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Panorama da Indústria Brasileira SÉRIE CADERNOS DA INDúSTRIA ABDI

Panorama da Indústria Brasileira

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Page 1: Panorama da Indústria Brasileira

Panoramada Indústria

BrasileiraSÉRIE CadERnoS da IndúStRIa aBdI

Page 2: Panorama da Indústria Brasileira
Page 3: Panorama da Indústria Brasileira

Panoramada IndústriaBrasileira

Luiz dias de BahiaRogério dias de araújo

Série Cadernos da Indústria aBdI

Brasília - 2007

Page 4: Panorama da Indústria Brasileira

© 2007 – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI)

Série Cadernos da Indústria ABDIQualquer parte desta obra pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.

ABDI/IPEA

Ficha Catalográfica

A183s ABDI/IPEA Série cadernos da indústria ABDI/ organizadores: Luiz Dias Bahia, Rogério Dias de Araújo. --- Brasília: ABDI/IPEA, 2007. 1 v.; 21 x 23 cm.; 176p.

1. Desempenho da Indústria. 2. Crescimento e Desenvolvimento. 3. Políticas Públicas. I. Autor. II. Título.

CDU - 65

ABDI Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial Setor Bancário Norte Quadra 1 – Bloco B – Ed. CNC70041-902 – Brasília – DFTel.: (61) 3962-8700www.abdi.com.br

IPEAInstituto de Pesquisa Econômica AplicadaSetor Bancário SulQuadra 1 - Bloco J - Ed. BNDES 70076-900 - Brasília - DF Tel.: (61) 3315-5000www.ipea.gov.br

Page 5: Panorama da Indústria Brasileira

República Federativa do Brasil

Luiz Inácio Lula da SilvaPresidente

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Miguel JorgeMinistro

Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI)Reginaldo Braga ArcuriPresidente

Clayton CampanholaDiretor

Evando Mirra de Paula e SilvaDiretor

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)Marcio PochmannPresidente

Marcio Wohlers de AlmeidaDiretor de Estudos Setoriais

Lenita Maria TurchiDiretora Adjunto de Estudos Setoriais

Page 6: Panorama da Indústria Brasileira

apresentaçãoO Panorama da Indústria Brasileira, publicação que inaugura a Série Ca-

dernos da Indústria ABDI, é o recorte de um processo veloz e contínuo

de transformação.

Nos sete anos de análise apresentados, a indústria nacional enfrentou a

realidade da economia globalizada e suas conseqüências, processo que

encontrou um Brasil cujas produtividade e qualidade eram deficitárias.

Para competir neste novo quadro, a indústria precisou se reinventar,

aumentando investimentos, revendo metas e construindo parcerias.

6

Page 7: Panorama da Indústria Brasileira

Como resultado, o setor industrial se provou eficiente em seu poder de adap-

tação e rapidamente percebeu o novo desafio: a busca da inovação e da dife-

renciação de produtos como fatores essenciais de competitividade. Em 2004,

a partir de um diálogo aberto com a iniciativa privada, o Governo Federal

implementou a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior, que

inicia agora sua segunda fase.

Da parceria entre Governo Federal e cadeias produtivas, constroem-se, hoje,

as rotas de competitividade da indústria brasileira, tendo como fortes ele-

mentos o potencial de expansão nos mercados interno e externo, a elevação

nos níveis de produtividade e o bom momento da economia do País.

A Série Cadernos da Indústria ABDI propõe dar foco a essas questões, apresen-

tando uma coletânea de textos que poderão subsidiar os debates em torno

da formulação de ações voltadas ao desenvolvimento industrial brasileiro.

O momento é de clara oportunidade de construirmos uma indústria nacional

forte, com mais emprego, mais renda e mais justiça social.

Miguel JorgeMinistro do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior

Reginaldo ArcuriPresidente da ABDI

7

Page 8: Panorama da Indústria Brasileira

A publicação do Panorama da Indústria Brasileira tem como

principal missão analisar de forma apurada o desempenho da

indústria no período recente. Entre os anos de 1999 e 2006, a

economia brasileira, assim como a indústria brasileira, passou por

diversas transformações.

A desvalorização cambial ocorrida no ano de 1999, o raciona-

mento de energia em 2001, os efeitos da crise argentina também

em 2001, e a valorização cambial recente foram uns dos desta-

ques em termos gerais da economia brasileira.

O desempenho externo da economia brasileira teve uma signi-

ficativa melhora após 2003. Deve-se enfatizar que esse bom de-

sempenho é devido não somente às exportações de produtos

primários, mas também do aumento de exportação de produtos

industriais.

Sumário Executivo

8

Page 9: Panorama da Indústria Brasileira

Os fatores que levaram a indústria brasileira a apresentar um de-

sempenho relativamente razoável nesse período são variados.

Destaca-se que determinados setores industriais apresentaram

desempenho mais destacado quando comparados com os de-

mais. Entre os setores que merecem destaque estão aqueles que

compõem o complexo metal-mecânico.

Neste trabalho, tivemos a preocupação de mostrar que o papel

da inovação é primordial para expansão e manutenção das ex-

portações, assim como para o crescimento da indústria.

9

Page 10: Panorama da Indústria Brasileira

10

Panorama da Indústria Brasileira

Page 11: Panorama da Indústria Brasileira

O aprimoramento tecnológico já vem sendo traçado por nossos prin-

cipais parceiros internacionais desenvolvidos e em desenvolvimento.

Mesmo em setores tradicionais, a inovação é essencial para consolida-

ção de estratégias de diferenciação de produtos e, conseqüentemen-

te, de conquista de novos mercados. Há evidências de que o emprego

se expande por meio das exportações e da inovação das empresas. O

adiamento da adoção de estratégias empresariais focadas na inovação

pode significar a perda de oportunidades de entrar na rota do desenvol-

vimento sustentável.

Finalmente, este trabalho mostra a importância de uma Política Indus-

trial ativa. Evidenciamos que a criação da Política Industrial, Tecnológica

e de Comércio Exterior (PITCE) representou um importante marco para

o desenvolvimento industrial brasileiro. Entretanto, dado o dinamismo

da economia mundial e brasileira, o aperfeiçoamento da Política Indus-

trial brasileira se torna importante e necessário. Outra política pública

relevante é o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que terá

impactos relevantes para indústria brasileira, principalmente no que diz

respeito ao investimento.

11

Sumário Executivo

Page 12: Panorama da Indústria Brasileira

Indice

Page 13: Panorama da Indústria Brasileira

apresentação ................................................................................................................................................................6

Sumário Executivo .......................................................................................................................................................8

Introdução .................................................................................................................................................................. 15

Capítulo 1 - o desempenho da indústria no período 1999 − 2006 ......................................................... 23

Capítulo 2 – as opções fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento ...............................111

Capítulo 3 – as políticas públicas voltadas para indústria brasileira .....................................................129

Conclusão ..................................................................................................................................................................161

anexos .......................................................................................................................................................................167

Indice

Page 14: Panorama da Indústria Brasileira

14

Page 15: Panorama da Indústria Brasileira

IntroduçãoA economia brasileira na década de 1990 foi submetida a uma abertura comercial que, iniciada com redução tarifária,

evoluiu para um câmbio relativamente valorizado. A indústria reagiu inicialmente com dois movimentos, um externo,

outro interno: no primeiro, desfez controle operacional e empresarial sobre elos da cadeia que não se referissem a seu

core business; no segundo, racionalizou seu próprio processo produtivo, numa busca de redução de custo e aumento

de produtividade. A partir de 1994, ocorreu um aumento de investimento que, infelizmente, se restringiu a um caráter

mais modernizador do que o aumento de capacidade produtiva. Ou seja, buscou-se avançar na necessidade de apri-

moramento produtivo marginalmente, sem uma reestruturação profunda do capital já instalado.

15

Page 16: Panorama da Indústria Brasileira

Panorama da Indústria Brasileira

Considerando o período de 1990 a 1996, nota-se que a

participação da indústria no PIB reduziu, apesar da es-

trutura industrial não ter se alterado. Essa redução ocor-

reu principalmente nos complexos química, metal-me-

cânica e têxtil, ao contrário dos complexos agroindús-

tria e construção. As cadeias do complexo agroindústria

e setores como extração de minério de ferro, siderurgia,

segmentos da metalurgia dos não-ferrosos e a base do

complexo química mantiveram elevados coeficientes

de exportação e baixos coeficientes de penetração.

Para todos os complexos tomados como um todo, o

comportamento foi um aumento do coeficiente de

exportação até 1992 (que é um reflexo principalmente

da retração do PIB) e queda amortecida até 1996 (na

retomada do crescimento a partir de 1993, as empresas

confirmaram sua preferência pelo mercado domésti-

co, o que foi acompanhado também pela valorização

do real). Cadeias mais frágeis, como têxtil, vestuário,

e as intermediárias e finais dos complexos química e

metal-mecânica mais intensivas em tecnologia, não

foram bem sucedidas com os importados: os coefi-

cientes de penetração aumentaram sensivelmente. As

importações de bens de capital e de consumo foram

acompanhadas com a busca no exterior por insumos

mais atualizados tecnologicamente e de menor custo

(essa última substituição se deu nas indústrias interme-

diárias das próprias cadeias finais). Assim, houve a tran-

sição para menor intensidade de elos intracomplexos,

concentrando-se a reestruturação nas etapas interme-

diárias dos complexos química e metal-mecânica, além

das indústrias têxteis.

No período 1996 − 1999, as tendências do período

anterior se confirmaram, não se podendo afirmar ter

havido mudanças importantes na composição ou ten-

dência definida de especialização na indústria brasilei-

ra. Aprofundaram-se tendências anteriores: maior peso

para construção e agroindústria, maior competitivida-

de para produtores de commodities baseadas em recur-

sos naturais, além da vulnerabilidade das atividades de

maior conteúdo tecnológico.

Enfim, o ajuste ocorrido na década de 1990 caminhou

para o seguinte movimento: as indústrias de base ten-

deram a exportar para atividades intermediárias no ex-

terior, de onde as indústrias de produtos finais no país

passaram a importar insumos, com uma tendência no

futuro para se romper a integração interna dos com-

plexos.

A dinâmica de crescimento da indústria, em termos ge-

rais, acompanhou a retomada de 1993 após os anos de

estagnação ou recessão entre 1990 e 1992. O comple-

xo metal-mecânica teve participação destacada neste

movimento desde meados de 1993, principalmente nas

cadeias automobilística e de eletrodomésticos, com os

setores de máquinas e equipamentos para a indústria

ou para a agricultura, além de siderurgia, acompanha-

rem o processo sem, entretanto, o liderar. O complexo

construção só acelerou a partir de 1994, e o complexo

têxtil apresentou uma dinâmica onde oscilaram movi-

mentos de crescimento e retração. O movimento geral

desacelerou em 1998, principalmente no segundo se-

mestre, depois da crise asiática em 1997 e a crise russa

em 1998, com a reação defensiva da política monetária

brasileira. Toda tentativa de retomada se ressentiu de

dois fundamentos básicos, ou seja, o saldo comercial

e a saúde fiscal, sem os quais nossa vulnerabilidade se

fez sentir nas oscilações conjunturais do crescimento e

16

Page 17: Panorama da Indústria Brasileira

Introdução

17

Page 18: Panorama da Indústria Brasileira

com seu fim em 1998. Além disso, o movimento esteve

longe de ser homogêneo para toda indústria e apre-

sentou desequilíbrios intersetoriais recorrentes.

O Brasil havia herdado, no início da década de 1990,

uma estrutura industrial robusta, mas com uma capaci-

dade de competir internacionalmente ainda a desejar.

Em 1999, foi bem sucedido o controle inflacionário e

levada a cabo a abertura comercial; alcançou-se uma

maior internacionalização das cadeias produtivas, avan-

ços significativos de produtividade e um movimento

razoavelmente difundido de modernização do capital

instalado. Entretanto, não bastava a recuperação do in-

vestimento.

A inserção de qualquer economia num mundo globa-

lizado, no qual uma iniciativa produtiva possa ser fácil

e rapidamente replicada pelos competidores, implica

que todos os produtos tendam a se tornar rapidamente

padronizados, reduzindo o retorno presente dos inves-

timentos e o ciclo de vida dos produtos.

A única forma de superar este problema de forma efi-

ciente (ou seja, evitando barreiras comerciais) é através

de um fluxo contínuo de inovações, que torne parte

18

Panorama da Indústria Brasileira

Page 19: Panorama da Indústria Brasileira

dos produtos brasileiros a cada momento menos padronizados, e capazes de auferir lucros devido a suas respectivas

quase-rendas1 sustentadas enquanto as firmas produtoras detiverem uma exclusividade relativa na produção daqueles

produtos.

O objetivo deste Panorama é descrever a evolução da economia brasileira de 1999 a 2006, estabelecendo sua relação com

o desempenho setorial da indústria, o comércio internacional e o investimento direto externo. Além disso, procuramos

detalhar os principais determinantes deste desempenho, ou seja, a saúde fiscal, o desempenho externo e a busca de

inovação e diferenciação de produtos. Finalmente, encerramos descrevendo analiticamente as políticas públicas hoje em

curso, que buscam a inovação e a recuperação da infra-estrutura brasileira.

1 Quase-rendas são rendas que uma firma pode auferir acima do lucro normal devido à exclusividade de seu produto durante determinado período limitado de tempo.

19

Introdução

Page 20: Panorama da Indústria Brasileira

20

Panorama da Indústria Brasileira

Page 21: Panorama da Indústria Brasileira

21

Introdução

Page 22: Panorama da Indústria Brasileira

22

Page 23: Panorama da Indústria Brasileira

Capítulo 1

o desempenhoda indústria no período entre1999 − 2006

23

Page 24: Panorama da Indústria Brasileira

1.1 Introdução

Neste capítulo apresentamos a análise conjuntural do desempenho da indústria brasileira para o período entre 1999

− 2006. A análise conjuntural é importante para identificar as principais características setoriais e macroeconômicas

que influenciaram a evolução da indústria brasileira. Os resultados que são apresentados neste capítulo servirão como

contraponto da importância de políticas públicas orientadas para o desenvolvimento sustentável da indústria.

É importante destacar também que os resultados deste capítulo subsidiam o debate sobre a evolução da indústria que,

em alguns casos, se ressentem de informações consolidadas para uma análise mais apurada das recentes transforma-

ções depois de um período de abertura comercial e, também, das alterações cambiais ocorridas no período.

Neste capítulo, seguimos uma metodologia comum de análise. Par a uma maior compreensão do período dividimos o

mesmo em três subperíodos, a saber: 1999 − 2002, 2003 − 2005, e, finalmente, 2006.

Depois da análise conjuntural de cada subperíodo, foi apresentada uma síntese de todo o período entre 1999 − 2006

assim como outros aspectos relevantes para o desempenho da indústria. Esta última seção será importante para contex-

tualizar o debate sobre o futuro da indústria no contexto econômico interno e externo atual.

1.2 o Período 1999 − 2002

A indústria brasileira apresentou, entre 1999 e 2002, um movimento de forte crescimento a partir do início de 2000,

que, entretanto, foi interrompido pelo racionamento de energia elétrica a partir do início de 2001 e por relativos pro-

blemas com a restrição externa. Assim, já no segundo semestre de 2001, o quadro foi de modesto crescimento, até o

final de 2002. Este desempenho pode ser visto nos gráficos 1 e 2.

24

Panorama da Indústria Brasileira

Page 25: Panorama da Indústria Brasileira

Fonte: Contas nacionais IBGE

1.2.1 a conjuntura econômica do período 1999 − 2002

No início de 1999, havíamos herdado de 1998 uma substancial retração da

demanda agregada, o que fortaleceu o caráter recessivo no curto prazo

da abrupta desvalorização cambial iniciada em janeiro. Outros fatores for-

taleceram conjunturalmente esse processo, entre eles: os elevados níveis

de inadimplência; a retração dos créditos interno e externo; e o aumento

da tributação, como parte das medidas anunciadas de ajuste fiscal no final

de 1998.

Grá�co 1Taxa de Crescimento (%) do PIB da Indústria

(Contas Nacionais referência 2000)

-3-2-1

0123456

1999 2000 2001 2002

25

o desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 26: Panorama da Indústria Brasileira

No primeiro semestre de 1999, o Índice de Confiança

do Consumidor (ICC) apresentou uma melhoria a partir

de abril, o mesmo aconteceu com o Índice de Inadim-

plência do primeiro trimestre de 1999 contra o mesmo

período de 1998. Dois fatores parecem explicar esse

comportamento: variação na quitação dos débitos por

parte dos devedores que superou a variação da entrada

de novos carnês em atraso; e menor oferta de crédito

para consumo em função do aperto da política mone-

tária.

No final do primeiro semestre de 1999, o quadro evoluiu

da seguinte forma: ocorreu uma melhoria nos resultados

externos, especialmente nos fluxos de capital, além de

uma importante reversão na trajetória inflacionária –

estes dois fatores possibilitaram uma redução da taxa de

juros. Ao mesmo tempo, com o câmbio desvalorizado,

houve um aumento da produção doméstica de expor-

táveis, junto à queda das importações, devido ao arre-

fecimento da retração no nível de atividade interna. No

terceiro trimestre, o mês de agosto apresentou o primei-

ro crescimento positivo geral ante o mesmo mês do ano

anterior desde julho de 1998, ou seja, em agosto havía-

mos recuperado o nível de produção industrial do ano

anterior. Já no quarto trimestre de 1999, configurou-se

um quadro de recuperação do crescimento desde outu-

bro, aproximadamente.

O ano de 2000 manteve a tendência de crescimento

do final de 1999. Desde o primeiro trimestre houve pro-

gressiva redução da taxa de juros, melhoria das estatís-

ticas de emprego, redução do déficit comercial e uma

redução da inflação nos bens de consumo. Isto fez com

que o principal indutor do crescimento, que antes fo-

ram as exportações, passasse a ser a demanda interna.

O quadro do primeiro semestre de 2000 foi muito fa-

vorável: houve cortes nas taxas de juros no crédito ao

consumidor, ampliação no volume deste mesmo crédi-

to, queda na inadimplência do comércio, elevação do

nível de emprego e redução do risco-Brasil. Entretanto,

no segundo semestre, surgiram vários problemas na

economia internacional: volatilidade das bolsas de va-

lores, incertezas associadas à desaceleração do cresci-

mento norte-americano, preços do petróleo em níveis

recordes e a crise da Argentina. Esse quadro negativo

se ampliou com a manutenção dos preços das commo-

dities internacionais em níveis muito baixos e aumento

maior que o esperado das importações de intermedi-

ários, além dos bens de capital e de consumo – o que

em meados do segundo semestre já tornava as expec-

tativas quanto ao saldo comercial pessimistas.

Ao final de 2000, a taxa de investimento foi aquém do es-

perado – o que refletiu o fato do crescimento da produção

de bens de capital se dever muito a exportações –, de tal

forma que o consumo aparente2 de bens de capital se

expandiu pouco.

2 Consumo aparente de um bem: Produção Interna + Importações – Exportações.

26

Panorama da Indústria Brasileira

Page 27: Panorama da Indústria Brasileira

Em 2001, no primeiro semestre, ocorreu uma forte deterioração do contex-

to internacional, o que agravou o problema de restrição externa sugerido

no ano anterior. Além disso, houve pressão inflacionária dos preços agrí-

colas e, para terminar, a estiagem no ano contribuiu fortemente para ser

necessário o racionamento de energia elétrica. Tratou-se de um quadro de

forte choque negativo de oferta, que interrompeu o crescimento ocorrido

em 2000, derrubou as vendas no comércio e o índice de confiança tanto

dos empresários quanto do consumidor.

A nota positiva de 2001 se referiu ao importante resultado fiscal no superávit

primário (3,75%), tanto na União, quanto nos Estados e Municípios, que foi

devido ao excelente desempenho da arrecadação e à melhora do resultado

primário em nível estadual e municipal. Entretanto, devido à instabilidade

econômica, houve forte aumento da Dívida Líquida do Setor Público. O se-

27

o desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 28: Panorama da Indústria Brasileira

tor de bens de capital cresceu significativamente no ano, entretanto devido

ao excepcional investimento em geração de energia elétrica e à demanda

agrícola.

Em 2002, o quadro de desaceleração continuou a ocupar a cena. O consu-

mo das famílias e o investimento deixaram de contribuir para o crescimen-

to e as exportações líquidas ocuparam esse papel. À incerteza do período

pré-eleitoral, adicionou-se a volatilidade do mercado financeiro e de divisas

(com desvalorização significativa do Real), além da aceleração inflacionária.

A conseqüente elevação da taxa de juros, a redução da oferta de crédito ao

consumidor, o aumento dos preços administrados e de alimentos – tudo isso

provocou a queda na renda real do trabalho, o que fez com que o consumo

das famílias caísse.

No que diz respeito ao desempenho externo no período 1999 − 2002, a ba-

lança comercial em 1999 teve seu desempenho baseado muito mais na re-

tração das importações (cerca de US$ 8,5 bilhões) do que na retração das

exportações (cerca de US$ 3,0 bilhões). Os principais grupos de produtos a se

retraírem nas exportações3 foram material de transporte e componentes, miné-

rios metalúrgicos (principalmente minério de ferro), produtos químicos, produ-

tos metalúrgicos (principalmente laminados planos de ferro e aço) e produtos da

soja. A retração das importações se deveu principalmente a: produtos alimen-

3 todos os setores citados de exportação e importação se referem a capítulos da Classificação Unificada de Co-mércio Internacional (CUCI) das nações Unidas, como divulgadas na Balança Comercial Mensal da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) do MdIC (Ministério do desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). nas referências ao desempenho externo não consideramos dados em quantum por não haver sua disponibilidade no detalhamento setorial desejado para serem comparados com os subsetores da PIM-IBGE.

28

Panorama da Indústria Brasileira

Page 29: Panorama da Indústria Brasileira

tícios em geral, ferro e aço, e com mais ênfase (cerca de 50% da retração) máquinas, e equipamentos de transporte. Nota-se

que a desvalorização cambial atuou em 1999 muito mais sobre a retração do consumo de bens duráveis importados

e a importação de bens de capital, do que sobre o estímulo das exportações. Deve-se ressaltar que o comportamento

em quantum das exportações no último semestre de 1999 já indicava uma recuperação em relação ao cenário pré-

desvalorização do câmbio.

No ano de 2000, as importações cresceram a uma taxa (13,22%) ligeiramente menor que a das exportações (14,73%),

deixando ainda um saldo comercial negativo e frustrando as expectativas de melhor desempenho comercial. Setorial-

mente, alguns grupos de produtos apresentaram significativa taxa de crescimento das exportações, como combustí-

veis e lubrificantes (124,71%), aparelhos e equipamentos para telecomunicações, gravação e reprodução de som (120,16%),

calçados (61,68%), fibras têxteis (50,51%) e plásticos em formas primárias (43,68%) – nota-se a ênfase em semimanufatu-

rados e manufaturados menos elaborados. Do lado das importações, destacou-se a taxa de crescimento de produtos

primários e intermediários, como petróleo e derivados de petróleo, e adubos e fertilizantes.

O ano de 2001 trouxe uma novidade: o saldo comercial positivo se deve a uma taxa de crescimento das exportações

e uma retração das importações (mesmo que pequena). O crescimento das exportações se deu basicamente devido a

exportações maiores de petróleo e derivados de petróleo (crescimento de 130,87%). Grupos de produtos como máquinas, e

material de transporte, ou artigos manufaturados diversos, cresceram a taxas modestas de cerca de 1,20%. E outros grupos,

como produtos químicos, apresentaram retração de exportações em torno de 8%. Notou-se que vestuário e calçados, an-

tes com grande crescimento de exportações, apresentaram taxas de crescimento modestas, 0,16% e 4,15%, respectiva-

mente – mesmo sem valorização do câmbio. A este respeito deve-se notar também que as importações destes produtos

cresceram em 2001 8,93% e 16,52%, respectivamente – já indicando certo problema de competitividade, mesmo em

ano de fraca expansão da renda. Neste ano de pouco crescimento, as importações se retraíram principalmente em pro-

dutos alimentícios (-14,23%) e combustíveis e lubrificantes (-6,83%), indicando um padrão diferente dos anos anteriores. O

único destaque mais importante de crescimento de importações se deu em máquinas e equipamentos geradores de força

(43,93%), certamente refletindo o esforço de poupança de energia elétrica no racionamento de 2001.

No ano de 2002 o saldo comercial se ampliou, devido a um tímido crescimento das exportações (3,67%), e uma forte

retração das importações. O desempenho das exportações foi devido ao significativo desempenho de combustíveis e

lubrificantes (41,04%), principalmente em petróleo e produtos derivados. Cabe o destaque ao importante desempenho

de ferro e aço (22,65%) e a retração de vestuário e calçados. Pelo lado das importações, petróleo e produtos derivados se

retraíram 12,20%, o que foi significativo devido a seu peso na pauta. Pelo lado dos bens intermediários houve retração

maior em ferro e aço (23,78%) e metais não ferrosos (23,75%). Mas houve retrações significativas também nos bens de

consumo como aparelhos e equipamentos para telecomunicação, gravação e reprodução de som (48,87%), além de veí-

culos automotores e tratores (30,31%).

29

o desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 30: Panorama da Indústria Brasileira

Abordando o período 1999 − 2002 como um todo, notamos que as expor-

tações em todas suas modalidades apresentaram retração acumulada em

preço, como mostra o gráfico 3.

Fonte: Funcex.

De fato, a economia internacional apresentou fraco desempenho no perí-

odo, retraindo-se os preços mais dos produtos básicos (com maior percen-

tual de “comoditizados”), em seguida dos semimanufaturados e menos dos

manufaturados (com menor chance de serem “comoditizados”).

Entretanto, nossas exportações aumentaram em quantum, mais justamen-

te nos produtos básicos, depois nos semimanufaturados e menos nos ma-

nufaturados, como mostra o gráfico abaixo.

-30,00

-25,00

-20,00

-15,00

-10,00

-5,00

0,00Exportação Total Básico Semimanufaturados Manufaturados

Grá�co 2Variação em preço das exportações (%)

em 1999-2002

30

Panorama da Indústria Brasileira

Page 31: Panorama da Indústria Brasileira

Fonte: Funcex.

Abaixo apresentamos o comportamento de nossa pauta de exportação no

período.

Fonte: Secex.

31

o desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

90,00

80,00

70,00

60,00

50,00

40,00

30,00

20,00

10,00

0,00Exportação Total Básico Semimanufaturados Manufaturados

Grá�co 3Variação em quantum das exportações (%)

em 1999-2002

100%

80%

60%

40%

20%

0%

Grá�co 4Composição da Pauta de Exportaçnao (Valores FOB corrigidos pela IPA EUA)

1999

Básico Semimanufaturados Manufaturados Operações Especiais

2000 2001 2002

Page 32: Panorama da Indústria Brasileira

Notamos a maior participação dos manufaturados na pauta. Entretanto, deve-se notar que se

tratam de produtos na maioria de bens intermediários, como aço, derivados de petróleo, alu-

mínio, etc. Portanto, deve-se ressaltar a sensibilidade de nossas exportações ao crescimento

da economia internacional e às alterações de preço derivadas.

1.2.2 o desempenho setorial da indústria no período 1999 − 2002

O comportamento setorial da indústria apresentou certa diversidade segundo o complexo in-

dustrial analisado4. O movimento no complexo construção pode ser visto no gráfico abaixo.

Fonte: PIM-IBGE

Nota-se que no complexo construção o movimento foi de retração praticamente em todos os

anos, à exceção de artefatos de concreto em 2001.

O gráfico abaixo mostra a evolução de alguns setores importantes do complexo metal-me-

cânica.

4 no anexo encontra-se a relação dos setores de cada complexo industrial. também no anexo apresentamos a relação dos subsetores selecionados para constar nos gráficos apresentados de cada complexo ( já que seria visualmente confuso apresentar a evolução de todos os subsetores de cada complexo nos gráficos), junto a sua denominação nos gráficos e sua denominação correspondente pelo IBGE.

- 1 0

-8

-6

-4

-2

0

2

Grá�co 5Variação da Produção Anual (%)

Complexo Construção

2000 2001 20011999

Artefatos de concreto

Cimento e clínquer

32

Panorama da Indústria Brasileira

Page 33: Panorama da Indústria Brasileira

Fonte: PIM-IBGE

No primeiro semestre de 1999, os setores de maior peso de encadeamento no com-

plexo metal-mecânica mantiveram-se em retração. De fato, até abril, subsetores como

automóveis, caminhões e ônibus, inclusive motores e eletrodomésticos (tanto da “linha

branca” quanto da “linha marrom”) se retraíram em relação aos mesmos meses5 de

1998. O mesmo ocorreu com os subsetores metalúrgicos. A exceção ocorreu com os

subsetores construção e montagem de vagões ferroviários, inclusive reparação e cons-

trução e montagem de aeronaves, inclusive reparação, que se expandiram significati-

vamente nesse início de ano. Entretanto, esses são subsetores de pouca capacidade

de indução ao crescimento ao longo das cadeias. No terceiro trimestre do mesmo

ano, houve alguma recuperação, mas novamente não se configurou uma retomada

de toda indústria: apenas cadeias isoladas, ou subsetores isolados dentro de cada ca-

deia, apresentaram crescimento. Um fator auspicioso foi o começo de uma retomada

5 todas estatísticas de crescimento citadas no texto serão (salvo ressalva) do mês corrente em relação ao mesmo mês do ano anterior. não se fez, nas estatísticas mensais, correção contra a sazonalidade (apesar do crescimento em relação ao mesmo mês do ano anterior já ser menos vulnerável à mesma), devido ao fato do IBGE não apresentar esta correção ao nível de sub-setores e, além disso, devido à definição da metodologia de correção ser específica do IBGE, fazendo com que nossa correção (se efetuada) poder gerar conflito com as já efetuadas pelo IBGE.

