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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO ... · objetivando proporcionar ao leitor um alargamento do seu “conhecimento do mundo” e também o “conhecimento

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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¹Especialista em: Educação Especial Inclusiva e Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, Graduada em Língua Portuguesa pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Cornélio Procópio, professora de Língua Portuguesa e Língua Inglesa da rede pública de ensino do Estado do Paraná, atuando no Colégio Estadual Professor Aídes Nunes da Silva e Colégio Estadual José Domingues da Costa em Congonhinhas-PR, e participa do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da SEED-PR. ²Atualmente é professora titular da UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ . Tem experiência na área de Letras, com ênfase nas disciplinas de Literatura Portuguesa e Literatura Infanto Juvenil. Doutoranda em Letras pela UNESP (Universidade Estadual de São Paulo).

O CONTO NOSSO PONTO DE ENCONTRO NA SOCIEDADE

CONTEMPORÂNEA

Autora: Iliedes Mendes Salles ¹

Orientadora: Maria Aparecida de Fátima Miguel ²

Resumo: Tendo em vista a ''Desigualdade Social'' que assola nosso país e consequentemente

reflete em nossos educandos, desenvolvi este trabalho, partindo de imagens provocando desta forma a criticidade sobre o tema, abrindo também discussões que descortinaram a realidade social brasileira que embora, afligindo a tantos vem de forma mascarada e enganosa. Ainda dentro desta perspectiva realizei um trabalho com letras de músicas e trechos de filmes que ajudaram a compreender melhor as consequências da ''pobreza'' em seu mais amplo aspecto, lembrando que a ''pobreza cultural'' é uma venda nos olhos de nossos alunos e que esta tem impedido a sociedade de se tornar mais justa e igualitária. Apoiada pelo Método Recepcional, através do qual embasei este trabalho no sentido de ampliar horizontes de expectativas, exploramos poemas e posteriormente contos que trouxeram à tona o tema, com o objetivo de desenvolver a criticidade e o movimentar-se do lugar comum para uma mudança de postura, abandonando a acomodação. Já na última etapa do método citado e percebendo a maturidade dos educandos em relação a realidade que afeta a grande maioria da população, ofereci o gênero conto, como ''ponto de encontro'' para as discussões sobre a desigualdade social na a sociedade contemporânea.

Palavras-chave: sociedade, desigualdade, cultura, método recepcional, contos, pobreza.

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1 INTRODUÇÃO

Em razão da desigualdade social que abre um leque para problemas como os

que abrangem; a falta de moradia, preconceito racial, pobreza, falta moradia,

ineficácia na segurança pública, educação de má qualidade, desemprego, violência

urbana entre tantos outros, justifica-se o presente projeto relacionando literatura e

sociedade, sendo a primeira uma oportunidade de ajudar a cumprir a função social da

escola, dando voz e vez através da interação e ampliação do senso crítico. Portanto,

não podemos deixar de destacar a fundamental responsabilidade que essa relação

exerce na organização e formação ideológica de uma sociedade: a literatura como um

compromisso social, através da qual se pode proporcionar à criança um caminho para

a maturidade e para a busca da sua identidade.

A finalidade do projeto é discutir comportamentos sociais através de trechos de

filmes, poemas, músicas, reportagens e imagens chegando finalmente aos contos,

objetivando proporcionar ao leitor um alargamento do seu “conhecimento do mundo” e

também o “conhecimento do seu próprio ser”, buscando a função humanizadora da

Literatura, a qual permite representar, cognitiva ou sugestivamente, a realidade social

e também a fantasia para que na medida em que atue, o aluno possa tanto no âmbito

individual, como no social transportar se para um mundo que, por mais longe que

esteja do quotidiano, leve a refletir e a enriquecer a sua vivência e a sua experiência

dentro do âmbito social, que o leitor compartilha a sua experiência de leitura, com

outros leitores, trocando desta forma, ideias e opiniões.

O trabalho realizado em sala de aula se iniciará com outros gêneros mais

acessíveis aos educandos, em seguida a abordagem do gênero conto, que por sua

vez tem por finalidade uma crítica lúdica da realidade social, cumprindo a missão de

conduzir o aluno a reflexão sobre o papel do ser humano na sociedade, bem como

despertar-lhe a consciência da sua identidade própria, para que este escolha o

caminho correto sem olhar as diferenças, sem preconceitos e sem discriminação,

porém com anseios de construir uma sociedade mais justa e igualitária.

O projeto ''O conto: nosso ponto de encontro na sociedade contemporânea'',

vem nos aproximar da necessidade de enfrentamento com vistas à transformação da

realidade social, apoiando dessa forma uma educação na qual o espaço de

conhecimento, sendo este a escola, organize-se em favor de uma formação

humanista e tecnológica, de confronto e diálogo de conhecimentos do cotidiano, de

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formação de sujeitos e, que construam sentidos para o mundo, que compreendam

criticamente o contexto social e histórico do qual são frutos, sendo pelo acesso ao

conhecimento, tornando-se capazes de exercer uma cidadania plena e

transformadora da realidade.

A escola pública, brasileira, nas últimas décadas, vem atendendo um número

muito maior de alunos que vem de classes populares, o que nos leva a repensar a

nossa responsabilidade enquanto educadores de desenvolver na escola a capacidade

de análise crítica, argumentação e reflexão. Mas o que observamos é que esta vem

enfrentando grandes dificuldades em cumprir a função formadora e reflexiva a

respeito da sociedade que de fato desejamos e de contribuir para que esta seja mais

justa, proporcionando oportunidades para todos, quer através do conhecimento que

veicula quer pelos conteúdos das disciplinas escolares. Porém a escola vem

reforçando o desnível de classes, a desigualdade e o comodismo em relação a

condição em que vivem a maioria de nossos educandos, deixando de incomodar, de

provocar sobre a necessidade de mudanças.

Então perguntamos: porque a escola não tem cumprido sua função social? O

que esta pode fazer a partir dos conteúdos ministrados para que possamos construir

um mundo mais justo e humanizado, no qual as pessoas exerçam valores de

solidariedade, amor ao próximo, verdade e justiça?

O que a disciplina de Língua Portuguesa tem realizado para que se efetive

esse processo de discussão contínua da sociedade e para que nossos educando

reflitam, compreendam a sociedade em que estão inseridos e sintam a necessidade

de mudança para que esta seja mais justa?

De que forma a Literatura tem sido instrumento de luta e renovação que incita à

mudança e desperta o gosto pela leitura, a reflexão e motivação?

É necessário que nós educadores saibamos que há em todo texto uma carga

ideológica e que estas produções podem ser questionadas, averiguadas, visto que

nenhum texto é “inocente”. Sabemos que todo enunciado nasce dentro de um

contexto “político”, portanto devemos nos postar de maneira crítica diante das

mensagens implícitas contidas naquilo que lemos de forma a perceber os valores

inerentes a cada mensagem que nos é transmitida de forma a desvendar-lhe as

possíveis ideologias, a crítica, ou a denúncia feita por meio da obra escrita. Esta

passa a ser um espaço de transformação, na qual o autor coloca sua experiência a

partir desta podemos refletir sobre a nossa própria história.

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Os textos veiculados em sala de aula tem tornado nossos alunos críticos

participativos, atuantes socialmente, sendo significativos, coerentes e estimulantes

para que desenvolvam a leitura e escrita? Tem sido instrumento que os transporte ao

mundo letrado? Estes têm sido suficientemente capazes de inserir nossos

educandos na sociedade como cidadão participativos e conscientes? Estes textos

veiculados em sala de aula tem sido coerentes com a idade e horizonte de

expectativas? Como os mesmos são abordados em cada turma, uma vez que estas

são heterogêneas?

De que forma temos dado voz aos nossos educandos por meio dos vários

mecanismos de comunicação, interação e em que medida temos desenvolvido

atividades realmente significativas e importantes para formação do nosso aluno?

