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ORLANDO RIGHESSO NETO AVALIAÇÃO CLÍNICA PÓS-OPERATÓRIA DE PACIENTES SUBMETIDOS AO TRATAMENTO CIRÚRGICO DE HÉRNIA DE DISCO LOMBAR Tese apresentada ao Curso de Pós- Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do grau de Doutor em Medicina. São Paulo 2010

ORLANDO RIGHESSO NETO · da força, houve persistência do déficit em 5(33%). O’Connell (16) descreveu, em 1950, sua casuística de 500 pacientes submetidos a tratamento cirúrgico

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ORLANDO RIGHESSO NETO

AVALIAÇÃO CLÍNICA PÓS-OPERATÓRIA DE

PACIENTES SUBMETIDOS AO TRATAMENTO CIRÚRGICO

DE HÉRNIA DE DISCO LOMBAR

Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do grau de Doutor em Medicina.

São Paulo

2010

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ORLANDO RIGHESSO NETO

AVALIAÇÃO CLÍNICA PÓS-OPERATÓRIA DE

PACIENTES SUBMETIDOS AO TRATAMENTO CIRÚRGICO

DE HÉRNIA DE DISCO LOMBAR

Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do grau de Doutor em Medicina.

Área de Concentração: Ciências da Saúde

Orientador: Prof. Dr. Osmar Avanzi

São Paulo

2010

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FICHA CATALOGRÁFICA

Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

Righesso Neto, Orlando Avaliação clínica pós-operatória de pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico de hérnia de disco lombar./ Orlando Righesso Neto. São Paulo, 2010.

Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Medicina.

Área de Concentração: Ciências da saúde Orientador: Prof. Dr. Osmar Avanzi 1. Deslocamento do disco invertebral/cirurgia 2. Hérnia 3.

Cuidados pós-operatórios 4. Avaliação BC-FCMSCSP/88-10

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Dedicatória

Aos meus antepassados, bisavós italianos Ângelo e Ângela, avós Orlando e Argemira,

que vieram ao Brasil em busca de dias melhores, plantaram uma semente, que germinou

graças ao seu trabalho incansável.

Aos meus pais, Rubem (in memorian) e Heidi, sem os quais nada disso seria possível. A

educação que me proporcionaram conduziu-me ao púlpito da cátedra acadêmica da

Faculdade de Medicina da São Casa de São Paulo, sem dúvida um grande feito,

considerando que somos apenas a terceira geração de imigrantes italianos agricultores,

humildes, mas com grandes valores éticos, morais, culturais e educacionais, que sempre

consideraram o trabalho e o estudo como alavancas para a realização profissional e

pessoal.

À minha esposa, Maitê, e aos meus filhos, Bruno e Bianca, sem os quais nada disso

teria sentido, pela compreensão das horas de convívio que não tivemos e porque esta

conquista é uma vitória de todos.

Aos meus incentivadores, em especial meu irmão e colega Ronaldo que sempre me

lembrou da felicidade que nosso pai teria com esta conquista, porque o estudo e os

princípios éticos que ele nos transmitiu é nossa maior herança; e a todos aqueles que

contribuíram em algum momento para meu aperfeiçoamento profissional, sem os quais o

caminho teria sido muito mais árduo.

Ao Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Hospital São Lucas da PUC-RS, ao Grupo

de Afecções da Coluna Vertebral do Pavilhão Fernandinho Simonsen da Santa Casa de São

Paulo e ao Serviço de Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa de Porto Alegre, meu

sincero agradecimento por despertarem minha paixão pela coluna vertebral, além do

apoio incondicional no início de minha vida profissional.

Ao epidemiologista Dr. Mário Wagner, pela análise estatística dos dados.

Ao meu colega, parceiro de cirurgia e amigo, Prof. Dr. Asdrúbal Falavigna, pelo

brilhante auxílio cirúrgico, pelo estímulo na coleta de dados clínicos dos pacientes, na

pesquisa e publicação científica.

Ao grande mestre e orientador, Prof. Dr. Osmar Avanzi, sem o qual nada disso se

concretizaria, nem em sua forma nem em sua grandeza, por ter acreditado no potencial

deste tema fascinante que é a hérnia de disco, por sua disponibilidade mesmo ocupando

os mais altos postos da direção administrativa, por ter me mostrado a importância do rigor

científico e “lapidado”, com muita paciência, durante tantos anos do nosso convívio, minha

formação profissional.

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Dedicatória

Aos meus pacientes, pela confiança e contribuição ao estudo científico.

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Agradecimentos

Ao Digníssimo Diretor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São

Paulo, Prof. Dr. Ernani Geraldo Rolim, por todo o suporte acadêmico.

À Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, na pessoa de seu DD.

Provedor, Dr. Kalil Rocha Abdalla, por ter me acolhido e pelo exemplo de assistência

médico-hospitalar.

Ao Prof. Dr. Osmar Avanzi, Presidente da Comissão de Pós-Graduação e Pesquisa e

Diretor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Ciências Médicas

da Santa Casa de São Paulo, por ter acreditado neste projeto e pelo auxílio incansável na

execução da tese.

À Profa. Dra. Yvoty Alves dos Santos Sens, Coordenadora do Programa de Pós-

Graduação em Ciências da Saúde, pela oportunidade de ingressar no Curso de Pós-

Graduação.

Às Secretárias, Sra. Mirtes Dias de Souza e Leandra Cordobilha, pelo auxílio e suporte

técnico.

Aos meus pacientes, por terem mantido em mim tanta confiança, seguindo o

acompanhamento ambulatorial, e por terem contribuído para o enriquecimento científico.

À FUNDAÇÃO CAPES, pelo suporte financeiro.

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Abreviaturas

ABREVIATURAS

OSW = Escala de incapacidade de Oswestry

ROC = Receiver Operator Characteristics Curve

VAS = Escala análogo-visual de dor

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Sumário

1. Introdução....................................................................................................... 1

1.1 Revisão da literatura................................................................................. 4

2. Objetivo........................................................................................................... 11

3. Casuística e Método....................................................................................... 13

3.1. Tamanho da amostra e análise estatística.............................................. 17

4. Resultados....................................................................................................... 19

5. Discussão......................................................................................................... 26

6. Conclusões...................................................................................................... 31

7. Anexos.............................................................................................................. 33

8. Referências Bibliográficas............................................................................. 38

Resumo............................................................................................................ 42

Abstract............................................................................................................. 44

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1. INTRODUÇÃO

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Introdução

2

A ciatalgia causada pela hérnia de disco é uma patologia comum, que

acomete, nos países ocidentais, 5 a 10 de cada 1.000 habitantes anualmente,

podendo causar déficit neurológico nos membros inferiores, sendo tratada

conservadoramente ou com cirurgia(1,2,3,4). Durante as primeiras seis semanas a dor

na perna diminuiu em aproximadamente 70% dos pacientes com vários tipos de

terapêuticas ficando o tratamento cirúrgico para o restante dos pacientes(5,6). A

cirurgia é indicada quando o tratamento conservador não obtém sucesso e, também,

em situações alarmantes e definitivas como dor intolerável, alteração esfincteriana e

déficit motor agudo e progressivo que necessite de intervenção cirúrgica(1).

Distúrbios sensitivos ou motores no membro inferior afetado pela hérnia de

disco lombar são comumente observados, porém as características clínicas pré-

operatórias do déficit sensitivo ou motor em relação ao risco potencial de pouca

melhora pós-operatória não são, em geral, avaliadas adequadamente(7). A perda de

força é considerada um sinal grave nos pacientes portadores de hérnia de disco

lombar, mas não constitui indicação absoluta de cirurgia precoce(8).

As lesões vertebrais que afetam a medula espinhal e as raízes nervosas

produzem geralmente sintomas e sinais nos membros, de acordo com os níveis

neurológicos afetados. Quase sempre é possível fazer seu diagnóstico clínico, visto

que cada nível lesional apresenta as suas características especiais de

desnervação(9).

O denominador comum das lesões tanto da medula espinhal como das raízes

nervosas consiste na distribuição segmentar das alterações da força muscular, da

sensibilidade e dos reflexos dos membros. Para avaliar a integridade dos níveis

neurológicos, é preciso conhecer os dermátomos, os miótomos e os reflexos. As

lesões serão de dermátomos diferentes ou de miótomos diversos, de acordo com

seu nível e localização na medula espinhal ou nas raízes nervosas que dela se

originam. O exato nível neurológico da lesão pode ser determinado a partir do

exame clínico da motricidade, da sensibilidade e dos reflexos(9,10).

