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50 DBO novembro 2013 MARISTELA FRANCO [email protected] A costume seus ouvidos – o termo rotatínuo veio para ficar, se ins- crevendo definitivamente no di- cionário da pecuária. Cunhado pelo pro- fessor Paulo César Faccio Carvalho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), esse neologismo define um novo sistema de manejo de pastagens, que promete aumentar a produção tanto de carne quanto de leite no País. Mescla de rotativo com contínuo, a palavra dá uma pista clara do conceito técnico que o nor- teia. Os bovinos continuam sendo agrupa- dos em lotes que mudam frequentemente de piquete (como no rotacionado), mas o principal critério para definição do tempo de permanência na área não é o capim e sim o comportamento dos animais, que O boi é quem manda Pastejo “rotatínuo” não abre mão da rotação de piquetes, mas respeita comportamento natural dos animais, que consomem apenas porção mais nobre do pasto. podem selecionar o alimento, como no pastejo contínuo. Essa é a grande “sacada” do novo sis- tema, ainda pouco conhecido pelos pecu- aristas de corte, mas já bastante usado por produtores de leite do Rio Grande do Sul. “Após 14 anos de pesquisa, comprovamos que os ruminantes têm hábitos de pastejo muito próprios. Quando podem escolher, comem apenas a parte mais nutritiva das plantas (as folhas), rejeitando os materiais senescentes e os mais duros, como os col- mos. O que fazemos, no rotatínuo, é respei- tar esse comportamento, elevando a pro- dutividade tanto de carne quanto de leite”, explica Faccio. Segundo ele, o grande dile- ma atual do manejo de pastagens é escolher entre duas correntes: a máxima eficiência de colheita do capim e a máxima eficiência de utilização desse alimento pelo animal. A partir de determinado momento, elas pas- sam a ser antagônicas. “Nós privilegiamos a segunda”, salienta. A altura de entrada do gado no pasto não tem segredo: corresponde a 95% de interceptação luminosa, conforme reco- mendam pesquisadores como Sila Carnei- ro da Silva, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). Acima desse percentual de luz incidente, a planta começa a emitir mais colmos do que folhas, perdendo qualidade. “Chegamos à mesma conclusão, em 2004, por intermé- dio de outra linha de pesquisa. Observando o comportamento dos animais, descobri- mos que, em pastagens com altura corres- pondente a 95% da interceptação luminosa, ocorriam as máximas taxas de ingestão”, esclarece o pesquisador gaúcho. Mas qual deve ser a altura de saída? Neste ponto, o rotatínuo diverge dos demais sistemas de pastejo em uso e ganha singularidade. Pastagens Animais no módulo de tifton irrigado, que é usado praticamente o ano inteiro. FOTOS: MARISTELA FRANCO

Pastagens - ufrgs.br boi é quem manda.pdf · de leite aumenta. No gado de corte, apesar dos resultados serem menos evidentes (não podem ser medidos no balde), pesagens re-gulares

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50 DBO novembro 2013

Maristela [email protected]

Acostume seus ouvidos – o termo rotatínuo veio para ficar, se ins-crevendo definitivamente no di-

cionário da pecuária. Cunhado pelo pro-fessor Paulo César Faccio Carvalho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), esse neologismo define um novo sistema de manejo de pastagens, que promete aumentar a produção tanto de carne quanto de leite no País. Mescla de rotativo com contínuo, a palavra dá uma pista clara do conceito técnico que o nor-teia. Os bovinos continuam sendo agrupa-dos em lotes que mudam frequentemente de piquete (como no rotacionado), mas o principal critério para definição do tempo de permanência na área não é o capim e sim o comportamento dos animais, que

O boi é quem mandaPastejo “rotatínuo” não abre mão da rotação de piquetes,

mas respeita comportamento natural dos animais, que consomem apenas porção mais nobre do pasto.

podem selecionar o alimento, como no pastejo contínuo.

