Upload
phungkhuong
View
217
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA
OS DESAFIOS DA PRÁTICA DOCENTE NA ATUALIDADE
Maria Janete Nogueira Silva
MARTINS - RN
2016
Maria Janete Nogueira Silva
OS DESAFIOS DA PRÁTICA DOCENTE NA ATUALIDADE
Artigo Científico apresentado ao Curso de Pedagogia, na modalidade à distância, do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia, sob a orientação do professor Ms. Hélder Pacheco de Medeiros.
MARTINS - RN
2016
OS DESAFIOS DA PRÁTICA DOCENTE NA ATUALIDADE
Por
Maria Janete Nogueira Silva
Artigo Científico apresentado ao Curso de Pedagogia, na modalidade à distância, do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Ms. Hélder Pacheco de Medeiros (Orientador)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
_____________________________________________________
Profª. Antônia Costa de Andrade
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
______________________________________________________
Profª. Hiltnar Silva Muniz Rochael
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
4
OS DESAFIOS DA PRÁTICA DOCENTE NA ATUALIDADE
SILVA, Maria Janete Nogueira1
MEDEIROS, Helder Pacheco2
RESUMO Uma reflexão atual sobre a prática docente traz a tona uma série de desafios que os professores precisam superar para promover uma educação de qualidade. O estudo realizado nesse artigo objetiva elencar e discutir os principais desafios impostos atualmente à prática docente, analisando quais desses desafios estão presentes no dia a dia dos professores dos anos iniciais de duas escolas do município de Martins, Rio Grande do Norte: o Centro Educacional Raimunda Barreto e a Escola Estadual Almino Afonso. Para desempenhá-lo, realizou-se uma revisão bibliográfica de estudos já realizados que abordam essa temática, elaborando assim um referencial teórico capaz de fundamentar o estudo realizar. Logo após realizou-se uma série de entrevistas com os cinco professores dos anos iniciais que lecionam nas escolas acima descritas. Os resultados alcançados mostram que os professores do município de Martins encontram desafios semelhantes aos encontrados pelos demais professores brasileiros: desvalorização da profissão, indisciplina dos alunos, superlotação das salas de aula, ausência da família na escola, dentre outros. Porém, tais professores buscam sempre estratégias para superar tais desafios e ofertar sempre a melhor educação possível para as crianças do município de Martins. PALAVRAS-CHAVE: Docência. Educação. Desafios. ABSTRACT A current reflection on teaching practice brings up a series of challenges that teachers need to overcome in order to promote quality education. The study carried out in this article aims to present and discuss the main challenges currently faced by teachers, analyzing which of these challenges are present in the daily life of teachers from the initial years of two schools in the municipality of Martins, Rio Grande do Norte: Raimunda Educational Center Barreto and the Almino Afonso State School. To perform it, a bibliographical review of studies already carried out that approached this theme was carried out, thus elaborating a theoretical framework capable of supporting the study. Soon after a series of interviews with the five professors of the initial years that they taught in the schools described above were realized. The results show that teachers in the city of Martins find challenges similar to those found by other Brazilian teachers: devaluation of the profession, lack of discipline of students, overcrowding of classrooms, absence of family in school, among others. However, such teachers always seek strategies to overcome such challenges and always offer the best possible education for the children of the municipality of Martins.
1 Graduanda do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Email:
[email protected] 2 Mestre e Professor da Escola de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Professor Orientador do Curso de Pedagogia EAD – UFRN. E-mail: [email protected]
5
KEYWORDS: Teaching. Education. Challenges.
INTRODUÇÃO
Quando nos propomos a refletir sobre a função do docente na sociedade
moderna, nos deparamos com inúmeros obstáculos impostos a sua prática
pedagógica. O novo contexto educativo tem exigido do professor novas
competências, habilidades e atitudes, especialmente nos anos iniciais da educação
básica.
Prado et al (2013) destaca que, nesse cenário, o docente necessita ir além,
ultrapassando uma fundamentação técnica e fragmentada, para agir em situações
novas e problemáticas, que conduzam as ações decisórias e a capacidade de
iniciativa, através de uma postura flexível, permeada por uma visão sistêmica e
estratégica.
Essas novas situações representam desafios para a prática docente. Prova
disso é que, no dia a dia do professor, surgem contratempos capazes de prejudicar
a construção de conhecimentos, bem como o processo de ensino-aprendizagem. O
espaço, o mobiliário, os materiais didáticos, a indisciplina dos alunos, a falta de
planejamento e a ausência da família na escola são alguns dos fatores presentes
nos atuais contextos escolares que criam desafios para os docentes.
Diante desse cenário, realizou-se uma pesquisa com os professores dos anos
iniciais de algumas escolas do município de Martins, Rio Grande do Norte, que se
propôs a conhecer quais são os principais desafios enfrentados por eles ao
desempenharem sua prática pedagógica.
Discutir tais enfrentamentos se fez importante e necessário, tendo em vista o
constante surgimento de novas situações problema para os docentes solucionarem
e superarem.
O objetivo principal desse estudo foi elencar e discutir os principais desafios
impostos atualmente à prática docente, analisando quais desses desafios estão
presentes no dia a dia dos professores dos anos iniciais de duas escolas do
município de Martins, Rio Grande do Norte: o Centro Educacional Raimunda Barreto
e a Escola Estadual Almino Afonso.
Além do objetivo central, desejou-se ainda entender a visão dos professores
no que se refere ao papel que a escola, a família e o governo exercem nesse
6
cenário dificultoso; entender como os professores buscam agir quando se deparam
com alguma situação problemática; e traçar um paralelo entre a educação de hoje e
a educação ofertada no passado.
Para alcançar esse objetivo, foi realizado inicialmente um levantamento
bibliográfico, analisando artigos, revistas, livros e periódicos que tratam sobre o tema
escutado. Em seguida, foi realizada uma série de entrevistas com cinco professores,
constante de questões que serão capazes de sanar as dúvidas apontadas nos
objetivos gerais e específicos.
Encerrada a pesquisa, os resultados foram capazes de responder a seguinte
problemática: quais os principais desafios encontrados pelos professores de seres
iniciais que atuam nas escolas do município de Martins/RN?
