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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
ANDRÉIA CRISTINA DE SOUZA
ARTIGO FINAL
AS IMAGENS DA ARTE CONSTROEM O PENSAMENTO CRÍTICO
REFLEXIVO DE ALUNOS DO FUNDAMENTAL.
Artigo Final apresentado ao Programa
de Desenvolvimento Educacional –
PDE - da Secretaria de Educação do
Paraná – SEED, sob orientação da
Professora doutora Roberta Puccetti,
em cumprimento às atividades
pertinentes ao professor PDE.
LONDRINA 2014
ARTIGO FINAL
TURMA PDE 2014
Título: AS IMAGENS DA ARTE CONSTROEM O PENSAMENTO CRÍTICO REFLEXIVO DE ALUNOS DO FUNDAMENTAL.
Autor Andréia Cristina de Souza
Disciplina/Área (ingresso no PDE)
ARTE
Escola de atuação
Colégio Estadual Júlia Wanderley-
EFM
Município da escola
Jaboti
Núcleo Regional de Educação
Ibaiti
Professor Orientador
Roberta Puccetti
Instituição de Ensino Superior
UEL
Relação Interdisciplinar
Palavras Chaves
Ensino da Arte, Leitura de Imagem,
Cultura Local.
Produção Artigo
Público Alvo
Alunos do 9º ano
AS IMAGENS DA ARTE CONSTROEM O PENSAMENTO CRÍTICO
REFLEXIVO DE ALUNOS DO FUNDAMENTAL1
Andréia Cristina de Souza2
Roberta Puccetti3
Resumo: O presente artigo faz parte das atividades do PDE- Programa de Desenvolvimento
Educacional – da Secretaria da Educação do Paraná e busca relatar os resultados do projeto
de intervenção pedagógica desenvolvido durante o primeiro semestre de 2014 com os alunos
do 9º ano do Colégio Estadual “Júlia Wanderley”, na cidade de Jaboti, Paraná. O principal
objetivo foi desenvolver a sensibilidade e o olhar crítico na leitura de imagens, nos alunos e na
comunidade, resgatando a cultura local como caminho para descobrir, valorizar e ressignificar
a arte em suas vidas. O ensino sistematizado de Arte, nessa cidade, ocorre somente a partir do
6º ano do ensino fundamental, prejudicando significativamente a aprendizagem nos anos
subsequentes, pois os alunos apresentam dificuldades em apreciar uma obra de arte, não
valorizam e não apresentam hábitos de produção ou apreciação artística. O encontro com as
obras do artista da região e a arte contemporânea, possibilitou que se estabelecessem
relações de conhecimento, de afeto e enriquecimento, revelando a importância da Arte, além
de, por meio de conexões entre a arte, o artista, a obra e o público, contribuir para a melhoria
da qualidade do ensino de Arte na comunidade como um todo.
Palavras- chave: Ensino de Arte. Leitura de Imagem. Cultura Local.
INTRODUÇÃO
A escola deve ser um ambiente no qual os alunos e os professores
tenham oportunidade para aprender, perceber e vivenciar o mundo de maneira
a interferir no mesmo. Contudo, no Colégio Estadual “Júlia Wanderley” do
município de Jaboti, PR, as aulas de Arte, mesmo tendo sua obrigatoriedade
1O presente artigo é conclusão, ou melhor, é uma reflexão sobre o projeto de intervenção na
escola, parte obrigatória do Programa de Desenvolvimento Educacional.
2 Professora PDE 2013, atuante no município de Jaboti. 3 Mestre e doutora em Educação. Professora do Departamento de Arte Visual da UEL e orientadora deste artigo.
legalizada pela lei 9394/96, ocorrem somente a partir do 6º ano do ensino
fundamental. Neste contexto, os alunos apresentam muitas dificuldades em
apreciar criações ou trabalhos artísticos e reconhecer o importante papel que a
arte tem na história da humanidade.
