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Panoramada Indústria
BrasileiraSÉRIE CadERnoS da IndúStRIa aBdI
Panoramada IndústriaBrasileira
Luiz dias de BahiaRogério dias de araújo
Série Cadernos da Indústria aBdI
Brasília - 2007
© 2007 – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI)
Série Cadernos da Indústria ABDIQualquer parte desta obra pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.
ABDI/IPEA
Ficha Catalográfica
A183s ABDI/IPEA Série cadernos da indústria ABDI/ organizadores: Luiz Dias Bahia, Rogério Dias de Araújo. --- Brasília: ABDI/IPEA, 2007. 1 v.; 21 x 23 cm.; 176p.
1. Desempenho da Indústria. 2. Crescimento e Desenvolvimento. 3. Políticas Públicas. I. Autor. II. Título.
CDU - 65
ABDI Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial Setor Bancário Norte Quadra 1 – Bloco B – Ed. CNC70041-902 – Brasília – DFTel.: (61) 3962-8700www.abdi.com.br
IPEAInstituto de Pesquisa Econômica AplicadaSetor Bancário SulQuadra 1 - Bloco J - Ed. BNDES 70076-900 - Brasília - DF Tel.: (61) 3315-5000www.ipea.gov.br
República Federativa do Brasil
Luiz Inácio Lula da SilvaPresidente
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Miguel JorgeMinistro
Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI)Reginaldo Braga ArcuriPresidente
Clayton CampanholaDiretor
Evando Mirra de Paula e SilvaDiretor
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)Marcio PochmannPresidente
Marcio Wohlers de AlmeidaDiretor de Estudos Setoriais
Lenita Maria TurchiDiretora Adjunto de Estudos Setoriais
apresentaçãoO Panorama da Indústria Brasileira, publicação que inaugura a Série Ca-
dernos da Indústria ABDI, é o recorte de um processo veloz e contínuo
de transformação.
Nos sete anos de análise apresentados, a indústria nacional enfrentou a
realidade da economia globalizada e suas conseqüências, processo que
encontrou um Brasil cujas produtividade e qualidade eram deficitárias.
Para competir neste novo quadro, a indústria precisou se reinventar,
aumentando investimentos, revendo metas e construindo parcerias.
6
Como resultado, o setor industrial se provou eficiente em seu poder de adap-
tação e rapidamente percebeu o novo desafio: a busca da inovação e da dife-
renciação de produtos como fatores essenciais de competitividade. Em 2004,
a partir de um diálogo aberto com a iniciativa privada, o Governo Federal
implementou a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior, que
inicia agora sua segunda fase.
Da parceria entre Governo Federal e cadeias produtivas, constroem-se, hoje,
as rotas de competitividade da indústria brasileira, tendo como fortes ele-
mentos o potencial de expansão nos mercados interno e externo, a elevação
nos níveis de produtividade e o bom momento da economia do País.
A Série Cadernos da Indústria ABDI propõe dar foco a essas questões, apresen-
tando uma coletânea de textos que poderão subsidiar os debates em torno
da formulação de ações voltadas ao desenvolvimento industrial brasileiro.
O momento é de clara oportunidade de construirmos uma indústria nacional
forte, com mais emprego, mais renda e mais justiça social.
Miguel JorgeMinistro do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior
Reginaldo ArcuriPresidente da ABDI
7
A publicação do Panorama da Indústria Brasileira tem como
principal missão analisar de forma apurada o desempenho da
indústria no período recente. Entre os anos de 1999 e 2006, a
economia brasileira, assim como a indústria brasileira, passou por
diversas transformações.
A desvalorização cambial ocorrida no ano de 1999, o raciona-
mento de energia em 2001, os efeitos da crise argentina também
em 2001, e a valorização cambial recente foram uns dos desta-
ques em termos gerais da economia brasileira.
O desempenho externo da economia brasileira teve uma signi-
ficativa melhora após 2003. Deve-se enfatizar que esse bom de-
sempenho é devido não somente às exportações de produtos
primários, mas também do aumento de exportação de produtos
industriais.
Sumário Executivo
8
Os fatores que levaram a indústria brasileira a apresentar um de-
sempenho relativamente razoável nesse período são variados.
Destaca-se que determinados setores industriais apresentaram
desempenho mais destacado quando comparados com os de-
mais. Entre os setores que merecem destaque estão aqueles que
compõem o complexo metal-mecânico.
Neste trabalho, tivemos a preocupação de mostrar que o papel
da inovação é primordial para expansão e manutenção das ex-
portações, assim como para o crescimento da indústria.
9
10
Panorama da Indústria Brasileira
O aprimoramento tecnológico já vem sendo traçado por nossos prin-
cipais parceiros internacionais desenvolvidos e em desenvolvimento.
Mesmo em setores tradicionais, a inovação é essencial para consolida-
ção de estratégias de diferenciação de produtos e, conseqüentemen-
te, de conquista de novos mercados. Há evidências de que o emprego
se expande por meio das exportações e da inovação das empresas. O
adiamento da adoção de estratégias empresariais focadas na inovação
pode significar a perda de oportunidades de entrar na rota do desenvol-
vimento sustentável.
Finalmente, este trabalho mostra a importância de uma Política Indus-
trial ativa. Evidenciamos que a criação da Política Industrial, Tecnológica
e de Comércio Exterior (PITCE) representou um importante marco para
o desenvolvimento industrial brasileiro. Entretanto, dado o dinamismo
da economia mundial e brasileira, o aperfeiçoamento da Política Indus-
trial brasileira se torna importante e necessário. Outra política pública
relevante é o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que terá
impactos relevantes para indústria brasileira, principalmente no que diz
respeito ao investimento.
11
Sumário Executivo
Indice
apresentação ................................................................................................................................................................6
Sumário Executivo .......................................................................................................................................................8
Introdução .................................................................................................................................................................. 15
Capítulo 1 - o desempenho da indústria no período 1999 − 2006 ......................................................... 23
Capítulo 2 – as opções fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento ...............................111
Capítulo 3 – as políticas públicas voltadas para indústria brasileira .....................................................129
Conclusão ..................................................................................................................................................................161
anexos .......................................................................................................................................................................167
Indice
14
IntroduçãoA economia brasileira na década de 1990 foi submetida a uma abertura comercial que, iniciada com redução tarifária,
evoluiu para um câmbio relativamente valorizado. A indústria reagiu inicialmente com dois movimentos, um externo,
outro interno: no primeiro, desfez controle operacional e empresarial sobre elos da cadeia que não se referissem a seu
core business; no segundo, racionalizou seu próprio processo produtivo, numa busca de redução de custo e aumento
de produtividade. A partir de 1994, ocorreu um aumento de investimento que, infelizmente, se restringiu a um caráter
mais modernizador do que o aumento de capacidade produtiva. Ou seja, buscou-se avançar na necessidade de apri-
moramento produtivo marginalmente, sem uma reestruturação profunda do capital já instalado.
15
Panorama da Indústria Brasileira
Considerando o período de 1990 a 1996, nota-se que a
participação da indústria no PIB reduziu, apesar da es-
trutura industrial não ter se alterado. Essa redução ocor-
reu principalmente nos complexos química, metal-me-
cânica e têxtil, ao contrário dos complexos agroindús-
tria e construção. As cadeias do complexo agroindústria
e setores como extração de minério de ferro, siderurgia,
segmentos da metalurgia dos não-ferrosos e a base do
complexo química mantiveram elevados coeficientes
de exportação e baixos coeficientes de penetração.
Para todos os complexos tomados como um todo, o
comportamento foi um aumento do coeficiente de
exportação até 1992 (que é um reflexo principalmente
da retração do PIB) e queda amortecida até 1996 (na
retomada do crescimento a partir de 1993, as empresas
confirmaram sua preferência pelo mercado domésti-
co, o que foi acompanhado também pela valorização
do real). Cadeias mais frágeis, como têxtil, vestuário,
e as intermediárias e finais dos complexos química e
metal-mecânica mais intensivas em tecnologia, não
foram bem sucedidas com os importados: os coefi-
cientes de penetração aumentaram sensivelmente. As
importações de bens de capital e de consumo foram
acompanhadas com a busca no exterior por insumos
mais atualizados tecnologicamente e de menor custo
(essa última substituição se deu nas indústrias interme-
diárias das próprias cadeias finais). Assim, houve a tran-
sição para menor intensidade de elos intracomplexos,
concentrando-se a reestruturação nas etapas interme-
diárias dos complexos química e metal-mecânica, além
das indústrias têxteis.
No período 1996 − 1999, as tendências do período
anterior se confirmaram, não se podendo afirmar ter
havido mudanças importantes na composição ou ten-
dência definida de especialização na indústria brasilei-
ra. Aprofundaram-se tendências anteriores: maior peso
para construção e agroindústria, maior competitivida-
de para produtores de commodities baseadas em recur-
sos naturais, além da vulnerabilidade das atividades de
maior conteúdo tecnológico.
Enfim, o ajuste ocorrido na década de 1990 caminhou
para o seguinte movimento: as indústrias de base ten-
deram a exportar para atividades intermediárias no ex-
terior, de onde as indústrias de produtos finais no país
passaram a importar insumos, com uma tendência no
futuro para se romper a integração interna dos com-
plexos.
A dinâmica de crescimento da indústria, em termos ge-
rais, acompanhou a retomada de 1993 após os anos de
estagnação ou recessão entre 1990 e 1992. O comple-
xo metal-mecânica teve participação destacada neste
movimento desde meados de 1993, principalmente nas
cadeias automobilística e de eletrodomésticos, com os
setores de máquinas e equipamentos para a indústria
ou para a agricultura, além de siderurgia, acompanha-
rem o processo sem, entretanto, o liderar. O complexo
construção só acelerou a partir de 1994, e o complexo
têxtil apresentou uma dinâmica onde oscilaram movi-
mentos de crescimento e retração. O movimento geral
desacelerou em 1998, principalmente no segundo se-
mestre, depois da crise asiática em 1997 e a crise russa
em 1998, com a reação defensiva da política monetária
brasileira. Toda tentativa de retomada se ressentiu de
dois fundamentos básicos, ou seja, o saldo comercial
e a saúde fiscal, sem os quais nossa vulnerabilidade se
fez sentir nas oscilações conjunturais do crescimento e
16
Introdução
17
com seu fim em 1998. Além disso, o movimento esteve
longe de ser homogêneo para toda indústria e apre-
sentou desequilíbrios intersetoriais recorrentes.
O Brasil havia herdado, no início da década de 1990,
uma estrutura industrial robusta, mas com uma capaci-
dade de competir internacionalmente ainda a desejar.
Em 1999, foi bem sucedido o controle inflacionário e
levada a cabo a abertura comercial; alcançou-se uma
maior internacionalização das cadeias produtivas, avan-
ços significativos de produtividade e um movimento
razoavelmente difundido de modernização do capital
instalado. Entretanto, não bastava a recuperação do in-
vestimento.
A inserção de qualquer economia num mundo globa-
lizado, no qual uma iniciativa produtiva possa ser fácil
e rapidamente replicada pelos competidores, implica
que todos os produtos tendam a se tornar rapidamente
padronizados, reduzindo o retorno presente dos inves-
timentos e o ciclo de vida dos produtos.
A única forma de superar este problema de forma efi-
ciente (ou seja, evitando barreiras comerciais) é através
de um fluxo contínuo de inovações, que torne parte
18
Panorama da Indústria Brasileira
dos produtos brasileiros a cada momento menos padronizados, e capazes de auferir lucros devido a suas respectivas
quase-rendas1 sustentadas enquanto as firmas produtoras detiverem uma exclusividade relativa na produção daqueles
produtos.
O objetivo deste Panorama é descrever a evolução da economia brasileira de 1999 a 2006, estabelecendo sua relação com
o desempenho setorial da indústria, o comércio internacional e o investimento direto externo. Além disso, procuramos
detalhar os principais determinantes deste desempenho, ou seja, a saúde fiscal, o desempenho externo e a busca de
inovação e diferenciação de produtos. Finalmente, encerramos descrevendo analiticamente as políticas públicas hoje em
curso, que buscam a inovação e a recuperação da infra-estrutura brasileira.
1 Quase-rendas são rendas que uma firma pode auferir acima do lucro normal devido à exclusividade de seu produto durante determinado período limitado de tempo.
19
Introdução
20
Panorama da Indústria Brasileira
21
Introdução
22
Capítulo 1
o desempenhoda indústria no período entre1999 − 2006
23
1.1 Introdução
Neste capítulo apresentamos a análise conjuntural do desempenho da indústria brasileira para o período entre 1999
− 2006. A análise conjuntural é importante para identificar as principais características setoriais e macroeconômicas
que influenciaram a evolução da indústria brasileira. Os resultados que são apresentados neste capítulo servirão como
contraponto da importância de políticas públicas orientadas para o desenvolvimento sustentável da indústria.
É importante destacar também que os resultados deste capítulo subsidiam o debate sobre a evolução da indústria que,
em alguns casos, se ressentem de informações consolidadas para uma análise mais apurada das recentes transforma-
ções depois de um período de abertura comercial e, também, das alterações cambiais ocorridas no período.
Neste capítulo, seguimos uma metodologia comum de análise. Par a uma maior compreensão do período dividimos o
mesmo em três subperíodos, a saber: 1999 − 2002, 2003 − 2005, e, finalmente, 2006.
Depois da análise conjuntural de cada subperíodo, foi apresentada uma síntese de todo o período entre 1999 − 2006
assim como outros aspectos relevantes para o desempenho da indústria. Esta última seção será importante para contex-
tualizar o debate sobre o futuro da indústria no contexto econômico interno e externo atual.
1.2 o Período 1999 − 2002
A indústria brasileira apresentou, entre 1999 e 2002, um movimento de forte crescimento a partir do início de 2000,
que, entretanto, foi interrompido pelo racionamento de energia elétrica a partir do início de 2001 e por relativos pro-
blemas com a restrição externa. Assim, já no segundo semestre de 2001, o quadro foi de modesto crescimento, até o
final de 2002. Este desempenho pode ser visto nos gráficos 1 e 2.
24
Panorama da Indústria Brasileira
Fonte: Contas nacionais IBGE
1.2.1 a conjuntura econômica do período 1999 − 2002
No início de 1999, havíamos herdado de 1998 uma substancial retração da
demanda agregada, o que fortaleceu o caráter recessivo no curto prazo
da abrupta desvalorização cambial iniciada em janeiro. Outros fatores for-
taleceram conjunturalmente esse processo, entre eles: os elevados níveis
de inadimplência; a retração dos créditos interno e externo; e o aumento
da tributação, como parte das medidas anunciadas de ajuste fiscal no final
de 1998.
Grá�co 1Taxa de Crescimento (%) do PIB da Indústria
(Contas Nacionais referência 2000)
-3-2-1
0123456
1999 2000 2001 2002
25
o desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
No primeiro semestre de 1999, o Índice de Confiança
do Consumidor (ICC) apresentou uma melhoria a partir
de abril, o mesmo aconteceu com o Índice de Inadim-
plência do primeiro trimestre de 1999 contra o mesmo
período de 1998. Dois fatores parecem explicar esse
comportamento: variação na quitação dos débitos por
parte dos devedores que superou a variação da entrada
de novos carnês em atraso; e menor oferta de crédito
para consumo em função do aperto da política mone-
tária.
No final do primeiro semestre de 1999, o quadro evoluiu
da seguinte forma: ocorreu uma melhoria nos resultados
externos, especialmente nos fluxos de capital, além de
uma importante reversão na trajetória inflacionária –
estes dois fatores possibilitaram uma redução da taxa de
juros. Ao mesmo tempo, com o câmbio desvalorizado,
houve um aumento da produção doméstica de expor-
táveis, junto à queda das importações, devido ao arre-
fecimento da retração no nível de atividade interna. No
terceiro trimestre, o mês de agosto apresentou o primei-
ro crescimento positivo geral ante o mesmo mês do ano
anterior desde julho de 1998, ou seja, em agosto havía-
mos recuperado o nível de produção industrial do ano
anterior. Já no quarto trimestre de 1999, configurou-se
um quadro de recuperação do crescimento desde outu-
bro, aproximadamente.
O ano de 2000 manteve a tendência de crescimento
do final de 1999. Desde o primeiro trimestre houve pro-
gressiva redução da taxa de juros, melhoria das estatís-
ticas de emprego, redução do déficit comercial e uma
redução da inflação nos bens de consumo. Isto fez com
que o principal indutor do crescimento, que antes fo-
ram as exportações, passasse a ser a demanda interna.
O quadro do primeiro semestre de 2000 foi muito fa-
vorável: houve cortes nas taxas de juros no crédito ao
consumidor, ampliação no volume deste mesmo crédi-
to, queda na inadimplência do comércio, elevação do
nível de emprego e redução do risco-Brasil. Entretanto,
no segundo semestre, surgiram vários problemas na
economia internacional: volatilidade das bolsas de va-
lores, incertezas associadas à desaceleração do cresci-
mento norte-americano, preços do petróleo em níveis
recordes e a crise da Argentina. Esse quadro negativo
se ampliou com a manutenção dos preços das commo-
dities internacionais em níveis muito baixos e aumento
maior que o esperado das importações de intermedi-
ários, além dos bens de capital e de consumo – o que
em meados do segundo semestre já tornava as expec-
tativas quanto ao saldo comercial pessimistas.
Ao final de 2000, a taxa de investimento foi aquém do es-
perado – o que refletiu o fato do crescimento da produção
de bens de capital se dever muito a exportações –, de tal
forma que o consumo aparente2 de bens de capital se
expandiu pouco.
2 Consumo aparente de um bem: Produção Interna + Importações – Exportações.
26
Panorama da Indústria Brasileira
Em 2001, no primeiro semestre, ocorreu uma forte deterioração do contex-
to internacional, o que agravou o problema de restrição externa sugerido
no ano anterior. Além disso, houve pressão inflacionária dos preços agrí-
colas e, para terminar, a estiagem no ano contribuiu fortemente para ser
necessário o racionamento de energia elétrica. Tratou-se de um quadro de
forte choque negativo de oferta, que interrompeu o crescimento ocorrido
em 2000, derrubou as vendas no comércio e o índice de confiança tanto
dos empresários quanto do consumidor.
A nota positiva de 2001 se referiu ao importante resultado fiscal no superávit
primário (3,75%), tanto na União, quanto nos Estados e Municípios, que foi
devido ao excelente desempenho da arrecadação e à melhora do resultado
primário em nível estadual e municipal. Entretanto, devido à instabilidade
econômica, houve forte aumento da Dívida Líquida do Setor Público. O se-
27
o desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
tor de bens de capital cresceu significativamente no ano, entretanto devido
ao excepcional investimento em geração de energia elétrica e à demanda
agrícola.
Em 2002, o quadro de desaceleração continuou a ocupar a cena. O consu-
mo das famílias e o investimento deixaram de contribuir para o crescimen-
to e as exportações líquidas ocuparam esse papel. À incerteza do período
pré-eleitoral, adicionou-se a volatilidade do mercado financeiro e de divisas
(com desvalorização significativa do Real), além da aceleração inflacionária.
A conseqüente elevação da taxa de juros, a redução da oferta de crédito ao
consumidor, o aumento dos preços administrados e de alimentos – tudo isso
provocou a queda na renda real do trabalho, o que fez com que o consumo
das famílias caísse.
No que diz respeito ao desempenho externo no período 1999 − 2002, a ba-
lança comercial em 1999 teve seu desempenho baseado muito mais na re-
tração das importações (cerca de US$ 8,5 bilhões) do que na retração das
exportações (cerca de US$ 3,0 bilhões). Os principais grupos de produtos a se
retraírem nas exportações3 foram material de transporte e componentes, miné-
rios metalúrgicos (principalmente minério de ferro), produtos químicos, produ-
tos metalúrgicos (principalmente laminados planos de ferro e aço) e produtos da
soja. A retração das importações se deveu principalmente a: produtos alimen-
3 todos os setores citados de exportação e importação se referem a capítulos da Classificação Unificada de Co-mércio Internacional (CUCI) das nações Unidas, como divulgadas na Balança Comercial Mensal da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) do MdIC (Ministério do desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). nas referências ao desempenho externo não consideramos dados em quantum por não haver sua disponibilidade no detalhamento setorial desejado para serem comparados com os subsetores da PIM-IBGE.
28
Panorama da Indústria Brasileira
tícios em geral, ferro e aço, e com mais ênfase (cerca de 50% da retração) máquinas, e equipamentos de transporte. Nota-se
que a desvalorização cambial atuou em 1999 muito mais sobre a retração do consumo de bens duráveis importados
e a importação de bens de capital, do que sobre o estímulo das exportações. Deve-se ressaltar que o comportamento
em quantum das exportações no último semestre de 1999 já indicava uma recuperação em relação ao cenário pré-
desvalorização do câmbio.
No ano de 2000, as importações cresceram a uma taxa (13,22%) ligeiramente menor que a das exportações (14,73%),
deixando ainda um saldo comercial negativo e frustrando as expectativas de melhor desempenho comercial. Setorial-
mente, alguns grupos de produtos apresentaram significativa taxa de crescimento das exportações, como combustí-
veis e lubrificantes (124,71%), aparelhos e equipamentos para telecomunicações, gravação e reprodução de som (120,16%),
calçados (61,68%), fibras têxteis (50,51%) e plásticos em formas primárias (43,68%) – nota-se a ênfase em semimanufatu-
rados e manufaturados menos elaborados. Do lado das importações, destacou-se a taxa de crescimento de produtos
primários e intermediários, como petróleo e derivados de petróleo, e adubos e fertilizantes.
O ano de 2001 trouxe uma novidade: o saldo comercial positivo se deve a uma taxa de crescimento das exportações
e uma retração das importações (mesmo que pequena). O crescimento das exportações se deu basicamente devido a
exportações maiores de petróleo e derivados de petróleo (crescimento de 130,87%). Grupos de produtos como máquinas, e
material de transporte, ou artigos manufaturados diversos, cresceram a taxas modestas de cerca de 1,20%. E outros grupos,
como produtos químicos, apresentaram retração de exportações em torno de 8%. Notou-se que vestuário e calçados, an-
tes com grande crescimento de exportações, apresentaram taxas de crescimento modestas, 0,16% e 4,15%, respectiva-
mente – mesmo sem valorização do câmbio. A este respeito deve-se notar também que as importações destes produtos
cresceram em 2001 8,93% e 16,52%, respectivamente – já indicando certo problema de competitividade, mesmo em
ano de fraca expansão da renda. Neste ano de pouco crescimento, as importações se retraíram principalmente em pro-
dutos alimentícios (-14,23%) e combustíveis e lubrificantes (-6,83%), indicando um padrão diferente dos anos anteriores. O
único destaque mais importante de crescimento de importações se deu em máquinas e equipamentos geradores de força
(43,93%), certamente refletindo o esforço de poupança de energia elétrica no racionamento de 2001.
No ano de 2002 o saldo comercial se ampliou, devido a um tímido crescimento das exportações (3,67%), e uma forte
retração das importações. O desempenho das exportações foi devido ao significativo desempenho de combustíveis e
lubrificantes (41,04%), principalmente em petróleo e produtos derivados. Cabe o destaque ao importante desempenho
de ferro e aço (22,65%) e a retração de vestuário e calçados. Pelo lado das importações, petróleo e produtos derivados se
retraíram 12,20%, o que foi significativo devido a seu peso na pauta. Pelo lado dos bens intermediários houve retração
maior em ferro e aço (23,78%) e metais não ferrosos (23,75%). Mas houve retrações significativas também nos bens de
consumo como aparelhos e equipamentos para telecomunicação, gravação e reprodução de som (48,87%), além de veí-
culos automotores e tratores (30,31%).
29
o desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
Abordando o período 1999 − 2002 como um todo, notamos que as expor-
tações em todas suas modalidades apresentaram retração acumulada em
preço, como mostra o gráfico 3.
Fonte: Funcex.
De fato, a economia internacional apresentou fraco desempenho no perí-
odo, retraindo-se os preços mais dos produtos básicos (com maior percen-
tual de “comoditizados”), em seguida dos semimanufaturados e menos dos
manufaturados (com menor chance de serem “comoditizados”).
Entretanto, nossas exportações aumentaram em quantum, mais justamen-
te nos produtos básicos, depois nos semimanufaturados e menos nos ma-
nufaturados, como mostra o gráfico abaixo.
-30,00
-25,00
-20,00
-15,00
-10,00
-5,00
0,00Exportação Total Básico Semimanufaturados Manufaturados
Grá�co 2Variação em preço das exportações (%)
em 1999-2002
30
Panorama da Indústria Brasileira
Fonte: Funcex.
Abaixo apresentamos o comportamento de nossa pauta de exportação no
período.
Fonte: Secex.
31
o desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00Exportação Total Básico Semimanufaturados Manufaturados
Grá�co 3Variação em quantum das exportações (%)
em 1999-2002
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Grá�co 4Composição da Pauta de Exportaçnao (Valores FOB corrigidos pela IPA EUA)
1999
Básico Semimanufaturados Manufaturados Operações Especiais
2000 2001 2002
Notamos a maior participação dos manufaturados na pauta. Entretanto, deve-se notar que se
tratam de produtos na maioria de bens intermediários, como aço, derivados de petróleo, alu-
mínio, etc. Portanto, deve-se ressaltar a sensibilidade de nossas exportações ao crescimento
da economia internacional e às alterações de preço derivadas.
1.2.2 o desempenho setorial da indústria no período 1999 − 2002
O comportamento setorial da indústria apresentou certa diversidade segundo o complexo in-
dustrial analisado4. O movimento no complexo construção pode ser visto no gráfico abaixo.
Fonte: PIM-IBGE
Nota-se que no complexo construção o movimento foi de retração praticamente em todos os
anos, à exceção de artefatos de concreto em 2001.
O gráfico abaixo mostra a evolução de alguns setores importantes do complexo metal-me-
cânica.
4 no anexo encontra-se a relação dos setores de cada complexo industrial. também no anexo apresentamos a relação dos subsetores selecionados para constar nos gráficos apresentados de cada complexo ( já que seria visualmente confuso apresentar a evolução de todos os subsetores de cada complexo nos gráficos), junto a sua denominação nos gráficos e sua denominação correspondente pelo IBGE.
- 1 0
-8
-6
-4
-2
0
2
Grá�co 5Variação da Produção Anual (%)
Complexo Construção
2000 2001 20011999
Artefatos de concreto
Cimento e clínquer
32
Panorama da Indústria Brasileira
Fonte: PIM-IBGE
No primeiro semestre de 1999, os setores de maior peso de encadeamento no com-
plexo metal-mecânica mantiveram-se em retração. De fato, até abril, subsetores como
automóveis, caminhões e ônibus, inclusive motores e eletrodomésticos (tanto da “linha
branca” quanto da “linha marrom”) se retraíram em relação aos mesmos meses5 de
1998. O mesmo ocorreu com os subsetores metalúrgicos. A exceção ocorreu com os
subsetores construção e montagem de vagões ferroviários, inclusive reparação e cons-
trução e montagem de aeronaves, inclusive reparação, que se expandiram significati-
vamente nesse início de ano. Entretanto, esses são subsetores de pouca capacidade
de indução ao crescimento ao longo das cadeias. No terceiro trimestre do mesmo
ano, houve alguma recuperação, mas novamente não se configurou uma retomada
de toda indústria: apenas cadeias isoladas, ou subsetores isolados dentro de cada ca-
deia, apresentaram crescimento. Um fator auspicioso foi o começo de uma retomada
5 todas estatísticas de crescimento citadas no texto serão (salvo ressalva) do mês corrente em relação ao mesmo mês do ano anterior. não se fez, nas estatísticas mensais, correção contra a sazonalidade (apesar do crescimento em relação ao mesmo mês do ano anterior já ser menos vulnerável à mesma), devido ao fato do IBGE não apresentar esta correção ao nível de sub-setores e, além disso, devido à definição da metodologia de correção ser específica do IBGE, fazendo com que nossa correção (se efetuada) poder gerar conflito com as já efetuadas pelo IBGE.
