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1 OS EFEITOS DO TREINAMENTO FUNCIONAL NA CAPACIDADE FUNCIONAL DE IDOSOS Luiz Ricardo de Lima Souza Aluno concluinte do CEDF/UEPA [email protected] Évitom Corrêa de Sousa Professor orientador do CEDF/UEPA [email protected] Resumo A pesquisa trata-se de uma revisão bibliográfica com as seguintes temáticas: Treinamento Funcional (TF), Capacidade Funcional (CF) e Envelhecimento. Este estudo tem como objetivo apontar os efeitos do TF na melhoria e manutenção da CF de idosos, analisados a partir de artigos em revistas científicas associadas ao periódico da Qualis Capes, alguns artigos suplementares e livros sob o olhar de diferentes autores da área do treinamento. Exemplificou-se estratégias e/ou possibilidades do TF otimizar os níveis de funcionalidade necessárias aos idosos. Abordou-se, também, algumas discussões a cerca da diferenciação do TF e o treinamento de força tradicional e suas relações com a força muscular, o equilíbrio, a propriocepção e a flexibilidade relacionadas à CF de idosos, além de apontar curiosidades sobre o core training e desmistificar mitos desta área. Conclui-se que tanto o treinamento de força, quanto o TF proporcionam excelentes condições de desenvolver a CF de idosos, diminuindo os efeitos deletérios do envelhecimento, através do restabelecimento das variáveis da aptidão física. Palavras-chave: Treinamento Funcional. Capacidade Funcional. Envelhecimento. INTRODUÇÃO A incidência de doenças crônicas, assim como a população da terceira idade vem aumentando consideravelmente. As doenças crônicas têm acometido principalmente a população idosa causando limitações funcionais (MANTOVANI, 2007; ALVES, 2007; MATSUDO, 2001). Anualmente, cerca de 650 mil novos idosos são inseridos na população brasileira, alguns com limitações funcionais e a maioria com doenças crônicas. Em decorrência da violência e outros problemas socioeconômicos, os jovens estão morrendo precocemente e os idosos estão atingindo idades cada vez maiores, principalmente pelos avanços da medicina, notadamente, em países desenvolvidos. Possibilitando assim, o aparecimento de doenças crônicas que perduram por anos na sociedade, necessitando de gastos com medicação,

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OS EFEITOS DO TREINAMENTO FUNCIONAL NA CAPACIDADE FUNCIONAL DE IDOSOS

Luiz Ricardo de Lima Souza Aluno concluinte do CEDF/UEPA

[email protected] Évitom Corrêa de Sousa

Professor orientador do CEDF/UEPA [email protected]

Resumo A pesquisa trata-se de uma revisão bibliográfica com as seguintes temáticas: Treinamento Funcional (TF), Capacidade Funcional (CF) e Envelhecimento. Este estudo tem como objetivo apontar os efeitos do TF na melhoria e manutenção da CF de idosos, analisados a partir de artigos em revistas científicas associadas ao periódico da Qualis Capes, alguns artigos suplementares e livros sob o olhar de diferentes autores da área do treinamento. Exemplificou-se estratégias e/ou possibilidades do TF otimizar os níveis de funcionalidade necessárias aos idosos. Abordou-se, também, algumas discussões a cerca da diferenciação do TF e o treinamento de força tradicional e suas relações com a força muscular, o equilíbrio, a propriocepção e a flexibilidade relacionadas à CF de idosos, além de apontar curiosidades sobre o core training e desmistificar mitos desta área. Conclui-se que tanto o treinamento de força, quanto o TF proporcionam excelentes condições de desenvolver a CF de idosos, diminuindo os efeitos deletérios do envelhecimento, através do restabelecimento das variáveis da aptidão física. Palavras-chave: Treinamento Funcional. Capacidade Funcional. Envelhecimento. INTRODUÇÃO

A incidência de doenças crônicas, assim como a população da terceira

idade vem aumentando consideravelmente. As doenças crônicas têm

acometido principalmente a população idosa causando limitações funcionais

(MANTOVANI, 2007; ALVES, 2007; MATSUDO, 2001).

Anualmente, cerca de 650 mil novos idosos são inseridos na população

brasileira, alguns com limitações funcionais e a maioria com doenças crônicas.

Em decorrência da violência e outros problemas socioeconômicos, os jovens

estão morrendo precocemente e os idosos estão atingindo idades cada vez

maiores, principalmente pelos avanços da medicina, notadamente, em países

desenvolvidos. Possibilitando assim, o aparecimento de doenças crônicas que

perduram por anos na sociedade, necessitando de gastos com medicação,

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cuidados constantes e exames periódicos. O número de idosos no Brasil

cresceu cerca de 700% em menos de 50 anos, passou de 3 milhões, em 1960,

para 7 milhões, em 1975, e 20 milhões em 2008, tornando assim, o Brasil

conhecido como um” jovem país de cabelos brancos” (VERAS, 2009).

