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1 O VISHNU PURANA Um sistema de mitologia e tradição hindu, traduzido do sânscrito original, e esclarecido por notas derivadas principalmente de outros Puranas, por H. H. Wilson, m. A. F.RS. Membro da Sociedade Asiática Real, e das Sociedades Asiáticas de Bengala e Paris; da Sociedade Imperial de Naturalistas, Moscou; das Academias Reais de Berlim e Munique; PhD. na Universidade de Breslau e Professor Boden* de Sânscrito na Universidade de Oxford, Londres. Publicado por John Murray, Rua Albemarle. [1840] Escaneado, revisado e formatado em sacred-texts.com, fevereiro de 2006, por John Bruno Hare. Este texto está no domínio público nos EUA porque foi publicado antes de 1923. OXFORD, IMPRESSO POR T. COMBE, IMPRESSOR PARA A UNIVERSIDADE. PARA O CHANCELER, MESTRES, E ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE DE OXFORD, ESTE TRABALHO É DEDICADO RESPEITOSAMENTE POR H. H. WILSON, EM TESTEMUNHO DE SUA VENERAÇÃO PELA UNIVERSIDADE, E EM RECONHECIMENTO GRATO PELA DISTINÇÃO CONFERIDA A ELE POR SUA ADMISSÃO COMO UM MEMBRO, E SUA ELEIÇÃO PARA O POSTO DE PROFESSOR BODEN DO IDIOMA SÂNSCRITO. OXFORD, 10 de Fevereiro de 1840. * O cargo de Professor Boden de Sânscrito na Universidade de Oxford foi estabelecido em 1832 com dinheiro dado para a universidade pelo Tenente-Coronel Joseph Boden, um soldado reformado do serviço da Companhia das Índias Orientais. Traduzido para o português por Eleonora Meier - 2012.

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    VISHNU PURANA Um sistema de mitologia e tradio hindu, traduzido do snscrito original, e esclarecido

    por notas derivadas principalmente de outros Puranas, por

    H. H. Wilson, m. A. F.RS.

    Membro da Sociedade Asitica Real, e das Sociedades Asiticas de Bengala e Paris; da Sociedade Imperial de Naturalistas, Moscou; das Academias Reais de Berlim e

    Munique; PhD. na Universidade de Breslau e Professor Boden* de Snscrito na Universidade de Oxford, Londres.

    Publicado por John Murray,

    Rua Albemarle. [1840]

    Escaneado, revisado e formatado em sacred-texts.com, fevereiro de 2006, por John

    Bruno Hare. Este texto est no domnio pblico nos EUA porque foi publicado antes de 1923.

    OXFORD, IMPRESSO POR T. COMBE, IMPRESSOR PARA A UNIVERSIDADE.

    PARA O CHANCELER, MESTRES, E ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE DE OXFORD, ESTE TRABALHO DEDICADO RESPEITOSAMENTE POR H. H.

    WILSON, EM TESTEMUNHO DE SUA VENERAO PELA UNIVERSIDADE, E EM RECONHECIMENTO GRATO PELA DISTINO CONFERIDA A ELE POR SUA

    ADMISSO COMO UM MEMBRO, E SUA ELEIO PARA O POSTO DE PROFESSOR BODEN DO IDIOMA SNSCRITO.

    OXFORD, 10 de Fevereiro de 1840.

    * O cargo de Professor Boden de Snscrito na Universidade de Oxford foi estabelecido em 1832 com dinheiro dado para a universidade pelo Tenente-Coronel Joseph Boden, um soldado reformado do servio da Companhia das ndias Orientais.

    Traduzido para o portugus por Eleonora Meier - 2012.

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    Para ver os contedos de cada captulo de cada livro v direto para CONTEDOS.

    Sumrio Introduo ................................................................................................................................ 4

    Data dos Puranas ...................................................................................................................... 9

    Classificao dos Puranas ........................................................................................................ 10

    1. O Brahma Purana ................................................................................................................ 13

    2. O Padma Purana ................................................................................................................. 14

    3. O Vishnu Purana ................................................................................................................. 16

    4. O Vayaviya Purana .............................................................................................................. 16

    5. O Bhagavata Purana ............................................................................................................ 18

    6. O Naradiya Purana .............................................................................................................. 22

    7. O Markandeya Purana ......................................................................................................... 24

    8. O Agni Purana ..................................................................................................................... 25

    9. O Bhavishya Purana ............................................................................................................ 27

    10. O Brahma-vaivartta Purana ............................................................................................... 28

    11. O Linga Purana .................................................................................................................. 29

    12. O Varaha Purana ............................................................................................................... 31

    13. O Skanda Purana ............................................................................................................... 31

    14. O Vamana Purana ............................................................................................................. 33

    15. O Kurma Purana ................................................................................................................ 33

    16. O Matsya Purana ............................................................................................................... 35

    17. O Garuda Purana ............................................................................................................... 36

    18. O Brahmanda Purana ........................................................................................................ 37

    Os Upa-puranas ...................................................................................................................... 38

    Sinopse do Vishnu Purana ....................................................................................................... 39

    O Primeiro Livro ...................................................................................................................... 40

    O Segundo Livro ...................................................................................................................... 42

    O Terceiro Livro ...................................................................................................................... 42

    O Quarto Livro ........................................................................................................................ 43

    O Quinto Livro ........................................................................................................................ 47

    O Sexto Livro ........................................................................................................................... 48

    Data do Vishnu Purana ............................................................................................................ 48

    Concluso ............................................................................................................................... 49

    CONTEDOS ........................................................................................................................... 51

    LIVRO 1 ................................................................................................................................... 62

    LIVRO 2 ................................................................................................................................. 159

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    LIVRO 3 ................................................................................................................................. 224

    LIVRO 4 ................................................................................................................................. 280

    LIVRO 5 ................................................................................................................................. 373

    LIVRO 6 ................................................................................................................................. 456

    GLOSSRIO ........................................................................................................................... 485

  • 4

    Introduo A literatura dos hindus tem sido cultivada por muitos anos com diligncia singular, e em muitos dos seus ramos com sucesso eminente. Porm, h alguns departamentos que ainda esto s parcialmente e imperfeitamente investigados; e ns estamos longe de estar em posse daquele conhecimento que somente as escrituras autnticas dos hindus podem nos dar a respeito de sua religio, mitologia, e tradies histricas. A partir dos materiais aos quais ns tivemos acesso at agora, parece provvel que havia trs formas principais nas quais a religio dos hindus existia, pelo mesmo nmero de diferentes perodos. A durao desses perodos, as circunstncias de sua sucesso, e o estado preciso da f nacional em cada poca, no possvel determinar com alguma aproximao preciso. As premissas tambm tm sido determinadas imperfeitamente para autorizar a no ser concluses de uma descrio geral e um pouco vaga, e essas ainda precisam ser confirmadas ou corrigidas futuramente por pesquisa mais extensa e satisfatria. A forma mais antiga sob qual a religio hindu aparece aquela ensinada nos Vedas. O estilo da linguagem, e o sentido da composio daqueles trabalhos, at onde ns estamos familiarizamos com eles, indicam uma data muito anterior quela de qualquer outra classe de escritos snscritos. Porm, mal seguro sugerir uma opinio a respeito da crena ou filosofia exata que eles inculcam. Para nos permitir opinar sobre sua tendncia, ns temos somente um esboo geral de sua organizao e contedos, com alguns extratos, pelo Sr. Colebrooke, nas Pesquisas Asiticas1; algumas observaes incidentais pelo Sr. Ellis, na mesma miscelnea2; e uma traduo do primeiro livro do Samhita, ou coleo de preces do Rig-veda, pelo Dr. Rosen3; e alguns dos Upanishads, ou tratados especulativos, ligados a, mais propriamente parte dos, Vedas, por Rammohun Roy4. A respeito da religio ensinada nos Vedas, a opinio do Sr. Colebrooke ser recebida provavelmente como aquela que tem maior direito deferncia, porque certamente nenhum estudante de Snscrito est igualmente familiarizado com os trabalhos originais. "A real doutrina da escritura indiana a unidade da Divindade, em quem o universo est compreendido; e o aparente politesmo que ela mostra oferece os elementos e as estrelas e planetas como deuses. As trs manifestaes principais da divindade, com outros atributos e energias personificados, e a maioria dos outros deuses da mitologia hindu, realmente so mencionados, ou pelo menos indicados, no Veda. Mas o culto de heris divinizados no parte do sistema; nem as encarnaes de divindades so sugeridas em qualquer parte do texto que eu vi at agora, embora sejam s vezes indicadas pelos comentadores5." Algumas dessas declaraes podem talvez requerer modificao; pois sem um exame cuidadoso de todas as preces dos Vedas, seria perigoso afirmar que eles no contm nenhuma indicao de adorao ao heri; e certamente eles parecem aludir ocasionalmente aos Avataras, ou encarnaes, de Vishnu. Porm, verdade que o carter prevalecente do ritual dos Vedas a adorao dos elementos personificados; de Agni, ou fogo; Indra, o firmamento; Vayu, o ar; Varuna, a gua; de Aditya, o sol; Soma, a lua; e outros personagens elementares e planetrios. Tambm verdade que o culto dos Vedas a maior parte adorao

    1 Asiatic Researches Vol. VIII. p. 369. 2 Vol. XIV. p. 37. 3 Publicado pelo Oriental Translation Fund Committee. 4 Uma traduo dos principais Upanishads foi publicada sob o ttulo de Oupnekhat, ou Theologia Indica, por Anquetil Du Perron; mas ela foi feita por meio do Persa, e muito incorreta e obscura. Uma traduo de um carter muito diferente tem estado a algum tempo em processo de preparao por M. Poley. 5 As. Res. Vol. VIII. pg. 473.

