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Os inventOres dO mundO - fnac-static.com · 2018. 5. 9. · conhecimento. E tal como o enorme foguete Saturno V, para além das necessidades técnicas, o tamanho dos navios, possuía,

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  • Os inventOres dO mundO

    Folhas rosto_Os inventores do mundo.indd 1 04/05/2018 09:44

  • JOãO CarreteirO rui Carvalheira

    Os inventOres dO mundO

    Folhas rosto_Os inventores do mundo.indd 2 04/05/2018 09:44

  • © 2018, João Carreteiro, Rui Carvalheira e Matéria-Prima EdiçõesTodos os direitos reservados,incluindo os direitos de reprodução total ou parcial em qualquer suporte.

    Matéria-Prima EdiçõesAv. Miguel Bombarda, 42, 1.º C1050-127 [email protected]

    Título: Os Inventores do MundoAutores: João Carreteiro e Rui CarvalheiraRevisão: Cristina Silveira de CarvalhoPaginação: Gráfica 99Capa: António Pinto/Matéria-Prima Edições

    Impressão e acabamento: Cafilesa – Soluções Gráficas, Lda.1.ª edição: maio de 2018ISBN: 978-989-769-133-2Depósito legal: ??? ???/18

  • Índice

    No início era o sonho: Portugal e o Oceano no final da Idade Média ............................................................................. 11 E porque não os Chineses? .......................................................... 13 Um salto para o vazio ................................................................. 18 Ceuta e as ilhas ........................................................................... 21

    Cronologia ................................................................................... 29

    IOlhar para o Sul

    As origens do projeto expansionista português

    1. O Infante .................................................................................. 37

    2. Gil Eanes e o cabo Bojador .................................................... 49

    IIOs Inventores do MundoAs origens dos Capitães do Rei

    3. Um herói praticamente desconhecido ................................. 59 Um herói quase desconhecido ..................................................... 63 A hierarquia social ...................................................................... 65 A educação de um fidalgo ........................................................... 67 O jovem Diogo ........................................................................... 70

  • OS INVENTORES DO MUNDO8

    4. «O capitão do fim» ................................................................... 75 Uma infância desconhecida ........................................................ 78 O fim de uma era ....................................................................... 80 A revolução renascentista ............................................................ 81 A formação de Bartolomeu ......................................................... 87

    5. O espião do rei ......................................................................... 93 Quem foi Pêro da Covilhã? ......................................................... 97 Um espião em formação ............................................................. 99 O enigma das Índias ................................................................... 103

    6. O segundo filho ...................................................................... 107 A educação ................................................................................. 112 A carreira das armas ................................................................... 115 Um cavaleiro de Deus ................................................................. 117 No norte de África ...................................................................... 121 Na corte ..................................................................................... 122

    7. O fim da Ínclita Geração ........................................................ 125 Morrer na praia .......................................................................... 129 A guarda pessoal ......................................................................... 132

    IIIHomens, deuses e monstros

    Da descoberta da passagem sul à criação do Império Português na Índia

    8. O erro de Diogo ...................................................................... 141 Por mares nunca antes navegados ................................................ 146 A 1.ª viagem ............................................................................... 148 O regresso a Lisboa ..................................................................... 152 A 2.ª viagem ............................................................................... 153

    9. A vingança do Adamastor ...................................................... 157 O erro de Ptolomeu .................................................................... 161 A vida a bordo ............................................................................ 162

  • ÍNDICE 9

    A expedição ................................................................................ 165 No outro lado do cabo ................................................................ 169 O regresso a Lisboa ..................................................................... 170 Uma nova oportunidade ............................................................. 172

    10. De Lisboa à Índia (com escala no reino do Preste João) ..... 177 A viagem de Pêro da Covilhã ...................................................... 181 A Grande Ásia no século xv – o que era realmente ...................... 183 Do Cairo a Áden ........................................................................ 185 O reino do Preste João ................................................................ 187 De Áden à Índia ......................................................................... 189 A chegada à Índia ....................................................................... 191

    11. O Terrível ............................................................................... 193 A divisão na corte ....................................................................... 198 As nomeações ............................................................................. 200 Antes da Índia ............................................................................ 201 A viagem de 1503 ....................................................................... 203 A viagem de 1506 ....................................................................... 207 Ormuz ........................................................................................ 209 A chegada à Índia ....................................................................... 211 Finalmente vice -rei ..................................................................... 213 A conquista de Goa .................................................................... 216 A conquista de Malaca ................................................................ 217 No Mar Vermelho ...................................................................... 219 De regresso ao Malabar .............................................................. 221 O fim ......................................................................................... 222

    Um final anunciado: O fim do Império Português da Índia ... 225 Diálogo do Soldado Prático ou o lamento dos enteados do Império ................................................................................... 234 O fim do Estado Português na Índia .......................................... 238

