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1 Os Estudos Críticos em Administração, a Political Discourse Theory e a “Ocupação de Wall Street”: da Emancipação ao Engajamento Político Autoria: Flávia Zimmerle da Nóbrega Costa, José Roberto Ferreira Guerra, Débora Coutinho Paschoal Dourado, Fernando Gomes de Paiva Júnior, André Luiz Maranhão de Souza Leão Resumo A crise financeira iniciada em 2008 alterou o modo como a sociedade passou a se relacionar com o mercado. Um dos focos de protesto foi a Ocupação de Wall Street. O estudo buscou compreender como o engajamento político de agentes sociais ocorre no interior desse movimento. A argumentação teórica está pautada na Political Discourse Theory e nos Estudos Críticos em Administração. A análise dos dados orientada pela arqueologia foucaultiana revelou duas formações discursivas: Princípio Emancipatório e Convocação ao Engajamento. Os resultados permitiram que visualizássemos fenômenos sociais se mobilizando na direção do que seria uma luta por uma sociedade mais justa.

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Os Estudos Críticos em Administração, a Political Discourse Theory e a “Ocupação de Wall Street”: da Emancipação ao Engajamento Político

Autoria: Flávia Zimmerle da Nóbrega Costa, José Roberto Ferreira Guerra,

Débora Coutinho Paschoal Dourado, Fernando Gomes de Paiva Júnior, André Luiz Maranhão de Souza Leão

Resumo A crise financeira iniciada em 2008 alterou o modo como a sociedade passou a se relacionar com o mercado. Um dos focos de protesto foi a Ocupação de Wall Street. O estudo buscou compreender como o engajamento político de agentes sociais ocorre no interior desse movimento. A argumentação teórica está pautada na Political Discourse Theory e nos Estudos Críticos em Administração. A análise dos dados orientada pela arqueologia foucaultiana revelou duas formações discursivas: Princípio Emancipatório e Convocação ao Engajamento. Os resultados permitiram que visualizássemos fenômenos sociais se mobilizando na direção do que seria uma luta por uma sociedade mais justa.

 

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1. Introdução Há aproximadamente quatro anos, uma crise financeira global se estabeleceu e alterou de

forma substancial o modo como a sociedade civil passou a se relacionar com as instituições financeiras. Discussões na arena política e econômica colocaram em cheque o modelo neoliberal que estava em vigor desde a década de 1970. De um lado, países pertencentes à zona do Euro decretaram severas restrições econômicas com o objetivo de minimizar, mesmo que tardiamente, os efeitos da crise no continente europeu, a exemplo de altas taxas de desemprego, falta de crédito no mercado e fechamento de empresas. De outro, alguns grupos oriundos de diversos segmentos da sociedade civil passaram a questionar tanto as manobras políticas para contornar a crise, como sendo as os principais responsáveis pelo início da mesma.

Um dos movimentos mais representativos dessa “crítica ao sistema” foi a Ocupação de Wall Street (Occupy Wall Street) na cidade de Nova Iorque, onde vários grupos sociais se alinharam contra as instituições financeiras responsáveis pela crise. Podemos entender que demonstrações de ação da sociedade civil são reflexos de um período no qual vivemos em “um tipo de estado de emergência econômica” onde “as especulações ‘irreais’ são o real” (ZIZEK, 2011, p. 7). Essa compreensão nos leva a questionar o quão necessária é a reflexão sobre a relação entre a sociedade e o mercado ou, entre agente e estrutura torna-se central no debate contemporâneo acerca das organizações.

Um aprofundamento desse debate nos leva ao entendimento de que ainda faz-se necessária a construção de um referencial ético e ideológico que alicerce os avanços que já foram obtidos com os Estudos Críticos em Administração (ECA). O conhecimento produzido, portanto, deve estar atento às funções políticas, econômicas e ideológicas que permeiam a sua produção e disseminação e ao caráter situacional/local de sua construção (FARIA, 2005). Um caminho possível para a concretização desses objetivos por meio dos ECA implica na elaboração de análises internas e externas dos contextos teóricos e empíricos que compõem o debate.

O imperativo de abordagens críticas no campo dos estudos organizacionais remonta à necessidade de buscarmos alternativas epistemológicas, teóricas e metodológicas para a construção de um conhecimento sobre as organizações que fosse além da ortodoxia funcionalista presente nos estudos organizacionais como indicado por Misoczky e Andrade (2005). O surgimento dos Critical Management Studies deu-se nos Estados Unidos e na Inglaterra, países que durante décadas serviram de exemplo irrefutável para propagandear os avanços do capitalismo. Ainda de acordo com as autoras, devemos assumir uma posição atenta frente ao fato de que o capitalismo é uma construção histórica e humana passível de transformação.

O exercício da crítica deve considerar a apropriação cultural de significados em disputa em um contexto de transformação político-social. Consideramos necessária a crítica da crítica presente nos estudos organizacionais, buscamos analisar a “Ocupação de Wall Street” como um exemplo de mudança que emana do interior do próprio sistema e, dessa forma, catalisa um período de possibilidades para o [re]surgimento do engajamento político.