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    domstica, consistindo em oraes e oblaes oferecidas - em suas prprias casas, no em templos - por indivduos para o bem individual, e dirigidas a presenas irreais, no a figuras visveis. Em uma palavra, a religio dos Vedas no era idolatria. No possvel conjeturar quando essa forma mais simples e primitiva de adorao foi sucedida pela adorao de imagens e smbolos, representando Brahma, Vishnu, Shiva, e outros seres imaginrios, constituindo um panteo mitolgico de mais ampla extenso, ou quando Rama e Krishna, que parecem ter sido originalmente personagens reais e histricos, foram elevados dignidade de divindades. Adorao imagem aludida por Manu em vrias passagens6, mas com uma notificao que aqueles brmanes que subsistem por ministrar em templos so uma classe inferior e degradada. A histria do Ramayana e do Mahabharata gira totalmente sobre a doutrina de encarnaes, todas as principais figuras dramticas dos poemas sendo personificaes de deuses e semideuses e espritos celestiais. O ritual parece ser aquele dos Vedas, e pode ser duvidado se alguma aluso adorao de imagens ocorre; mas a doutrina de propiciao atravs de penitncia e louvor prevalece do comeo ao fim, e Vishnu e Shiva so os objetos especiais de panegrico e invocao. Naqueles dois trabalhos, ento, ns localizamos indicaes inequvocas de um afastamento da adorao elementar dos Vedas, e a origem ou elaborao de lendas, que formam o grande corpo da religio mitolgica dos hindus. At que ponto eles aperfeioaram a cosmogonia e cronologia de seus predecessores, ou em que grau as tradies de famlias e dinastias podem se originar deles, so questes que s podero ser resolvidas quando os Vedas e os dois trabalhos em questo tiverem sido examinados mais completamente. Os diferentes trabalhos conhecidos pelo nome de Puranas so evidentemente derivados do mesmo sistema religioso que o Ramayana e o Mahabharata, ou da fase mito-herica de f hindu. Porm, eles apresentam peculiaridades as quais indicam que eles pertencem a um perodo posterior, e uma modificao importante no progresso de opinio. Eles repetem a cosmogonia terica dos dois grandes poemas; eles expandem e sistematizam as computaes cronolgicas; e eles do uma representao mais definida e conectada das fices mitolgicas, e as tradies histricas. Mas alm dessas e outras particularidades, que podem ser derivveis de uma antiga, se no de uma era primitiva, eles oferecem peculiaridades caractersticas de uma descrio mais moderna, na importncia suprema que eles designam s divindades individuais, na variedade e sentido dos ritos e observncias dirigidos a eles, e na inveno de lendas novas ilustrativas do poder e benevolncia daquelas divindades, e da eficcia de devoo irrestrita a elas. Shiva e Vishnu, sob uma ou outra forma, so quase os nicos objetos que reivindicam a reverncia dos hindus nos Puranas; partindo do ritual domstico e elementar dos Vedas, e mostrando um fervor e exclusividade sectrios no observveis no Ramayana, e s a uma extenso qualificada no Mahabharata. Eles no so mais autoridades para crena hindu como um todo: eles so guias especiais para ramos separados e s vezes conflitantes dela, compilados para o propsito evidente de promover o culto preferencial, ou em alguns casos nico, de Vishnu ou de Shiva.7 Que os Puranas sempre tiveram o carter aqui dado deles, pode dar margem dvida razovel; que isso se aplica corretamente a eles como eles so conhecidos agora, as pginas seguintes vo substanciar incontestavelmente. Porm, possvel

    6 Livro 3. 152, 164. Livro 4. 214. 7 Alm dos trs perodos marcados pelos Vedas, Poemas Hericos, e Puranas, um quarto pode

    ser datado a partir da influncia exercida pelos Tantras sobre a prtica e f hindus; mas ns ainda somos muito pouco familiarizados com aqueles trabalhos, ou sua origem, para especular seguramente sobre

    suas consequncias.

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    que possa ter havido uma classe mais antiga de Puranas, da qual esses que ns temos agora sejam somente representantes parciais e adulterados. A identidade das lendas em muitos deles, e ainda mais a identidade das palavras - pois em vrios deles passagens longas so literalmente as mesmas - uma prova suficiente que em todos os tais casos eles devem ser copiados ou de algum outro trabalho semelhante, ou de um original comum e anterior. Tambm no incomum um fato ser declarado sobre a autoridade de uma 'antiga estrofe', que citada adequadamente; mostrando a existncia de uma fonte de informao mais antiga, e em muitssimos casos lendas so aludidas, no contadas; evidenciando familiaridade com sua narrao anterior em outro lugar. O prprio nome, Purana, que significa 'antigo', indica que o objetivo da compilao a preservao de tradies antigas; um propsito, na condio atual dos Puranas, cumprida muito imperfeitamente. Qualquer que seja o peso que possa ser dado a essas consideraes, no h evidncia contestante em sentido semelhante fornecida por outra e inquestionvel autoridade. A descrio dada pelo Sr. Colebrooke8 dos contedos de um Purana tirada de escritores snscritos. O Lxico de Amarasimha d como um sinnimo de Purana, Pancha-lakshanam, 'aquilo que tem cinco tpicos caractersticos,' e no h diferena de opinio entre os comentadores quanto ao que estes so. Eles so, como o Sr. Colebrooke menciona: 1. Criao original, ou cosmogonia; 2. Criao secundria, ou a destruio e renovao de mundos, inclusive cronologia; 3. Genealogia de deuses e patriarcas; 4. Reinados dos Manus, ou perodos chamados Manwantaras; e 5. Histria, ou tais pormenores como foram preservados dos prncipes das raas solares e lunares, e dos seus descendentes at os tempos modernos9. Tais, de qualquer modo, eram as partes constituintes e caractersticas de um Purana nos tempos de Amarasimha, cinquenta e seis anos antes da era crist; e se os Puranas no tivessem sofrido nenhuma mudana desde o tempo dele, ns deveramos esperar encontr-las ainda. Eles esto de acordo com essa descrio? No exatamente em qualquer caso: a alguns deles ela totalmente inaplicvel; a outros se aplica s parcialmente. No h nenhum ao qual ela pertena to completamente quanto ao Vishnu Purana, e essa uma das circunstncias que d a este trabalho um carter mais autntico que a maioria de seus companheiros pode aspirar. Contudo mesmo nesse caso ns temos um livro sobre os costumes da sociedade e ritos fnebres interpostos entre os Manwantaras e as genealogias de prncipes, e uma vida de Krishna separando as ltimas de um relato do fim do mundo, alm da insero de vrias lendas de um carter manifestadamente popular e sectrio. Sem dvida muitos dos Puranas, como eles so agora, correspondem viso que o Coronel Vans Kennedy tem do significado deles. "Eu no posso descobrir neles", ele observa, "qualquer outro objetivo a no ser aquele de instruo religiosa." A descrio da terra e do sistema planetrio, e as listas de linhagens reais que se encontram neles, ele afirma serem "evidentemente extrnsecas, e no circunstncias essenciais, porque elas so totalmente omitidas em alguns Puranas, e muito concisamente ilustradas em outros; enquanto, pelo contrrio, em todos os Puranas algum ou outro dos principais princpios, ritos, e observncias da religio hindu so discorridos completamente, e ilustrados ou atravs de lendas apropriadas ou pela prescrio das cerimnias a serem praticadas, e das preces e invocaes a serem empregadas, na adorao de diferentes divindades10", Agora, embora essa descrio dos Puranas como eles so possa ser acurada, est claro que ela no se aplica ao que eles eram quando eles foram sinonimicamente designados

    8 As. Res. vol. VII. pg. 202. 9 A seguinte definio de um Purana citada constantemente: ela encontrada no Vishnu,

    Matsya, Vayu, e outros Puranas: Uma variao de leitura no princpio da segunda linha mencionada por Ramasrama, o comentador

    sobre Amara, 'Destruio da terra e o resto, ou dissoluo final,' em qual caso as genealogias de heris e prncipes esto includas naquelas dos patriarcas. 10 Researches into the Nature and Affinity of Ancient and Hindu Mythology, pg.153, e nota.

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    como Pancha-lakshanas, ou 'tratados sobre cinco tpicos;' nem um dos cinco alguma vez especificado por texto ou comentrio ser "instruo religiosa." No conhecimento de Amara Sinha as listas de prncipes no eram extrnsecas e sem importncia, e elas serem assim consideradas agora por um escritor to bem familiarizado com os contedos dos Puranas como o Cel. Vans Kennedy uma prova decisiva que desde os tempos do lexicgrafo eles passaram por alguma alterao material, e que ns no temos no momento os mesmos trabalhos sob todos os aspectos que eram correntes sob a denominao de Puranas no sculo anterior ao cristianismo. A concluso deduzida da discrepncia entre a forma atual e a definio mais antiga de um Purana, desfavorvel antiguidade dos trabalhos existentes geralmente, convertida em certeza quando ns chegamos a examin-los em detalhes; pois embora eles no tenham data atribuda a eles, contudo circunstncias so s vezes mencionadas ou aludidas, ou so feitas referncias a autoridades, ou so narradas lendas, ou so particularizados lugares, dos quais a data comparativamente recente incontestvel, e que obrigam uma reduo correspondente da antiguidade do trabalho no qual elas so descobertas. Ao mesmo tempo eles podem ser absolvidos de subservincia a qualquer impostura exceto sectria. Eles eram fraudes religiosas para propsitos temporrios; eles nunca emanaram de alguma combinao impossvel dos brmanes para fabricar para a antiguidade do sistema hindu inteiro qualquer reivindicao qual ele no pode confirmar totalmente. Uma parte muito grande dos contedos de muitos, alguma parte dos contedos de todos, genuna e antiga. A interpolao sectria ou embelezamento sempre suficientemente palpvel para ser colocado aparte, sem dano para o material mais autntico e primitivo; e os Puranas, embora eles pertenam especialmente quela fase da religio hindu na qual a f em alguma divindade era o princpio prevalecente, tambm so um registro valioso da forma de f hindu que veio em seguida em ordem quela dos Vedas; que enxertou culto ao heri no ritual mais simples dos ltimos; e que tinha sido adotado, e estava extensivamente, talvez universalmente, estabelecido na ndia na poca da invaso grega. O Hrcules dos escritores gregos era indubitavelmente o Balarama dos hindus; e suas menes de Mathura no Jumna, e do reino do Suraseni e do pas Pandaean, evidenciam a circulao anterior das tradies que constituem o argumento do Mahabharata, e que so repetidas constantemente nos Puranas, relativas s tribos Pandava e Yadava, a Krishna e seus heris contemporneos, e s dinastias dos reis solares e lunares. A teogonia e cosmogonia dos Puranas podem provavelmente ser localizadas nos Vedas. Elas no so, at onde j conhecido, descritas em detalhes naqueles trabalhos, mas elas so aludidas frequentemente em uma tendncia mais mstica e obscura, que indica familiaridade com sua existncia, e que parece ter provido os Puranas com a base de seus sistemas. O esquema de criao primria ou elementar eles obtm emprestado da filosofia Sankhya, a qual provavelmente uma das formas mais antigas de especulao sobre homem e natureza entre os hindus. Com relao, entretanto, quela parte do carter purnico na qual h razo para suspeitar de origem posterior, sua indicao do culto de uma divindade favorita, eles combinam a interposio de um criador com a evoluo independente da matria em um estilo um pouco contraditrio e ininteligvel. Tambm evidente que seus relatos a respeito da criao secundria, ou o desenvolvimento das formas existentes de coisas, e a disposio do universo, so derivadas de vrias e diferentes fontes; e parece muito provvel que eles sejam acusados de algumas das incongruncias e absurdos pelos quais a narrativa est desfigurada, por terem tentado atribuir realidade e sentido ao que era somente metfora ou misticismo. H, entretanto, entre a complexidade desnecessria da descrio, um acordo geral entre eles sobre a origem das coisas, e sua distribuio final; e em muitas das circunstncias h uma conformidade notvel

