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Pto. D. n p
AVENÇA
«Vinde, metamos serrim no Seu pão e liquidemo-lO da terra dos vivos; e o Seu Nome não mais serâ lembrado.» (Jeremi·as, 11-19).
É velho d·e milénios este pensamento. Estas as palavras por que o exprimiam os inimigos do Profeta.
Esta a ilusão dos contemporâneos de Jesus de Nazaré que perpetraram a Sua morte. Ilusão continuada através das gerações de quem Cristo é contemporâneo.
Como se fôra possível aos homens liquidar o Vivo da terra dos vivos! Contudo, a tentação persiste. A História ainda a não desfez. Por isso, tantos sinais de morte perseguem os homens, ainda hoje, neste mundo de ciência e técnica avançadas - as novas divindades promissoras da felicidade que .não dão, da paz que não têm para dar.
Nem a Terra lograrã ser terra de vivos sem o Autor de tudo que nela tem sopro de vida - ((EU sou a Vida>>; nem jamais se apagarâ a Sua memória de onde lateje resquício de vida. Podem os homens não ter conhecimento do Seu Nome, mas Ele é. E isto não depende da vontade do Homem; e está no íntimo do seu cora· ção; é uma realidade ao nível do ser; quem a negar, nega-se -abre um processo de auto-destruição.
Não é esta a face dolorosa do nosso mundo, donde se pretende expulsar Deus e o Seu Cristo?!· Não assistimos todos, inquietos, ao alcançar de metas maravilhosas que são um perigo nas mãos dos homens?
A tentativa de substituir Deus pelo Homem é tão antiga como a Humanidade. O orgulho irrompe constantemente como as ervas daninhas, sempre combatidas e sempre rebentando. e uma mani· festação da consciência instintiva de que o nosso Deus é vivo
CONTINUA NA TERCEIRA PAGINA
De muitos lados nos chegam apelos carregados de aflição. Vamos ·respondendo, dentro dos limites de nossas forças. Na mis.são que nos impusemos de recoveiros dos Pobres, recolhemos, de coração agradecido, pedaços de pão que matam a fome a muitos filhos, a muitas mães que . ficaram sem os maridos; recoll"tem~s a,s moedas e as notas que jazem a cobertura de muitos tectos.
Tenho passado, vezes sem con· ta, pelo barraca da Antónia. Não ..sei como podem viver ali a mãe e os seis filhos. A mais velha tem 14 anos e o mais pequenino tem três.
Veio, há dias, aflita, pedir uma cobertura nova para sua cubata porque a chuva entra pelos buracos das paredes e pelas chapas de zinco já carcomidas. Qoondo chove ou qr.wndo venta é uma noite sem dormir. Ganlw o pão a lavar roupa, arranjando uns tostões para engaTULr a fome.
A mais velhinha juntou·se com .um homem que lhe vai deixando filhos nos brwos. To.dos os caminhos da famüia '1la Antónia são caminhos de miséria, enquan·
to não surgir uma réstea de luz que a liberte.
Quero ser lUJZ no seu caminhar. Ser cristão é ser luz para os irmãos que vivem na escuridão. A miséria, seja ela de que natureza for, é um. manto de trevas.
Sei onde está a solução. Sozinho não sou capaz. A Antónia precisa de pão e precisa de casa. Quero ser a vo:: da Antónia a bater à tua porta. Quero ser o eco do choro dos seus fi~hos junto dos teus filhos a quem procuras dar tudo o que prec"L· sam e, (quem sabe?) o que não precisam. Isso ooo lhes pertence. Os filhos da Antónia têm direito.
E.nqUXJ,nto espero pela tua resposta, vou passando por lá a dizer-lhe que não desespere, como o Profeta no meio do povo que vive na exílio. Por amor destes Pobres batemos à porta dos que têm e podem com todas as forças da violência destas necessidades extremas.
A Rita, aqueloutra viúva, já levou uma requisição para uma camioneta de tijolo porque não tem casa. Mas precisa de mais. E já lá vão quase três meses com as nossas contas em atraso.
A Nota do Dia que leio no «Diário do Alentejo» de
14 de de Março aguilhoou-m.e para um pensamento que há muiito anda carn.igo.
«( ... ) É confranged~r verificar como se trabalha em algumas empresas privadas e em departamentos oficiais, sem a menor noção de responsabilidade, rara· mente acusando o recebimento de qUXJ,lquer pretensão, deixando sem resposta um pedido de infor· mação necessária, ainda qzte feito com nota de urgência, não se respondendo à correspondência ou só o fazendo tarde e a nuis horas, retorquindo por ve· zes o que não se perguntou ou sem tomar em conta elementos básicos, alterando ou protelando desse modo o ·processo do assun· to em estudo.
Facilmente se compreende que este estado de coisas não pode continuar. Está em causa todo o funcionamento regular da vida corrente. As repercussões duma tal ineficiência são desastrosas em todos os sentidos. Os serviços, quer particulares, q~r públicos, longe de seguirem aque· Jes trâmites que seria natural esperar, atrasam-se, desorgani· zam-se e prejudicam muitas rea· lizações e a vida de muitas pessoas.
Atribui-se a maioria dessas mazelas e cremos que com alguma razão, ao facto de alguns
Ela precisa de tudo. Quem não tem nada tem direito a tudo, até àquilo que dizemos egmst"Lcamente ser nosso e só nosso. Não queremos mendigos. É nosso dever ir ao seu encontro. É o caminho mais seguro para a construção da paz nesta terra. É o caminho da justiça social. É o caminho de uma mais justa distri· buição dos bens.
