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    Os acordos de Oslo, legado de Yitzhak Rabin

    É frequente ver tanto a esquerda quanto a direita israelenses interpretarem erroneamenteYitzhak Rabin. Ele não era um grande pacifista, como os esquerdistas gostam de

    apresentá-lo, nem um ingênuo idealista que estava disposto a colocar em risco asegurança de Israel, como afirmam os direitistas.

    Edição 90 - Dezembro de 2015

    Rabin era um “falcão” no que dizia respeito à segurança de Israel, que dedicou sua vida adefender o Estado Judeu. No entanto, acreditava também que Israel tinha que tentar

    alcançar a paz com seus vizinhos árabes, pois estava convencido que a rejeição do mundo

    árabe em relação a Israel era decorrente da ausência de paz com os palestinos.Acreditava que Israel não poderia continuar a ser um Estado Judeu e democrático seanexasse todos os territórios capturados em 1967 nos quais viviam milhões de árabes. No

    entanto, acreditava também que havia um limite naquilo que Israel poderia oferecer aospalestinos sem comprometer sua segurança e renunciar à sua identidade como EstadoJudeu.

    Com base em suas declarações e, em especial, em seu último discurso no Knesset(Parlamento), em 5 de outubro de 1995, ficou evidente que Rabin já tinha em mente umesboço para um acordo final com os palestinos semelhante ao proposto por Yigal Allon em

    1967.Rabin acreditava que a paz com os palestinos envolveria um governo autônomo daAutoridade Palestina, não um estado pleno, com controle sobre cerca de 50% da Judeia eSamaria (Cisjordânia) e uma grande parte de Gaza. Jerusalém continuaria reunificada sobsoberania israelense. As comunidades judaicas na Judeia e na Samaria alipermaneceriam. Sobretudo, Israel manteria o controle perpétuo sobre todas as áreas não

    cedidas aos palestinos, incluindo a fronteira internacional com o Egito e a Jordânia.

    Muitas pessoas afirmam que se Yigal Amir não tivesse assassinado Rabin, Israel e os

    palestinos teriam feito a paz. Embora não se possa ter certeza sobre o que teria

    acontecido se Rabin ainda estivesse vivo, pode-se afirmar, sem sombra de dúvidas, queYigal Amir matou o primeiro-ministro de Israel, mas Arafat e outros líderes da AutoridadePalestina mataram os Acordos de Oslo. Atualmente sabe-se que, às vésperas de seu

    assassinato, por causa do terrorismo palestino, Rabin estava considerando encerrar oprocesso de Oslo.

    Em uma entrevista concedida por ocasião do 15º aniversário da morte de seu pai, DaliaRabin explicou que o pai estava a ponto de cancelar o acordo. Ela afirmou: “Pessoaspróximas ao meu pai me disseram que, na véspera de seu assassinato, ele analisava apossibilidade de encerrar o processo de Oslo. Ele não era um cego que se jogava parafrente”.

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    Mas não era apenas o terrorismo palestino que levanta sérias dúvidas se Rabin teriaconseguido alcançar uma paz verdadeira com a liderança palestina. Vale lembrar que osprimeiros-ministros Ehud Barak e Ehud Olmert propuseram concessões muito mais

    generosas do que as que Rabin desejava oferecer e, mesmo assim, os palestinosrecusaram fazer a paz com Israel. É possível, porém, improvável, que tivessem aceitado o

    que Rabin estava disposto a conceder em troca de uma paz verdadeira.

    Shlomo Ben-Ami, que foi ministro das Relações Exteriores do governo trabalhista de Ehud

    Barak, disse ao jornal israelense Haaretz, em setembro de 2000, que “As concessões deArafat a Israel em Oslo foram formais. Moral e conceitualmente ele não reconheceu o

    direito de Israel existir. Ele não aceitou a ideia de dois estados para dois povos. Nem elenem o movimento nacional palestino nos aceita... Mais do que desejam um estado para si,eles desejam cuspir nosso Estado para fora”.

    Na Cúpula de Camp David, realizada em julho de 2000, o então primeiro-ministro EhudBarak, querendo assinar um acordo de paz, ofereceu a Arafat não apenas a quasetotalidade da Judeia e da Samaria, mas também grande parte de Jerusalém, incluindo oMonte do Templo. Arafat alegou ter recusado a oferta porque Barak se recusou a entregaro Kotel, o Muro Ocidental. Arafat então deu início à Segunda Intifada, muito maissangrenta do que fora a primeira e que resultou na morte de mais de mil israelenses.

    A liderança palestina e muitas pessoas, inclusive em Israel, alegaram que a SegundaIntifada havia sido provocada pela visita de Ariel Sharon ao Monte do Templo. Hojesabemos a verdade.

    Yasser Arafat, que na realidade nunca desistiu da violência e do terrorismo, planejara a

    Intifada antes que Sharon visitasse o Monte do Templo. Soubemos disso de fontesdiferentes e confiáveis, inclusive de Suha Arafat, a mulher de Arafat. Críticos dos Acordosde Oslo afirmam que estes macularam o legado de Rabin. Várias pessoas fazem a mesma

    queixa em relação à postura de Menachem Begin diante da Guerra do Líbano, de 1982, eà retirada de Gaza decidida por Sharon. Tais críticas são injustas e injustificadas. Quando

    um líder adota determinada linha de ação – seja fazer a guerra ou engajar-se emnegociações de paz – nunca tem certeza de qual será o desfecho. Yitzhak Rabin dedicousua vida a lutar por Israel. Ele optou pela guerra quando esta se fez necessária, e entãotentou fazer a paz “para que nossos filhos e os filhos de nossos filhos não tenham queexperimentar o doloroso custo da guerra”.

    Yitzhak Rabin se envolveu no processo de Oslo, algo muito difícil em termos pessoais,porque acreditava que este vinha de encontro aos interesses de Israel. É importantedestacar que cada primeiro-ministro que o sucedeu – não apenas do Partido Trabalhista,mas também do Likud e do Kadima, chegaram a afirmar a necessidade de Israel renunciarà parte de seu Lar Nacional para conseguir a paz com os palestinos. Isso talvez seja amaior ironia em relação ao terrível crime cometido por Yigal Amir. Ele não conseguiu o quequeria , não interrompeu o processo de paz.

    Pelo contrário, os líderes que sucederam Rabin estavam dispostos a fazer maisconcessões do que ele jamais faria. Yigal Amir não apenas manchou a história israelense

    e judaica e cometeu umChillul Hashem – a profanação do Nome de D’us, mas levou amaior parte do mundo a acreditar que foi um judeu que matou o processo de paz. Muitos

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    responsabilizam o colapso do processo de paz não ao terrorismo palestino e ao nãocumprimento dos termos estipulados nos Acordos de Oslo, mas às balas disparadas porum criminoso que assassinou um dos maiores heróis israelenses.

    Vinte anos se passaram desde o assassinato de Rabin. Quando se pergunta aos

    envolvidos no processo qual a maior realização do Acordo de Oslo, apontam para a LigaÁrabe. O acordo, dizem, permitiu aos governos árabes saírem do imobilismo dos três“Não” da Conferência de Cartum, em 1967 – não à paz com Israel, não ao

    reconhecimento de Israel e não às negociações com Israel.

    Outras quatro realizações tangíveis permanecem: o Tratado de Paz entre Israel e a

    Jordânia, a coordenação conjunta na área de segurança com os palestinos na MargemOcidental desde a morte de Arafat; os acordos econômicos assinados por Israel com os

    palestinos, em Paris e a integração de Israel no mercado internacional. Desde a assinaturados acordos, mais de 150 corporações internacionais entraram em Israel. A maior parte dosucesso da economia israelense nos últimos anos deve-se à assinatura dos Acordos deOslo.

    Yitzhak Rabin apresentou o II Acordo Interino de Oslo ao Knesset no dia 5 de outubro de1995. Ao falar, ele descreveu o que acreditava ser o futuro do Estado Judeu: “As fronteirasdo Estado de Israel serão além das linhas que existiam antes da Guerra dos Seis Dias”.

    A fala final de Rabin perante o Knesset definiu seu legado, sua visão sobre Israel. Ele foiassassinado menos de um mês após esse discurso, em 4 de novembro de 1995, aos 73anos de idade.

    Seguem-se trechos desse discurso:

    “Empenhamo-nos por uma solução para o interminável e sangrento conflito entre nós e ospalestinos e os países árabes.

    Dentro do arcabouço da solução, aspiramos alcançar, antes de mais nada, um Estado deIsrael como Estado Judeu, com um mínimo de 80% de seus cidadãos que sejam, como osão, judeus.

    Ao mesmo tempo, também nos comprometemos solenemente que os cidadãos não judeusde Israel - muçulmanos, cristãos, drusos e outros – gozarão de plenos direitos pessoais,religiosos e civis, como os de qualquer cidadão israelense. Judaísmo e racismo são

    diametricamente opostos.Vemos a solução (entre Israel e os palestinos) dentro da estrutura do Estado de Israel queinclua a maior parte da Terra de Israel como a mesma era sob o Mandato Britânico, e ao

    lado da mesma uma entidade palestina que será o lar para a maioria dos residentespalestinos que vivem na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

    Gostaríamos que essa fosse uma entidade menos que um estado, e que governe,independentemente a vida dos palestinos sob sua autoridade.

    As fronteiras com o Estado de Israel ficarão além das linhas que existiam antes da Guerrados Seis Dias. Nós não retornaremos às linhas de 4 de junho de 1967.

    E essas são as principais mudanças, não todas, que nós antevemos e desejamos para asolução:

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    A. Acima de tudo, uma Jerusalém unificada, que incluirá tanto Ma’ale Adumim quantoGivat Ze’ev – como a capital de Israel, sob soberania israelense, preservando os direitosdos membros das outras religiões, o Cristianismo e o Islã, a liberdade de acesso e

    liberdade de culto em seus lugares sagrados, de acordo com o costume de suas religiões.

    B. A fronteira de segurança do Estado de Israel será localizada no Vale do Jordão, nosentido mais amplo desse termo.

    C. O estabelecimento de blocos de assentamentos na Judeia e Samaria, como o que há

    em Gush Katif. Desejo enfatizar que: como Nação Judaica, devemos, acima de tudo,prestar atenção, aos lugares sagrados, à nossa religião, tradição e cultura. Fomos

    inflexíveis sobre esse ponto no Acordo Interino”.

    O túmulo de Rachel, nossa matriarcaDe acordo com nossos Sábios, o Eterno determinara que RacheL fosse enterrada numtúmulo isolado, e não na Gruta de Machpelá, onde estão enterrados os demais patriarcas

    e matriarcas, para que o local fosse acessível aos seus descendentes. De seu túmuloisolado, ela testemunharia o sofrimento de seus filhos, o Povo Judeu, assim como suaredenção final.

    Edição 88 - Junho de 2015

    O túmulo de Rachel,Kever Rachel, em hebraico, localizado ao sul de Jerusalém, na cidadede Bethlehem, é o terceiro local mais sagrado no judaísmo. Segundo o Zohar, seu túmuloperdurará até o dia em que o Santo, Bendito Seja, ressuscitar os mortos.