Essa é a grande “sacada” do novo sis-tema, ainda pouco conhecido pelos pecu-aristas de corte, mas já bastante usado por produtores de leite do Rio Grande do Sul. “Após 14 anos de pesquisa, comprovamos que os ruminantes têm hábitos de pastejo muito próprios. Quando podem escolher, comem apenas a parte mais nutritiva das plantas (as folhas), rejeitando os materiais senescentes e os mais duros, como os col-mos. O que fazemos, no rotatínuo, é respei-tar esse comportamento, elevando a pro-dutividade tanto de carne quanto de leite”, explica Faccio. Segundo ele, o grande dile-ma atual do manejo de pastagens é escolher entre duas correntes: a máxima eficiência de colheita do capim e a máxima eficiência de utilização desse alimento pelo animal. A partir de determinado momento, elas pas-

sam a ser antagônicas. “Nós privilegiamos a segunda”, salienta.

A altura de entrada do gado no pasto não tem segredo: corresponde a 95% de interceptação luminosa, conforme reco-mendam pesquisadores como Sila Carnei-ro da Silva, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). Acima desse percentual de luz incidente, a planta começa a emitir mais colmos do que folhas, perdendo qualidade. “Chegamos à mesma conclusão, em 2004, por intermé-dio de outra linha de pesquisa. Observando o comportamento dos animais, descobri-mos que, em pastagens com altura corres-pondente a 95% da interceptação luminosa, ocorriam as máximas taxas de ingestão”, esclarece o pesquisador gaúcho. Mas qual deve ser a altura de saída? Neste ponto, o rotatínuo diverge dos demais sistemas de pastejo em uso e ganha singularidade.

Pastagens

Animais no módulo de tifton irrigado, que é usado praticamente

o ano inteiro.

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O que é o índice de interceptação luminosa?

É um parâmetro técnico obtido ao medir-se, com aparelho adequado, a quantidade de luz acima e abai-xo do capim. A diferença entre esse valores é o percentual interceptado ou captado pela planta para fazer fo-tossíntese. Índices baixos de IL não garantem boa produção de forragem, índices acima de 95% resultam em acúmulo de material duro e senes-cente. O índice ideal de IL correspon-de a determinada altura do pasto, medida prática utilizada pelos pecu-aristas para manejá-lo.

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do sol, e nem à noite. Portanto, é necessá-rio fornecer-lhes condições para que man-tenham a maior velocidade possível de in-gestão. Quando isso acontece, a resposta é imediata: de um dia para o outro a produção de leite aumenta. No gado de corte, apesar dos resultados serem menos evidentes (não podem ser medidos no balde), pesagens re-gulares confirmam aumento no ganho de peso diário, quando se respeita o hábito na-tural de pastejo dos animais.

Só no filé – As pesquisas mostraram tam-bém que os bovinos têm outro comporta-mento típico: em condições naturais, re-movem no máximo metade da forragem disponível por horizonte de pastejo. Ou seja, comem camadas sucessivas de forragem, sempre na mesma proporção: 40% a 50% do total ofertado. “Ainda precisamos entender melhor por que isso acontece, mas se trata de um fato inequívoco, confirmado por inúme-ros trabalhos de pesquisa, independentemen-te da planta forrageira estudada”, diz Faccio.

Velocidade de ingestão norteia novo sistema de pastejo

Faccio, da UFRGS: filosofiado não-desperdício rebaixa muito

o pasto e prejudica o animal.

o boi fala – Segundo Faccio, nos últimos anos, disseminou-se, entre técnicos e produ-tores, uma filosofia do não-desperdício que leva ao rebaixamento excessivo do pasto. Isso prejudica principalmente o gado, que é obrigado a comer forragem de menor qua-lidade. “Somos totalmente contrários a essa prática”, diz o pesquisador. No rotatínuo, a altura de saída é ditada pelo “comensal”, ou seja, pelo boi. Um produtor gaúcho usuário do sistema costuma dizer que, “quando os animais começam a conversar com as formi-gas” (ou seja, diminuem o ritmo de pastejo) é hora de mudá-los de piquete, pois, do con-trário, haverá queda de desempenho.

Diversos trabalhos realizados ao longo da última década pelo Grupo de Pesquisa em Ecologia do Pastejo da Universidade Fe-deral do Rio Grande do Sul (UFRGS), co-ordenado por Faccio, comprovaram que os bovinos reduzem a velocidade de colhei-ta de capim quando este perde qualidade. Ficam andando a esmo, em busca de algo melhor. “Comprovamos isso ao colocar pe-quenos computadores no pescoço dos ani-mais, que registram os movimentos de sua mandíbula e, consequentemente, o número de bocados (ato de apreensão do alimento) desferidos durante um dia de pastejo, o que possibilita medir sua velocidade de inges-tão”, explica o pesquisador.

