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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO CONTEXTO ESCOLAR:
INDISCIPLINA X RESGATE DE VALORES
Janine do Rocio Ferreira Castagnoli 1 UTP
Maria Sílvia Bacila Winkeler 2 UTFPR
Resumo: Este artigo discute as relações interpessoais de professor-aluno no dia a dia escolar. O intuito da pesquisa é focalizar a comunicação como um processo interpessoal, que leva em conta o resgate dos valores como o respeito, a solidariedade e muitos outros esquecidos muitas vezes ao longo da vida. Num grupo familiar ou escolar a falta da comunicação e de respeito impede as relações simultaneamente significativas. É a partir dos limites colocados na hora certa, mesmo em relações às pequenas coisas, que o estudante vai começando a aprender que deve respeitar o espaço do outro. Na escola é possível dar passos importantes na aprendizagem da democracia e do convívio, tentando construir uma comunidade educacional harmônica e prazerosa, onde ofuscamos o entrelaçamento da afetividade numa comunicação de fácil compreensão onde dar-se facilmente os processos de ensinar, aprender, sentir, criar e descobrir. Os principais autores que fundamentam este trabalho são: Aquino (1996), Pretty & Pretty (2009), Lück (1983), Freire (1996) e Vigotsky (1993). A pesquisa foi realizada no Colégio 1º Centenário, localizado no centro de Campo Largo, o tema teve como origem as experiências vividas na escola. Assim cabe a toda a comunidade escolar buscar soluções alternativas para amenizar os problemas da indisciplina. Os resultados esperados desta pesquisa visam contribuir para a melhoria das relações interpessoais ocorridas no ambiente escolar, provocando saudáveis modificações no comportamento dos alunos, tornando a escola um ambiente prazeroso e harmônico, diminuindo a indisciplina e consequentemente, melhorando a convivência democrática e elevando o desempenho escolar.
Palavras-Chave: Aprendizagem; Disciplina escolar; Contexto escolar.
Introdução
O presente projeto pretende apresentar estudos relevantes por meio de
pesquisas bibliográficas e possíveis contribuições dos autores para o
desenvolvimento de ações que facilitem a inserção dos alunos numa dinâmica capaz
de resgatar os valores, que muitas vezes são colocados de lado. Essas ações estão
voltadas para a transformação de velhos hábitos e costumes da falta de respeito em
energia canalizadora dos bons costumes, de forma a proporcionar ações que se
baseiam em alguns princípios básicos como: liberdade de expressão,
responsabilidade, honestidade, solidariedade, justiça e amizade, tendo como
intercâmbio sempre o diálogo.
1 Graduada em Pedagogia pela UTP. Especialista em Metodologia de Ensino pela FIES-PR. E-mail:
2 Doutora em educação pela PUCPR. Professora adjunta de Educação –DEPED–UTFPR-CT. E-mail:
O desafio de trabalhar com esse projeto visa contribuir com os adolescentes,
desenvolvendo capacidades que possam transformar a escola onde estão inseridos,
fazendo valer o princípio da dignidade, melhorando a convivência democrática,
diminuindo a indisciplina e elevando o desempenho acadêmico. Trata-se de uma
pesquisa com abordagem de natureza qualitativa. Conforme Brandão (2003, p.121)
uma pesquisa é “[...] qualquer atividade de busca, no singular ou no plural, de algum
saber realizado através de um trabalho com fundamento, alguma sistemática e
algum método confiável”.
O tema desta pesquisa foi sugerido pela comunidade escolar do colégio 1º
Centenário em reunião pedagógica. Sendo assim, observou-se que no cotidiano da
escola, os valores se traduzem no regulamento escolar, porém, o ensino e as
relações interpessoais vão muito além dessas normas estabelecidas pela escola,
percebe-se então que existe uma necessidade de que se reflita sobre esses
princípios e essas regras, para que se instalem no ambiente escolar, ações e
relações democráticas, fortalecendo o convívio educacional harmônico e de respeito,
necessários para a construção da cidadania.