    Kever Rachel sempre será um lugar de oração para o Povo Judeu. Por mais de 3 mil anos,os judeus lá têm ido para despejar suas angústias e pedir à nossa matriarca, Rachel, queinterceda por eles junto ao Altíssimo. Os que não conseguem ter filhos pedem para setornarem pais; os doentes, por saúde; os solteiros, que os ajude a encontrar seus pares;os que sofrem, por consolo e alívio. E assim por diante...

    Sabemos que nossa mãe espiritual entenderá nossa dor e nossas atribulações, pois asadversidades não lhe eram estranhas. Rachel foi vítima da traição de seu pai, quandoeste deu sua irmã, Leah, em casamento a Yaacov. E quando ela se tornou a segunda

    esposa de Yaacov, durante anos não conseguiu engravidar. Finalmente, teve um filho, masmorreu ao dar luz ao segundo, sabendo que não teria a alegria de vê-los tornarem-se

    homens.

    Na Cabalá, Rachel é retratada como a personificação daShechiná, aspecto imanente de

    D’us neste mundo, que “desce” para tomar conta de Seus filhos, seguindo-os até no exíliopara Se assegurar de que um dia eles retornariam. As profecias de Jeremias revelam que

    quando Jerusalém foi destruída pelos babilônios, os judeus foram reunidos em Ramá,antes de serem levados cativos para a Babilônia, e lá invocaram a Misericórdia Divina.

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    “Assim diz o Eterno: Ouviu-se um clamor em Ramá, lamento e choro amargo; Rachel estáchorando por seus filhos, ela se recusa a se deixar consolar por sua perda, porque já nãoexistem. Assim, disse, porém, o Eterno: que cesse de chorar tua voz e de verterem

    lágrimas teus olhos, pois recompensa haverá para tua obra. Teus filhos voltarão da terra doinimigo”. ( Jeremias, 31:14)

    Morte de Rachel

    Segundo consta noSeder Olam, Rachel faleceu no dia 11 deCheshvan, aos 36 anos. Diz

    a Torá, emGênese,35-18, que Yaacov estava levando sua família para Hebron quandoRachel entra em trabalho de parto. Foi um parto difícil, e após ela dar à luz a um menino,

    Binyamin, 12º filho de Jacob, ela deixa esse mundo. Yaacov, porém, não a leva para oTúmulo dos Patriarcas, em Hebron, mas a sepulta no local exato onde faleceu, “no

    caminho de Efrat” (Gênese, 35-19).

    Nosso terceiro patriarca ergue um monumento sobre seu túmulo e assim conta a Torá:

    “Cada um dos 11 filhos de Yaacov colocou uma pedra sobre o túmulo de Rachel, eYaacov colocou uma pedra no topo”. Este é um dos motivos para o costume de se colocaruma pedra sobre um túmulo, após visitá-lo.

    Yaacov vai revelar a Yossef por que enterrou sua mãe Rachel a caminho de Efrat e nãona Gruta de Machpelá, onde estão enterrados os demais patriarcas e matriarcas, quando ochama para fazê-lo jurar que não o sepultará no Egito. Segundo oMidrash, Yaacov lhe dizque D’us assim lhe indicara fazer. Diz ao filho que o Eterno lhe revelara que quando osbabilônios levassem os Filhos de Israel ao exílio, eles passariam por seu túmulo. Rachelpor eles choraria, implorando a D’us por Sua misericórdia. D’us, então, responderá a

    Rachel: “Haverá uma recompensa por teus atos, ... teus filhos retornarão para suasfronteiras’” (Rashi,Gênese 48:8). Quando Nebuzaradan, general de Nabucodonosor, levouos judeus ao exílio, eles, de fato, passaram pela tumba de Rachel.

    Quando chegasse sua vez, Yaacov e Leah também seriam enterrados na Gruta deMachpelá. Como a esposa preferida, era direito de Rachel ser enterrada ao lado de seu

    marido. Mas, para socorrer seus filhos, o Povo Judeu, Rachel perdeu sua própria regaliaespiritual, o privilégio de ser enterrada na Gruta de Machpelá.

    Túmulo de Rachel

    Segundo oMidrash, a primeira pessoa a orar no túmulo de Rachel foi Yossef, seu filho

    mais velho, que tinha apenas sete anos quando a mãe faleceu. Quando ele tinha 17anos, seus irmãos o venderam como escravo. Estava sendo levado para o Egito, quando

    conseguiu fugir de seus captores. Correu até o túmulo da mãe e gritou por ela. “Mãe,minha mãe, que me deu à luz, sofrimento. ‘Não temas’, ele ouviu a mãe responder. ‘Vaicom eles, e D’usestará contigo’ ”.

    As primeiras descrições não bíblicas do local do túmulo de Rachel datam das primeirasdécadas do século 4 da Era Comum. A partir do século 5º até meados do século 19, otúmulo de Rachel era assinalado por uma pequena cúpula apoiada por quatro vigas.

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    A estrutura do domo data do período otomano muçulmano. Em 1841, Sir MosesMontefiore e sua esposa acrescentaram paredes à cúpula e uma longa sala na qual osvisitantes podiam descansar e abrigar-se das intempéries.

    De acordo com a Partilha da Palestina, determinada em 1947 pelas Nações Unidas,

    oKever Rachel deveria ser parte da zona de Jerusalém sob administração internacional,mas após a Guerra de Independência, o túmulo deRachel Imeinu ficou em mãos daJordânia. Autoridades jordanianas proibiram os judeus de lá entrar. Os árabes então

    construíram seu próprio cemitério ao redor do túmulo, e Bethlehem expandiu-se. O túmulopassou a ser parte do centro da cidade.

    Somente após 1967, quando Israel reconquistou aquela região, os judeus voltaram a teracesso aoKever Rachel. Uma canção popular na época dizia: “Teus filhos voltaram a ti,

    Mãe Rachel, à frente deles Binyamin e Yossef… Jamais nos afastaremos daqui outra vez,Rachel”.

    Porém, em 1995, após o Acordo de Oslo II, a situação mudou. Embora Israel tenhamantido o controle sobre o local do túmulo, a cidade de Bethlehem foi entregue àAutoridade Palestina. Em 1996, face aos incessantes ataques árabes, o ministro dasReligiões de Israel construiu uma fortaleza ao redor da pequena estrutura, com duas torrespara vigias, grossas paredes de concreto e arame farpado.

    Atualmente, somente ônibus e vans à prova de balas têm permissão de passar pelasbarreiras de concreto com cinco metros de altura que levam ao Túmulo. Em pequenosintervalos, um ônibus Egged à prova de balas chega ao posto de controle no caminho paraBethlehem e então recebe uma escolta armada. Dois minutos depois, o ônibus chega ao

    complexo do Túmulo e os passageiros desembarcam dentro de uma estrutura totalmentefechada.

    Dentro da fortaleza, a pequena sala antiga em formato de domo, homens e mulheres seaproximam do monumento coberto por panos e sussurram seu segredo e seu sofrimentoàRachel Imeinu. Eles sabem que ela levará suas súplicas ao Altíssimo...

    Diz o Midrash

    Quando o Templo foi destruído e os judeus estavam sendo conduzidos ao exílio, Abraham

    postou-se perante D’us e disse: “Mestre do Universo, quando eu tinha 100 anos Tu medestes um filho e, quando este completou 37 anos, Tu me dissestes: ‘Ergue-o em sacrifício

    diante de Mim’. E eu, vencendo minha natural misericórdia, até consegui amarrá-lo, comminhas próprias mãos. E Tu, não te recordarás de minha devoção, tendo piedade de meus

    filhos?’ ”

    A seguir, veio Itzhak, e disse: “Quando meu pai disse: ‘D’us nos indicará um carneiro para

    o sacrifício, meu filho’, eu não hesitei e aceitei meu destino; até mesmo estendi o pescoçopara ser morto. Não Te lembrarás de minha força tendo piedade de meus filhos?”

    Depois veio Yaacov e disse: “Durante 20 anos servi na casa de Labão e, quando parti,Esaú veio para me ferir e eu sofri toda a minha vida para criar os meus filhos. E agora, elesestão sendo levados, como um rebanho, ao sacrifício nas mãos de seus inimigos? Não telembrarás de minha dor e meu sofrimento, redimindo meus filhos?”.

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    O próximo foi Moshé, que disse: “Não fui um pastor leal para Israel durante 40 anos? E eucorri à sua frente, no deserto, como um cavalo. E quando chegou a hora de pisar no solode Israel, Tu decretaste a minha morte, ainda no deserto. E, agora, eles serão exilados - Tu

    não atenderás meu pranto, por eles?”

    Àquela altura, Rachel, nossa matriarca, postou-se diante de D’us e disse: “Senhor doUniverso, Tu sabes que era a mim que Yaacov mais amava, tendo servido a meu paidurante sete anos para me desposar. E ao chegar a hora de meu casamento, meu pai me

    trocou por minha irmã, e eu não guardei rancor por ela e não deixei que a vergonha caíssesobre ela. Se eu, um ser apenas humano, não quis humilhar minha irmã para obter o que

    tanto desejava, como pudeste Tu, Eterno, D’us vivo e compassivo, ter inveja da idolatria,que não tem real existência, e ordenar o exílio de meus filhos?”

    E, de imediato, a Misericórdia Divina foi despertada e Ele assim falou: “Por ti, Rachel, trareiIsrael de volta a seu lugar, como está dito: ‘...Não chores e não deixes teus olhoschorarem, pois há recompensa em teus atos... e há esperança para teu futuro que teusfilhos retornarão às suas fronteiras’ ”. (Jeremias 31-15).

    Operação Secreta - Como a Haganáviabilizou a criação do Estado de Israel por por Zevi Ghivelder

    Num domingo de intenso verão, dia 1º de julho de 1945, o jovem americano Rudolf G.

    Sonnenborn, 47 anos, providenciou a colocação de vinte cadeiras na sala de estar de suaespetacular cobertura, na Rua 57 Leste de Nova York, e que fossem preparadossanduíches e sucos para as visitas que receberia naquela manhã.

    Edição 85 - Setembro de 2014

    Descendente de uma abastada família judaica de origem alemã, radicada em Baltimore,ele atuava como diretor-executivo de uma empresa multimilionária do ramo do petróleo e

    servira como aviador da marinha americana durante a 1ª Guerra Mundial. Os convidados

    para o dito encontro haviam sido convocados através de telegramas enviados paradiversas cidades dos Estados Unidos e do Canadá. Seus destinatários eram conhecidosmilionários judeus.

    O primeiro a chegar foi David Ben Gurion, então com 59 anos de idade, colarinho brancoaberto sobre as abas do paletó, a cabeça já coberta por revoltos cabelos brancos.

    Somente o anfitrião sabia sua origem, ninguém mais. Ben Gurion se encontrava há cercade um mês nos Estados Unidos, onde se dedicava dia e noite a reuniões com incontáveis judeus: organizações sionistas, líderes religiosos, grupos de jovens, líderes comunitários efilantropos conhecidos por suas fortunas e passíveis de futuras generosidades.

