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LITERATURA BRASILEIRA Textos literários em meio eletrônico Os Escravos, de Castro Alves Edição de base: Jornal de Poesia Índice O século Ao romper d' alva A visão dos mortos A canção do africano Mater dolorosa Confidência O sol e o povo Tragédia no lar O sibarita romano A criança A cruz da estrada Bandido negro América Remorso

Os Escravos, De Castro Alves

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  • LITERATURA BRASILEIRATextos literrios em meio eletrnico

    Os Escravos, de Castro Alves

    Edio de base:Jornal de Poesia

    ndice O sculo Ao romper d'alva A viso dos mortos A cano do africano Mater dolorosa Confidncia O sol e o povo Tragdia no lar O sibarita romano A criana A cruz da estrada Bandido negro Amrica Remorso

  • O canto de Bug Jargal A rf na sepultura Anttese Cano do violeiro Splica O vidente A me do cativo Manuela Fbula Estrofes do solitrio O navio negreiro Lcia Prometeu Vozes d'frica Saudao a Palmares Jesutas e frades Frades A bainha do punhal O derradeiro amor de Byron Adeus, meu canto

  • O sculo

    Soldados, do, alto daquelas pirmidesquarenta sculos vos contemplam!

    NAPOLEO

    O sculo grande e forte.

    V. HUGO

    Da mortalha de seus bravosFez bandeira a tirania

  • Oh! armas talvez o povoDe seus ossos faa um dia

    J. BONIFCIO

    O sclo grande... No espaoH um drama de treva e luz.Como o Cristo a liberdadeSangra no poste da Cruz.Um corvo escuro, anegrado,Obumbra o manto azulado,Das asas d'guia dos cus...Arquejam peitos e frontes...Nos lbios dos horizontesH um riso de luz... Deus. s vezes quebra o silncioRonco estrdulo, feroz.Ser o rugir das matas,Ou da plebe a imensa voz?...Treme a terra hirta e sombria. . .So as vascas da agoniaDa liberdade no cho?...Ou do povo o brao ousadoQue, sob montes calcado,Abala-os como um Tito?! ... Ante esse escuro problemaH muito irnico rir.Pra ns o vento da esp'ranaTraz o plen do porvir.E enquanto o cepticismoMergulha os olhos no abismo,Que a seus ps raivando tem,Rasga o moo os nevoeiros,Pra dos morros altaneirosVer o sol que irrompe alm. Toda noite tem auroras,Raios toda a escurido.Moos, creiamos, no tardaA aurora da redeno.

  • Gemer esperar um canto...Chorar aguardar que o prantoFaa-se estrela nos cus.O mundo o nauta nas vagas...Ter do oceano as plagasSe existem justia e Deus. No entanto inda h muita noiteNo mapa da criao.Sangra o abutre tiranoMuito cadver nao.Desce a Polnia esvada,Catalptica, adormida, tumba do Sobieski;Inda em sonhos busca a espada ...Os reis passam sem ver nada ...E o Czar olha e sorri... Roma inda tem sobre o peitoO pesadelo dos reis!A Grcia espera chorandoCanaris... Byron talvez!Napoleo amordaaA boca da populaaE olha Jersey com terror;Como o filho de Sorrento,Treme ao fitar um momentoO Vesvio aterrador. A Hungria como um cadverAo relento exposto nu;Nem sequer a abriga a sombraDo foragido Kossuth.Aqui o Mxico ardente, Vasto filho independenteDa liberdade e do sol Jaz por terra... e l soluaJuarez, que se debruaE diz-lhe: "Espera o arrebol!" O quadro negro. Que os fracosRecuem cheios de horror.A ns, herdeiros dos Gracos,

  • Traz a desgraa valor!Lutai... H uma lei sublimeQue diz: " sombra do crimeH de a vingana marchar."No ouvis do Norte um grito,Que bate aos ps do infinito,Que vai Franklin despertar? o grito dos CruzadosQue brada aos moos "De p"! o sol das liberdadesQue espera por Josu! ...So bocas de mil escravosQue transformaram-se em bravosAo cinzel da abolio.E voz dos libertadores Reptis saltam condores,A topetar n'amplido!... E vs, arcas do futuro,Crislidas do porvir,Quando vosso brao ousadoLegislaes construir,Levantai um templo novo,Porm no que esmague o povo,Mas lhe seja o pedestal.Que ao menino d-se a escola,Ao veterano uma esmola...A todos luz e fanal! Luz!... sim; que a criana uma ave,Cujo porvir tendes vs;No sol uma guia arrojada,Na sombra um mocho feroz.Libertai tribunas, prelos ...So fracos, mesquinhos elos...No calqueis o povo-rei!Que este mar d'almas e peitos,Com as vagas de seus direitos,Vir partir-vos a lei. Quebre-se o cetro do Papa,Faa-se dele uma cruz!

  • A prpura sirva ao povoPra cobrir os ombros nus,Que aos gritos do Niagara Sem escravos, GuanabaraSe eleve ao fulgor dos sis!Banhem-se em luz os prostbulos,E das lascas dos patbulosErga-se a esttua aos heris! Basta!... Eu sei que a mocidade o Moiss no Sinai;Das mos do Eterno recebeAs tbuas da lei! Marchai!Quem cai na luta com glria,Tomba nos braos da Histria,No corao do Brasil!Moos, do topo dos Andes,Pirmides vastas, grandes,Vos contemplam sc'los mil! Ao romper D'alva

    Pgina feia, que ao futuro narraDos homens de hoje a lassido, a histriaCom o pranto escrita, com suor seladaDos prias misrrimos do mundo! ...Pgina feia, que eu no possa altivoRomper, pisar-te, recalcar, punir-te...

    PEDRO CALASANS

    Sigo s caminhando serra acima,E meu cavalo a galopar se anima

    Aos bafos da manh.A alvorada se eleva do levante,E, ao mirar na lagoa seu semblante,

    Julga ver sua irm.

  • As estrelas fugindo aos nenufares,Mandam rtilas prolas dos ares

    De um desfeito colar.No horizonte desvendam-se as colinas,Sacode o vu de sonhos de neblinas

    A terra ao despertar. Tudo luz, tudo aroma e murmurio.A barba branca da cascata o rio

    Faz orando tremer.No descampado o cedro curva a frente,Folhas e prece aos ps do Onipotente

    Manda a lufada erguer.

    Terra de Santa Cruz, sublime versoDa epopia gigante do universo,

    Da imensa criao.Com tuas matas, ciclopes de verdura,Onde o jaguar, que passa na espessura,

    Roja as folhas no cho;

    Como s bela, soberba, livre, ousada!Em tuas cordilheiras assentada

    A liberdade est.A prpura da bruma, a ventaniaRasga, espedaa o cetro que s'erguia

    Do rijo piqui.

    Livre o tropeiro toca o lote e cantaA lnguida cantiga com que espanta

    A saudade, a aflio.Solto o ponche, o cigarro fumegandoLembra a serrana bela, que chorando

    Deixou l no serto.

    Livre, como o tufo, corre o vaqueiroPelos morros e vrzea e tabuleiro

    Do intrincado cip.Que importaos dedos da jurema aduncos?A anta, ao v-los, oculta-se nos juncos,

    Voa a nuvem de p.

    Dentre a flor amarela das encostas

  • Mostra a testa luzida, as largas costasNo rio o jacar.

    Catadupas sem freios, vastas, grandes,Sois a palavra livre desses Andes

    Que alm surgem de p.

    Mas o que vejo? um sonho!... A barbariaErguer-se neste sc'lo, luz do dia.

    Sem pejo se ostentar.E a escravido nojento crocodiloDa onda turva expulso l do Nilo

    Vir aqui se abrigar! ...

    Oh! Deus! no ouves dentre a imensa orquestaQue a natureza virgem manda em festa

    Soberba, senhoril,Um grito que solua aflito, vivo,O retinir dos ferros do cativo,

    Um som discorde e vil?

    Senhor, no deixes que se manche a telaOnde traaste a criao mais bela

    De tua inspirao.O sol de tua glria foi toldado...Teu poema da Amrica manchado,

    Manchou-o a escravido.

    Prantos de sangue vagas escarlates Toldam teus rios lbricos Eufrates

    Dos servos de Sio.E as palmeiras se torcem torturadas,Quando escutam dos morros nas quebradas

    O grito de aflio.

    Oh! ver no posso este labu maldito!Quando dos livres ouvirei o grito?

    Sim... talvez amanh.Galopa, meu cavalo, serra acima!Arranca-me a este solo. Eia! te anima

    Aos bafos da manh!

  • A viso dos mortos

    On rapporte encore qu'un berger ayant tintroduit une fois par un nain dans le Hyffhaese,l'empereur (Barberousse) se leva et lui demanda siles corbeaux volaient encore autour de lamontagne. Et, sur la rponse afirmative du berger,il s'cria en soupirant: i1 faut donc que je dorsencore pendant cent ans"!

    H. HEINE (Allemagne)

    Nas horas tristes que em neblinas densasA terra envolta num sudrio dorme,E o vento geme na amplido celeste Cpula imensa dum sepulcro enorme, Um grito passa despertando os ares,Levanta as lousas invisvel mo.Os mortos saltam, poeirentos, lvidos.Da lua plida ao fatal claro. Do solo adusto do africano SaaraSurge um fantasma com soberbo passo,Presos os braos, laureada a fronte,Louco poeta, como fora o Tasso.Do sul, do norte... do oriente irrompemDrias, Siqueiras e Machado ento.Vem Pedro lvo no cavalo negroDa lua plida ao fatal claro. O Tiradentes sobre o poste erguidoL se destaca das cerleas telas,,Pelos cabelos a cabea erguendo,Que rola sangue, que espadana estrelas.E o grande Andrada, esse arquiteto ousado,Que amassa um povo na robusta mo:O vento agita do tribuno a togaDa lua plida ao fatal claro. A esttua range... estremecendo move-se

  • O rei de bronze na deserta praa.O povo grita: Independncia ou Morte!Vendo soberbo o Imperador, que passa.Duas coroas seu cavalo pisa,Mas duas cartas ele traz na mo.Por guarda de honra tem dous povos livres,Da lua plida ao fatal claro. Ento, no meio de um silncio lgubre,Solta este grito a legio da morte:"Aonde a terra que talhamos livre,Aonde o povo que fizemos forte?Nossas mortalhas o presente inundaNo sangue escravo, que nodoa o cho.Anchietas, Gracos, vs dormis na orgia,Da lua plida ao fatal claro. "Brutus renega a tribuncia toga,O apost'lo cospe no Evangelho Santo,E o Cristo Povo, no Calvrio erguido,Fita o futuro com sombrio espanto.Nos ninhos d'guias que nos restam? Corvos,Que vendo a ptria se estorcer no cho,Passam, repassam, como alados crimes,Da lua plida ao fatal claro. "Oh! preciso inda esperar cem anos...Cem anos. . . " brada a legio da morte.E longe, aos ecos nas quebradas trmulas,Sacode o grito soluando, o norte.Sobre os corcis dos nevoeiros brancosPelo infinito a galopar l vo...Erguem-se as nvoas como p do espaoDa lua plida ao fatal claro. A cano do africano L na mida senzala,Sentado na estreita sala,

  • Junto ao braseiro, no cho,Entoa o escravo o seu canto,E ao cantar correm-lhe em prantoSaudades do seu torro ... De um lado, uma negra escravaOs olhos no filho crava,Que tem no colo a embalar...E meia voz l respondeAo canto, e o filhinho esconde,Talvez pra no o escutar! "Minha terra l bem longe,Das bandas de onde o sol vem;Esta terra mais bonita,Mas outra eu quero bem! "0 sol faz l tudo em fogo,Faz em brasa toda a areia;Ningum sabe como beloVer de tarde a papa-ceia! "Aquelas terras to grandes,To compridas como o mar,Com suas poucas palmeirasDo vontade de pensar ... "L todos vivem felizes,Todos danam no terreiro;A gente l no se vendeComo aqui, s por dinheiro". O escravo calou a fala,Porque na mida salaO fogo estava a apagar;E a escrava acabou seu canto,Pra no acordar com o prantoO seu filhinho a sonhar!............................O escravo ento foi deitar-se,Pois tinha de levantar-seBem antes do sol nascer,E se tardasse, coitado,

  • Teria de ser surrado,Pois bastava escravo ser. E a cativa desgraadaDeita seu filho, calada,E pe-se triste a beij-lo,Talvez temendo que o donoNo viesse, em meio do sono,De seus braos arranc-lo! Mater dolorosa

    Deixa-me murmurar tua ali adeus eterno, em vezde l chorar sangue, chorar o sangue! meu coraosobre meu filho; tu deves morrer, meu filho, tudeves morrer.