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    com as idias que parecem ter permeado todo o mundo antigo, e as quais ns podemos portanto crer estarem representadas fielmente nos Puranas. O pantesmo dos Puranas uma de suas caractersticas invariveis, embora a divindade especfica, que todas as coisas, de quem todas as coisas procedem, e para quem todas as coisas retornam, seja diversificada de acordo com suas inclinaes sectrias. Eles parecem ter derivado a noo dos Vedas, mas neles o nico Ser universal de uma ordem mais elevada que uma personificao de atributos ou elementos, e, embora concebido imperfeitamente, ou descrito impropriamente, Deus. Nos Puranas se supe que o nico Ser Supremo est manifestado na pessoa de Shiva ou Vishnu, ou no modo de iluso ou em esporte; e uma ou outra dessas divindades portanto tambm a causa de tudo o que , ele mesmo tudo o que existe. A identidade de Deus e natureza no uma noo nova; ela era muito comum nas especulaes da antiguidade, mas assumiu um vigor novo nos primeiros perodos do cristianismo, e foi levada a um pico igual de extravagncia pelos cristos platnicos como pelos hindus Shaiva ou Vaishnava. No parece impossvel que tenha havido alguma comunicao entre eles. Ns sabemos que havia uma comunicao ativa entre a ndia e o Mar Vermelho nos tempos primitivos da era crist, e que doutrinas, como tambm artigos de mercadoria, eram trazidos para Alexandria da primeira. Epiphanius11 e Eusebius 12 acusam Scythianus de ter importado da ndia, no segundo sculo, livros sobre magia, e noes herticas levando ao Maniquesmo; e foi no mesmo perodo que Amnio instituiu a seita dos neoplatnicos em Alexandria. A base de sua heresia era, que verdadeira filosofia derivava sua origem das naes orientais; sua doutrina da identidade de Deus e o universo aquela dos Vedas e Puranas; e as prticas que ele ordenava, como tambm seu objetivo, eram precisamente aqueles descritos em vrios dos Puranas sob o nome de Yoga. Os discpulos dele eram ensinados a extenuarem por mortificao e contemplao as restries corporais sobre o esprito imortal, de forma que nessa vida eles podiam desfrutar de comunho com o Ser Supremo, e ascender depois da morte ao Pai universal13." Que essas so doutrinas hindus as pginas seguintes14 testificaro; e pela admisso de seu professor alexandrino, elas se originaram na ndia. A importao no era talvez totalmente no reconhecida; o emprstimo pode no ter sido deixado no pago. No impossvel que as doutrinas hindus tenham recebido novo nimo a partir de sua adoo pelos sucessores de Ammonius, e especialmente pelos msticos, que podem ter induzido, como tambm empregado, as expresses dos Puranas. Anquetil Du Perron deu15, na introduo para sua traduo do 'Oupnekhat', vrios hinos por Synesius, um bispo do comeo do quinto sculo, os quais podem servir como paralelos a muitos dos hinos e preces dirigidos a Vishnu no Vishnu Purana. Mas a atribuio a divindades individuais e pessoais dos atributos do nico Ser Supremo universal e espiritual, certamente uma indicao de uma data posterior aos Vedas, e aparentemente tambm ao Ramayana onde Rama, embora uma encarnao de Vishnu, geralmente aparece apenas em seu carter humano. H algo do tipo no Mahabharata a respeito de Krishna, especialmente no episdio filosfico conhecido como o Bhagavad Gita. Em outros lugares a natureza divina de Krishna afirmada menos decididamente; em alguns ela disputada ou negada; e na maioria das situaes nas quais ele mostrado em ao, como prncipe e guerreiro, no como uma divindade. Ele no usa faculdades sobre-humanas na defesa de si mesmo ou seus amigos, ou na derrota e destruio de seus inimigos. Porm, o Mahabharata evidentemente um trabalho de vrios perodos, e precisa ser lido cuidadosamente e

    11 Adv. Manichaeos. 12 Hist. Evang. 13 Mosheim, vol. I. p.173. 14 Veja a pg. 476 e seguintes. 15 Theologia et Philosophia Indica, Dissert. p. xxvi.

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    criticamente do comeo ao fim antes que seu peso como uma autoridade possa ser apreciado com preciso. Como ele est agora impresso16 - obrigado ao esprito pblico da Sociedade Asitica de Bengala, e seu secretrio Sr. J. Prinsep - logo os estudiosos de snscrito do continente apreciaro seu valor acuradamente.

    Data dos Puranas Os Puranas so tambm trabalhos de pocas evidentemente diferentes, e foram compilados sob circunstncias diferentes, a natureza exata das quais ns podemos conjecturar s imperfeitamente a partir de evidncia interna, e do que ns conhecemos da histria do conceito religioso na ndia. altamente provvel, que das formas populares presentes da religio hindu, nenhuma assumiu seu estado atual antes da poca de Sankara Acharya, o grande reformador Saiva, que viveu, com toda probabilidade, no oitavo ou nono sculo. Dos professores Vaishnava, Ramanuja data do dcimo segundo sculo, Madhwacharya do dcimo terceiro, e Vallabha do dcimo sexto17; e os Puranas parecem ter acompanhado ou seguido suas inovaes, sendo obviamente planejados para defender as doutrinas que eles ensinaram. Isso atribuir a alguns deles uma data muito moderna, verdade; mas eu no posso pensar que uma mais alta pode ser atribuda com justia a eles. Isso, no entanto, s se aplica a alguns do nmero, como eu continuarei a especificar agora. Outra evidncia de uma data comparativamente moderna deve ser admitida naqueles captulos dos Puranas que, assumindo um tom proftico, predizem quais dinastias de reis reinaro na era Kali. Esses captulos, verdade, so encontrados somente em quatro dos Puranas, mas eles so conclusivos em derrubar a data daqueles quatro para um perodo consideravelmente subsequente ao cristianismo. Tambm para ser observado, que o Vayu, Vishnu, Bhagavata, e Matsya Puranas, nos quais esses pormenores so preditos, tm em todos os outros aspectos o carter de antiguidade to grande quanto qualquer trabalho de sua classe18.

    Forma dos Puranas A forma invarivel dos Puranas aquela de um dilogo, no qual alguma pessoa narra seus contedos em resposta s perguntas de outra. Esse dilogo entrelaado com outros, que so repetidos como tendo sido mantidos em outras ocasies entre indivduos diferentes, por causa de perguntas semelhantes tendo sido feitas. O narrador imediato geralmente , embora no constantemente, Lomaharshana ou Romaharshana, o discpulo de Vyasa, que se supe que comunica o que foi dado a ele por seu preceptor, como ele tinha ouvido de algum outro sbio. Vyasa, como ser visto no corpo do trabalho19, um ttulo genrico, significando um 'organizador' ou 'compilador.' Ele nessa era aplicado a Krishna Dwaipayana, o filho de Parasara; dito que ele ensinou os Vedas e Puranas para vrios discpulos, mas que parece ter sido o diretor de um colgio ou lugar de ensino, sob o qual vrios homens instrudos deram literatura sagrada dos hindus a forma na qual ela se apresenta agora. Nessa tarefa os discpulos, como eles so chamados, de Vyasa eram antes seus colegas e

    16 Trs volumes foram impressos, o quarto e ltimo est quase terminado. 17 As. Res. vols. XVI. e XVII. Descrio de Seitas Hindus. 18 Sobre a histria da composio dos Puranas, como eles aparecem agora, eu arrisquei algumas especulaes em minha Anlise do Vayu Purana: Dirio Sociedade Asitica de Bengala, dezembro de 1832. 19 Pgina 233.

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    assistentes, porque eles j estavam familiarizados com o que contado que ele os ensinava20; e entre eles, Lomaharshana representa a classe de pessoas que eram encarregadas especialmente do registro de eventos polticos e temporais. Ele chamado de Suta, como se esse fosse um nome prprio; mas esse mais corretamente um ttulo; e Lomaharshana era 'um Suta', isto , um bardo ou panegirista, que foi criado, de acordo com nosso texto21, para celebrar as faanhas de prncipes; e que, de acordo com o Vayu e Padma Puranas, tem um direito de nascena e profisso de narrar os Puranas, em preferncia at mesmo aos Brmanes22. No ento improvvel que ns percebamos, por ele ser representado como o discpulo de Vyasa, a instituio de alguma tentativa, feita sob a direo do ltimo, de coletar dos arautos e analistas de seu tempo as tradies espalhadas que eles tinham preservado imperfeitamente; e da a consequente apropriao dos Puranas, em uma grande medida, das genealogias de dinastias reais, e descries do universo. Embora isso possa ter acontecido, o mecanismo foi apenas grudado frouxamente, e muitos dos Puranas, como o Vishnu, se referem a um narrador diferente. Um relato dado no trabalho seguinte23 de uma srie de compilaes purnicas, das quais em sua forma atual nenhum vestgio aparece. dito que Lomaharshana tinha seis discpulos, trs dos quais compuseram muitos Samhitas fundamentais, enquanto ele mesmo compilou um quarto. Por um Samhita geralmente compreendido uma 'coleo' ou 'compilao.' Os Samhitas dos Vedas so colees de hinos e preces pertencentes a eles, organizados de acordo com o julgamento de algum sbio individual, que portanto considerado como o criador e professor de cada um. Os Samhitas dos Puranas, ento, deveriam ser compilaes anlogas, atribudas respectivamente a Mitrayu, Sansapayana, Akritavrana, e Romaharshana: nenhum de tais Samhitas purnicos conhecido atualmente. dito que substncia dos quatro est reunida no Vishnu Purana, o qual tambm, em outro lugar24, ele mesmo chamado de Samhita; mas tais compilaes, at onde a investigao j procedeu, no foram descobertas. A especificao pode ser aceita como uma indicao de os Puranas terem existido em alguma outra forma, na qual eles no so mais conhecidos; embora no parea que o arranjo era incompatvel com sua existncia como trabalhos separados, pois o Vishnu Purana, que nossa autoridade para os quatro Samhitas, tambm nos d a enumerao usual dos vrios Puranas.

    Classificao dos Puranas H outra classificao dos Puranas aludida no Matsya Purana, e especificada pelo Padma Purana, mas mais completamente. Ela no indigna de nota, porque expressa a opinio que os escritores nativos tm da extenso dos Puranas, e do seu reconhecimento da subservincia desses trabalhos disseminao de princpios sectrios. Assim dito no Uttara Khanda do Padma, que os Puranas, como tambm outros trabalhos, so divididos em trs classes, de acordo com as qualidades que prevalecem neles. Assim o Vishnu, Naradiya, Bhagavata, Garuda, Padma, e Varaha Puranas, so Satwika, ou puros, por causa da predominncia neles da qualidade de Satwa, ou aquela de bondade e pureza. Na realidade, eles so Vaishnava Puranas. O