    A comunidade judaica americana já tomara conhecimento do Holocausto e se mostravadisposta a estender toda ajuda possível aos sobreviventes refugiados, inclusive fazendo

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    pressão junto à Casa Branca para a concessão de vistos. Sonnenborn fez uma breveapresentação daquele homem que lhes falaria, vindo da remota Palestina. As pessoaspresentes estavam a par do que havia acontecido naquela parte do mundo, tinham

    conhecimento da Declaração Balfour (documento britânico de 1917 que admitia aexistência de um lar nacional na Palestina para os judeus), sabiam que milhares de judeus

    ali haviam estabelecido colônias agrícolas coletivas, oskibutzim, mas suas prioridadesestavam focadas nas questões da comunidade judaica americana ainda submetida a

    surtos de antissemitismo e, só em segundo lugar, no problema dos refugiados. Ben Gurioncomeçou fazendo referência justamente aos seis milhões de judeus assassinados pelonazismo. Os principais centros judaicos do leste europeu, disse ele, haviam sido dizimadose os refugiados não tinham para onde ir, não havia países dispostos a abrigá-los e asportas da Palestina estavam trancadas por força doWhite Paper (documento que banira aimigração para a Palestina) emitido pelos mandatários britânicos. Portanto, acentuou BenGurion, só um lugar no planeta poderia absorver aqueles despojados: a então Palestina, aTerra Santa, a Terra de Sion, Eretz Israel. Prosseguiu: “Vou lhes ser sincero. Lá somos 600mil judeus contra mais de um milhão de árabes. Só poderemos ter um Estado judaico seviermos a ser a maioria. Não vou entrar no mérito do sionismo como doutrina ou como

    movimento nacional. Preciso da ajuda de vocês para termos o nosso país e paraacolhermos nossos irmãos. Quando os ingleses terminarem seu mandato, haverá um

    vácuo na Palestina, um vácuo que nós precisaremos preencher. Sei que seremos atacadospelos árabes e teremos que lutar. Para isso contaremos com a Haganá, o exército

    clandestino que estamos formando. Tenho muitas dúvidas sobre tudo, mas também tenhouma certeza: sem a participação de vocês, nada será alcançado”.

    Alguns dos presentes fizeram perguntas a Ben Gurion, que as respondeu com absoluta

    clareza, mas a reunião terminou de forma quase sombria. Ninguém foi instado a declararqual seria a sua contribuição em dinheiro, mas o relato do emissário da Palestinacertamente havia sensibilizado suas mentes e corações, acrescido de um rigorosocompromisso de confidencialidade. Anos mais tarde, Sonnenborn anotou em seu diário:“Naquele dia memorável nós fomos convocados para nos tornarmos o braço americano deuma organização clandestina chamada Haganá. Não sabíamos quando nem comoseríamos chamados, mas sabíamos que tínhamos que estar a postos”.

    Um jovem judeu chamado Philip Alpert obtivera sua graduação em Berkeley e ganhavaalguns trocados trabalhando no departamento de engenharia mecânica daquela

    universidade. Em busca de uma situação melhor, foi para Nova York onde passou a morarna casa de um tio. Vasculhava os classificados dos jornais e encontrava oportunidades de

    emprego em Connecticut e Nova Jersey, mas preferia permanecer em Manhattan. Um dia,encontrou-se por acaso com um amigo que, como ele, havia pertencido anos antes a um

    grupo de jovens sionistas. Disse o amigo: “Phil, há um trabalho que pode te interessar. Éno ramo da engenharia e tem alguma coisa a ver com a Palestina. É só o que eu sei parate informar”. Marcaram um encontro para o dia seguinte num apartamento perto da GrandCentral Station. Quando bateram numa porta do 12o andar, esta foi aberta por um sujeitode aparência eslávica, com cara amarrada, quarenta e poucos anos. Era Chaim Slavin,nascido na Rússia, que chegara à então Palestina em 1924. Ali se formou em engenharia

    elétrica e obteve emprego como responsável pela estação geradora de energia de Tel Aviv.

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    Foi atraído pela Haganá e encarregado por Ben Gurion para implantar uma oficina deprodução de armas que serviriam para abastecer a Haganá, trabalhando sem levantarsuspeitas dos ingleses. Habilidoso, transformou sucatas e peças metálicas numa linha de

    produção com potencial industrial. Logo após o término da 2ª Guerra Mundial, foi mandadopara os Estados Unidos com a missão de adquirir maquinário destinado a fins bélicos:

    armamentos e munições restantes do conflito na Europa e no Pacífico, além de se dedicarà fabricação de armas por iniciativa própria. Slavin não falava uma só palavra de inglês e,

    com a ajuda do amigo de Alpert, revelou que antes de mais nada precisava comprar tubosde ferro e aço com os quais pretendia manufaturar morteiros.

    Ao término da explanação, o jovem de Berkeley perguntou: “Isto é proibido pela leiamericana?” Slavin foi fiel à verdade. Respondeu que a legislação dos Estados Unidos, notocante ao excedente de armamentos, era complexa, contraditória e imprevisível emfunção dos rumos da política externa do país. Assim, a atividade seria ao mesmo tempolegal e ilegal. Alpert hesitou alguns minutos e disse: “Tudo bem. Posso começar na

    segunda-feira”. Slavin foi categórico: “Nada disso. Você começa amanhã”.

    Slavin alugou um apartamento com cinco quartos no número 512 da rua 112 Oeste, pertoda Universidade de Colúmbia. A primeira tarefa de ambos consistia em elaborar em papelvegetal os projetos dos quais se valeriam após a aquisição dos materiais necessários.Usando o codinome Auerbach, Slavin mandava telegramas semanais para a AgênciaJudaica informando sobre o desenvolvimento dos trabalhos. Alpert contava comfornecedores no Bronx que lhe vendiam cartuchos com munições. Mas, decorrido algum

    tempo, seu trabalho ficou mais fácil. O governo americano criou um departamentochamado Administração de Bens de Guerra, encarregado de vender em leilão, somente

    para empresas legalmente estabelecidas, algumas de suas fábricas de materiais bélicos eoutros suprimentos militares.

    Alpert e Slavin fizeram uma lista de todas as empresas que participariam dos leilões equais delas poderiam estar interessadas em revender os itens que tivessem arrematado e

    que lhes pudessem ser úteis. Nessa tarefa, Alpert e Slavin percorreram os Estados Unidosde costa a costa, de alto a baixo, fazendo compras a preços muito mais acessíveis do queos de mercado. De posse de materiais portáteis e dos projetos bem desenhados efinalizados, eles cruzaram a fronteira para o Canadá, de onde conseguiram despachartudo para a Palestina antes do prazo previsto.

    O casal Ruby e Fannie Barnett havia comprado em 1944, num leilão federal de falência,um hotel situado no número 14 da Rua 60 Leste. Deram um dinheiro vivo como entrada eassumiram uma hipoteca no valor de 800 mil dólares, importância salgada para aquelaépoca. Ele já tinha trabalhado como advogado e contador e ela era uma loura bonita jáengajada em atividades sionistas.

    Durante a guerra, quando Chaim Weizmann foi a Nova York, Fannie trabalhou como suasecretária. Assim que o prédio foi reformado, o Hotel 14 passou a abrigar hóspedes ilustres

    como residentes permanentes. No subsolo do hotel ficava a boate Copacabana, a maisconcorrida de Nova York, frequentada pela alta sociedade de Nova York e celebridades

    como o famoso jornalista Walter Winchell. Parte dos espetáculos ali apresentados contavacom dois astros: Groucho Marx e Carmen Miranda. Ao piano, quem comandava o show

    era o comediante Jimmy Durante. Certa ocasião, o hotel recebeu um hóspede chamado

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    Reuven Zaslani, que, por sua discrição e mutismo chamou a atenção de Ruby. Eleperguntou à mulher se ela sabia de quem se tratava. Fannie respondeu: “Sei que veio daPalestina e parece que foi espião infiltrado nos países árabes”.

    Num domingo à tarde, Ruby viu o misterioso hóspede se encontrar na porta do hotel com

    David Ben Gurion, que estava justamente vindo da reunião no apartamento deSonnenborn. Perguntou à mulher se aquela ligação com palestinos não lhes trariaproblemas e ela informou que, em breve, acolheriam um dos mais importantes líderes da

    Agência Judaica, sediada em Jerusalém. Tratava-se de Jacob Dostrovsky, cuja famíliahavia imigrado para a então Palestina depois do pogrom(massacre) perpetrado pelos

    russos em Odessa, em 1905. Depois de servir na Brigada Judaica durante a guerra, elehavia estudado engenharia na Bélgica e regressado a Tel Aviv, em 1926, quando se filiou àHaganá e passou a chefiar as atividades da organização na cidade de Haifa. Em 1939 foinomeado chefe do estado maior da Haganá, posto que manteve durante sete anos, até serenviado para os Estados Unidos com a missão de adquirir armamentos.

    No quarto que ocupou no Hotel 14, Dostrovsky se manteve fiel à disciplina militar a queestava acostumado. Colou na parede um grande mapa dos Estados Unidos, pontilhado porpinos de cores diferentes: uma cor para reuniões e encontros reservados, outra parapersonalidades, outra para planos e outra para resultados. Oficialmente, dedicava-se àarrecadação de fundos e mantinha um escritório na sede da Agência Judaica em NovaYork. Fannie atuava como sua secretária. Ele passava quase todo o tempo ditando cartas,que, de forma gentil, porém insistente, pediam às pessoas que honrassem as

    contribuições prometidas. As respostas eram desalentadoras e isto apenas contribuía paraque ele dobrasse a quantidade de cartas. Ao mesmo tempo, criou uma série de empresas

    fantasmas, todas destinadas ao transporte de refugiados, desafiando o bloqueio impostopelos britânicos que, depois da guerra, só haviam permitido a entrada de 100 mil judeus na

    Palestina.

    Os nomes das companhias eram, entre outros, curiosos:Caribbean AtlanticSteamship ePine Tree Industries.Dostrovsky e Slavin se reuniam regularmente no Hotel14. Passavam em revista a situação dos armamentos e tomavam providências no sentidode adquirir dezenas de diferentes materiais necessários para a Haganá e para os pioneirosda Terra Santa. Um de seus principais achados na América foi um jovem engenheiroeletrônico chamado Dan Fiderblum, 21 anos de idade, morador de Yonkers, perto de NovaYork. Como era muito moço para servir durante a guerra, fizera um curso ministrado na

    Universidade de Nova York pelo Corpo de Sinaleiros do exército americano. A pedido deDostrovsky, o rapaz convocou um grupo de jovens judeus talentosos, alguns veteranos do

    Corpo de Sinaleiros, familiarizados com as mais modernas inovações eletrônicas. Suamissão era fabricar o maior número possível de rádios portáteis que serviriam para a

    comunicação entre oskibutzime os centros da Agência Judaica na então Palestina,operando numa frequência que não pudesse ser detectada pelos ingleses.

    Tudo funcionou a contento e foi enviado para Jerusalém. Finda essa tarefa, dias depoisRuby Barnett e Jacob Dostrovsky dirigiram-se ao Hotel McAlpin, no centro de Manhattan.

    Junto à porta de um dos salões, um pequeno dístico informava: almoço em homenagem a

    Rudolf. G. Sonnenborn.