    NATHANIEL LEE

    Meu Filho, dorme, dorme o sono eternoNo bero imenso, que se chama o cu.Pede s estrelas um olhar materno,Um seio quente, como o seio meu. Ai! borboleta, na gentil crislida,As asas de ouro vais alm abrir.Ai! rosa branca no matiz to plida,Longe, to longe vais de mim florir. Meu filho, dorme Como ruge o norteNas folhas secas do sombrio cho!Folha dest'alma como dar-te sorte? tredo, horrvel o feral tufo! No me maldigas... Num amor sem termoBebi a fora de matar-te a mimViva eu cativa a soluar num ermoFilho, s livre... Sou feliz assim...

  • Ave te espera da lufada o aoite, Estrela guia-te uma luz falaz. Aurora minha s te aguarda a noite, Pobre inocente j maldito ests. Perdo, meu filho... se matar-te crimeDeus me perdoa... me perdoa j.A fera enchente quebraria o vime...Velem-te os anjos e te cuidem l. Meu filho dorme... dorme o sono eternoNo bero imenso, que se chama o cu.Pede s estrelas um olhar materno,Um seio quente, como o seio meu. Confidncia

    Maldio sobre vs, doutores da lei! Maldio sobrevs, hipcritas! Assemelhais-vos aos sepulcrosbrancos por fora; o exterior parece formoso, mas ointerior est cheio de ossos e podrido.

    EVANGELHO DE SO MATEUS, cap.XXII.

    Quando, Maria, vs de minha fronteNegra idia voando no horizonte,

    as asas desdobrar,Triste segues ento meu pensamento,Como fita o barqueiro de Sorrento

    As nuvens ao luar.

    E tu me dizes, plida inocente,Derramando uma lgrima tremente,

    Como orvalho de dor:"Por que sofres? A selva tem odores,"0 cu tem astros, os vergis tm flores,

  • "Nossas almas o amor".

    Ai! tu vs nos teus sonhos de crianaA ave de amor que o ramo da esperana

    Traz no bico a voar;E eu vejo um negro abutre que esvoaa,Que co'as garras a prpura espedaa

    Do manto popular.

    Tu vs na onda a flor azul dos campos,Donde os astros, errantes pirilampos,

    Se elevam para os cus;E eu vejo a noite borbulhar das vagasE a conscincia quem me aponta as plagas

    Voltada para Deus.

    Tua alma como as veigas sorrentinasOnde passam gemendo as cavatinas

    Cantadas ao luar.A minha eco do grito, que solua,Grito de toda dor que se debrua

    Do lbio a soluar.

    que eu escuto o sussurrar de idias,O marulho talvez das epopias,

    Em torno aos mausolus,E me curvo no tm'lo das idades Crnios de pedra, cheios de verdades

    E da sombra de Deus.

    E nessas horas julgo que o passadoDos tmulos a meio levantado

    Me diz na solido:"Que s tu, poeta? A lmpada da orgia,"Ou a estrela de luz, que os povos guia

    " nova redeno?"

    Maria, mal sabes o fadrioQue o moo bardo arrasta solitrio

    Na impotncia da dor.Quando v que debalde liberdadeAbriu sua alma urna da verdade

    Da esperana e do amor! ...

  • Quando v que uma lgubre coorteContra a esttua (sagrada pela morte)

    Do grande imperador,Hipcrita, amotina a populaa,Que morde o bronze, como um co de caa

    No seu louco furor! ...

    Sem poder esmagar a iniqidadeQue tem na boca sempre a liberdade,

    Nada no corao;Que ri da dor cruel de mil escravos, Hiena, que do tmulo dos bravos,

    Morde a reputao! ...

    Sim... quando vejo, Deus, que o sacerdoteAs espduas fustiga com o chicote

    Ao cativo infeliz;Que o pescador das almas j se esqueceDas santas pescarias e adormece

    Junto da meretriz...

    Que o apstolo, o smplice romeiro,Sem bolsa, sem sandlias, sem dinheiro,

    Pobre como Jesus,Que mendigava outrora caridadePagando o po com o po da eternidade,

    Pagando o amor com a luz,

    Agora adota a escravido por filha,Amolando nas pginas da Bblia

    O cutelo do algoz...Sinto no ter um raio em cada versoPara escrever na fronte do perverso:

    "Maldio sobre vs!"

    Maldio sobre vs, tribuno falso!Rei, que julgais que o negro cadafalso

    dos tronos o irmo!Bardo, que a lira prostituis na orgia Eunuco incensador da tirania

    Sobre ti maldio!

  • Maldio sobre t, rico devasso,Que da msica, ao lnguido compasso,

    Embriagado no vsA criana faminta que na ruaAbraa u'a mulher plida e nua,

    Tua amante... talvez!...

    Maldio! ... Mas que importa?... Ela espedaaAcaso a flor olente que se enlaa

    Nas c'roas festivais?Nodoa a veste rica ao sibarita?Que importam cantos, se mais alta a grita

    Das loucas bacanais?

    Oh! por isso, Maria, vs, me curvoNa face do presente escuro e turvo

    E interrogo o porvir;Ou levantando a voz por sobre os montes, "Liberdade", pergunto aos horizontes,

    Quando enfim hs de vir?"

    Por isso, quando vs as noites belas,Onde voa a poeira das estrelas

    E das constelaes,Eu fito o abismo que a meus ps fermenta,E onde, como santelmos da tormenta,

    Fulgem revolues!... O sol e o povo

    Le peuple a sa colre et le volcan sa lave.

    V. HUGO

    Ya desatadoEl horrendo huracn silba contigo Qu muralla, qu abrigoBastaran contra ti?

  • M. QUINTANA

    O sol, do espao Briaru gigante,Pra escalar a montanha do infinito,Banha em sangue as campinas do levante. Ento em meio dos Saars o EgitoHumilde curva a fronte e um grito erranteVai despertar a Esfinge de granito. O povo como o sol! Da treva escuraRompe um dia coa destra iluminada,Como o Lzaro, estala a sepultura!... Oh! temei-vos da turba esfarrapada,Que salva o bero gerao futura,Que vinga a campa gerao passada. Tragdia no lar Na Senzala, mida, estreita,Brilha a chama da candeia,No sap se esgueira o vento.E a luz da fogueira ateia. Junto ao fogo, uma africana,Sentada, o filho embalando,Vai lentamente cantandoUma tirana indolente,Repassada de aflio.E o menino ri contente...Mas treme e grita gelado,Se nas palhas do telhadoRuge o vento do serto. Se o canto pra um momento,Chora a criana imprudente ...

  • Mas continua a cantiga ...E ri sem ver o tormentoDaquele amargo cantar.Ai! triste, que enxugas rindoOs prantos que vo caindoDo fundo, materno olhar,E nas mozinhas brilhantesAgitas como diamantesOs prantos do seu pensar ... E voz como um soluo lacerante

    Continua a cantar: "Eu sou como a gara triste"Que mora beira do rio,"As orvalhadas da noite"Me fazem tremer de frio. "Me fazem tremer de frio"Como os juncos da lagoa;"Feliz da araponga errante"Que livre, que livre voa. "Que livre, que livre voa"Para as bandas do seu ninho,"E nas branas tarde"Canta longe do caminho. "Canta longe do caminho."Por onde o vaqueiro trilha,"Se quer descansar as asas"Tem a palmeira, a baunilha. "Tem a palmeira, a baunilha,"Tem o brejo, a lavadeira,"Tem as campinas, as flores, "Tem a relva, a trepadeira,"Tem a relva, a trepadeira,"Todas tm os seus amores,"Eu no tenho me nem filhos,"Nem irmo, nem lar, nem flores".

  • A cantiga cessou. . . Vinha da estradaA trote largo, linda cavalhada

    De estranho viajor,Na porta da fazenda eles paravam,Das mulas boleadas apeavamE batiam na porta do senhor. Figuras pelo sol tisnadas, lbricas,Sorrisos sensuais, sinistro olhar,

    Os bigodes retorcidos,O cigarro a fumegar,O rebenque prateadoDo pulso dependurado,Largas chilenas luzidas,Que vo tinindo no cho,E as garruchas embebidasNo bordado cinturo.

    A porta da fazenda foi aberta;

    Entraram no salo. Por que tremes mulher? A noite calma,Um bulcio remoto agita a palma

    Do vasto coqueiral.Tem prolas o rio, a noite lumes,A mata sombras, o serto perfumes,

    Murmrio o bananal. Por que tremes, mulher? Que estranho crime,Que remorso cruel assim te oprime

    E te curva a cerviz?O que nas dobras do vestido ocultas? um roubo talvez que a sepultas?

    seu filho ... Infeliz! ...

    Ser me um crime, ter um filho roubo!Am-lo uma loucura! Alma de lodo,

    Para ti no h luz.Tens a noite no corpo, a noite na alma,Pedra que a humanidade pisa calma,

    Cristo que verga cruz!

    Na hiprbole do ousado cataclisma

  • Um dia Deus morreu... fuzila um prismaDo Calvrio ao Tabor!

    Viu-se ento de Palmira os ptreos ossos,De Babel o cadver de destroos

    Mais lvidos de horror.

    Era o relampejar da liberdadeNas nuvens do chorar da humanidade,

    Ou sara do Sinai, Relmpagos que ferem de desmaios...Revolues, vs deles sois os raios,

    Escravos, esperai! ...

    ..................................................................

    Leitor, se no tens desprezoDe vir descer s senzalas,Trocar tapetes e salasPor um alcouce cruel,Que o teu vestido bordadoVem comigo, mas ... cuidado ...No fique no cho manchado,No cho do imundo bordel. No venhas tu que achas tristes vezes a prpria festa.Tu, grande, que nunca ouvisteSeno gemidos da orquestraPor que despertar tu'alma,Em sedas adormecida,Esta excrescncia da vidaQue ocultas com tanto esmero?E o corao tredo lodo,Fezes d'nfora doiradaNegra serpe, que enraivada,Morde a cauda, morde o dorsoE sangra s vezes piedade,E sangra s vezes remorso?... No venham esses que negamA esmola ao leproso, ao pobre.A luva branca do nobreOh! senhores, no mancheis...

  • Os ps l pisam em lama,Porm as frontes so purasMas vs nas faces impurasTendes lodo, e pus nos ps.

    Porm vs, que no lixo do oceanoA prola de luz ides buscar,Mergulhadores deste pego insanoDa sociedade, deste tredo mar. Vinde ver como rasgam-se as entranhasDe uma raa de novos Prometeus,Ai! vamos ver guilhotinadas almasDa senzala nos vivos mausolus.

    Escrava, d-me teu filho!Senhores, ide-lo ver:

    forte, de uma raa bem provada,Havemos tudo fazer.

    Assim dizia o fazendeiro, rindo,E agitava o chicote...

    A me que ouviaImvel, pasma, doida, sem razo!

    Virgem Santa pediaCom prantos por orao;E os olhos no ar erguiaQue a voz no podia, no.

    D-me teu filho! repetiu frementeo senhor, de sobr'olho carregado. Impossvel!...

    Que dizes, miservel?! Perdo, senhor! perdo! meu filho dorme...Inda h pouco o embalei, pobre inocente,

    Que nem sequer pressenteQue ides...

    Sim, que o vou vender! Vender?!. . . Vender meu filho?!

