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O USO DO JORNAL IMPRESSO NAS AULAS DE GEOGRAFIA
Geni Silveira Garcia1 Jeani Delgado Paschoal Moura2
RESUMO
Esse artigo versa sobre o uso do jornal impresso na sala de aula como um instrumento para ser explorado durante as aulas com os alunos do Ensino Médio. O objetivo é desenvolver o senso crítico do aluno a partir da análise dos conteúdos de Geografia e da realidade exposta descobrindo, no jornal impresso, uma fonte de leitura acessível. Para isso foram utilizados como referencial teórico acervo bibliográfico de autores como Antonello (2008); Katuta (2009); Okamura e Moura (2009), entre outros, que tratam o tema sob diferentes enfoques, de forma teórica e prática, com projetos desenvolvidos em outras escolas. A metodologia utilizada foi baseada na visão socioconstrutivista de Vygotsky (1998) pela qual por um objeto (jornal) estabelecem-se relações na aprendizagem (nível de desenvolvimento real x desenvolvimento potencial) numa interação social (construção do conhecimento por troca de experiências e expressão da opinião sobre o tema). Com isso, busca-se atingir uma aprendizagem significativa, conhecendo a linguagem utilizada pelo jornal impresso, sua elaboração quanto às imagens, os dados ou informações, o contexto histórico, os interesses e as formas de alienação presentes na linguagem jornalística contextualizada aos conteúdos de Geografia. Como resultado, verificou-se que o jornal impresso é um instrumento eficaz para trabalhar os conteúdos de Geografia, além de motivar o aluno e incentivá-lo a estabelecer relações com os conteúdos e as notícias do mundo e do seu cotidiano.
Palavras-Chave: Jornal Impresso; Senso crítico; Conteúdos de Geografia.
INTRODUÇÃO
Atualmente, o mundo globalizado oportuniza aos alunos uma série de
informações vinculadas aos problemas econômicos, sociais, políticos, entre outros,
porém os mesmos, via de regra, não refletem sobre o conteúdo de tais informações.
Nesse sentido, a escola com a sua função social deve se preparar para estabelecer
relações entre as informações midiáticas transmitidas cotidianamente e os
1Professora do Programa de Desenvolvimento Educacional/PDE/SEED/Paraná, Graduada em
Geografia pela Fundação Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Jandaia do Sul, Professora no Colégio Estadual Arthur de Azevedo, no município de São João do Ivaí, Paraná. 2 Orientadora, Profª Drª do Curso de Geografia, Departamento de Geociências, da Universidade
Estadual de Londrina, Londrina/PR.
conteúdos científicos, construídos socialmente. As informações veiculadas pela
mídia, de forma geral, não objetivam provocar uma reflexão crítica sobre o temário
abordado, sendo necessário um trabalho de mediação pedagógica voltado aos
diferentes interesses de cada público alvo.
O jornal impresso, além de ser um recurso acessível aos alunos por estar
presente na escola, pode se constituir em um instrumento pedagógico para a análise
de diversos conteúdos. Entretanto, não se trata de colocar o jornal impresso como
resposta a todos os problemas metodológicos do ensino da Geografia, mas sim de
permitir ao estudante estabelecer uma relação entre os conteúdos, a realidade social
e o seu cotidiano.
Frente aos desafios da escola em relação ao interesse e a participação dos
alunos do Ensino Médio, este artigo apresenta formas de explorar o jornal impresso
como um recurso para despertar o gosto pela leitura, descoberta, reflexão e
formação de opiniões. Os conteúdos de Geografia estão presentes na maioria das
notícias, por isso, com o desenvolvimento desta proposta foi possível explorar a
notícia de forma articulada com a realidade e o interesse do aluno, buscando novas
metodologias e abordagens que permitiram um trabalho de qualidade.
O uso do jornal impresso nas aulas de Geografia é um tema que busca
incluir instrumentos na metodologia do professor. Tal metodologia pode ser
fundamentada em diversas sugestões propostas pelos autores que fundamentaram
esse trabalho como a metodologia da problematização, a explicação sobre os
padrões de ocultação, as dimensões a serem tomadas como instrumento de análise
das notícias entre outros.
Dessa forma, esse trabalho teve início com o projeto de fundamentação, a
elaboração do caderno temático e finalizou com a prática, ou seja, a implementação
do projeto com alunos do Ensino Médio do Colégio Estadual Arthur de Azevedo do
município de São João do Ivaí, Paraná, como será discutido nas páginas adiante.
1 A IMPORTÂNCIA DO JORNAL NO ENSINO E APRENDIZAGEM DE
CONTEÚDOS GEOGRÁFICOS
O jornal impresso constitui-se em um instrumento para que o professor possa
apresentar os conteúdos de Geografia de maneira contextualizada. Com a utilização
dessa mídia impressa nas aulas o estudante terá a oportunidade de aproximar seu
saber cotidiano com os conteúdos construídos socialmente.
Ao utilizar jornais em sala de aula, podemos estimular a leitura crítica e o aprofundamento das informações relacionadas ao espaço geográfico. Muitas vezes, as notícias trazem informações superficiais, características de muitas informações com as quais, na atualidade, os alunos são bombardeados cotidianamente. (ARCHELA; CALVENTE, 2008, p.91).
