 

2. Ficamos um pouco assustados quando lemos Paulo escrever (versícu

lo 8) que os seus sofrimentos foram tão agudos que chegou a perder a espe

rança. Ouso dizer que os sofrimentos foram tão grandes que representaramuma tentação para Paulo perder a esperança.

Quantos já não passamos por essa experiência, na qual não experimen

tamos consolo algum, tal a aflição, achando que não haveria mais solução.

Pode ser com a gente mesmo. Pode ser com alguém de nossa família, o

que é pior. Quantos pais não tiveram seus filhos em enfermidade, seja uma

bronquite dificílima, seja uma depressão longuíssima. Como é triste olhar

para eles e não poder fazer nada. Paulo, no entanto, viu que Deus provi

denciou o escape e ele estava ali para escrever aos coríntios. Olhamos defrente para trás e então notamos que Deus estava agindo.

3. O apóstolo Paulo repete as palavras consolar ou consolação nove

 vezes. As traduções podem preferir sinônimos (como confortar, que quer

dizer “tornar forte” ou “ser forte junto”), mas no texto grego ele usa uma

só palavra em suas formas substantiva (consolação) e verbal (consolar, que

significa “tornar sólido”, “fazer firme”). Dono de um rico vocabulário,

Paulo se repete de propósito. E como se dissesse: não esqueçam a palavra-chave: consolação.

Essa palavra forma um par oposto com tribulação, para a qual vem a

consolação. Tribulação aparece quatro vezes, mas ela comporta um sinô

nimo (sofrimento), que aparece outras quatro vezes. Consolação aparece

mais vezes que tribulação e sofrimento juntos.

Não por acaso, a palavra consolação (parakletos) é a mesma que Jesus

( 'risto usa quando nos promete o Espírito Santo, a quem chama de Con

solador (parakleton), fortalecedor (cf. Jo 14.16; 16.7).

4. Há um movimento no processo de consolar.

Primeiro, como já observamos, há a promessa de que seremos consola

dos, como nas bem-aventuranças de Jesus ( Bem-aventurados os que choram, 

pois serão consolados — Mt 5.4).

I )epois, vem a tribulação, que faz parte da vida. Durante os X-Games de

.»<>11, campeonato mundial de esportes radicais (realizado no mês de julho

cm I ,os Angeles), toda vez que um competidor caía, o comentarista dizia ttd ihiuscam o bordão: “só cai quem anda”. Ninguém vive numa bolha.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

 A jornalista carioca Eliane Brum escreveu um texto de grande valor

sobre a ideia de uma vida em que não há tribulações. Anotou ela, comsabedoria:“Percebo que estamos diante da geração mais preparada e, ao mesmo

tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades,despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque écapaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque desprezao esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo

isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com opatrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.

Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmotempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. (...) Tenho me deparadocom jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação desua casa -—- onde o chefe seria pai ou mãe complacente, que tudo concede.

Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. Equando isso não acontece — porque obviamente não acontece — sentem-se traídos, revoltam-se com a ‘injustiça e boa parte se emburra e desiste.

(...) Da mesma forma que supostamente seria possível construir umlugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível

 viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomaliae, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro quedeveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a

felicidade é um direito. E a frustração, um fracasso.”Eliane Brum faz o retrato de uma geração. Ela fala de um tipo de tríbu

lação, que é a pressão recebida e vivida na educação dos filhos.Mas há outras formas de pressão.Há a pressão no trabalho. Um dia desses, numa padaria, um senhor que

auxiliava o caixa olhava para o relógio toda hora.

4BRUM, Eliane. Meu filho, você não merece nada. Disponível em <http:/ / revistaepoc.i globo.com/Revista/ Epoca/ 0„EMI247t)81 -15230,00.hrml>. Acessado em 30/ 7/ 2011.

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 A ART E DE CO NSOLA R 

— Ainda faltam duas horas, disse ele.

Perguntei:

— A que horas começou?Ele respondeu:

— Seis horas da manhã.

Eram oito horas da noite.

No trabalho ainda, há pressão pelos resultados. Há pressão para se usar

métodos fora dos padrões éticos. Há pressão para fraudar. Há pressão para

bajular. Só os fortes não caem. Mas até os fortes podem cambalear.

Em casa, pode haver diferentes tipos de pressão, como violências, infe-

licidades, expectativas não realizáveis, escolhas impostas, tantas situações

que pressionam para a desistência.

Na rua, há a pressão pelo sucesso, em forma de dinheiro, consumo e

ostentação. Por isso, é bom ouvir que “nossa cultura nos diz que a compe

tição cega é o segredo para o sucesso”, mas que Jesus nos diz “que a com

paixão cega é o propósito de nossa caminhada por este mundo”.5

Na vida social, há a pressão para o consumo do álcool, por exemplo. Des

de muito cedo, meninos e meninas vão sendo seduzidos a consumir bebidaalcoólica, como se uma festa não fosse uma festa sem álcool. Durante muito

tempo, a pressão mais forte foi contra o cigarro. Por razões econômicas, os

governos se fortaleceram e criaram restrições à propaganda do cigarro e ao

seu consumo em lugares fechados. Isso sim foi um avanço. Agora precisamos

do mesmo empenho com relação ao álcool, que está matando no trânsito,

nas casas e nos corpos. Precisamos proteger nossas crianças da propaganda

do álcool. Precisamos proteger nossos adolescentes da propaganda do álcool.Eles não são tão fortes quanto pensam e podem ser seduzidos.

Escrevi uma nota sobre o tema, que reproduzo:

“Há um tema em que precisamos radicalizar.

Precisamos ser radicais na recusa ao uso do álcool. Nossa sociedade tole

ra o consumo do álcool, do mais leve ao mais forte. Os anúncios, sobretu

do os de cerveja, glamourizam os usuários regulares de bebidas alcoólicas.

'MANNINC, Brennan. Confiança cega. São Paulo: Mundo Cristão,

.MHW, |>. 171.223

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Chegou o momento do sacrifício para rompermos a espiral da morte.

Precisamos sacrificar a liberdade de expressão nesta área e acabar comtodo o estímulo (pela propaganda) ao consumo de álcool.Precisamos sacrificar o prazer individual de beber social e responsavel

mente para não servir de estímulo às novas gerações.Precisamos sacrificar as expectativas em torno do álcool servido em nos

sas festas para brindar casamentos, aniversários e vitórias.Enquanto não radicalizarmos, não teremos o direito de ficar indignados

com o bêbado (anônimo ou famoso) que se recusa a fazer o teste do bafô-

metro, não teremos autoridade moral para criticar aquele que jaz na sarjetana esquina de nossa rua e não teremos o direito de protestar contra o ébrioque avança o sinal de trânsito e projeta para a morte um desconhecido.

Não podemos assistir passivamente, como se não fosse conosco, à dizi

mação dos brasileiros por causa do álcool.Não é possível que precisemos beber álcool para viver.”6

 Ah, mas a pressão é forte. As tribulações assumem formas distintas. Antes delas, no entanto, temos promessas de consolação. Depois, vêm

as pressões.Em seguida, vem a consolação. Saímos consolados (mais sólidos, mais

fortes). Saímos confortados (mais fortalecidos).Então, nos dispomos a compartilhar nossas experiências e consolar ou

tras pessoas.Compartilhar experiências de consolação tem a ver com o que fazemos

com as nossas dores.Paulo nos aconselha a nos deixar consolar (fortalecer) e a nos pôr cmação para consolar (fortalecer os outros).

Bom seria que não sofrêssemos. Sofremos? Então, usemos nossa expr

riência para abençoar outras pessoas.

6AZEVEDO, Israel Belo de. Uma moratória contra o uso do álcool. Disponível em <lmp /  www.prazerdapalavra.com.br/ index.php?option=com_content&view=arlidc£V  ul 4487:bom-dia-uma-moratoria-contra-o-uso-do-alcooln&ca(i(J= 15 17:l><im

dia&Itemid=7882. Acessado em 30/ 7/ 2011.

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 A ARTE DE CO NSOLAR 

Pa r a  q u e   s e j a m o s   c o n s o l a d o r e s

Sabemos que Deus age como quer e pode consolar sem a nossa participa-

ção. Ele pode soprar diretamente sua palavra de consolação no ouvido atribulado. No entanto, o método preferido de Deus é a palavra dele proferida

a uma pessoa por outra pessoa, que fale a mesma língua e que, preferente

mente, sinta a dor do outro.

1. Para sermos consoladores, precisamos estar firmados em Deus e não

nas pessoas. Consolar traz suas próprias dores, seja a dor do envolvimen

to, seja a dor da ingratidão. Aprendamos com Paulo, sobretudo no modo

como começa seu ensino: Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus 

Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em to

das as nossas tribulações. Paulo estava firme em Deus, ao ponto de bendizê-

lo quando recordou uma dolorosa experiência em sua vida.

2. Para sermos consoladores, precisamos refletir sobre nossas experiências.

0 sofrimento nos educa, desde que reflitamos sobre ele. Refletir não

quer dizer necessariamente encontrar resposta racional para a dor, mas dar

aela um sentido para a nossa vida. Eu, por exemplo, não sei por que expe

rimentei um câncer, que Deus não me enviou, embora o tenha permitido.Meu exercício é o que fazer com aquela experiência, para mim mesmo e

para as pessoas com quem convivo.

Todos nós devemos tomar cuidado com nossas próprias experiências,

porque elas não são normativas. Em outras palavras, as dores dos outros

não podem ser comparadas com as nossas. As nossas reações não podem

\cr comparadas com as dos outros. Dor não se compara. Dor não se trans-

Icre. Nossas histórias são diferentes.3. Para sermos consoladores, precisamos dizer palavras que venham de

1>eus e não de nós mesmos.

Quando chegava ao final do preparo desta mensagem, recebi uma corres

pondência de uma remetente que se disse com o coração sangrando por causa

do um acidente que matou duas pessoas. Viajavam dois casais de namorados

num carro, conduzido por um dos rapazes. As duas moças morreram.

1 Jma das explicações foi que, no dia do acidente, Deus tinha marcado

um encontro com a jovem. Outra foi que os rapazes foram poupados por

que 1)eus tinha um plano na vida deles.225

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

 A pessoa que me escreveu perguntou: “E quanto às meninas, náo existia

plano?”Responder a esse desabafo é um enorme desafio. Não é resposta quepossa ser dada sem oração. Não é resposta que nasça apenas do coração.Precisamos conhecer a Palavra de Deus e responder com esta Palavra.

Quando Jesus estava diante de uma experiência de dor, ele se envolviae seu envolvimento não incluía a explicação. A Bíblia não explica o sofrimento. Devemos ser cuidadosos com nossas explicações, muitas vezessimplistas e muitas vezes trazendo mais culpa aos que já sofrem. Devemos

ter a humildade de dizer que não sabemos por que a tragédia aconteceu edeixar as pessoas chorarem, chorando junto, se for o caso.

Quando Jesus sentiu sua própria dor, ele sofreu, experimentando inclusive a solidão. Até nisso ele é nosso mestre. Ao seu lado, muitos tentaramexplicar sua morte. E explicaram, embora não entendessem absolutamentenada. Bem teriam feito se se calassem.

 A única explicação para a dor é a solidariedade, manifestada no silêncioe também na palavra, no gesto direto e também no gesto indireto (numa

forma discreta de presença).E quando formos falar, se for necessário, venham as nossas palavras da Pa

lavra de Deus, como esta de Paulo na abertura da segunda carta aos coríntiosou na segunda aos tessalonicenses, quando o apóstolo nos abençoa assim:Que o próprio Senhor Jesus Cristo e Deus nosso Pai, que nos amou e nos deu eterna consolação e boa esperança pela graça, dê ânimo aos seus corações e os fortaleça para fazerem sempre o bem, tanto em. atos como em palavras (2Ts 2.16-17).

4. Para sermos consoladores, precisamos orar pelas pessoas a quem que

remos abençoar.Em meio ainda ao rescaldo de sua quase morte, Paulo manifestou su;i

esperança de que Deus continuaria a livrá-lo e, para tanto, contava com ,iajuda das orações dos seus irmãos em Cristo (versículo 11).

Consolar é para o Espírito Santo. Nós somos apenas seus porta-voze.s.

• • •

 Voltemos às palavras iniciais do apóstolo nessa carta, agora na tradução deEugene H. Peterson:

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 A ARTE DE CO NSO LAR 

Todo louvor ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus, o Messias! Pai de toda 

misericórdia! Deus de toda cura e restauração! Ele está ao nosso lado quando passamos momentos difíceis e, antes que percebamos, ele nos leva 

para o lado de alguém que também está sofrendo, para que possamos 

ajitdar aquela pessoa assim como ele nos ajudou. Muitas das situações que enfrentamos são conseqüências de seguirmos o Messias, mas os bons 

tempos de seu conforto restaurador compensam em mídto o sofrimento. 

(...) Os momentos difíceis de vocês são os nossos momentos difíceis. (...) 

 Emvez de confiar em nossa força ou em nossa capacidade de nos salvar, 

 fomos forçados a confiar totalmente em Deus — uma ideia nada má, considerando que ele é o Deus que ressuscita os mortos! (...) Vocês e suas 

orações são parte da operação de resgate (,..), resgate em que a oração tem um papel fundamental (2Co 1.3-11, com elipses).7

PK IT.KSON, Eugene. A Mensagem. São Paulo: Vida, 201 1.227

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30 2 C o r í n t i o s 1. 20- 2 2

Em que somos especiais

Vocêpode ser inseguro, inadequado, confuso ou barrigudo. A morte, o 

pânico, a depressão e a desilusão podem estar por perto. Mas você não 

é só isso. Vocêé aceito. Nunca confunda sua percepção de você mesmo 

com o mistério de que você é realmente aceito.1

Quando as dificuldades nos alcançam, alcançam-nos também as dúvidasacerca de nossa condição diante de Deus. Então, Paulo nos conforta:

 Pois quantas forem as promessas feitas por Deus, tantas têm em Cristo o

“sim”. Por isso, por meio dele, o “A mém” é pronunciado por nós para a g/o 

ria de Deus. Ora, é Deus que faz que nós e vocês permaneçamos firmes cm 

Cristo. Elenos ungiu, nos selou como sua propriedade e pôs o seu Espirito 

em nossos corações como garantia do que está por vir.2Coríntios 1.20-.L*

Esse texto narra uma conspiração, uma conspiração divina a nosso

favor. Estamos diante de uma afirmativa de fé que pode ser resumida

em duas palavras: “Somos especiais”. O autor escreve aos coríntios,

'MANNING, Brennan. O evangelho maltrapilho. São Paulo: Mundo Cristão, 200'', p. 28.

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EM QUE SOMOS ESPECIAIS

cristãos como nós. Eles eram especiais para Deus. Nós somos especiais

para Deus.

 Até que...Cito, então, o psiquiatra norte-americano Gerald May (1940-2005),

que escreveu: “Sei que Deus é amoroso e o seu amor é confiável. Sei disso

pela via direta, por meio da experiência da minha vida. Houve inúmeras

 vezes em que duvidei, principalmente quando eu achava que a bondade de

Deus significava que eu não seria atingido por coisas ruins. Mas tendo pas

sado por sofrimento um número razoável de vezes, hoje sei que a bondade

de Deus é algo muito mais profundo do que sofrimento e prazer”2— ela

inclui as duas coisas, no dizer de Gerald May.

Dos grandes homens que conheci, um deles, o pastor Xavier (Manoel

Xavier dos Santos Filho, pastor da Igreja Batista Memorial da Tijuca, no Rio

de Janeiro), foi levado por um câncer, mas nem por isso suas últimas palavras

(oram diferentes das proferidas ao longo de sua vida: Deus é bom.

Nós precisamos da bondade de Deus. Por isso, alguns fazemos qualquer

negócio para receber essa bondade sobre a nossa vida familiar, sobre a nossa

saúde física e mental, sobre a nossa vida profissional. Parte da experiência religiosa, em muitos credos, tem como objetivo garantir essa bondade.

Nesse caso, religião é algo de baixo (do homem) para cima (para Deus).

Se for assim, então, religião tem a ver com resultado. Quem dá mais? E

para lá que eu vou.

Tem uma igreja onde a bênção acontece. Vou para lá.

Tem uma comunidade em que o pastor ora com poder. Vou para lá.

Há muitos cristãos caindo nessa tentação. A palavra é “tentação”, comodemonstra uma história extrema que chegou ao meu conhecimento, de

fonte segura. Trata-se de um homem ativo numa igreja evangélica. Seu

i asamento naufragou. Seus negócios fracassaram. Então, aderiu a uma fé

religiosa em que, segundo ele mesmo, quem comanda é Satanás. Casou de

novo. Sua profissão vai bem. Seus negócios prosperam. Hoje ele está certo

de que perdeu muito tempo sendo cristão.

'MAY, ( Citado por MANNING, Brennan. Confiança cega. São Paulo: Mundo 

* iím.k », .?()0‘), p.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

 Você deve conhecer situações como essa.

O que quer o apóstolo Paulo dizer quando nos chama de ungidos, selados e garantidos (2Co 1.20-22)?

Precisamos entender cada uma dessas palavras.

Somos especiais porque fomos ungidos por Deus

 Elenos ungiu.2 C o r í n t í o s 1 . 2 1 b

Unção tem quatro sentidos no Novo Testamento.1. Um sentido é o uso do óleo derramado sobre o corpo ou parte do

corpo para fins de cura. Somos, por exemplo, informados de que os discípulos de Jesus expulsavam, muitos demônios e ungiam muitos doentes com 

óleo, e os curavam  (Mc 6.13). Tiago recomenda que as orações pelos enfermos sejam acompanhadas com óleo (Tg 5.14), indicando que a fé não

precisa abrir mão da medicina.2. Outro sentido indica a honra dada a uma pessoa.Foi o caso da mulher que se colocou atrás de Jesus, a seus pés. Chorando, 

começou a molhar-lhe os pés com suas lágrimas. Depois os enxugou com seio cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume (Lc 7.38).

3. Era comum ao tempo de Jesus que os corpos mortos fossem perfum;idos como parte de seu preparo para o sepultamento. Nesse sentido, lemos:

Quando terminou o sábado, Maria Madalena, Salomé e Maria, mãe de Tiago, 

compraram especiarias aromáticas para ungir o corpo de Jesus (Mc 16.1).4. Dessas práticas, temos a que venceu o tempo, por seu caráter simbóli

co. Ungir significa separar uma pessoa para uma missão específica no Reino

de Deus. Jesus aplica a si mesmo o verbo “ungir”, usado também no Ani >

Testamento para a consagração de reis, profetas e sacerdotes. Disse ele n.isinagoga em Nazaré: O Espírito do Senhor está sobre mim,porque ele me un 

giu para pregar boas-novas aos pobres. Eleme enviou para proclamar liberdtuh aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos (Lc 4.1X1

Pregando em Cesareia, Pedro lembra que Deus ungiu a Jesus de N,t  zaré com o Espírito Santo e poder ,; e como ele andou por toda parte jazendo

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EM QUE SOMOS ESPECIAIS

o bem e curando todos os oprimidos pelo Diabo, porque Deus estava com 

ele (At 10.38).

Quando diz que Deus nos ungiu, Paulo incorpora esses significadostodos. Primeiramente, Deus nos curou dos nossos pecados, pela morte de

 Jesus na cruz, como escreve Pedro: Jesus mesmo levou em seu corpo os nossos 

pecados sobre o madeiro, afim de que morrêssemos para os pecados e vivêssemos 

para a justiça; por suas feridas vocês foram curados (1 Pe 2.24).

Mais ainda, Deus nos olha como filhos amados, destila óleo sobre nossa

cabeça, óleo de honra e óleo que nos perfuma, de modo que possamos ser

 vistos e cheirados, por causa da fragrância de Cristo (2Co 2.14).Somos, então, especiais também porque a unção de Deus significa que

ele tem expectativa para nós. O ungido é aquele que tem uma missão. So

mos especiais para Deus porque ele nos deixa uma missão: como ele quer

que a graça alcance o mundo, quer que sejamos os anunciadores, pela voz

c pela vida, dessa graça.

Somos especiais?

Se você é um pregador do evangelho da graça, você é especial.Neste caso, você está entre aqueles que têm uma unção que procede do 

Santo [Deus] (ljo 2.20).

Somos especiais porque somos propriedade de Deus

[Deus] nos selou como sua propriedade

2Coríntios 1.22a

 À imagem é pastoril: um animal é selado com ferro quente sobre a pele

|);ira indicar quem é o seu dono ou a que pasto pertence. Dessa imagem

limitada, desenvolvem-se outras para indicar um relacionamento.

Essa unção divina sobre nós estabeleceu um novo relacionamento

Item pessoal. Ele deixa de ser percebido como um Deus cósmico e

genérico para ser percebido como um Deus pessoal e específico. Dei-

K.imos de ser pessoas anônimas para sermos pessoas com nome e sobre

nome, os quais Deus profere como quem entoa uma canção.231

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

É por isto que Pedro nos escreve: Vocês, porém, são geração eleita, sacer

dócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (lPe 2.9). Já sabíamos disso, porque o poeta dos Salmos canta que Deus é o nosso 

 Deus, e nós somos o povo do seu pastoreio, o rebanho que ele conduz (SI 95.7a).Razâo pela qual nos convida: Reconheçam que o Senhor é o nosso Deus. Ele

nos fez e somos dele: somos o seu povo, e rebanho do seu pastoreio (SI 100.3).Paulo diz que, quando ouvimos e cremos na palavra da verdade, vale di

zer, o evangelho que nos salvou, nós fomos selados em Cristo com o Espírito 

Santo da promessa (Ef 1.13). Fomos selados para o dia da redenção (Ef 4.30). Entretanto — lembra o apósrolo em outro lugar —, o firme fundamento 

de Deus permanece inabalável e selado com esta inscrição-. “O Senhor conhece quem lhe pertence” e “afaste-se da iniqüidade todo aquele que confessa o nome do Senhor” (2Tm 2.19).

Há confiança nesse relacionamento, mas há responsabilidade também,responsabilidade decorrente da gratidão e do senso de dever. Somos seladospara a comunhão com Deus. Somos selados para viver de acordo com .i

confissão que fazemos de que Jesus é o nosso Senhor.Paulo usa essas imagens, algumas vindas do Antigo Testamento, pau

nos ajudar em nossa tarefa de saber quem somos. E por isso que ele di/que Jesusse entregou por nós a fim de nos remir de toda a maldade e purificai para si mesmo um povo particidarmente seu, dedicado à prática de boas obra\  (Tt 2.14).

Somos especiais?

Se você sabe que pertence ao Senhor e se afasta da iniqüidade, você <especial.

Somos especiais porque temos garantia quanto ao nosso futuro

pôs o seu Espírito em nossos corações como garantia do que está por vir,2 C o r í n t i o s I . ' I -

Não creio que tenhamos anjos da guarda, mas a Bíblia nos garante qiu* <>Espírito Santo habita em nós (2Tm 1.14). Presente em nós, ele nos gu.iitt \

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EM QUE SOMOS ESPECIAIS

o coração e a mente (Fp 4.7). Deus nos fortalece e nos guarda do Maligno

(2Ts 3.3).Na verdade, foi Deus que nos preparou para esse propósito,dando-nos o

 Espírito como garantia do que está por vir  (2 Co 5.5).Em que porvir (futuro) estamos garantidos?Recebemos a promessa de que, nada de ruim (assalto, desemprego, do

ença e morte) nos acontecerá? Não, porque não somos tirados da vida.

 Aqui é a nossa casa, casa sujeita a ataques.Recebemos a promessa de que na corrida da vida, correremos na frente

de ponta a ponta e chegaremos em primeiro? Não, mas que em nossa corrida cruzaremos a linha final, onde o pódio nos espera.

Recebemos a promessa de que, quando chegar a nossa vez, o sistema desaúde ou o sistema de justiça funcionarão, e seremos atendidos rapidamentec bem no hospital, e a nossa causa será julgada com justiça e celeridade? Não.listamos sujeitos às mesmas crueldades e injustiças, com uma diferença: nos

so futuro está garantido. Pode parecer que perdemos, mas somos mais que vitoriosos, não nas coisas humanas, mas em Cristo Jesus (Rm 8.37).

Quando olho para meus problemas, meus ouvidos se detêm no testemunho do apóstolo Paulo: eu sei em quem tenho crido e estou bem certo de que ele époderoso para guardar o que lhe confiei até aquele dia (2Tm 1.12).

Somos especiais?

Se você sabe em quem tem crido, você é especial, você está garantido.

Somos convidados a dizer “amém” a Cristo para a glória do Pai

 Pois quantas forem as promessas feitas por Deus, tantas têm em Cristo o “sim”. Por isso, por meio dele, o “Amém” é pronunciado por nós para a glória de Deus. Ora, é Deus que faz que nós e vocês permaneçamos firmes 

em Cristo.2 C o r í n t i o s 1 . 2 0 - 2 1 a

 Ao longo do Novo Testamento, 29 vezes os autores dizem “amém”, geral

mente para confirmar a verdade que acabou de ser dita. “Amém” quer dizei “assim seja”, “é isto mesmo”, “estou de acordo”.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. \

Na realidade, aqui demonstrada, Jesus diz “amém”, Deus diz “amém”, e

nós somos chamados a dizer “amém”. Jesus diz “amém” quando confirma as promessas de Deus, promessas de

salvação para nós, por meio de Jesus Cristo, e presença ao nosso lado, por

meio do Espírito Santo. Jesus é o “amém” de Deus.Nós dizemos “amém” quando aceitamos o oferecimento de Jesus Cristo

na cruz por nós. Ele disse que tudo estava consumado quando morreu. Noplano da proposta, estava. No entanto, nós dizemos que o plano de Jesusestá consumado quando dizemos “amém”, “é isto mesmo”, “sim, está claro

que sou amado pelo Pai, como Jesus o foi”.Deus diz “amém” quando faz com que permaneçamos firmes em Cristo,

num “amém” contínuo. Diante de tantas possibilidades, somos fortalecidos para continuar com Cristo, dizendo-lhe “amém”. Diante das tentações, somos animados para continuar com Cristo, dizendo-lhe “amém”.Diante dos escândalos, somos ensinados a continuar com Cristo, dizendolhe “amém”. Diante das decepções, somos entusiasmados a continuar comCristo, dizendo-lhe “amém”. Diante dos fracassos que experimentamos,

quando Deus mesmo parece perder, somos reanimados por ele para continuar com Cristo, dizendo-lhe “amém”. Diante das perdas, sobretudo di

 vidas humanas queridas, somos consolados por Deus para continuar comCristo, dizendo-lhe “amém”. Diante dos triunfos da vida, somos ensina

dos a continuar com Cristo, com quem vencemos, dizendo-lhe “amém”,Diante das bênçãos colhidas nos horizontes da vida, ouvimos Deus nos

sussurrando para continuar com Cristo, dizendo-lhe “amém”. Diante das

dádivas que vão se acumulando manhã após manhã, como se fossem manaque desce com o orvalho, somos lembrados por Deus para continuar comCristo, dizendo-lhe “amém”. Quando nossos corações saltam de amor coi

respondido e desenvolvido, Deus nos deixa o convite à gratidão e à permanência com Cristo, dizendo-lhe “amém”.

Somos especiais se dizemos “amém”.E posso dizer “amém”. Olho para o meu passado e tenho certeza de que

fui ungido, visto por Deus como especial, amado por Jesus Cristo como

especial ao me curar dos meus pecados. Posso olhar para mim mesmo <gritar “amém”: Jesus me salvou. E isso poderia ser tudo, mas tem mais.

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EM QUE SOMOS ESPECIAIS

Olho para o meu presente e tenho certeza de que estou selado como

pessoa especial que pertence a Deus. Ele me pastoreia. Tenho valor paraele. Sabe meu nome. Conhece o ritmo do meu coração. Tenho valor para

ele. Sabe como meu corpo é frágil e me sustenta. Tenho valor para ele. E

isso poderia ser tudo, mas tem mais.

Olho para o meu futuro e tenho certeza de que, quando romper a li

nha de chegada, Deus estará me esperando para me levar ao pódio. Sei

que preciso correr ou caminhar ou mesmo rastejar, mas, quando chegar,

não terei mais sede, nunca mais tropeçarei, nada mais me faltará. Pode ser

que eu precise tatear nos túneis e mesmo me afundar nos lodaçais, mas oEspírito Santo habitante de mim me fará encontrar a luz e me fará firmar

meus pés de novo. Eu tenho o Espírito Santo dentro de mim. Meu futuro

está garantido.

 Você tem dito “sim” ao “sim” de Deus na sua vida? Sua vida é “sim”, “sim”,

sim com os lábios, sim com a vida?

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31 2 C o r í n t i o s 2.14-17

Cheiros

Se a religião de uma pessoa não alcança cada detalhe de sua vida, 

ele pode dizer que é um santo, mas é uma fraude. A religião precisa 

permear a vida e torná-la bela, tão agradavelmente quanto o ar do 

perfume do jardim do Senhor .1

Segundo alguns estudiosos, só há um cheiro universal, agradável a todosos gostos ao redor do mundo: é a cola, o que talvez explique o sucesso da

Coca-Cola e da Pepsi-Cola...

 A DIFICULDADE

O apóstolo Paulo passava por uma situação difícil: Deus lhe abrira um.i

oportunidade para pregar o evangelho, mas ele esperava por um auxiliar,

Tito, com notícias sobre a causa (versículos 12-13).Quando cheguei a Trôadepara pregar o evangelho de Cristo e vi que o 

Senhor me havia aberto uma porta, ainda assim, não tive sossego em meu 

espírito, porque não encontrei ali meu irmão Tito. Por isso, despedi-tut 

deles e fui para a Macedônia.2 C o r í n t i o s 2 . 1 2 - 1

'SMÍTH, Gipsy. Disponível em http:/ / christian~quores.ochrisrian.com. Acessado cm 28/7/201 1.

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CHEIROS

 Acredite quem quiser: o grande missionário estava sendo questionadoem seus métodos e propósitos.

Enquanto esperava, experimentou o conforto de Cristo, sentindo-senão um derrotado, mas um vitorioso. Ele descreve essa vitória nos termosda procissão triunfal romana.

O general vencedor era levado em uma carruagem pelas ruas de Roma. À sua frente, iam vários sacerdotes que derramavam potes de perfume. Atrás dele vinham os cativos que tinha feito na batalha e que eram levadosalgemados para a execução. Pouco depois, seguiam os oficiais do seu exér

cito. As ruas ficavam cheias de gente aclamando o vencedor.Para os prisioneiros, esses cheiros eram cheiros de derrota e morte, porque prenunciavam o que lhes ia acontecer. Para as pessoas livres, esses cheiros eram cheiros de vitória e de vida.

Em homenagem às grandes vitórias, às vezes, eram edificados arcos,chamados de arcos do triunfo, especialmente quando o vencedor era também um imperador.

Paulo faz uma fusão entre a imagem romana e a imagem bíblica, uma

 vez que, no Antigo Testamento, o cheiro era parte integrante do sacrifícioprestado a Deus, que dele se agradava.Para Paulo, esse sacrifício é algo vivo: nossa vida é sacrifício agradável e

 vivo, especialmente porque exalamos náo um cheiro próprio, mas o cheirode Cristo, presente em nós.

 Viver desse modo, como perfume de Cristo, não é fácil. No entanto,deve ser natural em nós. Não precisamos parecer que somos de Cristo,porque o somos, com sinceridade.

P e r f u m a n d o  o  m u n d o

 Jesus está vivo e pode nos libertar das dificuldades e pressões pelas quaispassamos. Onde quer que estejamos, Deus sorve a doçura e a beleza de Jesus manifestas naquilo que fazemos para ele.

I. Nós, cristãos, somos levados em triunfo

 Mas grtiças d Deus, tpie sempre nos conduz vitoriosamente em (,'risto2( 'niín lio.s 2 1 l.i

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Somos levados de vitória em vitória, a despeito das dificuldades, como a

de Paulo, que enfrentou um conflito: servir a Deus de imediato ou esperarpor Tito (e servir a Deus depois). Diante daquela situação, o apóstolo seimaginou vitorioso e sentiu vitorioso,

E Deus quem nos faz triunfar. Ele jamais abandona seus ministros. Essadeve ser a certeza de todos quantos atuam no seu Reino. No exercício da fécristã, passamos por muitos problemas, mas Deus nos carrega em triunfo.

É do caráter de Deus cuidar daqueles que procuram viver em sua presença, não importam as circunstâncias. Humanamente, as circunstâncias

tendem a nos derrotar. Pela fé, nós já as derrotamos.Isso não nos deve levar ao triunfalismo ou ao ufanismo. Triunfalista éaquele que acha que vence por si mesmo. Ufanista é aquele que se recusa a

 ver os problemas e tem orgulho de suas vitórias, mesmo as menores, tornadas grandiosas. Antes, nossa vitória é a vitória de Cristo.

Quando passamos, nosso perfume exala. Que passemos, e o nosso perfume fique.

2. Nós, cristãos, somos os meios que Deus usa para perfumar  o mundo

epor nosso intermédio exala em todo lugar a fragrância do seu conhecimento.2Coríntios 2.14b

E do projeto de Deus usar o perfume que somos para perfumar o mundo.Na imagem da procissão do triunfo, enquanto ela durava, as pessoas viviam ,i

 vitória do seu general. Nossa vitória é a garantia da vitória de Deus no mundo.O conhecimento de Cristo é uma fragrância (um cheiro, um perfume)

E não há como tal fragrância ser conhecida senão por nosso intermédio.

3. Nós, cristãos, somos odores de vida e de morte para o mundo

porque para Deus somos o aroma de Cristo entre os que estão sendo sa/r<>. 

e os que estão perecendo. Vara estes somos cheiro de morte; para aqucL >

 fragrância de vida. Mas quem está capacitado para tanto?2Corímios 2.1‘i li-

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CHEIROS

Na procissão triunfal, havia dois grupos que desfilavam: os cativos e a

tropa. A tropa, ao final, recebia seu troféu, incluindo o general. Os cativosnão tinham qualquer esperança: esperava-os a morte.

Nós somos o exército de Cristo. Somos cheiros de vida. A vida do mun

do depende do nosso odor. Somos vida quando nosso perfume leva à sal vação.

No entanto, também somos morte, quando nosso odor leva à perdição.Diante do nosso testemunho de vida, muitos preferem ignorar a Deus e

escolhem a morte. É da natureza do perfume ser notado. Muitos, mesmo

notando o perfume, preferem recusá-lo. Recusar o perfume de Cristo quesomos nós é escolher a morte. Eis algo triste que precisa ser dito, e o apóstolo

Paulo o disse: nosso testemunho, que é para a vida, pode significar a morte...para os que recusam a Deus. Não há culpa em nós quando isso acontece.