    Senhor, por piedade, noVs sois bom antes do peitoMe arranqueis o corao!

  • Por piedade, matai-me! Oh! impossvelQue me roubem da vida o nico bem!Apenas sabe rir to pequeno!Inda no sabe me chamar? TambmSenhor, vs tendes filhos... quem no tem?

    Se algum quisesse os venderHaveis muito chorarHaveis muito gemer,Direis a rir Perdo?!Deixai meu filho... arrancai-meAntes a alma e o corao!

    Cala-te miservel! Meus senhores,

    O escravo podeis ver ... E a me em pranto aos ps dos mercadores

    Atirou-se a gemer.

    Senhores! basta a desgraaDe no ter ptria nem lar, De ter honra e ser vendidaDe ter alma e nunca amar! Deixai noite que choraQue espere ao menos a aurora,Ao ramo seco uma flor;Deixai o pssaro ao ninho,Deixai me o filhinho,Deixai desgraa o amor. Meu filho -me a sombra amigaNeste deserto cruel!...Flor de inocncia e candura.Favo de amor e de mel! Seu riso minha alvorada,Sua lgrima doiradaMinha estrela, minha luz! da vida o nico brilhoMeu filho! mais... meu filhoDeixai-mo em nome da Cruz!...

    Porm nada comove homens de pedra,

  • Sepulcros onde morto o corao.A criana do bero ei-los arrancamQue os bracinhos estende e chora em vo!

    Mudou-se a cena. J vistesBramir na mata o jaguar,E no furor desmedidoSaltar, raivando atrevido.O ramo, o tronco estalar,Morder os ces que o morderam...De vtima feita algoz,Em sangue e horror envolvidoTerrvel, bravo, feroz?

    Assim a escrava da criana ao grito

    Destemida saltou,E a turba dos senhores aterrada

    Ante ela recuou. Nem mais um passo, cobardes!Nem mais um passo! ladres!Se os outros roubam as bolsas,Vs roubais os coraes! ... Entram trs negros possantes,Brilham punhais traioeiros...Rolam por terra os primeirosDa morte nas contores.

    .................................................................. Um momento depois a cavalgadaLevava a trote largo pela estrada

    A criana a chorar.Na fazenda o azorrague ento se ouviaE aos golpes uma doida respondia

    Com frio gargalhar! ... O sibarita romano

  • Este olhar, estes lbios, estas rugasexprimem uma sede impaciente eimpossvel de saciar. Quer e no pode.Sente o desejo e a impacincia.

    LAVATER

    Escravo, d-me a c'roa de amarantoQue mandou-me inda h pouco Afra impudente.Orna-me a fronte... Enrola-me os cabelos,Quero o mole perfume do Oriente. Lana nas chamas dessa etrusca piraO nardo trescalante de Medina.Vem... desenrola aos ps do meu triclnioAs felpas de uma colcha bizantina. Ohl tenho tdio... Embalde, ao pr da tarde,Pelas nereidas louras embalado,Vogo em minha galera ao som das harpas,Da cortes nos seios recostado. Debalde, em meu palcio altivo, imenso,De mosaicos brilhantes embutido,Nuas, volvem as filhas do OrienteNo morno banho em termas de porfido. S amo o circo... a dor, gritos e flores,A pantera, o leo de hirsuta coma;Onde o banho de sangue do universoRejuvenesce a prpura de Roma. E o povo rei na vtima do mundoPalpa as entranhas que inda sangue escorrem,E ergue-se o grito extremo dos cativos: Ave, Cesar! sadam-te os que morrem! Escravo, quero um canto... Vibra a lira,De Orfeu desperta a fibra dolorida,Canta a volpia das bacantes nudas,Fere o hino de amor que inflama a vida.

  • Doce, como do Himeto o mel dourado,Puro como o perfume... Escravo insano!Teu canto o grito rouco das Eumnides,Sombrio como um verso de Lucano. Quero a ode de amor que o vento cantaDo Palatino aos flreos arvoredos.Quero os cantos de Nero... Escravo infame,Quebras as cordas nos convulsos dedos! Deixa esta lira! como o tempo longo!Insano! insano! que tormento sinto!Traze o louro falerno transparenteNa mais custosa taa de Corinto. Pesa-me a vida!... est deserto o Forum!E o tdio!... o tdio!... que infernal idia!D-me a taa, e do ergstulo das servasTua irm trar-me-s, a grega Haidia! Quero em seu seio... Escravo desgraado,A este nome tremeu-te o brao exangue?V... Manchaste-me a toga com o falerno,Irs manchar o Coliseu com o sangue!... A criana

    Que veux-tu, fleur, beau fruit, ou l'oiseaumerveilleux?Ami, dit l'enfant grec, dit l'enfant aux yeux bleus,

    Je veux de Ia poudre et des balles. VICTOR HUGO (Les Orientales)

    Que tens criana? O areal da estrada

    Luzente a cintilarParece a folha ardente de uma espada.

  • Tine o sol nas savanas. Morno o vento. sombra do palmar

    O lavrador se inclina sonolento. triste ver uma alvorada em sombras,

    Uma ave sem cantar,O veado estendido nas alfombras.Mocidade, s a aurora da existncia,

    Quero ver-te brilhar.Canta, criana, s a ave da inocncia. Tu choras porque um ramo de baunilha

    No pudeste colher,Ou pela flor gentil da granadilha?Dou-te, um ninho, uma flor, dou-te uma palma,

    Para em teus lbios verO riso a estrela no horizonte da alma. No. Perdeste tua me ao fero aoite

    Dos seus algozes vis.E vagas tonto a tatear noite.Choras antes de rir... pobre criana!...

    Que queres, infeliz?... Amigo, eu quero o ferro da vingana. A cruz da estrada

    Invideo quia quiescunt.

    LUTHERO (Worms)

    Tu que passas, descobre-te! Ali dorme

    O forte que morreu. A. HERCULANO (Trad.)

    Caminheiro que passas pela estrada,

  • Seguindo pelo rumo do serto,Quando vires a cruz abandonada,Deixa-a em paz dormir na solido. Que vale o ramo do alecrim cheirosoQue lhe atiras nos braos ao passar?Vais espantar o bando buliosoDas borboletas, que l vo pousar. de um escravo humilde sepultura,Foi-lhe a vida o velar de insnia atroz.Deixa-o dormir no leito de verdura,Que o Senhor dentre as selvas lhe comps. No precisa de ti. O gaturamoGeme, por ele, tarde, no serto.E a juriti, do taquaral no ramo,Povoa, soluando, a solido. Dentre os braos da cruz, a parasita,Num abrao de flores, se prendeu.Chora orvalhos a grama, que palpita;Lhe acende o vaga-lume o facho seu. Quando, noite, o silncio habita as matas,A sepultura fala a ss com Deus.Prende-se a voz na boca das cascatas,E as asas de ouro aos astros l nos cus. Caminheiro! do escravo desgraadoO sono agora mesmo comeou!No lhe toques no leito de noivado,H pouco a liberdade o desposou.

    Bandido negro Corre, corre, sangue do cativoCai, cai, orvalho de sangueGermina, cresce, colheita vingadora

  • A ti, segador a ti. Est madura.Agua tua fouce, agua, agua tua fouce.

    E. SUE (Canto dos filhos de Agar)

    Trema a terra de susto aterrada...Minha gua veloz, desgrenhada,Negra, escura nas lapas voou.Trema o cu ... runa! desgraa!Porque o negro bandido quem passa,Porque o negro bandido bradou: Cai, orvalho de sangue do escravo,Cai, orvalho, na face do algoz.Cresce, cresce, seara vermelha,Cresce, cresce, vingana feroz. Dorme o raio na negra tormenta...Somos negros... o raio fermentaNesses peitos cobertos de horror.Lana o grito da livre coorte,Lana, vento, pampeiro de morte,Este guante de ferro ao senhor. Cai, orvalho de sangue do escravo,Cai, orvalho, na face do algoz.Cresce, cresce, seara vermelha,Cresce, cresce, vingana feroz. Eia! raa que nunca te assombras!Pra o guerreiro uma tenda de sombrasArma a noite na vasta amplido.Sus! pulula dos quatro horizontes,Sai da vasta cratera dos montes,Donde salta o condor, o vulco. Cai, orvalho de sangue do escravo,Cai, orvalho, na face do algoz.Cresce, cresce, seara vermelha,Cresce, cresce, vingana feroz. E o senhor que na festa descanta

  • Pare o brao que a taa alevanta,Coroada de flores azuis.E murmure, julgando-se em sonhos:"Que demnios so estes medonhos,Que l passam famintos e nus?" Cai, orvalho de sangue do escravo,Cai, orvalho, na face do algoz.Cresce, cresce, seara vermelha,Cresce, cresce, vingana feroz. Somos ns, meu senhor, mas no tremas,Ns quebramos as nossas algemasPra pedir-te as esposas ou mes.Este o filho do ancio que mataste.Este irmo da mulher que manchaste...Oh! no tremas, senhor, so teus ces. Cai, orvalho de sangue do escravo,Cai, orvalho, na face do algoz.Cresce, cresce, seara vermelha,Cresce, cresce, vingana feroz. So teus ces, que tm frio e tm fome,Que h dez sc'los a sede consome...Quero um vasto banquete feroz...Venha o manto que os ombros nos cubra.Para vs fez-se a prpura rubra,Fez-se a manto de sangue pra ns. Cai, orvalho de sangue do escravo,Cai, orvalho, na face do algoz.Cresce, cresce, seara vermelha,Cresce, cresce, vingana feroz. Meus lees africanos, alerta!Vela a noite... a campina deserta.Quando a lua esconder seu claroSeja o bramo da vida arrancadoNo banquete da morte lanadoJunto ao corvo, seu lgubre irmo. Cai, orvalho de sangue do escravo,

  • Cai, orvalho, na face do algoz.Cresce, cresce, seara vermelha,Cresce, cresce, vingana feroz. Trema o vale, o rochedo escarpado,Trema o cu de troves carregado,Ao passar da rajada de heris,Que nas guas fatais desgrenhadasVo brandindo essas brancas espadas,Que se amolam nas campas de avs. Cai, orvalho de sangue do escravo,Cai, orvalho, na face do algoz.Cresce, cresce, seara vermelha,Cresce, cresce, vingana feroz Amrica

    Acorda a ptria e v que pesadeloO sonho da ignomnia que ela sonha!

    Toms Ribeiro

    Tpida sombra das matas gigantes,Da Amrica ardente nos pampas do Sul,Ao canto dos ventos nas palmas brilhantes, luz transparente de um cu todo azul, A filha das matas cabocla morena Se inclina indolente sonhando talvez!A fronte nos Andes reclina serena.E o Atlntico humilde se estende a seus ps. As brisas dos cerros ainda lhe ondulamNas plumas vermelhas do arco de avs,Lembrando o passado seus seios pululam,Se a ona ligeira boliu nos cips.

  • So vagas lembranas de um tempo que teve!...Palpita-lhe o seio por sob uma cruz.E em cisma doirada qual gara de neve Sua alma revolve-se em ondas de luz. Embalam-lhe os sonhos, na tarde saudosa,Os cheiros agrestes do vasto serto,E a triste araponga que geme chorosaE a voz dos tropeiros em terna cano. Se o gnio da noite no espao flutuaQue negros mistrios a selva contm!Se a ilha de prata, se a plida luaClareia o levante, que amores no tem! Parece que os astros so anjos pendidosDas frouxas neblinas da abbada azul,Que miram, que adoram ardentes, perdidos,A filha morena dos pampas do Sul. Se aponta a alvorada por entre as cascatas,Que estrelas no orvalho que a noite verteu!As flores so aves que pousam nas matas,As aves so flores que voam no cu! ...................................................................... ptria, desperta... No curves a fronteQue enxuga-te os prantos o Sol do Equador.No miras na fmbria do vasto horizonteA luz da alvorada de um dia melhor? J falta bem pouco. Sacode a cadeiaQue chamam riquezas... que ndoas te so!No manches a folha de tua epopiaNo sangue do escravo, no imundo balco. S pobre, que importa? S livre... s gigante,Bem como os condores dos pncaros teus!Arranca este peso das costas do Atlante,Levanta o madeiro dos ombros de Deus.