A limitação funcional ou incapacidade funcional caracteriza-se pela

dificuldade no desempenho de alguns gestos e atividades diárias na vida dos

idosos. Portanto, a ausência da Capacidade Funcional (CF) refere-se à

dificuldade de realizar tarefas do cotidiano de forma autônoma, tornando-os

mais independentes e alcançando melhorias na qualidade de vida (FRANCHI

et al., 2008; ROSA et al., 2003).

O envelhecimento pode ser definido como um processo dinâmico e

progressivo, que gera alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas. De

acordo com alguns gerontólogos, acredita-se que a perda de qualidade de vida

dos idosos no Brasil é causada pelo estilo de vida sedentário, ocorrendo uma

diminuição de variáveis importantes para a sua melhoria funcional, como: força,

potência, flexibilidade e equilíbrio. (GLERIA; SANDOVAL, 2011 apud

BANDEIRA, 2009; REBELATTO, 2006; PEREIRA; TEIXEIRA; ETCHEPARE,

2006; OSUTO).

Nessa perspectiva, apontam-se déficits funcionais que acompanham o

processo de envelhecimento, caracterizado pela perda de força muscular,

potência, flexibilidade, equilíbrio, entre outros fatores que estão relacionados à

funcionalidade do ser humano. E essa funcionalidade, principalmente em

idosos, será gradativamente reduzida durante a vida, caso não seja estimulada

adequadamente através de atividades físicas frequentes (REBELATTO, 2006).

Tem sido recomendado que o idoso pratique atividade física como forma

de manter sua funcionalidade. Dentre as atividades mais praticadas,

encontram-se a ginástica, caminhada, hidroginástica, dança, dentre outras.

Entretanto, na atualidade, uma das alternativas para atingir melhorias na

funcionalidade é a utilização do Treinamento Funcional (TF) (MONTEIRO;

EVANGELISTA, 2012; PEREIRA, 2009).

O TF pode ser entendido como uma modalidade do treinamento

resistido, portanto, utilizar o treinamento resistido com o objetivo de melhorar

algumas atividades como o equilíbrio, força muscular, potência, coordenação

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motora e flexibilidade através do TF é proporcionar ao idoso uma possibilidade

de adquirir capacidades funcionais perdidas durante o processo de

envelhecimento. Este trabalho específico, assim como outros tipos de

treinamento, trazem uma melhora na eficiência morfológica e funcional de

idosos, no entanto o TF gera melhores resultados no desempenho e na

independência dos idosos nas atividades de vida diárias, proporcionando aos

mesmos, mais qualidade de vida.

A pesquisa trata de um estudo bibliográfico, exploratório e descritivo de

abordagem quantitativa e enfoque epistemológico nomotético (GIL, 2010). A

amostra foi composta por artigos publicados e disponíveis na íntegra, em

português e inglês entre 1997-2013 e artigos suplementares. Foram critérios de

exclusão, a falta do artigo na íntegra “online” e a completa ausência dos

descritores citados anteriormente. Os artigos foram lidos e examinados, e

aqueles que atendiam aos objetivos propostos, foram incluídos.

O referente estudo apresentará, de forma objetiva, a busca dos efeitos

deste tipo de treinamento para a melhoria da CF, apontados por diversos

autores da área do treinamento.

1 O ENVELHECIMENTO

A expectativa de vida no mundo se elevou de 46,5 anos (1950-1955)

para 66 anos (2000-2005), isto se dá pela queda da taxa de natalidade e o

declínio da taxa de mortalidade. A longevidade só aumenta no mundo e o

número de idosos nos países desenvolvidos possivelmente chegará a setenta

milhões no ano de 2030 (PAULA, 2010).

Antes de entendermos o envelhecimento, devemos saber o que é

qualidade de vida e quais relações se dá com a saúde do idoso. Paula (2010,

apud LEFÉVRE; LEFRÉVE, 2004) aponta que a saúde não é um termo óbvio,

evidente e muito menos autoexplicativo, a saúde não é só a ausência de

doença, mas sim, estar em harmonia consigo e com o meio. A Organização

Mundial de Saúde (OMS), em 1948, traz o conceito de saúde: “o estado, do

mais completo bem-estar físico, mental e social”.

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Oficialmente, o idoso é caracterizado quando atinge idade igual ou

superior a 65 anos, resididos em países desenvolvidos e 60 anos ou mais em

países em desenvolvimento (WHO, 2005; CARVALHO; FORTI, 2008 apud

PIRES; MATIELO JR; GONÇALVES, 1998; MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000;

MAZO; LOPES; BENEDETTI, 2001).

O envelhecimento é uma experiência heterogênea, diferenciando-se de

um ser humano para outro, não estando claro como se comporta o nosso corpo

neste processo, principalmente na sociedade brasileira que apresenta tantas

desigualdades sociais e regionais, relacionadas às condições de nutrição,

atividade física e meio ambiente. A principal característica do processo de

envelhecimento é o declínio, normalmente físico, que ocasiona alterações

sociais e psicológicas (MANTOVANI, 2007).