A partir dessa exposição, elaboramos uma questão norteadora do presente estudo: como o engajamento político de agentes sociais ocorre no interior do movimento da Ocupação de Wall Street?

2. [Re]visitando a crítica da crítica nos Estudos Organizacionais

O início dos ECA se deu na Inglaterra durante a década de 1990 e sua principal referência

é a obra de Alvesson e Willmott (1992), o livro “Critical Management Studies”. Uma questão

 

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que parece central ao desenvolvimento dessa corrente e “o reconhecimento de que existem aspectos inadequados nas práticas e nas teorias organizacionais” (MISOCZKY; ANDRADE, 2005, p. 195). Esse movimento se expandiu num contexto anglo-saxão e contribui com o debate acerca da “importância política da área de administração tendo em vista a extraordinária importância das grandes corporações no mundo global” e do “reconhecimento de agentes e instituições que de uma forma ou de outra ‘governam’ a ciência”, conforme alertado por Faria (2005, p. 230-231).

Alguns pontos centrais podem orientar a discussão sobre os estudos críticos na área de Administração. O primeiro a destacar diz respeito à crítica à dominação dos indivíduos nos Estados capitalistas. A dominação é um tema central no debate da teoria crítica, surgindo em Marx a preocupação no sentido de orientar a ação social para a emancipação, ou seja, a busca da superação da dominação capitalista, substituindo a aparência pela realização da liberdade e igualdade (NOBRE, 2004).

O segundo aspecto que elencamos é a crítica ao Positivismo como uma estratégia de manutenção e reprodução do status quo mesmo que seu enfraquecimento já seja visível nas ciências sociais (MISOCZKY; ANDRADE, 2005). Nesse sentido, entendemos que o comportamento crítico deve estar atrelado ao conhecimento produzido e à realidade social na qual está inscrito. Por fim, a defesa da atividade reflexiva de pesquisa pode ser entendida como solução da reorganização racional da sociedade (FARIA, 2005). Sobre esse aspecto, a crítica à função ideológica da ciência e da técnica nas sociedades modernas pode ser superada por meio de uma racionalidade comunicativa conforme a orientação de Habermas. Dessa forma, o redirecionamento da razão instrumental para a emancipação da humanidade através da comunicação pode orientar as ações dos sujeitos com base num “sentido comunitário”.

A base teórica dessa discussão é oriunda de um contexto eurocêntrico, dos países centrais, industriais, que reflete uma realidade social distinta daquela encontrada “em países emergentes depende da compreensão das condições institucionais, organizacionais e culturais locais” (WOOD JR; CALDAS, 1998, p. 9). Nesse sentido, Misoczky e Andrade (2005) apontam que aceitar acriticamente as tendências disseminadas por estes países implica na falta de compromisso com a condição emancipatória, central em um projeto político.

A perspectiva dos ECA indica o fato de que o capitalismo pode e deve ser concebido como uma forma sócio-histórica de ordem econômica e sua lógica da troca não estar sendo como uma fatalidade. Tal lógica determina o comportamento dos agentes no mercado, subordinando os demais valores à prática mercantil. Nesse sentido, torna-se possível buscar caminhos analíticos para o desenvolvimento da compreensão dos mecanismos de estruturação do mercado, como a sociedade se organiza a partir dele e como são distribuídos o poder político e a riqueza (VIEIRA; CALDAS, 2006).

Sobre esse aspecto, Marx destacou que o mercado seria um mecanismo de aprofundamento de desigualdades por meio da sua lógica de troca e da promessa de liberdade e igualdade para todos. Por hora, uma questão se apresenta: como liberdade e igualdade podem existir na arena do mercado sem a abolição do capital? Nesse sentido a busca pela emancipação dos sujeitos esbarra em obstáculos concretos, tais como as ilusões reais produzidas pelo sistema e a repressão dos movimentos emancipatórios que visam estabelecer novas formas de poder político, econômico e social do capital de acordo com Davel e Chennoufi (2001). Retomando o paralelo que propomos no início do artigo, o exercício da ciência passa a ser considerado um dos momentos da sociedade produtora de mercadorias e, se isso não for reconhecido, estaremos diante de uma concepção parcial de ciência.

No contexto da academia brasileira de Administração, a distinção entre cientista e cidadão foi pensada como uma impossibilidade lógica como refletido na obra de Guerreiro Ramos, Maurício Tragtenberg e Fernando Prestes Motta, que trabalharam de forma critica, sempre pensando em como a sociedade brasileira poderia ser e não é (FLORES, 2007). Denunciaram

 

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como o referencial positivista serve para a criação de “harmonias administrativas” e para o exercício da dominação em inúmeros espaços da vida. Esse arcabouço refletiu o desenvolvimento de estudos que buscaram apontar caminhos possíveis para estabelecer vínculos entre a academia e as práticas emancipatórias na sociedade. Para tanto, autores oriundos de diversos campos teóricos foram incorporados a essa tradição, a exemplo de Paulo Freire, Celso Furtado e Milton Santos (MISOCZKY; FLORES, 2009; MISOCZKY; MORAES; FLORES, 2009; GOULART; VIEIRA; COSTA; KNOPP, 2010).