  • Remorso(ao assassino de Lincoln)

    Cain! Cain!

    Byron

    Neque fama deum, nec fulmina, nec mini tantiMurmure, compressit coelum...

    Lucrcio

    Cavaleiro sinistro, embuado,Neste negro cavalo montado,Onde vais galopando veloz?Tu no vs como o vento farfalha,E das nuvens sacode a mortalhaUlulando com lgubre voz? Cavaleiro, onde vais? Tu no sentesTeu capote seguro nos dentesE nas garras do negro tufo,Nestas horas de horror e segredoQuando os mangues sescondem com medoTiritando no mar namplido? Quando a serra se embua em neblinasE as lufadas sacodem as crinasDo pinheiro que geme no val,E no espao se apagam as lampas,E uma chama azulada nas campasLambe as pedras por noite hibernal, Onde vais? Onde vais temerrioA correr a voar?... Que fadrioAos ouvidos te grita fugi?Por que fitas o olhar desvairadoNo horizonte que foge espantado

  • Em tuas costas com medo de ti? Ai! debalde galopas a esthora! debalde que sangra na esporaNegro flanco do negro corcel.E no clere rpido passoDevorando com as patas o espaoSaltas montes e vales revel. No apagas da fronte o ferreteOnde o crime com frio estileteNome estranho bem fundo gravou.O que buscas? A noite sem lumes?Pra aclarar-te fatais vaga-lumesTeu cavalo do cho despertou. De bem longe o arvoredo trevoso,Estirando o pescoo nodoso,Vem correndo na estrada te olhar.Mas tua fronte maldita encarando,Foge foge veloz recuando,Vai nas brumas a fronte velar. Tu no vs? Qual matilha esfaimada,L dos morros por sobre a quebrada,Ladra o eco gritando: quem s?Onde vais, cavaleiro maldito?Mesmo oculto nos vus do infinitoTua sombra te morde nos ps. O canto de Bug Jargal(Traduzido de V. HUGO) Por que foges de mim? Por que, Maria?E gelas-te de medo, se me escutas?Ah! sou bem formidvel na verdade,Sei ter amor, ter dores e ter cantos!Quando, atravs das palmas dos coqueirosTua forma desliza area e pura,

  • Maria, meus olhos se deslumbram,Julgo ver um esprito que passa.E se escuto os acentos encantados,Que em melodia escapam de teus lbios,Meu corao palpita em meu ouvidoMisturando um queixoso murmurioDe tua voz lnguida harmonia.Ai! tua voz mais doce do que o cantoDas aves que no cu vibram as asas,E que vem no horizonte l da ptria.Da ptria onde era rei, onde era livre!Rei e livre, Maria! e esqueceriaTudo por ti... esqueceria tudo A famlia, o dever, reino e vinganaSim, at a vingana! ... ainda que cedoTenha enfim de colher este acre fruto,Acre e doce que tarde amadurece. ................................................................... Maria, pareces a palmeiraBela, esvelta, embalada pelas auras.E te miras no olhar de teu amanteComo a palmeira n'gua transparente.Porm ... sabes? s vezes h no fundoDo deserto o urag que tem cimesDa fonte amada... e arroja-se e galopa.O ar e a areia misturando turvosSob o vo pesado de suas asas.Num turbilho de fogo, rvore e fonteEnvolve... e seca a lmpida vertente,Sente a palmeira a um hlito de morteCrespar-se o verde circ'lo da folhagem,Que tinha a majestade de uma c'roaE a graa de uma solta cabeleira. ................................................................... Oh! treme, branca filha de Espanhola,Treme, breve talvez tenhas em tornoO urag e o deserto. Ento, Maria,Lamentars o amor que hoje puderaTe conduzir a mim, bem como o kata

  • Da salvao o pssaro ditoso Atravs das areias africanasGuia o viajante lnguido cisterna.E por que enjeitas meu amor? Escuta:Eu sou rei, minha fronte se levantaSobre as frontes de todos. Maria,Eu sei que s branca e eu negro, mas precisaO dia unir-se noite feia, escura,Para criar as tardes e as auroras,Mais belas do que a luz, mais do que as trevas! A rf na sepultura Minha me, a noite fria,Desce a neblina sombria,Geme o riacho no valE a bananeira farfalha,Como o som de uma mortalhaQue rasga o gnio do mal. No vs que noite cerrada?Ouviste essa gargalhadaNa mata escura? ai de mim!Me, me, tremo de medo.Oh! quando enfim teu segredo,Teu segredo ter fim? Foi ontem que Ave-MariaO sino da freguesia,Me fez tanto soluar.Foi ontem que te calaste...Dormiste . . os olhos fechaste...Nem me fizeste rezar! ... Sentei-me junto ao teu leito,'Stava to frio o teu peito,Que eu fui o fogo atiar.Parece que ento me vistePorque dormindo sorriste

  • Como uma santa no altar. Depois o fogo apagou-se,Tudo no quarto calou-se,E eu tambm calei-me ento.Somente acesa uma velaTriste, de cera amarela,Tremia na escurido. Apenas nascera o dia, voz do maridediaSaltei contente de p.Cantavam os passarinhosQue fabricavam seus ninhosNo telhado de sap. Porm tu, por que dormias,Por que j no me dizias"Filha do meu corao?"'Stavas aflita comigo?Me, abracei-me contigo,Pedi-te embalde perdo... Chorei muito! ai triste vida!Chorei muito, arrependidaDo que talvez fiz a ti.Depois rezei ajoelhadaA reza da madrugadaQue tantas vezes te ouvi: "Senhor Deus, que aps a noite"Mandas a luz do arrebol,"Que vestes a esfarrapada"Com o manto rico do sol, "Tu que ds flor o orvalho,"s aves o cu e o ar,"Que ds as frutas ao galho,"Ao desgraado o chorar; "Que desfias diamantes"Em cada raio de luz,"Que espalhas flores de estrelas

  • "Do cu nos campos azuis; "Senhor Deus, tu que perdoas"A toda alma que chorou,"Como a clcia das lagoas,"Que a gua da chuva lavou; "Faze da alma da inocente"O ninho do teu amor,"Verte o orvalho da virtude"Na minha pequena flor. "Que minha filha algum dia"Eu veja livre e feliz! ..." Santa Virgem Maria,"S me da pobre infeliz." Inda lembras-te! dizias,Sempre que a reza me ouviasEm prantos de a sufocar:"Ai! tm orvalhos as flores,"Tu, filha dos meus amores,"Tens o orvalho do chorar". Mas hoje sempre sisudaMe ouviste... ficaste muda,Sorrindo no sei pra quem.Quase ento que eu tive medo...Parecia que um segredoDizias baixinho a algum. Depois... depois... me arrastaram...Depois... sim... te carregaramP'ra vir te esconder aqui.Eu sozinha l na sala...'Stava to triste a senzala...Me, para ver-te eu fugi... E agora, Deus!... se te chamoNo me respondes!... se clamo,Respondem-me os ventos suis...No leito onde a rosa medraTu tens por lenol a pedra,

  • Por travesseiro uma cruz. muito estreito esse leito?Que importa? abre-me teu peito Ninho infinito de amor. Palmeira quero-te a sombra. Terra d-me a tua alfombra. Santo fogo o teu calor. Me, minha voz j me assusta...Algum na floresta adustaRepete os soluos meus.Sacode a terra... desperta!...Ou d-me a mesma coberta'Minha me... meu cu... meu Deus... Anttese

    O seu prmio? O desprezo e uma carta dealforria quando tens gastas as foras e no podemais ganhar a subsistncia.

    Maciel Pinheiro

    Cintila a festa nas salas!Das serpentinas de prataJorram luzes em cascataSobre sedas e rubins.Soa a orquestra ... Como silfosNa valsa os pares perpassam,Sobre as flores, que se enlaamDos tapetes nos coxins. Entanto a nvoa da noiteNo trio, na vasta rua,Como um sudrio flutuaNos ombros da solido.E as ventanias errantes,

  • Pelos ermos perpassando,Vo se ocultar soluandoNos antros da escurido. Tudo deserto. . . somente praa em meio se agitaDbia forma que palpita,Se estorce em rouco estertor. Espcie de co sem donoDesprezado na agonia,Larva da noite sombria,Mescla de trevas e horror. ele o escravo maldito,O velho desamparado,Bem como o cedro lascado,Bem como o cedro no cho.Tem por leito de agoniasAs ljeas do pavimento,E como nico lamentoPassa rugindo o tufo. Chorai, orvalhos da noite,Soluai, ventos errantes.Astros da noite brilhantesSede os crios do infeliz!Que o cadver insepulto,Nas praas abandonado, um verbo de luz, um bradoQue a liberdade prediz. Cano do violeiro Passa, vento das campinas,Leva a cano do tropeiro.Meu corao 'st deserto,'St deserto o mundo inteiro.Quem viu a minha senhoraDona do meu corao?

  • Chora, chora na viola,Violeiro do serto.

    Ela foi-se ao pr da tardeComo as gaivotas do rio.Como os orvalhos que descemDa noite num beijo frio,O cau canta bem triste,Mais triste meu corao.

    Chora, chora na viola,Violeiro do serto.

    E eu disse: a senhora voltaCom as flores da sapucaia.Veio o tempo, trouxe as flores,Foi o tempo, a flor desmaia.Colhereira, que alm voas,Onde est meu corao?

    Chora, chora na viola,Violeiro do serto.

    No quero mais esta vida,No quero mais esta terra.Vou procur-la bem longe,L para as bandas da serra.Ai! triste que eu sou escravo!Que vale ter corao?

    Chora, chora na viola,Violeiro do serto.

    Splica

    La ngre marqu au signe de Dieu comme vouspassera dsormais du berceau la fosse, la nuit sur son me, la nut sur la figure.

  • PELLETAN

    Senhor Deus, d que a boca da inocncia

    Possa ao menos sorrir,Como a flor da granada abrindo as pet'las

    Da alvorada ao surgir.

    D que um dedo de me aponte ao filhoO caminho dos cus,

    E seus lbios derramem como prolasDois nomes filho e Deus.

    Que a donzela no manche em leito impuroA grinalda do amor.

    Que a honra no se compre ao carniceiroQue se chama senhor.

    D que o brio no cortem como o cardoFilho do corao.

    Nem o chicote acorde o pobre escravoA cada aspirao.

    Insultam e desprezam da velhiceA coroa de cs.

    Ante os olhos do irmo em prostitutasTransformam-se as irms.

    A esposa bela... Um dia o pobre escravoSolitrio acordou;

    E o vcio quebra e ri do n perptuoQue a mo de Deus atou.

    Do abismo em pego, de desonra em crimeRola o msero a ss.

    Da lei sangrento o brao rasga as vscerasComo o abutre feroz.

    V!... A inocncia, o amor, o brio, a honra,E o velho no balco.

    Do bero sepultura a infmia escrita...Senhor Deus! compaixo!...

  • O vidente

    Vir o dia da felicidade e justia para todos.

    ISAAS

    s vezes quando tarde, nas tardes brasileiras,A cisma e a sombra descem das altas cordilheiras;Quando a viola acorda na choa o sertanejoE a linda lavadeira cantando deixa o brejo,E a noite a freira santa no rgo das florestasUm salmo preludia nos troncos, nas giestas;Se acaso solitrio passo pelas picadas,Que torcem-se escamosas nas lapas escarpadas,Encosto sobre as pedras a minha carabina,Junto a meu co, que dorme nas saras da colina,E, como uma harpa elia entregue ao tom dos ventos Estranhas melodias, estranhos pensamentos,Vibram-me as cordas d'alma enquanto absorto cismo,Senhor! vendo tua sombra curvada sobre o abismo,Colher a prece alada, o canto que esvoaaE a lgrima que orvalha o lrio da desgraa,Ento, num santo xtase, escuto a terra e os cus.E o vcuo se povoa de tua sombra, Deus! Ouo o cantar dos astros no mar do firmamento;No mar das matas virgens ouo o cantar do vento,Aromas que s'elevam, raios de luz que descem,Estrelas que despontam, gritos que se esvaecem,Tudo me traz um canto de imensa poesia,Como a primcia augusta da grande profecia;Tudo me diz que o Eterno, na idade prometida,H de beijar na face a terra arrependida.E, desse beijo santo, desse sculo sublimeQue lava a iniqidade, a escravido e o crime,Ho de nascer virentes nos campos das idades,Amores, esperanas, glrias e liberdades!