Dentre as correntes teóricas que estudam o envelhecimento, existem

algumas teorias que explicam este fenômeno, no entanto, duas linhas têm

destaque na comunidade científica. Uma defende que seu início dá-se antes do

nascimento, na vida intrauterina e continua ao longo de toda a vida. Já a

segunda, aponta que as perdas funcionais, características desse processo de

envelhecimento, iniciam-se após a maturação sexual e o período de

crescimento, prolongando-se por toda vida e em todos os membros daquela

espécie. (CARVALHO; FORTI, 2008 apud HAYFLICK, 1996; MATSUDO,

2001).

Com o processo de envelhecimento, inicia-se também o declínio

funcional do indivíduo com algumas alterações no organismo. Como por

exemplo, alterações antropométricas, articulares, auditivas, celulares,

cardiovasculares, digestivas, endócrinas, hepáticas, imunológicas,

reprodutoras, musculares, urinárias, nervosas, respiratórias, visuais, ósseas,

psicológicas e até mesmo na pele e nos pelos (BERTANI, CAMPOS,

CORAUCCI NETO, 2010; MANTOVANI, 2007, MATSUDO, 2001).

Com relação às alterações antropométricas, evidencia-se um aumento

do tecido adiposo distribuídos, centripetamente, no subcutâneo do tronco, ao

redor das vísceras e dos órgãos. Além de ocorrer à diminuição da massa

corpórea após os 60 anos de idade e da estatura do indivíduo que ao passar

dos anos pode permanecer inalterada até os 40 anos de idade. Para ocorrer

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esses acontecimentos é importante ressaltar fatores que se relacionam a essas

perdas, como: sedentarismo, fatores sociais, alterações morfológicas e o

catabolismo que está relacionado às doenças agudas e algumas doenças

crônicas. (BERTANI; CAMPOS; CORAUCCI NETO, 2010; MATSUDO, 2001).

Prosseguindo com as alterações provocadas pelo processo de

envelhecimento, citam-se as mais importantes relacionadas ao foco da

pesquisa onde se trata do equilíbrio, risco de quedas e sustentação do corpo:

musculares e ósseas.

A alteração muscular ocorre entre os 25 e 65 anos com uma diminuição

gradativa de massa magra (toda composição corporal, exceto gordura) por

conta das perdas de massa óssea, no músculo esquelético e de água corporal.

Sabe-se que o músculo é quem sofre a maior perda no processo de

envelhecimento (aproximadamente 40%). As principais causas para essa perda

muscular são apontadas com a diminuição nos níveis de hormônios de

crescimento induzidas pelo processo de envelhecimento e a diminuição no

nível de atividade física. Porém, não podemos deixar de citar outros fatores,

como: nutricionais, hormonais, endócrinos, neurológicos, entre outros

(MATSUDO, 2001).

A perda gradativa da massa do músculo esquelético e da força

ocorrendo com o avanço da idade, denomina-se sarcopenia. Esta perda

acontece em duas fases: uma mais lenta, entre 25 e 50 anos com decréscimo

em torno de 10% e uma mais rápida, entre os 50 e 80 anos com decréscimo

em torno de 40% (GLERIA; SANDOVAL, 2011 apud MORAIS, 2005; PAULA,

2010; TERNES; ZABOT, 2009; MATSUDO, 2001).

Para Bertani, Campos e Coraucci Neto (2010), a sarcopenia é

considerada a principal responsável pela deterioração da CF e mobilidade dos

senescentes, sendo repercutidas na saúde pública no mundo inteiro,

ocasionando consequências negativas no seu andar e equilíbrio, e ainda,

aumentando o maior risco de quedas e possíveis fraturas, a perda da

autonomia e o risco de desenvolver doenças crônicas, como a diabetes,

obesidade, osteoporose, hipertensão, etc.

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O fato é que o “envelhecer” é inevitável, Matsudo (2001) aponta como

devemos pensar este fato, que não só existem elementos negativos com

perdas e disfunções, mas sim positivos também com a maturidade humana.

2 CAPACIDADE FUNCIONAL

Para Andreotti; Okuma (1999) apud Spirduso (1995) os idosos são

classificados em níveis de CF, desde fisicamente dependentes até idosos

atletas.

É importante ressaltar o conceito de CF, definida por Bertani; Campos;

Coraucci Neto (2010) como a potencialidade de um indivíduo desempenhar

com eficiência, autonomia, independência e baixo risco de lesões às atividades

do dia-a-dia.

O acometimento nos idosos das chamadas incapacidades funcionais,

diminuem a independência e autonomia, tornando as tarefas diárias difíceis de

serem executadas (ROSA et al., 2009 apud SAYEG; MESQUITA, 2002).

Para Rosa et al. (2003, p. 41) “A incapacidade funcional define-se pela

presença de dificuldade no desempenho de certos gestos e certas atividades

da vida cotidiana ou mesmo pela impossibilidade de desempenhá-las”. E, pode

também ser caracterizada como uma dificuldade de realizar tarefas da vida

diária do indivíduo, buscando a sua independência de vida em sociedade. Já, a

CF é a potencialidade do indivíduo em realizar estas tarefas do cotidiano, sem

necessitar de nenhum tipo de auxílio, proporcionando maior qualidade de vida

(ALVES et al., 2007).