Percebe-se que um conjunto de atitudes comportamentais pode ser
incorporado pelo indivíduo em decorrência de sua utilização frequente, de modo a se
tornar habitual: cumprimentar, agradecer, pedir licença, etc., gestos e atitudes
importantes no processo de crescimento individual e relacionamento interpessoal. A
grande maioria dos alunos não recebe, em casa, essas orientações essenciais que
fazem parte da educação, e que são tão ou mais importantes que as matérias do
currículo. A pergunta que fica em um contexto repleto de interrogações é a seguinte:
Como esperar do aluno atitudes comportamentais não transmitidas ou não
ensinadas?
Observa-se que a família tem negligenciado esses aspectos e a escola não
os tem assumido. A quem cabe a orientação nesse sentido? Como instalar bons
hábitos no relacionamento humano?
Fala-se muito em relações humanas, instalam-se cursos especializados
sobre o assunto, mas o que se observa na grande maioria das nossas escolas é a
chamada “indisciplina” o que gera sérios conflitos na sala de aula, atrapalhando o
processo de ensino e aprendizagem. Reconhece-se dessa forma, uma falha
educacional importante e evidente.
Os estudantes precisam ser ouvidos para sentirem-se valorizados. Quando
se desenvolve a afetividade em um ambiente acolhedor, o ensino torna-se mais
motivador. A escola necessita sensibilizar-se para uma mudança, precisa pensar
numa ação transformadora.
Sendo assim, a escola encontrará caminhos para a constituição de uma
nova postura, reconhecendo equívocos e tentando desfazê- los. A sociedade exige
um novo educar acrescido de afeto, visando à formação de cidadãos conscientes de
sua conduta no meio social. Existe uma necessidade de buscar soluções para o
enfrentamento dessas dificuldades, promover ações onde valorizem os estudantes,
pois quando se desenvolve o afeto e o respeito no ambiente escolar, à
aprendizagem e a motivação serão cativadas dentro do processo de ensino e
aprendizagem.
Partindo dessa premissa é que foi desenvolvida a pesquisa no Colégio 1º
Centenário Ensino Fundamental e Médio localizado no centro da cidade de Campo
Largo – PR, sendo que o tema teve origem em experiências vividas na escola, os
pais trabalham o dia todo e os deixam sozinhos, sem dar-lhes o apoio necessário
para o convívio pessoal e social, cabendo à escola buscar soluções alternativas para
amenizar esses problemas. A disciplina, no entanto só será alcançada por meio do
trabalho coletivo da escola, onde o aluno se sinta feliz e corresponsável pelo êxito
escolar.
O limite com suas regras e a moral, pode ajudar na formação do sujeito,
principalmente na fase em que ele se guia pela heteronomia, quando alguém o
conduz. Mas se juntar as regras e a ética como fundamentos de uma ação, o sujeito
desenvolverá sua personalidade pela autonomia, quando alguém o conduz.
Diante do exposto, questiona-se: Como promover a construção do exercício
da cidadania mediante a indisciplina no contexto escolar? Propomos buscar
estratégias de promoção da construção do exercício da cidadania em contexto
escolar de indisciplina. Também objetivamos com este estudo desenvolver a
consciência cidadã por meio de atividades que viabilizem a conscientização das
ações planejadas; oportunizar reflexões aos alunos e análise sobre
comportamentos, levando-os a verificar os bons resultados de suas novas atitudes;
melhorar a disciplina dos alunos, por meio da inserção de valores. O professor, de
um modo geral, tem-se queixado de que os resultados colhidos por meio de seus
esforços deixam muito a desejar.
Observa-se que a falta de disciplina tem sido agravante no contexto escolar,
ela está atrelada a uma desordem conflitante dificultando a prática pedagógica dos
professores, a falta de limite às normas regimentais, à falta de respeito e ainda o
descaso causa angústia nos educadores, que não sabem sustentar sua autoridade
perante a recusa dos alunos em aceitar as regras existentes.
Os direitos assegurados pela constituição nos mostram algumas incertezas
mediante o descontentamento dos profissionais da educação, desmotivados pelo
descaso das autoridades em dar-lhes determinados apoio, constatando-se que a
sociedade mudou que os alunos mudaram tal situação desenvolveu nos alunos, a
certeza de que ele, aluno, decide nada fazer, nada estudar, somente bagunçar.