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Grá�co 6Variação Produção Anual (%) Complexo Metal-Mecânica
2000 2001 20021999
Laminados de Aço
Eletrodomésticos “Linha Marrom”
Máquinas e EquipamentosIndustriais e Comercias
Automóveis
Eletrodomésticos“Linha Branca”
33
o desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
do crédito ao consumidor, que provavelmente ajudou no desempenho do
quarto trimestre. No quarto trimestre, configurou-se um quadro de recu-
peração do crescimento desde outubro, aproximadamente. A maior taxa
de crescimento foi devida aos bens de consumo duráveis (os maiores cres-
cimentos ocorreram na cadeia automotriz) e bens de capital (em especial,
máquinas e equipamentos para agricultura). Entretanto, no consolidado do
ano o resultado foi de retração. Esse comportamento da indústria ao final
de 1999 foi devido mais a uma iniciativa da oferta, que se alimentou, por
um lado, do arrefecimento da instabilidade na transição do regime cambial
devido à continuidade do ajuste fiscal, à perseguição da meta inflacionária
e ao acerto das intervenções cambiais ao longo do ano; e, por outro lado, ao
aumento, mesmo que tímido, das exportações líquidas nos últimos meses
do ano.
Já em 2000, ano da recuperação, a liderança do crescimento ocorreu nos
setores de bens duráveis e de capital do complexo metal-mecânica (vide
as elevadas taxas de crescimento anual no gráfico 6). Quanto ao comporta-
mento setorial, o mais importante a notar é que as cadeias líderes (bens de
34
Panorama da Indústria Brasileira
consumo duráveis e bens de capital), que antes apresentavam desempenho
relativamente desequilibrado, passaram a ter o crescimento difundido para
todos os subsetores no primeiro semestre. Esse comportamento de difusão
do crescimento ocorreu em geral para todos setores do complexo metal-
mecânica, inclusive a metalurgia (ferrosos e não-ferrosos). No segundo se-
mestre de 2000, os bens de consumo duráveis (junto secundariamente aos
bens de capital) continuaram a liderar o crescimento: com retração apenas
em eletrodomésticos da “linha branca” (deve-se notar que o crescimento de
máquinas e equipamentos foi mais forte naqueles com destino para a agri-
cultura, apesar daqueles com destino para a indústria também crescerem).
Em 2001, apesar do quadro adverso já descrito, no primeiro semestre ainda
houve um maior crescimento das cadeias automotriz e de eletrodomés-
ticos (e secundariamente de máquinas e equipamentos) no crescimento
– apesar de certos desequilíbrios pontuais. Mas dentro do complexo metal-
mecânica, já houve certo arrefecimento do crescimento (e até retração),
mais para o final do semestre, de setores importantes das cadeias de base
do complexo, como laminados de aço – o que já indicou retração futura no
35
o desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
curto prazo. No segundo semestre, o quadro foi de retração generalizada,
à exceção do subsetor máquinas e equipamentos para agricultura (devido à
safra agrícola recorde).
Em 2002, no complexo metal-mecânica, os setores mais dinâmicos, marca-
damente bens de consumo duráveis e bens de capital, apresentaram retra-
ção no primeiro semestre e uma reação no segundo, mais para os últimos
meses do ano, devido, contudo, a uma transferência das aplicações finan-
ceiras para ativos reais (já que os rendimentos reais haviam caído muito,
devido à aceleração inflacionária que, mais para o final do ano, devido à
desvalorização cambial, atinge os preços ao consumidor).
Sintetizando o desempenho do complexo metal-mecânica como um todo
no período 1999 – 2002, pode-se notar que houve oscilações muito fortes
em períodos de tempo muito curtos: retração em 1999 (eletrodomésticos da
“linha marrom”, por exemplo, apresentaram retração maior que 20%), para
expansão acentuada em 2000 (eletrodomésticos da “linha marrom” cresceram
anualmente quase 30%), estagnação em 2001 e expansão modesta associa-
da à retração leve em setores diferentes durante 2002 (quando fica claro um
quadro de crescimento desequilibrado das cadeias do metal-mecânica).
O gráfico abaixo mostra o desempenho do complexo têxtil no período
1999 – 2002.
Fonte: PIM-IBGE
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1 5
Grá�co 7Variação Produção Anual (%)
Complexo Têxtil
Têxtil de �bras naturais
Têxtil de �bras arti�ciais e sintéticas
Calçados
2000 2001 20021999
36
Panorama da Indústria Brasileira
No ano de 1999, o subsetor fiação e tecelagem de fibras artificiais ou sintéticas
se recuperou a partir do início do segundo semestre. Nesta mesma cadeia
o crescimento passou a ser mais homogêneo a partir de novembro, apesar
da cadeia de calçados ainda manter fraco desempenho. O ano de 2000 foi
de crescimento sincronizado de todo complexo e o de 2001 de retração
sincronizada. Já o ano de 2002 apresentou fortes desequilíbrios: o subsetor
têxtil de fibras naturais cresceu abruptamente, devido, em parte, à desvalo-
rização cambial que reduziu as importações de vestuário com suas fibras
e, por outro lado, devido à recuperação da produção de algodão nacional,
tendo os dois efeitos significado uma redução de 23,60% da importação6
de vestuário em geral durante 2002; já o setor de calçados se beneficiou
também da redução de importações (11,51%) com o câmbio desvalorizado;
contrastando com esses dois setores, os têxteis de fibras artificiais e sintéti-
cas se retraíram fortemente.
O gráfico abaixo mostra a evolução do complexo agroindústria.
Fonte: PIM-IBGE
6 os dados de importação ou exportação citados, exceto ressalva, são da Balança Comercial Mensal da Secex-MdIC nos suas seções e capítulos da CUCI (que relacionam os fluxos de comércio em US$), aproximadas para a classificação em subsetores da PIM-IBGE (ver em anexo a correspondência do subsetor IBGE no gráfico com o capítulo CUCI).
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Grá�co 8Variação Produção Anual (%)
Complexo Agroindústria
2000 2001 20021999
Açúcar
Óleo de soja
Abate de bovinose suínos
Arroz
Trigo
Álcool
37
o desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
Nos anos de 1999, 2000, 2001 e 2002, os setores da agroindústria oscilaram
em torno de um crescimento de produção relativamente constante, mas mo-
desto, que sugeriu a manutenção de um nível de consumo interno e expor-
tações com pouca alteração. A exceção foi o subsetor açúcar, que cresceu em
2001 impulsionado pelo preço internacional, e em 2002 pela desvalorização
cambial; ao mesmo tempo, o subsetor de óleo de soja apresentou forte cresci-
mento em 2002 impulsionado também pela desvalorização cambial7.
O gráfico abaixo mostra a evolução do complexo química.
Fonte: PIM-IBGE
Em 1999, o movimento geral do complexo química foi de crescimento de-
vido à desvalorização cambial que reduziu significativamente a importação
de seus produtos em relação a 1998 (os químicos orgânicos se reduzem em
6,86%, os inorgânicos em 7,86% e plásticos em formas primárias 9,64% no
acumulado do ano). Em 2000, houve uma continuidade desse crescimento,
acompanhando o crescimento do ano, particularmente em pneumáticos,
insumo da automobilística – um dos setores que lideraram o crescimento
no ano. Em 2001, ano do racionamento de energia elétrica, o complexo
7 dados do Instituto de Economia agrícola (São Paulo).
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-5
0
5
1 0
1 5
Grá�co 9Variação Produção Anual (%)
Complexo Química
2000 2001 20021999
Laminados de plásticos
Perfumaria
Artigos de limpeza
Petroquímicos básicose intermediários
Pneumáticos
38
Panorama da Indústria Brasileira
sofreu significativamente na maioria de seus setores, já que é um complexo
majoritariamente fornecedor de insumos para outros complexos e utiliza-
dor de energia elétrica. A exceção ficou por conta de setores como perfu-
maria, majoritariamente fornecedor de bens finais. Já em 2002 houve recu-
peração, mas de certa forma relativa a uma base de comparação baixa (o
ano de 2001) e uma nova redução das importações nos químicos orgânicos
(14,60%) em função de nova desvalorização cambial.
Em termos gerais, o período 1999 – 2002, como um todo, mostrou uma
evolução bastante instável do ponto de vista do desempenho da indústria:
em um período curto, alternaram-se retrações e expansões setoriais expres-
sivas, conjugadas a desequilíbrios importantes ao longo das cadeias de for-
ma geral. Entretanto, houve uma mudança estrutural importante e positiva,
ou seja, a disciplina fiscal do Estado, que contribuiu significativamente para
39
o desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
um quadro de relativa estabilidade econômica em meio a problemas com
forte potencial desestabilizador como a escassez de energia elétrica.
1.3 o período 2003 – 2006
O período 2003 – 2006 se iniciou com uma expansão da produção indus-
trial baixa ou nula, fruto de políticas monetária e fiscal rígidas necessárias
para conter os efeitos inflacionários da elevada desvalorização cambial do
final de 2002 e para buscar maior consistência fiscal às políticas públicas a
implementar, junto à melhora de nossa inserção internacional. O ano de
2004 foi de elevada expansão da produção e o de 2005 de acomodação,
dada a necessidade de investimentos ainda não efetivados para dar susten-
tação e equilíbrio à trajetória de crescimento. O ano de 2006 praticamente
reproduziu o desempenho da indústria em 2005.
Os dois gráficos abaixo resumem o desempenho nestes quatro anos.
Fonte: IBGE.
01
234
567
89
Grá�co 10Taxa de Crescimento (%) do PIB da Indústria
(Contas Nacionais referência 2000)
2003 2004 2005 2006
40
Panorama da Indústria Brasileira
Após uma breve síntese da evolução da política econômica no período,
passaremos para o detalhamento do comportamento setorial da indús-
tria.
1.3.1 A conjuntura econômica do período 2003 – 2005
O novo governo herdou um quadro de forte instabilidade, ao qual reagiu
com medidas fortemente contracionistas, mas necessárias: aumento da
meta de superávit primário de 3,75% para 4,25% do PIB, elevação da taxa
de juros de 25% para 26,5% ao ano e aumento do compulsório bancário de
45% para 60%. Respondendo a esse conjunto de medidas, o risco-Brasil re-
cuou sistematicamente no primeiro semestre e a taxa de câmbio também,
apesar de não tanto – provavelmente em função de um cenário interna-
cional adverso, advindo da iminência da guerra do Iraque e o aumento dos
preços do petróleo.
No primeiro semestre, o desempenho da indústria esteve ligado às expor-
tações, entretanto sem configurar um quadro de retomada do crescimento.
Não surpreendentemente, no segundo semestre se configurou um quadro
de retomada do crescimento na indústria. A exemplo da retomada de 2000,
o primeiro impulso foi devido ao aumento das exportações, com auxílio do
aumento do crédito, quando a política monetária já se tornava menos rígi-
da, função do melhor comportamento da inflação. Além disso, os setores
que lideraram a retomada foram os de bens de consumo duráveis e bens
de capital. O investimento baseou-se, em 2003, em aumento da produção
41
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
de máquinas e equipamentos, sem significativa
contribuição da construção, que apresentou de-
sempenho retraído. Além disso, a expansão da
produção de bens de capital se destinou princi-
palmente à exportação, sem a contrapartida das
importações.
O ano de 2004 iniciou com uma pequena turbu-
lência no crescimento da indústria, aproximada-
mente em fevereiro, mas depois houve uma con-
solidação do crescimento iniciado no segundo
semestre de 2003.
42
Panorama da Indústria Brasileira
43
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
No primeiro semestre de 2004, dois movimentos foram importantes. Primeiro, o significativo crescimento veio ainda
principalmente do desempenho das exportações líquidas. As importações cresceram fortemente e, por outro lado, o
emprego e a renda familiar se recuperaram significativamente – o que levou, como veremos a seguir, a demanda inter-
na passar a ocupar papel importante, e eventualmente principal, na dinâmica dos determinantes do crescimento. Além
disso, o nível de utilização da capacidade instalada aumentou significativamente, gerando dúvidas sobre a viabilidade
do crescimento pelo lado da oferta (o nível de utilização era o maior desde 1997). A essa altura do ano, algumas cons-
tatações amenizaram as preocupações: o consumo aparente de bens de capital cresceu em relação ao ano anterior,
sinalizando que o crescimento da produção interna de bens de capital não se direcionou às exportações a ponto de
não fortalecer o investimento.
No segundo semestre de 2004, a economia continuou em crescimento, fruto do acerto da política macroeconômica
de austeridade fiscal e do contexto internacional de crescimento. De fato, a relação dívida pública em relação ao PIB
caiu, o mesmo aconteceu com a relação dívida externa em relação às exportações. Essas duas reduções sinalizaram
um contexto de risco menor, necessário à resolução dos problemas engendrados em 2002. Além disso, em 2004 a
economia se beneficiou de um contexto internacional de maior liquidez. Dessa forma, houve crescimento econômico
sem a transferência de produção da exportação para o mercado interno. Esboçava-se em 2004 a solução, pelo menos
momentânea, dos dois problemas estruturais herdados do desempenho entre 1993 e 1998: o desequilíbrio fiscal e da
balança comercial.
No saldo de 2004, observou-se um crescimento setorial da indústria (apesar de não totalmente, devido à cadeia pe-
troquímica e à têxtil) muito homogêneo. Esse fato não ocorreu em todas as etapas de crescimento desde o início
44
Panorama da Indústria Brasileira
da década de 1990. Houve uma conjunção favorável
de taxa de câmbio, crescimento do mercado interna-
cional e, depois, interno, disciplina fiscal e chance de
crescimento de utilização de capacidade instalada sem
problemas de oferta e impactos inflacionários. A maior
taxa de crescimento foi dos bens de consumo duráveis
e, em menor monta, dos bens de capital.
O problema do nível de utilização de capacidade levou
a política monetária, desde o último trimestre de 2004,
a elevar a taxa de juros. De fato, o ritmo de expansão
da capacidade instalada, apesar de vir aumentando, era
ainda insuficiente para repetir a taxa de crescimento da
economia, ocorrida em 2004, sem perigo de ultrapassar
a meta inflacionária.
O quadro geral de 2005 foi de uma generalizada desa-
celeração do crescimento de todas as cadeias e o apa-
recimento nessas de desequilíbrios ao longo do ano.
No segundo semestre, o quadro não se alterou, ou seja,
a indústria manteve seu desempenho de crescimento
moderado, com oscilações positivas e negativas ao lon-
go do ano. A maior taxa de crescimento continuou sen-
do dos bens de consumo duráveis, apesar de com um
ímpeto menor. Esse último comportamento sinalizava
que a trajetória de crescimento, apesar de mais modes-
ta, não tendia a uma desaceleração recessiva.
No fechar do ano, pode-se perceber que os desequilí-
brios estruturais relacionados às questões fiscais e da
restrição externa haviam sido contornados, pelo menos
no médio prazo. Entretanto, deviam-se considerar dois
aspectos importantes dinamicamente.
Primeiro, o investimento na indústria não decolou,
como desejado. Esse problema foi extremamente com-
plexo e recorrente. De fato, desde o início da década de
1980 ele se apresentou.
O segundo ponto foi o seguinte: a questão da restrição
externa pareceu fortemente ligada ao aprofundamen-
to do conteúdo tecnológico de nossas exportações. De
fato, tal aprofundamento tornou nossas exportações
mais dinâmicas e sustentáveis.
Hoje, apesar do bom desempenho recente, depen-
demos muito dos preços internacionais e somos es-
pecialistas em bens de mediano ou baixo conteúdo
tecnológico. Muitas nações desenvolvidas e em vias de
desenvolvimento no mundo apresentam um esforço
em aprimoramento tecnológico decisivo – no Brasil,
entretanto, ele é ainda recente, apesar de termos hoje
já um arcabouço legal que, para dar frutos palpáveis,
necessita de persistência, pois seus resultados só ocor-
rem a médio e longo prazos.
Analisando o comércio internacional brasileiro em
2003, nota-se que se ampliou a diferença positiva entre
45
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
o crescimento das exportações e o das importações: 21,08% e 2,16%, respectivamente. Nota-se ainda que, apesar de se
manterem as proporções entre as três categorias de produtos exportados do período entre 1999 – 2003, em 2003 as ta-
xas de crescimento das mesmas é muito semelhante, ou seja, em torno de 20%. Os principais produtos na performance
exportadora (tanto na participação quanto na taxa de crescimento) foram sementes e frutos oleaginosos (crescimento de
41,64%), minérios e desperdícios de metais (17,76%), petróleo e derivados de petróleo (28,60%), pasta de celulose (50,22%),
e ferro e aço (29,24%) – ou seja, na maioria produtos demandados como básicos e intermediários pela recuperação
da economia mundial. Entretanto, o bom desempenho se estendeu também bens de capital e veículos: máquinas e
aparelhos geradores de força (taxa de crescimento de 24,26%), máquinas especiais para indústria (48,41%), máquinas e
equipamentos industriais diversos (27,39%), e veículos automóveis, tratores, etc. (34,12%). O desempenho destes últimos
setores foi o responsável pelo início do crescimento da indústria em 2003. O setor de vestuário exportou mais 34,34%
em relação ao ano anterior, mas calçados apenas 6,98%. Quanto às importações, nota-se que neste ano importou-se
menos de petróleo e derivados de petróleo (taxa de crescimento de apenas 5,39%), mas manteve-se a compra de adubos
e fertilizantes (39,36%). Além disso, a importação de bens de consumo duráveis aumentou 49,1%.
No ano de 2004, as exportações ampliaram um pouco seu crescimento (32,01%), mas as importações também (30,01%),
ao contrário do ano anterior, quando as importações cresceram proporcionalmente pouco. Esse aumento das impor-
tações foi devido, principalmente, a bens intermediários ou básicos, como minérios e desperdícios de metais (taxa de
crescimento de 105,30%), petróleo e derivados de petróleo (57,19%), e adubos e fertilizantes (51,19%). Nota-se que a im-
portação de bens de capital não teve crescimento alto, mas apenas mediano (17,2%), apesar de em 2003 ter crescido
apenas 4,1%. Vestuário aumentou suas importações em 42,34% e calçados em 33,56%, apesar do câmbio ainda pouco
valorizado. Quanto às exportações, ocorreu crescimento semelhante tanto nos básicos, quanto nos semimanufatura-
dos e manufaturados, a exemplo do ano anterior. Alguns grupos de produtos se destacaram na pauta de exportação:
carne e preparados de carnes (crescimento de 50,42%), sementes e frutos oleaginosos (26,32%), cortiça e madeira (40,23%),
minérios e desperdícios de metais (42,55%), petróleo e derivados de petróleo (16,88%), e plásticos em formas primárias
(31,38%). Houve elevada exportação de produtos importantes do complexo metal-mecânica: ferro e aço (42,34%), veí-
culos automóveis, tratores, etc. (37,51%), outros equipamentos de transporte (122,96%) e máquinas em geral (35,95%). Já o
crescimento da exportação de vestuário (18,07%) e calçados (17,05%) não foi significativo, apesar do câmbio favorável.
Deve-se enfatizar que, em 2004, houve três tendências importantes no quadro das exportações brasileiras: diversifica-
ção de produtos, de destinos, além de crescimento do PIB (esse último fato é praticamente inédito).
O ano de 2005 mostrou um resultado interessante da balança comercial: as exportações continuaram a crescer sig-
nificativamente (22,63%) e mais que as importações (17,06%), em ano de valorização cambial forte. Outro aspecto
interessante é que a importação de bens de capital apresentou a maior taxa de crescimento da pauta (26,9%), além de
ter sido maior que a de 2004. Para esse último comportamento certamente contribuíram tanto o câmbio valorizado –
que tornou os bens de capital importados mais acessíveis, quanto a menor taxa de crescimento do PIB – que reduziu
46
Panorama da Indústria Brasileira
47
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
a importação de produtos intermediários no curto prazo (no médio prazo
pode ter ocorrido substituição dos bens intermediários nacionais pelos im-
portados, devido ao câmbio favorável). A taxa de crescimento das expor-
tações foi, entretanto, menor que a do ano anterior. Para tal contribuíram
principalmente a retração das exportações dos seguintes produtos: alimen-
tos preparados para animais (-11,87%), sementes e frutos oleaginosos (-0,93%)
e outros equipamentos de transporte (-19,89%), entre outros produtos de
menor expressão (nota-se que esses grupos de produtos haviam crescido
fortemente em 2004). As contribuições para o crescimento das exporta-
ções vieram praticamente de todo restante da pauta, nos seguintes grupos
de produtos principalmente: carne e preparados de carnes (31,21%), açúca-
res, preparações de açúcar e mel (43,88%), minérios e desperdícios de metais
(51,30%), petróleo e derivados de petróleo (59,89%), plástico em formas primá-
rias (38,49%), produtos químicos orgânicos (32,36%), ferro e aço (27,78%), e ve-
ículos automóveis, tratores, etc. (39,08%). Deve-se notar que vestuário, no ano
anterior com crescimento de exportações, apresentou retração de 0,44%.
E calçados expandiu exportações fracamente: 4,24%. Já as importações se
aceleraram devido ao crescimento de produtos intermediários e veículos.
De fato, as importações de petróleo e produtos derivados cresceram 19,08%;
de plástico em formas primárias 24,74%; de plástico em formas não primárias
11,01%; de manufaturas de borracha diversas 32,74%; de ferro e aço 59,56%; e
de veículos automóveis, tratores, etc. 34,91%. Nota-se que o crescimento das
48
Panorama da Indústria Brasileira
importações de vestuário (49,24%) e calçados (69,58%) continuaram altas,
como no ano anterior. É interessante observar que a valorização do câmbio
atingiu, em termos de peso na pauta, as cadeias de base dos complexos
metal-mecânica e química, justamente aquelas que apresentavam maiores
problemas de utilização de capacidade produtiva.
1.3.2 O desempenho setorial do período 2003 – 2005
O gráfico abaixo mostra o desempenho do complexo construção.
Fonte: PIM-IBGE
No primeiro semestre de 2003, notamos que o complexo construção teve
um quadro de forte retração em cimento e clínquer (14,20%), o que não
ocorreu em artefatos de concreto. No segundo semestre do mesmo ano,
a retração atingiu o setor por completo. Certamente se tratou, na ausência
de linhas de crédito ativas para o setor, de um efeito derivado da queda
de renda real que a desvalorização cambial trouxe, além do problema do
emprego, que ainda não melhoram.
No primeiro semestre de 2004, o complexo construção se expandiu forte-
mente, com destaque para artefatos de concreto, que cresceu 6,94%. Atuou
-2 0
-1 5
-1 0
-5
0
5
1 0
1 5
Grá�co 11Variação Produção Anual (%)
Complexo Construção
2004 20052003
Cimento e clinquer
Artefatos de concreto
49
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
nesse movimento a recuperação da massa salarial e do emprego. Durante
o segundo semestre o complexo da construção continuou em crescimento
(inclusive, acentuado), com seus três principais subsetores (extração de mi-
nerais não-metálicos, artefatos de concreto, cimento e fibrocimento, e cimento
e clínquer) em forte crescimento.
O quadro geral de 2005, no complexo construção, foi de desaceleração do
crescimento, que se acomodou em um patamar menor que o de 2004. Por
exemplo, o subsetor cimento e clínquer manteve o crescimento e até o am-
pliou em relação ao ano anterior (o que é um indicador favorável ao desem-
penho do setor construção civil), mas extração de minerais não-metálicos,
mais na base da cadeia, desacelerou. A mesma desaceleração aconteceu
com artefatos de concreto, cimento e fibrocimento. Portanto, tratou-se de um
contexto em que o complexo como um todo desacelerou, e alternou movi-
mentos mensais de maior atividade com outros de retração.
O gráfico abaixo mostra a evolução do complexo metal-mecânica.
Fonte: PIM-IBGE
-1 5
-1 0
-5
0
5
1 0
1 5
2 0
2 5
3 0
Grá�co 12Variação Produção Anual (%) Complexo Metal-Mecânica
2003 2004 2005
Automóveis
Eletrodomésticos“Linha Marrom”
Eletrodomésticos“Linha Branca”
Máquinas e EquipamentosIndustriais e Comercias
Laminados de Aço
50
Panorama da Indústria Brasileira
No complexo metal-mecânica, durante o primeiro se-
mestre de 2003, apenas os bens intermediários, princi-
palmente os metalúrgicos, apresentaram crescimento,
o que provavelmente indicou encomendas para uma
reação no segundo semestre, mas, principalmente,
maiores exportações antes da relativa valorização cam-
bial. Sob esse aspecto, o subsetor de laminados de aço
cresceu 9,48% no primeiro semestre, com as exporta-
ções de ferro e aço crescendo 29,24% em 2003. Há clara
retração nos setores de maior capacidade de encadea-
mento para frente e para trás, à exceção de máquinas e
equipamentos para fins industriais e comerciais (cresceu
6,17% no primeiro semestre), o que indicou que o reiní-
cio do crescimento ainda não ocorrerá. Isto só ocorreu
no segundo semestre, principalmente através dos se-
tores de eletrodomésticos da “linha branca” e “linha mar-
rom”, máquinas e equipamentos para fins industriais e co-
merciais e automóveis. A contribuição das exportações
para esse desempenho ocorreu mais em máquinas
e equipamentos industriais e comerciais e automóveis.
Aqui, tanto pela magnitude do crescimento setorial,
quanto pela importância dos setores na indução inter-
setorial de crescimento e pela homogeneidade setorial
da reação, já se configurou uma retomada, novamen-
te com uma maior taxa de crescimento do complexo
metal-mecânica.
No primeiro semestre de 2004 configurou-se um
comportamento ímpar em toda indústria. O comple-
xo metal-mecânica foi aquele em que a maioria das
cadeias cresceu significativamente desde janeiro, em
taxas expressivas, configurando uma clara liderança da
expansão da indústria. Dentro do complexo, as cadeias
que mais cresceram desde janeiro foram as de bens
de consumo duráveis, ou seja, as cadeias automotriz
(principalmente essa) e de eletrodomésticos. A cadeia
de máquinas e equipamentos também teve desempe-
nho excelente. Essa última cadeia representou os bens
de capitais, nas suas diversas modalidades – havendo
crescimento em todas elas, ou seja, bens de capital
para agricultura, para geração e distribuição de energia
elétrica, para fins industriais, e para extração mineral e
construção. Dentro dessa última cadeia, os subsetores
com maior dinamismo foram os de extração e constru-
ção, e para fins industriais, nessa ordem. Finalmente, a
metalurgia básica, tanto de ferrosos quanto de não-fer-
rosos, cresceu desde janeiro, apesar de taxas menores,
entretanto, expressivas para esses setores. Cabe desta-
car o excelente desempenho da indústria naval, que há
anos experimentava retração.
No segundo semestre de 2004, a maior taxa de cres-
cimento continuou a ser das cadeias automotriz e de
eletrodomésticos do complexo metal-mecânica. A ca-
51
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
deia de máquinas e equipamentos, produtora de bens de capitais, continuou em forte crescimento como no primeiro
semestre, à exceção dos bens de capital para a agricultura, por questões sazonais. As cadeias de metalurgia básica
apresentaram comportamento semelhante às do primeiro semestre.
O quadro do complexo metal-mecânica, no primeiro semestre de 2005, foi ligeiramente peculiar. Por um lado, as cadeias
de bens de consumo duráveis continuaram claramente liderando a expansão (agora amortecida) da indústria (crescimen-
to de automóveis, por exemplo, de 17,09% no semestre). Esse desempenho sinalizou, já no primeiro semestre de 2005,
que a política monetária mais restritiva não levaria a uma interrupção da expansão iniciada em meados de 2003. Por outro
lado, dentro das cadeias de bens de consumo duráveis, a maior expansão ocorreu na cadeia automotriz. Apesar disso, o
subsetor de carrocerias e reboques se retraiu. Os demais setores dessa cadeia apresentaram crescimento mensal muito
alto e contínuo em praticamente todos os meses. Já na cadeia de eletrodomésticos, o desempenho foi bom, apesar de
mais oscilante. Os eletrodomésticos da “linha branca” apresentaram o pior desempenho, devido a restrições quantitativas
temporárias de importação dos produtos brasileiros impostos pela Argentina. O subsetor de material eletrônico e aparelhos
de comunicação apresentou forte expansão em todos os meses, devido principalmente à intensa produção de celulares.
A cadeia de máquinas e equipamentos também apresentou forte desempenho em todos os setores, exceto em bens de
capital para a agricultura. O desempenho desse segmento refletiu a piora dos preços relativos para produtos agrícolas, de-
vido à valorização cambial. Finalmente, os setores de base do complexo (a metalurgia) tiveram desempenho semelhante
ao dos setores de base do complexo química, apesar de mais intenso: retração contínua no primeiro semestre, refletindo o
aumento das importações (câmbio mais favorável à importação) e aliviando o problema de capacidade instalada elevada.
No segundo semestre, o complexo metal-mecânica teve um comportamento heterogêneo nas suas cadeias. Por exem-
plo: o subsetor de automóveis continuou a crescer, mas eletrodomésticos da “linha branca” se retraiu fortemente, o mesmo
aconteceu com o subsetor de laminados de aço, ambos pelos motivos já expostos.