    20 Ver pgina 235. 21 Pgina 122. 22 Journ, Royal As. Soc. vol. V. p. 281. 23 Pgina 240. 24 Pgina 64.

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    Matsya, Kurma, Linga, Shiva, Skanda, e Agni Puranas, so Tamasa, ou Puranas da escurido, pela prevalncia da qualidade de Tamas, 'ignorncia', 'escurido.' Eles so incontestavelmente Shaiva Puranas. O terceiro grupo, incluindo o Brahmanda, Brahma-vaivartta, Markandeya, Bhavishya, Vamana, e Brahma Puranas, so designados como Rajasa, 'apaixonados', de Rajas, a propriedade de paixo, a qual se supe que eles representam. O Matsya no especifica quais so os Puranas que caem sob estas designaes, mas observa que aqueles nos quais o Mahatmya de Hari ou Vishnu prevalece so Satwika; aqueles nos quais as lendas de Agni ou Shiva predominam so Tamasa; e aqueles que discorrem mais sobre as histrias de Brahma so Rajasa. Eu declarei em outro lugar25, que eu considero que os Rajasa Puranas se inclinam para a diviso Sakta dos hindus, os adoradores de Sakti, ou o princpio feminino; baseando essa opinio no carter das lendas que alguns deles contm, tais como a Durga Mahatmya, ou lenda clebre na qual a adorao de Durga ou Kali especialmente fundada, a qual um episdio principal do Markandeya. O Brahma-vaivartta tambm dedica a maior parte de seus captulos celebrao de Radha, a amante de Krishna, e outras divindades femininas. O Cel. Vans Kennedy, no entanto, contesta a aplicao do termo Sakta a essa ltima diviso dos Puranas, o culto de Shakti sendo o objeto especial de uma classe diferente de trabalhos, os Tantras, e nenhuma forma semelhante de culto sendo inculcada particularmente no Brahma Purana26. Esse ltimo argumento de peso com respeito ao caso particular especificado, e a designao de Shakti pode no ser corretamente aplicvel classe inteira, embora seja a alguns da srie; pois no h incompatibilidade na defesa de uma modificao Tantrika da religio hindu por algum Purana, e ela foi inquestionavelmente praticada em trabalhos conhecidos como Upa-puranas. A prpria apropriao da terceira classe dos Puranas, de acordo com o Padma Purana, parece ser para o culto de Krishna, no no carter no qual ele representado no Vishnu e Bhagavata Puranas, nos quais os incidentes de sua juventude so s uma parte de sua biografia, e nos quais o carter humano participa em grande parte, pelo menos em seus anos mais maduros, mas como o menino Krishna, Govinda, Bala Gopala, o residente em Vrindavan, o companheiro dos vaqueiros e leiteiras, o amante de Radha, ou como o mestre juvenil do universo, Jagannatha. O termo Rajasa, implicando a animao de paixo, e desfrute de delcias sensuais, aplicvel, no s ao carter da divindade jovem, mas queles com quem sua adorao nessas formas parece ter se originado, os Gosains de Gokul e Bengala, os seguidores e descendentes de Vallabha e Chaitanya, os sacerdotes e proprietrios de Jagannath e Shrinath-dwar, que levam uma vida de riqueza e indulgncia e vindicam, por preceito e prtica, a racionalidade da qualidade Rajasa, e a congruidade de prazer temporal com os deveres de religio27. Afirma-se uniformemente que os Puranas so dezoito em nmero. dito que h tambm dezoito Upa-puranas, ou Puranas menores; mas somente os nomes de poucos desses so especificados nas autoridades menos criticveis, e o maior nmero dos trabalhos no obtenvel. Com relao aos dezoito Puranas, h uma peculiaridade em sua especificao, que prova de uma interferncia com a integridade do texto, em alguns deles pelo menos; pois cada um deles especifica os nomes de todos os dezoito. Agora a lista no poderia ter estado completa enquanto o trabalho que a apresenta estivesse inacabado, e em um s ento, o ltimo da srie, ns teramos o direito de procur-la. Como entretanto h mais ltimas palavras do que uma, evidente que os nomes devem ter sido inseridos em todos exceto um depois que o todo estava terminado: qual dos dezoito a exceo, e verdadeiramente o

    25 As. Res. vol. XVI. pg. 10. 26 Dirio Asitico, Maro de 1837, pg. 241. 27 As. Res. vol. XVI. pg. 85.

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    ltimo, no h pista para descobrir, e a especificao provavelmente uma interpolao na maioria, se no em todos. Os nomes que so especificados so geralmente os mesmos, e so os seguintes: 1. Brahma, 2. Padma, 3. Vaishnava, 4. Shaiva, 5. Bhagavata, 6. Narada, 7. Markanda, 8. Agneya, 9. Bhavishya, 10. Brahma-vaivartta, 11. Linga, 12. Varaha, 13. Skanda, 14. Vamana, 15. Kurma, 16. Matsya, 17. Garuda, 18. Brahmanda28. Isso do dcimo segundo livro do Bhagavata, e o mesmo que se encontra no Vishnu29. Em outras autoridades h poucas variaes. A lista do Kurma Purana omite o Agni Purana, e substitui o Vayu. O Agni omite o Shaiva, e insere o Vayu. O Varaha omite o Garuda e Brahmanda, e insere o Vayu e Narasinha: nesse ltimo isso singular. O Markandeya concorda com o Vishnu e Bhagavata em omitir o Vayu. O Matsya, como o Agni, deixa fora o Shaiva. Alguns dos Puranas, como o Agni, Matsya, Bhagavata, e Padma, tambm especificam o nmero de estrofes que cada um dos dezoito contm. Em um ou dois casos eles discordam, mas em geral eles concordam. O agregado declarado em 400.000 slokas, ou 1.600.000 linhas. contado que esses so somente um resumo, a quantia inteira sendo um krore, ou dez milhes de estrofes, ou at mesmo mil milhes. Se todas as partes fragmentrias, que reivindicam em vrias partes da ndia pertencer aos Puranas, fossem admitidas, sua extenso excederia muito a menor, entretanto no alcanaria a enumerao maior. A primeira , entretanto, como eu declarei em outro lugar30, uma quantidade que um estudioso europeu individual mal poderia esperar ler com cuidado e ateno devidos, a menos que todo o tempo dele fosse dedicado exclusivamente por muitos anos tarefa. Contudo sem semelhante trabalho ser realizado, estava claro, por causa da rudeza e inexatido de tudo o que tem sido publicado at agora sobre a matria, com uma exceo31, que teorias confiveis sobre o assunto da mitologia e tradio hindus no eram para serem esperadas. Circunstncias, as quais eu j expliquei no papel, no Dirio da Sociedade Asitica Real citado acima, me permitiram me beneficiar de ajuda competente, pela qual eu fiz um resumo minucioso da maioria dos Puranas. No decorrer do tempo eu espero colocar uma anlise toleravelmente copiosa e conectada de todos os dezoito perante estudiosos orientais, e no meio tempo ofereo uma nota breve de seus vrios contedos. Em geral a enumerao dos Puranas uma nomenclatura simples, com a adio em alguns casos do nmero de versos; mas a esses o Matsya Purana une a meno de uma ou duas circunstncias peculiares a cada um, as quais, embora escassas, so valiosas, porque oferecem meios de identificar as cpias dos Puranas agora encontradas com aqueles aos quais o Matsya se refere, ou de descobrir uma diferena entre o presente e o passado. Eu anteporei ento a passagem descritiva de cada Purana de acordo com o Matsya. Porm, necessrio observar que na comparao instituda entre aquela descrio e o Purana como ele existe, eu

    28 Os nomes so colocados atributivamente, o nome substantivo, Purana, sendo compreendido. Dessa maneira Vaishnavam Puranam quer dizer o Purana de Vishnu; Shaivam Puranam, o Purana de Shiva; Brahmam Puranam, o Purana de Brahma. igualmente correto, e mais comum, usar os dois substantivos em justaposio, como Vishnu Purana, Shiva Purana, etc. No snscrito original os substantivos so compostos, como Vishnu-puranam, etc.; mas no usual combin-los em sua forma europia. 29 Pgina 241. 30 Journ. Royal As. Soc. vol. V. pg. 61. 31 Eu me refiro ao valioso trabalho do Cel. Vans Kennedy, sobre a Afinidade entre a Mitologia Hindu e Antiga. Embora eu possa discordar muito das concluses daquele escritor instrudo e habilidoso, eu devo fazer a ele a justia de admitir que ele o nico autor que discutiu o assunto da mitologia dos hindus sobre princpios certos, por extrair seus materiais de fontes autnticas.

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    necessariamente recorro cpia ou cpias que eu empreguei com a finalidade de exame e anlise, e que foram obtidas que com alguma dificuldade e custo em Benares e Calcut. Em alguns casos meus manuscritos foram confrontados com outros de diferentes partes da ndia, e o resultado tem mostrado que, pelo menos com relao ao Brahma, Vishnu, Vayu, Matsya, Padma, Bhagavata, e Kurma Puranas, os mesmos trabalhos, em todos os aspectos essenciais, so geralmente correntes sob os mesmos ttulos. Se esse invariavelmente o caso pode ser duvidado, e investigao mais completa pode possivelmente mostrar que eu fui obrigado a me contentar com trabalhos mutilados ou no autnticos32. com essa reserva, portanto, que eu devo ser compreendido para falar da conformidade ou discordncia de algum Purana com a observao dele que o Matsya Purana preservou.

    1. O Brahma Purana "Este, o todo do qual foi antigamente repetido por Brahma para Marichi, chamado de Brahma Purana, e contm dez mil estrofes33." Em todas as listas dos Puranas, o Brahma colocado na dianteira da srie, e por isso s vezes tambm chamado de Adi ou 'primeiro' Purana. Ele tambm designado como o Saura, porque ele em grande parte destinado adorao de Surya, 'o sol.' H, no entanto, trabalhos que levam esses nomes que pertencem classe dos Upa-puranas, e que no devem ser confundidos com o Brahma. dito normalmente, como acima, que ele contm dez mil slokas; mas o nmero encontrado de fato est entre sete e oito mil. H uma seo adicional ou final chamada de Brahmottara Purana, e que diferente de uma parte do Skanda chamada de Brahmottara Khanda, que contm aproximadamente trs mil estrofes mais; mas h toda razo para concluir que este um trabalho distinto e separado. O narrador imediato do Brahma Purana Lomaharshana, que o comunica aos Rishis ou sbios reunidos em Naimisharanya, como ele foi revelado originalmente por Brahma, no para Marichi, como afirma o Matsya, mas para Daksha, outro dos patriarcas: por essa razo sua denominao de Brahma Purana. Os primeiros captulos desse trabalho do uma descrio da criao, um relato dos Manwantaras, e a histria das dinastias solares e lunares at o tempo de Krishna, de uma maneira sumria, e em palavras que so comuns a ele e vrios outros Puranas; uma descrio breve do universo vem depois; e ento vm vrios captulos relativos santidade de Orissa, com seus templos e bosques sagrados dedicados ao sol, a Shiva, e Jagannath, o ltimo especialmente. Estes captulos so caractersticos desse Purana, e mostram que seu objetivo principal a promoo da adorao de Krishna como Jagannath34. A esses detalhes sucede uma vida de Krishna, que palavra por palavra

    32 Ao examinar as tradues de diferentes passagens dos Puranas, apresentadas pelo Cel. Vans Kennedy no trabalho mencionado em uma nota anterior, e comparando-as com o texto dos manuscritos que eu tenho consultado, eu encontro tal conformidade quanto a justificar a crena de que no h diferena essencial entre as cpias em posse dele e as minhas. As variedades que se acham no manuscrito da Biblioteca da Companhia ndia Oriental sero citadas no texto.

    33 34 O Cel. Vans Kennedy objeta a esse carter do Brahma Purana, e observa que ele contm s duas descries curtas de pagodes, um de Konaditya, outro de Jagannath. Nesse caso, sua cpia deve diferir consideravelmente daquelas que eu encontrei; pois nelas a descrio de Purushottama Kshetra, a terra santa de Orissa, se espalha por quarenta captulos, ou um tero do trabalho. A descrio, verdade, entremeada, no modo sinuoso habitual dos Puranas, com uma variedade de lendas, algumas antigas, algumas modernas; mas elas so destinadas a ilustrar alguma circunstncia local, e no so ento incompatveis com o intento principal, a celebrao das glrias de Purushottama Kshetra. A especificao do templo de Jagannath, porm, por si mesma suficiente, na minha opinio, para determinar o carter e poca da compilao.