No diagnóstico das lesões que causam dor lombar ou lombociatalgia, a

história clínica é extremamente importante, especialmente se houve relação com

trauma ou esforço físico e se ocorreram episódios prévios ou recorrentes. Deve-se

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Introdução

3

considerar o caráter da dor, sua distribuição exata e área de irradiação, presença de

parestesias e outras alterações sensitivas, assim como história de fraqueza ou

atrofia muscular(9,10,11).

O exame neurológico precisa ser realizado cuidadosamente. Alterações da

sensibilidade são importantes e devem ser totalmente avaliadas. É necessário que o

exame de força motora seja completo, testando com cuidado a força muscular

individualmente e observando a presença de atrofia, fasciculações ou espasmos. As

alterações dos reflexos também são critérios diagnósticos fundamentais(10).

A causa mais comum de dor lombar com irradiação para o membro inferior é

a ruptura do disco intervertebral. Pode haver extrusão de parte do anel fibroso ou

ruptura do anel com herniação do núcleo pulposo. Em muitos casos há história de

trauma ou esforço físico, seguido de dor lombar com irradiação para o membro

inferior abaixo do joelho. A irradiação da dor e a localização dos sintomas dependem

do tamanho e da localização da hérnia discal. Em geral a dor é agravada pela tosse,

pelo esforço ou pela inclinação do corpo para frente ou para o lado do membro

inferior afetado. Em associação com a dor, pode haver alteração da sensibilidade e

da força muscular. As alterações da sensibilidade incluem hipo ou hiperestesia.

Ocasionalmente pode haver outras alterações da sensibilidade, inclusive anestesia

em sela no períneo. As alterações da força muscular podem não ser evidentes, pois

muitos músculos são inervados por mais de uma raiz neural e os dois lados devem

ser sempre comparados. Em associação com a perda de força muscular pode haver

atrofia e fasciculações. A alteração de reflexo mais frequente é a do reflexo

aquileano. Alterações esfincterianas são incomuns, assim como o comprometimento

bilateral dos membros inferiores, exceto na presença de hérnia bilateral ou grande

fragmento discal central(10).

O período necessário para a recuperação espontânea da ciatalgia causada

por hérnia de disco não é conhecido. Pacientes com dor intensa receiam

permanecer com incapacidade crônica e sem rápido alívio da dor, e muitos optam

pela cirurgia. Esta incerteza quanto ao período de tempo adequado para

recomendar a cirurgia resulta em grande diferença na frequência e no momento de

sua indicação(2).

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Introdução

4

Em 1934, Mixter, Barr(12), em seu clássico artigo sobre a fisiopatogenia da

hérnia de disco, concluíram que o tratamento da hérnia de disco era cirúrgico, com

resultados muito satisfatórios, “desde que o tempo de compressão não fosse muito

prolongado”. Entretanto, poucos estudos descrevem a incidência de quadro

neurológico no pré-operatório e sua evolução após o tratamento cirúrgico da hérnia

de disco lombar(13).

1.1. Revisão da literatura

Alajouanine, Peiti-Dutaillis(14) foram os primeiros autores a discutir a

persistência ou o desaparecimento dos sinais e sintomas neurológicos após o

tratamento cirúrgico da hérnia de disco lombar e a afirmar que não se deveria

esperar muita recuperação neurológica.

Waris(15), em 1948, relatou, em sua casuística de 137 pacientes, que no pré-

operatório o reflexo aquileano estivera ausente em 56 casos e que o mesmo havia

retornado ao normal somente em 12 pacientes (21%), estivera diminuído em 5(9%),

e em 39(70%) permanecera ausente, um a cinco anos após o procedimento

cirúrgico. Em oito casos (44%) em que o reflexo aquileano estivera apenas

diminuído antes da cirurgia, houve recuperação completa do mesmo. Em relação à

força motora, 2 casos que apresentavam paresia completa do extensor longo do

hálux apresentaram recuperação total e, em 15 casos que apresentavam diminuição

da força, houve persistência do déficit em 5(33%).

O’Connell(16) descreveu, em 1950, sua casuística de 500 pacientes

submetidos a tratamento cirúrgico de hérnia de disco lombar e observou que,

embora usualmente não significativa, era frequente a persistência de algum distúrbio

neurológico no pós-operatório. Nos 378 casos reexaminados, a redução ou a

ausência dos reflexos tendinosos, especialmente do aquileano, foi a alteração mais

frequente, observada em 60% dos casos. Uma área de sensibilidade diminuída

persistente ocorreu em 30% dos pacientes e a persistência de distúrbio da força

motora ocorreu em 15% dos casos.

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Introdução

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Bertil(17), em 1962, também descreveu detalhadamente seus achados em

relação à função neurológica em pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico de

hérnia de disco lombar, no pré-operatório e um ano após o procedimento. Em 40

pacientes cujo reflexo aquileano esteve ausente no pré-operatório, o mesmo

permaneceu ausente em 34 (85%), retornou, porém diminuído, em 5(12,5%) e se

normalizou em somente 1(2,5%) paciente. Em 69 pacientes cujo mesmo reflexo

esteve diminuído antes da cirurgia, em 40(58%) permaneceu diminuído. Em relação

ao reflexo patelar, nos 4 pacientes em que o mesmo esteve ausente antes da

cirurgia, não houve alteração do mesmo e, em 29 pacientes cujo reflexo esteve

diminuído, houve retorno à normalidade em somente um, enquanto nos outros 28 o

mesmo permaneceu inalterado. Em relação à força motora, dos 110 pacientes que

apresentaram perda de força do extensor longo do hálux, houve recuperação total

em 84(76%) e, em 26(24%), não houve alteração. A persistência do déficit sensitivo

também foi observada em 67% dos pacientes. Desta forma o autor concluiu que os

sinais neurológicos em um grande número de pacientes permanecem inalterados

até, pelo menos, um ano após a remoção da compressão neural .

Weber(18), em 1983, publicou um estudo prospectivo randomizado,

comparando o tratamento não cirúrgico ao cirúrgico de hérnia de disco lombar, em

que 280 pacientes foram divididos em três grupos, sendo que o grupo I, composto

de 126 pacientes com indicação cirúrgica incerta foi o grupo randomizado. O

tratamento conservador foi aplicado em 66 pacientes e consistiu em repouso no

leito, fisioterapia e medicação, e 60 pacientes foram tratados cirurgicamente com a

remoção da hérnia. Os pacientes foram reavaliados após 1, 4 e 10 anos, incluindo o

exame neurológico completo. Do grupo originalmente randomizado para o

tratamento não cirúrgico, 17 pacientes (26%) foram submetidos ao tratamento

cirúrgico em virtude de persistência da dor ou piora da mesma durante o primeiro

ano. A paresia foi observada em 64 pacientes (51%), dos quais 32 foram operados e

31 receberam tratamento conservador. Após um ano, a recuperação da força motora

não estava relacionada ao tipo de terapêutica. A melhora da força ocorreu também

nos três anos seguintes, persistindo sua diminuição em 20 pacientes (31%). No final

do período, somente 5 pacientes (8%) apresentavam fraqueza muscular, igualmente

distribuída nos dois grupos. A diminuição da sensibilidade também foi observada nos

dois grupos em mais de 35% dos pacientes, dez anos após a hospitalização.

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Introdução

6

Segundo Eysel et al(8), em 1994, dos 450 pacientes submetidos a tratamento

cirúrgico, de 1986 a 1991, 240 apresentavam sintomas radiculares com perda de

força; eles foram examinados antes da cirurgia, imediatamente após e com um ano

de evolução. Observou-se que a graduação alta de paresia era um bom critério

prognóstico para avaliar a evolução. Nos casos de paresia grau 4, houve

recuperação total em 90% dos pacientes após um ano. Nos casos de paresia grau 2,

o índice de recuperação foi de 39%. No caso de plegia completa, grau zero,

associada com anestesia, não houve recuperação neurológica. O período de tempo

decorrido até o surgimento da paresia, o peso do paciente, a raiz comprometida e

outros fatores não mostraram influência significativa na recuperação neurológica. Os

autores concluíram que, como critério de indicação cirúrgica imediata ou não, deve-

se atribuir menor importância ao tempo de duração da paresia do que à sua

progressão.

Vroomen et al(11) realizaram revisão sistemática da literatura de 1965 a 1994,

com o objetivo de avaliar o valor da história clínica e do exame físico no diagnóstico

da ciatalgia secundária à hérnia de disco. Foram selecionados 37 estudos que

satisfizeram os critérios de seleção, dos quais somente oito comparavam os testes

clínicos com o nível da patologia discal e 12 comparavam os testes clínicos com o

diagnóstico de compressão radicular ou hérnia de disco. Segundo os autores, pouca

atenção tem sido dada ao valor da história clínica, a distribuição da dor parece ser o

único sintoma sensitivo e ainda existe, na literatura, desacordo sobre a

especificidade dos sinais neurológicos.