52
Panorama da Indústria Brasileira
O gráfico abaixo mostra o desempenho do complexo têxtil.
Fonte: PIM-IBGE.
No ano de 2003 – cuja reação da renda interna, emprego e das vendas no
varejo ocorreram mais para o fim do segundo semestre –, o complexo têxtil
produtor principalmente de bens-salário, apresentou retração (este movi-
mento não foi devido ao aumento significativo da importação de calçados
e vestuário, como ocorreu mais à frente).
O comportamento de 2004 neste mesmo complexo foi praticamente o
inverso: a taxa de desemprego caiu principalmente depois de maio, o em-
prego industrial cresceu principalmente depois de abril e a folha de paga-
mento real da indústria cresceu fortemente durante todo o ano de 2004. O
crescimento do mercado foi tão forte que anulou e mais que compensou
o crescimento da importação de vestuário em 42,34% e de calçados em
33,56%. Assim, como vemos no gráfico acima, a produção de todos setores
do complexo se expandiu significativamente.
No ano de 2005, quando o câmbio começou a se valorizar e a taxa de cres-
cimento da economia brasileira e da indústria passou a um patamar me-
nor em relação ao ano anterior, as cadeias do complexo têxtil passaram a
apresentar retração no acumulado do ano. Esse movimento não foi devi-
do, apenas, a um recrudescimento do crescimento das importações, que
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Grá�co 13Variação Produção Anual (%)
Complexo Têxtil
2003 2004 2005
Têxtil de �brasari�ciais e sintéticas
Calçados
Têxtil de �bras naturais
53
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
cresceram em patamares semelhantes aos de 2004: 49,24% em vestuário
e 69,58% em calçados. E também não foi exclusivamente a uma retração
única das exportações, que cresceram pouco ou se mantiveram no mesmo
nível de 2004. O resultado sugere que houve uma perda de espaço, frente
ao crescimento menor de 2005, no mercado interno, para importações que,
como já dissemos, vinham em nível significativo antes da valorização cam-
bial mais significativa de 2005 em diante.
O gráfico abaixo mostra o desempenho do complexo agroindústria.
Fonte: PIM-IBGE.
O movimento do complexo agroindústria é derivado, por um lado, do fato
de ser produtor de bens-salário e também de bens de significativa inelas-
ticidade-renda e, além disso, pelo fato do período apresentar um compor-
tamento, primeiro, de recuperação, depois, de forte crescimento, seguido
de acomodação a uma taxa menor. Assim, os produtos desse complexo,
geralmente, não puxam o crescimento (sua estrutura é tal que gera impac-
tos intersetoriais relativamente fracos e direcionados praticamente apenas
para a agropecuária) e se mantêm, durante o ciclo, num nível intermediário
de crescimento, acompanham o desempenho da massa salarial real e do
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Grá�co 14Variação Produção Anual (%)
Complexo Agroindústria
2003 2004 2005
Abate de Bovinose Suínos
Açúcar
Óleo de Soja
Arroz
Trigo
Álcool
54
Panorama da Indústria Brasileira
emprego. Contudo, esse acompanhamento geralmente apresenta menos
volatilidade que o do complexo têxtil.
Assim, o desempenho de 2003 – 2005 mostrou uma expansão da produção
positiva de todos os setores até 5% anual. As exceções ocorreram em dois
momentos: em abate de animais, que se expandiu fortemente em 2004 e
açúcar, que se retraiu fortemente em 2005. O comportamento do primei-
ro provavelmente foi devido à melhoria substantiva do emprego durante
2004, com a demanda se expandindo para bens relativamente mais caros.
O comportamento do segundo se relaciona ao fato de que a exportação
de açúcar bruto cresceu exponencialmente entre 2004 e 2005 (função da
melhoria substancial de preço internacional), enquanto a do refinado se ex-
pandiu timidamente – ou seja, como nosso índice de produção se referiu
mais ao açúcar refinado, ele se retraiu no período devido à maior produção
do açúcar bruto para exportar.
O gráfico abaixo mostra o movimento do complexo química.
Fonte: PIM-IBGE.
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Grá�co 15Variação Produção Anual (%)
Complexo Química
2004 20052003
Laminados de Plásticos
Perfumaria
Artigos de limpeza
Petroquímicos Básicose Intermediários
Pneumáticos
55
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
Em 2003, os subsetores do complexo química mantiveram
um comportamento semelhante aos do metal-mecânica.
Esse é o segundo complexo de maior capacidade de en-
cadeamento para frente e para trás, o que nos leva a con-
siderar que, em 2003, a liderança do crescimento não foi
apenas do metal-mecânica, mas também de química. O
ano de 2004 foi de crescimento forte e homogêneo para
a maioria dos setores do complexo química. Entretanto,
em 2005 sua retração foi de cerca de 4,95% do consumo
aparente8. Como mostra o gráfico 15, a retração atingiu
menos produtos finais da química. Entretanto, em 2005
o complexo química perdeu a capacidade de ser líder do
crescimento (com desempenho menor que em 2004), o
que não acontece com o metal-mecânica. O complexo
química sofreu (nas suas cadeias em geral) de uma capa-
cidade produtiva insuficiente para o volume da demanda
interna, o que o tornou fortemente importador. Assim, em
2004 as importações produtos químicos e produtos conexos
cresceram em dólares cerca de 31,78%, e em 2005 cerca de
5,86%. Nota-se, portanto, que o câmbio mais valorizado de
2005 não foi problema para sua produção interna, ou seja,
sua retração foi devida, provavelmente, à queda do nível
de atividade em 2005 em relação a 2004.
Em termos gerais, o período 2003 – 2005, apresentou um
desempenho sem grandes reversões de tendência de cres-
cimento industrial. O arrefecimento do crescimento após
2003 não configurou uma reversão abrupta como em 2001
em relação a 2000. O que ocorreu foi um abrandamento da
dinâmica industrial, mas manteve as mesmas característi-
cas setoriais gerais dos anos de melhor desempenho.
8 Ver Relatório Anual de 2005 da ABIQUIM (Associação Brasileira da Indústria Química).
56
Panorama da Indústria Brasileira
1.4 O desempenho da indústria em 2006
A principal novidade para a indústria desde os primeiros
meses de 2006 foi o início da redução das taxas de juros
públicos desde o último trimestre de 2005, feita pelo Banco
Central. Esse procedimento ocorreu devido à boa situação
brasileira do ponto de vista internacional (queda do risco-
país) que, mesmo com rumores de redução do crescimen-
to da economia mundial e possíveis pressões inflacionárias
nos EUA, permitiu alívio de fatores inflacionários internos.
O nível de utilização de capacidade na indústria no pri-
meiro trimestre9 não inspirava preocupações: 83,4% na
indústria de transformação em abril, e 86,5% para bens
intermediários (dados da FGV-RJ). A FBCF (Formação Bru-
ta de Capital Fixo) cresceu a partir do segundo trimestre,
principalmente devido ao crescimento da construção civil,
e da produção e importação de máquinas e equipamen-
tos. A demanda interna em geral continuou aquecida com
crescimento significativo do varejo (em relação ao mesmo
mês do ano anterior) em janeiro, fevereiro e março (6,53%,
5,74% e 2,98%, respectivamente – dados do IBGE). Quan-
to à demanda externa, esta cresceu significativamente no
primeiro trimestre, mas iremos detalhar isso pelo desem-
penho setorial.
No complexo construção, a produção física de “cimento e
clínquer” cresceu (em relação ao mesmo mês do ano ante-
rior) significativamente em janeiro, fevereiro e março: 9,3%,
10,5% e 12,8% respectivamente. Esse desempenho, por sua
9 As estatísticas mensais de Balança Comercial se referem ao desempenho mensal de importação e exportação, dos capítulos CUCI, em relação ao mesmo mês do ano anterior. Não consideramos estatísticas em quantum de importações e exportações porque não estão disponíveis no detalhamento setorial próximo aos subsetores da PIM-IBGE requerido.
57
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
vez, foi devido ao crescimento da construção civil. Esta entrou, ao longo do
trimestre, numa trajetória clara de crescimento, reagindo positivamente às
várias medidas de incentivo ao longo de 2005, entre as quais se destacou a
redução de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre insumos da
construção e a nova Lei 10.971 que criou a alienação fiduciária no caso de
imóveis – o que, no último caso, levou a uma forte elevação do volume de
operações contratadas pelos agentes do SBPE (Sistema Brasileiro de Pou-
pança e Empréstimo).
Fonte: PIM-IBGE.
Na cadeia automotriz do complexo metal-mecânica, a produção física de
automóveis cresceu significativamente (um crescimento mensal em relação
ao mesmo mês do ano anterior da ordem de 10%), fruto em parte do cresci-
mento da demanda interna, mas também devido ao bom desempenho ex-
terno: as exportações cresceram nos três primeiros meses (38,54%, 30,99%
e 21,22% em janeiro, fevereiro e março, respectivamente, contra mesmo
mês do ano anterior) a taxas mais altas que as importações (20,6%, -1,7%
e 17,8%, também respectivamente). Os eletrodomésticos da “linha marrom”
cresceram ainda mais fortemente no primeiro trimestre, como pode ser
visto no gráfico 17. Já o crescimento de eletrodomésticos da “linha branca”
se concentrou nos dois primeiros meses do ano. De qualquer forma, no
primeiro trimestre esse desempenho refletiu dois fatores: queda significa-
tiva dos juros dos empréstimos ao consumidor, junto ao alongamento dos
prazos dos financiamentos, e crescimento das vendas no varejo do 11,1%
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Grá�co 16Complexo Construção
Variação Produção Física em relação a mesmo mês do ano anterior (%)
jan/06 fev/06 mar/06
Cimento e Clínquer
Artefatos de Concreto
58
Panorama da Indústria Brasileira
em relação ao primeiro trimestre de 2005. Já os laminados de aço mostra-
ram retração, em parte devido a uma forte importação (o item de ferro e aço
mostraram importação em relação a mesmo mês do ano anterior de 72,3%,
43,8% e 66,5% em janeiro, fevereiro e março, respectivamente). No caso de
máquinas e equipamentos industriais e comerciais, notamos um crescimento
bem modesto, pois a produção interna de máquinas e equipamentos este-
ve destinada principalmente a máquinas para energia elétrica, construção e
uso misto, com queda nas máquinas agrícolas.
Fonte: PIM-IBGE.
No complexo têxtil, observamos no primeiro trimestre uma novidade: a têxtil
de fibras naturais passou a mostrar crescimento de produção física (em rela-
ção ao mesmo mês do ano anterior) a partir de fevereiro, apesar de modes-
to (4,0% em fevereiro e 6,4% em março). Entretanto, o mesmo não acontece
em relação à têxtil de fibras artificiais e sintéticas, que se retraiu praticamente
durante todo trimestre. De fato, a importação de vestuário cresceu (também
em relação ao mesmo mês do ano anterior) 57,9% (janeiro), 66,29% (feve-
reiro) e 37,8% (março). Estes movimentos levaram-nos a concluir por uma
maior sensibilidade da têxtil de fibras artificiais e sintéticas às importações
que a têxtil de fibras naturais. Já a Produção Física de calçados também se
retraiu, em grande parte devido à forte importação: crescimento de 74,5%
(janeiro), 46,67% (fevereiro) e 46,6% (março). Este complexo é o mais frágil à
ja n /0 6 f e v /0 6 m a r /0 62 01 0
01 02 03 04 05 06 0
Grá�co 17Complexo Metal-Mecânica
Variação Produção em relação a mesmo mês do ano anterior (%)
Eletrodomésticos da “Linha Marrom”
Eletrodomésticos da “Linha Branca”
Automóveis
Laminados de Aço
Máquinas e Equipamentos Industriaise Comercias
59
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
concorrência externa, apresentando retrações recorrentes quando a massa
salarial se mostrou em expansão.
Fonte: PIM-IBGE.
No complexo agroindústria, os desempenhos foram desiguais. Abate de
bovinos e suínos, em boa parte pela desaceleração da exportação de car-
nes e preparados de carnes (cresceu 29,64% em janeiro, 6,30% em fevereiro
e 5,13% em março) se mantiveram sem crescimento apesar de alimentos
para animais, na base da cadeia, apresentarem crescimento e indicarem
destino de insumos para abate de aves e/ou futuro consumo na produção
de bovinos e suínos. Já óleo de soja, da mesma forma, apresentou pratica-
mente manutenção de produção física nos dois primeiros meses e retração
no terceiro, inclusive sem incremento de exportação no trimestre (as ex-
portações de óleos e gorduras de origem vegetal caíram 23,74% em janeiro,
32,55% em fevereiro e 14,08% em março). Ao mesmo tempo a exportação
de sementes e frutos oleaginosos, que inclui soja em grão, acumulou recor-
des de crescimento, o que levou à conclusão de que nossa inserção externa
se desempenhou melhor no grão que no óleo. Além disso, pode-se notar
que alimentos mais baratos, como em arroz, se recuperaram ao longo do
trimestre, sugerindo acompanhamento da melhoria da massa salarial e do
emprego. Este complexo se assemelha ao têxtil, pois foi bastante afetado
pelo crescimento do poder aquisitivo, mas em parte refletiu a inserção ex-
-1 0-8-6-4-202468
Grá�co 18Complexo Têxtil
Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)
Calçados
Têxtil de Fibras Naturais
Têxtil de Fibras Arti�ciais e Sintéticas
jan/06 fev/06 mar/06
60
Panorama da Indústria Brasileira
terna de algumas cadeias. Entretanto, diferentemente do têxtil, o complexo
agroindústria foi mais competitivo, sendo mais afetado pela evolução das
exportações do que das importações, como no têxtil.
Fonte: PIM-IBGE.
Finalmente, no complexo química, manteve-se no primeiro trimestre a re-
tração (ou quando muito a manutenção) da produção física de laminados
plásticos. Esse comportamento não foi devido basicamente ao crescimento
da importação destes produtos. De fato, a importação de plásticos em formas
não primárias (em relação ao mesmo mês do ano anterior) foi a seguinte:
-1,28% (janeiro), 7,99% (fevereiro) e 8,65% (março). Já a importação de ma-
nufaturas de borracha teve crescimento, respectivamente: 15,21%, 13,39% e
23,39%. Entretanto, nota-se que a produção de pneumáticos (incluídos no
capítulo citado por último), cresceu no trimestre. A lógica deste movimen-
to provavelmente está na demanda aquecida de automóveis que, mesmo
complementada com importações, gerou crescimento na cadeia. Como
seria de esperar, a petroquímica manteve retração no semestre, apesar do
bom desempenho da base de sua cadeia (refino de petróleo e extração
de petróleo e gás) – de fato, a importação de plásticos em formas primárias
cresceu 21,71% (janeiro), 17,64% (fevereiro) e 25,40% (março). Este comple-
xo, como já notamos, há muito perdeu a capacidade de liderança do cres-
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Grá�co 19Complexo Agroindústria
Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)
jan/06 fev/06 mar/06
Açúcar
Óleo de Soja
Abate de Bovinos e Suinos
Arroz
Trigo
Álcool
61
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
cimento e apresentou fortes desequilíbrios ao longo da cadeia petroquí-
mica, fruto tanto da importação quanto do arrefecimento do crescimento
desde 2005. Esta última cadeia encerrou claras limitações da capacidade
produtiva, onde foi patente a necessidade de coordenação e investimento.
Outros subsetores da química, como perfumaria, apresentaram desempe-
nhos bons, apesar das oscilações conjunturais – mas sua capacidade de
encadeamento foi restrita, não tendo potencial para liderar o crescimento
da indústria como um todo.
Fonte: PIM-IBGE.
Quanto ao emprego, houve praticamente uma manutenção dos mesmos
postos de trabalho na indústria de transformação, ou seja, a variação com
ajuste sazonal e mensal foi a seguinte: 0,1% (janeiro), 0,2% (fevereiro) e
–0,3% (março).
No segundo trimestre de 2006, manteve-se na indústria como um todo,
um nível de utilização de capacidade (84,68%, dado de julho) semelhante ao
de abril/2006, apesar de alguns setores apresentarem níveis razoavelmente
elevados no período (abordaremos esse aspecto na análise setorial). A cons-
trução civil manteve seu desempenho promissor, vinculado principalmente
a edificações. A demanda interna continuou aquecida, com crescimento do
varejo em relação ao mesmo mês de 2005 durante todo trimestre em níveis
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Grá�co 20Complexo Química
Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)
jan/06 fev/06 mar/06
Petroquimicos Básicos e Intermediários
Laminados de Plásticos
Perfumaria
Artigos de Limpeza
Pneumáticos
62
Panorama da Indústria Brasileira
próximos a 4%. Entretanto, houve uma ligeira desaceleração, devido a fato-
res ocasionais, como greve da Receita Federal, por exemplo.
No complexo construção, manteve-se o crescimento (apesar de menos
intenso que o trimestre anterior) de produção física de cimento e clínquer,
indicador antecedente do crescimento da construção civil. De fato, aquele
subsetor apresentou os seguintes valores de crescimento mensal em re-
lação a mesmo mês do ano anterior: 1,27% (abril), 10,59% (maio) e 2,02%
(junho). Nota-se que o setor foi muito incentivado pelo financiamento em
edificações e, em parte, por obras de infra-estrutura (o que também reflete
perspectivas devido ao momento eleitoral).
Fonte: PIM-IBGE.
No complexo metal-mecânica, os bens de consumo duráveis apresentaram
um desempenho ainda destacado, mas menos forte. Automóveis, por exem-
plo, tiveram aumento mensal de produção física em relação ao mesmo mês
de 2005 durante o mês de maio, e nos outros meses pouco crescimento:
-1,98% (abril), 13,97% (maio) e 1,01% (junho). As exportações contribuíram
relativamente menos que a demanda interna para esse desempenho, já
que seu crescimento mensal em relação ao mesmo mês de 2005 foi menor
que o das importações. De fato as exportações tiveram o seguinte desem-
penho: 9,8% (abril), 4,97% (maio) e 7,04% (junho). Já o desempenho das
importações foi o seguinte: 30,6% (abril), 18,28% (maio) e 36,42% (junho).
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Grá�co 21Complexo Construção
Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)
abr/06 mai/06 jun/06
Cimento e Clínquer
Artefatos de Concreto
63
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
Ainda no complexo metal-mecânica, continuaram com crescimento vigo-
roso tanto os eletrodomésticos da “linha branca” quanto os da “linha mar-
rom”. De fato, no primeiro setor o crescimento mensal em comparação ao
mesmo mês do ano anterior foi o seguinte: -1,47% (abril), 13,15% (maio)
e 17,63% (junho). A mesma estatística, para a “linha marrom” é a seguinte:
30,57% (abril), 29,78% (maio) e 2,24% (junho). A trajetória de crescimento
de eletrodomésticos da “linha branca”, já que as condições de varejo internas
estavam dadas e não apresentaram nenhuma mudança brusca no perío-
do, se deve à recuperação das exportações. A trajetória de queda abrupta
em junho dos eletrodomésticos da “linha marrom” se explica por uma queda
brusca das exportações (17,16%) em junho, apesar de nos meses anteriores
estas apresentarem trajetória sem queda.
As máquinas e equipamentos para fins industriais e comerciais continuaram
em retração, o mesmo aconteceu com os laminados de aço. Esse comporta-
mento foi em função da forte importação, que no caso do último setor teve
desempenho mensal (em relação ao mesmo mês do ano anterior) seguinte:
48,13% (abril), 64,09% (maio) e 84,39% (junho). Ainda nesse setor, o grau de
utilização de capacidade em julho foi de 93,8%, maior que o maior nível
registrado antes, de 93,2%. Entretanto, deve-se entender que na metalurgia
as empresas trabalham com elevado nível de economias de escala.
Fonte: PIM-IBGE.
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Grá�co 22Complexo Metal-Mecânica
Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)
mai/06abr/06 jun/06
Eletrodomésticos da“Linha Marrom”
Eletrodomésticos da“Linha Branca”
Automóveis
Laminados de Aço
Máquinas e EquipamentosIndustriais e Comercias
64
Panorama da Indústria Brasileira
No complexo têxtil, a têxtil de fibras naturais continuou sua recuperação,
mesmo que tímida, de certa forma como toda indústria neste trimestre,
com o seguinte desempenho de crescimento da produção: -4,23% (abril),
1,96% (maio) e 0,8% (junho). A têxtil de fibras artificiais e sintéticas ainda se
mantém em retração devido em parte ao crescimento das importações de
vestuário, com ênfase em tecidos artificiais e sintéticos. De fato a rubrica
de vestuário em geral teve o seguinte crescimento mensal de importações
(em relação ao mesmo mês do ano anterior): 31,96% (abril), 32,37% (maio)
e 41,16% (junho). As importações de calçados também cresceram muito no
período, o que induziu a retração experimentada pelo setor.
Fonte: PIM-IBGE.
No complexo agroindústria, o desempenho continua desigual, com várias
retrações, que não se devem apenas ao aumento de importações. Entretan-
to, beneficiamento de arroz esboça uma reação, com os seguintes desem-
penhos mensais (em relação ao mesmo mês do ano anterior): 4,84% (abril),
25,97% (maio) e 5,28% (junho). Outro setor que cresceu é o de leite e laticí-
nios, alimentos mais caros, em função parcialmente do aumento das expor-
tações (principalmente em abril). O desempenho ruim de óleo de soja foi
devido à queda significativa das exportações em maio e junho. Já a retração
de abate de bovinos e suínos foi em função também do mercado externo, ou
-1 4-1 2-1 0
-8-6-4-2
024
Grá�co 23Complexo Têxtil
Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)
mai/06abr/06 jun/06
Calçados
Têxtil de Fibras Arti�ciais e Sintéticas
Têxtil de Fibras Naturais
65
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
seja, retração forte das exportações, principalmente em abril e junho. Esse
desempenho sugere que o mercado interno apresentou-se relativamente
aquecido tanto em alimentos mais caros, quanto nos mais baratos, ou seja,
houve incremento de consumo em geral nas diversas faixas de renda, em
função de uma melhora geral do poder de compra.
Fonte: PIM-IBGE.
No complexo química, o comportamento foi de oscilação com alguns de-
sempenhos mensais positivos apenas em artigos de limpeza e perfumaria.
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Grá�co 24Complexo Agroindústria
Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)
mai/06abr/06 jun/06
Açúcar
Óleo de Soja
Abate de Bovinos e Suínos
Arroz
Trigo
Álcool
66
Panorama da Indústria Brasileira
A cadeia petroquímica continuou, entretanto, com muitos desequilíbrios e
retrações. O melhor desempenho foi dos pneumáticos, que se inseriu como
fornecedor da cadeia automotriz (não é por acaso que borracha foi o setor
com o nível de utilização de capacidade mais alto da indústria em julho:
96,6%). As importações substituíram a produção petroquímica interna não
realizada. De fato, as importações de plásticos cresceram significativamen-
te: nos plásticos primários cresceram 0,4% (abril), 18,9% (maio) e 10,92%
(junho); enquanto nos plásticos não-primários cresceram 10,15%, 21,66% e
9,67%, respectivamente.
Fonte: PIM-IBGE.
O emprego na indústria também mostrou desempenho semelhante ao do
trimestre anterior, ou seja, houve manutenção de postos de trabalho (com
ligeiro aumento) na série dessazonalizada. De fato, o desempenho mensal
em relação ao mês anterior foi: 0,5% (abril), 0,0% (maio) e 0,1% (junho).
No segundo semestre, o consumo aparente de máquinas atingiu cresci-
mento de 7,6% no acumulado até setembro. A demanda interna continuou
aquecida, apesar de um crescimento em relação a julho de 2005 relativa-
mente baixo (2,25%). Entretanto, em agosto e setembro, ocorreu forte ace-
leração: 6,29% e 9,98%, respectivamente.
Grá�co 25Complexo Química
Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)
abr/06 mai/06 jun/06
Laminados d Plástico
Perfumaria
Artigos de Limpeza
Petroquímicos Básicose Intermediarios
Pneumáticos
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67
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
A indústria em geral teve até setembro um crescimento acumulado de pro-
dução física de 2,7%, e o nível de utilização de capacidade teve um ligeiro
aumento no segundo semestre: 84,9% (toda indústria) e 87,7% (bens inter-
mediários).
No complexo construção, os indicadores de nível de atividade continuaram
promissores. De fato, o subsetor cimento e clínquer manteve-se aquecido – o
crescimento mensal em relação ao mesmo mês de 2005 foi: 3,52% (julho),
8,25% (agosto) e 5,97% (setembro). Esse desempenho foi devido principal-
mente a edificações, e não a obras de infra-estrutura.
Fonte: PIM-IBGE.
No complexo metal-mecânica continuou o bom desempenho dos bens de
consumo duráveis, em boa parte impulsionado pelos prazos mais longos
do crédito pessoal. De fato, o setor de automóveis apresentou crescimento
de produção (em relação a mesmo mês do ano anterior) de 4,41% (julho),
11,27% (agosto), com retração de 2,46% em setembro – sendo esse de-
sempenho direcionado preponderantemente para o mercado interno. Já
os eletrodomésticos também foram produzidos significativamente mais do
que em relação ao mesmo mês de 2005. Os da “linha branca” tiveram o
seguinte desempenho: 9,66% (julho), 6,07% (agosto) e 36,69% (setembro),
impulsionados tanto pelo mercado interno quanto externo. Os da “linha
marrom” tiveram o seguinte desempenho, na mesma seqüência de meses:
Grá�co 26Complexo Construção
Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)
jul/06 ago/06 set/060123456789
10
Artefatos de Concreto
Cimento e Clínquer
68
Panorama da Indústria Brasileira
0,66%, -7,22% e –0,36%. Este último desempenho de retração foi devido em
boa parte ao mercado interno, pois suas exportações cresceram significati-
vamente em julho e agosto, tendo neste último mês atingido 53,59%.
Ainda no mesmo complexo, as máquinas e equipamentos para indústria e
comércio passaram, a partir de agosto, a recuperar a produção. Deve-se sa-
lientar que o crescimento da importação de máquinas para a indústria foi
mais alto, apesar de cadente ao longo do trimestre.
A produção de laminados de aço também aumentou, na faixa de 5% men-
sais (em relação ao mesmo mês do ano anterior). De fato, houve certo cres-
cimento das exportações a partir de agosto (36,21%) e setembro (27,50%)
em relação ao mesmo mês do ano anterior. Mas as importações de ferro e
aço cresceram a um ritmo muito maior: 139,78% (julho), 52,49% (agosto)
e 7,55% (setembro). Deve-se acrescentar também que o nível interno de
produção do metal-mecânica se manteve alto no período, a julgar pelo de-
sempenho dos bens de consumo duráveis.
Fonte: PIM-IBGE.
No complexo têxtil, o quadro é semelhante aos trimestres anteriores: leve
recuperação dos têxteis de fibras naturais, mas expansão surpreendente da
têxtil de fibras artificiais e sintéticas, retração de calçados, e crescimento de
couro e outros artefatos de couro. Esse desempenho, no caso de têxteis, foi
Grá�co 27Complexo Metal-Mecânica
Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)
jul/06 ago/06 set/06
Eletrodomésticos da“Linha Marrom”
Eletrodomésticos da“Linha Branca”
Automóveis
Laminados de Aço
Máquina e EquipamentosIndustriais e Comerciais
-10-505
10152025303540
69
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
em função a um direcionamento produtivo para o mercado interno, pois
as exportações de vestuário mostraram forte retração no trimestre (24,70%,
18,67% e 22,93% para os meses de julho, agosto e setembro, respectiva-
mente) e crescimento das importações (25,45%, 9,84% e 56,33%, respec-
tivamente). Entretanto, no caso da têxtil de fibras artificiais e sintéticas foi
devido também à fraca base de comparação do ano anterior, como já sa-
lientamos antes. Para calçados, as exportações caíram ligeiramente (-2,03%,
0,86% e –1,67%, respectivamente) e as importações cresceram, exceto em
setembro: 28,21% (julho), 34,29% (agosto) e –8,98% (setembro) – mas ficou
claro que a cadeia como um todo sofreu com o bom desempenho dos sub-
setores de base voltados para exportação preponderantemente.
Fonte: PIM-IBGE.
No complexo agroindústria, o desempenho foi peculiar: apesar de continu-
ar ocorrendo um crescimento do consumo varejista de alimentos, bebidas
e fumo (que aumentou no acumulado do terceiro trimestre de 2006 contra
o mesmo de 2005, 7,8%, função do crescimento da massa salarial real e da
transferência de renda para as famílias), a maioria teve desempenho produ-
tivo baixo. Tal desempenho parece-nos se dever a um aumento mensal sig-
nificativo de importações em geral de produtos alimentícios e animais vivos
e bebidas e fumo ao longo do trimestre.