A principal hipótese é de que a CF é influenciada por fatores

demográficos, socioeconômicos, psicossociais e culturais. E por meio disto,

percebe-se a relação do comportamento com o estilo de vida, como ingerir

bebidas alcoólicas, fumar, fazer exercícios físicos, padecer de estresses

agudos ou crônicos, manter relações sociais como fatores explicativos da CF

(ROSA et al., 2003).

A CF torna-se um novo componente no modelo de saúde dos idosos,

pois envelhecer mantendo os níveis funcionais diminui os problemas na

velhice. Além disso, o comprometimento da CF influencia diretamente à família,

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a comunidade, o sistema de saúde e até mesmo o próprio idoso, pois o grau de

dependência na terceira idade auxiliada pela incapacidade contribui para

diminuição do bem-estar e qualidade de vida dos idosos (ALVES et al., 2007).

No entanto, outros autores apontam que a CF é uma importante

habilidade apresentada pela aptidão física em exercer tarefas que podem

garantir uma independência física e funcional e o bem estar global

(CARVALHO; ASSINI, 2008).

A aptidão física defini-se também como a capacidade de desempenhar

tarefas naturais e ou adquiridas por algum indivíduo, abordadas de duas

formas: aptidão física relacionada as habilidade esportivas e aptidão física

relacionada a saúde (GLANER, 2002 apud CASPERSEN; POWELL;

CHRISTENSON, 1985).

Segundo Marruci e Barbosa (2003 apud BILL et al., 2000; BENN et al.,

1996; BASSEY et al., 1992; BADLEY et al., 1984) apontam que a falta de CF

influi negativamente, devido ao aumento da dificuldade de realização e

execução no desenvolvimento de capacidades físicas, decorrentes do

envelhecimento. Indivíduos com baixo nível de força, equilíbrio e flexibilidade

apresentam níveis de CF inferiores aos demais, portanto esses indivíduos não

apresentam aptidão física necessária para executar tarefas importantes de sua

independência funcional (PARTAMIAN; ALMEIDA, 2008).

A flexibilidade caracteriza-se como uma valência física relacionada à CF

dos idosos e defini-se como qualidade motriz que depende da elasticidade

muscular e da mobilidade articular, expressa pela máxima amplitude de

movimentos necessária para a perfeita execução de qualquer atividade física

eletiva, sem que ocorram lesões anatomopatológicas (LEITE; NONAKA, 2009

apud FARINATTI, 2000).

Já a força muscular, considerada um dos componentes mais importantes

da aptidão física, pois na sua ausência os indivíduos não conseguem executar

nenhum movimento, nem se quer manter-se em pé (LEITE; NONAKA, 2009).

Para Fleck e Kraemer (1999, apud KNUTTGEN; KRAEMER, 1987, p. 20), força

muscular caracteriza-se pela “quantidade máxima de força que um músculo

pode gerar em um padrão específico de movimento e em uma determinada

velocidade de movimento”.

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Em indivíduos sedentários, observou-se que entre 20 e 30 anos atingem

um pico de força, que tende a cair gradativamente nos próximos 20 anos. A

perda de força muscular é percebida com maior grau de intensidade a partir

dos 65-70 anos, acometendo graves consequências motoras. Harries e Bassey

(1990) apontam um declínio de 15 % entre 60 e 70 anos, e após os 70 anos,

30% da força máxima é reduzida individualmente a cada década (REBELATTO

et al., 2006).

Esta perda de força muscular causa limitações funcionais nos idosos,

podendo ocorrer quadros patológicos associados ao crescimento da

mortalidade e morbidade, consequentemente, reduzindo os níveis de CF

necessários para desempenhar o mínimo de atividades independentes

(CARVALHO; SOARES, 2004).

Outro componente da aptidão física relacionado à funcionalidade e

saúde dos idosos é o equilíbrio, que é afetado sobre maneira pela redução da

força dos membros inferiores. No entanto, alguns fatores decorrentes do

processo de envelhecimento podem afetar a manutenção do equilíbrio (estático

e dinâmico), como: a deteriorização da visão e dos sistemas vestibular e

somatosensorial (CARVALHO; SOARES, 2004).

Entre 65 e 75 anos de idade, cerca de 30% dos idosos apresentam

sintomas de desequilíbrio, que é um dos principais fatores limitantes para a

realização correta das atividades funcionais pelos idosos. Pelo menos uma vez

por ano ocorrem quedas com essa população, portanto quanto maior a idade,

menor os níveis de equilíbrio e, consequentemente, maior será o risco de

acidentes (GLERIA; SANDOVAL, 2011 apud SILVA, 2008; RUWER; ROSSI;

SIMON, 2005; BOMFIM, 2004).

Contudo, a não otimização das variáveis relacionadas à CF é uma das

maiores causas de morte, hospitalização e morbidade na população idosa

acometendo mais lesões físicas e sequelas psicológicas. Representadas pelos

acidentes corriqueiros com este público em suas tarefas do dia-a-dia,

atribuindo-lhes uma condição comum que se associa com a diminuição da

mobilidade e um crescente risco de incapacidades funcionais (GOULART et al.,

2003).