Postacchini et al(13) estudaram prospectivamente 116 pacientes portadores de

hérnia de disco lombar com consequente déficit motor, submetidos ao tratamento

cirúrgico pela técnica de microdiscectomia e acompanhados no pós-operatório, em

média, por 6,4 anos (3 a 10 anos). A perda de força também foi graduada de zero

(paralisia) a cinco (força normal), nenhum paciente apresentava paralisia completa

ou síndrome de cauda equina e em nenhum paciente houve piora do déficit motor

após a cirurgia. Antes da cirurgia, a perda de força era pequena (grau 4) em 67%

dos pacientes; severa (grau 3) em 21%; e muito severa (graus 2 ou 1) em 12% dos

pacientes. O músculo que mais frequentemente apresentou paresia foi o extensor

longo do hálux, seguido pelo músculo tibial anterior, tríceps sural, extensor comum

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Introdução

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dos dedos, fibulares, quadríceps femural, glúteo máximo e flexores do quadril. Ao

final do estudo, 76% dos pacientes apresentaram recuperação completa da força

muscular, mas 16% dos pacientes que tiveram perda de força pequena (grau 4) e

39% que apresentavam perda de força severa (grau 3) ou muito severa (graus 2 ou

1) pré-operatória a mantiveram. No grupo de pacientes com paresia pequena (grau

4) pré-operatória, o tempo médio de duração do déficit de força foi significativamente

menor nos que recuperaram completamente a força (84 dias) do que naqueles que

permaneceram com uma perda residual (120 dias). Da mesma forma, no grupo com

perda de força severa (grau 3), houve diferença significativa no tempo de duração do

déficit pré-operatório entre os pacientes que tiveram recuperação completa (35 dias,

7 a 90 dias) e aqueles com déficit residual (69 dias, 8 a 730 dias). Uma relação

inversa foi encontrada entre a intensidade do déficit muscular pré-operatório e a

capacidade de recuperar completamente a função motora. Nenhuma diferença

significativa foi encontrada em relação à idade dos pacientes entre aqueles que

tiveram recuperação completa (48 anos) e aqueles com recuperação parcial (51

anos) ou entre os sexos, consumo de tabaco e álcool ou com comorbidades

associadas. Também não foi encontrada diferença significativa em relação à

capacidade de recuperação ou não do déficit motor em relação à presença pré-

operatória de testes de tensão radicular positivo ou em relação ao tamanho do canal

espinhal. O escore médio do questionário de incapacidade de Oswestry foi

ligeiramente maior (15,3%) no grupo de pacientes com déficit motor pequeno

persistente do que naqueles que tiveram recuperação completa (7,8%), mas sem

diferença significativa. Dos pacientes que apresentaram recuperação completa da

força motora, 88% retornaram ao trabalho, esporte e atividades de lazer anteriores à

cirurgia, comparados com 78% que tiveram recuperação parcial, novamente sem

diferença significativa. Os autores concluíram que, em pacientes portadores de

hérnia de disco lombar, com paresia leve ou severa dos músculos inervados pelas

raízes de L2 a L5, a recuperação completa ou quase completa pode ocorrer após a

microdiscectomia e que a capacidade de recuperação aumenta quanto menor e

menos prolongado (até dois meses) seja o déficit antes da cirurgia. Entretanto, nos

pacientes com déficit muito severo das raízes L5 ou S1, a cirurgia pode proporcionar

algum grau de recuperação da força motora ou não apresentar recuperação,

persistindo grande incapacidade funcional.

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Introdução

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Aono et al(19), em 2007, realizaram um estudo retrospectivo de 46 pacientes

submetidos a tratamento cirúrgico de doenças degenerativas da coluna lombar, que

apresentavam pé caído. Após um acompanhamento médio de 3,7 anos (2 a 9 anos),

houve recuperação motora em 61% dos casos, e a força motora pré-operatória grau

2-3 e o menor tempo de duração da paresia antes da realização do tratamento

cirúrgico foram os fatores que mais afetaram o resultado cirúrgico.

Iizuka et al(20) também publicaram um estudo sobre recuperação motora em

pacientes portadores com pé caído secundário à hérnia de disco lombar. Em 12

pacientes (75%), o grau de força do músculo tibial anterior se recuperou para 4 ou 5

(normal) e em 4 (25%) pacientes a recuperação foi ≤ 3.

A compressão radicular prolongada é a causa provável da lesão neural

persistente, como foi demonstrado em modelos experimentais(21). Profundas

alterações elétricas são observadas durante o primeiro mês; as alterações

histológicas incluem uma degeneração progressiva característica. No primeiro mês

observa-se um espessamento da dura-máter e aracnoide, secundário ao edema

intrarradicular causado pela alteração na barreira hematoneural, seguido aos três

meses por alterações nas fibras mielínicas e, finalmente, aos seis meses por fibrose

endoneural e degeneração Walleriana(22).

Kobayashi et al(21) realizaram um estudo experimental in vivo em cães,

produzindo uma lesão neural compressiva e observaram que a compressão dos

ramos periféricos do neurônio motor da raiz ocasiona a diminuição do fluxo axonal e

cromatólise, que é uma mudança reativa do neurônio à lesão axonal mediada por

sinais retrógrados do sítio da lesão, nos neurônios do corno anterior da medula, de

cujos ramos periféricos se originam. Se o distúrbio do fluxo axonal causado pela

compressão e resultante cromatólise central for suave, o neurônio poderá se

recuperar completamente após alívio da compressão, mas, quando a mesma for

mantida sobre a raiz neural, poderá criar dano irreversível aos neurônios do corno

anterior, assim como apoptose, ou seja, morte celular. A contribuição importante

deste estudo foi a descoberta de que a compressão induzida da raiz neural causa

degeneração retrógrada do neurônio motor no corno anterior da medula .

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Introdução

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Clinicamente, a compressão da raiz nervosa é capaz de levar à diminuição da

força muscular, cuja intensidade é avaliada por uma escala de zero (paralisia) a

cinco (força normal)(9,13,23). Para avaliar a força de determinado músculo, é

importante lembrar que o músculo com força grau 3 movimenta a articulação em

toda a amplitude, contra a ação da gravidade, enquanto a expressão dos graus 4 e 5

é obtida pelo exame da força muscular contra resistência; abaixo do grau 3 (grau 2,1

e zero), o fator gravidade é eliminado. O exame da força muscular deve ser repetido

em intervalos regulares, a fim de verificar se houve modificação do nível da lesão ou

se as paralisias/paresias aumentaram ou regrediram(9,10).

Em relação ao exame motor nos membros inferiores, o músculo iliopsoas,

principal flexor da coxa, recebe ramos procedentes de T12, L1, L2 e L3, e o músculo

quadríceps, inervado pelo nervo femural (L2, L3, L4), é responsável pela extensão

do joelho. O músculo tibial anterior é inervado pela raiz de L4, sendo responsável

pela flexão dorsal e supinação do pé, enquanto o músculo extensor longo do hálux

recebe inervação de L5 e é responsável por sua extensão. A raiz de S1 inerva os

músculos fibulares, responsáveis pela eversão do pé, e o músculo tríceps sural, que

realiza a flexão plantar(9,10).

A pesquisa da sensibilidade dolorosa ocorre a partir de delicados movimentos

feitos por instrumento pontiagudo, aplicados sucessivamente, não em sequência

muito rápida, nos diversos dermátomos(9,10). Os resultados do exame da

sensibilidade dependem muito da resposta subjetiva do paciente, exigindo perfeita

colaboração de sua parte e devem ser registrados conforme a alteração em cada

dermátomo, como normais, hiperestésicos (aumentados), hipoestésicos (diminuídos)

ou anestésicos (abolição da sensibilidade)(9,10). No exame da sensibilidade dos

membros inferiores, os nervos provenientes de L1, L2 e L3 são responsáveis pela

sensibilidade da face anterior da coxa; o dermátomo de L1 localiza-se em uma faixa

oblíqua na região ântero-superior da coxa, imediatamente abaixo do ligamento

inguinal; o de L2 localiza-se na face anterior do terço médio da coxa, enquanto o de

L3 forma uma faixa oblíqua na face anterior da coxa, imediatamente acima da

patela. A face interna da perna é inervada pela raiz de L4; a face lateral da perna e o

dorso do pé, pela raiz de L5; e a borda externa do pé, pela raiz de S1(9,10).