O posicionamento equivocado, na interpretação de algumas leis, interfere
na relação família- escola. Na fala da autora Tânia Zagury “A educação brasileira só
reconquistará confiabilidade quando restabelecer a autoridade do professor.”.
Os educadores desperdiçam tempo destinado ao ensino para chamar
atenção dos alunos, para separar brigas e discutir relações, dar conselhos de vida
particular, incorporando atribuições que não compete a eles. Como dizia Zagury
(2006, p.70), “Professor não é psicólogo nem assistente social, sua função é
ensinar. E ensinar bem”.
Por outro lado, as pesquisas apontam de que há necessidade de investir na
prevenção de transtornos psicológicos, no qual afetam comportamentos na relação
professor-aluno.
Segundo Del Prette & Del Prette, 2005, p. 23.
Comportamentos antissociais decorrem de uma multiplicidade de fatores que interagem e potencionalizam efeitos negativos, o curto, médio e longo prazo, caracterizando uma trajetória de risco. Em curto, prazo pode gerar rejeição dos colegas e dos adultos, baixo rendimento acadêmico ou indisciplina. A médio e longo prazo, tais comportamentos podem aumentar a probabilidade de fracasso escolar, evasão, delinquência, drogadição, alcoolismo, participação em gangues, criminalidade e finalmente, dependência das instituições sociais de assistência e maiores taxas de morte e doença.
Os autores colocam que esse repertório de habilidades sociais educativas
está, ou deveria estar, na base de todo e qualquer procedimento, cujo objetivo seja o
de promover a aprendizagem e ou o desenvolvimento em contextos formais (escola,
por exemplo) e informais (família, grupos comunitários etc.) O conceito aplica-se,
portanto, ao conjunto de habilidades que pais, professores e outros agentes sociais
como de saúde e educação, havendo necessidade de apresentar na interação com
jovens e crianças, com a intenção explícita de promoverem o desenvolvimento e
aprendizagem destes.
Segundo Szymanski e Pereira Junior (2006, p.92):
O fracasso escolar pode ser relacionado a causas externas e internas à estrutura familiar e individual da criança. As causas externas estão estreitamente ligadas a uma ação educativa inadequada, que favoreceriam os problemas de aprendizagem como sintomas de inibição, que restringem as possibilidades cognitivas, caracterizando um aprisionamento das inteligências e a perda do desejo e aprender.
O aluno por si só acaba se isolando do convívio em grupo se não consegue
aprender, tornando-se retraído e desmotivado de seu objetivo em relação à
aprendizagem, revelando-se indisciplinado e até mesmo agressivo, como forma de
se impor contra os seus colegas e professores ou os que estão a sua volta.
Somente uma educação com o seu poder de expressão criativa, permite ao
aluno ter um ponto de referencia receptivo na professora, assim terá um
encaminhamento adequado às soluções buscadas, adquirindo dentro de si as
possibilidades de uma relativa segurança. Nisto está à importância da relação
professor- aluno. Freire (1996, p.103) afirma que “tão importante quanto ensinar os
conteúdos aos alunos é o meu testemunho ético ao ensiná-lo. É o respeito jamais
negado ao educando, ao seu próprio saber e sua superação”.
Segundo Aquino (1998, p.44):
O trabalho escolar passa necessariamente, pela busca de uma ação não homogenizadora da escola, abandonando o atual modelo, no qual se esperam alunos homogêneos, tratando como iguais os diferentes, incorporando uma concepção que considere a diversidade, tanto no âmbito do trabalho com os conteúdos escolares, quanto no das relações cotidianas entre os membros da escola.
O aluno trás consigo uma bagagem já adquirida ao chegar à escola. A
quantidade e a qualidade da bagagem ainda não são conhecidas. É através da
convivência e das exigências que a escola fará que esta bagagem se revele, a partir
daí teremos a cor, a forma, a continuidade do conteúdo da bagagem, onde muitas
vezes esta se rompe provocando em nosso aluno, o desinteresse, causador da
indisciplina e do desrespeito.