Grá�co 28Complexo Têxtil
Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)
jul/06 ago/06 set/06
Calçados
Têxtil de Fibras Artificiaise Sintéticas
Têxtil de Fibras Naturais
- 1 5
- 1 0
-5
0
5
1 0
1 5
70
Panorama da Indústria Brasileira
Fonte: PIM-IBGE.
No complexo química, o desempenho localizado na cadeia petroquímica
foi fruto tanto de uma base no ano anterior muito baixa (o que explica o
desempenho elevado no gráfico abaixo de petroquímicos básicos e inter-
mediários) e um aumento das importações (plásticos em formas primárias
tiveram aumento de importações ao longo do trimestre, o que explicou
a tendência de petroquímicos básicos e intermediários perder fôlego neste
período de tempo). Entretanto, ocorreram desempenhos claramente posi-
tivos e estimulantes, como em perfumaria e artigos de limpeza.
Fonte: PIM-IBGE.
Grá�co 29Complexo Agroindústria
Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)
jul/06 ago/06 set/06-10
-505
1015202530
Açúcar
Óleo de soja
Abate de bovinose suínos
Arroz
Trigo
Álcool
Grá�co 30Complexo Química
Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)
jul/06 ago/06 set/06
laminados e Plásticos
Perfumaria
Artigos de Limpeza
Petroquímicos Básicos eIntermediários
Pneumáticos
-10
-5
0
5
10
15
71
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
Quanto ao desempenho do emprego da indústria de transformação, no
trimestre houve crescimento mensal com ajuste sazonal em julho (0,5%) e
em setembro (0,5%), apesar de um recuo pequeno (0,1%) em agosto. Desta
forma repetiu-se o comportamento de praticamente manutenção do nível
de emprego na indústria de transformação.
No complexo construção, durante o quarto trimestre, manteve-se o de-
sempenho fortemente positivo da produção de um dos principais insumos
da construção civil: 7,8% (outubro), 5,71% (novembro) e 4,47% (dezembro).
De fato, os vários incentivos à construção, junto à melhoria da renda e do
emprego, foram os causadores deste desempenho. A relativa desacelera-
ção de cimento e clínquer no trimestre provavelmente refletiu um compor-
tamento sazonal, devido ao período de chuvas do final de ano.
Fonte: PIM-IBGE.
Durante o último trimestre, o complexo metal-mecânica apresentou conti-
nuidade de crescimento (salvo pequenas exceções) devido à manutenção
do crescimento do consumo interno (função principalmente da melhoria
do crédito ao consumidor e queda das taxas de juros) e da melhoria do qua-
dro macroeconômico – fatores estes que vinham ocorrendo desde início de
Grá�co 31Complexo Construção
Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)
out/06 nov/06 dez/06
Cimento e Clínquer
Artefatos de Concreto
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
72
Panorama da Indústria Brasileira
2005, mas que pareciam chegar à produção mais concretamente a fins de
2006. O setor de automóveis apresentou excelente desempenho em outu-
bro (+15,18%), mas retração nos dois meses seguintes: 1,19% (novembro)
e 12,45% (dezembro). A explicação para tal desempenho provavelmente
foi dupla: por um lado, as exportações vieram declinando (0,80% em outu-
bro, 7,47% em novembro), com apenas uma leve recuperação em dezem-
bro (8,13%); por outro lado, as importações vieram crescendo fortemente
(52,69% em outubro, 35,51% em novembro e 65,45% em dezembro).
Dentro do mesmo complexo, os eletrodomésticos da “linha marrom” tam-
bém apresentaram relativas retrações: crescimento de -3,51% (outubro),
+1,04% (novembro) e –8,80% (dezembro). A causa parecia ser devida à
forte importação nos meses de outubro (38,63%) e novembro (29,30%),
com leve recuo em dezembro (-7,82%). Laminados de aço também recu-
aram, com leve crescimento apenas em outubro (2,35%), ou seja: retração
de 0,87% (novembro) e 0,05% (dezembro). A razão foi semelhante à dos
trimestres anteriores: importação significativa, que cresceu 36,77% (outu-
bro), 9,97% (novembro) e 10,27% (dezembro). Os eletrodomésticos da “linha
branca” continuaram seu processo de forte crescimento: 20,28% (outubro),
22,29% (novembro) e 20,48% (dezembro). E máquinas e equipamentos para
fins industriais e comerciais melhoraram seu desempenho no final do ano:
+5,83% (outubro), + 0,58% (novembro) e –1,34% (dezembro).
Fonte: PIM-IBGE.
Eletrodomésticosda “Linha Marrom
Eletrodomésticosda “Linha Branca”
Automóveis
Laminados de Aço
Máquinas e EquipamentosIndustriais e Comerciais
Grá�co 32Complexo Metal-Mecânica
Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)
-15-10
-505
10152025
out/06 nov/06 dez/06
73
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
No complexo têxtil, ocorreu uma reversão de tendências. Os tecidos de
fibras naturais, que vinham se recuperando, apresentaram duas retrações
em novembro e dezembro: 2,79% e 9,01%, respectivamente. Mas os de
fibra artificial e sintética cresceram durante todo trimestre: 5,59% (outubro),
5,13% (novembro) e 5,98% (dezembro). Os movimentos de balança comer-
cial permaneceram, por um lado, com a mesma tendência: crescimento das
importações (61,66% em outubro, 37,91% em novembro e 72,69% em de-
zembro); e queda das exportações (10,52% em outubro, 15,60% em novem-
bro e 15,97% em dezembro). Por outro lado, a base de comparação (quarto
trimestre de 2005) para a produção foi muito baixa nas fibras artificiais e
sintéticas, ao contrário das fibras naturais. A explicação para a retração nas
fibras naturais foi o aumento mais que proporcional de importações dos
têxteis de fibras naturais em 2006, ao passo que os têxteis de fibras sinté-
ticas e artificiais, apesar de terem aumento de importações, ocorreram em
proporção menor. Quanto ao setor de calçados, este continuou sua trajetó-
ria de retração.
Fonte: PIM-IBGE.
No complexo agroindústria, ocorreu um movimento geral de crescimento no
primeiro mês do último trimestre (raramente até o segundo mês) e retração
depois. A única exceção a este quadro é sucos e concentrados de frutas. Apesar
de não termos estatísticas setoriais de estoques no nível de detalhamento ne-
Calçados
Têxtil de Fibras Artificiaise Sintéticas
Têxtil de Fibras Naturais
Grá�co 33Complexo Têxtil
Variação da Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)
out/06 nov/06 dez/06-10
-5
0
5
10
74
Panorama da Indústria Brasileira
cessário, sugere-se uma produção no início do trimestre, para seu consumo
ao longo dos meses seguintes com as festas de final de ano.
Fonte: PIM-IBGE.
No complexo química manteve-se o contexto de desempenho desigual
já descrito (cadeia petroquímica em fraco desempenho e melhor desem-
penho nos bens finais da química fina), com uma exceção aparente em
petroquímicos básicos e resinas (crescimento em novembro de 11,81%, mas
em função de uma retração em novembro do ano anterior de 15,7%). O
quadro é de forte importação de plásticos em formas primárias (32,70% em
outubro, 24,58% em novembro e 17,46% em dezembro) e em borracha em
bruto, inclusive borracha sintética e regenerada (77,81%, 71,83%, 11,16% res-
pectivamente).
Grá�co 34Complexo Agroindústria
Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)
out/06 nov/06 dez/06- 2 0
- 1 5
- 1 0
-5
0
5
1 0
1 5
2 0
Açúcar
Óleo de soja
Abate de bovinose suínos
Arroz
Trigo
Álcool
75
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
Fonte: PIM-IBGE.
Resumindo o desempenho comercial do Brasil em 2006, podemos dizer
que, pela primeira vez nos últimos quatro anos, as exportações cresceram
menos (16,20%) que as importações (24,17%). Este desempenho foi devi-
do a dois movimentos. Primeiro, pelo lado das exportações, os produtos
do metal-mecânica se retraíram em geral – por exemplo, ferro e aço (cres-
ceram apenas 4,24%), veículos automóveis, tratores, etc. (cresceram apenas
8,19%). Segundo, pelo lado das importações, apesar de bens de capital
manterem seu desempenho, com combustíveis/lubrificantes e matérias-
primas/produtos intermediários crescendo levemente, as importações de
bens de consumo aumentaram fortemente (41,4%), principalmente em
duráveis (54,8%) e menos em não-duráveis (29,9%). Nota-se que o ajuste
feito se deu basicamente no complexo metal-mecânica. De forma subsidi-
ária para o total da balança, mas não para suas cadeias, ocorreram ajustes
principalmente nos complexos têxtil e química. Quanto ao primeiro, em
vestuário as importações cresceram 43,31%, enquanto em calçados 21,88%.
Já no segundo complexo, as importações de plásticos em formas primárias
Grá�co 35Complexo Química
Variação Produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)
out/06 nov/06 dez/06
Laminados de Plástico
Perfumaria
Artigos de Limpeza
Petroquímicos BásicosIntermediários
Pneumáticos
- 1 0
-5
0
5
1 0
1 5
2 0
76
Panorama da Indústria Brasileira
cresceram 18,48%, enquanto petróleo e derivados de petróleo aumentaram
importações em 26,84%.
Logo abaixo apresentamos o gráfico do desempenho das exportações em
quantum. Nota-se que nas exportações totais, o desempenho de 2003 – 2006
foi superior ao de 1999 – 2002. O mesmo ocorreu com os semimanufatura-
dos e manufaturados, com destaques para os últimos. Apenas nos básicos o
desempenho foi inferior.
Fonte: Funcex.
77
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
Exportação Total Básicos Semimanufaturados Manufaturados
Grá�co 36Variação acumulada (%)
das exportaçóes em quantum 2003-2006
No gráfico abaixo, mostramos o desempenho comercial em preços.
Fonte: Funcex.
O que se nota é que no período 2003 – 2006 ocorreu um significativo au-
mento em preço de todas as categorias de exportação, principalmente
levando-se em conta que no período 1999 – 2002 ocorreu exatamente o
inverso: forte retração. Isso foi devido em boa parte ao crescimento da eco-
nomia mundial no período, apesar do Brasil ter expandido suas exportações
em quantum mais rápido que a expansão do comércio internacional.
No gráfico abaixo, mostramos a composição por grupos de produtos da pau-
ta de exportação brasileira no período 2003 – 2006. Nota-se que não houve
modificação significativa em relação ao período 1999 – 2002, já apresentada.
78
Panorama da Indústria Brasileira
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
Exportação Total Básicos Semimanufaturados Manufaturados
Grá�co 37Variação acumulada (%)
das exportaçóes brasileiras em preço 2003-2006
Fonte: Secex.
No acumulado de 2006, observa-se a manutenção da liderança do cresci-
mento interno da produção pelas categorias de bens de consumo duráveis
e bens de capital, liderança essa que se manteve desde meados de 2003.
O consumo interno, em 2006, foi o componente da demanda que mais
puxou o crescimento, impulsionado principalmente pelas vendas no varejo
79
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Grá�co 38Composição da Pauta de Exportação por grupos de protudos
2003
Básico Semimanufaturados Manufaturados Operações Especiais
2004 2005 2006
(crescimento de 6,2% no ano). As exportações líquidas perderam o ímpe-
to no estímulo ao crescimento, devido em grande parte ao crescimento
das importações. A FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo) cresceu de forma
generalizada em 2006, com forte expansão de máquinas importadas (fa-
vorecidas pelo câmbio e a estabilidade dos preços internacionais de bens
de capital). Assim, o consumo aparente de máquinas aumentou fortemen-
te, tanto devido à importação, quanto à produção interna: a fabricação de
bens de capital para uso industrial cresceu 5,3% em 2006.
Deve-se salientar mais alguns pontos relativos ao desempenho da indús-
tria em 2006. Primeiro, os vários subsetores industriais cresceram de forma
geral em um movimento relativamente mais difundido que em 2005. Se-
gundo, os estoques industriais atingiram um nível, ao final de 2006, seme-
lhante ao nível planejado. Finalmente, os setores de maior capacidade de
encadeamento continuaram liderando o crescimento na indústria: bens de
consumo durável (aumento de produção em 2006 de 5,8%) e bens de ca-
pital (aumento de produção em 2006 de 5,7%). Todos esses fatores citados
indicaram que o crescimento da indústria brasileira não tendia no médio
prazo, salvo choques adversos, a uma retração, interrompendo o ciclo de
crescimento iniciado em meados de 2003. E mais: os dados de 2006, quan-
do comparados aos de 2005, indicaram uma perspectiva em 2007 de uma
aceleração do crescimento, mas agora com um contexto macroeconômico
e setorial muito mais consistente.
Finalmente, quanto ao desempenho do emprego (com ajuste sazonal) da
indústria de transformação, observou-se uma retração moderada no último
trimestre, mas da ordem de grandeza de 0,5% ao mês, o que, na prática,
manteve a trajetória de manutenção do emprego.
80
Panorama da Indústria Brasileira
1.5 Aspectos relevantes do desempenho no período 1999 – 2006
Pode-se considerar que, pelo menos desde 1999, a dinâmica setorial do cres-
cimento da indústria seguiu um padrão semelhante ao longo dos anos: du-
rante a fase ascendente, houve um maior crescimento do complexo metal-
mecânica (e dentro dele, geralmente de setores produtores de bens de con-
sumo duráveis), até que esse ímpeto se arrefeceu, quando setores de menor
capacidade de encadeamento intersetorial passaram a ter um desempenho
relativo mais importante.
Ao longo deste trabalho considerou-se que as oscilações desse crescimento
estariam relacionadas a duas questões: o desempenho fiscal e a restrição
externa. Esses dois problemas foram atacados desde 1999 (com aprofunda-
mento a partir de 2003), ainda que de forma não definitiva10.
De qualquer forma, algumas características do desempenho recente pude-
ram ser ressaltadas.
A evolução da demanda interna
O volume de vendas do varejo apresentou crescimento (em relação ao mes-
mo mês do ano anterior) oscilante até início de 2004, quando então passou
a ser positivo (ver gráfico 39).
Este aspecto nos permite dizer que o desempenho mais recente da indús-
tria não se baseou apenas no desempenho externo, mas também de fatores
10 Entretanto, não nos parece ser do escopo deste trabalho tratar dessas questões, o que cabe a outras instâncias.
81
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
internos, como emprego (vide tópico mais à frente) e renda que, mais recente-
mente ainda, tenderam a predominar.
Fonte: IBGE.
A evolução do desemprego
Outro aspecto é que a taxa de desemprego medida nas regiões metropolitanas
pelo IBGE (PME) passou a oscilar em torno de uma média menor desde finais de
2004 (ver gráfico abaixo).
Grá�co 39Volume de Vendas no Varejo -
Variação em relação ao mesmo mês do ano anterior (%)
jan/01
abr/01
jun/01
out/01
jan/02
abr/02
jun/02
out/02
jan/03
abr/03
jun/03
out/03
jan/04
abr/04
jun/04
out/04
jan/05
abr/05
jun/05
out/05
jan/06
abr/06
jun/06
out/06
-1 5
-1 0
-5
0
5
1 0
1 5
82
Panorama da Indústria Brasileira
Fonte: IBGE.
O padrão de evolução da produtividade
Nota-se que houve uma mudança de padrão no comportamento da pro-
dução física da indústria e o pessoal ocupado da mesma. Se na década de
1990, antes de 1999, a produção física cresceu e o índice de pessoal ocupa-
do decresceu, após 1999 nota-se que a produção física continuou a crescer,
mas o índice de pessoal ocupado permaneceu relativamente estável (ver
gráfico abaixo).
Isto indica que a produtividade do trabalho na indústria tem crescido com
a manutenção dos postos de trabalho, comportamento diverso da década
de 1990, quando houve forte poupança de mão-de-obra na indústria.
Grá�co 40Taxa de Desemprego (%)
Regiões Metropolitanas Brasil
2001 10
2001 12
2002 02
2002 04
2002 06
2002 08
2002 10
2002 12
2003 02
2003 04
2003 06
2003 08
2003 10
2003 12
2004 02
2004 04
2004 06
2004 08
2004 10
2004 12
2005 02
2005 04
2005 06
2005 08
2005 10
2005 12
2006 02
2006 04
2006 06
2006 08
2006 10
2006 12
8
9
1 0
1 1
1 2
1 3
1 4
83
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
Fonte: IBGE.
O início da retomada do investimento
Pode-se enfatizar11 que após o terceiro trimestre de 2003 verificou-se uma
retomada do crescimento, com uma retomada também do investimento
desde meados de 2004, apesar dessa última ainda ser tímida. Ver gráfico
abaixo da evolução da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) no Brasil, se-
gundo as novas Contas Nacionais.
11 Ver a Nota Técnica “Cenários para o crescimento do produto potencial de 2007 a 2010”, no Boletim de Conjuntura IPEA, dezembro de 2006.
Grá�co 41Produção Física e Pessoal Ocupado
Média Móvel Semestral (janeiro de 2001 = 100)
2001 06
2001 10
2002 02
2002 06
2002 10
2003 02
2003 06
2003 10
2004 02
2004 06
2004 10
2005 02
2005 06
2005 10
2006 02
2006 06
2006 10
9 0
1 0 0
1 1 0
1 2 0
1 3 0
1 4 0
Produção Ocupado
Pessoal Física
84
Panorama da Indústria Brasileira
85
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
Fonte: IBGE.
Nota-se, no gráfico acima, que a FBCF até o primeiro trimestre de 2004 vi-
nha oscilando em torno de um patamar de 5% acima de sua base de 1995,
mas a partir do primeiro trimestre de 2004 apresentou uma trajetória de
crescimento. Contribuíram para tanto vários fatores: os incentivos para ba-
rateamento da construção civil, o barateamento do aço (tanto para a cons-
trução quanto para máquinas e equipamentos), o menor grau de incerteza
macroeconômica, entre outros.
1.5.1 A relação entre o câmbio real e a produção da indústria
Outro movimento relevante para a indústria em período mais recente se
referiu à evolução da taxa de câmbio. De fato, essa vem se valorizando des-
de início de 2003, devido ao fluxo externo (aumento do saldo comercial e
entrada líquida de capital). Em 2005 e 2006, a taxa de câmbio real passou a
atingir patamares reais e históricos baixos, o que vem alimentando temores
Grá�co 42Formação Bruta de Capital Fixo(série encadeada, 1995=100)
1997.I
1997.III
1998.I
1998.III
1999.I
1999.III
2000.I
2000.III
2001.I
2001.III
2002.I
2002.III
2003.I
2003.III
2004.I
2004.III
2005.I
2005.III
2006.I
2006.III
1996.I
1996.III
8 0
8 5
9 0
9 5
1 0 0
1 0 5
1 1 0
1 1 5
1 2 0
1 2 5
1 3 0
86
Panorama da Indústria Brasileira
de vários segmentos quanto a seus possíveis impactos sobre a indústria brasileira. Cabe salien-
tar que um diagnóstico definitivo sobre essa questão, devidamente fundamentado em dados,
ainda é impossível, pois os microdados necessários a tal empreendimento ainda não estão
disponíveis (há uma defasagem temporal irredutível entre a pesquisa e a disponibilidade defi-
nitiva dos microdados de cerca de dois a três anos, ao passo que a valorização mais significativa
da taxa de câmbio ocorreu desde cerca de três anos atrás).
Entretanto, cabe aqui contribuir para o debate em torno da questão com os instrumentos atu-
almente disponíveis.
Tentando aprofundar a questão com dados disponíveis, procuramos calcular o coeficiente de
correlação12 entre taxa de câmbio real e produção na indústria em geral desde 1991 até 2006.
Por um lado, consideramos as taxas de câmbio defasadas de um ano em relação à produção,
pois quisemos captar o tempo que o exportador levou para encontrar um comprador externo
e firmar um contrato, além do tempo que levou para cessar uma importação, devido também a
contratos firmados pelos importadores com o exterior. Por outro lado, consideramos três moda-
lidades de taxas de câmbio: a taxa de câmbio real, utilizando como índice de preço interno o IPA
da indústria e como externo o IPA americano, nas modalidades de taxa anual de variação e no ní-
vel médio anual; e a taxa de câmbio real efetiva, no nível médio anual. Finalmente, consideramos
o crescimento anual acumulado da indústria em geral. Os resultados estão na tabela abaixo.
12 O coeficiente de correlação pode apresentar valores entre –1 e +1, sendo os valores em módulo de 1 representativos de uma correlação perfeita entre as duas variáveis consideradas (ou seja, quando uma cresce, ou decresce, a outra também cresce, ou decresce, na mesma magnitude).
Coeficientes de Correlação entre Câmbio Real e Crescimento da Produção Física da Indústria Geral 1992 – 2006
Tabela 1
* Variação percentual anual calculada a partir do câmbio real calculado, utilizando o IPA americano e o IPA-OG da indústria brasileira.** Nível anual calculado como a média aritmética mensal do câmbio real por mês como calculado acima.*** Câmbio real a partir de uma cesta de moeda dos principais destinos das exportações brasileiras.Obs: o ano de 1992 foi escolhido pelo fato dos dados do IBGE iniciarem sua série em 1991 e, assim, não podermos calcular a variação anual de produção física com 1990 ou anos anteriores.
Fontes: IPEADATA e PIM-IBGE.
Tipo de Câmbio
Coeficiente de Correlação
Câmbio Real em Nível**
0,30
Câmbio Efetivo***
0,22
Variação Percentual do Câmbio Real*
0,31
87
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
Os dados acima mostram que existiram outros fatores importantes, na indústria brasileira, na correlação com a pro-
dução industrial que não apenas o câmbio real. Além disso, deve-se considerar que o papel exercido pelo mercado
interno brasileiro, um dos maiores do mundo, é muito importante para a indústria brasileira. Este resultado sugere que,
em nível setorial, ocorreram fatores estruturais que, ao lado do câmbio, influenciaram fortemente o desempenho das
empresas industriais. Para abordar esses aspectos, comparamos o nível de produção de todos os subsetores indus-
triais (nível de desagregação máximo oferecido para a produção física pelo IBGE) entre os dois anos extremos da série
fornecidos pelo IBGE: 1991 e 2006. Abaixo mostramos os resultados para aqueles subsetores onde houve retração da
produção física entre os anos citados.
Antes de analisarmos os dados dos subsetores acima, devemos justificar a exclusão daqueles que também apresenta-
ram retração entre 1991 e 2006, e não apresentamos na tabela anterior. O primeiro subsetor excluído foi “extração de
carvão mineral”, basicamente devido a sua reduzida expressão na indústria extrativa brasileira. O segundo foi “álcool”:
sua retração foi devida basicamente ao fim do Proálcool no final da década de 1980, quando no início da de 1990 ainda
havia uma frota expressiva de veículos automotores movidos a álcool, frota essa que só vem se recuperando nos últi-
mos anos com os automóveis bicombustíveis; além disso, a utilização recente internacional do álcool como fonte alter-
nativa de combustível ainda não alterou fortemente sua produção no Brasil, apesar de já estar havendo investimentos
Coeficientes de Correlação entre Produção Física e Modalidades de Taxa de Câmbio Defasada
Tabela 2
* Definições como na tabela anterior.
Fontes: PIM - IBGE e IPEADATA.
Beneficiamento, fiação e tecelagem de fibras têxteis naturais
Fiação e tecelagem de fibras artificiais ou sintéticas
Outros artefatos têxteis
Vestuário
Calçados
Laminados de material plástico
Embalagens de material plástico
Nível da Taxa de Câmbio Real*
0,40
0,25
0,17
0,26
0,32
-0,33
0,21
Nível da Taxa de Câmbio Efetiva*
0,54
0,15
0,08
0,28
0,26
-0,40
0,01
Variação da Taxa de Câmbio Real*Subsetor
0,35
0,25
0,15
0,59
0,37
-0,19
0,02
88
Panorama da Indústria Brasileira
nesse sentido. O terceiro setor excluído foi “produtos químicos inorgânicos”, apesar ter apresentado significativas cor-
relações com o câmbio real, devido aos seguintes motivos: por um lado, esse subsetor é fornecedor de insumos para
fertilizantes e mesmo de fertilizantes para a agricultura, que por problemas conjunturais tem nos últimos anos consu-
mido relativamente menos desses produtos (valorização do câmbio em reais, que reduziu ganhos de exportação de
commodities agrícolas); por outro lado, o subsetor fornece gases industriais, cuja expressão no faturamento da indústria
é pequeno, não justificando temores quanto ao impacto significativo de perda de elos intersetoriais; finalmente, sua
correlação forte com o câmbio é derivada da conjuntura agrícola, pouco refletindo a dinâmica industrial em si. O último
subsetor excluído foi “estruturas metálicas, obras de caldeiraria pesada, tanques e caldeiras”, pelos seguintes motivos:
é fornecedor de estruturas metálicas para a construção civil, tendo pouca expressão na mesma, pois ela é predomi-
nantemente utilizadora de concreto armado (mesmo a produção de esquadrias em geral, de ferro, aço ou alumínio,
dificilmente representa majoritariamente os custos de edificações); além disso, os demais itens são em grande parte
bens de capital industriais, cuja expressividade atual pouco se deve ao câmbio; finalmente, corroborando as considera-
89
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
ções acima, seus coeficientes de correlação entre produção física e câmbio real, em todas
as modalidades, são baixos e negativos, sugerindo fortemente que outros fatores, além do
câmbio real, estão correlacionados a sua dinâmica produtiva.
Abordando os subsetores apresentados na Tabela 2, começaremos nossa análise pelos
plásticos. “Embalagens de material plástico” é um subsetor muito importante, pois fornece
insumos para quase toda economia, com uma intensidade que tende a aumentar forte-
mente, já que serão crescentemente substitutos de embalagens de vidro e de outros ma-
teriais naturais, devido a sua maior resistência, preço e assepsia. Entretanto, sua dinâmica
esteve preponderantemente atrelada ao mercado interno, razão pela qual os coeficientes
de correlação apresentados são negativos, o que refletiu o fato de que outros fatores (fora
o câmbio real) estavam correlacionados a sua dinâmica produtiva. Mesmo a alta interna-
cional dos preços da nafta, ocorridos recentemente, a princípio explicariam pouco sua
dinâmica (como também as dos plásticos em geral), como mostram Silveira e Marçal13. Ou
seja, o estudo mostrou que houve “um impacto de 1,7% do preço do plástico a 10% do
preço da nafta, mas de caráter apenas temporário”.
O mesmo se pode concluir para o subsetor de “laminados de material plástico”. Por um
lado, seus produtos têm sido alvo recente de significativo crescimento de importações,
o que em parte reflete o câmbio real favorável. Por outro lado, notamos que seus coefi-
cientes de correlação com todas as modalidades de câmbio real utilizadas são, apesar de
positivas, bastante reduzidas. Acreditamos, assim, que a retração detectada na produção
física entre 1991 e 2006 esteja refletindo outros problemas, de caráter mais estrutural.
13 Silveira, J. M. F. J. e Marçal, E. F. Um estudo dos efeitos de alterações do preço da nafta na formação de preços da cadeia petro-química. UNICAMP, 2007, mimeografado.
90
Panorama da Indústria Brasileira
91
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
A cadeia petroquímica envolve três gerações e tem sido (o que se mantém ainda hoje) deficitária em seu saldo comer-
cial. A escala econômica de operação de suas plantas é bastante elevada, os investimentos são bastante custosos e a
necessidade de integração entre suas diversas gerações para tornar o retorno competitivo imperiosa14. Enquanto nas
duas primeiras gerações o setor petroquímico é mais concentrado no Brasil, no de transformados plásticos ele é bas-
tante pulverizado15, o que dificulta a coordenação da cadeia requerida, como citado anteriormente. Deve-se considerar
que apenas poucas empresas de transformados plásticos no Brasil, no final da década anterior, tinham produtividade
por empregado similar aos padrões internacionais16. Assim, parece que o mais recente aumento das importações de
plásticos se deve a essas questões estruturais de limitada capacidade interna da cadeia para suprir o crescimento in-
terno, como observa a própria ABIQUIM (Associação Brasileira da Indústria Química) no seu relatório anual17 de 2005,
independente do patamar do câmbio real.