  • Ento, num santo xtase, escuto a terra e os cus,O vcuo se povoa de tua sombra, Deus! E, ouvindo nos espaos as louras utopiasDo futuro cantarem as doses melodias,Dos povos, das idades, a nova promisso...Me arrasta ao infinito a guia da inspirao ...Ento me arrojo ousado das eras atravs,Deixando estrelas, sculos, volverem-se a meus ps...Porque em minh'alma sinto ferver enorme grito,Ante o estupendo quadro das telas do infinito...Que faz que, em santo xtase, eu veja a terra e os cus,E o vcuo povoado de tua sombra, Deus! Eu vejo a terra livre... como outra Madalena,Banhando a' fronte pura na virao serena,Da urna do crepsculo, verter nos cus azuisPerfumes, luzes, preces, curvada aos ps da cruz...No mundo tenda imensa da humanidade inteiraQue o espao tem por teto, o sol tem por lareira,Feliz se aquece unida a universal famlia.Oh! dia sacrossanto em que a justia brilha,Eu vejo em ti das runas vetustas do passado,O velho sacerdote augusto e veneradoColher a parasita a santa flor o culto,Como o coral brilhante do mar na vasa oculto...No mais inunda o templo a vil superstio;A f a pomba mstica e a guia da razo,Unidas se levantam do vale escuro d'alma,Ao ninho do infinito voando em noite calma.Mudou-se o frreo cetro, esse aguilho dos povos,Na virga do profeta coberta de renovos.E o velho cadafalso horrendo e corcovado,Ao poste das idades por irriso ligadoParece embalde tenta cobrir com as mos a fronte, Abutre que esqueceu que o sol vem no horizonte.Vede: as crianas louras aprendem no EvangelhoA letra que comenta algum sublime velho,Em toda a fronte h luzes, em todo o peito amores,Em todo o cu estrelas, em todo o campo flores ...E, enquanto, sob as vinhas, a ingnua camponesaEnlaa s negras tranas a rosa da deveza;Dos saaras africanos, dos gelos da Sibria,

  • Do Cucaso, dos campos dessa infeliz lbria,Dos mrmores lascados da terra santa homrica,Dos pampas, das savanas desta soberba AmricaProrrompe o hino livre, o hino do trabalho!E, ao canto dos obreiros, na orquestra audaz do malho,O rudo se mistura da imprensa, das idias,Todos da liberdade forjando as epopias,Todos co'as mos calosas, todos banhando a fronteAo sol da independncia que irrompe no horizonte. Oh! escutai! ao longe vago rumor se elevaComo o trovo que ouviu-se quando na escura treva,O brao onipotente rolou Sat maldito. outro condenado ao raio do infinito, o retumbar por terra desses impuros paos,Desses serralhos negros, desses Egeus devassos,Saturnos de granito, feitos de sangue e ossos...Que bebem a existncia do povo nos destroos ... .......................................................................... Enfim a terra livre! Enfim l do CalvrioA guia da liberdade, no imenso itinerrio,Voa do Calpe brusco s cordilheiras grandes,Das cristas do Himalaia aos pncaros dos Andes!Quebraram-se as cadeias, livre a terra inteira,A humanidade marcha com a Bblia por bandeira.So livres os escravos... quero empunhar a lira,Quero que est'alma ardente um canto audaz desfira,Quero enlaar meu hino aos murmrios dos ventos,s harpas das estrelas, ao mar, aos elementos! ............................................................. Mas, ai! longos gemidos de mseros cativos,Tinidos de mil ferros, soluos convulsivos,Vm-me bradar nas sombras, como fatal vedeta:"Que pensas, moo triste? Que sonhas tu, poeta?"Ento curvo a cabea de raios carregada,E, atando brnzea corda lira amargurada,O canto de agonia arrojo terra, aos cus,E ao vcuo povoado de tua sombra, Deus!

  • A me do cativo

    Le Christ Nazareth, aux jours de son enfanceJouait avec la croix, symbole de sa mort;Mre du Polonais! qu'il apprene d'avanceA combattre et braver les outrages du Sort. Qu'il couve dans son sein sa colre et sa joie ;Quil ses discours prudents distillent le venin,Comme un abme obscur que son coeur se reploie : terre, deux genoux, qu'il rampe comme unnain.

    MICKIEWICZ (A Me Polaca)

    I me do cativo! que alegre balanasA rede que ataste nos galhos da selva!Melhor tu farias se pobre crianaCavasses a cova por baixo da relva. me do cativo! que fias noiteAs roupas do filho na choa da palha!Melhor tu farias se ao pobre pequenoTecesses o pano da branca mortalha. Misrrima! E ensinas ao triste meninoQue existem virtudes e crimes no mundoE ensinas ao filho que seja brioso,Que evite dos vcios o abismo profundo ... E louca, sacodes nesta alma, inda em trevas,O raio da espr'ana... Cruel ironia!E ao pssaro mandas voar no infinito,Enquanto que o prende cadeia sombria! ...

  • II

    Me! no despertes est'alma que dorme,Com o verbo sublime do Mrtir da Cruz!O pobre que rola no abismo sem termoPra qu'h de sond-lo... Que morra sem luz. No vs no futuro seu negro fadrio, cega divina que cegas de amor?!Ensina a teu filho desonra, misrias,A vida nos crimes a morte na dor. Que seja covarde... que marche encurvado...Que de homem se torne sombrio reptl.Nem core de pejo, nem trema de raivaSe a face lhe cortam com o ltego vil. Arranca-o do leito... seu corpo habitue-seAo frio das noites, aos raios do sol.Na vida s cabe-lhe a tanga rasgada!Na morte s cabe-lhe o roto lenol. Ensina-o que morda... mas prfido oculte-seBem como a serpente por baixo da chQue impvido veja seus pais desonrados,Que veja sorrindo mancharem-lhe a irm. Ensina-lhe as dores de um fero trabalho...Trabalho que pagam com ptrido po.Depois que os amigos aoite no tronco...Depois que adormea co'o sono de um co. Criana no trema dos transes de um mrtir!Mancebo no sonhe delrios de amor!Marido que a esposa conduza sorrindoAo leito devasso do prprio senhor! ... So estes os cantos que deves na terraAo msero escravo somente ensinar. Me que balanas a rede selvagemQue ataste nos troncos do vasto palmar.

  • III

    Me do cativo, que fias noite luz da candeia na choa de palha!Embala teu filho com essas cantigas...Ou tece-lhe o pano da branca mortalha. Manuela(cantiga do rancho) Companheiros! j na serra

    Erra.A tropa inteira a pastar...Tropeiros! ... junto candeia

    Eia!Soltemos nosso trovar ... T que as barras do Oriente

    RenteSaiam dos montes de l...Cada qual sua cantiga

    DigaAos ecos do Sincor.

    No rancho as noites se escoam.

    Voam,Quando geme o trovador...Ouvi, pois! que esta guitarra...

    NarraO meu romance de amor. ........................................... Manuela era formosa

    Rosa,Rosa aberta no serto...Com seu toro adamascado

    Dado

  • Ao sopro da virao. Provocante, mas esquiva,

    VivaComo um doudo beija-flor...Manuela a moreninha

    TinhaEm cada peito um amor ... Inda agora quando o vento

    LentoTraz-me saudades de entoParece que a vejo ainda

    LindaDo fado no turbilho Vejo-lhe o p resvalando

    BrandoNo fandango a delirar.Inda ao som das castanholas

    RolasDiante do meu olhar ... Manuela... mesmo agora

    ChoraMinh'alma Pensando em ti...E na viola relembro

    LembroTiranas que ento gemi. "Manuela, Manuela

    BelaComo tu ningum luziu...Minha travessa morena,

    PenaPena tem de quem te viu!... Manuela... Eu no perjuro!

    JuroPela luz dos olhos teus...Morrer por ti Manuela

    Bela,Se esqueces os sonhos meus.

  • Por teus sombrios olhares

    MaresOnde eu me afogo de amor...Pelas tranas que desatas

    MatasCheias de aroma e frescor ... Pelos peitos que entre rendas

    VendasCom medo que os vo roubar...Pela perna que no frio

    RioPude outro dia enxergar ... Por tudo que tem a terra,

    Serra,Mato, rio, campo e cu...Eu te juro, Manuela,

    BelaQue serei cativo teu ... Tu bem sabes que Maria,

    Fria pra outros, no pra mim...Que morrem Lcia, Joana

    E AnaAos sons do meu bandolim ... Mas tu s um passarinho

    NinhoFizeste no peito meu ...Eu sou a boca s o canto

    TantoQue sem ti no canto eu. Vamos pois A noite cresce

    DesceA lua a beijar a flor sombra dos arvoredos

    LedosOs ventos choram de amor

  • Vamos pois moreninhaMinha

    Minha esposa ali sersAo vale a relva tapiza

    PisaSero teus Paos-reais! Por padre uma rvore vasta

    Basta!Por igreja o azul do cu...Sero as brancas estrelas

    VelasAcesas pra o himeneu". Assim nos tempos perdidos

    IdosEu cantava mas em voManuela, que me ouvia,

    Ria,Casta flor da solido! Companheiros! se inda agora

    ChoraMinha viola a gemer, porque um dia... Escutai-me

    Dai-meSim! dai-me antes que beber!. . . que um dia mas bebamos

    VamosNo copo afogue-se a dor!Manuela, Manuela,

    Bela,Fez-se amante do senhor! FbulaO pssaro e a flor Era num dia sombrio

  • Quando um pssaro erradioVeio parar num jardim.A fitando uma rosa,Sua voz triste e saudosa,Ps-se a improvisar assim. " Rosa, Rosa bonita! Sultana favoritaDeste serralho de azul:Flor que vives num palcio,Como as princesas de Lcio,Como as filhas de 'Stambul. Corno s feliz! Quanto eu deraPela eterna primaveraQue o teu castelo contm...Sob o cristal abrigada,Tu nem sentes a geadaQue passa raivosa alm. Junto s esttuas de pedraTua vida cresce, medra,Ao fumo dos narguills,No largo vaso da ChinaDa porcelana mais finaQue vem do Imprio Chins. O Inverno ladra na rua,Enquanto adormeces nuaNa estufa at de manh.Por escrava tens a aragemO sol teu louro pajem.Tu s dele a castel. Enquanto que eu desgraado,Pelas chuvas ensopado,Levo o tempo a viajar, Bomio da mdia idade,Vou do castelo cidade,Vou do mosteiro ao solar! Meu capote roto e pobreMal os meus ombros encobre

  • Quanto gorra... tu bem vs! ...Ai! meu Deus! se Rosa foraComo eu zombaria agoraDos louros dos menestris!. . . ............................................ Ento por entre a folhagemAo passarinho selvagemA rosa assim respondeu:"Cala-te, bardo dos bosques!Ai! no troques os quiosquesPela cpula do cu. Tu no sabes que delriosSofrem as rosas e os lriosNesta dourada priso.Sem falar com as violetas.Sem beijar as borboletas,Sem as auras do serto. Molha-te a fria geada...Que importa? A loura alvoradaVir beijar-te amanh.Poeta, rompers logo,A cada beijo de fogo,Na cantilena lou. Mas eu?! Nas salas brilhantesEntre as tranas deslumbrantesA virgem me enlaarDepois cadver de rosaA valsa vertiginosaPor sobre mim rolar. Vai, Poeta... Rompe os aresCruza a serra, o vale, os maresDeus ao cho no te amarrou!Eu calo-me tu descansas,Eu rojo tu te levantas,Tu s livre escrava eu sou! ...