    Bibliografia .................................................................................. 245

  • No início era o sonho: Portugal e o Oceano no final da Idade Média

    Séneca1, um dos maiores filósofos romanos, afirmava não existirem ventos favoráveis para navegadores que desconheciam o destino. Esta frase metafórica, pensada para realçar a importância de objetivos claros nas demandas e projetos humanos, recupera a literalidade quando se olha para o planeta Terra no início da terceira década do século xv. Foi neste período que o impulso para ligar por mar os diversos ramos da Huma-nidade se gerou. Até aí existiam limites que encerravam estes ramos em arquipélagos conhecidos; ocasionalmente, algum viajante saltava de um arquipélago para outro imediatamente adjacente, do qual trazia novida-des e curiosidades. O esforço, porém, nunca era continuado e a exceção era a regra. Mas a partir desta década pioneira, novos portos de destino surgiram num crescendo avassalador, até o impulso se deter no século xx, altura em que todos eles já se encontravam unidos. Nasceu então a pala-vra globalização para descrever a realidade de um planeta sem zonas inacessíveis e repleto de destinos.

    O que provocou nessa década de trinta do século xv este impulso é, ainda hoje, objeto de discussão e fascínio, bem como o porquê de os seus autores terem sido quem foram, e não outros. Porquê os Portugueses? As competências técnicas possibilitaram o sucesso, mas era necessário saltar para os navios, uma e outra vez, até ao sucesso. E, acima de tudo,

    1 Lúcio Aneu Séneca (4 a.C. -Roma, 65) foi um dos mais célebres advogados, escritores e intelec-tuais do Império Romano.

  • OS INVENTORES DO MUNDO12

    perceber que o sucesso fora de facto atingido, o que nem sempre era tão evidente quanto parece para os que não possuem objetivos claros. Como se sabe que se ganhou quando não se identificou, à partida, em que consiste ganhar? Para os Portugueses daquela era, o que significava ter chegado?

    Quando se olha para os motivos, uma coisa se destaca: os responsáveis pela fagulha que unificou o mundo não tinham a certeza se o porto de destino existia realmente no mundo real. Somente dentro das suas cabe-ças o visualizavam. Só quando lá chegaram perceberam que a ideia que faziam do mundo e a realidade deste coincidiam de algum modo. Do outro lado, «não existiam, de facto, dragões», como o ato de enviar con-tinuamente navios para o cabo do Medo deixa antever, mas terra firme e gente que, sendo diferente, era sensível às trocas comerciais e até a ser batizada. E existia também algo que rapidamente ganhou vida própria: para lá do horizonte, mais terra, mais gentes e mais mar. Era só deixarem--se ir, apoiando -se no seu saber de marear e, acima de tudo, na sua fé, que nunca os abandonou.

    Mas porquê os Portugueses?Nos dias de hoje, fala -se muito da incapacidade dos Portugueses para

    se organizarem. Esta frase tornou -se quase o lema nacional do Portugal atual e é tantas vezes repetida que uma pessoa admira -se que um povo assim tenha conseguido realizar o feito de unificar o Planeta através dos Descobrimentos. Organizar -se e planear para o sucesso é, de facto, importante, diz -nos a sabedoria convencional. Ao mesmo tempo, grandes feitos resultam muitas vezes de desafios às sabedorias convencionais esta-belecidas. O que é, então, organizar -se e «planear para o sucesso»? Onde terminam estas palavras e começam os atos que elas descrevem? Qual a relação entre planear, usar recursos e concretizar? Que papel tiveram a organização e a planificação nos Descobrimentos? Os recursos existentes foram um fator determinante?

  • NO INÍCIO ERA O SONHO 13

    E porque não os Chineses?

    No início do século xv, a mais rica, povoada e sofisticada nação da época decidiu iniciar um programa de expansão marítima: a China, durante cerca de meio século, entre o final do século xiv e 1433, decidiu saltar para os navios e partir à descoberta do mundo à sua volta.

    Razões para este programa não faltaram, muito menos recursos finan-ceiros, científicos ou logísticos. Os seus governantes acreditavam – com provas; não lendas – que esta nação essencialmente continental possuía na vizinhança imediata portos de interesse para impor prestígio e, possivel-mente, negócios e tributos para receber. Existia a nítida noção, entre a classe alta da administração, de que no estrangeiro próximo esperavam frutas maduras prontas a serem colhidas. A própria população miúda dos inúmeros portos de que dispunha já se tinha adiantado aos planos dos altos funcionários: comunidades inteiras estabeleceram -se no exterior imediato, a partir de meados do século xiii, enviando para a antiga pátria lucros, rumores e informações de mais oportunidades para lá do horizonte.

