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ODENILDO TEIXEIRA SENA - fapeam.am.gov.br

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É, no mínimo, estranho iniciar o textode apresentação deste número especialda revista Amazonas faz ciência, come-morativo dos cinco anos de efetivofuncionamento da Fundação de Ampa-ro à Pesquisa do Estado do Amazonas– Fapeam, destacando que a sua missãonão está cumprida. Isso porque depraxe, manda o figurino exatamente ocontrário: que se ressaltem os feitos eque se dê por encerrado o discursoEsse princípio, tão pouco conseqüentepode até encontrar amparo em outraárea qualquer, mas no campo da ciên-cia e da inovação tecnológica não tema menor sustentação.

Afirmar que a missão da Fapeam nãoestá cumprida implica o necessário re-conhecimento de que ela está em curso.E, para que ela esteja em curso, é dejustiça reconhecer que, se ao longo demuito tempo a comunidade científicae tantos outros atores se mobilizaramem prol da necessidade de se criar umainstituição que, mirada na experiênciaexitosa de alguns outros estados, tives-se por propósito alavancar a pesquisano Estado do Amazonas, coube ao Go-vernador Eduardo Braga, movido peloseu espírito público, dar resposta a essesonho e tomar a histórica decisão polí-tica de, em 2003, dar vida concreta àFundação de Amparo à pesquisa doEstado do Amazonas.

Por outro lado, embora a missão estejaem curso, pode-se dizer com seguran-ça que as ações decorrentes dessahistórica decisão já autorizam vislum-brar que, no campo da Ciência e daTecnologia, o Estado do Amazonas nãoé o mesmo. Só para ficar em algunspouquíssimos exemplos, como pode ser

o mesmo um Estado que, até 2003,nada investia sistematicamente na for-mação de pesquisadores e hoje conta-biliza a concessão de 266 bolsas para aformação de doutores e 579 para a for-mação de mestres? Como pode ser omesmo um Estado que, de olho no fu-turo, promove a iniciação científicapara 954 estudantes, do ensino funda-mental à graduação, mais do que ototal para toda a Região Norte (943)assumido pelo Governo Federal? Comopode ser o mesmo um Estado que, atédezembro de 2007, custeou a participa-ção de 496 pesquisadores em eventosnacionais e de 91 em eventos interna-cionais? Como pode ser o mesmo umEstado que tem investido pesadamenteem pesquisa básica e aplicada, emtodas as áreas do conhecimento, con-templando todas as instituições tradi-cionais de pesquisa, estimulando asnovas e interiorizando a ciência? Comopode ser o mesmo um Estado que, sóaté o início deste ano, para execuçãoaté 2010, captou R$ 40.466.200,00 emrecursos federais para investimentosem C&T no Amazonas? Como pode sero mesmo um Estado que, partindo dozero em 2003, contabiliza até dezem-bro de 2007 um total de R$ 113 milhõesem investimentos em Ciência, Tecnolo-gia e Inovação?

Pode parecer estranho, mas o bommesmo é saber que a missão daFapeam não está cumprida, porque omuito que se fez até agora é poucoface ao que se deixou de fazer durantedécadas e décadas e face ao muito queainda precisa ser feito.

ODENILDO TEIXEIRA SENA

diretor-presidente da Fapeam

FAPEAM: missão não cumprida

|| ed i to r i a l

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6 F A L A L E I T O R

7 C A N A L C I Ê N C I A

10 E N T R E V I S TA

ciência para a vida– Leny Passos

12 E N E R G I A

o preço do desenvol-vimento enérgico na Amazônia

16 A V A L I A Ç Ã O

pesquisadores traçam perfil da produção cientifica em saúde

18 C A R T O G R A F I A

interesses da socie-dade e do Estado são postos em questão

22 Q U A L I F I C A Ç Ã O

pós-graduação na UEA: avanços e perspectivas

24 B O T O

ciência revela o lado conquistador de um dos símbolos da Amazônia

27 P E I X E - B O I

Inpa reintroduz animais na natureza

28 TA M B A Q U I

genes do peixe são usados como bioindica-dores de impacto

GOVERNO DO ESTADO DO AMAZONAS

Carlos Eduardo de Souza BragaGOVERNADOR

SECRETARIA DE ESTADO

DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA – SECT

José Aldemir de OliveiraSECRETÁRIO

FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA

DO ESTADO DO AMAZONAS – FAPEAM

Odenildo Teixeira SenaDIRETOR-PRESIDENTE

Elisabete BrockiDIRETORA TÉCNICO-CIENTÍFICA

Ana Lúcia MendesDIRETORA ADMINISTRATIVO-FINANCEIRA

REVISTA AMAZONAS FAZ CIÊNCIA

Departamento de Difusão doConhecimento – Decon

COORDENAÇÃO EDITORIAL

Grace Soares – DRT 236/AM

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO

Rômulo Nascimento

FOTO DA CAPA

Leandro Giatti

REVISÃO

Lorena Nobre

COLABORAÇÃO

Ana Paula Freire / Hemanuel Jhosé / Nayr Cláudia / Cher Lima / Raphael Alves

IMPRESSÃO

Gráfica WSA

FAPEAM

Rua Recife, n.º 3280 – Parque Dez.CEP 69057-002, Manaus AM.Tel.: (92) 3643-3344 / 3634-3389e-mail: [email protected]@fapeam.am.gov.br

www.fapeam.am.gov.br

Os artigos assinados não refletemnecessariamente a opinião da Fapeam.É proibida a reprodução total ou parcial de

textos e fotos sem a prévia autorização.

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30 C A PA

cinco anos de fomento à CT&I no Amazonas

histórias que a ciênciaajudou a mudar

40 A L I M E N TA Ç Ã O

cuidados na hora do consumo de iguarias regionais

43 O L E I T O R P E R G U N TA

44 P O P U L A R I Z A Ç Ã O

ciência e tecnologia nos rádios de Manaus

47 U N I V E R S I D A D E

instituições do Estado investem mais em pesquisa

50 D E S E N V O LV I M E N T O

Fapeam forma e fixa doutores na região

52 PAT E N T E S

conhecimento sai da floresta e chega à sociedade

56 P Ó S - G R A D U A Ç Ã O

ciências Humanas eSociais são reforçadas com PPGSCA

59 J O R N A L I S M O

portal da Ciência come-mora 1 ano de trabalho

60 A R T I G O

Antônio José Lapa

Page 6: ODENILDO TEIXEIRA SENA - fapeam.am.gov.br

6 I N.º 9, ABRIL DE 2008

Gislane Prazeres, assessora deComunicação da OCB-AM (Sindicato eOrganização das Cooperativas doEstado do Amazonas) > Eu gosteimuito da matéria sobre a hipertensãona gravidez e da outra sobre leishma-niose. Esse tipo de pesquisa é muitoimportante para auxiliar no trata-mento dessas doenças. Essa ediçãoespecial do PPSUS é muito relevante,pois a área de saúde em nosso paísprecisa de mais atenção. Um meio decomunicação que ressalte essas pesqui-sas é sempre bem-vindo.

Aldenize Nascimento, filósofa eprofessora da Faculdade Boas Novas(FBN) > O que me chamou a atençãona revista foi que os temas, às vezescomplexos, são tratados numa lingua-gem acessível aos leigos.

Maria Hercília Tribuzy, reitora doCentro Universitário do Norte – UniNorte > Produtos editoriais, comoas revistas informativas ou científicas,que divulgam e disseminam o saber,sempre serão motivo de orgulho e devotos de vida longa. E com a revista“Amazonas faz Ciência” não poderiaser diferente. Pesquisas, experiênciasvividas e saberes voltados para aregião amazônica precisam, comurgência, ser fomentados assim comotambém necessitam chegar a umnúmero maior de pessoas. A revista daFapeam dá sua contribuição nestecaminho. Parabéns!

Layana Rios, estudante do 8ª períododo curso de Turismo da UEA > Gosteimuito da nova diagramação da revista,ficou mais leve e agradável. A ediçãoespecial do PPSUS trouxe questões degrande relevância para a sociedade,abordando doenças de notificação

compulsória, como a hanseníase e atuberculose.

Luiza Prestes, estudante de Enge-nharia de Pesca da Ufam > Lendo aedição n.º 7, da Fapeam, descobri quepodemos utilizar couro de peixe, quesempre achei muito fino, para produ-zir bolsa, sapato e ainda são utilizadoscorantes ecologicamente corretos paratingimento desse couro que, no casoda matéria, foi couro de matrinxã. Souestudante de engenharia de pesca eter acesso a esse tipo de informaçãopara mim é de suma importância.

Errata: Edição n.° 7, o telefone daFapeam saiu incorreto; as fotos queilustram a matéria de capa, sobre oAquecimento Global, são de RicardoOliveira, exceto a dos celulares. A ilust.da pág. 44 é de Rafael Paz. N.° 8, noexpediente, onde se lê Gracie, o cor-reto é Grace; o crédito da foto da pág.14 é do pesquisador Leandro Giatti.

As cartas enviadas podem ou nãoser publicadas. A Redação sereserva o direito de editá-las,buscando preservar aidéia geral do texto.

É com grande satisfação que estamos recebendo e lendo a im-

portante Revista – Amazonas faz Ciência – da Fapeam, que en-

foca temas da mais alta relevância para o desenvolvimento

sustentável, científico e tecnológico, não somente da Amazônia,

mas para todo o País. Trabalhos assim contribuem de maneira de-

cisiva para que os formadores de opinião de todo o Brasil e do Ex-

terior vejam os esforços e avanços que estão sendo feitos para

dotar a Amazônia dos conhecimentos necessários para que exista o aproveitamento racional e a proteção

de sua biodiversidade e de todos os demais recursos ambientais. Por isto, parabenizamos, pelo brilhante

trabalho realizado, toda a equipe da Revista Amazonas faz Ciência. Professor Luiz Fernando Schettino,

Subsecretário de Coordenação das Unidades de pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT.

espaço do leitorenvie sugestões e críticas para

[email protected]

sua opinião é muito impotante

Palavras em destaque

AC

ERV

O M

CT

Page 7: ODENILDO TEIXEIRA SENA - fapeam.am.gov.br

AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 7

II parceriaO evento foi promovido

pela Fapeam, em parceria

com o Ministério da Saúde

(MS) e o Conselho Nacional

de Desenvolvimento Cientí-

fico e Tecnológico (CNPq).

Foram avaliados os projetos

aprovados nos editais de

2004 (finalizados) e 2006

(em andamento), e ofereci-

das mesas-redondas e

conferências. De acordo

com a diretora técnico-

científica, Elisabete Brocki,

o seminário atingiu os

objetivos planejados.

II novidadeA confiança no programa

foi endossada com o lança-

mento de um número espe-

cial da Revista “Amazonas

faz Ciência”, de n.º 8, que

apresenta matérias sobre os

projetos de pesquisa finan-

ciados na primeira edição

do PPSUS (2004/2005) em

parceria com a fundação.

II PCEFapeam lançou em feve-

reiro a segunda edição do

Programa Ciência na Escola

(PCE), uma ação encabeça-

da pela Fapeam em

parceria com as Secretarias

de Ciência e Tecnologia

(SECT) e de Educação, nas

esferas municipal e

estadual (Semed e Seduc).

Ele foi criado para incenti-

var projetos científicos e

tecnológicos no ambiente

escolar. Estão sendo investi-

dos aproximadamente 3

milhões de reais.

II eleição ConfapO diretor da Fapeam,

Odenildo Teixeira Sena, foi

reeleito presidente do

Conselho Nacional das

Fundações de Amparo à

Pesquisa Estaduais

(Confap). Odenildo contou

com todos os votos das 15

FAPs representadas na

eleição que aconteceu em

março passado, em

Aracaju. Para vice-presi-

dente, foi também reeleito

Antônio Carlos Camacho,

presidente da Fundação de

Amparo à Pesquisa do

Estado do Mato Grosso

(Fapemat).

II RH – Doutorado -Fluxo ContínuoSaiu a primeira lista de

candidatos com projetos

aprovados pelo Programa

RH Doutorado - Fluxo

Contínuo, lançado este

ano pela Fapeam. Treze

bolsas de estudos foram

concedidas. O objetivo é

estimular a formação de

doutores na região. Os

recursos aplicados pela

Fapeam no programa so-

mam R$ 2,3 milhões. O

edital do RH Doutorado-

Fluxo Contínuo terá vigên-

cia enquanto existirem

cotas de bolsas.

PPSUS 2008. No período de 11 a 13 de março, a Fapeam realizou o Seminário deAvaliação do Programa Pesquisa para o SUS – PPSUS, na Escola Superior de Ciências da

Saúde, da Universidade Estadual do Ama-

zonas (UEA), com o principal objetivo de

fomentar a pesquisa científica e o desen-

volvimento tecnológico em Saúde no País.

canal ciênciaSAIBA O QUE FOI NOTÍCIA EM C&T NO PAÍS

FOTO

S G

RA

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| | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |

Page 8: ODENILDO TEIXEIRA SENA - fapeam.am.gov.br

8 I N.º 9, ABRIL DE 2008

II olimpíadasAcontece este mês a ver-

são 2008 das Olimpíadas

de Química, promovidas

pela Ufam, com o apoio da

Fapeam. De acordo com o

coordenador das Olimpía-

das, Paulo Rogério da

Costa Couceiro, este ano

são esperados cerca de mil

estudantes do ensino mé-

dio da capital e do interior

para o evento. Em sua úl-

tima edição, as Olimpíadas

tiveram 529 inscritos. Cada

escola pode concorrer com

até 12 estudantes.

II sucesso PIPTEm fevereiro, pesquisado-

res de instituições de en-

sino e pesquisa brasileiras

analisaram 327 propostas

do Programa Integrado de

Pesquisa Científica e

Tecnológica (PIPT). De

acordo com a diretora téc-

nico-científica da Fapeam,

Elisabete Brocki, o PIPT

teve número de inscrição

recorde nesta segunda edi-

ção. O montante de até R$

3,5 milhões está sendo

investido para desenvolvi-

mento das pesquisas.

II cultivo do cupuaçuA Embrapa lançou recente-

mente o livro “Boas Práti-

cas Agrícolas da Cultura

do Cupuaçuzeiro”, que

tem como editora técnica

a pesquisadora Aparecida

das Graças Claret de

Souza. O aporte financeiro

veio da Fapeam ao projeto

Agronegócio do Cupuaçu

no Amazonas, cujos resul-

tados estão traduzidos na

obra. Para o Secretário de

C&T, José Aldemir de Oli-

veira, o livro representa

uma síntese do esforço do

Governo do Estado no sen-

tido de que a pesquisa e a

tecnologia possam contri-

buir efetivamente com a

sociedade.

II museuO ex-presidente da Socie-

dade Brasileira para o Pro-

gresso da Ciência (SBPC),

Enio Candotti, esteve em

CNPq em Manaus. O presidente do

Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq), Marco

Antônio Zago, esteve em Manaus este mês

para acompanhar as ações da agência na

região e discutir novas parceiras com a

Fapeam (foto). Além de conhecer os resul-

tados de programas como o de Desenvolvi-

mento Científico Regional (DCR), que já

fixou nove doutores na região, Zago

realizou o lançamento de dois editais da

Fapeam/CNPq: o Programa de Recursos

Humanos em Áreas Estratégicas (RHAE) e a

4º edição do Programa Institucional de

Bolsas de Iniciação Científica Júnior (Pibic

Jr.). Em 2007, o CNPq demandou R$ 20

milhões para aplicação em investimento em

C&T no Amazonas. Contando com o apoio

da Fapeam na coordenação das frentes de

fomento, Zago espera superar esse

montante em 2008.

canal ciência||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

Page 9: ODENILDO TEIXEIRA SENA - fapeam.am.gov.br

AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 9

Manaus para definir os

fundamentos do projeto

do Museu de Ciências do

Estado Amazonas. Para o

secretário de C&T, José

Aldemir de Oliveira, nesse

primeiro momento, a

estratégia será montar

uma equipe para discutir e

elaborar o projeto. Em

seguida, serão captados os

recursos. O museu é uma

iniciativa do Governo do

Estado via Sect, UEA e

Fapeam.

II maláriaO combate à malária no

Amazonas vai se beneficiar

com as pesquisas desen-

volvidas com financia-

mento da Fapeam. Desde

2004, a entidade já

aprovou 12 projetos para

diferentes instituições,

investindo R$1.477.000

milhão. Cinco pesquisas já

foram concluídas. Uma das

principais é a desenvolvida

pela Fundação de Vigilân-

cia em Saúde (FVS), que

visa padronizar o diagnós-

tico da malária no estado.

II reajuste bolsas Desde março passado,

estudantes de mestrado e

doutorado pela Fapeam

recebem suas bolsas com

um reajuste de 20% e

30% em relação ao benefí-

cio oferecido pela Capes e

o CNPq. A proposta foi

aprovada no Conselho da

entidade e fixa em R$

1.356 a bolsa de mestrado

dentro do Amazonas

(Fapeam/Estado) e em

R$ 1.762 (Fapeam/País) a

bolsa para outros estados.

O doutorado ficou em

R$ 2.008 (Fapeam/Estado)

e R$ 2.610 (Fapeam/País).

II biotecnologia O cenário e o potencial da

Biotecnologia no Amazo-

nas foram discutidos no I

Seminário de Incentivo à

Pesquisa Acadêmica para a

Cosmetologia Estética e

Beleza, nos dias 27 a 29 de

março, promovido pela

empresa Vitaderm, em

parceria com o governo do

estado por meio da Sect e

Seplan. Na ocasião, foi

anunciado o lançamento

do edital temático desti-

nado ao setor de biocos-

méticos, com aporte de

R$1,5 milhão da Fapeam.

II intercâmbioO Ministro da Agricultura

da República do Congo, Ri-

gobert Maboundou,

esteve em Manaus, no dia

3 de abril, e reuniu-se com

representantes da Sect, Fa-

peam e Embrapa. O encon-

tro simbolizou a intenção

do Governo daquele País

em firmar um acordo geral

com o Brasil para possibili-

tar o intercâmbio de pes-

quisa, desenvolvimento e

tecnologia, visando fortale-

cer a agricultura pouco de-

senvolvida no Congo.

II recursos para o AmazonasO Comitê das Atividades

de Pesquisa e Desenvolvi-

mento da Amazônia,

vinculado à SUFRAMA,

definiu proposta de um

Edital para seleção

pública para a linha de

recursos pesqueiros e

fitofámarcos, com aporte

financeiro de R$ 14

milhões. Serão apoiados

grupos de pesquisa com

recursos do Fundo

Nacional de Desenvolvi-

mento Científico e Tecno-

lógico (FNDCT) e do

CT – Amazônia.

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infra-estrutura FMTAM. Uma parceria entre a Fundação de Medicina

Tropical do Estado do Amazonas (FMTAM)

e Fapeam (foto) está possibilitando a

construção de laboratórios de ponta para a

pesquisa em doenças tropicais endêmicas e

em biologia molecular no Amazonas.

Os investimentos são da ordem dos R$ 2,5

milhões, sendo R$ 1,1 milhão oriundos da

Fap. Uma das estruturas que deve entrar

em funcionamento ainda no primeiro

semestre é o Laboratório de Biossegurança

Nível 3, o único da região Norte.

Page 10: ODENILDO TEIXEIRA SENA - fapeam.am.gov.br

As pesquisas em curso no Hemoam geram grandeexpectativa quantos aos resultados. Mas esse é umsegmento consolidado no hemocentro?> Leny Passos: Cinco anos de parceria com a Fapeame, nesse ano, alcançamos a consolidação no âmbitoda pesquisa, que envolve desde a melhoria da infra-estrutura do hemocentro até a formação de recursoshumanos, envolvendo, inclusive, alunos de gradua-ção beneficiados com bolsas de pesquisa. Quantomais cedo eles têm contato com a área, mais fácil é odespertar da vocação desses estudantes. A parceria

também possibilitou a definição do quadro de pes-quisadores. Um dos pontos mais positivos da parce-ria com a Fapeam é o programa DCR, pelo qual estábeneficiada a pesquisadora Adriana Malheiros, quetrabalha com células-tronco adultas. Foi uma felici-dade receber uma doutora que se incorporou porcompleto ao hemocentro. A presença dela alavan-cou alguns projetos que antes estavam mais lentos enos ajudou a fixar parcerias institucionais. A atuaçãoda doutora mostra como é importante ter profissio-nais desse nível integralmente dedicados às institui-

10 I N.º 9, ABRIL DE 2008

|| entrevista

Em maio próximo, a Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam) inicia

uma das experiências mais importantes e arriscadas desde a sua criação. Importante porque

envolve a perspectiva de alcançar a cura para a cardiopatia isquêmica, uma das principais causas

de morte entre pessoas com doenças cardíacas, sem cirurgia. Arriscada, por estar no meio de uma

polêmica: o uso de células-tronco. A ousadia das pesquisas realizadas no hemocentro pode

representar a maturidade científica que o instituto busca há cinco anos, quando começaram

as parcerias para fixação de mestres e doutores na instituição e aquisição e instalação de equipa-

mentos de alta tecnologia. Somente por meio do Programa Pesquisa para o Sistema Único de

Saúde – Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS), são R$ 500 mil aplicados em pesquisas em

andamento, a principal envolvendo células-tronco.

POR MICHELLE PORTELA

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ções. Mas a qualificação ainda é um desafio. Nonosso quadro de 480 funcionários, temos 12 mes-tres, três doutores e três pós-doutores.

Como a participação desses pesquisadores mudoua rotina do instituto? > Leny Passos: Mudamos a ótica da pesquisa, de-senvolvendo não somente a de aplicação pura, masaquela que tem reflexos no dia a dia. A melhoriada infra-estrutura também foi importante, porquepossibilitou ambiente de trabalho a esses pesquisa-dores, e, consequentemente, avanço nas pesquisas.Em especial, avançamos nas doenças transmissíveispelo sangue, nosso principal foco de trabalho. Po-rém, é importante dizer que essa mudança somen-te foi possível com o acesso facilitado aos recursos,principalmente com a abertura de linhas de pes-quisa e financiamento específico à área de saúde.Nesse caso, o PPSUS é fundamental.

O quadro permanente de pesquisadores está orien-tando as subáreas de pesquisa?> Leny Passos: Quando você tem um corpo de pes-quisadores, fica mais fácil estabelecer linhas de pes-quisa que gerem resultados, principalmente aque-les que as pessoas possam usufruir. Realizamos pes-quisa de credibilidade, que mostrem a nossa capa-cidade de resolutividade. Queremos fazer parte eresponder perguntas que nos afligem, além de con-tribuir para a solucionar os problemas da popula-ção brasileira. Essa nova perspectiva fez o Hemoamcrescer e se projetar no cenário nacional.