A cadeia de “calçados” encerra duas especificidades importantes. Primeiro, boa parte de suas vendas eram contratadas
diretamente do exterior, inclusive quanto à especificação de design. Segundo, sua ênfase competitiva nos últimos anos
esteve ligada à tentativa de redução de custos, principalmente da mão-de-obra, transporte na exportação (para os EUA
principalmente) e incentivos fiscais estaduais18. A estratégia de diferenciação e inovação próprias de produto foram
menos intensivas19. O espaço no mercado internacional esteve existente a partir de duas questões: a menor qualidade
do produto chinês, de baixo custo; e o custo mais alto do calçado italiano, de alta qualidade. A partir do momento
que a qualidade do sapato chinês de couro se elevou, e os italianos passaram a produzir em parte no leste europeu
(reduzindo custos), boa parte do mercado externo foi perdido. Assim, a questão cambial brasileira não parece ser o
principal determinante do desempenho produtivo brasileiro, como mostram as baixas correlações na Tabela 2. Além
disso, houve um movimento recente de aumento de importações.
O subsetor de “vestuário” apresenta um problema semelhante ao do anterior. Por um lado, seu comércio internacional
se ressente de tarifas de importação crescentes com o valor agregado impostas pelos países desenvolvidos. Por outro
lado, esses últimos países estrategicamente buscaram uma estratégia de diferenciação e inovação nos seus produtos
através de intensificação de novos modelos segundo a moda e estações, sem buscar prioritariamente concorrer com
os produtos básicos e baratos dos asiáticos20. Ou seja: houve a formação de “redes compostas por ateliês de design,
fornecedores de fibras e outras matérias-primas, tecelagens, confecções e grandes cadeias varejistas, em que a logísti-
ca de toda cadeia foi otimizada via informatização”. Isso permitiu uma flexibilidade inédita às empresas, reduzindo, via
14 Ver Gomes, G., Dvorsak, P. e Heil, T. Indústria Petroquímica Brasileira: situação atual e perspectivas. BNDES Setorial, n. 21, março de 2005.15 Ver Estudo da Competitividade de Cadeias Integradas no Brasil: Impactos das Zonas de Livre Comércio. MDIC, 2002.16 Idem nota anterior.17 Relatório Anual 2005.18 Ver Corrêa, A. R. O Complexo Coureiro-Calçadista Brasileiro. BNDES Setorial, n. 14, setembro de 2001.19 Ver Estudo da Competitividade de Cadeias Integradas no Brasil: Impactos das Zonas de Livre Comércio. MDIC, 2002. 20 Ver Gorini, A. P. F. Panorama do Setor Têxtil no Brasil e no Mundo: Reestruturação e Perspectivas. BNDES Setorial, n.12, setembro de 2000.
92
Panorama da Indústria Brasileira
diferenciação, o impacto da concorrência asiática. No Brasil, infelizmente,
a expansão da produção de vestuário buscou muito a redução de custos
e o atendimento das classes C e D, cuja demanda se aqueceu com a redu-
ção expressiva do imposto inflacionário depois de meados de 1994. Assim,
o subsetor se ressente mais da atual valorização cambial, pois sua estraté-
gia empresarial tem sido a de redução de custos, num tecido de empresas
preponderantemente médias e pequenas pouco articuladas. A produção
asiática, no médio prazo pelo menos, é imbatível em questões de custos
e naqueles seguimentos de pouca diferenciação, ou seja, produtos de ves-
tuário básicos. Além disso, é pouco promissora a exportação para países
desenvolvidos, dada sua estrutura de proteção e elevada capacidade de
diferenciação. Enfim, explorar o mercado interno com diferenciação e forte
integração da cadeia parece ser a melhor saída para a produção nacional.
93
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
Os subsetores “beneficiamento, fiação e tecelagem de
fibras têxteis naturais” e “fiação e tecelagem de fibras
artificiais ou sintéticas” não podem ser analisados sem
considerar o subsetor “vestuário”. Por um lado, pode-
mos notar que seus coeficientes de correlação não são
altos, indicando novamente que outros fatores, além
do câmbio real influenciam sua dinâmica produtiva.
Por outro lado, a têxtil de fibras naturais brasileira é
competitiva atualmente (depois da reestruturação da
década de 1990) no mercado internacional21. E a têx-
til de fibras artificiais e sintéticas, apesar do pequeno
espaço no mercado interno brasileiro, ressente-se mais
de integração com a cadeia petroquímica para alcançar
competitividade internacional e concorrer, pelo menos
internamente, com os produtos asiáticos (estes, extre-
mamente integrados ao longo da cadeia)22. Trata-se de
um esforço de coordenação intersetorial, buscando rá-
pida diferenciação segundo a moda e o gosto do con-
sumidor. Sob esse aspecto, não é possível imaginar um
aprimoramento produtivo sem articular todos os elos
da cadeia, desde o fornecimento de fibras até o varejo
de vestuário. Ou seja, é necessário que a diferenciação
de produtos seja tal que se “puxe” a cadeia a partir da
percepção rápida e eficiente das tendências do varejo,
que se pautam por moda e alteração das estações23.
21 Idem nota anterior.22 Ver Barbosa, M. C., Rosa, E. S., Correa, A. R., Dvorsak, P. e Gomes, G. L. O Setor de Fibras Sintéticas e Suprimento de Intermediários Petroquímicos. BNDES Setorial, n. 20, setembro de 2004.23 Ver Monteiro Filha, D. C. e Santos, A. M. M. M. Cadeia têxtil: Estruturas e Estra-tégias no Comércio Exterior. BNDES Setorial, n. 15, março de 2002.
94
Panorama da Indústria Brasileira
95
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
Claro está que tal integração deve vir no bojo da melhoria do poder aqui-
sitivo dos consumidores, que de resto é um fator que se vale, por sua vez,
também do desempenho industrial favorável.
Pode-se dizer que os setores mais afetados se ressentem de problemas es-
truturais, independentes do câmbio real. De fato, a dinâmica das cadeias
produtivas industriais no Brasil como um todo não apresentou, entre 1999 e
2006, uma trajetória de perda de elos que destruísse seu padrão de compor-
tamento dinâmico – como mostramos neste trabalho. Entretanto, parece
haver uma falta de coordenação intersetorial24 (com ênfase nos complexos
assinalados na Tabela 2) capaz de gerar estratégias empresariais com visão
de longo prazo e não apenas de uma adaptação conjuntural a oportunida-
des de curto fôlego.
1.5.2 A evolução recente do IDE (Investimento Direto Externo)
A partir de 2001, os fluxos globais de IDE desaceleraram acentuadamente,
com o volume de investimentos realizados caindo pela metade e as opera-
ções de fusões e aquisições declinando para um terço dos valores verifica-
dos em 2000. Apesar desse cenário, os investimentos diretos destinados aos
países em desenvolvimento caíram menos do que para os países desenvol-
vidos, influenciados pela China, Índia e pelas economias do Leste Europeu
que apresentaram uma performance mais estável na absorção de IDE.
Os investimentos diretos recebidos pelo Brasil entre 2001 – 2003 experi-
mentaram quedas sucessivas, com volumes de US$ 21 bilhões, US$ 18,7
bilhões e US$ 12,9 bilhões, respectivamente. Essa tendência de queda só
foi revertida a partir de 2004 com a recuperação dos planos de expansão
das corporações transnacionais dos principais países desenvolvidos, vindo
24 Ver Prochnik, V. Cooperação entre empresas como impulsora da inovatividade: proposta para as empresas nacionais. In: Castro, A. B., Possas, M. L. e Proença, A. Estratégias Empresariais na Indústria Brasileira: discutindo mudanças. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1996. Ver também Bahia, L. D., Furtado, P. e Souza, N. R. Impac-tos do Crescimento dos Complexos Industriais Brasileiros sobre o Emprego e o Saldo Comercial – 1985-1996. PPE, v. 34, n.2, ago 2004.
96
Panorama da Indústria Brasileira
o Brasil a receber em investimentos diretos mais de US$ 20 bilhões tanto em
2004 quanto em 2005. Tal comportamento do IDE refletiu num nível mais
geral, não apenas o quadro global desfavorável, mas o fim do ciclo de pri-
vatizações e o baixo crescimento econômico do país relativamente a outras
economias em desenvolvimento.
Outras variáveis também influenciaram o volume e a composição dos in-
gressos de IDE na economia brasileira, como a crise argentina que gerou
incertezas quanto ao futuro do Mercosul, as incertezas políticas com rela-
ção às eleições brasileiras, a instabilidade do câmbio associado aos juros
altos e a indefinição do quadro regulatório para o setor elétrico. Devem-se
acrescentar ainda, do ponto de vista microeconômico, as mudanças nas
estratégias das corporações transnacionais de acessar o mercado brasileiro
nos setores automotivo, de alimentos e bebidas, e nos serviços.
A evolução dos fluxos de IDE na economia brasileira pós-2000 apresentou,
portanto, mudanças importantes em relação ao período anterior. Observa-
se que quanto à modalidade de entrada no mercado brasileiro, as fusões e
aquisições tiveram uma participação média de 1/3, enquanto que no perí-
odo prévio tais operações chegaram a atingir como proporção do IDE na
casa dos 62%, em termos de valor. No que se refere à contribuição do IDE
97
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
para a FBCF na economia brasileira, esta registrou no período 2001 – 2005 uma taxa média
menor: de 15,6%, frente a 21,7% do período 1997 – 2000.
A contribuição do IDE para o financiamento das transações correntes do balanço de paga-
mentos foi fundamental não apenas na década de 90, como no início do período recen-
te. Entre 2001 e 2002 o IDE cobriu grande parte do déficit em conta corrente e, mesmo
com os grandes superávits comerciais a partir de 2003, o IDE foi elemento central para o
equilíbrio das contas externas. No período 2003 – 2006 o investimento direto teve uma
participação de 25% a 58% no total do financiamento externo da economia brasileira,
aportando, em termos líquidos, US$ 10,1 bilhões e US$ 18,8 bilhões, respectivamente.
Grá�co 43IDE, Transações Correntes e Necesidade de Financiamento Externo
(US$ bilhões)
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
2,8 0,3 -8,2 -0,6 -0,3 14 12,7 11,5 4,5 -3,3 -8,6 0,7 -9 -14,3 -29,8 -29,3 -32,3-24,2 -23,2 -7,6 4,2 11,7 14,2 13,5
0,0 10,0 20,0 30,0
-40,0 -30,0 -20,0 -10,0
40,0
IDE liq T . Correntes NFE
IDE liq 1,0 1,1 2,1 1,3 2,1 4,4 10,8 19 28,9 28,6 32,8 22,5 16,6 10,1 18,1 15,1 18,8 T . Correntes
NFE
-3,8 -1,4 6,1 -0,7 -1,8 -18,4 -23,5 -30,5 -33,4 -25,3
98
Panorama da Indústria Brasileira
99
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
Os empréstimos intercompanhias – que se referem efetivamente a investimentos
estrangeiros que optam pela versão “dívida” em detrimento da versão “investimento
em moeda” –, foram relativamente baixos nos anos 90, elevando-se a partir de 1999.
Entre 2000 – 2002 apresentaram variações, porém registrando montantes elevados25
(gráfico 43). Dado que esses capitais se movem frente às necessidades de suprimento
de liquidez das empresas afetadas por crises ou pela arbitragem com o diferencial de
taxas de juros, as oscilações registradas denotam um comportamento de antecipação
e fuga frente aos períodos de maiores instabilidades que acometeram a economia
brasileira naqueles anos. Os empréstimos caíram em 2003 e 2004 em relação a 2000 e
voltaram a se elevar significantemente em 2005 e 2006. Nesses dois últimos anos, essa
elevação refletiu a combinação de vários fatores, como: a forte liquidez nos mercados
financeiros internacionais, a incerteza quanto à evolução futura da taxa de câmbio e as
altas taxas de juros domésticas.
Quanto aos ingressos do IDE, através da forma “participação no capital”, estes predomi-
naram em relação aos empréstimos intercompanhias, tanto entre 1994 – 2000 como
entre 2001 – 2006, registrando naquele primeiro período uma participação de 93%,
com os investimentos em moeda e mercadorias correspondendo a 68% do total. No
segundo período, essa participação diminuiu para 72%, e a opção investimento em
moeda representou 69% e de mercadoria, menos de 1%. Vale notar que o investimen-
to em moeda é a forma mais importante de inversão, na medida em que reflete um
aporte efetivo de recursos para projetos de investimentos nas subsidiárias. Por isso
mesmo trata-se de um tipo de investimento sensível às incertezas com relação ao
crescimento econômico e às tensões inflacionárias, o que pode estimular ou neutra-
lizar os planos de médio e longo prazo das corporações transnacionais atuantes em
setores com baixa taxa de retorno dos lucros operacionais.
Outro aspecto importante nos ingressos de IDE absorvido pelo Brasil entre 2001 – 2006
é que o investimento direto externo na modalidade “conversões” aumentou no perío-
do 2000 – 2002 em mais de sete vezes. Esse é um dado importante, pois as conversões
se referem à transformação de obrigações externas em IDE cuja contratação da dívida
25 Em 2001, o Brasil adotou a metodologia contida na 5ª edição do “Manual de Balanço de Pagamentos do FMI” com relação ao IDE e passou a incluir os empréstimos intercompanhias no IDE, que anteriormente estavam classificados como empréstimos. Ao se comparar séries longas de IDE não há problemas nos dados porque o Bacen recalculou as séries fundamentais com base na nova metodologia.
100
Panorama da Indústria Brasileira
101
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
45.000
40.000
35.000
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
01990 1991 19931992 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Grá�co 44Participação no Capital e Empréstimos
(U$ em milhões correntes)
Empréstimos Interciais Participação no Capital
ocorre em momentos de instabilidades. As corporações transnacionais que investem sob a forma de empréstimos
podem liquidar seu passivo (ou parte dele) através das conversões. Em 2002, estas atingiram US$ 8,5 bilhões (45%) e
foram utilizadas pelas empresas estrangeiras instaladas no país como precaução contra uma possível moratória de dí-
vida externa em função da mudança política. No período pós-2002 as conversões representaram pelo menos 20% dos
ingressos em participação no capital. Segundo o Bacen, o crescimento desse tipo de transação em relação aos anos
90 também refletiu o maior endividamento do setor privado ocorrido naquele ano cujos vencimentos potencializam a
conversão desses débitos em investimentos. Já em 2006 as conversões caíram significantemente.
No biênio 2002 – 2003, as conversões representaram 40% dos ingressos sob a forma de participação no capital; em
2004 representaram 22,2% (US$ 4,6 bilhões), e em 2005 ficaram em mais de 25% (US$ 5,6 bilhões), nível acima do pe-
ríodo 1990 – 2001. Em 2006, as conversões tiveram uma queda significativa com uma participação de menos de 10%.
Tais operações devem-se ressaltar, não significaram novos investimentos, mas sim uma reestruturação patrimonial
associada às dificuldades das empresas em rolar suas obrigações.
Quanto à distribuição setorial, os ingressos de IDE no período recente, foram mais favoráveis à indústria, ainda que em
termos de participação tenha predominado o setor de serviços na maioria dos anos analisados. Veja-se que tanto a
indústria de transformação quanto o setor primário passaram a receber maiores montantes de IDE, em relação ao perí-
odo 1996 – 2000. Os serviços que absorveram em média 4/5 dos fluxos de IDE durante a segunda metade dos anos 90
contra 18% da indústria tiveram uma participação de 55% entre 2001 – 2006. O setor primário também melhorou sua
performance saindo de uma participação de 2% para 7% entre esses dois períodos.
Dentro da indústria os principais setores de destino do IDE, no período recente, foram fabricação de produtos alimen-
tícios, veículos automotores, produtos químicos, metalurgia básica, material eletrônico e equipamentos de comunica-
ção; os quais somaram uma participação de 26% do total de IDE recebido pelo país, representando 3/4 da indústria de
transformação. Esse quadro diferencia-se do período anterior quando se observa que entre 1996 – 2000 os seis maiores
absorvedores de IDE não chegaram a contabilizar 15% de participação no período.
Nos serviços, a lista dos setores mais atrativos como destino do IDE em 2001 – 2005 foram telecomunicações, comér-
cio, intermediação financeira, eletricidade, gás, água e serviços prestados às empresas cuja participação conjunta foi
de 44,5% no total de IDE do período. Apesar de que esses setores venham recebendo volumes menores de IDE, em
relação aos anos 90, os mesmos têm se mantido na liderança dos investimentos externos no período recente.
O setor primário apresentou um crescimento expressivo, com as atividades de extração de petróleo e serviços relacio-
nados e extração de minerais metálicos absorvendo 83% do total do IDE destinado ao setor, tanto no período recente
quanto na década passada.
102
Panorama da Indústria Brasileira
Grá�co 45Distribuição Setorial do IDE, estoque 1995, Fluxos 1996-2000 e 2001-2006
Agricultura,pesca,pecuária eextração mineral
Serviços
Indústria
Estoque, 1995 Fluxos 1996-2000
Fluxos 2001-2006
Fonte: Banco Central do Brasil/Censo de Capitais Estrangeiros e Notas para a Imprensa. Setor Externo.
55%
7%
38%
80%
2% 18%
55%
2%
43%
103
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
18,0
16,0
14,0
12,0
10,0
12,0
8,0
6,0
4,0
2,0
0,0
Grá�co 46Brasil: Principais Setores de Atração de IDE, 2001-2006 (% no total)
Agricultura,pec.
e servs. relac.
Extr.mineraismatálicos
Mat.eletrônico eequips. decomum.
Metalurgiabásica
Extr.petróleoe servs.
relacionados
Serv.prest. a
empresas
Fabr. emont.
veículosautomotores
Prods.químicos
Eletric.,gás e água
Interm.�nanceira
Comércio Prods.aliment.
e bebidas
Telecomunicações
Fonte: Bacen: séries históricas e Notas para a Imprensa. Setor Externo.
Abaixo apresentamos as estratégias dominantes de IDE na economia brasileira, no pe-
ríodo 2001 – 2006.
Participação no total deIDE recebido (2001-06)
10,3%
46,6%
18,21%
8,71%
Classificação dos setores de atração de IDE segundo as estratégias das filiais estrangeiras
Tabela 03
Tipo de Estratégia*
Resource Seeking
MarketSeeking (1)
Market Seeking(2)
MarketSeeking (3)
* Ver DUNNING, J. (1993) Multinational enterprise and the global economy. Workingham: Addiison-Wesley, 1993 e Alliance capitalism and global corporation. London: Routledge, 1997. Ver ainda LAPLANE, M. & SARTI, F. (2003) “O investimento direto estrangeiro e a internacionalização da economia brasileira nos anos 90”. In LAPLANE & SARTI (orgs.) Internacionalização e Desenvolvimento da Indústria no Brasil, 2003. Campinas: Unesp, 2003.
Fonte: Bacen: Notas para Impresnsa. Setor Externo.
Grau de IntegraçãoComercial da Filial
Alto
Não comercializáveis
Moderado
Baixo
Participação no total deIDE recebido (2001-06)
Alto pelo lado das exportações
Baixo
Alto pelo lado das exportações
Alto pelo lado das importações (exportações relevantes para o Mercosul)
Setores que mais atraíram DE (2001-2006)
• Extração de minerais metálicos• Extração de petróleo e serviços relacionados• Agricultura, pecuária• Papel e celulose e produtos de papel
• Telecomunicações• Comércio• Eletricidade, gás e água.• Intermediação financeira• Serviços prestados a empresas• Atividades imobiliárias
• Produtos alimentícios e bebidas• Setor automotivo• Metalurgia básica
• Produtos químicos• Mat. eletrônico e equip. comunicação
104
Panorama da Indústria Brasileira
Historicamente a maioria do IDE atraído pelo Brasil está associado às estratégias cor-
porativas tipo market seeking, influenciadas pelo tamanho e potencial de crescimento
do mercado brasileiro, e em menor extensão, às estratégias resource seeking. Os investi-
mentos cujas motivações são tipo efficiency-seeking, com foco em terceiros mercados,
não têm sido expressivos no Brasil. No entanto, com o menor crescimento do mercado
doméstico, uma parte da produção das empresas transnacionais tem se destinado às
exportações, combinando as estratégias de market seeking com efficienncy seeking.
No que se refere aos países de origem do IDE, também se observa mudanças impor-
tantes em relação ao comportamento de períodos anteriores. Dos mais proeminentes
investidores no Brasil – Estados Unidos, Alemanha, França, Suíça, Japão e Reino Unido
– apenas Estados Unidos e França continuam com presenças fortes no país, enquanto
que a Holanda26, que já tinha uma presença significante na economia brasileira, e a
Espanha e Portugal foram os mais ativos investidores no período recente (gráfico 47).
Os paraísos fiscais como origem dos investimentos, representaram 15% do influxo do
período 2001 – 2006, destacando-se os períodos de 2002 – 2003 quando essas fontes
responderam, respectivamente por 27,3% e 28,4% e do total de IDE dirigido ao país.
26 A Holanda aumentou muito sua participação nos investimentos diretos destinados ao Brasil o que pode ser devido a uma superestimação de seus reais investimentos. Oficialmente este país não é um paraíso fiscal, mas serve de origem para o investimento direto de vários outros países devido a sua legislação tributária muito atraente para as empresas transnacionais, fazendo com que os investimentos dessas empresas transitem pela Holanda. O mesmo raciocínio deve ser aplicado aos inves-timentos originados em Luxemburgo.
105
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
40
30
20
10
0
Estados Unidos Países Baixos Espanha França Alemanha Canada Japão Outros
Grá�co 47Países de Origem do IDE
Fonte: Bacen: Censo de Capitais Estrangeiros e Notas para a Imprensa. Setor Externo.
1.5.3 Diversificação de mercados de destino das exportações
Comparando-se o desempenho das exportações entre 1999 e 2006, verifica-se o au-
mento das exportações para todas as regiões, mas em proporções nitidamente distin-
tas. A diversificação dos destinos das exportações ocorreu como resultado do cresci-
mento da demanda de mercados emergentes, com destaque para a China. Assim, a
participação de destinos tradicionais das exportações brasileiras, como União Européia
e Estados Unidos, foi reduzida. Considerando-se a média dos valores exportados nos
biênios 1999 – 2000 e 2005 – 2006, as exportações para a União Européia reduziram
sua participação no total exportado de 27,7% para 22,2%. Por outro lado, verificou-se
um crescimento das participações da Europa Oriental, África, Oriente Médio e Ásia.
Em 1999, a China comprou 1,41% do valor total exportado pelo Brasil e constava como
o 15º destino das exportações brasileiras. Em 2005 já era o 3º principal destino e res-
pondia pela compra de 5,78% do valor exportado pelo Brasil. O crescimento da par-
ticipação continuou em 2006, atingindo 6,11% do valor total exportado. Em valores
corrigidos para 2006, isto significou um crescimento de US$ 888 milhões para US$ 7,1
bilhões em 2005 e US$ 8,4 bilhões em 2006. Já os Estados Unidos, principal importa-
dor dos produtos brasileiros, elevaram as suas compras do Brasil de US$ 14 bilhões
em 1999 para US$ 24,4 bilhões em 2006, mas a participação no total foi reduzida de
22,23% para 17,77% no período.
De um crescimento real das exportações anuais de US$ 74,4 bilhões entre 1999 e 2006,
23,5% (US$ 17,5 bilhões) foram devidos aos países da Aladi, 17,8% (US$ 13,3 bilhões)
aos países da Ásia (exclusive Oriente Médio), 16,6% (US$ 12,3 bilhões) aos países da
União Européia e 14,0% (US$ 10,4 bilhões) aos Estados Unidos.
Entre 1999 e 2006 os crescimentos das exportações por grupos de países e princi-
pais países foram: Ásia (176,2%, sendo que as vendas destinadas à China cresceram
845,8%); Oriente Médio (192,3%); Mercosul (56,7%, sendo que as exportações para a
Argentina registraram crescimento de 66,3%); África (324,3%); Estados Unidos (73,2%);
Europa Oriental (191,3%); e Aladi, exclusive Mercosul (250,9%).
O gráfico 51 permite visualizar as mudanças das participações dos principais mercados
de destino das exportações brasileiras.
106
Panorama da Indústria Brasileira
Gráfico 51 Participações dos principais mercados de destino das exportações brasileiras, 1999 a 2006, em %
Fonte: SECEX. Valores corrigidos pelo IPA EUA, base 2006.
107
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
Média 1999/2000
União Européia - Ue 27,7%
Estados Unidos (Inclusive Porto Rico) 23,5%
Associação Latino Americanade Integração - Aladi22,7%
Oriente Médio)Ásia (Exclusive
11,7%
Oriente Médio2,8%
África2,6%
Europa Oriental2,1%
Provisão de Navios eAeronaves
1,6%
Outros5,4%
Média 2005/2006
União Européia - UE22,2% Estados Unidos
(Inclusive Porto Rico) 18,5%
Associação Latino Americana de Integração - Aladi 22,2%
Ásia (ExclusiveOriente Médio)
15,4%
Oriente Médio3,9%
África5,2%
Europa Oriental3,3%
Provisão de Navios eAeronaves
1,8%
Outros7,4%
O desempenho bastante favorável das exportações neste período recen-
te não garante a continuidade do crescimento das exportações no futu-
ro. Considerando um possível cenário de arrefecimento da expansão das
exportações via aumento de preços, quais seriam as alternativas para a
manutenção do crescimento das exportações brasileiras? Apostar na con-
tinuidade de uma demanda mundial aquecida pode mostrar-se uma deci-
são arriscada. Seria preciso romper algumas amarras da economia para que
esse fluxo de produtos para o exterior continuasse crescendo e ajudando a
produção doméstica a ganhar escala e competitividade.
Nesse contexto, é necessário analisar o comportamento das empresas ex-
portadoras de modo a melhor compreender as restrições e possibilidades
de mudanças que poderiam contribuir para o crescimento das exporta-
ções. Aumentar as exportações de empresas que já exportam e viabilizar
a entrada de firmas com perfil produtivo semelhante, mas que ainda não
exportam, parece um caminho claro.
108
Panorama da Indústria Brasileira
109
O desempenho da indústria no período entre 1999 − 2006
110
CAPíTulo 2
As opções fundamentais
para o crescimento e
o desenvolvimento111
2.1 Introdução
Se a política fiscal cumpre um papel relevante para viabilizar o crescimento a taxas mais
altas, deve-se considerar que a inovação e diferenciação de produtos cumprem também
um papel importante para o crescimento das empresas, do emprego e da melhora da in-
serção externa brasileira. Em outras palavras, a opção estratégica de fomentar e viabilizar
a inovação nas empresas da indústria brasileira é eixo fundamental e indispensável para
o desenvolvimento econômico no Brasil.
Nesse sentido, passamos a tratar (nessa ordem) de alguns dos impactos na indústria
brasileira das inovações, sob os aspectos, primeiro: da inserção externa e, segundo: no
crescimento das empresas e da valorização do trabalhador.
2.1 Inserção externa
No mundo globalizado de hoje, a internacionalização das empresas se torna essencial
para um maior desenvolvimento econômico. Para que as empresas industriais alcancem
uma maior competitividade é necessário, principalmente, que sejam inovadoras. Nesse
sentido, analisaremos o papel da inovação, internacionalização, e da exportação no de-
sempenho das empresas brasileiras.
Inovação/diferenciação de produtos e a inserção externa das empre-
sas brasileiras
Nos últimos anos, a participação dos produtos de alta tecnologia no comércio interna-
cional tem crescido com taxas três vezes maiores que dos produtos primá-
rios. Entretanto, na pauta de exportação brasileira, o valor das commodities é
o maior, e vem aumentando a maiores taxas desde 2002. O segundo grupo
de importância na pauta é o de produtos de média intensidade tecnológi-
ca, que ocupam também a segunda taxa de crescimento de valor desde
2002.
Dado este perfil, é possível afirmar que o Brasil hoje enfrenta uma situação
enfrentada pela Coréia do Sul em 1990: concorrência via custos de produ-
tos intensivos em mão-de-obra e recursos naturais (geralmente originados
112
Panorama da Indústria Brasileira
dos chamados “emergentes”) e concorrência de produtos de alta tecnologia
(geralmente originados dos países mais avançados) – trata-se do chamado
“quebra-nozes competitivo”. A solução para este impasse não é aprofundar
uma especialização brasileira apenas em produtos intensivos em recursos
naturais e/ou mão-de-obra. A solução está em fazer, como a Coréia do Sul
fez de forma bem sucedida, um esforço de aprimoramento tecnológico e
inovador capaz de viabilizar uma inserção externa coerente com um qua-
dro de justiça social.