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2 A ESCOLA DEVE ABRIR AS PORTAS PARA A PARTICIPAÇÃO

SOCIAL

A partir da leitura e reflexão das DCEs de Língua Portuguesa, Paraná, 2008

podemos observar que a escola pública brasileira passou a atender um número

cada vez maior de estudantes oriundos das classes populares, intensificando a

necessidade contínua de discussões sobre o papel da mesma na sociedade,

ressaltando ainda que um sujeito é fruto do tempo histórico, das relações sociais em

que está inserido e também atuante no mundo a partir do modo como o compreende

e através das possibilidades de participação no memo. A leitura do documento ainda

nos esclarece que ao definir qual formação se quer proporcionar a esses sujeitos, a

escola está definindo como esses educandos participarão na sociedade, tendo o

currículo caráter político e objetivo na construção de uma sociedade mais justa,

onde as oportunidades sejam iguais para todos.

Assumir um currículo disciplinar e dar a escola a autonomia para a

socialização do conhecimento que para muitos dos educando é oportunidade única

de acesso ao mundo letrado, conhecimento científico, a reflexão filosófica e o

contato com a arte, a contextualização estabelece relações interdisciplinares e

devem contribuir para a crítica às contradições sociais, políticas e econômicas

presentes na sociedade contemporânea, devendo a escola incentivar práticas

pedagógicas fundamentadas em diferentes metodologias emancipadoras.

O Currículo da Educação Básica, explicitado nas DCEs Paraná, pautando nos

pressupostos de Gramsci, propõe ao aluno formação necessária para que este

possa enfrentar a realidade social, econômica e política de seu tempo através de

uma formação humanista e tecnológica segundo Gramsci em sua defesa. Portanto

podemos entender a escola como espaço do confronto e diálogo entre

conhecimento sistematizado e conhecimento do cotidiano popular.

No documento que norteia a disciplina de Língua Portuguesa, DCEs Paraná,

2008, observamos que no Renascimento o que se entendia por conhecimento se

aproximava muito do pensamento filosófico, buscando explicação racional para o

mundo e fenômenos naturais e sociais. Então o conhecimento científico foi

desvinculando do pensamento teocêntrico, passando o ser humano a explicar a

natureza através das leis, buscando a verdade pelo método científico. Mas a

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dimensão filosófica do conhecimento não desapareceu, está juntamente com a

científica e incluem a interpretação que os sujeitos dão as suas ações, tornando-se o

homem objeto e sujeito do conhecimento, elementos que não se confundem mas

não devem se separar.

No que diz respeito a dimensão artística, as DCEs Paraná de Língua

Portuguesa, 2008, ressaltam que esta é fruto da experiência do ser humano com o

mundo e o conhecimento, materializada na obra de arte, sendo esta fundamental

para a educação, pois é na escola o espaço de construção de novos conhecimentos,

através do processo de criação nas diversas disciplinas.

A orientação que as DCEs do Estado do Paraná de Língua Portuguesa, 2008

atribuem aos professores é o de participar ativamente da construção curricular e se

organizar para o trabalho pedagógico a partir do conteúdo estruturante que é o

Discurso como prática social, sendo que os conteúdos estruturantes das várias

disciplinas articulam-se entre si e fazem parte da proposta pedagógica curricular das

escolas para a partir daí então, o professor elaborar o plano de trabalho docente,

vinculado a realidade e às necessidades de cada turma, de forma que dialoguem

entre si numa perspectiva interdisciplinar e contextualizada em que professores e

alunos possam agir em favor de mudanças nas estruturas sociais.

No que diz respeito a avaliação, as DCEs Paraná, 2008 de Língua

Portuguesa tem uma perspectiva de trabalho que vem assumir uma dimensão

formadora, possibilitando o trabalho com o novo de forma criadora e criativa,

acompanhando o desempenho do educando e orientando possibilidades para o

futuro de forma a mudar as práticas ineficientes, sendo a avaliação parte do trabalho

dos professores e subsídios para tomadas de decisões durante o processo,

contribuindo para intervenções, acompanhamento e desenvolvimento cognitivo

realizado no coletivo da escola.

A reflexão do histórico que consta nas DCEs Paraná de Língua Portuguesa,

2008, nos apresenta as mudanças nos diversos contextos relacionados a disciplina,

sendo o primeiro, o ensino de língua Portuguesa no Brasil com a educação jesuítica,

se propondo a catequizar e alfabetizar ao mesmo tempo, mantendo o discurso da

igreja, visando a expansão católica e favorecendo o modelo de sociedade

escravocrata e de produção colonial. Os colégios eram destinados somente aos

filhos da elite colonial, o que nos leva a refletir sobre a desigualdade social, que

insiste em permanecer na sociedade atual.

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As primeiras práticas pedagógicas, segundo as DCEs Paraná de Língua

Portuguesa, 2008, moldavam-se ao ensino do latim para os poucos que tinham

acesso, visando a construção de uma educação reprodutivista, perpetuando a

ordem patriarcal, inculcando a obediência . Nesse contexto, o ensino de Língua

Portuguesa, limitava-se a ler e escrever, através de aulas de gramática latina e

retórica, em escolas mantidas pelos jesuítas, afirmação que nos leva a repensar

nossa prática ainda hoje, a qual ainda é muito limitada.

Ainda nas DCEs Paraná de Língua Portuguesa, 2008 observamos que no

período colonial, a língua mais utilizada era o tupi que foi utilizada por muito tempo

na comunicação informal por grande parte da população não escolarizada e o

português era a língua da burocracia. Com as expedições bandeirantes e a

descoberta da riqueza mineral no Brasil, o bilinguismo não interessava mais aos

propósitos colonialistas de Portugal, tornando-se relevante a unificação e

padronização linguística. Neste contexto, um decreto de Marquês de Pombal, em

1758 torna a Língua Portuguesa idioma oficial do Brasil e consequentemente vem a

expulsão dos jesuítas, os quais haviam catequizado índios e produzido literatura em

língua indígena. A partir dessa reflexão, podemos dizer que a hegenomia da Língua

Portuguesa foi efetuada a ''ferro e fogo'', marcada por proibições, expulsões,

perseguições e massacres, porém influenciado por ideias iluministas. E nesse

momento histórico é que Marquês de Pombal torna obrigatório o ensino de Língua

Portuguesa em Portugal e no Brasil.

O ensino de Língua Portuguesa, de acordo com as DCEs, Paraná, 2008 era

fragmentado em gramática, retórica e poética e ministrado por professores

autodidatas com formação humanística. Mas a partir da industrialização houve

necessidade de rever o ensino a partir de uma tentativa hierarquizada e seletiva e o

conteúdo gramatical ganhou a denominação de Português e 1871 é criado o Decreto

Imperial referente ao cargo de Professor de Português.

Com a Proclamação da Independência, de acordo com a abordagem histórica

nas DCEs Paraná de Língua Portuguesa, 2008, o Latim perdeu o seu prestígio,

inicia-se a valorização de uma língua nacional e a defesa de princípios por jovens

burgueses que garantissem uma a unidade nacional, dentro de um contexto

romântico. Neste momento surgem escritores nascidos e formados em solo

brasileiro e que ansiavam por produzir uma literatura genuinamente nacional, que

ostentasse “a cor local”, termo usado pelo escritor Joaquim José Machado de Assis,

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em seu artigo denominado; Instinto de Nacionalidade. Este processo inicia-se

durante o Romantismo e vai crescendo à medida que surgem escritores que

desejam produzir uma literatura com as feições do país a citar; Graça Aranha,

Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Lima Barreto, cujas produções foram

instrumento de forte crítica social, uma vez que idealizam um pais melhor, por meio

do respeito à alteridade, partindo para a produção que se afastava dos grandes

centros e retratava as faces várias do Brasil, por meio do Regionalismo presente em

suas obras.

Consequentemente o amadurecimento das ideias em torno de ter uma

literatura “nossa”, onde os ideais de independência da arte europeizada fosse

essencial deu origem à Semana de Arte Moderna (1922), marco da ruptura com a

norma, com o seguimento de modelos europeus. A semana foi um divisor de águas

e uma destas marcas foi a ruptura com a norma gramatical, com o zelo pela língua

padrão, voltando a expressão livre, coloquial em desprezo da norma culta. Sob a

égide dos Modernos todas as falas eram expressão de nacionalidade, portanto

estavam sempre em conflitos com os defensores do bem falar, da gramática. Seu

objetivo era romper com os modelos tradicionais portugueses e privilegiar o falar

brasileiro, contribuindo dessa forma para a aproximação entre o falar e a escrita.