O olhar dos alunos, bem como desta comunidade, é limitado. Não
apresentam hábitos de apreciação, não valorizam a arte e, muito menos, a
produção artística. A escola é a única referência cultural e artística para a
maioria dos alunos, porém, sozinha, não consegue suprir ou mudar os
conceitos ou preconceitos enraizados no pensamento da sociedade local.
Mesmo abrigando um artista local, que produz arte popular de qualidade, a
comunidade não o valoriza, pois muitos até desconhecem sua produção.
As aulas de Arte precisam interferir significativamente na formação dos
alunos, para que haja neles, uma mudança de paradigmas quanto à forma de
pensar, sentir, agir e olhar a arte. Em uma comunidade, onde não há acesso às
manifestações artísticas e culturais, utilizar-se de um artista local e de suas
obras para esta construção/reconstrução na forma de olhar a arte, pode
contribuir para que se efetive uma mudança real e significativa.
O Colégio Estadual Júlia Wanderley EFM está localizado na cidade de
Jaboti, pequeno município do norte pioneiro do Paraná, com população de
4.902 (quatro mil, novecentos e dois) habitantes, que sobrevivem basicamente
da agricultura, alvo dos investimentos do governo local, juntamente com outros
que suprem apenas as necessidades mais básicas da população. Valorizar e
investir em cultura e arte não faz parte das prioridades do município, cujos
moradores não têm acesso aos grandes centros produtores de arte e muito
menos tradição na apreciação e produção artísticas.
O município conta com uma Biblioteca Cidadã, cuja fachada apresenta
uma pintura mural feita por pintores locais. Há também um Parque Ecológico,
Fazenda Ásia Menor, de propriedade do Senhor Luiz Ribeiro Castro de
Carvalho, o Luizão, que construiu a praticamente sozinho. Também a igreja
matriz apresenta entalhes em madeira deste mesmo artista. Contudo, apesar
desta riqueza artística e ecológica praticamente no centro da cidade, a maioria
da comunidade desconhece sua história e sua origem, o que traz como
consequência a não valorização como patrimônio natural, artístico e cultural.
Portanto, as aulas de Arte, diante de sua função também social, vem
resgatar a cultura local para que os alunos possam descobrir, valorizar e
ressignificar a arte em suas vidas.
SIGNIFICADO DA ARTE DENTRO DAS ESCOLAS
A experiência de leitura de imagem nas escolas precisa acontecer desde
os primeiros anos da educação infantil:
Deste modo, é necessário começar a educar o olhar da criança desde a educação infantil, possibilitando atividades de leitura para que, além do fascínio das cores, das formas, dos ritmos, ela possa compreender o modo como a gramática visual se estrutura e pensar criticamente sobre as imagens. (PILLAR,2003, p.81)
O encontro com a obra de arte constrói relações de conhecimento, de
afeto e enriquecimento, sendo fundamental desde o início da vida escolar. De
acordo com Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº9394/96:
O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos
diversos níveis da educação básica, de forma a promover o
desenvolvimento cultural dos alunos. A Arte é um patrimônio cultural
da humanidade, e todo ser humano tem direito ao acesso a esse
saber. https://pt.wikipedia.org./wiki/ensino-de-arte. Acessado em
25/06/2013
Será que todas as escolas cumprem a LDB nº9394/96, os Parâmetros
Curriculares Nacionais e a resolução nº009/2006 que preveem a oferta de
aulas de Arte na Educação Básica nas suas cidades? É a escola a responsável
pelo acesso à arte e à cultura, e mesmo ofertando aulas de Arte, estas estão
realmente cumprindo o papel de alfabetizar visualmente e com qualidade seus
alunos?
As atividades artísticas resultam de sistemas de discursos e
significações inerentes a toda a sociedade. Segundo Tourinho (2003, p.28),
tanto política quanto conceitualmente, os arte-educadores estão mais
organizados e preparados.