Com isso, o aluno pode relacionar os conteúdos de Geografia com a
realidade exposta nos jornais impressos. Conhecer a ideologia, a intenção dos
autores do jornal em relação às notícias, assim como a fidedignidade das mesmas,
contribui para que o aluno construa uma identidade histórica baseada em fatos e
conteúdos que serão vivenciados por ele na sociedade.
Ora, se tivermos como pressuposto que devemos partir dos conhecimentos que os discentes possuem sobre os lugares que conhecem, a fim de realizar o ensino e aprendizagem fundado no dialogismo, ou seja, no diálogo entre saberes discentes e escolares, podemos fazer uso do jornal local enquanto linguagem e fonte de registro da geograficidade dos fenômenos, fundamental na construção de raciocínios geográficos (KATUTA, 2009, p. 15-16).
A partir dessa análise, Katuta (2009) mostra a importância do dialogismo dos
textos que significa o diálogo com os conteúdos e a realidade, porém essa realidade,
exposta no jornal impresso é fonte de análise sobre as perspectivas que os
jornalistas tiveram sobre o assunto, a sua relevância e o motivo pelo qual o assunto
está em evidência.
Assim, os alunos puderam participar explicitamente, analisando o fluxo das
informações e desenvolvendo “a atenção, observação, discriminação, comparação,
classificação, análise, argumentação, síntese, indução e dedução” (ARCHELA;
CALVENTE, 2008, p. 93-94).
Analisar a fonte, o interesse de quem escreve e de quem lê, o momento
político, econômico, cultural e social o qual se encontra a cidade, o estado, o país
e/ou o mundo, permite que o aluno desenvolva o seu senso crítico e faça relações
com outras esferas e problemas da modernidade, “ [...] estimula também a leitura e o
envolvimento crítico com os acontecimentos, apreendendo os processos que
desencadeiam os atos, que podem parecer, em uma leitura não critica, isolados”
(ARCHELA; CALVENTE, 2008, p. 98), tornando-se um sujeito ativo e construtor do
seu conhecimento.
Segundo Antonello (2009) a mídia impressa traz em seu bojo a manipulação
das informações conforme os seus interesses; o resultado é a distorção da
realidade. Ressalta ainda que apesar dessa constatação, não se trata de uma regra,
por isso as diferentes situações que ocorrem, devem ser minuciosamente estudadas
e exploradas em sala de aula. A ideologia de um fenômeno pode ser demonstrada
por meio do jornal impresso sendo explicada de maneiras distintas, envolvendo o
saber científico e a realidade social, cultural e econômica.
A utilização de jornais nas aulas de Geografia enriquece e motiva a
aprendizagem, contribuindo para a percepção da relação entre o conteúdo discutido,
o espaço geográfico vivido e o dia-a-dia das pessoas. “[...] estimula também a leitura
e o envolvimento crítico com os acontecimentos, apreendendo os processos que
desencadeiam os atos, que podem parecer, em uma leitura não crítica, isolados”.
(ARCHELA; CALVENTE, 2008, p.98)
Em relação aos alunos, observa-se que os meios de comunicação
apresentam milhares de informações de diversas áreas as quais estão presentes
ideologias e concepções também diferenciadas. Nesse sentido, faz-se necessário
que os alunos aprendam a reconhecer esses aspectos para poderem analisar,
decidir e transformar a sua realidade, contribuindo para uma formação cidadã.
[...] cabe a escola e aos professores fazer a filtragem do excesso de informações que são lançadas para o consumo de massa e senso comum, e instigar uma maior participação dos alunos, incentivando-os a trazer para a sala de aula a realidade vivida no seu cotidiano, para que assim consigam refletir, diante do confronto entre a realidade do seu dia a dia e o conhecimento científico, contribuindo para uma visão critica. (CARVALHO; TSUKAMOTO, 2008, p. 21)
A pesquisa realizada por Carvalho e Tsukamoto (2008) revela que o jornal é
lido por 60% dos professores entrevistados em escolas de Londrina. Apesar dessa
leitura não ser do jornal completo, tal constatação revela que o jornal é um meio
acessível nas escolas. Nessa pesquisa, as autoras apresentam que a atualidade é o
quesito principal quando utilizam o jornal nas suas aulas, apontando que os
professores relatam a importância do mesmo para o ensino de Geografia:
O jornal apresenta informações atualizadas, podendo relacionar com o dia a dia do aluno, enriquecendo o conteúdo; uma estratégia importante para contextualizar com a vida e a realidade do aluno; se tiver uma notícia nova, sobre um país que se desmembrou ou teve uma união, temos condição de passar atualidade para o aluno; em determinados assuntos pode substituir o livro didático. (CARVALHO; TSUKAMOTO, 2008, p. 30).
Os vestibulares e as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)
exigem os conhecimentos da atualidade, da realidade, relacionados com o conteúdo
de Geografia, sendo o jornal impresso o principal instrumento utilizado pelos
professores. Ao final da pesquisa supracitada as autoras observam que os
professores que valorizam a questão da atualidade, via de regra, deixam a desejar
no aspecto da análise crítica da mídia pela qual se poderia melhorar a qualidade do
ensino (CARVALHO; TSUKAMOTO, 2008).