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    igual quela do Vishnu Purana; e a compilao termina com um detalhe especfico do modo no qual Yoga, ou devoo contemplativa, o objeto da qual ainda Vishnu, para ser executada. H pouco nesse que corresponda com a definio de um Pancha-lakshana Purana; e a meno dos templos de Orissa, a data da construo original do qual est registrada35, mostra que ele no poderia ter sido compilado antes do dcimo terceiro ou dcimo quarto sculo. O Uttara Khanda do Brahma Purana tem ainda mais completamente o carter de um Mahatmya, ou lenda local, sendo destinado a celebrar a santidade do rio Balaja, presumido ser o mesmo que o Banas em Marwar. No h indcio de sua data, mas ele claramente moderno, enxertando personagens e fices de sua prpria inveno em umas poucas aluses de autoridades mais antigas36.

    2. O Padma Purana "Este que contm um relato do perodo quando o mundo era um loto dourado (padma), e de todas as ocorrncias daquele tempo, portanto chamado de Padma pelos sbios; ele contm cinquenta e cinco mil estrofes37." O segundo Purana nas listas habituais sempre o Padma, um trabalho muito volumoso, contendo, de acordo com sua prpria declarao, como tambm a de outras autoridades, cinquenta e cinco mil slokas; uma quantia no longe da verdade. Esses esto divididos entre cinco livros, ou Khandas; 1. o Srishti Khanda, ou seo sobre criao; 2. o Bhumi Khanda, descrio da terra; 3. o Swarga Khanda, captulo sobre o cu; 4. Patala Khanda, captulo sobre as regies abaixo da terra; e 5. o Uttara Khanda, ltimo ou captulo adicional. H tambm corrente uma sexta diviso, o Yoga Kriya Sara, um tratado sobre a prtica da devoo. As denominaes dessas divises do Padma Purana transmitem apenas uma noo imperfeita e parcial de seus contedos. Na primeira, ou seo que trata da criao, o narrador Ugrasravas o Suta, o filho de Lomaharshana, que enviado por seu pai aos Rishis em Naimisharanya para comunicar a eles o Purana, o qual, por conter uma descrio do loto (padma) no qual Brahma apareceu na criao, chamado de Padma ou Padma Purana. O Suta repete o que foi comunicado originalmente por Brahma para Pulastya, e por ele para Bhishma. Os primeiros captulos narram a cosmogonia, e a genealogia das famlias patriarcais, em grande parte no mesmo estilo, e frequentemente nas mesmas palavras, como o Vishnu; e relatos curtos dos Manwantaras e dinastias reais, mas esses, que so tpicos purnicos legtimos, logo abrem caminho para invenes novas e no autnticas, ilustrativas das virtudes do lago de Pushkara, ou Pokher em Ajmir, como um lugar de peregrinao. O Bhumi Khanda, ou seo da terra, adia qualquer descrio da terra at perto de seu fim, preenchendo cento e vinte e sete captulos com lendas de uma descrio muito misturada, algumas antigas e comuns a outros Puranas, mas a maior parte peculiares a ele mesmo, ilustrativas de Tirthas assim chamados figurativamente - como uma esposa, um pai, ou um Guru, considerado como um objeto sagrado - ou lugares aos quais verdadeira peregrinao deve ser realizada.

    35 Ver Relato de Orissa Prprio, ou Cuttack, por A. Stirling, Esq.: Asiatic. Res. vol. XV. pg. 305. 36 Ver Anlise do Brahma Purana: Journ. Royal As. Soc, vol. V. pg. 65.

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    O Swarga Khanda descreve nos primeiros captulos as posies relativas dos Lokas ou esferas acima da terra, colocando acima de todas Vaikuntha, a esfera de Vishnu; uma adio que no garantida pela que parece ser a cosmologia mais antiga38. Diversas informaes de alguns dos prncipes mais clebres ento se sucedem, conformemente s narrativas usuais; e essas so seguidas por regras de conduta para as vrias castas, e para diferentes fases da vida. O resto do livro ocupado por lendas de uma descrio diversificada, introduzidas sem muito mtodo ou idia; umas poucas das quais, como o sacrifcio de Daksha, so de data antiga, mas das quais a maioria so originais e modernas. O Patala Khanda dedica uma introduo breve descrio de Patala, as regies dos deuses-cobras; mas o nome de Rama tendo sido mencionado, Sesha, que sucedeu Pulastya como orador, comea a narrar a histria de Rama, sua descendncia e posteridade; na qual o compilador parece ter tomado o poema de Kalidasa, o Raghu Vansa, como sua principal autoridade. Uma originalidade de adio pode ser suspeitada, entretanto, nas aventuras do cavalo destinado por Rama para um Aswamedha, que formam o assunto de muitos captulos grandes. Quando prestes a ser sacrificado, o cavalo mostra ser um brmane, condenado por uma maldio de Durvasas, um sbio, a assumir a natureza equina, e que, por ter sido santificado por ligao com Rama, libertado de sua metamorfose, e despachado como um esprito de luz para o cu. Esse trecho de fico Vaishnava seguido pelos louvores do Sri Bhagavata, um relato das juvenilidades de Krishna, e os mritos de cultuar Vishnu. Esses relatos so comunicados por um mecanismo emprestado dos Tantras: eles so contados por Sadasiva para Parvati, os interlocutores costumeiros de composies Tantrika. O Uttara Khanda uma agregao mais volumosa de assuntos muito heterogneos, mas ele consistente em adotar um tom decididamente Vaishnava, e no admitindo nenhum acordo com qualquer outra forma de f. Os assuntos principais so discutidos primeiro em um dilogo entre o rei Dilipa e o Muni Vasishtha; como os mritos de se banhar no ms de Magha, e a potncia do Mantra ou prece dirigida a Lakshmi Narayana. Mas a natureza de Bhakti, f em Vishnu, o uso de marcas Vaishnava no corpo, as lendas dos Avataras de Vishnu, e especialmente de Rama, e a construo de imagens de Vishnu, so importantes demais para serem deixados para critrio mortal: eles so explicados por Shiva a Parvati, e encerrados pela adorao de Vishnu por aquelas divindades. O dilogo reverte ento ao rei e ao sbio; e o ltimo explica por que Vishnu o nico da trade que tem direito a deferncia; Shiva sendo licencioso, Brahma arrogante, e Vishnu somente puro. Vasishtha ento repete, depois de Shiva, o Mahatmya do Bhagavad Gita; o mrito de cada livro do qual ilustrado por lendas sobre as consequncias boas para indivduos por o lerem ou o ouvirem. Outros Mahatmyas Vaishnava ocupam partes considerveis deste Khanda, especialmente o Kartika Mahatmya, ou santidade do ms Kartika, ilustrado como sempre por histrias, poucas das quais so de uma origem antiga, mas a maior parte moderna, e peculiares a este Purana39. O Kriya Yoga Sara repetido pelo Suta para os Rishis, depois da comunicao dele de Vyasa para Jaimini, em resposta a uma pergunta como mrito religioso poderia ser assegurado na era Kali, na qual os homens ficam incapazes das penitncias e abstrao pelas quais a libertao final era para ser atingida antigamente. A resposta , naturalmente, aquilo que anunciado no ltimo livro do Vishnu Purana - devoo pessoal a Vishnu: pensar nele, repetir os nomes dele, usar

    38 Ver Livro 2, cap. 7 39 Uma delas, a histria de Jalandhara, foi traduzida pelo Cel. Vans Kennedy: Afinidades da Mitologia Hindu e Antiga, Apndice D.

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    as marcas dele, cultu-lo em seus templos, um substituto completo para todos os outros atos de mrito moral ou devocional ou contemplativo. As diferentes partes do Padma Purana so, com toda probabilidade, muitos trabalhos diferentes, nenhum dos quais se aproxima da definio original de um Purana. Pode haver alguma conexo entre as trs primeiras partes, pelo menos quanto ao tempo; mas no h razo para consider-los como de grande antiguidade. Eles especificam os jainistas por nome e prticas; eles falam de Mlechchhas, 'brbaros', florescendo na ndia; eles recomendam o uso das marcas Vaishnava frontais e outras; e eles mencionam outros assuntos que, como esses, no so de origem remota. O Patala Khanda discorre abundantemente sobre o Bhagavata, e consequentemente posterior a ele. O Uttara Khanda intolerantemente Vaishnava, e portanto inquestionavelmente moderno. Ele ordena a venerao da pedra Salagram e da planta Tulasi, o uso do Tapta-mudra, ou gravao com um ferro quente do nome de Vishnu na pele, e uma variedade de prticas e observncias que indubitavelmente no so parte do sistema original. Ele fala dos santurios de Sri-rangam e Venkatadri no Dekhin, templos que no tm nenhuma pretenso antiguidade remota; e ele cita Haripur no Tungabhadra, que com toda probabilidade a cidade de Vijayanagar, fundada no meio do dcimo quarto sculo. O Kriya Yoga Sara igualmente uma composio moderna, e aparentemente uma bengali. Nenhuma parte do Padma Purana provavelmente mais velha que o dcimo segundo sculo, e as ltimas partes podem ser to recentes quanto o dcimo quinto ou dcimo sexto40.

    3. O Vishnu Purana "Aquele no qual Parasara, comeando com os eventos do Varaha Kalpa, expe todos os deveres, chamado de Vaishnava; e os eruditos sabem que sua extenso vinte e trs mil estrofes41." O terceiro Purana das listas aquele que foi escolhido para traduo, o Vishnu. ento desnecessrio oferecer qualquer resumo geral de seus contedos, e ser conveniente reservar quaisquer observaes sobre seu carter e provvel antiguidade para uma pgina subsequente. Aqui pode ser observado, entretanto, que o nmero real de versos contidos nele est muito aqum da enumerao do Matsya, com a qual o Bhagavata concorda. Seus contedos reais no so sete mil estrofes. Todas as cpias, e nesse caso elas no so menos que sete em nmero, obtidas no leste e no oeste da ndia, concordam; e no h aparncia de alguma parte estar faltando. H um comeo, um meio, e um fim, em texto e comentrio; e o trabalho como ele se encontra est incontestavelmente inteiro. Como a discrepncia pode ser explicada?

    4. O Vayaviya Purana "O Purana no qual Vayu declarou as leis do dever, relativas ao Sweta Kalpa, e que inclui o Mahatmya de Rudra, o Vayaviya Purana: ele contm vinte e quatro mil versos42." O Shiva ou Shaiva Purana , como observado acima, omitido em algumas

    40 Os fundamentos dessas concluses so mais particularmente detalhados em minha Anlise do Padma Purana: J. R. As. Soc. vol. V. pg. 280.