Para Martins (2003, p.52), nós, professores desta disciplina, temos de
conhecer desde os conceitos fundamentais da linguagem de Arte, até os
meandros da linguagem artística com a qual se trabalha, conhecendo um modo
específico para estabelecer um contato mais sensível que seja capaz de
construir um olhar crítico, além de aprimorar o ouvido e o corpo. Portanto, é
importante fazer com que o aluno interaja e reflita sobre suas escolhas,
sensações e pela possibilidade da leitura de uma imagem, construindo um
contexto rico, cheio de ideias organizadas para que se revele um olhar
diferente.
PREPARAR O ALUNO PARA AMPLIAR O OLHAR E O SEU REPERTÓRIO
PARA A ANÁLISE DE OBRAS
Nas escolas, a experiência com a leitura de imagens, com a apreciação
e com a produção artística, muitas vezes é limitada pelas condições de
trabalho deficientes, pela burocracia que o próprio sistema impõe, pela
formação insuficiente e limitada do professor. Mas mesmo diante das
dificuldades encontradas, o ensino das artes visuais pode ser significativo e de
qualidade, como apontam as autoras Ferraz e Fusari:
O trabalho com a arte na escola tem uma amplitude limitada, mas
ainda assim há possibilidades dessa ação educativa ser quantitativa e
qualitativamente bem-feita. Para isso, seu professor precisa encontrar
condições de aperfeiçoar-se continuadamente, tanto em saberes
artístico e sua história, quanto em saberes sobre a organização e o
desenvolvimento do trabalho de educação escolar em Arte. (FERRAZ
e FUSARI. 1993,p.19)
Desde cedo, a criança percebe as coisas que estão à sua volta.
Infinidades de experiências sonoras e visuais tomam conta de sua vida
cotidiana, levando-a a olhar e perceber a beleza de uma paisagem, dos
animais, das flores, entre tantas outras. Tais experiências se transformam em
pensamentos e emoções sempre compartilhados com outras pessoas na forma
de diversas linguagens verbais ou não verbais.
Como afirma Libâneo, no Livro de Metodologia do Ensino de Arte, de
Ferraz e Fusari (1995):
Não é suficiente dizer que os alunos precisam dominar os
conhecimentos, é necessário dizer como fazê-lo, isto é, investigar
objetivos e métodos seguros e eficazes para a assimilação dos
conhecimentos. [...] O ensino somente é bem-sucedido quando os
objetivos do professor coincidem com os objetivos de estudo do aluno
e é praticado tendo em vista o desenvolvimento das suas ações
intelectuais. [...] Quando mencionamos que a finalidade do projeto de
ensino é proporcionar aos alunos os meios para que assimilem
ativamente os conhecimentos é porque a natureza do trabalho
docente é a mediação da relação cognoscitiva entre o aluno e as
matérias de ensino. (Apud Libâneo, 1991, pp.54-5.).
Na escola, esta mesma criança encontra oportunidades de expressar
suas experiências sensoriais pessoais, cabendo, principalmente ao professor
de Arte, saber lidar com esta bagagem pessoal, sistematizando conceitos,
ampliando o repertório imagético dos alunos e principalmente construindo o
olhar, a forma de olhar. Utilizar destes fatos na elaboração da sua metodologia
de trabalho auxiliará no desenvolvimento da criança e suas percepções ao
analisar as formas, as imagens, os símbolos e as ideias presentes em uma
obra de arte.
Hoje, as imagens visuais são um centro de informações e são
apresentadas a todo o momento num apanhado crítico. A autora Lúcia Gouvêa
Pimentel “diz que à velocidade com que vemos as imagens, nem sempre
podemos pensar sobre elas e selecionar as que devem fazer parte do nosso
repertório imagético, isto é, da referência visual que gostaríamos de deixar
registrada em nossa memória”. (2003, p.113)
Assim, segundo Ronaldo Entler (1998), para detalhar uma imagem é
preciso olhar atentamente todos os seus elementos, buscar suas referências.
Mas como mostrar uma obra de arte para essas crianças, como explicar e ler
uma imagem?