Quais soluções estão próximas de serem alcançadas? > Leny Passos: Somos o único hemocentro do paísa realizar pesquisa com célula-tronco adulta paratratar cardiopatia isquêmica. Em nível de articu-lação, estamos adiantados e contamos com a su-pervisão de pesquisadores de centros de pesquisaque já trabalham nessa área. Em maio, iniciamos,em parceria com o Hospital Francisca Mendes, aimplantação de células-tronco adultas em pa-cientes com cardiopatia isquêmica. Para isso, co-letarem sangue do próprio paciente para identi-ficar essas células que são capazes de se multipli-car e formar um novo tecido. Ao serem introdu-zidas no miocárdio, a expectativa é que elas esti-mulem a reconstituição do músculo cardíaco.

Essa, por exemplo, é uma pesquisa financiadapelo PPSUS, que pode mudar a vida de milharesde pessoas.

Significa que o paciente, em Manaus, pode teracesso a um tratamento inovador, não cirúrgico?> Leny Passos: Para o paciente, significa dizer queexiste a possibilidade dele receber tratamentosenão a cirurgia tradicional, com menores riscos àvida. Quando você adota procedimentos conserva-dores, porque não é intrusivo, oferece menos ris-cos. Mas apesar de conservador, é absolutamenterevolucionário.

Se há avanços nas pesquisas sobre doenças trans-missíveis pelo sangue, podemos supor que hápesquisas em HIV/AIDS?> Leny Passos: Temos uma grande pesquisa emHIV/AIDS. Posso dizer que essa é uma preocupa-ção mundial. Há alguns aspectos da infecção quemerecem ser melhor estudados. A preocupaçãoprincipal é com a matéria-prima do Hemoam: osangue dos doadores. Em alguns casos, pacientesportam partículas do vírus que não podem seridentificados com os exames atuais. Estamos de-senvolvendo uma tecnologia nova, a identificaçãode subtipos do HIV através de biologia molecular,capaz de identificar essas partículas e garantir aqualidade total do sangue coletado no hemocen-tro. Em outro aspecto, pode-se dizer que tambémserá possível identificar precocemente a doençano portador. Também influenciará na escolha dosgrupos de coleta, pois teremos um perfil melhorformado do doador.

Mas tamanho crescimento está restrito às pessoasque moram em Manaus?> Leny Passos: O modelo do hemocentro nas ou-tras cidades do Amazonas passa por um momentode reflexão. Também queremos avançar no âmbitoda pesquisa nas nossas unidades pólo, em Itacotia-ra, Manacapuru, Parintins e Tefé. Para isso, inicia-mos um processo de interiorização, com qualifica-ção dos servidores do hemocentro, por meio doensino à distância. Mas será com a fixação de pes-quisadores nessas localidades que acreditamos po-der ampliar nosso quadro de pesquisa e melhorarnossa gestão no serviço de saúde.

AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 11

Financiamentos, como os da Fapeam, fizeram-nos mudar a ótica da pesquisa para atender não

só a de aplicação pura, mas aquela que tem reflexos no dia a dia, afirma Leny Passos, diretora do

Hemoam, em entrevista à Agência Fapeam.

Page 12: ODENILDO TEIXEIRA SENA - fapeam.am.gov.br

O governo brasileiro planejaconstruir duas grandes usinashidroelétricas no rio Madeira:

Jirau e Santo Antônio, ambas no Es-tado de Rondônia. Elas estão incluídasno Plano de Aceleração do Cresci-mento (PAC) e fazem parte de umgrande projeto para o desenvolvi-mento da região, integração nacionale melhoria de vida das populações deRondônia, Acre, Amazonas e MatoGrosso. O objetivo é aumentar o par-que gerador de Rondônia, que atual-mente conta com uma oferta de cercade 800 MW. As duas novas usinas te-riam uma capacidade total de 6.450MW. Além de suprir a demanda daregião e possibilitar a instalação degrandes empresas, forneceria energiaelétrica para o Sudeste e Centro-Oestedo país, por meio de linhas de trans-missão interligadas ao Sistema Brasi-leiro, minimizando assim a possibili-dade de um novo apagão no futuropróximo.

Orçado em aproximadamente R$ 20bilhões e mais R$ 15 bilhões, somente

para as linhas de transmissão, a obratem recebido fortes críticas. O projetotambém prevê a ampliação da navega-ção, no rio Madeira, de embarcações degrande porte entre Porto Velho eAbunã, em Rondônia. Dessa forma, in-tegraria as redes fluviais entre o Brasil,Bolívia e Peru, permitindo o transportede soja, madeira e minerais para osportos do Atlântico e Pacífico.

Os estudos para a construção dasusinas começaram a ser realizados em2001 por FURNAS Centrais ElétricasS/A e abrangem a área entre Porto Ve-lho e Abunã. O Instituto Brasileiro deMeio Ambiente e Recursos NaturaisRenováveis – Ibama, responsável peloEstudo de Impacto Ambiental (EIA),tem sido pressionado pelo poder exe-cutivo, setor elétrico e empreiteiraspara conceder a licença para o início dasobras, previsto para dezembro de 2008.

Contudo, o empreendimento temgerado polêmica entre as organiza-ções não-governamentais (ONGs), am-bientalistas, pesquisadores, movimen-tos sociais, por exemplo, o Fórum de

|| energia

Qual o preço do

DESENVOLVIMENTO?Pesquisadores

analisam impacto

ambiental na biodi-

versidade do rio

Madeira com a

construção das duas

hidroelétricas

para a região

POR LUÍS MANSUÊTO

12 I N.º 9, ABRIL DE 2008

Page 13: ODENILDO TEIXEIRA SENA - fapeam.am.gov.br

Debates sobre Energia de Rondônia(Foren) e a Comissão Pastoral da Terra(CPT). Eles defendem que a usinaameaçaria uma biodiversidade única,destruindo habitat de peixes, papa-gaios e botos, entre diversas outras es-pécies de animais.

DIFICULDADES

Outro problema levantado pelos am-bientalistas é que o Madeira é um riorico em sedimentos, o que prejudica-ria o funcionamento das turbinas einviabilizaria o depósito anual de lamafértil durante o período de seca sobreas planícies inundadas, causando odeclínio da agricultura. Isso acontece-ria rio abaixo, ou seja, a jusante, pontomais próximo à foz do rio, se fosserio acima, consideraríamos que está amontante, perto da nascente.Além dos danos causados à agricul-tura, alterar o depósito de lama fértiltambém acarretaria em desmatamen-tos, grilagem de terras e aumento dapopulação nas cidades próximas àusina, que não têm infra-estruturapara receber a demanda de pessoasque trabalharão no empreendimento.

Para tentar determinar os reais im-pactos do empreendimento, em Ron-dônia, foram realizados estudos domeio físico (água e solo), biótico (florae fauna) e socioeconômicos (caracteri-zação e apoio às comunidades locais),como parte do EIA. Os levantamentoscontaram com o apoio da Universi-dade Federal de Rondônia, por meio daFundação Rio Madeira, que coordenouos trabalhos com o apoio de cientistasda Companhia de Pesquisas de Recur-sos Minerais e do Instituto Nacional dePesquisas da Amazônia (INPA). Entre osprojetos que estão sendo desenvolvidosestá o trabalho da doutoranda do Pro-grama de Pós-Graduação em Biologiade Água Doce e Pesca Interior/INPA,Gislene Torrente Vilara.

Um dos objetivos de Vilara é tentarresponder como a riqueza de espéciesde peixes se comporta em relação aobarramento natural representado pe-las principais cachoeiras daquele tre-

cho: Teotônio e Santo Antônio. O in-ventário da ictiofauna que está sendoutilizado como base de estudo do dou-torado foi realizado em um trecho de293 km do rio Madeira, iniciando ascoletas próximo ao município de VilaNova Mamoré até alguns quilômetrosà jusante de Porto Velho, no rio Ma-deira. Na área, foram estabelecidospontos de coleta na foz de 10 afluen-tes com a calha principal do rio Ma-deira, em função da presença das prin-cipais cachoeiras e corredeiras. O tre-cho estudado faz parte das áreas diretaou indiretamente afetadas pelos em-preendimentos.

Durante as coletas de campo, foramcapturadas cerca de 450 espécies depeixes, e os dados indicam que seriapossível encontrar naquela região umalista com cerca de 700 espécies, caso osestudos fossem ampliados. SegundoVilara, aparentemente, a riqueza deespécies não se modifica de maneiragradativa ao longo dos pontos da mon-tante para a jusante daquele trecho,mas sofre um efeito importante daprincipal cachoeira: Teotônio.

Ainda de acordo com Vilara, umproblema importante para a constru-ção da barragem é a manutenção daspopulações das espécies migradoras etambém das não-migradoras. “Nós nãosabemos ainda como o efeito dos em-preendimentos poderá ser amortecidotanto para as espécies migradoras

quanto para as que, atualmente, nãorealizam migração rio acima”, afirma.

O RIO “IDEAL”

De acordo com o pesquisador da Coor-denação de Pesquisas em BiologiaAquática (CPBA/INPA), Jansen Zua-non, para um rio ser apropriado paraa construção de uma hidroelétrica é ne-cessário que o mesmo disponha deduas características principais: queda(desnível acentuado) e “ombreiras”(apoios rochosos para escorar a barra-gem). Normalmente, em uma usinatradicional, que se baseia em grandesreservatórios para acumulação de água,é necessário construir uma barragemalta para que haja água suficiente paragerar energia ao longo de todo o ano,formando, assim, lagos enormes. Alémdisso, o represamento alaga áreas ex-tensas, com elevado tempo de resi-dência da água, o que resulta na acu-mulação de sedimentos e matéria or-gânica em decomposição no fundodo lago, formando uma zona morta,sem oxigênio para os peixes e outrosanimais aquáticos.

“No caso do rio Madeira, o trechoestá inserido numa parte alta da baciae a área prevista para o alagamento émenor. A idéia é que a turbina, dotipo bulbo, seja colocada no fundodo lago, horizontalmente. Dessa for-ma, a barragem não precisará ser

FOTOS: GISLENE VILARA

II No EIA constam estudos do meio físico, biótico e socioeconômicos

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muito alta e deverá ter uma zonamorta menor, provavelmente pertodas margens, explica o pesquisador. Se-gundo informações da engenharia,ela deverá acumular pouco sedimentono fundo porque o fluxo de água pe-las turbinas de fundo será grande. EmBalbina, no Amazonas, o tempo depermanência da água no lago é deaproximadamente um ano, enquantoem Jirau e Santo Antônio será de ape-nas 18 horas. O desenho técnico dessetipo de usina, pelo menos teorica-mente, é menos agressivo ao meioambiente. Com isso, espera-se que osimpactos ambientais sejam menoresdo que em usinas hidrelétricas tradi-cionais”, explica Zuanon.

Em relação ao acúmulo de sedi-mento e formação de ilhas, Zuanon dizque na montante do reservatório nãosão formadas ilhas, mas corredeiras. Aformação de ilhas, segundo ele, é co-mum na jusante de Porto Velho, queé quando o Madeira entra na planície

amazônica com uma velocidade me-nor. “Caso não haja, de fato, retençãode sedimentos, não deverá haver pro-blemas na jusante”, afirma.

Zuanon diz que, a montante, a ques-tão é que o nível da água será contro-lado pela demanda de energia. Issoquer dizer que a tradicional seca echeia não irá ocorrer com a mesma in-tensidade no trecho rio acima da bar-ragem, pois quando iniciar o períodode chuvas, parte da água ficará retidana barragem. No verão, a liberação daágua também deverá ser menor doque o volume natural, pois será pre-ciso reter água para fazer funcionaras turbinas. Ou seja, o ciclo será “acha-tado”: a amplitude (diferença de níveldo rio) das cheias e das secas será me-nor do que a que ocorre naturalmenteno rio Madeira, sem o represamento.Na jusante, o ciclo é parcialmente re-gulado pelo enchimento do rio Ama-zonas, que represa a boca do Madeirapor algum tempo.

IMPACTOS EM LARGA ESCALA

Mesmo com todos os avanços tecno-lógicos que serão utilizados na constru-ção de Jirau e Santo Antônio, para o pes-quisador da Coordenação de Ecologia(CPEC/INPA), Mario Cohn-Haft, quetrabalha com levantamento da biodi-versidade de aves na Amazônia há 20anos, só o fato de represarem o Madeirajá será um impacto enorme para afauna aquática e para o bioma amazô-nico, por exemplo, o de aves. “A obravai afetar toda uma escala macro am-biental. Não é algo isolado”, lembra.

Segundo ele, o empreendimentonão levará nenhuma espécie de ave àextinção, mas terá impacto. Isso por-que o Madeira é um dos rios mais bar-rentos do planeta e o quarto maiordo mundo. Ele diz que não há prece-dente para se saber o que acontecerácom o ecossistema. O pesquisador ex-plica que a várzea depende dos sedi-mentos que são depositados pelaságuas do rio, tornando os solos férteis,permitindo assim todas as atividadeshumanas, por exemplo, a agriculturae a pesca. "As aves também depen-dem do processo de depósito de sedi-mentos na várzea. O fenômeno criaambientes ideais para a ocorrência dedeterminadas espécies, ajudando, tam-bém na formação da vegetação a par-tir da decomposição de material orgâ-nico", ressalta.

Cohn-Haft informa que os sedi-mentos no Madeira são responsáveispela formação de ilhas e bancos deareia ao longo do rio e influenciam di-retamente na dinâmica destas ilhas.Primeiramente, forma-se o banco semvegetação. Então, sucessivamente,eles são colonizados por capins, gra-míneas e pequenos arbustos, árvoresmenores como as embaubeiras e, final-mente, por árvores de grande porte, cu-jas sementes são dispersadas pela cor-renteza e pelos próprios pássaros. Ouseja, enquanto a ponta das ilhas sofreo impacto da correnteza e tende a des-barrancar, a vegetação ajuda a diminuira velocidade do rio. Com isso, levamais sedimentação a outros pontos

II Espécies como a "Maria da praia" (na foto) podem sofrer com as obras

MARIO COHN-HAFT

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do trecho e, assim, aumentando o ta-manho das novas ilhas.

“À medida que a ilha acumula terra,ela tende a permanecer menos tempoembaixo da água. Quanto menostempo ficar debaixo da água maiorserá o porte da vegetação, o que acon-tecerá da montante para a jusante econtribuirá no processo de formaçãode terras altas à montante. Para cadavegetação há um conjunto de espéciesde pássaros. Elas só ocorrem na baciaamazônica e em rios de águas barren-tas, onde há a dinâmica de formaçãode ilhas. Ao todo, umas 20 espécies deaves serão afetadas e correm o risco dedesaparecer. Elas incluem pássarospouco conhecidos, tais como: João-da-canarana, Certhiaxis mustelina, ar-redio-de-peito-branco, Cranioleuca vul-pecula, guaracava-do-rio, Elaenia pel-zelni, alegrinho-do-rio, Serpophaga hy-poleuca, e o figuinha-amazônica, Co-nirostrum margaritae”, alerta.

O grande perigo, segundo o pes-quisador, é porque essas aves existemsomente nas ilhas do sistema Soli-mões-Amazonas-Madeira. “Sua popu-lação mundial é muito pequena”, en-fatiza. Outro problema apontado porCohn-Haft é em relação à distância

que as aves terão que percorrer entreuma ilha e outra para realizar cruza-mentos, uma vez que seu habitat naárea da represa será destruído. “Issoninguém sabe. O fato é que poderácausar endogamia (cruzamento entresujeitos da mesma família), enfraque-cendo as populações remanescentes egerando indivíduos sensíveis às mu-danças ambientais”, ressalta. Os danosambientais que a construção da usinaacarretará não param por aí. SegundoCohn-Haft, toda a família dos psita-cídeos também será afetada (papa-gaios, periquitos, araras, maracanãs,curicas e maritacasfia). Isso porquehá um fenômeno na região chamado“barreiros de papagaios”, no qual osbichos se juntam no barranco paracomerem terra no mesmo lugar anosapós anos e que desaparecerão com abarragem. “Hoje, não é bem entendidoporque eles comem barro no mesmolocal. Há teorias que defendem a pre-sença de substâncias no barro que au-xiliam na digestão de toxinas encon-tradas nos frutos verdes ingeridos pe-las aves”, explica, e questiona: quan-tos papagaios comem no local? Elesdependem somente desses lugares?Se não comerem morrerão intoxica-

dos? “São perguntas que ninguémsabe responder”, lamenta.

Não se sabe quantos animais real-mente serão afetados. A saída, segundoele, é não avançar com a obra antes depoder responder essas perguntas e ga-rantir a contenção dos danos ambien-tais, criar unidades de conservação,bem como preservar as existentes,além de tentar entender o fluxo migra-tório dos papagaios.

HIDROVIA NO MADEIRA

De acordo com o cientista, um dosobjetivos do governo federal é construirum complexo de hidroelétricas na re-gião. Dessa forma, será possível conver-ter o Madeira, que sempre foi um rioproblemático do ponto de vista da na-vegabilidade (corredeiras, raso, cheiode paus, barro), em uma hidrovia.

“A idéia é desenvolver o Sul e oCentro da Amazônia brasileira deforma a permitir o escoamento daprodução agrícola e madeireira. Uti-lizar os campos naturais amazônicospara o plantio de soja como se oscampos tivessem vocação divina paraproduzir grãos. Refazer o asfalto da BR-319. Desenvolver mineração em ser-ras próximas a Porto Velho, por exem-plo, na Três Irmãos e do Candoblé, asquais ainda não foram estudadas. Ouseja, estamos falando em um corredorque cortará a Amazônia ao meio eque será irreversível e irreparável”,indigna-se.

Para ilustrar a situação futura, Cohn-Haft cita como exemplo a invasão deespécies exóticas, por exemplo, os par-dais. Ele explica que quase não há par-dais na Amazônia. É possível encon-trar alguns na região do bairro do Par-que Dez, em Manaus, que há 20 anosestão lá e não aumentam e nem dimi-nuem. “A espécie é encontrada emtodas as grandes cidades do planeta.Se avançar com os planos atuais de de-senvolvimento na região, dentro decinco anos terá uma população cres-cente na cidade. É algo emblemáticode um tipo de mudança sobre a qualnão há controle”, finaliza. ||

II Segundo Mario Cohn-Haft, não se sabe quantos animais realmente serão afetados

com as hidroelétricas. Espera-se que os estudos minimizem os impactos

GRACE SOARES

AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 15

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A s principais instituições depesquisa do Estado do Ama-zonas receberam, nos últimos

três anos, R$ 17 milhões de investi-mentos em Ciência e Tecnologia(C&T) para pesquisas em saúde. É oque revelou o diagnóstico feito pelospesquisadores Luiz Carlos de LimaFerreira (Fundação de Medicina Tropi-cal do Amazonas) e Roberto Sena Ro-cha (Fundação Oswaldo Cruz). O tra-balho, intitulado “Perfil da ciência etecnologia em saúde no Estado doAmazonas e sua capacidade de aten-dimento às demandas de pesquisapara o SUS”, também produziu dadossobre o número de pesquisadores queatuam em pesquisa na área de saúde,as publicações em periódicos nacionaise internacionais e a produção de tesese dissertações sobre o tema.

O levantamento foi feito com pes-quisadores médicos, odontólogos, en-fermeiros, farmacêuticos-bioquímicose biólogos que atuam na Universi-dade Federal do Amazonas (Ufam),Universidade do Estado do Amazonas(UEA), Fundação de Medicina Tropi-cal do Amazonas (FMTAM), InstitutoNacional de Pesquisa da Amazônia(Inpa), Fundação Hemocentro doAmazonas (Hemoam), Fundação deDermatologia Tropical Alfredo daMatta (FUAM), Fundação OswaldoCruz (Fiocruz) e Centro UniversitárioNilton Lins (UniNilton Lins).

Ferreira observou que existem ou-tras instituições de menor porte, comimplantação mais recente no estado,mas que ainda estão se fixando no ce-nário de produção científica. “Rela-cionamos somente as principais enti-dades que têm feito pesquisa emsaúde”, diz o pesquisador.

A análise abrangeu 300 currículos demestres e doutores ligados aos cursosde Ciências de Alimentos (Ufam), Pa-tologia Tropical (Ufam), Doenças infec-ciosas e Tropicais (UEA/FMTAM), Pro-grama de Pós-graduação em Biotec-nologia (Ufam), Curso de Pós-gradua-ção da Fiocruz; Cursos de Odontolo-gia e Medicina (UniNilton Lins), e cru-

zou as informações com dados forne-cidos pelas instituições pesquisadas.

Os resultados mostram que o Ama-zonas tem 338 mestres e doutoresatuando nessas instituições de pes-quisa. Os médicos são maioria (139,sendo 50 doutores e 89 mestres), se-guidos dos farmacêuticos-bioquími-cos (64), biólogos (54), odontólogos(49) e enfermeiros (32).

As duas universidades públicas doestado concentram o maior númerode doutores na área de saúde. A Ufamtem 42 e a UEA, 38. A UniNilton Lins,que aparece em terceiro lugar, tem16 doutores. A FMTAM tem 15, a Fio-cruz 12.

Saúde:o que a ciência tem a ver com isso?

Pesquisadores da região traçam perfil da produção científica em saúde edescobrem quem produz conhecimento e em quais áreas

|| pesquisa

POR VALMIR LIMA

II Pesquisadores da área de saúde têm perfil analisado por projeto do PPSUS

|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||NEY ANDRADE

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A UEA tem mais mestres entre as ins-tituições analisadas no estudo. São 79profissionais contra 67 da Ufam. AUniNilton Lins concentra 45 mestrese a FMTAM, 43.

Produtividade. O estudo concluiu,a partir da análise dos currículos dospesquisadores, que instituições de en-sino como Ufam, UEA e UniNiltonLins têm baixa produtividade em pes-quisa, ou seja, produzem menos teses,dissertações e artigos científicos, emtermos proporcionais, do que as en-tidades voltadas para o atendimentoà saúde ou que se concentram nabusca de respostas para os problemasnesse campo enfrentados pela popu-lação local.

Neste sentido, o levantamento en-controu 106 teses e dissertações pro-duzidas entre 2005 e 2007. As únicas15 teses de doutorado são do cursode Biotecnologia da Ufam. A mesmainstituição produziu 40 dissertaçõesde mestrado no Programa de Pós-Gra-duação em Patologia Tropical. Os alu-nos do mestrado em Doenças Infeccio-sas da FMTAM concluíram 30 disser-tações em três anos.