E tenho mais para vos dizer. Três operários que ganham o pão de ca.da dia mas não podem amealhar para construir o seu lar, acabaram de sair de junto de mim. Querem tijolo, chapa, parlas e janelas . Eles dão o trabalho em equipa Mas não poderão dar mais nada.
Somos nós, também, formando equipa com e:es, que resolveremos estes problemas.
Escrevo estas notas nas vês peras da Páscoa. É Festa da Libertação. É Festa da grande Recon· ciliação. V amos caminhar, de mãos dadas, para o nosso encontro libertador e reconciliador com estes irmãos na escuridão da morte da miséria.
Padre Manuel António
12 de AhriJ de 1975 * Ano XXXH - N.0 811 - Preç-.o 2$00
Fundador: Padre Américo
o ta
trabalhadores andarem tão entre· gues a preocupações partidárias e reivindicativas, tão distraídos com a propaganda e realizarão de sucessivas reuniões e plená· rios, que as suas obrigações pro· fissionais, o seu trabalho quotidiano ficam para trás ou só lhes é dispensada escassa atenção.
Que o pessoal trabalhador precise de se reunir, de dialogar com o fim de obter certas van· tagens para a sua classe ou de tomar qualquer atitude política, ninguém o pode contestar, mas que tudo isso seja levado a cabo sem prejuízo do cabal desempe· nho dos seus deveres profissionais . Que o cumprimento exacto dos seus deveres, o brio que a todos incumbe dentro da sua função, tenham prioridade, país
* Director: Padre Luiz
de resto constituem contribuição valiosa e exempbar para a sociedade meUwr que todos desejamos.»
<Dito de empresas, de departamentos ofidraiJs ... , com maioria de razão o digo dra Escola. T·al como está, nem comunica ciên!oia, nem brio, nem virtudes de trabalho e de honestidade.
A cada passo me inteiTOgo sobre a competência, no .presente e no futuro. Será uma qualidade uLtr.apaiS'sada, burgliesa?
Nos sectores d:a produção e 'dos ci:rrcuiros económlilCOS assist~-se à ocupação dos lugares de comando por Comissões
Continua na QUARTA página
A sombra da cruz no lajedo das nossas escolas de Paço de Sousa. «Crux stat dum mundus v.olvitur» ...
··z;o GAIATO
Foi no Sá'bado Santo. Ao princípio da tal.'de juntámo-mos
em grupo e preparámos o folar dos P()hres: amêndoas, pão-de-ló, açúcar, regueifa... Coisas tão boas, tão saborosas, embrullmdas com tanta alegria!
Acabada a primeira parte da faina, separámo-nos. c~da um pra seu la.d.o, com os rosp;eotivos emhnclhos. Dis· oretamento.
Esta poregrinação é um antecipado aleluia. A me~hor visita pascal! Cristo sob~ os pecados dos homens, os nossos pecaclos .. .
Como Ele fica triste on:de os Pobres são esqueddos! Muito mais tr:is· te q'U8lildo os cristãos se juntam triunfalm~te e O esquecem na pessoa dos Pobres!
Foi no Sá!h&~do Santo ... A gonte já sabia dum caso de
miséria e fom<>s por ele. Um casal com 7 fil'hos. O pai, vÍitima do alco· olismo. A mãe é «abelha mestra» que suporta a cruz. Eles defiruhara~ por subalimen taçã<>.
Vá lá, o senhollio não ex1gm a rem:da da prop:iedade I Espera. É que o Doente passou de novo pela clíruca a ver se, desta, perderá completamente o vicio.
- Dle está no campo, a podar. Querem que o chame?
- Não senhor. As crianças descrm1 as escaJdas.
Olhos penetrantes, a.p;alermados. Faces macilontas. Pemas delgadas. Esguias. O ateeta:do da suhalimerutação. -É um folar! As cri8lll-ças agitam-se. Uma, salta a
escada. Eu vi. A mãe recolhe o embrulho, agra
dece e entrega à filha mais velha: - T oona. Leva pra cima. Põe na
cozinha. As ourtras vítimas fidaram especa
das. Ao colo uns dos outros, consoante a ida.de.
- Ek agora vai ter mais juízo? - Vou mandá-lo chamar. Ó ...
- Não l Não faça isso. rião é pre-ciso. A gente Já sabe ...
- Sim. Tem tomado as pastilhas. Não bebe rinho. E quando vai pra casa do senhorio, a senhora dá-lhe laraniada.
O nos50 tesoureiro ia prepa.raldo para resolver, não para empalear. A nossa missão, na medida das possibilidades que nos oferecem, é resolver o qu~ for possível. Resolver!
- Como vai de mercearia? - Devemos lá mais de dois contos.
Já tínhamos combinado dar ao merceeiro alguma coisa por .conta. Mas ...
- Vamos j_á liquidar tudo, tudo,
tudo. Os olhos da mulher arregalaram-se.
Aflorou uma lágrima traiçoei: a, sustida a custo. Os filhos mais velhos fixaram a mãe, olharam para nós e uns prós outros. Fez-se sil êncio.
- ó Lopes, ainda há por aí mais dinheiro?
TRANSPORTADO NOS AVIõES DA T. A. P. PARA ANGOLA E
MOÇAMBIQUE
-Ainda. - Tome lá isto. É o comple.monto
do folar ... Estes casos abun'<iam. Escondidos.
Nãro é gente que ande de mão estendida, na rua. São os que mais sofrem!
