3
|| Boletim de Análise e Previsão Climática da RPCH || página - 1 - O uso das informações contidas neste boletim é de completa responsabilidade do usuário. O projeto RPCH é financiado pela MCT, através do convênio 3641/06. REDE ESTADUAL DE PREVISÃO CLIMÁTICA E HIDROMETEOROLÓGICA DO PARÁ - RPCH UFPA Faculdade de Meteorologia 2º Distrito de Meteorologia Diretoria de Recursos Hídricos SIPAM - CR-BE Divisão de Meteorologia Divisão de Análise Ambiental ANO V Nº 49 JANEIRO 2011 Boletim disponível online em: www3.ufpa.br/rpch Padrões oceânicos e atmosféricos do último mês: A distribuição espacial das anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) sobre os oceanos Pacífico e Atlântico no mês de dezembro de 2010 é mostrada na FIGURA 1. O resfriamento anormal das águas do Pacífico equatorial perdura pelo sétimo mês consecutivo e apresenta de uma forma geral, anomalias negativas de TSM levemente superiores às de novembro, como por exemplo, valores de até -3°C, linha próxima a costa oeste da América do Sul entre países como Peru e Equador. Essa condição climática conhecida como La Niña, intensifica a circulação atmosférica favorecendo a ocorrência de chuvas acima da média em grande parte da Amazônia. No Atlântico tropical norte embora tenha ocorrido uma redução da extensa faixa de águas mais aquecidas que a média, as anomalias positivas de TSM intensificaram principalmente na área localizada próximo a costa da África, com valores acima de 3°C. A faixa equatorial apresentou neutralidade em sua grande parte, com apenas alguns núcleos de águas mais aquecidas em sua porção central e ao longo da costa norte da América do Sul. No Atlântico tropical sul ainda há predomínio de áreas com padrão de neutralidade, contudo, podem ser observadas uma concentração de águas mais frias que a média, nas proximidades da linha do Trópico de Capricórnio (30°S), além de uma extensa área com anomalias positivas de TSM, entre 40°S e 50°S. A FIGURA 2 mostra a circulação atmosférica média observada em dezembro na alta troposfera, 200 hPa, aproximadamente 12 km de altura. O centro do anticiclone (Alta da Bolívia) aparece bem definido e intenso, porém com localização ao sul da sua posição climatológica, e o cavado em altos níveis associado ao mesmo, confinado a leste do Nordeste Brasileiro. A Alta da Bolívia contribuiu para o transporte de umidade orientado no sentido noroeste-sudeste, levando umidade da Amazônia para o sudeste brasileiro, alimentando e organizando a nebulosidade, gerando as chuvas. Padrões climáticos persistentes no último trimestre: A FIGURA 3 representa os padrões médios de anomalias de TSM para o período compreendido entre outubro e dezembro de 2010, onde se observa o oceano Pacífico equatorial e costa oeste da América do Sul com águas mais frias em relação ao normal. Quanto ao oceano Atlântico tropical, a porção mais ao norte apresenta águas mais aquecidas, especialmente entre as latitudes equatorial e 15ºN, assim como a faixa litorânea ao norte da América do Sul, o que favoreceu a convergência de umidade e a formação de linhas de tempestade na costa do Pará e Maranhão. FIGURA 1: Anomalia mensal de Temperatura da Superfície do Mar em ºC observada sobre os oceanos Pacífico e Atlântico em dezembro/2010. Produto gerado pela RPCH com dados do NCEP 1 . FIGURA 2: Precipitação mensal CPC/NCEP e vento (linhas de corrente em preto) em altitude (200 hPa) observados em dezembro/2010. A escala de cores ao lado da figura indica a intensidade da precipitação em mm. A letra “A” representa o centro do anticiclone. Produto gerado pela RPCH com dados do NCEP. FIGURA 3: Anomalia trimestral de TSM em ºC observada sobre os oceanos Pacífico e Atlântico no período de outubro a dezembro/2010. Produto gerado pela RPCH com dados do NCEP. 1 National Centers for Environmental Prediction

Padrões oceânicos e atmosféricos do último mês - SEMAS · ANO V Nº 49 JANEIRO 2011 Boletim disponível online em: Padrões ... áreas do Estado, regiões sudeste, centro-sul

  • Upload
    dinhanh

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Padrões oceânicos e atmosféricos do último mês - SEMAS · ANO V Nº 49 JANEIRO 2011 Boletim disponível online em: Padrões ... áreas do Estado, regiões sudeste, centro-sul

|| Boletim de Análise e Previsão Climática da RPCH || página - 1 - O uso das informações contidas neste boletim é de completa responsabilidade do usuário. O projeto RPCH é financiado pela MCT, através do convênio 3641/06.