Quando o pasto está fora do padrão dese-jável, o número de bocados cai drasticamen-te e o bovino demora mais tempo para se ali-mentar. Imagine uma mesa cheia de pratos apetitosos, que atraem imediatamente a aten-ção dos comensais. Em pouco tempo, ela fica vazia, enquanto outra, com comida in-

sossa ou já velha, somente é visitada quando a fome bate forte. Isso também acontece com os bovinos. Em pastagens com boa estrutura (altura adequada), ricas em folhas novas, nu-tritivas, cada indivíduo pode dar até 40 bo-cados por minuto, apreendendo mais de 570 mg de matéria seca por bocado, enquanto em pastos muito baixos ou já fora do ponto óti-mo de colheita, esse número cai para a me-tade, com reflexo negativo sobre o desempe-nho do bovino.

Animais de alta demanda nutricional, como as vacas leiteiras, são especialmente prejudicadas pelo fenômeno, pois têm pou-co tempo para pastejar. Colhem forragem praticamente 1,5 hora antes da ordenha da manhã e 1,5 hora antes da ordenha da tar-de. Não pastejam ao meio-dia, por causa

Como o bovino se comporta

Tifton 85 Sorgo

Taxa

de

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(gM

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Rebaixamento do pasto (% da altura inicial)

0.200.180.160.140.120.100.080.060.040.020.00

10 20 30 40 50 60 70 80 90

Consumo cai após pastejo de 40% da altura inicial

s

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No gráfico, pode-se ver que a taxa de inges-tão (medida em gramas de matéria seca por minuto) mantém-se alta e contínua enquanto os bovinos estão colhendo até 50% da altura do pasto; depois disso, ela cai progressiva-mente. “Eles comem somente o filé do ca-pim”, diz Faccio.

Essa descoberta foi usada para definir a altura de saída dos lotes (veja tabela). Se a área é de tanzânia, por exemplo, a altura de entrada deve ser de 70 cm (95% da intercep-tação luminosa ou máxima velocidade de in-gestão) e a altura de saída (resíduo) de 42-40 cm, que representa consumo de 40% do total ofertado. No máximo, é possível rebaixar o pasto a 35 cm, ou seja, 50% da altura inicial. Na primeira metade do estrato forrageiro, encontram-se os alimentos preferidos pelos animais, como hastes finas e folhas tenras, que apresentam melhor valor nutricional. Abaixo disso, devido às características mor-fológicas das plantas forrageiras, esses com-ponentes tornam-se escassos e o ritmo de ingestão diminui, não apenas em função da menor qualidade do capim, mas porque fica mais difícil colhê-lo.

O grupo de pesquisa coordenado por Faccio confirmou que há forte correlação en-tre a estrutura do dossel forrageiro e o tem-po dispendido pelos bovinos para se alimen-tar. Em pastos baixos, eles precisam desferir mais bocados para capturar a mesma quanti-dade de alimentos e gastam mais tempo nes-sa tarefa. “É como levar o garfo várias vezes ao prato e retirá-lo de lá vazio ou somente com duas tirinhas de alface”, diz o pesqui-sador. Se, ao invés da altura ideal de entrada (20 cm), um pasto de tifton tiver 15 cm, os animais gastarão 25% mais tempo para cap-turar a mesma quantidade de alimento que obtinham antes. Se pastejavam 10 horas, te-rão de pastejar 12,5. “Caso o produtor deci-da rebaixar ainda mais o dossel, para 10 cm, eles precisarão de 20 horas para se alimen-tar e, como não dispõem de todo esse tempo, sentirão fome ou engordarão menos, inclusi-ve porque terão de dispender energia andan-do pela área”, explica Faccio.