-3 0

-2 0

-1 0

0

1 0

2 0

3 0

4 0

Grá�co 6Variação Produção Anual (%) Complexo Metal-Mecânica

2000 2001 20021999

Laminados de Aço

Eletrodomésticos “Linha Marrom”

Máquinas e EquipamentosIndustriais e Comercias

Automóveis

Eletrodomésticos“Linha Branca”

33

o desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 34: Panorama da Indústria Brasileira

do crédito ao consumidor, que provavelmente ajudou no desempenho do

quarto trimestre. No quarto trimestre, configurou-se um quadro de recu-

peração do crescimento desde outubro, aproximadamente. A maior taxa

de crescimento foi devida aos bens de consumo duráveis (os maiores cres-

cimentos ocorreram na cadeia automotriz) e bens de capital (em especial,

máquinas e equipamentos para agricultura). Entretanto, no consolidado do

ano o resultado foi de retração. Esse comportamento da indústria ao final

de 1999 foi devido mais a uma iniciativa da oferta, que se alimentou, por

um lado, do arrefecimento da instabilidade na transição do regime cambial

devido à continuidade do ajuste fiscal, à perseguição da meta inflacionária

e ao acerto das intervenções cambiais ao longo do ano; e, por outro lado, ao

aumento, mesmo que tímido, das exportações líquidas nos últimos meses

do ano.

Já em 2000, ano da recuperação, a liderança do crescimento ocorreu nos

setores de bens duráveis e de capital do complexo metal-mecânica (vide

as elevadas taxas de crescimento anual no gráfico 6). Quanto ao comporta-

mento setorial, o mais importante a notar é que as cadeias líderes (bens de

34

Panorama da Indústria Brasileira

Page 35: Panorama da Indústria Brasileira

consumo duráveis e bens de capital), que antes apresentavam desempenho

relativamente desequilibrado, passaram a ter o crescimento difundido para

todos os subsetores no primeiro semestre. Esse comportamento de difusão

do crescimento ocorreu em geral para todos setores do complexo metal-

mecânica, inclusive a metalurgia (ferrosos e não-ferrosos). No segundo se-

mestre de 2000, os bens de consumo duráveis (junto secundariamente aos

bens de capital) continuaram a liderar o crescimento: com retração apenas

em eletrodomésticos da “linha branca” (deve-se notar que o crescimento de

máquinas e equipamentos foi mais forte naqueles com destino para a agri-

cultura, apesar daqueles com destino para a indústria também crescerem).

Em 2001, apesar do quadro adverso já descrito, no primeiro semestre ainda

houve um maior crescimento das cadeias automotriz e de eletrodomés-

ticos (e secundariamente de máquinas e equipamentos) no crescimento

– apesar de certos desequilíbrios pontuais. Mas dentro do complexo metal-

mecânica, já houve certo arrefecimento do crescimento (e até retração),

mais para o final do semestre, de setores importantes das cadeias de base

do complexo, como laminados de aço – o que já indicou retração futura no

35

o desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 36: Panorama da Indústria Brasileira

curto prazo. No segundo semestre, o quadro foi de retração generalizada,

à exceção do subsetor máquinas e equipamentos para agricultura (devido à

safra agrícola recorde).

Em 2002, no complexo metal-mecânica, os setores mais dinâmicos, marca-

damente bens de consumo duráveis e bens de capital, apresentaram retra-

ção no primeiro semestre e uma reação no segundo, mais para os últimos

meses do ano, devido, contudo, a uma transferência das aplicações finan-

ceiras para ativos reais (já que os rendimentos reais haviam caído muito,

devido à aceleração inflacionária que, mais para o final do ano, devido à

desvalorização cambial, atinge os preços ao consumidor).

Sintetizando o desempenho do complexo metal-mecânica como um todo

no período 1999 – 2002, pode-se notar que houve oscilações muito fortes

em períodos de tempo muito curtos: retração em 1999 (eletrodomésticos da

“linha marrom”, por exemplo, apresentaram retração maior que 20%), para

expansão acentuada em 2000 (eletrodomésticos da “linha marrom” cresceram

anualmente quase 30%), estagnação em 2001 e expansão modesta associa-

da à retração leve em setores diferentes durante 2002 (quando fica claro um

quadro de crescimento desequilibrado das cadeias do metal-mecânica).

O gráfico abaixo mostra o desempenho do complexo têxtil no período

1999 – 2002.

Fonte: PIM-IBGE

-1 0

-5

0

5

1 0

1 5

Grá�co 7Variação Produção Anual (%)

Complexo Têxtil

Têxtil de �bras naturais

Têxtil de �bras arti�ciais e sintéticas

Calçados

2000 2001 20021999

36

Panorama da Indústria Brasileira

Page 37: Panorama da Indústria Brasileira

No ano de 1999, o subsetor fiação e tecelagem de fibras artificiais ou sintéticas

se recuperou a partir do início do segundo semestre. Nesta mesma cadeia

o crescimento passou a ser mais homogêneo a partir de novembro, apesar

da cadeia de calçados ainda manter fraco desempenho. O ano de 2000 foi

de crescimento sincronizado de todo complexo e o de 2001 de retração

sincronizada. Já o ano de 2002 apresentou fortes desequilíbrios: o subsetor

têxtil de fibras naturais cresceu abruptamente, devido, em parte, à desvalo-

rização cambial que reduziu as importações de vestuário com suas fibras

e, por outro lado, devido à recuperação da produção de algodão nacional,

tendo os dois efeitos significado uma redução de 23,60% da importação6

de vestuário em geral durante 2002; já o setor de calçados se beneficiou

também da redução de importações (11,51%) com o câmbio desvalorizado;

contrastando com esses dois setores, os têxteis de fibras artificiais e sintéti-

cas se retraíram fortemente.

O gráfico abaixo mostra a evolução do complexo agroindústria.

Fonte: PIM-IBGE

6 os dados de importação ou exportação citados, exceto ressalva, são da Balança Comercial Mensal da Secex-MdIC nos suas seções e capítulos da CUCI (que relacionam os fluxos de comércio em US$), aproximadas para a classificação em subsetores da PIM-IBGE (ver em anexo a correspondência do subsetor IBGE no gráfico com o capítulo CUCI).

-3 0

-2 0

-1 0

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

Grá�co 8Variação Produção Anual (%)

Complexo Agroindústria

2000 2001 20021999

Açúcar

Óleo de soja

Abate de bovinose suínos

Arroz

Trigo

Álcool

37

o desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 38: Panorama da Indústria Brasileira

Nos anos de 1999, 2000, 2001 e 2002, os setores da agroindústria oscilaram

em torno de um crescimento de produção relativamente constante, mas mo-

desto, que sugeriu a manutenção de um nível de consumo interno e expor-

tações com pouca alteração. A exceção foi o subsetor açúcar, que cresceu em

2001 impulsionado pelo preço internacional, e em 2002 pela desvalorização

cambial; ao mesmo tempo, o subsetor de óleo de soja apresentou forte cresci-

mento em 2002 impulsionado também pela desvalorização cambial7.

O gráfico abaixo mostra a evolução do complexo química.

Fonte: PIM-IBGE

Em 1999, o movimento geral do complexo química foi de crescimento de-

vido à desvalorização cambial que reduziu significativamente a importação

de seus produtos em relação a 1998 (os químicos orgânicos se reduzem em

6,86%, os inorgânicos em 7,86% e plásticos em formas primárias 9,64% no

acumulado do ano). Em 2000, houve uma continuidade desse crescimento,

acompanhando o crescimento do ano, particularmente em pneumáticos,

insumo da automobilística – um dos setores que lideraram o crescimento

no ano. Em 2001, ano do racionamento de energia elétrica, o complexo

7 dados do Instituto de Economia agrícola (São Paulo).

-1 5

-1 0

-5

0

5

1 0

1 5

Grá�co 9Variação Produção Anual (%)

Complexo Química

2000 2001 20021999

Laminados de plásticos

Perfumaria

Artigos de limpeza

Petroquímicos básicose intermediários

Pneumáticos

38

Panorama da Indústria Brasileira

Page 39: Panorama da Indústria Brasileira

sofreu significativamente na maioria de seus setores, já que é um complexo

majoritariamente fornecedor de insumos para outros complexos e utiliza-

dor de energia elétrica. A exceção ficou por conta de setores como perfu-

maria, majoritariamente fornecedor de bens finais. Já em 2002 houve recu-

peração, mas de certa forma relativa a uma base de comparação baixa (o

ano de 2001) e uma nova redução das importações nos químicos orgânicos

(14,60%) em função de nova desvalorização cambial.

Em termos gerais, o período 1999 – 2002, como um todo, mostrou uma

evolução bastante instável do ponto de vista do desempenho da indústria:

em um período curto, alternaram-se retrações e expansões setoriais expres-

sivas, conjugadas a desequilíbrios importantes ao longo das cadeias de for-

ma geral. Entretanto, houve uma mudança estrutural importante e positiva,

ou seja, a disciplina fiscal do Estado, que contribuiu significativamente para

39

o desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 40: Panorama da Indústria Brasileira

um quadro de relativa estabilidade econômica em meio a problemas com

forte potencial desestabilizador como a escassez de energia elétrica.

1.3 o período 2003 – 2006

O período 2003 – 2006 se iniciou com uma expansão da produção indus-

trial baixa ou nula, fruto de políticas monetária e fiscal rígidas necessárias

para conter os efeitos inflacionários da elevada desvalorização cambial do

final de 2002 e para buscar maior consistência fiscal às políticas públicas a

implementar, junto à melhora de nossa inserção internacional. O ano de

2004 foi de elevada expansão da produção e o de 2005 de acomodação,

dada a necessidade de investimentos ainda não efetivados para dar susten-

tação e equilíbrio à trajetória de crescimento. O ano de 2006 praticamente

reproduziu o desempenho da indústria em 2005.

Os dois gráficos abaixo resumem o desempenho nestes quatro anos.

Fonte: IBGE.

01

234

567

89

Grá�co 10Taxa de Crescimento (%) do PIB da Indústria

(Contas Nacionais referência 2000)

2003 2004 2005 2006

40

Panorama da Indústria Brasileira

Page 41: Panorama da Indústria Brasileira

Após uma breve síntese da evolução da política econômica no período,

passaremos para o detalhamento do comportamento setorial da indús-

tria.

1.3.1 A conjuntura econômica do período 2003 – 2005

O novo governo herdou um quadro de forte instabilidade, ao qual reagiu

com medidas fortemente contracionistas, mas necessárias: aumento da

meta de superávit primário de 3,75% para 4,25% do PIB, elevação da taxa

de juros de 25% para 26,5% ao ano e aumento do compulsório bancário de

45% para 60%. Respondendo a esse conjunto de medidas, o risco-Brasil re-

cuou sistematicamente no primeiro semestre e a taxa de câmbio também,

apesar de não tanto – provavelmente em função de um cenário interna-

cional adverso, advindo da iminência da guerra do Iraque e o aumento dos

preços do petróleo.

No primeiro semestre, o desempenho da indústria esteve ligado às expor-

tações, entretanto sem configurar um quadro de retomada do crescimento.

Não surpreendentemente, no segundo semestre se configurou um quadro

de retomada do crescimento na indústria. A exemplo da retomada de 2000,

o primeiro impulso foi devido ao aumento das exportações, com auxílio do

aumento do crédito, quando a política monetária já se tornava menos rígi-

da, função do melhor comportamento da inflação. Além disso, os setores

que lideraram a retomada foram os de bens de consumo duráveis e bens

de capital. O investimento baseou-se, em 2003, em aumento da produção

41

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 42: Panorama da Indústria Brasileira

de máquinas e equipamentos, sem significativa

contribuição da construção, que apresentou de-

sempenho retraído. Além disso, a expansão da

produção de bens de capital se destinou princi-

palmente à exportação, sem a contrapartida das

importações.

O ano de 2004 iniciou com uma pequena turbu-

lência no crescimento da indústria, aproximada-

mente em fevereiro, mas depois houve uma con-

solidação do crescimento iniciado no segundo

semestre de 2003.

42

Panorama da Indústria Brasileira

Page 43: Panorama da Indústria Brasileira

43

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 44: Panorama da Indústria Brasileira

No primeiro semestre de 2004, dois movimentos foram importantes. Primeiro, o significativo crescimento veio ainda

principalmente do desempenho das exportações líquidas. As importações cresceram fortemente e, por outro lado, o

emprego e a renda familiar se recuperaram significativamente – o que levou, como veremos a seguir, a demanda inter-

na passar a ocupar papel importante, e eventualmente principal, na dinâmica dos determinantes do crescimento. Além

disso, o nível de utilização da capacidade instalada aumentou significativamente, gerando dúvidas sobre a viabilidade

do crescimento pelo lado da oferta (o nível de utilização era o maior desde 1997). A essa altura do ano, algumas cons-

tatações amenizaram as preocupações: o consumo aparente de bens de capital cresceu em relação ao ano anterior,

sinalizando que o crescimento da produção interna de bens de capital não se direcionou às exportações a ponto de

não fortalecer o investimento.

No segundo semestre de 2004, a economia continuou em crescimento, fruto do acerto da política macroeconômica

de austeridade fiscal e do contexto internacional de crescimento. De fato, a relação dívida pública em relação ao PIB

caiu, o mesmo aconteceu com a relação dívida externa em relação às exportações. Essas duas reduções sinalizaram

um contexto de risco menor, necessário à resolução dos problemas engendrados em 2002. Além disso, em 2004 a

economia se beneficiou de um contexto internacional de maior liquidez. Dessa forma, houve crescimento econômico

sem a transferência de produção da exportação para o mercado interno. Esboçava-se em 2004 a solução, pelo menos

momentânea, dos dois problemas estruturais herdados do desempenho entre 1993 e 1998: o desequilíbrio fiscal e da

balança comercial.

No saldo de 2004, observou-se um crescimento setorial da indústria (apesar de não totalmente, devido à cadeia pe-

troquímica e à têxtil) muito homogêneo. Esse fato não ocorreu em todas as etapas de crescimento desde o início

44

Panorama da Indústria Brasileira

Page 45: Panorama da Indústria Brasileira

da década de 1990. Houve uma conjunção favorável

de taxa de câmbio, crescimento do mercado interna-

cional e, depois, interno, disciplina fiscal e chance de

crescimento de utilização de capacidade instalada sem

problemas de oferta e impactos inflacionários. A maior

taxa de crescimento foi dos bens de consumo duráveis

e, em menor monta, dos bens de capital.

O problema do nível de utilização de capacidade levou

a política monetária, desde o último trimestre de 2004,

a elevar a taxa de juros. De fato, o ritmo de expansão

da capacidade instalada, apesar de vir aumentando, era

ainda insuficiente para repetir a taxa de crescimento da

economia, ocorrida em 2004, sem perigo de ultrapassar

a meta inflacionária.

O quadro geral de 2005 foi de uma generalizada desa-

celeração do crescimento de todas as cadeias e o apa-

recimento nessas de desequilíbrios ao longo do ano.

No segundo semestre, o quadro não se alterou, ou seja,

a indústria manteve seu desempenho de crescimento

moderado, com oscilações positivas e negativas ao lon-

go do ano. A maior taxa de crescimento continuou sen-

do dos bens de consumo duráveis, apesar de com um

ímpeto menor. Esse último comportamento sinalizava

que a trajetória de crescimento, apesar de mais modes-

ta, não tendia a uma desaceleração recessiva.

No fechar do ano, pode-se perceber que os desequilí-

brios estruturais relacionados às questões fiscais e da

restrição externa haviam sido contornados, pelo menos

no médio prazo. Entretanto, deviam-se considerar dois

aspectos importantes dinamicamente.

Primeiro, o investimento na indústria não decolou,

como desejado. Esse problema foi extremamente com-

plexo e recorrente. De fato, desde o início da década de

1980 ele se apresentou.

O segundo ponto foi o seguinte: a questão da restrição

externa pareceu fortemente ligada ao aprofundamen-

to do conteúdo tecnológico de nossas exportações. De

fato, tal aprofundamento tornou nossas exportações

mais dinâmicas e sustentáveis.

Hoje, apesar do bom desempenho recente, depen-

demos muito dos preços internacionais e somos es-

pecialistas em bens de mediano ou baixo conteúdo

tecnológico. Muitas nações desenvolvidas e em vias de

desenvolvimento no mundo apresentam um esforço

em aprimoramento tecnológico decisivo – no Brasil,

entretanto, ele é ainda recente, apesar de termos hoje

já um arcabouço legal que, para dar frutos palpáveis,

necessita de persistência, pois seus resultados só ocor-

rem a médio e longo prazos.

Analisando o comércio internacional brasileiro em

2003, nota-se que se ampliou a diferença positiva entre

45

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 46: Panorama da Indústria Brasileira

o crescimento das exportações e o das importações: 21,08% e 2,16%, respectivamente. Nota-se ainda que, apesar de se

manterem as proporções entre as três categorias de produtos exportados do período entre 1999 – 2003, em 2003 as ta-

xas de crescimento das mesmas é muito semelhante, ou seja, em torno de 20%. Os principais produtos na performance

exportadora (tanto na participação quanto na taxa de crescimento) foram sementes e frutos oleaginosos (crescimento de

41,64%), minérios e desperdícios de metais (17,76%), petróleo e derivados de petróleo (28,60%), pasta de celulose (50,22%),

e ferro e aço (29,24%) – ou seja, na maioria produtos demandados como básicos e intermediários pela recuperação

da economia mundial. Entretanto, o bom desempenho se estendeu também bens de capital e veículos: máquinas e

aparelhos geradores de força (taxa de crescimento de 24,26%), máquinas especiais para indústria (48,41%), máquinas e

equipamentos industriais diversos (27,39%), e veículos automóveis, tratores, etc. (34,12%). O desempenho destes últimos

setores foi o responsável pelo início do crescimento da indústria em 2003. O setor de vestuário exportou mais 34,34%

em relação ao ano anterior, mas calçados apenas 6,98%. Quanto às importações, nota-se que neste ano importou-se

menos de petróleo e derivados de petróleo (taxa de crescimento de apenas 5,39%), mas manteve-se a compra de adubos

e fertilizantes (39,36%). Além disso, a importação de bens de consumo duráveis aumentou 49,1%.

No ano de 2004, as exportações ampliaram um pouco seu crescimento (32,01%), mas as importações também (30,01%),

ao contrário do ano anterior, quando as importações cresceram proporcionalmente pouco. Esse aumento das impor-

tações foi devido, principalmente, a bens intermediários ou básicos, como minérios e desperdícios de metais (taxa de

crescimento de 105,30%), petróleo e derivados de petróleo (57,19%), e adubos e fertilizantes (51,19%). Nota-se que a im-

portação de bens de capital não teve crescimento alto, mas apenas mediano (17,2%), apesar de em 2003 ter crescido

apenas 4,1%. Vestuário aumentou suas importações em 42,34% e calçados em 33,56%, apesar do câmbio ainda pouco

valorizado. Quanto às exportações, ocorreu crescimento semelhante tanto nos básicos, quanto nos semimanufatura-

dos e manufaturados, a exemplo do ano anterior. Alguns grupos de produtos se destacaram na pauta de exportação:

carne e preparados de carnes (crescimento de 50,42%), sementes e frutos oleaginosos (26,32%), cortiça e madeira (40,23%),

minérios e desperdícios de metais (42,55%), petróleo e derivados de petróleo (16,88%), e plásticos em formas primárias

(31,38%). Houve elevada exportação de produtos importantes do complexo metal-mecânica: ferro e aço (42,34%), veí-

culos automóveis, tratores, etc. (37,51%), outros equipamentos de transporte (122,96%) e máquinas em geral (35,95%). Já o

crescimento da exportação de vestuário (18,07%) e calçados (17,05%) não foi significativo, apesar do câmbio favorável.

Deve-se enfatizar que, em 2004, houve três tendências importantes no quadro das exportações brasileiras: diversifica-

ção de produtos, de destinos, além de crescimento do PIB (esse último fato é praticamente inédito).

O ano de 2005 mostrou um resultado interessante da balança comercial: as exportações continuaram a crescer sig-

nificativamente (22,63%) e mais que as importações (17,06%), em ano de valorização cambial forte. Outro aspecto

interessante é que a importação de bens de capital apresentou a maior taxa de crescimento da pauta (26,9%), além de

ter sido maior que a de 2004. Para esse último comportamento certamente contribuíram tanto o câmbio valorizado –

que tornou os bens de capital importados mais acessíveis, quanto a menor taxa de crescimento do PIB – que reduziu

46

Panorama da Indústria Brasileira

Page 47: Panorama da Indústria Brasileira

47

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 48: Panorama da Indústria Brasileira

a importação de produtos intermediários no curto prazo (no médio prazo

pode ter ocorrido substituição dos bens intermediários nacionais pelos im-

portados, devido ao câmbio favorável). A taxa de crescimento das expor-

tações foi, entretanto, menor que a do ano anterior. Para tal contribuíram

principalmente a retração das exportações dos seguintes produtos: alimen-

tos preparados para animais (-11,87%), sementes e frutos oleaginosos (-0,93%)

e outros equipamentos de transporte (-19,89%), entre outros produtos de

menor expressão (nota-se que esses grupos de produtos haviam crescido

fortemente em 2004). As contribuições para o crescimento das exporta-

ções vieram praticamente de todo restante da pauta, nos seguintes grupos

de produtos principalmente: carne e preparados de carnes (31,21%), açúca-

res, preparações de açúcar e mel (43,88%), minérios e desperdícios de metais

(51,30%), petróleo e derivados de petróleo (59,89%), plástico em formas primá-

rias (38,49%), produtos químicos orgânicos (32,36%), ferro e aço (27,78%), e ve-

ículos automóveis, tratores, etc. (39,08%). Deve-se notar que vestuário, no ano

anterior com crescimento de exportações, apresentou retração de 0,44%.

E calçados expandiu exportações fracamente: 4,24%. Já as importações se

aceleraram devido ao crescimento de produtos intermediários e veículos.

De fato, as importações de petróleo e produtos derivados cresceram 19,08%;

de plástico em formas primárias 24,74%; de plástico em formas não primárias

11,01%; de manufaturas de borracha diversas 32,74%; de ferro e aço 59,56%; e

de veículos automóveis, tratores, etc. 34,91%. Nota-se que o crescimento das

48

Panorama da Indústria Brasileira

Page 49: Panorama da Indústria Brasileira

importações de vestuário (49,24%) e calçados (69,58%) continuaram altas,

como no ano anterior. É interessante observar que a valorização do câmbio

atingiu, em termos de peso na pauta, as cadeias de base dos complexos

metal-mecânica e química, justamente aquelas que apresentavam maiores

problemas de utilização de capacidade produtiva.

1.3.2 O desempenho setorial do período 2003 – 2005

O gráfico abaixo mostra o desempenho do complexo construção.

Fonte: PIM-IBGE

No primeiro semestre de 2003, notamos que o complexo construção teve

um quadro de forte retração em cimento e clínquer (14,20%), o que não

ocorreu em artefatos de concreto. No segundo semestre do mesmo ano,

a retração atingiu o setor por completo. Certamente se tratou, na ausência

de linhas de crédito ativas para o setor, de um efeito derivado da queda

de renda real que a desvalorização cambial trouxe, além do problema do

emprego, que ainda não melhoram.

No primeiro semestre de 2004, o complexo construção se expandiu forte-

mente, com destaque para artefatos de concreto, que cresceu 6,94%. Atuou

-2 0

-1 5

-1 0

-5

0

5

1 0

1 5

Grá�co 11Variação Produção Anual (%)

Complexo Construção

2004 20052003

Cimento e clinquer

Artefatos de concreto

49

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 50: Panorama da Indústria Brasileira

nesse movimento a recuperação da massa salarial e do emprego. Durante

o segundo semestre o complexo da construção continuou em crescimento

(inclusive, acentuado), com seus três principais subsetores (extração de mi-

nerais não-metálicos, artefatos de concreto, cimento e fibrocimento, e cimento

e clínquer) em forte crescimento.

O quadro geral de 2005, no complexo construção, foi de desaceleração do

crescimento, que se acomodou em um patamar menor que o de 2004. Por

exemplo, o subsetor cimento e clínquer manteve o crescimento e até o am-

pliou em relação ao ano anterior (o que é um indicador favorável ao desem-

penho do setor construção civil), mas extração de minerais não-metálicos,

mais na base da cadeia, desacelerou. A mesma desaceleração aconteceu

com artefatos de concreto, cimento e fibrocimento. Portanto, tratou-se de um

contexto em que o complexo como um todo desacelerou, e alternou movi-

mentos mensais de maior atividade com outros de retração.

O gráfico abaixo mostra a evolução do complexo metal-mecânica.

Fonte: PIM-IBGE

-1 5

-1 0

-5

0

5

1 0

1 5

2 0

2 5

3 0

Grá�co 12Variação Produção Anual (%) Complexo Metal-Mecânica

2003 2004 2005

Automóveis

Eletrodomésticos“Linha Marrom”

Eletrodomésticos“Linha Branca”

Máquinas e EquipamentosIndustriais e Comercias

Laminados de Aço

50

Panorama da Indústria Brasileira

Page 51: Panorama da Indústria Brasileira

No complexo metal-mecânica, durante o primeiro se-

mestre de 2003, apenas os bens intermediários, princi-

palmente os metalúrgicos, apresentaram crescimento,

o que provavelmente indicou encomendas para uma

reação no segundo semestre, mas, principalmente,

maiores exportações antes da relativa valorização cam-

bial. Sob esse aspecto, o subsetor de laminados de aço

cresceu 9,48% no primeiro semestre, com as exporta-

ções de ferro e aço crescendo 29,24% em 2003. Há clara

retração nos setores de maior capacidade de encadea-

mento para frente e para trás, à exceção de máquinas e

equipamentos para fins industriais e comerciais (cresceu

6,17% no primeiro semestre), o que indicou que o reiní-

cio do crescimento ainda não ocorrerá. Isto só ocorreu

no segundo semestre, principalmente através dos se-

tores de eletrodomésticos da “linha branca” e “linha mar-

rom”, máquinas e equipamentos para fins industriais e co-

merciais e automóveis. A contribuição das exportações

para esse desempenho ocorreu mais em máquinas

e equipamentos industriais e comerciais e automóveis.

Aqui, tanto pela magnitude do crescimento setorial,

quanto pela importância dos setores na indução inter-

setorial de crescimento e pela homogeneidade setorial

da reação, já se configurou uma retomada, novamen-

te com uma maior taxa de crescimento do complexo

metal-mecânica.

No primeiro semestre de 2004 configurou-se um

comportamento ímpar em toda indústria. O comple-

xo metal-mecânica foi aquele em que a maioria das

cadeias cresceu significativamente desde janeiro, em

taxas expressivas, configurando uma clara liderança da

expansão da indústria. Dentro do complexo, as cadeias

que mais cresceram desde janeiro foram as de bens

de consumo duráveis, ou seja, as cadeias automotriz

(principalmente essa) e de eletrodomésticos. A cadeia

de máquinas e equipamentos também teve desempe-

nho excelente. Essa última cadeia representou os bens

de capitais, nas suas diversas modalidades – havendo

crescimento em todas elas, ou seja, bens de capital

para agricultura, para geração e distribuição de energia

elétrica, para fins industriais, e para extração mineral e

construção. Dentro dessa última cadeia, os subsetores

com maior dinamismo foram os de extração e constru-

ção, e para fins industriais, nessa ordem. Finalmente, a

metalurgia básica, tanto de ferrosos quanto de não-fer-

rosos, cresceu desde janeiro, apesar de taxas menores,

entretanto, expressivas para esses setores. Cabe desta-

car o excelente desempenho da indústria naval, que há

anos experimentava retração.

No segundo semestre de 2004, a maior taxa de cres-

cimento continuou a ser das cadeias automotriz e de

eletrodomésticos do complexo metal-mecânica. A ca-

51

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 52: Panorama da Indústria Brasileira

deia de máquinas e equipamentos, produtora de bens de capitais, continuou em forte crescimento como no primeiro

semestre, à exceção dos bens de capital para a agricultura, por questões sazonais. As cadeias de metalurgia básica

apresentaram comportamento semelhante às do primeiro semestre.

O quadro do complexo metal-mecânica, no primeiro semestre de 2005, foi ligeiramente peculiar. Por um lado, as cadeias

de bens de consumo duráveis continuaram claramente liderando a expansão (agora amortecida) da indústria (crescimen-

to de automóveis, por exemplo, de 17,09% no semestre). Esse desempenho sinalizou, já no primeiro semestre de 2005,

que a política monetária mais restritiva não levaria a uma interrupção da expansão iniciada em meados de 2003. Por outro

lado, dentro das cadeias de bens de consumo duráveis, a maior expansão ocorreu na cadeia automotriz. Apesar disso, o

subsetor de carrocerias e reboques se retraiu. Os demais setores dessa cadeia apresentaram crescimento mensal muito

alto e contínuo em praticamente todos os meses. Já na cadeia de eletrodomésticos, o desempenho foi bom, apesar de

mais oscilante. Os eletrodomésticos da “linha branca” apresentaram o pior desempenho, devido a restrições quantitativas

temporárias de importação dos produtos brasileiros impostos pela Argentina. O subsetor de material eletrônico e aparelhos

de comunicação apresentou forte expansão em todos os meses, devido principalmente à intensa produção de celulares.