    O século que acabara vira o número de expedições à vizinhança crescer ano após ano. Já a China experimentara, com sucesso, cobrar tributos aos vizinhos próximos até que, um dia, um imperador mais consequente – Yongle2 – decide espantar o mundo com um programa de construção naval sem paralelo e apenas igualado no calado dos navios no século xix: as armadas do Tesouro da China Imperial que percorreram a Ásia e o Oceano Índico. Estas armadas consistiam em largas dezenas de navios com centenas de toneladas e milhares de tripulantes enviados regular-mente a partir do final do século xiv, atingindo a costa oriental africana, o Mar Vermelho, o golfo Pérsico, o Japão e a Indonésia.

    Para garantir o sucesso destas expedições, as suas gentes experientes e o tesouro abastecido pela máquina fiscal mais sofisticada do planeta

    2 Yongle foi o terceiro imperador da Dinastia Ming da China, reinando entre 1402 e 1424. É con-siderado como o maior imperador da Dinastia Ming, e um dos maiores imperadores da história chinesa.

  • OS INVENTORES DO MUNDO14

    foram mobilizados e, paralelamente, milhares de marinheiros, soldados e camponeses foram requisitados ou atraídos para tripular as armadas anuais. A máquina administrativa dos Chineses foi também mobilizada, revelando um tão grande amor pelo detalhe, que se chegou ao ponto de se criar um instituto para o estudo das línguas bárbaras em Namquim, dotado de orçamento, professores e funcionários de apoio.

    Em termos de planificação de saltos no desconhecido, as armadas do Tesouro só têm paralelo no Projeto Apollo, igualando -o em termos de recursos gastos e mesmo de resultados: todo um vasto exotismo de girafas oferecidas ao imperador começou a chegar à China, tal como as missões Apollo fizeram chegar rochas lunares que modificaram o nosso enten-dimento da história da Terra e da Lua.

    Ambos os projetos eram demandas dignas de superpotências, um misto de propaganda, demonstração de força e avanço genuíno no conhecimento. E tal como o enorme foguete Saturno V, para além das necessidades técnicas, o tamanho dos navios, possuía, de igual modo, a missão de impressionar: cada uma das sete grandes viagens realizadas, possuía cerca de 150 navios, dos quais pelo menos metade tinham cerca de 70 metros, o mesmo comprimento que o navio do almirante Nelson3, o Victory, construído no final do século xviii. Os maiores deviam talvez atingir os 100 metros de extensão, tamanho a partir do qual a construção deixa de ser estável para a navegação.

    Não faltaram também à China navegadores heroicos: o almirante Zengh He4, um eunuco favorito do imperador Yongle e depois do neto deste, o imperador Xuande5, foi o maior deles todos. A partir de 1405, descobriu uma série de rotas marítimas seguras que ligaram, por mar, a

    3 1.º visconde Horatio Nelson (Burnham Thorpe, 29 de setembro de 1758 – Cabo Trafalgar, 21 de outubro de 1805) foi um oficial britânico da Marinha Real Britânica, famoso pelas suas intervenções nas Guerras Napoleónicas. Ganhou várias batalhas, de que se destaca a batalha de Trafalgar, em 1805, durante a qual foi morto.4 Zheng He (1371 -1433) foi um explorador chinês do século xv. Realizou viagens por mar pelo sudoeste asiático e pelo oceano Índico. Chegou à Índia, ao Mar Vermelho e a Moçambique.5 Xuande (1399 -1435) foi um imperador chinês da Dinastia Ming, que retomou a política voltada para a exploração marítima, favorecendo Zheng He.

  • NO INÍCIO ERA O SONHO 15

    China ao Mar Vermelho. Muçulmano chinês, pretendia glória para si e para os dois Filhos do Céu que serviu enquanto marinheiro, bem como segurança para peregrinos e tributos para o tesouro. Tudo isto obteve, durante quase trinta anos de expedições anuais, em pessoa, ou através dos seus lugares -tenentes que chegaram por volta de 1430, àquilo que é hoje o Quénia, já na costa africana do mar Ocidental, nome que os Chineses davam ao oceano Índico.

    No início da terceira década do século xv, os esforços do imperador Yongle e do seu neto, o imperador Xuande, deram assim à China o conhecimento de que para lá do mar a sul existiam outros mares, para ocidente e oriente, bordejados por nações bárbaras, umas mais civilizadas que outras, mas todas potenciais, e alguns casos reais, tributários. Igual-mente, uma série de núcleos de população chinesa fixaram -se na Malásia, Indonésia e Filipinas – alguns dos quais perduram até hoje –, tornando concebível uma talassocracia chinesa, a qual, a par do seu poder terrestre, poderia catapultar o Império do Meio6 para novos patamares de poder.