  • Estrofes do solitrio Basta de covardia! A hora soa...Voz ignota e fatdica revoa,

    Que vem... Donde? De Deus.A nova gerao rompe da terra,E, qual Minerva armada para a guerra,

    Pega a espada... olha os cus.

    Sim, de longe, das raias do futuro,Parte um grito, pra os homens surdo, obscuro

    Mas para os moos, no! que, em meio das lutas da cidade,No ouvis o clarim da Eternidade,

    Que troa n'amplido!

    Quando as praias se ocultam na neblina,E como a gara, abrindo a asa latina,

    Corre a barca no mar,Se ento sem freios se despenha o norte, impossvel parar... volver morte

    S lhe resta marchar.

    E o povo como a barca em plenas vagas,A tirania o tremedal das plagas,

    O porvir a amplido.Homens! Esta lufada que rebenta o furor da mais lbrega tormenta. .

    Ruge a revoluo.

    E vs cruzais os braos... Covardia!E murmurais com fera hipocrisia:

    preciso esperar...Esperar? Mas o qu? Que a populaa,Este vento que os tronos despedaa,

    Venha abismos cavar?

    Ou quereis, como o strapa arrogante,Que o porvir, n'ante-sala, espere o instante

    Em que o deixeis subir?!

  • Oh! parai a avalanche, o sol, os ventos,O oceano, o condor, os elementos...

    Porm nunca o porvir!

    Meu Deus! Da negra lenda que se inscreveCo'o sangue de um Lus, no cho da Grve,

    No resta mais um som!...Em vo nos deste, pra maior lembrana,Do mundo a Europa, mas d'Europa a Frana.

    Mas da Frana um Bourbon!

    Desvario das frontes coroadas!Na pgina das prpuras rasgadas

    Ningum mais estudou!E no sulco do tempo, embalde dormeA cabea dos reis semente enorme

    Que a multido plantou! ...

    No entanto fora belo nesta idadeDesfraldar o estandarte da igualdade,

    De Byron ser o irmo...E prdigo a esta Grcia brasileira,Legar no testamento uma bandeira,

    E ao mundo uma nao.

    Soltar ao vento a inspirao de GracoEnvolver-se no manto de 'Spartaco,

    Dos servos entre a grei;Lincoln o Lzaro acordar de novo,E da tumba da ignomnia erguer um povo,

    Fazer de um verme um rei!

    Depois morrer que a vida est completa, Rei ou tribuno, Csar ou poeta,

    Que mais quereis depois?Basta escutar, do fundo l da cova,Danar em vossa lousa a raa nova

    Libertada por vs ... O Navio Negreiro

  • (Tragdia no mar) 1 'Stamos em pleno mar... Doudo no espaoBrinca o luar dourada borboleta;E as vagas aps ele correm... cansamComo turba de infantes inquieta. 'Stamos em pleno mar... Do firmamentoOs astros saltam como espumas de ouro...O mar em troca acende as ardentias, Constelaes do lquido tesouro... 'Stamos em pleno mar... Dois infinitosAli se estreitam num abrao insano,Azuis, dourados, plcidos, sublimes...Qual dos dous o cu? qual o oceano?... 'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velasAo quente arfar das viraes marinhas,Veleiro brigue corre flor dos mares,Como roam na vaga as andorinhas... Donde vem? onde vai? Das naus errantesQuem sabe o rumo se to grande o espao?Neste saara os corcis o p levantam,Galopam, voam, mas no deixam trao. Bem feliz quem ali pode nest'horaSentir deste painel a majestade!Embaixo o mar em cima o firmamento...E no mar e no cu a imensidade! Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!Que msica suave ao longe soa!Meu Deus! como sublime um canto ardentePelas vagas sem fim boiando toa! Homens do mar! rudes marinheiros,Tostados pelo sol dos quatro mundos!Crianas que a procela acalentara

  • No bero destes plagos profundos! Esperai! esperai! deixai que eu bebaEsta selvagem, livre poesia,Orquestra o mar, que ruge pela proa,E o vento, que nas cordas assobia... .......................................................... Por que foges assim, barco ligeiro?Por que foges do pvido poeta?Oh! quem me dera acompanhar-te a esteiraQue semelha no mar doudo cometa! Albatroz! Albatroz! guia do oceano,Tu que dormes das nuvens entre as gazas,Sacode as penas, Leviathan do espao,Albatroz! Albatroz! d-me estas asas.

    2 Que importa do nauta o bero,Donde filho, qual seu lar?Ama a cadncia do versoQue lhe ensina o velho mar!Cantai! que a morte divina!Resvala o brigue bolinaComo golfinho veloz.Presa ao mastro da mezenaSaudosa bandeira acenaAs vagas que deixa aps. Do Espanhol as cantilenasRequebradas de langor,Lembram as moas morenas,As andaluzas em flor!Da Itlia o filho indolenteCanta Veneza dormente, Terra de amor e traio,Ou do golfo no regaoRelembra os versos de Tasso,Junto s lavas do vulco!

  • O Ingls marinheiro frio,Que ao nascer no mar se achou,(Porque a Inglaterra um navio,Que Deus na Mancha ancorou),Rijo entoa ptrias glrias,Lembrando, orgulhoso, histriasDe Nelson e de Aboukir.. .O Francs predestinado Canta os louros do passadoE os loureiros do porvir! Os marinheiros Helenos,Que a vaga jnia criou,Belos piratas morenosDo mar que Ulisses cortou,Homens que Fdias talhara,Vo cantando em noite claraVersos que Homero gemeu...Nautas de todas as plagas,Vs sabeis achar nas vagasAs melodias do cu!...

    3 Desce do espao imenso, guia do oceano!Desce mais ... inda mais... no pode olhar humanoComo o teu mergulhar no brigue voador!Mas que vejo eu a... Que quadro d'amarguras! canto funeral! ... Que ttricas figuras! ...Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!

    4 Era um sonho dantesco... o tombadilhoQue das luzernas avermelha o brilho.

    Em sangue a se banhar.Tinir de ferros... estalar de aoite...Legies de homens negros como a noite,

    Horrendos a danar...

  • Negras mulheres, suspendendo s tetasMagras crianas, cujas bocas pretas

    Rega o sangue das mes:Outras moas, mas nuas e espantadas,No turbilho de espectros arrastadas,

    Em nsia e mgoa vs!

    E ri-se a orquestra irnica, estridente...E da ronda fantstica a serpente

    Faz doudas espirais ...Se o velho arqueja, se no cho resvala,Ouvem-se gritos... o chicote estala.

    E voam mais e mais...

    Presa nos elos de uma s cadeia,A multido faminta cambaleia,

    E chora e dana ali! ................................................................. Um de raiva delira, outro enlouquece,Outro, que martrios embrutece,

    Cantando, geme e ri!

    No entanto o capito manda a manobra,E aps fitando o cu que se desdobra,

    To puro sobre o mar,Diz do fumo entre os densos nevoeiros:"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!

    Fazei-os mais danar!..."

    E ri-se a orquestra irnica, estridente. . .E da ronda fantstica a serpente

    Faz doudas espirais...Qual um sonho dantesco as sombras voam!...Gritos, ais, maldies, preces ressoam!

    E ri-se Satans!...

    5

    Senhor Deus dos desgraados!Dizei-me vs, Senhor Deus!

  • Se loucura... se verdadeTanto horror perante os cus?! mar, por que no apagasCo'a esponja de tuas vagasDe teu manto este borro?...Astros! noites! tempestades!Rolai das imensidades!Varrei os mares, tufo! Quem so estes desgraadosQue no encontram em vsMais que o rir calmo da turbaQue excita a fria do algoz?Quem so? Se a estrela se cala,Se a vaga pressa resvalaComo um cmplice fugaz,Perante a noite confusa...Dize-o tu, severa Musa,Musa librrima, audaz!... So os filhos do deserto,Onde a terra esposa a luz.Onde vive em campo abertoA tribo dos homens nus...So os guerreiros ousadosQue com os tigres mosqueadosCombatem na solido.Ontem simples, fortes, bravos.Hoje mseros escravos,Sem luz, sem ar, sem razo... So mulheres desgraadas,Como Agar o foi tambm.Que sedentas, alquebradas,De longe... bem longe vm...Trazendo com tbios passos,Filhos e algemas nos braos,N'alma lgrimas e fel...Como Agar sofrendo tanto,Que nem o leite de prantoTm que dar para Ismael. L nas areias infindas,

  • Das palmeiras no pas,Nasceram crianas lindas,Viveram moas gentis...Passa um dia a caravana,Quando a virgem na cabanaCisma da noite nos vus ......Adeus, choa do monte,...Adeus, palmeiras da fonte!......Adeus, amores... adeus!... Depois, o areal extenso...Depois, o oceano de p.Depois no horizonte imensoDesertos... desertos s...E a fome, o cansao, a sede...Ai! quanto infeliz que cede,E cai p'ra no mais s'erguer!...Vaga um lugar na cadeia,Mas o chacal sobre a areiaAcha um corpo que roer. Ontem a Serra Leoa,A guerra, a caa ao leo,O sono dormido toaSob as tendas d'amplido!Hoje... o poro negro, fundo,Infecto, apertado, imundo,Tendo a peste por jaguar...E o sono sempre cortadoPelo arranco de um finado,E o baque de um corpo ao mar... Ontem plena liberdade,A vontade por poder...Hoje... cm'lo de maldade,Nem so livres p'ra morrer. .Prende-os a mesma corrente Frrea, lgubre serpente Nas roscas da escravido.E assim zombando da morte,Dana a lgubre coorteAo som do aoute... Irriso!...

  • Senhor Deus dos desgraados!Dizei-me vs, Senhor Deus,Se eu deliro... ou se verdadeTanto horror perante os cus?!... mar, por que no apagasCo'a esponja de tuas vagasDo teu manto este borro?Astros! noites! tempestades!Rolai das imensidades!Varrei os mares, tufo!...

    6 Existe um povo que a bandeira emprestaP'ra cobrir tanta infmia e cobardia!...E deixa-a transformar-se nessa festaEm manto impuro de bacante fria!...Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira esta,Que impudente na gvea tripudia?Silncio. Musa... chora, e chora tantoQue o pavilho se lave no teu pranto!... Auriverde pendo de minha terra,Que a brisa do Brasil beija e balana,Estandarte que a luz do sol encerraE as promessas divinas da esperana...Tu que, da liberdade aps a guerra,Foste hasteado dos heris na lanaAntes te houvessem roto na batalha,Que servires a um povo de mortalha!... Fatalidade atroz que a mente esmaga!Extingue nesta hora o brigue imundoO trilho que Colombo abriu nas vagas,Como um ris no plago profundo!Mas infmia demais! ... Da etrea plagaLevantai-vos, heris do Novo Mundo!Andrada! arranca esse pendo dos ares!Colombo! fecha a porta dos teus mares!