Os pesquisadores amazonenses pu-blicaram 200 trabalhos em periódi-

cos indexados, ou seja, publicaçõesconsideradas como cientificamenterespaldadas ou confiáveis, do ponto devista de metodologia, critérios de aná-lise e de conclusões, ideais para rece-berem e difundirem os resultados daspesquisas, segundo Ferreira.

Aproximadamente 50% dos textospublicados (97 deles) são de pesquisasno campo das doenças transmissíveis.A saúde bucal aparece em seguida,com 26 trabalhos. Doenças não-trans-missíveis, alimentação e nutrição apa-recem, cada uma, com 20 publica-ções. As epidemiologias foram temasde 16 artigos publicados.

Avaliação. Na avaliação do pesqui-sador, o diagnóstico da situação da ca-pacidade instalada e da produção cien-tífica das instituições de pesquisas emsaúde do Amazonas é de fundamentalimportância para conhecer a vocaçãonatural destas entidades. “O objetivoprincipal é a implantação de projetosestratégicos que possam definir as prio-ridades do estado no quesito investi-mentos em ciência e tecnologia emsaúde via Programa PPSUS, do Minis-tério da Saúde”, afirmou Ferreira.

O trabalho visa, ainda, promover odesenvolvimento técnico-institucio-

nal da área de C&T em saúde para aprodução, identificação e utilizaçãode conhecimentos científicos e novastecnologias nos serviços públicos, demodo a melhorar a sua organização,a resolutividade e a qualidade destes.“Isto redundará em maior benefício àpopulação do Amazonas que passa acontar com um Sistema Único deSaúde (SUS) mais eficiente, dispondode novas tecnologias e processos, con-tribuindo, assim, para a melhoria dasua qualidade de vida”, explica o pes-quisador.

Ferreira sugere, no entanto, maiordiálogo entre a academia e os gesto-res públicos no sentido de induzirpesquisas para o SUS. “A integraçãoda academia com os gestores esta-dual e municipal, induzirá uma parti-cipação ativa na definição das priori-dades de pesquisa e engajamento naprodução, incorporação e difusão denovos conhecimentos científicos, queaperfeiçoem a prática cotidiana doscuidados e práticas de saúde”, res-salta ele.

Outra sugestão do pesquisador é aimplantação de uma escola de saúdepública e o aumento no desenvolvi-mento de pesquisas voltadas para osaspectos sociais. ||

II Ferreira sugere maior diálogo

entre a academia e os gestores

públicos no sentido de induzir

pesquisas para o SUS

ACERVO FAPEAM

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Pesquisadores da Ufam desenvolvem projeto que relaciona

os movimentos sociais e os interesses do estado na construção

de grandes obras na região

|| cartografia

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CC ada vez que se pensa na construção de grandes pro-jetos de infra-estrutura na Amazônia (portos, rodo-vias, hidrovias etc.), na perspectiva de que trarão

benefícios à sociedade, a grande questão que surge é atéque ponto os direitos dos povos tradicionais são levadosem consideração. Como forma de provocar a contraposiçãodesses direitos frente à retórica das “vantagens circunstan-ciais” que os projetos engendram, pesquisadores estãodesenvolvendo o projeto “Nova Cartografia Social da Ama-zônia”, cuja finalidade é dar maior visibilidade aos confli-tos entre os movimentos sociais e os interesses do estadona construção de obras de grande porte na região.

Coordenada pelo professor Dr. Alfredo Wagner Bernode Almeida, antropólogo, bolsista do Programa de Desen-volvimento Científico Regional (DCR), da Fundação de Am-paro à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), a pes-quisa é desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Gra-duação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA), daUniversidade Federal do Amazonas (Ufam). Além da Fapeam,a Fundação Ford também apóia a pesquisa. A cartografiaé um desdobramento do projeto “Territorialização, Movi-mentos Sociais e Conflitos”, coordenado pelo mesmogrupo de pesquisa.

A nova cartografia não se concentra somente em identi-ficar os conflitos na Amazônia. O que os pesquisadorespropõem é uma análise contínua e disciplinada da percep-ção dos direitos (especialmente dos agentes sociais atin-gidos frente aos interesses dos grandes projetos de infra-estrutura, embasados por supostos interesses coletivos), quepermite a construção de uma ação pedagógica-sistemáticacapaz de fortalecer uma nova consciência ambiental.

“É fazer com que o problema ambiental se torne umaquestão social, possibilitando uma mobilização local conti-nuada, que dinamize os movimentos e consolide os meca-nismos de regulação e de intervenção do Estado", explicaAlmeida.

A visibilidade desse campo de batalha se dá por meiode mapas, não como os historicamente produzidos, masenquanto estratégia para dar maior visibilidade a experiên-cias que são usualmente esquecidas ou mantidas sobuma forma de invisibilidade social - no contexto geográ-fico, inclusive.

Conjuntamente, pesquisadores e agentes sociais - que-bradeiras de coco babaçu, indígenas, organizações demulheres, afro-descendentes - constroem esses mapas apartir da própria maneira como os povos tradicionais daAmazônia e movimentos sociais querem ser cartografados.“Num momento em que prevalece a ênfase nos 'grandesprojetos' e em que são alardeadas as vantagens do cha-mado agronegócios e do mercado de ‘commodities’”, ar-gumenta Almeida.

Os mapas, impressos em uma série de fascículos, demons-tram o que estes povos consideram relevante para retratarsua situação social, a região e a interação com o meio am-biente, superando aspectos geográficos. Isso quer dizer que,por exemplo, ao mesmo tempo em que indicam as princi-pais vias de acesso à comunidade em questão, localizamcentros de ubanda e lojas especializadas em comercializarartefatos religiosos. O aspecto subjetivo redimensiona omapa e se sobrepõe à espacialidade.

Já foram produzidos vinte e quatro mapas de cartografiasocial. O projeto também publicou quatro livros sobre con-flitos específicos, entre eles “Terras Tradicionalmente Ocu-padas” e “Leis do Babaçu Livre”, de Almeida e Joaquim Shi-raishi Neto.

Mapas de Identidade

De acordo com Almeida, o projeto analisa as diferentes es-tratégias dos movimentos sociais amazônicos acionaremcritérios étnicos, de gênero e de consciência ecológicacomo fatores de mobilização política na defesa de seus in-teresses perante o Estado.

Para construir esta nova cartografia, os pesquisadores en-tenderam ser importante conhecer e compreender as trans-formações das últimas três décadas ocorridas no seio domovimento social na área rural da Amazônia e que se afirmacom força nesse início de século, tendo na “identidade” seuprincipal referencial. Nesse período, a mobilização socialdeixou de ser individualizada e passou a ser coletiva, con-solidando-se fora dos marcos tradicionais do controle clien-telístico e tendo nos Sindicatos dos Trabalhadores Ruraisuma de suas expressões maiores.

Para Almeida, as novas formas de associação e luta esca-pam do sentido estrito de uma organização sindical, incor-porando fatores étnicos, critérios de solidariedade e de gê-nero que concorrem para relativizar divisões político admi-nistrativas. Isto numa região de mais de cinco milhões de qui-lômetros quadrados que constituem a Amazônia Brasileira.

Para os pesquisadores, foi o próprio Estado que forçoua organização social, dando condições favoráveis à aglu-tinação de interesses específicos de grupos sociais dife-renciados. Nas últimas duas décadas, com a construçãode barragens, rodovias, portos, aeroportos, ferrovias,usinas de mineração e, mais recentemente, gasodutos,os conflitos entre Estado, que usa o poder nivelador parater suas ações acatadas como ordens, e os povos amazô-nicos se agravaram.

“Em outras palavras, pode-se dizer que as políticasgovernamentais têm propiciado elementos básicos à forma-

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ção de composições e de vínculos solidários, que passa-ram a nomear os novos agrupamentos, como: ‘atingidos porbarragens’, ‘atingidos por base espacial’, ‘remanejados’, ‘des-locados’. O que parece importar é que categorias de circuns-tância (atingidos) surgem combinadas com outras perma-nentes, como ‘indígenas’ e ‘seringueiro’”, diz Almeida.

Novos rumos

Entre pesquisadores e representantes dos movimentossociais que participam do projeto, a expectativa é que a carto-grafia subsidie políticas públicas que atendam às deman-das dos povos. De grosso modo, pode-se dizer que toda apesquisa poderá ser utilizada nas diversas esferas dopoder público, subsidiando ações que disciplinem, porexemplo, os crimes ambientais, fazendo com que perícias,pareceres e laudos científicos se tornem subprodutos doprocesso de investigação.

Essa instrumentalização do poder público será cobradapelo movimento social, de acordo com membros de orga-nizações comunitárias que estavam presentes no lançamentode cinco fascículos sobre o processo de ocupação de terrasna periferia de Manaus.

Maria de Jesus dos Santos Carvalho, vice-presidenteda Associação dos Moradores e Amigos de Campos Sa-les (AMACS), disse que a comunidade vai usar a carto-grafia para reivindicar melhorias para o bairro. “Quem sabedaqui a alguns anos não vamos ver todas as nossas ne-cessidades atendidas, porque hoje não temos nada”,diz ela.

As mulheres da AMACS contribuíram na produção dofascículo “Fé e Esperança: Mulheres Guerreiras de CamposSales”, da série Movimentos Sociais e Conflitos nas Cidadesda Amazônia, seguindo a fórmula de unir os pesquisado-res e as lideranças comunitárias, promovendo uma trocacontínua de conhecimento. “Nós aprendemos com vocêse vocês aprenderam conosco”, disse Carvalho aos pesqui-sadores, durante o lançamento dos fascículos.

Em Manaus também foram produzidos outros quatrofascículos: “Ontem um dono, hoje milhares: A História doBairro Parque São Pedro”, “Famílias da Comunidade ParqueRiachuelo I”, “Bairro Parque Riachuelo II: História, Con-quista e Reivindicações”, “Histórias de Lutas e Conquistasdos Moradores do Bairro Jesus me Deu”.

De um modo geral, os mapas mostram a organizaçãocomunitária no bairro, identificando desde tabernas ebares até as áreas ocupadas por igrejas, das mais diversasreligiões. Também estão demonstrados os conflitos, muitosmotivados, por exemplo, pelo aumento dos focos de malárianas comunidades.

Todas as cartografias também trazem as reivindicaçõesdos moradores, já localizadas nos mapas.

Correções históricas

A cartografia também está apresentando novas leiturasacerca da formação social da Amazônia, especialmentesobre a presença de negros e suas práticas religiosas naregião, omitida ou subdimensionada.

A Coordenação Nacional de Articulação das Comunida-des Negras Rurais Quilombolas (Conaq) estima que existamcerca de mil comunidades quilombolas na Amazônia, sendoa maioria no Maranhão - 535 comunidades. Números de umapresença que boa parte dos brasileiros ignora.

Alguns autores registraram e documentaram a introdu-ção de escravos na Amazônia, inclusive sua relação com ospovos indígenas, que evidenciam a força de trabalho escravona região. A chegada dos negros se deu por volta de 1754,com a criação da Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão.Coincidentemente, o estopim desse processo se dá nomesmo período da abolição indígena.

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II A expectativa é que a cartografia subsidie políticas públi-

cas que atendam às demandas dos povos

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A chegada dos escravos se dava principalmente pelos por-tos de São Luís e Turiaçu, no Maranhão, e Belém, no Pará,vindos principalmente da Guiné, Angola, Congo e Moçam-bique. Ao longo de todo o período colonial, aproximadamente50 mil escravos teriam entrado na Amazônia. Trabalharampara os jesuítas, para militares em áreas de fronteira – o queos levou para a parte ocidental do território – e para gran-des empreendimentos da coroa portuguesa e de fazendei-ros brasileiros, como plantações de cana de açúcar, arroz,mineração de ouro e pecuária.

Com o fim da escravidão, os quilombos se transforma-ram em núcleos agrícolas e extrativistas, praticamenteisolados da sociedade nacional.

Debate

A Nova Cartografia Social da Amazônia reuniu os pesqui-sadores e representantes dos financiadores do projeto, emManaus, durante o 1º seminário “Territorialização, Movimen-tos Sociais e Conflitos”, em abril, na Universidade Federal

do Amazonas. Participaram pesquisadores da África, GuianaFrancesa, Alemanha, além de vinte e dois pesquisadoresdas universidades federais do Rio de Janeiro, Espírito Santoe Bahia; e das universidades estaduais de Pernambuco, Ma-ranhão, Pará, Bahia e Acre, com participação da ComissãoPró-Índio (CPI) do Acre.

Também participaram do seminário líderes de movimen-tos sociais, vindos de diversas regiões, que contribuíramcom a construção da cartografia por meio da discussão daproblemática dos conflitos.

Para José Sérgio Leite Lopes, sociólogo, o projeto colocano mapa as reivindicações sociais existentes na Amazôniae demonstra como a sociedade está se posicionando frenteàs políticas públicas expansionistas.

“As ações hoje estão embasadas por um discurso ambien-talista com a linguagem do politicamente correto. Entretanto,a retórica não se confirma na prática. Vemos a sociedadese insurgir e tentar controlar a velocidade dessa exploração,inclusive como uma característica própria da sociedadedo capital”, avalia.

O pesquisador Jean Michel AuPount, doutor em engenha-ria do planejamento, alertou para a dinâmica do discursoambientalista, nem sempre voltado aos interesses dasociedade ou à proteção da biodiversidade, tendo comoreferência a história recente da Guiana Francesa – para ondea cartografia começa a ser estendida.

“Ainda na década de 70, a França encontrou nas reser-vas ambientais (ou florestais) uma forma de regular a posseda terra e impedir a organização de populações naturais daGuiana”, explica, referindo-se ao domínio praticado pelaFrança na colônia latino americana.

A Guiana Francesa é uma das três colônias de paíseseuropeus na América Latina. A Inglaterra mantém domíniosobre a Guiana; e Holanda, a Suriname.

Na afirmação de Jean Michel, repercute a idéia de que aspopulações amazônicas estão vivendo situações comunsde conflitos de poder, estruturalmente parecidas, mesmo quesejam em lugares diferentes e tenham culturas distintas.

Para a Fundação Ford, é justamente a visibilidade dessesconflitos que torna a Nova Cartografia Social da Amazôniaimportante para a nossa época. “Ela contribui conceitual-mente para o debate e dá possibilidades inúmeras de serutilizada para instrumentalizar as políticas públicas doEstado, para que dêem conta da diversidade amazônica”,defendeu Aurélio Viana, antropólogo, da Fundação Ford,concordando com a vice-presidente da AMACS. ||||

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II Jean AuPount alerta para a dinâmica do discurso ambien-

talista, nem sempre voltado aos interesses da sociedade ou à

proteção da biodiversidade

AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 21

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22 I N.º 9, ABRIL DE 2008

A Universidade do Estado doAmazonas (UEA), ao longodos últimos anos, vem ob-

tendo significativos avanços na forma-ção de recursos humanos nas mais di-versas áreas do conhecimento. As par-cerias firmadas entre a universidade einstituições locais e de outros Estadosdo país têm sido fundamentais nesseprocesso.

O trabalho realizado em conjuntocom instituições, como a Coordena-ção de Aperfeiçoamento de Pessoal deNível Superior (Capes), a Financiado-ra de Estudos e Projetos (Finep), a Su-perintendência da Zona Franca deManaus (Suframa), a Fundação deAmparo à Pesquisa do Estado do Ama-zonas (Fapeam) e a Secretaria de Es-tado de Ciência e Tecnologia (SECT),permitiu que a UEA implantasse,desde sua criação (em 2001), 52 cur-sos em nível de especialização, bene-ficiando alunos de todo o estado.

Somente no ano passado, foramlançados, em decorrência de açõesconjuntas com outros atores, os cur-sos de especialização em Gestão eTecnologias do Gás Natural; GestãoEscolar; Engenharia de Segurança doTrabalho; Gestão Ambiental; Enfer-magem Cardiovascular; Gestão emRecursos Produtivos e em Gerontolo-gia e Saúde do Idoso. Neste ano, de-vem ser oferecidos mais 13 cursos depós-graduação, incluindo o mestradoe doutorado em Engenharia de Produ-ção em parceria com a UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (UFRJ) e,com a Universidade de São Paulo(USP), cursos de Geografia Física eGeografia Humana.

Os avanços da Pós-Graduação na UEA

Desde sua criação, a Universidade do Estado do Amazonas implantou 52 cursos de especialização

|| qualificação

II Entre os frutos de parcerias, encontra-se o doutorado em Doenças

Tropicais e Infecciosas, oferecido em conjunto com a SUFRAMA

FOTOS: ASCOM / UEA

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AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 23

Dos resultados alcançados a partirde parcerias, pode-se destacar ainda aimplantação do doutorado em Doen-ças Tropicais e Infecciosas – o primeirodo nível na área de medicina no Ama-zonas – em parceria com a SUFRAMA,da Pós-Graduação em Clima e Am-biente, inédito no país e resultado deconvênio com o Instituto Nacionalde Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Porém, as ações conjuntas não se res-tringem a entidades locais. Institui-ções de outros estados também estãocontribuindo para elevar o nível dequalificação de pessoal. Prova disso éa parceria com a Universidade de Per-nambuco (UFPE), em 2007, que pos-sibilitou a implantação pela UEA docurso de doutorado em EngenhariaElétrica e, ainda, a firmada com a Uni-camp, que possibilitou a implantaçãodos cursos de pós-graduação em Odon-tologia e Clínica Odontológica.

Investindo no interior. Há que sedestacar, também, o esforço da insti-tuição em consolidar a política deformação de capital intelectual nosmunicípios do interior. Nesse sentido,foram implantados cursos de especia-lização em Educação Ambiental (Parin-tins, Tefé, Tabatinga e Itacoatiara),Metodologia da Língua Inglesa (Parin-tins e Tefé), Conservação de RecursosNaturais (Tefé e Tabatinga) e Ensino daMatemática na Educação Básica; e noEnsino Superior (Tabatinga e Parin-tins), Especialização em Educação Ma-temática.

Apesar das conquistas, a tendênciaé que a instituição amplie o seu raiode ação nos próximos anos nos demaismunicípios. Por meio do ProgramaAcelera Amazonas, a SECT prevê a im-plantação, na UEA, até 2012, de 20mestrados e 20 doutorados. Os cursosdeverão ser voltados para a temáticaregional e devem contemplar as áreas

de biotecnologia, engenharias elé-trica/ eletrônica, mecânica, meca-trônica, educação, geografias física ehumana, antropologia, arqueologia,lingüística, direito ambiental, entreoutros. O programa prevê parceriasacadêmicas com a USP, UFRJ, Uni-versidade Federal Fluminense (UFF),Unicamp, UFPE e Universidade deBrasília (UnB), além de institucionaiscom a Universidade Federal do Ama-zonas (UFAM), Inpa, Centro Federalde Educação Tecnológica (Cefet),Capes, Conselho Nacional de Desen-volvimento Científico e Tecnológico(CNPq) e Suframa. ||

II A UEA conta como uma de suas frentes de ação a formação de capital intelectual no interior, aumentando a qualidade de

vida regional

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ILU

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Dom Juan D A A M A Z Ô N I A

Considerado um conquistador à moda antiga, que entrega presentes a sua amada, o boto mostra-se um importante aliado no

tratamento de crianças com doenças do sangue

|| projeto boto

POR LISÂNGELA COSTA

24 I N.º 9, ABRIL DE 2008

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AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 25

SSem dúvida, a história doboto encantador é uma dasmais conhecidas lendas do

imaginário amazônico e ainda deixamuitos pais de jovens donzelas de“orelha em pé” em dia de festa e (porque não dizer) com certa razão.

Pesquisa divulgada recentementecomprova que a lenda tem um fundode verdade – ao menos no que se refe-re ao aspecto de sedução. O estudorevela que o boto-vermelho é, sim,uma espécie de Don Juan da baciaAmazônica. Porém, o alvo de suas in-vestidas não são as belas caboclas,com suas “marias chiquinhas” na ca-beça e vestidos de chita, mas, eviden-temente, as formosas fêmeas de sua es-pécie.

A autoria do estudo é dos pesquisa-dores Vera da Silva, do Instituto Nacio-nal de Pesquisas da Amazônia (Inpa),e Tony Martin, do Natural Environ-mental Research Council (NERC),como parte dos resultados do ProjetoBoto, implantado desde 1993 na Re-serva de Desenvolvimento SustentávelMamirauá (RDSM) – localizada no mu-nicípio de Tefé (distante 523 quilô-metros de Manaus) – e dedicado aoestudo dos vários aspectos da biologiae comportamento de duas espécies degolfinhos de água doce: o boto-verme-lho (Inia geoffrensis) e o boto-tucuxi (So-talia fluviatilis).

Eles examinaram durante três anoso comportamento social de seis milgrupos de botos-vermelhos. Constata-ram, a partir de observações, que, emmais de 200 dos grupos, ao menosum dos indivíduos adota como estra-tégia de sedução uma arma bastanteconhecida: cortejam as fêmeas exi-bindo-se com capim, pedaços de paus,galhos de árvores e, inclusive, blocosde argila tirados do fundo do rio. Essecomportamento foi sempre observado

em machos adultos em presença de fê-meas no período de reprodução.

A pesquisa revela, ainda, alto índicede agressividade entre os animais quecostumam cortejar as fêmeas em rela-ção aos que não desenvolveram essehábito, revelando uma evidente de-monstração de comportamento só-cio-sexual”. “É como se eles (os botos)estivessem querendo mostrar quemrealmente é o mais forte para as fê-meas”, comenta Silva.

O resultado do estudo, que indica ocomportamento cortês dos golfinhos deágua doce no trato com as fêmeas, é iné-dito entre cetáceos (golfinhos e ba-leias). Até então, só havia comprova-ção científica de lisonjeio em mamífe-ros com presentinhos entre chipanzése humanos. Outro dado importante éque esse é o segundo caso de compor-tamento revelado entre cetáceos (emque determinadas práticas são transmi-tidas de geração em geração). O pri-meiro deles ocorre em uma espécie degolfinho marinho na Austrália que usaesponja do mar nos bicos quando es-tão em busca de peixe na areia.

A descoberta confirma a vanguardado Inpa quanto aos estudos sobre asduas espécies de botos da Amazônia.Segundo a pesquisadora, a instituiçãoé responsável pela maior parte da pro-dução do conhecimento científico e doque foi lançado em referenciais bi-bliográficos sobre esses animais. Ela falatambém sobre as dificuldades de seestudar animais aquáticos porque pas-sam 99% do tempo submersos e em águaturva. “Vamos registrando flagrantes ea partir daí sistematizamos as informa-ções, tomando como base uma referidametodologia científica”, ressalta Silva.