A relação professor-aluno impera um descaso significante pelo ato de
lecionar e aprender. Já não existe mais o respeito mútuo entre as partes; a
indisciplina em sala de aula é uma constante; atos de impunidades de violência de
agressões verbais e até mesmo físicas fazem parte do cotidiano escolar.
Segundo Freire (1996, p.96),
O bom professor é o que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas.
Ainda segundo o autor,
O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca. (Freire, 1996, p.73)
Sendo assim, para haver essa aquisição de conhecimento é necessário que
esta relação esteja baseada no diálogo, mas a relação professor aluno está muito
longe de ser uma relação unilateral, o aluno desenvolve sua atividade mental
quando observa, compara, classifica, ordena se localiza no tempo e no espaço,
analisa, comprova, avalia e julga. Nessa perspectiva da construção do conhecimento
o professor ouve, interage, ou seja, dialoga com o aluno, isto permite que este aja
sobre os objetos.
“Para por em prática o diálogo, o educador não pode colocar-se na posição ingênua de quem se pretende ser detentor de todo saber; deve, antes, colocar-se na posição humilde de quem sabe que não sabe tudo, reconhecendo que o analfabeto não é o homem “perdido”, fora da realidade, ma alguém que tem toda a experiência de vida e por isso também é portador de um saber”. (GADOTTI, 1999, p. 2).
Se a escola é uma instituição que deve orientar o desenvolvimento da
criança em função das oportunidades e solicitações da vida coletiva, evidentemente
cabe ao professor a maior responsabilidade nesse sentido. O professor antes de
tudo deve compreender cada aluno e conseguir sua participação nas experiências
de aprendizagem.
De acordo com Freire (1996, p.103):
Assim como não posso ser professor sem me achar capacitado para ensinar certo e bem os conteúdos de minha disciplina, não posso, por outro lado, reduzir minha prática docente ao puro ensino daqueles conteúdos. Esse é um momento apenas de minha atividade pedagógica. Tão importante quanto ele, ensino dos conteúdos, é o meu testemunho ético ao ensiná-los. É a decência com que o faça. É a preparação científica revelada sem arrogância, pelo contrário, com humildade. É o respeito jamais negado ao educando, a seu saber de “experiência feito” que busco superar com ele. Tão importante quanto o ensino dos conteúdos é a minha coerência na classe. A coerência entre o que digo o que escrevo e o que faço.
Em classe o professor é um líder de um pequeno grupo social e, por isso
mesmo, não deve esquecer que suas atitudes pessoais terão influencia direta no
ambiente e no comportamento dos alunos.
Usando processos de liderança, com maior eficiência, encorajará os alunos
a encontrar as soluções por si mesmas, desenvolvendo neles hábitos de trabalhar
em grupo, assim como o senso de responsabilidade e o respeito pelo próximo.
Segundo Vygotsky (1999, p. 41):
O ser humano transforma o seu meio para atender suas necessidades básicas transformando a si mesmo. Um educador não poderá se valer apenas do uso automático das técnicas pedagógicas. Tem que haver uma integração da técnica na cultura, criando uma aprendizagem significativa.
Para o autor, a relação educador educando não deve ser uma relação de
imposição, mais sim, uma relação de cooperação, de respeito e de crescimento. O
aluno de ser considerado como sujeito interativo e ativo no seu processo de
construção de conhecimento. Assumindo o educador como um papel fundamental
nesse processo, como um individuo mais experiente.
Sendo assim, para haver essa aquisição de conhecimento é necessário que
esta relação esteja baseada no diálogo, mais a relação professor-aluno está muito
longe de ser uma relação unilateral, o aluno desenvolve sua atividade mental
quando observa, compara, classifica, ordena se localiza no tempo e no espaço,
analisa, comprova, avalia e julga.
Com vistas a manejar a indisciplina, é preciso rever os vínculos da relação
professor-aluno, sobretudo a maneira que um se posiciona perante o outro, relações
de respeito, afeto, compromisso social. (AQUINO, 1996).