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    Desde a reunião em seu apartamento, Sonnenborn enfatizava com seus amigos e amigosdos amigos a grave situação em curso na então Palestina. Os mandatários britânicoshaviam descoberto e confiscado em esconderijos da Haganá mais de 600 rifles, pistolas,

    morteiros e metralhadoras. Era urgente que uma reposição fosse feita. Como se nãobastasse, os ingleses desfecharam o chamadoSábado Negro,no qual prenderam todos os

    líderes da Agência Judaica.

    Ben Gurion escapou porque se encontrava em Paris. O grupo reunido em torno da mesa

    intitulou-se Instituto Sonnenborn. Acertaram que eles se reuniriam ao meio-dia de todas asquintas-feiras, no mesmo hotel. Sonnenborn acentuou de forma dramática que, doravante,

    tudo deveria ser guardado no mais absoluto segredo porque o FBI começava a seaproximar de seus passos. A prioridade seria a aquisição de navios de quaisquer caladospara transportar armas e refugiados a par de uma miríade de produtos que sempre seriamúteis para a Haganá.

    Na reunião do dia 16 de outubro de 1946, ficou combinado que, a cada quinta-feira, asoma arrecadada deveria atingir a soma de 100 mil dólares, de modo a poderem contarcom 1 milhão de dólares no fim do ano. Sonnenborn insistia em dizer que eles não eramuma organização formal, não havia comitês, nem comissões, nem pessoas privilegiadas emuito menos papéis timbrados. Entretanto, o Instituto havia se transformado numaverdadeira e operosa instituição. O último almoço do qual Dostrovsky participou, foi naprimavera de 1947. Tinha recebido ordens para regressar a Jerusalém e reassumir seuposto na Haganá.

    O Instituto Sonnenborn buscava ajudas, sem cessar, em todos os cantos do país. Assim

    entraram em contato com o coronel David “Mickey” Marcus, graduado de West Point, queservira no quartel-general de Eisenhower em Londres, durante a guerra. Ele se voluntariou

    para atuar como conselheiro da Haganá e chegou à então Palestina em março de 1948.Jerusalém estava bloqueada pelos árabes e o grande feito de Marcus foi comandar aabertura de uma estrada alternativa que recebeu o nome deBurma Road, referência auma complicada estrada construída pelos ingleses na Birmânia. Ben Gurion destacou-opara um dos comandos da Haganá. Certa noite, em junho, nas cercanias da Jerusalém jádesbloqueada, Marcus foi abordado à distância por um sentinela que a ele se dirigiu emhebraico. Como não soubesse responder, o rapaz tomou-o por inimigo e deu-lhe um tiromortal. O corpo de David Marcus foi transportado para ser sepultado em West Point. Em

    sua guarda de honra se encontrava um jovem representante da Haganá chamado MosheDayan.

    No verão de 1947, o Instituto entrou em contato com Nahum Bernstein, um dos maisrespeitados advogados de Manhattan. Durante a guerra ele havia atuado na OSS, o

    serviço de inteligência americano que antecedeu a CIA. Ele compareceu a um dosalmoços das quintas-feiras e fez amizade instantânea com Sonnenborn, que lhe disse:

    “Precisamos de uma pessoa como você para uma tarefa que ninguém é capaz de executarnos Estados Unidos”. Essa tarefa consistia em criar uma espécie de escola que ensinassesistemas de códigos e a difícil habilidade para elaborar e decifrar mensagenscriptografadas.

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    Bernstein encontrou obstáculos para encontrar judeus especialistas naquelas matérias.Acabou entrando em contato com um antigo colega da OSS, Geoffrey Mort-Smith, cristãoevangélico que se dizia descendente de índios. Era um gênio na criptografia e também na

    matemática, jogos de bridge e de xadrez, além de um profundo conhecedor da obra deBach. Ele concordou de imediato em ser o professor dos professores na escola de

    Bernstein, que já contava com 60 alunos. Estes foram incumbidos de uma missão especial:elaborar um código à prova de ser decifrado que servisse para a comunicação entre o

    Instituto e a Haganá, na então Palestina. Decorridas algumas semanas, o novo códigocomeçou a funcionar com perfeição e totalmente blindado.

    No dia 25 de outubro de 1947, faltando pouco mais de um mês para a votação sobre apartilha da Palestina nas Nações Unidas, realizou-se no Hotel Waldorf Astoria mais umalmoço em homenagem a Rudolf G. Sonnenborn. Estavam presentes 55 convidadosvindos de diversos estados americanos. O anfitrião tomou a palavra e fez um relatoreferente às difíceis atividades dos representantes da Agência Judaica na sede da ONU,

    então localizada em Lake Success, perto de Nova York, no sentido de conseguir doisterços dos votos da Assembleia Geral para a aprovação da partilha.

    Em seguida, apresentou um convidado especial, que vestia uma farda do exército inglês efalava com um impecável e sofisticado sotaque de Cambridge. Era o major Audrey Ebban,mais tarde mundialmente conhecido como Abba Ebban. Este focou seu breve discursonum ponto fundamental: se a partilha não fosse aprovada, não haveria um Estado Judeu.Informou que os Estados Unidos e a União Soviética se mostravam a favor da partilha,

    mas era preciso conquistar os votos de pelo menos 23 países. Portanto, os presentes,donos e diretores de empresas multinacionais, deveriam estender seus contatos mundo

    afora para obter o engajamento dos governos aos quais tinham acesso.Àquela altura, hospedou-se no Hotel 14 mais um jovem palestino chamado Yehuda Arazi.

    Seguindo instruções diretas de Ben Gurion, a ele competiria a tarefa de adquirirdeterminados tipos de armamentos que até então eram indispensáveis e faltavam à

    Haganá. No decorrer de sua missão secreta, Arazi usou vários nomes: JosephTenembaum, José de la Paz, rabino Leflowitz, Dr. Scwartz, Dr. Oppenheim e Albert Miller.Seu êxito foi notável nessa tarefa, sobretudo no suborno de capitães de navios mercantesde inúmeras nacionalidades, que transportavam os armamentos para a então Palestina.Tudo ficou ainda mais complicado quando os Estados Unidos, após a aprovação dapartilha, declararam um embargo para as exportações para a Palestina, cientes de que as

    armas eram embaladas sob diferentes disfarces. Mesmo assim, Arazi não desistiu e foidando voltas por cima.

    Em seguida, registrou-se um novo hóspede no Hotel 14, chamado Teddy Kollek, nascidoem Budapeste, criado em Viena, e um dos pioneiros fundadores dokibutz Ein Guev, às

    margens do Mar da Galileia. Teddy já possuía vasta experiência em tratativasinternacionais e, inclusive, negociara diretamente com Eichmann, durante a guerra, a

    libertação de mais de 1.000 judeus húngaros. Ele tinha uma vocação inata para fazeramigos e seduzir as pessoas, além de ser um incomparável coletor de doações. Coube-lhe

    também o encargo de ampliar os contatos da clandestina Haganá na América Latina. No

    Brasil, seu representante era um judeu de origem polonesa-alemã chamado MenasheShepitsky, de quem fui amigo. Certa madrugada, Teddy precisava mandar um envelope

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    com alguns milhares de dólares para o capitão de um navio de bandeira panamenhaancorado em Nova York. Olhando pela janela de seu quarto, percebeu um carroestacionado perto do hotel que, com certeza, era do FBI e seguiria qualquer pessoa que

    saísse do hotel àquela hora. Desceu, então, até a boate Copacabana e pediu a um jovemcantor que ali se apresentava, seu conhecido, e pediu-lhe que levasse o envelope até seu

    destino. O rapaz aquiesceu e, após o fechamento da boate, dirigiu-se sem ser seguido aocais do porto e entregou a encomenda. Ele se chamava Frank Sinatra.

    Um dos mais valiosos colaboradores da Haganá em Nova York foi um judeu chamadoAdolf Schimmer, fisgado por Teddy Kollek. Al, como era chamado, 30 anos, servira em

    bombardeiros durante a guerra como piloto e engenheiro de vôo, e depois comocomandante nas linhas aéreas TWA. Depois da partilha, Arazi foi ao seu encontro e deu-lhe uma vultosa quantia em dinheiro para a aquisição de aviões de quaisquer espécies. Onovo país não poderia sobreviver sem uma força aérea, por mais limitada que fosse. Nafábrica da empresa Lockheed, localizada na Califórnia, Al descobriu quinze aviões do tipo

    Constellation, todos paralisados no solo como excedentes de guerra e necessitando algunsreparos de peças e manutenções. Como fachada, criou uma empresachamadaSchwimmer Aviatione outra, meses mais tarde, aService Airways.O primeiroavião que comprou foi um DC-3 e depois quatro aeronaves Curtiss-46.

    Finalmente, depois de incontáveis idas e vindas, conseguiu adquirir quatro Constellationse, com a ajuda de amigos veteranos de guerra, pilotos e mecânicos, voou todos eles até aentão Palestina sem apresentar os necessários planos de voos às autoridades. Enquanto

    isso, sob o beneplácito da ex-União Soviética que queria ver as potências ocidentais forado Oriente Médio, o Estado de Israel comprou na Checoslováquia tudo que precisava em

    matéria de armamentos. Agora, sim, o novo país teria condições militares para enfrentar osinvasores árabes.

    Com a estabilização de Israel, Rudolf G. Sonnenborn deu por encerrada sua missão naHaganá e passou a presidir a representação dos Bônus de Israel nos Estados Unidos.

    Aposentou-se de suas atividades comerciais e morreu em junho de 1986.

    O misterioso Reuven Zaslani hebraizou seu nome para Reuven Shiloah. RepresentouIsrael em Rhodes, em 1949, nas negociações com parte dos invasores árabes. Foi diretor-geral do primeiro Ministério das Relações Exteriores de Israel, embaixador em Washingtone também diretor do serviço de inteligência Shin Bet. Morreu em 1959.

    Phil Alpert implantou uma indústria de máquinas pesadas nos Estados Unidos e só esteveem Israel como turista, onde pôde ver de perto as instalações da indústria bélica de Israel,que começara, com sua participação, naquele apartamento em Manhattan.

    Chaim Slavin não quis participar do primeiro governo de Israel, alegando não suportar aburocracia. Tornou-se industrial de uma empresa de casas pré-fabricadas. Morreu em1980.

    Daniel Fliderblum foi viver em Israel, onde mudou o sobrenome para Avivi. Foi umproeminente engenheiro no campo da eletrônica.

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    Nahum Bernstein voltou a praticar a advocacia em Nova York e deu sucessivas palestraspara os serviços americanos de inteligência. Foi presidente do Jerusalem Fund, nosEstados Unidos. Morreu em 1983.

    Al Schwimmer emigrou para Israel, onde atuou durante 24 anos como diretor da Israel

    Aerospace Industries. Por ter contrabandeado aviões para fora dos Estados Unidos, foiprocessado pelo FBI e teve cassada sua cidadania americana. Recebeu um perdãoespecial no fim do mandato do presidente Clinton. Recebeu o Prêmio Israel em 2006 e

    morreu em 2011, aos 94 anos de idade.

    Jacob Dostrovsky hebraizou seu nome para Yacov Dori e foi o primeiro chefe do Estado-

    Maior das Forças de Defesa de Israel. Morreu em 1973.