O papel da internacionalização das empresas
Podemos observar que, para as empresas brasileiras que se internacionali-
zam (abrem filiais no exterior), há um círculo virtuoso entre inovação e o ato
de se internacionalizar, ou seja: sua inovação de produto e/ou processo lhe
113
As opções fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento
114
Panorama da Indústria Brasileira
115
As opções fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento
possibilita qualidade para se internacionalizar e uma vez efetivada, possibi-
lita-lhe um aprendizado com os clientes externos e uma janela tecnológica
que incrementam seu potencial para mais inovações e diferenciação. Assim,
estas firmas conseguem preço-prêmio em suas exportações e aumentam
suas chances de exportar para mercados mais exigentes.
Assim, as empresas brasileiras com filiais no exterior geram mais exporta-
ções que suas congêneres exportadoras. Além disso, acabam gerando mais
postos de trabalho, com melhores salários e menor rotatividade. Este último
aspecto se deve ao fato delas investirem mais em treinamento em relação
a seu faturamento. E também ao fato de seu maior investimento relativo (já
que se inclui o investimento no exterior) gerar maior capacidade produtiva
e, considerando tudo o mais constante, mais postos de trabalho.
Os determinantes da internacionalização são basicamente a maior capa-
cidade (medida pelo grau de instrução médio e a baixa rotatividade) para
inovar, o investimento em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), a eficiência
produtiva e a escala de produção.
É importante notar que a internacionalização das empresas brasileiras não
desvia comércio, no sentido de perda de exportações. Pelo contrário, a in-
116
Panorama da Indústria Brasileira
ternacionalização faz estas empresas exportarem mais, devido aos ganhos
dinâmicos do círculo virtuoso descrito acima.
A importância de tornar as empresas exportadoras
Aumentar a base exportadora (número de empresas que exportam) da
economia brasileira é extremamente relevante. Isto porque exportar é um
teste de competitividade, um aprendizado que leva a firma a se aprimorar
produtivamente, com reflexos evidentes sobre o conjunto do mercado de
trabalho, da difusão de tecnologia e inovações, e a geração de renda.
De fato, as firmas fortemente exportadoras apresentam em média uma produ-
tividade cinco vezes maior que as voltadas para o mercado interno. A relação
capital/produto das primeiras é em média quase quatro vezes maior que das
segundas, o que torna aquelas capazes de gerar valor agregado médio 50 ve-
zes maior que as voltadas para o mercado interno. Quanto mais voltadas para
o mercado externo, maior a escolaridade média dos trabalhadores das empre-
sas, maior o tempo médio de empresa do funcionário mais antigo. Além disso,
as firmas fortemente exportadoras pagam em média quatro vezes mais de
salário a seus empregados que as firmas voltadas para o mercado interno.
117
As opções fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento
Além disso, aumentando a base exportadora tende-se
a diversificar os clientes comerciais do Brasil, pois as fir-
mas fortemente exportadoras geralmente trabalham
com mais de seis destinos de seus produtos, enquanto
as apenas exportadoras trabalham na maioria com até
cinco destinos.
A inovação da empresa estimula o aumento das exportações
Nota-se que há custos fixos iniciais para uma empre-
sa não-exportadora se tornar exportadora. Assim, uma
empresa só se torna exportadora se perceber que a
mudança no lucro esperado de exportação é suficiente
para cobrir os custos fixos citados. Entretanto, uma vez a
empresa tendo entrado no comércio internacional, ela
tende a permanecer exportando, com relativa insensi-
bilidade a situações macroeconômicas aparentemente
adversas (como, por exemplo, câmbio real valorizado).
Isso acontece porque aqueles custos fixos de entrada
no mercado internacional apresentam rápida depre-
ciação. Logo, se deixar de exportar, mesmo voltando a
exportar em seguida a empresa terá que incorrer em
todos aqueles custos fixos novamente.
Além disso, há ganhos e aprendizado de eficiência e
produtividade no comércio internacional. Assim, uma
vez exportadora, a empresa tende a permanecer ex-
portadora e a ser mais eficiente, inclusive no mercado
de origem.
Outra evidência de suma importância é a de que fir-
mas inovadoras (de produto e/ou processo) apresen-
tam maior chance de serem exportadoras, e mais: têm
maior probabilidade de permanecerem exportadoras
(dado qualquer choque macroeconômico adverso),
pois incrementam sua atividade inovadora a partir do
aprendizado no mercado externo. Ou seja, a questão
de custos não é a única e, talvez, nem a mais relevante
para a competitividade das empresas.
A exportação induz o investimento e o cresci-mento
A matriz produtiva da indústria brasileira apresenta re-
tornos crescentes de escala, o que permite dizer que
no Brasil a economia de escala das empresas estimula o
crescimento da produtividade e a taxa de crescimento
do produto. Isto porque o crescimento industrial via-
biliza o aprimoramento de know-how e as chances de
especialização, diferenciação e a troca de experiências
produtivas. Assim, pode-se afirmar que as firmas expor-
tadoras brasileiras apresentam maior eficiência de esca-
la que as não-exportadoras.
118
Panorama da Indústria Brasileira
Além disso, podemos dizer que os retornos de escala são maiores quanto maior for a escala para as empresas indus-
triais como um todo – sendo estes retornos ainda maiores para as exportadoras que inovam –, exportam com preço-
prêmio e diferenciam produto.
Finalmente, cabe assinalar que as firmas exportadoras, por terem parte de sua demanda efetiva situada no exterior,
em ambiente de maior estabilidade macroeconômica, têm maior propensão a investir que as não-exportadoras. O
que permite afirmar que, pelas exportações serem um importante componente da demanda efetiva, podem facilitar o
Brasil a entrar num círculo virtuoso de crescimento.
119
As opções fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento
Conclusão sobre inserção externa
Nota-se, a partir de meados dos anos 1990, que o aumento do crescimento interno não mais
induzia um arrefecimento do ímpeto exportador – o que culmina, em 2004, num ano de
forte crescimento do PIB e forte crescimento das exportações.
Este resultado se deve ao fato do Brasil possuir um mercado interno suficientemente grande
para ganhos de escala na produção e, também, aumentar a competitividade das empresas
através da inovação. Além disso, a abertura econômica possibilitou ganhos com importação
de insumos e bens de capital de alta qualidade.
O resultado é que o Brasil não se especializou em setores onde detém maior abundância
de fatores (recursos naturais e mão-de-obra). Uma demonstração disso é o papel central
do complexo metal-mecânica na trajetória setorial de crescimento do período 1999 – 2006,
analisado anteriormente.
2.3 O papel da inovação na competitividade e na valorização do trabalhador
Os esforços feitos na década de 1990, com a abertura comercial, de diminuição dos recursos
necessários para o mesmo nível de retorno levariam à inevitável inserção de grande parte
das empresas industriais brasileiras preponderantemente em mercados cuja competição se
estabelece por meio dos preços, em detrimento daqueles em que a diferenciação de produ-
to exerce a principal influência competitiva. Porém, são nesses mercados que as inovações
tecnológicas geram às empresas que as implementam um relativo poder de mercado que,
mesmo que temporário, permitem que elas obtenham um maior retorno pelo capital inves-
tido e maior proteção a seus trabalhadores contra as recorrentes oscilações de preços dos
produtos padronizados.
Em outras palavras, se a inovação tecnológica desempenha um papel central na trajetória de
desenvolvimento econômico, o crescimento concomitante da produtividade e do emprego
industrial passa pela inserção competitiva nesses mercados. Esta, por sua vez, só se dá por
meio da intensificação de esforços inovativos, como investimentos em pesquisa e desenvol-
vimento (P&D), por parte das empresas nacionais.
120
Panorama da Indústria Brasileira
Por que inovar é importante para a competitividade das empresas?
Buscar, como estratégia para a indústria, a racionalização de custos apenas, mesmo que com
um aprimoramento da interação sistêmica das empresas e setores, perde a oportunidade de
migração para estratégias empresariais muito mais dinâmicas e promissoras a longo prazo.
De fato, a estratégia de racionalização de custos apenas alcança uma inserção competitiva
de aumento de capacidade por meio de emprego de bens de capital semelhantes ao já
utilizados e diminuição marginal de custos e/ou melhoria da qualidade.
Empresas que buscam a inovação apenas em processo apresentam estratégia um pouco
mais dinâmica que as anteriores, ou seja, de liderança de custos. Sua inserção competitiva
se dá através da ampliação da capacidade produtiva com saltos de eficiência, significativa
diminuição de custos e/ou aumento da qualidade.
As firmas que apenas inovam em produto buscam basicamente reposicionamento no mer-
cado, com inserção competitiva baseada na diferenciação de produto e/ou diversificação
para novo mercado com a mesma base técnica disponível.
Finalmente, as empresas que inovam em produto e processo, buscam vantagens competi-
tivas mais dinâmicas que todas as categorias anteriores, com diferenciação de produto e/ou
diversificação para novo mercado via saltos na eficiência técnica (custos e/ou qualidade)27.
Nota-se que as empresas que se encaixam na última categoria acima conseguem uma in-
serção muito mais promissora a médio e longo prazos. Mesmo que as empresas de um país
se envolvam em especialização advinda de suas vantagens comparativas, isto não exclui a
necessidade de aprofundamento inovativo, que as autoriza a auferir taxas de crescimento
muito maiores, taxas de lucro mais significativas e capacidade muito mais genuína de com-
petir num mundo globalizado, ou seja, estas empresas se autorizam a responder à compe-
tição internacional (que é inevitável) de forma virtuosa (via crescimento), e não de forma
regressiva (via uma especialização de conseqüências duvidosas).
Assim, a estratégia de aprofundar a inovação tecnológica e a diferenciação de produtos é
uma alternativa importante àquele “quebra-nozes competitivo” citado anteriormente. Há
27 Ver Prochnik, V. e Araújo, R. D. Uma análise do baixo grau de inovação na indústria brasileira a partir do estudo das firmas menos inovadoras. In: De Negri, J. A. e Salerno, M. Inovações, Padrões Tecnológicos e Desempenho das Firmas Industriais Brasileiras. Brasília: IPEA, 2005.
121
As opções fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento
122
Panorama da Indústria Brasileira
123
As opções fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento
evidências de que o aprimoramento tecnológico, além disso, induz o investimento na indús-
tria – ou seja, empresas mais aprimoradas e mais inovadoras conseguem inserir no mercado
(tanto interno quanto externo) produtos novos que, por sua natureza, tendem a encontrar
uma demanda mais favorável, o que estimula o retorno esperado dos investimentos em
geral.
Inovação e mercado de trabalho: algumas evidências
Observa-se nos últimos anos certa modificação na tendência que predominou na segunda
metade dos anos 1990, de poupança de mão-de-obra. A partir de 2000 o emprego industrial
voltou a crescer, evidenciando tanto o esgotamento do processo de reestruturação produ-
tiva via redução do pessoal ocupado quanto – e talvez mais importante – o crescimento
refletido pelo boom exportador que se seguiu à desvalorização cambial, especialmente nos
últimos três anos, e que favoreceu o crescimento da produção e do emprego no setor.
Tanto o comércio exterior quanto a inovação tecnológica exercem influências diretas e in-
diretas, não apenas sobre o volume, mas inclusive sobre a qualidade do emprego. Assim,
apesar de na primeira metade da década de 1990 o nível de emprego ter sido bastante afe-
tado pela instabilidade política e macroeconômica, pode-se dizer que o grau mais elevado
de internacionalização da economia brasileira se constituiu uma das principais causas para
as transformações no mercado de trabalho no período recente.
Os ganhos de produtividade da década de 1990 de fato contribuíram para o aumento de efi-
ciência do setor produtivo doméstico, fazendo com que o país demonstre uma capacidade
de inserção internacional não apenas em setores tradicionais, mas também naqueles inten-
sivos em escala e tecnologia. Com isso, permite-se a geração de emprego em segmentos
de mercado tradicionalmente dominados pelos países desenvolvidos, tornando a estrutura
produtiva resultante desse processo, mais internacionalizada, promissora em termos de ou-
tras fontes de dinamismo e de crescimento do emprego.
Justamente, as exportações aparecem no período recente como uma dessas fontes. Uma
significativa parcela das empresas brasileiras – responsável por uma fatia nada desprezível
do emprego na economia do país – tem logrado se inserir no mercado internacional. De
fato, 10% dos trabalhadores brasileiros estão ocupados nas empresas que exportaram inin-
terruptamente entre 2000 e 2004. Levando-se em consideração também as empresas que
124
Panorama da Indústria Brasileira
entraram e saíram do mercado externo, nesse período, as exportadoras empregam cerca de
entre 10% e 15% dos trabalhadores do país.
Contrariando a expectativa de um efeito negativo em termos de emprego como resultado
desses aumentos de produtividade, as empresas que começaram a exportar fizeram mais
contratações do que as que ficaram confinadas ao mercado doméstico. Evidentemente
também o crescimento das vendas, derivado da conquista de novos mercados, em uma
conjuntura de crescimento do comércio internacional, pode explicar por que essas firmas
cresceram mais do que as que nunca exportaram. As firmas que estrearam nas exportações
nesse período e que continuaram exportando tiveram aumentos de mais de 50% nas suas
vendas nos dois primeiros anos posteriores à expansão de suas fronteiras. O emprego, por
sua vez, cresceu mais de 20% em cada um dos dois anos seguintes. Como as receitas cresce-
ram mais do que o emprego, isso explicaria por que essas empresas ganharam produtividade
ao mesmo tempo em que contrataram mais trabalhadores. Entretanto, constata-se também
a ocorrência da destruição de postos de trabalho quando a firma não é bem-sucedida nas
exportações. As firmas que saíram do mercado internacional demitiram, no ano seguinte à
saída, 9,6% mais empregados do que aquelas que nunca exportaram.
125
As opções fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento
Dessa forma, evidencia-se que o comércio internacional pode ter impactos positivos sobre o
emprego na economia, apontando a devida importância tanto da ampliação do número de
firmas exportadoras quanto da manutenção delas no mercado internacional. Ainda, se é ver-
dade que a maior parte do emprego no país se encontra no setor de serviços e nas empresas
não exportadoras, também o é o fato de o efeito das exportações sobre o emprego não ser
nada desprezível. Por exemplo, ao longo do período compreendido entre 2000 e 2004, as
empresas exportadoras contínuas geraram aproximadamente 400 mil novos postos diretos
de trabalho, podendo este número ser ainda maior ao levar em conta os empregos indiretos
gerados pelo aumento das exportações.
A tecnologia constitui ainda outro fator igualmente importante para a geração de emprego
e para a qualidade dos postos de trabalho no setor produtivo brasileiro. Com esta questão
em vista, é relevante o fato de um terço das empresas brasileiras com mais de dez funcioná-
rios terem realizado, entre 2001 e 2003, algum tipo de inovação tecnológica ou possuírem
um projeto de inovação em andamento. Contudo, entre as firmas brasileiras com mais de
500 funcionários, o percentual de firmas que realizaram algum tipo de inovação tecnológica
é substancialmente maior: pouco mais do que sete em cada dez firmas. Assim, torna-se
claro o papel do desenvolvimento tecnológico nas atividades de uma significativa parcela
das firmas brasileiras. Um dos efeitos desse fato sobre o mercado de trabalho diz respeito
à qualificação de mão-de-obra de que as firmas necessitam antes e depois de realizarem a
inovação.
As grandes firmas brasileiras – aquelas com mais de 500 funcionários e que são mais inova-
doras e mais avançadas tecnologicamente – geraram muito mais empregos do que a média
do país. Ao longo do período compreendido entre 2000 e 2004, o crescimento do emprego
nessas firmas foi da ordem de 29%, significando a criação de quase 500 mil novos postos de
trabalho. Esses resultados mostram que a tecnologia pode de fato abrir novas oportunida-
126
Panorama da Indústria Brasileira
des de crescimento para as empresas que acabem compensando o seu efeito negativo
inicial sobre o emprego.
Além disso, pode-se afirmar que as firmas inovadoras pagam salários mais altos a seus
funcionários do que aquelas que não inovam. Ou seja, os trabalhadores das primeiras
recebem cerca de 23% acima do que os trabalhadores das demais firmas. Assim, é lícito
afirmar que o aumento das firmas inovadoras na estrutura industrial brasileira poderia
levar a um aumento dos salários dos empregados destas empresas.
127
As opções fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento
128
Capítulo 3
As políticas públicas voltadas
para indústria brasileira129
3.1 Introdução
O Brasil apresenta como herança do período desenvolvimentista, da estagnação da década de 1980 e do ajuste pro-
dutivo da década de 1990, um estágio elevado de industrialização, que gera um montante substancial de riqueza
produtiva, mas que tem duas deficiências importantes: uma deficiência em eletrônica e informática (setores-chave na
competição industrial); e uma estrutura com processos produtivos mais eficientes que os da década de 1980, mas que,
de modo geral, não conseguiu uma mudança na estratégia competitiva da indústria, que continuou a ter na fábrica, na
operação fabril, o seu foco (em detrimento da estratégia inovadora que, como exposto acima, possibilita uma inserção
competitiva virtuosa).
Por um lado, as empresas no Brasil, em geral, inovam buscando solução de problemas específicos, e não de forma
continuada buscando no longo prazo competência tecnológica28. Por outro lado, nota-se que o aprimoramento tecno-
lógico como estratégia dominante só ocorre em um sistema de inovação que “é um conjunto complexo de instituições
e agentes econômicos que mantêm relações orgânicas entre si em busca de inovações e da competitividade nacional.
São eles universidades, institutos de pesquisa, empresas, os sistemas de apoio à C&T [Ciência e Tecnologia], as agências
de fomento, as instituições de formação de recursos humanos, as instituições reguladoras, as instituições específicas
que tratam de temas relacionados (como a regulação dos direitos de propriedade intelectual), as agências públicas
que concedem incentivos fiscais ou financeiros para o desenvolvimento da tecnologia, dentre outras. Para que haja
a referida organicidade, pressupõe-se que haja interação e cooperação entre esse atores do sistema, em diferentes
dimensões, para a geração e incorporação de inovações”29
Justifica-se, assim, um conjunto de políticas públicas indutoras desta organicidade inovativa no tecido produtivo.
3.2 A concepção da PITCE
A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) consiste em um plano de ação do Governo Federal com
vistas ao aumento de eficiência da estrutura produtiva, a elevação da capacidade de inovação das empresas brasileiras
e à expansão das exportações – ou seja, tenta-se vencer aquele citado “quebra-nozes competitivo” através da inovação
e diferenciação de produtos, alcançando um novo patamar competitivo e uma organicidade virtuosa entre os agentes
acadêmicos, técnicos, produtivos e de gestão/coordenação.
28 Ver Corder, S. M. Financiamento e incentivos ao sistema ao sistema de ciência, tecnologia e inovação: quadro atual e perspectivas. Campinas: UNICAMP, 2004. (Tese de Doutorado).29 Corder, S. M. op. cit.
130
Panorama da Indústria Brasileira
131
As políticas públicas voltadas para indústria brasileira
Em termos mais técnicos, trata-se de articular um Sistema Nacional de Inovações,
que seria composto pelos seguintes elementos30:
“Organizações de ensino e pesquisa produzindo conhecimentos e i)
tecnologias e que mantenham um bom nível de cooperação com
as organizações empresariais e geradoras potenciais de inovação e
também produtoras de pesquisa e tecnologias”
“Um sistema produtivo que, induzido pela concorrência ou por -
estratégias empresariais de médio e longo prazos, introduza sis-
tematicamente inovações de processo e produto e implemente
atividades de P&D, como parte deste esforço de inovação”;
“Um conjunto de instituições de prestação de serviços tecnológi--
cos e suporte à infraestrutura tecnológica”.
“Um sistema de informações e de indicadores estruturado”.ii)
“Órgãos reguladores e normas”.iii)
“Suporte financeiro”.iv)
“Coordenação tanto por parte do mercado quanto por parte do Es-v)
tado”.
Em outras palavras, o desafio é fazer com que haja uma interação sistêmica entre
atores promotores, criadores e de apoio à inovação/diferenciação de produto e
aprimoramento produtivo.
A herança das décadas anteriores não é estimulante: até os anos 70, criou-se uma
cultura de importação de tecnologias; nos anos 80, tanto os avanços na área pro-
dutivo-empresarial quanto na tecnológica foram praticamente interrompidos; nos
anos 90, iniciou-se um processo de movimento das estratégias de ajuste empre-
sarial da gestão para ações mais efetivas. Entretanto, as empresas inovadoras en-
frentaram mais recentemente três grandes grupos de obstáculos: custos, riscos e
escassez de fontes adequadas de financiamento; falta de pessoal qualificado e de
30 Corder, S. M., op. cit.
132
Panorama da Indústria Brasileira
informação tecnológica e de informações sobre o mercado, associada a condições
de mercado não estimulantes; finalmente, dificuldades de cooperação com outras
empresas e/ou instituições e a escassez de serviços técnicos externos31.
Até 2002, este era o quadro de nosso Sistema Nacional de Inovações, com uma
importante exceção: os fundos setoriais. Entretanto, deve-se reconhecer que tais
fundos não exerceram naquele momento o papel dinamizador de inovações dese-
jado, pois o contingenciamento fiscal reduziu sobremaneira sua execução32.
A PITCE busca assim, alterar tal quadro por três linhas de ação:
Linhas de ação horizontais: modernização industrial, inovação e de-i)
senvolvimento tecnológico, inserção externa e melhoria do ambien-
te institucional;
Opções estratégicas: desenvolvimento dos setores de software, semi-ii)
condutores, bens de capital, e fármacos e medicamentos;
Atividades portadoras de futuro: consolidação de biotecnologia, na-iii)
notecnologia e energias renováveis.
Foram criados, para implementação e coordenação da PITCE, a Agência Brasileira
de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Industrial (CNDI).
A seguir, detalharemos as iniciativas em cada uma das linhas.
3.2.1 Linhas de ação horizontais da PITCE
As linhas de ação horizontais procuram definir marcos regulatórios e de atuação
institucional, buscando aquela já citada organicidade do Sistema Nacional de Ino-
vação (SNI) brasileiro.
31 Corder, S. M., op. cit.32 Ver Bastos, V. D. Fundos Públicos para Ciência e Tecnologia. Revista do BNDES, dez. 2003.
133
As políticas públicas voltadas para indústria brasileira
Dentro da ênfase em Inovação e Desenvolvimento Tecnológico, um dos pilares da base legal da PITCE é a Lei de
Inovação33. Esta lei procura estimular as relações em torno da inovação entre universidades, empresas privadas e setor
público. Para tal, procurou-se fornecer estímulos: às parcerias entre empresas privadas e universidades ou institutos pú-
blicos de pesquisa; à exploração no mercado produtivo das inovações oriundas nas universidades e institutos públicos
de pesquisa; à inovação nas empresas por meio do apoio do Estado sob a forma de subvenção econômica, financia-
mento ou participação societária; à contratação de empresas privadas, por parte da administração pública, visando à
atividade de pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Dessa forma, a Lei de Inovação estabelece novos marcos para as relações entre empresas privadas e universidades e
institutos de pesquisa públicos, além de possibilitar uma ação mais positiva do Estado no apoio à inovação empre-
sarial, tanto pelo instrumento da subvenção econômica a empresas para desenvolvimento tecnológico, quanto pela
possibilidade de compras tecnológicas pelo Estado. A lei permite, por exemplo, o investimento público em empresas
privadas e cria estímulos para que as empresas contratem pesquisadores para seus quadros ou para que pesquisadores
constituam empresa para desenvolver atividades relativas à inovação. Tudo isso torna evidente a importância desta lei
para que as empresas sejam mais competitivas e capazes de agregar mais valor aos seus produtos.
O objetivo desta lei vai ao encontro da criação de um conjunto de instituições de prestação de serviços tecnológicos e
suporte à infra-estrutura tecnológica (já citado como importante para a dinâmica de um SNI brasileiro), e também visa
resolver um dos mais importantes obstáculos à inovação das empresas, ou seja, as dificuldades de cooperação com
outras empresas e/ou instituições e a escassez de serviços técnicos externos.
Em outra vertente, a chamada “Lei do Bem” 34 estabelece uma série de instrumentos visando o apoio à inovação tec-
nológica na empresa privada. Estas medidas de incentivo abrangem:
- Isenção de PIS/Pasep e COFINS na compra de máquinas e equipamentos por parte de empresas que exportem
ao menos 80% de sua produção;
- Isenção de PIS/Pasep e COFINS a fabricantes de computadores (dentro de determinadas especificações) e outros
equipamentos de informática;
- Possibilidade de exclusão de 60% do lucro líquido na determinação da Contribuição Social sobre o Lucro Líqui-
do (CSLL), a partir dos dispêndios em P&D. Descontos adicionais podem ser feitos de acordo com o número de
pesquisadores contratados e a vinculação a patentes. Ainda, a lei permite que os contratos de P&D com micro
e pequenas empresas nacionais sejam contabilizados como dispêndios incentivados, estimulando parcerias e
33 Lei 10.973, de 02/12/2004, regulamentada pelo Decreto 5.563 de 11/10/2005.34 Lei 11.196, de 21/11/2005, regulamentada pelo Decreto 5.798 de 08/06/2006.
134
Panorama da Indústria Brasileira
possibilitando inclusive que empresas menores possam se beneficiar da lei, in-
diretamente, pelo estímulo à sua demanda;
- Redução de 50% do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente so-
bre equipamentos, máquinas, aparelhos e instrumentos destinados a atividades
de P&D, bem como sobre os acessórios sobressalentes e as ferramentas que
acompanhem esses bens;
- Cálculo de depreciação acelerada das máquinas, equipamentos, aparelhos e
instrumentos novos destinados à utilização nas atividades de P&D;
- Amortização acelerada dos dispêndios relativos à aquisição de bens intangíveis
vinculados exclusivamente às atividades de P&D;
135
As políticas públicas voltadas para indústria brasileira
- Redução a zero da alíquota do imposto sobre a renda retido na fonte sobre as
remessas efetuadas para o exterior destinadas ao registro e à manutenção de
marcas, patentes e cultivares.
O sentido da “Lei do Bem” está em facilitar a modernização sistemática de atividades
das empresas associada ao desempenho de mercado (a empresa se tornar exporta-
dora), além de um conjunto de incentivos à realização de P&D, que vai ao encontro
da necessidade de um SNI com investimento sistemático em P&D e de atividades de
inovação por parte das empresas. Os vários incentivos fiscais e contábeis vão ao en-
contro da superação do obstáculo à inovação referente aos estímulos das condições
de mercado para a empresa ser inovadora. Além disso, estimula-se a organicidade dos
atores de inovação, como contratação de pesquisadores, micro e pequenas empresas
e registro de marcas e patentes (aqui e no exterior). Finalmente estimula-se a supera-
ção da já citada deficiência brasileira em informática e eletrônica, tanto do ponto de
vista de produção quanto de utilização produtiva.
No mesmo sentido, a Lei de Informática35 prorrogou até o ano de 2019 a vigência
dos incentivos fiscais gozados atualmente pelo setor36 (que se encerraria em 2009).
Segundo esta lei, têm direito a incentivos fiscais empresas de desenvolvimento ou
produção de bens e serviços de informática e automação que investirem 5% de seu
faturamento bruto em atividades de pesquisa e desenvolvimento em tecnologia da
informação no país. Já foram beneficiadas 327 empresas, e foram investidos de 2003
a 2006 R$ 2 bilhões.
Outra Lei, a Lei de Biossegurança37, procura regulamentar os campos de pesquisa
com organismos geneticamente modificados e células-tronco. Esta última é decisiva,
ao viabilizar a pesquisa com organismos geneticamente modificados e com as cha-
madas células-tronco, ainda que um dos marcos que necessita atualização seja a lei de
acesso a recursos genéticos, oriunda da Medida Provisória 2.186-16 de 2001. Assim, o
governo estuda alternativas para uma nova lei que respeite direitos relativos ao conhe-
cimento tradicional, iniba a biopirataria, possibilite a pesquisa e a geração de produtos
35 Lei 11.077, de 30/12/2004, regulamentada pelo Decreto 5.906 de 26/09/2006.36 As empresas aderentes têm isenção de IPI dos bens de informática por elas produzidos no país, em contrapartida a um investimento em P&D equivalente a 5% de seu faturamento.37 Lei 11.105, de 24/03/2005, regulamentada pelo Decreto 5.591 de 22/11/2005.
136
Panorama da Indústria Brasileira
137
As políticas públicas voltadas para indústria brasileira
e riqueza com a exploração racional, econômica e socialmente sustentável dos diver-
sos biomas brasileiros. De fato, a regulamentação atual coloca inúmeros entraves ao
desenvolvimento e à articulação com as comunidades.