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O PAPEL DA ESCOLA NO CONTEXTO ATUAL
A sociedade pós-moderna trás por marcas avanços de todos os tipos. Seja na
comunicação e na informática, seja nas transformações tecnológicas e científicas, o
avanço tem chegado cada vez mais rápido, e assim sendo, tem exigido da
sociedade uma capacidade muito maior de adaptação. Sendo a escola o centro de
formação de tal sociedade, esse avanço não poderia deixar de afetar o seu
cotidiano. De tal modo, é inquestionável o fato de que o papel da escola no contexto
atual tem se modificado.
Oliveira et al (2006, p. 4) destaca que a atitude nesse novo contexto deve ser
de intensificar cada vez mais os investimentos com educação “com o intuito de
enfrentar os desafios e o avanço acelerado da ciência e da tecnologia, da
mundialização, da economia, da transformação dos processos de produção, do
consumismo e do relativismo moral.”
Em um ambiente de mudanças tão tangentes, como este pelo qual passamos,
o objetivo da educação, e assim o sendo também das escolas, precisa ser
repensado. Neste cenário crítico, as escolas precisam propor e dispor uma formação
abrangente, capaz de compreender o ser humano em sua totalidade, envolvendo
não só suas dimensões cognitivas, mas também suas dimensões físicas, sociais e
econômicas. (LIBÂNEO, 2001)
7
Há, porém, pensadores que defendem outra vertente. Veiga (2000) afirma
que os problemas da educação – que refletem no dia a dia das escolas – são
sociais, portanto ao invés de apenas propor mudanças para a educação em si, deve-
se buscar realizar mudanças na própria sociedade.
O fundamental, no entanto, é que independente da vertente abraçada, fato é
que o objetivo da educação hoje necessita ser diferente. Não se pode mais pensar
escolas ou educação básica do mesmo modo como se pensava antigamente.
Quanto a esses objetivos, Libâneo (2001, p. 84) propõe a discussão alguns deles,
vendo-os como fundamentais para a estruturação de uma nova educação básica.
São eles:
Preparação para o mundo do trabalho em que a escola se organize para atender às demandas econômicas de emprego; Formação para a cidadania crítica, formando um cidadão-trabalhador capaz de interferir criticamente na realidade para transformá-la; Preparação para a participação social fortalecendo os movimentos sociais com o objetivo de viabilizar o controle público não estatal sobre o Estado; Formação ética que explicita valores e atitudes por meio das atividades escolares, para uma formação quanto a exploração que se mantém o capitalismo contemporâneo.
Diante de tais objetivos, surge portanto a necessidade de uma nova escola,
não podendo esta ser mais apenas um ambiente para transmissão de informações.
É preciso que as escolas transformem-se em locais de análises de mundo, bem
como de formação de críticas frente aos problemas da sociedade. É isso que o
mundo atual exige da educação.
Considerando os professores como agentes que promovem essa educação, é
preciso que eles mudem a sua prática. Essa mudança, infelizmente, tem aparentado
ser o grande desafio atual para a docência. Sobre isso, analisaremos mais a fundo
em seguida.
DOCÊNCIA: O CONTEXTO IDEAL VERSUS A REALIDADE DO TRABALHO
A figura do professor sempre foi entendida como necessária. Ao professor,
coube desde os mais remotos tempos a tarefa de garantir a emancipação pelo
saber, transmitindo conhecimentos e criando ambientes propícios para a
argumentação e para a criação de ideias. Sócrates, famoso pensador grego,
8
acreditava ser função do professor persuadir, seduzir as mentes mais jovens,
criando neles uma fome de conhecimento capaz de fazer a sociedade progredir.
No contexto atual, Gauthier e Martineau (1999) ainda defendem a ideia de
Sócrates. Para eles, o professor continua tendo como principal função persuadir o
jovem, despertando nele o desejo de aprender. E essa persuasão vai além da
técnica, sendo também um trabalho emocional. Cabe ao professor ouvir seu aluno,
estimulá-lo a dialogar e a utilizar o seu raciocínio para construir o seu saber. É nesse
ponto que a prática docente começa a encontrar dificuldades.
A prática docente sofreu influência durante a história. Uma dessas influências
merece um destaque especial: o início da modernidade. Como é de saber comum, o
período da modernidade foi marcado pelo surgimento das fábricas. Estas passaram
a exigir uma prática de ensino mais especifica. Era necessário que, ao terminar os
estudos, as pessoas possuíssem um currículo mínino, capaz de preparar os
estudantes para o novo mercado de trabalho. (SAVIANI, 2006)
O autor acredita ter sido nesse período que a ênfase do ensino deixou de ser
exclusivamente a aprendizagem e passou a ser o alcance de pontuações e de
resultados.
De lá para cá, a prática docente tem se afastado cada dia mais do contexto
de sedução defendido por Sócrates. Os professores têm encontrado grandes
dificuldades em sala de aula. Em 1992, Corina Dotti apresentou um estudo que
apontava uma triste realidade para a educação brasileira. Frente a essa realidade, a
autora apontava a necessidade que a sociedade possui de encontrar, como saída,
um culpado para tal situação. Dotti (1992, p. 24) diz que:
De início, projeta-se a culpa sobre a família e o aluno. Mas não para por aí. A procura vai além, chegando a recair sobre o professor e a escola. Nossa categoria [de professores] passa por uma desvalorização. Para a sociedade, somos incompetentes, descompromissados. A culpa está em todos, menos no poder que gera toda essa situação.
É nesse ponto que a classe pedagoga se encontra atualmente. Os
professores sentem-se desvalorizados, desrespeitados. A estrutura de governo não
facilita a prática docente, e assim sendo, prejudica a educação do país.
Para Arroyo (2004), a teoria aprendida na faculdade não prepara os futuros
professores para com o que realmente vão se deparar. Durante o curso, os
9
discentes não entram em contato com o real contexto das escolas. Assim sendo, ao
ingressarem nas escolas, esses estudantes se sentem perdidos, pois as imagens
que possuíam da educação e das escolas diferem em muito do que eles têm que
lidar.
A identidade profissional do professor
Comentado o contexto no qual a prática docente está inserida, vale comentar
também o modo como está se dá atualmente a identidade profissional do professor.
Vianna (1999, p. 52) afirma que:
A identidade é um processo de construção histórica reajustada ao longo das diferentes etapas da vida e de acordo com o contexto no qual a pessoa atua. É uma construção que exige constantes negociações entre tempos diversos do sujeito e ambientes ou sistemas nos quais ele está inserido.