REDE ESTADUAL DE PREVISÃO CLIMÁTICA E HIDROMETEOROLÓGICA DO PARÁ - RPCH

UFPA

Faculdade de Meteorologia

2º Distrito de Meteorologia

Diretoria de Recursos

Hídricos

SIPAM - CR-BE

Divisão de Meteorologia Divisão de Análise Ambiental

ANO V Nº 49 JANEIRO 2011 Boletim disponível online em: www3.ufpa.br/rpch

►Padrões oceânicos e atmosféricos do último mês:

A distribuição espacial das anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) sobre os oceanos Pacífico e Atlântico no mês de dezembro de 2010 é mostrada na FIGURA 1. O resfriamento anormal das águas do Pacífico equatorial perdura pelo sétimo mês consecutivo e apresenta de uma forma geral, anomalias negativas de TSM levemente superiores às de novembro, como por exemplo, valores de até -3°C, linha próxima a costa oeste da América do Sul entre países como Peru e Equador. Essa condição climática conhecida como La Niña, intensifica a circulação atmosférica favorecendo a ocorrência de chuvas acima da média em grande parte da Amazônia.

No Atlântico tropical norte embora tenha ocorrido uma redução da extensa faixa de águas mais aquecidas que a média, as anomalias positivas de TSM intensificaram principalmente na área localizada próximo a costa da África, com valores acima de 3°C. A faixa equatorial apresentou neutralidade em sua grande parte, com apenas alguns núcleos de águas mais aquecidas em sua porção central e ao longo da costa norte da América do Sul. No Atlântico tropical sul ainda há predomínio de áreas com padrão de neutralidade, contudo, podem ser observadas uma concentração de águas mais frias que a média, nas proximidades da linha do Trópico de Capricórnio (30°S), além de uma extensa área com anomalias positivas de TSM, entre 40°S e 50°S.

A FIGURA 2 mostra a circulação atmosférica média observada em dezembro na alta troposfera, 200 hPa, aproximadamente 12 km de altura. O centro do anticiclone (Alta da Bolívia) aparece bem definido e intenso, porém com localização ao sul da sua posição climatológica, e o cavado em altos níveis associado ao mesmo, confinado a leste do Nordeste Brasileiro. A Alta da Bolívia contribuiu para o transporte de umidade orientado no sentido noroeste-sudeste, levando umidade da Amazônia para o sudeste brasileiro, alimentando e organizando a nebulosidade, gerando as chuvas. ►Padrões climáticos persistentes no último trimestre:

A FIGURA 3 representa os padrões médios de anomalias de TSM para o período compreendido entre outubro e dezembro de 2010, onde se observa o oceano Pacífico equatorial e costa oeste da América do Sul com águas mais frias em relação ao normal.

Quanto ao oceano Atlântico tropical, a porção mais ao norte apresenta águas mais aquecidas, especialmente entre as latitudes equatorial e 15ºN, assim como a faixa litorânea ao norte da América do Sul, o que favoreceu a convergência de umidade e a formação de linhas de tempestade na costa do Pará e Maranhão.

FIGURA 1: Anomalia mensal de Temperatura da Superfície do Mar em ºC observada sobre os oceanos Pacífico e Atlântico em dezembro/2010. Produto gerado pela RPCH com dados do NCEP1.

FIGURA 2: Precipitação mensal CPC/NCEP e vento (linhas de corrente em preto) em altitude (200 hPa) observados em dezembro/2010. A escala de cores ao lado da figura indica a intensidade da precipitação em mm. A letra “A” representa o centro do anticiclone. Produto gerado pela RPCH com dados do NCEP.

FIGURA 3: Anomalia trimestral de TSM em ºC observada sobre os oceanos Pacífico e Atlântico no período de outubro a dezembro/2010. Produto gerado pela RPCH com dados do NCEP.