R'EOElBEMOS - A frente, segue a assinante 18981 com 50$00. «É pouco, eu IIOCOnheço, mas ... » Diriam.os nós: são muitos aqueles qiUe podem po11co e vêm corunOSC(}-. Obrigado. Quatro vezes mais da Rua Soares d<>s Reis, Ga:ia. Mais IOOSOO do assin8llllto 13305. Mais 500$00 de um Rodrigo lisboeta «para serem distribuídos pedos Pobres, mas só aq.ueles que são efectivamente visitados pelos ir· mãos da Conferência»". Que bem ! Mais 50$00 de Auta, Espinh<>. O dohro da assinante 27572. Idem, de Regadas (Fânzeres). Mais at'ooção:
«Caríssimos vicentinos Mais uma Páscoa se aproxima e
mais um pouquito para oos ajudar a ver Cristo sorrir na face do Pobre.
Peço as vossas orações por um irmão que se encontra muito doente.
Páscoa Feliz em Cristo. Sempre amigos
Eu e Ela»
F.OO-nos entregue em mãos, com um
sorriso nos lábios!
Mais um dooativo do assinante 32036, de Lisboa. Outro, airula de Lisboa, envindo por Sílvia - 100$00.
Mais outro da Rosa de S. Mamede de Infesta, o dobroi Fina.lmen~, uma nota de um amigo de D. António Barroso.
Mu1to O'brigado.
Júlw Mendes
ESP·ECl'ACÚLOS - Temos tido imensa alegria e alento nas nossas almas; disposição inteiramonte satisfatória que se lll&Il.'tém em nós, dia UJ>ÓS dia, através dos espectáculos bem feitos e graciosos, efectuados
Hoje a foto é do caswmento de uma neta, a Maria de Fátima Moreira, filha do Moreira (ex-«Periquito»), que
foi de Paço de Sousa.
desde o passado ano com um outro a ser já comhina'do e preparado.
Os artistas sã<> sempre os m.esmm;, de uma von ta:de intel'IIlinável; e para estes idealizamm, po~izarem e con· cretizarem uma festinha para m~lho
res momentos a Comunidade saborear, são primeiramente precisos muitíssimos recreios e Domingos completamente pre'Ollchi'd<>s e noites seguidas e prolongadas.
O salão de festas é agora mais acolhedo-r. O dhão encontra-se novo e simples. As paredes estão caia<las e bonitas. Nas janelas há cortinados de c<>r 87JUl.
O palco também l6Vou uma mrne-xidela. As luzes funcionam perfeitamt'>nte, o pano da mesma cor, de abrir e fechar, está oonjugaldo com a vivacidade e cor das cortinas. As suas pregas fazem perfeittoo vincos, e a manivela que o faz deslocar funciona com mais Mpidez e leveza.
Nestas condições, o Miguel tem
perdido uma grande parte da sua timidez, actuando corajosa e desem· baraçadamente.
O Marcelino no fwndo do palco toca incansavelmente. Bate com al~ma força os paus na bateria, en
toando wna música perfeitamente dellltro dos nossos dias.
O «Cadete» é dos mais atractivos. Por isso, a grande revelação. Tem muita habilidade em tudo. Critica e imita facilmente e !fero escrúpulos todas as pessoas em si.
Quanto aos m!tros actores, não deixam de ser cada vez mais aceites e estimados.
R!EMODELAÇÃO A grande ideia, força de V{)ntade e mãos ao trabalho v'eio de uana senhora que presentem·oote serve a Ohra da Rua com muita attenção e agrado. Criou l.lllll novo e aoertatdo sisterma em ma-r· car toda a roupa para que ca<da rapaz possa ter somente um vestuário a seu gosto e de a.gradável apresentação.
Assim, a tão vasta e dífici.I tarefa está a ser pacientemoote elaborada pelos momtbros femininos qut: sennpre constituíram a necessária exi~cia
e o:·ganização da rouparia. O sentid<> próprio d~ta no~a orga
nização é também muito especia1mente para que oada rapaz estlime e seja cada vez mais esbeLto na sua manei· ra de vestir. Para que haja muito mais cuidado n<> asseio das roupas, ' prevenindo consertos infindáveis e bastante difíceis que originam dúvidas e dores de cabeça.
Assim os alfaiates pararam de trabalhar pra olientes de f<>.ra, e já lá vão longos meses no comproffilisso e empenho om costurarem muitos pares de calças a servir a cada rapaz.
Nas mãos da sr.a D. Hortência já estão concluídos 6 mil e tai números com muitos ou·tros ainda por fazer.
A Mãe Irene está a pregar a mesma quanti'CI.ade de algarismos em diversas roupas.
A cargo do «CoradinhO)) está a preoCWP.ação de construir com espaço
12 AbriV75
suficiente armários e pratelekas que com todo o método e.rrumarã'O de· pois.
Na parte da sr. • D. Maria Trindade e D. Bemal'ldotte está todo o cuidado de porem todos os nomes nos respectivos lugares. Ensinar a vestir; e haver, sompre que se precise~ troca de umas roupas que Qra estão curtas oo largas, 8{POr:ta<ias ou com
pridas, por uma outra mais n{).va e resisten~.
Muito scrificio se vê na ponderação e finneza de cada espírito mais responsável po.r tão marav.ü:hosa idoia e trabalho.
ENCONTRO- Realizou-se t:~m Mira um encontro en'tre alguns rapazes mais velhos e responsáveis de todas as nossas Casas do Coll'tinente e o M01Jimento por um Mundo Melhor.