Assim, verificou-se que a questão ideológica do jornal não é trabalhada de
forma sistemática em sala de aula. Nas pesquisas de Carvalho e Tsukamoto (2008)
um professor salientou que considera o jornal um veículo imparcial, não possuindo
conteúdo ideológico. Portanto, o desafio da escola é fazer com que os alunos
compreendam o local onde vivem, bem como a sociedade, façam relações e
cheguem a conclusões.
Segundo Archela e Calvente (2008), com o uso do jornal, a motivação e a
participação ocorrem de forma natural. Não se trata do aluno aprender o que quer e
quando quer, mas de construir conhecimentos de forma significativa, conduzido pela
autonomia e competência do professor. Para isso o professor deve conhecer e
dominar os conteúdos da disciplina, pois poderão surgir assuntos que vão além
daqueles explícitos na notícia, exigindo do mesmo o preparo e a busca por
constante aprendizagem. Segundo Freire (1996, p. 25) “Quem ensina aprende ao
ensinar, e quem aprende ensina ao aprender”.
Para a utilização do jornal como instrumento pedagógico, pode ser interessante que o professor, junto com os alunos, faça, no final, uma análise dos jornais utilizados. Uma pesquisa pode ser realizada até mesmo utilizando os recursos da internet, procurando observar os interesses de quem produz o jornal e dos seus assinantes, ou do seu público preferencial. A pergunta inicial é: quem produz este jornal e para quem? É uma tentativa de descortinar os interesses
econômicos e ideológicos por trás dos fluxos de informação. Em municípios menores, no trabalho com jornais locais, muitas vezes o professor já possui essa informação. (ARCHELA; CALVENTE, 2008, p.93).
A motivação e a participação ocorrem de forma natural. Não se trata do aluno
aprender o que quer e quando quer, mas da autonomia e competência do professor
em ministrar a sua aula de maneira que conduza a classe a uma aprendizagem
significativa. Para isso o professor deve conhecer e dominar os conteúdos da
disciplina, pois podem surgir assuntos que vão além daqueles explícitos na notícia,
exigindo do professor preparo e busca por constante aprendizagem.
2 METODOLOGIAS PARA O USO DE JORNAL EM SALA DE AULA
O professor de Geografia deve fundamentar sua prática pedagógica a fim de
estabelecer objetivos claros e recursos que contribuam para a aprendizagem
significativa do aluno. Essa fundamentação ocorre por meio de leituras, curso de
capacitação, troca de experiências e alterações em sua prática numa dimensão
dialética que consiste em agir, pensar, refletir e agir novamente em busca da melhor
aprendizagem dos alunos.
Paulino (2009) apresenta uma metodologia proposta por Carvalho (2002) que
pode servir de organização para a análise das notícias a fim de tornar o assunto, ou
tema, algo que suscite o interesse dos alunos e desenvolva seu senso crítico diante
das notícias expostas nos jornais impressos.
Antes da escolha da notícia, Carvalho (2002 apud PAULINO, 2009, p. 24)
aponta três dimensões passíveis de serem tomadas como instrumentos de análise
do recurso midiático, no caso, o jornal impresso:
- dimensão analítico-descritiva: as abordagens apontam para alguns dos temas, questões ou aspectos que estão envolvidos num problema, simultaneamente descrendo e analisando a realidade; - dimensão normativo-avaliativa: implícita ou explicitamente as abordagens remetem para preferências e valores, envolvendo opções ideológicas; - dimensão prescritiva: com frequência as abordagens remetem para a ação, contendo orientações explícitas ou veladas para que a mesma ocorra.
Os questionamentos fundamentados na proposta de Carvalho (2002 apud
Paulino, 2009) assim como as suas abordagens, remetem a sala de aula para um
espaço de construção coletiva do saber. Coletiva no sentido de aprender juntos, com
as experiências dos alunos, do professor e os conteúdos escolares. A referida
autora sugere os seguintes questionamentos:
quais os temas mais recorrentes no meio de comunicação em foco que permitem compreender e reconhecer previamente as potencialidades do material a ser trabalhado; verificar a frequência do aparecimento da temática, mensurar a superfície, em termos de espaço ocupado nas publicações, que é dedicada às temáticas. (PAULINO, 2009, p. 26)
Questionar o porquê dos temas, qual o destaque, fazer uma análise
qualitativa, ou seja, fazer confrontos de perspectivas: qual a perspectiva implícita, as
críticas, os comentários de especialistas; observar as metáforas, as figuras de estilo,
a análise sobre a fonte e, principalmente, o título da notícia. Dessa forma, a análise
qualitativa permitirá o surgimento de conflitos e também de associações acerca dos
conteúdos e a maneira como são expostos para a sociedade.
Okamura e Moura (2008) apresentam a metodologia da problematização
tendo Paulo Freire como um dos defensores desta. “A metodologia da
problematização está fundamentada nos princípios filosóficos de Paulo Freire,
conforme observa nos trabalhos de Berbel (1999) e nas proposições apresentadas
por Bordenave e Pereira (2002)” (OKAMURA; MOURA, 2008, p. 48).