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    das listas; e em geral, quando esse o caso, ele substitudo pelo Vayu ou Vayaviya. Quando o Shiva especificado, como no Bhagavata, ento o Vayu omitido; sugerindo a possvel identidade desses dois trabalhos. Isso realmente confirmado pelo Matsya, que descreve o Vayaviya Purana como caracterizado por seu relato da grandeza de Rudra ou Siva43; e Balambhatta menciona que o Vayaviya tambm chamado de Shaiva, entretanto, de acordo com alguns, o ltimo o nome de um Upa-purana. O Cel. Vans Kennedy observa que no oeste da ndia o Saiva geralmente considerado um Purana Upa ou 'menor'44. Outra prova que o mesmo trabalho tratado pelas autoridades aqui seguidas, o Bhagavata e o Matsya, sob ttulos diferentes, sua conformidade de opinies na extenso do trabalho, cada um especificando seus versos como sendo vinte e quatro mil. Uma cpia do Shiva Purana, da qual um ndice e anlise foram preparados, no contm mais do que aproximadamente sete mil: ele no pode ser ento o Shiva Purana do Bhagavata; e ns podemos considerar seguramente que ele o mesmo que o Vayaviya do Matsya45. O Vayu Purana narrado por Suta para os Rishis em Naimisharanya, como ele foi narrado antigamente no mesmo local para pessoas semelhantes por Vayu; uma repetio de circunstncias no incomum do estilo inartificial deste Purana. Ele dividido em quatro Padas, chamados respectivamente Prakriya, Upodghata, Anushanga, e Upasanhara; uma classificao peculiar a esse trabalho. Esses so precedidos por um ndice, ou divises de captulos, da maneira do Mahabharata e Ramayana; outra peculiaridade. A parte Prakriya contm somente poucos captulos, e trata principalmente da criao elementar, e das primeiras evolues dos seres, com o mesmo sentido que o Vishnu, mas em um estilo mais obscuro e no metdico. O Upodghata ento continua o assunto da criao, e descreve os vrios Kalpas ou perodos durante os quais o mundo existiu; um maior nmero dos quais especificado pelos Saiva do que pelos Puranas Vaishnava. Trinta e trs so descritos aqui, o ltimo dos quais o Sweta ou Kalpa 'branco', por Shiva nascer nele com uma cor branca. As genealogias dos patriarcas, a descrio do universo, e os incidentes dos primeiros seis Manwantaras, so todos tratados nessa parte do trabalho; mas eles so entremeados com lendas e louvores de Shiva, como o sacrifcio de Daksha, o Maheswara Mahatmya, o Nilakantha Stotra, e outros. As genealogias, embora no principal as mesmas que aquelas nos Puranas Vaishnava, apresentam algumas variaes. Um longo relato dos Pitris ou progenitores tambm peculiar a esse Purana; porque so histrias de alguns dos Rishis mais clebres que estavam empenhados na distribuio dos Vedas. A terceira diviso comea com um relato dos sete Rishis e seus descendentes, e descreve a origem das diferentes classes de criaturas a partir das filhas de Daksha, com uma copiosidade profusa de nomenclatura, no encontrada em qualquer outro Purana. Com exceo da maior miudeza de detalhes, os pormenores concordam com aqueles do Vishnu Purana. Um captulo ento sucede sobre o culto dos Pitris; outro sobre Tirthas, ou lugares sagrados para eles; e vrios sobre a realizao de Sraddhas, constituindo o Sraddha Kalpa. Depois disso, vem um relato completo das dinastias solares e lunares, formando um paralelo quele nas pginas seguintes, com esta diferena: que ele inteiramente em verso, enquanto aquele do nosso texto, como mencionado em seu lugar, principalmente em prosa. Ele estendido tambm pela insero de descries detalhadas de vrios incidentes, brevemente observados no Vishnu, embora derivados aparentemente de um original comum. A seo termina

    43 Comentrio do Mitakshara, Vyavahara Kanda. 44 As. Journ., maro de 1837, pg. 242, nota. 45 Anlise do Vayu Purana: Journ. As. Soc. de Bengala, dezembro de 1832.

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    com relatos semelhantes de reis futuros, e os mesmos clculos cronolgicos que so achados no Vishnu. A ltima parte, o Upasamhara, descreve brevemente os Manwantaras futuros, as medidas de espao e tempo, o fim do mundo, a eficcia do Yoga, e as glrias de Shiva-pura, ou a morada de Shiva, com quem o Iogue ser unido. O manuscrito conclui com uma histria diferente dos sucessivos professores do Vayu Purana, delineando-os de Brahma a Vayu, de Vayu a Vrihaspati, e dele, por vrias divindades e sbios, para Dwaipayana e Suta. A descrio dada desse Purana no Dirio da Sociedade Asitica de Bengala foi limitada a algo menos do que metade do trabalho, porque eu no tinha podido ento obter uma parte maior. Eu tenho agora um mais completo, um meu prprio, e h vrias cpias na biblioteca da Companhia da ndia Oriental de igual extenso. Uma, presenteada por Sua Alteza o Guicowar, datada de Samvat 1540, ou 1483 DC, e evidentemente to antiga quanto ela professa ser. O exame que eu fiz do trabalho confirma o ponto de vista que eu adotei antigamente a respeito dele; e a partir da evidncia interna que ele fornece, ele pode talvez ser considerado como um dos mais antigos e mais autnticos espcimes existentes de um Purana primitivo. Porm, parece que ns no temos ainda uma cpia do Vayu Purana inteiro. A extenso dele, como mencionada acima, deveria ser vinte e quatro mil versos. O manuscrito Guicowar tem apenas doze mil, e denominado o Purvarddha, ou primeira parte. Minha cpia de igual extenso. O ndice tambm mostra, que vrios assuntos permanecem no contados; como, subsequentemente descrio da esfera de Shiva, e a dissoluo peridica do mundo, dito que o trabalho contm um relato de uma criao sucessiva, e de vrios eventos que aconteceram nela, como o nascimento de vrios Rishis clebres, incluindo aquele de Vyasa, e uma descrio de sua diviso dos Vedas; uma descrio da inimizade entre Vasishtha e Viswamitra; e um Naimisharanya Mahatmya. Esses tpicos so, entretanto, de menor importncia, e mal poderiam levar o Purana extenso total dos versos que dito que ele contm. Se o nmero exato, o ndice ainda deve omitir uma parte considervel dos contedos subsequentes.

    5. O Bhagavata Purana "Aquele no qual so descritos amplos detalhes a respeito do dever, e que abre com (um extrato do) Gayatri; aquele no qual a morte do Asura Vritra contada, e no qual os mortais e imortais do Saraswata Kalpa, com os eventos que ento aconteceram, a eles no mundo, so relatados; aquele clebre como o Bhagavata, e consiste em dezoito mil versos46." O Bhagavata um trabalho de grande celebridade na ndia, e exerce uma influncia mais direta e poderosa sobre as opinies e sentimentos do povo do que talvez qualquer outro dos Puranas. Ele colocado como o quinto em todas as listas; mas o Padma Purana o classifica como o dcimo oitavo, como a substncia extrada de todo o resto. De acordo com a especificao usual, ele consiste em dezoito mil slokas, distribudos entre trezentos e trinta e dois captulos, divididos em doze Skandhas ou livros. Ele chamado de Bhagavata por ser dedicado glorificao de Bhagavat ou Vishnu.

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    O Bhagavata comunicado para os Rishis em Naimisharanya por Suta, como usual; mas ele s repete o que foi narrado por Suka, o filho de Vyasa, para Parikshit, o rei de Hastinapura, o neto de Arjuna. Tendo incorrido na maldio de um ermito, pela qual ele foi condenado a morrer da mordida de uma cobra venenosa, ao trmino de sete dias; o rei, em preparao para esse evento, se dirige para as margens do Ganges; para onde tambm vo os deuses e sbios, para testemunhar sua morte. Entre os ltimos est Suka; e em resposta pergunta de Parikshit, o que um homem que est prestes a morrer deve fazer, que ele narra o Bhagavata, como ele o tinha ouvido de Vyasa; pois nada assegura felicidade final to certamente, quanto morrer enquanto os pensamentos esto totalmente ocupados por Vishnu. O curso da narrao abre com uma cosmogonia que, embora em muitos aspectos semelhante quela de outros Puranas, mais largamente entremeada com alegoria e misticismo, e deriva seu tom mais da filosofia Vedanta do que da Sankhya. A doutrina da criao ativa pelo Supremo, como una com Vasudeva, afirmada mais distintamente, com uma enunciao mais decidida dos efeitos sendo resolveis em Maya, ou iluso. Tambm h peculiaridades doutrinais, altamente caractersticas desse Purana; entre as quais est a afirmao que foi comunicada originalmente por Brahma a Narada, que todos os homens, hindus de toda casta, e at Mlechchhas, pessoas expulsas de suas castas ou brbaros, poderiam aprender a ter f em Vasudeva. No terceiro livro os interlocutores so mudados para Maitreya e Vidura; o primeiro dos quais o discpulo no Vishnu Purana, o ltimo era o meio-irmo dos prncipes Kuru. Maitreya, novamente, d um relato do Srishti-lila, ou esporte de criao, de uma maneira em parte comum aos Puranas, em parte peculiar; embora ele declare que ele o aprendeu do seu professor Parasara, por desejo de Pulastya47; referindo-se dessa maneira origem fabulosa do Vishnu Purana, e fornecendo evidncia de sua prioridade. Porm, novamente a autoridade mudada, e dito que a narrativa aquela que foi comunicada por Sesha aos Nagas. A criao de Brahma ento descrita, e so explicadas as divises de tempo. Um relato muito longo e singular dado da encarnao Varaha de Vishnu, que seguido pela criao dos Prajapatis e Swayambhuva, cuja filha Devahuti se casa com Karddama Rishi; um incidente prprio a esse trabalho, como aquele que segue, do Avatara de Vishnu como Kapila o filho de Karddama e Devahuti, o autor da filosofia Sankhya, a qual ele expe, conforme um modo Vaishnava, para sua me, nos ltimos nove captulos dessa seo. O Manwantara de Swayambhuva, e a multiplicao das famlias patriarcais, so descritos em seguida com algumas peculiaridades de nomenclatura, que esto indicadas nas notas das passagens paralelas do Vishnu Purana. As tradies de Dhruva, Vena, Prithu, e outros prncipes desse perodo, so os outros assuntos do quarto Skandha, e so continuados no quinto at aquele do Bharata que obteve emancipao. Os detalhes geralmente esto de acordo com aqueles do Vishnu Purana, e as mesmas palavras so empregadas frequentemente, de forma que isso dificultaria determinar qual trabalho tinha o maior direito a elas, no tivesse o prprio Bhagavata indicado suas obrigaes com o Vishnu. O resto do quinto livro ocupado com a descrio do universo, e a mesma conformidade com o Vishnu continua. Esse s parcialmente o caso do sexto livro, que contm uma variedade de lendas de uma descrio mista, planejadas para ilustrar o mrito de cultuar Vishnu. Algumas delas tm origem antiga, mas algumas so aparentemente modernas. O stimo livro principalmente ocupado com a lenda de Prahlada. No oitavo ns temos um relato dos Manwantaras restantes; no qual, como acontece no decorrer deles, uma variedade de lendas antigas so repetidas, como a batalha entre o rei dos elefantes e um jacar, o batimento do oceano, e os Avataras ano e peixe. O nono livro narra as