Estas duas últimas leis visam favorecer o desenvolvimento tecnológico em áreas estra-
tégicas e também incentivam as atividades de P&D.
Paralelamente ao marco legal, outra preocupação da PITCE diz respeito à racionalização
da aplicação de recursos a partir das prioridades estabelecidas por ela, contemplando
um dos obstáculos mais importantes à inovação das empresas, ou seja, custos, riscos e
escassez de fontes adequadas de financiamento. Dentro deste escopo, compreende-
se o lançamento de determinadas linhas de financiamento e fomento, tais como:
- Duas novas linhas de financiamento por parte do Banco Nacional de Desenvol-
vimento Econômico e Social (BNDES) – Inovação: P,D&I e Inovação: Produção –
destinadas respectivamente a projetos de P&D e de produção e comercialização
dos resultados da inovação (fevereiro de 2006);
138
Panorama da Indústria Brasileira
- Fundo Tecnológico – FUNTEC do BNDES, em junho de 2006, com um patrimônio
de R$ 153 milhões direcionado especialmente para: energias renováveis pro-
venientes da biomassa; semicondutores, softwares e soluções biotecnológicas;
medicamentos e insumos para doenças negligenciadas e fármacos obtidos por
biotecnologia avançada;
- Pró-Inovação, da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), um programa de
financiamento voltado a projetos que estejam de acordo com as prioridades
estabelecidas pela PITCE;
- Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (PAPPE), da FINEP, que busca fi-
nanciar atividades de P&D que estejam em fase precedente à comercialização
e desenvolvidas por pesquisadores que atuem diretamente ou em cooperação
com empresas de base tecnológica;
- Programa Juro Zero, da FINEP, com empréstimos sem juros e pagamentos dividi-
dos em cem parcelas, voltado ao financiamento de micro e pequenas empresas
inovadoras. O Juro Zero está sendo implementado em cinco localidades, com as
seguintes parcerias estratégicas: Bahia – Fundação de Amparo à Pesquisa do Es-
tado da Bahia (Fapesb); Santa Catarina – Associação Catarinense de Empresas de
Tecnologia (Acate); Minas Gerais – Federação das Indústrias do Estado de Minas
Gerais (Fiemg); Paraná – Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep); e
Pernambuco – Porto Digital. O programa tem como meta o apoio financeiro a
2.500 empreendimentos até o final de 2008, com dispêndios em torno de R$ 500
milhões;
- Promovido pela FINEP desde 2000, o Inovar Fórum Venture FINEP tem como
objetivo estimular empresas inovadoras a apresentarem seus planos de negó-
cios e estratégias a investidores de capital de risco. Até 2005, o evento já ha-
via viabilizado investimentos em 24 empresas brasileiras de base tecnológica,
totalizando um montante de R$ 145 milhões. Já o Inovar Semente, programa
lançado em dezembro de 2005, visa à criação de fundos de capital semente para
investimento em empresas nascentes de base tecnológica, tendo como meta o
investimento de R$ 300 milhões na criação de 25 fundos de capital de risco para
apoiar 340 empreendimentos. Ainda, o Programa Inovar Fórum Abertura de Ca-
pital, criado em 2002 em parceria com a Bovespa, tem como objetivo estimular
139
As políticas públicas voltadas para indústria brasileira
a abertura de capital de médias e grandes empresas brasileiras de tecnologia no
novo mercado. Até maio de 2006, já passaram pelo processo 15 empresas, ten-
do duas delas inclusive aberto seus capitais. Por meio deste programa, a FINEP
também promoveu três operações de investimento em empresas, sendo uma
de private equity38, e duas através do BNDES. A Incubadora de Fundos Inovar é
uma estrutura voltada para estimular a criação de novos fundos de capital de
risco voltados para as empresas nascentes e emergentes de base tecnológica,
atrair os investidores institucionais, especialmente os fundos de pensão para a
atividade e disseminar as melhores práticas de análise para a seleção de fundos
de capital de risco.
Procurando implementar um conjunto de instituições de prestação de serviços tec-
nológicos e suporte à infra-estrutura tecnológica, foram desenvolvidas as seguintes
atividades:
- Reestruturação do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) – “INPI sem
papel”, com a meta inicial de realizar registro de marcas pela internet. Destaca-
se ainda a criação do Centro Brasileiro de Materiais Biológicos e do Centro de
Educação em Propriedade Intelectual/Academia do INPI, possibilitado pelo au-
mento orçamentário a partir de 2004 (R$82 milhões em 2003, R$ 108 milhões
em 2004, R$ 117 milhões em 2005 e R$ 121 milhões em 2006, ou seja, 47,5% de
aumento entre 2003 e 2006);
- Programas de modernização e articulação dos institutos e centros de pesquisa,
com previsão de mais de R$ 500 milhões de investimentos ao longo do biênio
2006/2007, visando à atualização da infra-estrutura de ciência e tecnologia (C&T)
e de extensionismo tecnológico. Entre eles, o Modernit/FINEP, para a moderni-
zação dos institutos de pesquisa tecnológica, que alcançou 23 projetos a partir
de edital de 2004 e envolveu R$ 27 milhões39 em investimentos diretos, além
de R$ 3,5 milhões em bolsas, totalizando um investimento federal da ordem de
R$ 30,5 milhões ao longo do biênio 2004/2005. O Proinfa/FINEP, por sua vez,
38 Investimento no capital social de determinada empresa, quando este não é comercializado em mercados públicos de ações. 39 R$17 milhões em 14 projetos aprovados no edital de 2004; a grande demanda fez a Finep alocar mais R$10 milhões em outros 9 projetos sob encomenda.
140
Panorama da Indústria Brasileira
contratou em 2005 um total de 144 projetos – aprovados em edital –, a partir de
um desembolso total de R$ 110 milhões. Em maio de 2006 foi julgado edital de
R$ 150 milhões.
Ainda visando apoio financeiro e de risco à inovação, não foram esquecidos instru-
mentos já existentes, como o dos fundos setoriais, que tiveram um aumento significa-
tivo em seus recursos executados, tendo em vista a limitação até 2002, como mostra
o gráfico abaixo:
Fonte: ABDI
Visando o desenvolvimento regional, o Programa de Investimentos Coletivos Produtivos
(Proinco), do BNDES, tem o intuito de apoiar projetos de investimento que beneficiem
trabalhadores, produtores e/ou empresas nacionais com atuação coletiva e que sejam
capazes de influenciar decisivamente no desenvolvimento econômico e social da re-
gião, dos setores e das comunidades envolvidas, com ênfase em localidades menos de-
senvolvidas. O programa visa ainda: estimular as entidades representativas das empre-
sas e dos produtores a atuarem como catalisadoras da cooperação e do investimento
coletivo; financiar investimentos coletivos que permitam, às empresas e aos produtores,
141
As políticas públicas voltadas para indústria brasileira
1200000
1000000
800000
600000
400000
200000
0
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Grá�co 49Fundos Setoriais Evoluçãos
(Autorização e Execução Orçam entária em R$ mil)1999 a 2006
ExecutadoAutorizado
o acesso a serviços e produtos especializados e, aos trabalhadores, a obtenção ou o
aperfeiçoamento de sua qualificação profissional; financiar investimentos individuais
que possibilitem o fortalecimento das micro, pequenas e médias empresas envolvidas
em investimentos coletivos. Uma parcela do financiamento pode ser efetuada com a
utilização de recursos não-reembolsáveis, oriundos do Fundo Social, em proporções es-
tipuladas em função do nível de renda e do dinamismo econômico da localidade onde
será implantado o projeto, além das próprias características do investimento.
Visando superar a escassez de pessoal qualificado para inovação e as dificuldades de
cooperação com outras empresas e/ou instituições, desenvolveram-se as seguintes
iniciativas:
- Programa de Promoção e Valorização das Engenharias (Promove), articulado
pela FINEP. Contou com o lançamento de dois editais, em agosto de 2006, am-
bos dotados de um montante de R$ 20 milhões, voltados cada um ao apoio
de: parcerias entre universidades, escolas de engenharia, centros de educação
tecnológica e empresas privadas; e projetos inovadores que promovam maior
interação por parte das escolas de engenharia com as atividades de ensino em
ciências exatas e naturais de nível médio;
- Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG), elaborado pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e aprovado em janei-
ro de 2005, visando definir caminhos para a consolidação e o crescimento da
pós-graduação brasileira. Ainda, a Capes direcionou bolsas específicas às áreas
definidas como prioritárias pela PITCE;
- Portal Inovação, desenvolvido tanto para auxiliar na articulação entre a pesquisa
gerada nas universidades e as demandas privadas, quanto para difundir os di-
versos instrumentos de apoio à inovação.
Dentro ainda dos instrumentos de política horizontais, outra vertente de preocupação
da PITCE diz respeito à expansão sustentada das exportações concomitante à am-
pliação da base exportadora por meio da incorporação de novos produtos, empresas
e negócios. Dentro desta perspectiva, as ações realizadas compreendem:
- Formação, por parte da Agência de Promoção de Exportação e Investimentos
(Apex), dos chamados Centros de Distribuição de Produtos Brasileiros no Exte-
142
Panorama da Indústria Brasileira
rior nas seguintes localidades: Miami – em operação com 115 empresas parti-
cipantes –, Frankfurt – inaugurado em maio de 2006 e conta com 65 empresas
cadastradas –, Lisboa – inaugurado em junho de 2006, conta com 165 empresas
cadastradas –, Dubai – em operação com cerca de 80 empresas cadastradas –; e
Varsóvia – inaugurado em 22/01/2007, conta com mais de 60 empresas cadas-
tradas. Próximas instalações previstas na Rússia, China e África do Sul;
- Criação, por meio da chamada Lei do Bem, do Regime Especial de Aquisição de
Bens de Capital para Empresas Exportadoras (RECAP) e do Regime Especial de
Tributação para a Plataforma de Exportação de Serviços de Tecnologia da Infor-
mação (REPES), com o intuito de incentivar as atividades exportadoras por meio
de isenções tributárias;
- Desenvolvimento de instrumentos de apoio à internacionalização de empresas
brasileiras: Condominium Brasil-Europa/ABDI40; Internacionalização do setor de
Venture Capital e Private Equity Brasileiro/ABDI-ABVCAP41;
- PROGER Exportação, linha de crédito por parte tanto do Banco do Brasil quanto
da Caixa Econômica Federal destinada às micro e pequenas empresas. Utilizan-
do recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), destina-se a empresas
com faturamento bruto anual de até R$ 5 milhões.
Dentro ainda da promoção da inserção externa, o Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (MDIC) tem realizado os Encontros de Comércio Exterior
(Encomex) eventos mobilizadores que levam informações sobre o funcionamento do
processo de exportação, regras básicas, legislação, mecanismos de apoio e oportuni-
dades de negócios ao empresariado regional. Com a instituição da PITCE, os encon-
tros se intensificaram e, desde então, foram realizados encontros com mais de 10 mil
empresas.
Outro projeto itinerante, voltado para o desenvolvimento das vocações produtivas de
uma região, é o Exporta Cidade – Programa de Inserção de Municípios no Comércio In-
40 Cluster tecnológico, com futura base em Portugal, que tem como objetivo a inserção internacional de empresas brasileiras do setor de software - em conjunto com empresas portuguesas -, para atender aos mercados europeu, asiático e africano.41 Convênio entre a ABDI e a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP) - com uma previsão de investi-mentos da ordem de R$ 1,8 milhão -, com o intuito de promover o mercado brasileiro de private equity no exterior.
143
As políticas públicas voltadas para indústria brasileira
ternacional. Desde seu lançamento, em 2005, o Programa já foi implantado em Campo
Largo (PR), Nova Friburgo (RJ), Sobral (CE), Juazeiro (BA), Marituba (PA), Diadema (SP),
Anápolis (GO) e Dourados (MS); e já foram elaborados diagnósticos de cinco municí-
pios integrantes do projeto piloto – Anápolis, Dourados, Diadema, Juazeiro e Jaraguá
do Sul (SC).
No âmbito estadual, foi criado o Programa Estado Exportador, no qual as unidades da
federação que registraram exportações menores que US$ 100 milhões em 2003 pas-
saram a contar, a partir de 2004, com o apoio do Governo Federal. Posteriormente, o
limite foi aumentado para US$ 500 milhões, expandindo os Estados beneficiados. Das
nove unidades inseridas no Programa, seis conseguiram duplicar suas exportações en-
tre 2003 e 2005.
144
Panorama da Indústria Brasileira
O Projeto Redeagentes possibilitou a realização, entre 2003 e 2006, de 276 cursos e
treinamentos em todas as Unidades da Federação, capacitando mais de oito mil pes-
soas, entre agentes de comércio exterior, empresários e funcionários de empresas de
pequeno porte. Os agentes passaram a ser replicadores e a ensinar em suas regiões
como funciona o processo exportador.
Dada a dinâmica do progresso tecnológico, a preocupação com a modernização
do parque industrial deve sempre estar presente no âmbito das políticas públicas,
incluindo financiamento para aumento de capacidade, modernização de equipa-
mentos, programas de modernização de gestão, de melhoria de design, de apoio ao
registro de patentes e de extensão tecnológica. Estas iniciativas vão de encontro a
alguns obstáculos à inovação, como custos, riscos e escassez de fontes adequadas de
financiamento, falta de informação tecnológica e de mercados, associada a condições
de mercado não estimulantes, além de escassez de serviços técnicos externos. Dentro
desta perspectiva, destacam-se as seguintes iniciativas:
- Programa de Modernização do Parque Industrial Nacional (Modermaq), sob
responsabilidade do BNDES. Ao longo do período compreendido entre 2004 e
abril de 2007 foram aprovadas 11.003 operações – com um valor total de R$ 4,2
bilhões;
- Criação do Cartão BNDES42, sendo emitidos 118.836 mil deles até maio de 2007,
e concedidos R$ 2,57 bilhões em créditos – com uma média de R$ 13,69 mil
por transação. Conta ainda com 4.318 fornecedores credenciados e 57.124 mil
produtos disponíveis;
- Programa Extensão Industrial Exportadora (Peiex), articulado com governos lo-
cais (Estados, Municípios) e parceiros locais (Universidades, Sebrae local etc.),
para realização inicial de consultoria empresarial (análise dentro das empresas
participantes), para posterior articulação dos diferentes programas nos Arranjos
Produtivos Locais (APLs). Ainda no âmbito de APLs, foi criado o Grupo Técnico
Permanente dos Arranjos Produtivos Locais (GTP-APL), envolvendo 33 entida-
des públicas e privadas atuantes em APLs, para a coordenação de ações;
42 Crédito rotativo e pré-aprovado de até R$ 250 mil, para aquisição de produtos credenciados no BNDES, por meio do Portal de Operaçãoes do Cartão BNDS.
145
As políticas públicas voltadas para indústria brasileira
- Fortalecimento da infra-estrutura de Tecnologia Industrial Básica (TIB) programa
nacional de revigoramento da rede brasileira de metrologia, criação de labo-
ratórios de metrologia química e de novos materiais (investimento de R$ 73,5
milhões entre 2004 e 2007), e contratação de 580 novos técnicos para o Ins-
tituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro).
Destaca-se o primeiro edital do Programa de Capacitação Científica e Tecnoló-
gica para Metrologia Científica e Industrial do Inmetro, o Prometro, no valor de
R$ 11,3 milhões já contratados para 2004 – 2008.
- A Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (Supersimples)43, sancionada pelo Pre-
sidente da República no final do ano passado, veio estimular o ambiente de
negócios do Brasil. Vale em todo Brasil e deve reduzir e simplificar o pagamento
de tributos federais, facilitar acesso ao crédito e o fechamento de empresas.
Com vistas à melhoria do ambiente institucional e ao aumento da taxa de investi-
mento da economia brasileira, a PITCE traçou ainda como uma de suas preocupações
centrais o delineamento de certas condições que favorecessem a ampliação da capa-
cidade produtiva. Assim, enquanto de um lado a política industrial procurou aprimorar
os marcos regulatórios do setor de infra-estrutura (que vai ao encontro da necessidade
de ambiente regulatório apropriado a um SNI eficiente), de outro buscou desenvolver
uma série de medidas visando à isonomia competitiva, dentre as quais:
- Desoneração do IPI para bens de capital;
- Nova sistemática de recolhimento do IPI, semelhante à da COFINS, com o intui-
to de minimizar os efeitos da incidência de tributos em cascata sobre a compe-
titividade externa dos produtos brasileiros;
- Desoneração da construção civil: redução do IPI para produtos como tubos, re-
servatórios, janelas, portas, fios, cabos, tintas, cimento e argamassa, entre outros;
- Redução do Imposto de Importação (II) incidente sobre equipamentos sem simila-
res nacionais, com a concessão de 1.465 reduções tarifárias até janeiro de 2007, re-
sultando em um total de US$ 2,40 bilhões de investimentos em bens importados;
43 Lei Complementar n. 123, sancionada pelo Presidente da República em 14/12/2006.
146
Panorama da Indústria Brasileira
- Formulação do Programa Pré-empresa, em tramitação no Congresso, com o
intuito de estimular a formalização de pequenos negócios;
- Financiamento, por parte do BNDES, de equipamentos importados sem simila-
res nacionais.
De fato, o total de desoneração tributária alcançou a marca de R$ 19,24 bilhões em
2006, representando um crescimento de 466% em relação a 2004. Ainda, uma parcela
de R$ 6,1 bilhões deste total se refere a desonerações sobre o investimento produti-
vo – um crescimento de 1.400% em relação a 2004. A Tabela 3 detalha melhor estas
informações.
Fonte: Ministério da Fazenda.
Dentro da mesma perspectiva, foram realizadas determinadas medidas visando à di-
minuição de entraves burocráticos, tal como o Projeto de Lei para Simplificação do Re-
gistro e da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim), que estabelece diretrizes e
procedimentos para a simplificação e integração do processo de registro e legalização
de empresários e pessoas jurídicas. O projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados
Classificação dos setores de atração de IDE segundo as estratégias das filiais estrangeiras
Tabela 03
2004 2005 2006
Estímulo ao investimento produtivo 0,65 3,40 6,11
Corte de tributos para as famílias (imposto de renda) 0,50 2,30 4,03
Corte de tributos da cesta básica e incentivo à produção de alimentos 3,33 5,00 5,00
Estímulo à poupança de longo prazo 0,77 2,00 2,15
Estímulo à micro e pequena empresa 0,30 1,35
Incentivo à inovação 0,10 0,60
TOTAL 5,26 13,10 19,24
147
As políticas públicas voltadas para indústria brasileira
ao final de 2006 e atualmente aguarda designação de relator na Comissão de Consti-
tuição e Justiça (CCJ) do Senado.
Ainda dentro deste espírito, criou-se a Agência Brasileira de Desenvolvimento Indus-
trial (ABDI) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI). A ABDI, ligada
ao MDIC por meio de contrato de gestão, é a responsável pela execução e articulação
das políticas de desenvolvimento industrial, enquanto que o CNDI, vinculado à Pre-
sidência da República, é o órgão consultivo e subsidiário para a formulação dessas
diretrizes.
A ABDI é também responsável pela secretaria executiva do Comitê que acompanhará
a implementação dos programas e ações da Política Nacional de Biotecnologia, sob a
presidência do Ministério da Ciência e Tecnologia. A Agência também está à frente da
formação da Rede de Agentes de Política Industrial (Renapi), ambiente colaborativo
que propicia a troca de experiências regionais, a discussão sobre os rumos da indústria
local e se constitui em fórum privilegiado de interlocução entre empresa, academia e
governo. A intenção é divulgar a PITCE e seus instrumentos, bem como a cultura de
inovação, em todo país, por meio de cursos de capacitação de agentes nas capitais.
Mais de 2.500 agentes já integram a rede em 13 Estados.
A reestruturação do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) é outro ponto
que contribui para o desenvolvimento tecnológico do país, através da modernização
de instituições de prestação de serviços tecnológicos e de suporte para a infra-estrutu-
ra tecnológica, um dos elementos importantes para a dinamização do SNI brasileiro.
3.2.2 Opções estratégicas da PITCE
Sem pretender ressuscitar uma ênfase preponderantemente setorial da política indus-
trial, como no passado, a PITCE elegeu alguns setores estratégicos que encerram gran-
des efeitos dinamizadores da inovação no SNI brasileiro, além de importância social.
Trata-se de superar um dos obstáculos à inovação, ou seja, as condições de mercado
pouco estimulantes, pois a opção por estimular os setores de software, de semicon-
dutores e de bens de capital tem um efeito acumulativo forte sobre as decisões
empresariais, por serem setores que difundem progresso técnico de forma intensa,
gerando capacitação empresarial para inovar que, como se sabe, é cumulativa ao nível
148
Panorama da Indústria Brasileira
das firmas. Já a opção por fármacos e medicamentos se justifica por ser setor inten-
sivo em P&D, além de decisivo do ponto de vista social e da saúde pública. Este último
aspecto é extremamente relevante, pois as firmas empregam capital humano – sendo
ele muito decisivo na capacidade da firmar para inovar (sabe-se que parte do conheci-
mento da empresa é tácito e guardado pelas pessoas que trabalham na empresa).
No âmbito do setor de semicondutores, podem-se destacar as seguintes iniciativas:
- Atração de investimento direto externo: US$ 30 milhões para a construção de
fábricas de semicondutores;
- No Programa Nacional de Projetos Semicondutores (Circuitos Integrados – Bra-
sil), constituído pela PITCE, o Governo Federal já investiu, numa primeira fase,
R$ 12,1 milhões para a capacitação de recursos humanos, bolsas do CNPq e
infra-estrutura (equipamentos e software). O Programa pretende atrair para o
Brasil vários projetos de Circuitos Integrados desenvolvidos internacionalmente
por empresas do setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de
fabricantes de componentes semicondutores;
- Novo Regime Aduaneiro de Entreposto Industrial sob Controle Informatizado
(RECOF), permitindo à empresa habilitada tanto importação com suspensão do
pagamento de todos os impostos quanto a aquisição no mercado interno, com
suspensão do IPI, de mercadorias a serem submetidas a operações de indus-
trialização para posterior venda no mercado externo ou interno, oferecendo
uma expressiva redução de custos, entre outras vantagens (rapidez de desem-
baraço, tarifas de armazenagens preferenciais, co-habilitação de fornecedores,
substituição de beneficiários, etc.);
- Dentro do marco regulatório, além da Lei de Inovação e da “Lei do Bem”, está
em tramitação no Congresso o Projeto de Lei da Topografia de Circuitos Inte-
grados, que dispõe acerca da proteção da propriedade intelectual de topogra-
fias de circuito integrado (chips);
- Estímulo à TV Digital: R$ 60 milhões destinados a 22 consórcios de empresas e
instituições de pesquisa. Em junho de 2006 foi assinado o decreto que implanta o
Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T), com base nos padrões
do sistema japonês ISDB-T (Integrated Services Digital Broadcasting Terrestrial);
149
As políticas públicas voltadas para indústria brasileira
- Implementação do Centro Tecnológico de Eletrônica Avançada (CEITEC), cuja
infra-estrutura deverá ser adequada ao domínio completo de processos de
pesquisa e desenvolvimento, projetos, prototipação e testes em microeletrô-
nica por pesquisadores, instituições de ensino superior e centros de pesquisa
e desenvolvimento. Para tal, foram investidos R$ 127,7 milhões por parte do
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT);
- Programa CI-Brasil de design housesI (empresas ou núcleos dedicados ao pro-
jeto e aperfeiçoamento de circuitos integrados), receptor de investimentos da
ordem de R$ 25 milhões, por parte do MCT, em cinco design houses – Manaus,
Campinas, São Paulo, Recife e Porto Alegre;
- Investimento de R$ 8 milhões – via edital FINEP – em um total de 14 projetos de
desenvolvimento de chips.
Já no que se refere ao setor de software, podem-se destacar as seguintes ações:
- Programa para o Desenvolvimento da Indústria Nacional de Software e Servi-
ços Correlatos (Prosoft)44, sob responsabilidade do BNDES, compreendendo um
total de 131 operações em carteira e um montante de financiamento de R$
818 milhões (até janeiro de 2007) – o Prosoft terminou 2006 com um resultado
histórico: R$ 19,5 milhões em financiamento para as micro, pequenas e médias
empresas;
- Cartão BNDES: foram acumuladas, de março de 2003 a janeiro de 2007, um
total de 692 operações relativas ao setor de software, com financiamentos da
ordem de R$ 13,7 milhões. No total geral relativo ao setor, foram 823 operações
contratadas até janeiro de 2007, representando um total de R$ 832 milhões;
- Ainda no âmbito do Prosoft, desenvolveu-se uma linha especial para fusão e
consolidação de empresas;
44 O Prosoft tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento da indústria nacional de software e serviços correlatos, de forma a: ampliar significativamente a participação das empresas nacionais no mercado interno; promover o crescimento de suas exportações; fortalecer o processo de P&D e inovação no setor de software; promover o crescimento e a internacionalização das empresas nacionais de software e serviços correlatos; promover a difusão e a crescente utilização do software nacional por todas as empresas sediadas no Brasil e no exterior; fomentar a melhoria da qualidade e a certificação de produtos e processos associados ao software.
150
Panorama da Indústria Brasileira
- Planos de Desenvolvimento Setoriais (ABDI/Softex, em sinergia com o plano
Apex/Softex de internacionalização do software brasileiro) – o Softex é a deno-
minação do Programa Prioritário do Setor de Software, destinado a melhorar a
competitividade desta indústria no Brasil, tendo treinado, de 2003 a 2006, 500
pessoas entre avaliadores e implementadores do sistema;
- Apoio a áreas de futuro, via editais MCT/Finep (computação em grade, com-
putação de alto desempenho, visualização, segurança, previsão meteorológica,
jogos);
151
As políticas públicas voltadas para indústria brasileira
- Qualificação de recursos humanos, via Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), e certificação de softwares e biblioteca para
componentes, via editais FINEP;
- Regime Especial de Tributação para Plataformas de Exportação de Serviços de
Tecnologia (REPES), que prevê a suspensão da contribuição para o PIS/PASEP e
COFINS na aquisição no mercado interno e na importação de serviços ou de
bens destinados ao ativo imobilizado das empresas habilitadas ao regime;
- Projeto Brazil IT, com o apoio da Agência de Promoção de Exportações e In-
vestimentos (APEX), representando empresas integrantes do Projeto Setorial
Integrado para Exportação de Software e Serviços Correlatos (PSI-SW), da Sof-
tex e Actminds, e promovendo o desenvolvimento de projetos comerciais nos
Estados Unidos;
- Condominium Brasil-Europa/ABDI (vide nota 40);
- No âmbito da inclusão digital, a Regulamentação do Programa de Inclusão
Digital (alíquota zero de PIS/PASEP e COFINS para computadores e notebooks,
monitores, mouse e teclado até 2009);
- Telecentros tanto para a população através de ações do MCT (Ministério da
Ciência e Tecnologia)/CEF (Caixa Econômica Federal), quanto para as empresas
(MDIC).
- Até 2006 houve um forte processo de expulsão de PCs (Personal Computers)
ilegais do mercado brasileiro, que caíram de 70% das vendas para 36%, com
expectativas dos PCs legais atingirem 70% das vendas em 2007. Esse processo
ocorreu devido ao Programa Computador para Todos, previsto na “Lei do Bem”.
Um resultado importante é que a exportação de software passou de US$ 100 milhões
em 2004 para US$ 800 milhões em 2006.
Por sua vez, enquanto o setor de bens de capital recebeu os estímulos descritos
anteriormente no que se refere à modernização industrial, o setor de fármacos e me-
dicamentos foi beneficiado pelas seguintes iniciativas:
152
Panorama da Indústria Brasileira
- Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Cadeia Produtiva Farmacêutica
(Profarma), sob responsabilidade do BNDES, apoiando investimentos em em-
presas da cadeia produtiva farmacêutica. Desde seu início – março de 2004 – até
fevereiro de 2007, foram 46 operações em carteira, totalizando um total de R$
930 milhões em financiamentos e viabilizando R$ 1,9 bilhão em investimentos;
- Criação da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás),
que permitirá a produção no Brasil de hemoderivados (na sua maioria fatores
de albumina, imunoglobulina e coagulação). Estes medicamentos são usados
no tratamento de pacientes com câncer, doenças infecciosas, aids e hemofilia.
O Ministério da Saúde gasta em torno de R$ 120 milhões atualmente com a
importação de hemoderivados para atendimento do SUS (Sistema Único de
Saúde). Espera-se atingir a auto-suficiência na produção destes medicamentos
com a operação da Hemobrás.