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Introdução

10

Na pesquisa dos reflexos tendinosos, os mesmos devem ser descritos como

normais, aumentados ou diminuídos; para tanto, torna-se necessário compará-los

com o lado contralateral(9). A comparação entre os dois lados possibilita a

identificação direta e imediata de qualquer modificação dos reflexos e é

indispensável para o diagnóstico correto, visto que o grau de atividade reflexa varia

de um indivíduo para outro(9,10). O reflexo patelar, do qual participam os nervos

oriundos das raízes espinhais L2, L3 e L4, para fins clínicos é considerado um

reflexo do segmento de L4, enquanto o reflexo aquileano é considerado um reflexo

do segmento de S1(9,10).

Para avaliar o grau de incapacidade, vários estudos internacionais utilizam o

questionário de incapacidade de Oswestry, que é um método efetivo para mensurar

incapacidade em pacientes com dor lombar, com alto grau de severidade e de

diferentes causas(13,24,25).

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11

2. OBJETIVO

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12

Objetivo

O objetivo deste estudo prospectivo é avaliar a evolução neurológica de

pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico da hérnia de disco lombar,

determinando o percentual de persistência de déficit neurológico e se esta está

relacionada ao resultado clínico.

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13

3. CASUÍSTICA E MÉTODO

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14

Casuística e Método

Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de

Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, sob número 337/08, e pela

Comissão de Ética do Hospital Tacchini de Bento Gonçalves/RS (Anexo 1). Todos

os pacientes foram tratados cirurgicamente no Hospital Tacchini de Bento

Gonçalves, Rio Grande do Sul e acompanhados ambulatorialmente no consultório

do pesquisador.

Este estudo descreve a intervenção cirúrgica e seus resultados em uma

coorte de 150 pacientes. É um estudo de intervenção intragrupo (antes e depois do

tratamento cirúrgico).

De agosto de 2006 a agosto de 2008, foram tratados 150 pacientes

portadores de lombociatalgia secundária à hérnia de disco lombar, investigados com

radiografia e ressonância magnética da coluna lombo-sacra, provenientes do

consultório do pesquisador. Em todos os pacientes houve falha no tratamento não

cirúrgico, o qual consistiu no uso de medicação analgésica (paracetamol, codeína

e/ou tramadol), anti-inflamatória (diclofenaco ou inibidores da COX-2) e no

tratamento fisioterápico analgésico e com exercícios de alongamento, quando

possível. Foram excluídos pacientes portadores de doença degenerativa do disco

intervertebral avançada, pacientes com cirurgia lombar prévia; portadores de

claudicação neurogênica ou estenose do canal vertebral; portadores de

espondilolistese e os que estavam em seguro-saúde ou auxílio-doença. Todos os

pacientes, com exceção de um, foram acompanhados no pós-operatório por 24

meses(25).

O exame neurológico foi realizado em todos os pacientes pelo pesquisador,

primeiramente pela avaliação da força muscular, seguindo-se a de sensibilidade e

de reflexos, com o paciente sentado na mesa de exame com os membros pendentes

e o examinador posicionado ao lado direito do paciente.

O exame da força muscular foi realizado em direção cranial em todo o

membro inferior. Para testar a força dos músculos fibulares, o examinador,

mantendo sua mão esquerda no nível do tornozelo para evitar a rotação externa do

membro inferior, solicitava ao paciente que realizasse a flexão dorsal e eversão do

pé, contra a resistência da mão do examinador. O músculo extensor comum dos

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15

Casuística e Método

dedos foi testado pelo examinador, mantendo seus dedos indicador e médio no nível

da articulação interfalangeana proximal do pé, solicitando que o paciente realizasse

a flexão dorsal dos dedos. Para testar o músculo tríceps sural, o examinador,

mantendo sua mão direita na região plantar do pé, solicitava ao paciente para

realizar a flexão plantar do pé, mantendo o joelho estendido. Para avaliar o músculo

extensor longo do hálux, o examinador, mantendo sua mão esquerda sobre o dorso

do pé para evitar a flexão dorsal do mesmo, solicitava ao paciente a extensão do

hálux, mantendo o dedo indicador e médio sobre a falange distal do hálux,

bilateralmente. Para avaliar o músculo tibial anterior, o examinador, com a mão

esquerda no nível do terço médio da perna para evitar a extensão do joelho e com a

mão direita sobre o dorso do pé, solicitava ao paciente a flexão dorsal do mesmo. O

músculo quadríceps foi avaliado, mantendo a mão esquerda do examinador no nível

do terço médio da coxa do paciente, solicitando-lhe a extensão do joelho contra a

resistência da mão direita do examinador, mantida no nível do terço médio da perna.

Os músculos flexores do quadril foram avaliados com a mão direita do examinador

no nível do terço médio da coxa do paciente e solicitando ao mesmo para realizar a

flexão do quadril.

A sensibilidade foi examinada utilizando-se objeto pontiagudo (alfinete), em

direção à região proximal do membro inferior, em seus respectivos dermátomos.

Os reflexos foram avaliados utilizando martelo neurológico, testando

inicialmente o reflexo patelar e, em seguida, o reflexo aquileano, bilateralmente.

Todos os pacientes foram submetidos ao tratamento cirúrgico por meio da

microdiscectomia lombar, utilizando-se magnificação com lupa cirúrgica 2,5 x de

aumento e luz frontal, com internação hospitalar, antibioticoterapia profilática, em

decúbito ventral e sob anestesia geral. Após a realização de exame radiográfico com

marcador para identificar o nível vertebral, realizou-se uma incisão cutânea mediana

lombar de 2 cm a 3 centímetros. Com o eletrocautério fez-se a abertura de planos

até a lâmina óssea, colocando o afastador muscular para manutenção do

afastamento da musculatura paravertebral. Utilizando cureta angulada fez-se a

abertura do ligamento amarelo e, em seguida, com pinça Kerrinson, a

hemilaminectomia para exposição dos elementos neurais. Com afastador de raiz

realizou-se o afastamento medial da mesma e da cauda equina, com visualização do

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16

Casuística e Método

disco intervertebral e coagulação dos vasos epidurais com bipolar, quando

necessário. Após novo controle radiológico para confirmação do nível vertebral, com

bisturi de cabo longo, realizou-se a abertura do ligamento longitudinal posterior e do

anel fibroso para permitir a remoção do núcleo pulposo herniado e fragmentos

discais livres com pinça-de-disco tipo Love, quando presentes. Realizou-se a

inspeção do canal e forâmen intervertebral com gancho tipo Rhoton de 90º para

afastar a presença de fragmento discal sequestrado. A sutura da fáscia lombar foi

realizada com Vicryl® 0, do plano subcutâneo com Vicryl® 00 e da pele com

Monocryl® 000. Permitiu-se que o paciente saísse do leito, se necessário, no

mesmo dia da cirurgia, e a alta hospitalar foi condicionada à melhora da dor e à

capacidade de deambulação. Não foi utilizado nenhum suporte lombar no pós-

operatório e os pacientes foram reavaliados pelo próprio pesquisador quanto à dor e

à incapacidade, devendo repetir o exame neurológico depois de 1 semana, após 1,

3, 6,12 meses e ao completarem 24 meses de pós-operatório.

Utilizamos protocolo próprio para registro dos casos, que incluiu dados de

identificação e anamnese, do exame neurológico, do trans e pós-operatório, da

internação hospitalar e do acompanhamento ambulatorial (Anexo 2). Para avaliar o

estado clínico, tanto no pré quanto no pós-operatório, foi realizado exame

neurológico. Em relação à manobra de Lasègue, considerou-se zero como presente

e dois, ausente. Na avaliação sensitiva nos dermátomos correspondentes às raízes

de L1 a S1, considerou-se a graduação de zero a dois, correspondendo zero à

sensibilidade normal, um à sensibilidade diminuída e dois à sensibilidade ausente.

Na avaliação da força motora, considerou-se a graduação de zero a cinco,

correspondendo zero à paralisia completa, um à contração muscular visível, dois ao

movimento ativo sem gravidade, três ao movimento ativo contra a gravidade, quatro

ao movimento ativo contra alguma resistência e cinco ao movimento normal(23).

Considerou-se a raiz L2 como correspondente aos flexores do quadril, a raiz L3 aos

extensores do joelho, a raiz L4 aos dorsiflexores do pé, a raiz de L5 ao extensor do

hálux e a raiz S1 correspondente aos flexores plantares e eversores do pé. Também

foi incluída a avaliação dos reflexos patelar e aquileano, respectivamente das raízes

L4 e S1, considerou-se como normal, diminuído ou ausente, com graduação de

zero, um e dois, respectivamente. Todos esses achados foram registrados no pré-

operatório, após 1, 3, 6, 12 meses e ao término de 24 meses.