Infelizmente, porém, podemos ser odor de morte num outro sentido:

quando permitimos que o perfume de Cristo evapore do nosso frasco eficamos vazios. Dizemo-nos perfumes de Cristo, mas nada mais temos de

( risto, senão o frasco. Se estamos assim, não somos vida, não comunica

mos vida, embora mantenhamos o discurso.Pode também ocorrer de sermos perfumes escondidos no frasco. Olhar

lim vidro de perfume não é se perfumar. Fechamos os frascos para que deles não saia qualquer cheiro. Perfumes assim não contribuem para espalhar

it Iragrância do conhecimento de Cristo.Quando isso acontece, somos perfumes para a morte. Não comunica

mos vida.

1, Nós, cristãos, não podemos mercadejar a Palavra de Deus

■\ocontrário de muitos, não negociamos a palavra de Deus visando lucro2Coríntios 2.17 a

N.i na do mercado, como a nossa, que problema há em mercadejar aI**»I.is I.I de I )eus?

I >vnbo, no texto bíblico, tinha um sentido diferente do de hoje. SigIllli<av.t lalsilitar, retalhar, adulterar um produto.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Falsificamos a Palavra de Deus quando dizemos uma coisa e vivemosoutra. Uma das maneiras de adulterar a Palavra de Deus é viver de mododuplo. Às vezes, na vida conhecemos pessoas antipáticas, sem educaçãomesmo, grosseiras até, e acabamos nos defrontando com elas na igreja, às

 vezes, simpáticas, educadas e atenciosas. Outras vezes, trocamos experiências moralmente terríveis com pessoas que, um dia, descobrimos na igreja.Essas pessoas falsificam o evangelho.

Falsificamos a Palavra de Deus quando não conseguimos viver segundoesta Palavra. Ela, por exemplo, diz que o verbo essencial da vida é amar; noentanto, muitos de nós só conseguimos amar a uma pessoa: nós mesmos. Falsificamos a Palavra de Deus quando a misturamos com nossas próprias ideias.Nossas ideias só têm sentido quando podem ser conferidas com o evangelho.O nosso evangelho próprio não interessa; só o de Jesus, que é o que salva.

Em outras palavras, podemos ser perfumes falsificados. A etiqueta cde um grande perfume, mas o produto foi fabricado em algum fundo dequintal. Nossos frascos podem conter a etiqueta: cristão, nome daqueleque segue a Cristo. No entanto, muitos somos cristãos apenas no rótulo.

 Jamais podemos nos esquecer de que “A fragrância mais doce, o aromamais belo que Deus fez emanar deste planeta foi o aroma do perfeito sacrifício de Jesus que foi oferecido uma vez por todas sobre a cruz”, comoanotou Sproul.2

5. Nós, cristãos, elevemos falar o que vem de Deus

 Mas quem está capacitado para tanto?

(...) antes, em Cristo falamos diante de Deus com sinceridade, como homens enviados por Deus.2Coríntios 2.16b, 171>

 Ao descrever uma vida perfumada, Paulo pergunta: quem é idôneo(digno) de viver desse modo (versículo 16b)? Só um super-homem, diriamalguns.

2SPROUL, R.C. The Purpose of God. Disponível em <http:/ / christian-qiKHcs.oLluls rian.com>. Accssado cm 28/7/201 1.

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CHII I ROÍ

 A resposta, no entanto, é outra e está na última parte do versículo 17.

Nosso ministério é viver na presença de Deus, o que só é possível porCristo.

Este é o grande método de evangelização: ser aquilo que nós somos e

falar o que provém de Deus.E isto que é sinceridade: viver sob os raios do sol e ainda assim evi

denciar sua pureza. (Aliás, a palavra deriva de sol e juízo.) Trata-se de uma

meta a ser perseguida. Quanto mais nós somos aquilo que falamos que

somos, mais nossa vida vai testemunhar de Deus.

Como falar o que provém de Deus? É viver na certeza de que o triunfo vem dele. É colocar nossa vida ao seu dispor, para ele dispor dela como

quiser. E colocar nossa sabedoria (inteligência e conhecimento) para per

fumar o mundo.

• • •

 Aquilo que eu sou exala o perfume de Cristo?Não há suficiência em nós. Só Deus é suficiente. Aquele que anda com

Deus e para Deus é suficiente, mas pela suficiência de Deus.

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32 2 C o r í n t i o s 4.6-7

Tesouros em vasos de barro

 É aos pés do Senhor que aprendemos a parar (...). E tudo começa 

quando o amamos e ansiamos por sua voz. Qiiando trabalhamos 

 feito escravos em alguma cozinha, onde as panelas e os caldeirões estão 

tilintando, é difícil ouvir essa i>oz. Mas, quando estamos aos pés do 

Senhor e nosso coração parou, sem se mexer e em sossego, podemos ouvir  

até mesmo que ele sussurra.1

Indiretamente o apóstolo Pauio nos diz em 2Coríntíos 4.6-7 que con

 vivemos com pessoas, fora e dentro dos círculos cristãos, que adotam pro

cedimentos secretos e vergonhosos, visando sempre enganar para obtei

algum tipo de vantagem.

 Pois Deus, que disse: “Das trevas resplandeça a luz” (cfi Gn 1.3). r/c

mesmo brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento rLi 

glória de Deus na face de Cristo. Mas temos esse tesouro em vasos de bai 

ro, para mostrar que este poder que a tudo excede provém de Deus, c na o 

de nós.

2Coríntios 4.(>

'GIRE, Ken. Janelas da alma. São Paulo: Vida, 2003, p. 42.

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TESOUROS EM VASOS Dl- ISAKUO

Convivemos com pessoas, dentro e fora dos círculos cristãos, que torcem a Palavra de Deus (versículo 2) e acabam pregando a si mesmas, nãoa Cristo (versículo 5).

Convivemos com pessoas, fora dos círculos cristãos, que ignoram a luzde Cristo (versículo 4), vivendo em trevas muito profundas que nos alcançam em suas conseqüências.

Convivemos com pessoas, dentro dos círculos cristãos, que vivem comose a luz de Cristo não tivesse jorrado brilhante sobre sua vida.

O resultado, entre outros, é uma grande confusão, que nos deixa, se

gundo o apóstolo Paulo, pressionados, perplexos, perseguidos e abatidos(versículo 8). O sofrimento, por experiência própria o sabemos, é algo reale plural (versículo 17) em nossa vida.

O mundo do apóstolo Paulo é o mesmo nosso. Ele diz que não devemos nos desanimar, mesmo que exteriormente estejamos a desgastar-nos. Aocontrário, em meio a tudo isso estamos sendo renovados interiormente dia após dia (versículo 16).

Por quê? Paulo responde: temos [um] tesouro em vasos de barro (versículo

7).Esse tesouro é uma providência de Deus para nós. Ele provém mesmo

de Deus (versículo 7). O apóstolo usa três expressões para conceituar essetesouro:

• a luz do evangelho da glória de Cristo (versículo 4)• a imagem de Deus em nós (versículo 4)• o conhecimento da glória de Deus na face de Cristo (versículo 6)

Fica claro que o nosso tesouro é Jesus Cristo, morto na cruz e vivo nosnossos corações.

É por isto que esse tesouro é umpoder que a tudo excede (versículo 7),que é o mesmo que dizer, na prática: Tudo posso naquele que me fortalece 

(l;p 4.13).C) problema é que somos vasos de barro, e disso não temos dúvida.

Nossa condição nos acompanha. A contiguidade com o ser humano, coms u a m a l d a d e , nos alcança. (Convivemos com pessoas que são vasos de barro,r.ni.io, qu.tudo somos alcançados pelas dificuldades, cm casa, no trabalho.

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TESOUROS EM VASOS DE BARRO

com a diferença de que não o compramos, porque o recebemos pela graça.

E pela graça devemos distribuí-lo.Não podemos viver vergonhosamente. Antes, seguindo Paulo, devemos

renunciar aos procedimentos secretos e vergonhosos  (versículo 2). O maior

escândalo do evangelho é o comportamento de alguns evangélicos.

3. Precisamos fixar os olhos no tesouro (versículo 18)Somos jarros de barro com os olhos fixos no tesouro, que é Cristo em nós.

Somos barro, mas não somos barro apenas, porque temos um tesouro

em nós.Fixar os olhos no tesouro, que é Cristo, implica não os manter agarra

dos ao barro, mas no tesouro.Fixar os olhos no tesouro, que é Cristo, significa aceitar que a glória está

presente, embora ainda invisível. Devemos contemplar não aquilo que se

 vê (vaso de barro), mas o que não se vê, o tesouro que é Cristo (versículo

18).Fixar os olhos no tesouro, que é Cristo, se verifica na prática da con

fiança em que o poder de Deus não permitirá que sejamos dominadospelo desânimo, tomados pelo desespero, já que ele jamais nos abandona e

nunca permite que sejamos destruídos.

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33 2 C o r í n t i o s   4.6-11

Mas...

No corpo do jogador de futebol Pedrinho (Vasco da Gama, Palmeiras,entre outros clubes) foi flagrada uma substância considerada dopante.Tratava-se, na verdade, de uma substância encontrada num remédio quetomara para a depressão. Sua narrativa era triste. Tendo se submetido .1

 várias cirurgias no joelho, tivera problemas familiares e passara a usar o remédio, que não sabia (nem ele, nem seus médicos) conter uma substânci.iproibida.

 Vi uma de suas entrevistas, impressionante pelo seu desalento, sua fali.ide esperança. Não sei se Pedrinho é cristão, mas sei que os cristãos tambémficam deprimidos. A diferença deve ser que o desespero não pode ser .1

 visão definitiva do cristão, porque esta é a visão dos que seguem os deusesdeste século. Pedrinho parecia contemplar o vaso de barro, esperando nrar deíe força e resistência. Parecia ainda preso à iiusão da independência,faltando-lhe a visão do tesouro, que nos mostra que o poder para viver uai >

 vem de nós, mas procede de Deus, cuja transcendência contrasta com .1

humanidade do barro que somos.

246

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MA S

V a s o s   d e b a r ro

O cristão é aquele em quem a luz de Deus ainda brilha, embora seja um vaso de barro (versículos 6-7).

Somos vasos de barro que guardam porções

da esplêndida luz do rosto de Jesus

Que jorrou naquele dia da cruz

Para aquecer agora os nossos corações.

 Alvos do amor excelente de Deus,em tudo vivemos para que a glória seja

Daquele que todo o peso sobre si deseja

Para que não derrube nenhum dos filhos seus.

Mesmo que venha pesada a tribulação,

nos deixe angustiados a pressão

e perplexos diante de tanta interrogação,que chegue forte a injusta perseguição

e do mal com força nos bata a mão.

Sabemos que em nós vive o Criador

Para não nos deixar no vale do desânimo

Para não nos deixar no túnel do desespero.

Sempre saberemos que em nós vive o RedentorPara não nos deixar na curva do desamparo

Para não nos deixar no duro chão da derrota

Sempre temos conosco o nosso Consolador.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO

Precisamos aprender a conviver com o paradoxo essencial da fé cristã:

nossa vida, em que se deve manifestar a glória de Deus, desenvolve-se num

 vaso de barro. Devemos nos lembrar que é plano de Deus que seu poder

seja mostrado por meio de vasos de barros.247

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Quando menciona o vaso, Paulo pode estar se referindo àqueles utilizados para guardar um documento de valor, como no caso de Jeremias(Jr 32.14), ou mesmo àqueles utilizados como suporte para escrita (commensagens), Esses vasos são de terra batida e cozida, não de ferro e não deouro, para nos lembrar a nossa fragilidade humana e a grandeza da forçadivina. O vaso é uma coisa, e o tesouro é outra (John Fairley, 1729-1806).'

Eis o que somos: vidas que portam a luz de Deus, vidas nas quais Deusinscreve a sua vontade, para nós e para os outros. Apenas portamos a luz,porque não temos luz própria, mas isso já é muito. Nossa vida seria melhor

se nos lembrássemos disto: Deus mesmo brilhou em nosso coração, parailuminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo. Se elebrilhou, ainda brilha, porque sua luz não se apaga.

Por isso, devemos olhar para o barro que constitui os nossos vasos, masnão podemos ficar presos a essa perspectiva. Precisamos olhar para o tesouro contido neste vaso: o poder de Deus em atuação. A visão do tesouroacontece quando o cristão olha para a face de Jesus, como Moisés contemplou Yahweh no monte do encontro.

O cristão é uma pessoa que tem o coração iluminado, graças tão somente à luz do conhecimento de Deus. Quem não tem esse conhecimento sedesespera.

D e u s   e m   a ç ã o

O cristão é aquele que tem o poder de Deus operando nele (versículos 8-9).Mesmo aqueles que portamos a luz do poder de Deus experimentamos

situações que nos colocam no limite. O apóstolo Paulo descreve esses dramas cristãos com quatro contrastes, salientados por uma sonora expressão:mas não.  Assim, podemos ser pressionados (ou atribulados), perplexos,perseguidos ou prostrados.

Os cristãos são pressionados. Os cristãos ficam perplexos. Os cristãosenfrentam perseguições. Os cristãos se prostram, caídos. Essas são verdadesóbvias que alguns tendemos a encobrir diante dos ensinos que cativam

'FAIRLEY, John. The Treasure in earrhen vessels. Disponível em <http.7/ www.tovcn;in ter.org/ JFairley/ earthenvessels.htm>. Acessado em 28/ 7/ 201 1.

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MAS.

nossa mente. Há um certo cristianismo, bastante popular, a nos dizer que“se somos cristãos, Deus nos guardará de todos os perigos e problemas.

Por isso, não podemos adoecer. Se somos realmente cristãos, os problemassimplesmente vão se evaporar, sem jamais nos alcançar”.

Essa visão está completamente errada. Não é isso que o apóstolo Paulodiz. Todos sabemos que os cristãos, não importa o quanto estejam ínti

mos de Deus, contraem câncer, têm problemas financeiros, passam pordificuldades diversas e até se divorciam. Daqueles que lhe são íntimos, no

entanto, Deus espera que demonstrem uma atitude diferente, uma reação

diferente das outras pessoas. Por intermédio desses vasos de barro, “elequer demonstrar que há alegria e paz em nossa vida e estas não podem ser

explicadas por nós, mas apenas por Deus que age em nós”.2O problema surge quando almejamos o que Deus não promete. Nós

queremos ver o poder de Deus em nossa vida, mas queremos que esse po

der nos construa uma caminhada sem problemas. Afinal, Deus já nos tiroudas trevas, onde tais realidades predominam, para iluminar a nossa vida

com a sua glória manifesta no rosto de Cristo.

Então, nós esperamos e oramos para que o poder de Deus opereentre nós; todos queremos ver esse poder em ação. Quando nossa vidaestá com o vento a favor, achamos que estamos sendo abençoados.Quando nossa vida parece um barco num mar descontrolado, passamos

a achar que há algo errado com a nossa fé, porque Deus não nos estáabençoando.

 Aprendemos com o apóstolo Paulo que a distinção entre um cristão e

um não-cristão é a atitude do cristão diante dos problemas, não diante da

ausência deles. Essa é a vitória dos cristãos.

Ser abençoado não consiste em não ser pressionado, mas em nãoficar desanimado.

Ser abençoado não consiste em não ficar perplexo, mas em não se

tornar desesperado.

'( !l. STKDMAN, Ray. Your Pot — His Power. Disponível em <http:/ / www.raystedman. 

ot|-/nc w u,.st;wm,nt/2-t;orinthian.s/ your-pot'his-power>. Acessado em 5/ 3/ 201 1.

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MAS.

mundo para missões. O poder de Deus continua operando mesmo depois

de sua morte. Seu livro se tornou um dos mais importantes documentos a

impulsionar a obra missionária, ao ponto de Willíam Carey o considerar

como um autêntico texto sagrado.

Sua vida é “um testemunho vivido e poderoso da verdade de que Deus

pode usar e usa santos fracos, doentes, desencorajados, desolados, solitáriose em crise constante para realizar coisas maravilhosas para a sua glória”.

Brainerd era alguém que trazia no corpo o morrer de Jesus, mostrando

que “o poder de Deus é o milagre de as outras pessoas verem em nós, em

meio às pressões e provas, o caráter e a vida de Jesus em operação”. Brainerd entendeu que há circunstâncias em que Deus nos coloca para morrer,

queiramos ou não (versículo ll) .4

Quando pressionados, quando perplexos, quando perseguidos, quan

do abatidos, venceremos quando nos lembrarmos de que há um poder

pessoal, amoroso, transcendente, isto é, superior. É este poder que não

permitirá que a pressão nos cerque, que a perplexidade nos confunda, que

a perseguição nos atinja, que o medo nos paralise.

Sofremos pressão de todos os lados, mas jamais seremos cercados.Chegamos perto do nosso limite, mas não perderemos a esperança.

Somos perseguidos pelos homens, mas Deus nos retém sua aliança.Na luta somos derrubados, mas não ficaremos no chão derrotados.

Po s t o s   p a r a  m o r r e r  

O cristão é aquele que carrega no seu corpo o morrer de Cristo.

 A vitória cristã acontece porque:

Trazemos sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus 

também seja revelada em nosso corpo. Pois nós, que estamos vivos, somos 

sempre entregues à morte por amor a Jesus, para que a sua vida também se 

manifeste em nosso corpo mortal.

2Coríntios 4.10-1 1

' S T K D M A N , R a y . L i fe w i thou t mar r iage.   D is p o n í v e l e m h t t p :/ /w w w . ra y s t e d m a n . o r g / 

i l « ,m ; m t > s t m l ii \ s /c h r i s r ia n - l iv i n g / l i f e - w it h o u t - m a r r ia g e .

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Precisamos aprender a querer o Reino de Deus em primeiro lugar. Pre

cisamos aprender a abrir mão de nossos interesses. Queremos o Reino, masqueremos também os nossos  direitos. Onde nossos interesses prevalece

rem, o Reino não estará em primeiro lugar, Deus não será Senhor.

Sem isso, que é o morrer de Cristo, o poder de Deus não será sentido,

e a sua glória não será vista.

Morrer em Cristo é aceitar o que Cristo fez na cruz, tomando-a como o

fim de nossa dependência de nós mesmos (que é outra forma de preconizar

a ilusão da independência). Quando o fazemos, descansamos, na certeza de

que Deus está operando em nós, sem nenhuma espetacularidade, mas deforma amorosa e calma, para mudar nosso caráter até que ele fique como

o de Jesus.

• • •

Nós estamos sendo levados em triunfo, não importa como estejamos nos

sentindo no momento. E Deus que faz isso, não nós.

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34 2C o r ínt io s 5.1- 10

1 C o r í n t i o s   4

Diante do tribunal de Cristo

Caráter é o que você faz no escuro.1

Não temos dificuldade em aceitar que Deus é um Pai que nos redime. Porisso, não temos dificuldade em chamá-lo de bondoso.No entanto, temos dificuldade em aceitá-lo como Pai que nos cobra

(lPel.17). Porém, esse atributo de Deus está claro na Bíblia, na primeira carta de Pedro e em outros textos sagrados. Pedro é explícito: Uma vez que vocês chamam Pai aquele que julga imparcialmente as obras de cada um, portem-se com temor durante a jornada terrena de vocês  (lPe 1.17). O apóstolo sabe que nada, em toda a criação, está oculto aos olhos de Deus. Tudo está 

descoberto e exposto diante dos olhos daquele a quem havemos de prestar contas Hb 4.13). Afinal, a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer  espada de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração (Hb 4.12).

 A pergunta é se os redimidos terão que passar pela mesma experiência.Quanto aos que se recusarem a aceitar o senhorio de Jesus sobre sua vida, o

'MOODY, D.L. Atribuído a Moody ou seu filho em MOODY, W.R. D.L. MOOPY. I)isponível cm http:/ / quotationsbook.com/ quote/ 602l/ . Acessado em 27/ 7/ 201 I.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

 julgamento será certo. Muitos autores bíblicos fazem as mesmas advertem 

cias, entre os quais o apóstolo Pedro (lPe 4.1-5).Em Apocalipse, somos apoteoticamente apresentados ao julgamento

final, quando todos os mortos, grandes e pequenos, comparecerão diante

do grande trono branco de Deus. Os livros serão abertos, as vidas serão re

 visadas, e os destinos eternos serão fixados.

O anúncio do evangelho não pode se contentar com essa aterrori-

zante informação, mas não pode deixar de apresentá-la, para convidar

a todos a confessarem com seus lábios que Jesus Cristo é o Senhor. Não

há prazer no cristianismo em recordar tal julgamento, mas lhe cabe taltarefa para o bem daqueles que ouvirem as boas notícias acerca de Jesusque livra desse juízo aqueles que quiserem. Todos os que lavarem suas

 vestes no sangue do Cordeiro não sofrerão as dores desse julgamento;quando chegar aquela hora, já terão passado da morte para a vida, e

nenhuma condenação haverá para eles. Na grande apoteose, Jesus mesmo dirá aos que aceitaram seu convite; V enham, benditos de meu Pai! 

 Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo (Mt 25.34).

No entanto, os redimidos pelo sangue de Jesus também comparecerão

a um tribunal. Eis o que nos diz o apóstolo Paulo:

Todos compareceremos diante do tribunal de Deus. (...) A ssim, cada um de 

nós prestará contas de si mesmo a Deus (Rm 14.10b, 12). Todos nós devemos 

comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba de acorde 

com as obras praticadas por meio do corpo, quer sejam boas quer sejam tmis 

(2Co 5.10). Nesse tempo, Jesus trará à luz o que está oculto nas trevas e m,t nifestará as intenções dos corações e, cada um receberá de Deus a sua aprovaçao 

(lCo 4.5). Será um tempo em que tudo o que há escondido em nós sei.i

revelado aos olhos de todos. Jesus fará uma avaliação pessoal de cada umdos seus discípulos. 2

As idéias deste capítulo devem muito à percepção de STEDMAN, Ray C. Whats tln to live for? Disponível em <http:/ / www.pbc.org/ dp/ stedman/ 2corinthians/ 36HS.lKnil 

 Acessí ido em 26/ 6/ 2004.

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DIANTE DO TRIBUNAL DE CRISTO

Que tribunal é esse? Não é o tribunal do julgamento final, mas o tribu

nal específico para julgar os nascidos de novo. Os pecados dos crentes em

Cristo foram julgados na cruz de Cristo, que nos perdoou integralmente.O que os autores bíblicos estão dizendo é que nós temos que prestar

contas a Deus, agora e no futuro. Assim como Deus é o Pai de Jesus, ele é

também o Pai de todos aqueles que o aceitam como Pai.

De que temos que prestar contas hoje, para que sejamos aprovados no

tribunal de Cristo? Paulo esmurrava o seu corpo para, tendo pregado aos

outros como ser cristão, não ser ele mesmo reprovado (lCo 9.27).

1. No tribunal de Cristo, somos levados a perceber as motivações

para as nossas atitudes

Há áreas de pecados em nossa vida que são bem evidentes para nós, como

o homicídio, o roubo, a corrupção, o adultério, a mentira, mas há áreas

em que nossas atitudes parecem corretas, até que nossas motivações sejam

escrutinadas.

Eu peco quando faço algo para obter glória para mim. Eu peco quando

me envolvo num relacionamento profissional, fraternal ou conjugal queDeus não aprova. Eu peco quando acho que meu sucesso advém de minha

competência, do meu estudo, da minha história, achando que devo o que

sou e o que tenho a mim mesmo, não a Deus.

2. No tribunal de Cristo, vemos a verdade acerca de nós mesmos

C) tribunal de Cristo já começou. Por meio da sua Palavra, ele está nos

mostrando nossas atitudes ou nossas motivações erradas. Ele nos corrige enos aponta a motivação correta e a atitude certa.

Se eu me permito enfrentar a verdade do tribunal de Cristo a meu

próprio respeito agora, não precisarei enfrentar o julgamento de Cristo no

final dos tempos.

Para que eu cresça como cristão, preciso permitir que Deus me leve a

 ver a mim mesmo como eu realmente sou. Não posso voltar atrás e parar

de reconhecer que ele está sempre certo acerca das coisas. Cresço espiritu

almente quando tenho a consciência de que tenho todas as possibilidades etoda a potencialidade para permitir que o mal resida no meu coração. Essa

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

percepção deveria me deixar desesperado, mas não deixa, porque sei que

Deus me conhece. Ele me tem dado o dom da justificação. Ele me ama.Ele gosta de mim.

3. No tribunal de Cristo, somos cobrados pelos dons que ele nos deuDevemos ser responsáveis diante de Deus pelo uso de nossos dons espirituais. Ele é a autoridade máxima sobre nossa vida. Só há um Senhor. Comonos recomenda o apóstolo Paulo, confiemos que aquele que começou aboa obra em nós vai continuar até o dia de Cristo (Fp 1.6). Deus começou

uma obra em nós quando nos salvou por meio do seu Filho. Seu contínuodesejo é terminar a obra que começou. Nós estamos em construção. Deustem um propósito que deseja realizar por meio de nós. Nossa responsa-bilidade é cooperar plenamente e permitir que o processo continue. Porisso, somos chamados a operar (pôr em ação, levar a cabo, tornar efetiva)a nossa salvação com  temor e tremor, pois é Deus mesmo que efetua emnós o seu querer e o seu realizar de acordo com o propósito dele (Fp 2.1 213). “Quando falhamos em exercitar os nossos dons nós nos colocamos na

precária posição de obstruir o propósito para o qual Deus nos chamou: serministros cristãos.”’

 Ao lado de nossa responsabilidade diante de Deus, somos também responsáveis pelos nossos irmãos. Sem tentar dominá-los, devemos encorajalos, exortá-los e mesmo repreendê-los quando seus dons são negligenciadosou mal utilizados. Nós nos pertencemos espiritualmente um ao outro (Rm12.5). Essa responsabilidade não visa criar um ambiente policialesco, masuma família em que os membros sentem uma genuína preocupação com

o outro.Nessa trajetória, preciso me lembrar de que não faço parte do júri dn

tribunal de Cristo. Eu não posso conhecer o coração do outro, apenas sei r.gestos. Cristo conhece e pode julgar corretamente. A propósito, quanta*-

 vezes julgamos uma pessoa e, depois que a conhecemos, reavaliamos nos\ i >

 julgamento?

'GARMON, Lindsey. Identifying and deploying your spi ritual gilts. I disponível <tu <http:/ / www.thesecker.org/ gifts/ chapl 1.htm>. Acessado em 23/ 4/ 2004.

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DIANTE DO TRIBUNAL DE CRISTO

Podemos ir além e acrescentar: precisamos de alguém a quem prestemoscontas. Tiago espera que prestemos contas de nossa vida uns aos outros:

confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados (Tg 5.16a).

4. No tribunal de Cristo, somos encorajados para receber a recompensa divina

O tribunal de Cristo será também um tempo de encorajamento, quando

 veremos e aprenderemos o real valor de muitas coisas que pensamos e fizemos e que ninguém, nem nós mesmos, compreendíamos bem.

Será um tempo em que receberemos uma recompensa por parte deDeus. Jesus nos diz: A legrem-se e regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes 

de vocês (Mt 5-12; cf. Lc 6.13). Cristo nos garante: Eis que venho em breve! A minha recompensa está comigo, e eu retribuirei a cada um de acordo com o que fez (Ap 22.12).

Essa recompensa não tem nada a ver com a coroa da vida (ou coroa de

glória, ou coroa de justiça) que menciona a Bíblia, porque a coroa da vidaé a vida eterna, que não podemos conquistar, nos foi dada gratuitamenteem Jesus Cristo.

O que, então, se ganha ou se perde no tribunal de Cristo? E a oportunidade de descobrir a natureza da vida que nos foi dada. O grau dessa

descoberta depende de nossa fidelidade aqui na terra e da intensidade comque vislumbramos hoje a glória de Deus. Na parábola dos talentos, Jesus

ensinou a respeito do exercício dos dons: os que usaram seus talentos, agar

rando suas oportunidades, dependendo de Deus e se mantendo motivadosno caminho certo, esses receberão oportunidades ainda maiores, que podemos tomar como uma área maior de descoberta da natureza da vida e daglória de Deus, recebidas como um dom dele para os seus filhos.

• • •

Ienhamos a coragem de nos examinar a nós mesmos (ICo 11.31).Lembremos que se estamos em Cristo, somos novas criações. Ele, que

começou uma boa obra em nós, não falhará em completá-la até o dia de( iristo. Não há esperança para nós?

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35 2Coríntios 9.6-15

Diminuir para multiplicar 

 Existem 2350passagens bíblicas sobre dinheiro e bens materiais — mais do que qualquer outro assunto. Entretanto, esse é o assunto menos comentado na igreja. Estamos silentes hd tanto tempo que as pessoas não mais compreendem as responsabilidades que formam uma vida generosa.1

É difícil falar-se em contribuição financeira num tempo de dinheiro c.scasso e de práticas pouco recomendáveis em outras igrejas.

O apóstolo Paulo fala do assunto sempre com referência ao fato de quenão era “pesado” às igrejas. Nesse caso, ele pede aos coríntos que com tibuam não para seu ministério, mas para suprir as necessidades dos cristãos

de Jerusalém.

 Lembrem-se: aquele que semeia pouco, também colherá pouco, e aqiuh que semeia com fartura, também colherá fartamente. Cada um de con 

 forme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, />mi Deus ama quem dá com alegria. E Deus é poderoso para fazer que lhes w/,/

'SLUTH, Brian. Citado por RUSSELL, Bob. Why You Should Prcach About bin.nm ■■

Disponível em <http:/ / www.ministriestoday.com/ display.php?id= 1077> Acessado <m29/ 7/ 201 1.

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D IMINUIR PARA MULTIPLICAR 

acrescentada toda a graça, para que em todas as coisas, em todo o tempo, 

tendo tudo o que é necessário, vocês transbordem em toda boa obra. Como 

está escrito:  “ D istribuiu, deu os seus bens aos necessitados; a sua justiça dura 

para sempre”. A quele que supre a semente ao que semeia e o pão ao que 

come, também lhes suprirá e multiplicará a semente e fará crescer os frutos 

da sua justiça. Vocês serão enriquecidos de todas as formas, para que possam 

ser generosos em qualquer ocasião e, por nosso intermédio, a sua generosida

de residte em ação de graças a Deus.

O serviço ministerial que vocês estão realizando não está apenas suprin

do as necessidades do povo de Deus, mas também transbordando em muitas expressões de gratidão a Deus. Por meio dessa prova de serviço ministerial, 

outros louvarão a Deus pela obediência que acompanha a confissão que vocês fazem do evangelho de Cristo e pela generosidade de vocês em com

partilhar seus bens com eles e com todos os outros. E nas orações que fazem 

por vocês, eles estarão cheios de amor por vocês, por causa da insuperável 

graça que Deus tem dado a vocês. Graças a Deus por seu dom indescritível!

2Coríntios 9.6-15

Desse episódio podemos depreender valiosíssimas lições sobre a nossa

relação com o dinheiro. Afinal, nossa espiritualidade tem a ver com o lugarque o dinheiro ocupa em nossa vida.

CCo n t r i b u i r    é   u m a   q u e s t ã o   d e   j u s t i ç a

 A contribuição dos coríntios para Jerusalém era uma questão de justiça. A

comunidade de Jerusalém estava necessitada, ela que um dia suprira espiritualmente as igrejas da Ásia.

 A igreja é a organização planejada por Deus para o anúncio do seu Rei

no ao mundo. A contribuição de hoje é o método de Deus para a obra da proclamação

do seu amor ao mundo, expressa por meio da pregação, da adoração e da

,ição social.

Sem as contribuições fiéis dos seus membros, a igreja não pode fazer

nada. Infelizmente, mesmo nas igrejas com bom índice de contribuintes,rsirs dificilmente passam de 40%.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Fala-se muito em solidariedade, palavra que os cristãos têm colocado

em prática há muito tempo. No caso específico dos batistas, o dinheiroarrecadado nas igrejas é destinado a sustentar seu ministério, ministérioeste desenvolvido por meio da pregação, da denúncia pública de desvios

dos Estados e das sociedades e da produção de ações concretas visando asuperação dos problemas sociais. Assim, o dinheiro depositado transfor

ma-se, por exemplo, em remuneração para os ministros e missionários, em

cestas básicas, em Bíblias e em tendas de esperança. O dinheiro entregue

transforma-se em gestos de concreta solidariedade.

 A transparência deve ser total. O destino dos recursos é discutido publicamente e aprovado por maioria.

Numa outra dimensão dessa justiça, a contribuição é uma espécie de

expressão de gratidão pelo que Deus faz por nós.

 Jesus se fez pobre para que nós fôssemos espiritualmente ricos (2Co 8.9).

O apóstolo díz que não contribuímos apenas para suprir necessidades,mas também como forma de ação de graças pelo que Deus nos fez e faz

(2Co 9-12). Contribuir é adorar.

Não se trata de um pagamento em troca. O salmista (SI 116.12) diz quenão temos como retribuir ao Senhor pelos benefícios que nos tem trazido.

Trata-se então e tão somente de um gesto de ação de graças pelo que nos

tem feito. Certamente, quem não oferece nada é porque não recebeu nada.Não se trata de uma obrigação que se cumpre como um fardo, mas

como um privilégio (2Co 8.4).Como vai a sua fidelidade, em termos de regularidade e de percentual

da sua remuneração? E algo expressivo ou apenas sobra? Expressa sua gratidão para com Deus? É o bastante para permitir que a igreja faça a obni

de Deus no mundo?

C o n t r i b u i r    é   u m a   q u e s t ã o   d e   s a b e d o r i a

 A contribuição dos coríntos para Jerusalém demonstraria a aprendizagem

de uma lição.Para o homem secular, a contribuição regular e sistemática, que cha

mamos de dízimo, é um escândalo. O homem secular acha que todos <>•>

dizimistas são uns pobres coitados explorados pelos pastores das igrejas260

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DIMINUIR PARA MULTIPLICAR 

 A matemática deles é simples: como pode um assalariado tirar 10% de seus

rendimentos mensais para entregar à igreja?E possível que alguns façam coro com esses críticos que náo entendemque é sábio ser dizimista. Por isso, afora os aspectos doutrinários em relação

ao dízimo, quero falar de outra faceta.Quem contribui regularmente está mostrando que põe no lugar aquele

que realmente deve ser prioridade em sua vida. Efetivamente, ele busca emprimeiro lugar o Reino de Deus. Mais ainda: essa pessoa sabe organizar sua

 vida. Ela sabe que o dinheiro não pode ser o primaz da vida de ninguém.

Quem age dessa forma é capaz de ser solidário e de viver plenamente.Contribuir é compartilhar.

Não somos abençoados porque fizemos um contrato com Deus, masporque: aprendemos a viver, aprendemos a gastar nosso dinheiro no es

sencial, aprendemos a depositar nossa confiança em Deus. E por isto que

o salmista diz que quem contribui liberalmente se torna mais rico (Pv11.24). Dar é como semear (2Co 9.10).

