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Obras Morais - Como Distinguir um Adulador de um Amigo ... · PDF fileAutor: Plutarco Título: Obras Morais -Como Distinguir um Adulador de um Amigo, Como Retirar Benefício dos Inimigos,

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  • Plutarco

    Obras MoraisComo Distinguir um Adulador de um Amigo

    Como Retirar Benefcio dos InimigosAcerca do Nmero Excessivo de Amigos

    Traduo do grego, introduo e notas dePaula Barata Dias

    Universidade de Coimbra

  • Autor: PlutarcoTtulo: Obras Morais - Como Distinguir um Adulador de um Amigo, Como

    Retirar Benefcio dos Inimigos, Acerca do Nmero Excessivo de AmigosTraduo do grego, introduo e notas: Paula Barata DiasEditor: Centro de Estudos Clssicos e Humansticos

    Edio: 1/2010Coordenador Cientfico do Plano de Edio: Maria do Cu FialhoConselho Editorial: Jos Ribeiro Ferreira, Maria de Ftima Silva, Francisco de Oliveira, Maria do Cu Fialho, Nair Castro Soares

    Director tcnico da coleco / Investigador responsvel pelo projecto Plutarco e os fundamentos da identidade euroPeia: Delfim F. Leo

    Concepo grfica e paginao: Rodolfo Lopes

    Obra realizada no mbito das actividades da UI&DCentro de Estudos Clssicos e Humansticos

    Universidade de CoimbraFaculdade de Letras

    Tel.: 239 859 981 | Fax: 239 836 7333000447 Coimbra

    ISBN: 9789898281289ISBN digital: 9789898281296

    Depsito Legal: 309396/10

    Obra Publicada com o Apoio de:

    Classica Digitalia Vniversitatis Conimbrigensis

    Centro de Estudos Clssicos e Humansticos da Universidade de Coimbra

    Reservados todos os direitos. Nos termos legais fica expressamente proibida a reproduo total ou parcial por qualquer meio, em papel ou em edio electrnica, sem autorizao expressa dos titulares dos direitos. desde j excepcionada a utilizao em circuitos acadmicos fechados para apoio a leccionao ou extenso cultural por via de e-learning.

    Volume integrado no projecto Plutarco e os fundamentos da identidade europeia e financiado pela Fundao para a Cincia e a Tecnologia.

    Todos os volumes desta srie so sujeitos a arbitragem cientfica independente.

  • ndice

    I. Introduo Geral 7

    1. Os Tratados de Plutarco sobre a Amizade 72. Contextualizao ScioCultural da Produo

    Plutarqueana sobre a Amizade 393. A Orientao Filosfica de Plutarco 444. Porqu a Amizade? A Importncia do Tema no

    Mundo Antigo e em Plutarco 515. Sobre a Traduo 576. Bibliografia 58

    I. Como Distinguir um ADulADor De um Amigo 63

    Palavras Introdutrias 65Como Distinguir um ADulADor De um Amigo Traduo 73

    II. Como retirAr BenefCio Dos inimigos 165

    Palavras Introdutrias 167Como retirAr BenefCio Dos inimigos Traduo 173

    III. ACerCA Do nmero exCessivo De Amigos 201

    Palavras Introdutrias 203ACerCA Do nmero exCessivo De Amigos Traduo 207

    IV. ndices 225

    ndice Onomstico 227ndice de PalavrasChave 231

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    introduo Geral

    1. Os tratados de Plutarco sobre a amizade1

    A reunio num s volume da verso portuguesa dos tratados de Plutarco que abordam o tema da amizade resulta, de certa forma, de um abuso nosso, posto que no h elementos que permitam supor qualquer intencionalidade, da parte do Polgrafo Queronense, em apresentar o Como Distinguir um Adulador de um Amigo, o Como Retirar Benefcio dos Inimigos e Acerca do Nmero Excessivo de Amigos como opsculos sujeitos a uma qualquer disposio que os agrupasse.

    Variam no estilo, na dimenso, na poca de composio, nos destinatrios, e, sem dvida, como os ttulos permitem denunciar, no prprio ponto de vista de partida a que se sujeita, nas trs obras, o vasto tema da amizade. So, cada um, uma obra completa,

    1 Adoptaremos as seguintes abreviaturas: AD Como Distinguir um Adulador de um Amigo, de 48 F a 74D; IC Como Retirar Benefcio dos Inimigos 86, de B a 92 F; AM Acerca do Nmero Excessivo de Amigos, de 93 A a 97 A

  • Paula Barata Dias

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    estruturalmente construda como tal, sem que se estabelea nenhuma dependncia entre elas, do ponto de vista da construo literria. Sentimonos, contudo, legitimados a proceder a esta reunio.

    Em primeiro lugar, porque, apesar de estarem sujeitos a uma unidade de tema, os assuntos neles explanados, diversificados, no se repetem, nem se contradizem. Plutarco, embora no tenha deixado nenhuma reflexo terica sobre o tema da amizade como fizeram muitos autores antigos, sentiuse vontade em discutir, dar a sua opinio, argumentar, aconselhar, ou seja, em produzir um discurso de ndole pragmtica para os seus contemporneos embora se explicitem destinatrios directos sobre os problemas que a amizade acarreta.