Apesar dos avanços significativosquanto ao conhecimento desses ani-mais, outras investigações estão sendoviabilizadas pelos cientistas do ProjetoBoto. Uma delas pretende verificar a re-lação de parentesco dos indivíduos dapopulação de botos monitorada peloprojeto. Outra linha de pesquisa pre-tende comprovar que os machos maio-res e mais robustos – e que praticamcom maior freqüência o comporta-mento de cortejar as fêmeas – têmtido maior número de filhoes em rela-

Era uma vez um boto vermelho que, em dias de festa, sai das águas e transforma-

se em um bonito e elegante rapaz. Sempre usando chapéu para esconder as narinas

que se encontram no topo de sua cabeça, o rapaz conquista e encanta jovens bonitas

e antes do amanhecer, retorna aos rios e torna-se boto novamente.

II A bototerapia segue o mesmo conceito de terapia com outros animais e funciona

como aporte no tratamento de enfermidades

RICARDO OLIVEIRA

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26 I N.º 9, ABRIL DE 2008

ção a outros considerados mais franzi-nos. “Para comprovar esses dados, fir-mamos parceria com várias institui-ções nacionais e internacionais e coma Universidade Federal do Amazonas(Ufam) para elaboração de pesquisagenética”, adianta a pesquisadora.

Riscos à espécie. Porém, nem tudosão flores para os golfinhos da Amazô-nia. Apesar dos alertas feitos pelos cien-tistas do Inpa que atuam na ReservaMamirauá, a matança indiscriminadade botos para uso da carne como iscana pesca da piracatinga (Calophysusmacropterus), cuja produção é toda ex-portada para a Colômbia, teve signifi-cativo aumento na última década.

Dados recentes do Projeto Boto in-dicam que a pesca predatória dessesanimais ocasionou a redução de 10%da população de indivíduos que vi-vem na reserva e em seu entorno.Conforme Silva, a situação já foi de-nunciada, contudo nada de concretofoi feito. Ao contrário, a pesca preda-tória está se intensificando, principal-mente, em municípios como Tefé,Fonte Boa e Tabatinga. “Como essamatança é indiscriminada, é possívelque se capturem fêmeas grávidas e jo-vens, reduzindo ainda mais a possibi-lidade de aumento do contingentepopulacional”, destaca Silva, ressal-tando que essa espécie tem um papel

importante na manutenção do ecos-sistema aquático da região, bem comopara a cultura local.

Somente em 2006, foram exporta-das mais de 10 toneladas de piracatingapara Colômbia. Em média, o quilo dopeixe está sendo vendido a R$ 1,50 pe-los pescadores. Com um boto adulto,é possível pegar cerca de 350 quilos depiracatinga, peixe que está se tornandoimportante fonte de renda em muni-cípios do interior.

Terapia para a vida. Para a sortedeles, nem todos vêem os botos comomeros instrumentos de enriqueci-mento. Há pessoas que descobriramnesses animais uma fonte de energia,capaz de aumentar a auto-estima eainda favorecer a sociabilidade. É oque acontece com crianças e adoles-centes assistidas pelo Grupo Raio deSol, Organização da Sociedade Civil deInteresse Público (OSCIP), criada coma finalidade de prestar assistência, decaráter voluntário, a crianças portado-ras de doenças do sangue e de outrostipos de câncer.

Eles estão participando de uma expe-riência pioneira no Estado, que passoua ser conhecida como “bototerapia”.Implantada pelo especialista em terapiamanual, Igor Simões, a técnica segue omesmo conceito de terapia com animaise visa funcionar como aporte no trata-

mento de enfermidades. “O objetivo éatuar na promoção do bem-estar des-sas crianças”, explica Simões.

As aventuras terapêuticas (como sãochamados os encontros) ocorrem umavez a cada mês. Cerca de 10 a 15 crian-ças e adolescentes (acompanhadas porseus responsáveis) participam de cadaencontro. Entre 30 minutos e umahora, as crianças nadam, brincam e sedivertem com os golfinhos, dandomostras de que é possível conviverem harmonia com a natureza. “O tra-balho é essencialmente lúdico, inclu-sive, chegamos a usar música para tor-nar o ambiente mais agradável”, frisao especialista, recordando que antes deiniciar o trabalho propriamente ditocom as crianças, fez uma experiênciade seis meses no local, nadando todosos fins de semana com os animais, natentativa de estimular a interação comos mesmos.

Apesar de não existir comprovaçãocientífica sobre a eficácia da bototera-pia, Simões está produzindo a mono-grafia de conclusão do curso de Tera-pia com base na experiência – a coor-denadora do Grupo Raio de Sol e pe-diatra da Fundação de Hematologia eHemoterapia do Amazonas (He-moam), Socorro Sampaio, diz que aprática está contribuindo satisfatoria-mente com o tratamento dos pacien-tes, que sofrem bastante com os efei-tos da doença. “Os tratamentos envol-vendo doenças do sangue são sempremuito difíceis. Depois que começa-ram a participar das aventuras terapêu-ticas, as crianças passaram a se ali-mentar melhor, ficar mais alegres e,principalmente, melhoraram a auto-estima”, afirma a coordenadora.

Os resultados conquistados com aexperiência estão motivando os res-ponsáveis a ampliar o número decrianças atendidas. Para tanto, IgorSimões diz que planeja buscar finan-ciamento que possibilite subsidiar otrabalho e desenvolver pesquisas so-bre o tema. “A idéia é adquirir um flu-tuante-clínica e tornar, futuramente,essa prática uma técnica terapêutica defato”, finaliza o especialista. ||

II O grupo de Vera Silva, do INPA, é responsável pela maior parte dos referenciais

bibliográficos gerados sobre os botos da Amazônia

PROJETO BOTO

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D ois peixes-bois (Trichechus inun-guis) que viviam em cativeiro as-

sistido no Instituto Nacional de Pes-quisas da Amazônia (Inpa) foram rein-troduzidos na natureza no início domês de março. Eles foram soltos na re-gião da ZF-2, pelo rio Cuieiras, quebanha a região, a 60 km ao norte deManaus.

Os dois animais, chamados pelospesquisadores de Xibó e Puru, estavamno instituto desde 1999 e 1995, res-pectivamente, e chegaram ainda filho-tes. Eles permaneceram nos tanquesdo Inpa porque estavam, na época, emsituação crítica de saúde. A estada emcativeiro possibilitou que cientistas ana-lisassem o comportamento dos ani-mais. Ao retornaram ao habitat natu-ral, os peixes-bois passaram a ser mo-nitorados — uma tentativa dos pesqui-sadores de manter em avaliação per-manente esses mamíferos aquáticos.

Uma equipe formada por pesquisado-res do Inpa, do Instituto de PesquisasEcológicas (IPÊ) e da Associação Amigosdo Peixe-boi (Ampa) acompanhou, naReserva do Cuieiras, a soltura dos ma-míferos. De acordo com a pesquisadorado Inpa, Vera Silva, esse foi apenas o iní-cio de um longo trabalho, pois está pre-vista a soltura de 15 indivíduos damesma espécie. “O projeto ocorreu den-tro das expectativas do Inpa. Não tive-mos dificuldade em executar o plane-jado”, disse Vera. “Mais de 400 pessoasacompanharam a atividade. Os animaiscarregam agora um cinto com rádio-transmissor e foram marcados com onome ‘Inpa’, com nitrogênio líquido, emseu flanco”, completou.

De acordo com a pesquisadora, Xibóe Puru são dois dos 15 animais que ainstituição pretende reintroduzir na na-tureza até o fim de 2008. E assim comojá vem acontecendo com os peixes-boissoltos no Cuieiras, os demais tambémreceberão localizadores e serão marca-dos para posterior rastreamento. “Issovai depender de financiamento. Nessaprimeira atividade programada, o IPÊ,a Petrobras e o Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico e Tecno-lógico (CNPq) foram financiadores”,explicou ela, indicando que para no-vas atividades do mesmo porte serãonecessárias mais verbas de convênios.

Antes de ganhar a liberdade defini-tiva na bacia amazônica, os mamíferospermaneceram durante uma semanaem tanques-redes no alto do Cuieiraspara aclimatação (processo de adapta-ção) às águas do rio Negro — maisquentes que as águas do rio Solimões.

Referência. O Inpa realiza trabalhoscom o peixe-boi há 33 anos. Hoje, oscientistas que trabalham na área dabiologia aquática de água doce do ór-gão federal dominam a técnica de re-produção em cativeiro do mamífero,que está na lista da fauna silvestreamazônica ameaçada de extinção.

As pesquisas realizadas no Inpa jápossibilitaram, inclusive, o nascimentode cinco filhotes de peixes-bois em ca-tiveiro. Atualmente, o laboratório pos-sui 33 animais que deverão ser libertosnos próximos anos.

A expectativa é de que eles sejammonitorados tal como já vem ocor-rendo com Xibó e Puru. ||

Xibó e Puru retornam ao seu habitat

Projeto Peixe-boi, do Inpa consegue feito inédito devolvendo ao meioambiente dois exemplares do animal que corre perigo de extinção

reintrodução ||A

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POR RENAN ALBUQUERQUE

AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 27

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OAmazonas é o segundo maiorprodutor nacional terrestre depetróleo e o terceiro em gás

natural. Por sua vasta biodiversidadee por possuir a maior bacia hidrográ-fica do mundo e a mais extensa redefluvial, com 80 km de rios navegáveis,um derramamento de petróleo naregião seria fatal para centenas de ani-mais. Vários trabalhos desenvolvidospelo Instituto Nacional de Pesquisasda Amazônia (INPA) vêm tentandoencontrar formas de se antecipar ao im-pacto ambiental por meio de ferra-mentas de monitoramento.

Entre as pesquisas realizadas, des-taca-se a dissertação de mestrado “Ex-pressão Gênica Diferencial em Tamba-quis, Colossoma macropomum, expos-tos ao petróleo e a hipoxia”. O traba-lho foi feito por Luciano Ricardo BragaPinheiro, sob a coordenação da cien-tista do Laboratório de Ecofisiologia eEvolução Molecular (LEEM/INPA),Vera Val, e co-orientação do professorda UniNilton Lins, Sérgio Nozawa,doutor em Química pela Universidadede São Paulo (USP).

Durante a pesquisa, que recebeu re-cursos da Fundação de Amparo à Pes-quisa do Estado do Amazonas (Fapeam)e foi desenvolvida no âmbito do projetoPiatam (Potenciais Impactos e RiscosAmbientais do Transporte de Gás Natu-ral, Petróleo e Derivados na AmazôniaOcidental), o pesquisador identificoucinco novos genes que funcionam comopossíveis marcadores de contaminaçãoambiental por petróleo, além de me-tais pesados como cobre e chumbo.

Genes encontrados no tambaqui podem ser usados

como bioindicadores

Cientistas identificam

cinco novos genes

do peixe que

funcionam como

possíveis marcadores

de contaminação

ambiental por

petróleo, além de

metais pesados como

cobre e chumbo

|| avaliação de impacto

FOTOS: GRACE SOARES

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Sérgio Nozawa enfatiza que a pes-quisa é apenas o primeiro passo parao desenvolvimento de um kit paramonitoramento ambiental. Isso por-que, apesar da conclusão do traba-lho de Luciano, as pesquisas paraidentificação e expressão das proteí-nas, que são codificadas por esses ge-nes, continuam sendo realizadas noslaboratórios do INPA em colabora-ção com a UniNilton Lins.

Porque o tambaqui. Luciano ex-plica que o tambaqui foi escolhido de-vido a sua presença em diversos am-bientes da Bacia Amazônica, por exem-plo, em águas brancas e pretas, alémde ser uma espécie bastante estudadado ponto de vista da sensibilidade aosefeitos do óleo cru. Ele diz também queo que influenciou na escolha do peixefoi porque o animal tende a ter um au-mento do lábio e a busca da lâminad’água em condições de baixa oxige-nação (hipoxia). “Esta peculiaridadeprovoca o maior contato do indiví-duo com óleo em casos de derrama-mento”, afirma.

Em relação aos genes, Luciano explicaque nem todos os genes presentes nocódigo genético humano são expressosem todas as células ao mesmo tempo.Isso acontece também com o tambaquie com todos os organismos eucariotos(animais, plantas, fungos e protozoá-rios). Ele conta que diferentes células

de diferentes sistemas possuem meca-nismos que ativam os produtos trans-critos (DNA que é convertido em RNAmensageiro) de acordo com sua fun-ção. Dessa forma, o RNA funcionacomo uma ponte entre os sistemas. Ouseja, em uma cidade existem váriaszonas (sistemas). Para cada zona, sãodesignados carteiros (mensageiros)para entrega dos documentos (mensa-gens) nas residências (células).

“Uma situação de estresse como,por exemplo, exposição a produtoscontaminantes ou baixa oxigenação,podem provocar a ativação de genes,que em condições normais não se-riam transcritos (ativados). A estesprocessos dá-se o nome expressão gê-nica diferencial. É o que ocorre como tambaqui”, diz e acrescenta que apartir deste princípio, utilizando-seum marcador molecular (técnica ge-nética), foi possível identificar os ge-nes expressos na condição de estressequando expostos ao óleo cru. Ele contaque as seqüências gênicas foram ob-tidas a partir de células do fígado doanimal por meio de uma técnica uti-lizada para extração do cDNA, que éo mRNA após conversão em DNAcomplementar.

Alerta ambiental. Luciano pon-tua que as concentrações de óleo noambiente não dependem exclusiva-mente de uma questão isolada, porexemplo, um derramamento de petró-leo. Segundo ele, resíduos domésti-cos, escapes de embarcações e lavagemde tanques de combustíveis são ques-

tões que acompanham o crescimentodas cidades na sociedade moderna.

“Até que ponto estas questões in-terferem ou podem chegar a interfe-rir na qualidade do ambiente?”, ques-tiona Luciano, e acrescenta que o mar-cador utilizado na pesquisa pode serútil para identificar diversas seqüên-cias expressas de produtos transcri-tos (EST, sigla em inglês) para o mo-nitoramento do ambiente. (LM) ||

II Vera Val, orientadora da pesquisa de

Luciano, coordena os estudos no Labora-

tório de Ecofisiologia

AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 29

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|| capa

mas o homem se inspira na naturezamais do que imagina. Sabe que osgrandes heróis e as grandes históriasnascem de, igualmente, grandes inicia-tivas, que, à custa de muita dedicaçãoe empenho, resultam em mudanças naordem vigente. É nessa perspectivaque foi germinada a semente dofomento à C&T no Amazonas. Contamaqueles que fizeram e estudaram osurgimento da Fapeam que a sua his-tória começou num auditório onde,hoje, localiza-se a Secretaria de Estadode Ciência e Tecnologia (Sect). Na salaprincipal – e única existente – ocorriamtodas as discussões, reflexões, plane-jamentos. Assim, aos poucos, tomavacorpo e forma essa importante enti-dade considerada por muitos, na atua-lidade, como um “divisor de águas” noquesito fomento à ciência e tecnolo-gia (C&T) no estado.

Sua gênese está atrelada e amparadana própria Constituição, que em 1988já facultava aos estados o direito de des-tinar parcela de sua receita orçamen-tária a entidades públicas de fomento,

ao ensino e à pesquisa científica etecnológica. Era o primeiro passo,a primeira conquista, mas ainda eralonga a jornada que separava sonho derealidade. A articulação da comuni-dade científica local e nacional e ocompromisso assumido pelo governa-dor Eduardo Braga, logo que assumiuseu 1.º mandato, em implantar o órgãoresultaram na formação da primeiraequipe de trabalho da Fapeam, queiniciou as atividades, efetivamente, emmarço de 2003.

Todos os agentes fundadores partici-pantes do processo referem-se a esseperíodo como uma fase em que a cria-tividade e a vontade de fazer acontecertornavam superável o muito trabalho aser desempenhado por poucas pessoas.

Cinco anos mais tarde, a instituiçãoavalia suas ações e faz um balanço dosresultados atingidos, mostrando-seconfiante nos projetos construídos e nasbases consolidadas e, acima de tudo,satisfeita com a perspectiva de estarcontribuindo, de fato, com o desenvol-vimento da região.

Ele pode não perceber,

POR

ELIZABETH CAVALCANTE

LISÂNGELA COSTA

COLABORAÇÃO

VALMIR LIMA

GRACE SOARES

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PANORAMA

Do grego pán, todo, e hórama, vista,a palavra “panorama” não poderia sermelhor empregada do que no amplo edetalhado levantamento feito em diver-sos setores da Fundação de Amparo àPesquisa do Amazonas (Fapeam), como objetivo de explicitar os números quefornecem uma visão completa das ati-vidades e da movimentação de recur-sos da FAP desde 2003, o ano de suacriação.

Em fevereiro de 2008, durante a reu-nião do Conselho Superior da Fapeam, ins-tância deliberativa que aprova os progra-mas e a formulação das políticas públicaspara a área de C&T no Estado, o diretor-presidente da entidade, Odenildo TeixeiraSena, apresentou aos conselheiros o pa-norama aqui reproduzido e comentado.

Os quadros que se desdobram dãoconta de um processo de caráter graduale evolutivo, com 72 editais lançados atéagora, iniciando com um investimento daordem de R$ 5 milhões até alcançar osR$ 35 milhões hoje administrados.

Em relação à prioridade estratégicado Governo Eduardo Braga, que é a for-mação de capital humano pós-graduadodo Estado do Amazonas, o levantamento,por enquanto, confirma as significativasdesigualdades regionais existentes emtermos de formação de mestres e dou-tores, no Brasil.

Enquanto a região sudeste concentramais da metade dos pós-graduados dopaís (54%), a região norte possui apenas4% deles. O sul abriga 20% dos mestrese doutores; o nordeste, 15% e o centro-oeste, 7%. “Apesar disso” – lembrou oGovernador do Amazonas durante areunião que nomeou os conselheiros daFapeam – “Nestes 5 anos o Estado do

Amazonas cresceu em termos de ciên-cia e tecnologia, tudo que não haviacrescido nos últimos 30 anos. Imaginemonde poderemos chegar com a conti-nuidade desse trabalho...”.

Parte dos recursos captados pela Fa-peam chega por meio de convênios cominstituições parceiras. Para o período de2006 até 2010, eles já somam R$ 60milhões, dos quais mais de R$ 20 milhõesse originam de convênios com o Conse-lho Nacional de Desenvolvimento Cien-tífico e Tecnológico (CNPq) – “de longe,o nosso principal parceiro”, acentua o se-cretário de ciência e tecnologia do Ama-zonas, José Aldemir Oliveira.

A interlocução com o Conselho Nacio-nal é considerada positiva e descompli-cada. É o CNPq que intermedeia recur-sos oriundos do Ministério da Ciência eTecnologia (MCT) e do Ministério daSaúde, para aplicação na formação de ca-pital intelectual e financiamento de pro-gramas estratégicos no Estado.

O Programa de DesenvolvimentoCientífico Regional (DCR) é um dos re-sultados da parceria e tem como fina-lidade atrair doutores de outras regiõespara instituições acadêmicas e de pes-quisa do Estado. “Por meio desse pro-grama, foi possível conceder até en-tão 71 bolsas para doutores e dessetotal, 10 já estão fixados no Estado,uma demonstração da eficácia do pro-grama”, frisa o chefe do Departamentode Análise de Projetos (Deap/Fapeam),Marcelo Vallina.

Ainda em termos de parceria, o CNPqé logo seguido pela Financiadora de Es-tudos e Projetos (Finep), cujos recursossomam pouco mais de R$ 15 milhões.Há também convênios firmados com oMinistério da Ciência e Tecnologia (MCT– R$ 8,7 milhões), a Coordenação de

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Aperfeiçoamento de Pessoal de NívelSuperior (Capes – R$ 7 milhões), o Sis-tema Ambiental de Proteção da Amazô-nia (Sipam – R$ 2,2 milhões), a FundaçãoOswaldo Cruz (Fiocruz – R$ 1,8 milhão)e empresas diversas – R$ 220 mil.

PARCERIAS E PROGRAMAS

Em seus quase cinco anos de existên-cia, a Fapeam também vem destinandorecursos financeiros às principais insti-tuições de pesquisa do Amazonas.Quem figura como principal beneficiá-ria desses recursos é a Universidade Fe-deral do Amazonas (Ufam), que já re-cebeu R$ 35 milhões desde 2003. Logoem seguida aparece o Instituto Nacio-nal de Pesquisas da Amazônia (Inpa),com R$ 29 milhões; a Universidade doEstado do Amazonas (UEA – R$ 11 mi-lhões); o Centro de Biotecnologia daAmazônia (CBA – R$ 8 milhões); a Fun-dação de Medicina Tropical (FMTAM –R$ 3 milhões); Fiocruz (R$ 2 milhões) eoutras (R$ 11 milhões).

Alguns programas contribuíram paraconsolidar a credibilidade da Fapeamjunto à comunidade científica amazo-nense. O Programa de Apoio à Participa-ção em Eventos Científicos e Tecnológi-cos (PAPE) beneficiou um total de 587pesquisadores, concedendo passagensaéreas para eventos nacionais (496) einternacionais (91).

O Programa de Apoio à Realização deEventos Científicos e Tecnológicos (PAREV),que representa oportunidade de exposi-ção de resultados e intercâmbio para a co-munidade científica local, conseguiu sal-tar de 12 eventos realizados em 2003para 45, em 2006; e ainda patrocinou 145passagens aéreas para convidados (con-ferencistas, coordenadores, etc.).

O ano de 2007 conheceu cinco novosprogramas, responsáveis por um investi-mento de cerca de R$ 15 milhões dereais até 2008, sendo 2 de natureza“fluxo contínuo”. São eles o Programa Ins-titucional de Apoio à Pós-GraduaçãoStricto Sensu – Posgrad/Capes/Fapeam;o Programa de Consolidação das Institui-ções Estaduais de Ensino e Pesquisa –Pró-Estado; o Programa Integrado dePesquisa Científica e Tecnológica – PIPT2ª Edição; o Programa de Desenvolvi-mento Regional – DCR-AM/CNPq /FluxoContínuo e o Programa de Apoio às Olim-píadas em Ciência – Fluxo contínuo.

PROJEÇÃO

A Fapeam também levantou os impac-tos de sua criação nos indicadores deC&T nacionais. O número de pesquisa-dores-doutores, na região norte, aumen-tou de 433 para 863 no Estado do Ama-zonas, e de 7 para 40, no Estado doAmapá, no período de 2003 a 2006. OPará saiu de 543 para 943 doutores. Ro-raima, de 74 para 106. Tocantins, de 55para 194. Acre, de 43 para 117. E Ron-dônia, de 32 para 107.

O crescimento no número de gruposde pesquisa –um outro indicativo nacio-nal de C&T – também é significativo naregião norte, em igual período. O Ama-zonas passou de 210 para 333 gruposconstituídos.