ProPoSta de manejo – A proposta do sistema rotatínuo, portanto, é manejar o pasto de modo a favorecer os animais. “Não

somos como pais rígidos e tradicionais que dizem a seus filhos: vocês têm de comer tudo. Deixamos eles degustarem apenas o miolinho da chuleta e descartar ossos, gor-dura e porções menos nobres do alimento, passando ao próximo prato”, compara o pesquisador gaúcho. “O conceito de desper-dício é uma criação do homem, não exise na natureza”, salienta. Ao se colher somente a parte superior da pastagem, a velocidade de ingestão aumenta e, consequentemente, diminui o período de descanso, que se tor-na variável, devido às flutuações no cresci-mento das forrageiras. No verão, em regi-ões de clima quente, esse período cai para até um terço do praticado anteriormente. A lotação é ajustada conforme a oferta de for-ragem, medida pela técnica do quadrado ou pelo olho do manejador.

Como o animal fica menos tempo em cada pasto, é preciso fazer alguns ajustes

no layout (desenho) dos módulos de paste-jo. “Reduzimos o número de piquetes pela metade, aglutinando-os, para imprimir maior velocidade à rotação”, informa Faccio. Se-gundo ele, no começo, os pecuaristas estra-nham um pouco isso, mas depois agrade-cem, porque o manejo fica mais fácil. Não há risco de se prejudicar a rebrota do pasto ou favorecer o acúmulo de material de baixo valor nutricional. Pelo contrário, com o giro rápido dos piquetes, a pastagem está sempre no ponto certo de entrada e apresenta alto vi-gor vegetativo, mantendo bom desenvolvi-mento radicular. “Em manejos mais agres-sivos, que levam ao rebaixamento excessivo do pasto, a planta é forçada a direcionar boa parte de suas reservas para a emissão de fo-lhas e novos perfilhos, com prejuízo às raí-zes”, explica Faccio.

O sistema rotatínuo tem outro compo-nente atrativo – é autosustentável. Nas pro-priedades que já o adotam há dois/três anos, verifica-se maior acúmulo de matéria orgâ-nica no solo, o que também indica alta taxa de seqüestro de carbono, devido ao cresci-mento quase ininterrupto da gramínea for-rageira. Além disso, o sistema é mais “ver-de”, ou seja, a engorda ou produção de leite dá-se quase exclusivamente a pasto, pois os animais, ao consumirem apenas a parte no-bre do capim, demandam menos alimentos complementares, como silagem e ração con-centrada. O grupo de pesquisa coordenado por Paulo César Faccio agora está realizan-do experimentos para avaliar ganhos de peso no rotatínuo, em comparação com o rotacio-nado comum, e para investigar uma possível redução nas emissões de gás carbônico den-tro desse novo sistema.

Alturas de entrada e saída do capim no Sistema Rotatínuo

Espécies Entrada Saída

Aveia 29 17

Azevém 20 12

Tifton 20 12

Campo nativo 12 7

Sorgo/Milheto 50 30

Aruana 40 25

Mombaça 90 50

Tanzânia 70 40

Braquiarão 30 18

Xaraés 25 15

Fonte: Faccio/Davi Teixeira

Equipamento mede quantos bocados o animal dá por minuto.

Pastagens

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Fazenda usa sistema para produzir novilho precoce

Na Fazenda Santa Cruz, localizada em São Borja, na fronteira oeste do Rio

Grande do Sul, o produtor Sidnei Pires Gerhardt, 63 anos, decidiu adotar o siste-ma de pastejo rotatínuo e tem obtido ga-nhos de 900 g a 1 kg/cab/dia. Durante muito tempo, ele foi produtor de bezer-ros, chegando a ganhar prêmios, mas há cinco anos dedica-se exclusivamente à re-cria/engorda. Seu rebanho soma 1.200 ca-beças e apresenta taxa de desfrute eleva-da, entre 60% e 70%, o que significa abate de 720 a 900 novilhos precoces por ano. Os animais são comercializados aos 18-24 meses, com peso de 17 a 18@, para pro-gramas de carne de qualidade como os conduzidos pelas associações de Angus e Hereford. “Nossa meta é abater 1.000 no-vilhos/ano”, explica Gerhardt.

A propriedade (herança de sua esposa Simone) possui 1.200 hectares, dos quais 760 são ocupados por pastagens, parte de-las manejadas de forma intensiva.