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17

Casuística e Método

Nos dados referentes ao transoperatório, registrou-se a data da cirurgia, o

nível vertebral acometido, o lado da compressão da raiz, o tempo necessário para o

procedimento, considerado desde o momento da realização da incisão cutânea até o

fechamento da mesma, o volume do sangramento e as complicações

transoperatórias.

Quanto ao pós-operatório, registramos o tempo de internação hospitalar,

considerando o intervalo entre a realização da cirurgia e a alta hospitalar; o uso ou

não de medicação analgésica potente; a intensidade da dor no local da incisão no

pós-operatório imediato, antes da alta hospitalar, quantificada também pela escala

análogo-visual de dor; as complicações pós-operatórias; o tamanho da incisão em

centímetros e o tempo de retorno ao trabalho.

Durante o acompanhamento ambulatorial, reavaliamos a dor e a

incapacidade funcional por meio da aplicação da escala análogo-visual de dor

(VAS), de zero a dez, em que zero significa nenhuma dor e dez significa a pior dor

possível, e do questionário de Oswestry (Anexo 3), que inclui dez itens com seis

opções cada um, de zero a cinco, em que o primeiro item corresponde à

intensidade da dor e os outros nove se referem ao efeito de incapacidade da dor

sobre as atividades diárias, sendo expresso em percentual, variando de zero (sem

incapacidade) a 100 (incapacidade máxima), assim como o quadro clínico

neurológico, ou seja, repetiu-se o exame físico do grau de força muscular, da

sensibilidade e da presença de reflexos(26,27,28).

3.1. Tamanho da amostra e análise estatística

Os dados quantitativos foram descritos por média e desvio-padrão. Na

presença de assimetria utilizamos a mediana, amplitude interquartil (percentil 25 a

percentil 75) e os valores mínimo e máximo. Para dados categóricos utilizamos

contagens e percentuais(29).

Para comparação entre grupos (com e sem alterações neurológicas)

utilizando variáveis de escore usamos o procedimento não-paramétrico U de Mann-

Whitney. Para a apresentação dos valores de dor (escala VAS) e de incapacidade

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18

Casuística e Método

funcional (Oswestry) ao longo do seguimento entre grupos (com e sem alterações

neurológicas), utilizamos o gráfico de boxplot. Para avaliação da capacidade

discriminatória das escalas VAS e Oswestry, na identificação de alterações

neurológicas, utilizamos o cálculo da área da curva ROC (Receiver Operator

Characteristics Curve). Na área da curva ROC, valores acima de 0,80 ou 0,90

representam níveis apropriados de discriminação para finalidades clínicas e o valor

de 0,50 representa o desempenho semelhante a um sorteio aleatório. O nível de

significância adotado foi de α=0,05(29). Os dados foram analisados pelos programas

SPSS, versão 17.0, e SigmaPlot, versão 11.0.

Foi estimado que um tamanho de amostra de 150 indivíduos apresentaria

poder estatístico >90% em nível de significância α=0,05 para detectar reduções de,

pelo menos, 20%, partindo de uma proporção de 70% de alterações neurológicas,

motoras, sensitivas e reflexas no pré-operatório.

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19

4. RESULTADOS

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20

Resultados

O grupo de estudo consistiu de 150 pacientes, submetidos ao tratamento

cirúrgico de hérnia de disco lombar e 149 concluíram 24 meses de

acompanhamento pós-operatório. Uma paciente faleceu três meses após a cirurgia

de hérnia de disco por complicações pós-operatórias de cirurgia abdominal.

Em relação aos dados epidemiológicos, a idade média dos pacientes foi de

47,6 anos; houve predomínio do sexo masculino (53,3%); o lado esquerdo foi o mais

comumente acometido (58%); 50,7% das hérnias de disco localizavam-se em L4-L5

e 42% em L5-S1; o teste de Lasègue foi positivo em 57,3% dos pacientes e o tempo

médio de duração dos sintomas pré-operatórios foi de dois meses (Tab. 1).

Tabela 1– Descrição das características basais dos pacientes.

Característica n = 150

Idade, anos

Média (DP) Mínimo a máximo

47,6 (12,9) 21 a 77

Sexo, nº (%)

Masculino 80 (53,3)

Feminino 70 (46,7)

Lado acometido

Direito 63 (42,0)

Esquerdo 87 (58,0)

Nível vertebral

L1-L2 -

L2-L3 2 (1,3)

L3-L4 9 (6,0)

L4-L5 76 (50,7)

L5-S1 63 (42,0)

Lasègue presente, nº (%) 86 (57,3) Tempo de sintomas, meses

Mediana (P25 a P75) Mínimo a máximo

2 (1 a 3) 0,23 a 7

Em relação à persistência de alteração neurológica, 25% dos pacientes que

apresentavam déficit de força muscular no pré-operatório persistiram no pós-

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21

Resultados

operatório, 40% dos pacientes que apresentavam déficit sensitivo no pré-operatório

também persistiram com déficit e 48% dos pacientes persistiram com alteração

reflexa (Tab. 2).

A mediana da escala análogo-visual de dor no pré-operatório era de nove e

diminuiu para zero no pós-operatório, e o questionário de incapacidade de Oswestry

inicial apresentou mediana de 48 e diminuiu para 10 no pós-operatório (Tab. 2).

Tabela 2– Descrição dos dados de alteração motora, sensitiva e reflexa e escores de dor (VAS) e de incapacidade funcional (Oswestry) durante o período de 24 meses.

Seguimento (meses) Característica

Pré-op n = 150 1

n = 150 3

n = 150 6

n = 149 12

n = 149 24

n = 149

Alteração

Motora 135 (90%) 94 (63%) 70 (47%) 50 (34%) 36 (24%) 34 (23%)

Sensitiva 127 (85%) 91 (61%) 81 (54%) 67 (45%) 56 (38%) 51 (34%)

Reflexa 105 (70%) 76 (51%) 68 (45%) 62 (42%) 54 (36%) 50 (34%)

VAS 9 (8 – 10)

1 (0 – 2)

0 (0 – 1)

0 (0 – 1)

0 (0 – 1)

0 (0 – 1)

Oswestry 48 (38 – 59)

12 (10 – 20)

10 (8 – 14)

10 (8 – 12)

10 (8 – 12)

10 (8 – 12)

Os dados são descritos com contagens (percentuais) para as alterações motora, sensitiva e reflexa, e por mediana e amplitude interquartil (P25 – P75) para VAS (escala análogo-visual de dor) e escore de Oswestry.

Em relação à intensidade de dor (VAS-escala análogo-visual) em pacientes

com e sem alteração motora, sensitiva e reflexa durante o período de 24 meses,

observou-se que o P é significativo a partir do terceiro mês na análise VAS X

MOTOR e, a partir do primeiro mês, na análise VAS X SENSITIVO, e não é

significativo na análise VAS X REFLEXO (Tab. 3).

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Resultados

Tabela 3– Descrição dos dados de dor (VAS – escala análogo-visual) em pacientes com e sem alteração motora, sensitiva e reflexa durante o período de 24 meses.

Seguimento (meses) Alteração Pré-op

1 3 6 12 24 Motora n=15 n=56 n=80 n=99 n=113 n=115

Ausente 9,0 (8,0 – 10,0)

0,3 (0,0 – 1,9)

0,0 (0,0 – 1,0)

0,0 (0,0 – 1,0)

0,0 (0,0 – 0,3)

0,0 (0,0 – 0,0)

n=135 n=94 n=70 n=50 n=36 n=34

Presente 8,5 (7,9 – 10,0)

1,0 (0,0 – 2,0)

1,0 (0,0 – 1,8)

1,0 (0,0 – 1,7)

1,0 (0,0 – 1,9)

1,0 (0,0 – 2,0)

P=0.834 P=0,113 P=0,004** P=0,006** P<0,001** P<0,001**

Sensitiva n=23 n=59 n=69 n=82 n=93 n=98

Ausente 9,0 (8,0 – 10,0)

0,5 (0,0 – 1,5)

0,0 (0,0 – 1,0)

0,0 (0,0 – 1,0)

0,0 (0,0 – 0,3)

0,0 (0,0 – 0,0)

n=127 n=91 n=81 n=67 n=56 n=51

Presente 8,5 (7,9 – 10,0)

1,0 (0,0 – 2,0)

0,0 (0,0 – 1,8)

1,0 (0,0 – 2,0)

0,0 (0,0 – 1,9)

0,0 (0,0 – 1,0)

P=0,742 P=0,043* P=0,018* P=0,001** P=0,001** P=0,002**

Reflexa n=45 n=74 n=82 n=87 n=95 n=99

Ausente 8,1 (7,5 – 10,0)

0,9 (0,0 – 2,0)

0,0 (0,0 – 1,8)

0,0 (0,0 – 1,0)

0,0 (0,0 – 1,0)

0,0 (0,0 – 1,0)

n=105 n=76 n=68 n=62 n=54 n=50

Presente 8,8 (8,0 – 10,0)

1,3 (0,0 – 2,0)

0,0 (0,0 – 1,8)

0,0 (0,0 – 1,7)

0,0 (0,0 – 1,1)

0,0 (0,0 – 1,0)

P=0,620 P=0,229 P=0,653 P=0,319 P=0,076 P=0,258

Os dados são descritos por mediana e amplitude interquartil (P25–P75). *P<0,05; **P<0,01

Em relação à incapacidade funcional (Oswestry) em pacientes com e sem

alteração motora, sensitiva e reflexa durante o período de 24 meses, observou-se

que o P é significativo no pré-operatório e aos 12 e 24 meses na análise

OSWESTRY X MOTOR, não sendo significativo na análise OSWESTRY X

SENSITIVO e OSWESTRY X REFLEXO (Tab. 4).