    Mas outra coisa tornara -se também evidente: o mar Ocidental (o Índico) funcionava como uma bacia fechada para as armadas do Tesouro. O que quer que se escondesse para lá do golfo Pérsico, de Meca e mesmo da África oriental, parecia ser dotado de uma imensidão feita de terra firme, governada por nações sedentárias, diferentes dos bárbaros nóma-das a que estavam habituados os civilizados de Nanquim. Do outro lado, para lá do Japão e dos bárbaros que viviam naquilo que um dia viria a ser chamado de Filipinas havia outra imensidão, esta feita de um mar aparentemente infinito. Em termos puramente intelectuais, ambas as imensidões pareciam talhadas para desafiar o poder conceptual dos burocratas do Palácio Imperial, sobre o que fazer a seguir. Tanto mais que as necessidades de defesa da China iriam, sem dúvida, colidir com estes projetos caso, um dia, fosse necessário aumentar fundos e fazer escolhas. Perante este facto, o executante da proeza, Zeng He, pareceu

    6 Designação derivada da mística chinesa que considera o país como o Império do Meio ou «o país que está no centro do planeta Terra».

  • OS INVENTORES DO MUNDO16

    incapaz de transformar em desafio a ser ultrapassado, uma revelação que se tornou motivo de incómodo.

    A China pareceu subitamente cega ou paralisada, perante o facto de o mundo à sua volta não coincidir exatamente com aquilo que o chinês educado achava ser (pois que o chinês comum continuava a saltar para os barcos em busca de melhor vida). Mas no mundo do palácio imperial e dos departamentos e institutos da burocracia do Estado, apenas contava o poder dos funcionários e as preocupações dinásticas dos imperadores. Tudo aquilo que Zeng He lhes mostrava era a seus olhos apenas pitoresco, longínquo e, acima de tudo, caro. A possibilidade de lucro, económico ou político, parecia escapar aos líderes do país que era, ele próprio, a maior fonte de lucro na terra e o seu mais forte poder militar. Que força poderia existir que se lhe medisse? Inconcebível: o Céu reservava esse favor apenas à China. E, tal como não existiam dois céus, não existiria, por certo, outra China. E, por essas razões, controlados que estavam os mares próximos: porquê gastar dinheiro com bárbaros forçosamente menores?

    As Armadas do Tesouro pararam subitamente em 14317, pouco depois da morte do Imperador Xuande e da morte de Zeng He, no mar, algures no golfo de Bengala. Os documentos dos arquivos imperiais que chegaram aos nossos dias revelam a sua impotência para descortinar o valor do mundo real: «As expedições […] ao Oceano Ocidental gastaram milhões em dinheiro e cereal e ainda mais em pessoas que foram de encontro às suas mortes [nessas expedições]. Apesar de [haverem] regressado com coisas maravilhosas, que benefício houve para o Estado? Isto foi apenas um ato de má governança, o qual, os ministros devem severamente desaprovar. Mesmo que os velhos arquivos estivessem ainda preservados eles deveriam ser des‑truídos para que [as repetições destas coisas] fossem impedidas na raiz.»

    7 Houve dois momentos de paragem das expedições chinesas: um primeiro em 1424, aquando da morte do grande impulsionador, o imperador Yongle; e o segundo – definitivo – aquando da morte do neto deste, o imperador Xuande. Ambas as paragens foram posteriormente justifica-das, pela burocracia, por razões financeiras. Em ambas as paragens, o medo do regresso da expansão é caracteristicamente acompanhado do desejo de queimar os velhos arquivos que as serviam.

  • NO INÍCIO ERA O SONHO 17

    Ou, segundo uma opinião colocada na boca do imperador Zheng-tong8, por um dos seus funcionários por volta de 1435, «Alguns países longínquos pagam o seu tributo através de grandes despesas e dificuldades, as quais não desejo. Mensagens deverão ser ‑lhes enviadas para reduzir os seus tributos para reduzir as altas e desnecessárias despesas tanto para eles como para mim.»9

    É necessário ver por detrás destes comentários algo mais do que dis-cursos justificativos do novo poder no trono. O que nos parece transpa-recer das justificações dos funcionários é uma incapacidade para descortinar o vasto poder que poderia advir do prosseguimento das expe-dições, como atrás referimos. E acrescentamos agora algo pior, reto-mando também a comparação entre a China de 1433 e o Programa Apollo: o gigantismo destes dois programas não os salvou da inconse-quência que a sua génese já possuía, apesar de terem cumprido as verda-deiras missões para as quais foram concebidos, o prestígio. Ironicamente, mesmo quando estes programas cumpriram, de facto, o prometido pelas respetivas propagandas e possibilitaram visualizar algo mais vasto, a focalização do Estado nas preocupações do curto prazo comprometeu qualquer verdadeira consequência que deles pudesse advir. Inclusive, lucros comerciais. Cortado o favor do Estado que tudo financiara, existia apenas o nada. E à volta deste nada, os próprios interesses de privados rapidamente esmoreceram: tanto a China de 1433, como os Estados Unidos de 1972 eram as mais ricas nações do planeta10. Aí afluía o