1 National Centers for Environmental Prediction

Page 2: Padrões oceânicos e atmosféricos do último mês - SEMAS · ANO V Nº 49 JANEIRO 2011 Boletim disponível online em: Padrões ... áreas do Estado, regiões sudeste, centro-sul

|| Boletim de Análise e Previsão Climática da RPCH || página - 2 - O uso das informações contidas neste boletim é de completa responsabilidade do usuário. O projeto RPCH é financiado pela MCT, através do convênio 3641/06.

►Características Regionais da Chuva observada em dezembro de 2010:

A FIGURA 4A mostra os volumes mensais de chuva registrados nas estações meteorológicas de superfície. Grandes volumes pluviométricos foram observados sobre a porção nordeste do estado incluindo região litorânea, onde, os municípios de Salinópolis, Bragança e Tracuateua, mostraram chuvas muito acima do normal. Os valores mais elevados de chuva ocorreram entre as regiões do Baixo Amazonas e porção sudoeste do Estado do Pará, com destaque para as estações de Placas e Boca do Inferno (Alenquer) que atingiram 364 mm e 309 mm, respectivamente. A distribuição espacial da precipitação pode ser visualizada na FIGURA 4B, destacando o sudoeste do estado com tons entre verde escuro e azul claro, ou seja, valores oscilando entre 250 mm e 400 mm. A categorização das anomalias de precipitação é observada na FIGURA 4C, onde, as classes de chuva na categoria acima e muito acima do normal são resultado da interação entre sistemas precipitantes de diferentes escalas, como linhas de instabilidade, Zona de Convergência Intertropical, Alta da Bolívia, os vórtices de altos níveis da atmosfera, e os sistemas frontais que se aproximaram da região Amazônica, intensificando a convecção, organizando a nebulosidade e gerando chuvas no Estado do Pará. A região do Marajó e o centro sul do Estado ficaram com chuvas nas categorias abaixo e muito abaixo do normal respectivamente.

FIGURA 4A: Precipitação mensal observada nas estações pluviométricas do INMET, ANA/CPRM e SEMA. Os valores indicam o total mensal em mm.

FIGURA 4B: Precipitação interpolada espacialmente sobre o Estado do Pará. A escala de cores indica o volume de chuva acumulado em mm.

FIGURA 4C: Anomalia categorizada da precipitação pelo método dos percentis para as categorias MUITO

ACIMA, ACIMA, NORMAL, ABAIXO e MUITO ABAIXO.

►Características Persistentes da Chuva no Último Trimestre: A FIGURA 5 mostra a anomalia de precipitação categorizada

para o trimestre: outubro, novembro e dezembro de 2010. Os municípios situados na região do Baixo Amazonas tiveram maior influência do fenômeno La Niña, que intensificou a convecção na região, aumentando os índices pluviométricos, ocorrendo um padrão de chuvas acima do normal, com pontos isolados na categoria muito acima. Já na região do Marajó e nordeste paraense o efeito dos sistemas de mesoescala foi dominante em razão do aquecimento do Atlântico. Nas demais áreas, houve predomínio do padrão de normalidade na distribuição das chuvas.

FIGURA 5: Anomalia categorizada da precipitação no trimestre

outubro-novembro-dezembro de 2010.

A climatologia mensal da precipitação foi obtida com base no

método dos percentis aplicado aos dados das estações pluviométricas contendo séries temporais com mais de 30 anos de registros de chuva. Esta metodologia estatística indica os valores mais freqüentes de precipitação da categoria normal em um intervalo entre o mínimo climatológico (painel inferior da Fig. 6) e o máximo climatológico (painel superior da Fig. 6) esperado para cada mês.

O trimestre caracteriza-se como bastante chuvoso principalmente na porção norte do Estado, onde, sistemas meteorológicos de escala menor e a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) atuam mais efetivamente, favorecendo a ocorrência de volumes de chuva mais elevados. Já no sul do Estado às chuvas são geradas por sistemas frontais ou pela Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) e Alta da Bolívia, que intensificam a convecção na região.

FIGURA 6: Climatologia mensal da precipitação sobre o estado do Pará referente aos meses de dezembro, janeiro e fevereiro.