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Resultados

Tabela 4– Descrição dos dados de incapacidade funcional (Oswestry) em pacientes com e sem alteração motora, sensitiva e reflexa durante o período de 24 meses.

Seguimento (meses) Alteração Pré-op

1 3 6 12 24 Motora n=15 n=56 n=80 n=99 n=113 n=115

Ausente 42 (28 – 48)

13 (10 – 20)

10 (8 – 12)

10 (8 – 12)

10 (8 – 12)

10 (8 – 10)

n=135 n=94 n=70 n=50 n=36 n=34

Presente 48 (40 – 60)

12 (10 – 20)

10 (8 – 14)

10 (8 – 16)

10 (8 – 14)

10 (8 – 12)

P=0,020* P=0,975 P=0,164 P=0,094 P=0,011* P=0,009**

Sensitiva n=23 n=59 n=69 n=82 n=93 n=98

Ausente 46. (40 – 58)

12 (10 – 18)

10 (8 – 12)

10 (8 – 12)

10 (8 – 11)

10 (8 – 10)

n=127 n=91 n=81 n=67 n=56 n=51

Presente 48 (38 – 60)

14 (8 – 20)

10 (8 – 16)

12 (8 – 16)

10 (8 – 12)

10 (8 – 12)

P=0,904 P=0,538 P=0,633 P=0,083 P=0,062 P=0,313

Reflexa n=45 n=74 n=82 n=87 n=95 n=99

Ausente 46 (36 – 59)

14 (10 – 20)

10 (8 – 14)

10 (8 – 12)

10 (8 – 12)

10 (8 – 12)

n=105 n=76 n=68 n=62 n=54 n=50

Presente 48 (40 – 59)

12 (8 – 18)

10 (8 – 14)

10 (8 – 13)

10 (8 – 12)

10 (8 – 12)

P=0,429 P=0,328 P=0,913 P=0,841 P=0,784 P=0,720

Os dados são descritos por mediana e amplitude interquartil (P25 – P75) nos valores percentuais da escala de Oswestry. *P<0,05; **P<0,01

Ocorreu uma queda abrupta no primeiro mês e progressivamente diminuiu o

VAS ao longo do período de observação nos dois grupos, com e sem alteração

neurológica, assim como em relação ao escore de Oswestry (Fig. 1).

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24

Resultados

Figura 1– Gráficos de boxplot representando a evolução da dor (VAS – escala análogo-visual) e do escore de Oswestry em pacientes com e sem alterações motoras, sensitivas e reflexas.

Ao calcularmos a capacidade discriminatória do VAS entre alteração

neurológica presente e alteração neurológica ausente, obtivemos as seguintes áreas

de curva ROC (Fig. 2): 0,73 (alterações motoras), 0,62 (alterações sensitivas) e 0,55

(alterações reflexas).

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25

Resultados

Ao calcularmos a capacidade discriminatória do escore de Oswestry entre

alteração neurológica presente e alteração neurológica ausente, obtivemos as

seguintes áreas de curva ROC (Fig. 2): 0,64 (alterações motoras), 0,55 (alterações

sensitivas) e 0,52 (alterações reflexas).

Figura 2 – Curva ROC.

Apesar de termos observado diferenças estatisticamente significativas entre

os grupos com e sem alterações neurológicas em alguns momentos da distribuição

destes escores, não foi observado um poder discriminatório apropriado tanto para

VAS quanto para OSW na detecção de alterações motoras, sensitivas ou reflexas.

Em relação à ocorrência de complicações, três pacientes (2%) apresentaram

infecção superficial da ferida operatória, com boa evolução com tratamento local e

antibioticoterapia, e três pacientes (2%) apresentaram recidiva de pequena hérnia de

disco, com boa evolução com tratamento clínico.

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5. DISCUSSÃO

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Discussão

Muitos artigos citam a melhora clínica pós-operatória nos pacientes

submetidos ao tratamento cirúrgico de hérnia de disco lombar em relação,

principalmente, à intensidade da dor, sem avaliar o grau de disfunção neurológica

persistente, o que é uma queixa frequente dos pacientes(24,30). Observamos na

prática clínica que, quando aplicamos no pós-operatório escalas de dor e

incapacidade utilizadas e aceitas atualmente como métodos adequados de

investigação clínica, os resultados são muito bons, entretanto muitos pacientes

apresentam queixas de alteração da sensibilidade ou perda de força no membro

inferior comprometido que muitas vezes não são valorizadas.

Em virtude do fácil acesso atualmente aos métodos diagnósticos, tais como

ressonância magnética, o exame neurológico, que no passado era de fundamental

importância clínica e conduzia a investigação diagnóstica e o tratamento, muitas

vezes nem é realizado. A indicação do tratamento em muitos casos baseia-se

somente nos achados dos exames de imagem, o que sem dúvida pode

comprometer o resultado clínico. Não é incomum observarmos pequenas hérnias

foraminais, por exemplo, com grandes alterações neurológicas, e hérnias de disco

de tamanho médio, sem nenhum quadro neurológico. Entretanto, para sabermos da

existência do mesmo, é necessário realizar de rotina o exame físico neurológico

completo.

O tratamento cirúrgico em nosso estudo foi instituído após um período médio

de evolução de dois meses. Segundo alguns autores(31,32), a cirurgia, quando

realizada após 8 a 12 semanas de evolução, produz resultados piores do que

quando ocorre precocemente. Há muitos anos, Mixter, Barr(12) já haviam postulado

que o tratamento da hérnia de disco era cirúrgico e, desde que a compressão não

fosse muito prolongada, poderiam ser obtidos resultados satisfatórios.

A persistência do déficit neurológico no pós-operatório tem sido motivo de

preocupação e estudo há muitos anos. Alajouanine, Peiti-Dutaillis foram os primeiros

a discutir quanto frequente era a persistência dos sinais neurológicos após a cirurgia

de hérnia de disco lombar(14). Atualmente, as razões que explicam o fato de muitas

vezes os dados disponíveis sobre a presença e persistência de alteração

neurológica sejam conflitantes ou inexistentes, incluem a utilização de diferentes

sistemas de avaliação da força muscular, a falta de descrição das manobras

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28

Discussão

utilizadas para realização do exame clínico, o uso inadequado de termos como

paralisia ou paresia e a realização pouco frequente do exame neurológico no

acompanhamento pós-operatório de pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico

de hérnia de disco(13).

A contribuição importante do estudo de Kobayashi et al foi a descoberta de

que a compressão induzida da raiz neural causa degeneração retrógrada do

neurônio motor no corno anterior da medula(21). Isto é de fundamental importância

clínica, porque pacientes com perda de força prolongada devem ser informados no

pré-operatório de que os sintomas não irão desaparecer imediatamente após o

procedimento cirúrgico.

Em nossa casuística, após 24 meses de observação pós-operatória em

pacientes submetidos a tratamento cirúrgico de hérnia de disco lombar, constatou-se

que 25% dos pacientes com déficit motor pré-operatório persistiram com o mesmo;

em 40% dos pacientes com déficit sensitivo não houve normalização do mesmo, e

em 48% dos pacientes com alteração reflexa também não houve modificação, de

forma semelhante aos dados da literatura(1,8,13,15,16,17).