Exemplos desta ruptura são as produções de Oswald de Andrade e Mário de

Andrade, Sousândrade, além outras formas de manifestação de Cultura. Mas por

outro lado o ensino de Língua Portuguesa manteve seu caráter elitista até o século o

XX.

Somente na década de 60 é que inicia-se o processo de expansão de ensino

primário público, juntamente com a ampliação de vagas e eliminação dos exames de

admissão. As consequências foram a multiplicação de alunos em escolas e ações

pedagógicas sem condições para o momento. Surge então nesse contexto e no

ensino de Língua Portuguesa a necessidade de propostas pedagógicas que

levassem em consideração as necessidades trazidas pelos alunos muito diferentes

dos até então estabelecidos. Salientamos que este novo público, fruto do êxodo

rural, trouxe consigo um conhecimento prévio de leitura muito restrito e apresenta

dificuldades extremas em adaptar-se ao Método Tradicional, a consequência desta

realidade é a repetência e evasão escolar.

Nesse breve histórico apresentado pelas DCEs Paraná de Língua

Portuguesa, 2008, podemos deixar de citar a Ditadura Militar, a qual concebe a

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educação à educação uma função tecnicista baseada em exercícios de

memorização, impondo uma formação acrítica e passiva. Abrimos aqui um

parênteses para refletirmos nossa prática, enquanto docentes, verificando se em

nossas aulas não tem repetido esta base, a qual não tem levado nossos educandos

a exercer a criticidade de forma ativa e coerente com as necessidades sociais

atuais. Sabemos ainda que a lei n.5692/71, ressalta que o ensino deveria estar

voltado à qualificação para o trabalho, o que chamamos de pedagogia tecnicista,

sendo o ensino de Língua Portuguesa função enquanto docentes um meio de

comunicação, cujo objeto é a língua vista como código, afastando o aluno de classes

menos favorecidas, da norma culta da língua portuguesa.

Da forma com que se “valoriza” o ensino da Língua Portuguesa, situando-a

como única variante possível em detrimento dos vários falares trazidos pelos

alunos das classes menos favorecidas, ocorrendo uma estigmatização deste

público que o leva a evadir-se do contexto escolar. Toda esta situação é reforçada

pelo uso da gramática isolada em prejuízo da prática de leitura, o que gera um

amordaçamento da população que se mantém passiva diante das ideologias que

lhe são repassadas.

Fica claro nas DCEs Paraná de Língua Portuguesa, 2008, que a leitura do

texto literário, no ensino primário visava transmitir a norma culta da língua, com

base em exercícios gramaticais e estratégias para incutir valores religiosos, morais

e cívicos, formando cidadãos que respeitassem a ordem estabelecida. Porém na

década de 70 esse ensino se restringiu ao chamado na época, segundo grau, com

abordagens estruturais e formalistas, conforme pressupostos importados que

limitavam a participação do leitor e faziam do texto apenas pretexto para o ensino

da gramática. Justifica-se este formato de ensino como um instrumento de controle

exercido pela Ditadura Militar, o qual não suportava uma prática pedagógica que

despertasse o espírito crítico e criador do aluno, desta forma prioriza-se o ensino

da gramática devido ao caráter libertador da arte. A literatura é considerada

subversiva, pois conduz à compreensão crítica do mundo. Segundo Demerval

Saviani em Escola e Democracia a escola atua, neste momento, como um

aparelho ideológico do Estado, instrumento de controle das massas e, neste

contexto, não há espaço para a Literatura e nos raros momentos onde esta foi

usada, optou por textos “utilitários” que repassavam valores dos grupos de elite,

com claro objetivo de lhes assegurar manter o seu “status quo”.

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De acordo com as DCEs Paraná de Língua Portuguesa, 2008, houve uma

tentativa de rompimento com as práticas limitadas nas aulas de Literatura, ainda em

1970, mudando apenas a metodologia, embora as análises ainda fossem muito

simplificadas, através de questionários sobre personagens, tempo e espaço. Mas

com o fim da ditadura houve aumento de cursos de pós graduação para formação

de uma elite de professores e pesquisadores, direcionado para o pensamento crítico

em relação a educação, fortalecendo dessa forma a pedagogia histórico crítica, em

torno da qual destacam-se nomes de Paulo Freire e Demerval Saviani.

Na disciplina de Língua Portuguesa, a Pedagogia Histórico Critica se revelou

nos estudos linguísticos centrados no texto/contexto e na interação social das

práticas discursivas, chegando no Brasil entre 1970 e 1980, através das primeiras

obras de um grupo composto de estudiosos de várias formações e interesses

intelectuais, dentre eles Bakthin, o qual juntamente com seu grupo defendia que a

língua constitui um processo de evolução ininterrupto, que se realiza através da

interação verbal social dos locutores, contexto que podemos refletir nas DCEs

Paraná de Língua Portuguesa, 2008.

Nessa perspectiva histórica do ensino de Língua Portuguesa, as DCEs do

Estado do Paraná, 2008, revelam que o Currículo Básico para a Escola Pública do

Paraná orientava, já a partir de 1988, a um trabalho de sala de aula voltado para a

leitura e produção, rompendo com o ensino tradicional, não mais centrado na

gramática, porém para o domínio efetivo do falar, ler e escrever. No final da década

de 90 são implantados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), dentro de uma

concepção interacionista propiciando um trabalho voltado para o aluno enquanto

sujeito que participa efetivamente da construção do processo histórico, e dentro

desta perspectiva o texto tem fundamental importância, pois registra as marcas

deixadas pelo homem.

Concluímos através da análise das DCEs Paraná de Língua Portuguesa,

2008, que o percurso da disciplina de Língua Portuguesa na Educação Básica

requer novos posicionamentos em relação às práticas de ensino e nessa construção

de alternativas resultando no documento citado, este vem dar ênfase a língua viva,

reflexiva e produtiva, ressaltando a linguagem como prática pedagógica central,

partindo do conteúdo estruturante, paralelamente as práticas linguísticas que o aluno

traz de casa de forma inclusiva no aprimoramento das aptidões linguísticas dos

estudantes.

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As DCEs Paraná de Língua Portuguesa, 2008, destaca que nossa tarefa

enquanto educadores é de possibilitar que os educandos participem de diferentes

práticas sociais, sendo estas atividades entendidas nestas diretrizes como humanas

e exercidas com e na linguagem, para que finalmente se efetive o que explicita o

documento, DCEs Paraná, 2008. ''Dessa forma aconteça de fato a inserção de todos

os que frequentam a escola pública em uma sociedade cheia de conflitos sociais,

raciais religiosos e políticos de forma ativa, marcando, assim suas vozes no contexto

em que estiverem inseridos''. Se a escola desconsiderar a citação acima, o sujeito

ficará a margem dos novos letramentos não se constituindo no âmbito de uma

sociedade letrada, o que vem a reforçar a desigualdade social e consequentemente

a ''pobreza'' em seu mais amplo sentido.

O ensino da Língua e Literatura exige que pensemos nas contradições

contemporâneas, pois mesmo vivendo na ''era da informação'', tendo acesso rápido

à leitura, convivemos com o analfabetismo funcional e baixo desempenho do alunos

em relação a compreensão e análise crítica, o que tem demonstrado os resultados

das avaliações educacionais. Então podemos dizer que o ensino de Língua

Portuguesa ainda privilegia regras e nomenclatura da gramática tradicional. Mas é

no processo da interação social que a palavra significa, pois a fala é de natureza

social, o que segundo Bakthin, destacado nas DCEs Paraná de Língua Portuguesa,

2008, implica dizer que os homens não recebem a língua pronta para ser usada, o

que requer que se considere os aspectos sociais e históricos em que o sujeito está

inserido, bem como o contexto de produção, já que seus significados são sociais e

historicamente construídos.