  • Lciapoema Na formosa estao da primaveraQuando o mato se arreia mais festivo,E o vento campesino bebe ardenteO agreste aroma da floresta virgem...Eu e Lcia, corramos crianas Na veiga, no pomar, na cachoeira,Como um casal de colibris travessosNas laranjeiras que o Natal enflora. Ela era a cria mais formosa e meigaQue jamais, na Fazenda, vira o dia ...Morena, esbelta, airosa... eu me lembravaSempre da cora arisca dos silvadosQuando via-lhe os olhos negros, negrosComo as plumas noturnas da grana,Depois... quem mais mimosa e mais alegre?...Sua boca era um pssaro escarlateOnde cantava festival sorriso.Os cabelos caam-lhe aneladosComo doudos festes de parasitas...E a graa... o modo... o corao to meigo?l... Ai! Pobre Lcia... como tu sabias,Festiva, encher de afagos a famlia,Que te queria tanto e que te amavaComo se fosses filha e no cativa...Tu eras a alegria da fazenda;Tua senhora ria-se, contenteQuando enlaavas seus cabelos brancosCo'as roxas maravilhas da campina.E quando noite todos se juntavam,Aos reflexos doirados da candeia,Na grande sala em torno da fogueira,Ento, Lcia, sorrindo eu murmurava:"Meu Deus! um beija-flor fez-se criana...Uma criana fez-se mariposa!" Mas um dia a misria, a fome, o frio,

  • Foram pedir um pouso nos teus lares...A mesa era pequena... Pobre Lcia!Foi preciso te ergueres do banqueteDeixares teu lugar aos mais convivas... ________ Eu me lembro... eu me lembro... O sol raiava.Tudo era festa em volta da pousada...Cantava o galo alegre no terreiro,O mugido das vacas misturava-seAo relincho das guas que corriamDe crinas soltas pelo campo abertoAspirando o frescor da madrugada. Pela ltima vez ela chorandoVeio sentar-se ao banco do terreiro...Pobre criana! que conversas tristesTu conversaste ento co'a natureza. "Adeus! pra sempre, adeus, meus amigos,Passarinhos do cu, brisas da mata,Patativas saudosas dos coqueiros,Ventos da vrzea, fontes do deserto! ...Nunca mais eu virei, pobres violetas,Vos arrancar das moitas perfumadas,Nunca mais eu irei risonha e loucaRoubar o ninho do sabi choroso...Perdoai-me que eu parto para sempre!Venderam para longe a pobre Lcia!..." Ento ela apanhou do mato as floresComo outrora enlaou-as nos cabelos,E rindo de chorar disse em soluos:"No te esqueas de mim que te amo tanto..." ................................................................ Depois alm, um grupo, informe e vago,Que cavalgava o dorso da montanha,Ia esconder-se, transmontando o topo. . . Neste momento eu vi, longe... bem longe,

  • Ainda se agitar um leno branco...Era o lencinho tremulo de Lcia...

    Eplogo Muitos anos correram depois disto ...Um dia nos sertes eu caminhavaPor uma estrada agreste e solitria,Diante de mim ua mulher seguia, Co' o cntaro cabea ps descalos,Co'os ombros nus, mas plidos e magros ... Ela cantava, com uma voz extinta,Uma cantiga triste e compassada ...E eu que a escutava procurava, embalde,Uma lembrana juvenil e alegreDo tempo em que aprendera aqueles versos...De repente, lembrei-me. . . "Lcia! Lcia!"... A mulher se voltou ... fitou-me pasma,Soltou um grito. . . e, rindo e soluando,Quis para mim lanar-se, abrindo os braos.... Mas sbito estacou ... Nuvem de sangueCorou-lhe o rosto plido e sombrio ...Cobriu co'a mo crispada a face rubraComo escondendo uma vergonha eterna ...Depois, soltando um grito, ela sumiu-seEntre as sombras da mata ... a pobre Lcia! Prometeu

    mon auguste mre, et vous enveloppe de lacommune lumire, divin ther,voyez quels injustes tourments on me fait souffrir.Qui compatit cette grande souffrance, quis'approche du rocher dsert o setord Promthe? Quelques pauvres filles, piedsnus.

  • SQUILO Inda arrogante e forte, o olhar no sol cravado,Sublime no sofrer, vencido no domado,Na ltima agonia arqueja Prometeu.O Cucaso seu cepo; seu sudrio o cu,Como um brao de algoz, que em sangueira se nutre,Revolve-lhe as entranhas o pescoo do abutre.Pra as iras lhe sustar... corta o raio a amplidoE em correntes de luz prende, amarra o Tito. Agonia sublime! ... E ningum nesta horaConsola aquela dor, naquela angstia chora.Ai! por cm'lo de horror!... O Oriente golfa a luz,No Olmpo brinca o amor por entre os seios nus.De tirso em punho o bando das lbricas bacantes,Correm montanha e val em danas delirantes.E ao gigante cado... a terra e o cu (rivais!...)Prantos lascivos do... suor de bacanais. .................................................................................................................................................. Mas no! Quando arquejante em hrrido granitoSe estorce Prometeu, gigantesco precito,Vs, Nereidas gentis, meigas filhas do mar!O oceano lhe trazeis... pra em prantos derramar... Povo! povo infeliz! Povo, mrtir eterno,Tu s do cativeiro o Prometeu moderno...Enlaa-te no poste a cadeia das Leis,O pescoo do abutre o cetro dos maus reis.Para tais dimenses, pra msculos to grandes,Era pequeno o Cucaso... amarram-te nos Andes. E enquanto, tu, Tito, sangrento arcas a,O sculo da luz olha... caminha... ri... Mas no! mrtir divino, Enclado tombado!Junto ao Calvrio teu, por todos desprezado,A musa do poeta ir filha do mar O oceano de sua alma ... em cantos derramar ...

  • Vozes d'frica Deus! Deus! onde ests que no respondes?Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes

    Embuado nos cus?H dois mil anos te mandei meu grito,Que embalde desde ento corre o infinito...

    Onde ests, Senhor Deus?... Qual Prometeu tu me amarraste um diaDo deserto na rubra penedia

    Infinito: gal! ...Por abutre me deste o sol candente,E a terra de Suez foi a corrente

    Que me ligaste ao p...

    O cavalo estafado do BedunoSob a vergasta tomba ressupino

    E morre no areal.Minha garupa sangra, a dor poreja,Quando o chicote do simoun dardeja

    O teu brao eternal.

    Minhas irms so belas, so ditosas...Dorme a sia nas sombras voluptuosas

    Dos harns do Sulto.Ou no dorso dos brancos elefantesEmbala-se coberta de brilhantes

    Nas plagas do Hindusto.

    Por tenda tem os cimos do Himalaia...Ganges amoroso beija a praia

    Coberta de corais ...A brisa de Misora o cu inflama;E ela dorme nos templos do Deus Brama,

    Pagodes colossais...

    A Europa sempre Europa, a gloriosa! ...

  • A mulher deslumbrante e caprichosa,Rainha e cortes.

    Artista corta o mrmor de Carrara;Poetisa tange os hinos de Ferrara,

    No glorioso af! ...

    Sempre a lurea lhe cabe no litgio...Ora uma c'roa, ora o barrete frgio

    Enflora-lhe a cerviz.Universo aps ela doudo amanteSegue cativo o passo delirante

    Da grande meretriz.

    .................................... Mas eu, Senhor!... Eu triste abandonadaEm meio das areias esgarrada,

    Perdida marcho em vo!Se choro... bebe o pranto a areia ardente;talvez... p'ra que meu pranto, Deus clemente!

    No descubras no cho...

    E nem tenho uma sombra de floresta...Para cobrir-me nem um templo resta

    No solo abrasador...Quando subo s Pirmides do EgitoEmbalde aos quatro cus chorando grito:

    "Abriga-me, Senhor!..."

    Como o profeta em cinza a fronte envolve,Velo a cabea no areal que volve

    O siroco feroz...Quando eu passo no Saara amortalhada...Ai! dizem: "L vai frica embuada

    No seu branco albornoz. . . "

    Nem vem que o deserto meu sudrio,Que o silncio campeia solitrio

    Por sobre o peito meu.L no solo onde o cardo apenas medraBoceja a Esfinge colossal de pedra

    Fitando o morno cu.

  • De Tebas nas colunas derrocadasAs cegonhas espiam debruadas

    O horizonte sem fim ...Onde branqueia a caravana errante,E o camelo montono, arquejante

    Que desce de Efraim

    ....................................... No basta inda de dor, Deus terrvel?!, pois, teu peito eterno, inexaurvel

    De vingana e rancor?...E que que fiz, Senhor? que torvo crimeEu cometi jamais que assim me oprime

    Teu gldio vingador?!

    ........................................ Foi depois do dilvio... um viadante,Negro, sombrio, plido, arquejante,

    Descia do Arar...E eu disse ao peregrino fulminado:"Co! ... sers meu esposo bem-amado...

    Serei tua Elo. . . "

    Desde este dia o vento da desgraaPor meus cabelos ululando passa

    O antema cruel.As tribos erram do areal nas vagas,E o nmade faminto corta as plagas

    No rpido corcel.

    Vi a cincia desertar do Egito...Vi meu povo seguir Judeu maldito

    Trilho de perdio.Depois vi minha prole desgraadaPelas garras d'Europa arrebatada

    Amestrado falco! ...

    Cristo! embalde morreste sobre um monteTeu sangue no lavou de minha fronte

    A mancha original.Ainda hoje so, por fado adverso,

  • Meus filhos alimria do universo,Eu pasto universal...

    Hoje em meu sangue a Amrica se nutreCondor que transformara-se em abutre,

    Ave da escravido,Ela juntou-se s mais... irm traidoraQual de Jos os vis irmos outrora

    Venderam seu irmo. .............................................................. Basta, Senhor! De teu potente braoRole atravs dos astros e do espao

    Perdo p'ra os crimes meus!H dois mil anos eu soluo um grito...Escuta o brado meu l no infinito,Meu Deus! Senhor, meu Deus!!... Saudao a Palmares Nos altos cerros erguidoNinho d'guias atrevido,Salve! Pas do bandido!Salve! Ptria do jaguar!Verde serra onde os palmares Como indianos cocares No azul dos colmbios aresDesfraldam-se em mole arfar! ... Salve! Regio dos valentesOnde os ecos estridentesMandam aos plainos trementesOs gritos do caador!E ao longe os latidos soam...E as trompas da caa atroam...E os corvos negros revoamSobre o campo abrasador! ...

  • Palmares! a ti meu grito!A ti, barca de granito,Que no soobro infinitoAbriste a vela ao trovo.E provocaste a rajada,Solta a flmula agitadaAos uivos da marujadaNas ondas da escravido! De bravos soberbo estdio,Das liberdades paldio,Pegaste o punho do gldio,E olhaste rindo pra o val:"Descei de cada horizonte...Senhores! Eis-me de fronte!"E riste... O riso de um monte!E a ironia... de um chacal!... Cantem Eunucos devassosDos reis os marmreos paos;E beijem os frreos laos,Que no ousam sacudir ...Eu canto a beleza tua,Caadora seminua!...Em cuja perna flutuaRuiva a pele de um tapir. Crioula! o teu seio escuroNunca deste ao beijo impuro!Luzidio, firme, duro,Guardaste pra um nobre amor.Negra Diana selvagem,Que escutas sob a ramagemAs vozes que traz a aragemDo teu rijo caador! ... Salve, Amazona guerreira!Que nas rochas da clareira, Aos urros da cachoeira Sabes bater e lutar...Salve! nos cerros erguido Ninho, onde em sono atrevido,Dorme o condor... e o bandido!...

  • A liberdade... e o jaguar! Jesutas e frades Que o mundo antigo s'erga e lance a maldioSobre vs... remembrando a negra lnquisio,A hidra escura e vil da vil Teocracia,O Santo Ofcio, as provas, o azeite, a gemonia ...Lisboa, Tours, Sevilha e Nantes na tortura,Na fogueira Grandier, Joo Huss na sepultura,Colombo a soluar, a gemer Galileu...De mil autos-da-f o fumo enchendo o cu...Que a maldio vos lance a pena do GaulsTendo por tinta a borra das caldeiras de pez...Que o Germano a sangrar maldiz em frreos hinos. justo! . . .