Nesta metodologia, os autores apontam alguns passos como: a observação
da realidade levantando problemas; escolha do tema e os pontos chaves a serem
pesquisados. Após essas análises, vem a teorização, ou seja, pesquisar as
concepções existentes, os autores que tratam o tema de modo teórico e empírico. A
próxima etapa consiste em levantar hipóteses de solução para o problema
levantado, nesse momento, os alunos elaboram alternativas e, na sequência,
aplicam a realidade, ou seja, colocam em prática as discussões, reflexões e
soluções estudadas. Para remeter aos conteúdos ressalta-se que:
[...] a problematização dos conteúdos de ensino deve envolver a realidade que cerca o aluno, com o objetivo de sensibilizá-lo a buscar explicações e soluções com vistas a transformar sua realidade mediante ação (as práxis). Com esta metodologia espera-se que o sujeito (aluno) também se transforme pela ação de problematizar e
detectar novos problemas na realidade e, assim, a cada etapa do estudo, torna sua aprendizagem mais significativa. (OKAMURA; MOURA, 2008, p. 47)
Com isso, o aluno desenvolve o pensamento crítico buscando conhecimentos
além daqueles da sala de aula, relacionando com o meio em que vive, estimula a
pesquisa, a busca de informações teóricas, elaboração de sugestões e reflexão a
partir de vários pontos de vista.
Dores e Asari (2008) propõem outra metodologia denominada „Metodologia
do Experimento de Ensino‟ que teve sua origem com a disciplina de matemática, por
volta de 1970 nos Estados Unidos, embora fossem utilizados por pesquisadores da
Academia de Ciências Pedagógicas da União Soviética. A „Metodologia do
Experimento de Ensino‟ surgiu para suprir o abismo existente entre a prática da
pesquisa e a prática de ensino. O seu objetivo é “priorizar as atividades realizadas
pelos alunos através da observação das aulas por eles e também pelo professor
visando com isso melhorar as práticas pedagógicas docentes em sala de aula e
proporcionar um ensino de qualidade” (DORES; ASARI, 2008, p. 76). Segundo
Melchior (1994 apud DORES; ASARI, 2008, p. 82):
A observação consiste em uma técnica adequada para apreciação dos espaços do desenvolvimento que não podem ser aferidos através de provas ou outros instrumentos avaliativos. Os registros dessas observações devem ser usados pelo professor no momento de analisar seu desempenho e o do aluno em sala de aula. Nesse sentido, observa-se que essa metodologia proporciona a reflexão não somente do desempenho do aluno, mas também do professor. O papel do professor na sala de aula deve ser conjunto e participativo, refletindo com seus alunos os conteúdos, relacionando com a realidade social econômica, cultural e política como forma de integrá-los ao meio onde vivem.
Os procedimentos da „Metodologia do Experimento de Ensino‟ consistem em
“verificar as concepções que os alunos têm sobre o tema, teorizando conjuntamente,
apenas visando orientar o andamento da discussão” (DORES; ASARI, 2008, p. 77).
Assim, o professor deve criar estratégias, situações que estimulem a participação
dos alunos, disponibilizando informações, bibliografias, recursos didáticos
pedagógicos, articulando com o tema em estudo. Num segundo momento desta
metodologia o professor deve permitir que os alunos relatem as “observações feitas
sobre as aulas, ressaltando os pontos positivos e negativos das mesmas e opinando
sobre como deveriam se trabalhas as próximas atividades” (DORES; ASARI, 2008,
p. 77).
Na perspectiva do ensino da Geografia, é importante que o professor crie
estratégias para que todos os alunos participem, observando a diversidade existente
na sala de aula. Segundo Castrogiovani (2000 apud DORES; ASARI, 2008, p. 79):
É necessário que os professores criem condições de trabalho que favoreçam as diferentes estratégias cognitivas e ritmos de aprendizagem, para que o aluno aprenda de forma ativa, participativa, evoluindo dos conceitos prévios aos raciocínios mais complexos e assumindo uma postura ética, de comprometimento coletivo.
Observa-se que os encaminhamentos metodológicos propostos pelos autores
têm como finalidade desenvolver o senso crítico do aluno a partir da análise dos
conteúdos de Geografia e a realidade exposta. Dessa forma, o jornal como
instrumento na sala de aula visa oportunizar uma aprendizagem significativa, com
temas da atualidade e, ao mesmo tempo, oferecendo subsídios para alunos e
professor discutir sobre a relação do conhecimento no tempo e no espaço social.
Com isso, a busca pelo conhecimento acontece tanto pelo aluno quanto pelo
professor, este no papel de mediador dos conhecimentos construídos socialmente.
3 RELATOS DE EXPERIÊNCIA: INTERAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA
A implementação do projeto com o caderno pedagógico elaborado a partir da
leitura e estudos sobre a mídia e, sobretudo, do jornal impresso no ensino de
Geografia foi desenvolvido com vinte e um alunos do 3º ano do Ensino Médio do
Colégio Estadual Arthur de Azevedo no município de São João do Ivaí, Paraná.