Em termos percentuais, a evoluçãodos indicadores de C&T no Estado, no pe-ríodo de 2003 a 2007, indica que o nú-mero de mestrados sediados no Amazo-nas aumentou em 68%, e o de douto-rados, 67%. O número de doutores cres-ceu 50% e o de grupos de pesquisa re-gistrados na plataforma Lattes/CNPq,37%. O número de instituições amazo-

nenses com fomento do CNPQ sofreu umincremento de 71%.

Os valores pagos em bolsas concedi-das pela Fapeam com recursos estaduaise federais, de 2003 a 2007, demons-tram uma evolução que parte de R$ 2 mi-lhões e chega a pouco mais de R$ 12 mi-lhões. O Estado saiu de 19 bolsas dedoutorado oferecidas em 2003 para 233bolsas em 2007. E de 85 para 560 bol-sas de mestrado.

Algumas áreas, identificadas como“não cobertas” no Estado, ganharamcinco novos programas por meio de umaparceria da Universidade do Estado doAmazonas (UEA) com a Unicamp. “Es-ses programas vêm para fomentar a for-mação de mestres e doutores em áreasdescobertas, especialmente odontolo-gia, administração pública e gestão emciência e tecnologia. Serão 79 novosmestres e doutores em breve”, comemoraOdenildo Sena.

O Conselho Superior da Fapeam tam-bém já aprovou novos valores de bolsasde pós-graduação, que ficaram fixadasem R$ 1.356 para o mestrado dentro doAmazonas (Fapeam/Estado) e em R$1.762 (Fapeam/País) a bolsa para ou-tros Estados. O doutorado ficou em R$2.008 (Fapeam/Estado) e R$ 2.610 (Fa-peam/ País), com vigência desde marçode 2008.

Para Odenildo Sena, os 30% do acrés-cimo no valor da bolsa no país represen-tam o mesmo investimento na formaçãodo pós-graduado em curso sediado noAmazonas, pago na forma de auxílio àcoordenação do curso para as despesasdo projeto do estudante. Ao mesmotempo, permite uma formação cientí-fica de melhor qualidade ao bolsista,com a participação em congressos, cur-sos de idiomas, edição de livros.

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FAPEAM 5 anos – Entidade celebra reconhecimento

conquistado entre expoentes da ciência, da tecnologia e setor produtivo do Estado

A cada novo edital ou Programa, a Fapeam cumpre o seupapel e se consolida como instituição pública. Comoparticipei de sua história, vejo com orgulho que a FAP

fortaleceu as instituições de pesquisa e, agora, tem odesafio de levar pesquisa e inovação às empresas, dandocondições para que o conhecimento propicie desenvol-vimento para a nossa gente”. JOSÉ ALDEMIR DE OLIVEIRA,Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado.

A Fapeam, nos últimos cinco anos, vem alavancando asinvestigações para proteção da saúde dos amazonenses. ADELE SCHWART, Diretora-presidente da Fundação Al-fredo da Matta.

Podemos afirmar com absoluta convicção que a Fapeamtem tido o importante papel de alavancar os projetosde pesquisa em nossa região projetando o Amazonas nocenário Nacional e Internacional. Parabéns à Fapeam pe-los excelentes serviços prestados à comunidade ama-zonense. Temos orgulho em tê-la como instituiçãoparceira do Hemoam”. LENY PASSOS, Diretora-presidentedo Hemoam.

Fapeam, tão jovem e tão importante. Com cinco anos deidade, a Fapeam já está entre as fundações estaduais deamparo à pesquisa mais robustas da América Latina.Tudo o que fazemos ou que usamos inclui um imensoconjunto de informações que hoje, com orgulho, nospreparamos a passos largos para produzir aqui. A Fapeamé um marco histórico do Estado do Amazonas, nossosímbolo de decisão e da importância que atribuímos aCiência, a Tecnologia e a Inovação em nossas ações diá-rias”. ADALBERTO LUIS VAL, Diretor do Inpa.

Desde 2003, a Embrapa conta com uma importanteparceira na realização de ações de pesquisa, desenvolvi-mento, inovação e transferência de tecnologia no estado.Com a Fapeam foram intensificadas as atividades noAmazonas por meio do financiamento de projetos, bolsasde pesquisa, publicações e eventos pela Fundação.Durante os cinco anos de existência da entidade, mais dequinze projetos de pesquisa e desenvolvimento fo-ram financiados para a Embrapa no Amazonas”. MARIA

DO ROSÁRIO LOBATO RODRIGUES, Chefe Geral da Em-brapa Amazônia Ocidental.

Vi o ‘nascimento’ da Fapeam, há cinco anos. Nunca ima-ginei que em tão pouco tempo pudéssemos ver uma‘criança’ tão robusta! A parceria com o órgão, para todosnós que lidamos com a pesquisa, é fundamental para odesenvolvimento do Amazonas. Parabéns!” SINÉSIO

TALHARI, Diretor-presidente FMTAM

Congratulamo-nos com a Fapeam pelo seu primeiroqüinqüênio de existência e pela contribuição ao desen-volvimento da ciência, tecnologia e formação de recur-sos humanos de alto nível para o Estado do Amazonas.HIDEMBERGUE ORDOZGOITH DA FROTA, Reitor da Uni-versidade Federal do Amazonas.

Nesses cinco anos de existência da Fapeam, o CBA temmuito a agradecer pelo suporte recebido desta Fundaçãoàs atividades desenvolvidas no Centro. Que esta parceriaseja contínua e com a mesma competência e dedicaçãoque vem sendo realizada. Parabéns pela caminhada e quea Fapeam consiga expandir seu papel que é importan-tíssimo para a comunidade cientifica e, conseqüente-mente, para a sociedade em geral”. IMAR CÉSAR, Di-retor do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA).

A Fapeam tem desempenhado um papel importantís-simo na implantação da política de C&T do Estado doAmazonas. O investimento maciço na formação derecursos humanos, o fortalecimento da infra-estrutura dasinstituições locais e o fomento a pesquisa vão impactar,em breve, a ciência realizada no estado. A Fapeam foi umadas boas surpresas que encontrei em Manaus. A nossaparceria tem dado bons frutos e tem permitindo o nossocrescimento de uma maneira consistente”. ROBERTO

SENA, Diretor da Fiocruz-AM.

A Fapeam tem contribuído de forma significativa para aestruturação de um sistema local de ciência, tecnologiae inovação e, conseqüentemente, para o desenvol-vimento do Estado do Amazonas e de toda a região.Merece também destaque sua a sua parceria com aSuframa, especialmente no que diz respeito ao apoio naseleção e contratação de bolsistas, fundamental para aviabilização do funcionamento do Centro de Biotecno-logia da Amazônia (CBA)”. FLÁVIA SKROBOT BARBOSA

GROSSO, Superintendente da Suframa.

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histórias que a ciência ajudou a mudar...

Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta

que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. O que

interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha

sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.

– WILL IAM SHAKESPEARE

O que um trecho de “Sonho de uma

noite de verão” revela sobre as histórias

de pessoas e de instituições que

trabalham com pesquisa e inovação

e que bem poderiam ser resumidas

num primeiro parágrafo, ao gosto do

estilo jornalístico? No caso dos

microempresários AA II DDSSOONN PPOONNCC II AANNOO

DD IIAASS e RROOSSEE DD II AASS ; do jovem cientista

JJOOSSÉÉ NNAASSCC II MMEENNTTOO DDEE CCAARRVVAALLHHOO ; da

pesquisadora AANNAA CCRR II SSTT II NNAA SS II LLVVAA PP II NNTTOO

e da FFUUNNDDAAÇÇÃÃOO DDEE HHEEMMAATTOOLLOOGG II AA EE

HHEEMMOOTTEERRAAPP II AA DDOO AAMMAAZZOONNAASS (Hemoam),

a literatura de Shakespeare fala quase

tudo... Pode-se muito bem dizer que

cada um deles é a materialização

de um Brasil que investe em ciência

e tecnologia. Através deles, podemos

sonhar com muitas outras histórias

de realização e sucesso.

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ALEX

AN

DER

CO

LETTO

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36 I N.º 9, ABRIL DE 2008

Descoberta. Casados há 32 anos, nos últimos dez eles su-peraram uma crise financeira dessas de “quase não sobrardinheiro para o supermercado”, abandonaram a posição depatrões, voltaram a estudar, formaram dois filhos e, literal-mente, inventaram algumas máquinas que fazem funcionaro seu negócio.

Hoje, são consultores de referência em projetos comuni-tários de desenvolvimento sustentável no Amazonas. Abriramuma loja com recursos do Programa Amazonas de Apoio aPesquisa em Micro e Pequenas Empresas (Pappe/Fapeam) eassinam a sua própria griffe de bolsas e calçados de juta, tu-ruri e couro de peixe – a Green Obsession.

“As dificuldades nos fizeram mais criativos e tivemos sorteporque toda idéia que um tinha o outro apoiava”, assevera Rose,enquanto Aidson arremata: “isso foi em meados da décadade noventa; nós nos vimos fora do mercado de trabalho numaidade em que deveríamos estar pensando em nos aposentar...Aí é que surgiu a capacidade de inovar, de criar. Minha mu-lher fez vestibular, meus filhos também entraram na facul-dade e eu comecei a fazer sandálias!”. As sandálias de Aid-son foram bem aceitas pelos alunos e funcionários do cursode Engenharia Florestal do antigo Instituto de Tecnologia daAmazônia (UTAM) – hoje Escola Superior de Tecnologia–- e ocasal percebeu que poderia investir na pesquisa e na criaçãode produtos feitos com matéria-prima retirada da floresta.

A doutora em tecnologia da madeira do Instituto Nacio-nal de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Claudete Cantanhededo Nascimento, foi uma das primeiras a acreditar no talentodos artesãos. “Eles têm bom gosto, estilo e excelente acaba-mento. Então quando terminaram o curso de aproveitamentode resíduos madeireiros no Inpa, eu os encaminhei para o pro-fessor Jorge Rebello para conhecerem o couro de peixe. É pos-sível que eles tenham sido os primeiros artesãos do mundoa criar e modelar sapatos de couro de peixe da Amazônia”,arrisca Claudete.

O principal desafio do trabalho com o couro de peixe é otoque e o cheiro. “Com o professor Rebello, nós aperfeiçoa-mos o nosso toque, que exige maciez e flexibilidade, e tam-bém apuramos o olfato... A primeira coisa que as pessoas fa-zem quando olham um sapato ou uma bolsa feita de courode peixe é pegar e cheirar. Elas têm medo do famoso “pitiú”,mas os nossos produtos elas podem cheirar à vontade! O courotem um cheiro natural e muito agradável”, assegura Rose.

Quem testou bem de perto a qualidade do sapato decouro de peixe foi o próprio Governador do Amazonas,Eduardo Braga, durante participação no Programa do Jô, da

Rede Globo de Televisão, fazendo o apresentador justamentepegar e cheirar o couro.

Cuidados com o meio ambiente. Atualmente, a GreenObsession envia a pele do peixe para curtumes do Rio Grandedo Sul e do Maranhão para ser transformada em couro. “Afabricação de couro é dispendiosa e, em si, gera impactoambiental. Não vejo essa produção como um investimentoprioritário para o Estado do Amazonas. Como a maioria doscurtumes brasileiros já trabalha com a tecnologia do benefi-ciamento do couro de peixe, nós só precisamos pesquisar qua-lidade e procedência, afinal, um curtume precisa funcionardentro de normas de segurança”, acentua Aidson. Alémdisso, os designers elogiam a atenção e a confiança doscurtumes maranhenses e gaúchos, que estendem prazos depagamento no cartão e sondam a satisfação dos clientes.

A pele é comprada dos dois únicos frigoríficos que fazemfiletamento (a separação do filé do peixe), e nas prateleirasda Green Obsession faltam apenas os sapatos de couro detambaqui. Como o amazonense assa o tambaqui com a pele,é difícil conseguir uma quantidade suficiente para transfor-mar em couro. “No próximo Pappe estamos justamente pen-sando em entrar com um projeto que também contemple ospeixes da bacia amazônica, pois no primeiro nós nos restrin-gimos ao trabalho com a juta e o tururi”, esclarece.

Mas, por que a juta? A resposta vem pronta. É um pro-duto regional abundante, presente nas áreas de várzea. Éecológico porque se decompõe fácil e, acima de tudo, a juta“alavanca” o ribeirinho. “Infelizmente – protesta Rose,99% da juta das tecelagens de Manaus é aproveitada paraembalagem, sacaria. Mas a juta não pode ser vista só comoum saco!”, alerta.

De fato, quem vê um sapato de juta da artesã, entendeque ela têm razões para pensar assim. Como consultora etreinadora de projetos de desenvolvimento sustentável no in-terior, ela pesquisou e criou novas tramas, cortes e modeloscom a juta. Junte-se a isso a presença do casal em congres-sos e feiras em outros estados e países e se explica, emparte, o sucesso da dupla.

No ano passado, durante a feira de negócios Prêt-à-Por-ter, em Paris, os dois chegaram a receber uma proposta deincorporação de uma griffe francesa às bolsas e sapatosproduzidos por eles, mas rejeitaram a oferta. “Achamos queainda não é o momento de abrirmos mão da nossa marca.Pra que isso aconteça terá de valer muito a pena”, finalizaAidson.

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AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 37

Realização. É da comunidade Guanabara 2, localizada naárea rural do município de Benjamin Constant, no Alto Soli-mões, que surge uma outra história de sonho e luta. José Nasci-mento de Carvalho, 37, graduando do curso de Letras daUniversidade Federal do Amazonas (UFAM), está prestes aconcluir o curso Normal Superior pela Universidade do Estadodo Amazonas (UEA) e conseguiu ser selecionado como bolsis-ta do Programa Jovem Cientista Amazônida (JCA/Fapeam).

Em 2006, ele integrou a equipe que apresentou os resul-tados da primeira etapa do projeto “Reflorestamento naAmazônia” – voltada ao cultivo de mudas de cedro, andirobae castanha de paca - na Feira da Amazônia, em Paris (França).O projeto é coordenado pelo professor Marco Mendonça. Porconta da viagem, José Nascimento foi convidado a apresen-tar um programa semanal pela rádio Nova Onda FM, deBenjamin Constant. Atualmente, ele ministra aulas na áreade Educação de Jovens e Adultos e devido ao seu aproveita-mento satisfatório continua a integrar a equipe de bolsistasque participa do projeto “Reflorestamento na Amazônia”, queestá em sua segunda fase, com foco na análise de três espé-cies de plantas (jatobá, angelim e urucum).

Até chegar à atual condição, o estudante teve de subir mui-tos degraus. Para concluir o ensino médio, Carvalho tinha desair cedo de casa, acompanhado de seus companheiros, eenfrentar uma longa distância, todos os dias, até chegar ao

banco da escola na sede do município. “Às vezes, tínhamosapenas R$ 10 e, por isso, precisávamos optar entre almoçare comprar gasolina para voltar para casa”.

Depois de concluir o ensino médio, ele passou a atuarcomo professor pelo programa Educação de Jovens e Adultos(EJA) e concomitantemente trabalhava como agricultor e pes-cador. O estudante comenta que a aprovação como bolsistapelo Programa JCA foi uma conquista. Segundo ele, que écasado e pai de cinco filhos, permitiu que passasse a contarcom suporte financeiro, contribuindo inclusive com a melho-ria da renda familiar. Além disso, “a experiência como bolsis-ta também serviu de grande incentivo na busca por melhorqualificação”. “Hoje em dia, sou apontado como exemplo pormeus companheiros que passaram a se sentir estimulados aestudar”, comenta.

Apesar das oportunidades surgidas, Carvalho ainda enfren-ta muitas dificuldades para estudar e trabalhar, contudo,mostra força de vontade e espera realizar o seu grandesonho: “retornar à comunidade de origem e ajudar outroscolegas a possuir melhor qualificação”. Ele se diz grato pelaoportunidade. “Eu sei que é difícil imaginar que em lugarestão distantes da Amazônia possam existir talentos voltadospara a ciência, mas esses programas da Fapeam estão mos-trando que vale a pena investir na população dos municípiosdo interior”, frisa.

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Bioprospecção. Os investimentos em pesquisa e de-senvolvimento (P&D) e em inovação tecnológica estãocontribuindo para ampliar os pedidos de patente do Estadodo Amazonas. A doutoranda em Biotecnologia pela Univer-sidade Federal do Amazonas (Ufam), Ana Cristina SilvaPinto, comprova esse progresso.

Desde 2003, ela integra a lista de bolsistas da Fapeambeneficiados pelo Programa Integrado de Pesquisa e Inova-ção Tecnológica (PIPTI) - que consiste em apoiar, com auxílio-pesquisa e bolsas, mestres e doutores vinculados a institui-ções públicas e privadas sem fins lucrativos interessadosem realizar pesquisas científicas e tecnológicas no Amazonas– para o desenvolvimento de estudo sobre substânciasisoladas de plantas da região.

A pesquisadora explica que, a partir das análises farma-cológicas e testes in vitro realizados com a espécie Potho-morphe peltata, cultivada na Embrapa, detectou que asubstância ativa da caapeba (4-nerolidilcatecol), bem comoseus derivados semi-sintéticos, podem inibir o crescimentode protozoários do gênero Plasmodium, parasitas causado-res da malária.

A descoberta é inédita para os derivados sintéticos ecomo forma de proteger os resultados do estudo, a pesqui-sadora deu entrada, por meio do Instituto Nacional dePesquisas da Amazônia (INPA), em processo de registro depropriedade intelectual junto ao Instituto Nacional dePropriedade Industrial (INPI), autarquia vinculada ao Minis-tério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,responsável por registro de marcas, concessão de patentese averbação de contratos de acordo com a Lei da Proprie-dade Industrial (Lei n.º 9.279/96).

O financiamento conquistado por meio do ProgramaIntegrado de Pesquisa e Inovação Tecnológica (PIPTI) foi defundamental importância, uma vez que possibilitou, entreoutras ações, a aquisição de equipamentos e materialnecessários ao desenvolvimento do estudo. Sem contar quefavoreceu sobremaneira o crescimento profissional dapesquisadora, pois foi a primeira vez que ela esteve à frentede um projeto de pesquisa.

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AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 39

Criada há 25 anos como banco de sangue, a Fundação deHematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam) está seconsolidando como instituição no âmbito da pesquisa. São24 projetos de pesquisa em andamento. Desses, 18 contamcom recursos da Fapeam.

Entre os mais importantes está o projeto de implantaçãodo moderno Laboratório de Sorologia. Inaugurado no mêsde março deste ano, o laboratório é especializado no diag-nóstico e investigação de doenças transmissíveis pelo sanguee compreende uma série de unidades: laboratório de triagemsorológica de doenças transmissíveis pelo sangue (HIV, Hepa-tites B e C, Doença de Chagas, HTLV e Sífilis), laboratóriode testes confirmatórios, laboratório de detecção de ácidosnucléicos e laboratório de pesquisas multidisciplinares.

Programas como o de Iniciação Científica e IniciaçãoCientífica Júnior, da Fapeam, que congregam pesquisas emdiferentes linhas também estão contribuindo para a melho-ria dos serviços oferecidos à população via Hemoam. Das ini-ciativas da instituição beneficiadas por esses programasdestacam-se os projetos de “Otimização de Técnicas deCitogenética Clássica em Amostras de Medula Óssea dePacientes Portadores de Leucemias” e “Estudo da Influên-cia dos Métodos de Coleta de Amostras nos Resultadosdos Exames de Avaliação da Hemostasia”.

Segundo a diretora de Ensino e Pesquisa da FundaçãoHemoam, Kátia Torres, a adoção de pesquisa voltada para amelhoria de procedimentos e prestação de serviços passoua ser prioridade na instituição em 2004, porém, somenteapós a criação da Fapeam, ganhou impulso, permitindovislumbrar um futuro promissor. "Antes da Fapeam, fazíamospesquisa de forma incipiente. Com o apoio da entidade,passamos a reconhecer o nosso potencial e resolvemos abra-çar o desafio", destaca a diretora, ressaltando que a conquista

de financiamento pelo Programa de Desenvolvimento Cien-tífico Regional (DCR), que permitiu a fixação da doutoraAdriana Malheiros no corpo técnico da fundação, foi o grandemarco nessa empreitada.

Mais do que oferecer oportunidades de financiamentos,a Fapeam contribuiu também para que a instituição passassea alçar vôos mais altos. É o que conta Torres. “Foi a partirdas orientações recebidas junto à Fapeam que a instituiçãose sentiu estimulada a desenvolver seu próprio corpo depesquisadores e criar desenvoltura para buscar recursos emoutras instâncias”.

Agora, uma das metas do Hemoam é justamente avançarem pesquisas na área de Ciências Humanas. Para tanto,foram definidas três linhas de atuação: Hematologia, Hemo-terapia, Logística de Transformação de Sangue e Gestão deServiço de Saúde. Conforme Torres, essas novas metas estãoprevistas no planejamento estratégico da instituição estabe-lecido para o triênio 2008 - 2011. “A intenção é justamenteatingir novas tecnologias e só enxergamos essa possibili-dade por meio de financiamentos, como os conquistados juntoà Fapeam, que é, sem dúvida, a nossa principal parceira”,conclui.

Aidson, Rose, José, Ana Cristina e a doutora Kátia Torres pros-seguem, assim, “sonhando acordados”, com as mãos bemfincadas em seus instrumentos de pesquisa e de trabalho. Equando perguntamos qual é, na opinião deles, a palavra queresumiria o atual momento de investimento em ciência etecnologia no Estado do Amazonas, eles respondem: – espe-rança; – inovação; – trabalho; – persistência... É por isso queShakespeare se encaixa também no encerramento dessashistórias, mas dessa vez em Romeu e Julieta: “(...) mostre-meum homem que não seja escravo de suas paixões...”. ||

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TT rês dos alimentos mais con-sumidos pela populaçãoamazonense – açaí, tucumã e

queijo coalho – podem representar,atualmente, insegurança alimentaraos consumidores. Estudos realizadospor diferentes instituições de pesquisado Amazonas apontam que quase100% desses alimentos estão contami-nados com coliformes fecais, salmo-nella ou estafilococos.

A boa notícia é que medidas simplescomo a higienização das mãos, dosinstrumentos de trabalho e do localonde se manipula o alimento podemevitar a contaminação pela maior partedos microorganismos.

Ao pedir um tradicional X-Cabo-quinho (sanduíche popular da regiãoamazônica, feito à base de pão, tu-cumã e queijo coalho), por exemplo,

a pessoa pode estar consumindo umsanduíche de bactérias e outros

agentes contaminantes pre-sentes no queijo e

no tucumã.