 A avareza não é inteligência. Antes, é idolatria. Ela pode nos levar ao

erro sobre o erro. Por isso, o apóstolo Paulo nos adverte quanto às armadilhas que o amor ao dinheiro pode nos preparar (lTm 6.9-10). Pode parecerabsurda a ilustração que aparece no livro-filme O A dvogado do D iabo, de

 Andrew Neiderman. O jovem advogado se dispôs a negar todos os valores

para enriquecer.

C o n t r i b u i r    é   u m a   q u e s t ã o   d e   o b e d i ê n c i a

 A contribuição dos coríntos para Jerusalém era o resultado de uma vida deobediência. Ao contribuir, seguimos o exemplo de Jesus. Ele, sendo rico, se fez po

bre ao doar sua própria vida (2Co 8.9). Nossa generosidade decorre dagenerosidade excelente de Jesus.

 A riqueza prometida por Deus não é de dinheiro, mas riqueza de amor,

de amizades, de intimidade com Deus.Por isso, contribui aquele que primeiramente se dá ao Senhor (2Co

8.5). E parte de um processo de santificação. Deus quer a nós, não o nossodinheiro.

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 A contribuição não deve ser motivada pela desejo da multiplicaçãoprópria. Certamente, Deus multiplicará a contribuição, ao fazê-la circularpelo mundo. Pode ser até que Deus devolva multiplicadamente aquilo quelhe foi doado. No entanto, pode ser que Deus não multiplique os bensdaqueles que lhe retribuíram com algo. Como essa não é a motivação, afidelidade continuará.

 A multiplicação não é de bens, mas de boa obra, de frutos espirituais. A riqueza prometida por Deus não é de dinheiro, mas de amor, amizade eintimidade com Deus (2Co 9.8).

• • •

 A contribuição deve ser conforme uma proposta própria, que implica disciplina e mesmo planejamento, e principalmente implica que seja feitacom alegria. É algo pessoal: entre Deus e nós.

Precisamos transformar nosso desejo de contribuir em contribuição efetiva (2Co 8.11).

 A maioria dos membros das igrejas batistas é dizimista no desejo, con

quanto não o seja no plano da prática. A contribuição é uma prova de nossa confiança em Deus. Como ele é

capaz de atender nossas necessidades, não precisamos ter medo de contribuir, segundo o que temos, não segundo o que não temos (2Co 9.8-11).

PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

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36 2C o rín t io s 12. 1- 10

Baste-nos a graça A queles que têm a visão do céu são os que triunfam diante do sofrimento. A queles que ouvem as palavras inefáveis do paraíso são 

aqueles que não se intimidam com o rugido do leão.'

Há três áreas na vida com enorme potencial para nos destruir. Muitosautores já escreveram sobre elas. Rickard Foster é um deles, colocando estasáreas no próprio título de um dos seus livros: Sexo, dinheiro e poder.1

Cada um de nós é vulnerável pelo menos em uma dessas áreas. Qual é a

sua? Provavelmente, a de Paulo era o poder. E ele tinha seus motivos parase preocupar.

 Vejamos como orou (pedindo cura) e o resultado dessa oração (trazen

do humildade).

 É necessário que eu continue a gloriar-me com isso. A inda que eu não ga

nhe nada com isso, passarei às visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo que há catorze anos foi arrebatado ao terceiro céu. Se foi 

no corpo ou fora do corpo, não sei; Deus o sabe. E sei que esse homem —se no corpo ou fora do corpo, não sei, mas Deus o sabe — foi arrebatado

'I.OPKS, Hcrnandes Dias. 2Corínrios. São Paulo: Hagnos, 2008, p. 27/í.'TOSTKR, Ricliard. Sexo, dinheiro l- poder. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

ao paraíso e ouviu coisas indizíveis, coisas que ao homem não é permitido  falar. Nessehomem me gloriarei, mas não em mim mesmo, a não ser em minhas faquezas. Mesmo que eu preferisse gloriar-me não seria insensato, porque estaria falando a verdade. Evito fazer isso para que ninguém pense a meu respeito mais do que em mim vê ou de mim ouve.

 Para impedir que eu me exaltasse por causa da grandeza dessas revelações, foi-me dado um espinho na carne, um mensageiro de Satanás, para me atormentar. Três vezes roguei ao Senhor que o tirasse de mim. Mas ele me disse:

“Minha graça é suficiente para você,pois o meu poder se aperfeiçoa na  fraqueza”. Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas  fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim. Por isso, por amor  de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insidtos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco é que sou forte.

2Coríntios 12.1-H)

E s p i n h o   d e s c o n h e c i d o , m a s   p o d e r o s o

No início de sua vida cristá, Paulo teve uma série de arrebatamentos espirituais, em que viu e ouviu coisas tão extraordinárias que se calou sobreelas. Nunca as esqueceu, mesmo sabendo que não devia se gloriar nelas.Na verdade, ele lutou contra seu desejo de usar essas experiências para sesobrepor aos outros apóstolos, especialmente quando contestado.

Em meio a essa tensão, ele ganhou um espinho na carne, que o fustiga

 va. Há algumas informações sobre esse espinho que nos causam estupor enos ensinam muito acerca da vida cristã.

1. O espinho paulino veio após uma grande vitória espiritual.

Lembremo-nos de Elias: depois de derrotar corajosa e ousadamente o casal real de Jezabel e Acabe e todos os profetas de Baal que eles remuneravam,ele teve medo, muito medo. Depois de subir ao monte e liquidar os inimigos, Elias se afundou numa caverna, não apenas para fugir, mas para morrei.

Não desanimemos, mas um triunfo espiritual não garante uma caminhada sempre no altiplano. Depois da montanha, pode vir a planície, pau

que queiramos voltar à montanha. Não desanimemos: precisamos nos tolocar em nosso lugar: o lugar da dependência de Deus.

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BASTE-NOS A GRAÇA 

Se você está bem espiritualmente, não se ensoberbeça: você não alcan

çou nada sozinho; foi tudo dádiva de Deus. Não se acomode: dentro de

nosso coração, trava-se uma luta dura entre as forças das trevas e a força

do Espírito; hoje a força do Espírito está vencendo; dê graças a Deus e

continue lutando.

2. Para Paulo, seu espinho representou uma novidade na sua vida. Não

era uma herança, como seu caráter ou seu temperamento. Era algo que

repentinamente passou a incomodá-lo.

Como acontece conosco, somos, por vezes, tomados por sentimentos

novos, experiências novas, dores novas, angústias novas, pelos quais nãoesperávamos. Nossa vida ia bem, mas de repente uma depressão, mo

derada ou profunda, se aloja dentro de nosso corpo, como se fosse para

sempre, por mais que lutemos. Nossa vida ia bem, mas de repente um

descontrole financeiro, provocado por má gestão ou despesas elevadas

imprevistas, nos lança numa impotência tal que perdemos o sono e a paz.

Nossa vida ia bem, mas de repente um vizinho ou um colega de trabalho,

sem que saibamos por que ou sabendo por que, desfila uma inimizade

que nos desconserta. Nossa vida ia bem, mas de repente um filho se

torna dependente de drogas, sem aceitar nossa ajuda para recuperar-se.

Nossa vida ia bem, mas de repente nosso cônjuge perde a cabeça por

outra pessoa e sai de casa para viver com ela. Nossa vida ia bem, mas de

repente uma pessoa querida morre, fazendo-nos reféns de uma saudade

impreenchível.

Como doem espinhos como esses.

3. O apóstolo não diz que espinho era esse; sabemos que estamos diantede uma metáfora; não se trata de um espinho de origem botânica, nem de

um calo no pé. Se Paulo não informa como era tal espinho, não nos cabe

especular. Ao omitir a natureza de seu espinho, no entanto, Paulo nos dá

licença para incluir os nossos. Bendito Paulo, por nos omitir essa informa

ção. Doía nele, pode doer em nós.

Podemos incluir dificuldades pelas quais passamos, estejam elas no

campo patrimonial ou no território dos relacionamentos. Cabem, porexemplo, uma timidez, que nos impede de alçar voos altos; uma explosivi-

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

dade, que dificulta nossa aceitação por parte de outras pessoas; uma atitude

legalista, sempre pronta a julgar, raramente a perdoar.Podemos incluir as perdas que experimentamos, que nos chegam comotragédias e calamidades. Diante dessas perdas, podemos fazer da tristezanossa companheira. Quando a mandamos embora, ela calou tão fundoque se transformou em depressão e se recusa a partir, por mais que peça-mos, por mais que oremos.

Podemos incluir os insultos que sofremos, em forma de palavras, degestos e de ações. Você cometeu bondade, mas o escorpião o feriu. Você

defendeu um inocente, mas entrou no rol dos bandidos. Você dedicouparte de sua vida a uma causa, mas a causa não sabe seu nome. Você deu“bom dia”, mas o outro virou o rosto para o lado.

4. Paulo, e esta é uma informação essencial, recebeu o espinho direta-mente de Satanás. Parece haver uma ambigüidade aqui, mas não há: ficaclaro que Deus nunca é o pai de nossas dores; essa é a obra de Satanás nomundo, com o fito de nos destruir. Tiago nos ensina: Quando alguém for  tentado, jamais deverá dizer: 'Estou sendo tentado por Deus\ Pois Deus não 

pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta (Tg 1.13). As adversidades da vida são usadas por Satanás para nos derrubar. Aci

ma de Satanás, Deus está. Assim, o espinho é, ao mesmo tempo, obra deSatanás para nos destruir e obra de Deus para nos salvar. Mesmo ondeSatanás está atuando, Deus está agindo soberanamente, porque nada Ilieescapa; nada o vence.

Qual é o seu espinho? Não importa. O que importa é que você façacomo o apóstolo Paulo: receba-o como mensageiro de Satanás, que aproxima você da graça.

Be n d i t o s   e s p i n h o s

Sem os espinhos, nós nos tornamos presas fáceis de outros inimigos dagraça em nossa vida.

Menciono alguns, mas você pode ficar com um só ou ampliar a lista.O BEM-ESTAR — Quando estamos bem espiritual, emocional ou li

nanceiramente, nos sentimos fortes. E quando estamos fortes, achamo-nosdesnecessitados da graça. A graça é força para os fracos.

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BASTE-NOS A GRAÇA 

 A ANSIEDADE — Os ansiosos, que são aqueles que pretendem fazer o

que só Deus pode fazer, que são aqueles que não aceitam a velocidade dos

ponteiros do relógio da sua vida, que são aqueles que têm como horizontede suas experiências o controle sobre fatos, coisas e pessoas, não conseguem

crer que a graça lhes é suficiente.

O PRAGMATISMO — Se o meu Deus faz tudo o que eu quero, não

recebo o que de melhor tem para mim: sua graça.

Se minha religião é mágica, e eu faço coisas que funcionam e eu oro de

modo que o resultado fica de antemão garantido e eu estou certo de que

ficarei próspero por causa da minha retidão e da minha fidelidade, numa

espécie de galardão em vida, não preciso da graça: preciso de prosperidade,

não de graça.

G r a ç a   o u   d e s g r a ç a

Faça com que seu espinho aproxime você da graça, porque para muitos ele

os afasta dela.

Eis algumas atitudes:

1. Olhe para DeusNão perca de vista a majestade de Deus. Não há como não olhar para o seu

espinho, porque dói, mas olhe para Deus. A sarça está se queimando sem

se consumir; não é uma miragem, não é loucura sua. E Deus chamando

por você.

Deus, como aprendemos na história de Jó, é maior que Satanás. Não

olhe para Satanás, com seu poder vencido; olhe para Deus, com seu podertriunfante. A solução de nossos problemas não substitui a graça de Deus.

2. Considere o espinho como uma oportunidade1)eus não tem prazer em nosso sofrimento, mas nosso espinho fere. Logo,

l )eus permite o espinho para nos levar a um propósito maior. No caso de

Paulo, e certamente no nosso, Deus permitiu o espinho para levar o após

tolo à humildade. A humildade que vem da dor é mais importante que o

livramento da dor. Só há glória na glória de Deus, mas na glória de Deusmesmo.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

É a graça que nos ajuda a fazer nosso caminho longe da tristeza, mesmo

que conseqüência natural diante das perdas; do ódio, mesmo que justifi

cado em função da agressão recebida; da amargura, mesmo que os abusosainda povoem nossa memória.

3. Agradeça pelo seu espinho Vou lhe dizer o que acontece comigo:

Eu oro menos quando meu corpo está 100% e nada nele me incomoda. Quando eu me levanto e meus “artrosados” joelhos doem, eu logo me

ajoelho; quando não doem, logo me levanto e deixo a oração para depois.Bendita dor.

Eu oro menos quando meu saldo bancário está positivo. Quando estánegativo, eu oro para que Deus me oriente. Quando está positivo, agrade

ço rapidinho e pronto.Eu oro menos quando minhas ideias fluem suavemente. Quando os

planos não funcionam, as palavras tardam, eu oro por mais inspiração e

por mais sabedoria.

 Ademais, se Satanás lhe enviou um espinho, é porque você o está incomodando.

4. Ajacomgraça paracom os outros

Recebeu um insulto? Responda com outro insulto ou se deixe alcançar pela

graça de Deus antes de responder.Está vendo algo errado? Condene logo ou se deixe alcançar pela graça

de Deus para julgar com graça. Julgue, mas julgue com graça.Está vendo alguma necessidade, que um gesto seu ou uma palavra sua

poderia suprir? Às vezes, seu gesto será apenas uma palavra. O mundo vive

pela Palavra. O mundo vive de palavras. Como tem sido a sua palavra?

• • •

 A graça de Deus nos basta porque:• é certeza de vida, mesmo que nossos ossos estejam virando pó.

• é companhia constante, mesmo naqueles lugares que imaginamos queDeus não poderia estar, mas está, em sua discreta e poderosa majestade.

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BASTE-NOS A GRAÇA 

é braço que nos aponta feliz um futuro diferente do presente,

é sopro soprando vida onde a decepção tornou-se uma caveira quenos contempla.

é força para nos ajudar a resistir à fraqueza, não poder para nos per

mitir fugir da fraqueza,

é milagre que nos tira do fundo do poço.

é muro onde podemos nos firmar, na certeza de que o muro está ali

e estará ali, firme sempre, sempre firme.

é palavra de consolo, mesmo que a desolação pareça o único cenário,

é presença em forma de brisa que vence o vendaval.

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37 2Coríntios 13.14 

(Efésios 6.23-24)

O Deus que nos completa

 Aideia da graçanos soa ainda mais confortadora quando deixamos nossos

ouvidos se extasiarem diante destas palavras:

[Deus] nos consola em todas as nossas tribulações, para que, com a conso

lação que recebemos de Deus, possamos consolar os que estão passando por  

tribulações.

2Coríntios 1.4

Esta abertura altissonante nos prepara duas doxologias:

 A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a com unhão do Espírito 

Santo sejam com todos vocês.

2 Cor ín rios 13.14

 Paz seja com os irmãos, e amor com fé da parte de Deus Pai e do Senhor  

 Jesus Cristo. A graça seja com todos os que amam a nosso Senhor Jesus Cristo 

com amor incorruptível.

Kfésios 6.23 24

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O DEUS QUE NOS COMPLETA 

 A bênção de Deus sobre nós é uma ação da Trindade divina A Trindade divina é um insondável mistério. A Trindade divina é o resulta

do da união de três pessoas para o projeto de plenificar o ser humano. No

entanto, se nada soubermos sobre tal mistério (e nada sabemos mesmo!),

basta-nos tão somente saber que podemos sentir os frutos da atuação da

Trindade.

Nossas necessidades podem ser pensadas como trinitárias também (três

em uma). Precisamos de graça, amor e comunhão. No plano físico, nos

sas necessidades básicas são: segurança, alimento e casa. Essas necessidades

correspondem no plano espiritual à salvação, ao cuidado e à comunidade. A salvação é pela graça de Jesus; o cuidado vem do amor de Deus; a comu

nidade vem da comunhão do Espírito Santo.

Logo, além de graça, amor e comunhão, de que mais precisa uma pessoa?

 A bênção da graça é um dom de Jesus para nós A condição essencial para receber a graça é amar sinceramente a Jesus. A

graça é, assim, paradoxal: ela é gratuita, mas para quem ama. Quem nãoama não sabe receber amor. Concedê-la a quem não a quer seria o mesmo

que dar pérolas aos porcos... (Não deem o que ésagrado aos cães, nem atirem 

suas pérolas aos porcos; caso contrário, estes as pisarão e, aqueles, voltando-se 

contra vocês, os despedaçarão — Mt 7.6).

 A graça quer dizer que já fomos aceitos por Deus, embora não o me

recêssemos (Ef 6.24). “A graça nos convida ao trono onde encontramos

 Aquele que nos ajuda em tempo de necessidade.”1

 A graça é uma extravagância de Jesus, extravagância do seu amor, como

a de uma pessoa apaixonada que oferece um presente ao amado. Às vezes,

os presentes são ridículos, e só não são ridículos (como naquela música de

uma das baianas...) porque o amor não é ridículo...

 A gratuidade dessa graça está também no fato de que não é esperada,

não é merecida, nem é sequer imaginada. Graça é fragrância; é o cheiro de

 Jesus para nós.

'STANI.KY, Charles. Ihc glorious journey. Nashville: Thomas Nelson, 1996, p. IN(>.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

 A graça nos aponta para o poder de Jesus, poder para nos aperfeiçoar;

para a beleza de Jesus, beleza que podemos contemplar e na qual nos espelhar; para o cuidado de Jesus, cuidado para conosco.

 A bênção do amoréum dom de Deus para nós A prova maior desse amor é esta: Deus nos deu seu próprio (e único!) Filho

para nos reconciliar com ele e uns com os outros (Jo 3-16; ljo 4.7-19). A

iniciativa de nos amar é de Deus. Essa é uma das características essenciais

do ser divino. Nós, no máximo, retribuímos; nunca tomamos a iniciativa

do amor puro, aquele que não busca a recompensa.Deus é amor, mas o amor não é Deus. Só o amor de Deus é que nos

oferece a sustentação para a vida que ele mesmo criou.O amor, para com ele e para com os outros, é a porta de acesso a ele

(Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor — ljo 4.8) Aliás,

só em ljoão há 105 versículos, e quarenta contêm a palavra “amor”, talvez

por saber de nossa capacidade... teórica... de amar.Deus expressa seu amor para conosco (segundo Charles Stanley):

• criando-nos• dando-nos liberdade para escolher (até mesmo contra ele próprio)

• colocando-nos em família• enviando-nos o Espírito Santo para habitar conosco• provendo condições para nosso bem e sua glória

• chamando-nos para amá-lo.2

 Assim, você pode se imaginar um:

• grande evangelista• bom missionário• fiel dizimista

• excelente cantor

■STANLEY, Charles. The giorious journey. Nashvílle: Thomas Nelson, 1996, p. 378 \ '>

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O DEUS QUE NOS COMPLETA 

• dedicado regente

• competente pianista

Mas, se não tiver amor, você não será nada!

Eu também, se não tiver amor, não serei nada!

 A bênçáo da comunhão é um dom do Espírito para nósComunhão é a partilha de algo com alguém (generosidade). O Espírito

Santo partilha sua divindade conosco.

Nós formamos a igreja do Espírito, que é diferente da igreja da carne. A igreja do Espírito não tem nada a ver com a igreja do eu, mas tudo a ver

com a igreja do nós.

 A igreja do Espírito é aquela que não o apaga, com a falta de comunhão,

com o desvio da “panela”, que é natural, mas não espiritual. Só o Espírito

Santo nos pode fazer a “igreja-comunidade”, contra a igreja das individu

alidades.

O Espírito habita em nós; ele se faz comunhão conosco. Sua comunhão

nos santifica. A comunhão dele com o Pai também nos permite ter comunhão com o

Pai, já que ele interpreta diante do Pai as nossas petições.

O Espírito Santo participa de nossa vida.

• • •

O “sejam” da bênção significa: que a graça, o amor e a comunhão se im

plantem em nós, se revelem em nós. Que essas qualidades sejam metas denossa vida.

 Viver com graça é ser gracioso, que é não colocar exigência (lei) sobre

(para) os outros, segundo o exemplo de Jesus, cujo fardo é leve (Mt 11.30).

 Viver com amor é ser amoroso, que é não esperar reciprocidade, seguin

do o exemplo de Deus, que sabia que não seria correspondido (seu Filho

seria morto), mas amou assim mesmo.

 Viver com comunhão é se completar no outro.

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LIVRO III

Paulo pastoreia os gálatas

“Galácia. Um país da Ásia Menor, composto de partes da Frigia e Ca-padócia. (...) Derivou o nome de seus habitantes, que eram gauleses queinvadiram a Ásia Menor e se estabeleceram lá em vários períodos duranteo século III a.C.

 Atalo I obteve vitória completa sobre eles (230 a.C.), obrigando-os a se

estabelecer dentro dos limites do país desde então chamado Galácia. (...)O povo da Galácia adotou grande extensão de hábitos e costumes gregos epráticas religiosas, mas preservou a própria língua, de modo que mesmo noséculo IV d.C. Jerônimo escreveu que a língua dos gálatas lembra o dialetolocal dos triers da Gália. Eles mantiveram também suas divisões políticas eformas de governo.

Suas cidades mais importantes eram: no sudoeste, Pessino, a capital doTolistobogi; no centro, Ancira, a capital do Tectosages, e no nordeste, Ta- vium, a capital do Trocmi. Da Epístola de São Paulo aos Gálatas, aprendemos que as igrejas cristãs na Galácia consistiam em grande parte de judeusconvertidos. (...) As igrejas da Galácia foram fundadas por Paulo em suaprimeira visita à região, quando uma doença o deteve ali (G1 4.13), durante sua segunda viagem missionária, cerca de 51 d.C. Visitou-os novamentecm sua terceira viagem missionária.”'

'WHBSTKR S ONI.INE DICTIONARY. Disponível em http:/ / www.websters-online- <liciionary.org>. Ac essa do em 1/ 7/ 2011.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

E n t r e v i s t a   i ma g i n á r i a  c o m   o   a pó s t o l o   Pa u l o   (3) • G á l a t a s

ENTREVISTADOR — Sua carta aos gálatas tem um tom bem pessoal;

nela, o senhor expõe um pouco de sí mesmo. Por que mudou o tom? Nas

cartas anteriores, há poucas autorreferências.

PAULO — Sim, quando escrevi aos gálatas, escrevi um pouco mais de

mim, mas não por mim, e sim para mostrar minha autoridade apostólica.

Escrevi a carta aos gálatas em Efeso, a mesma cidade onde estava quando

escrevi aos coríntios. A minha situação era idêntica, mas a situação de cadaigreja era bem diferente. Quando escrevi aos coríntios destaquei minha

autoridade apostólica, abrindo mão dela. Aos gálatas, não; a eles preciso

mostrar que sou apóstolo para manter a unidade das igrejas da Galácia.

ENTREVISTADOR — O problema com os gálatas não era o pecado...

PAULO — Claro que era o pecado, mas de outro tipo. Presunção é

pecado. Idolatria é pecado. Os gálatas estavam correndo o risco de se deixarem escravizar pela presunção e se tornarem idólatras, ao colocarem a cruz

abaixo da lei e de Moisés; ao afirmarem a lei como maior que Jesus Cristo.

Tive que ser duro. Por isso, foi necessário mostrar as marcas de Cristo na

minha vida.

ENTREVISTADOR— Gosto do seu estou crucificado com Cristo.

PAULO— Tenho procurado viver essa frase. Não é fácil para mim. É

 Jesus que tem que ser importante. O que eu desejo e o que eu penso não

têm importância alguma. Viver com Cristo e morrer com Cristo são a mes-

ma coisa. E duro dizer essa frase porque gosto muito de viver. E quanto a

 você, posso perguntar: crucificou-se com Cristo também? Tem procurado

demonstrar o fruto do Espírito Santo?

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38 G á l a t a s   1 .6 -9

G á l a t a s   3.11-14

Por que precisamos da graça de Deus

 A verdade do evangelho preconiza o caráter totalmente gracioso de 

 Deus. A adoção do estilo de vida requerido pela vontade divina usa 

essa imagem não como um meio de adesão ao povo de Deus, mas como 

uma resposta à sua graça.1

Qual é a melhor palavrapara definir o evangelho?

Tomemos os três termos fundamentais do apóstolo Paulo (ICo 13) e

tentemos responder.

E a fé? Não, não é a fé, porque ela se encontra presente em todas as

religiões, inclusive na superstição e no jogo de azar. É verdade que a fé no

sentido bíblico é exclusivamente cristã, mas a palavra se perdeu no vaziodo mercado dos bens simbólicos. Lênine pode até despertar fé, pelo que fez

enquanto viveu, mas ele nunca infundiu graça à vida de alguém.

E o amor? Não, não é o amor, porque ele não é exclusivo dos cristãos.

Ele existe até onde não há fé. Pode não ser o amor bíblico, mas é amor,

amor que leva pessoas a se dedicarem ao próximo como a si mesmas, em

bora não creiam no Deus que propôs essa atitude aos homens. Além disso,

1TI II Kl,MAN, Frank. Teologia do Novo Testamento. Sáo Paulo: Shedd, 2007, p. .í 26.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

o que é mais trágico, nós não conseguimos ir. Allan Kardec pode, por seus

ensinos, levar muitas pessoas à prática da benevolência, mas ele nunca in

fundiu graça à vida de uma pessoa sequer.E a esperança? Não, não é a esperança, porque ela é o motor de todas

as religiões e até de sistemas filosóficos anteriores e posteriores ao cristianismo. Além disso, tendemos, mesmo os cristãos, a sustentar nossa espe

rança na capacidade humana de construir o futuro. Um mito pode dar

sentido à vida de uma comunidade, mas jamais pode infundir graça a tal

comunidade.

Parafraseando Philip Yancey,2podemos dizer que graça é o melhor vocábulo para definir a natureza do cristianismo e do evangelho. Afinal, nossa

fé é uma resposta à graça; o amor de Deus para conosco é uma manifes

tação da sua graça; nosso amor de uns para com os outros é expressão da

graça em nós, e a esperança cristã, que é uma esperança contra a esperança,

é extensão da misericórdia de Deus, um sinônimo para a sua graça.Embora sabendo disso, nós, cristãos, temos dificuldade em viver a gra

ça. A maioria dos sermões e dos textos bíblicos está mais para a lei do que

para a graça.Nossa dificuldade em entender a graça advém da nossa dificuldade em

olhar a vida sob a perspectiva de Deus, que é radicalmente diferente da

nossa. Ele vê com graça; nós vemos com justiça. Isso é verdade em nosso

relacionamento com os outros e mesmo em nossa autocompreensão. Ele vê

a sua igreja com graça; nossos olhos são os da justiça. Ele me vê com graça;

eu me julgo com justiça, até mesmo com severidade.

Nós não conseguimos viver fora de uma visão meritocrática das relaçõeshumanas. A graça de Deus é a abolição do mérito.

 Afinal, qual foi o mérito de Noé, em quem Deus achou graça (Gn 6.8)?

Qual foi o mérito de Abraão para ser tornado pai de todos os que têm

fé (G1 3.7)?

Qual foi o mérito de Moisés para poder falar com Deus face a face,

como se fala com um amigo (Ex 33.11)?

 YANCEY, Philip. Maravilhosa Graça. São Paulo: Vida, 1999.

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POR QUE PRECISAMOS DA GRAÇA DE DEUS

Qual foi o mérito de Davi para ser chamado homem segundo o coraçãode Deus (ISm 13.14)?

Qual foi o mérito de Maria, para que Deus a contemplasse (Lc 1.47)?Qual foi o mérito de Pedro para ser escolhido como líder principal da

nascente igreja, contra a qual as portas do inferno jamais prevaleceriam

(Mt 16.18)?Qual foi o mérito de Paulo para ser chamado de perseguidor a perse

guido (ITm 1.13)?Eles eram tão valiosos quanto cada um de nós. No entanto, Deus lhes

infundiu graça, como a infunde a nós.Como eles, nós precisamos da graça.

Precisamos da g raça de D e u s   para não d esertarm os  

d e l e (Gl 1 .6-9)O Novo Testamento nos recomenda a permanecer firmes na graça (lPe5.12), mas esta não é uma tarefa fácil. Há vários “evangelhos” a nos seduzir

contra a verdadeira graça.

Em Gálatas 1.6-9, o apóstolo Paulo menciona um, mas que tem umalcance maior.

 A dmiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho que, na realidade, não é o evangelho. O que ocorre é que algumas pessoas os 

estão perturbando, querendo perverter o evangelho de Cristo. Mas ainda que nós ou um anjo do céu pregue um evangelho diferente daquele que lhes 

pregamos, que seja amaldiçoado1. Comojã dissemos, agora repito: Se alguém lhes anuncia um evangelho diferente daquele que já receberam, que seja 

amaldiçoado!Gálatas 1.6-9

O apóstolo está horrorizado com uma tendência, que lhe chegou ao co

nhecimento, verificada entre algumas igrejas da Galácia. Havia, entre elas,

quem estava se deixando levar pelo canto da sereia legalista. E por isso queele pergunta se seus leitores eram tão insensatos ao ponto de, tendo sido

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

alcançados pela graça, porque convencidos pelo Espírito do seu pecado,agora voltarem ao império da Lei mosaica, que afirma o valor do esforço

humano para a salvação. O tom paulino é severo: Será que vocês são tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, querem agora se aperfeiçoar pelo 

esforço próprio? (G1 3.3). Em outras palavras, depois de terem recebido agraça, a partir de agora voltarão a viver pela Lei?

O contexto para a repreensão era que, depois de evangelizados, os gálatas estavam sendo convencidos pelos pregadores que propunham uma volta parcial ao judaísmo. Essa informação nos ajuda a entender melhor todaa epístola. A eloqüência dos judaizantes era tanta que estavam seduzindo

muitos cristãos a abandonar a fé cristã.O apóstolo Paulo os adverte, então, para não se esquecerem de que eles

eram cristãos porque foram chamados pela graça de Cristo. Tendo sido cha

mados, aceitaram o convite, foram transformados e começaram a viver segundo a graça. Como agora passavam uma borracha em toda aquela experiência?

No fundo, eles não achavam que estavam abandonando a Cristo, masque podiam ficar com ele e com o seu contrário. Talvez achassem que não

havia problema algum em ficar com o evangelho e com a Lei. Paulo, então,afirma que evangelho e Lei são contraditórios. Como agora queriam conciliar o que não pode ser conciliado?

 Assim, pelo efeito da propaganda, alguns cristãos estavam desertando(abandonando) a fé cristã. O risco ainda permanece, seja pela razão dosgálatas, essencialmente de fundo teológico, seja por outras razões, maisexistenciais.

Quero mencionar outras dessas razões, porque a solução paulina se lhe

aplica integralmente. Alguns abandonam a fé cristã porque se deixam seduzir por outras cren

ças que apenas se parecem evangélicas, ou porque negam a graça ao afirmarem que tudo é graça (como, por exemplo, um evangelho tão sincrético,abrindo-se a tudo, que não é mais evangelho) ou porque negam a graça noafirmarem que nada é graça (como, por exemplo, um evangelho mercadológico em que tudo é troca).

Desde o tempo do apóstolo Paulo, há alguns que acham que o evange

lho é pouco e que é preciso acrescentar novos conteúdos, provenham eles

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POR QUE PRECISAMOS DA GRAÇA DE DEUS

do diálogo com o mundo ou de alguma formulação nova, apresentada

como “revelação especial de Deus”. É por isso que a cada estação surgem

ensinos esdrúxulos (estranhos), os quais o apóstolo chama de ventos de doutrina (Ef 4.14).

Que eles surjam, não surpreende. Que seduzam, provoca espanto. Que

os cristãos não cotejem (confiram) essas “novidades” com o evangelho, es

tarrece.

 Além dessa deserção (de cepa teológica, como entre os gálatas), há ou

tras de natureza existencial a nos perturbar.

 Alguns trocam a graça de Deus pela “graça” do presente século. Encan

tam-se com a tecnologia (que é realmente encantadora, mas insuficiente

para dar sentido à vida) ou com os meios de entretenimento (que produ

zem maravilhas que nos embevecem, mas são suficientes apenas para nos

divertir, e só como tais devem ser recebidos) e não têm mais tempo para os

prazeres com Deus (encontrando-se com ele por meio da leitura da Bíblia,

da oração e da proclamação dos seus feitos).

Fruamos as técnicas e os meios, mas não nos esqueçamos de que viver é

ser alimentado pela Fonte.Outros abandonam a fé porque ficam cansados de esperar a intervenção

de Deus para que suas promessas se cumpram. E muito difícil para nós

 viver fora de uma relação mercantil. Mesmo o nosso relacionamento sofre

essa tentação, a mesma que levou o povo de Israel a fabricar um bezerro de

ouro. Queremos um deus que nos sirva. Nós lhe prometemos fidelidade,

desde que valha a pena e o resultado seja imediato.

Muitas pessoas buscam o batismo cristão, são batizadas e desaparecemdas igrejas, talvez decepcionadas, como a dizer: “eu fiz a minha parte, mas

Deus não fez a dele”.

Outros oram meses e anos a fio em busca da solução de um problema,

e como não a recebem (ou acham que não a recebem, porque seus olhos

mercantilizados não conseguiram ver a resposta, uma vez que não se parece

com a resposta engendrada no próprio coração do crente, mas lançada do

coração do Pai), desertam de Deus.

Outros largam Deus de lado porque ficam cansados de ver a indignida

de dos injustos e dos justos. Porque não esperada, a indignidade dos justos281

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

(serão mesmo justos?) é capaz de estragos maiores, típicos de uma bomba.

Olhar para um evangélico e não ver nele o evangelho é algo que mina até

a fé dos fortes. Quando essa frase vai para o plural (olhar para os evangé

licos e não ver neles o evangelho), os fortes balançam e, se a graça não os

sustentar, eles cairão.

Em resumo, em todos os tempos, o evangelho enfrenta inimigos in

ternos, que são aqueles que, achando que o evangelho é pouco, inventamoutro.

Por isso, toda vez que vejo alguém anunciando uma restauração do cris

tianismo, eu tremo. Antes e depois, só de Cristo, nunca daquela pessoa,ideia ou metodologia.

Também me entristeço com o “evangelho” da prosperidade, cujo objeti

 vo — desculpe a dureza — gera prosperidade apenas para os que o pregam.

Também me entristeço com a rejudaização das igrejas, que são cristãs,

uma tentativa que o apóstolo Paulo teve que enfrentar.

Qualquer evangelho que não deriva exclusivamente sua teologia e sua

prática das páginas do Novo Testamento não é evangelho. O problema é

que nem todos sabem disso.

P r e c i s a m o s   d a   g r a ç a   d e   D e u s   p a r a   s e r m o s   j u s t i f i c a d o s  

( G l 3 . 1 1 - 1 4 )

 A biografia de Noé contém uma frase curta e definidora: Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor  (Gn 6.8, Almeida Revisada). A Bíblia não explica

por que os olhos do Senhor viram com graça o pai de Sem, Cam e Jafé.