O modo como o professor se identifica depende do contexto no qual ele está
inserido. As possibilidades, as problemáticas, os suportes e as obrigações definem a
identidade profissional de um professor. Nesse sentido, Pimenta (2002, p.7)
comenta que:
A identidade profissional do professor se constrói a partir da significação social da profissão. Constrói-se também, pelo significado que cada professor, enquanto ator e autor, confere à atividade docente de situar-se no mundo, de sua história de vida, de suas representações, de seus saberes, de suas angústias e anseios, do sentido que tem em sua vida: o ser professor. Assim, como a partir de sua rede de relações com outros professores, nas escolas, nos sindicatos, e em outros agrupamentos.
Considerando então que a identidade do professor é construída através da
significação social da profissão, podemos afirmar que a construção dessa identidade
passa por momentos difíceis.
Prado et al (2013, p. 6) contextualizam a prática docente em um ambiente
problemático. Dentre as dificuldades do cenário docente, destacam-se “as
dificuldades na interação social com os grupos onde trabalha, a insatisfação com as
condições de trabalho, a desvalorização social e os sentimentos de insegurança em
relação à sua integridade física.”
10
Unido a esse cenário estão as políticas públicas para a educação e o próprio
posicionamento do Estado, que por meio de suas práticas acaba criando um cenário
de incerteza para o professor. Sobre esse assunto, os autores continuam
comentando:
As reformas políticas educacionais implantadas pelo Estado elaboradas sem nenhuma participação dos professores cabendo a eles apenas executar, sem direito a refletir e discutir sobre relações que trarão conseqüências diretas para o seu trabalho vêm causando mudanças no cotidiano docente. O fazer do professor, sua autonomia e a identidade docente, que também está intimamente atrelada à instituição escolar, vêm sofrendo com essas decisões políticas da educação.
Embora se propague o contrário, o fato é que o contexto atual é de desafio.
Atualmente, o professor atua mais como “ensinante” do que como educador. O
professor vem perdendo espaço e respeito. Já não possui mais autonomia sobre sua
sala de aula e convive diariamente com a sensação de “mãos atadas”, vendo muito
pouco espaço de manobra. O desejo de inspirar já não é mais correspondido. A
identidade profissional do professor está em crise. As pessoas não desejam mais
serem professores. Ao contrário, se compadecem dos que desenvolvem essa árdua
missão. (ARROYO, 2004)
O ENSINO, O ALUNO E O TRABALHO DO PROFESSOR
A educação é um elemento fundamental para o ser humano, e a sua prática
existe desde muito antes da sua formalização. Como exposto, o papel do educador
remota de tempos antigos, do contexto grego.
Saviani (2013, p. 19) afirma que o papel do educador enquanto pedagogo
está fundamentado na condução ao saber e à cultura. Nesse sentido, a escola
passa a ser a instituição responsável por tal ensino e prática. Para o autor “cabe à
escola a identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos
indivíduos, concomitantemente à descoberta das formas mais adequadas para
atingir este objetivo.”
As ideias de Saviani corroboram com o pensamento já expresso por Paro
(1993). Em sua obra, o autor propaga que a prática pedagógica se expressa como
ação, reflexão e transformação do sujeito que dela participa. Não é estática, mas sim
11
passível de mudança e adaptação. O autor quer dizer que a prática pedagógica tem
o poder de se renovar diariamente, no contexto de sala de aula. Nesse sentido ele
escreve:
Nesse processo humano-social, a aula é momento privilegiado de transmissão/assimilação, em que algo permanecerá para além do ato de aprender. A transformação do aluno passa dessa forma pela sua condição não passiva e humana. Ele tem um papel no processo de produção pedagógico e dele participa na condição de produtor e co-produtor. (PARO, 1993, p. 103)
Cabe destacar que essa troca de interação favorece tanto o aluno quanto o
professor. O aluno serve para o professor de reflexo do contexto atual e assim
sendo atua como elemento capaz de nortear o seu trabalho. A interação professor-
aluno permite que o professor aperfeiçoe sua prática, crescendo assim como
profissional. E tal pensamento nunca foi tão atual.
Como mencionado, a realidade de sala de aula é um dos fatores que mais
assusta o professor recém formado. A faculdade prepara os pedagogos para a
teoria, mas a é no contexto de sala que aprendemos a prática. Ter, portanto, a
capacidade de – lidando com o aluno, aprendendo com ele – criar um ambiente
próprio e que, mesmo nas adversidades, é capaz de educar, é um dos desafios
incumbidos aos professores da contemporaneidade.
Ressalta-se porém que a prática pedagógica composta somente de artifícios
não é somente abstratos. Hagemeyer (2004, p. 73) destaca que:
O ensino, como ofício, é um conjunto de tarefas técnico-didáticas, decorrentes do conhecimento científico e de relações humanas estruturadas de determinada maneira na escola. O planejamento individual e coletivo, o contato com pais, participação de comissões, reuniões, elaboração de relatórios e informes escritos etc. engendra um mosaico de atividades que, na vivência de cada profissional, se organiza e ganha significado.
Considera-se aqui que o professor, no exercício de seus atributos, é capaz de
vivenciar ambos os aspectos, e que a sua prática docente será tão mais fácil quanto
for o seu entendimento da importância de ambos os aspectos destacados. O
professor precisa, para alcançar sucesso, dominar tanto a arte de ensinar quanto a
de formar. Ser capaz de enxergar os aspectos intangíveis de seu dia a dia, mas
12
também de saber lidar com as técnicas necessárias para realizar de modo
satisfatório o seu trabalho.
Baseado nesse contexto, Sacristán (1999, p. 48) escreveu:
Esclarecer as finalidades assumidas para a escolarização e descobrir como são vivenciadas na prática docente é penetrar nas razões mais profundas da ação da educação formal institucional. Nada, nem o pensamento cientificista e sua especialização fragmentária, é mais importante do que a função para a qual acreditamos que as escolas existem, já que sua razão de ser tem a ver com um projeto cultural e político. Os professores são principalmente agentes culturais e suas posições, aquilo que desenvolvem e acreditam que devem difundir, são determinantes para suas práticas.