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“Temos dois módulos de rotatínuo, ambos usados para terminação”, informa o produtor. O primeiro é composto por 22 ha de tifton, divididos com cerca elé-trica em 18 piquetes de 1,2 ha cada. “De-cidimos irrigar a área com aspersores do tipo canhão porque nosso verão costuma ser marcado por períodos de estiagem, ao contrário do que ocorre no Centro-Oeste”, explica Gerhardt. No inverno, a pastagem é consorciada com aveia, semeada em plantio direto. Essa forrageira anual viceja de junho a outubro, quando o tifton volta a rebrotar com vigor e se torna o principal alimento do gado. As duas gramíneas são complementares e possibilitam a engor-

Fazenda em números

• Nome: Fazenda Santa Cruz• Localização: São Borja, RS• Área total: 1.200 ha• Área de pastagens: 720 ha• Lavoura de arroz: 220 ha• Rebanho: 1.200 machos• Abate: 720 a 900 cab/ano• Área com rotatínuo: 72 ha

RS

Porto Alegre

Novilhos no módulo de rotatínuo de sequeiro, em pastagem consorciada de inverno, que contém aveia, azevém e trevo vesiculoso (detalhe).

São Borja

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da quase ininterrupta de animais, sempre sob altas lotações (4 novilhos de 450 kg de peso vivo/ha na saída do inverno, che-gando-se a 12 no verão). “Dá para colocar até 200 animais nessa área, por causa da irrigação e do bom manejo da pastagem”, diz Gerhardt.

O segundo módulo também é usado de forma bastante intensiva, apesar de não

ser irrigado. Seus 50 hectares de pastagens anuais são divididos em sete piquetes de sete hectares cada. No inverno/primave-ra, a área é coberta por um consórcio de aveia, azevém e trevo vesiculoso. Plan-tado em abril para pastejo de junho a no-vembro, esse trio forrageiro sustenta de 3 a 4 novilhos de 450 kg por hectare. No ve-rão/outono, a área é plantada com culturas

de verão (sorgo forrageiro, milheto ou ca-pim sudão), que possibilitam 120 dias de pastejo e garantem lotação de 5 a 6 cab/ha. Nos dois módulos de rotatínuo, os animais são suplementados com ração produzida na fazenda e fornecida na proporção de 1% do peso vivo, apenas nos últimos 45 dias de engorda, para melhor acabamento de gordura.

manejo SimPleS – Os piquetes são pas-tejados durante um ou dois dias, depen-dendo da época do ano, e ficam apenas 10 a 20 dias em descanso. Os funcioná-rios responsáveis pelo manejo já estão totalmente familiarizados com o sistema rotatínuo e sabem calcular tanto a oferta forrageira do pasto quanto as alturas cor-retas de entrada e saída. Foram treinados, inicialmente, pela técnica do quadrado, com pesagem e desidratação do material colhido para medição da quantidade de matéria seca disponível na área, mas de-pois, com o olho já “calibrado”, passaram a fazer isso de forma empírica. A altura das pastagens sempre norteia o manejo. Como elas são consorciadas, o cálculo é feito com base na espécie forrageira pre-dominante em determinado momento, o que exige atenção especial.

No módulo de rotatínuo maior (50 ha), não se faz adubação regular. Já no menor (22 ha irrigados), a reposição deverá ser fei-ta com base em análise anual. “Trata-se de uma área recém formada, previamente sub-metida a um mapeamento de precisão para se avaliar a fertilidade do solo, que foi cor-rigido e adubado”, informa Sidnei Gerhar-dt. Antes do plantio da gramínea perma-nente (tifton), a área foi calcariada (3 t/ha). Depois, no plantio, recebeu 150 kg de clo-reto de potássio e 150 kg de fósforo. A adu-bação nitrogenada (180 kg/ha) foi realizada em duas aplicações (fevereiro e junho), pe-ríodos em que o tifton, na região Sul, pre-cisa de uma “cota extra” de nitrogênio para recuperar sua força de rebrota.

“Não trabalhamos com adubações pe-sadas, como propõem alguns sistemas ro-tacionados. Rapar um piquete e depois despejar adubo químico nele é uma prática muito imediatista; é trabalhar com injeção

O casal Sidney e Simone Gerhardt aposta na tecnologia para produzir novilhos precoces.

Sistema de aspersão por canhão, com

reservatório incluído (ao lado), demandou

investimento de R$ 150.000.