Alguns artigos citam resultados de exame físico no pós-operatório realizado

pela enfermeira ou outros profissionais de saúde e não pelo próprio médico(33). Por

outro lado, também é sabido que, algumas vezes, apesar de o tratamento ser

instituído, o exame neurológico não é realizado. Isto demonstra a pouca importância

dispensada ao exame físico pela equipe médica e pode comprometer o resultado,

pois, para detectar o déficit neurológico presente, mesmo discreto, é preciso

experiência em sua realização.

A alteração neurológica pré-operatória, que muitas vezes é a principal

indicação do tratamento cirúrgico, parece não ter mais importância no pós-

operatório, uma vez que muitos artigos sequer citam a realização do exame

neurológico como avaliação pós-operatória. Entretanto, é muito comum o paciente

questionar o médico após a recuperação cirúrgica, por exemplo, quanto ao retorno

às atividades físicas, análise que pode ficar seriamente comprometida caso não se

tenha conhecimento de algum déficit neurológico residual.

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Discussão

A utilização de questionários de incapacidade e de qualidade de vida nas

análises pré e pós-operatórias é um método aceito na literatura internacional e a

utilização somente da escala análogo-visual de dor e de algum destes questionários

para avaliar o resultado clínico pós-operatório é frequente(24). Righesso et al em seu

estudo comparativo, também utilizaram a escala análogo-visual de dor e o

questionário de incapacidade de Oswestry para avaliar o resultado clínico, mas

descreveram que após 24 meses, no grupo submetido à cirurgia aberta, persistia

déficit motor em 26% dos pacientes, déficit sensitivo em 37% e alteração reflexa em

58%(34,35). Muitos artigos avaliam a efetividade de métodos terapêuticos, pela

utilização da escala análogo-visual de dor e de algum sistema de avaliação funcional

isoladamente, sem correlacionar isto aos achados do exame neurológico. Pode ficar

subentendido, entretanto, que esta correlação foi realizada, uma vez que os

resultados são descritos, em geral, como satisfatórios.

A utilização de escalas de incapacidade tais como a de Oswestry, já validada

para a língua portuguesa(36), originalmente desenvolvida para avaliar pacientes

portadores de dor lombar crônica, mesmo em pacientes assintomáticos no pós-

operatório de hérnia de disco lombar, em geral não produz resultados 100%

satisfatórios, isto porque, por exemplo, o terceiro item deste questionário refere-se à

capacidade de levantar objetos. A primeira opção, com valor zero, deve ser

assinalada quando o paciente “consegue levantar objetos pesados sem aumentar a

dor”. Entretanto, observamos em nossa casuística que a grande maioria dos

pacientes assinala a quinta alternativa deste item, ou seja, “consigo levantar apenas

objetos muito leves”, e que corresponde a quatro pontos, uma vez que o mesmo é

em geral orientado a não mais levantar objetos pesados. Caso o paciente assinale

em todas as outras a primeira alternativa, que corresponde ao valor zero, mesmo

assim, em um total de 50 pontos, apresentará um grau de incapacidade de 8% e não

de 0%. Portanto, não parece que isto represente uma incapacidade real, mas uma

precaução correta do paciente com sua coluna no intuito de evitar recidiva ou outras

lesões.

Houve diferença estatisticamente significativa entre o VAS e OSW em alguns

momentos da distribuição dos escores em pacientes com e sem alteração

neurológica. Mas isto não significa que a diferença foi importante e que possui

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Discussão

capacidade discriminatória entre os grupos. Encontramos uma inadequação do VAS

e OSW para identificar pacientes com e sem alteração neurológica, expressa pelos

baixos valores da curva ROC, uma técnica estatística utilizada para saber se um

teste possui capacidade discriminatória, ou seja, os valores não são específicos e

sensíveis para diferenciar os pacientes com e sem alteração neurológica. Na prática

isto significa que, quando aplicamos somente VAS e OSW para avaliar o resultado

pós-operatório do tratamento cirúrgico de hérnia de disco lombar, não sabemos

quais foram os pacientes que persistiram com déficit neurológico.

Portanto, este estudo mostra que a prática de relacionar VAS e OSW com

resultado clínico seja inadequada, uma vez que os valores da área sob a curva ROC

são muito baixos.

Com isso podemos sugerir que a avaliação clínica completa e adequada pós-

operatória destes pacientes deva incluir o exame físico neurológico. Faz-se

necessária a inclusão destes dados do exame clínico nas escalas utilizadas

atualmente ou a criação de novos instrumentos que os inclua, especificamente para

avaliar o resultado do tratamento da hérnia de disco lombar.

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6. CONCLUSÕES

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Conclusões

Houve uma alta incidência de persistência do déficit neurológico pré-existente

nos pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico de hérnia de disco lombar após 24

meses, sendo que 25% dos pacientes persistiram com déficit motor, 40% persistiram

com déficit de sensibilidade e 48% permaneceram com alteração do reflexo.

Apesar de termos observado diferenças estatisticamente significativas em

alguns momentos entre os grupos com e sem alterações neurológicas, a

persistência do déficit neurológico não está relacionada ao resultado clínico, uma

vez que pacientes com e sem déficit presente apresentavam valores semelhantes de

VAS e de Oswestry.

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7. ANEXOS

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Anexos

ANEXO 1

Aprovação dos Comitês de Ética

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Anexos

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Anexos

ANEXO 2 - Protocolo

AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA DO PÓS-OPERATÓRIO DE HÉRNIA DE DISCO LOMBAR

IDENTIFICAÇÃO: Nome: Fone: Idade: Sexo: ( ) 1- Masc ( ) 2- Fem Atividade: Tempo duração sintomas (dias): EXAME NEUROLOGICO: Motor Pre 1m 3m 6m 12m 2A 3A 4 A 5 A 6 A 7 A 8 A 9 A 10 A Sensitivo Reflexos Lasegue Lasegue-contra

0- Sem contração 1- Contração visível 2- Movimento ativo s/

gravidade MOTOR:

3- Movimento ativo contra gravidade

4- Movimento ativo contra gravidade e resistência

5- Resposta normal

SENSITIVO: 0- Normal 1- Diminuído 2- Ausente REFLEXOS: 0- Presente 1- Diminuído 2- Ausente LASEGUE: 1- Presente 2- Ausente TRANSOPERATÓRIO:

Data Cirurgia: / / Nível: ( ) 1- L1-L2 ( ) 2- L2-L3 ( ) 3- L3-L4 ( ) 4- L4-L5 ( ) 5- L5-S1 Lado: ( ) 1-D ( ) 2-E Tempo Cirúrgico (min): Sangramento (ml): Complicações Transoperatórias: ( ) 1- Não ( ) 2- Sim

PÓS-OPERATÓRIO:

Tempo Internação (h): Tamanho Incisão (cm): VAS- Incisão: Uso de Opiáceo: ( ) 1- Não ( ) 2- Sim Atrofia panturrilha: ( ) 1- Não ( ) 2- Sim Tempo de Retorno ao Trabalho (dias): Complicações Pós-Operatórias: ( ) 1- Não ( ) 2- Sim

AVALIAÇÄO: Pré 1m 3m 6m 12m 2A 3A 4A 5A 6A 7A 8A 9A 10A

VAS OSWESTRY

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Anexos

ANEXO 3

Questionário de Oswestry

Nome: ______________________________________________________________

Data : _____/_____/_____

Sessão 1- Intensidade da dor Sessão 2- Cuidados pessoais (lavar-se, vestir-se, etc.)

(....) não sinto dor no momento. (....) a dor é muito leve no momento. (....) a dor é moderada no momento. (....) a dor é razoavelmente intensa no momento. (....) a dor é muito intensa no momento. (....) a dor é a pior que se pode imaginar no

momento.

(....) normalmente sem que isso aumente a dor. (....) normalmente, mas sinto muita dor. (....) sinto dor e faço isso lentamente e com cuidado. (....) necessito de alguma ajuda, porém consigo fazer. (....) necessito de ajuda diária na maioria de meus cuidados

pessoais. (....) não consigo me vestir, lavo-me com dificuldade e

permaneço na cama. Sessão 3- Levantar objetos Sessão 4- Caminhar

(....) consigo levantar objetos pesados sem dor. (....) consigo levantar objetos pesados, mas isso

aumenta a dor. (....) a dor me impede de levantar objetos pesados do

chão, mas consigo levantá-los se estiverem convenientemente posicionados.

(....) a dor me impede de levantar objetos pesados, mas consigo levantar objetos leves a moderados se estiverem convenientemente posicionados.

(....) consigo levantar apenas objetos muito leves. (....) não consigo levantar ou carregar absolutamente

nada.

(....) a dor não me impede de caminhar qualquer distância. (....) a dor me impede de caminhar mais que 1.600m. (....) a dor me impede de caminhar mais que 800m. (....) a dor me impede de caminhar mais que 400m. (....) só posso andar usando bengala ou muletas. (....) fico na cama a maior parte do tempo e preciso me

arrastar para ir ao banheiro.