Esse comentário mostra que o entendimento da dualidade pedagógica não é
recente, e portanto deve ser dominado para que o dia a dia do docente passe a
enfrentar menos adversidades.
EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E A PRÁTICA PEDAGÓGICA
A educação, enquanto ciência social, baseia-se na relação homem/sociedade.
Essa relação é sustentada pelo tripé família-escola-comunidade. Educar uma
criança exige, portanto, o empenho de cada um desses pilares.
A família é o ambiente onde todo o processo se inicia. É no núcleo familiar
que a criança começa a aprender. Aprende a se comunicar, aprende a andar,
começa a entender o que é certo e o que é errado. É dos pais a tarefa de preparar a
criança para o ambiente externo, além da família. Cabe a eles ensiná-las sobre
como se comportar, como lidar com as outras pessoas, como agir de acordo com o
que outras pessoas lhe propõem.
Depois do núcleo familiar, a criança é inserida no ambiente escolar, e neste a
prática não é tão diferente assim. Os professores, iniciando o contato com tais
crianças, são responsáveis por entendê-las, ver o modo como se portam e traçar
assim um perfil da criança. Esse perfil permite que o professor compreenda em que
nível aquela criança se encontra. Fato é que nem sempre os alunos são capazes de
se desenvolver no mesmo nível. Nesse sentido, Santos (2011, p. 4) escreve: “É
preciso compreender que a intervenção pedagógica deve estar associada ao
13
nivelamento apresentado por cada discente, a fim de promover não só a
aprendizagem programática, mas o senso crítico dentro da ação formadora.”
A dualidade aprendizagem programática e senso crítico é outro fator que deve
ser compreendido pelas escolas e, assim sendo, pelos professores. Acontece que a
escola, agindo como formadora do aprendizado das crianças, não deve se propor
apenas a transferir conteúdos, mas também a preparar aquela criança, entendendo-
a como cidadã capaz, que necessita compreender o mundo que a cerca. Paulo
Freire, famoso pensador da área pedagógica, sempre deixou claro esse
pensamento. Em sua obra “Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa” (1996, p. 23) ele destaca:
Ensinar, não é simplesmente transferir conteúdos pré-determinados, mas construir novos saberes necessários que representem um conjunto de princípios essenciais para a formação de conduta do indivíduo. É neste sentido que ensinar não é simplesmente transferir conhecimentos e conteúdos. É também ação pela qual um sujeito criado dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado.
O terceiro pilar que influencia a formação educativa de um indivíduo é o seu
meio, ou seja, a sua comunidade. Nela, a educação é construída através das
experiências vivenciadas. Assim o sendo, o processo de aprendizagem já não se
dará através das correntes sociais que exprimem a construção do conhecimento,
mas sim de tudo aquilo que é constituído a partir das necessidades de
sobrevivência. (SANTOS, 2011)
Para obter sucesso, um professor precisa adequar a sua prática respeitando
as influências de cada um desses pilares. Precisa compreender que a criança já
possui conhecimentos prévios, adquiridos tanto no seio da família como no próprio
dia a dia de comunidade, e tais conhecimentos fazem parte do seu mundo, e
influenciam a sua capacidade de aprender.
Para Santos (2011) a valorização desses elementos responsáveis por
construir o saber da criança fora do ambiente escolar é fundamental. Ele acredita, no
entanto, que tal valorização não está ocorrendo da maneira que deveria, e por isso a
prática pedagógica tem enfraquecido. Ao ver do autor:
A prática pedagógica atual não busca adequar a realidade do aluno com o que propõe à lógica do ensino. Neste sentido, todo esse processo de aprendizagem é atormentado por uma série de atributos
14
que desqualificam a prática docente dentro e fora da escola, a saber: à evasão, a repetência, as dificuldades de aprendizagem, a desmotivação, atitudes que enfraquecem a prática pedagógica e também a capacidade do professor de educar.
Esse é, portanto, mais um dos desafios enfrentados pelos docentes na
atualidade.
OS DESAFIOS DE SER PROFESSOR NA ATUALIDADE
A palavra que melhor define o contexto social atual é mudança. Nas ultimas
décadas o mundo tem vivenciado constantes mudanças, seja no meio social, seja
econômica ou culturalmente. Tais mudanças têm feito com que o mundo preste mais
atenção na educação, afinal é ela o ambiente norteador de toda a sociedade. Prado
et al (2013, p. 8) corrobora tal ideia ao afirmar que:
O mundo todo tem prestado mais atenção na educação, especialmente a que se desenvolve nos sistemas escolares, submetendo-a a uma análise pública constante. [Desse modo] educar tem se tornado uma tarefa cada vez mais exigente e de enorme responsabilidade. Isso requer equilíbrio e coerência entre orientação formativa, procedimentos pedagógicos adaptados e expectativas dos implicados no processo: o professor e o aluno.
Para adquirir esse equilíbrio, de modo a ofertar uma educação de qualidade
capaz de suprir o que dela se espera é preciso que o professor reúna
conhecimentos e competências que lhe sirvam de suporte. Tardif (2008) acredita
que tais conhecimentos devem ser construídos ao longo do tempo, através das
experiências vivenciadas pelos professores tanto no contexto profissional quanto no
contexto pessoal. Tais experiências sofrem influência de diversas dimensões. Sob a
ótica do autor, o saber docente se relaciona com a pessoa, com a sua identidade,
com a sua experiência de vida, com a sua história profissional, com as suas relações
com os alunos na sala de aula e com os outros.
Considerando esse cenário, fica claro que não é possível falar em
aprendizado sem considerar o professor, e considerar o professor significa
considerar também todas as dificuldades e desafios enfrentados pelos mesmos no
exercício de sua profissão.
15
Diversos autores têm pesquisado os desafios que a prática docente enfrenta
nessa nova era contemporânea, e cada um deles aponta os próprios desafios que
consideram como principais dificuldades enfrentadas pelos professores no contexto
atual.
Hagemeyer (2004) aponta três problemáticas que, ao seu ver, tem dificultado
a prática docente dos professores. O primeiro se refere ao posicionamento dos
governos, ao tratar sobre educação. Para ele a relação vertical adotada pelos
órgãos oficiais educacionais ao propor reformas e novas propostas educacionais
vêm dificultando as ações do professor, pois afasta-o das discussões próprias de
suas funções.