    Yehuda Arazi abandonou as atividades militares e estabeleceu um hotel tiporesort de

    pouco sucesso. Morreu em 1959, sem obter o reconhecimento que merecia.

    Teddy Kollek, antes de chegar ao Hotel 14, atuara como representante da Agência Judaica

    na Europa. Serviu na embaixada de Israel em Washington. Voltou para Israel em 1952,trabalhando como chefe de gabinete do primeiro-ministro até 1964. No ano seguinte, foi

    eleito prefeito de Jerusalém, cargo que manteve durante 40 anos. Morreu aos 95 anos deidade, em janeiro de 2007.

    David Ben Gurion, profeta do povo de Israel, morreu no dia 1º de dezembro de 1973.

    BIBLIOGRAFIA

    “The Pledge”, de Leonard Slater, Editora Simon and Schuster, EUA, 1970.

    zevi ghivelder é escritor e jornalista.

    O drama dos refugiados: palestinos e judeus por por Sergio D. Simon

    A recente guerra de Israel contra o Hamas em Gaza chamou novamente a atenção domundo para a situação dos refugiados palestinos. Inúmeras personalidades políticas,artísticas e da imprensa, de todos os continentes, pronunciaram-se sobre o assunto,

    muitas vezes com pouquíssimo conhecimento de causa, censurando Israel pelo tratamentoque tem sido dado aos refugiados palestinos.

    Edição 85 - Setembro de 2014

    Esquecem-se estas pessoas que a situação atual não pode ser isolada de todo umcontexto histórico que a precedeu e que levou ao explosivo estado atual. A situação dehoje não é de responsabilidade exclusiva de Israel, mas sim de vários personagens da

    política do Oriente Médio.

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    A rainha Rania al Abdullah da Jordânia publicou recentemente um artigo em vários jornaisdo mundo, inclusive n’O Estado de São Paulo, condoendo-se pela situação dos refugiadospalestinos e exortando os leitores a apoiar a causa e fazer doações para as entidades

    internacionais que cuidam desses refugiados. Em uma resposta espontânea, escrevi àrainha Rania uma carta aberta na qual sustento que a situação dos palestinos não é de

    responsabilidade exclusiva do Estado judeu, mas em grande parte é devida ao tratamentoque o Reino Hachemita da Jordânia dispensou a eles desde a fundação do Estado de

    Israel, em 1948. Para minha surpresa, essa carta espalhou-se rapidamente pela internet,tendo sido traduzida e publicada em inúmeros países e causando uma enxurrada de e-mails que entopem minha caixa postal há 3 semanas. Creio que o que tocou as pessoasnessa carta foi uma pequena explanação histórica sobre o papel do reino da Jordânia, emespecial do rei Hussein (sogro da rainha Rania), na criação e manutenção dos refugiadospalestinos. Gostaria aqui de discorrer um pouco mais sobre o assunto, mostrando tambémo que se passou com os refugiados judeus de países árabes que foram absorvidos pelasociedade israelense.

    Passei o ano de 1968 morando em Israel, no Machon le Madrichei Chutz Laaretz. Eramtempos gloriosos para Israel, logo após a Guerra dos Seis Dias, com a reconquista dasanta Cidade Velha de Jerusalém pelo exército de Israel.

    Se por um lado estávamos todos exultantes com a recente vitória, um incidente me tocoufortemente: durante uma excursão do Machon, nosso ônibus foi cercado na cidade deJenin (Shchem) por uma multidão de mulheres e meninas adolescentes, que furiosamente

    erguiam seus punhos contra nós e gritavam slogans contra os invasores. O olhar de ódioque presenciei naqueles rostos me fez entender que o problema do território palestino teria

    que ser resolvido rapidamente por Israel, sob o risco de este se tornar o grande entravepara o desenvolvimento do Estado de Israel. Desde então tenho lido e me interessado

    constantemente pelo assunto, sempre surpreso pela inabilidade dos países árabes empelo menos tentar resolver esta situação.

    A manutenção dos refugiados palestinos como párias da sociedade sempre foi deinteresse político para os vizinhos de Israel. Quando da Declaração da Independência deIsrael, seguida da Guerra da Independência, em 1948, cerca de 70% da população quevivia no território declarado como Estado de Israel refugiou-se em países árabes vizinhos,alguns por medo, muitos por orientação das rádios árabes vizinhas e uma parte expulsapelo próprio exército de Israel. Estima-se que o total chegasse a mais de 700.000 pessoas,

    na época. Quase todos se refugiaram na Jordânia (principalmente na margem ocidental),em Gaza, na Síria e no Líbano, com muito poucos tendo conseguido chegar ao Egito. A

    United Nations Relief and Works Agency (UNRWA) contabilizou na época 711.000 pessoascomo refugiados palestinos, sendo que a resolução 194 da ONU, de dezembro de 1948,

    reconhecia o direito de retorno a estes refugiados e a todos os seus descendentes emlinha patrilinear. Dos 711.000 refugiados originais de 1948 restam atualmente apenas

    cerca de 30.000 pessoas vivas, mas seus descendentes diretos por linhagem patrilinearalcançam hoje quase 5.000.000 de pessoas.

    Ao invés de abrigar estes refugiados, a maioria desses países sempre os tratou não como

    “irmãos”, mas como cidadãos de segunda categoria, sem possibilidade de absorção emsuas sociedades. Em especial no Líbano, em Gaza e na Jordânia os refugiados palestinos

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    foram instalados em “campos provisórios” de refugiados, que nada mais eram do quecampos de concentração, cercados por arame farpado, onde condições desumanas devida eram oferecidas. Estes campos, quase todos ao longo da fronteira com Israel,

    serviram por décadas como uma arma política útil para se conseguir concessões políticase doações da ONU. Jamais se propôs, para estes refugiados, um plano de educação,

    capacitação e absorção progressiva na sociedade local.

    Estas condições subumanas de vida eram o caldo ideal para a criação dos movimentos

    terroristas entre os refugiados. O mais conhecido deles, sem dúvida, é a Organização paraa Liberação da Palestina (OLP). Fundada no Cairo durante a Cúpula da Liga Árabe, em

    1964, e dirigida a partir de 1969 por Yasser Arafat, a Carta original da OLP pedia a lutaarmada contra Israel e o direito de retorno para os refugiados palestinos. Montada comforte estrutura de guerrilha (seus combatentes guerrilheiros conhecidos na época como“fedayin”), a OLP realizou sangrentos atentados contra Israel, atacandofrequentementekibutzim emoshavim, além de escolas infantis, ataques em estradas e o

    famoso massacre da delegação israelense aos Jogos Olímpicos de 1972, em Munique,levada a cabo pela organização Setembro Negro. Ao longo do tempo, a OLP tornou-seuma organização complexa, abrigando vários outros grupos palestinos de diversastendências, tais como a PFLP - Frente Popular para a Liberação da Palestina (deorientação marxista-leninista, fundada pelo Dr. George Habash, um palestino cristão, em

    1967) e a DFLP - Frente Democrática para a Liberação da Palestina (de orientação aindamais esquerdista, maoísta, fundada por Nayef Hawatmeh em 1969), além de vários outros

    grupos menores, de orientação política variada.

    Esta mistura ideológica resultou em dificuldades, evidentemente. Ao Reino Hachemita da

    Jordânia não interessava toda essa ebulição política dentro de seu território. A OLP (quese juntara ao movimento Fatah em 1967) passara a ser uma força civil que dominava

    importantes áreas da Jordânia, fazendo controles e bloqueios de estradas e tentandosempre humilhar os soldados e a autoridade real. Em nome da estabilidade política local, oRei Hussein atacou diretamente a população palestina na Jordânia, em setembro de 1970,no episódio que ficou conhecido como Setembro Negro. Nesta luta, que durou 10 meses,cerca de 20.000 palestinos foram mortos pelos jordanianos, segundo Arafat (os númerosvariam de acordo com as fontes, mas foram muitos milhares de palestinos, seguramente).A direção da OLP teve que deixar o país, instalando-se então em Damasco e Beirute.

    A OLP-Fatah, ao longo dos anos, acabou mudando sua postura em relação à destruição

    do Estado de Israel, tendo Arafat passado a aceitar a coexistência de um Estado palestinoao lado do estado judaico. Em 1993, Yasser Arafat e Yitzhak Rabin, então primeiro ministro

    de Israel, terminaram por assinar, sob as vistas do presidente americano Bill Clinton, osAcordos de Oslo. Neste documento, Israel se comprometia a gradualmente retornar o

    território conquistado em 1967 para as mãos da OLP e os palestinos se comprometiam aaceitar e conviver pacificamente com o Estado judaico. Foi criada, nessa ocasião, a

    Autoridade Nacional Palestina, órgão que governaria os territórios palestinos daCisjordânia e de Gaza.

    O acordo de Oslo progrediu lentamente nos meses subsequentes, mas foi seriamente

    comprometido pelo assassinato de Yitzhak Rabin, em 1995 (por Ygal Amir, umultranacionalista da direita israelense). Esta sequência de conversas de paz entre

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    palestinos e israelenses terminou em julho de 2000, quando Arafat e Ehud Barak, entãoprimeiro ministro de Israel, não conseguiram chegar a um acordo na Cúpula de CampDavid, novamente sob os auspícios de Bill Clinton. A péssima administração de Arafat e da

    Autoridade Palestina, com inúmeras acusações de corrupção, nepotismo, ligações com oterrorismo palestino e absoluta falta de um mínimo de princípios de democracia fez com

    que Arafat perdesse a confiança de Israel e dos Estados Unidos. Em 2004, Arafat, porforte pressão internacional, passa o poder para Mahmoud Abbas, considerado um líder

    pouco expressivo, mas moderado, e que até hoje lidera a Autoridade Palestina.

    O Hamas, por sua vez, é uma organização de caráter fundamentalista islâmico de origemsunita, proveniente da Irmandade Muçulmana, tendo sido fundada em 1987 pelo SheikAhmed Yassin. O Hamas conta com um braço armado terrorista conhecido como BrigadasIzz ad-Din al-Qassam (ou Brigadas Al-Qassam). O Hamas prega em sua Carta dePrincípios a eliminação completa do Estado judaico, o estabelecimento de um Estadoislâmico fundamentalista e o direito de retorno para todos os descendentes de palestinosao que é hoje o território israelense. A Carta nega ainda a possibilidade de conversaçõesde paz com Israel, alegando que a Jihad é a única opção possível na luta pelo Estado

    islâmico. Conclama todo palestino a lutar contra o “inimigo que age como os nazistas”,condenando todos os judeus à morte, sejam militares, idosos, mulheres ou crianças. Em

    vários de seus capítulos, a Carta fala da influência maligna dos judeus sobre a história dahumanidade, culpando-os por todos os grandes eventos históricos recentes (inclusive a

    Revolução Francesa!), numa clara posição racista anti-judaica e não apenas anti-Israel.Esta Carta de Princípios nunca foi modificada e, devido aos seus ataques terroristas contraa população civil de Israel, tanto o Hamas como as Brigadas Al-Qassam são consideradas

    organizações terroristas pelos Estados Unidos e pela Europa.Além de seu braço político, o Hamas mantém uma rede de assistência social para osempobrecidos palestinos, oferecendo escolas e creches. Isto fez com que ganhasse apoioda população local, principalmente em Gaza, e consequentemente vencesse as eleiçõeslocais em 2006, derrotando o Fatah. Desde 2007 o Hamas governa Gaza e o Fatahgoverna a Cisjordânia, com altos e baixos no relacionamento entre os dois grupos. Agora,em 2014, o Hamas e o Fatah anunciaram que novamente estavam se unindo pela luta do

    povo palestino, mas na prática esta “união” foi interrompida pela guerra de Israel contra oHamas.