    8 Zhu Qizhen (29 novembro 1427 -23 fevereiro 1464) foi um imperador da Dinastia Ming. Ascen-deu ao trono em 1435, mas foi forçado a abdicar em 1449, em favor do seu irmão Jingtai, após ter sido capturado pelos Mongóis. 9 Hui Chun Hing – Huangming zuxun and Zheng He’s Voyages to the Western Oceans – Journal of Chinese Studies, n.º 51, Chinese University of Hong Kong (julho 2010). 10 Curiosamente ambas as nações, China de 1433 e Estados Unidos de 1972, encontravam -se nestes pontos pioneiros das suas histórias atoladas numa guerra impossível de vencer no Viet-name. Ambas as burocracias apontaram as necessidades da guerra no Vietname como uma das razões para parar programas dispendiosos. Note -se que numa guerra – ainda por cima, uma guerra da qual a sobrevivência não estava remotamente em causa; ambos eram os invasores – os gastos de projetos como as Armadas do Tesouro ou o Programa Apollo são engolidos num mês ou numa batalha, sem qualquer retorno monetário. A guerra de agressão é o mais dispendioso pro-grama que um Estado pode conceber. A exploração do desconhecido nos mares ou no céu nunca

  • OS INVENTORES DO MUNDO18

    comércio; não era, na realidade, necessário inovar e arriscar. Para quê? É a pergunta racional que ambas as burocracias fizeram.

    Ainda hoje se especula sobre o que teria acontecido à História mun-dial caso a China tivesse prosseguido as suas expedições. Mas a História não funciona com ses. Funciona com aqueles que se apresentam para a fazer. E, nesse ano de 1433, quem apareceu para o desafio não foi a China. Foi Portugal.

    Um salto para o vazio

    Do ponto de vista teórico, é difícil conceber uma sociedade menos pre-parada para o fazer. Portugal no século xv era pobre, com uma economia simples, saído de uma guerra pela sobrevivência e ameaçado no mar pelos elementos e pela pirataria. Mas a teoria só é válida se impusermos à realidade do século xv aquilo que imaginamos ser a realidade do mundo atual: se os seres humanos possuem uma biologia básica, as culturas ao longo do tempo, isto é, o modo como os humanos interagem com a realidade é mutável e díspar. A falta de recursos é, neste planeta, sempre relativa ao modo como eles são utilizados e para que são utilizados. E, mais importante, quem procura algo tem sempre vantagem sobre quem espera. No início do século xv, os recursos exportáveis de que os Portu-gueses dispunham (a sua vantagem competitiva no jargão económico) eram o sal e a posição portuária estratégica entre o sul e o norte da Europa. Se quisesse algo mais teria de o ir buscar a outro lado, o que, de facto, aconteceu pelo menos desde D. Afonso IV11, patrocinador da primeira expedição marítima portuguesa de que há registo: às Ilhas

    pesou muito nos orçamentos das nações, embora sempre tenham constituído convenientes bodes expiatórios pela aparente enormidade dos seus veículos. O gigantismo de opereta que geralmente as acompanha é depois convenientemente usado para que o seu término signifique algo para o espetador desatento ao valor real das coisas.11 D. Afonso IV (Lisboa, 8 de fevereiro de 1291 – Lisboa, 28 de maio de 1357), apelidado de Afonso, o Bravo, foi o Rei de Portugal e Algarve de 1325 até à sua morte. Era um dos filhos do rei Dinis I e sua esposa Isabel de Aragão – canonizada como Santa Isabel.

  • NO INÍCIO ERA O SONHO 19

    Canárias em 1341. Este reinado é importante, pois é a partir desta altura que a modificação da geografia política portuguesa se solidifica defini-tivamente. Que queremos dizer com esta última frase e quais as suas implicações para o início dos Descobrimentos?

    O fim da guerra com os Muçulmanos no nosso espaço geográfico modificou o modo de olhar a expansão de Portugal como uma corrida de norte para sul. Igualmente, a paz com Castela e Leão libertou recursos da colonização interna do interior, permitindo que o litoral, mais fértil porque mais chuvoso e dotado dos estuários dos rios, agarrasse a sua população. Não significou isto que o interior do país deixasse de ter forais ou que as pessoas para lá se dirigissem; o que cessou foi a necessidade imperiosa de guarnecer as praças junto à fronteira com gentes, benefícios e dinheiro. Arrancou, assim, a concentração das atenções numa faixa de território que ia da foz do Rio Minho à foz do Rio Sado e que, imper-cetivelmente, mudou um reino cujo eixo de poder girava em torno do Minho interior (Braga, Guimarães, Penafiel), de Viseu e, sobretudo, de Coimbra12, a primeira capital que Portugal teve. Tudo, note -se, aglome-rados sem contacto direto com o mar.