    47 Ver pg. 64.

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    dinastias do Vaivaswata Manwantara, ou os prncipes das raas solares e lunares at o tempo de Krishna48. Os pormenores geralmente esto de acordo com aqueles registrados no Vishnu. O dcimo livro a parte caracterstica desse Purana, e a parte na qual sua popularidade est baseada. Ele totalmente destinado histria de Krishna, a qual ele narra de modo muito semelhante que o Vishnu, mas em mais detalhes; ocupando um lugar mediano, entretanto, entre este e a prolixidade extravagante com a qual o Hari Vansa repete a histria. No necessrio detalh-lo mais. Ele foi traduzido para talvez todos os idiomas da ndia, e um trabalho favorito de todas as descries de pessoas. O dcimo primeiro livro descreve a destruio dos Yadavas, e morte de Krishna. Previamente ao ltimo evento, Krishna instrui Uddhava na execuo do Yoga; um assunto reservado pelo Vishnu s passagens finais. A narrativa quase a mesma, mas um tanto mais sumria do que aquela do Vishnu. O dcimo segundo livro continua as linhas dos reis da era Kali profeticamente at um perodo semelhante como o Vishnu, e d um relato similar da deteriorao de todas as coisas, e sua dissoluo final. De forma consistente com o assunto do Purana, a serpente Takshaka morde Parikshit, e ele expira, e o trabalho deveria terminar; ou o fim poderia ser estendido at o sacrifcio subsequente de Janamejaya para a destruio da raa inteira de serpentes. H uma descrio muito desajeitadamente introduzida, porm, do arranjo dos Vedas e Puranas por Vyasa, e a lenda da entrevista de Markandeya com o menino Krishna, durante um perodo de dissoluo terrena. Ns ento chegamos ao fim do Bhagavata, em uma srie de louvores encomiastas sobre sua prpria santidade, e eficcia para salvao. O Sr. Colebrooke observa sobre o Bhagavata Purana, "Eu estou inclinado a adotar uma opinio apoiada por muitos hindus instrudos, que consideram clebre o Sri Bhagavata como o trabalho de um gramtico (Vopadeva), que se supe ter vivido seiscentos anos atrs49." O Cel. Vans Kennedy considera essa uma admisso descuidada, porque " inquestionvel que o nmero dos Puranas sempre foi considerado como dezoito; mas na maioria dos Puranas so enumerados os nomes dos dezoito, entre os quais o Bhagavata est includo invariavelmente; e por conseguinte se ele tivesse sido composto h apenas seiscentos anos atrs, os outros deveriam ser de uma data igualmente moderna50." Alguns deles so sem dvida mais recentes; mas, como j observado, nenhum peso pode ser atribudo especificao dos dezoito nomes, porque eles esto sempre completos; cada Purana enumera todos. Qual o ltimo? Qual teve a oportunidade de nomear seus dezessete antecessores, e somar a si mesmo? O argumento prova muito. Pode haver pouca duvida que a lista foi inserida conforme a autoridade de tradio, ou por algum transcritor melhorador, ou pelo compilador de um trabalho mais recente que os dezoito Puranas genunos. A objeo tambm contradita pela afirmao que havia outro Purana ao qual o nome se aplica, e que ainda est para ser conhecido, o Devi Bhagavata. Pois a autenticidade do Bhagavata uma das poucas questes a respeito de sua literatura sagrada que os escritores hindus tm ousado discutir. O motivo fornecido pelo prprio texto. No quarto captulo do primeiro livro dito que Vyasa organizou os Vedas, e os dividiu em quatro; e que ele ento compilou o Itihasa e os

    48 Uma traduo do nono, pelo Cap. Fell, foi publicada em Calcut em nmeros diferentes da Revista Mensal e Trimestral, em 1823 e 1824. O segundo volume da Histria Antiga do Hindusto de Maurice contm uma traduo, pelo Sr. Halhed, do dcimo livro, feita por meio de uma verso Persa. 49 As. Res. vol. VII. p.467. 50 Mitologia Antiga e Hindu, p.155, nota.

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    Puranas, como um quinto Veda. Os Vedas ele deu a Paila e o resto; o Itihasa e os Puranas para Lomaharshana, o pai de Suta51. Ento, refletindo que esses trabalhos poderiam no ser acessveis a mulheres, Sudras, e castas misturadas, ele comps o Bharata, com a finalidade de colocar conhecimento religioso dentro do alcance deles. Entretanto ele se sentia insatisfeito, e vagou em muita perplexidade ao longo das margens do Saraswati, onde seu eremitrio era situado, quando Narada lhe fez uma visita. Tendo confiado a ele seu descontentamento secreto e aparentemente sem motivo, Narada sugeriu que isso surgiu por ele no ter dado nfase suficiente, nos trabalhos que ele tinha terminado, ao mrito de adorar Vasudeva. Vyasa admitiu sua verdade imediatamente, e achou um remdio para sua intranquilidade na composio do Bhagavata, o qual ele ensinou para Suka seu filho52. Aqui portanto est a afirmao mais positiva que o Bhagavata foi composto subsequentemente aos Puranas, e dado a um aluno diferente, e no era ento um dos dezoito dos quais Romaharshana o Suta era, de acordo com todos os testemunhos conjuntos, o depositrio. Entretanto, o Bhagavata citado entre os dezoito Puranas pelas autoridades inspiradas; e como essas incongruncias podem ser reconciliadas? O ponto principal em disputa parece ter sido comeado por uma expresso de Sridhara Swamin, um comentador sobre o Bhagavata, que um pouco descuidadamente fez a observao de que no havia razo para suspeitar que pelo termo Bhagavata algum outro trabalho que no o assunto de seus labores era pretendido. Essa era ento uma admisso que algumas suspeitas tinham sido nutridas a respeito da correo da nomenclatura, e que uma opinio tinha sido expressada que o termo pertencia, no ao Sri Bhagavata, mas ao Devi Bhagavata; a uma composio Saiva, no uma Vaishnava. Com quem dvidas prevaleciam antes de Sridhara Swamin, ou por quem elas foram induzidas, no aparece; pois, at onde ns estamos informados, nenhum trabalho, anterior sua data, na qual elas so sugeridas, conhecido. Posteriormente, foram escritos vrios tratados sobre o assunto. H trs na biblioteca da Companhia da ndia Oriental; o Durjana Mukha Chapetika, 'Um tapa na cara para os vis', por Ramasrama; o Durjana Mukha Maha Chapetika, 'Um grande tapa na cara para os maus', por Kasinath Bhatta; e o Durjana Mukha Padma Paduka, 'Um chinelo' para a mesma parte das mesmas pessoas, por um disputante annimo. O primeiro afirma a autenticidade do Bhagavata; o segundo afirma que o Devi Bhagavata o Purana genuno; e o terceiro responde aos argumentos do primeiro. Tambm h um trabalho por Purushottama, intitulado Treze argumentos para dissipar todas as dvidas a respeito do carter do Bhagavata (Bhagavata swarupa vihsaya sanka nirasa trayodasa); enquanto Balambhatta, um comentador sobre o Mitakshara, abandonando-se em uma dissertao sobre o significado da palavra Purana, aduz razes para questionar a origem inspirada desse Purana. Os principais argumentos em favor da autenticidade desse Purana so a ausncia de qualquer razo por que Vopadeva, a quem ele atribudo, no teria posto seu prprio nome nele; ele estar includo em todas as listas dos Puranas, s vezes com circunstncias que pertencem a nenhum outro Purana; e ele ser admitido como um Purana, e citado como autoridade, ou tornado o assunto de comentrio, por escritores de reputao estabelecida, dos quais Sankara Acharya um, e ele viveu muito tempo antes de Vopadeva. A resposta ao primeiro argumento bastante fraca, os controversistas estando talvez pouco dispostos a admitir o real objetivo, a promoo de doutrinas novas. dito ento que Vyasa era uma encarnao de Narayana, e o propsito era propiciar suas boas graas. A insero de um Bhagavata entre os dezoito Puranas reconhecida; mas esse, dito, s pode ser o Devi Bhagavata, pois as circunstncias se aplicam mais corretamente a ele do que ao

    51 Livro 1. Cap. 4. 20-22. 52 Livro 1. 7,8.

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    Vaishnava Bhagavata. Assim um texto citado por Kasinath de um Purana, - ele no declara qual - que diz do Bhagavata que ele contm dezoito mil versos, doze livros, e trezentos e trinta e dois captulos. Kasinath afirma que os captulos do Sri Bhagavata so trezentos e trinta e cinco, e que os nmeros se aplicam inteiramente s ao Devi Bhagavata. Tambm dito que o Bhagavata contm um relato da aquisio de conhecimento sagrado por Hayagriva; os detalhes do Saraswata Kalpa; um dilogo entre Ambarisha e Suka; e que ele comea com o Gayatri, ou pelo menos uma citao dele. Esses todos se aplicam somente ao Devi Bhagavata, exceto o ltimo; mas esse tambm mais genuno do Saiva que do trabalho Vaishnava, pois o ltimo tem s uma palavra do Gayatri, dhimahi, 'ns meditamos;' enquanto o ltimo a dhimahi soma: Ya nah prachodayat, 'que pode nos iluminar.' A respeito do terceiro argumento em primeiro lugar alegado que a citao do Bhagavata por escritores modernos no prova de sua autenticidade; e com relao ao comentrio mais antigo de Sankara Acharya, perguntado, "Onde est ele?" Aqueles que defendem a santidade do Bhagavata respondem, "Ele foi escrito em um estilo difcil, e ficou obsoleto, e est perdido." "Um argumento muito insatisfatrio", replicam seus oponentes, "porque ns ainda temos os trabalhos de Sankara, vrios dos quais so to difceis quanto qualquer um no idioma snscrito." A existncia desse comentrio, tambm, se baseia na autoridade de Madhwa ou Madhava, que em um comentrio dele afirma que ele consultou oito outros. Agora entre esses h um pelo macaco Hanuman; e embora um disputante hindu possa acreditar na realidade de tal composio, contudo ns podemos receber sua citao como uma prova que Madhwa no era muito escrupuloso na verificao de suas autoridades.

    H outros tpicos argumentados nessa controvrsia em ambos os lados, alguns dos quais so bastante simples, alguns so engenhosos; mas a declarao do texto por si mesma suficiente para mostrar, que de acordo com a opinio recebida de todas as autoridades a respeito da anterioridade dos dezoito Puranas ao Bharata, impossvel que o Sri Bhagavata, que posterior ao Bharata, deva ser do nmero; e a evidncia de estilo, a superioridade do qual quela dos Puranas em geral admitida pelos disputantes, tambm prova de que ele o trabalho de uma mo diferente. Se o Devi Bhagavata tem um grau melhor para ser considerado como uma composio original de Vyasa, igualmente questionvel; mas no pode ser duvidado que o Sri Bhagavata o produto de erudio no inspirada. No parece haver alguma outra base exceto a tradio para atribu-lo a Vopadeva o gramtico; mas h razo para recorrer tradio em questo. Vopadeva viveu na corte de Hemadri, Raja de Devagiri, Deogur ou Dowlutabad, e por conseguinte deve ter vivido antes da conquista daquele principado pelos muulmanos no dcimo quarto sculo. A data do dcimo segundo sculo, geralmente atribuda a ele, est provavelmente correta, e aquela do Bhagavata Purana.