Gosto dessa expressão, precisamente porque não a entendo, mais exatamente porque ela descreve todos os cristãos cuja vida é centrada em

Cristo (porque não é cristão quem tem a vida centrada em si mesmo...),

de modo que poderíamos reescrever: nós, porém, achamos graça aos olhosdo Senhor.

Noé tinha pecado, mas achou graça aos olhos do Senhor. Nós está

 vamos mortos em nossos delitos e pecados, mas ele, por sua graça, nos

perdoou todos os pecados (Cl 2.13), especialmente o pecado original, isto

é, a culpa original: o pecado de achar que podemos nos justificar (redimir,salvar) a nós mesmos.

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POR QUE PRECISAMOS DA GRAÇA DE DEUS

Especialmente nos últimos cem anos, temos sido entupidos com o ideá

rio de que náo existe culpa, de que toda culpa é uma produção da cultura.

No entanto, a Bíblia é muito precisa quando afirma que todos somos culpados pelos nossos pecados. O pecado entrou no mundo por Adão, mas

ninguém é condenado pelo pecado de Adão, e sim pelo seu próprio pecado.

O ideal de uma sociedade melhor, de um mundo justo, humanamente

falando, deveria vir através da educação, da ciência ou da política, mas

esse alvo continua inalcançado. O que temos visto é um mundo injusto e

 violento, no plano pessoal e no plano coletivo. Merecemos assim a justiça,

a justiça de Deus, ou seja, o castigo por nossa culpa, porque Deus é justo.

Há pessoas que, teoricamente pelo menos, desafiam essa justiça, achando que Deus pode julgar, porque passarão pelo tribunal e serão absolvidas.

 A história e a Bíblia mostram que não há uma pessoa justa sequer diante de

Deus (Rm 3.10). Há justos aos próprios olhos, mas não diante dos olhos

de Deus. Na verdade, nenhum de nós consegue viver apenas com a justiça

de Deus.

Tranquilizar-nos em função dessa realidade é o ministério literário e teo

lógico do apóstolo Paulo. Em várias de suas epístolas, ele insiste que, pelosangue de Jesus Cristo, o Pai nos deu vida, com Cristo (Ef 2.5), segundo

as riquezas da sua graça (Ef 1.7).

Essa verdade fica ainda mais clara em Gálatas 3.11-14.

 É evidente que diante de Deus ninguém é justificado pela lei, pois “o justo 

viverá pela fé”. A lei não é baseada na fé; pelo contrário, “quem praticar  

estas coisas, por elas viverá”. Cristo nos redimiu da maldição da lei quando 

se tornou maldição em nosso lugar, pois está escrito: “Maldito todo aquele 

que for pendurado num madeiro”. Isso para que em Cristo Jesus a bênção 

de A braão chegasse também aos gentios, para que recebêssemos a promessa 

do Espírito mediante a fé.

Gálatas 3.11 -14

Paulo, portanto, mostra que é evidente que pela lei ninguém é justifica

do diante de Deus, porque o justo viverá pela fé (G1 3.11). Uma definiçãopaia “lei” é “esforço humano”. Não há nenhum prêmio para quem cumpre

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

a lei, mas há o castigo para quem não a cumpre e é flagrado. Se alguém de

clara direitinho o Imposto de Renda e recolhe o que deve, não recebe uma

carta de “parabéns”. Mas se não declara ou não recolhe... Se um motoristaanda no limite de velocidade, um guarda não o para e não o cumprimenta,

mas se o radar registra excesso... Se um consumidor pega algo no super

mercado e paga, não recebe um telegrama do presidente da companhia ou

um aperto de mão do segurança, mas se não paga...

E isto que a Bíblia está dizendo: ninguém é justificado, isto é, consi

derado justo, por cumprir a lei, mas todos que não a cumprem são con

denados. A lei, na verdade, é o código que nos condena. Estávamos, pois,

condenados, até que a graça de Deus entrou em ação; Cristo nos redimiu da maldição da lei quando se tornou maldição em nosso lugar  (G1 3.13).

Quando ele se deixou pendurar no madeiro (isto é, na cruz), ele to

mou sobre si a nossa maldição. Ao fazê-lo, possibilitou que todos quan

tos aceitamos seu sacrifício em nosso lugar recebamos o selo do Espírito

Santo sobre nossas vidas (Gi 3.14), selo que nos separa para uma vida

liberta. Assim, não somos salvos porque o merecemos cumprindo as re

gras da lei, porque elas só nos detonam (condenam). Somos salvos pelafé (G 13.ll).

Essa mensagem está resumida de forma magistral em Efésios 2.8-10.

 Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie. Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as 

quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos.Efésios 2.8-10

 A fé em Jesus Cristo como Salvador nos habilita a receber a graça sal

 vadora de Deus. A graça divina obviamente não é autoproduzida pelo ho

mem. Até mesmo a fé salvadora não é uma produção humana, mas um

dom de Deus. Tal dom (o dom da fé salvadora) é dado a todo ser humano,

mas é ativado pela vontade do homem. Querer ter fé, que já foi dada .i

cada um de nós, é a única ação humana; todas as outras foram tomad.r.por Deus.

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POR QUE PRECISAMOS DA GRAÇA DE DEUS

Todos fomos criados para a salvaçáo. Todos fomos criados para viver

na graça, graça preparada por Deus para nos ser concedida por meio da fé.

 A graça, portanto, nos torna todos iguais. Não há mérito algum em nós.Logo, não pode haver vaidade (para que ninguém se glorie — Ef 2.9b) algu

ma em nós. Na lei, há mérito. Na graça, não há. Por que, então, somos tão

 vaidosos, por vezes? Vaidosos por sermos salvos, vaidosos por termos mais

graça que os outros, vaidosos por termos mais do Espírito Santo conosco?

Não faz sentido.

Porque somos obra de Deus criada para boas ações, porque somos cria

ções de Deus feitas para criar, precisamos sempre lembrar que a sua graça

providenciou a nossa salvação, que é um presente de Deus preparado para

os que com fé o aceitam como Senhor, a seu Filho como Salvador e a seu

Espírito Santo como sustentador.

Quem nos salva? A graça de Deus.

• • •

Diante das possibilidades de deserção, o ensino paulino nos ajuda.

Ele nos lembra de que devemos nos lembrar do evangelho que aceitamos. Embora anunciado por homens, não é um evangelho de homens,

mas de Jesus Cristo. Um dia, fomos transformados pelo evangelho da

graça e por esta graça estamos no caminho da transformação, um caminho

que não tem fim. A legitimidade do evangelho não está na nossa vida (por

mais correta que seja), mas em Jesus Cristo.

 A visão desse evangelho nos mantém firmes na graça, mesmo que os

pregadores da lei sejam convincentes, mesmo que as seduções das mara vilhas da tecnologia e da comunicação sejam poderosas, mesmo que a de

cepção com o Deus que imaginamos nos aperte a garganta, mesmo que o

sucesso dos incrédulos nos atordoe, mesmo que a duplicidade de vida dos

cristãos nos amargure.

Só o evangelho de Jesus Cristo, como pregado por Paulo e por todos os

que são fiéis à vocação com que foram realmente chamados, no passado

eno presente, é evangelho. O resto é criação humana e como tal deve ser

i ratado.

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39 Gálatas 2.20

 A crucificação do cristão

Ser umseguidor do Cristo crucificado significa, mais cedo ou mais tarde, umencontro pessoal com a cruz. E a cruz sempreimplica perda.1

Paulo associa a graça à cruz.

 Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo~a pela fé no filho de Deus, que me amou eseeyitregou por mim.

Gálatas 2.20

 A leitura desse texto paulino nos suscita questionamentos muito sérios.

Não temos como o ler e não olhar para nossa vida.

Podemos garantir que Cristo foi crucificado por nós, mas podemos di

zer que fomos crucificados com ele?

Um g e s t o   v á l i d o   p a r a   s e m p r e

 A primeira parte da afirmativa paulina (Fui crucificado com Cristo) se ex

plica pelo seu final (o filho de Deus (...) me amou e se entregou por mini).  ()

apóstolo, portanto, descreve uma verdade absoluta já realizada. Eu estou

'ELLIOT, Elisabet. Disponível em <http:/ / christian-quotes.ochristian.com>. Acessado 

em 29/ 7/ 2011.

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 A CR UCI FI CA ÇÃ O DO CR ISTÃ O

crucificado com Cristo, porque Cristo me amou e deu a sua vida em

meu lugar.

 jesus foi crucificado por nós, não por causa dos seus pecados, porquenão os tinha, mas por causa dos nossos. Por isso, cristão é quem foi crucifi

cado com Cristo. Ser crucificado com Cristo é aceitar o perdão concedido

por ele na cruz.

 Fui crucificado com Cristo quer dizer: “Eu fui crucificado com Cristo

quando ele foi crucificado”. E como se a cruz onde foi pendurado, tortura

do e morto continuasse fincada sobre o Gólgota, e nela continuassem pre

gados os meus pecados. Se procurarmos uma palavra que seja o contrário

de culpa, logo a descobriremos: graça.

O poder da cruz é atemporal e universal.

O sacrifício de Jesus é válido para sempre. Desde então e até hoje

todos quantos aceitam esse sacrifício têm extinta a sua culpa, a culpa

de recusar o amor de Deus. Aquele ato não perdeu sua eficácia com o

tempo, não foi superado pela tecnologia, não foi substituído pelo co

nhecimento humano. Nada substitui a culpa, nada apaga a culpa, senão

a graça dispensada na cruz. Não há remédio que cure a culpa. Não háesforço que aplaque a culpa. Não há caminho que nos afaste da culpa. Só

o perdão divino, gratuitamente concedido na cruz, nos limpa da culpa.

Nosso pecado foi cometido contra Deus, e só ele nos perdoa; ele nos

perdoa na cruz.

O sacrifício de Jesus é para todos. Sem esse sacrifício, todos os seres

humanos, não importa a sua idade, classe social, etnia ou instrução formal,

têm que carregar a culpa, conviver com a culpa, sofrer pela culpa. Graças à

graça de Deus, nenhum ser humano precisa carregar a culpa, conviver com

a culpa, sofrer pela culpa. Jesus Cristo já a carregou por nós, já conviveu

com ela por nós, já sofreu por ela em nosso favor.

E o que precisamos fazer para receber o perdão? Nada! A natureza da

salvação oferecida por Jesus Cristo tem esta característica essencial: o ho

mem não faz nada para receber, porque o Filho de Deus já fez tudo.

 A única ação humana, se é que ela pode ser chamada de “ação”, é dese

 jar ser perdoado, é pedir para ser perdoado. Essa é a resposta esperada. Acruz é o lugar onde o desespero da culpa encontra descanso. Nela, a culpa

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

acabou, e a graça foi oferecida. Nela, a culpa acaba toda vez que a oferta

da graça é aceita.

Deixe-se crucificar com Cristo. Deixe-se perdoar por Cristo. Deixe-sealcançar pela graça de Cristo.

Se já fomos crucificados com Cristo, já fomos perdoados por Cristo, já

fomos alcançados pela graça de Cristo, mas, por alguma circunstância vivi

da, por algum descaminho percorrido ou por algum ensino contra cristão

ouvido, a cruz perdeu a sua eficácia e vivemos carregados de culpa, pesados

de culpa, sofridos de culpa, vencidos pela culpa, lembremo-nos do que

Cristo já fez por nós. O poder da graça continua válido.

Na cruz, o filho de Deus nos amou e se entregou (entregou sua vida)por nós (G1 2.20c).

O BOM DESEJO

 A segunda afirmativa paulina (Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus— G1 2.20b) nos coloca no território do desejo, no belo território do dese

 jo. É o desejo que nos põe a caminho. É o desejo que nos permite atualizaro sacrifício de Jesus. E o desejo que nos faz continuar cristãos.

Fomos crucificados quando desejamos para nós o sacrifício de Jesus poi

nós. Somos crucificados quando desejamos viver pelo poder de Cristo.

Esse ensino fundamental de Paulo se desenvolve em duas partes. N.t

primeira, o apóstolo afirma que Cristo vive em nós de modo tão profundo

que nós não vivemos mais; a vida que vivemos não é mais a nossa vida, poi

que não nos pertence mais, não lhe damos a direção. A segunda parte des.s.i

reveladora frase contém a explicação: não vivemos mais na carne (pela lei,pelo esforço próprio), mas vivemos na fé (pela graça).

O significado da expressão^ não sou eu quem vive, mas Cristo vive cmmim reaparece no final da mesma epístola, com o mesmo desejo: Quanto a mim, que eu jamais me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus ( ' r i s   

to, por meio da qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para om u n d o   

(G16.14).

Quando eu vivo por mim mesmo, não permitindo que Cristo viva emmim, confio na minha competência para me tornar feliz. Glorio-me em

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 A CRUCI FI CA ÇÃ O DO CRI STÃ O

mim mesmo. Acho-me, com raras exceções, o máximo. Quando desejo

que Cristo viva em mim, ele me capacita a viver.

Ser alcançado pela graça não quer dizer ficar sem a obrigação de fazernada, não me esforçar para viver bem, não cuidar de meu corpo, não lutar

para preservar minha mente sadia, não ter de batalhar para manter relacio

namentos saudáveis. Eu tenho de tomar essas ações, como todos os seres

humanos, com a diferença de que não confio que vá conseguir nenhuma

delas sozinho e por mim mesmo. Minha luta, em quaisquer frentes, deve

ser travada segunda a eficácia da cruz, que opera em nós poderosamente (Cl

1.29). Cristo vive em mim e me capacitará, orientando meu esforço para

as direções corretas, inclusive a orientação de não confiar em mim mesmo.Nosso desejo, portanto, é que Cristo viva em nós. Quando ele reside

em nós, desejamos olhar a nós mesmos com os olhos de Cristo, sabendo

que somos amados por ele, que é capaz de fazer infinitamente mais do quetudo o que pedimos ou pensamos, de acordo com o seu poder que atua em nós (Ef 3.20).

Quando Cristo vive em nós, desejamos marcar nossos relacionamentos

com as mesmas atitudes de Jesus, que, por não considerar seus atributos di vinos como inalienáveis, abriu mão deles (Fp 2.1-5) e se entregou por nós;

devemos viver dessa maneira. Se é para ser escravo de algum sentimento,

sejamos escravos da misericórdia e não da justiça, da graça e não da lei. A

propósito, quem vive pela lei desespera-se diante da injustiça. Quem vive

pela cruz luta contra a injustiça (a favor da justiça), mas não sofre, porque

não se desespera.,.

Quando Cristo vive em nós, desejamos, portanto, crucificar o mundo,

is (o é, viver de tal modo que os desejos próprios de quem não foi alcançado

pela graça não tenham domínio sobre nós. Nós não conseguimos não desejar

aquilo que é de nossa natureza, mas podemos crucificar com Cristo os de

sejos da nossa humana natureza. Releiamos o apóstolo: Quanto a mim, que tu jamais me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio da qualo mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo (Gl 6.14). Crucifi

car o inundo não significa perder todo o interesse pela vida em sociedade,

como sc toda a produção da sociedade (conhecimento, arte e tecnologia)n.io tivesse mais valor para o cristão. Crucificar o mundo significa olhar o

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 A CR UC IFI CA ÇÃ O DO CRISTÃ O

Esta é a sua descrição? Você sente que Deus amou você e lhe deu vidana cruz? Você foi crucificado com ele e ressuscitado com ele? Se sim, deixe-

se envolver completamente por sua graça, mudando dia após dia o modocomo você se vê, o modo como age em relação aos outros, o modo como

experimenta as coisas excelentes de Deus.Se aquela não é a sua descrição, abra mão do estilo de vida que adotou

até agora, deixe de insistir no caminho que tem levado você a se afastar dagraça. Deixe-se crucificar com Cristo e seja envolvido por sua graça, graça

que dá sentido à vida, viva você bem ou esteja mergulhado na dificuldade.Lembre-se de que Deus é rico em misericórdia e ele a oferece a você, para

que você viva pela fé, pela fé no seu Filho Jesus Cristo.

 A GRAÇA PO DE SER ANULADA!

Paulo nos falou, até agora, da maravilhosa graça de Deus. Em seguida, elepede uma atitude, colocando-se como exemplo. Ele deseja que não tornemos nula a graça de Deus:

 Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça vem pela lei, Cristo morreu inutilmente!Gálatas 2.21

Como anular a graça? Não é ela, então, um decreto irrevogável de Deus?Na verdade, não há força neste mundo capaz de anular a graça, capaz de

apagar o poder da cruz. O poder da graça, no entanto, pode não me alcan

çar. Embora seja real, eu posso não a tomar para mim, de modo que não

tenha efeito sobre mim. A graça não é uma palavra mágica. Sua operação não é ativada por uma

senha qualquer. Não basta apertar um botão para recebê-la. Não basta

abrir um livro (mesmo que seja a Bíblia) para alcançá-la. Não basta acessarum portal eletrônico (mesmo que cristão) para conhecê-la. Não há um

automatismo na graça. Só porque ela existe, não quer dizer que eu já fuibeneficiado por ela...

I. Anulo a graça de Deus e torno inútil a morte de Cristo quando não

desejo viver pela fé. Afirmo a graça quando quero, de verdade, viver pela fé.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL, 1

Só posso viver pela fé quando me arrependo dos meus pecados. Sem o

meu arrependimento, é nulo o sacrifício de Cristo por mim. O sacrifício

continua válido para os que se arrependem, mas não me alcança.Um brasileiro de 46 anos deu um testemunho assombroso, publicado

pela revista Isto É\ “Eu passei Aids para muitas mulheres nas estradas, perdia conta. Claro que sem saber. Contraí o HIV em 1984, mas só descobri

que era doente em 1996. (...) A vida na estrada é de muita solidão, mas

sempre aparece uma moça para fazer programa, mulheres que pedem carona em troca de sexo. Em algumas viagens, tive cinco mulheres de beira

de estrada. Contraí a tal Aids em Santos, (...) com uma mulher que logo

depois morreu disso. Continuei com mulheres pelas estradas, quase sempre na boleia do caminhão, (...) Me casei era 1990. Continuei a ter parceiras. (...) Em 1996, minha esposa ficou grávida e descobriu que tinha o

 vírus. Resisti, mas fiz o exame: o médico falou que eu estava com o vírus

há pelo menos 12 anos. Continuei (...) nas estradas sem camisinha. (...)Minha filha nasceu saudável, mas minha esposa morreu de Aids no Natal

de 1998. (...) A família dela me tirou a criança. Dei para beber. Hoje faço

parte do grupo católico Esperança e Vida, que acolhe portadores do vírus,e trabalho com prevenção. Deixa eu contar uma coisa: tenho outra filha,

está com 24 anos. Há pouco tempo ela me telefonou avisando que ia casai'.

Pediu para eu não ir à festa. E difícil, moço, muito difícil falar de tudo isso

sem chorar.”2

Lemos essa narrativa e nos estarrecemos porque, pelo que entendemos,

não há nela uma confissão, confissão de erros, seguida de arrependimento.

Ouvimos de lágrimas, mas não de arrependimento. Então, nos pergun

tamos: como uma pessoa que espalhou a morte pode achar que deve seiaceita pelos outros, no caso por sua filha, órfã da mãe, como se nada tivesse

acontecido? Atitudes como essa tornam nula a graça de Deus e inútil a morte

de Cristo. Se ele se arrepender e pedir perdão a Deus, ficará livre d.i

culpa espiritual, embora tenha que enfrentar as conseqüências do seu

desatino.

'Revista Isto É, 15/ 8/ 2001, p. 15.

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 A CR UCIFI CA ÇÃ O DO CR ISTÃ O

 A pior coisa que pode acontecer a uma pessoa é justificar os seus atos

pecaminosos, porque, fazendo isso, não pode ser verdadeiramente justifi

cada; só Jesus Cristo nos purifica de todo pecado, desde que o confessemos. A Bíblia apresenta essa verdade de modo transparente e eloqüente: Seconfessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça (ljo 1.9) por meio do Seu sangue (ljo 1.7).

Quando reconhecemos a nossa condição, sem culpar ninguém, sem nos es

conder em desculpa alguma, experimentamos o que Paulo experimentou:

o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16a).

2. Anulo a graça de Deus e torno inútil a morte de Cristo quando sirvo

ao pecado depois de me ter arrependido. Afirmo a graça quando me des

pojo da minha velha natureza.

Quando aceitamos a graça, somos revestidos de um novo estilo de vida,

formado em verdadeira justiça e santidade (Ef 4.24). Não podemos, então,

nos esquecer de que nossa natureza original foi crucificada com Cristo,

para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao

pecado (Rm 6.6). Somos despojados (arrancados) do procedimento ante

rior, típico do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências doengano, isto é, que se deixa destruir pelos seus desejos enganosos (Ef 4.22).

Nosso estilo de vida agora deve ser outro, mesmo que os nossos desejos

forcem a barra.

No entanto, há muitos, talvez alguns aqui, que chegaram a conhecer

o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e que escaparam das imoralidades

do mundo, mas depois foram novamente agarrados e dominados por elas.

Essas pessoas ficam no fim em pior situação do que no começo. Segundo

a Bíblia, teria sido muito melhor que nunca tivessem conhecido o cami

nho certo do que, depois de o conhecerem, voltarem atrás e se afastarem

do mandamento sagrado que receberam. O que aconteceu a essas pessoas

prova de que são verdadeiros estes ditados: “O cão volta ao seu vômito”

c ainda: “A porca lavada volta a revolver-se na lama” (2Pe 2.20-22). E

impressionante a capacidade humana de experimentar a porcaria, mesmo

sabendo que é porcaria. Dois terços dos russos fumam e estão reduzindo

sua expectativa de vida. A propósito, veio a público recentemente que osfabricantes de cigarro confirmaram que tinham o hábito de pagar a atores e

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

diretores de filmes americanos para que os personagens aparecessem fuman

do em situações glamorosas e de modo que nunca fosse associado a doença.

 Atores e diretores sabiam que estavam contribuindo para matar pessoas,

mas continuaram seu crime em troca de dinheiro. Quando voltamos a ado

tar um estilo de vida que um dia abandonamos, deixamo-nos enganar.

Quando adotamos um jeito de ser que sabemos que é impróprio (e aqui

falo especialmente aos que tiveram o privilégio de nascer num lar cristão),

anulamos a graça de Deus, que nos foi dada para que vivêssemos de modo

digno do Senhor. Nenhum de nós precisa experimentar aquilo que sabe

mos que não presta, só pelo prazer de conhecer o outro lado, outro lado

que jamais nos ensina o caminho de volta.Todos esses comportamentos provocam revolta aos olhos humanos,

mas Jesus os vê sob a perspectiva da graça. O anseio de Deus não é aplicar

a justiça, entregando tais pessoas a Satanás, para que se sujem mais ainda

(Ap 22.11). Antes, o desejo de Deus é receber de volta os pródigos, seja

qual for a altura da sua queda, desde que se arrependam, quebrantem o

coração e peçam para voltar.

Esteja você dentro ou fora da igreja, mas anulando a graça, o convite ésimples: volte para Jesus Cristo, levando a sério, vivendo com prazer o seu

convite.

3. Anulo a graça de Deus e torno inútil a morte de Cristo quando me

contento em viver no plano da lei. Afirmo a graça quando me esforço para

 viver no compasso da graça.

Toda a epístola de Gálatas foi escrita para dizer aos cristãos que a lei os

condenara, não os libertara. Quem confia na lei conhece a morte. Quem

confia na graça experimenta a vida. Já fomos alcançados por Jesus; agora,

precisamos que essa nova dinâmica alcance todas as dimensões de nossas

experiências.

 Viver pela lei é uma tentação. A lei parece produzir justiça, mas não a

produz. Todo legalista, por mais que busque ser feliz, vive vergado sob o

peso da culpa.

Em linhas gerais, é fácil viver pela lei, entre outras razões, porque pode

mos seguir as suas prescrições sem nenhuma demonstração de bondade ctambém porque podemos burlá-la.

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 A CRUCIF1CAÇA O DO CRISTÃ O

Ê fácil fazer só o que a lei manda, mas ser cristão implica ir além, por

que inclui as nossas intenções.

E fácil encontrar na lei brechas que nos beneficiem, embora resultemem ações moralmente reprováveis. Um exemplo disso é o Corbã (Mc 7.11).

No Israel antigo, uma pessoa podia tomar um bem, oferecer como sacrifí

cio diante do Senhor e continuar a usá-lo. Quem agisse assim estava dentro

da lei, mas estava roubando a Deus. A propriedade do bem era de Deus,

mas seu uso era do homem...

O Corbã é uma demonstração de que somos capazes de tirar o máximo

da lei. E para que, se temos a misericórdia?4. Anulo a graça de Deus e torno inútil a morte de Cristo quando tento

fazer troca com Deus. Afirmo a graça de Deus quando me coloco nas suas

mãos para receber e para oferecer, para rir e para padecer.

Nós não merecemos a graça, mas tendemos a achar que a merecemos.

Quando uma pessoa temente a Deus sofre, nós nos escandalizamos, como

se exigindo de Deus que isso não lhe acontecesse. Quando uma pessoa que

não teme a Deus sofre, achamos natural; quando ela não sofre, ficamos

perplexos.É muito comum ouvir queixas como esta:

— Logo agora que tenho procurado ser fiel a Deus, essas coisas me

acontecem. Não estou entendendo.

Essas preocupações são, no fundo, uma falta de entendimento do que é

a graça. Posso dizer que algumas pessoas chegam a abandonar a fé por não

 verem sua justiça (leia-se bondade, fidelidade) recompensada.

5. Anulo a graça de Deus e torno inútil a morte de Cristo quando vivoum cristianismo superficial. Afirmo a graça de Deus quando tenho interes

se em experimentar a excelência da vida que ele quer me dar.

Muitos cristãos receberam a primeira porção da graça, que é a salvação,

e se contentaram com essa porção. Eles não se preocuparam em desenvol

 ver sua salvação, coisa que se faz com temor e tremor (Fp 2.12).

Muitos cristãos serão apenas salvos, como aquele ladrão na cruz, que

não teve tempo de desenvolver a sua salvação.

Nós somos convidados a outra possibilidade. Somos chamados a desen

 volver a nossa salvação, intelectualmente e existencialmente.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Somos convidados a aprender mais da graça e experimentá-la em nossa

 vida. Precisamos ampliar nossos horizontes de fé. Precisamos esticar nossos

limites de graça.Não precisamos ter medo de obedecer a Cristo. Não precisamos ter

medo de tomar a sua cruz e seguir ao nosso Senhor.

Nosso desejo, portanto, deve ser viver pela graça, não a anular.

Um l o n g o   i n t e r l ú d i o   b í b l i c o

Eu o convido a ler comigo alguns outros textos próximos dessa mesma

ideia.

1. Primeiro, ouçamos Jesus dizer 

 Da mesma forma como o Pai que vive me enviou e eu vivo por causa do 

 Pai, assim aquele que se alimenta de mim viverá por minha causa.

 João 6.57

Todo aquele que vive pecando é escravo do pecado.

 João 8.34

Se alguém me ama, obedecerá à minha palavra. Meu Pai o amará, nós 

viremos a ele e faremos morada nele.

 João 14.23

Quando lemos a história de Moisés, vemos um homem cheio de equí vocos sobre si mesmo e ao mesmo tempo vemos o que uma pessoa que

aprende com Deus pode vir a ser.

Na primeira vez que ficamos sabendo de Moisés, ele está matando um.i

pessoa, razão por que teve que fugir. Moisés era alguém que, indignado

com a violência, reagia com violência. Moisés vai deixando o Espírito de

Deus tomar corpo dentro do seu corpo, ao ponto de o autor bíblico dizei

que ele era homem mui manso  [“paciente”, na NVI], mais do que todos mhomens que havia sobre a terra (Nm 12.3). O explosivo Moisés se tornou <>

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 A CR UCI FI CA ÇÃ O DO CRISTÃO

manso Moisés, transformação que pode acontecer em todo aquele que ama

a Deus e aprende com ele.

Quando foi chamado para uma missão no Egito, que culminaria como êxodo, Moisés achou que iria libertar o povo; por isso, temeu e refugou,

perguntando: Quem sou eu para apresentar-me ao faraó e tirar os israelitas do  Egito? (Ex 3.11). No entanto, quando Deus disse quem faria a libertação

(Disse Deus: estenderei a minha mão e ferirei os egípcios com todas as maravilhas que realizarei no meio deles. Depois disso ele os deixará sair  — Ex 3.20),

ele aceitou a tarefa. Moisés se torna um vencedor quando sai da autossufi-

ciência para a total dependência de Deus.Lemos vários discursos de Moisés, o homem que disse não saber falar.

Talvez não soubesse mesmo, mas aprendeu. Ele estava cheio de Deus e

falava dele com entusiasmo; o próprio Deus conversava com Moisés como

quem fala ao seu amigo (O Senhorfalava com Moisés face a face, como quem  fala com seu amigo—Ex 33.1 la).

Deus era o centro da vida de Moisés.

O centro da vida de Jesus não era Jesus; era seu Pai. Cristo vive em nós

quando o centro de nossa vida é Cristo, e não nós mesmos. Se é ele quem

importa em primeiro lugar, ele vive em nós. Quem conhece e ouve as pala

 vras de Jesus, mesmo aquelas mais incômodas, como o seu alimento diário,

 vive por causa de Jesus.

Cristo vive naquele que é seu escravo, não escravo do pecado. Podemos

pensar, pensar, pensar, mas ou o pecado nos domina ou Jesus nos controla.

Ou somos escravos de nós mesmos ou escravos de Jesus. A quem temos

escolhido?

Cristo vive naquele que obedece às suas palavras. A comunhão com

 Jesus começa com o conhecimento da sua Palavra, com a audição da sua

Palavra e com a obediência à sua Palavra.

Esta é a batalha do discípulo. Queremos ouvir a Jesus, mas o nosso eu

quer ouvir a nós mesmos. Tendemos a pôr os ouvidos no nosso coração,

mas sabemos que precisamos pôr os nossos ouvidos no coração de Jesus. E

o pulsar desse coração que realmente nos faz viver felizes. Jesus é o nosso modelo no nosso relacionamento com Deus.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

2. Vivamos também o que o apóstolo Paulo escreveu aos romanos

Seuivemos, vivemos para o Senhor; e, se morremos, morremos para o Senhor. Assim, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor.

Romanos 14.8

 Nestecaso, não sou mais eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim.

Romanos 7.17

Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que 

habita em mim.Romanos 7.20

 Pois se vocês vi verem de acordo com a carne, morrerão; mas, se pelo Espírito 

 fizerem morrer os atos do corpo, viverão, porque todos os que são guiados 

pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.

Romanos 8.13-14

Esses versículos lançam fora todo o cinismo, como o de uma mulher

que procurou um advogado. Ela era viúva, e um vizinho se aproximoudela, dizendo-se apaixonado. Prometeu que iria se casar com ela, e a

mulher o colocou dentro de casa. Após a primeira noite, em que compartilharam a mesma cama, ele foi embora e disse que não queria mais

se casar com ela.

 A vizinhança ficou sabendo que os dois tiveram um caso. Ela ficou en

 vergonhada. Por isso, procurou o advogado, em busca de uma reparaçãopor danos morais à sua honra. Em sua justificativa, ela disse: “Eu sou evan

gélica, e a situação ficou muito difícil para mim na minha igreja”.

Seu pecado não a incomodava. Tendo vivido uma situação desagradá

 vel, queria agora ganhar dinheiro com o próprio pecado.

 À primeira leitura dos seus argumentos sobre o pecado, o apóstolo Pau

lo nos deixa à vontade. Ele admite que é pecador. Ele reconhece que o

pecado ainda o domina. Ficamos, então, à vontade. Como pecadores, estamos na companhia do apóstolo Paulo.

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 A CRUCI FI CA ÇÃ O DO CRISTÃ O

No entanto, o apóstolo Paulo nos deixa constrangidos. Quando pecamos, somos escravos do pecado, como disse Jesus (Jo 8.34). Então, precisamos morrer para o pecado. Queremos?

E constrangedor: ou pertencemos ao pecado ou pertencemos a Deus.Ou somos habitados por Deus ou somos habitados pelo pecado.

Precisamos mortificar (matar) nossos atos naturais. Alguém nos ofende,ofendemos. Alguém nos seduz, seguimos. Alguém nos magoa, magoamos.Todo mundo faz, fazemos.

É claro que não conseguimos não pecar, mas não podemos desistir de viver sem pecar.

3. Dirigindo-se aos gálatas> Paulo nos orienta

 É evidente que diante de Deus ninguém é justificado pela Lei, pois “o justo vi verá pela fé”.

Gálatas 3.11

Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.

Gálatas 5.25

Um dos nossos piores inimigos é o senso de justiça própria, que gerarevolta quando as coisas dão errado.

Um homem teve o seu casamento destroçado. Ele dizia que havia feitotudo certo, mas as coisas não deram certo. Separado, durante um tempo

 viveu como um crente, mas não encontrou uma namorada para retomarsua vida conjugal. Então, se cansou. Ele dizia que não valia a pena ter feito

as coisas certas e que não era justo ele continuar sozinho, ele que semprefora obediente a Deus, e que agora iria resolver as coisas do seu jeito. E

seguiu seu instinto vida afora.Devemos tomar cuidado. Não somos capazes de não pecar.Ótimo: então vamos continuar pecando, já que não conseguimos não

pecar...

Não, não é o que a Palavra de Deus afirma. O que a Bíblia nos diz é

que somos incapazes de não pecar, mas devemos mortificar nossos desejospecaminosos, sejam quais forem.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

O que a Bíblia nos diz é que a fé nos capacita a não pecar, no sentido de

não desejar pecar e de evitar as situações que nos facilitem pecar.

Um dos nossos pecados é achar que podemos não pecar por nós mesmos.Outro dos nossos pecados é achar que, como não conseguimos não

pecar, então podemos pecar sem culpa.

O que precisamos é nos agarrar ao desejo de viver pelo Espírito de

Deus, não por nossa carne. Nossa canção deve ser: “não eu, mas tu, Se

nhor”. E nesse sentido também que pertencemos ao Senhor.

4. O mesmo Paulo orienta Timóteo sobre a fonte de uma vida 

autêntica* que melhor compreendemos lendo Tiago

Quanto ao que lhe foi confiado, guarde-o por meio do Espírito Santo que 

habita em nós.

2Timóteo 1.14

 A dúlteros — grita Tiago contra aqueles que querem viver dois amores

ao mesmo tempo, lembrando Deuteronômio 32.21a (em que Deus diz: Provocaram-me os ciúmes com aquilo que nem deus ê e irritaram-me com seus 

ídolos inúteis) — , vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade 

com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus. Ou vocês 

acham que é sem razão que a Escritura diz que o Espírito que ele fez habitar  

em nós tem fortes ciúmes? (Tg 4.4-5).