    Os refugiados judeus

    Os judeus habitaram os países árabes desde tempos imemoriais. Estima-se que o

     judaísmo no Irã (antiga Pérsia) date dos tempos bíblicos, da época do exílio babilônico, háquase 3.000 anos. Os primeiros judeus chegaram ao Marrocos há 2.000 anos, quando da

    destruição do Segundo Templo pelos romanos, no ano 70 E.C., tendo influenciadoprofundamente a cultura berbere local. E há também indícios de que os judeus não sairam

    todos do Egito com Moisés, tendo restado algumas cidades judaicas no sul do país, porvolta de 1250 A.E.C.

    Em todos esses países de crença muçulmana os judeus viviam geralmente como uma

    categoria especial de cidadãos, às vezes protegidos pelo governante local, às vezesperseguidos. Mas raramente se observava migrações maciças por perseguição em massa.

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    Uma exceção talvez tenha sido o êxodo dos judeus do Marrocos no séc. 19, quando asperseguições contra eles se tornaram constantes e ameaçadoras. Isto, aliado à pobreza efalta de perspectiva para os jovens, fez com que boa parte da população judaica

    emigrasse a partir de 1810 para lugares distantes como a Amazônia brasileira, o Peru e aVenezuela.

    Assim como populações de árabes foram deslocadas com o estabelecimento do Estado deIsrael, as enormes comunidades judaicas dos países árabes também terminaram

    expulsas. Muito antes do estabelecimento de Israel, as populações judaicas passavam porconstrangimentos e perseguições, muitas vezes similares aos pogroms da Europa(inúmeras matanças em Shiraz, Alepo, Fez, entre outras).

    Calcula-se que perto de 1.000.000 de judeus de países árabes e muçulmanos acabaramexpulsos de sua terra natal após a criação de Israel, sendo que a maior parte terminoumigrando para Israel. A França recebeu cerca de 250.000 desses refugiados.

    As primeiras ondas migratórias substanciais para o Estado de Israel se deram a partir doIêmen e do Iraque. Calcula-se que entre 1948 e 1951 chegaram a Israel cerca de 250.000refugiados destes países. Em 1970, mais de 600.000 imigrantes judeus de países árabes já haviam se estabelecido em Israel. Estas ondas migratórias não foram simultâneas.Enquanto Iraque e Iêmen foram as grandes imigrações iniciais, a expulsão dos judeus doEgito foi um pouco mais tardia, com seu pico em 1956, durante e logo após a Campanhado Sinai. Desta mesma época data o êxodo maior dos judeus do Marrocos.

    O Líbano foi o único país árabe a ver um aumento de sua comunidade judaica nos anos50, com imigrantes vindos principalmente da Síria. Já em 1947, após a queima desinagogas e do assassinato de 75 judeus por muçulmanos em Alepo, cerca de metade da

    população judaica deixara o país, principalmente em direção a Beirute. Logo após aindependência de Israel em 1948, o então presidente sírio Husni al Zaim permitiu a saída

    pacífica de grande número de judeus, novamente a maioria indo em direção ao Líbano ecerca de 5.000 chegando a Israel. Esta passagem pelo Líbano, no entanto, foi transitória, e

    após a Guerra Civil libanesa, nos anos 70, já praticamente não havia uma comunidade judaica em Beirute.

    Os judeus chegaram a Israel sem nada possuir, uma vez que todos os bens materiais,como imóveis, terras, dinheiro e jóias, foram proibidos de deixar a maioria dos paísesárabes. Muitos chegavam com um nível social e educacional muito baixo, como os judeus

    iemenitas e, mais tarde, os etíopes, porque assim eram as condições destas comunidadesnesses países. Mas muitos tinham algum grau de educação e uma pequena quantidadedeles chegavam a ter um ótimo nível educacional, apesar de educação universitária nãoser uma tradição entre eles, como era em algumas comunidades européias.

    Tal como os palestinos, os cerca de 700.000 refugiados judeus em Israel foraminicialmente alojados em acampamentos temporários, que eram chamadosdeMa’abarot(do hebraicoma’avar = em trânsito; aliás, a mesma raiz da

    palavraIvrim,hebreus). A intenção do Estado de Israel, no entanto, era absorver e integrarrapidamente estes refugiados à nova sociedade israelense. Asma’abarot tinham serviços

    contínuos de saúde, higiene, alimentação e educação, e váriasdestasma’abarot transformaram-se em novas cidades (Kiriat Pituach = cidade em

    desenvolvimento), modernas e totalmente urbanizadas (as cidades atuais de Kiriat

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    Shemona, Sderot e Migdal HaEmek, por exemplo, começaram comoma’abarot). Apesardas condições difíceis desse início da imigração dos refugiados judeus (aliás, toda asociedade israelense passava por enormes dificuldades no início da criação do Estado) e

    da vida sofrida dentro de tendas de lona ou de lata, sob o calor escaldante de Israel, omodelo de absorção de imigrantes revelou-se um sucesso.

    A últimama’abará foi finalmente fechada em 1963 – ou seja, em menos de 15 anos todaaquela multidão foi absorvida pela sociedade israelense. No censo de 2003, os

    descendentes desses imigrantes judeus de países árabes somavam cerca de 60% dapopulação total de Israel.

    A perda material dos refugiados judeus foi enorme, evidentemente. A World Organizationof Jews from Arab Countries (WOJAC) estimou em 2007 que estes bens somariam cerca

    de 300 bilhões de dólares, em valores atualizados. Jamais houve qualquer menção decompensação financeira por parte dos governantes de países árabes.

    Não há paralelo possível entre os dois grupos de refugiados, árabes e judeus. Ascondições históricas que levaram à formação destas duas populações foram totalmentediferentes. Enquanto os palestinos saíram do território israelense por incitação dos líderesde países árabes vizinhos, por medo e por expulsão pelo exército de Israel, os judeusdeixaram os países árabes em condições mais complexas: muitos almejavam uma vidamelhor na Terra de Israel, concretizando o seu sonho sionista, enquanto outros foramexpulsos em curto prazo de tempo, de maneira violenta. Um grupo não serve de “moedade troca” do outro – tal comparação não seria justa. O que se pode comparar, sim, foi oprocesso de absorção e acolhimento que as duas populações receberam: os palestinoscontinuam como refugiados há quase 70 anos, sem solução à vista para seu problema,

    enquanto que os refugiados judeus se mesclaram e se integraram numa sociedademoderna, dinâmica e em constante transformação.

    Guerra de Yom Kipur: A luta pelo Sinai

    O mais dramático confronto militar na história do Estado de Israel, a batalha pelo Sinai, foidecisiva para a vitória israelense na Guerra de Yom Kipur. O ataque-surpresa sofrido porIsrael e a reviravolta extraordinária foram, respectivamente, o nadir e o ápice da históriamilitar do país.

    Edição 82 - Dezembro de 2013

    Tel Aviv, 6 de outubro de 1973, Yom Kipur, 10 horas. Na “Sala de Crise”, estavam reunidoso Estado Maior israelense e seu chefe, o General David Elazar; os Comandantes Geraisdo Comando Norte e Sul e Moshé Dayan, Ministro da Defesa. Na pauta, a informação queZvi Zamir, chefe do Mossad, transmitira naquela madrugada: “a Fonte”, codinome deimportante fonte egípcia, informara-lhe que Egito e Síria atacariam Israel,simultaneamente, antes do anoitecer. (V. Morashá 81).

    Às 12h20, no Sinai, os israelenses captam uma mensagem transmitida por um posto daONU, alertando sobre um iminente ataque da artilharia egípcia.

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    No Cairo, às 13h30, o presidente do Egito, Anwar el-Sadat e o ministro da Defesa, HafizIsmail, chegam ao “Centro Dez”, a partir de onde a guerra seria gerenciada. Meia horadepois, teria início a operação Badr.

    Na Base de Tasa, no Sinai, às 14h, o Coronel Amnon Reshef ouviu, pelo rádio, o sinal deinvasão de espaço aéreo pelo inimigo. O Egito iniciara o ataque.

    Os aviões egípcios foram os primeiros a bombardear as linhas israelenses, seguidos porum intenso fogo da artilharia. As 14h15, na margem ocidental do Canal do Suez, homens

    da infantaria iniciavam a travessia do Canal. Três horas mais tarde, 32 mil egípcios jáestavam na margem oriental, tendo estabelecido cinco cabeças-de-ponte. No início da

    noite, concluída a montagem de 12 pontes sobre o Canal, a primeira leva de tanques oatravessa. Na manhã seguinte, haviam atravessado o Canal 1.020 tanques – chegariam a1.350 até o final do dia; 14.000 veículos militares e 90 mil homens. Às 14h, o númerochegaria a 100 mil.

    Para rechaçar o ataque egípcio, ao longo de uma fronteira de centenas de quilômetros,Israel contava com apenas 488 soldados, a maioria reservistas da Brigada Etzioni, e 291tanques.

    Os soldados estavam distribuídos em 16 postos fortificados ao longo da Linha Bar-Lev, quese estendia da costa mediterrânea até o Golfo de Suez. Era grande a distância entre umposto fortificado e outro, e isso iria facilitar a penetração egípcia no Sinai. Em apoio àLinha Bar Lev, Israel construiu um sistema de estradas. As três principais corriam nosentido norte-sul. A primeira, Lexicon Road (Estrada da Infantaria), ao longo do Canal,permitia que os israelenses se movimentassem entre as fortificações. A segunda, aEstrada da Artilharia, a uns 12 km do Canal, ligava áreas de concentração de blindados e

    bases logísticas. A Lateral Road (Estrada de Suprimentos), a 30 km do Canal, visavapermitir a concentração de reservas operacionais. Violentas batalhas seriam travadas para

    o controle dessas estradas.

    Os 290 tanques israelenses estacionados no Sinai faziam parte da 252ª Divisão de

    Blindados, comandada pelo General Avraham Mendler. Noventa e um desses tanques, abrigada do Coronel Amnon Reshef, estavam posicionados na zona do Canal e outros 200na Estrada da Artilharia.

    “Os judeus estão adormecidos”

    Os relatórios da Inteligência egípcia sobre a falta de indícios de que Israel estivessedesconfiado das reais intenções de Sadat preocupavam o Alto Comando militar egípcio,que chegou a suspeitar de uma armadilha dos israelenses. Na noite de 5 de outubro, osbatedores enviados ao lado israelense retornaram com a mesma mensagem: “Os judeusestão adormecidos”.