    Acresce o facto de as trs obras partilharem uma estrutura retrica semelhante, particularmente no que toca introduo, e ao modo de o A. focalizar os tpicos propostos para discusso. Plutarco inicia os tratados apoiado na figura do estranhamento, tomando para si o papel de defesa de um ponto de vista que no maioritrio e que, primeira vista, se revela mesmo contrrio razo. Assume, diante do destinatrio e do receptor, um grau fraco de credibilidade na exposio da tese inicial, que assume contrariar o senso comum, ainda que sempre evocando autoridades filosficas como coadjuvantes, que vai crescendo nas premissas secundrias, todas sustentadas por um discurso demonstrativo2.

    2 Heinrich Laubsberg, Elementos de uma Retrica Literria, (Bona, 1967; trad. port. FCG, 3 ed., 1982), p. 90; p. 112.

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    Assim, em Como Distinguir um Adulador de um Amigo, (48 F) Plato que afirma que todos (hapantas) aprovam o homem que diz ter um elevado amor prprio. Este um grande mal, pois leva a que se perca a objectividade que permitiria a algum ser um juiz imparcial de si prprio. O excesso de amor prprio compromete o autoconhecimento, e ele mesmo chamariz para os aduladores. Nestas circunstncias, as vtimas dos aduladores so vtimas da sua irreflexo e da sua inpcia. Em Como Retirar Benefcio dos Inimigos, (86 DE), se para os outros (hoi alloi), tal como para os homens primitivos, no ser prejudicado pelos inimigos j era uma vitria, j Xenofonte afirmara que saber extrair vantagens dos adversrios uma qualidade dos homens inteligentes. Assim, que se tome esta premissa e que se apresente o mtodo de lucrar com as inimizades. Em Acerca do Nmero Excessivo de Amigos (93 B C), Scrates a autoridade evocada para torcer o argumento do senso comum, desmascarado, no passo em causa, a partir da ironia socrtica, que deixa a nu a ignorncia do seu interlocutor. Como pode ser negativo ter muitos amigos? No seremos alvo de riso os que, no estando seguros de ter um s amigo, receamos cair no meio de uma multido deles? Est, assim conquistada a ateno do destinatrio, e est tambm assumido um tom medianamente polmico e crtico quanto aos dominantes sociais em termos de opinio comum.

    A amizade tratada quer enquanto conceito potencial, isto , como orientar aquele que procura navegar nas guas estabilizadoras de uma relao

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    verdadeira, quer enquanto realidade concreta do quotidiano: ou seja, orientando o modo de agir daquele que vive num ambiente social intenso, no qual relaes interpessoais marcadas pela diversidade dos intervenientes se encadeiam, e tornam mais complexo o acto de discernir e avaliar o outro enquanto fonte de bemestar e de felicidade para o indivduo.

    Plutarco integrou nestes escritos uma reflexo coerente sobre a complexa gesto da amizade, resultando do conjunto uma abordagem integrada do que poderemos considerar ser o ponto de vista de Plutarco sobre este tipo de relao humana. Acresce, evidentemente, como sustentculo do seu domnio prtico sobre a questo, a experincia pessoal enquanto homem de intensa vida social, que soube cultivar a amizade e que dela colheu doces frutos, durante a sua longa vida. Parece, pois, natural, que um homem como Plutarco se sentisse autorizado a partilhar as suas reflexes, amadurecidas pela experincia de vida e pelo seu poder de observao.

    Surpreendentemente, ao contrrio das reflexes literrias e filosficas sobre o tema, que Plutarco conheceu e por que se deixou influenciar, no entrevemos no A. a preocupao de definir teoricamente ou filosoficamente o conceito de amizade. A focalizao incide sobre os aspectos concretos do que pode correr mal, ou do que compromete o gozo de uma amizade.

    Plutarco recorre sua erudio literria para se ancorar neste domnio, dela se servindo como um catalizador para apresentar uma tipologia de exemplos

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    e de questes que se situam nas fronteiras da amizade enquanto estado ideal de concrdia entre dois espritos, mas que com ela no se confundem. A naturalidade com que procede anlise de temas socialmente delicados, e mesmo inconvenientes, resultam, quanto a ns, do conhecimento erudito que o autor reuniu e que lhe permitiu compor as Vidas Paralelas biografias de homens famosos de diferentes momentos da histria antiga grega e romana, todos fazendo parte, por razes diversas, das elites polticas e culturais. feito, por isso mesmo, um extenso uso de exempla comuns aos que encontramos nas suas Biografias episdios, anedotas, ditos famosos para corroborar os seus pontos de vista e as suas tomadas de posio, facto que deixamos assinalado nas notas que acompanham a traduo. A tradio literria ficcional da Antiguidade est tambm presente, atravs da colao de excertos dos poetas, picos, trgicos e cmicos, que compuseram nas suas obras retratos modelares de heris e de mitos nos quais o enleio da amizade e a armadilha da sua aparncia condicionaram a existncia de personalidades como Hracles, Aquiles e Ptroclo, Agammnon, Heitor, Menelau, Pramo, Ulisses. Dos historiadores, filsofos, oradores, e de toda a tradio literria anterior a si, retirou no s exemplos de caracteres, mas tambm um manancial considervel de ditos sentenciosos, mximas, provrbios, ou simples expresses que no poucas vezes se encadeiam no discurso, completandoo ou precisandoo, facto que se aplica ao estilo plutarqueano em geral.