O conflito continua no meu coração. Nos nossos. Sobretudo, se a

decisão envolve dinheiro. Ah, se memorizássemos o que Jesus disse:

 N inguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou 

se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao 

 D inheiro  (Mt 6.24). Ah, se prestássemos atenção à reação de algumas

pessoas a esta declaração de Jesus: Os fariseus, que amavam o dinheiro,

ouviam tudo isso e zombavam de Jesus (Lc 16.14). Os fariseus e tantos de

nós somos habitados pelo dinheiro. Muitos dizemos: o que importa é

dinheiro no bolso.

O Espírito Santo habita em nós, mas o pecado também habita em nós.Nosso coração é o palco de uma batalha espiritual. Nossa tarefa é escolher

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 A CR UCI FI CA ÇÃ O DO CR IST Ã O

o lado nesta luta. Se escolhermos o Espírito Santo, ele triunfará. Se esco

lhermos o pecado, ele nos vencerá.

Se escolhemos o Espírito Santo, alegramos o Espírito de Deus. Se escolhemos o pecado, entristecemos o Espírito Santo habitante em nós (Não 

entristeçam o Espírito Santo de Deus, com o qual vocês foram selados para o 

dia da redenção — Ef 4.30).

O “ou” é dramático. Ou alegramos ou entristecemos o Espírito Santo.

Não tem meio termo, como nossa vida parece achar.

5. Termino com um texto paulino que é perfeitamente sinônimo de 

Gálatas 2.20

 Mas graças a Deus, que sempre nos conduz vitoriosamente em Cristo e por  

nosso intermédio exala em todo lugar a fragrância do seu conhecimento; 

porque para Deus somos o aroma de Cristo entre os que estão sendo salvos e 

os que estão perecendo.

2Coríntios 2.14-15

Na minha infância conheci um homem exemplar, como pai e como

cristão. A máscara, no entanto, do irmão José (nome fictício) caiu quando

meu pai conheceu um colega de trabalho dele. Um dia a conversa entrou

pelo campo da fé.

— Você conhece o José? — perguntou meu pai.

— Conheço.

— Ele também é da minha igreja. A resposta, desagradável, foi:

— Conheço o José. Nunca imaginei que fosse crente.

 Anos mais tarde, José foi se revelando. Abandonou a família, largou a

igreja e foi viver a vida que, parece, sempre quis, sem nenhum aroma de

C'risto.

Não somos justificados por nós mesmos, isto é, não vencemos o pecado

por nós mesmos. É impressionante como nos esquecemos disso, quandofa/ emos listas do que é e do que não é pecado... para os outros; quando

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL.  1

lamentamos os pecados... dos outros; quando fazemos uma hierarquia de

pecados, em que os piores são os que os outros cometem, e os menos graves

são os nossos.Não pecamos? Foi Deus quem nos conduziu no itinerário da santidade.

Foi o Espírito que habita em quem venceu, não a nossa carne. A carne não

 vence a carne. A carne perde para a carne sempre.

O perfume que sai de nós não foi produzido por nós: foi produzido

pelo Espírito Santo. A marca do nosso perfume é “Jesus Cristo”.

6. Então, voltamos ao texto áureo de Paulo aos gálatas

 Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive 

em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no Filho de Deus, 

que me amou e se entregou por ??ii?n.

Gálatas 2.20

Se você foi crucificado com Cristo, você morreu para si mesmo. Se mor

reu, você não vive mais. Você se belisca e vê que está vivo. Sim, você vive.Na verdade, não é você quem vive, é Cristo quem vive em você.

Essa vida que você vive se desenvolve no corpo, isto é, na sua vida coti

diana, na sua história. E você só vive essa história pela fé que tem em Jesus

Cristo como Filho de Deus, como seu Salvador, como seu Senhor.

É crucificado com Cristo aquele que morreu para si mesmo, para que

Cristo viva.

E crucificado com Cristo aquele que sabe que é amado por Jesus e rece

be seu amor, sabendo que vive por causa desse amor.

E crucificado com Cristo aquele que deixou na cruz o seu eu, feito de

desejos e vontades.

E crucificado com Cristo aquele que deixou sua vida na cruz para vivei

a vida de Jesus, possível por causa da habitação do Espírito Santo.

E crucificado com Cristo aquele que recusa o domínio do pecado sobre

a sua vida.

E crucificado com Cristo aquele que tem alegria em ser habitado peloEspírito Santo.

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 A CR UCI FI CA ÇÃ O DO CRISTÃ O

É crucificado com Cristo aquele que, sabendo que no seu coração se

trava uma batalha espiritual, entre o Espírito Santo e o pecado, escolheu o

lado do Espírito Santo.E crucificado com Cristo aquele que fica constrangido quando peca.

E crucificado com Cristo aquele que tem prazer em dar prazer ao Espí

rito Santo.

E crucificado com Cristo aquele que não olha para os pecados dos ou

tros, mas para os seus.

E crucificado com Cristo aquele que se deixa conduzir pelas mãos de

 Jesus para a vitória da santidade.E crucificado com Cristo aquele em quem Cristo vive.

Cristo vive em você se a sua fé é nele e para ele, não em você mesmo,

não em alguma pessoa.

Cristo vive em você se você é cristão em tempo integral, não em tempo

parcial, quando está na igreja, quando está lendo a Bíblia.

Cristo vive em você se você aceita com a mente e com o coração que ele

morreu em seu lugar, embora você merecesse morrer e só não morreu por

causa do magnífico amor de Jesus que o substituiu.

Cristo vive em você, se você matou sua autossuficiência na cruz.

Cristo vive em você se você morreu com ele na cruz, tendo o seu pesco

ço quebrado, seu topete derrubado, seu coração de pedra trocado por um

coração de carne, seu orgulho mortificado, e sua vida agora conduzida por

 Jesus Cristo.3

Cristo vive em você se você se olha no espelho e diz “Cristo vive em

mim” ou dialoga com uma pessoa e tem a coragem de se expor assim:

“Cristo vive em mim”.

Cristo vive em você se é ele que toca a música que você toca. No ci

nema, quando um grande músico aparece tocando uma música, há um

truque: o ator aparece, mas é outra pessoa que toca, uma pessoa que sabe

'( í. 1*1PER, John. Do Not Nullify the Grace of God. Disponível emhttp:/ / www.desirin- od.orj»/ ResourceLibrary/ 8erm°ns/ ByScripture/ 7/ 380_I_Do_Not_Nullify_the_Gra-

i e ol Ciod/ . Acessado em 15/ 3/ 2011.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

tocar. Nós somos como esses atores: não sabemos música, mas, se formoshumildes e deixarmos o músico tocar, a melodia encantará o mundo.

• • •Posso eu cantar assim?

 Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive 

em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no Filho de Deus, 

que me amou e se entregou por mim.

Gálatas 2.20

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40 G á l a t a s   3.19-21

 Vivendo pela graça

 A graça é preciosa porque chama ao discipidado, e é graça por chamar  ao discipulado de Jesus Cristo; é preciosa por custar a vida ao homem,e é graça pon assim>dar-lhe a vida; épreciosa por condenar o pecado,e é graça por justificar o pecador. (...) A graça é graça sobretudo por  

 Deus não ter achado que seu Filho fosse preço demasiado caro a pagar  pela nossa vida, antes o deu por nós. A graça preciosa é a encarnação 

de Deus. A graça é preciosa por obrigar o indivíduo a sujeitar-se ao jugo do discipidado de Jesus Cristo. As palavras de Jesus: “O meu jugo é suave e o meu fardo é leve” são expressão da graça. (...) A graça e o discipidado 

permanecem indissoluvelmente ligados.1

Temos certeza de que Cristo quer viver em nós, mas podemos afirmar quetal desejo se cumpre em nós?

Estamos certos de que a graça é uma dádiva irrevogável de Deus {pois 

os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis — Rm 11.29), mas podemos

confirmar que estamos permitindo que este dom do nosso Senhor nos

envolva completamente?

Sigamos a argumentação inspirada do apóstolo Paulo:

'BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo, RS: Sinodal, 2001, p. 10 11.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Qual era então o propósito da Lei? Foi acrescentada por cansa das trans

gressões, até que viesse o Descendente a quem se referia a promessa, e foi 

promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador. Contudo, o mediador representa mais de um; Deus, porém, é um. Então, a Lei opõe-se 

às promessas de Deus? De maneira nenhuma! Pois, se tivesse sido dada uma 

lei que pudesse conceder vida, certamente a justiça viria da lei.Gálatas 3.19-21

 A carta de Paulo aos gálatas traz alguns pensamentos sobre a graça, os quais nos ajudam na compreensão desse mistério de Deus para

conosco. A graça de Deus náo é responsiva, mas proativa. Ela nos chama em di

reção ao seu Doador (G1 1.15). Paulo diz que aprouve (caiu bem a) ao Pairevelar-se (mostrar-se como é) nele. Nós somos responsivos, no sentido de

que, se alguém nos pede graça, somos capazes de oferecer, mas raramente

de tomar a iniciativa. O modelo da graça de Deus deve motivar nossa vida. A certeza de que ele vem ao nosso encontro deve nos inspirar. Vivamos

essa verdade. A graça de Deus se evidencia no fato de que ele nos resgatou da maldi

ção da lei por meio de Cristo (G1 3.13). A lei é a afirmação da competênciahumana. Ela estabelece regras, e nós as seguimos. Ela, portanto, não exigeconteúdo, mas apenas forma; não exige algo interior, mas apenas exteriori-

dade. Ora, no relacionamento com as pessoas e com Deus, esse mecanismo

não funciona. A intenção é essencial. Pior ainda: a lei exige coisa demais denós e oferece quase nada. Lei não tem nada a ver com religião, que é uma

relação homem-Deus e homem-homem. A lei parte de si mesma e terminaem si mesma. Ela se torna um peso sobre nós, que não conseguimos seguirtodas as suas regras. Assim, na verdade, a lei é maldição, gerando disputa,

autossuficiência, insegurança, medo e culpa. Alei, pois, só tem uma '‘virtu

de”: mostrar a nossa incompetência, servindo de aio, aquele escravo encarregado da educação de uma criança e responsável por afastar dela qualquer

estranho (3.24), para a graça. A graça de Deus nos justifica (G1 2.16). justificar não é tornar alguém

 justo, mas considerá-lo como justo. Um juiz humano, diante tia culpa.

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 V IV END O PE LA GR AC,'A 

condena, porque concluiu que o réu é culpado. Deus age diferentemente.

Eis o que Deus faz conosco em Cristo e por Cristo: ele sabe que somos cul

pados, mas, assim mesmo, quando aceitamos seu oferecimento de justificação, passa a nos considerar justos. A salvação, portanto, é a negação da lei.

Esta é uma ideia difícil de entendermos, porque a nossa mente é a men

te da lei, porque mente decaída. Em nossa mente, toda culpa tem que

ser expiada. Quando nós julgamos, não aprovamos, porque julgamos pela

 justiça. Deus, se nos julgasse pela sua justiça, também nos condenaria (G1

2.16, 3.11). Graças a Deus, é a sua graça que nos julga e justifica. Vivamos

essa verdade. A graça nos faz um (G1 3.28). A graça nos iguala na condição de filhos

de Deus (G1 4.5). No plano da graça, somos iguais quanto à condição

socioeconômica, quanto ao “nível de espiritualidade”, quanto à idade (não

mais júnior ou adulto). Todos temos o mesmo valor, já que todos éramos

merecedores de condenação (G1 6.3) e todos fomos alcançados. A graça

zerou nosso hodômetro.

 A  VIDA PELA GRAÇA 

Disso sabendo, como posso viver a graça?

 Viver pela graça demanda compreensão da graça e disposição de viver

por ela. Eis o que Paulo ensina.

1. Para viver a graça, preciso compreender a insuficiência da lei e a su

ficiência da graça.

 Vive pela graça quem se rende à suficiência dela. A lei nos mostra a sua

insuficiência e, por conseguinte, a suficiência da graça.Não é fácil aceitarmos a insuficiência da lei, que significa reconhecer

nossa insuficiência. Nós temos dificuldade em admitir que não valemos

nada para a salvação, Um momento! Não afirma a Bíblia que somos ima

gem e semelhança de Deus? Sim, somos, mas imagem-semelhança destruí

da. A lei é filha dessa construção demolida.

Por isso, Cristo destruiu a força da lei, ao nos justificar pelas regras da

graça. Quando acreditamos em nós mesmos (e não na graça operando em

nós), edificamos aquilo que Cristo destruiu (demoliu, como se demole umedifício).

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Em outros termos, para viver a graça, eu preciso me despojar da ideiade que eu posso me salvar, podendo me apresentar como bom diante deDeus. Ele me considera bom, embora eu não o seja. No outro extremo,eu preciso me despojar da ideia de que Deus não me pode salvar, porquenão há nada de bom em mim. Não há, mas ele considera que há (eis o queimporta).

De igual modo, para viver a graça, eu preciso crer na sua suficiência.Quando Paulo diz que podemos todas as coisas naquele que nos fortalece (Fp 4.13), está ensinando que a nossa força não reside naquilo quepodemos fazer, mas em confiar naquele que pode fazer em nós, para nós

e por nós. Não há poder em nossa oração; há poder naquele que a ouve.Não há poder em nossa fé; há poder naquele diante do qual nos rendemos pela fé.

Por ter a mente do Pai e confiar na sua graça, o Filho pôde dizer: Meu Pai, se for possível\ afasta de mim este cálice (Mt 26.39). Por ter amente do Filho, Paulo pôde aceitar: Minha graça é suficiente para você (2Co 12.9).

2. Para viver a graça, preciso me crucificar. Vive pela graça quem se

deixa matar na cruz, com Cristo. A graça está disponível na cruz, por iniciativa de Deus. Eu preciso ir

até lá e me crucificar também. Para que ela me alcance, não posso apenascontemplá-la; eu preciso ir até lá.

Crucificar-se é morrer para a lei, dispor-se a permitir que a velha natureza humana (a velha natureza que impede que desfrutemos da graça) nãotenha domínio sobre nós.

Crucificar-se é desistir de fazer aquilo que Deus já fez. A lei diz que

devemos continuar insistindo, com uma intenção: culpar. Crucificar-se édeixar lá toda a culpa. Guardemos na memória a seguinte verdade: a principal virtude da graça é nos libertar da culpa.

Somos o filho rebelde da parábola do filho pródigo, o qual Deus aceit;iEmbora nenhum de nós seja Deus, a disposição dele em nos aceitar deveser o nosso padrão.

 Assim, no plano relacionai, eu preciso me despojar da ideia de que posso viver segundo as regras da lei, tanto para mim quanto para os outros. Aliás,em relação ao outro, eu, que quero graça, preciso ser gracioso.

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 V IV END O PE LA G RA ÇA 

3. Para viver a graça, preciso permitir que Cristo viva em mim.

Quando me deixo crucificar com Cristo, eu me torno íntimo dele. Eu

me torno íntimo de Cristo, quando me esvazio de mim mesmo. Quando estou cheio de mim, eu sou íntimo de mim mesmo, eu adoro a mimmesmo.

No entanto, quando me identifico com ele, permito que viva por meu

intermédio. Se ele vive por mim, para que ficarei ansioso? Não é o meudesejo que vive; é o desejo dele. Não são os meus valores que importam;

são os dele. Permitir que Cristo viva em mim significa identificar-me como Cristo da cruz.

Há um raciocínio infeliz, feito pelos adversários da graça, nos seguintes termos; “Se Deus é graça, estamos livres para pecar”, como adverte

o próprio apóstolo Paulo (Gl 5.13), pois que é antigo esse raciocínio

infeliz. Quem pensa assim não entendeu o que é a graça, este viver de

Cristo em nós. Tais pessoas anulam a graça. Graça não é indulgência

(perdão antecipado) para pecar. Uma vida cheia de graça não tem prazerem pecar.

Permitir que Cristo viva em mim significa deixar o meu “eu” lá, ondeCristo foi crucificado, para ser controlado por ele. O que aconteceu com

o corpo de Cristo? Foi tirado da cruz, levado para o túmulo e ressuscitado.

 Jesus perdeu o controle sobre o seu corpo. Quando nos deixamos crucificar, perdemos o controle sobre nós mesmos. E Cristo, pelo seu Espírito

Santo, que nos controla. O controle do Espírito Santo não é controle de

lei, é controle de graça.

• • •

 A graça nos leva a um novo tipo de relacionamento com Deus. A graça

nos alcança, e tem início um novo tipo de espiritualidade, quando damos

permissão para que ele, por meio do Filho e do Espírito, viva em nós.Quando ele vive em nós, somos alcançados por um novo tipo de con

fiança nele, marcada pelo descanso. Passamos a descansar no poder de

Deus. Só quando Cristo vive em nós, a graça nos basta.

Como conseqüência do viver de Cristo em nós, podemos adentrar umnovo tipo de relacionamento humano, baseado na graça.

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41  G á la ta s 4.19

 As paixões de um cristão

Se não aprendemos a ser adoradores, qualquer coisa que façamos não 

importa. Ou a adoração nos muda ou não é adoração. Estar diante 

daquele que é o Santo da eternidade é mudar. A adoração começa em 

santa expectativa e termina em santa obediência. ’

Eis como um pastor deve se sentirdiante da igreja que dirige: padecendo

dores como que de parto para que ela nasça ou se desenvolva de modo

saudável.

Eis como cada membro deve se sentir em relação aos outros participam

tes da igreja: experimentando dores como que de parto para que eles se

desenvolvam de modo saudável.

 Meus filhos, novamente estou sofrendo dores de parto por sua causa, até que 

Cristo seja formado em vocês.

Gálatas 4.19

Este versículo é a mais completa expressão de como Paulo amava seus

irmãos em Cristo da região da Galácia. O apóstolo chama carinhosamente

'LUTZER, Erwin. Disponível em <http:/ / christian-quotes.ochristian.com>. Acessado 

em 30/ 7/ 2011.

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 AS PAIXÕES DE UM CRI STÃ O

os gálatas de “meus bebês”, “meus nenezinhos”. Ele os amava como uma

mãe ama o bebê ainda no ventre, ansiosa para sofrer as dores do parto.

Ele desejava que esses bebês crescessem até se tornarem maduros espiritualmente.

 A expressão universal, no entanto, dessa atitude paulina se encontra no

seu desejo de ver “Cristo formado” nos cristãos. Entender o que significa

tal expressão é essencial para que compreendamos a natureza da vida cristã.

Pr ecisamo s c re r   n a gra ç a

O apóstolo Paulo fora o instrumento empregado pelo Espírito Santo paralevar o evangelho de Jesus Cristo às igrejas da Galácia, que não é uma cida

de, mas uma região na macrorregião conhecida como Ásia Menor.

Não sabemos as circunstâncias, mas Paulo lhes anunciou o Reino de

Deus por causa de uma enfermidade física que, possivelmente, o manteve

por mais tempo na região. Enquanto lá estava, fez o que o seu ardor mis

sionário determinava: ocupou-se em pregar.

 As respostas foram amplas, trazendo muitas alegrias ao coração do pre

gador. Paulo seguiu seu caminho e, algum tempo depois, recebeu notícias

muito desagradáveis: os gálatas estavam preferindo abrir mão da graça de

Deus para ficar com a lei dos judeus. Seus filhos na fé não estavam permi

tindo que a plenitude de Cristo fosse uma verdade para eles; antes, como

pode acontecer com os cristãos de todos os tempos (do nosso inclusive),

estavam se ocupando em organizar sua vida em torno das exigências da lei.

0 resultado era a tragédia do predomínio da carne. Então, Paulo arranca

de dentro do peito o seguinte lamento:

Será que vocês são tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, querem 

agora se aperfeiçoar pelo esforço próprio?

Gálatas 3.3

Cristo começa em nós como um embrião, que precisa se desenvolver.

1 lá muitos cristãos que preferem seguir o exemplo dos gálatas, e não o dePaulo, lemos impedido que Cristo se torne pleno em nós porque temos

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

desistido de lutar contra a carne (isto é, contra a nossa natureza original...).

Há cristãos que acham ser correto bater quando apanham... Há cristãos

que nutrem o pensamento de amar apenas quando são amados... Há cristãos que receberam Cristo, mas nunca se importaram em permitir que ele

formasse o seu corpo... Há cristãos para quem Cristo é um feto morto no

seu interior...

Há cristãos se aperfeiçoando na carne, seja no legalismo, seja no ci

nismo, que são duas formas de apequenar ou mesmo apagar a graça. O

legalista descrê da graça ao pôr toda a força na lei, certo de que o mundo

será perfeito quando todos a seguirem. O cínico descrê da graça ao torná-la

irrelevante por meio de uma conduta moralmente reprovável.

Nós precisamos crer na graça.

Pa ixões em l u t a

Crer na graça, vivendo com ela e por ela, é ser de Jesus. E de Jesus quem

crucifica a carne, com suas paixões e concupiscências, que são aqueles de

sejos mais fortes do que nós (G1 5.24). É quem anda no Espírito, que é o

único meio de não satisfazer os desejos da carne (G1 5.16).

Não podemos ser otimistas nem pessimistas em relação a nós mesmos.

Nós temos prazer na graça de Deus, mas, ao mesmo tempo, temos a ten

dência de nos divertirmos no pecado. Por isso, temos que nos perguntar:

quem nos livrará dessa realidade? A pergunta se responde com uma ex~

clamação: Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor! Graças a Deus

porque, embora nossa carne seja escrava da lei do pecado, na verdade nós

somos escravos da lei de Deus; isto é, a lei de Deus escrita e inscrita em

nós nos impulsa para a vida no Espírito (Rm 7.22-25).

Essa é a nossa esperança, inaugurada quando Deus firmou conosco a

sua aliança. Ele cunhou a sua lei em nossa mente e a introduziu em nosso

coração (Hb 8.10a).

Mesmo assim, nossa carne milita contra o Espírito, mas o Espírito de

Deus em nós luta contra a carne, porque eles são opostos entre si, para

que não façamos o que o próprio Espírito nos move a querer (G1 5.17). (>Espírito de Deus nos convida a novas paixões.

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 A S PA IXÕES DE UM CRISTÃO

No seu admirável O lugar mais seguro da terra, Larry Crabb expõe qua

tro paixões.2Vou acrescentar mais uma.

1. O Espírito nos convida à paixão por adorar. Ele sabe, e nós o sabemostambém, que o natural em nós é a paixão por exigir, de nós mesmos, do

outro e de Deus.

 Adorar é estar à vontade diante de Deus, reconhecendo-o como o Se

nhor de nossa vida e exaltando todas as suas qualidades. O perdão de nos

sos pecados nos habilita a sentir o desejo de viver para o louvor da sua

glória (Ef 1), contra o desejo de exigir. É o desejo de adorar que nos deve

levar ao culto público, como um momento de celebração do poder deDeus. E o desejo que culmina com expressões como estas: Como é agradá

vel o lugar da tua habitação, Senhor dos Exércitos! A minha alma anela, e até 

desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e o meu corpo cantam de alegria 

ao Deus vivo (SI 84.1-2).

O Espírito nos convida a entrar na presença de Deus e contemplar

a sua majestade, sem esperar nada dele como se fosse um empregado

nosso.

O Espírito nos convida a pararmos de exigir de nós mesmos e nos acei

tarmos como a obra-prima da criação de Deus.

O Espírito nos convida a celebrar no outro as suas qualidades. Quando

escrevia esta mensagem, cujo tema estava anunciado no boletim domini

cal, eu recebi um telefonema, e amorosamente a pessoa me disse:

— Eu sei que Deus está abençoando você e sei também que Deus já está

abençoando outras pessoas que por sua vez, vão abençoar outras!

Quem me telefonou é uma pessoa que tem paixão por adorar. Ela estavaansiosa para que chegasse o domingo. Ela estava vendo em mim o poder de

Deus atuando. E ela disse o que sentia.

2. O Espírito nos convida à paixão por confiar. Ele sabe, e nós o

sabemos também, que o natural em nós é a paixão por controlar, con

trolar as circunstâncias, controlar a nós mesmos e controlar os outros.

■’(.'RABB, Larry. O lugar mais seguro da terra. São Paulo: Mundo Cristão, 2000.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

É natural em nós “confiar nos recursos que recebemos para fazer da vida

o que queremos”.1

 A raiz do pecado é a secreta desconfiança de que Deus não é bom.1Nosso problema é, no fundo, desconfiar de que Deus não é tão grande

quanto na verdade é. Temos grande dificuldade em aceitar a soberania de

Deus, sobre a história geral e sobre a nossa história em particular. No fun

do, adoramos um deus-relojoeiro, que deu as cordas para que o mundo se

 virasse sozinho.

Confiar, na bela definição do salmista, é entregar. Só entrega quem con

fia. Nós precisamos entregar a Deus as nossas ansiedades, mas para fazê-lo,

precisamos confiar nele, confiar que ele é bom. E como é difícil! Só o conseguimos porque temos uma nova identidade: nós somos de Jesus. Esta é

a aliança que o Pai firmou conosco: Serei o seu Deus, e eles serão o meu povo 

(Hb 8.10b). Ele é o nosso Deus, e nós somos o seu povo.

3. O Espírito nos convida à paixão por crescer. Ele sabe, e nós o sabe

mos também, que o natural em nós é a paixão por definir. Nós ficamos

desesperados quando não conseguimos explicar um assalto, um desempre

go, uma traição, uma enfermidade. São tragédias reais, que nos alcançamindependentemente de nossa vontade ou de nossa ação.

O fardo é insuportável e se torna ainda maior quando associado à culpa.

 Ao seguir a nós mesmos, acabamos fracassando e mergulhando em mais

culpa. Parece que nos esquecemos de que, em meio à pressão, não somos

capazes de tomar as melhores decisões. Parece tão óbvio, mas nos esquece

mos de que pressão gera pressão, ódio gera ódio, violência gera violência.

Diante das dificuldades, que ele chama de provações, Tiago nos reco

menda o caminho do crescimento: Meus irmãos, considerem motivo degran de alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que <t

prova da sua fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, 

a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma. Sr  

algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremen 

te, de boa vontade; e lhe será concedida (Tg 1.2-5).

'CRARB, Larry. O lugar mais seguro da terra. Sáo Paulo: Mundo Cristão, 2000, p. I l(>CHAMBERS, Oswald. Citado por CRABB, Larry, loc. cít.

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 AS PA IX ÕES DE UM CRISTÃ O

Tiago, então, nos convida a desenvolver três atitudes concretas:

• gratidão a Deus por estar passando por dificuldades, não queixume,não “oh, como é que Deus deixou que isto acontecesse comigo”;

• crescimento em direção a Deus, confirmando a fé que ele já pôs em

nós, sabendo que, por meio das dificuldades, seremos aperfeiçoados

e experimentaremos a integridade moral, emocional e espiritual;

• busca da sabedoria, vinda de Deus, para saber lidar com as dificulda

des, para superá-las espiritualmente, mantidas ou retiradas de nós. A

nossa sabedoria, posta em prática, gerará mais tribulação. A sabedo

ria dada por Deus nos fará crescer, tornando-nos mais semelhantes a

Cristo. Nós precisamos que o caráter de Cristo forme o nosso.

4. O Espírito nos convida à paixão por obedecer. Ele sabe, e nós o sa

bemos também, que o natural em nós é a paixão por realizar as coisas do

nosso jeito, mesmo que tenhamos que colocar no balcão para vender os

 valores de Deus.

O nosso jeito é o grito. O nosso jeito é o jeitinho. O nosso jeito não éo jeito de Deus. O nosso jeito tem um nome: pecado, porque baseado no

mais deslavado egoísmo. Do nosso jeito está errado, e como é duro admitir

que nossas intenções boas, na verdade, são filhas da carne.

Imaginemos o seguinte diálogo numa dupla de oração, em que você se

põe no lugar de quem está com problema e pede a intervenção de Deus.

-—Já estudei todas as alternativas e não vejo como uma delas possa dar

certo. Tenho feito o esforço máximo, mas sinto que as coisas não dependem de mim.

-— Você está disposto a deixar Deus tomar conta disso e fazer do jeito

dele?

Pondo-me no lugar, qual seria a minha resposta? Pondo-se no mesmo

lugar, qual seria a sua resposta? Estamos deixando Deus fazer as coisas,

abrindo mão de nossa paixão por realizar?

Estamos dispostos a viver conforme a palavra do povo a Jeremias?Quer seja favorável ou não, obedeceremos ao Senhor, ao nosso Deus, a quem 

o enviamos, para que tudo vá bem eoriosco, pois obedeceremos ao Senhor, ao

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

nosso Deus  (Jr 42.6). Acreditamos que, obedecendo, tudo correrá bem

para nós?

Estamos cientes de qual é a nossa escolha: Não sabem que, quando vocês se oferecem a alguém para lhe obedecer como escravos, tornam-se escra

vos daquele a quem obedecem: escravos do pecado que leva à morte, ou da 

obediência que leva à justiça? (Rm 6.16). Queremos ser aceitos por Deus?

Obedeçamos à sua voz.

Os cristãos somos aqueles que, embora andando na carne (no sentido

de vivermos a nossa natureza decaída), não militamos segundo a carne,

isto é, não temos prazer em seguir as suas inclinações. Para tanto, preci

samos do poder de Deus em nós, poder capaz de destruir fortalezas. Des

truímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento 

de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo 

(2Co 10.4-5).

5. O Espírito nos convida à paixão por compartilhar. Ele sabe, e nós o

sabemos também, que o natural em nós é a paixão por reter.

Os mais vividos se lembram do modelo econômico implantado nos

anos 70, segundo o qual era preciso fazer o bolo da riqueza nacional cres-

cer para depois distribuí-lo. Todos sabemos que até hoje esse bolo não

foi distribuído. No plano pessoal também é assim. Se esperarmos até que

tenhamos o suficiente para então repartir, nunca repartiremos. Sempre

precisamos de mais.

Se esperarmos até que sejamos santos o suficiente para impactar os ou

tros com a nossa santidade, nunca o faremos. Se esperarmos até que <»

caráter de Cristo esteja completamente formado em nós para que entãoexalemos este perfume, nunca o faremos.

 Assim como somos, devemos levar as cargas uns dos outros, em obedi

ência à lei da graça de Cristo (G1 6.2). E se o fizermos, demonstraremos

que estamos crescendo. Os egoístas crescem para dentro. Os altruístas,

porque turbinados pelo Espírito Santo, crescem em direção à estatura il<

Cristo (Ef 4.13).

Quando se manifesta em nós a paixão por compartilhar, sentimos,como Paulo, as dores de parto pela formação de Cristo no outro. É desse

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 AS PA IXÕES DE UM CRISTÃ O

modo, não apenas adorando, que a igreja pode ser a comunidade criada

por Deus para a formação de Cristo em nós.

• • •

Nós recebemos o oferecimento de sermos revestidos (novamente vestidos)

do Senhor Jesus Cristo, para que não nos disponhamos a viver segundo as

paixões de nossa carne, isto é, de nossa inclinação natural (Rm 13.14), mas

para a adoração, para a confiança, para o crescimento, para a obediência,

para o compartilhamento.

Neste caminho de santidade, precisamos nos lembrar de que “nenhumelemento da dinâmica da carne pode ser melhorado. Eles podem ser iden

tificados, mas só para ser abandonados, odiados, mortificados, jamais con

sertados ou socializados. A verdadeira transformação rumo à dinâmica do

Espírito depende de ajuda externa, e essa ajuda já foi dada”squando fomos

tornados filhos de Deus.

Quem vive segundo a carne tem a mente voltada para o que a carne deseja; mas quem vive de acordo com o Espírito, tem a mente voltada para o que 

o Espírito deseja. A mentalidade da carne é morte, mas a mentalidade do 

 Espírito é vida e paz; a mentalidade da came é inimiga de Deus porque 

não se submete à lei de Deus, nem pode fazê-lo. Quem é dominado pela 

carne não pode agradar a Deus.

 Entretanto, vocês não estão sob o domínio da carne, mas do Espírito, se de 

 fato o Espírito de Deus habita em vocês. E, se alguém não tem o Espírito 

de Cristo, não pertence a Cristo. Mas se Cristo está em vocês, o corpo está 

morto por causa do pecado, mas o espírito está vivo por causa da justiça. E, 

se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vocês, 

aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos também dará vida a seus 

corpos mortais, por meio do seu Espírito, que habita em vocês.

 Portanto, irmãos, estamos em dívida, não para com a carne, para vivermos 

sujeitos a ela. Pois se vocês viverem de acordo com a carne, morrerão; mas,

’('RABB, Larry, <>p. cit., p. 146.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

se pelo Espírito fizerem morrer os atos do corpo-, viverão, porque todos os que 

são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Pois vocês não recebe

ram um espírito que os escravize para novamente temer, mas receberam o 

 Espírito que os adota como filhos,por meio do qual clamamos: “Aba, Pai ”

O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus.

Romanos 8.5-16

Nós temos o poder do Espírito Santo. Cristo pode ser formado em nós.

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42  GÁLATAS 6 .17

 As marcas de Jesus

O evangelho muda aquilo do qual me orgulho. Elemuda toda 

a base da minha identidade. Então, nada no mundo inteiro tem poder  

sobre mim. Eu sou enfim livre para desfrutar o mundo, pois eu não 

preciso do mundo. Não me sinto inferior a ninguém nem superior a 

alguém. Eu estou sendo transformado em alguém 

e em algo inteiramente novo.1

O apóstolo Paulo termina sua carta aos gálatas com um lamento:

Sem mais, que ninguém me perturbe, pois trago em meu corpo as marcas 

de fesus.

Gálatas 6.17

Claro, pensei: Paulo falaria comigo assim? Se eu estivesse anulando a

graça, sim.

Perturbo Paulo?

Perturbo-o, distraindo sua atenção com as minhas práticas?

Perturbo-o, pedindo-lhe que se ocupe com assuntos já resolvidos?

1K1■’I T i m . Citado por BUMGARNER, Todd. The Marks of Jesus. Disponível em lmp:/ / lilog.2pilkirschurch.com/ tag/ rnarks-of-jesus. Acessado em 29/ 7/ 201 1.

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PASTORE AD OS POR PAUI.O — VO L. 1

Fa l a , Pa u l o :

Paulo diz:— Não me venha com legalismo.

Eu sei que o legalismo pressupõe que o meu comportamento me torna

aceitável para Deus. Legalista, olho para o ladrão na cruz pedindo graça

e lhe digo: agora, depois de tudo o que você fez? Você não merece. Mas o

que Jesus lhe diz: Hoje você estará comigo no paraíso (Lc 23.43). Gemo: que

absurdo. A graça tem uma lógica absurda, mas é a única que funciona. A

lógica da lei me dá a falsa sensação de que sou bom, até o próximo pecado

me mostrar quem eu sou. E dura a luta contra o legalismo, que está no

meu DNA, depois que o meu pecado primeiro me corrompeu. Por causadesse DNA corrompido, fixo meus olhos no mérito: anulo a graça, tornan

do inútil o sacrifício de Jesus na cruz, ao fazer os meus, mas os meus sacri

fícios não me salvam; só os do Salvador. Por isso, Paulo me grita: não me

perturbe com o seu legalismo. Você não é merecedor da bênção de Deus

porque é obediente. Bênção não é conquista; é graça. Mereço ouvir isso?