Pastagenss

na veia para ressuscitar um paciente enfra-quecido. Nós procuramos retroalimentar o sistema, elevando o teor de matéria orgâ-nica do solo, o que garante maior retenção de nutrientes como o potássio, por exem-plo”, explica o zootecnista Davi Teixeira, da consultoria SIA (Serviço de Inteligên-cia em Agronegócio), que presta assistên-cia à Fazenda Santa Cruz e também tem difundido o rotatínuo dentro do Pisa (Pro-grama de Produção Integrada de Sistemas Agropecuários), que reúne 575 peque-nas propriedades do Rio Grande do Sul, a maioria delas voltada à produção leiteira.

O sistema tem perfil conservacionista e busca privilegiar a ciclagem de nutrien-tes. Somente o nitrogênio é reposto regu-larmente, em áreas submetidas a maiores lotações, mesmo assim em doses modera-

Ao lado, cerca elétrica divide piqueterecém-pastejado de outro em uso.

Abaixo, Davi Teixeira mostra alturasideias de entrada e saída do pasto.

das, para não pesar no bolso do produtor. Apesar do pouco tempo de uso (um ano), o módulo irrigado da Fazenda Santa Cruz já possui teor elevado de matéria orgâni-ca, acima do patamar mínimo recomen-dado, que é de 2,5%. Oscila entre 3,3% e 3,4%, enquanto nas pastagens degrada-das esse índice não passa de 1%. “É fundamental mane-jar bem o pasto para garan-tir boa conservação do solo e melhor aproveitamento de outros recursos naturais como a água. Na média anual, esse mó-dulo tem produzido mais de 20 toneladas de matéria seca por hectare/ano”, salien-ta Teixeira.

VálVula de eScaPe – A Fazenda Santa Cruz normalmente adquire seus animais com seis/sete meses de idade, na própria região. Quando chegam, eles vão para pastagens de braquiária e pensacola diferi-dos por 40 dias (abril/março), onde são su-

plementados com mistura protéica ou pro-téica-energética. Essas áreas constituem importantes “válvulas de escape” dentro da propriedade, em momentos críticos de oferta de forragem, como o período de es-tabelecimento das forrageiras de verão (sorgo, milheto etc), plantadas em novem-

bro. São 100 hectares de braquiária MG-5, previamente vedados, que podem receber grande quantidade de bezerros 45 dias an-tes da semeadura das forrageiras de ciclo anual no módulo de rotatínuo.

Já a pensacola (Paspalum notatum), gramínea originária da Argentina e adap-tada a climas temperados, ocupa áreas an-tes cultivadas com arroz. Sidnei Gerhardt arrenda cerca de 240 hectares anualmente para arrozeiros da região, que, após dois

Sistema tem perfilconservacionista e privilegiaciclagem de nutrientes

Pastagens

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anos de cultivo, lhe entregam o pasto já pronto. A lavoura vai mudando de lugar, em determinada parte da fazenda, visan-do à redução de pragas. Nas glebas ocu-padas pela pensacola durante três anos, o solo apresenta melhor perfil físico, devi-do à grande deposição de matéria orgâni-ca proporcionada pelo capim, e se observa bom controle do “arroz vermelho”, inva-sora prejudicial à cultura arrozeira. A fa-zenda também possui pastagens naturais melhoradas com aveia, azevém e trevo que sustentam parte dos animais de recria.

Para atingir sua meta de abater 1.000 novilhos precoces por ano, Sidnei Gerhar-dt planeja montar mais um módulo de ro-tatínuo irrigado. “O primeiro fator que limita a produção de capim é a água e o segundo é o nitrogênio”, explica o pro-dutor, que investiu R$ 150.000 no siste-

ma composto por aspersores, poço artesia-no, tanque e canalizações que irrigam seus atuais 22 ha de tifton (quase R$ 7.000/ha). Considerando-se uma produção média de 160 kg de peso vivo/dia, se o módulo for usado durante 300 dias no ano, produzirá

48.000 kg/período ou 2.200 kg/ha, que, ao preço de R$ 3,30 por quilo no Rio Gran-de do Sul, garantem receita bruta de R$ 7.260/ha. “Vale à pena. Com dois ou três anos de uso, já se recupera o investimento realizado”, conclui o produtor. n

Animais de recria em

pastagensnativas

melhoradas com espécies

mais produtivas, como a aveia.

Pastagens