T-udo decorreu oom grande entusiasmo e interesse na busca do nós próprios, dos marginalizados que di& a dia precisam do nosso apoio, dos com fome e sem lar, doa que necessitam ardentemente de afecto, dos que vivem ao n'OSSO lado no osquecimen•to e requerem especial atenção; e, perwn te o problema de semp-re do nosso acanhamento para com os nossos Padres, haver mais WliÃo e inteira confiança para ren()yannos estrururas, a fim de que todo ó n0S90 meio favoreça o «!Ía.Z10r de cada rapaz um
homem», que é a nossa missão. Hoje estamos completamen~ com·
prometildos.
fVOs Assinantes de «O GAIATO» • PRESENÇAS
SIGNIFICATIVAS
Aí vão algumas presenças stgnificativas e das mais expressivas da procissão.
S. Mamede de Infesta:
<cMais três assinantes! Era meu desejo que o nosso querido «0 Gaiato)) entrasse em todos os lares. Mas para que o lessem e meditassem. Eu tenho sempre muito que fazer, mas não deixo nada por ler. Chego ao fim e revejo se li tudo ... »
A sr: Rosa é uma Proletári'a, coerente com a sua fé. Sabemos qu:e ela incendeia mu~ta gente - .como os prirrneilfos cristãos.
Silêncio. Mais um eloquente testemunho dos Pobres:
«Desde longos anos a Casa do Gaiato me apaixonou. Passei 14 anos a servir em Lisboa e os Gaiatos, se me não viam na Missa, iam a minha casa levar-me «0 Gaiato». Gostava da presença deles. Nunca o assinei.
Casei hã sete anos, quase oito. Vim para a aldeia. Temos vivido com imensas dificuldades. O Senhor deu-me 3 filhi-
nhos que para estarem no mundo muito sofri e gastei tudo o que tinha e não tinha.
Meu marido ainda quando namorávamos, conheceu a Obra através de uma festa que houve aqui nas Caldas da Rainha e tantas vezes ao conversarmos me dizia: «Quando vender esta ou aquela colheita vamos assinar «0 Gaiato». E sempre foi passando.
Quando jã não podíamos mais com os encargos que tínhamos, resolvemos vir para as Caldas e meu marido empregou-se. Já pagámos metade do que devíamos e ontem ao ler ({Ü GaiatO>) desta quinzena, por ser de aniversário, lembrei-me: custe o que custar, tenho de ser assinante.
Hoje fui receber o ordenado de meu marido, 3.492$2(). Eu não posso trabalhar devido aos partos. Pouco me posso esforçar e tenho os pequenos tão pequenos para os deixar na rua ao Deus dará.
Mando hoje esta migalha. Se guardo para o fim do mês nunca chega. «0 Gaiato» tem-me dado muito. Tem fortificado a minha fé. E, tal como vós, a esperança nunca nos faltou. Apesar de tudo somos felizes. Tanto, que alguns amigos nos dizem: - «Não sei como podes
estar sempre alegre!» :t que o Senhor manifesta-se continuà~ mente aos que o amam e eu creio - apesar de as pessoas andarem baralhadas com as mudanças na nossa Pátria. ••
Perdoem o meu desabafo. Espero em breve ver «0 Gaia~ tm> na caixa do correio.»
A eloquêl1!cia da Verdade!
I'.l.rais Leitores--avu1lso qrue O;Jtam pela assinatura Amadorta:
«Envio 100$00 para uma assinatura de <íO Gaiato», pois sempre o li durante anos e, aqui onde moro, é uma raridade encontrar algum.»
Braga:
HVenho pedir que me inscrevam eom-a assinante de «0 Gaiato». Embora eu o compre sempre que o veja~ acontece muitas vezes não o encontrar ... »
Gaia:
c<Venho por este meio dizer-vos quanto gosto de ler o vosso jornal e quão valiosos são todos os vossos livros.
Continua na TERCEIRA página
12 Abril/75
Pri!ndpiou no dia 19. Havia sido apresentado como sendo um .curso oferecido pelo ·Movi· mento por um Mundo Melhor aos mpazes mais vethos das Casa s do Gaiart:o que tivessem, pelo menos, o Ci'Ol'o Preparatório. Reuntimo-nos, assi,m, na Praia de Mira quarenta e quatro rapazes. Não con!hecfamos e questionávamo-nos sobre .os mo~des e teor do curso que iriamos fazer durallllte três dias. Houve as Bpil'esentações em que ficárrnos a conhecer-nos e a conhecer os dois orientadores, Padre José Paula e IJI'mã Joana, que log<> de inkio nos conquistaram peta sua origina'lidlade. Sem temas pré--concebidos, apenas com a proposta de pensarmos e no dia seguinte apontar os factos mais importantes dos ~imos anos no mundo, prilncipiou aquele «Enoontro de Jovens» assim denominado pelos orientadores e que viemos a concluir ter Sido um CUI'\90
de formação huJmana.
EDITORIAL Continuação da PRIMEIRA pág.
e está inserWo na História dos homens. Está! Essa é já a grande revelaçio guardada por Israel. A incarnação do Verbo é um passo. - o passo decisivo - para a evidência desta inserção. O Filho de Deus torna-se o Filho do Homem. Vem participar da sorte dos homens neste mundo. Vem para ficar. F-ica! E tanto está, que ao longo de dois mil anos de contradição da Sua presença, nlngu~m conseguiu varrê-lO da memória dos homens - nem conseguirá. O ciúme sempre renascido, sempre a renascer, julga que sim... Teimosa ilusão, com que os homens se procuram enga· nar! Pertinácia de que ainda não quiseram corrigir-se! Fatalidade que a todos atinge!