Comentado [R1]: idem
Afinal, o que é imagem? Pillar (2003, p.75), “há múltiplas definições de
imagem. A imagem é, hoje, um componente central da comunicação. Com sua
multiplicação e ampla difusão, com sua repetitividade infinita, estes dispositivos
fazem com que, por um intermédio das suas materialidades, uma imagem
prolongue sua existência no tempo”.
Assim, optou-se neste trabalho, pela leitura da imagem baseada nas
categorias: “Descrevendo, Analisando, Interpretando, Fundamentando e
Revelando” apresentada por Ott (1997), respeitando a individualidade de cada
aluno, suas necessidades, a exploração da forma verbal e não verbal,
apresentando a linguagem da arte. Através das cinco categorias acima citadas,
os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual “Júlia
Wanderley” fizeram a leitura de imagens tanto das obras contemporâneas de
Farnese, como das obras do artista popular local Luizão. O processo de
criação foi vivenciado na construção de um oratório. A visita ao ateliê do artista
e a organização de uma exposição conjunta com as obras do artista e a
produção dos alunos, oportunizou tanto a produção como a apreciação
artísticas, ambos ignorados pela comunidade local, contribuindo assim, para
uma mudança de hábitos e atitudes em relação à arte.
PRODUÇÃO DO PENSAMENTO CRÍTICO E REFLEXIVO ATRAVÉS DA
LEITURA DE IMAGEM – IMPLEMENTAÇÃO
A implementação do projeto: “As Imagens Constroem o Pensamento
Crítico Reflexivo de Alunos do Ensino Fundamental” foi apresentada aos
professores, funcionários, equipe pedagógica e direção do Colégio Estadual
“Júlia Wanderley”, tendo como objetivo mostrar a importância do tema no
processo educacional e na mudança da realidade local.
Os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental do Colégio foram também
apresentados ao projeto e convidados a participarem de sua implementação.
Primeiramente, foi realizada uma pesquisa, trazendo de casa imagens
de revistas e jornais, fotos, calendários, selos, roupas, livros, capas de CDs e
objetos, onde pudessem identificar alguma imagem artística, procurando
identificar o máximo de informações possíveis sobre artistas e obras, como
autor, gênero, técnica, se a imagem era arte contemporânea ou popular.
Em um primeiro momento relutaram, pois não sabiam o que escolher,
teriam que apreciar a figura e descrevê-la verbalmente, perceber os elementos,
texturas, dimensões, materiais e técnicas, fazendo comparações com as linhas,
formas e cores, de maneira contextualizada em seus cadernos mesmo. Uns
foram trazendo e mostrando os seus trabalhos e, logo assim, outros foram
compartilhando a ideia, criando um registro das imagens com as informações,
com um repertório cultural e artístico pessoal. Por meio dessas informações
puderam elaborar as suas definições de arte e as socializaram entre os
colegas. Uma das leituras propostas foi com a imagem da Santa Ceia, do
artista Leonardo da Vinci, através da descrição, como pessoas eram, chão,
teto, a luz, se era dia ou noite, quem era o artista, bem como, uma análise de
como foram feitas as linhas, as formas, as cores, texturas e composições.
Todavia, quando se pediu para que se falasse sobre o que estavam
sentindo a partir da imagem, surgiram muitas dificuldades, pela timidez de se
expressarem. No entanto, com as explanações e questionamentos feitos pela
professora a respeito da obra, se despertavam sentimentos e sensações de
melancolia ou alegria, serenidade ou agitação, entre outros, instalou-se um
clima de camaradagem e confiança, o que permitiu aos poucos conseguissem
falar, se soltarem, pois acontecia ali a fundamentação e o conhecimento da
obra, o que fez com que eles, depois de ultrapassarem as primeiras barreiras,
já falassem certos, confiantes, quase sem dúvidas. Foi então que houve a
revelação da obra, era o momento da criação, quase sem bloqueios. E o
resultado foi uma escultura viva, construída com seus próprios corpos.