O primeiro trabalho desenvolvido foi uma pesquisa com o objetivo de
diagnosticar a relação dos alunos com esta linguagem midiática. Para isso foi
utilizado um questionário com questões fechadas, solicitando ao aluno que
respondesse se tem acesso diariamente ao jornal impresso no seu dia-a-dia.
Figura 1 - Número de alunos que possuem acesso ao jornal impresso
29%
71%
SIM
NÃO
Fonte: Pesquisa in loco (2012)
Na segunda questão sobre o local onde o aluno tem acesso ao jornal, ficou
evidente que a escola é o principal meio de acesso, como demonstra o gráfico. 86%
dos alunos têm acesso ao jornal somente na escola.
Figura 2 – Local que o aluno tem acesso ao jornal.
86%
14% 0%
ESCOLA
TRABALHO
EM CASA
Fonte: Pesquisa in loco (2012)
Sobre esta questão, confira o que as autoras apontam em relação ao jornal
como um recurso para a aprendizagem.
Ao trazer jornais para a sala de aula, podemos estimular a leitura crítica e o aprofundamento das informações relacionadas ao espaço geográfico. Muitas vezes, as notícias trazem informações superficiais, características de muitas informações com as quais, na
atualidade, os alunos são bombardeados cotidianamente. (ARCHELLA; CALVENTE, 2008, p.91).
Na questão três os alunos apresentam os assuntos que costumam se
interessar ao terem acesso ao jornal impresso. Foram colocadas algumas sugestões
com a resposta aberta a fim de conhecer melhor o interesse dos mesmos. Nos
assuntos apresentados os alunos optaram por lazer. Na opção “outros” os alunos
relataram fococas, signos, meio ambiente, policial, piadas, notícias do mundo,
palavras cruzadas.
Na quarta questão foi investigado sobre a utilização do jornal impresso
durante as aulas, nas diversas disciplinas escolares. Pelas respostas dadas,
verificamos que todos os alunos utilizaram o jornal durante as aulas, sendo que a
que mais utilizou o jornal, com os estudantes pesquisados, foi a disciplina de
Geografia. Archela e Calvente, (2008, p. 91-92) justificam que “a utilização de jornais
em sala permite ao aluno relacionar o conteúdo da disciplina de Geografia, que
muitas vezes é considerado, por ele, um conhecimento apenas abstrato ou
decorativo”. Essa constatação das autoras ficou evidente, quando todos os alunos
na última questão, apontaram que o jornal impresso ajuda na compreensão dos
assuntos, muitas vezes, abstratos.
Na segunda atividade realizada os alunos foram bastante participativos. Ao
assistirem ao vídeo, intitulado Intevozes produzido pelo Coletivo Brasil de
Comunicação Social, foi possível discutir sobre o direito a liberdade de comunicação
e o controle dos meios de comunicação em nosso país. Durante as discussões os
alunos demonstram que se reconhecem como pessoas manipuladas pela mídia,
mas não conseguiram sugerir outra forma de conviverem com a mídia a não ser
questionando-a. Muitos revelaram que apesar de conhecerem a manipulação da
mídia, agem seguindo os padrões, principalmente, da moda e da beleza.
Em relação a construção do mapa conceitual para conhecer o jornal
impresso, foi uma atividade bastante exaustiva, pois assim, como ocorre na maioria
das escolas, houve imprevistos que não possibilitou o uso do mapa conceitual no
computador, pois o mesmo não possuía o programa para elaborá-lo. No entanto, foi
apresentado no quadro de giz, explicado e depois foi realizado no computador.
Mapa conceitual foi um termo criado por Joseph Novak, na década de 1970,
sendo definido como “uma ferramenta para organizar e representar o conhecimento.
Trata-se de uma representação gráfica em duas dimensões de um conjunto de
conceitos construídos de tal forma que as relações entre eles sejam evidentes”
(SABIO, 2012, p. 1). Essa ferramenta baseou-se na aprendizagem significativa de
David Ausubel podendo ser utilizado em pesquisas, planejamento e avaliação. O
mesmo é um rico instrumento para:
ensinar um novo tópico; auxiliá-los a se manter mais atentos aos conceitos-chave e às relações entre eles; instrumento de análise de anormalidades cognitivas que propiciam deficiência de aprendizagem; auxiliá-los a transmitir uma imagem geral e clara dos tópicos e das suas relações; reforçar a compreensão e aprendizagem; permitem a visualização dos conceitos-chave e resumem suas inter-relações; formar hábitos de estudo; proporcionar maior independência e autonomia ao desenvolver a consciência de responsabilidade pelo aprendizado e a postura de buscar aprofundar o rigor e a organização. (SABIO, 2012, p.2)
Os alunos apresentaram pouco interesse no início da construção dos mapas
temáticos, mas conforme o professor envolvia os mesmos para a elaboração do
mapa, eles foram participando gradativamente até conseguirem realizá-lo no seu
caderno. Foi explicado que esse recurso do mapa conceitual poderia auxiliá-los nos
estudos de outras disciplinas, descobrindo a palavra chave e ramificando os
assuntos até chegar a conclusões ou não.