Paulo diz:

— Não me venha com práticas que me afastam do evangelho.

Eu sei que circuncisão não é mais uma exigência espiritual. Circuncisão

é para os descendentes biológicos de Abraão. Festas judaicas são só para

 judeus. Liturgias judaicas são só para judeus. Sábado é só para judeus.Para eles, fazem sentido. Até para cristãos judeus, fazem sentido. Para cris

tãos brasileiros, não fazem. A linda estrela de Davi não é para entrar nos

templos cristãos. Chifres (shofar) não são para a liturgia cristã. As regra.s

do Levítico não são para os cristãos, que devem conhecê-las e aplicar seus

princípios. O espírito da lei continua vivo. A letra da lei deve morrer, paraque a graça de Cristo brilhe. Tenho vivido de modo a merecer o lamento

paulino?

Depois de pedir aos gálatas que não viessem com legalismo e com

práticas que o afastassem do evangelho, o apóstolo Paulo parece tani

bém rogar:— Não me venha com críticas que me entristeçam.

Imagino que Paulo tenha pensado nas palavras corajosas de Neemias,quando disse aos críticos que estava fazendo uma grande obra e que não sc

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 AS MA RC A S DE JESUS

desviaria. Ele estava ocupado com uma mensagem por demais poderosa. Se

desse ouvidos às críticas, náo levaria a cabo a sua missão.

Quantos, tristemente, paramos de servir a Deus porque reprovados pelos homens, embora aprovados por Deus!

Então, o apóstolo apresenta a sua credencial (contra o legalismo, contra

o antievangelho, contra as críticas):

— Eu trago em meu corpo as marcas {stigmata> em grego) de Jesus.

Que marcas são estas?

 A palavra marca (stigma, no singular, e estigmata, no plural) só aparece

aqui em todo o Novo Testamento. Na cultura antiga, stigma era uma marca

feita no corpo, geralmente de um escravo, indicando de quem era propriedade. No Oriente antigo, escravos e soldados portavam o nome ou o selo do

dono ou comandante militar a quem pertenciam ou estavam ligados. Em

suas cartas, Paulo se apresenta como escravo (doulos) de Jesus.

Também naquela época, havia devotos que estampavam em seus corpos

os símbolos dos seus deuses. Paulo certamente não fez isso, por ser expres

samente proibido no Antigo Testamento, sobretudo em Levítico 29.28,

que condena tatuagens mortuárias ou em honra aos deuses.Essas marcas eram físicas, com cortes no corpo.

No caso de Paulo, eram certamente marcas espirituais. Seriam tais mar

cas os sofrimentos enfrentados pelo apóstolo por causa de sua proclamação

do evangelho de Jesus Cristo (2Co 11.16)? Paulo diz que ele não tinha

qualquer credencial; então, menciona algumas delas, para lhes negar qual

quer valor.

Essas marcas são as características de Jesus impressas como marcas (stig-mata) espirituais na vida de Paulo.

 As marcas que Pauio trazia no corpo são as marcas de Jesus, que são

muitas, mas podemos nos concentrar em três apenas:

 A MARCA DA AUTONEGAÇÂO — O apóstolo queria para si e para

nós o que sugeriu aos filipenses: Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo 

 Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a 

que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se 

semelhante aos homens (Fp 2.5-7). O, Senhor, imprima as marcas da auto-negação de Jesus em nós.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

 A MARCA DA SANTIDADE — Hebreus 7.26 resume magistral

mente quão santo foi Jesus Cristo:  E de um sumo sacerdote como este que 

precisávamos: santo, inculpável, puro, separado dos pecadores, exaltado acima dos céus.  Exceto a exaltação acima dos céus, precisamos ter impressas essas

marcas típicas de Jesus: santos, inculpáveis, puros e separados dos pecadores.

O, Senhor, imprima as marcas da santidade de Jesus em nós.

 A MARCA DA COMPAIXÃO — O mesmo autor de Hebreus fala

de outra marca de Jesus, que é cheio de compaixão e misericórdia para

conosco (Tg 5.11): Portanto, visto que temos um grande sumo sacerdote que 

adentrou os céus, Jesus, o Filho de Deus, apeguemo-nos com toda a firmeza àfé que professamos, pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer- 

se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de 

tentação, porém, sem pecado (Hb 4.14-15). Ó, Senhor, imprima as marcas

da compaixão de Jesus em nós.

• • •

Essas marcas são vistas em nós?

Sim? Então enfrentamos incompreensão, a começar em nossa própria

casa. A incompreensão é um teste para o discipulado. Se nosso estilo de

 vida não incomoda ou provoca admiração, não somos discípulos. Não há

discipulado sem sofrimento. Sofrimento que varia no tempo e no espaço.

Sim? Então temos um senso de urgência em nossa missão. Como temos

mais o que fazer, não nos perdemos em assuntos sem importância.

Sim? Então vivemos na perspectiva do ínterim. Não vivemos agarrados

demais aos cuidados desta vida.Sim? Então vivemos no compasso da graça.

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LIVRO IV

Paulo pastoreia os efésios

“Pus meus olhos nas muralhas da sublime Babilônia (na qual há uma estrada para carruagens, a estátua de Zeus feita por Alfeu e os jardins suspen

sos), no colosso do Sol, na extraordinária enormidade das altas pirâmides,

no vasto túmulo de Mausolus, mas quando vi a casa de Artemis, voltadapara as nuvens, as [outras maravilhas] perderam seu brilho e eu disse:

— Oh, além do Olimpo, o Sol nunca viu algo tão bonito!” (Antípatro

de Sídon — Antologia Grega, LX.58 — ao fazer a lista das Sete Maravilhas

do Mundo Antigo, no ano 140 a.C.)1

En t r e v i s t a  im ag i n á r i a  c o m  o  a pó s t o l o  Pa u l o   (4) • Ef é s i o s 

Paulo, imaginariamente provocado, comenta o contexto de sua epístola

aos efésios.

ENTREVISTADOR— Toda vez que leio sua oração, no começo da cartaaos efésios, eu perco o fôlego.

PAULO — Eu também. Eu estava pensando no templo à deusa Diana,em como as pessoas adoram um ídolo. Então fechei os meus olhos e con

templei a grandeza de Deus, o Deus de Abraão, Isaque, Jacó, Moisés, Davie Pai de Jesus Cristo. E como se estivesse de joelhos diante dele, desejando

que todos adorassem o verdadeiro Deus, vivendo para a alegria de dar

glórias a ele.

'ANTÍPATRO DE SÍDON. Disponível em http:/ / wvvw.mlahanas.de/ Greeks/ Tcmpks/  

 ArtcmisKphesusTcmple.htm 1.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

ENTREVISTADOR — Li sua carta e fiquei meio sem saber o que pensarquando o senhor fala do casamento e da igreja ao mesmo tempo. Parece

que o senhor fala da igreja, mas fala da esposa, e vice-versa.PAULO — Quem lê as minhas cartas sabe que, de vez em quando, eu

abro um longo parêntesis para comentar um tema correlato. O evangelhoé relacionamento. Não adianta eu crer bem e me relacionar mal. É o que

diz o nosso irmão Tiago: sem obras, a fé é morta. E como no casamento:

o amor pode ser dito, mas precisa ser vivido. Penso na igreja como a noivade Jesus. Penso na esposa como a igreja. Jesus Cristo é o Senhor da igrejae da família. O casamento não é o que deveria ser. A igreja não tem sido o

que deveria ser. Por isso, escrevi sobre o casamento e também escrevi sobrea igreja. O líder de ambos é o mesmo. Tudo o que eu falei sobre o casamento eu falo sobre a igreja. Tudo o que falei sobre a igreja eu falo sobreo casamento.

ENTREVISTADOR — Também notei que a carta tem um tom pouco

PAULO — Escrevi esta carta há pouco tempo aqui mesmo. Preso, tenho tido pouco contato com meus irmãos efésios. Há dez anos estive lá.O pouco que eu sei me deixou animado e à vontade para as minhas preo

cupações: a majestade de Deus, a graça da salvação (oh, sim, a salvação épela graça), a mutualidade nos relacionamentos em casa e no trabalho, asantidade e a força que vem do Espírito Santo para nos proteger na vida.

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Efésios 1.3-14

Toda sorte de bênçãos

Se alguém já teve a boa sorte de encontrar um santo vivo, 

esse alguém terá, então, encontrado uma pessoa de todo singular. 

 Embora as suas visões possam ser extraordinariamente semelhantes, 

a personalidade dos santos é muito diferente. Essefenômeno é devido 

ao fato de que eles se tornaram completamente eles mesmos. Deus 

cria cada alma diferente, de modo a que quando o lodo seja, afinal, 

removido, a sua luz brilhará através da pessoa em um padrão belo, 

colorido e totalmente distintivo.J

Quando procuramos nos apresentar diante de Deus de modo irrepreen

sível, pedindo que remova de nós o que o leva a se afastar de nós, começa

mos a entender que o sentido da vida está em louvar a Deus, celebrando

a glória.Certamente não temos dificuldade em pensar que nossa vida aqui deve

ser experienciada na antecipação de um tempo quando o Deus escondido

se tornará o Deus evidente. O Deus que parece encoberto pelo silêncio e

pelas trevas se tornará o Deus da glória, com eloqüência e brilho. A sua

glória, quando Cristo reinar de modo absoluto, será tal que todos a verão

'l*K( 'K, M, Scott. O povo da mentira. Rio dc Janeiro: linago, [>. 31*).

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PASTOREA D OS POR PAULO — VOL. 1

e todos lhe baterão palmas e todos lhe entoarão as mais belas canções de

amor.

Nossa dificuldade é como viver hoje para o louvor da glória de Deus.Paulo, por exemplo, vivia aquilo que pregava? Tanto quanto nós, ele dese

 java viver para louvar a glória daquele que deu sentido à sua vida.

D e u s  é  a q u e l e  q u e   n o s a l c a n ç a  c o m   t o d a

SORTE DE BÊNÇÃOS

Por esse conjunto de operações em nosso favor, devemos bendizer o Deus e

Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, especialmente porque ele nos tem aben

çoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo

(Ef 1.3).

Há um conjunto de bênçãos, que podemos ver como plurais, mas que

são uma só, expressa em vários sinônimos. Nessa seção (Ef 1.1-23), que

se constitui num dos mais lindos e profundos poemas em prosa de toda a

Bíblia, o apóstolo Paulo descreve a excelência do ministério de Jesus Cristo

em nosso favor. Esse texto é mais uma evidência do desejo divino máximo:

que todos os homens se salvem a partir do conhecimento da verdade revelada (ITm 2.4).

Deus nos abençoa com todo tipo de bênçãos espirituais nas regiões ce

lestes em Cristo. Essa expressão quer dizer que todas as bênçãos concedidas

por Cristo são espirituais, no sentido de que abarcam todas as dimensões

da vida, inclusive aquelas que classificamos como materiais. Tudo que pro

 vém de Cristo é espiritual, seja no piano eclesiástico, no plano financeiro,

no plano biológico ou no plano moral. Tais bênçãos são espirituais porque-nascem nas regiões celestes (isto é, no mundo espiritual), onde não en

tram as coisas próprias da natureza humana, e nos alcançam aqui, onde

por enquanto vivemos. Essas bênçãos são espirituais também porque não

podem ser medidas por parâmetros naturais, senão espirituais. Compre

enderemos plenamente a natureza delas quando estivermos habitando nas

regiões onde são concebidas pelo Espírito de Deus.

Podemos enumerá-las, priorizando aquelas que são o fôlego de noss;i

 vida.

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TODA SORTE DE BÊNÇÃOS

1. A primeira é a própria graça de Deus

Contra toda a lógica da justiça dos homens, mas coerente com a lógica do

direito do Reino de Deus, a redenção (Ef 1.4) — que é o ato de Deus nostirar do império do medo — não custou nada aos homens, embora tenha

custado a vida do próprio Deus em Cristo. Esse projeto divino, com sua

dramática realização, em que Jesus pagou o preço do resgate — sua própria

 vida — ao seqüestrador de nossa vída, aquele que veio para roubar e matar,

tem um nome: graça.

Cristo é o ponto final da revelação de Deus. Por meio dele, o amor, que

a alguns podia parecer vago (apesar da Páscoa, do deserto e da conquista),

tornou-se absolutamente completo. Ele veio na plenitude dos tempos. Ofoco da história é Cristo.

(Isso quer dizer que ele veio na hora que a Trindade julgou a mais propí

cia para que o “espetáculo” da cruz fosse realmente mundial, como de fato

aconteceu em função das condições geográficas, políticas e econômicas do

primeiro século da era depois denominada cristã.)

E como é triste que tantas pessoas se afundem na tristeza, algumas tirando

a própria vida, por falta de graça no seu presente e no seu futuro! Um dia desses soube que um médico bem-sucedido, que tantas vidas salvara com suas

cirurgias, pôs fim à sua própria existência, para surpresa de todos. Comparei

o seu gesto com o de outros que conheço. Porque salvos e sustentados pela

graça, suportam dolorosos espinhos na carne (e eu me refiro especialmente

a pessoas que portam doenças graves por longo tempo). Não só estão vivos,

como lutam contra a enfermidade e agradecem diariamente a Deus cada

bênção recebida, mesmo que só eles ou os mais próximos percebam. Dife

rentemente, aquele era um homem que ainda não se deixara alcançar pela

graça, graça que Jesus fez jorrar, a partir da cruz, sobre todos os que a acei

tam. Em sua sabedoria, Deus sabia que esta era (e é) a única forma que tinha/

tem para alcançar os seres humanos, mas ele o fez (e faz) com prudência,

isto é, com o cuidado de considerar a vontade humana. Este é o único lugar

onde ele não entra sem permissão: o coração. A graça é para todos... os que

;i aceitam. Deus não a barateia, fazendo com que jorre indistintamente para

os que a querem e para os que não a querem. Ele não lança sua pérola (sim,.1 salvação é uma pérola de grande valor) aos porcos (Mr 7.(>).

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

 Ao nos redimir, Deus revelou o mistério de sua vontade, isto é, ele

deixou bem claro o seu propósito de modo a não haver qualquer dúvida

acerca do seu desejo. A cruz foi a demonstração pública da vontade deDeus. Diante dela resta aos homens dobrar os seus joelhos. Se essa vontade

parecia escondida, a encarnação (nascimento, vida, morte e ressurreição)

de Jesus Cristo foi/ é a mais completa publicação do seu conteúdo.

Somos, então, alcançados com, pelo menos, quatro outros tipos de bên

çãos espirituais, e porque espirituais, só inteligíveis e desfrutáveis por quem

é espiritual. Eis o que diz de nós o apóstolo Paulo:

nosso Senhor Jesus Cristo (...) nos escolheu nele antes da criação do mundo,para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. Emamor nos predesti

nou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo, conforme o 

bom propósito da sua vontade, para o louvor da sua gloriosa graça, a qual 

nos deu gratuitamente no Amado.

Efésios 1.3-6

2. A segunda bênçãoé o fato de termos sido adotados por   Jesus Cristo

Quando aceitamos essa graça, somos adotados como filhos de Deus. Ser

mos adotados significa que não somos mais órfãos. Quando dominados

pelo pecado, temos um senhor. Este senhor foi destronado e não tem mais

domínio sobre nós. Tínhamos um senhor.

O instituto divino da adoção pode ser melhor entendido se comparado

às cenas de um resgate de duas senhoras seqüestradas no interior de São

Paulo (em março de 2002). Elas foram encontradas amarradas e amorda

çadas numa floresta. Resgatadas pela polícia, foram levadas de helicóptero.

 A chegada foi acompanhada de lágrimas. Elas chegaram a casa. Finalmente

elas tinham voltado para casa. Houve um hiato, certamente ainda com

muito sofrimento, entre o tempo em que foram libertadas e o tempo em

que voltaram para o lar. Foram dois momentos inesquecíveis.

 A volta para casa é a adoção, de que nos informa a Bíblia. Desde antes

da fundação do mundo, estávamos destinados a sermos filhos de Deus. Noentanto, demos outro destino a nossa vida. Deus, como o pai da parábola

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TODA SORTE DE BÊNÇÃOS

do filho pródigo, ficou com os “olhos compridos” esperando a nossa volta.

Diferentemente do pai do filho pródigo, o Pai celeste não ficou apenas

esperando a volta, mas veio nos encontrar. Como estávamos seqüestradospelo pecado, ele nos tomou, dando como resgate a vida do seu próprio

Filho. Depois, nos recebeu em sua casa, aceitando-nos de novo como seus

filhos. É por isso que Jesus fala em regeneração. Somos gerados outra vez

para entrarmos de novo na casa que era nossa e que abandonamos. O nosso Senhor nos acolhe.

3. A terceira bênção é a capacitação para sermos santos

e irrepreensíveisEntre os muitos conceitos comuns às cartas aos filipenses, aos colossenses,

aos gálatas e aos efésios, um dos mais inspiradores é o título que recebemosda mente do apóstolo Paulo: nós somos santos, santos em Cristo Jesus (Fp

1.1), santos e fiéis irmãos em Cristo (Cl 1.2; Ef 1.1).

Não podemos esquecer que somos santos porque fomos desarraigados

(tirados desde a raiz) do mundo perverso (Gl 1.4) em que vivíamos. Tão

enraizados estávamos no império do pecado que a obra de Deus em nósfoi uma autêntica libertação, pela qual ele nos transportou para o reino

do Filho do seu amor (Cl 1.13). Diante de sua graciosa intervenção, cabe

constantemente dar glória pelos séculos dos séculos (Gl 1.5) a quem nos

resgatou.

O apóstolo Paulo se alegra com os santos da igreja em Filipos, especial

mente porque se dedicavam à pregação do evangelho de Jesus Cristo (Fp

1.5), mas ele sabe que os santos precisam de suas orações. Por isso, não dei

xa de interceder por eles todas as vezes que se põe diante do Pai (Fp 1.4),

porque é ele quem nos torna irrepreensíveis.

Paulo tem um vocabulário muito forte. Ele diz que fomos chamadospara desenvolver uma vida irrepreensível. Em outros lugares dessas cartas,

Paulo insiste que devemos nos apresentar como uma igreja santa e irrepre

ensível (Ef 5.27), que devemos nos tornar irrepreensíveis e sinceros, filhos

de Deus imaculados no meio de uma geração corrupta e perversa (Fp 2.15).

O fato de sermos santos pode nos encher de vaidade e até de irresponsabilidade. Já somos salvos, resgatados, separados, e nada pode mudar nossa

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

condição. Somos santos por uma ação de Deus em nós, o que nos deveencher de prazer. Várias vezes no Novo Testamento (e não apenas em

Ef 1.4), o adjetivo “santo” é acompanhado por outro: “irrepreensível”, quequer dizer “sem defeito”.

 A expressão “sem defeito” aparece 45 vezes nas instruções sobre sacrifícios de animais. Antes de sacrificar um animal em culto, o adorador devia

 verificar se não havia defeito nele. A razão é simples: conhecedor da nature

za humana, Deus sabia que o homem tenderia a “separar” para ele animais

imprestáveis, defeituosos ou moribundos. Os sacrifícios de animais foram

abolidos pelo sacrifício de Jesus Cristo.

No entanto, permanece o princípio. Por causa de Cristo, podemos agora oferecer nosso corpo como sacrifício vivo, e nosso corpo continua vivo.

Esse corpo precisa ser sem defeito. Ao adorarmos, temos que olhar para

nós mesmos e ver se estamos sem defeito, irrepreensíveis. Se reconhecer

mos algum defeito (algum erro, algum pecado), devemos nos arrepender.

Sem confissão não há perdão. Sem perdão não há adoração. Sem adoração

não há bênção. Por isso, a oração de quem foi alcançado pela graça não

pode ser outra senão esta: “Sonda-me, ó Deus”.

Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece as minhas 

inquietações. Vêse em minha conduta algo que te ofende, e dirige-me pelo 

caminho eterno.

Salmo 139.23-24

4. A quarta bênção é podermos viver para o louvor da sua glória

Nisto consiste o sentido da vida: louvar a glória de Deus e fruir as boascoisas da vida, que não são incompatíveis.

 A propósito, a palavra glória aparece cinco vezes em Efésios 1 (versí

culos 6, 12, 14, 17 e 18), três das quais integrando a expressão louvor da 

glória de Deus. Que significa viver para esse tipo de louvor?

 Viver para o louvor da glória de Deus é olhar para ele. Quando olha

mos para nós, nossas forças se esgotam. Quando olhamos para ele, nossas

forças se renovam. Quando permitimos que a sua glória ilumine os olhosdo nosso coração (Ef 1.18), nós temos uma visão de Deus. Quando temos

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TODA SORTE DE BÊNÇÃOS

uma visão de Deus, nossa vida resplandece: nossa vida se torna plena.

Precisamos de uma visão do mundo em que estamos, para conhecê-lo e

mudá-lo. Precisamos de uma visão de nós mesmos, para nos conhecermos e nos pormos a caminho da mudança. Sobretudo, precisamos de

uma visão de Deus, para nos transformarmos e transformar o mundo emque vivemos.

 Viver para o louvor da glória de Deus é permitir que ele remova de nós

tudo aquilo que nos afasta de uma vida plena com ele, com o nosso próxi

mo e conosco mesmos.O nosso temperamento nos afasta das pessoas? Vivamos para o louvor da

glória de Deus, pedindo e permitindo que ele domine o nosso temperamento. A nossa vaidade só nos faz ver sucesso, sucesso, sucesso, como se a vida

só fosse feita de coisas grandes e não também das pequenas? Vivamos para

a glória de Deus, consagrando todos os nossos labores, profissionais ou

eclesiais, não apenas de palavras (em que somos “craques”), mas com sin

ceridade. Se vencermos, que seja para Deus. Se fracassarmos, que Deus nos

abençoe a dar a volta por cima do erro.

 Viver para o louvor da glória de Deus é crer no poder dele para conosco. Iluminados por ele, somos capacitados a experimentar desde já as

riquezas da glória da sua herança para os santos (Ef E l8), bem como a

suprema grandeza do seu poder, segundo a operação da sua poderosa força

(Ef 1.19).Nós temos uma herança a receber no futuro. No presente, nós temos

um poder a sentir, o poder de Deus para conosco. O fato de sermos seus

herdeiros, nós, outrora pecadores condenados à morte, é a maior prova do

seu poder. Não podemos esquecer que a sua glória, quando Cristo reinarde modo absoluto, será tal que todos a verão e todos lhe baterão palmas etodos lhe entoarão as mais belas canções de amor. A glória será perfeita,

e todos poderão testemunhar dela. O Deus escondido se tornará o Deusevidente. O Deus que parece encoberto pelo silêncio e pelas trevas se tor

nará o Deus da glória, com eloqüência e brilho. Viver para o louvor da glória de Deus é viver a vida na sua plenitude,

plenitude que implica só fazer aquilo de que Deus se agrade, que é frutifi-car em toda boa obra e crescer no conhecimento de Deus (Cl 1.10). Quem

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

 vive com um prazer assim, e náo como um fardo, não como uma obriga

ção, este louva a glória de Deus.

5. A quinta bênção é saber que Deus faz todas as coisas convergirem para ele visando o nosso bemPaulo diz que Deus fará convergir em Cristo todas as coisas, tanto as do

céu como as da terra (Ef 1.10). No final da história, todos os joelhos do

universo vão se dobrar diante de Jesus, e todos os lábios cantarão que Jesus

Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai (Fp 2.10-11). Afinal, ele terá a

primazia em tudo, porque nele reside toda a plenitude (Cl 1.16-19).

Todavia, olhando para o nosso país, é o que vemos?Nós vemos crianças nas ruas, algumas exploradas pelos próprios pais.

Nós vemos os hospitais públicos desaparelhados de recursos materiais e

humanos. Nós vemos os corruptos se alternando no poder, com os nossos

 votos, a partir de discursos sempre moralizadores e reformistas. Parece que

 vemos triunfar a escalada do bonde do mal, e não a escada espiralar que

converge para Cristo (como antevia Pierre Teilhard de Chardin)2.

Olhando para o cristianismo, o que vemos? Parece que igrejas e denomi

nações são lideradas por “espertos” (no pior sentido da palavra), que aplicamas regras mercadológicas dos filhos das trevas (Lc 16.8) não para a glória de

Deus, mas para o esplendor financeiro de seus negócios evangélicos.

Olhando para a nossa vida, o que estamos vendo? Parece que só conseguimos fazer o que não queremos fazer, levando até a pensar, sacrilega

mente, que os padrões de Deus não passam de propostas para nos deixar

ainda mais culpados.

Esse nosso modo de ver, conquanto verdadeiro, é incompleto. Vejamos nós ou não, o foco da história é Cristo. O facho de luz que

acompanha a história, dos primórdios ao fim, é alimentado pelo brilho de

 Jesus. Ele não perdeu para a morte. Ele não está perdendo para as forças

de morte deste mundo. Ele está vencendo. Mesmo no sepulcro, ele estava

2Pierre Teilhard de Chardin (01/ 05/ 1881-1004/ 1955) sobrinho-neto do filósofo Voltairc, 

cientista, geólogo e jesuíta francês, com visão integradora entre ciência e teologia. Amoi de O fenômeno humano. Disponível em <http:/ / www.revistatheos.com.br/ Artigos%20 

 Anteriores/ Resenha_03_01 ,pdf >Acessado em 22/ 05/ 2011.

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TODA SORTE DE BENÇAOS

triunfando, preparando a expulsão da pedra que o guardava. Ainda hoje,ele está preparando o triunfo final sobre as pedras da história que tentam

inutilmente detê-lo.Pelos olhos da fé, podemos ver esse triunfo acontecendo, não pelo aper

feiçoamento da espécie, como esperam os holistas em geral, mas pelo poder de Deus em Cristo.

Também pelos olhos da fé, podemos ver o que Deus já está fazendo pormeio daqueles que se tornam seus parceiros. Ele gostaria que todos os seusparceiros fossem cristãos, mas como nem todos os cristãos são parceirosde Deus, ele lança mão de homens e mulheres, a exemplo do que fez com

Balaão e Raabe, Ciro e Maria Madalena.Quanto aos espertos, dentro e fora das igrejas, especialmente os de den

tro, Deus já os está julgando. E certo que ainda não vemos o julgamento,

mas é certo também que Deus já está agindo.De nossa parte, não podemos desistir, como se não valesse a pena ser

santo e irrepreensível. Não podemos nos deixar seduzir pelo convite daimpiedade, só porque a impiedade parece majoritária.

Se olharmos realmente para o autor e consumador de nossa fé (Hb 12.2), veremos que Deus está de olho em tudo para nos ajudar a montar o quebra-cabeças da vida. E desta convergência que fala a Bíblia, segundo a qual,como sabemos por experiência própria, todas as coisas concorrem (convergem, contribuem) para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito (Rm 8.28, ARA).

• • •

Cremos que Deus consumará sua obra no final da história, quando joelhose línguas voluntariamente confessarão que o Salvador (aquele que foi humi

lhado na cruz para que nós tivéssemos vida) é digno de toda honra e glória.Quando tal obra se consumar (terminar), o propósito da Trindade terá

se consumado (cumprido). O plano de Deus (predestinação) consiste em

nos fazer parte desse propósito, tornando-nos herdeiros do seu Reino.Diante dessas verdades, precisamos nos perguntar se temos respondido

á graça de Deus ou se ainda a deixamos no passado bíblico ou no passado

de nossos pais ou avós. A graça é universal. A nossa resposta individual

positiva completa o plano de Deus.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Diante da encarnação, esse plano perfeito de Deus para conosco, só nos

resta agradecer. Por mais que o façamos, náo faremos o bastante. A grati

dão pelo derramamento da sua graça renovará a nossa vida, impedindo quea experiência da saivação se torne um retrato na parede, amarelado pelo

tempo. A gratidão nos porá nos lábios o sorriso da salvação.Precisamos nos perguntar se temos sido instrumentos que Deus usa

para levar sua graça a muitos que não a conhecem. Há muitos cristãos

egoístas, que entesouram a graça da salvação num cofre cujo segredo nemeles mais se lembram. Jesus morreu por todos. Todos que sabem dessa verdade precisam proclamá-la aos outros. Se nós não a publicarmos, Jesus

não morrerá por eles.Diante da sabedoria e da prudência de Deus para conosco, firma-se a

nossa esperança, sabendo que as eventuais lutas de agora nem de longe secomparam à glória (nossa e de Deus) no futuro. Essa convicção não é paranos fazer pessoas conformadas com o pouco de hoje, mas para nos fortale

cer na busca do muito de amanhã.Precisamos nos perguntar se temos vivido para o louvor da glória de

Deus. O verdadeiro hedonismo inclui o prazer próprio, desde que expe-

rienciado na presença do Senhor (Ec 2.25). Não há contradição entre santidade e prazer, mas entre prazer e afastamento de Deus, porque prazer

distante de Deus não é prazer.

Diante da palavra da verdade da salvação, precisamos nos comprometercom o crescimento no conhecimento dessa herança, realidade viva agora erealidade ainda a se completar amanhã.

Um cristão é aquele que conhece Cristo hoje mais do que ontem, e

amanhã mais do que hoje.Um cristão não pode ser superficial. Um cristão é aquele que se enriquece diariamente diante da riqueza da graça de Cristo.

Um cristão não se afunda nas sombras do presente. Um cristão se desenvolve no horizonte da promessa.

Um cristão não fica paralisado diante da tirania da escassez de qualquer n.itureza. Um cristão é aquele que sabe que Deus fará tudo convergir para Cristo.

Um cristão vive para o louvor da glória de Deus, conforme a expressa

 vontade do seu poder, segundo a aspersão da graça do seu Filho e em si ntonia com o sopro companheiro do seu Espírito,

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Efés ios 3.10-19

 A igreja que podemos ser 

Todos nós fomos especialmente convidados, ou melhor, convocados 

a seguir a Jesus e descobrir que esse novo mundo é, na realidade, 

um lugar de justiça, espiritualidade, relacionamento e beleza. Não 

devemos apenas desfrutar de todas essas coisas, mas trabalhar para 

que elas se tornem evidentes, assim na terra como nos céus. Quando 

ouvimos a voz de Jesus, descobrimos que é essa voz que ecoa no coração 

e na mente de toda a raça humana.1

O Novo Testamento tem poucas orações transcritas, mas tem muitas ora

ções implícitas. Efésios 3.10-19 é uma delas. É como se o apóstolo orasse

com os olhos abertos e abrisse seu coração, manifestando seus desejos para

a igreja e ao Pai.

 A intenção dessa graça era que agora, mediante a igreja, a multiforme 

sabedoria de Deus se tornasse conhecida dos poderes e autoridades nas 

regiões celestiais, de acordo com o seu eterno plano que ele realizou em 

Cristo Jesus, nosso Senhor, por intermédio de quem temos livre acesso a 

 Deus em conjiança, pela fé nele. Portanto, peço-lhes que não desanimem

'WRKit 11, Nornan I. Simplesmente cristão. Viçosa: Ultimato, 2008, p. 104.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

por causa das minhas tribulações em seu favor, pois elas são uma glória 

para vocês.

 Por essa razão, ajoelho-me diante do Pai, do qual recebe o nome toda a  família nos céus e na terra. Oro para que, com as suas gloriosas riquezas, ele 

os fortaleça no íntimo do seu ser com poder, por meio do seu Espírito,para 

que Cristo habite no coração de vocês mediante a fé; e oro para que, estando 

arraigados e alicerçados em amor, vocês possam, juntamente com todos os 

santos, compreender a largura, o comprimento, a altura e a profimdidade, 

e conhecer o amor de Cristo que excede todo conhecimento, para que vocês 

sejam cheios de toda a plenitude de Deus.Efésios 3.10-19

M a i s   q u e   u m a   i n s t i t u i ç ã o

Como igreja, somos instituição, mas podemos ser mais que isso.

1. Seremos mais que uma instituição se estivermos atentos à nossa missão

 A missão é repetida por Paulo:

 Embora eu seja o menor dos menores de todos os santos, foi-me concedida 

esta graça de anunciar aos gentios as insondáveis riquezas de Cristo e escla

recer a todos a administração deste mistério qtie, durante as épocas passadas,

 foi ?nantido oculto em Deus, que criou todas as coisas.

Efésios 3.8-9

Gosto de provocar com a frase de que a igreja é a única organização que

não precisa elaborar o chamado planejamento estratégico, um modismo

do mundo empresarial, porque a sua missão está dada. Paulo a repete aqui:

anunciar as insondáveis riquezas de Cristo.

2. Seremos mais que uma instituição se cada um de nós se deixar  

fortalecer no íntimo do seu ser  Assim deve ser entendida a oração de Paulo:

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 A IG REJA QUE PO D EMO S SER 

Oro para que, com as suas gloriosas riquezas, ele os fortaleça no íntimo do 

seu ser com poder, por meio do seu Espírito.

Efésios 3.16

Nosso cristianismo não pode ser alienado (no sentido de Marx, de alie

nação da força de trabalho) de nós, como se fosse algo à parte, que o tem

plo (lugar da igreja) ilustra.

Quando vimos à igreja-templo, já a trazemos de casa, porque somos

igreja-igreja (cada um é igreja — templo do Espírito Santo).

Teremos interesse em vir ao templo para uma atividade de recarrega-

mento (de energia). Preciso carregar meu celular todos os dias. Quanto

mais usamos, mais precisamos carregar. Se estamos fora da área, demanda

mos mais energia.

3. Seremos mais que uma instituição se tivermos interesse um pelo outro

Paulo nos ajuda ao falar do seu desejo de que:

Cristo habite no coração de vocês mediante a fé; e oro para que, estando 

arraigados e alicerçados em amor [dgape], vocês possam, juntamente com 

todos os santos, compreender a largura, o comprimento, a altura e a pro

 fundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo conhecimento, para 

que vocês sejam cheios de toda a plenitude de Deus.

Efésios 3.17-19

O amor de que o apóstolo fala é o amor-ágape (o amor fraternal).

A FAMÍLIA DE D E U S

Dizemos que somos família e podemos ser, diferente da família de sangue,

mas família, uma boa família.

1. Somos uma família porque recebemos de Deus a nossa filiação a ele

por criação ( Por essa razão, ajoelho-me diante do Pai, do qual recebe o nome 

toda a família nos céus e na terra — versículos 14-15) e por nosso relaciona-mento de lé, já que temos livre acesso ao Pai, a quem vamos com confiança

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

{por intermédio de quem [Jesus Cristo] temos livre acesso a Deus em confiança, 

pela fé nele — versículo 12).

Este pertencimento tem a ver com fé, não com mérito.Ele nos permite um relacionamento sem medo de Deus, sem troca com

Deus; com desprendimento para com ele, com prazer e com alegria diante

dele.

2. Somos uma família individualmente e eclesialmente, se temos consciência de que somos filhos de Deus, logo irmãos uns dos outros.

Somos filhos de Deus: somos criados por Deus, nosso Pai; somos ama

dos por Deus, nosso Pai; somos cuidados por Deus, nosso Pai.