Portanto as práticas discursivas presentes nos diversos gêneros que fazem

parte do cotidiano dos educandos podem ser legitimadas na escola, o que acontece

em um processo interativo através da leitura, escrita e oralidade, para que

posteriormente este possa formular seu próprio discurso e interferir na sociedade a

qual está inserido, já que língua é instrumento de poder e a escola tem a

oportunidade de democratizar este precioso instrumento que deve ser utilizado para

diminuir a desigualdade social e consequentemente a pobreza em todos os seu

aspectos, garantindo a socialização do conhecimento, acolhendo aos alunos a partir

do conhecimento linguístico dos mesmos.

No que se refere à Literatura ponto crucial neste trabalho, as DCEs Paraná de

Língua Portuguesa, 2008, enfatizam que a mesma está intrinsecamente ligada a

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vida social e esta é vista como arte que transforma e humaniza o homem e a

sociedade com três funções: a psicológica, a formadora e a social. Sendo que a

primeira permite ao homem o mergulho em um mundo de fantasia e catarse, já a

segunda faz parte da formação do sujeito sendo um instrumento de educação,

retratando realidades não reveladas pela ideologia dominante. Em relação à função

social da Literatura, ponto mais relevante na abordagem do presente projeto,

consideramos a participação do leitor, pois sem ato participativo da leitura a obra

literária seria inexistente, pois é este que preenche as lacunas do labirinto textual

conforme o conhecimento de mundo e experiências de leitura anteriores.

Baseando-nos nos pressupostos da Estética da Recepção postulados por

Hans Robert Yauss e Iser concluímos que a leitura pressupõe interpretações

diferentes que variam de acordo com a recepção do leitor e como amparo para a

realização deste trabalho priorizaremos o uso do Método Recepcional, idealizado

pelas Professoras Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar e que se

fundamenta na Estética da Recepção. O referencial teórico norteará nosso

encaminhamento metodológico, pois possibilita ao educando ampliação do

conhecimento através de debates, reflexões, tornando-o um sujeito ativo no

processo da leitura. Segundo Bordini e Aguiar o objetivo do método é a efetivação

de leitura crítica e transformação de horizontes e expectativas, atingindo

positivamente professores, escola e comunidade.

3 UMA METODOLOGIA QUE ABRE OS HORIZONTES DE

EXPECTATIVAS

De acordo com Bordini e Aguiar, 1993, o Método Recepcional divide-se em

cinco etapas, delimitadas pelo professor a partir da necessidade de tempo para

aplicabilidade de cada uma, contemplados no plano de trabalho docente para que

seja oportunizada a determinação dos horizontes de expectativa do aluno referente

a primeira etapa, do método.

Em Bordini e Aguiar a segunda etapa do Método, é o próprio atendimento, por

parte do professor apresentando textos que venham de encontro com as

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experiências de leitura do educando, o que é feito através da seleção de obras que

tenham um senso estético aguçado.

Somente através da ruptura do horizonte de expectativas consideramos o

início da terceira etapa e é esse o momento de mostrar ao aluno / leitor que nem

sempre determinada leitura é o que ele espera e que suas certezas podem ser

modificadas. Vale a pena ressaltar que para esse trabalho o professor deve

distanciar o aluno do senso comum, ampliando seu horizonte de expectativa.

A quarta etapa do método que se destina a autoavaliação a partir dos textos

oferecidos que gradativamente tornam-se mais complexos, trazendo mais

conhecimento, questionamentos e ampliação do horizonte de expectativas,

percebidas pelo próprio aluno.

E Finalmente vem a quinta e última etapa do Método Recepcional que é a

reflexão e tomada de consciência para possíveis mudanças a través da ampliação

do conhecimento. BORDINI e AGUIAR afirmam que:

Todos os livros favorecem a descoberta de sentidos, mas são os literários que fazem de modo mais abrangente. Enquanto os textos informativos atêm-se aos fatos particulares, a literatura dá conta da totalidade do real, pois, representando o particular, logra atingir uma significação mais ampla. (BORDINI e AGUIAR 1993, p. 13)

De acordo com as autoras Bordini e Aguiar, o que importa não é apenas o fato

sobre o qual se escreve, mas a forma de o homem pensar e sentir esse fato, que o

identificam com outros homens de tempos e lugares diversos. Podemos afirmar após,

leitura e reflexão do livro Literatura a formação do leitor Alternativas Metodológicas das

referidas autoras, que o leitor de Literatura tem a atividade de reconstruir todo o

universo simbólico que as palavras encerram com base nas vivências pessoais do

sujeito, sendo a Literatura um veículo para experimentar o que na realidade não pode

ou não sabe.

Para que a escola possa produzir um ensino eficaz da leitura da obra literária,

devemos cumprir certos requisitos que são instrumentos fundamentais na educação

pública intitulada de boa qualidade: a disposição de uma boa biblioteca, professores

leitores com boa fundamentação metodológica, programas de valorização da Literatura

e bibliotecários que promovam o livro.

Mas bem sabemos que o acesso a leitura, embora estejamos na era da

informação, encontra muitas barreiras: falta a interação democrática entre educandos e

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professores, a biblioteca da escola tornou-se na maioria das vezes o espaço em que se

destina ao ''castigo'', se o aluno chegou atrasado fica na biblioteca lendo um livro, se

incomoda na sala vai para a biblioteca, como se essa fosse instrumento de punição, se

não há espaço para guardar determinado equipamento, se não há espaço para

reuniões, se um funcionário não rende na sua função, pode ser o bibliotecário, enfim a

escola tem deixado de cuidar do seu ''coração'„, a biblioteca.

Podemos claramente hoje ver as consequências cada vez mais drásticas no que

se refere ao parágrafo acima que é a ausência do estímulo, a falta de reconhecimento

humano, a decadência na convivência social e a desvalorização do conhecimento que

num conjunto lhe impede de compreender melhor o presente e seu papel como sujeito

histórico e, assim a sociedade é dividida em dois grupos, sendo cultos, em menos

número e incultos, com um número cada vez mais assustador, gerando a desigualdade

social de classes e aumentando assim cada vez a pobreza em seu mais amplo sentido,

denunciando a escola de trair seu objetivo fundamental que é a promoção social.

A escola pública, todavia, embora nascendo com esse propósito de equalização, cedo, revelou-se mais um aparelho de dominação das classes populares, traindo o seu objetivo inicial. Talvez essa traição se explique pelo fato de que a escola, na verdade, surgiu por iniciativa da burguesia emergente, que desejava ascender ao status social da aristocracia. As classes trabalhadoras menos favorecidas já de início não entraram nesse projeto de formação cultural, determinando a existência de amplos segmentos de analfabetos. (BORDINI e AGUIAR, 1988, P.10).

É pertinente dizer, a partir da leitura e análise do livro Literatura a formação

leitor Alternativas Metodológicas, de Bordini e Aguiar que o alinhamento do aluno em

toda a dinâmica do processo literário, concretiza-se na medida do prazer que o

trabalho provoca, através de atividades de exploração das obras, comprometidas

com o fortalecimento, com possibilidades do leitor de se encontrar no texto em um

ambiente de arrebatamento e entusiasmo, sendo então nosso papel enquanto

professores, o de adotar uma postura crítica, realizar a leitura prévia e compreensiva

e buscar o conhecimento das obras e história literária, pré requisitos para a leitura

do aluno. Devemos ainda nessa valiosa função de professor conhecer as teorias

literárias, pois estas possibilitam visões da Literatura, para que possamos selecionar

textos de acordo com as necessidades de nossos alunos, tarefa primordial.

Conhecer e analisar métodos de abordagem textual para que sirva de suporte para a

prática, de acordo com as divergências e postura ideológicas norteadoras de nossas

aulas.

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Neste trabalho, especificamente, o método escolhido para a abordagem

literária vinculado a um problema enfrentado pela sociedade que é a ''desigualdade

social'' geradora de pobreza é o Método Recepcional, o qual vem de encontro com

a necessidade de aproximar texto e leitor, criando possibilidades de diálogo com a

obra, para a qual o aluno venha adotar uma postura de disponibilidade, permitindo

que os textos atuem sobre suas expectativas, conhecendo o gênero, comparando-

os e incluindo componentes do seu horizonte de expectativas.