O segundo aspecto destacado pelo autor se refere relação professor - aluno.
Para ele, essa nova era renovou o modo como se dá o acesso aos conteúdos. Hoje,
a internet agiliza todo e qualquer processo de comunicação, e essa mudança atua
diretamente sobre a personalidade dos alunos. Há uma pluralidade infinita de grupo,
tribos, valores e maneiras, e nesse cenário o professor se encontra tencionado a
rever toda a sua prática, a pensar em como redimensionar suas funções frente à
validação de todas as formas de ser e estar na sociedade.
Por fim, o autor destaca como desafio o que chama de “mal-estar docente”.
Esse termo se refere ao conjunto de reações dos professores, como classe
profissional, frente a uma mudança social desajustada, no sentido profissional. Esse
desajuste possui fatores e primeira ordem, incidentes de maneira direta sobre a
ação dos professores (por exemplo, imposições administrativas) provocando
sentimentos negativos nos professores; e de segunda ordem, considerando as
condições ambientais do contexto onde exerce a docência (falta de tempo, material
adequado, excesso de alunos, condições salariais precárias), com ação direta sobre
a motivação e desempenho na função.
Ramos (2013) ao expressar seu ponto de vista, expõe que o principal desafio
da prática docente é exatamente a falta de incentivo para que ela continue a existir.
Para ele o cenário é de desvalorização. Segundo pesquisa realizada pelo mesmo,
apenas 2% dos jovens desejam seguir carreira docente, e essa desmotivação em
relação à profissão provoca um incontestável déficit de professores. A sociedade
enxerga na profissão docente uma profissão mal remunerada, que oferece pouca
oportunidade de crescimento, não possui um bom plano de carreira e não possui
boas condições de trabalho. A de se considerar que tal cenário não faz da profissão
16
docente alvo de desejo. Isso reflete diretamente na desmotivação dos profissionais e
em outro aspecto que também deve ser considerado: a superlotação das salas de
aula. Faltam profissionais, mas não faltam alunos. É uma matemática que não bate.
A esses desafios, Simas (2009) ainda acrescenta outros, comuns ao dia a dia
de sala. Na lista dos grandes desafios a serem encarados hoje dentro da escola
constam a indisciplina, as dificuldades de aprendizagem, os problemas psicológicos
e comportamentais. Todos esses desafios são frutos de um problema maior: a
formação pedagógica dos professores no Brasil não se preocupa em conciliar teoria
e prática.
A autora destaca que o currículo do curso de Pedagogia e das licenciaturas
sofre algumas modificações de acordo com cada instituição, mas de maneira geral a
carga horária dedicada a disciplinas como Psicologia da Educação e Fundamentos
da Educação Especial é insuficiente para capacitar o professor para lidar com as
dificuldades que aparecem em sala de aula. Assim sendo, os professores – ao se
depararem com situações adversas em sala – não se sentem preparados.
É comum para os professores encontrar crianças com dificuldade de
aprendizagem e problemas psicológicos, mas os professores não são preparados
para lidar com esses cenários durante a graduação. A pedagoga e especialista em
formação de professores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Verônica
Branco, quando entrevistada por Simas afirmou acreditar que a falta de prática
dentro de sala de aula durante a graduação é um fator fundamental que compromete
o desempenho do professor depois de formado. Não estando preparado, qualquer
cenário que fuja ao convencional se transforma em um grande desafio para o
docente.
Prado (2013, p. 8) sintetiza todo esse cenário ao realizar a seguinte
afirmativa:
Ao professor têm sido colocadas demandas de naturezas bastante distintas. Em se tratando do ponto de vista social ele tem tido que aprender a conviver mais intensamente com os interesses e pensamento dos alunos e pais no cotidiano escolar e a ter uma maior interação com a comunidade onde a escola está inserida. No campo institucional, ele tem sido solicitado a participar mais ativamente nas definições dos rumos pedagógicos e políticos da escola, a definir recortes adequados no universo de conhecimentos a serem trabalhados em suas aulas, a elaborar e gerir projetos de trabalho. Quanto ao aspecto pessoal, tem sido chamado a tomar decisões de modo mais intenso sobre seu próprio percurso formador e
17
profissional, a romper paulatinamente com a cultura de isolamento profissional, a partir da ampliação da convivência com colegas em horários de discussões coletivas e nos trabalhos em projetos, a debater e reivindicar condições que permitam viabilizar a essência do próprio trabalho.
Entendendo, portanto, que os desafios são diversos, e percebidos de maneira
diferente por cada cenário, vale estudar um cenário mais próximo, entendendo como
esses desafios estão articulados num ambiente mais micro.
METODOLOGIA
O objetivo principal do estudo apresentado nesse artigo é elencar e discutir os
principais desafios impostos atualmente à prática docente, analisando quais desses
desafios estão presentes no dia a dia dos professores dos anos iniciais de duas
escolas do município de Martins, Rio Grande do Norte: o Centro Educacional
Raimunda Barreto e a Escola Estadual Almino Afonso.
A pesquisa realizada para alcançá-lo apresenta um enfoque qualitativo, pois
não reduz os processos e fenômenos à quantificação. Enquanto pesquisa
qualitativa, manteve o foco nos aspectos subjetivos do objeto analisado, estudando
as suas experiências pessoais.
Tais objetos foram os professores dos anos iniciais que atuam em escolas do
município de Martins, estado do Rio Grande do Norte. Foram estudados cinco
professores, selecionados de maneira não probabilísticas, seguindo o critério de
conveniência e acessibilidade. Para Marôco (2011) essa técnica costuma ser
adotada quando o pesquisador seleciona aleatoriamente indivíduos para compor um
estudo.
Antes, porém, da realização das entrevistas que norteiam as análises e
conclusões desse estudo, realizou-se uma revisão bibliográfica de estudos já
realizados que abordam essa temática, elaborando assim um referencial teórico
capaz de fundamentar o estudo.
ANÁLISES E DISCUSSÕES
A análise agora apresentada tomou por base uma série de entrevistas
realizadas com professores de duas escolas do município de Martins, Rio Grande do
18
Norte: a Escola Estadual Almino Afonso e o Centro Educacional Raimunda Barreto.
Ao todo, forma entrevistados cinco professores.