Sobre a emancipação, os Estudos Críticos em Administração por muito tempo não despertaram o comprometimento com um projeto político, no qual a crítica é componente essencial no contexto da formação social. Dessa forma, a perspectiva crítica e as reflexões oriundas de seu desdobramento dizem respeito ao exame do mercado e suas relações com a sociedade à luz da emancipação, uma vez que estão orientadas pela busca da realização concreta da liberdade e da igualdade.

Nesse contexto, um campo empírico a ser considerado a fim de compreender a emancipação poderia ser os movimentos sociais e emancipatórios que marcaram o final do ano de 2011. Com o suporte de redes sociais on-line, jovens lutaram por democracia em países do oriente médio (“Primavera Árabe”). No ocidente capitalista, foi a vez de grupos sociais diversos se unirem e protestarem contra instituições financeiras e o governo norte-americano, ocupando o distrito financeiro da cidade de Nova Iorque. A “Ocupação de Wall Street” marcou o início de uma forte crítica ao modelo neoliberal e à especulação financeira. A análise de eventos como a Ocupação possibilita a “compreensão de movimentos que se orientam para a superação dessa lógica e das relações sociais por ela constituídas” (MISOCZKY; FLORES; SILVA, 2008, p. 2).

Para a compreensão de como este movimento pode ser um exemplo de mudança que emana do interior do próprio sistema e ao mesmo tempo uma possibilidade de [re]surgimento do engajamento político, buscamos suporte na Political Discourse Theory (PDT), conforme indicado no estudo de Böhm, Dellagnelo e Mendonca (2000). Para tanto, focamos no conceito de populismo de Laclau (2005), elucidando as formações discursivas presentes nestas práticas para entender como se deu este engajamento. A próxima sessão discorre sobre esse tema a fim de apresentar os conceitos que balizaram a construção do nosso procedimento analítico: arqueologia foucaultiana.

3. O conceito de populismo e a compreensão de fenômenos sociais

Dois princípios básicos para vida humana, solidariedade e autonomia (inscrições da Ocupação de Wall Street), mobilizaram centenas de pessoas a juntar suas lutas particulares para reivindicar o que consideram seus direitos, ocasionando um choque entre agentes sociais, identidades e interesses constituídos. No âmbito da PDT, Laclau e Mouffe (1985) teorizam que os antagonismos sociais são causados pela incapacidade de os agentes atingirem suas identidades (seus interesses) e porque identificam o(s) responsável(eis) por este fracasso. Assim, quando em uma formação discursiva surge uma identidade negativada e esta é compartilhada pelos interpelados por este discurso, Laclau e Mouffe assinalam que aí acontece uma lógica da equivalência. Esta, então, é configurada como uma identidade externa e uma ameaça discursiva para tal formação, tendo em vista que ela dissolve momentaneamente as identidades particulares em torno de um objetivo comum: uma oposição ao que os ameaça (HOWARTH, 2000).

Essa estrutura discursiva é considerada significativa por Laclau e Mouffe, por representar uma construção social e política que promove "posições de sujeito" com as quais os agentes sociais podem se identificar. Os autores distinguem entre posições de sujeito (posicionamento de assuntos dentro de uma estrutura discursiva) e subjetividade política (reflete na forma de

 

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atuação dos agentes) (HOWARTH, 2000). Sendo todas as práticas sociais discursivas, a identidade é, assim, construída na tensão entre equivalência e diferença, e por meio de práticas ideológicas (LACLAU, 2005).

O populismo é entendido como uma lógica política e sua análise é uma saída para compreensão da constituição ontológica da política. O populismo é tido pelo autor como uma forma de constituir a própria unidade do grupo, e não como uma ideologia (a expressão de um grupo existente), devido a sua concepção de “povo” não como uma expressão ideológica, mas como o resultado de relação entre agentes políticos (LACLAU, 2005).

Diferente, pois, da lógica social que existe mediante um sistema de regras, a lógica política está relacionada com a instituição do social, ou seja, procede de demandas sujeitas a processos de mudanças que surge mediante a articulação variável entre cadeias de equivalências e diferenças. O populismo exige uma divisão social dicotômica, onde de um lado, uma parte reivindica ser o todo, e de outro, existe um poder que não responde. O jogo político não tem fim pela própria dinâmica do movimento: equivalências se dissolvem, criam-se novas ligações para outras demandas e o populismo fica relacionado diretamente ao destino das fronteiras políticas. Assim, as redes de equivalência tendem a enfraquecer diante de um argumento social mais amplo, mas não podem ser domesticadas, a considerar que elas continuam a operar mesmo dentro da nova equivalência.