Durante a aplicabilidade do Método Recepcional, é fundamental que o aluno

tenha contato com diferentes textos, que partem do horizonte de expectativa do

grupo, para que estes efetuem leituras compreensivas e críticas e ainda sejam

receptivos a novos textos que os levem futuramente a participação e

transformação da realidade, exercendo a cidadania plena, através do ''poder'' que

a escola pode lhe oferecer, inserindo-o em um ''mundo letrado'' capaz de abrir a

mente para compreender e interagir na sociedade de forma positiva e

transformadora.

4 O CONTO COMO INSTRUMENTO DE REFLEXÃO

Segundo a autora Nelly Novaes Coelho, no livro Literatura Infantil teoria

análise Didática (p.16, 2005), a escola é, hoje, o espaço privilegiado, em que

deverão ser lançadas as bases para a formação do indivíduo. Pensando na

afirmação acima, podemos dizer que os contos são instrumentos importantes para

que a partir deles o nosso educando pense a sociedade na qual está inserido e surja

dentro de si o desejo de transformação da própria realidade.

Na Literatura infantil juvenil, surge a tendência de se substituir o heroi individual, infalível, ''ser de exceção'', pelo grupo, pela patota, formada por meninos e meninas normais. Ou então, por personagens questionadoras das verdades que o mundo adulto lhes quer impor. (COELHO, 2005, p.24).

A Literatura precisa ser redescoberta nas escolas, porém dentro de uma

contemporaneidade capaz de promover a reflexão crítica de problemas sociais mais

próximos do cotidiano do aluno, para que este possa agir e interagir dentro do seu

grupo, da família, da comunidade de forma positiva em prol da sociedade na qual

está inserido.

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Podemos levar para nossa sala de aula a literatura infantil juvenil para

formação de mentes críticas, conscientes dos problemas e com valores incutido

que reflitam na construção de uma sociedade mais justa. A autora Nelly Novaes

Coelho aborda a questão dizendo:

Enfim, o que hoje define a contemporaneidade de uma literatura é sua intenção de estimular a consciência crítica do leitor; levá-lo a desenvolver sua própria expressividade verbal ou sua criatividade latente; dinamizar sua capacidade de observação e reflexão em face do mundo que o rodeia; e torná-lo consciente da complexa realidade em transformação que é a sociedade, em que ele deve atuar quando chegar a sua vez de participar ativamente do processo em curso. (COELHO, 2005, P.151).

Para que o convívio do leitor resulte positivamente nessa aventura

espiritual que é a leitura, muitos são os fatores em jogo. Entre os mais

importantes está a necessária adequação dos textos às diversas etapas dos

desenvolvimento infantil juvenil. É importante nos atermos para a adequação das

obras literárias que vamos levar para nossa sala de aula, já que um texto

inadequado para a idade e interesse dos alunos pode causar uma desmotivação

pela leitura, impedindo dessa forma que o nosso trabalho se efetive

positivamente.

5 IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO NA ESCOLA

O Projeto O conto Nosso ponto de encontro na sociedade contemporânea nos

deu a oportunidade de desenvolver o tema desigualdade social que abrindo um grande

leque para problemas como os que abrangem; a falta de moradia, preconceito racial,

pobreza, falta moradia, ineficácia na segurança pública, educação de má qualidade,

desemprego, violência urbana entre tantos outros. O presente projeto relacionado a

literatura e sociedade, sendo a primeira uma oportunidade de ajudar a cumprir a função

social da escola, dando voz e vez através da interação e ampliação do senso crítico.

Portanto, não podemos deixar de destacar a fundamental responsabilidade que essa

relação exerce na organização e formação ideológica de uma sociedade: a literatura

como um compromisso social, através da qual se pode proporcionar à criança um

caminho para a maturidade e para a busca da sua identidade.

A finalidade do projeto foi de discutir comportamentos sociais através de trechos

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de filmes, poemas, músicas, reportagens e imagens chegando finalmente aos contos,

objetivando proporcionar ao leitor um alargamento do seu “conhecimento do mundo” e

também o “conhecimento do seu próprio ser”, buscando a função humanizadora da

Literatura, a qual permite representar, cognitiva ou sugestivamente, a realidade social e

também a fantasia para que na medida em que atue, o aluno possa tanto no âmbito

individual, como no social transportar se para um mundo que, por mais longe que esteja

do quotidiano, leve a refletir e a enriquecer a sua vivência e a sua experiência dentro do

âmbito social, que o leitor compartilha a partir de sua experiência de leitura com outros

leitores, trocando desta forma ideias e opiniões.

O trabalho realizado em sala de aula se iniciou com outros gêneros mais

acessíveis aos educandos, em seguida a abordagem do gênero conto, que por sua vez

teve por finalidade uma crítica lúdica da realidade social, cumprindo a missão de

conduzir o aluno a reflexão sobre o papel do ser humano na sociedade, bem como

despertar-lhe a consciência da sua identidade própria, para que este escolha o caminho

correto sem olhar as diferenças, sem preconceitos e sem discriminação, porém com

anseios de construir uma sociedade mais justa e igualitária.

Cito aqui, as DCEs do Estado do Paraná de Língua Portuguesa, 2008 instruindo-

nos para que enquanto professores possamos, através da Literatura levar nossos

alunos a se distanciar do senso comum, ampliando dessa forma o seu horizonte de

expectativa, considerando o conteúdo estruturante de Língua Portuguesa ''O discurso

como prática social.'' Essa afirmação nos leva a compreender que o presente projeto

está amparado nessa perspectiva de ensino, na qual são aprimoradas compreensão,

interpretação e análise, canalizando para a criticidade.

Ainda nas DCEs de Língua Portuguesa do Estado do Paraná, 2008, podemos

abstrair qual a formação que se quer proporcionar aos sujeitos e qual o papel da escola,

sendo principalmente o de contribuir na determinação de participar como sujeitos

agentes na sociedade. Afirmamos que o projeto se justifica a partir da orientação

explícita nas DCEs, objetivando construir uma sociedade mais justa, onde as

oportunidades sejam iguais para todos.

'„... dar ênfase a escola como lugar de socialização do conhecimento, pois essa função da instituição escolar é especialmente importante para os estudantes das classes menos favorecidas, que têm nela uma oportunidade, algumas vezes única de acesso ao mundo letrado, do conhecimento...'' (DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS, Língua Portuguesa,Estado do Paraná,1'111 2008 p.14).

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O projeto O conto nosso ponto de encontro na sociedade contemporânea, veio

nos aproximar da necessidade de enfrentamento com vistas à transformação da

realidade social, apoiando dessa forma uma educação na qual o espaço de

conhecimento, sendo este a escola, organize-se em favor de uma formação humanista

e tecnológica, de confronto e diálogo de conhecimentos do cotidiano, de formação de

sujeitos e, que construam sentidos para o mundo, que compreendam criticamente o

contexto social e histórico do qual são frutos, sendo pelo acesso ao conhecimento,

tornando-se capazes de exercer uma cidadania plena e transformadora da realidade.

Uma metodologia que nos amparou durante a execução deste projeto foi o

Método Recepcional de Bordini e Aguiar, 1993, o qual divide-se em cinco etapas,

delimitadas pelo professor a partir da necessidade de tempo para aplicabilidade de

cada uma, contemplados no plano de trabalho docente para que seja oportunizada a

determinação dos horizontes de expectativa do aluno referente a primeira etapa, do

método.

Em Bordini e Aguiar a segunda etapa do Método, é o próprio atendimento, por

parte do professor apresentando textos que venham de encontro com as experiências

de leitura do educando, o que é feito através da seleção de obras que tenham um

senso estético aguçado.

Somente através da ruptura do horizonte de expectativas consideramos o início

da terceira etapa e é esse o momento de mostrar ao aluno/leitor que nem sempre

determinada leitura é o que ele espera e que suas certezas podem ser modificadas.

Vale a pena ressaltar que para esse trabalho o professor deve distanciar o aluno do

senso comum, ampliando seu horizonte de expectativa.