É preciso que a escola busque ações para sanar essas dificuldades, ouve-se
falar que a escola está nos dias de hoje inadequada à realidade, no entanto os
profissionais não devem achar isso normal e acomodar-se, é necessário transformar
a escola num local mais harmônico e agradável, para que o aprendizado realmente
aconteça.
Em sala de aula busca-se um clima harmônico ético de respeito e essa
busca tem haver com uma construção da cidadania.
Segundo Vasconcellos:
Um relacionamento novo na construção de uma coletividade só se fará pelo diálogo franco; muitas vezes, temos medo deste diálogo, pois poderão aparecer contradições com as quais não gostaríamos de lidar. Por mais difícil que possa ser, este tipo de diálogo é muito importante, pois estas contradições podem emergir e fica mais fácil, tanto para a classe, quanto para o professor, trabalhar com elas. Dessa forma, possibilita-se um relacionamento menos estereotipado e alienado, abrindo-se espaço para a efetiva construção humana.
Partindo desse pressuposto, ensinar o aluno a ter uma postura positiva
diante de situações difíceis talvez seja um dos objetivos mais importantes da escola.
Percebe-se que uma atitude bastante eficaz, é investir nos vínculos da afetividade e
de respeito ao próximo, inserindo no processo educacional valores que possibilitem
a formação integral de nossos alunos e possibilitando a melhoria da autoestima dos
docentes num ambiente acolhedor, onde todos se sintam valorizados.
A falta de disciplina tem sido agravante no contexto escolar, ela está
atrelada a uma desordem conflitante dificultando a prática pedagógica dos
professores, a falta de limite às normas regimentais, à falta de respeito e ainda o
descaso causa angustia nos educadores, que não sabem sustentar sua autoridade
perante a recusa dos alunos em aceitar as regras existentes.
DESENVOLVIMENTO
Esse projeto abrangeu toda a comunidade escolar, com participação efetiva
de alunos e professores do 8º ano do ensino fundamental, onde foi organizado por
tópicos com temas abordados dentro da proposta de valores como: Respeito, amor,
amizade, honestidade, generosidade, responsabilidade.
A população pesquisada foi motivada a participar da referida pesquisa como
agente ativo, produzindo conhecimento e intervindo na realidade própria. A grande
receptividade dos envolvidos superou todos os desafios encontrados, no primeiro
encontro os alunos estavam levando na brincadeira, mais no encontro seguinte
começaram a entender a seriedade do projeto, superando desafios encontrados.
A metodologia adotada abordou estratégias de intervenção que
intencionaram mobilizar os participantes de maneira prazerosa, privilegiando
recursos dinâmicos. Foram elaboradas diversas atividades educativas, visando à
promoção da consciência da cidadania por meio da leitura e reflexão de textos
pertinentes ao tema, dinâmica motivacional, exposições de murais, debates e filmes.
As atividades foram realizadas em trinta e duas horas, divididas em oito encontros
de quatro horas.
Primeiro Encontro: Pretendeu-se explanar a todos os envolvidos a finalidade
do Projeto de Intervenção, e como iria ser desenvolvido. Levando os alunos a
refletirem sobre seus comportamentos no dia a dia.
Segundo Encontro: Os alunos assistiram o Filme “Entre os Murros da
escola”. Pretendeu-se conscientizar os alunos para melhoria das relações
interpessoais, ocorridas no ambiente escolar.
Terceiro Encontro: Abordamos o tema Amizade. Levando os alunos a
perceber a importância de uma amizade.
Quarto Encontro: Abordamos o tema sobre o Respeito. Com esse assunto
compreendemos as regras dos outros, realizando atitudes que não as firam, dentro
dos seus limites.
Quinto Encontro: Demos continuidade ao encontro anterior sobre Respeito.
Sexto Encontro: Abordamos o tema Solidariedade assistindo o Filme “A
Corrente do Bem”.
Sétimo Encontro: Confeccionamos cestas de mantimentos para doação.
Com estes gestos simples demonstra-se sermos mais solidários com o próximo.
Oitavo Encontro: Elaboramos democraticamente um novo código disciplinar.