Diferentes imagens foram então apresentadas aos alunos para que se
fizesse a leitura das mesmas, tanto das obras Contemporâneas de Farnese de
Andrade, como das do artista local Luizão. Esta proposta de trabalho baseou-
se nas categorias apresentadas por Ott, respeitando-se a individualidade de
cada aluno, suas necessidades, incluindo a exploração da forma verbal e não
verbal, envolvidas pela linguagem da arte.
Na observação da obra de Farnese, “Autorretrato” (1982-95), surgiram
muitas perguntas, como: se aquilo era considerado Arte (aluno N., 9ºA), por
exemplo. A turma foi sendo envolvida numa reflexão a respeito do mundo em
que vivemos, o que proporcionou um clima mais descontraído na sala de aula.
Construiu-se, então, uma lista descritiva de tudo o que se via em “Autorretrato”:
a técnica usada, o material, forma e elementos. A atividade ocorreu num clima
muito agradável e, por vezes, até engraçado, como quando o aluno M. disse
que aquilo parecia o portal do inferno; outra aluna, L., lembrou-se da cena de
um filme com o que via, pois parecia o guarda-roupa de “As crônicas de
Nárnia”. e foram muitas risadas. Também houve questionamentos se eles
gostaram e entenderam sobre a arte contemporânea, disseram que nunca
tinham visto e não gostaram.
Como as assemblagens de Farnese causaram muito deslumbramento e
certa desaprovação, por não fazer parte do repertório de conhecimentos dos
alunos, foi exibido o vídeo “Farnese de Saudade”, fragmento do espetáculo
sobre a vida do artista, e também uma entrevista com o ator que fez o
monólogo, Wandré Silveira. Todo esse trabalho sobre arte contemporânea
causou neles um estranhamento, externado com questionamentos e caras de
quem não aprovava aquilo que acabara de conhecer. Alguns ficaram mais
chocados, já outros queriam até imitar, fazer uma apresentação que imitasse o
vídeo. Em outra atividade proposta, seguiu-se os mesmos passos com outra
imagem, o oratório “3 Pensamentos” (1973-81), para que, em seguida,
experimentassem fazer seus próprios oratórios.” Como?” perguntavam, então
as dúvidas foram elucidadas através de um texto, com o qual se esclarecia que
não seria um oratório comum, desses que expressam a fé e são colocados em
capelas ou modestas caixas para abrigar um santo de devoção.
A criação de um oratório teria como objetivo selecionar objetos
significativos, organizados dentro de caixas, colando, amarrando, preparando a
superfície com tinta ou colagem, escolhendo um título para a sua obra e,
juntamente com os colegas, organizar uma exposição na sala de aula. Os
alunos foram levados, em contra turno, ao laboratório de informática, para que
acessassem a internet e assistissem aos vídeos, pesquisando e buscando
mais informações sobre a arte contemporânea e as assemblagens de Farnese
de Andrade. Brotaram-se, consequentemente, ótimas ideias e muita inspiração
para construírem os oratórios contemporâneos, como se observa a seguir.
Figura 1 – oratório aluna x 9ºA (aberto)
Figura 2 – oratório aluna x 9ºA (fechado)
Fonte: a própria autora
Fonte: a própria autora
Após vivenciar tal experiência
com a arte contemporânea, um link foi
disponibilizado
(http://www.popular.art.br/htdocs/defTexto.asp?artigo=286) sobre a arte popular. Na
oportunidade comentou-se que esses artistas, geralmente, não frequentaram
escolas especializadas e suas obras são criadas e produzidas para decorar e
enfeitar. A turma demonstrou gostar muito, visto que amplia seus
conhecimentos.
Era chegado, então, o momento de se mostrar a imagem de uma
escultura feita pelo artista local, um oratório gigantesco, esculpido em peroba,
uma madeira nobre, que fora levada para ele na sua oficina, depois de ser
recolhida num rio da região, onde havia caído. Ao ver as imagens na TV
pendrive, foi reconhecida por alguns componentes da turma, como sendo uma
escultura do “Seu” Luiz. Outros quiseram saber quem era o “Seu” Luiz, e a
resposta surgiu rapidamente, seguida de comentário: “É o Luizão da Fábrica de
polvilho, ele gosta muito da natureza e dos animais!”