    A verdade é que a Inteligência militar israelense (conhecida pelo acrônimo hebraicoAMAN) monitorava as atividades egípcias. Mas, ao descartar, a priori, os indícios de quetanto Sadat como Assad se preparavam para uma guerra, a AMAN “desligara” o seusistema de alerta. Sabia, por exemplo, do deslocamento para a margem do Canal de Suez

    de um grande contingente de tropas egípcias, de 300 caminhões repletos de munição e debaterias de mísseis superfície-ar, os SAMs, que ampliariam seu raio de defesa antiaérea

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    sobre o Sinai. Mas, os atribuíra a um exercício militar que o Egito realizaria de 1 a 7 deoutubro. Desconsideraram o fato de a primeira semana de outubro cair durante o Ramadã,durante o qual os muçulmanos praticam o seu jejum ritual. Jamais os egípcios realizariam

    um mero exercício militar nesse mês.

    Nos dias que antecederam a eclosão do conflito, o General Mendler via com crescentenervosismo as movimentações egípcias. No dia 1º, um oficial da Inteligência o alertara

    sobre os fortes indícios de que o exercício militar egípcio culminaria com um ataqueatravés do Canal. Mendler ficou ainda mais preocupado ao analisar fotografias aéreastiradas no dia 4, mostrando uma concentração sem precedentes, na área do Canal, detanques, infantaria e SAMs. Levou sua preocupação de que o Egito se preparava paraguerra ao General Shmuel Gonen, se tornara o Comandante Geral do Comando Sul em julho do mesmo ano, quando o General Ariel Sharon deixara o posto. Gonen lherespondeu que, segundo a AMAN, era apenas um exercício militar. Mesmo assim, Mendlercolocou sua Divisão de Blindados em alerta máximo.

    As primeiras horas

    Nas primeiras horas da Guerra de Yom Kipur, a defesa da frente do Suez coube aostanques da Brigada do Cel. Reshef e aos soldados estacionados nos fortes ao longo daLinha Bar-Lev.

    Os tanques chegaram à sua posição de tiro em menos de 20 minutos, mas foramsurpreendidos por uma saraivada de mísseis. Aguardava-os a infantaria egípcia, armadacom mísseis antitanques Saggers. Durante três horas a brigada do Cel. Reshef lutousozinha até a chegada das duas outras brigadas da Divisão do Sinai.

    Nesse primeiro dia de Guerra, assim como no Golã, os israelenses lutaram com grandegarra e coragem tentando impedir o avanço egípcio. Inúmeros atos de heroísmo foram

    registrados. Um único tanque fez frente a um pelotão de tanques egípcios durante 30minutos. Para sua surpresa, os egípcios descobriram que toda a guarnição do tanque

    estava morta, à exceção de um homem, ferido, que lutara sozinho.

    As guarnições nos fortes resistiram como e enquanto puderam, mas nem mesmo as mais

    experientes unidades de combate teriam feito qualquer diferença dada a assombrosasuperioridade numérica dos egípcios.

    Os aviões da Força Aérea de Israel (FAI) também não conseguiram deter os egípcios. Ofogo intenso dos mísseis antiaéreos SAM-6 os impedia de sobrevoar as posições egípciaspara destruir as pontes sobre o Canal. Apesar do perigo, executaram 120 saídas.QuatroPhantomsforam perdidos nas primeiras horas de guerra.

    Domingo, 7 de outubro

    Após um dia de Guerra, os israelenses não tinham o que comemorar. Embora tivesseminfligido perdas aos egípcios, a operação Badr seguia avançando. Os egípcios passavam,desimpedidos, entre os enormes vazios entre fortificações. Pelotões israelenses haviamsido emboscados e dizimados e 153 tanques da Divisão do Sinai, foram postos fora de

    combate. A situação dos homens nas fortificações da Linha Bar-Lev também era precária,e as baixas, pesadas. As FDI fizeram várias tentativas para alcançar os fortes cercados

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    para resgatar os sobreviventes, sofrendo pesadas perdas. Os que conseguiram abandonaros fortes retornavam a pé para as linhas israelenses.

    O Comando Sul acreditava que a situação seria revertida com a chegada de duas divisõesde reserva de blindados. A 162ª, comandada pelo General Avraham “Bren” Adan, que iria

    atuar no norte do Sinai; e a 143ª, sob as ordens do General Ariel “Arik” Sharon, no sul.O General Mendler e os oficias sentiram-se aliviados quando viram Sharon entrar na salade guerra, em Refidim, principal base no Sinai. Mendler relatou que os egípcios já estavam

    a 8 km a leste do canal. Relatou, também, que Israel sofrera muitas baixas e que suaDivisão perdera mais da metade dos tanques. O que restava da brigada de Reshef estava

    enfrentando a linha de frente do Segundo Exército egípcio, e a brigada de Shomron, a doTerceiro Exército.

    Em suas memórias, Sharon conta suas impressões ao chegar à base de Tasa: “Vi algoestranho em seus rostos, não medo, mas perplexidade. De repente, algo lhes acontecia

    como nunca antes (...) uma geração que nunca experimentara uma derrota. Agoraestavam em estado de choque. Como era possível que os egípcios estivessem avançandoe, nós, sendo derrotados?”

    Para Sharon, Israel só tinha um caminho – contra-atacar com força total, com duasdivisões de blindados, antes que os egípcios reforçassem suas cabeças-de-ponte. Seuobjetivo, escreveria Sharon, era “criar nos árabes uma psicologia de derrota, vencê-lostodas as vezes e arrasá-los de uma forma tão categórica que eles ficassem convictos deque jamais venceriam”.

    Começo dos contra-ataques

    O General Elazar ficou exultante ao saber da rápida chegada de duas divisões de reservade blindados à frente do Sinai. O Alto Comando decidiu que Israel iniciaria um contra-ataque na 2ª feira de manhã, apenas 36 horas após o início da guerra. Elazar acreditavaque seria possível bloquear os egípcios. “Por que não deveríamos vencer?” afirmara. “Oscomandantes de divisões e de brigadas são os nossos melhores soldados. Arik (Sharon),

    Bren (Adan), Albert (Mendler) são a liga principal das FDI... todos tão experientes emcombate, todos conhecem tão bem o Sinai...”.

    De acordo com o plano traçado por Elazar, as duas divisões, cerca de 600 tanquesdeveriam participar do contra-ataque. Sharon se incumbiria de arrasar o Terceiro Exército

    no Sul; atravessaria então o Canal sobre uma ponte egípcia e estabeleceria uma linha dedefesa de cerca de 20 km a oeste. Adan faria mais ou menos o mesmo no Norte.

    As 2 h da manhã do dia 8, Israel iniciou o contra-ataque. O General Gonen, porém,abandonou o plano do General Elazar, fato que custaria muito caro. Suas ordens não eram

    claras e mudavam constantemente. Queria que Adan, com apenas meia divisão evirtualmente sem artilharia e suporte aéreo, enfrentasse três divisões egípcias. Para piorara situação, através de uma série de ordens e contra ordens, Gonen fez a Divisão deSharon passar a maior parte do dia se movimentando em círculos, sem conseguirenfrentar o inimigo.

    As informações que Adan recebia dos comandantes de suas brigadas eram alarmantes.“Eles estão vindo em uma frente muito ampla e em número assustador”; “Não temos força

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    suficiente”, avisavam pelo rádio. Seu maior medo se tornara realidade: seus tanquesestavam atacando a principal cabeça-de-ponte do Segundo Exército sem cobertura daartilharia ou da Força Aérea. Estavam completamente sós. No meio da batalha Adan se

    perguntava se no final do dia ainda lhe restaria uma divisão sequer.

    Como em um pesadelo, numa inacreditável sequência de erros provocada pela totaldesconexão entre o Comandante Geral e as forças no campo de batalha, Israel perdera achance de destruir as cabeças-de-ponte egípcias.

    Sharon estava furioso, pois acreditava que Israel perdera uma oportunidade de mudar orumo da guerra. Ele acreditava que ainda era possível vencer os egípcios, mas precisava

    de uma ação radical – e duvidava que aqueles que estavam à frente da guerra fossemcapazes de fazê-lo. Acreditava que as FDI deviam cruzar o Canal sem demora.

    Ao ser informado de que o contra-ataque fora um grande fiasco, Elazar ordenou aoComando do Sul que restringisse suas ações, nos dias seguintes, a ações defensivas,

    enquanto as forças se reestruturavam. As FDI iriam concentrar-se seus esforços emderrotar a Síria no Golã.

    O dia 8 de outubro ficaria gravado na memória como o pior da História Militar de Israel; umgolpe profundo na autoconfiança de suas forças armadas. O fracasso do contra-ataque noSinai, juntamente com a derrota da Brigada Golani na tentativa de retomada do MonteHermon, na manhã daquele mesmo dia, no Golã, mostrara que a estratégia de guerradeveria ser revista de imediato. O futuro dependia das lições a serem extraídas desse diaagonizante.

    A “fenda” na frente egípcia

    Em pouco mais de 24 horas após o desastre de 8 de outubro, Israel encontrou a chaveque reverteria o curso do conflito na Frente Sul.

    O Cel. Amnon Reshef, então à frente da 14ª Brigada da Divisão de Sharon, após penetraro setor chamado de “Fazenda Chinesa”1, enviou um batalhão de reconhecimento à áreaque demarcava a fronteira entre o Segundo e o Terceiro Exército egípcios.

    O Segundo Exército havia cruzado o Canal, ao norte do Grande Lago Amargo, e o TerceiroExército, ao sul. O Segundo Exército negligentemente descansara seu flanco sul naEstrada Tirtur, e não na extremidade do lago. Isso deixou quase 2 km do Canal de Suez

    desprotegido – a área entre Tirtur e o lago.Ao receber a informação Sharon se deu conta de que o batalhão descobrira uma “fenda”entre o Segundo e o Terceiro Exércitos. A área era suficientemente ampla para permitir

    que sua divisão pudesse avançar até o Canal sem ter que abrir caminho através dacabeça-de-ponte egípcia. A “fenda” chegava até o Forte Matsmed, onde Sharon, quando

    era Comandante Geral do Comando Sul, preparara uma área para uma travessia doCanal. A descoberta iria mudar o curso da guerra.

    Dia 12 de outubro

    Sexta-feira, 12 de outubro foi um dia de decisões vitais em Tel Aviv e no Cairo.

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    Em Tel Aviv, o General Elazar reuniu-se com os oficiais seniores para decidir a próximaetapa da Guerra de Yom Kipur. Depois de oito dias de Guerra, iriam concentrar-se no frontegípcio. A luta no Golã chegara a um impasse, e se era para ocorrer uma virada

    estratégica no curso da Guerra, seria no Sinai.

    Elazar não acreditava que Israel teria como derrotar o Egito, a curto prazo. Seu objetivoera conseguir um cessar-fogo estável que permitisse reconstruir suas forças armadas, masestava convencido de que Sadat não o aceitaria a não ser que fosse sacudido por alguma

    ação militar drástica. Elazar estava inclinado a autorizar uma travessia do Canal, porque“não lhe ocorria outra forma de provocar Sadat”. Mas era uma ação de risco. Entre outros

    motivos, o Egito ainda tinha estacionado duas divisões de blindados do outro lado doCanal...