A História não é uma cons· trução ad boc. Tem um Arqui· tecto. Mal dos obreiros que ignoram os planos da construção. Pior se decidem ignorá-los. Cristo é o Mestre. Tendo definido «naquele tempo» as li· nbas mestras, está presente ao crescer da obra em todos os tempos, para responder às dúvidas e Indecisões dos obreiros em cada tempo. Escutá-lO - é sabedoria. Rasgar, com os recursos de hoje, os caminhos perspectivados então - é progresso. Porque O silenciam, pois?! Porque prescindem dEle?! Porque não tomam as Suas linhas mestras como princípios da acção a concretizar?!
Grande critério, neste tempo de opção - se é que de todos depende a opção e não apenas de alguns... - é este: Cristo . ... cabe no programa a realizar?, ou é intruso a liquidar, a varrer da memória de quem per· sista em lembrá-lO?
Se o Filho do Homem, o Deus .... connosco que Ele é, tem lugar (o seu insubstituível lugar) na construção da História - pelo menos, vamos bem acompanhados!
Se não! .••
Padre Carlos
Encontro No cia 2o o sol ~cordou con
nosco. Aquela manhã radiosa de luz trouxe-nos muita alegria. O mov-imento fai gra.Jilde. Formámos ~os. ap-resentámos os casos apontados por cada um, classificámo-los nos sectores social, cientifkx> e religioso e escolhemos um de cada sector que mais fa~d1mente fosse dominado pelo grupo. Foi este o pritmeiro trabalho. Tão simples! Mal sabíamos quanto ia dar que fa.'l.ar. Voltaram a reunir-se os grupos. Agora o trabaiho já apresenta'Va maior complexidade: Analisar cada facto tanto no aspecto positivo quanto no negativo, descobrir e discutir esperanças, valores, contrn-valores e contestações mooif:estOOas em cada um. Quanto oosoobrtimos! A revolução constante, a traJnsformação profund.a, a renovação em busca de um mundo novo e me'llh.or evi.ld·enciavam--se em cada ponto focado e em carla um de nós. Como soubemos analisar! Factos sociais (25 de Abri[_ Dia Mundli.al da Criança, Luta da Classe Operária e dos Povos Oprimidos, cri-se do petróleo ... ), faotos científicos (ida à Lua, transplantações de coração .. . ) e f·actos religiosos (guerra entre Católicos e Protestantes, Dia Mundial da Paz, Concf'lio de Jovens em Thizé, Problema da Rádio Renascença . . . ) mostraram-alas o quanto influem na persona!l'ização, na socialização, na ham!inização e mesmo na traal'Seendente «busca do Absoluto». QuanJtos vallores a serem ~provei·tíados e aumentaldos mas também tantos contra-valores a serem dimiamidos e desJtruídos. Grande era a vontad-e de seT mais, de amar e ser amado mais, de ter e buscar mais, de v-eilloer o egoísmo, o orgllllho, a ambição ... em suma, de tornar o Mund!o Me}hor.
Há muitos anos já que os Pobres participam na celebração de Quinta-Feira Santa em nossa Casa do ·Gaiato de Paço de Sousa.
Compareceram nove, que ainda se podem mexe:r. Alguns com dificuldade.
É semP'f'e uma hora alta quando nos juntamos fraternalmente, à mesa da Capela ou do Refeitório.
Estava um que fora especializado em armações de betão, mas o vício do álcool incapacitou-o. Sofre ele e os seus.
Estava um mineiro, vítima da silicose e de omissões nos domínios da segurança do trabalho e do Seguro Social.
Estavam outros que mourejaram, de sol a sol, durante a vida inteira, a terra . que nos dâ o pão e não fora a partilha de homens de boa vontade, teriam vida sub-humana. ..
Estavam três débeis mentais. Um já nada faz. Outro, faz o
por HUI
O dia 21, também de sol, foi maris de meditação e dado à parte da formação espiritual. Havia a pensar sobre a mensagem que Cristo trouxe aos homens. Pudemos entender melhor como a fratem,idade é algo de muito precioso. Que frases cheias s·e i·am escr-evendo nos quadros: «A Sociedade realiza-se vivendo em paz e fraternidade» e «em justiça imparcial», vivendo todos como «Innãos sem distinção de raças, cor, cultura, credos e desenvolvimento» e em «Compreensão, am:or matuo e unidade singular>> e mais porque «Deus ama sem distinções» e <~ou a Natureza para o serviço do Homem» e assim há o <q>ão a partilhar por todos». Víamos os aspectos de promoção humana, a dignidade de homem e mulher, o
direito ao respeito, à liberdade e à Justiça. E mais! ...
Em cada dia, à noite, fazíamos um convívio em que manifestávamos toda a nossa a!legria. Ouví·amos o Zé Manei, ex-<<Santana», a contar aned'Otas onde o personagem prilnaipall era quase sempre «o saCl:'i•stão duma certa igreja ... », :Ca.!IlJtavam os de Setúbal sempre mais a par das canções em voga, todos íamos participando. O <d>retit<»> de Coimbra acompanhava à Viola e o Victor nunca largava o caderno das músicas. Na noite de 21 tivemos unn grlliPO de crentes na fé Bahá'i qoo animaram ainda In!a.lis o serão e nos deram oportunidade de OU!Vir o antiquíssimo instrumooto musi-cai dado pelo nome de sal~i'O que um deles tocava com grande
O GAIAT0/3
mestri1a. Eram já 3 horas do di-a 22 e ainda a~guns discutiam as d!i:ferenças de religião e eX!punham e criti'oavam ideais.