Figura 3: Oratório em madeira Figura 4: Oratório em madeira
Fonte: a própria autora
À turma foi também perguntado se em suas famílias havia pessoas que
faziam artesanato ou alguma atividade artística, ao que alguns responderam,
falando de algumas técnicas: “a minha avó é bordadeira”, “a minha mãe
também e ela aprendeu com a minha avó”, outros disseram haver alguém na
família que fazem esculturas de madeira e entalhes.
Nessa etapa de observação e apreciação da imagem do oratório do
“Seu” Luiz, quando foram seguidas e utilizadas as categorias de Ott, os alunos:
descreveram através do registro das sensações pessoais e emocionais em
relação à obra; analisaram e interpretaram com base na observação de como
foi elaborada a obra de arte, com quais materiais, identificando os elementos
da composição, a técnica usada e as características de uma obra
tridimensional; fundamentaram conforme pesquisa de diversos exemplos de
oratórios domésticos; e sistematizaram as informações em textos poéticos ou
não.
Os textos poéticos foram produzidos por eles em da sala de aula,
principalmente em homenagem ao artista “Seu” Luiz. Aqueles que
apresentaram maior dificuldade para a elaboração e criação terminaram em
casa e trouxeram na próxima aula. Com o auxílio dos professores de Língua
Portuguesa, foram feitas as revisões ortográficas e as produções, então, foram
transcritas em cartolinas. As homenagens ao Luizão foram expostas para a
apreciação de todo o colégio e também da comunidade.
Figura 5: Texto poético alunos 9º A e B Figura 6: Texto poético alunos 9º A e B
Fonte: a própria autora Fonte: a própria autora
Foi então organizada uma visita ao Parque Ecológico de propriedade de
“Seu” Luiz, na Fazenda Ásia Menor, em Jaboti – PR, e ao ateliê do artista. A
atividade aconteceu no dia 21 de junho , ocasião em que foi organizada uma
caça ao tesouro, quando os alunos se dividiram em dois grupos e percorreram
o parque procurando e desvendando pistas, solucionando charadas e
respondendo perguntas sobre o artista local, com o tempo cronometrado.
Apresentaram algumas dificuldades em algumas pistas, mas conseguiram
transpô-las. O primeiro grupo terminou em 19 (dezenove) minutos e o segundo
grupo em 17 (dezessete) minutos. Foi uma festa e muito perceptível a alegria
das equipes ao encontrarem o tesouro, dentro de um baú, feito por “Seu” Luiz,
que continha uma cesta de chocolate.
Figura 7: aluno procurando pistas (1) Figura 8: aluno procurando pistas (2)
Fonte: a própria autora
Depois do jogo, foi feita uma confraternização, um piquenique, com
muitas guloseimas e uma prazerosa conversa com o artista Luizão, durante
uma visita ao seu ateliê (oficina), quando foram tiradas muitas fotos para
registrar o momento tão importante e muito alegre, cheio de risos. A turma
toda gostou muito e comentou que assim se aprende muito mais do que só na
sala de aula.
Fonte: a própria autora Fonte: a própria autora
Fonte: a própria autora
Já dentro de volta à sala de aula, as mesmas equipes que participaram
da caça ao tesouro, foram convidadas a elaborar trabalhos com objetos e
elementos que fizessem referência à obra do artista local. Os materiais
Figura 10 – Procurando pistas na
gruta do parque
Figura 11- Artista local “Seu” Luiz,
explicando sobre a árvore incenso.
Figura 9 – Artista local “Luizão” e a
Professora Andréia
escolhidos foram aqueles elementos da natureza encontrados no próprio
parque.
Voltaram, então, ao parque ecológico de “Seu” Luiz para coletar os
materiais: foram recolhidos galhos e folhas secas, sementes, troncos, areia e
pedras, enfim, elementos encontrados no chão do próprio parque, colocados
em sacos e guardados para o próximo encontro.