Somos irmãos uns dos outros: irmãos dos iguais, irmãos dos diferentes; irmãos dos agradáveis, irmãos dos desagradáveis; irmãos dos saudáveis,

irmãos dos doentes; irmãos dos certinhos, irmãos dos erradinhos; irmãos

dos egoístas, irmãos dos generosos.

Somos iguais. Igual é quem se acha menor ( Embora eu seja o menor dos

menores de todos os santos — versículo 8); igual é quem se importa com as

tribulações dos outros (não desanimem por causa das minhas tribulaçóes em 

seu favor — versículo 13).3. Seremos uma família se desejarmos participar da família.

Uma igreja com muitos membros dificulta e facilita a vida em família.

Uma igreja grande tem mais cultos, tem mais festas, tem mais encontros,

tem mais ministérios. Como fazer parte da família da fé se ela é grande? E

como na família biológica, com muitos irmãos e muitos primos. Há famí

lias em que os parentes não se conhecem porque não querem se conhecei.

Na igreja, para ser parte da família, é preciso:

• gostar de estar com as pessoas

• agir para estar com as pessoas

• não chegar atrasado nem sair correndo

• cumprimentar as pessoas, perguntando-lhes os nomes

• sentir falta, procurar por elas

• envolver-se num ministério

• participar de um grupo pequeno• não ser sensível demais.

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 A IGREJA QUE PO DEMOS SER 

4. Seremos uma família se entendermos o papel da família.

Como na família biológica, a família da fé é o lugar de cada um se rea

lizar individualmente e de cada um participar no projeto global.Na família biológica, uma criança pensa que tudo é dela. Ela cresce e

aprende que nem tudo é dela ou, cá entre nós, que quase nada é dela.

Na igreja, podemos achar, por exemplo, que o culto nos pertence e tem

que ser do nosso jeito. Podemos achar, estando num ministério, que só o

ministério é importante. Se cantarmos num coro, que o nosso coro é omelhor.

O papel da família é prover meios para que cada um possa se desenvolver.E quando cada um se desenvolve a família acontece.

O que une a família é o seu projeto comum: e o projeto comum dafamília é que cada um se desenvolva. Por isso, na família, há sacrifícios

mútuos, idealmente sem cobranças.

U m   f a r o l

 Apresentamo-nos como farol, mas podemos ser mais possantes.

1. Seremos faróis se desejarmos ser faróis.Isso implica desejar refletir a luz de Jesus, não a luz própria. Isso implica

 viver os valores de Jesus, não os nossos.

2. Seremos faróis para a vida se formos treinados na igreja.Em outro texto, o apóstolo Paulo nos dá o programa:

para que venham a tornar-se puros e irrepreensíveis, filhos de Deus incul- 

páveis no meio de uma geração corrompida e depravada, na qual vocês brilham como estrelas no universo.

Filipenses 2.15

Podemos brilhar como estrelas! Exagero de Paulo?

 Vi recentemente um documentário na televisão que mostrava o que

o corpo (músculos e ossos) pode fazer. Fiquei impressionado. Narro um

exemplo: uma pedra se soltou na mão de um alpinista, arrastando-se es

carpas abaixo, sobre o seu corpo, em direção a um precipício. Antes demergulharem no abismo, o alpinista se livrou da pedra de 400 quilos e

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

escapou da morte. Segundo os médicos que cuidaram dele, seu cérebro deu

ordens para que todos os seus músculos se enrijecessem para ter uma força

descomunal, E claro que isso só foi possível porque aquele era um homemtreinado, com músculos treinados, com mente treinada.

Precisamos estar bem preparados para as avalanchas da vida.

Nesse sentido, a igreja é para nos treinar.

Precisamos ser treinados para viver uma vida íntegra. Este é o projeto

de Deus para nós:

 A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cui

dar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper  

pelo mundo.

Tiago 1.27

Precisamos ser treinados para superar os sofrimentos da vida. A vida é

 vivida com dor. Todo jogador sabe que joga com dor. Todos os atletas de

alto desempenho dizem isso.

Podemos pensar a igreja como uma fonte de energia, onde carregamosnossa vida para a vida, mas também podemos pensá-la como um espaço

de treinamento para a vida. Para a vida aqui. A vida no céu não precisa de

treino.Por intermédio dela, Deus nos capacita para sermos ministros de uma 

nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito 

vivifica (2Co 3.6).

Como diz o salmista, Deus treina as minhas mãos para a batalha e os meus braços para vergar um arco de bronze (SI 18.34). Por isto, o poeta ex

clama: Bendito seja o Senhor, a minha Rocha, que treina as minhas mãos para 

a guerra e os meus dedos para a batalha (SI 144.1). A igreja precisa falar mais da vida.

3. Seremos faróis para a vida se compreendermos e conhecermos o amor

de Cristo, que excede todo conhecimento e nos entusiasma (nos enche de

Deus).

Paulo recomenda que conheçamos a largura, o comprimento, a altura e a profundidade (Ef 3.18) do amor de Cristo. Ao mesmo tempo, ele diz

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 A IGRE JA QUE PO DEMOS SER 

que esse amor excede todo o conhecimento (Ef 3.19). Eis aí um convite

extraordinário.

Para quem ainda não é cristão: para conhecer o amor salvador de JesusCristo.

Para quem já é cristão: para conhecer o amor plenificador de Jesus Cristo.

Que fazemos nós, cristãos? Desistimos de conhecer tal amor?

Não. Continuemos a conhecê-lo.

• • •

Como o conhecemos?

Nós conhecemos o amor de Jesus Cristo aceitando que somos amadospor ele.

Nós conhecemos o amor de Jesus Cristo lendo a Palavra de Deus, onde

a história de Jesus Cristo está contada, onde os seus ensinos estão registra

dos. (Se queremos seguir os seus passos, precisamos saber como ele deu os

seus passos.)

Nós conhecemos o amor de Jesus Cristo obedecendo à Palavra de Deus.

Quanto mais conhecemos o amor de Jesus Cristo, mais sua luz se refleteem nós.

Quanto mais conhecemos o amor de Jesus Cristo, mais a igreja se torna

o teatro da glória de Deus (Ef 3.10). E a igreja que torna conhecida a mul-

tiforme sabedoria de Deus.

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45 E fésios 4 e 5

 Vocacionados e capacitados 

pela graça

 Para o bem ou para o mal, sexo tem se tornado, para a maioria de nós, 

uma palavra elétrica. (...)

 Por ter Deus implantado uma paixão pela santidade bem no 

 fundo do coração de cada pessoa que nasceu de novo. Santidade, que 

significa estar próximo de Deus, ser como Deus, dedicar-se a Deus, 

agradar a Deus, é algo que os crentes desejam mais do que qualquer  

outra coisa.1

Paulo organiza o ser humano, em relaçáo aos propósitos de Deus, em

três categorias:

Há os que procuram viver de modo digno da vocação divina (Ef 4.1),pelo que são chamados de imitadores de Deus (Ef 5.1). Essa categoria está

implícita nos dois conselhos que resumem duas de suas preocupações na

epístola aos efésios.

Como prisioneiro no Senhor, rogo-lhes que vivam de maneira digna da 

vocação que receberam.

Efésios 4. t

'WRIGHT, NornanT. Simplesmente cristão. Viçosa: Ultimato, 2008, p. 104.342

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 V O CA CI O NAD O S E CAPA CI TAD O S PELA G RA ÇA 

 Portanto, sejam imitadores de Deus, como filhos amados.

Efésios 5.1

Há também os insensíveis diante da chamada de Deus (Ef 4.17-19), clas

sificados como gentios. Contra eles, os adjetivos paulinos são bem fortes.

 Assim, eu lhes digo, e no Senhor insisto, que não vivam mais como os gen

tios, que vivem na futilidade dos seus pensamentos. Eles estão obscurecidos 

no entendimento e separados da vida de Deus por causa da ignorância em 

que estão, devido ao endureci?nento dos seus corações. Tendo perdido toda a 

sensibilidade, eles se entregaram à depravação, cometendo com avidez toda 

espécie de impureza.

Efésios 4.17-19

Estes são os que acham que seguem suas próprias ideias, ideias domi

nadas pelas trevas, escolhas que os separam de Deus porque tornam seu

coração duro (insensível). O resultado é uma vida vazia.

Há ainda os que não procuram viver de modo digno da vocação um diaaceita. Estes são os que conhecem o caminho de Deus, mas preferem seguir

nas suas margens, vergonhosas margens (Ef 5.12), bem diferentemente do

que aprenderam de Cristo (Ef 4.20).

 As margens parecem que são o caminho, mas são caminhos que astrevas fazem, não sendas que a luz de Deus ilumina. Esses são os que

esquecem que um dia eram trevas, mas foram transformados em luz

(Ef 5-8). Não há sentido em que se associem às obras infrutuosas das

trevas, pois o que devem fazer é condenado claramente (Ef 5.11). A reco

mendação paulina é clara e atual: Portanto, não participem com eles dessas 

coisas. (...) Porque aquilo que eles fazem em oculto, até mencionar é vergonhoso (Ef 5.7,12).

O que Cristo espera, ensina Paulo, é que estejamos no primeiro gru

po, no grupo daqueles que procuram ser dignos da vocação humana (Ef 

4.1), e isso em três dimensões: em unidade, em constância e em proce

dimento.Uma síntese de Efésios 4 é:

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PASTO READ OS POR PAULO — VOL. 1

• A verdadeira igreja é feita não de pessoas que se reúnem, mas de

pessoas regeneradas pela fé pessoal em Jesus Cristo.

• Todos os membros da igreja têm dons específicos para o serviço

cristão.

• Os dons devem ser exercidos internamente e externamente à igreja.

• O Espírito Santo estabelece um processo de desenvolvimento ou co

ordenações dos dons no corpo de Cristo por meio de quatro grandes

áreas: apóstolos (unidade, por serem os fundamentos), profetas (ver

dade, por exortarem no Senhor), evangelistas (universalidade, por

falarem da graça a todos) e pastores-mestres  (amor, por apascenta

rem os salvos).• Os dons não são necessariamente habilidades ou profissões, mas ca

pacidades para atender necessidades específicas da igreja.

V o c a c i o n a d o s   p a r a   u m a   v i d a   d i g n a   e m   u n i d a d e   (Ef 4 .2 -6) 

Eis o que somos: vocacionados para a unidade. Nossa vocação é para a

unidade. Os dons são vários, mas são exercidos para que o corpo de Cristo

(a igreja) se desenvolva num só Espírito.Nossa vocação é para viver a unidade na comunidade, onde podemos

desenvolver competências que produzem o nosso crescimento e o da igreja:

mansidão, paciência e tolerância (suportar... no amor). Essas competências

nos tornam maduros.

Sejam completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns 

aos outros com amor. Façam todo o esforço para conservar a unidade do 

 Espírito pelo vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, assim corno a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só; hd um só Senhor .

uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, f>o>

meio de todos e em todos.

Efésios 4.2 (>

Para viver assim, precisamos nos sujeitar uns aos outros no temor dc

Cristo (Ef 5.21). O verbo de conjugação obrigatória se queremos produ/ iia unidade é: suportar em amor.

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E a falta desse verbo que produz um substantivo: escândalo. O escân

dalo da diferença, provocado pelas divisões no interior das igrejas locais e

entre as denominações.Espero chegar o dia em que seja natural as igrejas de denominações

diferentes trocarem cartas de transferências entre si.

V o c a c i o n a d o s   p a r a   u m a   v i d a   d i g n a   e m   c o n s t â n c i a  

(E f 4 . 1 4 - 1 6 )

O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de urn lado para 

outro pelas ondas, nem jogados para cd e para lá por todo vento de doutrina 

e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro. Antes, seguindo 

a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo. 

 Dele todo 0 corpo, ajustado e unido pelo auxílio de todas as juntas, cresce 

e edifica-se a si mesmo em amor, na medida em que cada parte realiza a 

sua função.

Efésios 4.14-16

Contra um cristianismo superficial (que não se aprofunda), espasmódi-

co (que vive de momentos) e estagnado (como se a experiência de conver

são fosse um retrato na parede) — como Itabira — do poema de Carlos

Drummond de Andrade, em que ele lamenta:

“Tive ouro, tive gado, tive fazendas.

Hoje sou funcionário público.Itabira é apenas uma fotografia na parede,

Mas como dói!”2

Nosso desejo deve ser a maturidade, que não se alcança de uma hora

para a outra. E um processo. O caminho para a maturidade tem um preço.

'I íKUMMONI) DE ANDRADE, Carlos. Disponível em <http:/ / www.liiso-poema.s. llcl/ inoduk‘s/ newív{)3/ articlc.plip?storyid=659>Acessado cm 30/ 7/ 201 1.

 V OCA CI ONAD O S E CA PA CI TA D OS PELA GRA ÇA 

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

O progresso pode ser percebido ao longo de cada um dos seus estágios. Por

essa razão, para viver em amor, não basta só afirmar a verdade; é preciso

 vivê-la. Crescemos em todas as dimensões (profissionais e eclesiais; emocionais e intelectuais) aceitando os outros, o que implica aceitar como im

portante o ministério das outras pessoas e reconhecer que nós precisamos

das pessoas e elas precisam de nós.

V o c a c i o n a d o s   p a r a   u m a   v i d a   d i g n a   e m   p r o c e d i m e n t o  

(Ef 4 .2 4 - 5 .2 1 )

O programa paulino para uma vida digna no procedimento é apresentadoao longo dos capítulos 4 e 5 de Efésios.

1. Devemos buscar o ideal de uma vida em que a nossa língua esteja 

sob controle

 Portanto, cada um de vocês deve abandonar a mentira e falar a verdade ao 

seu próximo, pois todos somos Tnembros de um mesmo corpo. Efésios 4.25

 Nenhuma palavra torpe saia da boca de vocês, mas apenas a que for  

útil para edificar os outros, conforme a necessidade, para que conceda 

graça aos que a ouvem.

Efésios 4.21)

 Não entristeçam o Espírito Santo de Deus, com o qual vocês foram selados 

para o dia da redenção.

Efésios 4.M)

 Não haja obscenidade nem conversas tolas nem gracejos imorais, que sao 

inconvenientes, mas, ao invés disso, ação de graças.

Efésios ,■i

Os padrões bíblicos são claros demais e não precisam ser explicados.346

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 V O CA CI O NA D O S E CA PA CI TA D OS PELA GRA ÇA 

2. Devemos buscar o ideal de uma vida em que o nosso 

temperamento seja controlado pelo Espírito Santo

“Quando vocês ficarem irados, não pequem A paziguem a sua ira antes 

que o sol se ponha, e não deem lugar ao diabo.

Efésios 4.26-27

 Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia, bem 

como de toda maldade. Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou vocês em 

Cristo.

Efésios 4.31-32

Há quem diga que o temperamento (também por alguns chamado de

caráter) não pode ser mudado. Diferentemente, não entendo assim. Sedeixarmos. Deus muda o nosso caráter; pode ser uma conversão lenta, mas

será uma conversão.

3. Devemos buscar o ideal de uma vida honesta

O que furtava não furte mais; antes trabalhe, fazendo algo de útil co?n as 

mãos,para que tenha o que repartir com quem estiver em necessidade.Efésios 4.28

 A queda tornou o homem corrupto por definição. No entanto, quem

 vive no compasso da graça não pode considerar a corrupção (pessoal ounacional) como aceitável.

4. Devemos buscar o ideal de uma vida em que os desejos 

pecaminosos estejam dominados

 Entre vocês não deve haver nem sequer menção de imoralidade sexual 

ne/ n de qualquer espécie de impureza nem de cobiça; pois estas coisas não st/opróprias para os santos. (...) Porque vocês podem estar certos disto:

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

nenhum imoral nem impuro nem ganancioso, que é idólatra, tem heran

ça t i o  Reino de Cristo e de Deus. Ninguém os engane com palavras tolas, 

pois é por causa dessas coisas que a ira de Deus vem sobre os que vivem Tia desobediência.

Efésios 5-3,5,6

Não importa o que tentem nos impingir como valores. Os valores de

Deus permanecem inalterados. Lembremos que só Deus cria o prazer. O

homem, o máximo que faz é perverter. Deus criou o sexo; o homem, a

imoralidade. Deus criou o vinho; o homem, a embriaguez. Deus criou oalimento; o homem, a gulodice. Deus criou o dinheiro; o homem, a ga

nância. Deus criou a religião; o homem, a idolatria.

D e us  n o s c a pa c i t a par a   v iv e r  assim

Dois males têm afligido a igreja: o sacerdotalismo e o carismatismo. Am

bos, no fundo, propõem a mesma ídeía-força: existem pessoas especiais na

igreja. E ambos estão em flagrante oposição à prática e à teologia do Novo

Testamento.

1. O sacerdotalismo é uma projeção do Antigo Testamento e pressu

põe que há um mediador entre os homens e Deus. Jesus detonou essa

teologia ao se apresentar como esse mediador, o que significa, na verda

de, que não existe mediador humano, uma vez que ele é Deus. Assim

mesmo, é parte da fragilidade humana supor que não se pode chegar

diretamente ao Pai.

O carismatismo, no sentido empregado aqui, é uma suavização do sacerdotalismo, ao afirmar que Deus dá dons a algumas pessoas na igreja.

O resultado da permanência desse modo não-cristão de ser cristão é a

constituição de duas classes de crentes: os que edificam e os que são edifica-

dos. Os que edificam edificam sempre, e os que são edificados são edificados

sempre.

Não se está a negar que Deus concedeu apóstolos, evangelistas, pastores

e professores às igrejas, mas a se afirmar que a obra da edificação da igrejaé um ministério de todos os crentes. Como escreveu o apóstolo Paulo, a

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 V O CA CIO NA D O S E CA PA CI T A D O S PE LA G RA ÇA 

tarefa dos dons é colocar os crenres em condições de edificar juntos o corpo

de Cristo, cuja cabeça é o próprio Cristo, o qual a todos capacita.

Deus capacita pessoas diferentes para aspectos diferentes da edificação do seu corpo. As necessidades desse corpo são supridas pelo exer

cício de todas as suas partes. Um músculo esclerosado faz doer o corpo

todo.

Na igreja, pois, não pode haver os que edificam e os que são edificados.

Todos edificam e todos são edificados. Se apenas edificamos, há algo erra

do com o nosso dom. Se somos apenas edificados, devemos procurar pelonosso dom.

Deus nos capacita (fomos chamados —- Ef 4.1) com dons para a digni

dade, Para sermos capacitados, precisamos querer depender de Deus, em

lugar de nos escondermos na autossuficiência para o pecado.

2. Para sermos capacitados, precisamos querer ser renovados por Deus

(Ef 4.22-24).

Devemos querer nos despojar, quanto ao procedimento anterior, do ve

lho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano, para nos

renovar no espírito da nossa mente e para nos revestir do novo homem, quesegundo Deus foi criado em verdadeira justiça e santidade (Ef 4.22-24).

Para sermos capacitados, precisamos querer o desenvolvimento dos

dons que Deus nos dá.

 E a cada um de nós foi concedida a graça, conforme a medida repartida 

por Cristo. Por isso é que foi dito: “Quando ele subiu em triunfo às alturas, 

levou cativos muitos prisioneiros, e deu dons aos homens(Que significa 'ele subiu”, senão que também descera às profundezas da terra? A quele 

que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, a fim de encher  

todas as coisas.) E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, 

outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de 

preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo 

seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimen

to do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da 

plenitude de Cristo.Efésios 4.7-13

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PASTO READO S POR PAULO — V OL. 1

Dom, no sentido cristão, diferente do que pensamos, não é uma habi

lidade natural para fazer algo, como cozinhar, escrever, jogar futebol ou

tocar piano. É uma concessão sobrenatural de Deus a nós para dar sentido

à nossa vida e ao universo. Em Efésios 4.8-10, o apóstolo Paulo resume o

ministério de Jesus Cristo, concluindo por mostrar sua autoridade sobre

nossa vida.Todo cristão, verdadeiramente cristão (isto é, regenerado), tem um

dom. Por isso, é bom recordar que uma igreja é formada não por aqueles

que freqüentam uma igreja, mas por aqueles que foram regenerados por

meio da fé pessoal em Jesus Cristo. Portanto, a cada membro do corpo de

Cristo é dada uma capacidade específica para o serviço. Todo o propósitode sua vida está relacionado ao dom de Cristo para ele, se de fato ele querque sua vida seja plena de valor. Quando estes dons e capacidades são exer

cidos no poder do Espírito, os membros da igreja novamente se tornam

uma influência vital, transformadora e poderosa na sociedade, e a vida

cristã se toma interessante, e não uma coisa banal.E uma prerrogativa do Espírito Santo distribuir estes dons segundo sua

 vontade. Se somos cristãos, temos, pelo menos, um. Logo, não precisamos

perguntar se temos um dom, mas qual é ele.

3. Só há um que ministra: Jesus, que nos dá os dons. E ele quem nos

capacita. Só há uma estratégia para o crescimento: a distribuição de dons.

Os dons não são funções, mas pessoas: apóstolos, profetas, evangelistas e

pastores [ou pastores-mestres] (Ef 4.11). Esses dons são estabelecidos pelo

Espírito Santo como parte de um processo para desenvolver e coordenar o

ministério da edificação do corpo de Cristo.

 Apóstolo é aquele que declara toda a verdade acerca de Jesus Cristo. Quemprocede assim é o fundamento da igreja. Aquilo que o apóstolo diz sobre Je

sus Cristo é que é o fundamento da igreja. E isso já está registrado no Novo

Testamento. Nenhum outro fundamento pode ser colocado (ICo 3.11). A verdade está em Jesus (Ef 4.21). Não há outro evangelho (G1 1.6-7). É a

presença desse fundamento que dá autoridade e força à igreja.

Todos somos chamados a ser apóstolos. Toda a igreja está precisando

de fundamentos. A igreja está precisando de apóstolos, compromissados

tão somente com o evangelho e capazes de, por sua vida, inocular a fénas igrejas, nas igrejas jovens e nas igrejas antigas, neste tempo de líderes

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 VOCA CI ONAD OS E CA PA CI TADOS PELA GRA ÇA 

 vaidosos (preocupados tão somente com suas causas e negócios e, às vezes, vidas escusas), que colocam os fundamentos em si mesmos.

Profeta é aquele que conforta os incomodados e incomoda os acomodados. Seu trabalho é interpretar a Palavra, visando torná-la clara aos ou

 vintes e levá-íos a viver segundo esta Palavra. Literalmente, é aquele que faz

brilhar a Palavra de Deus, e não a si mesmo. Sua meta é edificar, encorajare confortar (ICo 14.3). Todos somos chamados a ser profetas. A igreja estáprecisando de intérpretes capazes de entender o mundo para transformá-lo

à luz do fundamento, que é Jesus Cristo.Evangelista é aquele preocupado em que as pessoas se iniciem na vida

cristã. Para tanto, ele explica o plano salvador de Jesus Cristo e proclama as verdades que produzem o novo nascimento. Todos somos chamados a serevangelistas. A igreja está precisando de proclamadores do amor de Deus,

com as atitudes e com as palavras.Pastor-mestre é aquele que se preocupa em orientar, ensinar, fortalecer,

aconselhar (pessoalmente) os santos. Sua meta é manter a firmeza da fé.Estes dons são necessários à sobrevivência da igreja.

Estes dons não são necessariamente para pessoas ordenadas, mas pessoas capacitadas a exercê-los.Essas funções nada têm a ver com ministérios remunerados. O grande

apóstolo Paulo fazia tendas para sobreviver em boa parte de sua vida.

O ministério da edificação do corpo de Cristo não é um trabalho parapastores. E um trabalho para cada membro do corpo. Quando a igreja fazassim, ela cumpre seu ministério e se edifica. Do contrário, o cristianismo

acaba se tornando um espetáculo a que se assiste.

O caminho para a maturidade é outro (Ef 4.14).Maturidade não tem necessariamente a ver com idade cronológica. O

ritmo da jornada cristã pode ser diferente da biológica.

Ser maduro é não ser jogado de um sentimento para outro (dimensãoemocional). A verdadeira liberdade consiste em construir caminhos pró

prios, mas submissos a Deus.Ser maduro é não se deixar confundir por outras ideias (dimensão ra

cional). A verdadeira liberdade consiste em desenvolver ideias próprias, mas

centradas em ( 'risto.351

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

 A liberdade se faz no caminho. O erro faz parte do risco. No entanto,

não podemos esquecer de que somos chamados. O crescimento se faz na

liberdade. Só não podemos deixar de viver segundo a nossa vocação. A meta da verdadeira religião cristã é tornar cada vez mais livres os cris

tãos, embora possa não parecer.

Par a  v iv e r 

Cristo é o cabeça da igreja. As vezes, organizamo-nos de tal modo que nos

esquecemos do fundamento da igreja. O desenvolvimento natural da igrejaadvém de ser a morada do Espírito Santo.

Cada um de nós, como articulação (junta) do corpo, faz o corpo crescer.Uma articulação ruim leva o corpo a manquejar. E necessária a distribuição

dessas articulações; não pode haver crescimento de alguns músculos ape

nas. O crescimento, para não ser enfermo, tem de ser de todos.O crescimento da igreja vem de dentro (autoconstrução). De dentro,

porque articulado pelo Espírito Santo; precisamos ter consciência de quesomos (a igreja, não o indivíduo) o santuário dele. De dentro, porque

deve ser uma força que nos empurra para fora; para tanto, temos que nosalimentar de Cristo.O exercício dos dons faz parte de um processo de crescimento que cul

mina na perfeição. O ministério da edificação do corpo de Cristo não

pertence a nenhuma classe de pessoas. Se há algumas pessoas colocadas

como líderes (remuneradas ou não), a tarefa delas é pôr todos os crentes

em condições de desenvolver seu ministério.

Quando os crentes se envolvem em um ou mais ministérios, eles cres

cem juntos. O crescimento só é crescimento quando é junto, isto é, proporcional, concomitante. Nenhum membro do corpo (humano) pode

crescer mais que o outro (se não, fica um aleijão).

Esse crescimento não tem fim terreno. Só vai terminar no céu, quando

seremos como Cristo é.Ninguém tem todos os dons, mas todos têm um dom. Jesus aboliu o

clero e o laicato. Em certo sentido, somos todos leigos (povo) de Deus.Portanto, o nosso dom é fazer o corpo de Cristo crescer. Quando acon

tece assim, crescemos.Com que dom fazemos o corpo de Cristo crescer?

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46 E f é s i o s   6.5-9

Princípios bíblicos para 

a vida profissional

O trabalho é intrinsecamente bom para nós, bom para o mundo e bom 

para Deus. Esta é uma das mais cruciais e mais negligenciadas tarefas 

de preparação da igreja.1

Como ler hoje Efésios 6.5-9?

 Escravos, obedeçam a seus senhores terrenos com respeito e temor, com 

sinceridade de coração, como a Cristo. Obedeçam-lhes, não apenas para 

agradá-los quando eles os observam, mas como escravos de Cristo, fazen

do de coração a vontade de Deus. Sirvam aos seus senhores de boa von

tade, como servindo ao Senhor ; e não aos homens, porque vocês sabem que o Senhor recompensará cada um pelo bem que praticar, seja escravo, 

seja livre.

Vocês, senhores, tratem seus escravos da mesma forma. Não os ameacem, 

uma vez que vocês sabem que o Senhor deles e de vocês está nos céus, e ele 

não faz diferença entre as pessoas.

Efésios 6.5-9

'STKVKNS, R. Paul. Os outros seis ili.is. Viçosa: Ultimato, 2005, p. I0K.

353

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Esse texto, apesar de aparentemente superado, porque não existe mais a

escravidão nos termos da que existia no Império Romano, nos ajuda a en

tender como o cristão deve ver o seu trabalho, não importa onde o exerça.Esse texto, apesar do mal-estar que sua leitura nos possa provocar por

causa da escravidão, é sobre relacionamentos. Ele está no contexto da

mutualidade relacionai que deve existir na família e também no trabalho.

Para entendermos bem o texto, precisamos voltar ao versículo 17 do

capítulo 4. Estamos, portanto, diante de 58 versículos sobre relaciona

mentos fora do âmbito da igreja os de dentro da igreja são (tratados nos

 versículos 1 a 16 do mesmo capítulo 4). Os princípios sobre a vida rela

cionai giram em torno de dois versículos centrais: Tenham cuidado com a 

maneira como vocês vivem; que não seja como insensatos, mas como sábios, 

aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus  (Ef

5.15). Sujeitem-se uns aos outros, por temor a Cristo (Ef 5.21).

Q u a t r o  pr in c ípio s ge ra i s

1. Nosso mais vital campo de atuação missionária transcultural (entende

mos que a família é inteiramente nossa cultura, mas o lugar fora de casa[estudo, lazer e trabalho] é transcultural, uma vez que estamos na ética do

ínterim) é o que fazemos enquanto trabalhamos.

Passamos mais tempo trabalhando do que dormindo, comendo ou nos

divertindo.

Precisamos de um novo olhar sobre o nosso trabalho.

2. A ética paulina do trabalho é uma ética do ínterim. O trabalho deve

ser relativizado, não absolutizado.O trabalho deve ser visto como meio, não como fim.

Paulo não só fazia tendas como ganhou seus colegas de fazer tendas,

 Áquila e Priscila.

 Depois disso Paulo saiu de Atenas e foi para Corinto. Ali, encontrou um 

 judeu chamado Aquila, natural do Ponto, que havia chegado recentemente 

da Itália com Priscila, sua mulher, pois Cláudio havia ordenado que todos 

os judeus saíssem de Roma. Paulo foi vê-los e, uma vez que tinham a mc\  ma profissão, ficou morando e trabalhando com eles,pois eram fabricantes

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PRINCÍPIOS BÍBLICOS PARA A VIDA PROFISSIONAL

de tendas. Todos os sábados ele debatia na sinagoga>e convencia judeus e 

gregos. Atos 18.1

3. A ética paulina do trabalho leva em conta as condições da época (relação senhor-escravo como majoritária), mas é libertária, ao estabelecer a

mutualidade também no trabalho.

 A ética paulina do trabalho vê o trabalho como um território da vonta-

de de Deus. Não estamos ali por acaso.

Temos separado o mundo em santo e profano. Em eclesiástico (sagra

do) e natural (de segunda mão). Daniel não fazia tal separação. Daniel nãoseparou sua obediência a Deus de sua formação acadêmica. Daniel não

separou fé e vida pública, político (administrador) que foi.

4. O mundo não será transformado por missionários profissionais.

 A população mundial é de 6,7 bilhões de pessoas, dos quais 2,2 são cris

tãos (de todos os tipos, alguns precisando do evangelho ainda). Há 12,4milhões de obreiros cristãos no mundo, dos quais 458 mil são transnacio-

nais. Logo: o mundo será transformado por profissionais missionários.

O mundo se converterá quando nós transformarmos a universidadeonde estudamos ou trabalhamos em campo missionário.

O mundo se converterá quando nós transformarmos a empresa onde

trabalhamos em campo missionário.Precisamos transformar o mundo em teatro da glória de Deus, o que

implica transformar o lugar onde estou em teatro da glória de Deus.

Somos os atores. Deus é o autor da peça.

Podemos usar a nossa profissão para ganhar a vida ou podemos usar anossa profissão para ganhar vidas. Nosso emprego é uma providência de

Deus para transformar o mundo. Pelo trabalho, podemos ser missionáriosque não vão diretamente aos campos; nós o fazemos quando trabalhamos e

usamos o dinheiro resultante para sustentar missões e missionários, quando provemos missões e missionários em suas necessidades.

O trabalho bem feito, honesto, criterioso, é uma pregação. Uma relação

profissional em que as pessoas sejam elas chefes, iguais ou subordinadas, é

uma missão.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Precisamos de uma visão missionária do trabalho. Nossos talentos não

nos são dados apenas para nosso deleite, mas para abençoar outras pessoas.

Na linguagem universal, nosso business pode ser uma mission (Business as a mísson), nosso trabalho pode ser uma missão.2

O problema é que a gente entra na dança da competição e da corrup

ção, não da cooperação e do companheirismo.

Falta-nos a ética do ínterim também em relação ao trabalho.

Es c r a v o s m o d e r n o s

Esse texto poderia ser descartado, uma vez que não temos mais escravidão

no Brasil.

Será? Na verdade, os fatos não são bem assim. Vejamos os dados.

O governo brasileiro tem (desde 2008) um programa para a erradicação

do trabalho escravo no Brasil. A página eletrônica de abertura do progra

ma começa assim: “Passados mais de 100 anos da assinatura da Lei Áurea

e o nosso País ainda convive com as marcas deixadas pela exploração da

mão-de-obra escrava. No Brasil, a escravidão contemporânea manifesta-se

na clandestinidade e é marcada pelo autoritarismo, corrupção, segregaçãosocial, racismo, clienteíismo e desrespeito aos direitos humanos. Segundo

cálculos da Comissão Pastoral da Terra (CPT), existem no Brasil 25 mil

pessoas submetidas às condições análogas ao trabalho escravo. Os dados

constituem uma realidade de grave violação aos direitos humanos, que

envergonham não somente os brasileiros, mas toda a comunidade inter

nacional.”3

Os dados são aterradores porque mostram condições ainda degradantes

de trabalho, tanto no campo quanto na cidade.4

2Veja o trabalho desta organização, Business as a mission, em <http: //www.bu.sinessasmis- sion.com/ home.html>. Acessado em 1/ 8/ 2011.5Cf. Plano nacional para a erradicação do trabalho escravo. Disponível em http:/ / www , ilo.org/ public/ portugue/ region/ ampro/ brasilia/ trabalho_forcado/brasil/ iniciativas/ pLi no_nacional.pdf. Acessado em 20/ 8/ 2010.

'Cí. os dados oficiais do Ministério do Trabalho, disponíveis em <http:/ / www.youtube.aMii/   watch?v=D33wulMxah4>e também emhttp:/ / www.youtube.com/ watch?v=6PJtl-vl0w0Q&( eature=related>. Acessado em 30/ 7/ 2011.

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PRINCÍPIOS BÍBLICOS PARA A VIDA PROFISSIONAL

 Alguns dirão: essas realidades não nos alcançam.

Então, vejamos outra narrativa, atestada direta ou indiretamente.

No Rio Grande do Norte, a empresa Ambev, do ramo da produção ecomercialização de bebidas, foi condenada, em primeira instância, a pa

gar uma multa de um milhão de reais e a veicular na imprensa do Estado

uma campanha contra a prática do assédio moral no trabalho. Segundo o

Ministério Público do Trabalho, que moveu a ação, empregados que não

cumpriam as metas eram obrigados a assistir em pé às reuniões ou a fazer

uma espécie de dança da garrafa.5Em outro processo, a mesma empresa foi

condenada a pagar uma indenização de 50 mil reais a um ex-funcionário

que “era obrigado a fazer flexões diante dos colegas quando não alcançavaa meta de vendas”.6

Esses são apenas dois exemplos da realidade que certamente não é sóbrasileira.