Figura 3 - Mapa Conceitual – Seções do Jornal Impresso
Jornal impresso
Está dividido em
folhas
Principais notícias
geografia
Presente nas
noticias
Manchetes
OpiniãoPolítica
Geral Mundo
Economia Cidades
Esporte
Folha 2
Classificados
Gastronomia
Horóscopo
Charges
Cinema
Palavras cruzadas
matemática
história
Fonte: Elaborado pela autora
Portanto, essa forma de construir os conhecimentos a partir de relações com
o todo, exige um esforço cognitivo diferenciado que consiste em frisar os conceitos
importantes.
Figura 4 - Mapa conceitual construída por uma das alunas.
Notícia utilizada para construção do mapa conceitual. Fonte: MARCONDES, Gina. Tribuna do Norte – Seção 8 Folha Geral.
22-03-2013.
Essa ferramenta baseou-se na aprendizagem significativa de David Ausubel
podendo ser utilizado em pesquisas, planejamento e avaliação.
Torna-se um rico instrumento para:
ensinar um novo tópico; auxiliá-los a se manter mais atentos aos conceitos-chave e às relações entre eles; instrumento de análise de anormalidades cognitivas que propiciam deficiência de aprendizagem; auxiliá-los a transmitir uma imagem geral e clara dos tópicos e das suas relações; reforçar a compreensão e aprendizagem; permitem a visualização dos conceitos-chave e resumem suas inter-relações; formar hábitos de estudo; proporcionar maior independência e autonomia ao desenvolver a consciência de responsabilidade pelo aprendizado e a postura de buscar aprofundar o rigor e a organização. (SABIO, 2012, p.2).
A quarta atividade consistiu em elaborar uma hemeroteca com conteúdos de
Geografia a partir das notícias do jornal impresso da escola. Para Ferreira (1986
apud Medeiros et. al, 2012, p. 8) o termo hemeroteca significa “seção das bibliotecas
em que se colecionam jornais e revistas”. A análise das notícias para elaborar a
hemeroteca teve como fundamentação os instrumentos apresentados por Carvalho
(2002, apud PAULINO, 2009), sendo as dimensões: - analítico-descritiva; - o
normativo-avaliativa e prescritiva. A dimensão analítico-descritiva tem por objetivo
abordar os temas a partir da problematização relacionada à realidade. A dimensão
normativo-avaliativa analisa as questões ideológicas presentes nas notícias e a
dimensão prescritiva tem por finalidade a ação com orientações sobre determinado
aspecto. A abordagem utilizada nessas dimensões tem por função: “a) definir
problemas; b) diagnosticar causas; fazer juízos de valor; d) sugerir soluções”
(PAULINO, 2009, p. 25).
Os questionamentos fundamentados na proposta de Carvalho (2002 apud
Paulino, 2009) assim como as suas abordagens, remetem a sala de aula para um
espaço de construção coletiva do saber. Coletiva no sentido de aprender juntos, com
as experiências dos alunos, do professor e os conteúdos escolares. A referida
autora sugere os seguintes questionamentos:
quais os temas mais recorrentes no meio de comunicação em foco que permitem compreender e reconhecer previamente as potencialidades do material a ser trabalhado; verificar a frequência do aparecimento da temática, mensurar a superfície, em termos de espaço ocupado nas publicações, que é dedicada às temáticas. (PAULINO, 2009, p. 26)
A metodologia da problematização, proposta por Okamura e Moura (2008), foi
utilizada como estratégia para trabalhar com o jornal impresso (local e regional) em
sala de aula, no que se refere à elaboração da hemeroteca e da construção do jornal
escolar a partir dos conteúdos geográficos e nas perspectivas de Freinet (1974) que
aborda o uso do jornal na sala de aula oferecendo subsídios para a construção do
mesmo em relação à diagramação, composição e impressão. No caso desse projeto
foi construída apenas a hemeroteca.
A elaboração da hemeroteca contou com os seguintes passos: Escolher um
assunto relacionado com o conteúdo de Geografia; Solicitar que os alunos procurem
em mais de um jornal sobre o assunto solicitado a fim de realizar leituras e observar
as diferenças em relação ao assunto tratado; Fazer a leitura e identificar os dados
solicitados na ficha de hemeroteca; Preencher os espaços da ficha da hemeroteca
redigindo com suas palavras o que entendeu da notícia e/ou do conteúdo;
Selecionar trechos, citações do jornal que sejam relevantes para transmitir a notícia
dentro de uma das dimensões; Auto-correção e reescrita do texto, caso necessário.
Figura 4 - Notícia utilizada para elaboração da hemeroteca por um dos alunos.
Fonte: GALIOTTO, Fábio, Jornal Folha de Londrina – 11/04/2013 – Reportagem
Local
Figura 5 - Hemeroteca
Fonte: A.S.L. Aluna do Ensino Médio, Col. Est. Arthur de Azevedo-São João do Ivaí
Fase final da hemeroteca, ou seja, o aluno já havia preenchido a ficha e elaborado o texto
final.