A quarta etapa do método que se destina a auto avaliação a partir dos textos

oferecidos que gradativamente tornam-se mais complexos, trazendo mais

conhecimento, questionamentos e ampliação do horizonte de expectativas, percebidas

pelo próprio aluno.

E finalmente vem a quinta e última etapa do Método Recepcionar que é a

reflexão e tomada de consciência para possíveis mudanças a través da ampliação do

conhecimento. Bordini e Aguiar afirmam que:

Todos os livros favorecem a descoberta de sentidos, mas são os literários que fazem de modo mais abrangente. Enquanto os textos informativos atêm-se aos fatos particulares, a literatura dá conta da totalidade do real, pois, representando o particular, logra atingir uma significação mais ampla. (BORDINI e AGUIAR 1993, p. 13).

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O início do trabalho se deu com apresentação de imagens, denunciando a

desigualdade social presente em nossa sociedade, partindo do pressuposto de que

podemos observar essa situação de pobreza, de miséria, tão próximo a nós em na

maioria das vezes no atingindo, o que implica em olhar para nossa comunidade,

ampliando nosso grau de criticidade, conforme a observação dessa desigualdade de

forma crescente na cidade, no estado, no país e no mundo. Podemos aqui destacar

a determinação dos horizontes de expectativa do aluno referente a primeira etapa,

do método Recepcional de Bordini e Aguiar.

No primeiro encontro com os alunos, analisamos as imagens e promovemos

uma discussão sobre o tema proposto, sendo que houve a participação efetiva dos

mesmos e suas a inferências, se manifestando através da identificação dos

problemas de desigualdade social enfrentados por eles e seus familiares. Foi um

momento de posicionamento crítico, em que os alunos tiveram a oportunidade de

olhar para suas vidas, para seu bairro e detectar problemas que até então estavam

camuflados, talvez pela falta de descortinar, de olhar para situações com um novo

olhar. Essas situações pareciam normais, impossíveis de se mudar, de fazer

diferente, entendendo que cada cidadão tem seus deveres e direitos garantidos e

que nós enquanto cidadãos temos que agir o e interagir na sociedade em que

estamos inseridos.

Ainda nesse primeiro encontro tivemos a oportunidade de produzir cartazes

que chamassem a atenção par ao problemas vivenciados por muitos e socializar no

mural da escola, alertando para nosso papel de cidadão e para o direto e dever de

exercer a cidadania plena, levando a compreensão que cada um pode fazer a sua

parte, que mudanças acontecem quando nos movimentamos politicamente,

detectando os problemas e buscando possíveis soluções através de nosso esforços,

criticidade, autonomia e cobrança daqueles que escolhemos pra nos representar

socialmente.

Partindo do pressuposto de que as imagens apresentadas sobre a

desigualdade social, veio incomodar, fazer com que cada aluno contemplado por

essa aula venha pensar sobre a desigualdade que assola a sociedade, promovendo

a violência, a falta de saúde, a educação de má qualidade, o preconceito entre

tantos outras mazelas que travam a sociedade atual no objetivo de desenvolver se

na execução de deveres e diretos que levam a sociedade a exercer sua cidadania

plena.

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No segundo momento da execução do projeto em pauta, assistimos ao filme

Ilha das Flores, baseado em fatos reais, acontecidos em Porto Alegre, o qual retrata

um sistema de troca, onde o principal objetivo é o lucro, também mostra a dura

realidade enfrentada pelo ser humano mediante as consequências da bruta

globalização da miséria. Onde muitos indigentes têm que disputar sua alimentação

com aquilo que sobra dos porcos, cenas fortes, incômodas e marcantes de modo

que parecem ser irreais aos nosso olhos, porém vamos entendendo que são fatos

que mostram a mais cruel forma de desigualdade social, sendo um instrumento de

reflexão, um meio de acordar aos educandos para essa situação em que estamos

inseridos e muitas vezes anestesiados, observando a vida como se não fossemos

esta sociedade.

Nessa etapa da execução do trabalho, discutimos os fatos apresentados no

filme, trouxermos para nossa realidade e produzimos textos dissertativos sobre as

consequências da desigualdade social em nossa comunidade, sugerimos ainda

possíveis ações para que a ilha das flores fosse realmente “a ilha das flores”, para

que nossa comunidade também pudesse encontrar possíveis soluções para os

problemas enfrentados, ressaltando a questão do lixo, meio ambiente, lideranças,

hortas, possibilidades de renda dentro da própria comunidade, educação, lazer,

entre tantas outras possíveis soluções para os problemas enfrentados pela

comunidade onde estão inseridos nossos aluno.

Dando continuidade aos questionamentos pertinentes ao filme „Ilha das flores‟‟

sobre as necessidades de cada comunidade, levamos para a sala de aula a letra e

música „‟ Comida‟‟ de Arnaldo Antunes, levantando a questão de nossas „‟fomes‟‟.

Temos „‟fome de quê?‟ ‟Durante essa atividade, os alunos puderam refletir sobre

suas necessidades e as necessidades de sua comunidade, o que chamamos de

„‟fomes‟‟ dos seres humanos. Em seguida cada aluno pode escrever poemas falando

de suas „‟fomes‟‟, ou seja, das necessidades, o que implica não somente em comida,

mas cultura, educação, lazer, esporte, enfim necessidades de uma sociedade que se

não forem supridas, a impedem de exercer a cidadania plena.

O quarto momento da execução desse projeto, não foi concluído com êxito,

pois o mesmo necessitava de exemplares do livro Meus Pé de Laranja lima de José

Mauro de Vasconcelos, para os quais não tínhamos recursos para a compra, a

biblioteca do colégio, também não contava com os exemplares, não foi permitido

xerocar devido as despesas, implicando na não execução dessa atividade. Nesse

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momento, então apresentamos um exemplar da obra, comentei e li alguns trechos,

instigando aos alunos que procurassem a obra em outras bibliotecas e realizassem

a leitura da mesma. Pude falar mais uma vez sobre os problemas enfrentados pelas

famílias, a desestruturação familiar devido a desigualdade social.

Essa atividade teria como base a leitura da obra e relatos semanais

realizados pelos alunos, sendo determinado durante a semana quais alunos seriam

os relatores do capítulo lido, sendo que aos demais caberia a análise crítica e

relacionamento com fatos vivenciados em sua comunidade.

O momento que considero crucial na execução desse projeto foi o quinto

etapa com a realização das atividades, tendo como eixo central o poemas O bicho

de Manuel Bandeira, sendo um dos momentos de maior produção e criticidade dos

alunos, já que os mesmos demonstraram grande aceitabilidade e interesse pelo

texto. Foram instigados durante a leitura, na qual fui despertando a curiosidade da

classe sobre que seria o possível „‟bicho‟‟. Ao final da leitura ficaram chocados e

surpresos. Finalizamos essa etapa com a produção de paráfrase que foram

socializadas no mural da escola e teve grande repercussão. Me utilizei de vídeos,

imagens e declamação do poemas variadas para chamar a atenção dos alunos, o

que realmente foi um sucesso e pudemos apreciar produções ricas e críticas.

Em Bordini e Aguiar a segunda etapa do Método, é o próprio atendimento, por

parte do professor apresentando textos que venham de encontro com as

experiências de leitura do educando, o que é feito através da seleção de obras que

tenham um senso estético aguçado.

Nessa sexta etapa do desenvolvimento do projeto, podemos considerar como

um momento de maior maturidade dos alunos e crescimento em grau de criticidade a

respeito do terma proposto, percebendo as consequências da desigualdade social no

mundo e as causas mais aparentes dessa injusta forma de viver, onde a má

distribuição de rendas leva pessoas a reagirem de diferentes formas, sendo estas

muito prejudiciais a nós mesmos, também compreenderam que há pessoas que

através do seu descontentamento, travam lutas por melhores condições, pensando na

sociedade como um todo. Dentro dessa perspectiva, levei pra a sala de aula o

clássico Francês Os Miseráveis, uma adaptação de um musical da Broadway,

direcionando um paralelo entre o filme e o poema O bicho, o que podemos chamar

aqui de contextualização, enriquecendo a capacidade crítica dos alunos. Nessa etapa

exploramos a través de pesquisas sobre a Revolução francesa, levando ao

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conhecimento dos alunos que o tema proposto não é nada novo e que o problema se

arrasta a séculos, porém que em cada período encontramos pessoas dispostas a lutar

por seus direitos e fazer com que se cumpra os deveres.