Na Roma paulina, o sistema escravagista estava no seu apogeu. De certo

modo, as atividades essenciais da agricultura, da indústria, do comércio e

da construção civil, dentre outras, dependiam do trabalho escravo.

Num determinado tempo da vida na Grécia, por exemplo, estimada-mente 85% da população era de escravos. Os historiadores estimam que na

época de Jesus e Paulo, 30% da população era constituída de escravos. No

texto de Efésios, sem se aprofundar na questão (como faz em Filemom), o

apóstolo Paulo apresenta uma ética libertária, ao lembrar que Deus não faz

diferença entre senhor e escravo, numa sociedade profundamente desigual,

como a nossa.

Em nosso contexto, em que a nomenclatura é outra, podemos aplicar os

mesmos princípios à relação entre patrões e empregados, entre chefes e su

bordinados. Essa é a lógica aqui, mas ela vai desaparecer. O apóstolo Paulo

não sacraliza a escravidão. Toma-a como é. De igual modo, não precisamos

5Cf. “Condenação faz Ambev promover campanha contra assédio moral”. Disponível em 

Ii(lp:/ / noticias.uol.com.br/ empregos/ ultnot/ 2008/ 08/ 08/ ult880u7209.jhtm>. Acessado cm 30/ 7/ 2011.''('f. “Ex-funcionário da Ambev obrigado a fazer flexões receberáR$ 50 mil”. Disponível cm hrtp.7/ u!timainstancia.uol.com.br/ noticia/ 36894.shrml. Sitenão mais disponível.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

sacralizar as relações injustas no trabalho em nosso país, mas precisamos

partir sempre da realidade como ela é, para que venha a ser como deve ser.

Paulo, portanto, não legitima a escravidão, mas leva-a em consideraçãocomo parte do mundo real.

Precisamos aprender a viver no mundo real. O nosso, por exemplo, é

um mundo em que o trabalho é central. As relações não são muito diferen

tes de uma escravidão.

1. Devemos ver o trabalho como uma dimensão inevitável, indispensá

 vel e desejável para nossa vida.

Nem sempre se trabalha no que se gosta. Nem sempre se faz o que se

sabe. Nem sempre o trabalho tem a ver com a sua vida. Gosto sempre dêrecordar uma entrevista televisiva feita com um jovem. A repórter mostra o

rapaz em seu ambiente de trabalho, uma loja de venda de discos. Ele passa

o dia ouvindo discos, classificando discos, tocando-os para os interessados.

 A repórter, então, lhe pergunta sobre o que faz em noite à casa e nos finais

de semana. Ele responde:

— Eu ouço disco.

Para ele, trabalho e lazer são a mesma coisa. A maioria dos trabalhadores, no entanto, não tem esse privilégio no seu mundo real. Seja qual for a

condição do trabalho, ele é inevitável, indispensável e desejável.

Na condição atual, moldada pelo capitalismo, o trabalho é uma força

que se vende. É algo alienado, no sentido de que não tem nada a ver com

a vida da pessoa.

Por isso, saber que essa condição é interina, porque nossa vida terrena é

interina, como peregrinos que somos, nos anima e nos estimula. Relativi-

zando o trabalho, nós vivemos como devemos viver. Absolutizar o trabalho

nos faz enfermos. Absolutizar a preguiça (o não-trabalho) também nos faz

enfermos.

O trabalho, portanto, é inevitável, indispensável, desejável, mas tran

sitório.

2. Devemos estar atentos aos tremendos desafios advindos do mundo

do trabalho.

Cada um de nós tem exemplos de quão fortes são tais desafios.Eis alguns exemplos:

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PRINCÍPIOS BÍBLICOS PARA A VIDA PROFISSIONAL

• Um irmão trabalha como porteiro e é obrigado a mentir dizendoque este morador ou aquele não está, porque recebeu essa ordem,

embora o morador esteja em casa.• Um irmão nosso cuidava do serviço reprográfico de uma empresa. A

ordem era que ele não poderia fazer cópias pessoais, só as ligadas ao

trabalho. Seu chefe era presbiteriano, e o diretor era batista. O dire

tor, então, lhe trazia livros para serem copiados para seus filhos. O

empregado, nosso irmão, olhava para o chefe e fazia as cópias. Tinha

que obedecer, mesmo que a ordem tivesse partido de quem partiu.

• Um irmão me disse que seus colegas de trabalho, casados, todos tra

em suas esposas. É nesse ambiente que ele trabalha.• Um irmão, proprietário de uma empresa de serviços, foi convertido

ao evangelho por um empregado que trabalhou com ele até se apo

sentar, com trinta anos de serviço.

Os exemplos poderiam se multiplicar, mostrando como devemos estar

atentos aos tremendos desafios advindos do mundo do trabalho.

Sobretudo para os jovens, o grande desafio é obter um emprego.Para quem está empregado, o grande desafio é permanecer no emprego.

O estresse é intenso. Há metas imbatíveis; quando são batidas, são aumentadas no mês seguinte. Também por isso, muitas vezes a ética vai para o

espaço, e as relações pessoais se estraçalham. Há outras práticas intranqui-lizadoras. Empregados são demitidos e obrigados a abrir cooperativas ou

empresas, para que se evitem os chamados encargos trabalhistas. A ameaça

para os mais experientes é maior, por causa de seus salários melhores.

Para todos, o desafio é crescer no e com o trabalho, não importam muito as condições.

Pe r c e p ç ã o , pe r t e n c i me n t o , preparo  e p e r s e v e r a n ç a  

 A obtenção de um emprego requer percepção, pertencimento, preparo e

perseverança, atitudes que sobretudo os jovens precisam perseguir.1. Primeiramente, devemos perceber as oportunidades imediatas e a

médio prazo. Devemos ir aonde o trabalho está, em termos de áreas deatuação e até de lugares. O mundo será cada vez mais dependente das

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

tecnologias de informação, com os computadores ocupando lugar cada vez

mais central. Quando me aposentar, é para lá que eu estou indo, se Deus

me permitir.2. Ao escolher uma profissão, em busca de emprego, devemos visar

àquela que nos faz pertencer, já que a realidade é tão alienadora. O sen

timento de pertencimento tem a ver com gosto e experiências pessoais.

Possivelmente, por exemplo, uma pessoa que desmaie vendo uma porção

de sangue não deva escolher campos profissionais ligados à saúde e à ma

nipulação do corpo humano. Uma pessoa que detesta se relacionar pro

 vavelmente não será um bom vendedor sem sofrimento. Devemos,, por

exemplo, escolher algo que tenha a ver conosco. Eu me lembro de que vendia verduras lá de casa, e meu pai me propôs mudar de ramo, pedindo-mepara cobrar os que deviam pelos serviços que lhes prestara. Eu até ia à casa

da pessoa, rodeava, mas não tinha coragem para cobrar. Fracassei e voltei

para o ramo de vendas, oferecendo doces e depois picolés na rua. Nisso eu

tinha prazer, mas em fazer cobrança... de jeito nenhum.

3. Em terceiro lugar, devemos nos preparar. Só há lugar, tanta é a dis

puta, para os melhores. Ser o melhor implica ler, estudar formal e informalmente, interessar-se por aquela área. Tive uma colega no curso de

 jornalismo que não gostava de ler; imagine se ela se tornou jornalista.

Não. Quem quer ser advogado não pode perder os programas da TV Jus

tiça, por exemplo.4. Todo processo demanda perseverança. As coisas não acontecem de

uma hora para a outra. Quem tem um sonho só vai realizá-lo se perseverar.

O mundo descarta quem não persevera.

O mundo do trabalho é um mundo em que Deus não conta. No entanto, quem é de Deus conta com ele no seu mundo de trabalho. Podemos e

devemos pedir que ele nos oriente diante das oportunidades. Devemos orar

para que ele nos crie oportunidades. Devemos nos manter firmes como ele

para não cairmos nas ciladas, profissionais ou morais.

R e c u r s o s d i v i n o s par a n ó s

 A permanência no trabalho requer os mesmos cuidados e a mesma atenção

aos recursos que Deus põe diante de nós.

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PRINCÍPIOS BÍBLICOS PARA A VIDA PRO FISSIO NAL

Temos que fazer com capricho o que fazemos, mesmo sem a presença

ou sem o reconhecimento do chefe. O conselho paulino é certeiro: Obede

çam-lhes [aos senhores, aos chefes], não apenas para agradá-los quando eles os observam, mas como escravos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus 

(versículo 6). Enquanto estamos ali, é ali que estamos. Louvado seja Deus,Senhor de nossa vida.

Com isso em mente, usaremos as nossas armas, mas armas abençoadas

por Deus, não as armas das trevas, que dão resultado a curto prazo, não

no longo, além de desagradar a Deus. O sucesso não pode ser obtido a

qualquer preço.

E preciso investimento na própria carreira. Temos que aprender continuamente. Mesmo que reclamemos das injustiças e das precariedades,enquanto estamos ali, devemos nos empenhar para sermos os melho

res. Temos que nos educar continuamente. Só temos uma escolha: ser

excelentes profissionais.

Precisamos ter a coragem de ousar no trabalho, com os pés firmes no

chão, o que pode implicar mudanças. Um emprego ruim deve ser troca

do por um emprego melhor. A decisão exige cuidado, oração, estudo eousadia.

Devemos ver o trabalho como o lugar em que vivemos os valores nos

quais cremos.

Passamos a maior parte de nosso tempo útil no emprego. Do nosso

tempo acordados, passamos mais no trabalho do que em casa. Esse lugar

deve ser visto como o lugar em que Deus vive conosco. É lá que temos que

ser homens e mulheres de Deus. Depois e antes do trabalho também, mas

sobretudo durante o trabalho. Nosso trabalho não é um intervalo da vida;é a nossa vida.

Em meio à competição, que avilta as pessoas, somos vis ou somos vistos

como homens e mulheres de Deus? Diante das regras brutas, embrutece-

mo-nos também?

Somos excelentes na verdade?

Somos excelentes na sinceridade (versículo 5)?

Somos excelentes no companheirismo?Somos excelentes na competência?

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Nas rodas, nosso papo é excelente na fluência e também nos valores nele

embutidos?

Somos pessoas com quem a empresa pode contar, mesmo que ninguém

nos esteja vigiando, sempre cumprindo nossos compromissos, chegando à

hora e saindo à hora, sem embromar, ou fazemos de conta que trabalhamos?

 Vivemos de modo que as pessoas percebem que temos um Senhor so

bre nossa vida ou nos misturamos na multidão anonimamente? Aquela

pergunta que o dirigente máximo do Egito fez, referindo-se a José num

contexto profissional, deve ser um objeto de desejo para nós: o faraó lhes 

perguntou: “Será que vamos achar alguém como este homem, em quem está o 

espírito divino?” (Gn 41.38).O nosso trabalho deve ser desenvolvido com um sentido de santidade

e de missão. O que fazemos para Deus (versículo 5), de quem vem a re

compensa, é que importa (versículo 8). Certamente queremos ser canais

de transformação em/de nosso ambiente de trabalho, mas isso começa com

nossa vida, com atitudes coerentes com o evangelho. O mundo tem sede

de cristãos que têm atitudes coerentes com a graça de Deus.

Nosso local de trabalho é o nosso lugar de proclamação do evangelho. E

isso não dispensa palavras e não dispensa vida coerente, na qual as pessoas

se espelhem.

 A ESCOLHA DA PROFISSÃO

Caminhando um dia pelas ruas do meu bairro, logo pela manhã, deparei-

me com um jovem alto e forte, com um livro nas mãos. Percorri-o, pen

sando que fosse uma obra de direito, embora o jovem não estivesse nem

de terno nem de pasta... Consegui ver o nome do autor do livro: era T. S.Eliot (1888-1945), o poeta que recebeu o Nobel de Literatura em 1945 e

que escreveu:

“Aqui rondamos a figueira-brava

Figueira-brava figueira-brava

 Aqui rondamos a figueira-brava

 As cinco em ponto da madrugadaEntre a ideia

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PRINCÍPIOS BÍBLICOS PARA A VIDA. PROFISSIONAL

E a realidade

Entre o movimento

E a açãoTomba a Sombra

Porque Teu é o Reino

Entre a concepção

E a criação

Entre a emoção

E a reação

Tomba a Sombra A vida é muito longa

Entre o desejo

E o espasmo

Entre a potência

E a existência

Entre a essência

E a descendência

Tomba a SombraPorque Teu é o Reino

Porque Teu é 

 A vida é

Porque Teu é o mundo.

 Assim expira o mundo

 Assim expira o mundo Assim expira o mundo

Não com uma explosão, mas com um suspiro.”7

Nunca saberei por que aquele jovem estava com Eliot entre as mãos.

Talvez estudasse letras. Talvez não. Taívez fosse professor de literatura.

Talvez não.

1.1,101, I’. S. Os homens ocos. Oisponível em hup:/ /mescjuiui.liloi>.hr/ poe,si;i-ts-<.lliot

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

Por que gosta de poesia e de Eliot? Talvez nem ele saiba.Em algum momento de sua vida, supondo que lide profissionalmen

te com literatura, ele tomou uma decisão. Talvez tenha estudado numauniversidade. Talvez tenha prestado um concurso. Se trabalha com li

teratura, estará realizado? Será que se queixa da escolha que fez? Nunca

saberei.

Escolher uma profissão é um verbo que dura muitos anos na vida de

uma pessoa. Para alguns, a escolha é fácil. Desde cedo, alguns têm defini

das suas inclinações para um campo profissional e se preparam para ele.

Depois de preparados, uns encontram bons empregos; outros encontram

empregos razoáveis, outros batem em empregos ruins, e ainda há algunsque não encontram emprego. Ou ficam desempregados ou vão trabalhar

em outra área.

 A escolha profissional, portanto, é uma das mais importantes na vida de

uma pessoa, com reflexos sobre a própria vida e a de muitos, no presente

e no futuro.

Em relação ao passado, essa escolha ficou mais difícil,  por algumas

razões.

• No passado, a família tinha um peso muito forte na decisão do futu

ro profissional, às vezes, decisivo. Hoje a escolha é de natureza mais

pessoal, ouvindo-se ou não a família. Muitas vezes há conflito. O

 jovem tende a escolher pelo princípio do prazer. O adulto tende a

pensar em termos de remuneração.

• No passado, o elenco de profissões era menor. Em termos de ocu

pações de nível superior, eram poucas as possibilidades, comparadasàs de hoje, que podem ser enumeradas aos milhares se consideramos

as especializações. Vejamos o caso da engenharia, da medicina e da

comunicação, por exemplo. O jovem pode ficar confuso com tantas

possibilidades.

• No passado, a dinâmica da história era mais lenta e mais previsível.Hoje não se pode prever, por exemplo, que profissão remunerará

bem nos anos próximos, mesmo porque pode surgir alguma queainda não exista. Quem, há alguns anos, por exemplo, imaginou

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PRINCÍPIOS BÍBLICOS PARA A VIDA PROFISSIONAL

que haveria uma profissão como webmaster? Quem imaginou que

haveria algo como comércio eletrônico, que movimenta 10 bilhóes

de reais por ano no Brasil, dobrando a cada dois anos?

Há dois outros elementos complicadores.

O primeiro é que a escolha profissional se dá num momento pessoal de

autoconhecimento e de autodefimção. Ao mesmo tempo em que se define

como pessoa, a pessoa tem que definir a sua profissão. Não é fácil.

O segundo é para o cristão que ouve que a sua profissão deve glorificar

a Deus e proclamar o seu Reino, Como é isso possível? Como ísso deve sertornado possível? Não é fácil para um cristão escolher a sua profissão tendo

mais esse critério, entre tantos outros.

Tenhamos sempre em mente que o trabalho é um espaço de sobrevivên

cia financeira. O trabalho é um espaço de realização pessoal, pela interaçãoque proporciona e pelas habilidades que permite desenvolver. O trabalho é

um espaço de transformação da realidade.

Na instrução sobre o trabalho, em Efésios 6, o apóstolo Paulo orienta

as pessoas, patrões e empregados, a como conviverem com seus empregos.Ele parte da realidade do emprego. Para chegarmos lá, precisamos falar da

escolha do emprego.

Sugiro, então, alguns cuidados.

1. A escolha da profissão é um assunto de significado existencial e espiritual. Nossa realização como pessoas tem a ver com o acerto e com o erro

nessa escolha. Não devemos tratar nossa escolha profissional apenas como

uma questão de inteligência e de oportunidades. Não podemos separarreligião e vida. Tudo o que tem a ver com a vida tem a ver com Deus. Tudo

o que nos importa lhe importa.

2. A escolha da profissão tem que considerar o presente sem esquecer

o futuro. Assim, devemos estar atentos a todos os sinais do tempo, que

podem vir de feiras, leituras de jornais, revistas e guias de emprego, pro

gramas de rádio ou televisão ou de portais eletrônicos. Devemos usar os

recursos da imaginação bem informada para vermos cenários possíveis. A

decisão deve ser racional. Há profissões em que a remuneração é mais baixa

que em outras; no futuro, na hora de reclamar, devemos nos lembrar de365

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

que já sabíamos disso. Há ocupações que exigem alguns comportamentos

dos profissionais, em relação ao tempo empregado e ao estresse envolvido,

por exemplo. Uma vez ouvi de uma médica, casada, que escolheu deter

minada especialização porque não demandava plantões, que ela não queriapara a sua vida. Ela queria mesmo era ser obstetra, mas escolheu outra área,

porque sabia que a obstetrícia não sabe o que é noite, feriado ou férias lon

gas. Precisamos nos expor a experiências diferentes.

3- A escolha da profissão deve ser regida pelo princípio do prazer, as

sociado ao princípio da realidade. O princípio do prazer está na gênese; o

da realidade, no meio e no fim do processo de escolha. Devemos prestar

atenção para ver o que nos dá prazer. Uma boa maneira de saber de quegostamos é notar o que não nos dá prazer. Se vemos sangue e nos horro

rizamos, não devemos escolher profissões da área da saúde, por exemplo.

Se detestamos matemática, a engenharia não nos é recomendável. Se não

gostamos de conversar com pessoas, já sabemos que precisamos de uma

profissão de pouco contato. A diminuição de algumas possibilidades reduz

a nossa tensão na escolha. Em todas as situações, precisamos prestar aten

ção ao ideal profissional que temos com o real de que dispomos. E aquiintroduzo o gosto por algumas áreas, como arte e esporte. Ilustro com um

caso. Conheci um menino, excelente jogador de futebol, que começou

a tentar vencer treinando em pequenos e grandes times. Chegou a um

grande time, ainda amador, e se encantou. Seus pais e amigos diziam que

continuasse a estudar. Ele achou que iria vencer e ganhar muito dinheiro

sem precisar estudar. Não passou na peneira. Hoje é um jogador frustra

do e não tem nenhuma outra profissão. No caso da arte, especialmente a

música, há possibilidades, mas são poucas, porque a arte não é valorizada

como deveria. Não se deve abandonar o prazer nem o ideal, mas o ideal

é que o interesse pela arte seja acompanhado, se for o caso, por alguma

outra profissão, numa dupla e dura jornada. Alguns, quem sabe, poderão

se dedicar só à arte, sabendo que o retorno financeiro é de alto risco. A

peneira é muito fina. Vejamos os casos dos escritores brasileiros: quantos

podem viver dos seus livros? Mesmo os maiores vivem do trabalho como

 jornalistas ou colunistas. A maioria dos livros publicados no Brasil não foiproduzida por escritores de tempo integral, nem por isto eles deixaram de

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PRINCÍPIOS BÍBLICOS PARA A VIDA PROFISSIONAL

ser escritores e se realizar como tais. Nem sempre devemos colocar todos

os ovos apenas numa cesta.

4, A escolha da profissão deve deixar em equilíbrio duas possibilidades:a da realização pessoal e a da realização espiritual. Esse equilíbrio acontecequando o trabalho é desenvolvido com um sentido de missão. Para que e

para quem fazemos o que fazemos? José, do Egito, tinha uma visão clara a esse respeito. Quando se re

 velou aos aterrorizados e covardes irmãos, explicou por que chegou ao

cargo de primeiro-ministro: A gora, não se aflijam nem se recriminem por  

terem me vendido para cã, pois foi para salvar vidas que Deus me en viou 

adiante de vocês. (...) Deus me enviou à frente de vocês para lhes preservar  

um remanescente nesta terra e para salvar-lhes a vida com grande livramen

to. A ssim, não foram vocês que me mandaram para cã, mas sim o próprio 

 Deus. Ele me tornou ministro do faraó e me fez administrador de todo o pa

lácio e governador de todo o Egito. Voltem depressa a meu pai e digam-lhe:  Assim diz o seu filho José: Deus me fez senhor de todo o Egito. Vempara cá, não 

te demores (Gn 45.5-9).

Numa hora de grande dificuldade, Mardoqueu aconselhou a rainhaEster com palavras que se aplicam a todo aquele que vive para Deus, mes

mo num ambiente em que a palavra “Deus” não deve ser pronunciada ou

num ambiente dominado por uma racionalidade totalmente econômica

ou tecnológica: Não pense que pelo fato de estar no palácio do rei, você será a única entre os judeus que escapará, pois, se você ficar calada nesta hora, socorro 

e livramento surgirão de outra parte para os judeus, mas você e a família do 

seu pai morrerão. Quem sabe se não foi para um momento como este que você 

chegou àposição de rainha? (Et 4.13' 14). Paulo, ao fazer um resumo de suacarreira, concluiu: Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de 

valor algum para mim mesmo, se tão somente puder terminar a corrida e co?n- 

pletar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho 

da graça de Deus (At 20.24). O que ele queria mesmo era dizer, ao finalde sua vida: Combati o bom combate, terminei a corrida [carreira — ARAJ, 

guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo 

 juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que anittin a siiit vinda (2 Fm4,7-8).

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

5. Em termos práticos, se as coisas estão claras, devemos fazer nossa

escolha e trabalhar duro para levá-la adiante. Se as coisas não estão claras, e

o horizonte da escolha nos parece obscuro, eis aí algumas sugestões:

• Como Deus tem interesse no que interessa a você, sobretudo no seuinteresse profissional, ore sempre a ele pedindo orientação. Não o

deixe de fora na hora de escolher a carreira a seguir.

• Envolva sua família na sua escolha. Não bata cabeça sozinho. Bata

com mais alguém... Não despreze a experiência dos mais velhos, que já passaram pelas mesmas coisas que você passa.

• Faça um teste vocacional. Ele pode não ser definitivo, mas será bastante orientador.

• Leia sobre profissões. Leia muito. Veja muito. Converse muito. Nãotome decisões ligeiras. Duvide de suas escolhas no tempo de duvidar

de suas escolhas.• Decida. Ore. Siga em frente, o que envolve ainda mais esforço, em

penho e estudo.

Se você não vai bem na vida, por ter feito escolhas que o tempo mos

trou não serem as melhores para a sua vida neste lugar e neste tempo, eis

algumas sugestões:

• Admita que fez uma escolha, a melhor na época da decisão, mas

errada com o tempo. Não há problema nisso, desde que não fique

apenas se culpando.

• Peça orientação e vigor a Deus para este novo momento também.• Busque ajuda na família ou em especialistas. Leia bastante. Examine

tudo para não errar de novo, embora toda mudança comporte riscos.

Seja ousado e cauteloso ao mesmo tempo. Ponha em risco o que você pode pôr, não o que não pode.

• Comece a mudar. Não mude de emprego a toda hora, mas se con

cluiu que a sua profissão não o vai levar aonde quer ir, comece amudar. Fixe-se no que você quer agora. Faça um novo curso para se

capacitar a uma nova ocupação.

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PRINCÍPIOS BÍBLICOS PARA A VIDA PROFISSIONAL

• Na hora certa para a mudança, ponha-se em marcha.

Se, com as coisas claras, ainda está a caminho de uma definição ou se játomou a decisão, lembre-se de algumas atitudes:

• Ponha sua escolha diante de Deus, para que a confirme ou negue.

Essa é uma decisão muito importante para você a tomar sozinho.

O trabalho é um meio de graça para nós. Só podemos suprir a nós

mesmos e a nossa família por meio do trabalho.

• Esforce-se desde já para conhecer a sua profissão. Não a comece totalmente cru. Leia tudo que puder. Há boas introduções para qual

quer profissão. Assista a programas de televisão. Veja debates. Visite

locais de trabalho. Leia tudo o que vier à sua mão. Saber não ocupa

espaço. Vá se inteirando do mundo das profissões, em uma delas

 você vai passar grande parte da sua vida. Não pense na profissão

como uma coisa só para o futuro; invista agora. Seja o melhor. Há

lugar para os melhores.

• O trabalho é algo digno. Jesus o dignificou na vida pessoal (ele era

carpinteiro — Mc 6.3), ao viver e declarar: Meu Pai continua traba

lhando até hoje, e eu também estou trabalhando. (...) o Filho não pode 

 fazer nada de si mesmo; só pode fazer o que vê o Pai fazer, porque o que 

o Pai faz o Filho também faz (Jo 5.17,19).

• Testemunhe no seu trabalho, não importa qual seja ele. Diferencie-

se pela ética no trabalho e pela ética do trabalho.

• Deixe um espaço para o voluntariado. Use seu conhecimento paraajudar outras pessoas na sua área profissional. Use seu tempo para

ajudar outras pessoas, dentro e fora de sua área profissional. Lembre-

se você vive no ínterim. Seu emprego final está na pátria celeste: por

enquanto estamos indo para lá, lugar definitivo. Enquanto estamos

indo, sejamos os melhores aqui.

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47 E f é s i o s   6 .10-20

Na força do poder de Deus

 A batalha espiritual nos faz pensar em possessão demoníaca, 

demonstrações horríveis do poder de Satanás, mas as Escrituras 

apresentam a batalha espiritual não como um fim violento e bizarro 

da vida cristã, mas como aquilo que a inda cristã éP 

Uma das garantias mais claras da Bíbliaé que Deus dá força àqueles queconfiam nele. A promessa está espalhada pela sua Palavra, em forma de

frases e de exemplos.O apóstolo Paulo sintetiza essa garantia no contexto de duas áreas

específicas, em que as dificuldades são maiores: a vida familiar e a vidaprofissional. Assim, ele termina sua grande lição sobre a mutualidade nos

relacionamentos em casa e no trabalho com um desafio, que é, ao mesmo

tempo, uma promessa:

 Finalmente, fortaleçam-se no Senhor e no seu forte poder. Vistamtoda a armadura de Deus, para poderem ficar firmes contra as ciladas do 

 Diabo, pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, con tra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais. Por isso, vistam toda 

a armadura de Deus, para que possam resistir no dia mau e permanc 

cer inabaláveis, depois de terem feito tudo. Assim, mantenham se firmes,

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NA FORÇA DO PODER DE DEUS

cingindo-se com o cinto da verdade, vestindo a couraça da justiça e tendo 

os pés calçados com a prontidão do evangelho da paz. A lém disso, usem o 

escudo da fé, com o qual vocês poderão apagar todas as setas inflamadas do Maligno. Usemo capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a 

palavra de Deus. Orem no Espírito em todas as ocasiões, com toda oração 

e súplica; tendo isso em mente, estejam atentos eperseverem na oração por  

todos os santos.

Orem também por mim, para que, quando eu falar, seja-me dada a 

mensagem a fim de que, destemidamente, torne conhecido o mistério do 

evangelho, pelo qual sou embaixador preso em correntes. Orem para que, permanecendo nele, eu fale com coragem, como me cumpre fazer.

Efésios 6.10-20

Precisamos permitir que o Espírito Santo molde a nossa mente, de

modo a nos preparar para a batalha,

1. Tenhamos em mente que a vida é uma guerra de natureza 

espiritual

Gosto de ouvir o apóstolo Paulo dizendo que nossa luta não é contra carne

e sangue, porque passamos a maior parte da vida neste tipo de luta. Ah se

lêssemos mais a Bíblia!

 A palavra “luta” significa um combate entre duas pessoas até que uma

derrube a outra e a atire para fora da zona de conflito.

 A nossa luta é contra inimigos muito poderosos, que só podem ser en

frentados com o poder de Deus. O diabo erige seus castelos no ar e na

terra, mas seus castelos serão derrubados. Quando leio esse texto, imagino

uma luta de esgrima no ar, mas também imagino a luta surda que enfren

tamos na cena comum, onde vemos o mal como tão arraigado que parece

“inexorcizável”. Quem de nós acha que um dia teremos um Brasil sem

corrupção, que se tornou um estilo de vida entre os príncipes e os plebeus?

Isso pode soar um pouco estranho, porque convivemos com pessoas

que espiritualizam tudo e com pessoas que não espiritualizam nada, naturalizando tudo.

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

No entanto, só podemos compreender a vida se a compreendermos

como a Bíblia a compreende.2E a Bíblia diz que a vida é uma guerra de na

tureza espiritual, mesmo que estejamos acossados por pessoas e situações,

às quais o apóstolo Paulo chama de carne e sangue (versículo 12).

Para muitos, religião tem a ver com satisfação de seus desejos; e, de fato,

tem, mas a religião pagã, não o cristianismo, que tem a ver com um rela

cionamento de paz com Deus, apesar dos esforços de Satanás para impedir

a paz.

Paulo, que sofreu, como poucos, por amar a Deus e pregar a sua Pala

 vra, nos diz que a luta do cristão não é contra carne e sangue. E como se

o apóstolo dissesse de si mesmo o seguinte: “Carne e sangue são reais epodem fazer muito mal. No entanto, onde quer que a carne de alguém me

ataque ou o sangue de alguém ferva contra mim ou meu caminho seja im

pedido por um homem, há algo acontecendo, algo mais profundo, maior,

pior, mais sinistro, mais destrutivo diante de mim. E claro que carne e

sangue podem ofender ou atrapalhar a causa de Cristo. O que eu quero

dizer é que o príncipe do poder do ar é mais perigoso que qualquer dos

seus súditos, mas que será superado em cada momento do conflito ou que

ele já perdeu a batalha.”s

Paulo está nos dizendo que, mesmo que estejamos em meio a conflitos,

até mesmo injustiças e perguntas pessoais sem resposta, a nossa verdadeira

luta não é contra carne e sangue. Os discípulos de Jesus, não são deste

mundo; não que as coisas deste mundo não lhes importem, mas são colo

cadas no devido lugar.

Se cremos assim na Palavra de Deus, o desafio soa claro: fixemos menos

os nossos olhos na carne e no sangue, porque a nossa luta é mais em cimae já foi vencida por Cristo para nós.

“STEDMAN, Ray. A devotíon for September 21st. Disponível em <http:/ / www. 

raystedman.org/ daily-devotions/ 2-corinthians/ our-secret-weapons>. Acessado em 31/7/2011 .

5PI PER, John. Ready to Move with the Gospel of Peace. Disponível em <http:/ / www. 

desiringgod,org/ ResourceLibrary/ Sermons/ ByScripture/ 3/ 639_Ready_to_ Move wii li the Clospel of Peace>. Acessado em 1/ 7/ 2011.

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NA FORÇA DO PODER DE DEUS

2. Vistamos a armadura de Deus Já que nossa vida é uma guerra, nas áreas familiar e profissional, precisa

mos estar preparados. Preparados e fortalecidos.E só estaremos fortalecidos se vestirmos a armadura de Deus.Para as lutas humanas, há armaduras, mas não há garantia de vitória

com elas. A fotografia premiada como a melhor de 2007 mostra um soldado exausto no Afeganistão. Eis uma imagem perfeita das guerras travadascontra a carne e o sangue.

Na guerra espiritual, contamos com a armadura vencedora, indestrutí vel, de Deus. Em outras palavras, Deus nos oferece os recursos para a luta

contra Satanás.O apóstolo Paulo conhecia bem a armadura dos soldados romanos, es

pecialmente depois de ter passado cerca de três anos vigiado por alguns deles. Talvez tenha escrito esse texto tendo um soldado uniformizado diantede si, enquanto ditava sua correspondência.

Nesse período, a armadura de um soldado consistia de escudo, espada,lança, capacete e couraça. Paulo omite a lança, mas acrescenta o cintoe os sapatos, que, embora não fizessem parte da farda militar, eram-lhe

necessários.O apóstolo usa, na verdade, a armadura como uma metáfora, porque a

cada peça acrescenta um elemento de natureza espiritual, capaz de levar à vitória espiritual.

O cinto do cristão é a verdade. E a verdade que impede que sua roupacaia. Toda a sua vida está erigida sobre a verdade.

 A couraça do cristão é a justiça. Todos os seus relacionamentos são justos.

O sapato do cristão é a paz. Onde vai, o cristão planta o evangelho dapaz, a reconciliação com Deus, como embaixador de Cristo.O escudo do cristão é a fé. É a fé em Deus que o protege de confiar em

si mesmo, de seguir os outros.O capacete do cristão é a salvação. O que despencar sobre a cabeça do

cristão não lhe causará dano porque é resistente o capacete da salvação,colocado pela graça.

 A espada do cristão é a Palavra de Deus. A armadura do cristão tem

quatro armas de defesa e duas de ataque. A primeira é o sapato, usado paracaminhar e anunciar. A segunda é a espada, empregada para alcançai

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PASTOREADOS POR PAULO — VOL. 1

pessoas com a Palavra de Deus, não com as suas, por mais sábias e experientes que sejam. A armadura é, ao mesmo tempo, arma de defesa e de

ataque.O diabo existe e nos põe ciladas. Ele conhece os pontos fracos na nossaarmadura. Nós temos pontos fortes que são nossos pontos fracos.

Não há consolo em conhecer as ciladas do mal, mas há consolo emsaber que Deus nos coloca à disposição sua armadura (cinto da verdade,couraça da justiça, sapatos da paz, escudo da fé, capacete da salvação e espada da Palavra de Deus).

3. Oremos maisPrecisamos da armadura de Deus, mas também precisamos da oração a Deus. Satanás treme quando um cristão se ajoelha, segundo o versículocitado por A. T. Robertson.4

Por isso, como recomenda Paulo, devemos orar em todas as ocasiões(versículo 18).

Precisamos orar mais, como indivíduos (e aqui me incluo desesperadamente) e como igrejas.

 A oração é a nossa fraqueza e a nossa força. Só oramos quando reconhecemos que somos fracos. Quando oramos, somos fortalecidos comcoragem para a luta.

4. Preguemos o evangelhoO maior inimigo do evangelho é Satanás. Onde o evangelho todo é anunciado, ele perde tudo. Por isso, nossa maior luta é pregar o evangelho, oevangelho todo, ao homem todo e a todo homem, em todos os lugares.

Perdemos muito tempo em lutar contra carne e sangue quando devemoslutar contra Satanás, anunciando o evangelho aos seus súditos, para que se

convertam a Jesus Cristo.

'ROBERTSON, A. T. Disponível em<https:/ / docs.google.comviewer?url=http%3A%2!:

%2Fwww.abiblecommentary.com%2Fephe-siansatrobertson.pdf >. Acessado cm 30/ 7/ 2011.

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