A quinta atividade foi solicitado aos alunos, em grupo de três, que a partir de
uma notícia do jornal impresso (regional e/ou local), retirassem todas as informações
possíveis em relação a leitura do texto, imagens, ideias explícitas, implícitas,
questionar o porquê dos temas, qual o destaque, fazer uma análise qualitativa, ou
seja, fazer confrontos de perspectivas: qual a perspectiva implícita, as críticas, os
comentários de especialistas; observar as metáforas, as figuras de estilo, a análise
sobre a fonte e, principalmente, o título da notícia, as diferentes formas de entender
o que contém a notícia, sendo essa vinculada a conteúdos de Geografia.
Nessa atividade foi necessária a mediação constante do professor com
questionamentos ao grupo, principalmente em relação as metáforas e as charges
que também foram objeto de escolha do aluno em que tinha que desenvolver toda
essa análise. Observa-se que os alunos têm uma visão superficial dos problemas
relacionados ao meio ambiente, a economia, ao crescimento populacional, assim foi
necessário fazer uma contextualização. Essa constatação confirma o que as autoras
Archela e Calvente (2008) descrevem:
Ao trazer jornais para a sala de aula, podemos estimular a leitura crítica e o aprofundamento das informações relacionadas ao espaço geográfico. Muitas vezes, as notícias trazem informações superficiais, características de muitas informações com as quais, na atualidade, os alunos são bombardeados cotidianamente. (ARCHELA; CALVENTE, 2008, p.91)
Segundo Antonello (2009) a mídia impressa traz em seu bojo a manipulação
das informações conforme os seus interesses; o resultado é a distorção da
realidade. Ressalta ainda que apesar dessa constatação, não se trata de uma regra,
por isso as diferentes situações que ocorrem, devem ser minuciosamente estudadas
e exploradas em sala de aula. A ideologia de um fenômeno pode ser demonstrada
por meio do jornal impresso sendo explicada de maneiras distintas que envolvem o
saber científico e a realidade social, cultural e econômica.
O papel do professor é relevante mais uma vez, pois, “um dos principais
papéis dos educadores é o de fazer com que os alunos pensem sobre coisas que
até então não tinham pensado. Mostrar a eles que o espaço não é apenas um palco
por onde andamos” (KAECHER, 2000, p. 151-152).
Para a formação de um leitor crítico, que era o objetivo dessa atividade, foi
importante ressaltar que a Geografia é um saber abstrato, mas que existe por
formas reais, ou seja, o saber geográfico é abstrato para o aluno em relação aos
conteúdos escolares. Observa-se que os mesmos demonstram desinteresse em
aprender Geografia, pois acreditam que é somente memorizar conceitos, fazer
classificações, sem ter nenhuma relação com seu cotidiano, com o uso do jornal
nessa atividade foi possível fazer essa aproximação, que não é tarefa fácil, pois os
alunos não são levados a questionar e/ou até mesmo pensar sobre determinado
conteúdo.
Dando continuidade na implementação do projeto a atividade posterior foi ao
encontro das necessidades apresentadas na atividade anterior. Por meio de uma
aula expositiva foi esclarecido os padrões de ocultação das notícias. Após essa
explanação, foi solicitado aos alunos que em grupo fizessem anotações sobre esses
padrões nas notícias.
Utilizando-se diferentes temas os alunos foram apresentando os padrões
observados nas notícias como: “Mercado de motos dá sinais de melhora”. Nessa
notícia os alunos puderam observar o padrão da fragmentação que na realidade o
aumento do consumo corresponde ao crescimento do capitalismo, uma forma de
sociedade a qual nossos alunos estão vivenciando e aprendendo que melhor é
aquele que mais consome; Outra notícia: “Venda mundial de PCs registra redução
de 14%”. Com essa notícia os alunos observaram o padrão de indução, pois caiu a
venda de PCs, computadores, porém aumentou o número de vendas de
Smartphone, iPhone e tablets que também correspondem o meio da tecnologia.
A mídia impressa pode constituir-se em benefício ao ensino, mas também
como forma de tornar o aluno mais pacífico na sala de aula e na sociedade devido a
manipulação da mídia, principalmente, da impressa, a qual é usada por uma parcela
da sociedade para manter o status quo.
Esses padrões são apresentados por Antonello (2009, p. 44-45):
como o padrão de ocultação que insiste na permanência do silêncio sobre os fatos reais, criado pelo meio jornalístico; o padrão de fragmentação que remete ao leitor a falta de conexões com os assuntos, não permitindo uma análise da realidade; o padrão da inversão, que busca descontextualizar os temas, trocando de lugar a sua importância para a população; e o padrão da indução que articula a manipulação da notícia para atender os interesses particulares de grupos sociais.
Conhecendo a essência do fato jornalístico, o aluno poderá observar que a
mídia é um espelho e pode não refletir a realidade, mas sim como um fragmento da
realidade conforme o interesse da própria mídia ou de seus representantes
(ANTONELLO, 2009).
Outra atividade foi a entrevista ao jornalista Herington Paulista ex aluno do
colégio e visita a sede da redação do jornal.
Figura 6 –Alunos do Ensino Médio visitam redação da Folha do Ivaí.