O perfil dos professores entrevistados se dá da seguinte forma: apenas um
dos cinco entrevistados é do sexo masculino; apenas um dos entrevistados possui
menos de quarenta anos de idade e apenas um deles não possui especialização.
Dentre as especializações obtidas, duas são em Educação Infantil, uma em Mídias
na Educação e uma em Psicopedagogia. Quatro dos professores entrevistados
estão a, no mínimo, dez anos em sala de aula.
A fundamentação teórica desse estudo abordou diversas vezes a importância
dos professores manterem sempre uma atualização de seus conhecimentos, por
meio de um processo de formação continuada. A entrevista iniciou, portanto,
buscando descobrir a opinião dos professores acerca dessa importância. Todos os
professores concordam que é importante para a sua prática manter um processo de
formação continuada.
Um dos entrevistados destacou que é através da formação continuada que o
professor consegue se aperfeiçoar e se preparar para enfrentar os desafios da sala
de aula. Outro afirmou que: “No mundo cheio de avanços tecnológico e tantos
recursos ao alcance de todos, é imprescindível que o professor tenha uma formação
continuada, atualizando assim a sua prática.
Em seguida, perguntou-se aos professores se eles consideravam haver
dificuldades para exercer a sua profissão. Todos afirmaram que sim. As dificuldades
abordadas são bastante semelhantes àquelas apresentadas na fundamentação
teórica desta pesquisa: superlotação das salas de aula, ter que lidar com turmas nas
quais os alunos estão em diferentes níveis de aprendizagem, falta de valorização da
profissão, o que impõe a necessidade de trabalhar mais para complementar a renda,
falta de acompanhamento da família durante o desenvolvimento do aluno, falta de
estrutura física e de suporte didático nas escolas, e até mesmo a falta de interesse
dos próprios alunos que, embora ainda estejam na educação básica, já apresentam
uma propensão a não gostar do ambiente escolar, apresentando um alto nível de
indisciplina.
Considerando a experiência dos professores, pediu-se para que eles
traçassem um paralelo, comentando se antigamente era mais fácil ser professor ou
se mesmo naquela época os problemas eram os mesmos. O principal aspecto
destacado pelos professores é a indisciplina. Para eles, o aluno de antigamente
19
tinha mais respeito pela figura do professor. E não só os alunos. Três dos cinco
entrevistados destacaram que a presença da família se dava de forma mais firme no
passado.
De acordo com os entrevistados, o professor vive hoje quase como um refém
do sistema, estando a serviço dos pais, dos alunos e até mesmo da própria escola.
Os professores afirmaram que havia, sim, antigamente um déficit de recursos, mas
que isso era compensado pelo interesse de aprender, que hoje se vê em menor
escala por parte dos alunos.
Traçado o cenário introdutório, e detectado certos posicionamentos dos
professores, questionou-se: “Como professor, quais são os principais desafios que
você enfrenta?”. Foram obtidos diversos resultados, e considera-se oportuno
elencar todos eles, a saber:
Indisciplina e falta de atenção por parte dos alunos;
Falta de material didático adequado para realizar aulas mais dinâmicas, com
problemas inclusive no próprio livro didático, que dificilmente retrata a
realidade do aluno;
Recursos tecnológicos precários, com internet de baixa qualidade,
dificultando a realização de pesquisas;
Falta de um laboratório de ciências que possibilite a prática dos conteúdos
científicos, bem como suas pesquisas;
Trabalhar a heterogeneidade e a inclusão em sala de aula;
Alfabetizar várias crianças ao mesmo tempo, estando cada uma delas em um
nível diferentes, em salas de aulas superlotadas;
Lidar com a omissão das famílias quanto aos princípios básicos de educação
dos filhos, principalmente daqueles que apresentam maior desinteresse pela
escola;
Ter que trabalhar em mais de um turno, o que acaba sobrecarregando o
professor
Conforme percebido, os desafios encontrados pelos professores que
lecionam no município de Martins são bastante semelhantes àqueles encontrados
pelos professores de maneira geral, retratados no referencial teórico desse estudo.
Trata-se de desafios estruturais, sociais e pedagógicos, que acabam por
sobrecarregar e prejudicar a qualidade do ensino ofertado.
20
Frente a tais desafios, procurou-se saber quais as estratégias utilizadas pelos
professores para enfrentá-los e buscar superá-los. As estratégias mais recorrentes
foram o diálogo e a criatividade. Diálogo com a turma e com os pais, de modo a
otimizar o rendimento dos alunos e fazê-los entender que o posicionamento deles na
escola pode ser um fator determinante para o seu futuro. E criatividade para inovar,
elaborando aulas que, mesmo com o déficit de recursos, se tornem atrativas para os
alunos.
Um ponto importante destacado na fundamentação desse estudo foi a
qualidade do ensino. Os estudiosos afirmam que as dificuldades enfrentadas pelos
profissionais docentes prejudicam de maneira severa o processo de ensino-
aprendizagem. Perguntou-se, então, aos professores se eles concordam com essa
afirmativa. Um dos professores afirmou não concordar com esse pensamento.
Segundo ele, um bom educador deve trabalhar apesar de todas as dificuldades, não
deixando nunca de oferecer aos alunos os conhecimentos básicos que o educando
merece absorver. Todos os demais, no entanto, acreditam que as dificuldades
afetam sim o processo de ensino-aprendizagem.
Para estes professores, tal prejuízo se reflete de diversas formas: quando o
professor planeja uma aula e não encontra os recursos necessários para executá-la;
quando o aluno não participa das aulas, inviabilizando assim o processo de ensino-
aprendizagem; por tais dificuldades afetarem diretamente e negativamente na
execução das funções do professor; por não encontrar num cenário centralizado
abertura para trabalhar o novo; dentre outros aspectos.
Além das ações próprias dos professores, quis-se saber o que estes
acreditam que a equipe de suporte da escola (diretor, coordenador e supervisor
escolar) pode fazer para minimizar as dificuldades enfrentadas pelos docentes nas
escolas. Um dos professores destacou que tal equipe passará a ajudar na
superação dos desafios quando realmente interagir com a categoria, se propondo a
mostrar soluções que colaborem para ao menos minimizar tais dificuldades, pois na
maioria das vezes tal equipe prioriza tão somente as questões burocráticas da
escola, esquecendo-se da parte pedagógica.