Page 3: Padrões oceânicos e atmosféricos do último mês - SEMAS · ANO V Nº 49 JANEIRO 2011 Boletim disponível online em: Padrões ... áreas do Estado, regiões sudeste, centro-sul

|| Boletim de Análise e Previsão Climática da RPCH || página - 3 - O uso das informações contidas neste boletim é de completa responsabilidade do usuário. O projeto RPCH é financiado pela MCT, através do convênio 3641/06.

CONSIDERAÇÕES COMPLEMENTARES: Este boletim é resultado da 49ª Reunião de Análise e Previsão Climática organizada pela RPCH no dia 25/01/2011 na Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Belém-PA.

INSTITUIÇÕES PARCEIRAS E DE APOIO TÉCNICO-CIENTÍFICO:

DEFESA CIVIL

PARÁ

►Prognóstico Climático Mensal: Na FIGURA 7, apresentam-se as previsões de consenso da precipitação para cada mês do próximo trimestre para o estado do Pará,

sendo que no painel superior tem-se o mapa da previsão da precipitação em anomalias categorizadas e no painel inferior, o volume de chuva correspondente a categoria prevista. Com a manutenção do fenômeno La Niña, condições favoráveis à intensificação de um ramo ascendente na circulação zonal no norte do Pará deverão permanecer, favorecendo a convecção e ocasionando precipitações elevadas na região. Além disso, a marcha sazonal da ZCIT rumo ao hemisfério Sul intensificará a formação de áreas de instabilidade sobre o norte paraense. Este cenário está bastante favorável a elevação do nível do rio Tocantins em Marabá de modo a ultrapassar a cota de 10 metros, que representa a cota de alerta, porém o represamento de água para formação do lago na barragem de Estreito-MA poderá amenizar a situação, ocasionando apenas as cheias periódicas em Marabá. Somente a porção Sul/ Sudeste do Estado terá condições de precipitação dentro dos padrões normais, porém deverão ocorrer pontos localizados com excessos de chuva.

Fevereiro/2010: Precipitação muito acima do normal em todo o Baixo Amazonas. Na região do Marajó, nordeste e a porção central, leste e oeste do Estado ficarão dentro da categoria acima do normal. Para as demais áreas, chuvas dentro do normal.

FIGURA 7A: Prognóstico mensal para fevereiro/2011.

Março/2011: Predomínio de chuvas acima do normal em todo o Baixo Amazonas, região do Marajó, nordeste e porção central leste e oeste do Estado. As demais áreas ficarão dentro da normalidade.

FIGURA 7B: Prognóstico mensal para março/2011.

Abril/2011: Chuvas acima do normal na faixa que vai do nordeste do Estado, porção central e calha do rio Amazonas. Nas demais regiões do estado às chuvas no mês de abril serão na categoria normal, porém sujeito a pontos isolados com excessos de chuva.

FIGURA 7C: Prognóstico mensal para abril/2011.

►Prognóstico Climático Sazonal da Precipitação: A previsão para o trimestre fevereiro, março e abril é representado pela

FIGURA 8, onde, o mapa acima é demonstrativo da anomalia categorizada de chuvas e a figura abaixo, os totais de chuva em milímetros. A interação entre a ZCIT, Linhas de Tempestade, os sistemas frontais, a Alta da Bolívia e os sistemas meteorológicos de escala menor deverão manter o padrão chuvoso em grande parte do estado, sobretudo, devido à manutenção do fenômeno La Niña, influenciando no aumento das chuvas em grande parte do Estado. Deste modo, na região nordeste (incluindo a região metropolitana de Belém), região do Marajó, todo o Baixo Amazonas e os setores centrais leste e oeste (incluindo a sede do município de Itaituba), as chuvas deverão ficar acima do normal. Nas demais áreas do Estado, regiões sudeste, centro-sul e sudoeste, o comportamento da precipitação ficará dentro dos padrões climatológicos, categoria normal.

►Prognóstico de Temperatura: As temperaturas de um modo geral ficarão dentro da média em todo o

Estado do Pará no trimestre fevereiro, março e abril, ocorrendo alguns dias isolados com temperaturas em torno de 1°C a 2°C abaixo da média, principalmente na região do Marajó e Baixo Amazonas.

FIGURA 8: Prognóstico sazonal para o trimestre fevereiro/março/abril de 2011.