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3 TREINAMENTO FUNCIONAL

Para muitos, TF é só um método de treinamento que visa à reabilitação

do aluno e ou paciente, afim de simplesmente recuperá-lo de algum tipo de

lesão ou trauma crônico. Entretanto, este método prescrito por professores de

educação física geram adaptações positivas no desempenho das atividades

laborais, do cotidiano, e em atividades esportivas.

O TF define-se como um novo conceito de treinamento especializado de

força, que se utilizam do próprio corpo como instrumento de trabalho e até

mesmo de outros recursos como, bolas suíças, elásticos, entre outros

instrumentos que causam instabilidades e desequilíbrios, causando benefícios

na propriocepção, força, flexibilidade, resistência muscular, coordenação

motora, equilíbrio e condicionamento cardiovascular (MONTEIRO;

EVANGELISTA, 2012; GLÉRIA; SANDOVAL, 2011 apud CAMPOS;

CORAUCCI NETO, 2004).

Este tipo de treinamento é definido como movimentos integrados,

multiplanares, que envolvem estabilização e produção de força. Mais

precisamente, são exercícios que mobilizam mais de um segmento ao mesmo

tempo, podendo ser realizados em diferentes planos e que também envolvem

em diferentes ações musculares (excêntrica, concêntrica e isométrica).

Utilizados em ambientes que possuam bases de suportes irregulares, como:

areia, pisos escorregadios, depressões no solo, step’s, minicama elástica, etc.

(MONTEIRO; EVANGELISTA, 2012; PEREIRA, 2009).

Desta maneira, entendemos que o TF é o método mais atual para obter

saúde geral e melhoria do condicionamento físico enfatizando o aprimoramento

da CF. Assim como em todos os tipos de treinamento deve-se respeitar os

princípios fundamentais do treinamento, e neste método de treinamento

especializado, chamaremos atenção para dois: a individualidade biológica e a

especificidade do treinamento. A observação adequada desses princípios torna

o TF mais eficiente e seguro em todos os aspectos (MONTEIRO;

EVANGELISTA, 2012; BERTANI; CAMPOS; CORAUCCI NETO, 2010).

Segundo Monteiro e Evangelista (2012) existe um núcleo que é a base

para todos os movimentos do corpo humano, este centro localiza-se nas

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proximidades da região lombo-sacra, a onde estão localizados um grupo com

29 músculos chamados de core, que promovem sustentabilidade da coluna

vertebral, da postura e de órgão internos.

Os músculos que compõem o core divide-se em dois grupos: internos

(transverso do abdômen, oblíquo interno, multifídio e os transversos espinhais

lombares e externos (reto do abdominal, oblíquo externo, eretores da coluna,

quadrado lombar, complexo adutor, quadríceps, isquiotibiais e glúteo máximo).

O core mantém o alinhamento postural e auxilia o equilíbrio postural dinâmico

durante as atividades funcionais (MONTEIRO; EVANGELISTA, 2012).

A instabilidade postural é uma das infinitas maneiras de se treinar a

região do core, e com essa instabilidade o corpo acaba, naturalmente,

estimulando adaptações neuromusculares pra a região do core. É por isso que

boa parte dos sistemas de core training trabalha com movimentos que incluem

instabilidade com instrumentos do tipo: Bola Suíça, Bosu, Liga, Corda, Banco

Rampa, etc. (MONTEIRO; EVANGELISTA, 2012; COUTINHO, 2011).

4 ANÁLISE E RESULTADOS

O TF tem como particularidade o treinamento do core (core training) que

pode trazer diversos benefícios aos idosos, pois se trata de um treinamento

diferenciado que proporciona recrutamento neural mais eficiente, a ativação do

sistema nervoso central com mais rapidez, uma melhor sincronização das

unidades motoras, uma redução dos reflexos neurais inibitórios e a estabilidade

postural, que através da ativação dos músculos da coluna vertebral combinado

com a capacidade de controle neural, e com isto, mantendo a amplitude dos

músculos paravertebrais dentro de um limite de segurança para permitir

atividades a serem realizadas durante a vida diária e/ou esportivas (HIBBS et

al., 2008).

Em relação aos músculos do core aponta-se uma curiosidade importante

de como se comportam durante a realização de algum movimento no corpo

humano. A musculatura envolvente da coluna vertebral responde antes mesmo que os músculos dos membros superiores e inferiores atuem durante os exercícios. Esta antecipação é pensada, justamente, para

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contribuir em uma estabilização da coluna vertebral, favorecendo em termos de

suporte físico contra as forças resultantes do movimento do corpo (HODGES;

RICHARDSON, 1999; HODGES; RICHARDSON, 1997).

A relação entre o início de execução dos membros superiores ou

inferiores, como o músculo deltóide e a atividade postural do reto abdominal,

oblíquo externo, oblíquo interno, transverso abdominal, eretores da espinha,

entre outros, com todos os níveis de direção do movimento é consistente com o

modelo hierárquico de coordenação entre o comando para os movimentos dos

membros e a antecipatória resposta postural. O tempo de reação de ambos os

grupos musculares sugere que a resposta postural pode ser controlada pelo

comando motor da execução dos movimentos dos membros (ALLISON;

MORRIS; LAY, 2008; HODGES; RICHARDSON, 1999).