Após a apreciação do musical Os miseráveis, discutimos sobre a Revolução

francesa, sobre a Desigualdade social e suas consequências e a pobreza que se

arrasta a séculos. Partindo desse ponto realizamos pesquisas sobre o fato histórico e

houve um momento de socialização e discussão em sala.

Somente através da ruptura do horizonte de expectativas consideramos o início

da terceira etapa e é esse o momento de mostrar ao aluno/leitor que nem sempre

determinada leitura é o que ele espera e que suas certezas podem ser modificadas.

Vale a pena ressaltar que para esse trabalho o professor deve distanciar o aluno do

senso comum, ampliando seu horizonte de expectativa.

Ainda dentro da terceira etapa do Método Recepcional, pudemos realizar um

trabalho mais elaborado com produções de paráfrases a partir da leitura e análise

crítica do poema O açúcar de Ferreira Gular,, destacando questões relacionadas a

desigualdade econômica do país. Este foi mais um momento especial e reflexão e

ação, em que o senso crítico e reflexivo foi colocado em exercício a partir de uma

leitura que faz todo essa abordagem e vem diretamente de encontro com os anseios

dos educandos para o momento.

Cabe aqui esta citação que nos permite repensar o papel da escola pública

enquanto transformadora da realidade e articuladora de experiências e conhecimentos

construídos coletivamente, lugar em podemos combater a desigualdade social

gerador das mazelas e vergonhas enfrentadas pelas classes populares:

A escola pública, todavia, embora nascendo com esse propósito de equalização, cedo, revelou-se mais um aparelho de dominação das classes populares, traindo o seu objetivo inicial. Talvez essa traição se explique pelo fato de que a escola, na verdade, surgiu por iniciativa da burguesia emergente, que desejava ascender ao status social da aristocracia. As classes trabalhadoras menos favorecidas já de início não entraram nesse projeto de formação cultural, determinando a existência de amplos segmentos de analfabetos. (BORDINI e AGUIAR, 1988, P.10).

Para reforçar a ideia de que temos que enxergar que há desvalorização do

ser humano e que isto tem que ser descoberto para que a sociedade repense seus

valores, exploramos nesse sétimo momento do projeto a letra e música ''Construção''

de Chico Buarque de Holanda, a qual vem nos chocar ao observarmos que aquele

que constrói na maioria das vezes se torna invisível perante a sociedade.

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Nesta atividade ouvimos a letra da música e fizemos a leitura da mesma,

analisando sua estrutura e aos mesmo tempo fazendo a análise crítica de acordo como

tema proposto, sendo este a desigualdade social. Construção de Chico Buarque, rendeu

uma discussão de sua própria estrutura, e após ouvida a música e iniciada nova

discussão sobre a desigualdade social e desvalorização do ser humano, dando

continuidade, porém de forma mais avançada, já que o próprio texto exige pela sua

estrutura solicitei aos alunos que produção de vídeo sobre a desigualdade social,

ressaltando a ''pobreza'' em todos os seus aspectos e uma pesquisa e coleta de letras de

músicas que abordassem o tema para exposição em sala de aula, com o intuito, mais

uma vez de socialização de textos e enfrentamento ao comodismo perante a situação

observada.

No momento da oitava ação do projeto, pude levar a turma com a filme Entre o

amor e a razão de Cícero Filho, o qual faz uma crítica a dura vida de quem sai de sua

terra, em busca de dias melhores, retratando o êxodo rural, o trabalho infantil, a fé, as

desigualdades sociais e valores familiares, a partir do Norte do Nordeste. A sugestão para

ampliar este trabalho foi uma pesquisa sobre o êxodo rural, incluindo a realidade de

desigualdade social nordestina, utilizando-se de vídeos para mostrar essa dura realidade

e apresentação da música Asa branca de Luiz Gonzaga, atividades que vem ampliar a

visão crítica do aluno a respeito a desigualdade social em outros estados do nosso país,

falando especificamente da região Norte e Nordeste do Brasil.

O nono encontro se destinou ao momento de introdução da quarta etapa do

Método Recepcional, com o filme Central do Brasil, compreendendo que os educandos já

atingiam um nível de maior criticidade a respeito do tema. A partir do filme abrimos uma

discussão sobre a pobreza cultural, geradora de maior desigualdade social, falamos de

poder, sendo que este em mão de pessoas sem escrúpulos e voltados para pessoas

pobres culturalmente concretizam o dominador e o dominado, gerando a injustiça.

Durante a aplicabilidade do Método Recepcional, é fundamental que o aluno tenha

contato com diferentes textos, que partem do horizonte de expectativa do grupo, para que

estes efetuem leituras compreensivas e críticas e ainda sejam receptivos a novos textos

que os levem futuramente a participação e transformação da realidade, exercendo a

cidadania plena, através do ''poder '' que a escola pode lhe oferecer, inserindo-o em um

''mundo letrado '' capaz de abrir a mente para compreender e interagir na sociedade de

forma positiva e transformadora.

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Para enriquecer o trabalho e como atividade de casa, foi solicitado aos os

alunos que trouxessem recortes de revistas, jornais, imagens e vídeos sobre a

desigualdade social para socializar em sala de aula.

A efetivação de um trabalho que venha promover mudanças sociais dentro do

âmbito escolar, familiar e na vida do próprio aluno é a partir de nossa própria

mudança de postura enquanto professores, compreendendo que necessariamente

devemos estudar, analisar, ler e nos aprofundarmos em alternativas metodológicas e

Literatura para que possamos tomar decisões em relação a nossa metodologia.

Sendo assim a leitura e análise do livro Literatura Infantil Brasileira Histórias e

histórias de Marisa Lajolo e Regina Zilberman, que trata da história da Literatura

infantil é de suma importância para nosso entendimento sobre o percurso histórico

da Literatura na contemporaneidade, já que o livro propõe reflexões sobre as obras

da Literatura Infantil publicadas nos últimos cem anos.

A implementação da quinta e última etapa do Método Recepcional, está

diretamente ligada ao trabalho com os contos, abrindo um leque, a partir das

experiências anteriores para discussão em relação ao tema ''Desigualdade social ''.

Nessa etapa foi introduzido o conto Uma vela para Dario de Dalton Trevisan,

conto que trata da desvalorização do ser humano, retornando a leitura da música

Construção com o mesmo foco.

O processo de trabalho se apoiou no debate constante em todas as suas

formas, chegando a produção de texto, sendo que o aluno, no desenvolver das

atividades pode comparar e constatar todos os textos e materiais explorados dos

mais simples aos mais exigentes em termos estéticos e ideológicos, já que a classe

gradativamente foi amadurecendo em relação ao tema, tornando-se mais

sensibilizada e assumindo uma postura crítica em relação ao tema ''Repensando a

Desigualdade social e suas consequências na sociedade através da Literatura,''

canalizando-o para a questão ''pobreza'' em seu mais amplo aspecto, inclusive

fazendo uma auto análise de suas próprias „‟pobrezas‟‟, ou seja de suas

necessidades, as quais estão diretamente ligadas aos seus direitos e deveres no

exercício da cidadania plena.

Neste décimo encontro que contemplou também a quinta etapa do Método

Recepcional, fizemos a leitura do conto Muribeca de Marcelino Freire, conto este

que revela personagens que se assemelham com pessoas conhecidas pelos

educandos na sociedade.

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''O conto trata-se do desabafo de uma mulher inconformada em perder sua

moradia, que é o lixão Muribeca, localizado na cidade de Recife, capital do

Pernambuco, local esse onde mora há muito tempo com sua família e vizinhos.''