Laclau (2005) diferencia reivindicações democráticas de demandas populistas: as primeiras são demandas isoladas, onde ainda não houve uma articulação. Quando há articulação forma-se a rede de equivalência, os pedidos transformam-se em reivindicações constituindo uma ampla subjetividade social, emergindo a demanda populista. Dessa forma, quando buscamos o entendimento da cadeia de equivalência não podemos nos prender a um conceito ou elemento particular, pois não existirá um abstrato comum subjacente a todas as reivindicações sociais – o que existe é uma operação performativa que constrói e dá sentido à cadeia. A possibilidade do instinto de nivelamento se dá a partir dos significantes vazios que se tornam uma universalidade, uma vez que transcendem conteúdos particulares (LACLAU, 2005).

Por meio do processo de nomeação, significados são fundamentos ao indicar que o nome traz uma unidade para a formação discursiva, pois como significante puro é um potencial cristalizado de identidades. Nesse sentido, o significante não é apenas contingente, mas vazio também, o que o autor entende que seja um lugar dentro do sistema de significação que é irrepresentável. Assim, sendo um vazio dentro da significação, é possível [re]significá-lo, o que é feito por meio dos mecanismos retóricos, constituintes da autonomia dos sistemas sociais. A segunda importância que o autor ressalta refere-se à presença do afeto: quando uma demanda torna-se central (ponto nodal) esta passa a ser algo superior, um destino do qual não se pode escapar – o nome separa-se do conceito, o significante do significado – sem esta separação não haveria populismo.

Desse modo, para a formação do populismo existem dois pré-requisitos fundamentais: a formação de uma fronteira que separa o povo do poder, e uma articulação formadora de demanda de equivalência capaz de fazer um “povo” possível, que deixa um sentimento anterior vago de solidariedade para assumir um estado de significação, pois a construção de uma identidade popular é mais forte que a suposta soma de equivalências das demandas isoladas. A percepão desses novos horizontes políticos acontece no momento da consciência política, ou seja, requer que tenha acontecido a constatação de uma posição de mundo relativa e, em oposição a esta surge uma resistência, constituindo um movimento contínuo de disputa por poder (ZIZEK, 2008). O argumento populista depende diretamente dos papéis que desempenham a razão e a retórica, mas também da importância da imaginação e construção de projeção de novos horizontes políticos (NORVAL (2007). Assim, o engajamento político se liga diretamente a questão da possibilidade de emancipação.

 

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Considerando a condição de formação do argumento populista, para análise da possibilidade do [re]surgimento do engajamento na Ocupação da Wall Street, na próxima seção buscaremos o conhecimento da gênese do movimento, um embasamento necessário para a análise.

4. Descrevendo a Ocupação de Wall Street No dia 17 de setembro de 2011, a cidade de Nova Iorque passou a conviver com um tipo

diferente de habitante. Dezenas de pessoas passaram a ocupar a região de Wall Street, centro financeiro da ilha de Manhattan. São grupos de diferentes origens e anseios, mas que compartilham a mesma crítica:

“Occupy Wall Street (#ows) is a people-powered movement that began on September 17, 2011 in Liberty Square in Manhattan’s Financial District, and has spread to over 100 cities in the United States and actions in over 1,500 cities globally. #ows is fighting back against the corrosive power of major banks and multinational corporations over the democratic process, and the role of Wall Street in creating an economic collapse that has caused the greatest recession in generations. The movement is inspired by popular uprisings in Egypt and Tunisia, and aims to fight back against the richest 1% of people that are writing the rules of an unfair global economy that is foreclosing on our future”i.

O movimento ganhou proporção internacional e ainda é destaque nos meios de comunicação de massa. Suas ações conseguiram êxito e reconhecimento de intelectuais (como Slavoj Žižek e Naomi Klein) e artistas, além da simpatia e participação de pessoas oriundas de diversas lutas sociais. O movimento compartilha de dois princípios básicos: a solidariedade e a autonomia. Parte dos ocupantes são pessoas que perderam casas e reservas financeiras pessoais durante a crise econômica. Por mais aleatória que possa parecer, a ocupação possui declarações votadas em assembleia que garantem direitos e expressam obrigações para os ocupantes, visando, sobretudo, a manutenção da segurança das pessoas ali instaladas.

Os princípios que sustentam o movimento são construídos de forma coletiva e se mostram abertos a mudanças ao longo do processo como expresso na mensagem “What follows is a living document that will be revised through democratic process of General Assembly”ii. Desse modo, as ações coletivas são responsáveis pela organização da manifestação e ressaltam a influência que cada participante possui na tomada de decisão do grupo. O mote inicial do protesto estava relacionado com o fato de que 99% da população dos Estados Unidos foram mais atingidos pela crise do que o 1%, grupo de algum modo responsável por isso inclusive reforça o sentimento de injustiça em relação à ação do governo americano e também contra a crença das instituições financeiras frente à crise.

Atualmente, os manifestantes ocupam a Liberty Square e continuam influenciando manifestações em várias cidades do mundo. Na página do movimento (http://occupywallst.org/), podemos acompanhar os avanços da manifestação e participar do fórum de discussão sobre os encaminhamentos do protesto. A Ocupação fez o mundo ouvir não apenas os 99% dos excluídos do processo “democrático” norte-americano, mas ela possibilitou que esses mesmos 99% revelassem para o restante do mundo os erros e desacertos daquele país.