A cadeia de máquinas e equipamentos também apresentou forte desempenho em todos os setores, exceto em bens de

capital para a agricultura. O desempenho desse segmento refletiu a piora dos preços relativos para produtos agrícolas, de-

vido à valorização cambial. Finalmente, os setores de base do complexo (a metalurgia) tiveram desempenho semelhante

ao dos setores de base do complexo química, apesar de mais intenso: retração contínua no primeiro semestre, refletindo o

aumento das importações (câmbio mais favorável à importação) e aliviando o problema de capacidade instalada elevada.

No segundo semestre, o complexo metal-mecânica teve um comportamento heterogêneo nas suas cadeias. Por exem-

plo: o subsetor de automóveis continuou a crescer, mas eletrodomésticos da “linha branca” se retraiu fortemente, o mesmo

aconteceu com o subsetor de laminados de aço, ambos pelos motivos já expostos.

52

Panorama da Indústria Brasileira

Page 53: Panorama da Indústria Brasileira

O gráfico abaixo mostra o desempenho do complexo têxtil.

Fonte: PIM-IBGE.

No ano de 2003 – cuja reação da renda interna, emprego e das vendas no

varejo ocorreram mais para o fim do segundo semestre –, o complexo têxtil

produtor principalmente de bens-salário, apresentou retração (este movi-

mento não foi devido ao aumento significativo da importação de calçados

e vestuário, como ocorreu mais à frente).

O comportamento de 2004 neste mesmo complexo foi praticamente o

inverso: a taxa de desemprego caiu principalmente depois de maio, o em-

prego industrial cresceu principalmente depois de abril e a folha de paga-

mento real da indústria cresceu fortemente durante todo o ano de 2004. O

crescimento do mercado foi tão forte que anulou e mais que compensou

o crescimento da importação de vestuário em 42,34% e de calçados em

33,56%. Assim, como vemos no gráfico acima, a produção de todos setores

do complexo se expandiu significativamente.

No ano de 2005, quando o câmbio começou a se valorizar e a taxa de cres-

cimento da economia brasileira e da indústria passou a um patamar me-

nor em relação ao ano anterior, as cadeias do complexo têxtil passaram a

apresentar retração no acumulado do ano. Esse movimento não foi devi-

do, apenas, a um recrudescimento do crescimento das importações, que

-2 0

-1 5

-1 0

-5

0

5

1 0

Grá�co 13Variação Produção Anual (%)

Complexo Têxtil

2003 2004 2005

Têxtil de �brasari�ciais e sintéticas

Calçados

Têxtil de �bras naturais

53

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 54: Panorama da Indústria Brasileira

cresceram em patamares semelhantes aos de 2004: 49,24% em vestuário

e 69,58% em calçados. E também não foi exclusivamente a uma retração

única das exportações, que cresceram pouco ou se mantiveram no mesmo

nível de 2004. O resultado sugere que houve uma perda de espaço, frente

ao crescimento menor de 2005, no mercado interno, para importações que,

como já dissemos, vinham em nível significativo antes da valorização cam-

bial mais significativa de 2005 em diante.

O gráfico abaixo mostra o desempenho do complexo agroindústria.

Fonte: PIM-IBGE.

O movimento do complexo agroindústria é derivado, por um lado, do fato

de ser produtor de bens-salário e também de bens de significativa inelas-

ticidade-renda e, além disso, pelo fato do período apresentar um compor-

tamento, primeiro, de recuperação, depois, de forte crescimento, seguido

de acomodação a uma taxa menor. Assim, os produtos desse complexo,

geralmente, não puxam o crescimento (sua estrutura é tal que gera impac-

tos intersetoriais relativamente fracos e direcionados praticamente apenas

para a agropecuária) e se mantêm, durante o ciclo, num nível intermediário

de crescimento, acompanham o desempenho da massa salarial real e do

-1 5

-1 0

-5

0

5

1 0

1 5

2 0

Grá�co 14Variação Produção Anual (%)

Complexo Agroindústria

2003 2004 2005

Abate de Bovinose Suínos

Açúcar

Óleo de Soja

Arroz

Trigo

Álcool

54

Panorama da Indústria Brasileira

Page 55: Panorama da Indústria Brasileira

emprego. Contudo, esse acompanhamento geralmente apresenta menos

volatilidade que o do complexo têxtil.

Assim, o desempenho de 2003 – 2005 mostrou uma expansão da produção

positiva de todos os setores até 5% anual. As exceções ocorreram em dois

momentos: em abate de animais, que se expandiu fortemente em 2004 e

açúcar, que se retraiu fortemente em 2005. O comportamento do primei-

ro provavelmente foi devido à melhoria substantiva do emprego durante

2004, com a demanda se expandindo para bens relativamente mais caros.

O comportamento do segundo se relaciona ao fato de que a exportação

de açúcar bruto cresceu exponencialmente entre 2004 e 2005 (função da

melhoria substancial de preço internacional), enquanto a do refinado se ex-

pandiu timidamente – ou seja, como nosso índice de produção se referiu

mais ao açúcar refinado, ele se retraiu no período devido à maior produção

do açúcar bruto para exportar.

O gráfico abaixo mostra o movimento do complexo química.

Fonte: PIM-IBGE.

-1 0

-5

0

5

1 0

1 5

2 0

Grá�co 15Variação Produção Anual (%)

Complexo Química

2004 20052003

Laminados de Plásticos

Perfumaria

Artigos de limpeza

Petroquímicos Básicose Intermediários

Pneumáticos

55

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 56: Panorama da Indústria Brasileira

Em 2003, os subsetores do complexo química mantiveram

um comportamento semelhante aos do metal-mecânica.

Esse é o segundo complexo de maior capacidade de en-

cadeamento para frente e para trás, o que nos leva a con-

siderar que, em 2003, a liderança do crescimento não foi

apenas do metal-mecânica, mas também de química. O

ano de 2004 foi de crescimento forte e homogêneo para

a maioria dos setores do complexo química. Entretanto,

em 2005 sua retração foi de cerca de 4,95% do consumo

aparente8. Como mostra o gráfico 15, a retração atingiu

menos produtos finais da química. Entretanto, em 2005

o complexo química perdeu a capacidade de ser líder do

crescimento (com desempenho menor que em 2004), o

que não acontece com o metal-mecânica. O complexo

química sofreu (nas suas cadeias em geral) de uma capa-

cidade produtiva insuficiente para o volume da demanda

interna, o que o tornou fortemente importador. Assim, em

2004 as importações produtos químicos e produtos conexos

cresceram em dólares cerca de 31,78%, e em 2005 cerca de

5,86%. Nota-se, portanto, que o câmbio mais valorizado de

2005 não foi problema para sua produção interna, ou seja,

sua retração foi devida, provavelmente, à queda do nível

de atividade em 2005 em relação a 2004.

Em termos gerais, o período 2003 – 2005, apresentou um

desempenho sem grandes reversões de tendência de cres-

cimento industrial. O arrefecimento do crescimento após

2003 não configurou uma reversão abrupta como em 2001

em relação a 2000. O que ocorreu foi um abrandamento da

dinâmica industrial, mas manteve as mesmas característi-

cas setoriais gerais dos anos de melhor desempenho.

8 Ver Relatório Anual de 2005 da ABIQUIM (Associação Brasileira da Indústria Química).

56

Panorama da Indústria Brasileira

Page 57: Panorama da Indústria Brasileira

1.4 O desempenho da indústria em 2006

A principal novidade para a indústria desde os primeiros

meses de 2006 foi o início da redução das taxas de juros

públicos desde o último trimestre de 2005, feita pelo Banco

Central. Esse procedimento ocorreu devido à boa situação

brasileira do ponto de vista internacional (queda do risco-

país) que, mesmo com rumores de redução do crescimen-

to da economia mundial e possíveis pressões inflacionárias

nos EUA, permitiu alívio de fatores inflacionários internos.

O nível de utilização de capacidade na indústria no pri-

meiro trimestre9 não inspirava preocupações: 83,4% na

indústria de transformação em abril, e 86,5% para bens

intermediários (dados da FGV-RJ). A FBCF (Formação Bru-

ta de Capital Fixo) cresceu a partir do segundo trimestre,

principalmente devido ao crescimento da construção civil,

e da produção e importação de máquinas e equipamen-

tos. A demanda interna em geral continuou aquecida com

crescimento significativo do varejo (em relação ao mesmo

mês do ano anterior) em janeiro, fevereiro e março (6,53%,

5,74% e 2,98%, respectivamente – dados do IBGE). Quan-

to à demanda externa, esta cresceu significativamente no

primeiro trimestre, mas iremos detalhar isso pelo desem-

penho setorial.

No complexo construção, a produção física de “cimento e

clínquer” cresceu (em relação ao mesmo mês do ano ante-

rior) significativamente em janeiro, fevereiro e março: 9,3%,

10,5% e 12,8% respectivamente. Esse desempenho, por sua

9 As estatísticas mensais de Balança Comercial se referem ao desempenho mensal de importação e exportação, dos capítulos CUCI, em relação ao mesmo mês do ano anterior. Não consideramos estatísticas em quantum de importações e exportações porque não estão disponíveis no detalhamento setorial próximo aos subsetores da PIM-IBGE requerido.

57

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 58: Panorama da Indústria Brasileira

vez, foi devido ao crescimento da construção civil. Esta entrou, ao longo do

trimestre, numa trajetória clara de crescimento, reagindo positivamente às

várias medidas de incentivo ao longo de 2005, entre as quais se destacou a

redução de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre insumos da

construção e a nova Lei 10.971 que criou a alienação fiduciária no caso de

imóveis – o que, no último caso, levou a uma forte elevação do volume de

operações contratadas pelos agentes do SBPE (Sistema Brasileiro de Pou-

pança e Empréstimo).

Fonte: PIM-IBGE.

Na cadeia automotriz do complexo metal-mecânica, a produção física de

automóveis cresceu significativamente (um crescimento mensal em relação

ao mesmo mês do ano anterior da ordem de 10%), fruto em parte do cresci-

mento da demanda interna, mas também devido ao bom desempenho ex-

terno: as exportações cresceram nos três primeiros meses (38,54%, 30,99%

e 21,22% em janeiro, fevereiro e março, respectivamente, contra mesmo

mês do ano anterior) a taxas mais altas que as importações (20,6%, -1,7%

e 17,8%, também respectivamente). Os eletrodomésticos da “linha marrom”

cresceram ainda mais fortemente no primeiro trimestre, como pode ser

visto no gráfico 17. Já o crescimento de eletrodomésticos da “linha branca”

se concentrou nos dois primeiros meses do ano. De qualquer forma, no

primeiro trimestre esse desempenho refletiu dois fatores: queda significa-

tiva dos juros dos empréstimos ao consumidor, junto ao alongamento dos

prazos dos financiamentos, e crescimento das vendas no varejo do 11,1%

-5

0

5

1 0

1 5

Grá�co 16Complexo Construção

Variação Produção Física em relação a mesmo mês do ano anterior (%)

jan/06 fev/06 mar/06

Cimento e Clínquer

Artefatos de Concreto

58

Panorama da Indústria Brasileira

Page 59: Panorama da Indústria Brasileira

em relação ao primeiro trimestre de 2005. Já os laminados de aço mostra-

ram retração, em parte devido a uma forte importação (o item de ferro e aço

mostraram importação em relação a mesmo mês do ano anterior de 72,3%,

43,8% e 66,5% em janeiro, fevereiro e março, respectivamente). No caso de

máquinas e equipamentos industriais e comerciais, notamos um crescimento

bem modesto, pois a produção interna de máquinas e equipamentos este-

ve destinada principalmente a máquinas para energia elétrica, construção e

uso misto, com queda nas máquinas agrícolas.

Fonte: PIM-IBGE.

No complexo têxtil, observamos no primeiro trimestre uma novidade: a têxtil

de fibras naturais passou a mostrar crescimento de produção física (em rela-

ção ao mesmo mês do ano anterior) a partir de fevereiro, apesar de modes-

to (4,0% em fevereiro e 6,4% em março). Entretanto, o mesmo não acontece

em relação à têxtil de fibras artificiais e sintéticas, que se retraiu praticamente

durante todo trimestre. De fato, a importação de vestuário cresceu (também

em relação ao mesmo mês do ano anterior) 57,9% (janeiro), 66,29% (feve-

reiro) e 37,8% (março). Estes movimentos levaram-nos a concluir por uma

maior sensibilidade da têxtil de fibras artificiais e sintéticas às importações

que a têxtil de fibras naturais. Já a Produção Física de calçados também se

retraiu, em grande parte devido à forte importação: crescimento de 74,5%

(janeiro), 46,67% (fevereiro) e 46,6% (março). Este complexo é o mais frágil à

ja n /0 6 f e v /0 6 m a r /0 62 01 0

01 02 03 04 05 06 0

Grá�co 17Complexo Metal-Mecânica

Variação Produção em relação a mesmo mês do ano anterior (%)

Eletrodomésticos da “Linha Marrom”

Eletrodomésticos da “Linha Branca”

Automóveis

Laminados de Aço

Máquinas e Equipamentos Industriaise Comercias

59

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 60: Panorama da Indústria Brasileira

concorrência externa, apresentando retrações recorrentes quando a massa

salarial se mostrou em expansão.

Fonte: PIM-IBGE.

No complexo agroindústria, os desempenhos foram desiguais. Abate de

bovinos e suínos, em boa parte pela desaceleração da exportação de car-

nes e preparados de carnes (cresceu 29,64% em janeiro, 6,30% em fevereiro

e 5,13% em março) se mantiveram sem crescimento apesar de alimentos

para animais, na base da cadeia, apresentarem crescimento e indicarem

destino de insumos para abate de aves e/ou futuro consumo na produção

de bovinos e suínos. Já óleo de soja, da mesma forma, apresentou pratica-

mente manutenção de produção física nos dois primeiros meses e retração

no terceiro, inclusive sem incremento de exportação no trimestre (as ex-

portações de óleos e gorduras de origem vegetal caíram 23,74% em janeiro,

32,55% em fevereiro e 14,08% em março). Ao mesmo tempo a exportação

de sementes e frutos oleaginosos, que inclui soja em grão, acumulou recor-

des de crescimento, o que levou à conclusão de que nossa inserção externa

se desempenhou melhor no grão que no óleo. Além disso, pode-se notar

que alimentos mais baratos, como em arroz, se recuperaram ao longo do

trimestre, sugerindo acompanhamento da melhoria da massa salarial e do

emprego. Este complexo se assemelha ao têxtil, pois foi bastante afetado

pelo crescimento do poder aquisitivo, mas em parte refletiu a inserção ex-

-1 0-8-6-4-202468

Grá�co 18Complexo Têxtil

Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)

Calçados

Têxtil de Fibras Naturais

Têxtil de Fibras Arti�ciais e Sintéticas

jan/06 fev/06 mar/06

60

Panorama da Indústria Brasileira

Page 61: Panorama da Indústria Brasileira

terna de algumas cadeias. Entretanto, diferentemente do têxtil, o complexo

agroindústria foi mais competitivo, sendo mais afetado pela evolução das

exportações do que das importações, como no têxtil.

Fonte: PIM-IBGE.

Finalmente, no complexo química, manteve-se no primeiro trimestre a re-

tração (ou quando muito a manutenção) da produção física de laminados

plásticos. Esse comportamento não foi devido basicamente ao crescimento

da importação destes produtos. De fato, a importação de plásticos em formas

não primárias (em relação ao mesmo mês do ano anterior) foi a seguinte:

-1,28% (janeiro), 7,99% (fevereiro) e 8,65% (março). Já a importação de ma-

nufaturas de borracha teve crescimento, respectivamente: 15,21%, 13,39% e

23,39%. Entretanto, nota-se que a produção de pneumáticos (incluídos no

capítulo citado por último), cresceu no trimestre. A lógica deste movimen-

to provavelmente está na demanda aquecida de automóveis que, mesmo

complementada com importações, gerou crescimento na cadeia. Como

seria de esperar, a petroquímica manteve retração no semestre, apesar do

bom desempenho da base de sua cadeia (refino de petróleo e extração

de petróleo e gás) – de fato, a importação de plásticos em formas primárias

cresceu 21,71% (janeiro), 17,64% (fevereiro) e 25,40% (março). Este comple-

xo, como já notamos, há muito perdeu a capacidade de liderança do cres-

- 6 0

- 5 0

- 4 0

- 3 0

- 2 0

- 1 0

0

1 0

2 0

Grá�co 19Complexo Agroindústria

Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)

jan/06 fev/06 mar/06

Açúcar

Óleo de Soja

Abate de Bovinos e Suinos

Arroz

Trigo

Álcool

61

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 62: Panorama da Indústria Brasileira

cimento e apresentou fortes desequilíbrios ao longo da cadeia petroquí-

mica, fruto tanto da importação quanto do arrefecimento do crescimento

desde 2005. Esta última cadeia encerrou claras limitações da capacidade

produtiva, onde foi patente a necessidade de coordenação e investimento.

Outros subsetores da química, como perfumaria, apresentaram desempe-

nhos bons, apesar das oscilações conjunturais – mas sua capacidade de

encadeamento foi restrita, não tendo potencial para liderar o crescimento

da indústria como um todo.

Fonte: PIM-IBGE.

Quanto ao emprego, houve praticamente uma manutenção dos mesmos

postos de trabalho na indústria de transformação, ou seja, a variação com

ajuste sazonal e mensal foi a seguinte: 0,1% (janeiro), 0,2% (fevereiro) e

–0,3% (março).

No segundo trimestre de 2006, manteve-se na indústria como um todo,

um nível de utilização de capacidade (84,68%, dado de julho) semelhante ao

de abril/2006, apesar de alguns setores apresentarem níveis razoavelmente

elevados no período (abordaremos esse aspecto na análise setorial). A cons-

trução civil manteve seu desempenho promissor, vinculado principalmente

a edificações. A demanda interna continuou aquecida, com crescimento do

varejo em relação ao mesmo mês de 2005 durante todo trimestre em níveis

-1 0

-5

0

5

1 0

1 5

Grá�co 20Complexo Química

Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)

jan/06 fev/06 mar/06

Petroquimicos Básicos e Intermediários

Laminados de Plásticos

Perfumaria

Artigos de Limpeza

Pneumáticos

62

Panorama da Indústria Brasileira

Page 63: Panorama da Indústria Brasileira

próximos a 4%. Entretanto, houve uma ligeira desaceleração, devido a fato-

res ocasionais, como greve da Receita Federal, por exemplo.

No complexo construção, manteve-se o crescimento (apesar de menos

intenso que o trimestre anterior) de produção física de cimento e clínquer,

indicador antecedente do crescimento da construção civil. De fato, aquele

subsetor apresentou os seguintes valores de crescimento mensal em re-

lação a mesmo mês do ano anterior: 1,27% (abril), 10,59% (maio) e 2,02%

(junho). Nota-se que o setor foi muito incentivado pelo financiamento em

edificações e, em parte, por obras de infra-estrutura (o que também reflete

perspectivas devido ao momento eleitoral).

Fonte: PIM-IBGE.

No complexo metal-mecânica, os bens de consumo duráveis apresentaram

um desempenho ainda destacado, mas menos forte. Automóveis, por exem-

plo, tiveram aumento mensal de produção física em relação ao mesmo mês

de 2005 durante o mês de maio, e nos outros meses pouco crescimento:

-1,98% (abril), 13,97% (maio) e 1,01% (junho). As exportações contribuíram

relativamente menos que a demanda interna para esse desempenho, já

que seu crescimento mensal em relação ao mesmo mês de 2005 foi menor

que o das importações. De fato as exportações tiveram o seguinte desem-

penho: 9,8% (abril), 4,97% (maio) e 7,04% (junho). Já o desempenho das

importações foi o seguinte: 30,6% (abril), 18,28% (maio) e 36,42% (junho).

1 5-

- 1 0

-5

0

5

1 0

1 5

Grá�co 21Complexo Construção

Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)

abr/06 mai/06 jun/06

Cimento e Clínquer

Artefatos de Concreto

63

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 64: Panorama da Indústria Brasileira

Ainda no complexo metal-mecânica, continuaram com crescimento vigo-

roso tanto os eletrodomésticos da “linha branca” quanto os da “linha mar-

rom”. De fato, no primeiro setor o crescimento mensal em comparação ao

mesmo mês do ano anterior foi o seguinte: -1,47% (abril), 13,15% (maio)

e 17,63% (junho). A mesma estatística, para a “linha marrom” é a seguinte:

30,57% (abril), 29,78% (maio) e 2,24% (junho). A trajetória de crescimento

de eletrodomésticos da “linha branca”, já que as condições de varejo internas

estavam dadas e não apresentaram nenhuma mudança brusca no perío-

do, se deve à recuperação das exportações. A trajetória de queda abrupta

em junho dos eletrodomésticos da “linha marrom” se explica por uma queda

brusca das exportações (17,16%) em junho, apesar de nos meses anteriores

estas apresentarem trajetória sem queda.

As máquinas e equipamentos para fins industriais e comerciais continuaram

em retração, o mesmo aconteceu com os laminados de aço. Esse comporta-

mento foi em função da forte importação, que no caso do último setor teve

desempenho mensal (em relação ao mesmo mês do ano anterior) seguinte:

48,13% (abril), 64,09% (maio) e 84,39% (junho). Ainda nesse setor, o grau de

utilização de capacidade em julho foi de 93,8%, maior que o maior nível

registrado antes, de 93,2%. Entretanto, deve-se entender que na metalurgia

as empresas trabalham com elevado nível de economias de escala.

Fonte: PIM-IBGE.

-5

0

5

1 0

1 5

2 0

2 5

3 0

3 5

Grá�co 22Complexo Metal-Mecânica

Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)

mai/06abr/06 jun/06

Eletrodomésticos da“Linha Marrom”

Eletrodomésticos da“Linha Branca”

Automóveis

Laminados de Aço

Máquinas e EquipamentosIndustriais e Comercias

64

Panorama da Indústria Brasileira

Page 65: Panorama da Indústria Brasileira

No complexo têxtil, a têxtil de fibras naturais continuou sua recuperação,

mesmo que tímida, de certa forma como toda indústria neste trimestre,

com o seguinte desempenho de crescimento da produção: -4,23% (abril),

1,96% (maio) e 0,8% (junho). A têxtil de fibras artificiais e sintéticas ainda se

mantém em retração devido em parte ao crescimento das importações de

vestuário, com ênfase em tecidos artificiais e sintéticos. De fato a rubrica

de vestuário em geral teve o seguinte crescimento mensal de importações

(em relação ao mesmo mês do ano anterior): 31,96% (abril), 32,37% (maio)

e 41,16% (junho). As importações de calçados também cresceram muito no

período, o que induziu a retração experimentada pelo setor.

Fonte: PIM-IBGE.

No complexo agroindústria, o desempenho continua desigual, com várias

retrações, que não se devem apenas ao aumento de importações. Entretan-

to, beneficiamento de arroz esboça uma reação, com os seguintes desem-

penhos mensais (em relação ao mesmo mês do ano anterior): 4,84% (abril),

25,97% (maio) e 5,28% (junho). Outro setor que cresceu é o de leite e laticí-

nios, alimentos mais caros, em função parcialmente do aumento das expor-

tações (principalmente em abril). O desempenho ruim de óleo de soja foi

devido à queda significativa das exportações em maio e junho. Já a retração

de abate de bovinos e suínos foi em função também do mercado externo, ou

-1 4-1 2-1 0

-8-6-4-2

024

Grá�co 23Complexo Têxtil

Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)

mai/06abr/06 jun/06

Calçados

Têxtil de Fibras Arti�ciais e Sintéticas

Têxtil de Fibras Naturais

65

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 66: Panorama da Indústria Brasileira

seja, retração forte das exportações, principalmente em abril e junho. Esse

desempenho sugere que o mercado interno apresentou-se relativamente

aquecido tanto em alimentos mais caros, quanto nos mais baratos, ou seja,

houve incremento de consumo em geral nas diversas faixas de renda, em

função de uma melhora geral do poder de compra.

Fonte: PIM-IBGE.

No complexo química, o comportamento foi de oscilação com alguns de-

sempenhos mensais positivos apenas em artigos de limpeza e perfumaria.

- 2 0

- 1 0

0

1 0

2 0

3 0

Grá�co 24Complexo Agroindústria

Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)

mai/06abr/06 jun/06

Açúcar

Óleo de Soja

Abate de Bovinos e Suínos

Arroz

Trigo

Álcool

66

Panorama da Indústria Brasileira

Page 67: Panorama da Indústria Brasileira

A cadeia petroquímica continuou, entretanto, com muitos desequilíbrios e

retrações. O melhor desempenho foi dos pneumáticos, que se inseriu como

fornecedor da cadeia automotriz (não é por acaso que borracha foi o setor

com o nível de utilização de capacidade mais alto da indústria em julho:

96,6%). As importações substituíram a produção petroquímica interna não

realizada. De fato, as importações de plásticos cresceram significativamen-

te: nos plásticos primários cresceram 0,4% (abril), 18,9% (maio) e 10,92%

(junho); enquanto nos plásticos não-primários cresceram 10,15%, 21,66% e

9,67%, respectivamente.

Fonte: PIM-IBGE.

O emprego na indústria também mostrou desempenho semelhante ao do

trimestre anterior, ou seja, houve manutenção de postos de trabalho (com

ligeiro aumento) na série dessazonalizada. De fato, o desempenho mensal

em relação ao mês anterior foi: 0,5% (abril), 0,0% (maio) e 0,1% (junho).

No segundo semestre, o consumo aparente de máquinas atingiu cresci-

mento de 7,6% no acumulado até setembro. A demanda interna continuou

aquecida, apesar de um crescimento em relação a julho de 2005 relativa-

mente baixo (2,25%). Entretanto, em agosto e setembro, ocorreu forte ace-

leração: 6,29% e 9,98%, respectivamente.

Grá�co 25Complexo Química

Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)

abr/06 mai/06 jun/06

Laminados d Plástico

Perfumaria

Artigos de Limpeza

Petroquímicos Básicose Intermediarios

Pneumáticos

- 2 0

- 1 5

- 1 0

-5

0

5

1 0

67

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 68: Panorama da Indústria Brasileira

A indústria em geral teve até setembro um crescimento acumulado de pro-

dução física de 2,7%, e o nível de utilização de capacidade teve um ligeiro

aumento no segundo semestre: 84,9% (toda indústria) e 87,7% (bens inter-

mediários).

No complexo construção, os indicadores de nível de atividade continuaram

promissores. De fato, o subsetor cimento e clínquer manteve-se aquecido – o

crescimento mensal em relação ao mesmo mês de 2005 foi: 3,52% (julho),

8,25% (agosto) e 5,97% (setembro). Esse desempenho foi devido principal-

mente a edificações, e não a obras de infra-estrutura.

Fonte: PIM-IBGE.

No complexo metal-mecânica continuou o bom desempenho dos bens de

consumo duráveis, em boa parte impulsionado pelos prazos mais longos

do crédito pessoal. De fato, o setor de automóveis apresentou crescimento

de produção (em relação a mesmo mês do ano anterior) de 4,41% (julho),

11,27% (agosto), com retração de 2,46% em setembro – sendo esse de-

sempenho direcionado preponderantemente para o mercado interno. Já

os eletrodomésticos também foram produzidos significativamente mais do

que em relação ao mesmo mês de 2005. Os da “linha branca” tiveram o

seguinte desempenho: 9,66% (julho), 6,07% (agosto) e 36,69% (setembro),

impulsionados tanto pelo mercado interno quanto externo. Os da “linha

marrom” tiveram o seguinte desempenho, na mesma seqüência de meses:

Grá�co 26Complexo Construção

Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)

jul/06 ago/06 set/060123456789

10

Artefatos de Concreto

Cimento e Clínquer

68

Panorama da Indústria Brasileira

Page 69: Panorama da Indústria Brasileira

0,66%, -7,22% e –0,36%. Este último desempenho de retração foi devido em

boa parte ao mercado interno, pois suas exportações cresceram significati-

vamente em julho e agosto, tendo neste último mês atingido 53,59%.

Ainda no mesmo complexo, as máquinas e equipamentos para indústria e

comércio passaram, a partir de agosto, a recuperar a produção. Deve-se sa-

lientar que o crescimento da importação de máquinas para a indústria foi

mais alto, apesar de cadente ao longo do trimestre.

A produção de laminados de aço também aumentou, na faixa de 5% men-

sais (em relação ao mesmo mês do ano anterior). De fato, houve certo cres-

cimento das exportações a partir de agosto (36,21%) e setembro (27,50%)

em relação ao mesmo mês do ano anterior. Mas as importações de ferro e

aço cresceram a um ritmo muito maior: 139,78% (julho), 52,49% (agosto)

e 7,55% (setembro). Deve-se acrescentar também que o nível interno de

produção do metal-mecânica se manteve alto no período, a julgar pelo de-

sempenho dos bens de consumo duráveis.

Fonte: PIM-IBGE.

No complexo têxtil, o quadro é semelhante aos trimestres anteriores: leve

recuperação dos têxteis de fibras naturais, mas expansão surpreendente da

têxtil de fibras artificiais e sintéticas, retração de calçados, e crescimento de

couro e outros artefatos de couro. Esse desempenho, no caso de têxteis, foi

Grá�co 27Complexo Metal-Mecânica

Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)

jul/06 ago/06 set/06

Eletrodomésticos da“Linha Marrom”

Eletrodomésticos da“Linha Branca”

Automóveis

Laminados de Aço

Máquina e EquipamentosIndustriais e Comerciais

-10-505

10152025303540

69

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 70: Panorama da Indústria Brasileira

em função a um direcionamento produtivo para o mercado interno, pois

as exportações de vestuário mostraram forte retração no trimestre (24,70%,

18,67% e 22,93% para os meses de julho, agosto e setembro, respectiva-

mente) e crescimento das importações (25,45%, 9,84% e 56,33%, respec-

tivamente). Entretanto, no caso da têxtil de fibras artificiais e sintéticas foi

devido também à fraca base de comparação do ano anterior, como já sa-

lientamos antes. Para calçados, as exportações caíram ligeiramente (-2,03%,

0,86% e –1,67%, respectivamente) e as importações cresceram, exceto em

setembro: 28,21% (julho), 34,29% (agosto) e –8,98% (setembro) – mas ficou

claro que a cadeia como um todo sofreu com o bom desempenho dos sub-

setores de base voltados para exportação preponderantemente.