    6. O Naradiya Purana Narada ou Naradiya Purana. "Onde Narada descreveu os deveres que eram cumpridos no Vrihat Kalpa, aquele chamado de Naradiya, tendo vinte e cinco mil estrofes53." Se o nmero de versos estiver declarado corretamente aqui, o Purana no caiu em minhas mos. A cpia que eu tenho analisado no contm muito mais do que trs mil slokas. H outro trabalho que poderia ser esperado que fosse de maior extenso, o Vrihat Naradiya, ou grande Narada Purana; mas esse, de acordo com a concordncia de trs cpias em minha posse, e de cinco outros na biblioteca da

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    Companhia, contm s aproximadamente trs mil e quinhentos versos. Pode ser duvidado, portanto, se o Narada Purana do Matsya existe54. De acordo com o Matsya, o Narada Purana narrado por Narada, e d um relato do Vrihat Kalpa. O Naradiya Purana comunicado por Narada aos Rishis em Naimisharanya, no rio Gomati. O Vrihannaradiya narrado para as mesmas pessoas, no mesmo lugar, por Suta, como ele foi contado por Narada para Sanatkumara. Possivelmente o termo Vrihat pode ter sido sugerido pela especificao que dada no Matsya; mas no h descrio nele de algum Kalpa especfico, ou dia de Brahma. De um exame superficial desses Puranas, muito evidente que eles no tm nenhuma conformidade com a definio de um Purana, e que ambos so compilaes sectrias e modernas, planejadas para apoiar a doutrina de Bhakti, ou f em Vishnu. Com essa inteno eles reuniram uma variedade de preces dirigidas a uma ou outra forma daquela divindade; vrias observncias e feriados relacionados com sua adorao; e diferentes lendas, algumas talvez de uma data antiga, outras de uma mais recente, ilustrativas da eficcia da devoo a Hari. Assim no Narada ns temos as histrias de Dhruva e Prahlada; a ltima contada nas palavras do Vishnu; enquanto a segunda parte dele trata de uma lenda de Mohini, a filha nascida do desejo de um rei chamado Rukmangada, encantado por quem, o rei se oferece para realizar para ela tudo o que ela pudesse desejar. Ela o obriga ou a violar a regra de jejuar no dcimo primeiro dia da quinzena, um dia sagrado para Vishnu, ou executar seu prprio filho; e ele mata seu filho, como o menor pecado dos dois. Isso mostra o esprito da obra. Sua data tambm pode ser deduzida a partir de seu teor, porque tais extravagncias monstruosas em louvor a Bhakti so certamente de origem moderna. Um limite ele fornece, por si mesmo, pois ele se refere a Suka e Parikshit, os interlocutores do Bhagavata, e ele consequentemente subsequente data daquele Purana. Ele , provavelmente, consideravelmente posterior, pois ele fornece evidncia de que foi escrito depois que a ndia estava nas mos dos muulmanos. A passagem final diz, "Que este Purana no seja repetido na presena dos 'assassinos de vacas' e pessoas que desprezam os deuses." Ele possivelmente uma compilao do dcimo sexto ou dcimo stimo sculo. O Vrihannaradiya um trabalho do mesmo teor e poca. Ele contm pouco mais que oraes laudatrias dirigidas a Vishnu, e injunes para observar vrios ritos, e manter sagradas certas pocas, em honra dele. As lendas mais antigas introduzidas so o nascimento de Markandeya, a destruio dos filhos de Sagara, e o Avatara ano; mas elas so subservientes ao intento do todo, e so tornadas ocasies por louvar Narayana; outras, ilustrando a eficcia de certas observncias Vaishnava, so invenes pueris, totalmente estranhas ao sistema mais antigo de fico purnica. No h nenhuma tentativa com relao cosmogonia, ou genealogia patriarcal ou real. possvel que esses tpicos possam ser tratados nas estrofes perdidas; mas parece mais provvel que o Narada Purana das listas tenha pouco em comum com os trabalhos aos quais seu nome aplicado em Bengala e no Hindusto.

    54 A descrio de Vishnu, traduzida pelo Cel. Vans Kennedy (Afinidade da Mitologia Antiga e Hindu, pg. 200) do Naradiya Purana, ocorre em minha cpia do Vrihat Naradiya. No h nenhum Narada Purana na biblioteca da Companhia da ndia Oriental, entretanto, como citado no texto, vrias do Vrihat Naradiya. H uma cpia do Rukmangada Charitra, considerado como uma parte do Sri Narada Purana.

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    7. O Markandeya Purana Ou Markanda. "Aquele Purana no qual, comeando com a histria dos pssaros que estavam familiarizados com certo e errado, tudo narrado integralmente por Markandeya, como ele foi explicado por sbios santos em resposta pergunta do Muni, chamado de Markandeya, contendo nove mil versos55." Esse assim chamado por ele ser narrado em primeiro lugar por Markandeya Muni, e em segundo lugar por certos pssaros fabulosos; at aqui concordando com a descrio dada dele no Matsya. Esse, como tambm outras autoridades, especifica seu contedo em nove mil estrofes; mas minha cpia fecha com um verso que afirma que o nmero de versos recitado pelo Muni era seis mil e novecentos; e uma cpia na biblioteca da Companhia da ndia Oriental tem uma especificao semelhante. Porm, a terminao um pouco abrupta, e no h razo por que o assunto com o qual ele termina no deveria ter sido continuado mais adiante. Uma cpia na biblioteca da Companhia, de fato, que pertence coleo do Guicowar, afirma no fim que este o fim do primeiro Khanda, ou seo. Se o Purana alguma vez foi completado, a poro restante dele parece estar perdida. Jaimini, o pupilo de Vyasa, recorre a Markandeya para se familiarizar com a natureza de Vasudeva, e para uma explicao de alguns dos incidentes descritos no Mahabharata; com a ambrosia de qual poema divino, Vyasa declara que ele regou o mundo inteiro: uma referncia que estabelece a prioridade do Bharata ao Markandeya Purana, embora isso possa ser incompatvel com a tradio, que tendo terminado os Puranas, Vyasa escreveu o poema. Markandeya se desculpa, dizendo que ele tem um rito religioso para executar; e ele encaminha Jaimini a alguns pssaros muito sbios, que residem nas montanhas Vindhya; aves de uma origem celestial, encontrados, quando recm-nascidos, pelo Muni Samika, no campo de Kurukshetra, e criados por ele junto com seus estudantes: em consequncia do que, e em virtude de sua descendncia divina, eles ficaram profundamente versados nos Vedas, e em um conhecimento da verdade espiritual. Esse mecanismo tomado do Mahabharata, com algum embelezamento. Jaimini consequentemente recorre aos pssaros, Pingaksha e seus irmos, e faz a eles as perguntas que ele tinha feito ao Muni. "Por que Vasudeva nasceu como um mortal? Como que Draupadi era a esposa dos cinco Pandus? Por que Baladeva fez penitncia por brahmanicdio? E por que os filhos de Draupadi foram destrudos, quando eles tinham Krishna e Arjuna para defend-los?" As respostas a essas perguntas ocupam vrios captulos, e formam um tipo de complemento ao Mahabharata; suprindo, em parte por inveno, talvez, e em parte por referncia a autoridades igualmente antigas, os espaos em branco deixados em algumas de suas narraes. Lendas a respeito da morte de Vritrasura, a penitncia de Baladeva, a elevao de Harischandra ao cu, e a disputa entre Vasishtha e Viswamitra, so seguidas por uma discusso a respeito de nascimento, morte, e pecado; a qual leva a uma descrio mais extensa dos diferentes infernos do que a que encontrada em outros Puranas. O relato da criao que est contido nesse trabalho repetido pelas aves da mesma maneira que Markandeya o narrou para Kroshtuki, e limitado origem dos Vedas e famlias patriarcais, entre as quais esto personagens novos, como Duhsaha e sua esposa Marshti, e seus descendentes; personagens alegricos, representando a iniquidade intolervel e suas consequncias. H ento uma descrio do mundo, com,

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    como usual a esse Purana, vrias singularidades, algumas das quais so observadas nas pginas seguintes. Este sendo o estado do mundo no Swayambhuva Manwantara, um relato dos outros Manwantaras vem depois, no qual os nascimentos dos Manus, e vrios outros detalhes, so peculiares a esse trabalho. O Manwantara atual ou Vaivaswata tratado muito brevemente; mas o prximo, o primeiro dos futuros Manwantaras, contm a longa narrativa episdica dos atos da deusa Durga, que o motivo de orgulho especial desse Purana, e o livro-texto dos adoradores de Kali, Chandi, ou Durga, em Bengala. Ele o Chandi Patha, ou Durga Mahatmya, no qual as vitrias da deusa sobre diferentes seres maus, ou Asuras, so detalhadas com fora e esprito considerveis. Ele lido diariamente nos templos de Durga, e fornece a pompa e circunstncia do grande festival de Bengala, o Durga puja, ou adorao pblica daquela deusa56. Depois que o relato dos Manwantaras termina, l segue-se uma srie de lendas, algumas novas, algumas velhas, relativas ao sol e sua posteridade; continuadas at Vaivaswata Manu e seus filhos, e seus descendentes imediatos; terminando com Dama, o filho de Narishyanta57. A respeito da maioria das pessoas citadas, o trabalho narra detalhes no encontrados em outro lugar. Esse Purana tem um carter diferente daquele de todos os outros. Ele no tem nada de um esprito sectrio, pouco de um tom religioso, raramente inserindo preces e invocaes a alguma divindade, e tais quando so inseridas so breves e moderadas. Ele trata pouco de preceitos, cerimoniais ou morais. Sua principal caracterstica narrativa, e apresenta uma sucesso ininterrupta de lendas, a maioria das quais, quando antigas, so embelezadas com circunstncias novas; e quando novas, partilham tanto do esprito das antigas, que elas so criaes desinteressadas da imaginao, no tendo nenhum motivo particular; no sendo projetadas para recomendar alguma doutrina ou observncia especial. Se elas so derivadas de alguma outra fonte, ou se elas so invenes originais, no possvel averiguar. Elas provavelmente so, a maior parte pelo menos, originais; e o todo foi narrado da prpria maneira do compilador, um modo superior quele dos Puranas em geral, com exceo do Bhagavata. No fcil conjeturar uma data para esse Purana: ele posterior ao Mahabharata, mas quanto tempo subsequente duvidoso. Ele inquestionavelmente mais antigo do que obras tais como o Brahma, Padma, e Naradiya Puranas; e sua liberdade de tendncia sectria uma razo por supor que ele anterior ao Bhagavata. Ao mesmo tempo, sua conformidade parcial com a definio de um Purana, e o teor das adies que ele fez a lendas e tradies reconhecidas, indicam uma idade no muito remota; e, na ausncia de algum guia para uma concluso mais positiva, ele pode ser colocado de modo conjetural no nono ou dcimo sculo.

    8. O Agni Purana "Aquele Purana que descreve as ocorrncias do Isana Kalpa, e foi narrado por Agni para Vasishtha, chamado de Agneya; ele consiste em dezesseis mil estrofes58." O Agni ou Agneya Purana deriva seu nome de ele ter sido comunicado originalmente por Agni, o deu do fogo, para o Muni Vasishtha, com a finalidade de instru-lo no

    56 Uma traduo em ingls por um Pandit de Madras, Kavali Venkata Ramaswami, foi publicada em Calcut em 1823. 57 Ver Vishnu Purana, livro 4, cap. 1.

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    conhecimento duplo de Brahma59. Por ele o Purana foi ensinado a Vyasa, que o comunicou para Suta; e o ltimo representado como repetindo-o para os Rishis em Naimisharanya. Seus contedos so especificados diferentemente como dezesseis mil, quinze mil, ou quatorze mil estrofes. As duas cpias que foram usadas por mim contm aproximadamente quinze mil slokas. H duas na biblioteca da Companhia que no se estendem alm de doze mil versos; mas elas so em muitos outros aspectos diferentes das minhas; uma delas foi escrita em Agra, no reinado de Akbar, em 1589 DC. O Agni Purana, na forma na qual ele foi obtido em Bengala e em Benares, apresenta um contraste notvel com o Markandeya. Pode ser duvidado s