Esse caso ilustra a forma como um movimento social se organiza de dentro para fora. Nesse sentido, vemos a importância de considerar a práxis: a possibilidade de emancipação provém de contextos históricos, políticos e sociais específicos (MISOCZKY; ANDRADE, 2005). A ação dos participantes orientou não apenas o recorte do corpus, como também o método analítico adotado. Assim, os discursos selecionados foram provenientes da prática de agentes políticos, desvendando a expressão de sua negatividade. A elucidação do campo

 

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discursivo buscou a constituição interna dos discursos oriundos dessas vozes, as funções e regras a que estão sujeitos, inspirados no projeto arqueológico de Michel Foucault.

5. Procedimentos metodológicos Nosso entendimento para realização desta análise é a de que a linguagem é o meio

possível de construção de conhecimento, e que os sujeitos são agentes da construção histórica, social e cultural de seu meio (FOUCAULT, 2007).

O corpus desta pesquisa foi formado pelos discursos oriundos dos cartazes de protesto de agentes do movimento da Ocupação de Wall Street postadas no site “Street Art Utopia” (2011) e das informações oficiais (princípios de solidariedade e declaração de autonomia) disponíveis no site “Occupy All Street: the revolution continues worldwide” (2011). Salientamos que durante a ocupação, a prefeitura da cidade de Nova Iorque proibiu a utilização de equipamentos de som, portanto, as mensagens escritas nas placas ganharam mais representatividade.

Para a análise dos recortes que compõem o corpus lingüístico, optamos por utilizar o projeto arqueológico foucaultiano como um guia, ou seja, executamos um tipo específico de análise que nos levou a trabalhar o interior do campo discursivo no sentido de ordená-lo, definir suas unidades e descrever suas relações, em lugar de buscar interpretar os documentos em si mesmos. Essa opção deveu-se a potencialidade de decifração propiciada pelo método, que deixa o campo discursivo se revelar, fortalecendo nosso compromisso de dar autonomia às vozes dos excluídos, orientados apenas pela busca da compreensão de seu engajamento político.

A primeira etapa da análise constituiu-se de identificar as unidades discursivas: sua composição e as funções a que estão sujeitos os elementos expressos no enunciado. Os documentos coletados nos permitiram classificá-los em quatro descrições enunciativas: Demarcação de semelhanças, Demarcação de diferenças, Princípios do movimento e Pleito/poder. As funções (desempenho dos enunciados) foram localizadas tendo por base as relações com o contexto (histórico) e com o domínio a ele associados (Teoria do Discurso Político), com vistas ao entendimento de nossa questão específica. As mesmas adquirem sentido porque são regidas por regras partilhadas que regulam e governam os atos discursivos. A triangulação dos três aspectos (descrições enunciativas, funções e regras) revelou as formações discursivas presentes neste cenário, permitindo a compreensão deste campo discursivo.

6. Descrição dos Resultados O enunciado para Foucault (2007) é um conjunto de signos responsável por trazer o

entendimento, o saber, quanto à construção discursiva de determinado campo reflexivo da complexidade nas relações sociais. Uma formação discursiva, por sua vez, possui certo número de enunciados, conceitos e escolhas temáticas, organizando o discurso em certa ordem. No Quadro 1, apresentamos as descrições enunciativas, a unidade enunciativa deste estudo, uma categorização efetuada a partir dos documentos coletados.

Quadro 1 – Descrições enunciativas

Descrição enunciativa Composição da descrição enunciativa

Demarcação de semelhanças

Enunciados que demarcam /incitam os possíveis pontos de equivalência entre as demandas discursivas.

 

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Demarcação diferenças Enunciados que demarcam/enaltecem as diferenças promovendo as dicotomias necessárias ao estabelecimento de identidades e/ou identificando o opositor comum.

Princípios do movimento

Enunciados que estabelecem os princípios norteadores e fornecem o lastro ideológico do movimento.

Pleito/ poder Enunciados que verbalizam pleitos e constituem a busca pelo poder.

Fonte: Elaboração própria (2012).

Com intuito de revelar a função da prática enunciativa no contexto, buscamos apoio

nos domínio de saberes a que está associado: conhecimentos da teoria política do discurso e o contexto econômico/social histórico em que estão inseridos esses agentes. No Quadro 2, apresentamos as doze funções das práticas enunciativas elucidadas e suas respectivas descrições.

Quadro 2 - Funções das práticas enunciativas Funções Descrição

Estabelecer articulação política Inscrever-se em práticas discursivas por afinidade de interesses (lógica da equivalência).

Estabelecer dicotomias Exaltar os elementos contrários nas posições discursivas estabelecidas por semelhanças, por diferenças, ou na definição de uma forma de existência.

Integrar força de trabalho Juntar esforços com vistas a um fim comum, na construção de uma forma de existência.

Promover posição de sujeito a ser ocupada

Instituir em posições discursivas estabelecidas por semelhança possíveis representações para agência política.