    Esta primeira geografia política de olhar para sul e para as exigências da fronteira leste antes de mais nada começa a mudar com Afonso III13, que mudou a capital para Lisboa, reconhecendo que o poder político e económico do País – ambos em escassa quantidade – se deveriam con-centrar num único ponto para melhor aproveitar um e outro. Paralela-mente a Lisboa, ergue -se a cidade do Porto, que começa a monopolizar nas suas mãos o crescente comércio que o rio Douro lhe traz e que depois exporta para a Europa do norte. Lisboa e Porto ascendem assim juntas,

    12 A título de ilustração, atente -se no seguinte pormenor: o local onde os reis da I Dinastia até D. Afonso IV nasceram; foram coroados; e morreram/foram sepultados: D. Afonso Henriques (n. Viseu, Guimarães ou Coimbra; c. «Ourique»; m. Coimbra); Sancho I (n. Coimbra; c. Coimbra; m. Coimbra); Afonso II (n. Coimbra; c. Coimbra; m. Coimbra/Alcobaça); Sancho II (n. Coimbra; c. Coimbra; m. Toledo); Afonso III (Coimbra; transferência da capital para Lisboa; m. Alcobaça); D. Dinis (n. Lisboa; Lisboa; Santarém/Lisboa); D. Afonso IV (Lisboa; Lisboa; Lisboa).13 D. Afonso III (Coimbra, 5 de maio de 1210 – Alcobaça, 16 de fevereiro de 1279), apelidado de o Bolonhês foi rei de Portugal de 1248 até à sua morte, e também o primeiro monarca português a utilizar o título de Rei de Algarve.

  • OS INVENTORES DO MUNDO20

    a partir do momento em que a fronteira fecha e o litoral se pode permitir concentrar -se em si próprio. E, até aos dias de hoje, estas duas cidades governam juntas o país, dando a Coimbra o prémio de consolação da sua universidade. São como um velho casal, obcecados um com o outro e sempre a discutir, rodeados por um quase vazio à volta.

    D. Afonso IV, vimos, foi o responsável pela primeira expedição marí-tima e para todos os efeitos o verdadeiro pai da marinha portuguesa, contratando italianos para comandar os navios e dando início à indústria da construção naval nos nossos portos que, aliás, já detinham a experiência que os navios do Norte europeu lhes forneciam, quando aqui escalavam para carregamento de sal, comida e – pormenor muito importante – repa-rações. Era, pois, óbvio para qualquer governante sem outras preocupações que Portugal teria de concentrar as suas atenções no crescente comércio que o norte da Europa desenvolvia com o Sul e que lhe passava ao largo. Os seus portos naturais, dos quais Lisboa se destacava, deram à população ribeirinha de Portugal a ideia de que podia extrair mais do que peixe do oceano: o sal, aliado ao vinho, era uma preciosa moeda de troca que o Norte europeu não produzia em qualidade e o Sul não produzia em quan-tidade suficiente. Portugal conseguia fazer ambas as coisas, às quais até acrescentava sal -gema. Este sal foi o capital inicial que permitiu a Portugal dotar -se de uma marinha mercante; os seus primeiros tripulantes foram os pescadores de todo o litoral, habituados, desde sempre, aos terrores e favores do mar e àquilo a que se chama hoje o know ‑how, aprendido a reparar diligentemente as estreitas embarcações do Norte e as largas barcas do Sul, que, de Setúbal a Vila do Conde, enchiam crescentemente os estaleiros. Desta fusão nasceria a caravela, o primeiro navio capaz de nave-gar ventos contrários e transportar suficiente carga e tripulantes para per-mitir, ao mesmo tempo, lucro, defesa14 e rapidez.

    14 A qual foi aumentada exponencialmente quando, em meados do século xv, as caravelas passa-ram a ser dotadas de artilharia. A artilharia naval é uma invenção portuguesa que tornou qualquer navio inimigo não dotado da mesma, independentemente do calado ou versatilidade, uma presa fácil. A artilharia naval servia também para abrir portos, acalmar povoações costeiras rebeldes ou simplesmente como arma psicológica de grande efeito.

  • NO INÍCIO ERA O SONHO 21

    O caos da Peste Negra, das Guerras Fernandinas15 e da revolução que pôs D. João I16 no poder não deteve este progresso. Do ponto de vista da experiência de navegação, aliás, estes percalços apuraram o engenho naval, transformando comerciantes e pescadores em soldados, marinhei-ros e, quando apanhados por Castela, corsários. Finalmente, as dificul-dades fizeram chegar aos portos gente fugida do interior de Portugal e pronta a tudo. Até a procurar no alto -mar o que a terra não conseguia dar.