O di.a 22 foi o menos trabalhoso mas talvez o de maiores di'SC'Ussões e arW.1oas. Começámos por estudar o ciclo evolutivo do homem em relação ao a:mor e fomos depois para o caso prátlc:o d'as nossas Casas. Nós pera.Jilte todos os outros, mais pequenos e maiores. Disse-se muita coi'Sa mais. O almoço cortou e d>eu por findo este nosso curso que vivemos intensamente durante os três dias.
A desped~da foi demorada mas por fim abalámos. Trazemos este eniOO.tlftTo na alima. Depende de nós que haja, agora, coerên'Cia entre o que se pensa e o que se faz.
Ltta
Novos Assinantes . de <<·0 Gaiato>> Continuação da SEGUNDA pág.
Lã em casa é costume comprar-se o jornal avulso, mas como por vezes Isso não é possível acho preferivel assegurar a sua vinda fazendo uma assinatura. Como meu irmão mais velho faz agora anos achei fortnidável dar-lhe este presente, até porque ele gosta imenso de todos os livros respeitantes a Pai Américo e à sua Obra. nomeadamente o jornal «0 Gaiato».
É U!ma voz dos Jovens.
Vale de Mouro:
«Gostaria de receber «0 Galato». Como sou uma das responsáveis da Conferência de S. Vicente de Paulo, gostava de ler nas reuniões o vosso jornal. Como a nossa Conferência é
que pode. Ainda outro, quando pode ..•
Em tempos, verificámos que o trabalho deste era explorado despudoradamente. Abordámos o hom-em. Pusemos os pontos nos ii, de maneira que nos entendesse.
- Você tem razão, mas dão·me o caldo ...
Há injustiças que, apesar de não subirem aos sindicatos nem aos parlamentos, bradam aos céus. Muito mais quando os exploradores se dizem cristãos, vestem opas, cumprem os preceitos básicos ...
Neste dia que, por natureza, é a festa do Amor, consubstanciado na Eucaristia, reflectimos, uma vez mais, que o anúncio da Palavra não pode ser acomodaticio, mas objectivo, penetrante, incómodo .•. Cristo e os primeiros Apóstolos abalaram estruturas milenárias se~ armas na mão!
Jó.lio Mendes
nova, pois só tem um ano de actividade, ainda estamos a aprender. Gostaria de enviar mais dinheiro, mas aqui também temos bastantes carências de tudo e poucas pessoas se apercebem dos nossos Innãos que sofrem.»
O'fua!lvo:
<<Já recebi em tempos «< Gaiato», que tanto bem me fez e por todos os motivos muito apreciava. Lia-o como ao Evangel!bo, sempre com a maior devoção. Presentemente, por mão amiga, vou lendo muitos, os quais continuam a dar-me a mesma alegria de coração. Acabei de ler mais um, o de Janeiro. E dou graças a Deus porque me veio a ideia de inscrever, como assinantes, os meus netos - que tanto gostam de ler e numa altura em que as suas almas tanto precisam de ajuda. .. »
e DE NORTE A SUL
Recebemos mais assinantes de Santo Amaro de Oeiras, Ermesindle, Mgés, Cabeçais, Leiria, Arganil, .Amaldora, Areosa, Costa do V alado, Castelo Branco, Coimbra, Almada, Cascads, Setúbal, Fân.zeres, Espinho, ÉVora, Gondomar, Agualva (Cacém), Aguada de Baixo,. Vliln!hais, Vhla do Paço, Belas, Morrtamor-o-Novo, Caldas da Rainha, Palmela, Vila Nogueira de Azeitão. Porto e Lisboa a proci5são do costume.
• COMUNIDADE LUSíADA E ESTRANGEIRO
Novos Leiltores de MafJa.nje, Luanda, Lourenço Marques e Fun·chtd; Pa>ri'S e África do Sul: Joanesburgo e Bokslburg.
Júlio Mendes
CALV Á.R/0 - O nosso labor é amar o Rapaz abandonado e o Doente incurável que rws vão chanuJ,ndo; e a confiança para tal assenta em Deus.
A Editorial In-ova, do P011o, acaba de lançar um volume de- 1
dicado a Pai Américo, o 25. o da sua colecção OFíCIO DE VIVER, a qual inclua obras de Bertrand Russel, Christian Bernadac, Che Guevara, Urbano Tavares Rodri· gues e outros.
É uma antologia de 608 pá· g1nas e algumas velhas ilustra· ções que o tempo não corroi -e-""pressão viva da Obra da Rua, cuja razão de ser é a Criança · abandonada, os Pobres.
O volume está dividido em omco partes:
l. Uma visão de um Homem; 2. Horizonte ideológico; 3. A cúpula do seu poosamen
to: a Pedagogia; 4. Outras contribuições para
o seu retrato; 5. Mais de perto.
À laia de introito, a obra in· ser-e um artigo de António Ra· mos de Almeida, publicado no Jornal de Notícias em 19/7/56, do qual extraímos significativas afirmações do a:iticulista que aprecia algumas das múltiplas facetas de Pai Américo:
<<.( ... )O Padre Américo apenas diagnosticou e pretendeu curar o cancro das sociedades modernas, o qzte todos nós sabemos que existe, mais ainda., o que todos desejaríamos também extirpar: «a miséria».
A diferença essencial entre nós e ele é, no entanto, flagrante e concludente. Para nós tanto re· presenta um problema que para cada qual terá uma solução con· forme as suas ideias políticas, as suas convicções religiosas, os seus hábitos sociais, até o seu tem· peramento pessoal. Padre Amé· rico não. Combater a miséria não foi um problema, mas a única razão da sua vida, a sua missão e até a sua profissão, se quiserem. Daí seguir sempre
Cont. da PRIMEIRA página
auto-nomeadas ou pseudo-eleitas. Mas sabem? ... ! Seremos um Povo de ad:mini1stradores natos, uma raça escolhida de gestores?!