Estabelecer compromisso mútuo de equivalência

Argumentar as possibilidades do modo de existência por meio de posições discursiva estabelecidas por semelhança, por equivalência e pelo estabelecimento dos princípios do movimento.

Persuadir/argumentar Argumentar possibilidades de sucesso de pleitos por meio das posições discursivas efetuadas por semelhança e argumentar/estabelecer os pleitos cúmplices por meio das posições discursivas efetuadas pela diferença.

Demonstrar consciência política Externalizar uma posição crítica diante da situação embasada em possibilidades de sucesso, por meio das posições discursivas efetuadas por semelhança.

Convocar participação Convidar à inscrição utilizando de uma forma imperativa com fins a promover o fortalecimento do argumento.

Reivindicar igualdade Reclamar o direito democrático da igualdade (fantasia cúmplice) por meio das posições discursivas efetuadas pela diferença.

Assegurar liberdade Tornar como certo o direito democrático da liberdade (fantasia cúmplice) estabelecido por meio das posições discursivas efetuadas pela diferença, pelos princípios do movimento e por práticas constituintes do pleito democrático.

Assegurar humanidade Tornar como certo o direito universal da humanidade (fantasia cúmplice) estabelecida por meio dos princípios do movimento e constituinte do pleito democrático.

Demonstrar resistência Manifestar disposição de luta por meio das posições discursivas efetuadas pela semelhança e dos princípios de pleito/poder.

Fonte: Elaboração própria (2012). As funções das práticas discursivas contribuíram para a compreensão de como os

discursos presentes nesse campo são projetados nas ações dos agentes sociais no campo de disputa, que passam a ser orientadas por tais funções. No interior desse campo discursivo, algumas regras operam a fim de garantir a sustentação política do movimento. A próxima sessão, apresenta as regras que emergiram em nossa análise.

6.1 Regras do campo discursivo

 

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As regras constituem uma prática social revelada na condição de existência e

permanência dos elementos em cada repartição discursiva (FOUCAULT, 2007). Neste estudo, chegamos a cinco regras, descritas no Quadro 3.

Quadro 3 – Regras discursivas

Regras Descrição Demarcação de ethos democrático

Estabelecimento de uma forma de existência, uma moral: caracterização de limites, princípios e modos de ação possíveis, fundamentados pela nomeação dos elementos.

Desenho de Fronteiras Marcação da identidade negativada (pela diferença), estabelecida por meio das posições de semelhança, diferença e princípios do movimento; ainda por insinuações de características do opositor por meio das posições de semelhança.

Representações de potencialidade

Garantias de possibilidades de sucesso (instituição de uma razão) por meio das posições discursivas estabelecidas por semelhança (na demonstração dos: princípios de equivalência, de resistência, argumentações e consciência política), e ainda na demonstração de resistência demarcadas no pleito democrático.

Incitamento Práticas de fortalecimento de argumento na convocação e na equivalência em falas instituídas por meio da semelhança, e ainda no argumentar por provocações em falas instituídas pela diferença.

Operação performativa Operação efetuada por fantasias capturadas de assuntos cúmplices no grupo dissidente: princípios universais de liberdade e humanidade constituem pleitos e princípios do movimento, sendo a liberdade reivindicada, argumentada e garantida por meio das posições discursivas de diferença.

Fonte: Elaboração própria (2012). 6.1 1.Demarcação de um ethos democrático Esta regra foi apontada a partir da coexistência entre as funções: Estabelecer

articulação política, Integrar forças de trabalho, Promover posição de sujeito a ser ocupada, Estabelecer compromisso mútuo de equivalência e Estabelecer dicotomias; e oriundas das descrições enunciativas Demarcações de semelhança, Demarcações de diferenças e Princípios do movimento. A regra visa estabelecer uma moral (FOUCAULT, 1995), ou seja, estabelecer princípios e regras para as práticas discursivas possíveis, no sentido de nomear e, desse modo, fundamentar, fazer existir o movimento (LACLAU, 2005). O ato de nomear consolida uma unidade que se expõe por meio de um significante puro, uma potencialidade para embasar a construção de posições de sujeito e gerar as identidades negativadas.

Optamos por trazer dois exemplos oriundos da Demarcação de Semelhanças, para elucidar a regra. O primeiro provém de um discurso dos Princípios de Solidariedade: Exercer a responsabilidade pessoal e coletiva, que possui a função de estabelecer articulações políticas. O segundo surge na Declaração de Autonomia: Qualquer organização é bem-vinda para nos apoiar com conhecimento e fazendo isso questionará seus próprios quadros institucionais de trabalho e de hierarquia e integrará os nossos princípios em seus modos de ação, cuja função se estabeleceu como promover posição de sujeito a ser ocupada.

6.1.2 Desenho de fronteiras Esta regra apresenta uma única função nos enunciados: Estabelecer dicotomia. Provém

de Demarcação de semelhanças, Demarcação de diferenças e Princípios do movimento. Sendo seu objetivo o de estabelecer os antagonismos necessários à construção da nova identidade

 

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estrangeira, negativada, produzida por deslocamento de significantes. Os significados construídos aqui são oriundos de mecanismos retóricos (LACLAU, 2005).