Pesquisas coordenadas por ÂngelaLíbia de Melo, professora da Facul-dade de Ciências Farmacêuticas daUniversidade Federal do Amazonas(Ufam), apontam contaminação dapolpa de tucumã e do queijo coalhoem grande parte das amostras coleta-das para os estudos. No caso do tu-cumã, a contaminação ocorreu em100% da polpa pesquisada.

O levantamento realizado pela gra-duanda em Farmácia Carolina Busta-mante Alkimin, também da UFAM,revelou que as 60 amostras de tucumãusadas no estudo apresentavam a pre-sença de coliformes fecais, 11% apre-sentavam presença de Salmonella sp. e37% apresentavam Staphylococcus au-reus. Os índices encontrados estão forados padrões estabelecidos pela legisla-ção sanitária vigente.

A Salmonella provoca febre, diarréia,dores abdominais e vômitos. A bacté-ria Staphyloccocus pode produzir vá-rias enterotoxinas que, quando inge-ridas, causam envenenamento alimen-tar. Ela é responsável pelo segundotipo de intoxicação mais freqüenteno mundo, ficando atrás apenas da to-xinfecção causada pela Salmonella,representando assim, um risco poten-cial à saúde pública.

Os resultados indicam que a higie-nização e produção do alimento estão

40 I N.º 9, ABRIL DE 2008

Tucumã, queijo coalhoe açaí: cuidados na hora do consumo

Alimentos bastante consumidos pela população amazonense, se mal

manipulados, podem apresentar riscos à saúde, é o que a ciência revela

|| alimentação

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POR ANDRÉIA MAYUMI

II sanduíche de queijo coalho e

tucumã: um aperitivo regional a ser

consumido com cuidado

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AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 41

sendo feitos de maneira inadequada epodem prejudicar a saúde de quemvai consumir um dos frutos mais apre-ciados e tradicionais da culinária ama-zonense, que é o tucumã.

Umidade, calor, falta de higiene.Esses são os fatores principais que con-tribuem para a proliferação dos micro-organismos. “Infelizmente, em Ma-naus, nós temos esses fatores de sobra”,afirma Líbia, orientadora da pesquisa.“Os vendedores não prezam pelas mí-nimas condições de higiene, seja navestimenta, nos instrumentos de corteou na manipulação do produto”, alertaa professora.

Às vezes, lembra ela, o vendedor co-meça a descascar o tucumã às 12h e vaiaté às 17h. Ele só vai lembrar de guar-dar a polpa no final do dia, quando mi-lhares de bactérias tiveram condiçõesideais para se multiplicar e contaminaro fruto.

De acordo com Líbia, a contami-nação seria facilmente evitada commedidas simples como higienização dofruto, das mãos e dos braços, da facae do local de armazenamento dapolpa. Além disso, é fundamentalacondicionar o tucumã na geladeira as-sim que ele for descascado.

Risco de intoxicação. A situa-ção do queijo coalho não se diferemuito da do tucumã. Dois estudosorientados pela professora indicamque o consumo do queijo produzidode maneira clandestina pode levar àintoxicação alimentar.

Na pesquisa de Alcinira Farias Furta-do, para obtenção do título de mes-trado do curso de Ciências dos Ali-mentos da Ufam, os resultados de-monstraram que 100% das 35 amos-tras de queijo coalho e queijo man-teiga vendidos em feiras de Manausestavam com altos índices de colifor-mes fecais.

Desse total, 50% apresentaram ín-dices de Staphylococcus aureus acima dopermitido pela legislação pertinente.De acordo com Líbia, a presença dessabactéria nas amostras indica riscospotenciais à saúde do consumidor,

uma vez que o queijo não é fabri-cado, transportado e armazenado deforma adequada.

“A contaminação está presente emtoda a cadeia produtiva do queijo,seja na hora da ordenha, no trans-porte do leite e na fabricação do pro-duto. Sem contar que, muitas vezes, oqueijo é trazido para Manaus no chãodas embarcações sem as condições detemperatura e acondicionamento ade-quados para manter a qualidade doproduto”, denuncia a orientadora.

Ela alerta ainda que nem sempre aprática de esquentar o queijo na chapaelimina os agentes contaminantes. “Ocalor pode acabar com a contamina-ção por bactérias vegetativas, mas nãoelimina a forma esporulada (mais re-sistente) e nem a toxina se já tiversido instalada”, afirma Líbia.

Dados da Coordenadoria de Vigi-lância Sanitária de Manaus (CVISA)revelam que ano passado foram noti-ficados oito surtos de contaminaçãopor consumo de queijo coalho, en-volvendo 79 pessoas. De acordo coma fiscal de saúde da CVISA, Vânia Ca-valcante, devem ter ocorrido mais ca-sos, porém a maioria das pessoas ou osistema de saúde não comunica àCoordenadoria, portanto as estatísti-cas de intoxicação alimentar são de-

ficitárias.A fiscal afirma que o queijo coalho

agrega status de campeão de casos decontaminação na cidade. Em feve-reiro deste ano, foi registrado maisum surto envolvendo uma família decinco pessoas.

Apesar de deter os dados sobre in-toxicação envolvendo queijo e outrosalimentos, a CVISA não realiza uma fis-calização de rotina nos estabelecimen-tos comerciais e feiras de Manaus. Dos70 fiscais da ativa, 57 estão direciona-dos à área de alimentos, mediante de-núncia ou notificação.

Descontaminação. O suco de açaí,outro alimento bastante consumidopela população, também pode apresen-tar riscos de intoxicação. Estudo rea-lizado em 2006, pela bióloga Mariade Assunção da Costa, analisou amos-tras do suco em três pontos da cidade,feira da Panair, bairro do Coroado ebairro da Cidade Nova, para fins deestudos microbiológicos quanto àpresença de coliformes totais, fecais,bolores e leveduras.

Orientada pela nutricionista LúciaYuyama, especialista em Ciências dosAlimentos e responsável pela Coorde-nação de Pesquisa em Ciências daSaúde do Instituto Nacional de Pes-

II Pesquisa revela que ferver o suco de açaí por um minuto elimina os microrganis-

mos presentes no produto

LÚCIA YUYAMA

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42 I N.º 9, ABRIL DE 2008

quisas da Amazônia (Inpa), a pes-quisa apontou elevada contamina-ção nas amostras coletadas. Elas foramsubmetidas aos processos de fervurae pasteurização em períodos diferen-ciados para saber a eficácia de taisprocedimentos na eliminação de con-taminantes.

Maria descobriu que o ato de fervero suco de açaí por um minuto eliminaos microrganismos presentes no pro-duto. De acordo com Jaime Paiva Lo-pes Aguiar, um dos co-orientadoresdo estudo, o procedimento não mo-difica as características de cor, sabor earoma do suco.

Após a pasteurização, aplicada por10 minutos numa temperatura de900Cº, houve redução da carga mi-crobiana. Quanto à fervura, inicial-mente foi testado o tempo de cinco mi-nutos, mas na avaliação sensorial comum grupo de 31 provadores, todosconsumidores de açaí, foi demons-trado que quando aplicada por esse pe-ríodo, a fervura interfere negativa-mente no sabor e no aroma do suco.

Exames posteriores mostraram queum minuto é suficiente para erradicartodos os microorganismos presentes noaçaí, sem, contudo, mudar seu gosto.Realizado um dos procedimentos, osuco pode ser guardado por até 120dias no congelador. Além dos métodosserem práticos, de baixo custo e eficien-tes, eles ainda são acessíveis a todas ascamadas sociais, comprova a pesquisa.

Cupuaçu na mira. Outro itemtradicional na dieta amazonense foialvo de pesquisas recentes que de-monstraram falhas na sua produçãoe armazenagem. O projeto intitulado“Qualidade físico-química de polpasde cupuaçu (Teobroma grandiflorumSchum) congeladas e comercializadasnos hipermercados da cidade de Ma-naus – AM” analisou 33 amostras depolpas coletadas em sete hipermer-cados da cidade.

A graduanda Alcineide Lima Maga-lhães, da Faculdade de Ciências Farma-cêuticas da Ufam, descobriu que maisde 90% da polpa de cupuaçu vendida

em supermercados de Manaus estáfora dos padrões de qualidade exigidospelo Ministério da Agricultura, órgãoque fiscaliza a comercialização dessetipo de produto.

Do total de amostras, 66% apresen-tavam sólidos totais bem abaixo do querecomenda o órgão federal (mínimode 12%). Isso significa que os fabrican-tes estão misturando água ao produto,vendido aos consumidores comopolpa pura.

A orientadora do projeto, a bioquí-mica Cynthia Tereza Corrêa da Silva,afirma que tal procedimento podeconfigurar risco à saúde do consumi-dor. “Nossa pesquisa foi de caráter fí-sico-químico. É necessário realizar umestudo microbiológico para descobrirse a água utilizada não está contami-nada”, completa a pesquisadora queé professora da Faculdade de Ciênciasda Saúde da Ufam e cujo mestrado éna área de Ciências de Alimentos.

Além da adição de líquido à polpa,o estudo constatou também que maisde 70% das amostras apresentavam ín-dices de ácido ascórbico menores que

os recomendados pela legislação. Asbaixas taxas dessa substância são umindicativo das péssimas condições dearmazenamento do produto, pois oácido é sensível às variações de tem-peratura.

Clandestinidade. A maior partedo queijo coalho vendida em Ma-naus é proveniente de produção clan-destina. De acordo com dados da Co-missão de Defesa Sanitária e Animal(CODESAV), só há duas fábricas cer-tificadas para produção do derivadono Amazonas.

“O maior problema do queijo nãoter origem é que se o consumidor pas-sar mal, ele não pode responsabilizarninguém por isso, uma vez que elenão sabe quem produziu o laticínio.Para a segurança do público, é neces-sário verificar a origem do produto ese ele está sob inspeção”, alerta MariaCristina Bustamante, chefe-substitutado Serviço de Inspeção de ProdutosAgropecuários (SIPAG) da Superinten-dência Federal de Agricultura no Estadodo Amazonas. ||

Boas PráticasA Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) dispõe da Resolução N° 216,de 2004, que orienta sobre as Boas Práticas para Serviços de Alimentação. O obje-tivo da resolução é garantir as condições higiênico-sanitárias do alimento preparado.

De acordo com a legislação, os manipuladores devem lavar cuidadosamente asmãos ao chegar ao trabalho, antes e após manipular alimentos, depois de qualquerinterrupção do serviço, após tocar materiais contaminados, após usar os sanitáriose sempre que se fizer necessário.

Eles não devem fumar, falar desnecessariamente, cantar, assobiar, espirrar, cus-pir, tossir, comer, manipular dinheiro ou praticar outros atos que possam contami-nar o alimento, durante o desempenho das atividades.

Os manipuladores devem usar cabelos presos e protegidos por redes, toucas ououtro acessório apropriado para esse fim, não sendo permitido o uso de barba. Asunhas devem estar curtas e sem esmalte ou base.

Quanto às instalações, a resolução prescreve que os equipamentos, os móveis eos utensílios devem ser mantidos em condições higiênico-sanitárias apropriadas. Asoperações de higienização devem ser realizadas por funcionários comprovadamentecapacitados e com freqüência que garanta a manutenção dessas condições e mini-mize o risco de contaminação do alimento.

As matérias-primas e os ingredientes caracterizados como produtos perecíveis de-vem ser expostos à temperatura ambiente somente pelo tempo mínimo necessáriopara a preparação do alimento.

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a ciência responde

Sim e não. Não é correto dizer que a galinha é maispróxima do dinossauro que outras aves. Mas sim, pa-rece que as aves todas, inclusive a galinha, são des-cendentes dos dinossauros. A maioria dos especialis-tas acredita que as aves são os únicos representantesvivos da linhagem dos dinossauros, o resto da qualse extinguiu da face da Terra há dezenas de milhõesde anos. Com base em vários tipos de evidências, in-clusive fósseis de criaturas com penas que lembramaves modernas e ao mesmo tempo têm característi-cas dos dinossauros, acredita-se que alguns dinos-sauros evoluíram desenvolvendo penas e a capacidadede voar. Estes deram origem às aves modernas. A exatamaneira como isso pode ter acontecido é muito de-batido por cientistas. Talvez bichos arborícolas (quevivem nas árvores) desenvolveram penas para ajudara sustentar seus pulos aéreos entre copas das árvo-res. Ou talvez bichos terrestres (como a grande maio-ria dos dinossauros eram) desenvolveram penas por

outros motivos, como isolamento térmico, por exem-plo, e com essas penas também ganharam a vanta-gem de vôo que se desenvolveu depois. De qualquerjeito, reconhecemos que penas nada mais são do queescamas muito elaboradas. E se olhar uma ave muitode perto, como uma galinha, vai ver que suas pernas,que não possuem penas, são de fato cobertas de es-camas parecidas com as que se encontram num rép-til moderno ou nos dinossauros. Alguns cientistas acre-ditam que as aves surgiram de ancestrais reptilianosmais antigos que os dinossauros. Mas essa diferençade opinião não muda em nada a verdade: essas sim-páticas criaturas, as aves, com sangue quente comonós, com inteligência e comportamento social bastantedesenvolvidos, com cantos lindos e variados, e comsua invejável capacidade de voar, são de parentescomais próximo aos dinossauros ou aos jacarés ou ca-langos do que a nós, mamíferos, seus grandes admi-radores.

Li uma vez que a galinha é o parente mais próximo dos dinossauros... é verdade???? Júnior Lima, 40 anos, Cartunista

Respondeu: Mario Cohn-Haft, biólogo, doutor em Zoologia pela Louisiana State University (EUA) e curador da Cole-ção de Aves do INPA.

|| o l e i t o r pe rgun ta

Há três razões básicas para isso. A mais simples e di-reta é que ambos possuem escamas. A posse dessecaráter já confere, por si só, certa semelhança aestes peixes. É bom lembrar que muitos outros pei-xes não possuem escama, tendo seus corpos reves-tidos de placas ósseas, pele ou couro. Outra razãodiz respeito à forma corpórea, que confere aos pei-xes adaptação aos diversos tipos de ambiente.Neste caso, quando os ambientes de água doce esalgada são semelhantes, é provável que as espé-

cies que os exploram também o sejam. Exemplodisso são os peixes que vivem no fundo, geralmenteachatados. A terceira razão, vinculada a esta, dizrespeito ao parentesco: algumas espécies marinhase de água doce são oriundas de um ancestralcomum e, por isso, possuem características compar-tilhadas. Um exemplo são as famílias Sciaenidae(grupo das pescadas) e Engraulididae (grupo dasmanjubas) que possuem representantes tanto naságuas doces como marinhas.

Por que nos rios amazônicos têm peixes com ou sem escamas tão parecidos com peixesdo mar? Mencius Melo, 34 anos, artista

Respondeu: Geraldo Mendes dos Santos, ictiólogo, doutor em Biologia de Água Doce e Pesca Interior e pesquisadordo INPA

JÚN

IOR

LIMA

AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 43

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44 I N.º 9, ABRIL DE 2008

A Ciência e a Tecnologia (C&T)são importantes instrumen-tos de transformação social.

Eles influenciam diretamente no co-tidiano das pessoas fomentando mu-danças de atitudes, pensamentos e ge-rando emprego e renda para a socie-dade. Contudo, para exercer mais ple-namente sua finalidade, é importanteampliar os meios de acesso ao conhe-cimento. Isso é o que a Fundação deAmparo à Pesquisa do Estado do Ama-zonas (Fapeam) vem fazendo por meiodo Programa de Apoio à Divulgação daCiência – o Comunicação Científica.Recentemente, o programa estabeleceuuma parceria inédita com cinco emis-soras de rádios locais, sendo duas AMe três FM, para divulgar o que vemsendo realizado no âmbito da C&Tno Amazonas por meio do projeto“Rádio com Ciência”.

Divulgar C&T nas rádios é um mistode desafio e satisfação. É poder levar anotícia aos mais distantes municípios

do interior do estado, alcançando pú-blicos diversificados. Esse é o senti-mento dos radialistas Jorge Atlas, da rá-dio Rio Mar; Danielle Gama, da RedeBoas Novas (RBN); Eduardo Silva, da Di-fusora; e Jackson Nascimento, da Cida-de. Segundo eles, o trabalho torna-se de-safiador devido ao número reduzido derepórteres especializados, o tempo curtopara a produção de matérias e a demorano contato com entrevistados. Alémdisso, poucas emissoras de Manausrealizam o radiojornalismo.

Aos poucos, segundo eles, esse ce-nário vem sendo modificado, o quetem repercutido no aumento da cober-tura científica mundial, nacional e lo-cal. “A qualidade da informação au-menta a credibilidade da emissora”, dizAtlas. Danielle Gama completa: “Háa ética profissional, bem como o res-peito que se deve ter com os ouvintes.É um privilégio realizar esse trabalho”.

Para eles, o aumento da divulgaçãode ciência é o reflexo do aumento do

Ciência e Tecnologia nas ondas do rádio

A informação

científica ao alcance

de todos. Essa é a

proposta da Fapeam

com o Programa

Comunicação

Científica, do qual

faz parte o projeto

Rádio com Ciência

|| popularização

POR EDILENE MAFRA

COLABORAÇÃO LUÍS MANSUÊTO

GRACE SOARES

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AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 45

número de informação produzida so-bre a temática. Atraindo, assim, o in-teresse do grande público.

Segundo Eduardo Silva, questõescomo o desmatamento na Amazônia,seqüestro de carbono e aquecimentoglobal ganham cada vez mais espaço namídia. Com isso, passaram a ser maisdiscutidos. “Estamos dando os primei-ros passos, com pequenos boletins,com matérias de real interesse da co-letividade, que chamem a atenção paraa produção científica local. Aos domin-gos, aqui na Difusora, nós passamos aapresentar o Jornal Cultural, que é maisum espaço aberto para o jornalismocultural e científico”, ressalta Silva.

Ele também destaca que a fórmulaque deu certo na divulgação cientí-fica foi a parceria entre as agências defomento e os Institutos de Pesquisa. “OInstituto precisa de financiamentopara suas pesquisas, enquanto as agên-cias precisam de algo concreto, de efe-tiva produção científica para justificaro dinheiro alocado, ou seja, ambosprecisam do máximo de divulgação desuas ações para que possam dar con-tinuidade às suas atividades”, diz.

A figura estereotipada do cientistacomo pessoa desligada, com cabelosdesgrenhados, no mundo da lua, intro-

vertido, segundo Silva, é coisa do pas-sado. “O cientista maluco que só dá acara quando quer conquistar o mundosó existe nos desenhos animados. Arelação entre o cientista e o repórter estácada vez mais aberta”, comemora. Silvaafirma que a necessidade de mostrar aomundo a produção científica – atémesmo por uma questão de financia-mento –, abriu as portas para a divul-gação científica. Ele diz que a parceriafirmada com a Fapeam é extremamentepositiva, contribuindo significativa-mente para o aumento da massa crítica,das novas pesquisas e projetos.“Hoje, por meio do Jornal daManhã, da Difusora, o Amazo-nas terá acesso a esse tipo deinformação”, informa.

Para Jackson Nasci-mento, as estraté-gias dos Institu-tos de Ensino ePesquisa em di-vulgar boletins in-formativos, nos quais sãodestacados os assuntos maisrelevantes, além de entrevis-tas com especialistas em pro-gramas noticiosos e de entre-tenimento, com uma lin-guagem simples, também

geram bons resultados. Contudo, se-gundo ele, ainda não é satisfatório.

“Vivemos na região com a maiorfloresta tropical do mundo, com umaenorme biodiversidade onde os maio-res centros de pesquisa discutem o fu-turo da Amazônia. Entretanto, poucose debate nas escolas, clubes comuni-tários, rádios e TVs o destino dos cen-tros de pesquisa. É preciso massificare falar sobre o assunto durante todoo dia”, alerta Nascimento.

O papel das assessorias. As asses-sorias de comunicação das Institui-ções de Ensino e Pesquisa e das Agên-cias de Fomento, segundo DanielleGama, da RBN, têm ajudado muitono processo de disseminação da in-formação científica. “É preciso inves-tir mais nas assessorias. Além disso, ainiciativa e a disponibilidade dos as-

sessores tem sido fundamental. Aparceria com a Fapeam é posi-tiva, pois disponibiliza, sem

custo, o trabalho jornalístico deprofissionais. Em contrapartida,

o Jornal Rádio Notí-cias cede espaço paraveiculação das pesqui-sas científicas. É uma

oportunidade a mais de

II O jornal Rádio Notícias (página oposta) está no ar há 4 anos, apresentado por Jhonnys Moura e Danielle Gama. ABAIXO: Na rádio

Rio-Mar (à esquerda), o jornal é comandado pelo radialista Amarildo Silva que reveza a apresentação com Jorge Atlas (no centro da

foto). Na Difusora, o jornal da manhã é o mais antigo que está no ar até hoje, tem 50 anos

FOTOS: EDILENE MAFRA ILUSTRAÇÃO: RAFAEL PAZ

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levar informação com qualidade aosouvintes”, finaliza.

Amazonas faz Ciência. O “Rádiocom Ciência” faz parte de um projetomaior de comunicação e difusão daciência, o “Amazonas faz Ciência”,que envolve outros instrumentos de di-vulgação do conhecimento, entre eleso site da Fapeam, uma referência locale nacional em notícias sobre C&T, e arevista institucional “Amazonas fazCiência”, com periodicidade trimes-tral, tiragem de cinco mil exemplarese distribuição gratuita para diferentessegmentos da sociedade. Todos os pro-dutos são elaborados pelos bolsistasdo Programa Comunicação Científica.

Os programas nas rádios são entra-das ao vivo, de até três minutos, de se-gunda a sexta-feira, durante os seguin-tes programas: Jornal 1ª Hora, da Rá-dio Rio-Mar; Jornal Rádio Notícias daRBN FM; Jornal da Manhã da Rádio Di-fusora; Programa Manhã da GloboManaus, da antiga Rádio Baré, hoje Rá-dio Globo AM; e Jornal da Cidade, daRádio Cidade (abaixo, os horários e afreqüência das emissoras).

De acordo com a radialista EdileneMafra, bolsista do Comunicação Cien-tífica e autora do projeto “Rádio com

Ciência”, a idéia é levar informaçõescientíficas trabalhadas em uma lin-guagem simples, de modo que o ou-vinte possa compreender a importân-cia da ciência em seu dia-a-dia.

Para o diretor-presidente da Fapeam,Odenildo Sena, a iniciativa representaenorme salto na difusão do conheci-mento científico, já que a linguagemdo rádio é simples e direta. “Isto faci-litará a compreensão das ações da Fa-peam para o desenvolvimento da ciên-cia como agente impulsionador de me-lhores condições de vida para a popu-lação de toda a região. Só faz sentidoinvestir em ciência e pesquisa se isso es-tiver a serviço da sociedade”, observa.