Fonte: PAULISTA, Herington , Jornal Semanal Folha do Ivaí, 25/05/2013, Educação, p. 4. São João do Ivaí
Os alunos elaboraram um relatório da entrevista e apresentaram também no
último dia dos trabalhos durante a exposição dos mesmos.
O álbum sanfonado, a última atividade realizada foi distribuído um por aluno
que consta todo o roteiro do trabalho com fotos desde o início com a apresentação
do projeto aos professores até o dia da exposição dos trabalhos realizados no pátio
do colégio. Esse trabalho foi o que mais motivou os alunos, pois ficaram com o
registro por foto da sequência do trabalho e as imagens. Cada aluno confeccionou
seu álbum e as fotos a professor gentilmente cedeu aos alunos pelo empenho e
dedicação.
Observa-se que os alunos têm vontade de aprender, porém sentem-se
desmotivados, desvalorizados, assim, como nós professores. Dessa forma, acredita-
se que em um trabalho consistente, os alunos demonstram maior empenho, mesmo
com suas características próprias de adolescentes em questionar, mostrar-se sem
interesse num primeiro momento.
Outro aspecto, é que os alunos estão acostumados com aulas expositivas
com conteúdos desvinculados do seu cotidiano, pois a partir do momento que
perceberam que a Geografia e as notícias do jornal estão ligadas com o seu mundo,
os mesmos passaram a interessar-se e, consequentemente, aprender os conteúdos
expostos nos jornais e nas notícias.
Assim, fica claro que os professores devem estar prontos para tirar o aluno da
sua comodidade, da sua participação da aula apenas como ouvinte, mas como
autor, colaborando com suas ideias e opiniões, tornando-se críticos e argumentando
sua criticidade com conteúdos científicos o qual a escola tem por função trabalhar.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao retornar para a escola após um ano de estudo, leitura, seminários e aulas
produtivas e esclarecedoras, voltamos a sala de aula para debater os resultados
desses estudos e a elaboração realizada para trabalhar com o jornal na sala de aula.
Em primeiro lugar, estamos frente a um desafio: ministrar aulas para alunos
do Ensino Médio, alunos adolescentes que são bombardeados de informações pela
tecnologia, mas que pouco conseguem argumentar sobre essas informações. Seus
argumentos são meramente focados no senso comum, cabendo a escola e,
principalmente, ao professor a colocar-se como mediador e mostrar como os
conteúdos científicos são importantes para a construção da cidadania.
O fato é que os alunos necessitam de instrumentos diversificados e aulas
diferenciadas para que possam envolver-se com os conteúdos. Neste caso, o uso do
jornal num primeiro momento não foi tão atraente, foi preciso empenho do professor
para demonstrar como o jornal pode ajudá-los a aprender não só os conteúdos de
geografia mas a ver o mundo de forma crítica, observando a manipulação da mídia e
dos grandes interesses da sociedade capitalista.
Após essa análise e muito empenho os alunos foram gradativamente se
envolvendo com as atividades, com preferência mais a atividades com imagens,
outros com leitura, outros com a oralidade, enfim, cada um com seu ritmo, porém,
obedecendo de certa forma as propostas da professora.
Assim, os alunos de forma geral conseguiram ao final do trabalho identificar
os conteúdos de Geografia presentes nas notícias do jornal impresso e também
comentavam nas aulas as notícias dos telejornais, demonstrando que estavam
levando suas dúvidas e os que aprenderam durante as aulas para suas casas e
trabalho.
Alguns alunos mencionavam que tentavam mostrar aos pais as formas de
manipulação das notícias ouvidas ou lidas em diversos locais, porém os pais não
compreendiam e outros até compreendiam, mas não havia nada a fazer em relação
a notícia, ou seja, não eram possuidores de recursos para contradizer o que era
exposto pela mídia.
Os conteúdos das notícias muitas vezes vinham de forma interdisciplinar, ou
seja, abordava conteúdos de outras disciplinas que tínhamos em conjunto que
pesquisar para poder compreender a notícia na íntegra.
Outro aspecto observado é que com objetivos claros, o professor consegue
atingir o aluno não se perdendo na forma como o aluno se comporta. Isso significa
que por mais que o professor seja um mediador ele tem que manter a sua
autoridade enquanto professor que direciona o trabalho pedagógico para um fim e
que esse fim justifica-se na aprendizagem do aluno.
Acredita-se que as informações, as imagens, as charges, não serão lidas
pelos alunos de forma pacífica após o desenvolvimento desse trabalho, pois por
meio da oralidade em debates demonstraram interesse nas diferentes formas da
linguagem jornalística e sua finalidade em atingir a população.
Com a apresentação de uma coletânea de jornais antigos e o vídeo
„Intervozes‟ os alunos observaram o crescimento da informação pela mídia e sua
manipulação por questões ideológicas demonstrando que nenhuma informação é
neutra, ou seja, não foi divulgada apenas para ser apreciada, mas para tentar
envolver o leitor e para isso faz-se importante que o aluno possa contribuir com a
sociedade formando sua opinião e desenvolvendo sua criticidade.
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