Não é o que a experiência ensina. De rapaz me lembro de ouvir testemunhos sobre a qualidade do nosso trabalhador ean terras estranhas, da consideração em que é tido. Porquê na nossa, um rendimento tão aquém? ... Certamente pOT~ que a organização não é o nosso forte, cabeças dirigentes não faz-em a nossa fartum!
Pois a julgar .pelo que se vê, parece que encontrar competentes não é problema. A menos que a competência surja por mobilização e assente pra~ ça ... !
D. Burocracia é. Continua sendo tal qual.
Dois casos de pessoas: Um pequen-ito nosso de cinco
anos nooceu. em Espanha, por acidente. Não foi registado. Há um ano que andamos aos papéis. Para já, continuamos •.•
Páginas escolhidas e documentário fotográfico»
déstia sem vanglória, o seu único ·orgulho de se mostrar irmão do Povo, o seu desprezo pdo~ po· derosos, o seu horror pelas honrarias, pelas condecorações, pelos títulos, pelas riquezas.
A figura e a Ubra do Padre Américo são ainda na sua essên· cia e nas suas circunstâncias um exemplo de confiança nos ho· mens, mesmo nos mais humildes e desgraçados ... »
pelo caminho mais curto, sem equacionar incógnitas, sem sequer fazer contas, como ele próprio dizia. Combater a miséria, era para ele uma mística, uma obsessão, um drama de consciên· cia em acção. la de encontro à miséria para a conhecer, para a experimentar fisicamente, como um cientista no seu laboratório perante os fenómenos que nele se constatam ou provocam, ape'nas com a diferença essencial de ser um apóstolo, isto é, sem ver a realidade em termos dialécticos, sem procurar soluções exac· tas, com mais precisão: cientí· ficas.
Por ser assim muitos julgam a sua acção inútU ou supérflua, somente porque continuaram a existir rapazes abandonados e famílias pobres sem lar e sem pão ... Padre Américo também o sabia, mas não julgava nem inútil nem supérflua a sutz acção, antes pelo contrário, por tanto sabe; a julgava cada vez mais essencial, mais imperativa, mais imediata, até porque nunca pôs a si próprio acabar com a miséria, preconizando meios científicos, económicos ou políticos. A missão a que -se propÔ$ foi combater a miséria onde quer que ela se encontrasse e fosse qual fosse o «travesti» que ves· tisse. Eis o que constitui todo o seu apostolado ...
A sua Obra vista pelo sociólogo mais esclarecido, mais progressivo, mais consequente vale como uma, denúncia, como libelo, o que de resto encontramos nos seus escritos... Mas o Povo, o mais humilde e necessitado, rzão
Outro na§ceu em Moçambique. Perdido e achado por lá, foi trazido pela tropa. Endossaram-no .. É nosso há sete anos. Em registo feito à partida, de qualquer maneira, atribuiram~lhe uma data de nascimento. Hoje, ele tem, oficialmente, 16 anos. De certeza, terá, pelo me· nos, vinte. Qualquer pessoa vê que 16 é que não tem.
Corrigir um erro é mais di~
fícil que errar. O que não temos feito! O qu.e se gastou já! Falta na lei o artigo X para resolver este problema real que incarna dolorosamente no nosso Zé Manuel. Em consultas e consultas aos oficiais do ofício de registar pessoas temo-nos consumido. Aonde ir?! ...
D. Burocracia continua tal qual. Mudar capote é fácil. E as mentalidades?! •.•
8 A.lsstistimos ontem a um ·prograrrna na TV. Pobrezi
nho como geralmente ... A 1isonja muldou de destinatãrio, mas ela não mudou. O monocordi•smo permanece pec'ha. Não se pode com mais de uma ideia ao mes~ mo tempo. Do «orgu1lhosamente
é o sociólogo, é a vítima. O que ele sentiu bem próximo de si foi a presença do apósto:O, o que ele chorou foi a perda do único homem que dele se apro· ximou para o salvar sem nada lhe exigir em troca.
Não houve em verdade ninguém que ousasse restringir a figura do Padre Américo; todos à volta da sua memória se uni· ram, sem se estabelecer diferen· ças de convicções ou de cren· ças. Do sacerdote que ele foi, podem dizer, os que não são católicos, o mesmo que Bernar· di no Machado escreveu certo dia acerca do Bispo-conde de Coimbra, D. Manuel Correia de Bas· tos Pina ....
Nos nossos dias alguns desses sacerdotes transcenderam as fronteiras dos seus próprios países e impuseram os seus nomes ao mundo como exemplo não só da sua fé e da sua religião, mas de um ideal comum de hul71J(J,na fra· ternidade, pela qual a H umani· dade inteira clama e necessita: Padre Pierre, em França; Padre Gnochi, em Itália; Padre Amé· rico, em Portugal...
Outra lição ainda emerge ela· rividente da morte brutal e ines· perada do Padre Américo. É aquela que diz que para as grandes obras não são necessárias pro· pagandas para as impor. O Povo acredita mais e melhor na verdade mais obscura do que na mentira mais reclamada. Hitler, quando dizia que uma mentira dita cem vezes valia mais do que uma verdade, enganou-se redon· damente e acabou por ser vítima do cinismo ou hipocrisia da sua
sós» conservamos a <<'singularidade da nossa evolução». Nascemos para ser únicos. Singularidade é o nosso destino.
Não sei se é vantagem ... !
(i· O lugar-comum, mais do que nunca, é rei.