Para exemplificar esta regra trazemos mais dois exemplos: a inscrição de uma placa classificada em Demarcação de Semelhanças: Nós podemos ter riqueza concentrada nas mãos de poucos - ou - podemos ter democracia, mas não podemos ter ambos; e também um dos Princípios do movimento oriundo da declaração de autonomia: A Ocupação de Wall Street é um movimento popular. É não partidário, sem líder, pelo povo e para o povo. Não é um negócio, um partido político, uma campanha publicitária ou uma marca.

6.1.3 Representações de potencialidade A regra revelou-se a partir de Demarcações de semelhanças, demarcações de

diferenças e pleito/poder. Suas funções foram: Demonstrar resistência, Estabelecer compromisso mútuo de equivalência, persuadir/argumentar e demonstrar consciência política, com vistas a garantir potencialidade de sucesso às argumentações, reforçando as razões que constituem internamente um ethos democrático (LACLAU, 2005).

Em Demarcações de semelhanças, discursos de declaração de autonomia podem exemplificar a regra: Nós somos a Ocupação de Wall Street , cuja função foi Estabelecer compromisso mútuo de equivalência, Outro exemplo origina-se em Pleito/poder, numa placa do protesto: É só o começo, com a função de demonstrar resistência política.

6.1.4 Incitamento Esta regra provém especificamente de Demarcação de semelhanças e tem por funções:

Convocar participação, Persuadir/argumentar e Estabelecer compromissos mútuos de equivalência. Representam práticas provocativas com vistas a fortalecer os argumentos em prol do movimento. Na Demarcação de semelhanças um exemplo seria a placa Una-se. Você não tem nada a perder a não ser a sua chance, vinculada à função convocar participação e persuadir/argumentar, respectivamente.

6.1.5. Operação performativa Esta regra aflorou da Demarcação de diferenças, Princípios do movimento e de

Pleito/poder, tendo como funções: Reivindicar igualdade, assegurar liberdade, persuadir/argumentar e assegurar humanidade. A regra constitui-se uma operação performativa com vistas à possibilidade de igualdade que emergiu na ruptura da ordem antes estabelecida. Os espaços abertos pela ruptura são preenchidos pelas construções em torno dos pontos nodais que giram em torno dos conceitos vazios de liberdade, humanidade, e são sustentados pela coletividade na assumpção de responsabilidades uns com os outros, com o projeto de ethos democrático, ou seja, com a luta em si (NORVAL, 2007; LACLAU, 2005).

Os princípios do movimento, por exemplo, assegura liberdade quando em sua declaração de autonomia afirma que a Ocupação da Wall Street: Não está à venda, ou ainda assegura humanidade quando coloca: pessoas à frente dos lucros (placa).

6. 2 Formações discursivas O conjunto dos enunciados e os conceitos e escolhas temáticas, que permitem a ordem

em que o discurso se estabelece, é para Foucault (2007) uma formação discursiva. Esses conjuntos foram revelados na interseção das linhas percorridas entre os três níveis (descrições

 

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enunciativas, funções e regras) desveladas neste campo discursivo. A seguir, trataremos das duas formações a que chegamos: o princípio emancipatório e a convocação ao engajamento.

6.2.1 Princípio emancipatório Esta formação foi desvelada pelas regras demarcação do ethos democrático e desenho

de fronteiras, na interseção da função estabelecer dicotomias, promovida pelos princípios do movimento (Figura 1).

A possibilidade deste princípio surge da demarcação de uma identidade pela diferença: o ethos democrático cria condições e fortalece uma posição de sujeito passível de ocupação, enquanto o desenho de fronteiras delineia as dicotomias necessárias para que esta forma identitária se constitua como um princípio emancipatório, pois institui uma separação do povo com o poder, organizando demandas capazes de fazer surgir um povo possível, um novo estado de significação, uma identidade popular embasada numa razão constituinte do movimento populista (LACLAU, 2005) e uma razão interna ao discurso (FOUCAULT, 1971).

Figura 1 - Princípio Emancipatório

Fonte: Elaboração própria (2012). 6.2.2 Convocação ao engajamento O cruzamento das cinco regras, por sua vez, constituiu a formação de um tipo de

retórica que indica a convocação ao engajamento: Enquanto a Demarcação de ethos democrático + incitamento, Demarcação de ethos democrático + representação de potencialidade, representação de potencialidade + incitamento, são convergentes na busca de estabelecer compromissos mútuos de equivalência, a Representação de potencialidade + incitamento, Incitamento + operação performativa, operação performativa +Representação de potencialidades, reforçam a inscrição por meio da argumentação (Figura 2).

 

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Figura 2 - Convocação ao Engajamento

Fonte: Elaboração própria (2012).

A representação dessas duas condições: estabelecimento de compromissos de equivalência e argumentação em reforço da inscrição representa a construção retórica capaz de promover o engajamento de agentes em causas políticas motivados pelo desejo de liberdade e igualdade.