    A Histria cega, aquentando o estileteNas brasas que apagar no pde o Guadalete,Tem jus de vos marcar com o ferro do labu,Como queima o carrasco o ombro nu do ru ... ..................................................................... Mas enquanto existir o grande, o novo mundo, Filhos de Jesus!... um cntico profundoIr vos embalar do sepulcro no solo...A Amrica por vs reza de plo a plo!Dizei-o, vs, dizei, Tamoios, Guaranis,Iroqueses, Tapuias, Incas, e Tupis...A santa abnegao, o herosmo, a doura,O amor paternal, a castidade puraDestes homens que vinham, envoltos no burel,A derramar dos lbios o amor divino mel,O perdo leo santo, a f mstica luz,E o Deus da caridade o prdigo Jesus! ... Oh! no! Mil vezes no! O poeta AmericanoVos deve sepultar no verso soberano

  • Pano negro que tem por lgrimas de prataAs lgrimas que a Musa inspirada desata!!! Se aqui houve cativos eles os libertaram.Se aqui houve selvagens eles os educaram.Se aqui houve fogueiras eles nelas sofreram.Se l carrascos foram c mrtires morreram.Em vez do Inquisidor tivemos a vedeta.Loiola aqui foi Nbrega, Arbues foi Anchieta! Oh! No! Mil vezes nol O poeta AmericanoVos deve amortalhar no verso soberano Pano negro que tem por lgrimas de prataAs lgrimas que a musa inspirada desata!.......................................................................... Frades Mel in ore, verba lactis,Fel in corde, fraus in factis. III Mas a mo que assim tece o linho aos ps da Glria?Como Hrcules tambm esmaga a hidra...E depois de aspergir o tum'lo dos herisPega de Juvenal na vergasta ferozE os monges hodiernos aoita sem piedadeComo o Divino Mestre o fez na antiguidade!... A bainha do punhalFragmento

    Salve, noites do Oriente,Noites de beijos e amor!

  • Onde os astros so abelhasDo ter na larga flor...Onde pende a meiga lua,Como cimitarra nuaPor sobre um dlm azul!E a vaga dos DardanelosBeija, em lascivos anelosAs saudades de 'Stambul. Salve, serralhos severosComo a barba dum Pax!Zimbrios, que fingem crniosDos crentes fiis de Al! ...Ciprestes que o vento agita,Como flechas de MesquitaEsguios, longos tambm;Minaretes, entre bosques!Palmeiras, entre os quiosques!Mulheres nuas do Harm!. Mas embalde a lua inclinaAs loiras tranas pra o choDesprezada concubina,J no te adora o sulto!Debalde, aos vidros pintados,Aos balces arabescados,Vais bater em doudo af...Soam tmbalos na sala...E a dana ardente resvalaSobre os tapetes do Ir!...

    ............................................................... O derradeiro amor de Byron

    Et, puisque tt ou tard l'amour huntain s'oublie,Il est d'une grande me et d'un heureux destin?D'aspirer comme toi pour un amour divin!

    ALFRED DE MUSSET

  • I Num desses dias em que o Lord erranteResvalando em coxins de seda mole...A laureada e plida cabeaSentia-lhe embalar essa condessa,Essa lnguida e bela Guiccioli ...

    II Nesse tempo feliz... em que RavenaVia cruzar o Child peregrino,Dos templos ermos pelo claustro frio...Ou longas horas meditar sombrioNo tmulo de Dante o Gibelino...

    III Quando aquela mo rgia de MadonaTomava aos ombros essa cruz insana...E do Giaour o lgubre segredo,E esse crime indizvel do ManfredoMadornavam aos ps da Italiana ...

    IV Numa dessas manhs... Enquanto a moaSorrindo-lhe dos beijos ao ressbio,Cantava como uma ave ou uma criana...Ela sentiu que um riso de esperanaAbria-lhe do amante lbio a lbio...

    V A esperana! A esperana no precito!A esperana nesta alma agonizante!E mais lvida e branca do que a ceraEla disse a tremer: "George, eu quiseraSaber qual seja... a vossa nova amante".

    VI

  • "Como o sabes?. . . " "Confessas?" "Sim! confesso. . . " "E o seu nome. . . " "Qu'importa?" "Fala Alteza!. . . " "Que chama douda teu olhar espalha,s ciumenta?. . . " "Mylord, eu sou de Itlia!" "Vingativa?. . . " "Mylord, eu sou Princesa!. . . "

    VII "Queres saber ento qual seja o arcanjoQue inda vem m'enlevar o ser corruto?O sonho que os cadveres renova,O amor que o Lzaro arrancou da covaO ideal de Sat?. . . " "Eu vos escuto!"

    VIII "Olhai, Signora... alm dessas cortinas,O que vedes?. . . " "Eu vejo a imensidade!. . . " "E eu vejo. .. a Grcia... e sobre a plaga erranteUma virgem chorando..." " vossa amante?..." "Tu disseste-o, Condessa!" a Liberdade!!!. . ." Adeus, meu canto

    I Adeus, meu canto! a hora da partida...O oceano do povo s'encapela.Filho da tempestade, irmo do raio,Lana teu grito ao vento da procela. O inverno envolto em mantos de geadaCresta a rosa de amor que alm se erguera...Ave de arribao, voa, anunciaDa liberdade a santa primavera. preciso partir, aos horizontesMandar o grito errante da vedeta.

  • Ergue-te, luz! estrela para o povo, Para os tiranos lgubre cometa. Adeus, meu canto! Na revolta praaRuge o clarim tremendo da batalha.guia talvez as asas te espedacem,Bandeira talvez rasgue-te a metralha. Mas no importa a ti, que no banqueteO manto sibarita no trajaste ,Que se louros no tens na altiva fronteTambm da orgia a coroa renegaste. A ti que herdeiro duma raa livreTomaste o velho arns e a cota d'armas;E no ginete que escarvava os valesA corneta esperaste dos alarmas. tempo agora pra quem sonha a glriaE a luta... e a luta, essa fatal fornalha,Onde referve o bronze das esttuas,Que a mo dos sec'los no futuro talha ... Parte, pois, solta livre aos quatro ventosA alma cheia das crenas do poeta!...Ergue-te luz! estrela para o povo,Para os tiranos lgubre cometa. H muita virgem que ao prostbulo impuroA mo do algoz arrasta pela trana;Muita cabea d'ancio curvada,Muito riso afogado de criana. Dirs virgem: Minha irm, espera:Eu vejo ao longe a pomba do futuro. Meu pai, dirs ao velho, d-me o fardoQue atropela-te o passo mal seguro ... A cada bero levars a crena.A cada campa levars o pranto.Nos beros nus, nas sepulturas rasas, Irmo do pobre vivers, meu canto.

  • E pendido atravs de dois abismos,Com os ps na terra e a fronte no infinito,Traze a bno de Deus ao cativeiro,Levanta a Deus do cativeiro o grito!

    II Eu sei que ao longe na praa,Ferve a onda popular,Que s vezes pelourinho,Mas poucas vezes altar.Que zombam do bardo atento,Curvo aos murmrios do ventoNas florestas do existir,Que babam fel e ironiaSobre o ovo da utopiaQue guarda a ave do porvir. Eu sei que o dio, o egosmo,A hipocrisia, a ambio,Almas escuras de grutas,Onde no desce um claro,Peitos surdos s conquistas,Olhos fechados s vistas,Vistas fechadas luz,Do poeta solitrioLanam pedras ao calvrio,Lanam blasfmias cruz. Eu sei que a raa impudenteDo escriba, do fariseu,Que ao Cristo eleva o patbulo,A fogueira a Galileu, o fumo da chama vasta,Sombra que o sculo arrasta,Negra, torcida, a seus ps;Tronco enraizado no inferno,Que se arqueia escuro, eterno,Das idades atravs. E eles dizem, reclinadosNos festins de Baltasar:

  • "Que importuno esse que cantaL no Eufrate a soluar?Prende aos ramos do salgueiroA lira do cativeiro,Profeta da maldio,Ou cingindo a augusta fronteCom as rosas d'AnacreonteCanta o amor e a criao. . ." Sim! cantar o campo, as selvas,As tardes, a sombra, a luz;Soltar su'alma com o bandoDas borboletas azuis;Ouvir o vento que geme,Sentir a folha que treme,Como um seio que pulou,Das matas entre os desvios,Passar nos antros braviosPor onde o jaguar passou; belo... E j quantas vezesNo saudei a terra o cu,E o Universo Bblia imensaQue Deus no espao escreveu?1Que vezes nas cordilheiras,Ao canto das cachoeiras,Eu lancei minha cano,Escutando as ventaniasVagas, tristes profeciasGemerem na escurido?! ... J tambm amei as flores,As mulheres, o arrebol,E o sino que chora triste,Ao morno calor do sol.Ouvi saudoso a viola,Que ao sertanejo consola,Junto fogueira do lar,Amei a linda serrana,Cantando a mole tirana,Pelas noites de luar! Da infncia o tempo fugindo

  • Tudo mudou-se em redor.Um dia passa em minha'almaDas cidades o rumor.Soa a idia, soa o malho,O ciclope do trabalhoPrepara o raio do sol.Tem o povo mar violento Por armas o pensamento,A verdade por farol. E o homem, vaga que nasceNo oceano popular,Tem que impelir os espritos,Tem uma plaga a buscarOh! maldio ao poetaQue foge falso profeta Nos dias de provao!Que mistura o tosco iamboCom o trio ditiramboNos poemas d'aflio! ... "Trabalhar!" brada na sombraA voz imensa, de Deus "Braos! voltai-vos pra terra,Frontes voltai-vos pros cus!"Poeta, sbio, selvagem,Vs sois a santa equipagemDa nau da civilizao!Marinheiro, sobe aos mastros,Piloto, estuda nos astros,Gajeiro, olha a cerrao!" Uivava a negra tormentaNa enxrcia, nos mastarus.Uivavam nos tombadilhos,Gritos insontes de rus.Vi a equipagem medrosaDa morte vaga horrorosaSeu prprio irmo sacudir.E bradei: "Meu canto, voa,Terra ao longe! terra proa! ...Vejo a terra do porvir!. . . "

  • III

    Companheiro da noite mal dormida,Que a mocidade vela sonhadora,Primeira folha d'rvore da vida.Estrela que anuncia a luz da aurora,Da harpa do meu amor nota perdida,Orvalho que do seio se evapora, tempo de partir... Voa, meu canto, Que tantas vezes orvalhei de pranto. Tu foste a estrela vsper que alumiaAos pastores d'Arcdia nos fraguedos!Ave que no meu peito se aqueciaAo murmrio talvez dos meus segredos.Mas hoje que sinistra ventaniaMuge nas selvas, ruge nos rochedos,Condor sem rumo, errante, que esvoaa,Deixo-te entregue ao vento da desgraa. Quero-te assim; na terra o teu fadrio ser o irmo do escravo que trabalha, chorar junto cruz do seu calvrio, bramir do senhor na bacanlia...Se vivo seguirs o itinerrio,Mas, se morto rolares na mortalha,Ters, selvagem filho da floresta,Nos raios e troves hinos de festa. Quando a piedosa, errante caravana,Se perde nos desertos, peregrina,Buscando na cidade muulmana,Do sepulcro de Deus a vasta runa,Olha o sol que se esconde na savanaPensa em Jerusalm, sempre divina,Morre feliz, deixando sobre a estradaO marco milirio duma ossada. Assim, quando essa turba horripilante,Hipcrita sem f, bacante impura,Possa curvar-te a fronte de gigante,Possa quebrar-te as malhas da armadura,

  • Tu deixars na lia o frreo guanteQue h de colher a gerao futura...Mas, no... cr no porvir, na mocidade,Sol brilhante do cu da liberdade. Canta, filho da luz da zona ardente,Destes cerros soberbos, altanados!Emboca a tuba lgubre, estridente,Em que aprendeste a rebramir teus brados.Levanta das orgias o presente,Levanta dos sepulcros o passado,Voz de ferro! desperta as almas grandesDo sul ao norte... do oceano aos Andes!!...

    Ncleo de Pesquisas em Informtica, Literatura e Lingstica

    O sculoAo romper d'alvaA viso dos mortosA cano do africanoMater dolorosaConfidnciaO sol e o povoTragdia no larO sibarita romanoA crianaA cruz da estradaBandido negroAmricaRemorsoO canto de Bug JargalA rf na sepulturaAntteseCano do violeiroSplicaO videnteA me do cativoManuelaFbulaEstrofes do solitrioO navio negreiroLciaPrometeuVozes d'fricaSaudao a PalmaresJesutas e fradesFradesA bainha do punhalO derradeiro amor de ByronAdeus, meu canto