Essa tem sido uma das prioridadesda Fapeam, desde que Sena assumiu apresidência do órgão. Foi em sua ges-

tão que nasceu, em 2006, o Comuni-cação Científica. Esse programa – pio-neiro na região – consiste na conces-são de bolsas, via seleção pública, paraprofissionais de jornalismo, radialismoe designer desenvolverem produtosde divulgação científica.

“Quanto mais nós conseguirmos le-var ao conhecimento do grande pú-blico, de forma traduzida, aquilo queé competência da Fapeam, melhorpara todo mundo. Melhor para funda-ção, pois concede transparência assuas ações, e melhor para a sociedade,que toma ciência daquilo que está ser-vindo de benefício para si e que estásendo produzido com seus recursos,com o dinheiro público. E o rádio, noAmazonas, tem um alcance enorme,o que vai ampliar e muito a difusão doconhecimento”, acentua Sena.

Segundo recentes constatações doInstituto de Pesquisas Mídia Dados eo Instituto de Pesquisas Ibope, a Re-gião Norte apresenta 78,6% de domi-cílios com aparelhos radiofônicos,tendo cadastradas 192 emissoras. Masapenas Amazonas e Pará têm um sis-tema de radiodifusão estruturado. Ro-raima, Amapá e Acre são os estados bra-sileiros que apresentam o menor nú-mero de emissoras com 4, 9 e 13, res-pectivamente.

O conteúdo veiculado nas quatroemissoras é produzido pela equipede bolsistas do programa Comuni-cação Científica, vinculado ao De-partamento de Difusão do Conheci-mento da Fapeam, e que conta aindacom estudantes de graduação em jor-nalismo, que recebem bolsas de Ini-ciação Científica. ||

EDIL

ENE

MA

FRA

II O jornal da cidade tem quase um ano de existência e é comandado pelo radialista

e publicitário Jackson Nascimento, que trabalha em rádio há 13 anos

Os flashes de até três minutos do “Rádio com Ciência” sãoveiculados nos seguintes programas:

– Jornal 1ª Hora, das 6h30 às 7h, às segundas-feiras, Rádio Rio-Mar AM-1.290;

– Jornal Rádio Notícias, das 8h às 8h45, às terças-feiras, Rádio RBN FM-107,9;

– Jornal da Manhã, 5h45 às 7h, às quartas e sextas-feiras, Rádio Difusora FM-96,9;

– Programa Manhã da Globo Manaus, das 8h às 11h, às quintas-feiras,

Rádio Baré (Globo) AM-1.440;

– Jornal da Cidade, das 7h às 8h, às quintas-feiras, da Rádio Cidade FM-99,3.

46 I N.º 9, ABRIL DE 2008

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O Amazonas tem peculiarida-des singulares se comparadasaos outros estados brasileiros.

É formado por 62 municípios, queagregam interesses socioeconômicos ecaracterísticas muito particulares. Porisso, é grande o desafio de realizar pes-quisas científicas que atuem nas neces-sidades das regiões, bem como reco-nhecer o valor do povo e estimular odesenvolvimento de acordo com opotencial de cada localidade. Esse de-safio é travado por pesquisadores dasprincipais instituições de ensino supe-rior do Amazonas, que visam enten-der melhor a relação homem X biodi-versidade Amazônica e contribuir como crescimento da região.

Em Manaus, atualmente, 20 Insti-tuições de Ensino Superior (IES) são re-conhecidas pelo Ministério da Edu-cação (MEC). Do total, duas são fede-rais, uma é estadual e 17 são particu-lares. Dentre elas, algumas se destacampor terem cientistas desenvolvendoestudos de ponta em várias áreas doconhecimento.

Segundo o pró-reitor de pesquisa epós-graduação da Universidade Fe-deral do Amazonas (Ufam), AltigranSoares da Silva, a instituição já nas-ceu fazendo pesquisa. Considerada aprimeira Universidade Brasileira, aUfam, que completa 100 anos em2009, prioriza o desenvolvimento depesquisas em áreas estratégicas quepermitam a identificação e solução deproblemas locais e regionais, contri-buindo para o desenvolvimento eco-nômico e social da região. O pró-rei-tor ressalta que além da utilizaçãosustentável dos recursos naturais daregião, a Ufam vê a necessidade depromover o desenvolvimento tecno-lógico na Amazônia a partir do PóloIndustrial de Manaus (PIM), para oqual é necessária a formação de téc-nicos e cientistas para atuarem nasempresas.

Hoje, a Ufam tem 57 cursos de gra-duação, 26 cursos de mestrado e 08cursos de doutorado, além de diversasespecializações, sendo oferecidas en-tre 50 e 60 por ano. Com isso, a Uni-versidade conta com quase 300 gruposde pesquisa, destes 330 são doutorese 350 são mestres, envolvendo aindamais de 1.000 alunos de mestrado edoutorado que realizam pesquisas nasmais variadas áreas do conhecimento,na sede e em mais de 25 campi e uni-dades distribuídas pelo Amazonas.

Pesquisa é pauta prioritárianas IES do Amazonas

Instituições de Ensino

Superior apostam em

cursos de extensão e

projetos que fomentem

o desenvolvimento de

uma cultura de

produção de ciência

na região

universidade ||

II Em Manaus, existem 20 Instituições de Ensino Superior. Duas são federais, uma

é estadual e 17 são particulares

JORGE SALDANHA

AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 47

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Quanto aos investimentos, partedos recursos que mantém as pesqui-sas realizadas pela Ufam vem da pró-pria Instituição e do Tesouro. Segundoo pró-reitor de pesquisa e pós-gradua-ção, o quadro de pesquisadores daUfam alcançou hoje um nível de ma-turidade em que eles próprios são res-ponsáveis por atrair investimento deagências locais, como a Fundação deAmparo à Pesquisa do Estado do Ama-zonas (Fapeam) e a Superintendên-cia da Zona Franca de Manaus (Su-frama), de agências nacionais, comoCoordenação de Aperfeiçoamento dePessoal de Nível Superior (Capes), oConselho Nacional de Desenvolvi-

mento Científico e Tecnológico(CNPq) e a Financiadora de Estudose Projetos (FINEP), e mesmo de agên-cias internacionais, como a NationalScience Foundation (NSF) e o ServiçoAlemão de Intercâmbio Acadêmico(DAAD). Além disso, há um númerocrescente de pesquisas financiadaspor empresas. “A Fapeam é hoje umadas principais parceiras da Ufam nodesenvolvimento das atividades depesquisa”, ressalta Silva.

Conectando o interior. OutraIES que se destaca em pesquisa e pro-jetos de extensão é a Universidade Es-tadual do Amazonas (UEA), fundada

em 2001 e atualmente já está presentenos 62 municípios do estado, comcampus em 15 municípios e platafor-mas nos demais. Segundo a reitora,professora Marilene Corrêa, a Insti-tuição atua diretamente nas questõesinter-regionais e os maiores benefi-ciados com as ações da universidadesão os jovens do interior.

O incremento à pesquisa e aos pro-jetos de extensão na UEA ganhouforça a partir de 2003, com a imple-mentação do Programa de Apoio àIniciação Científica (PAIC), finan-ciado pela Fapeam.

A UEA oferece 33 cursos de gradua-ção e 20 cursos de pós-graduação, des-tes, oito são de mestrado e quatro dedoutorado. Além de desenvolver pro-jetos como o APROVAR, o pré-vesti-bular gratuito que possibilita aos alu-nos uma preparação melhor para ovestibular e o Programa de Formaçãoe Valorização dos Professores (PRO-FORMAR) I e II.

De acordo com a reitora MarileneCorrêa, a Fapeam é fundamental paraa realização dos programas da UEA.“Ela funciona como estrutura de fo-mentação da pesquisa”, comenta. De2003 a 2007, a Fapeam investiu maisde R$ 4,5 milhões em recursos, o querepresenta quase duas mil bolsas de ini-ciação científica.

Uma novidade a caminho é a rea-lização de uma proposta de parceria en-tre a UEA e a Fundação Sevilla NodoEntre Oriente Y Occidente, da Espa-nha, para um convênio de cooperaçãoacadêmica e cultural, um Programade Formação Científico-Tecnológicadas Populações dos Municípios dasÁreas Protegidas do Estado do Amazo-nas. No programa, vão ser criados seiscursos superiores de tecnologia em 21municípios cortados por Reservas deDesenvolvimento Sustentável (RDS)e por uma Área de Proteção Ambien-tal (APA).

Pesquisa e Extensão. Entre asInstituições de Ensino Superior Par-ticulares, o Centro Universitário Nil-ton Lins (Uninilton Lins) procura es-

II Pesquisadores da Ufam se orgulham de ter alcançado um nível de maturidade

em que eles próprios são responsáveis por atrair investimentos

AD

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UES

48 I N.º 9, ABRIL DE 2008

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timular a pesquisa e a produção cien-tífica, buscando contribuir para a so-lução de problemas amazônicos. Se-gundo o pró-reitor de pesquisa e pós-graduação, Vitângelo Plantamura, asatividades de pesquisa estão estreita-mente voltadas para ações de ensinode graduação, de extensão e de pós-graduação. “O objetivo maior é aconsolidação dos grupos de pesquisae do reconhecimento da Instituiçãocomo um centro de excelência empesquisa”, assegura.

O pró-reitor também cita alguns re-sultados obtidos pela Instituição nosúltimos anos: “são 60 alunos bolsistasde Iniciação Científica e apoio téc-nico, desse total, 10 recebem incentivoda Fapeam; além de nove grupos depesquisas cadastrados no CNPq; 37projetos de pesquisa, sendo 13 apro-vados com fomento do CNPq e doispela Fapeam; 12 laboratórios especia-lizados para pesquisa; dois cursos deMestrado em Biologia Urbana e umcurso de Mestrado Interinstitucionalcom a Universidade Federal da Pa-raíba (UFPB), em Psicologia Social”, diz.

Além das pesquisas, o Centro Uni-versitário Nilton Lins tem 42 cursos degraduação envolvidos com projetosde extensão. Segundo a pró-reitora deextensão, Mônica Nozawa, a Institui-ção já surgiu extensionista e, por isso,busca levar para as comunidades doseu entorno, cursos e palestras de ca-pacitação, uma vez que prefere traba-lhar por meio de formação. O coorde-nador de pesquisas da Nilton Lins,Sérgio Nozawa, acrescenta: “Junta-mente com a extensão, a pesquisaagrega os valores da graduação e apli-cam os resultados nas comunidades,fazendo o papel da verdadeira univer-sidade, integrando ensino, pesquisae extensão”.

Ciência Social. O Centro Univer-sitário do Norte (UNINORTE) tam-bém se destaca pelas atividades de ex-tensão que desenvolve com alunos de34 cursos de graduação. Segundo adiretora de extensão, Júlia Camilloto,os projetos de extensão do Centro

têm a perspectiva de contribuir coma qualidade de vida das pessoas.

Entre os projetos realizados estãoOficinas Pedagógicas, Inglês para to-dos, Parceria Parque dos Bilhares,Escritório de Assistência Jurídica, Ci-neclube Silvino Santos, Rio Urubu eo programa de Rádio Saber Viver,produzido por alunos de Comuni-cação Social e transmitido pela Rá-dio Rio Mar.

Pela abrangência, a diretora de ex-tensão destaca os dois últimos proje-tos citados. “Os trabalhos têm con-centração na capital e, em algumassituações, extrapolam Manaus, comoé o caso do projeto de pesquisa mul-tidisciplinar do Rio Urubu e do Saber

Viver que chega a vários municípiosdo estado”.

Uma preocupação comum de to-das as Instituições de Ensino Supe-rior refere-se ao número pequeno depesquisadores qualificados atuandonos quadros permanentes das univer-sidades. A questão passa pela existên-cia de condições diferenciadas paraque pesquisadores de ponta se insta-lem na região. Também é indispensá-vel a existência de uma agenda multi-institucional para que as instituiçõesse posicionem estrategicamente fa-vorecendo a cooperação. Finalmente,é importante que se desenvolva umacultura de sistematização da produçãocientífica. (EM) ||

II Instituições se preocupam com o número pequeno de pesquisadores

qualificados atuando nos quadros das universidades

GRACE SOARES

AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 49

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50 I N.º 9, ABRIL DE 2008

|| desenvolvimento

II Adriana Malheiros veio para realizar

um estudo no Hemoam e agora é

uma pesquisadora fixada na região.

Foto: Andréia Mayumi

D e acordo com o último censo do Diretório dosGrupos de Pesquisa no Brasil, a produção

científica na região Norte teve um crescimento de

21%. No estudo, encomendado pelo Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecno-

lógico (CNPq), o Norte – sobretudo os estados do

Amazonas e Pará, – foi o que mais se destacou

entre as demais regiões brasileiras.

Em relação ao Amazonas, o levantamento

aponta um acréscimo de mais de 32% no número

de doutores. Em 2004, quando foi feito o último

censo, existiam 652 pesquisadores com essa titu-

lação no estado, atualmente já são 863.

Parte dos números divulgados é fruto da Polí-

tica Estadual de Ciência e Tecnologia (C&T) para

a formação de recursos humanos. Uma dessas ini-

ciativas é o Programa de Desenvolvimento Cien-

tífico Regional (DCR), desenvolvido desde 2003 pela

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do

Amazonas (Fapeam), em parceria com o CNPq.

O objetivo do programa é incentivar a vinda de

doutores de outros estados e sua posterior fixa-

ção aqui. Por meio dessa iniciativa, a Fapeam

tenta diminuir o abismo que separa o número

de pesquisadores e a demanda de desenvolvi-

mento científico e tecnológico da região.

O DCR oferece ao pesquisador visitante: bolsa,

auxílio-instalação, passagem aérea nacional, bolsa

complementar, bolsas de apoio técnico e auxílio-

pesquisa. Atualmente, o programa é executado

em regime de fluxo contínuo, ou seja, a qualquer

momento os pesquisadores podem submeter suas

propostas de financiamento.

Formação de RH e fixação de doutores na Amazônia

Fapeam canaliza investimentos em C&T para o interior e atrai pesquisadores para o AM

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AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 51

De 2003 até agora, o DCR apresentaresultados bastante animadores, cominvestimento de R$ 2.700.000,00. Oprograma trouxe ao Amazonas 79 pes-quisadores, dentre os quais, nove já es-tão fixados no estado.

A pesquisadora Adriana Malheiro éum dos reflexos do sucesso do DCR.Após concluir doutorado em Imuno-logia na Universidade de São Paulo(USP), Adriana veio pra o Amazonasa fim de desenvolver um estudo naFundação de Hematologia e Hemote-rapia do Amazonas (Hemoam) como objetivo de caracterizar os tipos devírus da hepatite C em doadores desangue e relacioná-los com a respostado organismo à doença.

O projeto da pesquisadora foi encer-rado em agosto deste ano, mas elaestá fixada no Amazonas e desenvol-vendo pesquisas no Hemoam. Atual-mente, Adriana é professora concur-sada da Universidade Federal do Ama-zonas (UFAM).

Fixação. Apesar do exemplo de resul-tado positivo em relação à fixação deAdriana Malheiro, seu caso repre-senta menos de 25% do total de pes-quisadores fixados no estado. “Esse éum desafio que envolve as instituiçõesde ensino e pesquisa em relação aconcursos ou seleções a fim de que ospesquisadores, ao final da bolsa, con-tinuem no Amazonas”, afirma Elisa-bete Brocki, diretora técnico-científicada Fapeam. Segundo ela, essa é a con-trapartida esperada das instituições,pois a Fundação traz o pesquisador aoAmazonas para desenvolver seus es-tudos. Mas ao final da bolsa, se nãohouver demanda de fixação aqui, elesretornam aos seus estados de origem.

Esse é o caso de Leandro Giatti quedesenvolve o projeto “Condições sani-tárias e socioambientais em Iauaretê,área indígena em São Gabriel da Ca-choeira, AM”, com encerramento dasatividades previsto para novembro doano que vem. Pesquisador da FundaçãoOswaldo Cruz (Fiocruz-AM), ele diz tervontade de permanecer no Amazonasapós o término do seu projeto no DCR.

De acordo com ele, o programaapresenta-se como uma oportunidadeímpar em sua carreira, pois oferece apossibilidade de permanecer comopesquisador visitante em uma institui-ção de referência como é o caso daFiocruz. “Meu maior problema atual-mente é que ainda sou apenas bol-sista na Fiocruz. Preocupa-me o fato de

não haver previsão de um novo con-curso na instituição”, afirma Giatti.

Para poder trabalhar no Amazonase desenvolver seu projeto, o pesquisa-dor precisou pedir exoneração do Ins-tituto Brasileiro do Meio Ambiente edos Recursos Naturais Renováveis(Ibama), onde era concursado no cargode analista ambiental. (AM) ||

II Leandro Giatti estuda as condições sanitárias e socioambientais em área indígena

Regionalização e InteriorizaçãoO DCR é dividido em duas categorias. Na vertente regionalização, o programa buscaatingir pesquisadores de outros estados que possam contribuir para o desenvolvi-mento científico-tecnológico e formação de recursos humanos na região. Já na cate-goria interiorização, a idéia é financiar projetos de doutores formados no Amazonasou já fixados, para que os mesmos desenvolvam estudos no interior do estado.

Amazonas SeniorUm dos principais objetivos da Fapeam é investir na formação de recursos huma-nos na região, especialmente em nível de pós-graduação. Elisabete Brocki ressaltaque mais de 20% do orçamento da entidade estão voltados para a formação demestres e doutores, seja via concessão de bolsas, auxílio-pesquisa ou infra-estru-tura. Dados da instituição revelam que, em 2005, havia cinco cursos de doutoradono estado. Hoje, após a criação da Fapeam, esse número subiu para 11.

Ainda na área de doutorado, além do incentivo aos cursos e o DCR, a institui-ção mantém o programa Amazonas Sênior que apóia atividades de pesquisadoresnacionais ou estrangeiros visitantes, detentores de título de doutor ou qualifica-ção equivalente, com alta competência em sua área de atuação.

De acordo com as diretrizes do programa, durante um período limitado, o pes-quisador deve participar da execução de estudos científicos e/ou tecnológicos rea-lizados, preferencialmente, em instituições públicas estaduais de pesquisa e/ouensino superior. Ele deve ter papel fundamental, ainda, na consolidação de pro-gramas de pós-graduação stricto sensu credenciados pela Capes, desenvolvidos noEstado do Amazonas.

LEANDRO GIATTI

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52 I N.º 9, ABRIL DE 2008

Q ual a importância de se prote-ger o conhecimento cientí-fico? Algumas pessoas, possi-

velmente as menos informadas ou li-vres de uma cultura de propriedadeintelectual, não dão a verdadeira rele-vância à questão. Contudo, casos clás-sicos como a tentativa de registrar amarca “cupuaçu” ou a falta de prote-ção do trabalho científico antes dapublicação dos resultados, por exem-plo, a que deu origem ao medicamen-to captopril, que hoje o País paga paraimportar, demonstram a importânciade se proteger o conhecimento e os re-sultados das pesquisas em uma so-ciedade moderna.

O captopril é um remédio utilizadopara baixar a pressão arterial. A pes-quisa que deu origem ao medicamentoiniciou na Universidade de São Paulo(USP) de Ribeirão Preto. Contudo, porfalta de recursos, o trabalho teve queser interrompido. O pesquisador pu-blicou os resultados preliminares e

um laboratório estrangeiro se interes-sou e deu prosseguimento aos estudos.Isso aconteceu porque quando não seprotege o conhecimento qualquer pes-soa pode acessar a informação e darcontinuidade ao trabalho. A proteçãodo conhecimento é uma forma de im-pedir que terceiros utilizem a informa-ção sem o consentimento do titular.

Para não cometer o mesmo erro, aDivisão de Propriedade Intelectual eNegócios (DPIN) do Instituto Nacio-nal de Pesquisas da Amazônia (INPA)realiza um trabalho de identificação deprodutos e/ou processos passíveis deserem patenteados em conjunto comos cientistas do Instituto. A parceria re-sultou, pela primeira vez, no patentea-mento internacional de oito produtos,sendo quatro voltados para a área decosméticos: “Creme antioxidante comcarotenóides”; “Creme evanescente”;“Sabonete líquido”; e “Sabonete só-lido”, todos à base de frutos da regiãoamazônica.

O conhecimento que sai da

INPA patenteia, internacionalmente, oito produtos e/ou processos oriundos da biodiversidade amazônica

|| ciência aplicada

ACERVO LBA / INPA

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AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 53

Para a cientista da Coordenação dePesquisas em Ciências da Saúde(CPCS/INPA), Helyde Marinho, e res-ponsável pela pesquisa com os cosmé-ticos à base de buriti (Mauritia fle-xuosa) e pupunha (Bactris gasipaesH.B.K.), a grande vantagem dos cre-mes e sabonetes é que eles permitemuma maior absorção e penetrabili-dade tornando a pele macia e semoleosidade, além de proporcionarmaior elasticidade, protegendo-a dasações dos radicais livres. “Os produ-tos são ricos em carotenóides – vita-mina A, o que ajuda a diminuir a açãodo tempo. Além disso, os carotenói-des atuam na regeneração da camada

lipídica da pele e possíveis patologiasrelacionadas ao ressecamento cutâ-neo”, diz Marinho.

As outras cinco patentes são: “Efei-tos antimicrobianos, antiácidos e re-movedores de biofilme de algumas es-pécies vegetais amazônicas sobre oStreptococcus mutans”, que é o princi-pal causador das cáries dentárias, oproduto terá uso odontológico; “Pre-paração de derivados semi-sintéticose bioativos, a partir de 4-nerolidilca-tecol e dilapiol”, o qual será utilizadono combate ao dano fotooxidativo dapele, envelhecimento cutâneo e/oucâncer de pele e malária; “Metabólitossecundários de frutos da Virola molis-sima e atividade antifúngica”, que po-derá ser utilizado como preservante demadeira ao ataque de fungos, alémdisso, terá aplicação na construçãonaval, marcenaria e embalagens demadeira; “Atividade antimicrobianade extratos obtidos do cultivo dofungo Trametes sp. isolado na Amazô-nia”, para utilização na indústria far-macêutica e agronômica.

Multiplicando resultados. Segundoa chefe do DPIN, Noélia Falcão, ape-sar de terem sido solicitados oito pe-didos de patentes, um dos pedidos, o“Efeitos antimicrobianos, antiácidos eremovedores de biofilme de algumasespécies vegetais amazônicas sobre oStreptococcus mutans”, resultará em dezprodutos e processos. Sendo eles: odesinfetante fitoterápico para escovae próteses dentais; creme dental fito-terápico com flúor; gel dental fitote-rápico; enxaguatório fitoterápico; duaspastas, sendo uma fitotetápica de hi-dróxido de cálcio e outra profilática fi-toterápica com flúor; spray profilá-tico antimicrobiano e cicatrizante; de-sinfetante líquido à base de óleos daAmazônia; dois sabonetes, sendo umlíquido fitoterápico antibacteriano e ci-catrizante, e um glicerinado fitoterá-pico antibacteriano e cicatrizante.