O momento do aparecimento da “ativação” antecipatória postural da

musculatura abdominal é especifica a direção do movimento do membro, desta

forma, entre o comando para os movimentos dos membros e da resposta

postural é necessário iniciar a sequência apropriada de atividade muscular do

tronco. Com relação ao tempo de reação de movimentos dos membros e a

“resposta” antecipatória postural dos músculos abdominais, o movimento foi

relatado anteriormente (HODGES; RICHARDSON, 1999).

Portanto, fica evidente a resposta antecipatória dos músculos

envolventes da coluna vertebral, como o oblíquo externo, oblíquo interno, reto

abdominal, transverso abdominal, eretores da espinha, entre outros, que são

acionados com o comando dos membros superiores e inferiores durante a

realização de algum movimento.

Vale ressaltar, que esta capacidade de “resposta” antecipatória dos

músculos estabilizadores diminuem ou quase são inexistentes com indivíduos

sedentários, causando assim, dificuldades na estabilização da coluna, poden

do gerar possíveis traumas ao longo do tempo na realização de atividades da

vida diária.

Outra análise deste estudo discutida entre alguns autores é a que o

treinamento de peso pode influenciar positivamente ou negativamente na

flexibilidade. Segundo Weineck (1999) nos treinamentos de força, ocorre uma

redução de 5 a 13 % na capacidade de alongamento de músculos treinados,

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reduzindo assim, os níveis de flexibilidade num período de 48 horas do pós-

treino.

Para Wiemann e Hahn (1997), Monteiro e Farinatti (1996) aponta-se

uma redução dos níveis de flexibilidade após o treinamento de força. No

entanto, existem desacordos entre alguns autores que dizem não ter uma

padronização dos programas de treinamento, não ter uma quantidade reduzida

de exercícios executados, e além do mais, a ausência de um instrumento de

medida dos dados, entre outros, que descaracterizam essa teoria de que a

flexibilidade apresenta níveis de porcentagens reduzidos após o treinamento de

força (CYRINO et al., 2004).

Portanto, esta teoria não é muito aceita na comunidade científica, pois o

treinamento de força, como já foi dito anteriormente, apresentam indivíduos

treinados com níveis de flexibilidade ótimos. Segundo Trash e Kelly (1987), o

treinamento resistido, com ganhos de força muscular pode auxiliar no aumento

da flexibilidade e até mesmo na amplitude de determinadas articulações. E

além do mais, Todd (1985) afirma que existem poucas evidências ou estudos

científicos que favoreçam a teoria da qual a flexibilidade é reduzida com o

treinamento resistido, no máximo os níveis de treinamento serão mantidos, no

entanto, jamais serão reduzidos pelo treino de força. (CORTES et al., 2002).

Em um estudo científico, apontam-se melhorias na amplitude de

movimento nas articulações do tronco, ombro e tornozelo, mais precisamente,

na dorsiflexão do tornozelo e na extensão do ombro, sem nenhum tipo de

treinamento adicional de flexibilidade. Após treinamentos com peso, foram

analisados por Kelly e Trash em um programa de treinamento de 11 semanas,

ao quais todos os grupos musculares foram trabalhados, em três séries de oito

repetições de 8RM (Repetição Máxima). Concluindo assim, que o treinamento

de força não miniminiza os níveis de flexibilidade, pelo contrário, pode até

aumentar a amplitude de articulação de alguns movimentos (FLECK;

KRAEMER, 1999 apud KELLY; TRASH, 1987).

Segundo Cortes et al. (2002 apud BEEDLE et al.,1991), relatam que até

mesmo os levantadores olímpicos, atletas que utilizam o treinamento de força

como principal tipo de treinamento, apresentam níveis de flexibilidade

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medianos ou acima da média na maioria das articulações, e aliás, seus níveis

são tão elevados que só os ginastas são superiores.

A última discussão deste estudo, e considerada a mais importante, é a

relação entre TF e Treinamento “Tradicional” de Força. Na comunidade

acadêmica o treinamento “tradicional” de força é muito conhecido por seus

benefícios como: ganho de força, potência, condicionamento físico e no

desempenho em outras atividades físicas e/ou esportes. Portanto, muitos

estudiosos se perguntam por que trabalhar com o TF? Um dos argumentos

para responder este questionamento é que para realizar as tarefas da vida

diária deve-se treinar reproduzindo-as, e este meio se dá no TF, promovendo a

integração e funcionalidade dos movimentos. Outros argumentos são algumas

variáveis, como equilíbrio, coordenação motora e principalmente a

propriocepção que são mais estimuladas no TF do que com métodos

tradicionais, como a musculação (MONTEIRO; EVANGELISTA, 2012).

Para se obter um melhor entendimento sobre as característica dos

diferentes tipos de treinamento, mais precisamente entre o Treinamento

“Tradicional” Funcional e o TF, apresentaremos suas relações principalmente,

entre equilíbrio, propriocepção e força muscular, para analisar conjuntamente

entre os pesquisadores, qual seria o melhor treinamento utilizado pelos

indivíduos, de acordo com os objetivos desejados pelos mesmos.