Outro docente destacou algumas atitudes ou atividades que podem ser
realizadas por tal equipe, auxiliando em muito o professor, a saber: apoio na
realização de projetos ou atividades diferenciadas; ajuda no combate a indisciplina
dos alunos, que pode se dá através de conversas com os alunos mais difíceis e com
21
os pais; promoção de momentos entre pais e mestres; incentivo e condução de
reuniões pedagógicas que abordem a realidade da sala de aula e busque possíveis
soluções. Tais atitudes, tida pela unanimidade como fundamentais, são
indispensáveis para que o professor, e assim sendo a própria escola, obtenha
resultados positivos.
Destacado o papel da escola, enquanto equipe de suporte, na superação do
cenário atual, partiu-se para outro viés igualmente importante: a família. Os
entrevistados foram instigados a descrever como a família pode contribuir para
minimizar as dificuldades enfrentadas pelos professores em sala de aula. É
importante destacar aqui que, dentre as atitudes elencadas pelos professores,
nenhum fugiu do perfeitamente possível. Na realidade, os professores não
demandam dos pais nada mais do que a sua obrigação.
Para os professores, os pais contribuiriam para o enfrentamento desses
problemas: acompanhando a vida escolar do seu filho, participando desta
ativamente, ajudando-o em casa, comparecendo às reuniões e dando suporte às
atividades do professor; e educando os seus filhos para o convívio social, impondo a
ele os limites necessários à boa convivência. Unindo essa exposição ao que já foi
exposto na base teórica dessa pesquisa é possível deduzir que a família brasileira
não tem cumprido com a sua obrigação no processo formador das crianças e
adolescentes.
Anteriormente, os professores afirmaram que era mais fácil conduzir a prática
docente no tempo passado, pois os alunos tinham mais respeito pela figura do
professor, bem como as famílias eram mais presentes nas escolas. Unificando essas
duas afirmativas, é possível deduzir ainda que as atitudes de tais famílias têm
afetado diretamente no dia a dia das escolas, bem como na vida dos professores
que recebem a árdua missão de preparar os seus filhos para a vida adulta.
Além da escola e da família, considerou-se oportuno saber como os
professores vêem o posicionamento do governo frente à prática docente.
Considerando que o governo se comunica com a escola através de seus
documentos, questionou-se se os documentos nacionais (Lei de Diretrizes e Bases,
Parâmetros Curriculares Nacionais, Diretrizes Curriculares Nacionais) são úteis para
a prática pedagógica dos professores entrevistados. Todos afirmaram que sim, afinal
tais documentos são norteadores de toda a prática pedagógica, de modo que todo o
planejamento escolar é feito de acordo com as diretrizes educacionais vigentes.
22
Porém, os mesmos destacaram que embora os documentos nacionais sirvam
como base, atualmente os mesmos retratam teorias muito distantes da realidade
atual. Diante desse comentário, formulou-se a seguinte indagação: “Ao seu ver, o
que precisa ser mudado para que os objetivos educacionais sejam alcançados?”
Cada entrevistado apresentou uma mudança distinta. Unificados os
resultados, constatou-se que os professores demandam mudanças:
Na valorização do professor;
No tratamento da educação como prioridade, possibilitando que ela atue
realmente como protagonista na formação social;
No comportamento da família em dois aspectos: conscientizando-se que a
função da escola é escolarizar a criança, e não educar, e desse modo
passando a se fazer mais presente no dia a dia escolar dos filhos;
No comportamento da sociedade, passando a reconhecer o valor do
professor; e
No sentido estrutural em si, ocasionando mudanças curriculares, físicas, de
capacitação, de organização da turma, enfim, solucionando os contextos que
prejudicam a prática docente atual.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa realizada apresentou resultados capazes de satisfazer todos os
objetivos inicialmente traçados.
Todos os professores analisados entendem o valor da formação continuada
para a prática pedagógica. Tanto que de todos eles, apenas um não possui
especialização. Os professores afirmaram que estar sempre atualizado é uma das
estratégias que podem ajudá-los na superação dos desafios da profissão.
Em relação a tais desafios, os apontamentos dos professores do município de
Martins são semelhantes aqueles abordados pelos professores brasileiros de
maneira geral.
As principais dificuldades encontradas pelos professores na realização de sua
prática são a superlotação das salas de aula, ter que lidar com turmas nas quais os
alunos estão em diferentes níveis de aprendizagem, falta de valorização da
profissão, o que impõe a necessidade de trabalhar mais para complementar a renda,
23
falta de acompanhamento da família durante o desenvolvimento do aluno, falta de
estrutura física e de suporte didático nas escolas, e até mesmo a falta de interesse
dos próprios alunos que, embora ainda estejam na educação básica, já apresentam
uma propensão a não gostar do ambiente escolar, apresentando um alto nível de
indisciplina.
Porém os professores destacaram que tais dificuldades, embora tornem árduo
o processo de ensino-aprendizado, não podem constituir motivo de desistência. Pelo
contrário: todos eles foram capazes de apresentar estratégias utilizadas para
superar esses desafios e ofertar uma educação de qualidade para os alunos. Dentre
as estratégias apresentas, as mais recorrentes foram o diálogo e a criatividade.
Quando questionados a cerca do papel que a escola pode desempenhar para
ajudar no enfrentamento de tais dificuldades, os docentes destacaram algumas
atitudes ou atividades que podem ser realizadas pela escola, auxiliando em muito o
professor, a saber: apoio na realização de projetos ou atividades diferenciadas;
ajuda no combate a indisciplina dos alunos, que pode se dá através de conversas
com os alunos mais difíceis e com os pais; promoção de momentos entre pais e
mestres; incentivo e condução de reuniões pedagógicas que abordem a realidade da
sala de aula e busque possíveis soluções.
Dos pais, os professores esperam contribuições mais simples, mas que
infelizmente ainda não são frequentes: o acompanhando da vida escolar do seu filho
e o fornecimento para eles de uma educação capaz de prepará-lo para o convívio
social. Do governo, eles demandaram legislações que conduzam mais com a
realidade dos alunos.
A pesquisa contribuiu para o meio acadêmico ao passo que apresentou
sugestões de estratégias as quais podem ser adotas por professores, escolas e
pais, na tentativa de superar desafios semelhantes aos enfrentados pelos
professores pesquisados.