Fonte: PIM-IBGE.

No complexo agroindústria, o desempenho foi peculiar: apesar de continu-

ar ocorrendo um crescimento do consumo varejista de alimentos, bebidas

e fumo (que aumentou no acumulado do terceiro trimestre de 2006 contra

o mesmo de 2005, 7,8%, função do crescimento da massa salarial real e da

transferência de renda para as famílias), a maioria teve desempenho produ-

tivo baixo. Tal desempenho parece-nos se dever a um aumento mensal sig-

nificativo de importações em geral de produtos alimentícios e animais vivos

e bebidas e fumo ao longo do trimestre.

Grá�co 28Complexo Têxtil

Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)

jul/06 ago/06 set/06

Calçados

Têxtil de Fibras Artificiaise Sintéticas

Têxtil de Fibras Naturais

- 1 5

- 1 0

-5

0

5

1 0

1 5

70

Panorama da Indústria Brasileira

Page 71: Panorama da Indústria Brasileira

Fonte: PIM-IBGE.

No complexo química, o desempenho localizado na cadeia petroquímica

foi fruto tanto de uma base no ano anterior muito baixa (o que explica o

desempenho elevado no gráfico abaixo de petroquímicos básicos e inter-

mediários) e um aumento das importações (plásticos em formas primárias

tiveram aumento de importações ao longo do trimestre, o que explicou

a tendência de petroquímicos básicos e intermediários perder fôlego neste

período de tempo). Entretanto, ocorreram desempenhos claramente posi-

tivos e estimulantes, como em perfumaria e artigos de limpeza.

Fonte: PIM-IBGE.

Grá�co 29Complexo Agroindústria

Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)

jul/06 ago/06 set/06-10

-505

1015202530

Açúcar

Óleo de soja

Abate de bovinose suínos

Arroz

Trigo

Álcool

Grá�co 30Complexo Química

Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)

jul/06 ago/06 set/06

laminados e Plásticos

Perfumaria

Artigos de Limpeza

Petroquímicos Básicos eIntermediários

Pneumáticos

-10

-5

0

5

10

15

71

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 72: Panorama da Indústria Brasileira

Quanto ao desempenho do emprego da indústria de transformação, no

trimestre houve crescimento mensal com ajuste sazonal em julho (0,5%) e

em setembro (0,5%), apesar de um recuo pequeno (0,1%) em agosto. Desta

forma repetiu-se o comportamento de praticamente manutenção do nível

de emprego na indústria de transformação.

No complexo construção, durante o quarto trimestre, manteve-se o de-

sempenho fortemente positivo da produção de um dos principais insumos

da construção civil: 7,8% (outubro), 5,71% (novembro) e 4,47% (dezembro).

De fato, os vários incentivos à construção, junto à melhoria da renda e do

emprego, foram os causadores deste desempenho. A relativa desacelera-

ção de cimento e clínquer no trimestre provavelmente refletiu um compor-

tamento sazonal, devido ao período de chuvas do final de ano.

Fonte: PIM-IBGE.

Durante o último trimestre, o complexo metal-mecânica apresentou conti-

nuidade de crescimento (salvo pequenas exceções) devido à manutenção

do crescimento do consumo interno (função principalmente da melhoria

do crédito ao consumidor e queda das taxas de juros) e da melhoria do qua-

dro macroeconômico – fatores estes que vinham ocorrendo desde início de

Grá�co 31Complexo Construção

Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)

out/06 nov/06 dez/06

Cimento e Clínquer

Artefatos de Concreto

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

72

Panorama da Indústria Brasileira

Page 73: Panorama da Indústria Brasileira

2005, mas que pareciam chegar à produção mais concretamente a fins de

2006. O setor de automóveis apresentou excelente desempenho em outu-

bro (+15,18%), mas retração nos dois meses seguintes: 1,19% (novembro)

e 12,45% (dezembro). A explicação para tal desempenho provavelmente

foi dupla: por um lado, as exportações vieram declinando (0,80% em outu-

bro, 7,47% em novembro), com apenas uma leve recuperação em dezem-

bro (8,13%); por outro lado, as importações vieram crescendo fortemente

(52,69% em outubro, 35,51% em novembro e 65,45% em dezembro).

Dentro do mesmo complexo, os eletrodomésticos da “linha marrom” tam-

bém apresentaram relativas retrações: crescimento de -3,51% (outubro),

+1,04% (novembro) e –8,80% (dezembro). A causa parecia ser devida à

forte importação nos meses de outubro (38,63%) e novembro (29,30%),

com leve recuo em dezembro (-7,82%). Laminados de aço também recu-

aram, com leve crescimento apenas em outubro (2,35%), ou seja: retração

de 0,87% (novembro) e 0,05% (dezembro). A razão foi semelhante à dos

trimestres anteriores: importação significativa, que cresceu 36,77% (outu-

bro), 9,97% (novembro) e 10,27% (dezembro). Os eletrodomésticos da “linha

branca” continuaram seu processo de forte crescimento: 20,28% (outubro),

22,29% (novembro) e 20,48% (dezembro). E máquinas e equipamentos para

fins industriais e comerciais melhoraram seu desempenho no final do ano:

+5,83% (outubro), + 0,58% (novembro) e –1,34% (dezembro).

Fonte: PIM-IBGE.

Eletrodomésticosda “Linha Marrom

Eletrodomésticosda “Linha Branca”

Automóveis

Laminados de Aço

Máquinas e EquipamentosIndustriais e Comerciais

Grá�co 32Complexo Metal-Mecânica

Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)

-15-10

-505

10152025

out/06 nov/06 dez/06

73

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 74: Panorama da Indústria Brasileira

No complexo têxtil, ocorreu uma reversão de tendências. Os tecidos de

fibras naturais, que vinham se recuperando, apresentaram duas retrações

em novembro e dezembro: 2,79% e 9,01%, respectivamente. Mas os de

fibra artificial e sintética cresceram durante todo trimestre: 5,59% (outubro),

5,13% (novembro) e 5,98% (dezembro). Os movimentos de balança comer-

cial permaneceram, por um lado, com a mesma tendência: crescimento das

importações (61,66% em outubro, 37,91% em novembro e 72,69% em de-

zembro); e queda das exportações (10,52% em outubro, 15,60% em novem-

bro e 15,97% em dezembro). Por outro lado, a base de comparação (quarto

trimestre de 2005) para a produção foi muito baixa nas fibras artificiais e

sintéticas, ao contrário das fibras naturais. A explicação para a retração nas

fibras naturais foi o aumento mais que proporcional de importações dos

têxteis de fibras naturais em 2006, ao passo que os têxteis de fibras sinté-

ticas e artificiais, apesar de terem aumento de importações, ocorreram em

proporção menor. Quanto ao setor de calçados, este continuou sua trajetó-

ria de retração.

Fonte: PIM-IBGE.

No complexo agroindústria, ocorreu um movimento geral de crescimento no

primeiro mês do último trimestre (raramente até o segundo mês) e retração

depois. A única exceção a este quadro é sucos e concentrados de frutas. Apesar

de não termos estatísticas setoriais de estoques no nível de detalhamento ne-

Calçados

Têxtil de Fibras Artificiaise Sintéticas

Têxtil de Fibras Naturais

Grá�co 33Complexo Têxtil

Variação da Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)

out/06 nov/06 dez/06-10

-5

0

5

10

74

Panorama da Indústria Brasileira

Page 75: Panorama da Indústria Brasileira

cessário, sugere-se uma produção no início do trimestre, para seu consumo

ao longo dos meses seguintes com as festas de final de ano.

Fonte: PIM-IBGE.

No complexo química manteve-se o contexto de desempenho desigual

já descrito (cadeia petroquímica em fraco desempenho e melhor desem-

penho nos bens finais da química fina), com uma exceção aparente em

petroquímicos básicos e resinas (crescimento em novembro de 11,81%, mas

em função de uma retração em novembro do ano anterior de 15,7%). O

quadro é de forte importação de plásticos em formas primárias (32,70% em

outubro, 24,58% em novembro e 17,46% em dezembro) e em borracha em

bruto, inclusive borracha sintética e regenerada (77,81%, 71,83%, 11,16% res-

pectivamente).

Grá�co 34Complexo Agroindústria

Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)

out/06 nov/06 dez/06- 2 0

- 1 5

- 1 0

-5

0

5

1 0

1 5

2 0

Açúcar

Óleo de soja

Abate de bovinose suínos

Arroz

Trigo

Álcool

75

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 76: Panorama da Indústria Brasileira

Fonte: PIM-IBGE.

Resumindo o desempenho comercial do Brasil em 2006, podemos dizer

que, pela primeira vez nos últimos quatro anos, as exportações cresceram

menos (16,20%) que as importações (24,17%). Este desempenho foi devi-

do a dois movimentos. Primeiro, pelo lado das exportações, os produtos

do metal-mecânica se retraíram em geral – por exemplo, ferro e aço (cres-

ceram apenas 4,24%), veículos automóveis, tratores, etc. (cresceram apenas

8,19%). Segundo, pelo lado das importações, apesar de bens de capital

manterem seu desempenho, com combustíveis/lubrificantes e matérias-

primas/produtos intermediários crescendo levemente, as importações de

bens de consumo aumentaram fortemente (41,4%), principalmente em

duráveis (54,8%) e menos em não-duráveis (29,9%). Nota-se que o ajuste

feito se deu basicamente no complexo metal-mecânica. De forma subsidi-

ária para o total da balança, mas não para suas cadeias, ocorreram ajustes

principalmente nos complexos têxtil e química. Quanto ao primeiro, em

vestuário as importações cresceram 43,31%, enquanto em calçados 21,88%.

Já no segundo complexo, as importações de plásticos em formas primárias

Grá�co 35Complexo Química

Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)

out/06 nov/06 dez/06

Laminados de Plástico

Perfumaria

Artigos de Limpeza

Petroquímicos BásicosIntermediários

Pneumáticos

- 1 0

-5

0

5

1 0

1 5

2 0

76

Panorama da Indústria Brasileira

Page 77: Panorama da Indústria Brasileira

cresceram 18,48%, enquanto petróleo e derivados de petróleo aumentaram

importações em 26,84%.

Logo abaixo apresentamos o gráfico do desempenho das exportações em

quantum. Nota-se que nas exportações totais, o desempenho de 2003 – 2006

foi superior ao de 1999 – 2002. O mesmo ocorreu com os semimanufatura-

dos e manufaturados, com destaques para os últimos. Apenas nos básicos o

desempenho foi inferior.

Fonte: Funcex.

77

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

70,00

60,00

50,00

40,00

30,00

20,00

10,00

0,00

Exportação Total Básicos Semimanufaturados Manufaturados

Grá�co 36Variação acumulada (%)

das exportaçóes em quantum 2003-2006

Page 78: Panorama da Indústria Brasileira

No gráfico abaixo, mostramos o desempenho comercial em preços.

Fonte: Funcex.

O que se nota é que no período 2003 – 2006 ocorreu um significativo au-

mento em preço de todas as categorias de exportação, principalmente

levando-se em conta que no período 1999 – 2002 ocorreu exatamente o

inverso: forte retração. Isso foi devido em boa parte ao crescimento da eco-

nomia mundial no período, apesar do Brasil ter expandido suas exportações

em quantum mais rápido que a expansão do comércio internacional.

No gráfico abaixo, mostramos a composição por grupos de produtos da pau-

ta de exportação brasileira no período 2003 – 2006. Nota-se que não houve

modificação significativa em relação ao período 1999 – 2002, já apresentada.

78

Panorama da Indústria Brasileira

70,00

60,00

50,00

40,00

30,00

20,00

10,00

0,00

Exportação Total Básicos Semimanufaturados Manufaturados

Grá�co 37Variação acumulada (%)

das exportaçóes brasileiras em preço 2003-2006

Page 79: Panorama da Indústria Brasileira

Fonte: Secex.

No acumulado de 2006, observa-se a manutenção da liderança do cresci-

mento interno da produção pelas categorias de bens de consumo duráveis

e bens de capital, liderança essa que se manteve desde meados de 2003.

O consumo interno, em 2006, foi o componente da demanda que mais

puxou o crescimento, impulsionado principalmente pelas vendas no varejo

79

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

100%

80%

60%

40%

20%

0%

Grá�co 38Composição da Pauta de Exportação por grupos de protudos

2003

Básico Semimanufaturados Manufaturados Operações Especiais

2004 2005 2006

Page 80: Panorama da Indústria Brasileira

(crescimento de 6,2% no ano). As exportações líquidas perderam o ímpe-

to no estímulo ao crescimento, devido em grande parte ao crescimento

das importações. A FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo) cresceu de forma

generalizada em 2006, com forte expansão de máquinas importadas (fa-

vorecidas pelo câmbio e a estabilidade dos preços internacionais de bens

de capital). Assim, o consumo aparente de máquinas aumentou fortemen-

te, tanto devido à importação, quanto à produção interna: a fabricação de

bens de capital para uso industrial cresceu 5,3% em 2006.

Deve-se salientar mais alguns pontos relativos ao desempenho da indús-

tria em 2006. Primeiro, os vários subsetores industriais cresceram de forma

geral em um movimento relativamente mais difundido que em 2005. Se-

gundo, os estoques industriais atingiram um nível, ao final de 2006, seme-

lhante ao nível planejado. Finalmente, os setores de maior capacidade de

encadeamento continuaram liderando o crescimento na indústria: bens de

consumo durável (aumento de produção em 2006 de 5,8%) e bens de ca-

pital (aumento de produção em 2006 de 5,7%). Todos esses fatores citados

indicaram que o crescimento da indústria brasileira não tendia no médio

prazo, salvo choques adversos, a uma retração, interrompendo o ciclo de

crescimento iniciado em meados de 2003. E mais: os dados de 2006, quan-

do comparados aos de 2005, indicaram uma perspectiva em 2007 de uma

aceleração do crescimento, mas agora com um contexto macroeconômico

e setorial muito mais consistente.

Finalmente, quanto ao desempenho do emprego (com ajuste sazonal) da

indústria de transformação, observou-se uma retração moderada no último

trimestre, mas da ordem de grandeza de 0,5% ao mês, o que, na prática,

manteve a trajetória de manutenção do emprego.

80

Panorama da Indústria Brasileira

Page 81: Panorama da Indústria Brasileira

1.5 Aspectos relevantes do desempenho no período 1999 – 2006

Pode-se considerar que, pelo menos desde 1999, a dinâmica setorial do cres-

cimento da indústria seguiu um padrão semelhante ao longo dos anos: du-

rante a fase ascendente, houve um maior crescimento do complexo metal-

mecânica (e dentro dele, geralmente de setores produtores de bens de con-

sumo duráveis), até que esse ímpeto se arrefeceu, quando setores de menor

capacidade de encadeamento intersetorial passaram a ter um desempenho

relativo mais importante.

Ao longo deste trabalho considerou-se que as oscilações desse crescimento

estariam relacionadas a duas questões: o desempenho fiscal e a restrição

externa. Esses dois problemas foram atacados desde 1999 (com aprofunda-

mento a partir de 2003), ainda que de forma não definitiva10.

De qualquer forma, algumas características do desempenho recente pude-

ram ser ressaltadas.

A evolução da demanda interna

O volume de vendas do varejo apresentou crescimento (em relação ao mes-

mo mês do ano anterior) oscilante até início de 2004, quando então passou

a ser positivo (ver gráfico 39).

Este aspecto nos permite dizer que o desempenho mais recente da indús-

tria não se baseou apenas no desempenho externo, mas também de fatores

10 Entretanto, não nos parece ser do escopo deste trabalho tratar dessas questões, o que cabe a outras instâncias.

81

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 82: Panorama da Indústria Brasileira

internos, como emprego (vide tópico mais à frente) e renda que, mais recente-

mente ainda, tenderam a predominar.

Fonte: IBGE.

A evolução do desemprego

Outro aspecto é que a taxa de desemprego medida nas regiões metropolitanas

pelo IBGE (PME) passou a oscilar em torno de uma média menor desde finais de

2004 (ver gráfico abaixo).

Grá�co 39Volume de Vendas no Varejo -

Variação em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)

jan/01

abr/01

jun/01

out/01

jan/02

abr/02

jun/02

out/02

jan/03

abr/03

jun/03

out/03

jan/04

abr/04

jun/04

out/04

jan/05

abr/05

jun/05

out/05

jan/06

abr/06

jun/06

out/06

-1 5

-1 0

-5

0

5

1 0

1 5

82

Panorama da Indústria Brasileira

Page 83: Panorama da Indústria Brasileira

Fonte: IBGE.

O padrão de evolução da produtividade

Nota-se que houve uma mudança de padrão no comportamento da pro-

dução física da indústria e o pessoal ocupado da mesma. Se na década de

1990, antes de 1999, a produção física cresceu e o índice de pessoal ocupa-

do decresceu, após 1999 nota-se que a produção física continuou a crescer,

mas o índice de pessoal ocupado permaneceu relativamente estável (ver

gráfico abaixo).

Isto indica que a produtividade do trabalho na indústria tem crescido com

a manutenção dos postos de trabalho, comportamento diverso da década

de 1990, quando houve forte poupança de mão-de-obra na indústria.

Grá�co 40Taxa de Desemprego (%)

Regiões Metropolitanas Brasil

2001 10

2001 12

2002 02

2002 04

2002 06

2002 08

2002 10

2002 12

2003 02

2003 04

2003 06

2003 08

2003 10

2003 12

2004 02

2004 04

2004 06

2004 08

2004 10

2004 12

2005 02

2005 04

2005 06

2005 08

2005 10

2005 12

2006 02

2006 04

2006 06

2006 08

2006 10

2006 12

8

9

1 0

1 1

1 2

1 3

1 4

83

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 84: Panorama da Indústria Brasileira

Fonte: IBGE.

O início da retomada do investimento

Pode-se enfatizar11 que após o terceiro trimestre de 2003 verificou-se uma

retomada do crescimento, com uma retomada também do investimento

desde meados de 2004, apesar dessa última ainda ser tímida. Ver gráfico

abaixo da evolução da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) no Brasil, se-

gundo as novas Contas Nacionais.

11 Ver a Nota Técnica “Cenários para o crescimento do produto potencial de 2007 a 2010”, no Boletim de Conjuntura IPEA, dezembro de 2006.

Grá�co 41Produção Física e Pessoal Ocupado

Média Móvel Semestral (janeiro de 2001 = 100)

2001 06

2001 10

2002 02

2002 06

2002 10

2003 02

2003 06

2003 10

2004 02

2004 06

2004 10

2005 02

2005 06

2005 10

2006 02

2006 06

2006 10

9 0

1 0 0

1 1 0

1 2 0

1 3 0

1 4 0

Produção Ocupado

Pessoal Física

84

Panorama da Indústria Brasileira

Page 85: Panorama da Indústria Brasileira

85

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 86: Panorama da Indústria Brasileira

Fonte: IBGE.

Nota-se, no gráfico acima, que a FBCF até o primeiro trimestre de 2004 vi-

nha oscilando em torno de um patamar de 5% acima de sua base de 1995,

mas a partir do primeiro trimestre de 2004 apresentou uma trajetória de

crescimento. Contribuíram para tanto vários fatores: os incentivos para ba-

rateamento da construção civil, o barateamento do aço (tanto para a cons-

trução quanto para máquinas e equipamentos), o menor grau de incerteza

macroeconômica, entre outros.

1.5.1 A relação entre o câmbio real e a produção da indústria

Outro movimento relevante para a indústria em período mais recente se

referiu à evolução da taxa de câmbio. De fato, essa vem se valorizando des-

de início de 2003, devido ao fluxo externo (aumento do saldo comercial e

entrada líquida de capital). Em 2005 e 2006, a taxa de câmbio real passou a

atingir patamares reais e históricos baixos, o que vem alimentando temores

Grá�co 42Formação Bruta de Capital Fixo(série encadeada, 1995=100)

1997.I

1997.III

1998.I

1998.III

1999.I

1999.III

2000.I

2000.III

2001.I

2001.III

2002.I

2002.III

2003.I

2003.III

2004.I

2004.III

2005.I

2005.III

2006.I

2006.III

1996.I

1996.III

8 0

8 5

9 0

9 5

1 0 0

1 0 5

1 1 0

1 1 5

1 2 0

1 2 5

1 3 0

86

Panorama da Indústria Brasileira

Page 87: Panorama da Indústria Brasileira

de vários segmentos quanto a seus possíveis impactos sobre a indústria brasileira. Cabe salien-

tar que um diagnóstico definitivo sobre essa questão, devidamente fundamentado em dados,

ainda é impossível, pois os microdados necessários a tal empreendimento ainda não estão

disponíveis (há uma defasagem temporal irredutível entre a pesquisa e a disponibilidade defi-

nitiva dos microdados de cerca de dois a três anos, ao passo que a valorização mais significativa

da taxa de câmbio ocorreu desde cerca de três anos atrás).

Entretanto, cabe aqui contribuir para o debate em torno da questão com os instrumentos atu-

almente disponíveis.

Tentando aprofundar a questão com dados disponíveis, procuramos calcular o coeficiente de

correlação12 entre taxa de câmbio real e produção na indústria em geral desde 1991 até 2006.

Por um lado, consideramos as taxas de câmbio defasadas de um ano em relação à produção,

pois quisemos captar o tempo que o exportador levou para encontrar um comprador externo

e firmar um contrato, além do tempo que levou para cessar uma importação, devido também a

contratos firmados pelos importadores com o exterior. Por outro lado, consideramos três moda-

lidades de taxas de câmbio: a taxa de câmbio real, utilizando como índice de preço interno o IPA

da indústria e como externo o IPA americano, nas modalidades de taxa anual de variação e no ní-

vel médio anual; e a taxa de câmbio real efetiva, no nível médio anual. Finalmente, consideramos

o crescimento anual acumulado da indústria em geral. Os resultados estão na tabela abaixo.

12 O coeficiente de correlação pode apresentar valores entre –1 e +1, sendo os valores em módulo de 1 representativos de uma correlação perfeita entre as duas variáveis consideradas (ou seja, quando uma cresce, ou decresce, a outra também cresce, ou decresce, na mesma magnitude).

Coeficientes de Correlação entre Câmbio Real e Crescimento da Produção Física da Indústria Geral 1992 – 2006

Tabela 1

* Variação percentual anual calculada a partir do câmbio real calculado, utilizando o IPA americano e o IPA-OG da indústria brasileira.** Nível anual calculado como a média aritmética mensal do câmbio real por mês como calculado acima.*** Câmbio real a partir de uma cesta de moeda dos principais destinos das exportações brasileiras.Obs: o ano de 1992 foi escolhido pelo fato dos dados do IBGE iniciarem sua série em 1991 e, assim, não podermos calcular a variação anual de produção física com 1990 ou anos anteriores.

Fontes: IPEADATA e PIM-IBGE.

Tipo de Câmbio

Coeficiente de Correlação

Câmbio Real em Nível**

0,30

Câmbio Efetivo***

0,22

Variação Percentual do Câmbio Real*

0,31

87

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 88: Panorama da Indústria Brasileira

Os dados acima mostram que existiram outros fatores importantes, na indústria brasileira, na correlação com a pro-

dução industrial que não apenas o câmbio real. Além disso, deve-se considerar que o papel exercido pelo mercado

interno brasileiro, um dos maiores do mundo, é muito importante para a indústria brasileira. Este resultado sugere que,

em nível setorial, ocorreram fatores estruturais que, ao lado do câmbio, influenciaram fortemente o desempenho das

empresas industriais. Para abordar esses aspectos, comparamos o nível de produção de todos os subsetores indus-

triais (nível de desagregação máximo oferecido para a produção física pelo IBGE) entre os dois anos extremos da série

fornecidos pelo IBGE: 1991 e 2006. Abaixo mostramos os resultados para aqueles subsetores onde houve retração da

produção física entre os anos citados.

Antes de analisarmos os dados dos subsetores acima, devemos justificar a exclusão daqueles que também apresenta-

ram retração entre 1991 e 2006, e não apresentamos na tabela anterior. O primeiro subsetor excluído foi “extração de

carvão mineral”, basicamente devido a sua reduzida expressão na indústria extrativa brasileira. O segundo foi “álcool”:

sua retração foi devida basicamente ao fim do Proálcool no final da década de 1980, quando no início da de 1990 ainda

havia uma frota expressiva de veículos automotores movidos a álcool, frota essa que só vem se recuperando nos últi-

mos anos com os automóveis bicombustíveis; além disso, a utilização recente internacional do álcool como fonte alter-

nativa de combustível ainda não alterou fortemente sua produção no Brasil, apesar de já estar havendo investimentos

Coeficientes de Correlação entre Produção Física e Modalidades de Taxa de Câmbio Defasada

Tabela 2

* Definições como na tabela anterior.

Fontes: PIM - IBGE e IPEADATA.

Beneficiamento, fiação e tecelagem de fibras têxteis naturais

Fiação e tecelagem de fibras artificiais ou sintéticas

Outros artefatos têxteis

Vestuário

Calçados

Laminados de material plástico

Embalagens de material plástico

Nível da Taxa de Câmbio Real*

0,40

0,25

0,17

0,26

0,32

-0,33

0,21

Nível da Taxa de Câmbio Efetiva*

0,54

0,15

0,08

0,28

0,26

-0,40

0,01

Variação da Taxa de Câmbio Real*Subsetor

0,35

0,25

0,15

0,59

0,37

-0,19

0,02

88

Panorama da Indústria Brasileira

Page 89: Panorama da Indústria Brasileira

nesse sentido. O terceiro setor excluído foi “produtos químicos inorgânicos”, apesar ter apresentado significativas cor-

relações com o câmbio real, devido aos seguintes motivos: por um lado, esse subsetor é fornecedor de insumos para

fertilizantes e mesmo de fertilizantes para a agricultura, que por problemas conjunturais tem nos últimos anos consu-

mido relativamente menos desses produtos (valorização do câmbio em reais, que reduziu ganhos de exportação de

commodities agrícolas); por outro lado, o subsetor fornece gases industriais, cuja expressão no faturamento da indústria

é pequeno, não justificando temores quanto ao impacto significativo de perda de elos intersetoriais; finalmente, sua

correlação forte com o câmbio é derivada da conjuntura agrícola, pouco refletindo a dinâmica industrial em si. O último

subsetor excluído foi “estruturas metálicas, obras de caldeiraria pesada, tanques e caldeiras”, pelos seguintes motivos:

é fornecedor de estruturas metálicas para a construção civil, tendo pouca expressão na mesma, pois ela é predomi-

nantemente utilizadora de concreto armado (mesmo a produção de esquadrias em geral, de ferro, aço ou alumínio,

dificilmente representa majoritariamente os custos de edificações); além disso, os demais itens são em grande parte

bens de capital industriais, cuja expressividade atual pouco se deve ao câmbio; finalmente, corroborando as considera-

89

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 90: Panorama da Indústria Brasileira

ções acima, seus coeficientes de correlação entre produção física e câmbio real, em todas

as modalidades, são baixos e negativos, sugerindo fortemente que outros fatores, além do

câmbio real, estão correlacionados a sua dinâmica produtiva.

Abordando os subsetores apresentados na Tabela 2, começaremos nossa análise pelos

plásticos. “Embalagens de material plástico” é um subsetor muito importante, pois fornece

insumos para quase toda economia, com uma intensidade que tende a aumentar forte-

mente, já que serão crescentemente substitutos de embalagens de vidro e de outros ma-

teriais naturais, devido a sua maior resistência, preço e assepsia. Entretanto, sua dinâmica

esteve preponderantemente atrelada ao mercado interno, razão pela qual os coeficientes

de correlação apresentados são negativos, o que refletiu o fato de que outros fatores (fora

o câmbio real) estavam correlacionados a sua dinâmica produtiva. Mesmo a alta interna-

cional dos preços da nafta, ocorridos recentemente, a princípio explicariam pouco sua

dinâmica (como também as dos plásticos em geral), como mostram Silveira e Marçal13. Ou

seja, o estudo mostrou que houve “um impacto de 1,7% do preço do plástico a 10% do

preço da nafta, mas de caráter apenas temporário”.

O mesmo se pode concluir para o subsetor de “laminados de material plástico”. Por um

lado, seus produtos têm sido alvo recente de significativo crescimento de importações,

o que em parte reflete o câmbio real favorável. Por outro lado, notamos que seus coefi-

cientes de correlação com todas as modalidades de câmbio real utilizadas são, apesar de

positivas, bastante reduzidas. Acreditamos, assim, que a retração detectada na produção

física entre 1991 e 2006 esteja refletindo outros problemas, de caráter mais estrutural.

13 Silveira, J. M. F. J. e Marçal, E. F. Um estudo dos efeitos de alterações do preço da nafta na formação de preços da cadeia petro-química. UNICAMP, 2007, mimeografado.