Durante aplicação da implementação observaram-se atitudes como
responsabilidade, dedicação respeito e comprometimento dos envolvidos, o que veio
a contribuir de forma significativa para tornar nosso colégio harmônico, fortalecendo
valores muitas vezes esquecidos ao longo do tempo.
Freire (2000, p.96) afirma que:
O fundamental é que professor e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que professor e alunos se assumam epistemologicamente curiosos.
Partindo desse pressuposto, ensinar o aluno a ter uma postura positiva
diante de situações difíceis talvez seja um dos objetivos mais importantes da escola.
Percebe-se que uma atitude bastante eficaz, é investir nos vínculos da afetividade e
de respeito ao próximo, essencial para fortalecer inserindo no processo educacional
valores que possibilitem a formação integral de nossos alunos e possibilitando a
melhoria da autoestima dos docentes num ambiente acolhedor, onde todos se
sintam valorizados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se considerar que o professor é a pessoa ideal que pode reconhecer no
aluno um ser dotado de sonhos, aspirações, desejos e vontade de mudar a história
de sua vida, transformando-o sua existência. Tratar o aluno com carinho e respeito
não significa fazer o que ele quer, e sim ensiná-lo a ter limites adquirindo confiança e
respeito a si e aos outros, esses limites devem não implicar em uma postura
autoritária do professor, devendo este ganhar o respeito de seus alunos não através
de imposições, Fazendo uso de autoritarismo que vai gerar medo, insegurança,
desrespeito e indisciplina.
Os resultados parecem apontar que a afetividade e o diálogo são os melhores
caminhos na relação professor/aluno. A comunidade escolar pode, na maioria dos
casos, resolver os seus conflitos com a ajuda de outros intervenientes, sendo que a
mediação constitui em uma forma de prevenir futuros conflitos, pois apela a um
espírito de colaboração e responsabilidade abolindo uma cultura de culpa e
imposição de soluções. Mostrar aos jovens alternativas não violentas aos conflitos
reais da sua vida, para construção de um mundo mais pacifico.
Nenhuma pessoa nasce com impulsos agressivos ou hostis e nenhum se
torna assim sem aprendê-lo. Quanto mais cedo atue a aprendizagem no campo das
relações pessoais, dos pensamentos e dos conflitos que nelas se originam, mais
fácil será neutralizar as respostas violentas e descontroladas.
Dar para os jovens a certeza de que a solidariedade, o respeito, a
honestidade e o diálogo não estão “fora de moda”. Fazê-los acreditar que mesmo
quando grande parte da sociedade não respeita estes princípios, ou a si próprios, é
possível conviver sem fazer uso da violência ou da agressão verbal e que muitos
limites precisam ser respeitados.
Criar adultos dignos é tarefa digna da família, porém a escola tem grande
parcela de responsabilidade já que a realidade de nossas famílias é bastante
precária, não apresentando condições ideais para uma boa educação. Não podemos
esquecer que a criança faz do adulto, pais e professores seus modelos e
inspirações, sendo assim deve-se estar atentos à coerência entre o discurso e a
ação: Respeitar o próximo para ser respeitado, dando exemplos de dignidade e
responsabilidade, partindo de seus valores éticos e morais previamente construídos.
Ouve-se falar que a escola está nos dias de hoje inadequada à realidade, no entanto
os profissionais não devem achar isso normal e acomodar-se, é necessário
transformar a escola num local mais harmônico e agradável, para que o aprendizado
realmente aconteça, buscando ações para amenizar essas dificuldades. Em sala de
aula busca-se um clima harmônico ético?
Concluiu-se com este estudo que muitas vezes as dificuldades de
relacionamento entre professor aluno, aluno colegas deve-se ao fato de não nos
colocarmos no lugar do outro, procurando entender certas atitudes, respeitando as
limitações de cada um. Diante do exposto, qual o tipo de disciplina que queremos
nas salas de aula? Como melhorar a disciplina dos alunos, através da inserção
valores éticos e morais?