O estudo apresentou limitações por ter entrevistado apenas cinco
professores. Sugere-se, então, para o futuro a realização de pesquisas que
englobem um número maior de entrevistados, fornecendo assim um maior grau de
confiabilidade para os resultados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
24
ARAÚJO, Paullyanne Leal de; YOSHIDA, Sônia Maria Pinheiro Ferro. Professor: desafios da prática pedagógica na atualidade. In: Revista Educação e Linguagem, v. 3, n° 1, 2009. ARROYO, Miguel. Imagens quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. Petrópolis: Vozes, 2004. CHARLOT, Bernard. Da relação com o Saber: Elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artmed, 2000. DOTTI, Corina. Fracasso escolar e Classes Populares. Petrópolis: Vozes, 1992. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra. 1996. GAUTHIER, Clermont e MARTINEAU, Stéphane. Imagens de sedução na pedagogia: A sedução como estratégia profissional. In: Educação & Sociedade, nº 66, abril de 1999. HAGEMEYER, Regina Cely de Campos. Dilemas e desafios da função docente na sociedade atual: os sentidos da mudança. In: Revista Educar, n° 24, Curitiba: Editora UFPR, 2004. LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora: novas exigências educacionais e profissão docente. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2001. MARÔCO, João. Análise estatística com o SPSS statistics. 5. ed. Pero Pinheiro: Report number, 2011. OLIVEIRA, Alexandra Barbosa et al. A reflexão na prática docente. In: Revista Universo Acadêmico, Ed. 10, Espírito Santo, jul./dez. 2006. PARO, Vitor. A natureza do trabalho pedagógico. Revista da Faculdade de Educação da USP, São Paulo, v. 19, n. 1, jan./jun. 1993. PRADO, Alcindo Ferreira et al. Ser professor na contemporaneidade: desafios da profissão. In: Revista eletrônica S@ber, v. 21, jul./ago. 2013. PERES, Maria Regina et al. A formação docente e os desafios da prática reflexiva. In: Revista Educação, v. 38, n° 2, maio/ ago. 2013. SACRISTÁN, J. Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. SANTOS, Leandro dos. Formação de professores: os desafios da prática pedagógica na busca pelo conhecimento. In: 4° encontro de formação de professores da Universidade Tiradentes, 13 a 16 de junho, Aracaju, 2011. SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. São Paulo: Autores associados, 2013.
25
SAVIANI, Dermeval. Trabalho e educação: fundamentos Ontológicos e históricos. In: Trabalho encomendado pelo GT – Trabalho e Educação, apresentado na 29ª Reunião da ANPED, outubro de 2006. SIMAS, Anna. Professores e os desafios dentro de sala de aula. In: Gazeta do Povo – Educação, 2009. Disponível em: < http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/professores-e-os-desafios-dentro-da-sala-de-aula-bsmeehc611tmnmdyxmr5jrjny>. Acesso em: 26 de novembro de 2016. SILVA, Léa Ribeiro da. Docência na contemporaneidade: desafios para o professor no ensino superior. In: Revista Primus Vitam, n° 5, 1° semestre de 2013. SOUZA, Elizete Sominelli de; ORSO, Paulino José. Os desafios docentes no cotidiano escolar. In: 1° Simpósio Nacional de Educação – XX Semana da Pedagogia, Cascável: novembro de 2008. RAMOS, Mozart Neves. Os desafios da formação de professores. In: Observatório do PNE, 2013. Disponível em: < http://www.observatoriodopne.org.br/metas-pne/17-valorizacao-professor/analises/os-desafios-da-formacao-de-professores>. Acesso em: 26 de novembro de 2016. TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O ofício do professor: história, perspectivas e desafios internacionais. Petrópolis: Vozes, 2008. VEIGA, Ilma Passos Alencastro et al. Repensando a didática. 15 ed. Campinas, São Paulo: Papirus, 2000.
26
APÊNDICE I – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PROFESSORES
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA A DISTÂNCIA
Pesquisa: Os Desafios da Prática Docente na Atualidade Aluna: Maria Janete Nogueira Silva Orientador: Hélder Pacheco de Medeiros
QUESTIONÁRIO
PÚBLICO ALVO: PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS NOME DO ENTREVISTADO:
Prezado Professor (a) Gostaríamos de agradecer, desde já, a sua receptividade e valiosa colaboração para a realização da pesquisa que ajudará a compor um artigo científico referente ao Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do curso de Pedagogia da EAD/UFRN, Pólo de Martins. Na construção do artigo serão abordados pontos referentes ao tema: Os Desafios da Prática Docente na Atualidade.
1. PERFIL DO ENTREVISTADO
Idade: ________ Escolaridade: ( ) Ensino médio com magistério ( ) Ensino superior completo. Especificar: ____________________________ ( ) Especialização. Especificar: ____________________________ ( ) Mestrado. Especificar: ____________________________
( ) Doutorado. Especificar: ____________________________
2. Você considera importante a formação continuada do professor? Justifique
sua resposta.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3. Você considera haver dificuldades em exercer a profissão de ser professor?
Quais?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
27
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4. Se sim, Você acha que ser professor antigamente era mais fácil ou tinha as
mesmas dificuldades dos dias atuais? Justifique
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
5. Como professor, quais são os principais desafios que você enfrenta?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
6. Quais as suas estratégias utilizadas para enfrentar os desafios em sala de
aula? Consegue superá-los?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
7. Você considera que as dificuldades enfrentadas, pelos professores, no
cotidiano escolar podem prejudicar o processo de ensino-aprendizagem em
sala de aula? Justifique.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
28
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
8. Você considera que o espaço escolar (mobiliário, estrutura, materiais
didáticos, entre outros) são fatores desafiadores para a prática docente?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
9. Para você, como a equipe de suporte da escola (diretor, coordenador,
supervisor escolar), podem contribuir para minimizar as dificuldades
enfrentadas pelos professores em sala de aula?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
10. Para você, como a família pode contribuir para minimizar as dificuldades
enfrentadas pelos professores em sala de aula?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
11. Os documentos nacionais (LDB, PCNS, DCNS) ajudam na sua prática
pedagógica? Se sim, de que forma?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
29
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
12. Em sua opinião o que precisa mudar para os objetivos educacionais serem
alcançados?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________