Sessão 5- Sentar Sessão 6- Ficar em pé

(....) consigo sentar em qualquer tipo de cadeira durante o tempo que quiser.

(....) consigo sentar em uma cadeira confortável o tempo que quiser.

(....) a dor me impede de ficar sentado por mais de 1 hora.

(....) a dor me impede de ficar sentado por mais de meia hora.

(....) a dor me impede de ficar sentado por mais de 10 minutos.

(....) a dor me impede de sentar.

(....) consigo ficar em pé o tempo que quiser sem aumentar a dor.

(....) consigo ficar em pé durante o tempo que quiser, mas isso aumenta a dor.

(....) a dor me impede de ficar em pé por mais de 1h. (....) a dor me impede de ficar em pé por mais de meia

hora. (....) a dor me impede de ficar em pé por mais de

10minutos. (....) a dor me impede de ficar em pé.

Sessão 7- Dormir Sessão 8- Vida sexual

(....) meu sono nunca é perturbado pela dor. (....) meu sono é ocasionalmente perturbado pela dor. (....) durmo menos de 6 horas por causa da dor. (....) durmo menos de 4 horas por causa da dor. (....) durmo menos de 2 horas por causa da dor. (....) a dor me impede totalmente de dormir.

(....) vida sexual normal e não aumenta minha dor. (....) vida sexual é normal, mas causa um pouco mais de

dor. (....) vida sexual é quase normal mas causa muita dor. (....) vida sexual é severamente limitada pela dor. (....) vida sexual é quase ausente por causa da dor. (....) a dor me impede de ter uma vida sexual.

Sessão 9- Vida social Sessão 10- Viajar

(....) vida social é normal e não aumenta a dor. (....) vida social é normal, mas aumenta a dor. (....) a dor não tem nenhum efeito significativo na

minha social, porém limita alguns interesses que demandam energia, como esportes.

(....) a dor tem restringido minha vida social e não saio de casa com tanta frequência.

(....) a dor tem restringido minha vida social ao meu lar.

(....) não tenho vida social por causa da dor.

(....) posso ir a qualquer lugar sem sentir dor. (....) posso ir a qualquer lugar, mas isso aumenta a dor. (....) a dor é intensa, mas consigo me locomover durante

2h. (....) a dor restringe-me a locomoções de menos de 1h. (....) a dor restringe-me a pequena locomoções necessárias

de menos de 30 minutos. (....) a dor me impede de locomover-me, exceto para

receber tratamento.

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Referências Bibliográficas

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Referências Bibliográficas

16. O’Connell JEA. The indication for and results of the excision of lumbar intervertebral disc protrusions: a review of 500 cases. Ann Roy Coll Surg Engl 1950; 6:403-12. 17. Bertil K. How often do the neurological signs disappear after the operation of a herniated disc? Acta Orthop Scand 1962; 32:352-6. 18. Weber H. Lumbar disc herniation. A controlled, prospective study with ten years of observation. Spine 1983; 8:131-40. 19. Aono H, Iwasaki M, Ohwada T, Okuda S, Hosono N, Fuji T, Yoshikawa H. Surgical outcome of drop foot caused by degenerative lumbar diseases. Spine 2007; 32(8):E262-E266. 20. Iizuka Y, Izuka H, Tsutsumi S, Nakagawa Y, Nakajima T, Sorimachi Y, Ara T, Nishinome M, Seki T, Shida K, Takagishi K. Foot drop due to lumbar degenerative conditions: mechanism and prognostic factors in herniated nucleus pulposus and lumbar spinal stenosis. J Neurosurg Spine 2009; 10:260-4. 21. Kobayashi S, Uchida K, Yayama T, Takeno K, Miyazaki T, Shimada S, Kutoba M, Nomura E, Meir A, Baba H. Motor neuron involvement in experimental lumbar nerve root compression. Spine 2007; 32(6):627-34. 22. Folman Y, Shabat S, Catz A, Gepstein R. Late results of surgery for herniated lumbar disc as related to duration of preoperative symptoms and type of herniation. Surgical Neurology 2008; 70:398-402. 23. Seddon H. Surgical disorders of the peripheral nerves. Edinburgh: Churchill Livingstone; 1972. 299 p. 24. Wu X, Zhuang S, Mao Z, Chen H. Microendoscopic discectomy for lumbar disc herniation: surgical technique and outcome in 873 consecutive cases. Spine 2006; 31(23):2689-94. 25. Österman H, Seitsalo S, Karppinen J, Malmivaara A. Effectiveness of microdiscectomy for lumbar disc herniation. A randomized controlled trial with 2 years of follow-up. Spine 2006; 31(21):2409-14. 26. Turk DC, Marcus DA. Assessment of chronic pain patients. Sem Neurolog 1994; 14(3):206-12. 27. Fairbank JCT, Couper J, Davies JB, O’Brien JP. The Oswestry low back pain questionnaire. Physiotherapy 1980; 66:271-2. 28. Fairbank JCT, Pynsent PB. The Oswestry disability index. Spine 2000; 25(22):2940-53. 29. Altman DG. Pratical statistics for medical research. London: Chapman and Hall/CRC; 1991.

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RESUMO

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Resumo

Righesso Neto O. Avaliação clínica pós-operatória de pacientes submetidos ao

tratamento cirúrgico de hérnia de disco lombar. Tese (Doutorado). 2010.

Foram estudados, prospectivamente, 150 pacientes portadores de hérnia de disco

lombar com déficit neurológico associado, submetidos a tratamento cirúrgico e

acompanhados por um período de 24 meses, com o objetivo de determinar o

percentual de persistência de déficit neurológico e averiguar se a persistência de

déficit neurológico no pós-operatório está relacionada ao resultado clínico. Os

pacientes foram avaliados no pré e pós-operatório por meio de exame físico

neurológico, pela escala análogo-visual de dor e por questionário de incapacidade

de Oswestry. Após 24 meses de observação, constatou-se que 25% dos pacientes

que apresentavam déficit motor no pré-operatório persistiram com o mesmo; em

40% dos pacientes com déficit sensitivo não houve normalização do déficit e, em

48% dos pacientes com alteração reflexa, também não houve modificação. Em

relação aos valores de VAS e Oswestry em pacientes com e sem alteração

neurológica, ocorreu uma queda abrupta no primeiro mês e o VAS continuou

diminuindo ao longo do período de observação nos dois grupos, com e sem

alteração neurológica, assim como em relação ao escore de Oswestry. Entretanto,

apesar de termos encontrado, em alguns momentos, valores estatisticamente

significativos, a persistência do déficit neurológico não está relacionada ao resultado

clínico, uma vez que pacientes com e sem déficit presente apresentavam valores

semelhantes. Ao calcular a capacidade discriminatória de VAS e Oswestry entre

alteração neurológica presente e alteração neurológica ausente, a partir do cálculo

da área sob a curva ROC, obtivemos valores muito abaixo do ideal. Ou seja,

encontramos a inadequação de VAS e OSW para identificar pacientes com e sem

alteração neurológica. Portanto, este estudo sugere que a prática de relacionar VAS

e Oswestry com resultado clínico seja inadequada.

Palavras chave: 1. Hérnia de disco; 2. Microdiscectomia; 3. Radiculopatia;

4. Ciatalgia.

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ABSTRACT

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Abstract

Righesso Neto O. Post-operative evaluation of patients submitted to surgical

treatment for lumbar disc herniation. Thesis. 2010.

A total of 150 patients with lumbar disc hernia associated to neurological deficits

were submitted to surgical repair and prospectively followed during 24 months. The

objectives of the current study were to evaluate the percentage of persistent

neurological deficits after surgery and if these deficits correlated to clinical outcome.

Patients were assessed pre and post-operatively with neurological examination, the

Oswestry incapacity questionnaire, and the visual analogical pain scale (VAS).

Twenty-four months after surgery 25% of patients with motor deficits, 40% of patients

with sensory deficits, and 48% of patients with reflex abnormalities remained

unchanged. The VAS and the Oswestry score showed significant improvement, in

both patients with and without neurological deficits, immediately after surgical repair

of the herniated disc with progressive improvement over the follow-up period.

However, when calculating the area over the ROC curve, no statistically significant

correlation could be established between the presence and persistence of

neurological deficits and the two above scores, suggesting that there is no correlation

between clinical results and neurological deficits as assessed by the VAS and the

Oswestry score.

Key words: 1. Lumbar disc herniation; 2. Microdiscectomy; 3. Radiculopathy;

4. Sciatica.