90

Panorama da Indústria Brasileira

Page 91: Panorama da Indústria Brasileira

91

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 92: Panorama da Indústria Brasileira

A cadeia petroquímica envolve três gerações e tem sido (o que se mantém ainda hoje) deficitária em seu saldo comer-

cial. A escala econômica de operação de suas plantas é bastante elevada, os investimentos são bastante custosos e a

necessidade de integração entre suas diversas gerações para tornar o retorno competitivo imperiosa14. Enquanto nas

duas primeiras gerações o setor petroquímico é mais concentrado no Brasil, no de transformados plásticos ele é bas-

tante pulverizado15, o que dificulta a coordenação da cadeia requerida, como citado anteriormente. Deve-se considerar

que apenas poucas empresas de transformados plásticos no Brasil, no final da década anterior, tinham produtividade

por empregado similar aos padrões internacionais16. Assim, parece que o mais recente aumento das importações de

plásticos se deve a essas questões estruturais de limitada capacidade interna da cadeia para suprir o crescimento in-

terno, como observa a própria ABIQUIM (Associação Brasileira da Indústria Química) no seu relatório anual17 de 2005,

independente do patamar do câmbio real.

A cadeia de “calçados” encerra duas especificidades importantes. Primeiro, boa parte de suas vendas eram contratadas

diretamente do exterior, inclusive quanto à especificação de design. Segundo, sua ênfase competitiva nos últimos anos

esteve ligada à tentativa de redução de custos, principalmente da mão-de-obra, transporte na exportação (para os EUA

principalmente) e incentivos fiscais estaduais18. A estratégia de diferenciação e inovação próprias de produto foram

menos intensivas19. O espaço no mercado internacional esteve existente a partir de duas questões: a menor qualidade

do produto chinês, de baixo custo; e o custo mais alto do calçado italiano, de alta qualidade. A partir do momento

que a qualidade do sapato chinês de couro se elevou, e os italianos passaram a produzir em parte no leste europeu

(reduzindo custos), boa parte do mercado externo foi perdido. Assim, a questão cambial brasileira não parece ser o

principal determinante do desempenho produtivo brasileiro, como mostram as baixas correlações na Tabela 2. Além

disso, houve um movimento recente de aumento de importações.

O subsetor de “vestuário” apresenta um problema semelhante ao do anterior. Por um lado, seu comércio internacional

se ressente de tarifas de importação crescentes com o valor agregado impostas pelos países desenvolvidos. Por outro

lado, esses últimos países estrategicamente buscaram uma estratégia de diferenciação e inovação nos seus produtos

através de intensificação de novos modelos segundo a moda e estações, sem buscar prioritariamente concorrer com

os produtos básicos e baratos dos asiáticos20. Ou seja: houve a formação de “redes compostas por ateliês de design,

fornecedores de fibras e outras matérias-primas, tecelagens, confecções e grandes cadeias varejistas, em que a logísti-

ca de toda cadeia foi otimizada via informatização”. Isso permitiu uma flexibilidade inédita às empresas, reduzindo, via

14 Ver Gomes, G., Dvorsak, P. e Heil, T. Indústria Petroquímica Brasileira: situação atual e perspectivas. BNDES Setorial, n. 21, março de 2005.15 Ver Estudo da Competitividade de Cadeias Integradas no Brasil: Impactos das Zonas de Livre Comércio. MDIC, 2002.16 Idem nota anterior.17 Relatório Anual 2005.18 Ver Corrêa, A. R. O Complexo Coureiro-Calçadista Brasileiro. BNDES Setorial, n. 14, setembro de 2001.19 Ver Estudo da Competitividade de Cadeias Integradas no Brasil: Impactos das Zonas de Livre Comércio. MDIC, 2002. 20 Ver Gorini, A. P. F. Panorama do Setor Têxtil no Brasil e no Mundo: Reestruturação e Perspectivas. BNDES Setorial, n.12, setembro de 2000.

92

Panorama da Indústria Brasileira

Page 93: Panorama da Indústria Brasileira

diferenciação, o impacto da concorrência asiática. No Brasil, infelizmente,

a expansão da produção de vestuário buscou muito a redução de custos

e o atendimento das classes C e D, cuja demanda se aqueceu com a redu-

ção expressiva do imposto inflacionário depois de meados de 1994. Assim,

o subsetor se ressente mais da atual valorização cambial, pois sua estraté-

gia empresarial tem sido a de redução de custos, num tecido de empresas

preponderantemente médias e pequenas pouco articuladas. A produção

asiática, no médio prazo pelo menos, é imbatível em questões de custos

e naqueles seguimentos de pouca diferenciação, ou seja, produtos de ves-

tuário básicos. Além disso, é pouco promissora a exportação para países

desenvolvidos, dada sua estrutura de proteção e elevada capacidade de

diferenciação. Enfim, explorar o mercado interno com diferenciação e forte

integração da cadeia parece ser a melhor saída para a produção nacional.

93

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 94: Panorama da Indústria Brasileira

Os subsetores “beneficiamento, fiação e tecelagem de

fibras têxteis naturais” e “fiação e tecelagem de fibras

artificiais ou sintéticas” não podem ser analisados sem

considerar o subsetor “vestuário”. Por um lado, pode-

mos notar que seus coeficientes de correlação não são

altos, indicando novamente que outros fatores, além

do câmbio real influenciam sua dinâmica produtiva.

Por outro lado, a têxtil de fibras naturais brasileira é

competitiva atualmente (depois da reestruturação da

década de 1990) no mercado internacional21. E a têx-

til de fibras artificiais e sintéticas, apesar do pequeno

espaço no mercado interno brasileiro, ressente-se mais

de integração com a cadeia petroquímica para alcançar

competitividade internacional e concorrer, pelo menos

internamente, com os produtos asiáticos (estes, extre-

mamente integrados ao longo da cadeia)22. Trata-se de

um esforço de coordenação intersetorial, buscando rá-

pida diferenciação segundo a moda e o gosto do con-

sumidor. Sob esse aspecto, não é possível imaginar um

aprimoramento produtivo sem articular todos os elos

da cadeia, desde o fornecimento de fibras até o varejo

de vestuário. Ou seja, é necessário que a diferenciação

de produtos seja tal que se “puxe” a cadeia a partir da

percepção rápida e eficiente das tendências do varejo,

que se pautam por moda e alteração das estações23.

21 Idem nota anterior.22 Ver Barbosa, M. C., Rosa, E. S., Correa, A. R., Dvorsak, P. e Gomes, G. L. O Setor de Fibras Sintéticas e Suprimento de Intermediários Petroquímicos. BNDES Setorial, n. 20, setembro de 2004.23 Ver Monteiro Filha, D. C. e Santos, A. M. M. M. Cadeia têxtil: Estruturas e Estra-tégias no Comércio Exterior. BNDES Setorial, n. 15, março de 2002.

94

Panorama da Indústria Brasileira

Page 95: Panorama da Indústria Brasileira

95

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 96: Panorama da Indústria Brasileira

Claro está que tal integração deve vir no bojo da melhoria do poder aqui-

sitivo dos consumidores, que de resto é um fator que se vale, por sua vez,

também do desempenho industrial favorável.

Pode-se dizer que os setores mais afetados se ressentem de problemas es-

truturais, independentes do câmbio real. De fato, a dinâmica das cadeias

produtivas industriais no Brasil como um todo não apresentou, entre 1999 e

2006, uma trajetória de perda de elos que destruísse seu padrão de compor-

tamento dinâmico – como mostramos neste trabalho. Entretanto, parece

haver uma falta de coordenação intersetorial24 (com ênfase nos complexos

assinalados na Tabela 2) capaz de gerar estratégias empresariais com visão

de longo prazo e não apenas de uma adaptação conjuntural a oportunida-

des de curto fôlego.

1.5.2 A evolução recente do IDE (Investimento Direto Externo)

A partir de 2001, os fluxos globais de IDE desaceleraram acentuadamente,

com o volume de investimentos realizados caindo pela metade e as opera-

ções de fusões e aquisições declinando para um terço dos valores verifica-

dos em 2000. Apesar desse cenário, os investimentos diretos destinados aos

países em desenvolvimento caíram menos do que para os países desenvol-

vidos, influenciados pela China, Índia e pelas economias do Leste Europeu

que apresentaram uma performance mais estável na absorção de IDE.

Os investimentos diretos recebidos pelo Brasil entre 2001 – 2003 experi-

mentaram quedas sucessivas, com volumes de US$ 21 bilhões, US$ 18,7

bilhões e US$ 12,9 bilhões, respectivamente. Essa tendência de queda só

foi revertida a partir de 2004 com a recuperação dos planos de expansão

das corporações transnacionais dos principais países desenvolvidos, vindo

24 Ver Prochnik, V. Cooperação entre empresas como impulsora da inovatividade: proposta para as empresas nacionais. In: Castro, A. B., Possas, M. L. e Proença, A. Estratégias Empresariais na Indústria Brasileira: discutindo mudanças. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1996. Ver também Bahia, L. D., Furtado, P. e Souza, N. R. Impac-tos do Crescimento dos Complexos Industriais Brasileiros sobre o Emprego e o Saldo Comercial – 1985-1996. PPE, v. 34, n.2, ago 2004.

96

Panorama da Indústria Brasileira

Page 97: Panorama da Indústria Brasileira

o Brasil a receber em investimentos diretos mais de US$ 20 bilhões tanto em

2004 quanto em 2005. Tal comportamento do IDE refletiu num nível mais

geral, não apenas o quadro global desfavorável, mas o fim do ciclo de pri-

vatizações e o baixo crescimento econômico do país relativamente a outras

economias em desenvolvimento.

Outras variáveis também influenciaram o volume e a composição dos in-

gressos de IDE na economia brasileira, como a crise argentina que gerou

incertezas quanto ao futuro do Mercosul, as incertezas políticas com rela-

ção às eleições brasileiras, a instabilidade do câmbio associado aos juros

altos e a indefinição do quadro regulatório para o setor elétrico. Devem-se

acrescentar ainda, do ponto de vista microeconômico, as mudanças nas

estratégias das corporações transnacionais de acessar o mercado brasileiro

nos setores automotivo, de alimentos e bebidas, e nos serviços.

A evolução dos fluxos de IDE na economia brasileira pós-2000 apresentou,

portanto, mudanças importantes em relação ao período anterior. Observa-

se que quanto à modalidade de entrada no mercado brasileiro, as fusões e

aquisições tiveram uma participação média de 1/3, enquanto que no perí-

odo prévio tais operações chegaram a atingir como proporção do IDE na

casa dos 62%, em termos de valor. No que se refere à contribuição do IDE

97

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 98: Panorama da Indústria Brasileira

para a FBCF na economia brasileira, esta registrou no período 2001 – 2005 uma taxa média

menor: de 15,6%, frente a 21,7% do período 1997 – 2000.

A contribuição do IDE para o financiamento das transações correntes do balanço de paga-

mentos foi fundamental não apenas na década de 90, como no início do período recen-

te. Entre 2001 e 2002 o IDE cobriu grande parte do déficit em conta corrente e, mesmo

com os grandes superávits comerciais a partir de 2003, o IDE foi elemento central para o

equilíbrio das contas externas. No período 2003 – 2006 o investimento direto teve uma

participação de 25% a 58% no total do financiamento externo da economia brasileira,

aportando, em termos líquidos, US$ 10,1 bilhões e US$ 18,8 bilhões, respectivamente.

Grá�co 43IDE, Transações Correntes e Necesidade de Financiamento Externo

(US$ bilhões)

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

2,8 0,3 -8,2 -0,6 -0,3 14 12,7 11,5 4,5 -3,3 -8,6 0,7 -9 -14,3 -29,8 -29,3 -32,3-24,2 -23,2 -7,6 4,2 11,7 14,2 13,5

0,0 10,0 20,0 30,0

-40,0 -30,0 -20,0 -10,0

40,0

IDE liq T . Correntes NFE

IDE liq 1,0 1,1 2,1 1,3 2,1 4,4 10,8 19 28,9 28,6 32,8 22,5 16,6 10,1 18,1 15,1 18,8 T . Correntes

NFE

-3,8 -1,4 6,1 -0,7 -1,8 -18,4 -23,5 -30,5 -33,4 -25,3

98

Panorama da Indústria Brasileira

Page 99: Panorama da Indústria Brasileira

99

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 100: Panorama da Indústria Brasileira

Os empréstimos intercompanhias – que se referem efetivamente a investimentos

estrangeiros que optam pela versão “dívida” em detrimento da versão “investimento

em moeda” –, foram relativamente baixos nos anos 90, elevando-se a partir de 1999.

Entre 2000 – 2002 apresentaram variações, porém registrando montantes elevados25

(gráfico 43). Dado que esses capitais se movem frente às necessidades de suprimento

de liquidez das empresas afetadas por crises ou pela arbitragem com o diferencial de

taxas de juros, as oscilações registradas denotam um comportamento de antecipação

e fuga frente aos períodos de maiores instabilidades que acometeram a economia

brasileira naqueles anos. Os empréstimos caíram em 2003 e 2004 em relação a 2000 e

voltaram a se elevar significantemente em 2005 e 2006. Nesses dois últimos anos, essa

elevação refletiu a combinação de vários fatores, como: a forte liquidez nos mercados

financeiros internacionais, a incerteza quanto à evolução futura da taxa de câmbio e as

altas taxas de juros domésticas.

Quanto aos ingressos do IDE, através da forma “participação no capital”, estes predomi-

naram em relação aos empréstimos intercompanhias, tanto entre 1994 – 2000 como

entre 2001 – 2006, registrando naquele primeiro período uma participação de 93%,

com os investimentos em moeda e mercadorias correspondendo a 68% do total. No

segundo período, essa participação diminuiu para 72%, e a opção investimento em

moeda representou 69% e de mercadoria, menos de 1%. Vale notar que o investimen-

to em moeda é a forma mais importante de inversão, na medida em que reflete um

aporte efetivo de recursos para projetos de investimentos nas subsidiárias. Por isso

mesmo trata-se de um tipo de investimento sensível às incertezas com relação ao

crescimento econômico e às tensões inflacionárias, o que pode estimular ou neutra-

lizar os planos de médio e longo prazo das corporações transnacionais atuantes em

setores com baixa taxa de retorno dos lucros operacionais.

Outro aspecto importante nos ingressos de IDE absorvido pelo Brasil entre 2001 – 2006

é que o investimento direto externo na modalidade “conversões” aumentou no perío-

do 2000 – 2002 em mais de sete vezes. Esse é um dado importante, pois as conversões

se referem à transformação de obrigações externas em IDE cuja contratação da dívida

25 Em 2001, o Brasil adotou a metodologia contida na 5ª edição do “Manual de Balanço de Pagamentos do FMI” com relação ao IDE e passou a incluir os empréstimos intercompanhias no IDE, que anteriormente estavam classificados como empréstimos. Ao se comparar séries longas de IDE não há problemas nos dados porque o Bacen recalculou as séries fundamentais com base na nova metodologia.

100

Panorama da Indústria Brasileira

Page 101: Panorama da Indústria Brasileira

101

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

45.000

40.000

35.000

30.000

25.000

20.000

15.000

10.000

5.000

01990 1991 19931992 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Grá�co 44Participação no Capital e Empréstimos

(U$ em milhões correntes)

Empréstimos Interciais Participação no Capital

Page 102: Panorama da Indústria Brasileira

ocorre em momentos de instabilidades. As corporações transnacionais que investem sob a forma de empréstimos

podem liquidar seu passivo (ou parte dele) através das conversões. Em 2002, estas atingiram US$ 8,5 bilhões (45%) e

foram utilizadas pelas empresas estrangeiras instaladas no país como precaução contra uma possível moratória de dí-

vida externa em função da mudança política. No período pós-2002 as conversões representaram pelo menos 20% dos

ingressos em participação no capital. Segundo o Bacen, o crescimento desse tipo de transação em relação aos anos

90 também refletiu o maior endividamento do setor privado ocorrido naquele ano cujos vencimentos potencializam a

conversão desses débitos em investimentos. Já em 2006 as conversões caíram significantemente.

No biênio 2002 – 2003, as conversões representaram 40% dos ingressos sob a forma de participação no capital; em

2004 representaram 22,2% (US$ 4,6 bilhões), e em 2005 ficaram em mais de 25% (US$ 5,6 bilhões), nível acima do pe-

ríodo 1990 – 2001. Em 2006, as conversões tiveram uma queda significativa com uma participação de menos de 10%.

Tais operações devem-se ressaltar, não significaram novos investimentos, mas sim uma reestruturação patrimonial

associada às dificuldades das empresas em rolar suas obrigações.

Quanto à distribuição setorial, os ingressos de IDE no período recente, foram mais favoráveis à indústria, ainda que em

termos de participação tenha predominado o setor de serviços na maioria dos anos analisados. Veja-se que tanto a

indústria de transformação quanto o setor primário passaram a receber maiores montantes de IDE, em relação ao perí-

odo 1996 – 2000. Os serviços que absorveram em média 4/5 dos fluxos de IDE durante a segunda metade dos anos 90

contra 18% da indústria tiveram uma participação de 55% entre 2001 – 2006. O setor primário também melhorou sua

performance saindo de uma participação de 2% para 7% entre esses dois períodos.

Dentro da indústria os principais setores de destino do IDE, no período recente, foram fabricação de produtos alimen-

tícios, veículos automotores, produtos químicos, metalurgia básica, material eletrônico e equipamentos de comunica-

ção; os quais somaram uma participação de 26% do total de IDE recebido pelo país, representando 3/4 da indústria de

transformação. Esse quadro diferencia-se do período anterior quando se observa que entre 1996 – 2000 os seis maiores

absorvedores de IDE não chegaram a contabilizar 15% de participação no período.

Nos serviços, a lista dos setores mais atrativos como destino do IDE em 2001 – 2005 foram telecomunicações, comér-

cio, intermediação financeira, eletricidade, gás, água e serviços prestados às empresas cuja participação conjunta foi

de 44,5% no total de IDE do período. Apesar de que esses setores venham recebendo volumes menores de IDE, em

relação aos anos 90, os mesmos têm se mantido na liderança dos investimentos externos no período recente.

O setor primário apresentou um crescimento expressivo, com as atividades de extração de petróleo e serviços relacio-

nados e extração de minerais metálicos absorvendo 83% do total do IDE destinado ao setor, tanto no período recente

quanto na década passada.

102

Panorama da Indústria Brasileira

Page 103: Panorama da Indústria Brasileira

Grá�co 45Distribuição Setorial do IDE, estoque 1995, Fluxos 1996-2000 e 2001-2006

Agricultura,pesca,pecuária eextração mineral

Serviços

Indústria

Estoque, 1995 Fluxos 1996-2000

Fluxos 2001-2006

Fonte: Banco Central do Brasil/Censo de Capitais Estrangeiros e Notas para a Imprensa. Setor Externo.

55%

7%

38%

80%

2% 18%

55%

2%

43%

103

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

18,0

16,0

14,0

12,0

10,0

12,0

8,0

6,0

4,0

2,0

0,0

Grá�co 46Brasil: Principais Setores de Atração de IDE, 2001-2006 (% no total)

Agricultura,pec.

e servs. relac.

Extr.mineraismatálicos

Mat.eletrônico eequips. decomum.

Metalurgiabásica

Extr.petróleoe servs.

relacionados

Serv.prest. a

empresas

Fabr. emont.

veículosautomotores

Prods.químicos

Eletric.,gás e água

Interm.�nanceira

Comércio Prods.aliment.

e bebidas

Telecomunicações

Fonte: Bacen: séries históricas e Notas para a Imprensa. Setor Externo.

Page 104: Panorama da Indústria Brasileira

Abaixo apresentamos as estratégias dominantes de IDE na economia brasileira, no pe-

ríodo 2001 – 2006.

Participação no total deIDE recebido (2001-06)

10,3%

46,6%

18,21%

8,71%

Classificação dos setores de atração de IDE segundo as estratégias das filiais estrangeiras

Tabela 03

Tipo de Estratégia*

Resource Seeking

MarketSeeking (1)

Market Seeking(2)

MarketSeeking (3)

* Ver DUNNING, J. (1993) Multinational enterprise and the global economy. Workingham: Addiison-Wesley, 1993 e Alliance capitalism and global corporation. London: Routledge, 1997. Ver ainda LAPLANE, M. & SARTI, F. (2003) “O investimento direto estrangeiro e a internacionalização da economia brasileira nos anos 90”. In LAPLANE & SARTI (orgs.) Internacionalização e Desenvolvimento da Indústria no Brasil, 2003. Campinas: Unesp, 2003.

Fonte: Bacen: Notas para Impresnsa. Setor Externo.

Grau de IntegraçãoComercial da Filial

Alto

Não comercializáveis

Moderado

Baixo

Participação no total deIDE recebido (2001-06)

Alto pelo lado das exportações

Baixo

Alto pelo lado das exportações

Alto pelo lado das importações (exportações relevantes para o Mercosul)

Setores que mais atraíram DE (2001-2006)

• Extração de minerais metálicos• Extração de petróleo e serviços relacionados• Agricultura, pecuária• Papel e celulose e produtos de papel

• Telecomunicações• Comércio• Eletricidade, gás e água.• Intermediação financeira• Serviços prestados a empresas• Atividades imobiliárias

• Produtos alimentícios e bebidas• Setor automotivo• Metalurgia básica

• Produtos químicos• Mat. eletrônico e equip. comunicação

104

Panorama da Indústria Brasileira

Page 105: Panorama da Indústria Brasileira

Historicamente a maioria do IDE atraído pelo Brasil está associado às estratégias cor-

porativas tipo market seeking, influenciadas pelo tamanho e potencial de crescimento

do mercado brasileiro, e em menor extensão, às estratégias resource seeking. Os investi-

mentos cujas motivações são tipo efficiency-seeking, com foco em terceiros mercados,

não têm sido expressivos no Brasil. No entanto, com o menor crescimento do mercado

doméstico, uma parte da produção das empresas transnacionais tem se destinado às

exportações, combinando as estratégias de market seeking com efficienncy seeking.

No que se refere aos países de origem do IDE, também se observa mudanças impor-

tantes em relação ao comportamento de períodos anteriores. Dos mais proeminentes

investidores no Brasil – Estados Unidos, Alemanha, França, Suíça, Japão e Reino Unido

– apenas Estados Unidos e França continuam com presenças fortes no país, enquanto

que a Holanda26, que já tinha uma presença significante na economia brasileira, e a

Espanha e Portugal foram os mais ativos investidores no período recente (gráfico 47).

Os paraísos fiscais como origem dos investimentos, representaram 15% do influxo do

período 2001 – 2006, destacando-se os períodos de 2002 – 2003 quando essas fontes

responderam, respectivamente por 27,3% e 28,4% e do total de IDE dirigido ao país.

26 A Holanda aumentou muito sua participação nos investimentos diretos destinados ao Brasil o que pode ser devido a uma superestimação de seus reais investimentos. Oficialmente este país não é um paraíso fiscal, mas serve de origem para o investimento direto de vários outros países devido a sua legislação tributária muito atraente para as empresas transnacionais, fazendo com que os investimentos dessas empresas transitem pela Holanda. O mesmo raciocínio deve ser aplicado aos inves-timentos originados em Luxemburgo.

105

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

40

30

20

10

0

Estados Unidos Países Baixos Espanha França Alemanha Canada Japão Outros

Grá�co 47Países de Origem do IDE

Fonte: Bacen: Censo de Capitais Estrangeiros e Notas para a Imprensa. Setor Externo.

Page 106: Panorama da Indústria Brasileira

1.5.3 Diversificação de mercados de destino das exportações

Comparando-se o desempenho das exportações entre 1999 e 2006, verifica-se o au-

mento das exportações para todas as regiões, mas em proporções nitidamente distin-

tas. A diversificação dos destinos das exportações ocorreu como resultado do cresci-

mento da demanda de mercados emergentes, com destaque para a China. Assim, a

participação de destinos tradicionais das exportações brasileiras, como União Européia

e Estados Unidos, foi reduzida. Considerando-se a média dos valores exportados nos

biênios 1999 – 2000 e 2005 – 2006, as exportações para a União Européia reduziram

sua participação no total exportado de 27,7% para 22,2%. Por outro lado, verificou-se

um crescimento das participações da Europa Oriental, África, Oriente Médio e Ásia.

Em 1999, a China comprou 1,41% do valor total exportado pelo Brasil e constava como

o 15º destino das exportações brasileiras. Em 2005 já era o 3º principal destino e res-

pondia pela compra de 5,78% do valor exportado pelo Brasil. O crescimento da par-

ticipação continuou em 2006, atingindo 6,11% do valor total exportado. Em valores

corrigidos para 2006, isto significou um crescimento de US$ 888 milhões para US$ 7,1

bilhões em 2005 e US$ 8,4 bilhões em 2006. Já os Estados Unidos, principal importa-

dor dos produtos brasileiros, elevaram as suas compras do Brasil de US$ 14 bilhões

em 1999 para US$ 24,4 bilhões em 2006, mas a participação no total foi reduzida de

22,23% para 17,77% no período.

De um crescimento real das exportações anuais de US$ 74,4 bilhões entre 1999 e 2006,

23,5% (US$ 17,5 bilhões) foram devidos aos países da Aladi, 17,8% (US$ 13,3 bilhões)

aos países da Ásia (exclusive Oriente Médio), 16,6% (US$ 12,3 bilhões) aos países da

União Européia e 14,0% (US$ 10,4 bilhões) aos Estados Unidos.

Entre 1999 e 2006 os crescimentos das exportações por grupos de países e princi-

pais países foram: Ásia (176,2%, sendo que as vendas destinadas à China cresceram

845,8%); Oriente Médio (192,3%); Mercosul (56,7%, sendo que as exportações para a

Argentina registraram crescimento de 66,3%); África (324,3%); Estados Unidos (73,2%);

Europa Oriental (191,3%); e Aladi, exclusive Mercosul (250,9%).

O gráfico 51 permite visualizar as mudanças das participações dos principais mercados

de destino das exportações brasileiras.

106

Panorama da Indústria Brasileira

Page 107: Panorama da Indústria Brasileira

Gráfico 51 Participações dos principais mercados de destino das exportações brasileiras, 1999 a 2006, em %

Fonte: SECEX. Valores corrigidos pelo IPA EUA, base 2006.

107

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Média 1999/2000

União Européia - Ue 27,7%

Estados Unidos (Inclusive Porto Rico) 23,5%

Associação Latino Americanade Integração - Aladi22,7%

Oriente Médio)Ásia (Exclusive

11,7%

Oriente Médio2,8%

África2,6%

Europa Oriental2,1%

Provisão de Navios eAeronaves

1,6%

Outros5,4%

Média 2005/2006

União Européia - UE22,2% Estados Unidos

(Inclusive Porto Rico) 18,5%

Associação Latino Americana de Integração - Aladi 22,2%

Ásia (ExclusiveOriente Médio)

15,4%

Oriente Médio3,9%

África5,2%

Europa Oriental3,3%

Provisão de Navios eAeronaves

1,8%

Outros7,4%

Page 108: Panorama da Indústria Brasileira

O desempenho bastante favorável das exportações neste período recen-

te não garante a continuidade do crescimento das exportações no futu-

ro. Considerando um possível cenário de arrefecimento da expansão das

exportações via aumento de preços, quais seriam as alternativas para a

manutenção do crescimento das exportações brasileiras? Apostar na con-

tinuidade de uma demanda mundial aquecida pode mostrar-se uma deci-

são arriscada. Seria preciso romper algumas amarras da economia para que

esse fluxo de produtos para o exterior continuasse crescendo e ajudando a

produção doméstica a ganhar escala e competitividade.

Nesse contexto, é necessário analisar o comportamento das empresas ex-

portadoras de modo a melhor compreender as restrições e possibilidades

de mudanças que poderiam contribuir para o crescimento das exporta-

ções. Aumentar as exportações de empresas que já exportam e viabilizar

a entrada de firmas com perfil produtivo semelhante, mas que ainda não

exportam, parece um caminho claro.

108

Panorama da Indústria Brasileira

Page 109: Panorama da Indústria Brasileira

109

O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006

Page 110: Panorama da Indústria Brasileira

110

Page 111: Panorama da Indústria Brasileira

CAPíTulo 2

As opções fundamentais

para o crescimento e

o desenvolvimento111

Page 112: Panorama da Indústria Brasileira

2.1 Introdução

Se a política fiscal cumpre um papel relevante para viabilizar o crescimento a taxas mais

altas, deve-se considerar que a inovação e diferenciação de produtos cumprem também

um papel importante para o crescimento das empresas, do emprego e da melhora da in-

serção externa brasileira. Em outras palavras, a opção estratégica de fomentar e viabilizar

a inovação nas empresas da indústria brasileira é eixo fundamental e indispensável para

o desenvolvimento econômico no Brasil.

Nesse sentido, passamos a tratar (nessa ordem) de alguns dos impactos na indústria

brasileira das inovações, sob os aspectos, primeiro: da inserção externa e, segundo: no

crescimento das empresas e da valorização do trabalhador.

2.1 Inserção externa

No mundo globalizado de hoje, a internacionalização das empresas se torna essencial

para um maior desenvolvimento econômico. Para que as empresas industriais alcancem

uma maior competitividade é necessário, principalmente, que sejam inovadoras. Nesse

sentido, analisaremos o papel da inovação, internacionalização, e da exportação no de-

sempenho das empresas brasileiras.

Inovação/diferenciação de produtos e a inserção externa das empre-

sas brasileiras

Nos últimos anos, a participação dos produtos de alta tecnologia no comércio interna-

cional tem crescido com taxas três vezes maiores que dos produtos primá-

rios. Entretanto, na pauta de exportação brasileira, o valor das commodities é

o maior, e vem aumentando a maiores taxas desde 2002. O segundo grupo

de importância na pauta é o de produtos de média intensidade tecnológi-

ca, que ocupam também a segunda taxa de crescimento de valor desde

2002.