O treinamento “tradicional” funcional ou treinamento de força ou

treinamento resistido ou treinamento de resistência tradicional ou o mais usual,

musculação, apresenta diversas características, como ganho de força

muscular, potência, equilíbrio, resistência, flexibilidade, coordenação.

Apresentam também, melhorias no desempenho motor, aceleração da síntese

proteica, maior deposição de cálcio nas áreas onde houve maior descarga de

peso sobre os ossos, mudanças na composição corporal, melhoria no

metabolismo basal nos indivíduos que praticam o treinamento. E maior

obtenção da CF para exercer atividades diárias, pois o treinamento de força

também é funcional e proporciona melhores condições de funcionalidade no

indivíduo verificado em benefícios da musculatura do core (SANTARÉM, 2013;

GUILHERME; JUNIOR, 2006)

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Um estudo de campo realizado por Andrades e Saldanha (2012),

apontou ganhos nos níveis de equilíbrio e propriocepção em alunas que

praticaram o TF durante 6 semanas, sendo cada treino com duração de 1 hora,

durante 3 vezes por semana. 30 mulheres na faixa etária de 20 a 58 anos,

saudáveis e fisicamente ativas praticantes de musculação da academia Pró

Corpo em Cidreira / RS no ano de 2009 foram submetidos em 2 grupos: o

grupo controle que praticou exercícios de musculação, apenas em máquinas,

e um grupo experimental que realizou um treinamento com ênfase na região do

core. Após as 6 semanas de treinamento, constatou-se após a avaliação de

equilíbrio e propriocepção no teste “Parada de Cegonha” um ganho de 294%

no grupo experimental com os olhos abertos e 275% com os olhos fechados e

nenhum ganho significativo no grupo controle.

Os benefícios que o TF proporciona ao equilíbrio e a propriocepção nos

indivíduos são evidentes, no entanto, o treinamento resistido utilizado no

estudo se deu apenas em máquinas, tornando minimamente eficaz este tipo de

treinamento no equilíbrio e propriocepção dos indivíduos, pois, vale ressaltar,

que o treino em aparelhos apenas “foca” o ganho nos níveis de força muscular.

Sabe-se, também, que o treinamento resistido não é ou não deveria ser

praticado apenas em aparelhos de musculação, mas sim em exercícios com

pesos livres, de estabilização e um maior estímulo à musculatura intra-

abdominal. Contudo, o estudo aponta com clareza a melhor eficiência do TF

nos níveis de equilíbrio e propriocepção do que a musculação realizada em

aparelhos, mas é claro que “musculação também é TF, apenas é necessário

saber utilizá-la”.

Em Monteiro e Evangelista (2012) exemplifica-se o estudo publicado

pela Revista da Sociedade Brasileira de Geriatria, que realizou uma análise

comparativa entre TF e treinamento de resistência tradicional. Os estudos

apontam que o TF obteve maior manutenção dos ganhos nas tarefas

funcionais do que o treinamento de resistência tradicional. No entanto, Monteiro

e Evangelista (2012 apud MACALUSO; DE VITO, 2004) apresentam a

discussão deste quadro em sua revisão bibliográfica que somente 3 dos 11

estudos utilizam-se de tarefas funcionais, e dos 3, apenas 2 apresentaram

resultados satisfatórios.

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E, além disso, Santos, Sousa e Moreira (2013) e Moreira et al. (2012)

apresentam estudos comparativos que confirmam a valorização e eficiência do

treinamento de força tradicional na CF de idosos. Portanto, não é evidente a

superioridade do TF em relação ao treinamento de força tradicional, mas sim,

talvez, essa manutenção dos ganhos por um período maior de tempo. E um

estudo mais recente de Martuscello et al. (2013) comprova que o treinamento

traidicional de força pode até se tornar mais eficiente que o próprio TF, onde

ele realizou uma revisão de literatura, que analisaram a ativação dos músculos

do core em diferentes exercícios. E ao final do estudo, percebeu-se que

exercícios básicos como o achamento e o levantamento terra obtiveram

resultados melhores que o treinamento do core (MARTUSCELLO et al. 2013).

Aliás, podemos inferir que a existência do TF está intimamente

relacionada à indústria midiática e o marketing do treinamento esportivo que

através de seu amplo poder de alienação, induziram leigos e até profissionais

da área de saúde de que o TF obtém resultados de equilíbrio, coordenação

motora e propriocepção mais avançados que o treinamento tradicional. No

entanto, o estudo acima infere que TF é o mesmo que o Treinamento de força,

e que esta indústria utilizou-se de uma jogada de marketing para vender

equipamentos utilizados no TF. Porém, é importante observar que está idéia

teve seu lado positivo, ao qual proporcionou um “ineditismo” com uma

variabilidade de treinamento e auxiliou na desmotivação de atletas que

praticam o treinamento de força (SANTOS; SOUSA; MOREIRA, 2012).