Durante este trabalho levantamos hipóteses sobre o fato de a mulher se sentir

inconformada em perder a ''moradia'', e discutimos sobre as vítimas da inclusão

perversa que acontece quando, no caso do conto, o governo cria projetos para

incluí-los na sociedade de forma que não oferece estabilidade para que eles se

sintam incluídos e consigam sobreviver nessa inserção. Também fizeram parte da

discussão questionamentos como: O que podemos sugerir como estabilidade e

inclusão para os então marginalizados? No conto podemos ver claramente que as

pessoas são forçadas, por não terem emprego, casa própria ou até mesmo

oportunidades, a sobreviver no lixão.

Que outras situações parecidas podem citar em que pessoas se acomodam

com a situação e veem perspectiva de mudança positiva em sua vida, em seu bairro,

em sua cidade?

No décimo primeiro encontro, a pretensão era um Convite ao responsável

pela coleta de lixo do município para explicação sobre o destino desse lixo, a

importância da reciclagem do lixo, a maneira adequada de separação do lixo em

seguida visita ao lixão do município e ao barracão de reciclagem, lembrando que a

separação do lixo é um dever cidadão e que vem contribuir com a preservação

ambiental. Esta atividade não foi realizada devido a necessidade de transporte e

difícil acesso ao local, porém a discussão e orientação a respeito do assunto foi

produtiva e levou a produção de contos e socialização em sala de aula.

Dando continuidade na abordagem da quinta etapa do Método Recepcional e

avançando para o décima segunda etapa da execução do projeto, passamos a ler e

analisar o texto de Fernando Sabino Protesto tímido comentando as características

do texto e abrindo uma discussão com os alunos acerca do tema, conduzindo para a

percepção de uma intertextualidade implícita com o poema O bicho de Manuel

Bandeira, só que neste texto, o bicho seria uma criança.

No décimo terceiro encontro realizou-se uma pesquisa sobre a história da

favela. Esta atividade foi importante para apresentação sendo uma atividade mais

livre a qual abriu uma discussão sobre a desigualdade social e suas consequências

na sociedade atual. Foram apresentadas imagens e discutido sobre os tipos de

moradias.

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Já finalizando a implementação do projeto pautado na décimo quarto

encontro, exploramos letras de raps que falam sobre a desigualdade social e suas

consequências na sociedade, escrevemos poemas e socializamos no mural da

escola.

O projeto ''O conto: nosso ponto de encontro na sociedade contemporânea,''

vem nos aproximar da necessidade de enfrentamento com vistas à transformação

da realidade social, apoiando dessa forma uma educação na qual o espaço de

conhecimento, sendo este a escola, organize-se em favor de uma formação

humanista e tecnológica, de confronto e diálogo de conhecimentos do cotidiano, de

formação de sujeitos e, que construam sentidos para o mundo, que compreendam

criticamente o contexto social e histórico do qual são frutos, sendo pelo acesso ao

conhecimento, tornando-se capazes de exercer uma cidadania plena e

transformadora da realidade.

No décimo quinto encontro realizamos a leitura e análise do texto de

Fernando Sabino Protesto tímido, realizada pelos alunos e análise crítica do mesmo,

destacando as características do texto e abrindo uma discussão com os alunos

acerca do tema Desigualdade social, no permitiu conduzir para a percepção de uma

intertextualidade implícita com o poema O bicho de Manuel Bandeira, só que neste

texto, o bicho seria uma criança o que percebemos maior criticidade a respeito do

tema por parte dos alunos, chegando a ser indignação perante a situação

apresentada pelo conto.

O texto relata um fato bem comum nos dias de hoje: crianças abandonadas

na rua, sem nenhum apoio físico ou moral. Algumas pessoas preferem

simplesmente fechar os olhos e fingir que nada esta acontecendo, segundo

estatísticas existe mais de 25 milhões de crianças abandonadas no Brasil,

informação que nos norteou a discussão, levando ao questionamento “O que é

fechar os olhos? Como abrir os olhos? Quem pode abrir os olhos conosco?” as

respostas para tais questionamentos foram levadas para o quadro de giz, discutidas

de acordo com possibilidades no âmbito político, educacional, econômico, judiciário

em relação a tomada de medidas em favor dos menos desfavorecidos.

Ainda no décimo quinto encontro pudemos analisar e comparar a

intertextualidade que há entre o texto Protesto tímido de Fernando Sabino e Consolo

Na Praia de Carlos Drummond de Andrade, compreendo que o objetivo do projeto

“O Conto Nosso Ponto de Encontro na Sociedade Contemporânea” foi atingido,

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embasado no Método Recepcional, o qual nos direcionou durante a abordagem das

cindo etapas, incluídas nos dezesseis encontros em sala de aula, dando liberdade,

estímulo e suporte para a produção e criação do aluno e, ainda, ao mesmo tempo

essa abertura pra a critica e descoberta da realidade com possibilidades de

mudanças a partir da minha ação para a do grupo ao qual estou inserido e de forma

gradativa atingir a sociedade, chamando assim de exercício da cidadania em favor

de causas que muitas vezes são camufladas e portanto não enfrentadas pela

sociedade.

No décimo sexto encontro contemplamos a produção de um conto a partir do

texto Protesto Tímido de Fernando Sabino teve uma abordagem mais ampla

separando teoricamente o que venha a ser um conto e uma crônica, explorando a

questão conto e crônica em relação as suas características, lembrando que o texto

meta final do trabalho foi o conto com possibilidades críticas de discussões e

enfrentamentos da realidade de desigualdade social em nossa sociedade atual.

Finalizo este trabalho chamando a atenção dos professores para a leituras

que nos levem a refletir sobre a ''Pobreza'', assunto focado nesta etapa, para

desenvolver em sala de aula uma prática que venha assegurar a retomada de

consciência, a mudança de postura, a sensibilização e mobilização em relação a

esta questão, entendendo que a mudança começa a partir de nós no momento que

tirarmos a venda dos olhos, encararmos a situação como uma realidade que precisa

ser transformada.

Sugiro ainda como continuidade deste projeto, entendendo que trabalhamos

em espiral, ou que sabe formamos uma aliança que precisa constantemente ser

reforçada para que a aprendizagem tenha uma continuidade, para que nosso

educando possa avançar da superficialidade para o conhecimento científico,

portanto continuo explorando em sala de aula temas polêmicos e urgentes de serem

discutidos e que são ganchos que encontrei a partir do projeto executado.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da implementação deste projeto busquei desenvolver o interesse e o

hábito pela leitura como um processo constante de criticidade, envolvendo questões

relevantes em nossa sociedade, sendo a desigualdade social o ponto crucial de

discussões em sala de aula. Através desse trabalho constatamos que a leitura e

análise de contos foi uma forte aliado no processo de análise crítica, permitindo que

o aluno experimentasse emoções, conflitos, e a tomada de consciência sobre os

problemas enfrentados pela sociedade atual. Portanto, é de extrema importância a

leitura de contos que apresentem fatos verdadeiros e importantes em relação a

desigualdade social, buscando fortalecer o senso crítico e a mudança de postura do

educando em relação aos problemas sociais.

Através da leitura e análise de contos, abrimos um leque para discussões

pertinentes aos tema, objetivando a maturidade crítica e a capacidade de

compreender que a desigualdade social afeta a todos e que cada um pode fazer a

diferença, agindo de forma positiva na comunidade em que está inserido.

A escola é uma porta aberta para a realização de um trabalho voltado para a

conscientização e ação em favor da mesma já que nossos alunos estarão ocupando

seu espaço nas mais diversas áreas, tendo assim possibilidades de agir e interagir

de forma a diminuir a desigualdade social que persiste a séculos.

Em relação aos contos explorados em sala de aula, podemos afirmar que

trouxeram a tona problemas que na maioria das vezes estão camuflados e que

precisam ser enfrentados de forma a chocar o leitor para que este faça uma reflexão

e possa posteriormente decidir-se por uma nova postura perante a situação.

O objetivo maior deste trabalho é a compreensão e criticidade perante a

situação de miséria em que vivem muitos e em que podemos contribuir para que

esta desigualdade diminua, sendo que deve surgir então um desejo que leve a ação

política, no sentido de cumprir com deveres e cobrar os direitos, aspectos

fundamentais de uma sociedade que busca a igualdade e justiça.

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