Falcão justifica que a medida foiadotada porque os dez produtos têma mesma atividade inventiva, ou seja,eles são oriundos das mesmas substân-

cias, que ainda não podem ser divul-gadas. Além disso, é alto o custo parase fazer o depósito de patentes inter-nacionais. Somente com os oito exem-plares foi gasto R$ 75 mil. Ela diz quepatente é investimento, por isso, seapenas uma delas tiver o conheci-mento transferido é possível cobrir ocusto de todas as outras e ainda teráentrada de recursos para investimen-tos em outras pesquisas.

“Na realidade, se somarmos tudo, oINPA solicitou 18 pedidos de patentesinternacionais. Com isso, hoje, o Ins-tituto conta com 27 produtos e pro-cessos que podem ser disponibilizadosà sociedade”, comemora Falcão, ressal-tando que para se chegar ao momentoatual foi preciso a conscientização dospesquisadores sobre a importância da

Do laboratório para prateleira

Segundo Falcão, transferir o conheci-mento de um dos produtos patentea-dos é algo que exige um enorme es-forço tanto da Instituição Científica eTecnológica – ICT (INPA) quanto daempresa interessada na comercializa-ção do produto, que vai desde o pro-cesso de negociação da transferênciade tecnologia, o estudo de viabilidadetécnico-econômica, o marketing tecno-lógico e, principalmente, o desenvol-vimento do produto de escala labora-torial para industrial.Alguns produtos, por exemplo, comaplicação farmacêutica, necessitam detestes pré-clínicos e clínicos (em co-baias e seres humanos), além de envol-ver o plantio de matéria-prima. Ouseja, demorarão ainda entre quatro ecinco anos para estarem disponíveispara o consumidor. “Contudo, estamosconfiantes de que este ano fecharemosalgumas parcerias por meio de licen-ciamentos de patentes.”, comemora.

floresta

II Extrato de buriti é usado na fabricação

de cremes e sabonetes

JUAN REVILLA

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54 I N.º 9, ABRIL DE 2008

propriedade intelectual, além do apoioda diretoria do Instituto em estimularos pesquisadores a protegerem o co-nhecimento e não apenas publicá-lo.“Sem o trabalho deles, nós não tería-mos dado um passo à frente”, enfatiza.

As patentes internacionais foramsolicitadas em todos os países signa-tários da Organização Mundial da Pro-priedade Intelectual (OMPI), conformeorientação do Ministério da Ciência eTecnologia (MCT), dos quais fazemparte 170 países. Falcão explica que atédezembro de 2008 será definido emquais países o INPA protegerá os depó-sitos. Na ocasião, a proteção deverá serfeita nos EUA, alguns países da UniãoEuropéia e no Japão. A proteção paten-tária conferida é territorial, isto querdizer que os depósitos de pedidos, atéentão realizados pelo Instituto, garan-tiam o privilégio das invenções so-mente no Brasil. Para garantir o privi-légio no exterior das novas patentes foinecessário realizar os depósitos nospaíses onde se queria estender o pri-vilégio das invenções.

“O depósito das patentes no exte-rior tem importância estratégica parao desenvolvimento tecnológico e eco-nômico do país, pois se tratam de pro-dutos e processos biotecnológicos, es-pecialmente fármacos, fito-fármacos,cosméticos e fito-cosméticos da biodi-versidade da região”, destaca.

Processo de patente. Envolve aidentificação de um produto ou pro-cesso por meio de buscas nos bancosde patentes de todo o mundo, deforma a certificar-se se atende aos re-quisitos básicos de patenteabilidade:ser algo inédito; ter atividade inven-tiva, ou seja, algo que não seja óbvio;e que possa ser produzido em largaescala.

No Brasil, os pedidos de patentessão feitos no Instituto Nacional dePropriedade Intelectual (INPI) e duraem média sete anos para se obter a“carta patente”. Nos Estados Unidose Europa, demora em média um anoe meio. A carta patente é um docu-mento oficial expedido pelo INPI (no

caso do Brasil) que confere ao titularda patente os direitos de propriedadeintelectual a ela garantidos. Vale res-saltar que, independente da expedi-ção da “carta patente”, a partir domomento do depósito, o titular passaa ter direitos sobre o produto e/ouprocesso.

“O interessante é que em um con-trato de transferência de tecnologia,por meio de licenciamento de patente,fica explícito que o produto e/ou pro-cesso é uma expectativa de patente.Contudo, não impede que façamos olicenciamento como foi o caso da sopadesidrata de piranha”, exemplifica.

Falcão explica que um pedido depatente nacional pode variar em tornode R$ 3.000 a R$ 15.000. Ela diz quevaria conforme o tipo de solicitaçãoque se faz. “Quando é algo oriundo daárea de biotecnologia é mais caro, poisé complicado de se redigir o relatóriodescritivo do processo”, informa. Dizainda que esses custos não são pagosao INPI e, sim, aos escritórios de pa-tentes capacitados e credenciados para

JORGE SALDANHA GRACE SOARES

II Entre as tecnologias já patenteadas

e transferidas para industrialização,

encontra-se a sopa de piranha,

reconhecida por seu poder afrodisíaco

II A economista Noélia Falcão revela que o INPA já possui 27 produtos e

processos que podem ser disponibilizados à sociedade

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AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 55

realizarem todo o processo, que vaidesde a busca nos bancos de patentes,a elaboração do relatório descritivo, doresumo e das reivindicações até o de-pósito de pedido de patente junto aoINPI. A taxa paga ao instituto é bas-tante razoável em relação aos hono-rários cobrados pelos escritórios depatentes.

O dono da patente. A Lei de Ino-vação Tecnológica e a Portaria 88 doMCT estabelecem que os produtose/ou processos desenvolvidos dentrodos órgãos de Ciência e Tecnologiado MCT são de titularidade do próprioInstituto, ou seja, a patente pertenceao INPA e os pesquisadores são classi-ficados como inventores, os quais te-rão um percentual sobre os produtos,conforme prevê a Lei.

Avanço contra cárie dentáriaA Organização Mundial da Saúde(OMS) estabelece que o Índice de Den-tes Cariados, Perdidos e Obturados(CPOD) não deve ultrapassar os 2,5%na população de jovens com idade

entre 16 e 17 anos. Entretanto, naAmazônia, o CPOD é de 3,66%. Porisso, para o pesquisador responsávelpelo projeto que resultou em dez pro-dutos odontológicos, Renilto FrotaCorrêa, a descoberta é um avançopara a odontologia porque será maisuma ferramenta no combate à cáriedentária.

Segundo o pesquisador, as plantasdescobertas foram comparadas comprodutos como clorexidina e eugenol,os quais são utilizados na rotina odon-tológica e encontrados em diversos

produtos para higiene bucal. “O extratoobtido demonstrou ser 68,5% e 35%mais eficaz do que o eugenol e o clo-rexidina, respectivamente”, comemora.

Corrêa explica que foram três anosde pesquisas e mais de 400 mil ensaiose noites em claro. A pesquisa é o resul-tado de sua dissertação de mestrado econtou com o apoio de químicos, bió-logos, farmacêuticos, que somaramcom idéias e sugestões. A pesquisatambém recebeu recursos da Fundaçãode Amparo à Pesquisa do Estado doAmazonas (Fapeam). (LM) ||

II Segundo a Divisão de

Propriedade Intelectual e

Negócios, um pedido de

patente nacional pode

variar em torno de R$

3.000 a R$ 15.000

II FONTE: DPIN/INPA

LUÍS MANSUÊTO

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56 I N.º 9, ABRIL DE 2008

Uma década após sua fundação, o Programa Sociedade e Cultura na

Amazônia, da Ufam, constrói bases epistemológicas próprias à região

|| humanas

D e c i f ra n d o a

Pesquisadores experientes, ao lado de novos,

ajudando na decifração da Amazônia. E, mais

importante: em bases e pistemológicas mais

justas. É o que afirma o pesquisador Narciso

Lobo, doutor em Ciências da Comunicação,

representa a visão crítica que compreende

o discurso e a razão no Programa de Pós-

Graduação em Sociedade e Cultura na

Amazônia (PPGSCA), que completa uma

década de existência.

AMAZÔNIA

RA

PHA

EL A

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AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 57

Oprograma iniciou sua jornada em 1998,quando um grupo de jovens doutores daUniversidade Federal do Amazonas(Ufam), todos eles tendo feito pós-gra-

duação fora da região, sentiram-se no dever decontribuir mais diretamente na formação do pensa-mento social da, e na Amazônia, a partir de baseslocais. Além disso, àquela altura, a Ufam não ofere-cia nenhum programa de Pós-graduação nas áreasde ciências sociais e humanidades.

O critério “humanidades” levou à opção pelo pro-grama institucional multidisciplinar que, por suanatureza, congrega várias áreas do conhecimentoem Ciências Humanas. Inicialmente, surgiu comoo curso de mestrado, com a sugestiva nomenclaturaNatureza e Cultura, mas transformou-se em pro-grama – PPGSCA, em 2001.

“Centrado numa perspectiva multidisciplinar,em que diferentes áreas do saber lançam o desafiode oferecer múltiplos olhares para os processossocioculturais na Amazônia, o programa congregavárias áreas do conhecimento das ciências huma-nas num diálogo entre ciência ocidental e a Amazô-nia, propondo alternativas concretas aos gruposhumanos e etnias regionais”, explica a coordenadorado programa, Iraíldes Caldas Torres.

Saldo positivo Aos dez anos, o PPGSCA registra 114 dissertaçõesdefendidas e um marco na história da pesquisa emhumanidades na região: a implantação do doutoradoem Sociedade e Cultura na Amazônia. Esse vôoestá diretamente vinculado à credibilidade do pro-grama junto à comunidade científica.

“O percurso até aqui realizado tornou oPPGSCA um Programa muito respeitado na comu-nidade acadêmica, tanto no âmbito regionalcomo nos âmbitos nacional e internacional”,afirma Caldas.

A formação de recursos humanos voltados parao entendimento da realidade social, política e cul-tural da Amazônia, inclusive, para a atividade dedocência superior envolvendo pesquisa, ensino eextensão, sempre figurou entre os principais ob-jetivos do programa.

Torres reconhece que a criação da Fundaçãode Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas(Fapeam) foi determinante para a consolidação doPPGSCA. “As bolsas de pesquisas oferecidas aosdiscentes e recursos para manter a secretaria doprograma dão o suporte necessário para o funcio-namento do programa”.

Produzindo conhecimentoEm parte, esse esforço coletivo demonstra as mu-danças por que passa a universidade, a mais antigainstituição de ensino e pesquisa no Amazonas. Defato, busca superar a esfera do “ensino”, com a re-produção do saber já existente, e institucionalizara pesquisa, produzir conhecimento.

“A lenta criação dos cursos de pós-graduação,no entanto, foi deixando mais nítida a disposição detambém se criar conhecimentos, além, é claro, dese desenvolver, entre nós, a convicção da importân-cia dos saberes locais, tanto dos povos indígenas,quanto das comunidades rurais, quebrando-se,dessa forma, o paradigma da pura importação”,enfatiza Lobo.

II A revista Somanlu é um importante meio de acesso à produção do PPGSCA

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58 I N.º 9, ABRIL DE 2008

Outro aspecto importante na consolidação doPPGSCA foi alcançar a regularidade e qualidadede publicação da revista Somanlu, uma raridadeentre os programas de pós-graduação da Ufam.

A idéia de se ter uma revista nesses padrõessurgiu desde o início do mestrado em Sociedade eCultura, com finalidade de criar um canal que le-vasse ao público as reflexões ali desenvolvidas. Asprimeiras edições foram esporádicas. Porém, nosúltimos quatro anos, simultaneamente ao forta-lecimento da Editora da Ufam (Edua), estabele-ceu-se a meta de editar dois números da Somanlu

por ano, uma exigência da Capes e do CNPq neces-sária ao seu reconhecimento.

Como estratégia de fortalecimento, buscou-seadesões de peso. O sociólogo português Boaventurade Souza Santos é um exemplo e o apoio finan-ceiro por meio do Programa Publica (Programa deApoio à Publicação), da Fapeam, é outro.

DocentesLevantamento feito pela secretaria do programaconfirma a importância e necessidade de forma-ção de recursos humanos. A pesquisa identificouque os egressos do PPGSCA, como são chamadosos mestres em Sociedade e Cultura, ocupamcargos de chefia nas instituições em que traba-lham ou fizeram carreira em docência.

“Muitos desses egressos, hoje, pertencentes aoquadro de professores e pesquisadores da Ufam econtribuem para aumentar os indicadores da ava-liação da universidade. Outra parte desse contin-gente passou a atuar em instituições de ensino su-perior públicas e privadas, em Manaus e no interiore até mesmo em outros estados do Norte”, afirmaa coordenadora.

Para muitos, o Sociedade e Cultura figura noimaginário acadêmico. O jornalista Denison Silvantornou público seu interesse em ingressar noprograma ao publicar artigo no Jornal do Commér-cio, no ano passado.

Em suposto entusiasmo, escreveu: “Há tempossonho cursar o Programa de Pós-Graduação So-ciedade e Cultura na Amazônia, oferecido peloICHL (Instituto de Ciências Humanas e Letras) daUfam em nível de mestrado. Com a inscrição domeu projeto, feito em 21 de dezembro passado,creio estar mais perto da concretização deste obje-tivo, para o qual, de uma maneira ou outra, estoume preparando desde o início do século.”

Denison foi feliz na empreitada. Entrou na turmade 2007 e, atualmente, prepara-se para enfrentara banca de qualificação, defendendo estudo quetem relação direta com empreendedorismo, a aná-lise da atuação de uma mineradora na Amazônia.“Quero analisar seus desdobramentos econômi-cos, sociais e ambientais, especialmente nos as-pectos relacionados à inserção dos trabalhadoresamazonenses e de outros Estados no processo pro-dutivo daquela empresa”, explica. (MP) ||

Com a reavaliação do curso de mestrado pela Capes, que passou a ter nível 4, a segunda melhor

classificação, e a implantação do doutorado, o currículo do programa foi reformulado. De cinco linhas,

passou a ter três que, segundo a coordenação, atendem à premissa multidisciplinar:

Linha 1 – Sistemas Simbólicos e Manifestações Socioculturais, Linha 2 – Redes, Processos e Formas

de Conhecimento, Linha 3 – Processos Sociais, Ambientais e Relações de Poder

Linhas de pesquisa

II Iraildes Caldas se orgulha em saber que o programaé respeitado na comunidade acadêmica

LUÍS MANSUÊTO

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AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 59

P opularizar o conhecimento cien-tífico produzido nas Instituiçõesde Ensino e Pesquisa da Ama-

zônia. Com este objetivo a revistacientífica eletrônica “Portal da Ciên-cia” foi criada em 22 de março de2007. Um ano depois, a equipe da re-vista, formada por professores e aca-dêmicos do curso de Comunicaçãoda Faculdade Boas Novas (FBN), jácontabiliza mais de 50 publicaçõesjornalísticas sobre a produção cientí-fica da região.

O Portal da Ciência é um projeto deextensão universitária da FBN e agregaprofissionais de diversas áreas. Fazemparte do grupo professores de jorna-lismo, design e bolsistas do curso decomunicação social. “O Portal é umarevista eletrônica voltada para a di-vulgação científica por meio de re-portagens produzidas dentro dos pa-

râmetros do jornalismo científico”,explica o coordenador do projeto, Al-lan Rodrigues, professor do Curso deComunicação da FBN. O portal tam-bém conta com a parceria do site “Por-tal Amazônia”, que disponibiliza assoluções de software para a publicaçãodas reportagens.

Ao longo do primeiro ano de exis-tência, o Portal produziu matérias so-bre pesquisas realizadas em diversasáreas do conhecimento. “Para se teruma idéia, ano passado fizemos ma-térias sobre pesquisas abordando aviolência nas escolas, técnicas de neu-tralização das emissões de gases doefeito estufa e também sobre expe-riências com atividades motoras paradeficientes. Sempre procurando levarao internauta informações científicasnuma linguagem acessível”, conta aacadêmica de jornalismo da FBN ebolsista do projeto, Kamila Mendes.

Para os integrantes do Portal daCiência, o desafio para 2008 é am-pliar o número de reportagens e par-tir também para a formação de umgrupo de pesquisa no campo do jor-nalismo científico. “O Portal precisase consolidar, publicar mais e tam-bém gerar conhecimento científicosobre a produção jornalística feita noestado com foco na ciência. Para isso,esperamos formar um grupo de pes-quisa para avaliar e propor melho-rias no que está sendo feito hoje”,diz Rodrigues.

O Portal da Ciência já realizou a co-bertura jornalística de projetos de ins-tituições como a Fundação de Amparoà Pesquisa do Estado do Amazonas(Fapeam), Universidade Federal doAmazonas (Ufam), Instituto Nacionalde Pesquisas da Amazônia (Inpa) eFundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). ||

Um ano de jornalismo científico na internet

Faculdade Boas Novascomemora os resultados

obtidos com o Portalda Ciência, na

cobertura jornalísticasobre o tema em

Manaus

ciência online ||

II Primando pela simplicidade dos textos, o Portal da Ciência comemora 1 ano de

aniversário, com o saldo de 50 produções jornalísticas sobre C&T

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60 I N.º 9, ABRIL DE 2008

O s recursos humanos especializa-dos na área de Farmacologia e

Toxicologia de Medicamentos do Cen-tro de Biotecnologia da Amazônia(CBA) são poucos no Brasil. A maioriada mão-de-obra é acadêmica, uma vezque o parque industrial farmacêuticoapenas recentemente foi incentivadoà pesquisa e à inovação competitiva noPaís. Na região norte, as condições sãoainda menos alentadoras, porque a in-fra-estrutura laboratorial para testesbiológicos é antiga e os acadêmicostreinados são em pequeno número.

Soma-se a esse quadro a precariedadedos serviços auxiliares, a ineficiênciada iniciativa privada no fornecimentode insumos específicos, a carência debiotérios qualificados, a distância dosgrandes centros e a fraca interaçãocientífica entre os institutos de pes-quisa local. Na prática, o impacto des-tas dificuldades é negativo na fixaçãode doutores em idade produtiva, co-brados que são por publicações cien-tíficas de alto nível e em grande vo-lume. Exceções honrosas à parte, apermanência dos que se deslocam paraa Amazônia motivados pela beleza epotencialidade da região, não tem sidomaior que 2 - 3 anos.

Por esta razão, a estratégia do CBApara implantação dos laboratórios deFarmacologia e Toxicologia de Medi-camentos foi concentrar esforços naformação local de recursos humanos"em serviço", enquanto os laboratóriosde experimentação eram aparelhadose a infra-estrutura auxiliar era montada.

Com apoio logístico e financeiroda Superintendência da Zona Francade Manaus (Suframa), contando comrecursos adicionais do Ministério da

Ciência e Tecnologia (MCT), da inicia-tiva privada e com bolsas da Fundaçãode Amparo à Pesquisa do Estado doAmazonas (Fapeam), 32 farmacêuticose biólogos recrutados em Manaus fo-ram treinados intensivamente em téc-nicas farmacológicas básicas destina-das a detectar ações cardiovasculares,ações no trato respiratório, ações nosistema nervoso central, ações neuro-musculares, ações gastrintestinais eações analgésicas/antiinflamatóriasem produtos fornecidos por empre-sas e pesquisadores da região. Como,no todo, as atividades pesquisadas noCBA correspondem a quase 70% de to-dos os medicamentos comercializa-dos anualmente no Brasil, é fácil en-tender a propriedade e a aplicabili-dade do treinamento executado.

Seis diferentes produtos regionaisforam avaliados quanto às ações far-macológicas gerais. O treinamento lo-cal foi reforçado com cursos teórico-práticos avançados, criando condi-ções logísticas para a verticalizaçãodo treinamento.

Esta etapa foi realizada em estágioobrigatório de seis meses no Institutode Farmacologia e Biologia Molecular(INFAR) da Universidade Federal deSão Paulo (UNIFESP), em São Paulo,graças ao convênio de cooperaçãocientífica estabelecido previamenteentre a Suframa/CBA e a UNIFESP. Oconvênio viabilizou, ainda, o inter-câmbio de estudantes de pós-gradua-ção, empréstimo de instrumental bá-sico para funcionamento provisório dafarmacologia no CBA, fornecimentode matrizes para formação do Bioté-rio Convencional de roedores no cen-tro e deslocamento de professores

para o treinamento in loco dos biote-ristas do CBA.

No estágio atual, quatro bolsistasCBA/FAPEAM terminam o Mestradona Farmacologia da UNIFESP e sete ou-tros iniciam o Mestrado stricto sensu emBiotecnologia de Medicamentos paraEndemias Regionais, da Ufam.

O intercâmbio entre as instituiçõesamazonenses foi reforçado com a apro-vação do Projeto Milênio (CNPq/MS2007-2010) para estudo multidiscipli-nar de plantas utilizadas na medicinapopular amazônica para tratamento damalária endêmica.

Nesse sentido, em 2008 completam-se mais três etapas importantes para aconsolidação da Farmacologia e Toxi-cologia de Medicamentos no CBA: pri-meiramente, a instalação do labora-tório de Farmacologia Molecular; emsegundo lugar, completa-se a instala-ção da sala de Cultura de Tecidos ani-mais para estudos de toxicidade celu-lar in vitro de cosméticos e outros pro-dutos dermatológicos; por fim, conclui-se a adequação do Biotério de roedo-res de alta qualidade sanitária, isen-tos de patógenos específicos, (SPF).

Contando com recursos humanostreinados, laboratórios equipados, ani-mais de qualidade em biotério auto-suficiente, integração multidiscipli-nar regional e nacional, o CBA estaráapto a receber, brevemente, solicitaçõesde exame da qualidade biológica de no-vos protótipos terapêuticos desenvol-vidos por empresas amazonenses,atendendo a um dos objetivos que le-vou à sua implantação.* Médico, Professor Titular de Farmacologia

da UNIFESP e Coordenador de Farmacolo-

gia e Toxicologia de Medicamentos do CBA.

PESQUISA E INOVAÇÃO COMPETITIVA

ANTÔNIO JOSÉ LAPA*

|| a r t i go

||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

O papel catalisador do CBA para o desenvolvimento de medicamentos no pólo farmacêutico amazônico

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