Ensinar o aluno a ter uma postura positiva diante de situações difíceis talvez
seja um dos objetivos mais importantes da escola. Observamos que uma atitude
bastante eficaz é investir nos vínculos da afetividade e de respeito ao próximo,
essencial para fortalecer “crenças,” inserindo no processo educacional valores que
possibilitem a formação integral de nossos alunos e possibilitando a melhoria da
autoestima dos docentes num ambiente acolhedor, onde todos se sintam
valorizados buscando estratégias de promoção da construção do exercício da
cidadania em contexto escolar de indisciplina.
A escola e família precisam caminhar juntas para atingir os objetivos: resgatar
os valores que há tanto foi perdido e/ou esquecidos para que desta maneira se tente
erradicar ou pelo menos minimizar a indisciplina no contexto escolar.
Este artigo permitiu uma nova reflexão e um novo olhar sobre o papel da
escola, sobre o que podemos e o que não podemos fazer diante de um cenário de
vulnerabilidade social, em que as desigualdades desencadeiam comportamentos de
agressividade e violência no ambiente escolar, impedindo as relações de afetividade
e respeito na relação professor aluno, quanto melhores forem as condições de se
cultivarem sentimentos como estes, mais consistentes e profundos serão os
relacionamentos, promovendo uma aprendizagem mais significativa.
Que tipo de disciplina quer nas salas de aula? Afirmo que não podemos
compreender a indisciplina como um fato isolado. Centrá-la apenas no professor e
no aluno é ter uma visão factual, do senso comum, com pré-juízos e pré-conceitos.
A questão da indisciplina continua sendo um grande desafio dos educadores. A
disciplina, todavia não pode ser entendida como se tivesse uma finalidade educativa
em si mesma. Ao contrário, a necessidade de disciplina aparece, não por mero
autoritarismo, mas como condição indispensável para conduzir uma prática
pedagógica comprometida com o social.
É necessário repensar e resgatar as condições necessárias para uma
mudança de comportamento nas relações interpessoais no contexto escolar,
buscando uma disciplina consciente, marcada pela participação de respeito.
Sendo assim, conclui-se com os dados observados nesta pesquisa que em
uma sala de aula os valores se traduzem no regulamento escolar, porém, o ensino e
as relações interpessoais vão muito além dessas normas estabelecidas pela escola,
percebe-se então que existe uma necessidade de que se reflita sobre esses
princípios e essas regras, para que se instalem no ambiente escolar ações e
relações democráticas, fortalecendo o convívio educacional harmônico e de respeito,
necessários para a construção da cidadania. Entretanto esses valores e essas
atitudes devem ser ensinados aos alunos na escola?
REFERÊNCIAS
AQUINO, Júlio Groppa. (org). Diferenças e Preconceitos na Escola. Alternativas Teóricas e Práticas. São Paulo: Summus, 2006.
DEL PRETTE, Almir, & DEL PRETTE, Zilda. A.P. (2009). Adolescência e fatores de risco: A importância das habilidades sociais educativas. In: V. G. Base, F. J. Penna, (orgs.), Aspectos biopsicossociais da saúde na infância e adolescência. Belo Horizonte: Coopmed.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 32. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
GADOTTI, Moacir. Convite à leitura de Paulo Freire. São Paulo: Simeone, 1999.
SZYMANSKI, Maria Lídia Sica e PEREIRA JUNIOR, Antonio Alexandre (org). Diagnóstico e Intervenção Psicopedagógica. Cascavel: Edunioeste, 2006.
VASCONCELLOS, Celso dos Santos, 1956. Disciplina: construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola. 7ª. ed. São Paulo: Libertar; 1995.
VIGOTSKY, Lev Semenovich. Psicologia Pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2003.
VIGOTSKY, Lev Semenovich. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
VIGOTSKY, Lev Semenovich. Formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
VASCONCELLOS, Celso dos Santos, 1956. Disciplina: construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola. 7ª. ed. São Paulo: Libertar; 1995.
WINKELER, Maria Sílvia Bacila. Pesquisa Qualitativa. Curitiba: Orientação PDE, UTFPR, 2014.
ZAGURY, Tânia O professor refém: Para pais e professores entenderem porque fracassa a educação no Brasil: Rio de Janeiro, Record, 2006.