Dado este perfil, é possível afirmar que o Brasil hoje enfrenta uma situação

enfrentada pela Coréia do Sul em 1990: concorrência via custos de produ-

tos intensivos em mão-de-obra e recursos naturais (geralmente originados

112

Panorama da Indústria Brasileira

Page 113: Panorama da Indústria Brasileira

dos chamados “emergentes”) e concorrência de produtos de alta tecnologia

(geralmente originados dos países mais avançados) – trata-se do chamado

“quebra-nozes competitivo”. A solução para este impasse não é aprofundar

uma especialização brasileira apenas em produtos intensivos em recursos

naturais e/ou mão-de-obra. A solução está em fazer, como a Coréia do Sul

fez de forma bem sucedida, um esforço de aprimoramento tecnológico e

inovador capaz de viabilizar uma inserção externa coerente com um qua-

dro de justiça social.

O papel da internacionalização das empresas

Podemos observar que, para as empresas brasileiras que se internacionali-

zam (abrem filiais no exterior), há um círculo virtuoso entre inovação e o ato

de se internacionalizar, ou seja: sua inovação de produto e/ou processo lhe

113

As opções fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento

Page 114: Panorama da Indústria Brasileira

114

Panorama da Indústria Brasileira

Page 115: Panorama da Indústria Brasileira

115

As opções fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento

Page 116: Panorama da Indústria Brasileira

possibilita qualidade para se internacionalizar e uma vez efetivada, possibi-

lita-lhe um aprendizado com os clientes externos e uma janela tecnológica

que incrementam seu potencial para mais inovações e diferenciação. Assim,

estas firmas conseguem preço-prêmio em suas exportações e aumentam

suas chances de exportar para mercados mais exigentes.

Assim, as empresas brasileiras com filiais no exterior geram mais exporta-

ções que suas congêneres exportadoras. Além disso, acabam gerando mais

postos de trabalho, com melhores salários e menor rotatividade. Este último

aspecto se deve ao fato delas investirem mais em treinamento em relação

a seu faturamento. E também ao fato de seu maior investimento relativo (já

que se inclui o investimento no exterior) gerar maior capacidade produtiva

e, considerando tudo o mais constante, mais postos de trabalho.

Os determinantes da internacionalização são basicamente a maior capa-

cidade (medida pelo grau de instrução médio e a baixa rotatividade) para

inovar, o investimento em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), a eficiência

produtiva e a escala de produção.

É importante notar que a internacionalização das empresas brasileiras não

desvia comércio, no sentido de perda de exportações. Pelo contrário, a in-

116

Panorama da Indústria Brasileira

Page 117: Panorama da Indústria Brasileira

ternacionalização faz estas empresas exportarem mais, devido aos ganhos

dinâmicos do círculo virtuoso descrito acima.

A importância de tornar as empresas exportadoras

Aumentar a base exportadora (número de empresas que exportam) da

economia brasileira é extremamente relevante. Isto porque exportar é um

teste de competitividade, um aprendizado que leva a firma a se aprimorar

produtivamente, com reflexos evidentes sobre o conjunto do mercado de

trabalho, da difusão de tecnologia e inovações, e a geração de renda.

De fato, as firmas fortemente exportadoras apresentam em média uma produ-

tividade cinco vezes maior que as voltadas para o mercado interno. A relação

capital/produto das primeiras é em média quase quatro vezes maior que das

segundas, o que torna aquelas capazes de gerar valor agregado médio 50 ve-

zes maior que as voltadas para o mercado interno. Quanto mais voltadas para

o mercado externo, maior a escolaridade média dos trabalhadores das empre-

sas, maior o tempo médio de empresa do funcionário mais antigo. Além disso,

as firmas fortemente exportadoras pagam em média quatro vezes mais de

salário a seus empregados que as firmas voltadas para o mercado interno.

117

As opções fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento

Page 118: Panorama da Indústria Brasileira

Além disso, aumentando a base exportadora tende-se

a diversificar os clientes comerciais do Brasil, pois as fir-

mas fortemente exportadoras geralmente trabalham

com mais de seis destinos de seus produtos, enquanto

as apenas exportadoras trabalham na maioria com até

cinco destinos.

A inovação da empresa estimula o aumento das exportações

Nota-se que há custos fixos iniciais para uma empre-

sa não-exportadora se tornar exportadora. Assim, uma

empresa só se torna exportadora se perceber que a

mudança no lucro esperado de exportação é suficiente

para cobrir os custos fixos citados. Entretanto, uma vez a

empresa tendo entrado no comércio internacional, ela

tende a permanecer exportando, com relativa insensi-

bilidade a situações macroeconômicas aparentemente

adversas (como, por exemplo, câmbio real valorizado).

Isso acontece porque aqueles custos fixos de entrada

no mercado internacional apresentam rápida depre-

ciação. Logo, se deixar de exportar, mesmo voltando a

exportar em seguida a empresa terá que incorrer em

todos aqueles custos fixos novamente.

Além disso, há ganhos e aprendizado de eficiência e

produtividade no comércio internacional. Assim, uma

vez exportadora, a empresa tende a permanecer ex-

portadora e a ser mais eficiente, inclusive no mercado

de origem.

Outra evidência de suma importância é a de que fir-

mas inovadoras (de produto e/ou processo) apresen-

tam maior chance de serem exportadoras, e mais: têm

maior probabilidade de permanecerem exportadoras

(dado qualquer choque macroeconômico adverso),

pois incrementam sua atividade inovadora a partir do

aprendizado no mercado externo. Ou seja, a questão

de custos não é a única e, talvez, nem a mais relevante

para a competitividade das empresas.

A exportação induz o investimento e o cresci-mento

A matriz produtiva da indústria brasileira apresenta re-

tornos crescentes de escala, o que permite dizer que

no Brasil a economia de escala das empresas estimula o

crescimento da produtividade e a taxa de crescimento

do produto. Isto porque o crescimento industrial via-

biliza o aprimoramento de know-how e as chances de

especialização, diferenciação e a troca de experiências

produtivas. Assim, pode-se afirmar que as firmas expor-

tadoras brasileiras apresentam maior eficiência de esca-

la que as não-exportadoras.

118

Panorama da Indústria Brasileira

Page 119: Panorama da Indústria Brasileira

Além disso, podemos dizer que os retornos de escala são maiores quanto maior for a escala para as empresas indus-

triais como um todo – sendo estes retornos ainda maiores para as exportadoras que inovam –, exportam com preço-

prêmio e diferenciam produto.

Finalmente, cabe assinalar que as firmas exportadoras, por terem parte de sua demanda efetiva situada no exterior,

em ambiente de maior estabilidade macroeconômica, têm maior propensão a investir que as não-exportadoras. O

que permite afirmar que, pelas exportações serem um importante componente da demanda efetiva, podem facilitar o

Brasil a entrar num círculo virtuoso de crescimento.

119

As opções fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento

Page 120: Panorama da Indústria Brasileira

Conclusão sobre inserção externa

Nota-se, a partir de meados dos anos 1990, que o aumento do crescimento interno não mais

induzia um arrefecimento do ímpeto exportador – o que culmina, em 2004, num ano de

forte crescimento do PIB e forte crescimento das exportações.

Este resultado se deve ao fato do Brasil possuir um mercado interno suficientemente grande

para ganhos de escala na produção e, também, aumentar a competitividade das empresas

através da inovação. Além disso, a abertura econômica possibilitou ganhos com importação

de insumos e bens de capital de alta qualidade.

O resultado é que o Brasil não se especializou em setores onde detém maior abundância

de fatores (recursos naturais e mão-de-obra). Uma demonstração disso é o papel central

do complexo metal-mecânica na trajetória setorial de crescimento do período 1999 – 2006,

analisado anteriormente.

2.3 O papel da inovação na competitividade e na valorização do trabalhador

Os esforços feitos na década de 1990, com a abertura comercial, de diminuição dos recursos

necessários para o mesmo nível de retorno levariam à inevitável inserção de grande parte

das empresas industriais brasileiras preponderantemente em mercados cuja competição se

estabelece por meio dos preços, em detrimento daqueles em que a diferenciação de produ-

to exerce a principal influência competitiva. Porém, são nesses mercados que as inovações

tecnológicas geram às empresas que as implementam um relativo poder de mercado que,

mesmo que temporário, permitem que elas obtenham um maior retorno pelo capital inves-

tido e maior proteção a seus trabalhadores contra as recorrentes oscilações de preços dos

produtos padronizados.

Em outras palavras, se a inovação tecnológica desempenha um papel central na trajetória de

desenvolvimento econômico, o crescimento concomitante da produtividade e do emprego

industrial passa pela inserção competitiva nesses mercados. Esta, por sua vez, só se dá por

meio da intensificação de esforços inovativos, como investimentos em pesquisa e desenvol-

vimento (P&D), por parte das empresas nacionais.

120

Panorama da Indústria Brasileira

Page 121: Panorama da Indústria Brasileira

Por que inovar é importante para a competitividade das empresas?

Buscar, como estratégia para a indústria, a racionalização de custos apenas, mesmo que com

um aprimoramento da interação sistêmica das empresas e setores, perde a oportunidade de

migração para estratégias empresariais muito mais dinâmicas e promissoras a longo prazo.

De fato, a estratégia de racionalização de custos apenas alcança uma inserção competitiva

de aumento de capacidade por meio de emprego de bens de capital semelhantes ao já

utilizados e diminuição marginal de custos e/ou melhoria da qualidade.

Empresas que buscam a inovação apenas em processo apresentam estratégia um pouco

mais dinâmica que as anteriores, ou seja, de liderança de custos. Sua inserção competitiva

se dá através da ampliação da capacidade produtiva com saltos de eficiência, significativa

diminuição de custos e/ou aumento da qualidade.

As firmas que apenas inovam em produto buscam basicamente reposicionamento no mer-

cado, com inserção competitiva baseada na diferenciação de produto e/ou diversificação

para novo mercado com a mesma base técnica disponível.

Finalmente, as empresas que inovam em produto e processo, buscam vantagens competi-

tivas mais dinâmicas que todas as categorias anteriores, com diferenciação de produto e/ou

diversificação para novo mercado via saltos na eficiência técnica (custos e/ou qualidade)27.

Nota-se que as empresas que se encaixam na última categoria acima conseguem uma in-

serção muito mais promissora a médio e longo prazos. Mesmo que as empresas de um país

se envolvam em especialização advinda de suas vantagens comparativas, isto não exclui a

necessidade de aprofundamento inovativo, que as autoriza a auferir taxas de crescimento

muito maiores, taxas de lucro mais significativas e capacidade muito mais genuína de com-

petir num mundo globalizado, ou seja, estas empresas se autorizam a responder à compe-

tição internacional (que é inevitável) de forma virtuosa (via crescimento), e não de forma

regressiva (via uma especialização de conseqüências duvidosas).

Assim, a estratégia de aprofundar a inovação tecnológica e a diferenciação de produtos é

uma alternativa importante àquele “quebra-nozes competitivo” citado anteriormente. Há

27 Ver Prochnik, V. e Araújo, R. D. Uma análise do baixo grau de inovação na indústria brasileira a partir do estudo das firmas menos inovadoras. In: De Negri, J. A. e Salerno, M. Inovações, Padrões Tecnológicos e Desempenho das Firmas Industriais Brasileiras. Brasília: IPEA, 2005.

121

As opções fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento

Page 122: Panorama da Indústria Brasileira

122

Panorama da Indústria Brasileira

Page 123: Panorama da Indústria Brasileira

123

As opções fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento

Page 124: Panorama da Indústria Brasileira

evidências de que o aprimoramento tecnológico, além disso, induz o investimento na indús-

tria – ou seja, empresas mais aprimoradas e mais inovadoras conseguem inserir no mercado

(tanto interno quanto externo) produtos novos que, por sua natureza, tendem a encontrar

uma demanda mais favorável, o que estimula o retorno esperado dos investimentos em

geral.

Inovação e mercado de trabalho: algumas evidências

Observa-se nos últimos anos certa modificação na tendência que predominou na segunda

metade dos anos 1990, de poupança de mão-de-obra. A partir de 2000 o emprego industrial

voltou a crescer, evidenciando tanto o esgotamento do processo de reestruturação produ-

tiva via redução do pessoal ocupado quanto – e talvez mais importante – o crescimento

refletido pelo boom exportador que se seguiu à desvalorização cambial, especialmente nos

últimos três anos, e que favoreceu o crescimento da produção e do emprego no setor.

Tanto o comércio exterior quanto a inovação tecnológica exercem influências diretas e in-

diretas, não apenas sobre o volume, mas inclusive sobre a qualidade do emprego. Assim,

apesar de na primeira metade da década de 1990 o nível de emprego ter sido bastante afe-

tado pela instabilidade política e macroeconômica, pode-se dizer que o grau mais elevado

de internacionalização da economia brasileira se constituiu uma das principais causas para

as transformações no mercado de trabalho no período recente.

Os ganhos de produtividade da década de 1990 de fato contribuíram para o aumento de efi-

ciência do setor produtivo doméstico, fazendo com que o país demonstre uma capacidade

de inserção internacional não apenas em setores tradicionais, mas também naqueles inten-

sivos em escala e tecnologia. Com isso, permite-se a geração de emprego em segmentos

de mercado tradicionalmente dominados pelos países desenvolvidos, tornando a estrutura

produtiva resultante desse processo, mais internacionalizada, promissora em termos de ou-

tras fontes de dinamismo e de crescimento do emprego.

Justamente, as exportações aparecem no período recente como uma dessas fontes. Uma

significativa parcela das empresas brasileiras – responsável por uma fatia nada desprezível

do emprego na economia do país – tem logrado se inserir no mercado internacional. De

fato, 10% dos trabalhadores brasileiros estão ocupados nas empresas que exportaram inin-

terruptamente entre 2000 e 2004. Levando-se em consideração também as empresas que

124

Panorama da Indústria Brasileira

Page 125: Panorama da Indústria Brasileira

entraram e saíram do mercado externo, nesse período, as exportadoras empregam cerca de

entre 10% e 15% dos trabalhadores do país.

Contrariando a expectativa de um efeito negativo em termos de emprego como resultado

desses aumentos de produtividade, as empresas que começaram a exportar fizeram mais

contratações do que as que ficaram confinadas ao mercado doméstico. Evidentemente

também o crescimento das vendas, derivado da conquista de novos mercados, em uma

conjuntura de crescimento do comércio internacional, pode explicar por que essas firmas

cresceram mais do que as que nunca exportaram. As firmas que estrearam nas exportações

nesse período e que continuaram exportando tiveram aumentos de mais de 50% nas suas

vendas nos dois primeiros anos posteriores à expansão de suas fronteiras. O emprego, por

sua vez, cresceu mais de 20% em cada um dos dois anos seguintes. Como as receitas cresce-

ram mais do que o emprego, isso explicaria por que essas empresas ganharam produtividade

ao mesmo tempo em que contrataram mais trabalhadores. Entretanto, constata-se também

a ocorrência da destruição de postos de trabalho quando a firma não é bem-sucedida nas

exportações. As firmas que saíram do mercado internacional demitiram, no ano seguinte à

saída, 9,6% mais empregados do que aquelas que nunca exportaram.

125

As opções fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento

Page 126: Panorama da Indústria Brasileira

Dessa forma, evidencia-se que o comércio internacional pode ter impactos positivos sobre o

emprego na economia, apontando a devida importância tanto da ampliação do número de

firmas exportadoras quanto da manutenção delas no mercado internacional. Ainda, se é ver-

dade que a maior parte do emprego no país se encontra no setor de serviços e nas empresas

não exportadoras, também o é o fato de o efeito das exportações sobre o emprego não ser

nada desprezível. Por exemplo, ao longo do período compreendido entre 2000 e 2004, as

empresas exportadoras contínuas geraram aproximadamente 400 mil novos postos diretos

de trabalho, podendo este número ser ainda maior ao levar em conta os empregos indiretos

gerados pelo aumento das exportações.

A tecnologia constitui ainda outro fator igualmente importante para a geração de emprego

e para a qualidade dos postos de trabalho no setor produtivo brasileiro. Com esta questão

em vista, é relevante o fato de um terço das empresas brasileiras com mais de dez funcioná-

rios terem realizado, entre 2001 e 2003, algum tipo de inovação tecnológica ou possuírem

um projeto de inovação em andamento. Contudo, entre as firmas brasileiras com mais de

500 funcionários, o percentual de firmas que realizaram algum tipo de inovação tecnológica

é substancialmente maior: pouco mais do que sete em cada dez firmas. Assim, torna-se

claro o papel do desenvolvimento tecnológico nas atividades de uma significativa parcela

das firmas brasileiras. Um dos efeitos desse fato sobre o mercado de trabalho diz respeito

à qualificação de mão-de-obra de que as firmas necessitam antes e depois de realizarem a

inovação.

As grandes firmas brasileiras – aquelas com mais de 500 funcionários e que são mais inova-

doras e mais avançadas tecnologicamente – geraram muito mais empregos do que a média

do país. Ao longo do período compreendido entre 2000 e 2004, o crescimento do emprego

nessas firmas foi da ordem de 29%, significando a criação de quase 500 mil novos postos de

trabalho. Esses resultados mostram que a tecnologia pode de fato abrir novas oportunida-

126

Panorama da Indústria Brasileira

Page 127: Panorama da Indústria Brasileira

des de crescimento para as empresas que acabem compensando o seu efeito negativo

inicial sobre o emprego.

Além disso, pode-se afirmar que as firmas inovadoras pagam salários mais altos a seus

funcionários do que aquelas que não inovam. Ou seja, os trabalhadores das primeiras

recebem cerca de 23% acima do que os trabalhadores das demais firmas. Assim, é lícito

afirmar que o aumento das firmas inovadoras na estrutura industrial brasileira poderia

levar a um aumento dos salários dos empregados destas empresas.

127

As opções fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento

Page 128: Panorama da Indústria Brasileira

128

Page 129: Panorama da Indústria Brasileira

Capítulo 3

As políticas públicas voltadas

para indústria brasileira129

Page 130: Panorama da Indústria Brasileira

3.1 Introdução

O Brasil apresenta como herança do período desenvolvimentista, da estagnação da década de 1980 e do ajuste pro-

dutivo da década de 1990, um estágio elevado de industrialização, que gera um montante substancial de riqueza

produtiva, mas que tem duas deficiências importantes: uma deficiência em eletrônica e informática (setores-chave na

competição industrial); e uma estrutura com processos produtivos mais eficientes que os da década de 1980, mas que,

de modo geral, não conseguiu uma mudança na estratégia competitiva da indústria, que continuou a ter na fábrica, na

operação fabril, o seu foco (em detrimento da estratégia inovadora que, como exposto acima, possibilita uma inserção

competitiva virtuosa).

Por um lado, as empresas no Brasil, em geral, inovam buscando solução de problemas específicos, e não de forma

continuada buscando no longo prazo competência tecnológica28. Por outro lado, nota-se que o aprimoramento tecno-

lógico como estratégia dominante só ocorre em um sistema de inovação que “é um conjunto complexo de instituições

e agentes econômicos que mantêm relações orgânicas entre si em busca de inovações e da competitividade nacional.

São eles universidades, institutos de pesquisa, empresas, os sistemas de apoio à C&T [Ciência e Tecnologia], as agências

de fomento, as instituições de formação de recursos humanos, as instituições reguladoras, as instituições específicas

que tratam de temas relacionados (como a regulação dos direitos de propriedade intelectual), as agências públicas

que concedem incentivos fiscais ou financeiros para o desenvolvimento da tecnologia, dentre outras. Para que haja

a referida organicidade, pressupõe-se que haja interação e cooperação entre esse atores do sistema, em diferentes

dimensões, para a geração e incorporação de inovações”29

Justifica-se, assim, um conjunto de políticas públicas indutoras desta organicidade inovativa no tecido produtivo.

3.2 A concepção da PITCE

A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) consiste em um plano de ação do Governo Federal com

vistas ao aumento de eficiência da estrutura produtiva, a elevação da capacidade de inovação das empresas brasileiras

e à expansão das exportações – ou seja, tenta-se vencer aquele citado “quebra-nozes competitivo” através da inovação

e diferenciação de produtos, alcançando um novo patamar competitivo e uma organicidade virtuosa entre os agentes

acadêmicos, técnicos, produtivos e de gestão/coordenação.

28 Ver Corder, S. M. Financiamento e incentivos ao sistema ao sistema de ciência, tecnologia e inovação: quadro atual e perspectivas. Campinas: UNICAMP, 2004. (Tese de Doutorado).29 Corder, S. M. op. cit.

130

Panorama da Indústria Brasileira

Page 131: Panorama da Indústria Brasileira

131

As políticas públicas voltadas para indústria brasileira

Page 132: Panorama da Indústria Brasileira

Em termos mais técnicos, trata-se de articular um Sistema Nacional de Inovações,

que seria composto pelos seguintes elementos30:

“Organizações de ensino e pesquisa produzindo conhecimentos e i)

tecnologias e que mantenham um bom nível de cooperação com

as organizações empresariais e geradoras potenciais de inovação e

também produtoras de pesquisa e tecnologias”

“Um sistema produtivo que, induzido pela concorrência ou por -

estratégias empresariais de médio e longo prazos, introduza sis-

tematicamente inovações de processo e produto e implemente

atividades de P&D, como parte deste esforço de inovação”;

“Um conjunto de instituições de prestação de serviços tecnológi--

cos e suporte à infraestrutura tecnológica”.

“Um sistema de informações e de indicadores estruturado”.ii)

“Órgãos reguladores e normas”.iii)

“Suporte financeiro”.iv)

“Coordenação tanto por parte do mercado quanto por parte do Es-v)

tado”.

Em outras palavras, o desafio é fazer com que haja uma interação sistêmica entre

atores promotores, criadores e de apoio à inovação/diferenciação de produto e

aprimoramento produtivo.

A herança das décadas anteriores não é estimulante: até os anos 70, criou-se uma

cultura de importação de tecnologias; nos anos 80, tanto os avanços na área pro-

dutivo-empresarial quanto na tecnológica foram praticamente interrompidos; nos

anos 90, iniciou-se um processo de movimento das estratégias de ajuste empre-

sarial da gestão para ações mais efetivas. Entretanto, as empresas inovadoras en-

frentaram mais recentemente três grandes grupos de obstáculos: custos, riscos e

escassez de fontes adequadas de financiamento; falta de pessoal qualificado e de

30 Corder, S. M., op. cit.

132

Panorama da Indústria Brasileira

Page 133: Panorama da Indústria Brasileira

informação tecnológica e de informações sobre o mercado, associada a condições

de mercado não estimulantes; finalmente, dificuldades de cooperação com outras

empresas e/ou instituições e a escassez de serviços técnicos externos31.

Até 2002, este era o quadro de nosso Sistema Nacional de Inovações, com uma

importante exceção: os fundos setoriais. Entretanto, deve-se reconhecer que tais

fundos não exerceram naquele momento o papel dinamizador de inovações dese-

jado, pois o contingenciamento fiscal reduziu sobremaneira sua execução32.

A PITCE busca assim, alterar tal quadro por três linhas de ação:

Linhas de ação horizontais: modernização industrial, inovação e de-i)

senvolvimento tecnológico, inserção externa e melhoria do ambien-

te institucional;

Opções estratégicas: desenvolvimento dos setores de software, semi-ii)

condutores, bens de capital, e fármacos e medicamentos;

Atividades portadoras de futuro: consolidação de biotecnologia, na-iii)

notecnologia e energias renováveis.

Foram criados, para implementação e coordenação da PITCE, a Agência Brasileira

de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento

Industrial (CNDI).

A seguir, detalharemos as iniciativas em cada uma das linhas.

3.2.1 Linhas de ação horizontais da PITCE

As linhas de ação horizontais procuram definir marcos regulatórios e de atuação

institucional, buscando aquela já citada organicidade do Sistema Nacional de Ino-

vação (SNI) brasileiro.

31 Corder, S. M., op. cit.32 Ver Bastos, V. D. Fundos Públicos para Ciência e Tecnologia. Revista do BNDES, dez. 2003.

133

As políticas públicas voltadas para indústria brasileira

Page 134: Panorama da Indústria Brasileira

Dentro da ênfase em Inovação e Desenvolvimento Tecnológico, um dos pilares da base legal da PITCE é a Lei de

Inovação33. Esta lei procura estimular as relações em torno da inovação entre universidades, empresas privadas e setor

público. Para tal, procurou-se fornecer estímulos: às parcerias entre empresas privadas e universidades ou institutos pú-

blicos de pesquisa; à exploração no mercado produtivo das inovações oriundas nas universidades e institutos públicos

de pesquisa; à inovação nas empresas por meio do apoio do Estado sob a forma de subvenção econômica, financia-

mento ou participação societária; à contratação de empresas privadas, por parte da administração pública, visando à

atividade de pesquisa e desenvolvimento (P&D).

Dessa forma, a Lei de Inovação estabelece novos marcos para as relações entre empresas privadas e universidades e

institutos de pesquisa públicos, além de possibilitar uma ação mais positiva do Estado no apoio à inovação empre-

sarial, tanto pelo instrumento da subvenção econômica a empresas para desenvolvimento tecnológico, quanto pela

possibilidade de compras tecnológicas pelo Estado. A lei permite, por exemplo, o investimento público em empresas

privadas e cria estímulos para que as empresas contratem pesquisadores para seus quadros ou para que pesquisadores

constituam empresa para desenvolver atividades relativas à inovação. Tudo isso torna evidente a importância desta lei

para que as empresas sejam mais competitivas e capazes de agregar mais valor aos seus produtos.

O objetivo desta lei vai ao encontro da criação de um conjunto de instituições de prestação de serviços tecnológicos e

suporte à infra-estrutura tecnológica (já citado como importante para a dinâmica de um SNI brasileiro), e também visa

resolver um dos mais importantes obstáculos à inovação das empresas, ou seja, as dificuldades de cooperação com

outras empresas e/ou instituições e a escassez de serviços técnicos externos.

Em outra vertente, a chamada “Lei do Bem” 34 estabelece uma série de instrumentos visando o apoio à inovação tec-

nológica na empresa privada. Estas medidas de incentivo abrangem:

- Isenção de PIS/Pasep e COFINS na compra de máquinas e equipamentos por parte de empresas que exportem

ao menos 80% de sua produção;

- Isenção de PIS/Pasep e COFINS a fabricantes de computadores (dentro de determinadas especificações) e outros

equipamentos de informática;

- Possibilidade de exclusão de 60% do lucro líquido na determinação da Contribuição Social sobre o Lucro Líqui-

do (CSLL), a partir dos dispêndios em P&D. Descontos adicionais podem ser feitos de acordo com o número de

pesquisadores contratados e a vinculação a patentes. Ainda, a lei permite que os contratos de P&D com micro

e pequenas empresas nacionais sejam contabilizados como dispêndios incentivados, estimulando parcerias e

33 Lei 10.973, de 02/12/2004, regulamentada pelo Decreto 5.563 de 11/10/2005.34 Lei 11.196, de 21/11/2005, regulamentada pelo Decreto 5.798 de 08/06/2006.

134

Panorama da Indústria Brasileira

Page 135: Panorama da Indústria Brasileira

possibilitando inclusive que empresas menores possam se beneficiar da lei, in-

diretamente, pelo estímulo à sua demanda;

- Redução de 50% do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente so-

bre equipamentos, máquinas, aparelhos e instrumentos destinados a atividades

de P&D, bem como sobre os acessórios sobressalentes e as ferramentas que

acompanhem esses bens;

- Cálculo de depreciação acelerada das máquinas, equipamentos, aparelhos e

instrumentos novos destinados à utilização nas atividades de P&D;

- Amortização acelerada dos dispêndios relativos à aquisição de bens intangíveis

vinculados exclusivamente às atividades de P&D;

135

As políticas públicas voltadas para indústria brasileira

Page 136: Panorama da Indústria Brasileira

- Redução a zero da alíquota do imposto sobre a renda retido na fonte sobre as

remessas efetuadas para o exterior destinadas ao registro e à manutenção de

marcas, patentes e cultivares.

O sentido da “Lei do Bem” está em facilitar a modernização sistemática de atividades

das empresas associada ao desempenho de mercado (a empresa se tornar exporta-

dora), além de um conjunto de incentivos à realização de P&D, que vai ao encontro

da necessidade de um SNI com investimento sistemático em P&D e de atividades de

inovação por parte das empresas. Os vários incentivos fiscais e contábeis vão ao en-

contro da superação do obstáculo à inovação referente aos estímulos das condições

de mercado para a empresa ser inovadora. Além disso, estimula-se a organicidade dos

atores de inovação, como contratação de pesquisadores, micro e pequenas empresas

e registro de marcas e patentes (aqui e no exterior). Finalmente estimula-se a supera-

ção da já citada deficiência brasileira em informática e eletrônica, tanto do ponto de

vista de produção quanto de utilização produtiva.

No mesmo sentido, a Lei de Informática35 prorrogou até o ano de 2019 a vigência

dos incentivos fiscais gozados atualmente pelo setor36 (que se encerraria em 2009).

Segundo esta lei, têm direito a incentivos fiscais empresas de desenvolvimento ou

produção de bens e serviços de informática e automação que investirem 5% de seu

faturamento bruto em atividades de pesquisa e desenvolvimento em tecnologia da

informação no país. Já foram beneficiadas 327 empresas, e foram investidos de 2003

a 2006 R$ 2 bilhões.

Outra Lei, a Lei de Biossegurança37, procura regulamentar os campos de pesquisa

com organismos geneticamente modificados e células-tronco. Esta última é decisiva,

ao viabilizar a pesquisa com organismos geneticamente modificados e com as cha-

madas células-tronco, ainda que um dos marcos que necessita atualização seja a lei de

acesso a recursos genéticos, oriunda da Medida Provisória 2.186-16 de 2001. Assim, o

governo estuda alternativas para uma nova lei que respeite direitos relativos ao conhe-

cimento tradicional, iniba a biopirataria, possibilite a pesquisa e a geração de produtos

35 Lei 11.077, de 30/12/2004, regulamentada pelo Decreto 5.906 de 26/09/2006.36 As empresas aderentes têm isenção de IPI dos bens de informática por elas produzidos no país, em contrapartida a um investimento em P&D equivalente a 5% de seu faturamento.37 Lei 11.105, de 24/03/2005, regulamentada pelo Decreto 5.591 de 22/11/2005.