3.2.3 Atividades portadoras de futuro da PITCE
A PITCE se preocupou ainda em apontar determinadas atividades dotadas de grande
potencial para transformar produtos, processos e formas de uso a médio e longo pra-
zos. Destacam-se, neste caso, a biotecnologia, a nanotecnologia e o campo de ener-
gias renováveis.
No âmbito da biotecnologia, destacam-se:
- Constituição da Associação de Biotecnologia da Amazônia (ABA), em dezembro
de 2005, com vistas a dar sustentação às atividades do Centro de Biotecnologia
da Amazônia (CBA). O CBA deverá destinar um total de R$ 10,6 milhões para o
desenvolvimento de seis projetos que visam incentivar a exploração econômi-
ca da biodiversidade da Amazônia brasileira;
- Programa de Biotecnologia, do MCT, que disponibilizou R$ 28,8 milhões em
2005 e R$ 31,8 milhões em 2006 para pesquisas com células-tronco, desenvol-
vimento de bioprodutos, constituição da Rede Genoprot e do Programa Rede
Nordeste de Biotecnologia (Renorbio), P&D em biologia molecular estrutural,
entre outras atividades;
153
As políticas públicas voltadas para indústria brasileira
- Fórum de Competitividade de Biotecnologia, coordenado conjuntamente pe-
los Ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), da
Ciência e Tecnologia (MCT), da Saúde (MS), e da Agricultura, Pecuária e Abaste-
cimento (MAPA). Contando com representantes do Estado, da iniciativa privada
e da comunidade acadêmica, foram criados inicialmente seis grupos de tra-
balho: recursos humanos e infra-estrutura; investimentos; marcos regulatórios;
biotecnologia agropecuária; biotecnologia em saúde humana; e biotecnologia
industrial.
- Iniciativa Nacional de Biotecnologia, Fármacos e Medicamentos, sob coorde-
nação da ABDI, visando o apoio a ambientes institucionais de inovação – em
especial Parques Tecnológicos e Centros de Pesquisa e Desenvolvimento – que
objetivem elevar o nível de competitividade científica e tecnológica do país;
- Iniciativa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae),
os seguintes projetos: de APL de Biotecnologia do Triângulo Mineiro, de Biotec-
nologia na Região Metropolitana de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro.
Já no que se refere à área de nanotecnologia, o MCT lançou programa para a ativida-
de, com investimentos superiores a R$40 milhões ao longo do biênio 2004 e 2005. Em
abril de 2006 foi lançada a Carta-Convite MCT/FINEP/Ação Transversal n°06/2006, para
apoio a projetos em parceria entre empresas e universidades, sendo uma parcela dos
recursos totais de R$ 67 milhões destinada ao setor de nanotecnologia. Ainda, a partir
de 2004 foram apoiados 27 projetos de pesquisa participativa entre universidades e
empresas, 19 projetos de pesquisa conduzidos por jovens pesquisadores, 11 projetos
de apoio a incubadoras, cinco projetos de impactos socioambientais e outros cinco
de cooperação internacional. Em 2005, foram criadas dez novas redes de pesquisa em
nanotecnologia, além do apoio direto a três laboratórios estratégicos: Centro Brasileiro
de Pesquisas Físicas (CBPF), Embrapa Instrumentação e Centro Estratégico de Tecnolo-
gia do Nordeste (Cetene); e a outros dois laboratórios nacionais: Laboratório Nacional
de Luz Sincotron (LNLS) e Inmetro. Ao final de 2005 foi assinado um protocolo de
intenções entre os Presidentes do Brasil e da Argentina, visando à criação do Centro
Brasil-Argentina de Nanotecnologia (CBAN), que começou a ser implantado em 2006.
154
Panorama da Indústria Brasileira
Em termos de energias renováveis, o Governo Federal procura focar, em um primeiro
momento, na visibilidade e na ampliação internacional dos mercados do álcool brasi-
leiro. Já em um segundo momento, trata-se de articular um projeto em conjunto com
a iniciativa privada com relação ao álcool e a tecnologias e negócios associados.
Além disso, em dezembro de 2004 foi lançado o Programa Nacional de Produção e
Uso do Biodiesel, que procura incentivar a produção oriunda da agricultura familiar.
Neste sentido, enquanto a Lei 11.097/05 procurou estabelecer percentuais mínimos
de mistura do biodiesel ao diesel e o monitoramento da inserção do novo combustível
no mercado, a Lei 11.116/2005 estabelece o modelo tributário federal e cria o conceito
de combustível social, favorecendo regiões menos desenvolvidas.
A produção de bioetanol tem elevado continuamente nos últimos anos. Estima-se
que a safra de cana-de-açúcar 2006/2007 será 10,3% maior que a do ano passado, al-
cançando 475,7 milhões de toneladas. Este aumento de produção é, em parte, impul-
sionado pela venda de carros bicombustíveis (flex-fuels), que este ano alcançou 83%
da participação nas vendas de carros novos. O otimismo em relação à condução das
ações de biocombustíveis também pode ser visto através dos novos empreendimen-
tos, como a construção de 99 novas usinas.
As exportações de etanol também tiveram bons resultados. No ano passado, as ven-
das deste produto para o mercado internacional alcançaram cerca de 3,6 bilhões de
litros, com crescimento de 38% sobre o volume exportado no ano anterior.
O valor total dos projetos para produção de biocombustíveis que integram a carteira
no BNDES já chega a R$ 12,2 bilhões, e os financiamentos concedidos pelo Banco a
estes empreendimentos atingem R$ 7,2 bilhões.
3.3 O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a indústria
No início de 2007 o Governo Federal lançou o Programa de Aceleração do Crescimen-
to (PAC) que busca desenvolver até 2010 uma estratégia concentrada de investimen-
tos e medidas de incentivos ao crescimento nas áreas tributária, de financiamento, de
regulação, na área fiscal e de política monetária, com o objetivo de acelerar o processo
de crescimento brasileiro de forma consistente e sustentável.
155
As políticas públicas voltadas para indústria brasileira
As principais medidas do PAC
O PAC projeta um ousado conjunto de obras de infra-estrutura até 2010: são R$ 503,9
bilhões nas áreas de saneamento, habitação, recursos hídricos, energia e transporte.
No referente à política econômica, o PAC busca a redução da relação dívida do setor
público / PIB e a responsabilidade fiscal compatibilizadas com a aplicação de recursos,
ou seja, busca-se direcionar o saldo da saúde fiscal mais robusta para a aplicação dos
recursos de forma produtiva, com o investimento público. Junto a isto, projeta-se uma
redução da taxa de juros básica, que levará não apenas ao incremento da saúde fiscal,
como também ao estímulo do investimento privado e do crédito ao consumidor.
Junto a estas medidas, deve-se ressaltar que a saúde fiscal não virá do aumento da carga
tributária. Já em 2007 projeta-se uma redução da carga tributária em aproximadamen-
te R$ 6,6 bilhões. São muitas as medidas de desoneração tributária já implementadas.
Por exemplo, o reajuste da tabela de Imposto de Renda de Pessoa Física: aumento em
4,5% ao ano, no período 2007 – 2010 dos limites de dedução com despesas de educa-
ção e dependentes, além de aumento – no mesmo período e no mesmo percentual
anual – das faixas de rendimento. Além disso, prorrogação da cumulatividade do PIS e
da COFINS na construção civil: medida vigente até 31 de dezembro de 2008, que visa
estimular a construção civil através do aumento da lucratividade dos empreendimen-
tos. Depois, a prorrogação da depreciação acelerada: para os investimentos feitos até
o final de 2006, valerá por mais dois anos a redução em 50% da contabilização fiscal da
depreciação, o que reduz a tributação social sobre o lucro das empresas. Finalmente a
Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas: redução de tributos federais e simplificação
de tributação federal, estadual e municipal, além de desburocratizar a abertura e o
fechamento das empresas, e favorecer suas vendas para o Governo Federal.
Buscando ainda direcionar o gasto público para os investimentos produtivos, norma-
lizou-se por dez anos, a partir de 2007, o reajuste anual da folha de pessoal (inclusive
inativos) à taxa de inflação (IPCA), acrescida de um índice real de 1,5% ao ano.
Ainda do ponto de vista tributário, foram tomadas muitas medidas como a desone-
ração das obras de infra-estrutura (suspensão da exigibilidade de PIS e COFINS nas
aquisições de insumos e serviços para obras de saneamento básico, portos, energia e
transportes). Além disto, houve a recuperação acelerada dos créditos de PIS e COFINS
156
Panorama da Indústria Brasileira
em edificações e desoneração das compras de perfis de aço, medidas que estimulam
a construção civil através da lucratividade e barateamento das obras. Finalmente, há
três medidas de desoneração no setor de microeletrônica, setor chave para a PITCE e
para a melhoria sistêmica da inclusão digital no Brasil: o Programa de Incentivos ao
Setor da TV Digital (PATVD), o Programa de Incentivos ao Setor de Semicondutores (PA-
DIS) e a alíquota zero de PIS e COFINS ampliada para microcomputadores e notebooks
de maiores valores.
O marco regulatório estável é um importante aspecto do SNI e também da iniciativa
privada de investimento. Neste sentido, o PAC busca regulamentar e agilizar a atu-
ação do poder público na proteção do meio ambiente, na estabilidade do controle
social das Agências Reguladoras e na modernização do Sistema Brasileiro de Defesa
da Concorrência. No mesmo sentido se busca o marco regulatório para o setor de
saneamento e a tentativa de reduzir as desigualdades regionais através da recriação
da Sudan e da Sudene.
O crédito público ao investimento é importante em países em desenvolvimento. Sob
este aspecto, buscou-se tomar várias medidas, como: incentivo do financiamento pú-
blico em saneamento e habitação via Caixa Econômica Federal (CEF) e ampliação do
limite de crédito do setor público a investimentos nestas áreas; e redução dos spreads
do BNDES para infra-estrutura, desenvolvimento urbano e logística, além da redução
de Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) do mesmo banco.
Finalmente, buscou-se estabelecer medidas fiscais de longo prazo, como discutir a
reforma da Previdência Social, informatizar o processo licitatório das contratações go-
vernamentais; e extinção da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) e da Companhia de Na-
vegação do São Francisco (Franave), já em processo de licitação.
Como o PAC influencia o desempenho da indústria?
O PAC pode influenciar a indústria através de vários canais.
O principal deles é o investimento. Isto por que se busca melhorar e ampliar a infra-
estrutura brasileira e baratear alguns dos principais componentes da Formação Bruta
de Capital Fixo (FBCF), nos itens de construção civil e bens de capital produzidos no
157
As políticas públicas voltadas para indústria brasileira
Brasil. De fato, o investimento em ampliação de capacidade, essencial para a indústria
alçar patamares mais expressivos de crescimento, responde ao preço deste investi-
mento e à disponibilidade de infra-estrutura em boas condições de operação. Outros
aspectos do investimento são a estabilidade de marcos regulatórios, a saúde fiscal do
setor público, o controle da inflação e a eficiência e qualidade do gasto público, e
todos componentes do grau de incerteza da decisão de investimento, todos contem-
plados no PAC.
A eficiência sistêmica do processo de informação, essencial para uma moderna inser-
ção competitiva do país, também está contemplada, através dos incentivos à inclusão
digital. Além disso, a atenção ao setor de semicondutores vai ao encontro de um im-
portante setor a ser estimulado pela PITCE. Os estímulos ao setor de bens de capital
também vai ao encontro do mesmo sentido. Assim, o PAC alia à saúde e eficiência fis-
cal do país e à inserção externa sustentável dois aspectos essenciais da PITCE e do SNI
brasileiro. Esta aliança, que vem tendo em parte atenção do Governo Federal desde
1999, e que foi aprofundada a partir de 2003, busca viabilizar, ao nível das empresas e
do país como um todo, o processo de crescimento iniciado em meados de 2003.
Finalmente, o PAC busca consolidar o atual crescimento do mercado interno através
dos aspectos social e regional45 do desempenho econômico, através de obras dissemi-
nadas por todo país e a recriação da Sudam e da Sudene.
45 Ver Lemos, M. B., Moro, S., Domingues, E. P. e Ruiz, R. M. A organização territorial da indústria no Brasil. In: De Negri, J. A. e Salerno, M. S. Inovações, Padrões Tecnológicos e Desempenho das Firmas Industriais Brasileiras. Brasília: IPEA, 2005. Neste trabalho os autores sugerem a necessidade de políticas públicas para se reduzir as desigualdades regionais no Brasil.
158
Panorama da Indústria Brasileira
159
As políticas públicas voltadas para indústria brasileira
160
Conclusão
161
Iniciamos este trabalho mostrando que entre 1999 – 2002, após a desvalorização cam-
bial, houve um movimento de forte crescimento da indústria em 2000 que, entretanto,
foi interrompido em 2001 pela escassez de energia elétrica e pela crise da Argentina,
sendo 2002 um ano de fraco crescimento.
Em 1999 especificamente, apenas em agosto se recuperou o nível de produção do
ano de 1998. O último trimestre do mesmo ano foi de recuperação do crescimento,
que se firmou em 2000, antes impulsionado pela demanda externa, logo em seguida
pela interna. Entretanto, no segundo semestre de 2000, ocorreram vários problemas
na economia internacional, que pioraram em 2001, junto a problemas de oferta de
energia elétrica. Interrompeu-se assim o crescimento de 2000, sendo 2002 um ano de
desaceleração e desvalorização do câmbio frente às incertezas do período eleitoral. A
nota bastante positiva do período 1999 – 2002 foi o equilíbrio fiscal com a adoção de
metas para o superávit primário, que foram cumpridas.
Quanto ao desempenho externo, nota-se que em 1999 houve uma melhoria do saldo
comercial mais devido à retração das importações que devido à expansão das expor-
tações. De qualquer forma, pode-se ressaltar que o comportamento em quantum das
exportações no último semestre de 1999 já indicava uma recuperação comercial. O
desempenho comercial de 2000 ficou aquém das expectativas, com um aumento das
exportações apenas ligeiramente acima do das importações. Em 2001 ocorreu signi-
ficativo aumento das exportações e retração das importações, ampliando o saldo co-
mercial. Já em 2002 se ampliou o saldo comercial, com forte retração das importações
e expansão tímida das exportações.
Dado o quadro internacional adverso, notamos que em 1999 – 2002 houve retração
em geral das exportações em preço. No quesito em quantum, as exportações tiveram
aumento generalizado, principalmente nos produtos básicos, e menos nos semima-
nufaturados e manufaturados, nesta ordem. Nossa pauta de exportações, em todos
os anos, foi principalmente de manufaturados, seguidos de básicos e, por último, de
semimanufaturados.
162
Panorama da Indústria Brasileira
No desempenho setorial, o complexo construção apresentou fraco crescimento após
1999. O complexo metal-mecânica, depois de retração em 1999, apresentou o cres-
cimento setorial mais vigoroso em 2000, para se retrair de forma praticamente ge-
neralizada em 2001 e apresentar crescimento desigual em 2002, mas a taxas muito
inferiores às de 2000. Movimento semelhante ocorreu no complexo têxtil, entretanto
com crescimentos anuais bem menores e retrações também mais modestas setorial-
mente. O complexo agroindústria se manteve retraído em 1999 e 2000, recuperando-
se levemente em 2001 e de maneira forte em 2002. O complexo química se manteve
em elevadas taxas de crescimento em 1999 e 2000 (apesar de neste último ano, menor
que no metal-mecânica), sendo o ano de 2001 de retração generalizada e 2002 de
recuperação modesta.
O período 2003 – 2006 apresentou um desempenho modesto no primeiro ano, um
crescimento forte em 2004 e, devido a uma política monetária mais restritiva, cresci-
mentos menores em 2005 e 2006.
No primeiro semestre de 2003, frente ao quadro de instabilidade herdado, o desem-
penho da indústria esteve ligado às exportações, que se intensificaram no segundo
semestre e assim iniciaram a retomada de crescimento. Em 2004 se configurou um
quadro de recuperação sustentável da renda familiar e do emprego, junto à continui-
dade da expansão das exportações em contexto de forte crescimento interno. Entre-
tanto, o problema de insatisfatório produto potencial levou a partir de fins de 2004, e
em 2005 e 2006, a se manter uma política monetária mais restritiva, cujo resultado foi
uma desaceleração, contudo sem configurar um quadro recessivo.
No desempenho externo, nota-se que se ampliou, em 2003, a diferença positiva entre
o crescimento das exportações e o das importações. De fato, o crescimento da econo-
mia mundial induziu fortemente a tal movimento. O ano de 2004 já foi de ampliação
de exportações e importações a taxas muito semelhantes. No ano de 2005 ocorreu
continuidade do quadro externo de 2004, apesar da valorização cambial. Outro as-
pecto relevante de 2005 foi o de recrudescimento da importação de bens de capital,
163
Conclusão
mais que em 2004. Entretanto, em 2006 pela primeira vez, desde 2003, as importações
cresceram a taxas maiores que as exportações.
O desempenho das exportações em preço durante 2003 – 2006 foi diverso de 1999
–2002: houve crescimento tanto em preço quanto em quantum. No primeiro caso, a
liderança coube aos semimanufaturados e, no segundo caso, aos manufaturados. En-
tretanto a pauta em 2003 – 2006 teve a mesma composição de no período anterior.
No desempenho setorial manteve a liderança de crescimento dos setores de bens
de consumo duráveis e de bens de capital. Entretanto os indutores do crescimento
mudaram ao longo do período: inicialmente foram as exportações e em 2006 passa-
ram a ser o consumo interno, devido ao aumento do emprego, da massa salarial e da
expansão do crédito.
Alguns aspectos são relevantes no período 2003 – 2006: o crescimento do volume de
vendas no varejo passou a oscilar em torno de uma média mais alta que do período
anterior; a taxa de desemprego nas regiões metropolitanas passou a oscilar em torno
de uma média menor após fins de 2004; a produtividade do trabalho cresceu sem
destruição sistemática de postos de trabalho na indústria; a FBCF se expandiu signifi-
cativamente desde o início de 2004; o IDE se recuperou depois de 2003; e o destino
das exportações se diversificou.
Este quadro favorável foi devido, por um lado, ao desempenho favorável do cresci-
mento mundial, mas, por outro lado, também à manutenção e aprofundamento da
disciplina fiscal. Entretanto, foi necessária a criação, pela economia brasileira, de ca-
pacidades internas menos dependentes da evolução externa e mais autônomas e
que, junto ao desempenho fiscal favorável, fossem capazes de garantir condições de
melhor qualidade em sua inserção. Tratou-se de buscar o fomento e a viabilização da
inovação.
164
Panorama da Indústria Brasileira
Pode-se afirmar que a inovação nas empresas industriais brasileiras melhorou nossa
inserção externa; possibilitou que elas se internacionalizem e crescessem mais devido
a isto; e permitiu que o incremento das exportações induzisse o investimento e o cres-
cimento, expandindo o emprego e melhorando os salários na indústria.
A indústria brasileira tende hoje, salvo choques externos negativos, a desenvolver gra-
dualmente uma trajetória de crescimento em ambiente macroeconômico estável e
num quadro de aprimoramento social. Neste contexto, torna-se inevitável (para não
dizer obrigatória) a busca das inovações como estratégia empresarial virtuosa de in-
serção positiva tanto no mercado interno quanto no externo. Este curso de aprimora-
mento tecnológico já vem sendo traçado por nossos principais parceiros internacio-
nais desenvolvidos e em desenvolvimento. O adiamento da adoção desta trajetória
pode significar a perda de nossas melhores possibilidades nas próximas décadas.
Neste sentido, se justifica a criação da PITCE, pois há tarefas de coordenação, fomento e
indução da inovação que são eminentemente institucionais (extrapolam a mera disci-
plina fiscal e monetária), cabendo ao Estado, como articulador privilegiado, exercê-la.
165
Conclusão
166
Anexos
167
Complexo Construção
Extração de minerais não-metálicos
Artefatos de concreto, cimento e fibrocimento
Cimento e clínquer
Produtos diversos de minerais não-metálicos
Produtos da madeira
Complexo Metal-Mecânica
Construção de embarcações, inclusive reparação
Construção e montagem de vagões ferroviários, inclusive reparação
Construção e montagem de aeronaves, inclusive reparação
Outros veículos e equipamentos de transporte
Automóveis, camionetas e utilitários, inclusive motores
Caminhões e ônibus, inclusive motores
Carrocerias e reboques
Peças e acessórios para veículos automotores
168
Complexos IndustriaisBrasileiros
Complexo Construção
Extração de minerais não-metálicos
Artefatos de concreto, cimento e fibrocimento
Cimento e clínquer
Produtos diversos de minerais não-metálicos
Produtos da madeira
Complexo Metal-Mecânica
Construção de embarcações, inclusive reparação
Construção e montagem de vagões ferroviários, inclusive reparação
Construção e montagem de aeronaves, inclusive reparação
Outros veículos e equipamentos de transporte
Automóveis, camionetas e utilitários, inclusive motores
Caminhões e ônibus, inclusive motores
Carrocerias e reboques
Peças e acessórios para veículos automotores
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Anexos
Eletrodomésticos da “linha branca”, exclusive fornos de microondas
Eletrodomésticos da “linha marrom”
Outros eletrodomésticos, exclusive aparelhos das “linhas branca” e “marrom”
Material eletrônico e aparelhos de comunicação
Material elétrico para veículos
Condutores e outros materiais elétricos, exclusive para veículos
Equipamentos para produção, distribuição e controle de energia elétrica
Máquinas e equipamentos para fins industriais e comerciais
Máquinas e equipamentos para extração mineral e para construção
Tratores, máquinas e equipamentos agrícolas, inclusive peças e acessórios
Produtos diversos de metal
Metalurgia dos ferrosos
Metalurgia dos não-ferrosos
Ferro-gusa, ferroligas e semi-acabados de aço
Laminados, relaminados e trefilados de aço
Tubos de ferro e aço com costura, inclusive fundidos
Peças fundidas de ferro
Extração de carvão mineral
Extração de minerais metálicos não-ferrosos
Extração de minérios ferrosos
Estruturas metálicas, obras de caldeiraria pesada, tanques e cadeiras
Artefatos de metal estampados, de cutelaria, de serralheria e de ferramentas manuais
Embalagens metálicas
Complexo Têxtil
Beneficiamento, fiação e tecelagem de fibras têxteis naturais
Fiação e tecelagem de fibras artificiais ou sintéticas
Outros artefatos têxteis
Calçados
Preparação de couro e fabricação de artefatos , exclusive calçados
Complexo Agroindústria
Resfriamento e preparação do leite e laticínios
Abate de bovinos e suínos e preparação de carnes
Abate de aves e preparação de carnes
Alimentos para animais
Refino de óleos vegetais e fabricação de margarinas, exclusive óleo de milho
Óleo de soja em bruto, inclusive tortas, farinhas e farelos
Fabricação e refino de açúcar
Indústria de bebidas
Álcool
Beneficiamento de arroz
Fabricação de café
Moagem de trigo
Conservas de frutas e legumes, molhos e condimentos
Sucos e concentrados de frutas
Indústria do fumo
Beneficiamento de outros produtos de origem vegetal para alimentação
Outros produtos alimentícios
Papel, papelão liso e cartolina, exclusive material de embalagem
Material de embalagem de papel, papelão e cartão
Celulose e pasta para fabricação de papel
Complexo Química
Indústria farmacêutica
Sabões, sabonetes, detergentes e produtos de limpeza
Artefatos de perfumaria e cosméticos, exclusive sabonetes
Tintas, vernizes, esmaltes, lacas, solventes e produtos afins
Adubos, fertilizantes e corretivos para o solo
Defensivos agrícolas e para uso domissanitário
Laminados de material plástico
Embalagens de material plástico
Artefatos diversos de material plástico
Fabricação e recondicionamento de pneumáticos, inclusive materiais para reparação
Artefatos diversos de borracha
Produtos químicos inorgânicos
Produtos e preparados químicos diversos
Elementos químicos, não-petroquímicos ou carboquímicos
Resinas, elastômeros, fibras, fios, cabos e filamentos artificiais e sintéticos
Petroquímicos básicos e intermediários para resinas e fibras
Refino de petróleo
Extração de petróleo e gás natural
* Classificação baseada em Haguenauer, L., Bahia, L. D., Castro, P. F. e Ribeiro, M. B. Evolução das Cadeias Produtivas Brasileiras na Década de 90. Brasília: IPEA, abril de 2001. (Texto para Discussão n. 786).
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Panorama da Indústria Brasileira
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Anexos
Classificação dos setores de atração de IDE segundo as estratégias das filiais estrangeiras
Correspondência entre setores utilizada
CONSTRUÇÃO
METAL-MECÂNICA
Cimento e clínquer
Automóveis
Automóveis
Eletrodomésticos “linha branca”
Eletrodomésticos “linha marrom”
Laminados de aço
Máquinas e equipamentos industriais e comerciais
Manufaturas de minerais não metálicos
Veículos automóveis, tratores, etc., suas partes e peças
Veículos automóveis, tratores, etc., suas partes e peças
Máquinas e aparelhos elétricos, diversos, suas partes e peças
Apars. Equip. para telecom., grav. e reprodução de som, suas partes e peças
Ferro e aço
- Máquinas especiais para indústria, suas partes e peças- Máquinas para trabalhar metais, suas partes e peças- Máquinas e equipamentos industriais diversos, suas partes e peças
COMpLExO Denominação nos gráficos
Correspondência com Divisão CUCI
Subsetores PIM-IBGE
Artefatos de concreto, cimento e fibrocimento
Automóveis, camionetas e utilitários, inclusive motores
Cimento e clínquer
Eletrodomésticos da “linha branca”, exceto forno de microondas
Eletrodomésticos da “linha marrom”
Laminados, relaminados e trefilados de aço
Máquinas e equipamentos para fins industriais e comerciais
TÊxTIL
AGROINDÚSTRIA
QUÍMICA
Têxtil de fibras naturais
Abate de bovinos e suínos
Artigos de limpeza
Perfumaria
Laminados de plástico
Pneumáticos
Petroquímicos básicos e intermediários
Óleo de soja
Açúcar
Álcool
Arroz
Trigo
Têxtil de fibras articiais e sintéticas
Calçados
Fibras têxteis e desperdícios não manufaturados em fios ou tecidos
Carne e preparados de carnes
Óleos essenciais, produtos de perfumaria e toucador
Óleos essenciais, produtos de perfumaria e toucador
Plásticos em formas não primárias
Borracha em bruto, incl. Borracha sintética e regenerada
Plásticos em formas primárias
Óleos e gorduras de origem vegetal, em bruto ou refinado
Açúcares, preparações de açúcar e mel
Produtos químicos orgânicos
Cereais e preparações de cereal
Cereais e preparação de cereais
Fibras têxteis e desperdícios não manufaturados em fios ou tecidos
Calçados
Beneficiamento, fiação e tecelagem de fibras têxteis naturais
Abate de bovinos e suínos e preparação de carnes
Sabões, sabonetes, detergentes e produtos de limpeza
Artefatos de perfumaria e cosméticos, exceto sabonetes
Laminados de material plástico
Fabricação e recondicionamento de pneumáticos, inclusive materiais para reparação
Petroquímicos básicos e intermediários para resinas e fibras
Óleo de soja em bruto, inclusive tortas, farinhas e farelos.
Fabricação e refino de açúcar
Álcool
Beneficiamento de arroz
Moagem de trigo
Fiação e tecelagem de fibras artificiais ou sintéticas
Calçados
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Panorama da Indústria Brasileira
Colaboração:Carlos Henrique Silva (ABDI)Frederico Andrade Tomich (IPEA)João Alberto De Negri (IPEA)Junia Cristina P. R. da Conceição (IPEA)Luciana Acioly da Silva (IPEA)Talita Daher (ABDI)Edna Moura (ABDI)
Projeto gráfico:João Del Negro
Revisão:Kênia Santos
Supervisão:Marcia Oleskovicz (Comunicação Social ABDI)
Agradecimento especial a Alessandro Teixeira,que presidiu a ABDI até junho de 2007,
idealizador desta publicação.
ABDIAgência Brasileira de Desenvolvimento IndustrialSetor Bancário Norte Quadra 1 – Bloco B – Ed. CNC70041-902 – Brasília – DFTel.: (61) 3962-8700www.abdi.com.br
IPEAInstituto de Pesquisa Econômica AplicadaSetor Bancário SulQuadra 1 - Bloco J - Ed. BNDES 70076-900 - Brasília - DF Tel.: (61) 3315-5000www.ipea.gov.br
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