    Ceuta e as ilhas

    A morte de D. João de Castela, em 1390, colocou na prática o ponto final na Crise do Interregno e a nova elite portuguesa viu consolidada internacionalmente a sua posição, quando, em 1411, um armistício foi assinado com os nossos vizinhos no tratado de Ayllon, o qual incluía também Aragão e a França. Os novos senhores de Portugal – a «nova geração de gentes» de que falou Fernão Lopes – viram -se então na posi-ção de ter de definir o que fazer com a paz, ganha que estava a guerra.

    Este é um ponto importante para perceber o porquê de terem sido os Portugueses os agentes do impulso daquilo que viria a provocar a unifi-cação do mundo: a posição geográfica de Portugal, a experiência das suas gentes no mar e o clima económico da Europa, que começava a arrancar das terríveis crises do século xiv, não significariam nada se a nossa elite estivesse animada da mentalidade da elite chinesa. Esta, no outro lado

    15 As chamadas guerras fernandinas caracterizaram -se pela disputa do trono de Castela entre Fernando I de Portugal e Henrique II de Castela (e depois, com o filho deste, João I de Castela), na sequência do assassinato de Pedro I de Castela por Henrique, seu meio -irmão. Podem ser divi-didas em três fases: entre 1369 -1370, 1372 -1373 e 1381 -1382.16 D. João I de Portugal (Lisboa, 11 de abril de 1357 – Lisboa, 14 de agosto de 1433), conhecido como o Mestre de Avis e apelidado de o de Boa Memória, foi o rei de Portugal e dos Algarves de 1385 até à sua morte, sendo o primeiro monarca português da Casa de Avis. Era o filho ilegítimo do rei D. Pedro I de Portugal com uma senhora comum chamada Teresa Lourenço, sendo esco-lhido e aclamado como rei durante a Crise de 1383 -1385.

  • OS INVENTORES DO MUNDO22

    do mundo, comandava a mais poderosa entidade política do planeta: a mentalidade que prefere administrar o conhecido a conceber uma estra-tégia para o desconhecido.

    A «nova geração de gentes», ainda que animada por uma família real de verdadeiros génios, nas palavras de Fernando Pessoa, poderia tran-quilamente administrar os seus novos feudos e honrarias e até o povo poderia tirar um relativo sustento do crescente tráfego internacional que passava ao largo. Mas Portugal escolheu expandir -se: porquê? Planifica-ção alguma resultou de qualquer hipotético encontro que decidisse com cronogramas e estudos anexos iniciar os Descobrimentos. Nem foram criados institutos dotados de orçamento: a Escola de Sagres é um mito apócrifo, nascido da cabeça de académicos e eruditos que imaginam o mundo como uma imensa sala de aula. O que explica a ação não foi nenhum momento, mas a maneira de estar no mundo por parte da nova elite, pessoas que na juventude haviam sido figuras de segunda e terceira linhas da sociedade do rei D. Fernando17. Tudo arriscaram em 1383 num desesperado salto no vazio que só poderia ter como resultado a vitória. A guerra que se arrastou de forma ativa durante sete cruciais anos forjou um tipo de seres humanos raro: uma mistura de gente de ação e pensa-dores estratégicos que buscaram em Inglaterra, na Flandres e nas cidades, o que Castela e o velho mundo feudal não lhes queria dar. O dinamismo resultante deste salto no desconhecido, que correu bem, forneceu a con-fiança – num ambiente económico de crescente normalização comercial – para perceber que a necessária reconstrução poderia ser feita usando a imaginação, o trabalho coletivo e o risco. Esta confiança estendia -se àquilo a que hoje se convencionou chamar burguesia e que, na altura, incluía todo o povo urbano dotado de algum rendimento. Esta classe social, que também tudo arriscara, sentia -se à vontade com o novo poder, pois fora cúmplice na sua ascensão. Na realidade dos favores e dívidas

    17 D. Fernando I (Coimbra, 31 de outubro de 1345 – Lisboa, 22 de outubro de 1383), apelidado de o Formoso, foi o Rei de Portugal e Algarve de 1367 até à sua morte. Foi o último monarca português da Casa de Borgonha. A sua morte sem um herdeiro varão levou à Crise de 1383 -1385.

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    políticas mútuas, gerara -se uma situação social cujas características na prática apresentam a extraordinária situação de cortes, que entre 1385 e 1414 se reúnem 24 vezes, para tratar dos mais diversos assuntos, sempre sob a batuta dos comerciantes, pois que os nobres eram de grandeza recente e o rei fora por eles escolhido, defendido e financiado. Era como se Portugal fosse, na prática, governado por um Chefe de Estado depen-dente da confiança de um Parlamento. Semelhante situação no século xv só existia nas Repúblicas Italianas e estas careciam do então importante caráter sagrado do seu Chefe de Estado: D. João recebera os Santos Óleos, os Médicis18 não. Sem dúvida que, numa sociedade assim gover-nada, as ações do poder considerado legítimo são suficientemente discu-tidas para desenvolver um destino acordado em vez de definido por burocratas, intrigas ou desejos autocráticos. Por debaixo da penúria e do hábito ao risco, existia uma discussão franca de objetivos e da utilização de recursos. Não poderia ser de outra maneira, pois que a legitimidade do poder era a um tempo fresca, única e sagrada. No que diz respeito à estrutura política durante o crucial reinado de D. João I, o nosso país apresentava -se demasiado fraco para ossificações de castas e demasiado forte para permitir a dissipação por intrigas palacianas. Politicamente estava no ponto para um projeto comum que a todos tirasse da penúria.