Por tudo e por nada se incensa o Povo que, decerto, se não inebria com o perfume. O Povo autêntico é um volante de en.ergia. N~m embala em vazio fad.Jmente, nem pâra num instante quando se pôs em movimento. O princípio da inércia diz-lh-e :respeito - o que n~da tem a ver com a inércia= imobilismo, estorvo.
Ora p'orque ele está sujeito ao princfryio mas não é inerte, me choca o nome de «massas pnpulares» que ao Povo C()ns· tantemente dão. Massa é amálgama informe, quer seja d.e farinha para fazer pão, quer seja de cal e cimento para enc·lter paredes. Serâ que a condição do Povo é ser comido?, é ser o sustentáculo da construção de que deveria ser o utente? Que convém mantê-lo despersonalizado?
O Povo é um conjunto de pessoas unidas por determinados vínculos. Onde a pessoa é o elemento, a reunião jamais poderá ser massa. Ou entre o total e as parcelas deixou de vigorar o princípio da homogeneidade?!
Padre Carlos
máxima... A Obra do Padre Américo não precisou de propa· ganda, nem de teólogos que a explicassem, nem de demagogos que a reclamas:lem. impôs-se por ela, como facto consumado, sem sofismas habilidosos, nem palavras de ordem ou «slogans». O Povo do Porto sentiu-a na pró· pria carne, porque era real e verdadeira, e mesmo que viessem contraditá-la ou desmenti-la o Povo não acreditaria.
Por outro lado, o Padre Américo nunca foi um ídolo, mas sempre um H ornem, e foi assim, que o Povo o amou e chorou. De todas as suas virtudes pessoais, aquelas que o Povo elo· giava ... , eram a sua simplicidade sem exibicionismos, a sua mo·
A Ele é um humilde jaroineiro
municipal. Não emigrou, por ·causa do comboio. Vai e vem todos os dias à terra onde nasceu - o seu dormitório. E de centenas de Proletários! De con~ trãrio o Por.to teria mais habitantes, mais barracas - mais barredos ... Teria, sim senhor.
Aqui, nesta zona - em quase todas as zonas rurais - salvo a precaríssima e an-uinada Lavoura, tudo o mais é nrada ou quase nada. E não se vislumbra volte-face, a curto prazo.
O comboio é o sa1Iva-vidas de muitas vidas. Muitas! A gente fica i-mpressionado a v·er a chegada e .partida dos traiil.vi.as. E cada vez mais, se a Lavoura continuar a ser refúgio de frustrados, de incapacitados e de sebastianistas sem arn:par-o; se o critério dos homens do Fomento continuar vkado pró mar, :prós grandes centros, os tais po!os industriais que geram tre~ mendos subdesenvolvimentos ...
Voltemos ao funoionário. Evidentemente, ganha uma côdea. É o passe do comboio, é o comer, é o sustento da família, é o que por lá se vai... A vida dos Pobres!
Uma filha, jã moça, adoece. <<lDã:o~lhe uns ataques ... » Beneficiário do ADSE, entra na burocracia dos S·erviços de Saúde até ao fim, com os impasses e as voltas habituais.
Entretanto, foi esclarecido por mu'ita gente... até os médicos chegarem à conclusão de que a moça é epiléptica. Resultado: o homem empenhou-se. Agora, pam aliviar a carga, aJndia qe porta em porta, nas horas vagas. Lágrimas aqui, tostões acolã. EspectãçuJos indesejáveis ...
A planificação deste livro, oporturno e actualíssimo sob t01dos os pontos de vista, p!Ubli· cado com a autorização expressa da Obra da Rua, bem como o critério diA recolha e selecção de textos são da responsabilidade da Editorial Inova.
Só nos resta acrescentar que a presente edição tem um bom aspecto gráfico - sob a djrec· ção de Armando Alves - e foi executada na Inova-Artes Grá:llicas.
J wlio Mendes
l Falámos. De peito feito. Ele
historrou o caso. A filha estav-a ao lado. De dez, agorà só deve cerca de seis .contos.
Entregámos ao hom·em uma nota das grandes, até ver. E comprometemo-nos a suprir o valor do tratamento da filha, nã-o sem reoom·endar que ela cumpra.
..,- Bu, às vezes, esqueço-me ... - Pois vais fazer por não
te esqueceres. Como vês, é tão simples: basta tomar a pastilha para tudo correr bem . ..
- Eu precisava de estar em casa - intervém o pai.
- Não é preciso, hamem! Uma moça destas, jã mulher, não é capaz de cumprir um tratamooto tão s·imples?!
- Eu vou CU!mprir, eu vou cumprir ... • Lã fomos eluddlando, na medida do possível, que a epHepsia, mau grado os seus inconvenientes, sendo tratada, não é doença que incapa:oite - a não ser em .casos muito adiantados. E sã-o dezenas de milhares, infelizmente, os epil~ti!cos por es•se País fora! Mais: frizámos aos çlois que não devem complexar-se ou fazer do caso um bicho de sete .cabeças ... !
- Eu vou tomar ru5 pastilhas ... Eu vou cumprir ... -torna a cachopa, enquanto o pai, um tanto perplexo, ouve a exigência proposta.
A gente espera que sim, que a moça cun1pra.
Est:e é um quadro banal de todos os di•as, no i111terior do Paí•s. Como o nosso Povo, o Povo humilde, sofre as consequên'C!ias de um subdesenvolvi~ mente histórico! ...
Júlio Mendes
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Redacção e Administração: Casa do Gaiato - Paço de Sousa C<mr.posto e impresso nas Escolas Gráficas da Casa fÚ> Gaiato - Paço de Sousa