Contudo, o TF desenvolve melhorias fisiológicas, psicológicas,

morfológicas, bioquímicas e funcionais no idoso, que são desenvolvidas

através de adaptações produzidas por este treinamento. Além de produzir

aumento das variáveis da aptidão física, e consequentemente, maior CF em

realizar suas atividades diárias, com um aumento da força muscular, potência,

resistência, flexibilidade, equilíbrio, coordenação motora, condicionamento

cardiovascular, etc., consequentemente, diminuindo o risco de acidentes no

cotidiano do idoso. Apresentam também melhoras significativas nos aspectos

psicológicos, como: diminuição da ansiedade e do estresse, diminuição do

consumo de medicamentos, melhora das funções cognitivas e socialização

(SCOSS; SALVIANO, 2013; TERNES; ZABOT, 2009 apud SANTARÉM, 2004).

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Todavia, o TF apresenta praticamente, as mesmas relações de benefício

que o treinamento “tradicional” funcional, com um atenuante. Seus exercícios

diferenciados aplicam “maior sobrecarga no núcleo” (músculos do core), e por

isso ativam todos os músculos estabilizadores da coluna vertebral com mais

intensidade, consequentemente, as condições de equilíbrio e propriocepção

serão desenvolvidas com mais eficiência.

Portanto, o treinamento de força e o TF, apresentam características

muitos semelhantes, pois ambos promovem a funcionalidade no ser humano, e

melhores condições de vida para exercer atividades diárias e ou treinamentos

específicos em atletas. A relação entre equilíbrio e força é evidente nos

diferentes tipos de treinamento, pois ambos apresentam maiores níveis de

equilíbrio e força no pós-treino, no entanto, o treino de força obtém níveis

maiores de força muscular e o TF, maiores níveis de equilíbrio, coordenação

motora e propriocepção. Sobretudo, o tipo de treinamento utilizado dependerá

do objetivo que o aluno necessitará para obter um melhor desempenho físico e

mental nas suas atividades diárias.

CONCLUSÃO

O TF se tornou uma excelente ferramenta de trabalho para os

educadores físicos minimizarem acidentes no cotidiano do idoso, aumentando

seus níveis de equilíbrio, coordenação motora e propriocepção, níveis estes,

ainda mais estimulados que o próprio treinamento de força se trabalhado de

forma correta.

Esta pesquisa vem desmistificar a diferenciação entre o treinamento de

força e o TF. Pois, o conjunto de estudos demonstrou não existir pesquisas o

suficiente que apontem que o TF promove resultados mais eficientes que o

treinamento com peso. Existem estudos, até apontados na pesquisa, que

mostraram resultados melhores nos níveis de equilíbrio e propriocepção no TF

do que no treinamento de força, porém, esta pesquisa abordou apenas uma

forma de tratamento do treino de força, não eficaz para as variáveis avaliadas.

Portanto, é necessária a realização de mais estudos que comprovem esta

teoria, ao qual venho inferir que faltam maiores constatações científicas.

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Conclui-se que tanto o treinamento de força, quanto o TF proporcionam

excelentes condições de desenvolver a CF de idosos e diminui os efeitos

deletérios do envelhecimento, minimizando as quedas e auxiliando na

independência funcional de idosos em suas atividades da vida diária.

THE EFFECTS OF FUNCTIONAL TRAINING ON FUNCTIONAL

CAPACITY IN ELDERLY

Abstract The research it is a literature review with the following themes: Functional Training (TF), Functional Capacity (CF) and Aging. This study aims to point out the effects of TF in the improvement and maintenance of CF elderly, analyzed from scientific journal articles associated with the periodic Qualis Capes and books from the perspective of different authors in the area of training. Exemplified up strategies and / or possibilities TF optimize levels of functionality necessary for the elderly. Approached was also some discussion about the differentiation of TF and traditional strength training and their relationships with muscle strength, balance, proprioception and flexibility related to CF elderly, while pointing out curiosities about core training and demystify myths this area. We conclude that both strength training, as TF provide excellent conditions to develop CF elderly and reduces the deleterious effects of aging by restoring the physical fitness variables such as strength, balance, flexibility and proprioception. Keywords: Functional Training. Functional Capacity. Aging. REFERÊNCIAS ALISSON, G. T.; MORRIS, S. L.; LAY, B. Feedforward responses of transverses abdominis arte directionally specific and act asymmetrically: implications for core stability theories. Journal of Orthopaedic and Sports Physical Therapy, v.38, n.5, p. 228-237, May. 2008. ALVES, L. C. et al. A influência das doenças crônicas na capacidade funcional dos idosos do Município de São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 8, n. 23, p. 1924-1930, ago. 2007. ANDRADES, M. T. de; SALDANHA, R. P. Treinamento funcional: o efeito da estabilização do core sobre o equilíbrio e propriocepção de mulheres adultas saudáveis e fisicamente ativas. Revista Vento e Movimento, v.1, n.1, Abr. 2012. ANDREOTTI, R. A.; OKUMA, S.S. Validação de uma Bateria de Testes de Atividade de Vida Diária para Idosos Fisicamente Independentes. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo, v.13, n.1, p.46-66, Jan/Jun. 1999. BERTANI, R. F.; CAMPOS, M. de A.; NETO, B. Musculação: a revolução antienvelhecimento. Rio de Janeiro: Sprint, 2010.

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