136

Panorama da Indústria Brasileira

Page 137: Panorama da Indústria Brasileira

137

As políticas públicas voltadas para indústria brasileira

Page 138: Panorama da Indústria Brasileira

e riqueza com a exploração racional, econômica e socialmente sustentável dos diver-

sos biomas brasileiros. De fato, a regulamentação atual coloca inúmeros entraves ao

desenvolvimento e à articulação com as comunidades.

Estas duas últimas leis visam favorecer o desenvolvimento tecnológico em áreas estra-

tégicas e também incentivam as atividades de P&D.

Paralelamente ao marco legal, outra preocupação da PITCE diz respeito à racionalização

da aplicação de recursos a partir das prioridades estabelecidas por ela, contemplando

um dos obstáculos mais importantes à inovação das empresas, ou seja, custos, riscos e

escassez de fontes adequadas de financiamento. Dentro deste escopo, compreende-

se o lançamento de determinadas linhas de financiamento e fomento, tais como:

- Duas novas linhas de financiamento por parte do Banco Nacional de Desenvol-

vimento Econômico e Social (BNDES) – Inovação: P,D&I e Inovação: Produção –

destinadas respectivamente a projetos de P&D e de produção e comercialização

dos resultados da inovação (fevereiro de 2006);

138

Panorama da Indústria Brasileira

Page 139: Panorama da Indústria Brasileira

- Fundo Tecnológico – FUNTEC do BNDES, em junho de 2006, com um patrimônio

de R$ 153 milhões direcionado especialmente para: energias renováveis pro-

venientes da biomassa; semicondutores, softwares e soluções biotecnológicas;

medicamentos e insumos para doenças negligenciadas e fármacos obtidos por

biotecnologia avançada;

- Pró-Inovação, da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), um programa de

financiamento voltado a projetos que estejam de acordo com as prioridades

estabelecidas pela PITCE;

- Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (PAPPE), da FINEP, que busca fi-

nanciar atividades de P&D que estejam em fase precedente à comercialização

e desenvolvidas por pesquisadores que atuem diretamente ou em cooperação

com empresas de base tecnológica;

- Programa Juro Zero, da FINEP, com empréstimos sem juros e pagamentos dividi-

dos em cem parcelas, voltado ao financiamento de micro e pequenas empresas

inovadoras. O Juro Zero está sendo implementado em cinco localidades, com as

seguintes parcerias estratégicas: Bahia – Fundação de Amparo à Pesquisa do Es-

tado da Bahia (Fapesb); Santa Catarina – Associação Catarinense de Empresas de

Tecnologia (Acate); Minas Gerais – Federação das Indústrias do Estado de Minas

Gerais (Fiemg); Paraná – Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep); e

Pernambuco – Porto Digital. O programa tem como meta o apoio financeiro a

2.500 empreendimentos até o final de 2008, com dispêndios em torno de R$ 500

milhões;

- Promovido pela FINEP desde 2000, o Inovar Fórum Venture FINEP tem como

objetivo estimular empresas inovadoras a apresentarem seus planos de negó-

cios e estratégias a investidores de capital de risco. Até 2005, o evento já ha-

via viabilizado investimentos em 24 empresas brasileiras de base tecnológica,

totalizando um montante de R$ 145 milhões. Já o Inovar Semente, programa

lançado em dezembro de 2005, visa à criação de fundos de capital semente para

investimento em empresas nascentes de base tecnológica, tendo como meta o

investimento de R$ 300 milhões na criação de 25 fundos de capital de risco para

apoiar 340 empreendimentos. Ainda, o Programa Inovar Fórum Abertura de Ca-

pital, criado em 2002 em parceria com a Bovespa, tem como objetivo estimular

139

As políticas públicas voltadas para indústria brasileira

Page 140: Panorama da Indústria Brasileira

a abertura de capital de médias e grandes empresas brasileiras de tecnologia no

novo mercado. Até maio de 2006, já passaram pelo processo 15 empresas, ten-

do duas delas inclusive aberto seus capitais. Por meio deste programa, a FINEP

também promoveu três operações de investimento em empresas, sendo uma

de private equity38, e duas através do BNDES. A Incubadora de Fundos Inovar é

uma estrutura voltada para estimular a criação de novos fundos de capital de

risco voltados para as empresas nascentes e emergentes de base tecnológica,

atrair os investidores institucionais, especialmente os fundos de pensão para a

atividade e disseminar as melhores práticas de análise para a seleção de fundos

de capital de risco.

Procurando implementar um conjunto de instituições de prestação de serviços tec-

nológicos e suporte à infra-estrutura tecnológica, foram desenvolvidas as seguintes

atividades:

- Reestruturação do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) – “INPI sem

papel”, com a meta inicial de realizar registro de marcas pela internet. Destaca-

se ainda a criação do Centro Brasileiro de Materiais Biológicos e do Centro de

Educação em Propriedade Intelectual/Academia do INPI, possibilitado pelo au-

mento orçamentário a partir de 2004 (R$82 milhões em 2003, R$ 108 milhões

em 2004, R$ 117 milhões em 2005 e R$ 121 milhões em 2006, ou seja, 47,5% de

aumento entre 2003 e 2006);

- Programas de modernização e articulação dos institutos e centros de pesquisa,

com previsão de mais de R$ 500 milhões de investimentos ao longo do biênio

2006/2007, visando à atualização da infra-estrutura de ciência e tecnologia (C&T)

e de extensionismo tecnológico. Entre eles, o Modernit/FINEP, para a moderni-

zação dos institutos de pesquisa tecnológica, que alcançou 23 projetos a partir

de edital de 2004 e envolveu R$ 27 milhões39 em investimentos diretos, além

de R$ 3,5 milhões em bolsas, totalizando um investimento federal da ordem de

R$ 30,5 milhões ao longo do biênio 2004/2005. O Proinfa/FINEP, por sua vez,

38 Investimento no capital social de determinada empresa, quando este não é comercializado em mercados públicos de ações. 39 R$17 milhões em 14 projetos aprovados no edital de 2004; a grande demanda fez a Finep alocar mais R$10 milhões em outros 9 projetos sob encomenda.

140

Panorama da Indústria Brasileira

Page 141: Panorama da Indústria Brasileira

contratou em 2005 um total de 144 projetos – aprovados em edital –, a partir de

um desembolso total de R$ 110 milhões. Em maio de 2006 foi julgado edital de

R$ 150 milhões.

Ainda visando apoio financeiro e de risco à inovação, não foram esquecidos instru-

mentos já existentes, como o dos fundos setoriais, que tiveram um aumento significa-

tivo em seus recursos executados, tendo em vista a limitação até 2002, como mostra

o gráfico abaixo:

Fonte: ABDI

Visando o desenvolvimento regional, o Programa de Investimentos Coletivos Produtivos

(Proinco), do BNDES, tem o intuito de apoiar projetos de investimento que beneficiem

trabalhadores, produtores e/ou empresas nacionais com atuação coletiva e que sejam

capazes de influenciar decisivamente no desenvolvimento econômico e social da re-

gião, dos setores e das comunidades envolvidas, com ênfase em localidades menos de-

senvolvidas. O programa visa ainda: estimular as entidades representativas das empre-

sas e dos produtores a atuarem como catalisadoras da cooperação e do investimento

coletivo; financiar investimentos coletivos que permitam, às empresas e aos produtores,

141

As políticas públicas voltadas para indústria brasileira

1200000

1000000

800000

600000

400000

200000

0

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Grá�co 49Fundos Setoriais Evoluçãos

(Autorização e Execução Orçam entária em R$ mil)1999 a 2006

ExecutadoAutorizado

Page 142: Panorama da Indústria Brasileira

o acesso a serviços e produtos especializados e, aos trabalhadores, a obtenção ou o

aperfeiçoamento de sua qualificação profissional; financiar investimentos individuais

que possibilitem o fortalecimento das micro, pequenas e médias empresas envolvidas

em investimentos coletivos. Uma parcela do financiamento pode ser efetuada com a

utilização de recursos não-reembolsáveis, oriundos do Fundo Social, em proporções es-

tipuladas em função do nível de renda e do dinamismo econômico da localidade onde

será implantado o projeto, além das próprias características do investimento.

Visando superar a escassez de pessoal qualificado para inovação e as dificuldades de

cooperação com outras empresas e/ou instituições, desenvolveram-se as seguintes

iniciativas:

- Programa de Promoção e Valorização das Engenharias (Promove), articulado

pela FINEP. Contou com o lançamento de dois editais, em agosto de 2006, am-

bos dotados de um montante de R$ 20 milhões, voltados cada um ao apoio

de: parcerias entre universidades, escolas de engenharia, centros de educação

tecnológica e empresas privadas; e projetos inovadores que promovam maior

interação por parte das escolas de engenharia com as atividades de ensino em

ciências exatas e naturais de nível médio;

- Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG), elaborado pela Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e aprovado em janei-

ro de 2005, visando definir caminhos para a consolidação e o crescimento da

pós-graduação brasileira. Ainda, a Capes direcionou bolsas específicas às áreas

definidas como prioritárias pela PITCE;

- Portal Inovação, desenvolvido tanto para auxiliar na articulação entre a pesquisa

gerada nas universidades e as demandas privadas, quanto para difundir os di-

versos instrumentos de apoio à inovação.

Dentro ainda dos instrumentos de política horizontais, outra vertente de preocupação

da PITCE diz respeito à expansão sustentada das exportações concomitante à am-

pliação da base exportadora por meio da incorporação de novos produtos, empresas

e negócios. Dentro desta perspectiva, as ações realizadas compreendem:

- Formação, por parte da Agência de Promoção de Exportação e Investimentos

(Apex), dos chamados Centros de Distribuição de Produtos Brasileiros no Exte-

142

Panorama da Indústria Brasileira

Page 143: Panorama da Indústria Brasileira

rior nas seguintes localidades: Miami – em operação com 115 empresas parti-

cipantes –, Frankfurt – inaugurado em maio de 2006 e conta com 65 empresas

cadastradas –, Lisboa – inaugurado em junho de 2006, conta com 165 empresas

cadastradas –, Dubai – em operação com cerca de 80 empresas cadastradas –; e

Varsóvia – inaugurado em 22/01/2007, conta com mais de 60 empresas cadas-

tradas. Próximas instalações previstas na Rússia, China e África do Sul;

- Criação, por meio da chamada Lei do Bem, do Regime Especial de Aquisição de

Bens de Capital para Empresas Exportadoras (RECAP) e do Regime Especial de

Tributação para a Plataforma de Exportação de Serviços de Tecnologia da Infor-

mação (REPES), com o intuito de incentivar as atividades exportadoras por meio

de isenções tributárias;

- Desenvolvimento de instrumentos de apoio à internacionalização de empresas

brasileiras: Condominium Brasil-Europa/ABDI40; Internacionalização do setor de

Venture Capital e Private Equity Brasileiro/ABDI-ABVCAP41;

- PROGER Exportação, linha de crédito por parte tanto do Banco do Brasil quanto

da Caixa Econômica Federal destinada às micro e pequenas empresas. Utilizan-

do recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), destina-se a empresas

com faturamento bruto anual de até R$ 5 milhões.

Dentro ainda da promoção da inserção externa, o Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior (MDIC) tem realizado os Encontros de Comércio Exterior

(Encomex) eventos mobilizadores que levam informações sobre o funcionamento do

processo de exportação, regras básicas, legislação, mecanismos de apoio e oportuni-

dades de negócios ao empresariado regional. Com a instituição da PITCE, os encon-

tros se intensificaram e, desde então, foram realizados encontros com mais de 10 mil

empresas.

Outro projeto itinerante, voltado para o desenvolvimento das vocações produtivas de

uma região, é o Exporta Cidade – Programa de Inserção de Municípios no Comércio In-

40 Cluster tecnológico, com futura base em Portugal, que tem como objetivo a inserção internacional de empresas brasileiras do setor de software - em conjunto com empresas portuguesas -, para atender aos mercados europeu, asiático e africano.41 Convênio entre a ABDI e a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP) - com uma previsão de investi-mentos da ordem de R$ 1,8 milhão -, com o intuito de promover o mercado brasileiro de private equity no exterior.

143

As políticas públicas voltadas para indústria brasileira

Page 144: Panorama da Indústria Brasileira

ternacional. Desde seu lançamento, em 2005, o Programa já foi implantado em Campo

Largo (PR), Nova Friburgo (RJ), Sobral (CE), Juazeiro (BA), Marituba (PA), Diadema (SP),

Anápolis (GO) e Dourados (MS); e já foram elaborados diagnósticos de cinco municí-

pios integrantes do projeto piloto – Anápolis, Dourados, Diadema, Juazeiro e Jaraguá

do Sul (SC).

No âmbito estadual, foi criado o Programa Estado Exportador, no qual as unidades da

federação que registraram exportações menores que US$ 100 milhões em 2003 pas-

saram a contar, a partir de 2004, com o apoio do Governo Federal. Posteriormente, o

limite foi aumentado para US$ 500 milhões, expandindo os Estados beneficiados. Das

nove unidades inseridas no Programa, seis conseguiram duplicar suas exportações en-

tre 2003 e 2005.

144

Panorama da Indústria Brasileira

Page 145: Panorama da Indústria Brasileira

O Projeto Redeagentes possibilitou a realização, entre 2003 e 2006, de 276 cursos e

treinamentos em todas as Unidades da Federação, capacitando mais de oito mil pes-

soas, entre agentes de comércio exterior, empresários e funcionários de empresas de

pequeno porte. Os agentes passaram a ser replicadores e a ensinar em suas regiões

como funciona o processo exportador.

Dada a dinâmica do progresso tecnológico, a preocupação com a modernização

do parque industrial deve sempre estar presente no âmbito das políticas públicas,

incluindo financiamento para aumento de capacidade, modernização de equipa-

mentos, programas de modernização de gestão, de melhoria de design, de apoio ao

registro de patentes e de extensão tecnológica. Estas iniciativas vão de encontro a

alguns obstáculos à inovação, como custos, riscos e escassez de fontes adequadas de

financiamento, falta de informação tecnológica e de mercados, associada a condições

de mercado não estimulantes, além de escassez de serviços técnicos externos. Dentro

desta perspectiva, destacam-se as seguintes iniciativas:

- Programa de Modernização do Parque Industrial Nacional (Modermaq), sob

responsabilidade do BNDES. Ao longo do período compreendido entre 2004 e

abril de 2007 foram aprovadas 11.003 operações – com um valor total de R$ 4,2

bilhões;

- Criação do Cartão BNDES42, sendo emitidos 118.836 mil deles até maio de 2007,

e concedidos R$ 2,57 bilhões em créditos – com uma média de R$ 13,69 mil

por transação. Conta ainda com 4.318 fornecedores credenciados e 57.124 mil

produtos disponíveis;

- Programa Extensão Industrial Exportadora (Peiex), articulado com governos lo-

cais (Estados, Municípios) e parceiros locais (Universidades, Sebrae local etc.),

para realização inicial de consultoria empresarial (análise dentro das empresas

participantes), para posterior articulação dos diferentes programas nos Arranjos

Produtivos Locais (APLs). Ainda no âmbito de APLs, foi criado o Grupo Técnico

Permanente dos Arranjos Produtivos Locais (GTP-APL), envolvendo 33 entida-

des públicas e privadas atuantes em APLs, para a coordenação de ações;

42 Crédito rotativo e pré-aprovado de até R$ 250 mil, para aquisição de produtos credenciados no BNDES, por meio do Portal de Operaçãoes do Cartão BNDS.

145

As políticas públicas voltadas para indústria brasileira

Page 146: Panorama da Indústria Brasileira

- Fortalecimento da infra-estrutura de Tecnologia Industrial Básica (TIB) programa

nacional de revigoramento da rede brasileira de metrologia, criação de labo-

ratórios de metrologia química e de novos materiais (investimento de R$ 73,5

milhões entre 2004 e 2007), e contratação de 580 novos técnicos para o Ins-

tituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro).

Destaca-se o primeiro edital do Programa de Capacitação Científica e Tecnoló-

gica para Metrologia Científica e Industrial do Inmetro, o Prometro, no valor de

R$ 11,3 milhões já contratados para 2004 – 2008.

- A Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (Supersimples)43, sancionada pelo Pre-

sidente da República no final do ano passado, veio estimular o ambiente de

negócios do Brasil. Vale em todo Brasil e deve reduzir e simplificar o pagamento

de tributos federais, facilitar acesso ao crédito e o fechamento de empresas.

Com vistas à melhoria do ambiente institucional e ao aumento da taxa de investi-

mento da economia brasileira, a PITCE traçou ainda como uma de suas preocupações

centrais o delineamento de certas condições que favorecessem a ampliação da capa-

cidade produtiva. Assim, enquanto de um lado a política industrial procurou aprimorar

os marcos regulatórios do setor de infra-estrutura (que vai ao encontro da necessidade

de ambiente regulatório apropriado a um SNI eficiente), de outro buscou desenvolver

uma série de medidas visando à isonomia competitiva, dentre as quais:

- Desoneração do IPI para bens de capital;

- Nova sistemática de recolhimento do IPI, semelhante à da COFINS, com o intui-

to de minimizar os efeitos da incidência de tributos em cascata sobre a compe-

titividade externa dos produtos brasileiros;

- Desoneração da construção civil: redução do IPI para produtos como tubos, re-

servatórios, janelas, portas, fios, cabos, tintas, cimento e argamassa, entre outros;

- Redução do Imposto de Importação (II) incidente sobre equipamentos sem simila-

res nacionais, com a concessão de 1.465 reduções tarifárias até janeiro de 2007, re-

sultando em um total de US$ 2,40 bilhões de investimentos em bens importados;

43 Lei Complementar n. 123, sancionada pelo Presidente da República em 14/12/2006.

146

Panorama da Indústria Brasileira

Page 147: Panorama da Indústria Brasileira

- Formulação do Programa Pré-empresa, em tramitação no Congresso, com o

intuito de estimular a formalização de pequenos negócios;

- Financiamento, por parte do BNDES, de equipamentos importados sem simila-

res nacionais.

De fato, o total de desoneração tributária alcançou a marca de R$ 19,24 bilhões em

2006, representando um crescimento de 466% em relação a 2004. Ainda, uma parcela

de R$ 6,1 bilhões deste total se refere a desonerações sobre o investimento produti-

vo – um crescimento de 1.400% em relação a 2004. A Tabela 3 detalha melhor estas

informações.

Fonte: Ministério da Fazenda.

Dentro da mesma perspectiva, foram realizadas determinadas medidas visando à di-

minuição de entraves burocráticos, tal como o Projeto de Lei para Simplificação do Re-

gistro e da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim), que estabelece diretrizes e

procedimentos para a simplificação e integração do processo de registro e legalização

de empresários e pessoas jurídicas. O projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados

Classificação dos setores de atração de IDE segundo as estratégias das filiais estrangeiras

Tabela 03

2004 2005 2006

Estímulo ao investimento produtivo 0,65 3,40 6,11

Corte de tributos para as famílias (imposto de renda) 0,50 2,30 4,03

Corte de tributos da cesta básica e incentivo à produção de alimentos 3,33 5,00 5,00

Estímulo à poupança de longo prazo 0,77 2,00 2,15

Estímulo à micro e pequena empresa 0,30 1,35

Incentivo à inovação 0,10 0,60

TOTAL 5,26 13,10 19,24

147

As políticas públicas voltadas para indústria brasileira

Page 148: Panorama da Indústria Brasileira

ao final de 2006 e atualmente aguarda designação de relator na Comissão de Consti-

tuição e Justiça (CCJ) do Senado.

Ainda dentro deste espírito, criou-se a Agência Brasileira de Desenvolvimento Indus-

trial (ABDI) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI). A ABDI, ligada

ao MDIC por meio de contrato de gestão, é a responsável pela execução e articulação

das políticas de desenvolvimento industrial, enquanto que o CNDI, vinculado à Pre-

sidência da República, é o órgão consultivo e subsidiário para a formulação dessas

diretrizes.

A ABDI é também responsável pela secretaria executiva do Comitê que acompanhará

a implementação dos programas e ações da Política Nacional de Biotecnologia, sob a

presidência do Ministério da Ciência e Tecnologia. A Agência também está à frente da

formação da Rede de Agentes de Política Industrial (Renapi), ambiente colaborativo

que propicia a troca de experiências regionais, a discussão sobre os rumos da indústria

local e se constitui em fórum privilegiado de interlocução entre empresa, academia e

governo. A intenção é divulgar a PITCE e seus instrumentos, bem como a cultura de

inovação, em todo país, por meio de cursos de capacitação de agentes nas capitais.

Mais de 2.500 agentes já integram a rede em 13 Estados.

A reestruturação do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) é outro ponto

que contribui para o desenvolvimento tecnológico do país, através da modernização

de instituições de prestação de serviços tecnológicos e de suporte para a infra-estrutu-

ra tecnológica, um dos elementos importantes para a dinamização do SNI brasileiro.

3.2.2 Opções estratégicas da PITCE

Sem pretender ressuscitar uma ênfase preponderantemente setorial da política indus-

trial, como no passado, a PITCE elegeu alguns setores estratégicos que encerram gran-

des efeitos dinamizadores da inovação no SNI brasileiro, além de importância social.

Trata-se de superar um dos obstáculos à inovação, ou seja, as condições de mercado

pouco estimulantes, pois a opção por estimular os setores de software, de semicon-

dutores e de bens de capital tem um efeito acumulativo forte sobre as decisões

empresariais, por serem setores que difundem progresso técnico de forma intensa,

gerando capacitação empresarial para inovar que, como se sabe, é cumulativa ao nível

148

Panorama da Indústria Brasileira

Page 149: Panorama da Indústria Brasileira

das firmas. Já a opção por fármacos e medicamentos se justifica por ser setor inten-

sivo em P&D, além de decisivo do ponto de vista social e da saúde pública. Este último

aspecto é extremamente relevante, pois as firmas empregam capital humano – sendo

ele muito decisivo na capacidade da firmar para inovar (sabe-se que parte do conheci-

mento da empresa é tácito e guardado pelas pessoas que trabalham na empresa).

No âmbito do setor de semicondutores, podem-se destacar as seguintes iniciativas:

- Atração de investimento direto externo: US$ 30 milhões para a construção de

fábricas de semicondutores;

- No Programa Nacional de Projetos Semicondutores (Circuitos Integrados – Bra-

sil), constituído pela PITCE, o Governo Federal já investiu, numa primeira fase,

R$ 12,1 milhões para a capacitação de recursos humanos, bolsas do CNPq e

infra-estrutura (equipamentos e software). O Programa pretende atrair para o

Brasil vários projetos de Circuitos Integrados desenvolvidos internacionalmente

por empresas do setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de

fabricantes de componentes semicondutores;

- Novo Regime Aduaneiro de Entreposto Industrial sob Controle Informatizado

(RECOF), permitindo à empresa habilitada tanto importação com suspensão do

pagamento de todos os impostos quanto a aquisição no mercado interno, com

suspensão do IPI, de mercadorias a serem submetidas a operações de indus-

trialização para posterior venda no mercado externo ou interno, oferecendo

uma expressiva redução de custos, entre outras vantagens (rapidez de desem-

baraço, tarifas de armazenagens preferenciais, co-habilitação de fornecedores,

substituição de beneficiários, etc.);

- Dentro do marco regulatório, além da Lei de Inovação e da “Lei do Bem”, está

em tramitação no Congresso o Projeto de Lei da Topografia de Circuitos Inte-

grados, que dispõe acerca da proteção da propriedade intelectual de topogra-

fias de circuito integrado (chips);

- Estímulo à TV Digital: R$ 60 milhões destinados a 22 consórcios de empresas e

instituições de pesquisa. Em junho de 2006 foi assinado o decreto que implanta o

Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T), com base nos padrões

do sistema japonês ISDB-T (Integrated Services Digital Broadcasting Terrestrial);

149

As políticas públicas voltadas para indústria brasileira

Page 150: Panorama da Indústria Brasileira

- Implementação do Centro Tecnológico de Eletrônica Avançada (CEITEC), cuja

infra-estrutura deverá ser adequada ao domínio completo de processos de

pesquisa e desenvolvimento, projetos, prototipação e testes em microeletrô-

nica por pesquisadores, instituições de ensino superior e centros de pesquisa

e desenvolvimento. Para tal, foram investidos R$ 127,7 milhões por parte do

Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT);

- Programa CI-Brasil de design housesI (empresas ou núcleos dedicados ao pro-

jeto e aperfeiçoamento de circuitos integrados), receptor de investimentos da

ordem de R$ 25 milhões, por parte do MCT, em cinco design houses – Manaus,

Campinas, São Paulo, Recife e Porto Alegre;

- Investimento de R$ 8 milhões – via edital FINEP – em um total de 14 projetos de

desenvolvimento de chips.

Já no que se refere ao setor de software, podem-se destacar as seguintes ações:

- Programa para o Desenvolvimento da Indústria Nacional de Software e Servi-

ços Correlatos (Prosoft)44, sob responsabilidade do BNDES, compreendendo um

total de 131 operações em carteira e um montante de financiamento de R$

818 milhões (até janeiro de 2007) – o Prosoft terminou 2006 com um resultado

histórico: R$ 19,5 milhões em financiamento para as micro, pequenas e médias

empresas;

- Cartão BNDES: foram acumuladas, de março de 2003 a janeiro de 2007, um

total de 692 operações relativas ao setor de software, com financiamentos da

ordem de R$ 13,7 milhões. No total geral relativo ao setor, foram 823 operações

contratadas até janeiro de 2007, representando um total de R$ 832 milhões;

- Ainda no âmbito do Prosoft, desenvolveu-se uma linha especial para fusão e

consolidação de empresas;

44 O Prosoft tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento da indústria nacional de software e serviços correlatos, de forma a: ampliar significativamente a participação das empresas nacionais no mercado interno; promover o crescimento de suas exportações; fortalecer o processo de P&D e inovação no setor de software; promover o crescimento e a internacionalização das empresas nacionais de software e serviços correlatos; promover a difusão e a crescente utilização do software nacional por todas as empresas sediadas no Brasil e no exterior; fomentar a melhoria da qualidade e a certificação de produtos e processos associados ao software.

150

Panorama da Indústria Brasileira

Page 151: Panorama da Indústria Brasileira

- Planos de Desenvolvimento Setoriais (ABDI/Softex, em sinergia com o plano

Apex/Softex de internacionalização do software brasileiro) – o Softex é a deno-

minação do Programa Prioritário do Setor de Software, destinado a melhorar a

competitividade desta indústria no Brasil, tendo treinado, de 2003 a 2006, 500

pessoas entre avaliadores e implementadores do sistema;

- Apoio a áreas de futuro, via editais MCT/Finep (computação em grade, com-

putação de alto desempenho, visualização, segurança, previsão meteorológica,

jogos);

151

As políticas públicas voltadas para indústria brasileira

Page 152: Panorama da Indústria Brasileira

- Qualificação de recursos humanos, via Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq), e certificação de softwares e biblioteca para

componentes, via editais FINEP;

- Regime Especial de Tributação para Plataformas de Exportação de Serviços de

Tecnologia (REPES), que prevê a suspensão da contribuição para o PIS/PASEP e

COFINS na aquisição no mercado interno e na importação de serviços ou de

bens destinados ao ativo imobilizado das empresas habilitadas ao regime;

- Projeto Brazil IT, com o apoio da Agência de Promoção de Exportações e In-

vestimentos (APEX), representando empresas integrantes do Projeto Setorial

Integrado para Exportação de Software e Serviços Correlatos (PSI-SW), da Sof-

tex e Actminds, e promovendo o desenvolvimento de projetos comerciais nos

Estados Unidos;

- Condominium Brasil-Europa/ABDI (vide nota 40);

- No âmbito da inclusão digital, a Regulamentação do Programa de Inclusão

Digital (alíquota zero de PIS/PASEP e COFINS para computadores e notebooks,

monitores, mouse e teclado até 2009);

- Telecentros tanto para a população através de ações do MCT (Ministério da

Ciência e Tecnologia)/CEF (Caixa Econômica Federal), quanto para as empresas

(MDIC).

- Até 2006 houve um forte processo de expulsão de PCs (Personal Computers)

ilegais do mercado brasileiro, que caíram de 70% das vendas para 36%, com

expectativas dos PCs legais atingirem 70% das vendas em 2007. Esse processo

ocorreu devido ao Programa Computador para Todos, previsto na “Lei do Bem”.

Um resultado importante é que a exportação de software passou de US$ 100 milhões

em 2004 para US$ 800 milhões em 2006.

Por sua vez, enquanto o setor de bens de capital recebeu os estímulos descritos

anteriormente no que se refere à modernização industrial, o setor de fármacos e me-

dicamentos foi beneficiado pelas seguintes iniciativas:

152

Panorama da Indústria Brasileira

Page 153: Panorama da Indústria Brasileira

- Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Cadeia Produtiva Farmacêutica

(Profarma), sob responsabilidade do BNDES, apoiando investimentos em em-

presas da cadeia produtiva farmacêutica. Desde seu início – março de 2004 – até

fevereiro de 2007, foram 46 operações em carteira, totalizando um total de R$

930 milhões em financiamentos e viabilizando R$ 1,9 bilhão em investimentos;

- Criação da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás),

que permitirá a produção no Brasil de hemoderivados (na sua maioria fatores

de albumina, imunoglobulina e coagulação). Estes medicamentos são usados

no tratamento de pacientes com câncer, doenças infecciosas, aids e hemofilia.