    O General Bar-Lev, que após o desastre do dia 8 assumira o Comando Sul, tambémacreditava que essa operação desequilibraria os egípcios. Naquela tarde, os GeneraisElazar e Bar-Lev e outros membros do Estado-Maior, além do chefe do Mossad, Zvi Zamir,reuniram-se com Golda Meir e Dayan e os outros ministros do Gabinete. Elazar queria aaprovação política para o cruzamento do Canal de Suez. Durante a reunião, Zamir recebeuinformações de um agente do Mossad no Cairo de que os egípcios se preparavam paraatacar as Passagens de Gidi e Mitla no sábado, 13, ou no domingo, 14.

    Elazar não poderia esperar por melhores notícias – o ataque egípcio poderia mudar ocurso da guerra. Fossem quais fossem os traumas que os Saggers tinham infligido às FDI,estas não tinham perdido a confiança em sua habilidade para lidar com os tanquesinimigos.

    O dia 10 de outubro foi também decisivo para os egípcios. As forças armadas tinhamatingido o objetivo determinado por Sadat – uma posição segura a partir da qual elepoderia obter a retirada de Israel do Sinai através da diplomacia.

    Mas, um apelo de Assad pedindo a Sadat para atacar Israel e assim diminuir a pressãodas FDI sobre Damasco iria mudar os rumos da guerra. O contra-ataque das FDI no Golã

    não conseguira tirar a Síria da guerra, mas, ao forçar Damasco a pedir ajuda ao Egito,acabou dando aos israelenses o que estavam esperando – uma grande batalha de

    tanques no Sinai.

    O Alto Comando egípcio opunha-se fortemente à ideia de suas forças armadas tentarem

    tomar as Passagens de Gidi e Mitla. Todos concordavam que muito provavelmente oataque mudaria o rumo do conflito a favor de Israel. Eles estariam ainda mais preocupadosse soubessem que os israelenses já estavam cientes do ataque e estavam se preparando.

    Mas, Sadat estava decidido. Naquele dia ele rejeitara mais um cessar-fogo, acreditandoque o Egito controlava o campo de batalha e que teria uma vitória memorável sobre Israel.

    Batalha do Sinai

    Era grande a expectativa do Alto Comando israelense, pois acreditavam que uma batalhade tanques poderia reduzir significativamente a força egípcia no Sinai. Se issoacontecesse, a decisão de Israel de cruzar o Canal e levar a guerra para território egípcionão seria apenas uma manobra para convencer Sadat a aceitar o cessar-fogo – poderiaser a chave para vencer o confronto.

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    Na alvorada de domingo, 14 de outubro, os egípcios iniciaram o ataque ao longo daEstrada da Artilharia, mas dessa vez os israelenses os estavam esperando. No norte, aDivisão do General Adan forçou os egípcios a recuarem até suas posições iniciais; no

    centro a do General Sharon infligiu pesadas perdas ao inimigo e no sul a do GeneralMagen contivera o avanço egípcio rumo às Passagens de Gidi e Mitla. Tanques e soldados

    egípcios que saíram do escudo protetor das baterias SAMs foram castigados pela forçaaérea israelense. Na Batalha do Sinai, o Egito perdeu 260 tanques e Israel 20.

    Depois da semana mais difícil até então registrada na história do país, Israel tinha motivospara celebrar.

    Operação “Homens Intrépidos”

    Ganha a Batalha do Sinai, o general Elazar deu início à operação “Homens Intrépidos”. O

    plano era atravessar o Canal de Suez e surpreender os egípcios. A operação era tãoousada quanto arriscada e seu sucesso dependia em grande parte da iniciativa dos

    comandantes.

    Desde 7 de outubro, Sharon pressionava o Alto Comando para obter a permissão de

    cruzar o Canal, e agora sua divisão recebera a missão de liderar a operação. Suahabilidade intuitiva de rapidamente avaliar uma complexa situação militar lhe seria degrande benefício nos dias que se seguiriam. As lideranças militares decidiram que as FDIcruzariam o Canal em Matsmed, um ponto fortificado abandonado, da Linha Bar-Lev, acerca de 800 metros ao sul da Fazenda Chinesa, onde os egípcios estavamentrincheirados. Mais precisamente em um local conhecido como o “Pátio”. Protegido pormuros de areia, o local havia sido preparado por Sharon enquanto era Comandante Geral

    para abrigar os equipamentos pesados e volumosos das pontes, caso Israel decidisseatravessar o Canal. Em sua volta haviam sido abertas estradas para facilitar o acesso aolocal: a Akavish ligava o “Pátio” à base de Tasa, e a Tirtur o ligava a Matzmed.

    Por uma feliz coincidência o Pátio estava localizado na “fenda” que existia entre o Segundoe o Terceiro Exército egípcios. Os israelenses não teriam que lutar para abrir o caminho

    através das cabeças-de-ponte inimigas, porém precisariam criar um corredor seguro quepermitisse o trânsito de tropas e peças para montar as pontes sobre o Canal.

    Caberia à divisão de Sharon tomar o Pátio, abrir as estradas de Akavish e Tirtur; proteger olocal da travessia de uma intervenção egípcia e estabelecer uma cabeça-de-ponte doCanal até Deversoir. Para manter a estrada de Tirtur aberta, os israelenses teriam que

    desalojar os egípcios da Fazenda Chinesa.

    Uma vez que as pontes sobre o Canal estivessem prontas, a divisão do General Adanatravessaria o Canal e, em seguida, a do General Magen.

    A Batalha da Fazenda Chinesa

    Sharon elaborou um plano complexo para suas brigadas abrirem o caminho de modo queo equipamento necessário para a travessia chegasse rapidamente ao Pátio. Na tarde dodia 15, ele enviou a Brigada do Coronel Raviv para atacar os egípcios, enquanto a doCoronel Reshef seguiria pela “fenda”, avançando no coração das linhas egípcias. Suas

    ordens eram capturar o Pátio, abrir a estrada de Akavish e tomar a Fazenda Chinesa.

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    Os israelenses conseguiram avançar 32 km antes de serem detectados pelos egípcios.Depois de alcançar a Estrada Lexicon, a unidade de reconhecimento tomou facilmenteMatzmed, o Pátio e a Estrada de Akavish. Mas, o Coronel Reshef sabia que, para tomar a

    Fazenda Chinesa, sua Brigada teria que enfrentar uma batalha violenta, da qual poucossairiam incólumes.

    A luta pelo controle da Fazenda Chinesa, assim como no cruzamento das Estradas Tirtur eLexicon, foi feroz. Egípcios e israelenses lutaram incessantemente durante dez horas sem

    divisórias que separassem “nós” “deles”. Fora uma noite surreal. Ao amanhecer, haviatanques israelenses e egípcios carbonizados enfileirados e corpos largados na areia.

    Ainda assim, tanto a Fazenda como Tirtur ainda estavam em mãos egípcias.Nos dias seguintes, os israelenses continuaram a lutar. Israel precisava, a qualquer preço,manter abertas as estradas, caso contrário não haveria pontes, e, sem pontes, não haveriatravessia sobre o Canal. Com os homens da Divisão de Sharon exaustos e sem munição,a Divisão do General Adan continuou a luta.

    A Batalha da Fazenda Chinesa, que se estendeu até o dia 17, foi uma das mais brutais daGuerra de Yom Kipur. As duas brigadas israelenses mais envolvidas sofreram mais de50% de baixas. Sharon, que perdeu mais de 300 homens e 70 tanques durante a batalha,escreveu que ao chegar ao local viu “centenas e centenas de veículos queimados,retorcidos… Aqui e ali, tanques egípcios e israelenses tinham destruído uns aos outros apoucos metros de distância… Dentro dos tanques e próximos a eles estavam suasguarnições, todos mortos… Nenhuma fotografia poderia captar o horror da cena”.

    Exaustos pelos violentos combates, os egípcios desocupam a Fazenda Chinesa e aestrada Akavish e os equipamentos das pontes de pontões conseguiram chegar ao Canal.

    Sob intenso ataque aéreo egípcio são montadas as pontes flutuantes.

    Com a abertura da estrada Tirtur, consegue chegar até o Pátio uma ponte rolante pré-

    fabricada. Idealizada para ser usada no caso das FDI precisarem atravessar o Canal,pesando por volta de 400 toneladas e medindo 200 metros, a ponte rolante foi fundamental

    para o sucesso da operação. A ponte chegou ao Pátio no dia 17, mas ficou operacionalnas primeiras horas do dia 19.

    “Acapulco”

    Na noite de 15 para 16 de outubro, enquanto a batalha pela Fazenda Chinesa era travada,

    Sharon ordenou ao Coronel. Dani Matt que atravessasse com seus homens o Canal deSuez. Não queria atrasar a operação e, vendo que as pontes de pontões não chegariam atempo, Sharon mandara trazer botes anfíbios.

    Os relógios marcavam 1h35 quando as primeiras forças de Israel a bordo dos botesanfíbios chegaram ao lado oriental do Canal, no lado da “África”. Na mesma hora, nosquarteis generais de Sharon no Comando Sul e em Tel Aviv, oficiais ansiosos ouviram pelorádio a voz de Matt dizendo: “Acapulco”, o código para “sucesso”.

    Após atravessar, com 27 tanques e sete APCs (veículos blindados para transporte depessoal), os israelenses se movimentaram rapidamente em terra. Às 8h00 da manhã do

    dia 16, a cabeça-de-ponte israelense já atingira 5 km de profundidade. A Brigada do

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    Coronel Erez, composta de 21 tanques, juntou-se à de Matt – o objetivo era destruir asbaterias SAMs. Por alguns dias a forças israelenses não encontraram resistência.

    Com sua divisão, o General Adan, aproximou-se do Canal de Suez à meia-noite de quarta-feira. Antes do amanhecer do dia 18, Adan já tinha duas brigadas de tanque do lado

    egípcio do Canal. O objetivo da Divisão era a Cidade de Suez, a 56 km ao sul, para ondeconvergiam as rotas de suprimento do Terceiro Exército. Mas, um ataque desimpedido jánão seria possível. Para a divisão de Adan avançar além da cabeça-de-ponte israelense

    teria que lutar.

    Depois de ter cruzado o Canal, a Divisão de Sharon dirigiu-se ao sul em paralelo à de

    Adan, para depois atacar ao norte, na direção de Ismailiya.Numa reunião do Alto Comando, na quinta-feira dia 18, o consenso entre os presentes era

    de que a fase da guerra de sobrevivência já terminara para Israel; e que o Egito teria quepagar um preço por ter iniciado a guerra. Na frente síria, isto já tinha sido alcançado aoempurrar os sírios bem além da linha anterior de cessar-fogo. No caso do Egito, um cercoao Terceiro Exército seria o final ideal para a Guerra de Yom Kipur.

    Para tanto, as FDI teriam que deslocar para a África todas as forças de combatedisponíveis. Em 19 de outubro, as divisões de Adan e Magen iniciam seu avanço paraisolar o Terceiro Exército egípcio. Ao avançar, os blindados esmagam as posições egípciase aniquilam as baterias SAM.

    Simultaneamente, brigadas da Divisão de Sharon prosseguem para o norte ao longo damargem ocidental do Canal, em direção a Ismailya, com o objetivo de isolar o SegundoExército e destruir sua retaguarda, artilharia e instalações de SAMs. Mas Sharon foi-se

    deparando com