Na sala de aula desenharam em cartolinas e papelão Paraná,
ambientes, cantos e recantos do parque como o bebedouro com água da mina,
e até mesmo as próprias esculturas do “Seu” Luiz. Alguns alunos, porém, não
conseguiram produzir, pois não queriam participar. Notou-se, então, a falta de
sensibilidade e/ou interesse para a leitura de imagem.
Figura 12: o bebedouro com água de mina e a reprodução em desenho com texturas
Fonte: a própria autora
Figura 13: o bebedouro com água de mina
Fonte: a própria autora
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Buscar a sensibilização e o olhar imagético dos alunos e da comunidade
foi o grande desafio desta pesquisa-ação que deve ter continuidade.
Oportunizou-se, através de atividades bem planejadas e estruturadas, a
abertura para a leitura de imagem atingindo e favorecendo a autoconfiança, o
autoconhecimento, a imaginação criadora e, claro, despertando o interesse
pela apreciação da manifestação cultural na maioria da turma e na comunidade
que visitou a exposição dos trabalhos.
Alguns alunos não tiveram dificuldades em desenvolver o pensamento
reflexivo, pois não alcançaram ainda uma sensibilidade para a leitura de
imagens, já que não foram preparados para tal empenho, consequência da
ausência de contato com a manifestação artística, provocando o desinteresse
pelos conteúdos nas aulas de arte.
Com uma boa parte dos alunos não consegui amadurecer o modo de ver
o mundo, não teve a troca de informações que permite a socialização, mas
teve compartilhamentos de experiências e assim objetivando oportunidades
para um esclarecimento da leitura de imagem, construindo discursos
interpretativos e favorecendo a aprendizagem na Arte.
Com a finalização do projeto de implementação foi realizado uma
exposição dos trabalhos dos alunos junto com o artista local, com a
participação da comunidade Jabotiense. Assim, o resultado da implementação
teve seu objetivo alcançado, as diferentes formas de expressão foram
respeitadas e valorizadas pelo processo cultural e de construção do indivíduo
na sociedade.
Para que haja mudanças neste cenário, é necessária a continuidade
deste trabalho para que o professor possa educar seus alunos para a
apreciação e leitura de imagens, desenvolvendo esse hábito nas aulas de Arte,
mas sempre atento à construção do pensamento crítico, porque este enriquece
o repertório cultural dos alunos, que passam a conhecer os artistas e as
mensagens em suas obras. Ensinar a ver é o que faz toda a diferença e
permite o diálogo com as obras além de possibilitar a produção de sua própria
arte.
REFERÊNCIAS: Barbosa, A. M.(org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte: Arte-Educação; leitura no subsolo, São Paulo: Cortez, 2001. __________ (org.). Inquietações e mudanças no ensino de arte. São Paulo: Cortez, 2002. __________ MARTINS, Mirian Celeste, PICOSQUE Gisa, GUERRA. M.: Conceitos e terminologia; aquecendo uma transformação: atitudes e valores no ensino da arte. 49-60. São Paulo: Cortez 2002. __________ TOURINHO, Irene. “Transformações no ensino da Arte: algumas questões para uma reflexão conjunta". BARBOSA, Ana Mae. 2ª Ed. São Paulo: Cortez. 2002. COSAC, Charles. Farnese objetos. 2 ed. Ver., CosacNaify. São Paulo, 2005. Efland, Arthur D."Cultura, sociedade, arte e educação num mundo pós-moderno." O Pós-Modernismo. 173-188. São Paulo.Perspectiva. 2005. FELDMAN, Edmund Burke. Becoming human through art aesthetic esperience in the school.New Jersey: Prentice-hall-1970. Franz, T. S. Educação para uma compreensão crítica da arte. Florianópolis. Letras Contemporâneas, 2003. FUSARI, MF de R., e FERRAZ, Maria H. "Metodologia do ensino de arte”. Cortez Editora, São Paulo. 1993.
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