O Ministério da Saúde gasta em torno de R$ 120 milhões atualmente com a

importação de hemoderivados para atendimento do SUS (Sistema Único de

Saúde). Espera-se atingir a auto-suficiência na produção destes medicamentos

com a operação da Hemobrás.

3.2.3 Atividades portadoras de futuro da PITCE

A PITCE se preocupou ainda em apontar determinadas atividades dotadas de grande

potencial para transformar produtos, processos e formas de uso a médio e longo pra-

zos. Destacam-se, neste caso, a biotecnologia, a nanotecnologia e o campo de ener-

gias renováveis.

No âmbito da biotecnologia, destacam-se:

- Constituição da Associação de Biotecnologia da Amazônia (ABA), em dezembro

de 2005, com vistas a dar sustentação às atividades do Centro de Biotecnologia

da Amazônia (CBA). O CBA deverá destinar um total de R$ 10,6 milhões para o

desenvolvimento de seis projetos que visam incentivar a exploração econômi-

ca da biodiversidade da Amazônia brasileira;

- Programa de Biotecnologia, do MCT, que disponibilizou R$ 28,8 milhões em

2005 e R$ 31,8 milhões em 2006 para pesquisas com células-tronco, desenvol-

vimento de bioprodutos, constituição da Rede Genoprot e do Programa Rede

Nordeste de Biotecnologia (Renorbio), P&D em biologia molecular estrutural,

entre outras atividades;

153

As políticas públicas voltadas para indústria brasileira

Page 154: Panorama da Indústria Brasileira

- Fórum de Competitividade de Biotecnologia, coordenado conjuntamente pe-

los Ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), da

Ciência e Tecnologia (MCT), da Saúde (MS), e da Agricultura, Pecuária e Abaste-

cimento (MAPA). Contando com representantes do Estado, da iniciativa privada

e da comunidade acadêmica, foram criados inicialmente seis grupos de tra-

balho: recursos humanos e infra-estrutura; investimentos; marcos regulatórios;

biotecnologia agropecuária; biotecnologia em saúde humana; e biotecnologia

industrial.

- Iniciativa Nacional de Biotecnologia, Fármacos e Medicamentos, sob coorde-

nação da ABDI, visando o apoio a ambientes institucionais de inovação – em

especial Parques Tecnológicos e Centros de Pesquisa e Desenvolvimento – que

objetivem elevar o nível de competitividade científica e tecnológica do país;

- Iniciativa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae),

os seguintes projetos: de APL de Biotecnologia do Triângulo Mineiro, de Biotec-

nologia na Região Metropolitana de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro.

Já no que se refere à área de nanotecnologia, o MCT lançou programa para a ativida-

de, com investimentos superiores a R$40 milhões ao longo do biênio 2004 e 2005. Em

abril de 2006 foi lançada a Carta-Convite MCT/FINEP/Ação Transversal n°06/2006, para

apoio a projetos em parceria entre empresas e universidades, sendo uma parcela dos

recursos totais de R$ 67 milhões destinada ao setor de nanotecnologia. Ainda, a partir

de 2004 foram apoiados 27 projetos de pesquisa participativa entre universidades e

empresas, 19 projetos de pesquisa conduzidos por jovens pesquisadores, 11 projetos

de apoio a incubadoras, cinco projetos de impactos socioambientais e outros cinco

de cooperação internacional. Em 2005, foram criadas dez novas redes de pesquisa em

nanotecnologia, além do apoio direto a três laboratórios estratégicos: Centro Brasileiro

de Pesquisas Físicas (CBPF), Embrapa Instrumentação e Centro Estratégico de Tecnolo-

gia do Nordeste (Cetene); e a outros dois laboratórios nacionais: Laboratório Nacional

de Luz Sincotron (LNLS) e Inmetro. Ao final de 2005 foi assinado um protocolo de

intenções entre os Presidentes do Brasil e da Argentina, visando à criação do Centro

Brasil-Argentina de Nanotecnologia (CBAN), que começou a ser implantado em 2006.

154

Panorama da Indústria Brasileira

Page 155: Panorama da Indústria Brasileira

Em termos de energias renováveis, o Governo Federal procura focar, em um primeiro

momento, na visibilidade e na ampliação internacional dos mercados do álcool brasi-

leiro. Já em um segundo momento, trata-se de articular um projeto em conjunto com

a iniciativa privada com relação ao álcool e a tecnologias e negócios associados.

Além disso, em dezembro de 2004 foi lançado o Programa Nacional de Produção e

Uso do Biodiesel, que procura incentivar a produção oriunda da agricultura familiar.

Neste sentido, enquanto a Lei 11.097/05 procurou estabelecer percentuais mínimos

de mistura do biodiesel ao diesel e o monitoramento da inserção do novo combustível

no mercado, a Lei 11.116/2005 estabelece o modelo tributário federal e cria o conceito

de combustível social, favorecendo regiões menos desenvolvidas.

A produção de bioetanol tem elevado continuamente nos últimos anos. Estima-se

que a safra de cana-de-açúcar 2006/2007 será 10,3% maior que a do ano passado, al-

cançando 475,7 milhões de toneladas. Este aumento de produção é, em parte, impul-

sionado pela venda de carros bicombustíveis (flex-fuels), que este ano alcançou 83%

da participação nas vendas de carros novos. O otimismo em relação à condução das

ações de biocombustíveis também pode ser visto através dos novos empreendimen-

tos, como a construção de 99 novas usinas.

As exportações de etanol também tiveram bons resultados. No ano passado, as ven-

das deste produto para o mercado internacional alcançaram cerca de 3,6 bilhões de

litros, com crescimento de 38% sobre o volume exportado no ano anterior.

O valor total dos projetos para produção de biocombustíveis que integram a carteira

no BNDES já chega a R$ 12,2 bilhões, e os financiamentos concedidos pelo Banco a

estes empreendimentos atingem R$ 7,2 bilhões.

3.3 O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a indústria

No início de 2007 o Governo Federal lançou o Programa de Aceleração do Crescimen-

to (PAC) que busca desenvolver até 2010 uma estratégia concentrada de investimen-

tos e medidas de incentivos ao crescimento nas áreas tributária, de financiamento, de

regulação, na área fiscal e de política monetária, com o objetivo de acelerar o processo

de crescimento brasileiro de forma consistente e sustentável.

155

As políticas públicas voltadas para indústria brasileira

Page 156: Panorama da Indústria Brasileira

As principais medidas do PAC

O PAC projeta um ousado conjunto de obras de infra-estrutura até 2010: são R$ 503,9

bilhões nas áreas de saneamento, habitação, recursos hídricos, energia e transporte.

No referente à política econômica, o PAC busca a redução da relação dívida do setor

público / PIB e a responsabilidade fiscal compatibilizadas com a aplicação de recursos,

ou seja, busca-se direcionar o saldo da saúde fiscal mais robusta para a aplicação dos

recursos de forma produtiva, com o investimento público. Junto a isto, projeta-se uma

redução da taxa de juros básica, que levará não apenas ao incremento da saúde fiscal,

como também ao estímulo do investimento privado e do crédito ao consumidor.

Junto a estas medidas, deve-se ressaltar que a saúde fiscal não virá do aumento da carga

tributária. Já em 2007 projeta-se uma redução da carga tributária em aproximadamen-

te R$ 6,6 bilhões. São muitas as medidas de desoneração tributária já implementadas.

Por exemplo, o reajuste da tabela de Imposto de Renda de Pessoa Física: aumento em

4,5% ao ano, no período 2007 – 2010 dos limites de dedução com despesas de educa-

ção e dependentes, além de aumento – no mesmo período e no mesmo percentual

anual – das faixas de rendimento. Além disso, prorrogação da cumulatividade do PIS e

da COFINS na construção civil: medida vigente até 31 de dezembro de 2008, que visa

estimular a construção civil através do aumento da lucratividade dos empreendimen-

tos. Depois, a prorrogação da depreciação acelerada: para os investimentos feitos até

o final de 2006, valerá por mais dois anos a redução em 50% da contabilização fiscal da

depreciação, o que reduz a tributação social sobre o lucro das empresas. Finalmente a

Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas: redução de tributos federais e simplificação

de tributação federal, estadual e municipal, além de desburocratizar a abertura e o

fechamento das empresas, e favorecer suas vendas para o Governo Federal.

Buscando ainda direcionar o gasto público para os investimentos produtivos, norma-

lizou-se por dez anos, a partir de 2007, o reajuste anual da folha de pessoal (inclusive

inativos) à taxa de inflação (IPCA), acrescida de um índice real de 1,5% ao ano.

Ainda do ponto de vista tributário, foram tomadas muitas medidas como a desone-

ração das obras de infra-estrutura (suspensão da exigibilidade de PIS e COFINS nas

aquisições de insumos e serviços para obras de saneamento básico, portos, energia e

transportes). Além disto, houve a recuperação acelerada dos créditos de PIS e COFINS

156

Panorama da Indústria Brasileira

Page 157: Panorama da Indústria Brasileira

em edificações e desoneração das compras de perfis de aço, medidas que estimulam

a construção civil através da lucratividade e barateamento das obras. Finalmente, há

três medidas de desoneração no setor de microeletrônica, setor chave para a PITCE e

para a melhoria sistêmica da inclusão digital no Brasil: o Programa de Incentivos ao

Setor da TV Digital (PATVD), o Programa de Incentivos ao Setor de Semicondutores (PA-

DIS) e a alíquota zero de PIS e COFINS ampliada para microcomputadores e notebooks

de maiores valores.

O marco regulatório estável é um importante aspecto do SNI e também da iniciativa

privada de investimento. Neste sentido, o PAC busca regulamentar e agilizar a atu-

ação do poder público na proteção do meio ambiente, na estabilidade do controle

social das Agências Reguladoras e na modernização do Sistema Brasileiro de Defesa

da Concorrência. No mesmo sentido se busca o marco regulatório para o setor de

saneamento e a tentativa de reduzir as desigualdades regionais através da recriação

da Sudan e da Sudene.

O crédito público ao investimento é importante em países em desenvolvimento. Sob

este aspecto, buscou-se tomar várias medidas, como: incentivo do financiamento pú-

blico em saneamento e habitação via Caixa Econômica Federal (CEF) e ampliação do

limite de crédito do setor público a investimentos nestas áreas; e redução dos spreads

do BNDES para infra-estrutura, desenvolvimento urbano e logística, além da redução

de Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) do mesmo banco.

Finalmente, buscou-se estabelecer medidas fiscais de longo prazo, como discutir a

reforma da Previdência Social, informatizar o processo licitatório das contratações go-

vernamentais; e extinção da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) e da Companhia de Na-

vegação do São Francisco (Franave), já em processo de licitação.

Como o PAC influencia o desempenho da indústria?

O PAC pode influenciar a indústria através de vários canais.

O principal deles é o investimento. Isto por que se busca melhorar e ampliar a infra-

estrutura brasileira e baratear alguns dos principais componentes da Formação Bruta

de Capital Fixo (FBCF), nos itens de construção civil e bens de capital produzidos no

157

As políticas públicas voltadas para indústria brasileira

Page 158: Panorama da Indústria Brasileira

Brasil. De fato, o investimento em ampliação de capacidade, essencial para a indústria

alçar patamares mais expressivos de crescimento, responde ao preço deste investi-

mento e à disponibilidade de infra-estrutura em boas condições de operação. Outros

aspectos do investimento são a estabilidade de marcos regulatórios, a saúde fiscal do

setor público, o controle da inflação e a eficiência e qualidade do gasto público, e

todos componentes do grau de incerteza da decisão de investimento, todos contem-

plados no PAC.

A eficiência sistêmica do processo de informação, essencial para uma moderna inser-

ção competitiva do país, também está contemplada, através dos incentivos à inclusão

digital. Além disso, a atenção ao setor de semicondutores vai ao encontro de um im-

portante setor a ser estimulado pela PITCE. Os estímulos ao setor de bens de capital

também vai ao encontro do mesmo sentido. Assim, o PAC alia à saúde e eficiência fis-

cal do país e à inserção externa sustentável dois aspectos essenciais da PITCE e do SNI

brasileiro. Esta aliança, que vem tendo em parte atenção do Governo Federal desde

1999, e que foi aprofundada a partir de 2003, busca viabilizar, ao nível das empresas e

do país como um todo, o processo de crescimento iniciado em meados de 2003.

Finalmente, o PAC busca consolidar o atual crescimento do mercado interno através

dos aspectos social e regional45 do desempenho econômico, através de obras dissemi-

nadas por todo país e a recriação da Sudam e da Sudene.

45 Ver Lemos, M. B., Moro, S., Domingues, E. P. e Ruiz, R. M. A organização territorial da indústria no Brasil. In: De Negri, J. A. e Salerno, M. S. Inovações, Padrões Tecnológicos e Desempenho das Firmas Industriais Brasileiras. Brasília: IPEA, 2005. Neste trabalho os autores sugerem a necessidade de políticas públicas para se reduzir as desigualdades regionais no Brasil.

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Panorama da Indústria Brasileira

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Page 161: Panorama da Indústria Brasileira

Conclusão

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Page 162: Panorama da Indústria Brasileira

Iniciamos este trabalho mostrando que entre 1999 – 2002, após a desvalorização cam-

bial, houve um movimento de forte crescimento da indústria em 2000 que, entretanto,

foi interrompido em 2001 pela escassez de energia elétrica e pela crise da Argentina,

sendo 2002 um ano de fraco crescimento.

Em 1999 especificamente, apenas em agosto se recuperou o nível de produção do

ano de 1998. O último trimestre do mesmo ano foi de recuperação do crescimento,

que se firmou em 2000, antes impulsionado pela demanda externa, logo em seguida

pela interna. Entretanto, no segundo semestre de 2000, ocorreram vários problemas

na economia internacional, que pioraram em 2001, junto a problemas de oferta de

energia elétrica. Interrompeu-se assim o crescimento de 2000, sendo 2002 um ano de

desaceleração e desvalorização do câmbio frente às incertezas do período eleitoral. A

nota bastante positiva do período 1999 – 2002 foi o equilíbrio fiscal com a adoção de

metas para o superávit primário, que foram cumpridas.

Quanto ao desempenho externo, nota-se que em 1999 houve uma melhoria do saldo

comercial mais devido à retração das importações que devido à expansão das expor-

tações. De qualquer forma, pode-se ressaltar que o comportamento em quantum das

exportações no último semestre de 1999 já indicava uma recuperação comercial. O

desempenho comercial de 2000 ficou aquém das expectativas, com um aumento das

exportações apenas ligeiramente acima do das importações. Em 2001 ocorreu signi-

ficativo aumento das exportações e retração das importações, ampliando o saldo co-

mercial. Já em 2002 se ampliou o saldo comercial, com forte retração das importações

e expansão tímida das exportações.

Dado o quadro internacional adverso, notamos que em 1999 – 2002 houve retração

em geral das exportações em preço. No quesito em quantum, as exportações tiveram

aumento generalizado, principalmente nos produtos básicos, e menos nos semima-

nufaturados e manufaturados, nesta ordem. Nossa pauta de exportações, em todos

os anos, foi principalmente de manufaturados, seguidos de básicos e, por último, de

semimanufaturados.

162

Panorama da Indústria Brasileira

Page 163: Panorama da Indústria Brasileira

No desempenho setorial, o complexo construção apresentou fraco crescimento após

1999. O complexo metal-mecânica, depois de retração em 1999, apresentou o cres-

cimento setorial mais vigoroso em 2000, para se retrair de forma praticamente ge-

neralizada em 2001 e apresentar crescimento desigual em 2002, mas a taxas muito

inferiores às de 2000. Movimento semelhante ocorreu no complexo têxtil, entretanto

com crescimentos anuais bem menores e retrações também mais modestas setorial-

mente. O complexo agroindústria se manteve retraído em 1999 e 2000, recuperando-

se levemente em 2001 e de maneira forte em 2002. O complexo química se manteve

em elevadas taxas de crescimento em 1999 e 2000 (apesar de neste último ano, menor

que no metal-mecânica), sendo o ano de 2001 de retração generalizada e 2002 de

recuperação modesta.

O período 2003 – 2006 apresentou um desempenho modesto no primeiro ano, um

crescimento forte em 2004 e, devido a uma política monetária mais restritiva, cresci-

mentos menores em 2005 e 2006.

No primeiro semestre de 2003, frente ao quadro de instabilidade herdado, o desem-

penho da indústria esteve ligado às exportações, que se intensificaram no segundo

semestre e assim iniciaram a retomada de crescimento. Em 2004 se configurou um

quadro de recuperação sustentável da renda familiar e do emprego, junto à continui-

dade da expansão das exportações em contexto de forte crescimento interno. Entre-

tanto, o problema de insatisfatório produto potencial levou a partir de fins de 2004, e

em 2005 e 2006, a se manter uma política monetária mais restritiva, cujo resultado foi

uma desaceleração, contudo sem configurar um quadro recessivo.

No desempenho externo, nota-se que se ampliou, em 2003, a diferença positiva entre

o crescimento das exportações e o das importações. De fato, o crescimento da econo-

mia mundial induziu fortemente a tal movimento. O ano de 2004 já foi de ampliação

de exportações e importações a taxas muito semelhantes. No ano de 2005 ocorreu

continuidade do quadro externo de 2004, apesar da valorização cambial. Outro as-

pecto relevante de 2005 foi o de recrudescimento da importação de bens de capital,

163

Conclusão

Page 164: Panorama da Indústria Brasileira

mais que em 2004. Entretanto, em 2006 pela primeira vez, desde 2003, as importações

cresceram a taxas maiores que as exportações.

O desempenho das exportações em preço durante 2003 – 2006 foi diverso de 1999

–2002: houve crescimento tanto em preço quanto em quantum. No primeiro caso, a

liderança coube aos semimanufaturados e, no segundo caso, aos manufaturados. En-

tretanto a pauta em 2003 – 2006 teve a mesma composição de no período anterior.

No desempenho setorial manteve a liderança de crescimento dos setores de bens

de consumo duráveis e de bens de capital. Entretanto os indutores do crescimento

mudaram ao longo do período: inicialmente foram as exportações e em 2006 passa-

ram a ser o consumo interno, devido ao aumento do emprego, da massa salarial e da

expansão do crédito.

Alguns aspectos são relevantes no período 2003 – 2006: o crescimento do volume de

vendas no varejo passou a oscilar em torno de uma média mais alta que do período

anterior; a taxa de desemprego nas regiões metropolitanas passou a oscilar em torno

de uma média menor após fins de 2004; a produtividade do trabalho cresceu sem

destruição sistemática de postos de trabalho na indústria; a FBCF se expandiu signifi-

cativamente desde o início de 2004; o IDE se recuperou depois de 2003; e o destino

das exportações se diversificou.

Este quadro favorável foi devido, por um lado, ao desempenho favorável do cresci-

mento mundial, mas, por outro lado, também à manutenção e aprofundamento da

disciplina fiscal. Entretanto, foi necessária a criação, pela economia brasileira, de ca-

pacidades internas menos dependentes da evolução externa e mais autônomas e

que, junto ao desempenho fiscal favorável, fossem capazes de garantir condições de

melhor qualidade em sua inserção. Tratou-se de buscar o fomento e a viabilização da

inovação.

164

Panorama da Indústria Brasileira

Page 165: Panorama da Indústria Brasileira

Pode-se afirmar que a inovação nas empresas industriais brasileiras melhorou nossa

inserção externa; possibilitou que elas se internacionalizem e crescessem mais devido

a isto; e permitiu que o incremento das exportações induzisse o investimento e o cres-

cimento, expandindo o emprego e melhorando os salários na indústria.

A indústria brasileira tende hoje, salvo choques externos negativos, a desenvolver gra-

dualmente uma trajetória de crescimento em ambiente macroeconômico estável e

num quadro de aprimoramento social. Neste contexto, torna-se inevitável (para não

dizer obrigatória) a busca das inovações como estratégia empresarial virtuosa de in-

serção positiva tanto no mercado interno quanto no externo. Este curso de aprimora-

mento tecnológico já vem sendo traçado por nossos principais parceiros internacio-

nais desenvolvidos e em desenvolvimento. O adiamento da adoção desta trajetória

pode significar a perda de nossas melhores possibilidades nas próximas décadas.

Neste sentido, se justifica a criação da PITCE, pois há tarefas de coordenação, fomento e

indução da inovação que são eminentemente institucionais (extrapolam a mera disci-

plina fiscal e monetária), cabendo ao Estado, como articulador privilegiado, exercê-la.

165

Conclusão

Page 166: Panorama da Indústria Brasileira

166

Page 167: Panorama da Indústria Brasileira

Anexos

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Page 168: Panorama da Indústria Brasileira

Complexo Construção

Extração de minerais não-metálicos

Artefatos de concreto, cimento e fibrocimento

Cimento e clínquer

Produtos diversos de minerais não-metálicos

Produtos da madeira

Complexo Metal-Mecânica

Construção de embarcações, inclusive reparação

Construção e montagem de vagões ferroviários, inclusive reparação

Construção e montagem de aeronaves, inclusive reparação

Outros veículos e equipamentos de transporte

Automóveis, camionetas e utilitários, inclusive motores

Caminhões e ônibus, inclusive motores

Carrocerias e reboques

Peças e acessórios para veículos automotores

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Complexos IndustriaisBrasileiros

Page 169: Panorama da Indústria Brasileira

Complexo Construção

Extração de minerais não-metálicos

Artefatos de concreto, cimento e fibrocimento

Cimento e clínquer

Produtos diversos de minerais não-metálicos

Produtos da madeira

Complexo Metal-Mecânica

Construção de embarcações, inclusive reparação

Construção e montagem de vagões ferroviários, inclusive reparação

Construção e montagem de aeronaves, inclusive reparação

Outros veículos e equipamentos de transporte

Automóveis, camionetas e utilitários, inclusive motores

Caminhões e ônibus, inclusive motores

Carrocerias e reboques

Peças e acessórios para veículos automotores

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Anexos

Eletrodomésticos da “linha branca”, exclusive fornos de microondas

Eletrodomésticos da “linha marrom”

Outros eletrodomésticos, exclusive aparelhos das “linhas branca” e “marrom”

Material eletrônico e aparelhos de comunicação

Material elétrico para veículos

Condutores e outros materiais elétricos, exclusive para veículos

Equipamentos para produção, distribuição e controle de energia elétrica

Máquinas e equipamentos para fins industriais e comerciais

Máquinas e equipamentos para extração mineral e para construção

Tratores, máquinas e equipamentos agrícolas, inclusive peças e acessórios

Produtos diversos de metal

Metalurgia dos ferrosos

Metalurgia dos não-ferrosos

Ferro-gusa, ferroligas e semi-acabados de aço

Laminados, relaminados e trefilados de aço

Tubos de ferro e aço com costura, inclusive fundidos

Peças fundidas de ferro

Extração de carvão mineral

Extração de minerais metálicos não-ferrosos

Extração de minérios ferrosos

Estruturas metálicas, obras de caldeiraria pesada, tanques e cadeiras

Artefatos de metal estampados, de cutelaria, de serralheria e de ferramentas manuais

Embalagens metálicas

Complexo Têxtil

Beneficiamento, fiação e tecelagem de fibras têxteis naturais

Fiação e tecelagem de fibras artificiais ou sintéticas

Outros artefatos têxteis

Calçados

Preparação de couro e fabricação de artefatos , exclusive calçados

Complexo Agroindústria

Resfriamento e preparação do leite e laticínios

Abate de bovinos e suínos e preparação de carnes

Abate de aves e preparação de carnes

Alimentos para animais

Refino de óleos vegetais e fabricação de margarinas, exclusive óleo de milho

Óleo de soja em bruto, inclusive tortas, farinhas e farelos

Page 170: Panorama da Indústria Brasileira

Fabricação e refino de açúcar

Indústria de bebidas

Álcool

Beneficiamento de arroz

Fabricação de café

Moagem de trigo

Conservas de frutas e legumes, molhos e condimentos

Sucos e concentrados de frutas

Indústria do fumo

Beneficiamento de outros produtos de origem vegetal para alimentação

Outros produtos alimentícios

Papel, papelão liso e cartolina, exclusive material de embalagem

Material de embalagem de papel, papelão e cartão

Celulose e pasta para fabricação de papel

Complexo Química

Indústria farmacêutica

Sabões, sabonetes, detergentes e produtos de limpeza

Artefatos de perfumaria e cosméticos, exclusive sabonetes

Tintas, vernizes, esmaltes, lacas, solventes e produtos afins

Adubos, fertilizantes e corretivos para o solo

Defensivos agrícolas e para uso domissanitário

Laminados de material plástico

Embalagens de material plástico

Artefatos diversos de material plástico

Fabricação e recondicionamento de pneumáticos, inclusive materiais para reparação

Artefatos diversos de borracha

Produtos químicos inorgânicos

Produtos e preparados químicos diversos

Elementos químicos, não-petroquímicos ou carboquímicos

Resinas, elastômeros, fibras, fios, cabos e filamentos artificiais e sintéticos

Petroquímicos básicos e intermediários para resinas e fibras

Refino de petróleo

Extração de petróleo e gás natural

* Classificação baseada em Haguenauer, L., Bahia, L. D., Castro, P. F. e Ribeiro, M. B. Evolução das Cadeias Produtivas Brasileiras na Década de 90. Brasília: IPEA, abril de 2001. (Texto para Discussão n. 786).

170

Panorama da Indústria Brasileira

Page 171: Panorama da Indústria Brasileira

171

Anexos

Classificação dos setores de atração de IDE segundo as estratégias das filiais estrangeiras

Correspondência entre setores utilizada

CONSTRUÇÃO

METAL-MECÂNICA

Cimento e clínquer

Automóveis

Automóveis

Eletrodomésticos “linha branca”

Eletrodomésticos “linha marrom”

Laminados de aço

Máquinas e equipamentos industriais e comerciais

Manufaturas de minerais não metálicos

Veículos automóveis, tratores, etc., suas partes e peças

Veículos automóveis, tratores, etc., suas partes e peças

Máquinas e aparelhos elétricos, diversos, suas partes e peças

Apars. Equip. para telecom., grav. e reprodução de som, suas partes e peças

Ferro e aço

- Máquinas especiais para indústria, suas partes e peças- Máquinas para trabalhar metais, suas partes e peças- Máquinas e equipamentos industriais diversos, suas partes e peças

COMpLExO Denominação nos gráficos

Correspondência com Divisão CUCI

Subsetores PIM-IBGE

Artefatos de concreto, cimento e fibrocimento

Automóveis, camionetas e utilitários, inclusive motores

Cimento e clínquer

Eletrodomésticos da “linha branca”, exceto forno de microondas

Eletrodomésticos da “linha marrom”

Laminados, relaminados e trefilados de aço

Máquinas e equipamentos para fins industriais e comerciais

Page 172: Panorama da Indústria Brasileira

TÊxTIL

AGROINDÚSTRIA

QUÍMICA

Têxtil de fibras naturais

Abate de bovinos e suínos

Artigos de limpeza

Perfumaria

Laminados de plástico

Pneumáticos

Petroquímicos básicos e intermediários

Óleo de soja

Açúcar

Álcool

Arroz

Trigo

Têxtil de fibras articiais e sintéticas

Calçados

Fibras têxteis e desperdícios não manufaturados em fios ou tecidos

Carne e preparados de carnes

Óleos essenciais, produtos de perfumaria e toucador

Óleos essenciais, produtos de perfumaria e toucador

Plásticos em formas não primárias

Borracha em bruto, incl. Borracha sintética e regenerada

Plásticos em formas primárias

Óleos e gorduras de origem vegetal, em bruto ou refinado

Açúcares, preparações de açúcar e mel

Produtos químicos orgânicos

Cereais e preparações de cereal

Cereais e preparação de cereais

Fibras têxteis e desperdícios não manufaturados em fios ou tecidos

Calçados

Beneficiamento, fiação e tecelagem de fibras têxteis naturais

Abate de bovinos e suínos e preparação de carnes

Sabões, sabonetes, detergentes e produtos de limpeza

Artefatos de perfumaria e cosméticos, exceto sabonetes

Laminados de material plástico

Fabricação e recondicionamento de pneumáticos, inclusive materiais para reparação

Petroquímicos básicos e intermediários para resinas e fibras

Óleo de soja em bruto, inclusive tortas, farinhas e farelos.

Fabricação e refino de açúcar

Álcool

Beneficiamento de arroz

Moagem de trigo

Fiação e tecelagem de fibras artificiais ou sintéticas

Calçados

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Panorama da Indústria Brasileira

Page 173: Panorama da Indústria Brasileira

Colaboração:Carlos Henrique Silva (ABDI)Frederico Andrade Tomich (IPEA)João Alberto De Negri (IPEA)Junia Cristina P. R. da Conceição (IPEA)Luciana Acioly da Silva (IPEA)Talita Daher (ABDI)Edna Moura (ABDI)

Projeto gráfico:João Del Negro

Revisão:Kênia Santos

Supervisão:Marcia Oleskovicz (Comunicação Social ABDI)

Agradecimento especial a Alessandro Teixeira,que presidiu a ABDI até junho de 2007,

idealizador desta publicação.

ABDIAgência Brasileira de Desenvolvimento IndustrialSetor Bancário Norte Quadra 1 – Bloco B – Ed. CNC70041-902 – Brasília – DFTel.: (61) 3962-8700www.abdi.com.br

IPEAInstituto de Pesquisa Econômica AplicadaSetor Bancário SulQuadra 1 - Bloco J - Ed. BNDES 70076-900 - Brasília - DF Tel.: (61) 3315-5000www.ipea.gov.br

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