    É por isso que a partir de 1411, quando a situação internacional lhe permite respirar um pouco, este oxigénio é usado num ato de expansão: dinâmica do risco e diálogo interno encontram -se sintonizados num rei dotado – coroado, poderá dizer -se – por uma mente exercitada pela educação moderna recebida durante a infância, facto sem paralelo algum nos monarcas da I dinastia19. A sua corte recebeu influências, pela pri-

    18 Os Médici foram uma dinastia política italiana, com origem na região da Toscana. Dominando o governo da cidade de Florença, criaram um ambiente onde a arte e o humanismo floresceram, inspirando o Renascimento italiano, juntamente com outras famílias da Itália.19 Com a possível exceção de Afonso III, o qual, note -se, tinha a sua coroa também dependente de compromissos. Acrescente -se que no século xv o pensamento europeu de ponta se encontra já em pleno Renascimento.

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    meira vez, do melhor que o norte da Europa produzia e que, já naquela altura, fazia sentir a sua influência no Sul, até então dono e senhor do intelecto europeu. Tudo no centro do poder português era agitação ani-mada por objetivos concretos e ambição dirigida. Portugal iria expandir--se fisicamente, porque a sua mente se encontrava já num processo de expansão, através da análise franca da realidade à sua volta, ao mesmo tempo mortal e cheia de oportunidades.

    Esta expansão física assumiu duas formas: à maneira antiga, atacando a cidade muçulmana de Ceuta em 1415; e, o que é extraordinário e revelador de que algo mais agitava a sociedade, de uma maneira nova, colocando -se em navios e apontando estes para o oceano sem fim que os seus portos e estuários bordejavam. Rumores, lendas antigas e a exis-tência das Canárias era tudo quanto tinham enquanto pontos de chegada e foi baseando -se apenas nisto e acreditando que o Céu ouvia as suas preces que, a partir do ano de 1418, no regresso de uma expedição às Canárias, a ilha de Porto Santo foi encontrada.

    A descoberta e colonização das restantes ilhas atlânticas desenvolveu--se ao longo das duas décadas seguintes, aproveitando os ventos e as correntes que mostravam aos navegadores o que até então ninguém con-seguira perceber na Europa: que os fenómenos naturais que existiam nas terras referidas na Bíblia e na sabedoria dos Antigos eram as mesmas no oceano imediatamente à frente de Portugal. Monstros e água a ferver estariam noutros sítios: ali não. Apenas água, ventos e correntes e, junto aos Açores, sargaços.

    Assim, por volta de 1430, os Portugueses haviam desenvolvido uma nova técnica para ligar as novas descobertas com Portugal continental, que apelidaram de volta do mar, a qual consistia em aproveitar a corrente das Canárias para ir para sul até à Madeira e depois – ponto crucial –, em vez de rumar para norte diretamente para a Europa, dirigir -se para oeste, para as profundezas do oceano Atlântico. Esta manobra tinha de ser feita porque, na ausência de motores, o aproveitamento do giro atlân‑tico e dos correspondentes ventos revelava -se a única maneira de regressar. O desconhecimento deste fenómeno era a principal razão da dificuldade

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    dos navegadores da Antiguidade em atingir as Canárias e voltar para o Mediterrâneo: a corrente das Canárias e os ventos dominantes de norte impedem que um barco à vela ou mesmo a remos consiga regressar.

    Foi, pois, o aproveitamento deste fenómeno natural que permitiu à Europa dar o salto para a sua expansão, tendo os seus primeiros execu-tantes sido os Portugueses. Uma enorme barreira, porém, detinha -os: a sul, no limite do mundo conhecido pelos Romanos, encontrava -se o terrível cabo do Medo, ou cabo Não, atualmente conhecido por cabo Bojador.

    Esta barreira parecia inultrapassável, pois, ao contrário da volta do mar, era necessário prosseguir para sul antes se tentar o regresso. Ao contrário das Canárias, o problema invertia -se. Já não era tanto o regresso, mas a chegada a um destino que não se sabia bem onde ficava. Sabia -se apenas que ficava para lá daquele ponto final no mapa. Só depois se poderia regressar: mas como ultrapassar aquele cabo que tudo parecia engolir? O que escondia?