7. Considerações Finais Como forma de destacar aspectos conclusivos emergentes deste estudo, voltamos ao

objetivo inicial com uma questão norteadora para nossas considerações: como o engajamento político de agentes sociais ocorre no interior do movimento da Ocupação de Wall Street?

Nesse sentido, nossas formações discursivas apontaram que a possibilidade de engajamento se deu por meio de uma razão (que delineou um ethos democrático) e da utilização de uma retórica (desejo de liberdade e igualdade) que construíram o argumento democrático, possibilitando a construção de novos horizontes possíveis a fim de compreendermos a ação de agentes sociais. A análise dos princípios emancipatórios e da convocação ao engajemento indica que tais formações discursivas estão ancoradas no reconhecimento da força política desse agentes.

Assim, por meio do contexto de transformação político-social da Ocupação de Wall Street procuramos esboçar um campo de interseção entre os ECA e a PDT, visando gerar uma contribuição teórica para o campo dos estudos organizacionais. Nesse sentido, tornou-se possível problematizar o fato de que as ações organizacionais são constituintes e constituídas do e pelo meio social, e ainda o discernimento dos diversos significados que se instauram nessas formações discursivas quando se opta pela investigação das práticas sob um ponto de vista da alteridade dos dominados (menos debatido e de menor representatividade das correntes teóricas tradicionais). Nesse âmbito, o entendimento da formação de equivalências e da constituição de identidades pode contribuir para ampliar a compreensão sobre o fenômeno das redes e de grupos auto-geridos revelando o aspecto político dessas ações.

A abordagem realística da prática a partir da história do presente, do cotidiano, dos excluídos constitui-se, como diz Foucault, o lastro arqueológico de conhecimento deste sujeito, uma conscientização fundamental para formação de sujeitos transformadores com

 

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representação política e ética. Por meio da análise arqueológica foucaultiana, conseguimos elencar as descrições enunciativas, as funções desses enunciados e as regras da prática social que derivam desses discursos, sendo, nesse sentido, a adoção dos ECA foi fundamental para ampliar o olhar emancipatório desta abordagem, permitindo que visualizássemos o fenômeno da Ocupação na direção do que seria uma luta por uma sociedade mais justa e, por decorrência, mais humana na formulação das regras do jogo de práticas decisórias nos âmbitos de interação organização e sociedade.

Uma limitação desse estudo reside na composição do corpus selecionado. No entanto, os achados da pesquisa podem contribuir com o desenvolvimento de futuros estudos sobre a Ocupação de Wall Street sob a perspectiva de outras tradições de pesquisa e/ou estratégias metodológicas. Além desse aspecto, as possíveis agendas de pesquisa que relacionam os ECA e a PDT constituem um caminho interdisciplinar para os Estudos Organizacionais.

Desse modo, o debate sobre o engajamento buscou na interdisciplinaridade a base para fundamentarmos nossa argumentação em torno da inclusão do engajamento político como tópico de debate nos Estudos Organizacionais. Sobre esse aspecto, encaramos que a abertura dos estudos organizacionais para debates contemporâneos demanda uma abertura disciplinar a fim de se evitar uma reprodução de conteúdos temáticos que não contemplem a complexidade das relações sociais contemporâneas.

8. Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq e à FACEPE pelo apoio concedido na realização deste estudo. Referências ALVESSON, M.; WILLMOTT, H. (edt) Critical Management Studies. Londres, Sage, 1992. BÖHM, S.; DELLAGNELO, E. H. L.; MENDONCA, P. Political discourse theory and empirical studies of resistance movements: a critical analysis from an organizational perspective. The Fifth Organization Studies Workshop, 2010, Margaux, France. Annals of The Fifth Organization Studies Workshop. London: Sage Publicatins, 2010. p. 01-20. DAVEL, E.; CHENNOUFI, M. Les études critiques en management: un aperçu de la littérature récente. The Annual Conference of Administrative Sciences Association of Canada Proceedings (Organization Theory Division). London: ASAC, 2001. FARIA, A. Réplica: Ampliando questionamentos sobre a crítica em administração. RAC, v. 9, n. 1, jan/mar, 2005. FOUCAULT, M. A Arqueologia do Saber. Tradução: Luiz F. B. Neves. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007 _____________ Sobre a genealogia da ética. Uma revisão do trabalho. In: RABINOW, P.; DREYFUS, H. Michel Foucault. Uma trajetória filosófica: para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995. _____________. L' Ordre du Discours. Leçon Inaugurale du Collège de France, 2 décembre 1970. Paris: Gallimard, 1971. FLORES, R. K. Acerto de contas com a Administração: uma reflexão a partir de Motta, Tragtenberg e Guerreiro Ramos. Cadernos EBAPE.BR (FGV), v. 5, n. 4, 2007. GLYNOS, J., HOWARTH, D. Logics of Critical Explanation. Abingdon: Routledge, 2007 GOTTWEIS, H. Rhetoric in Policy Making: Between Logos, Ethos, and Pathos. In. FICHER, F. Handbook of Public Policy Analysis Theory, Politics, and Methods. London: Taylor and Francis, 2006

 

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